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CoMPRERNSAO B ANALISE DOS sontios 53 1.4 — ANALISE LogorE RAPHUTICA Dog sONHOS COMO RW CURSO NA PSICOTERAPIA A anilise logoterapéutica dos sonhos nao : : Possui um mero objeti- yo especulativo. Ela se cons yet itui em um grande recurso te ise dos sonhos, pode-se trazer ao conscien- d as OU reprimidas, tanto no inconsciente im- pulsivo como no es piritual. Nesta Pperspectiva, rapéutico, Como em toda a ai guardad: te muitas COi: : este trabalho € feito por um didlogo socratico.cm que o terapeuta, por meio de perguntas, procura oportunizar ao paciente a descoberta dos significados, men- sagens e estados animicos de seus sonhos. A postura do psicoterapeuta nesta espécie de anélise existencial dos sonhos é a de nao interferir com interpretagdes ou afirmagées, ao contrario da rotina de alguns analistas de outras correntes psicolégi- cas, para ajustar a hist6ria do sonho, a fim de confirmar conceitos tedricos de uma doutrina, por intermédio de um cédigo simbélic: preestabelecido e dogmitico. Como s6 € possivel conhecer um sonho pelo de seu relato, 0 desenvolvimento do sonho, igualmente, nao dispensa a andlise por meio de uma técnica verbalizada e maiéutica. Neste capftulo, a idéia é apresentar alguns exemplos ilustrativos de andlise logoterapéutica dos sonhos, realizados por outros autores, como uma forma introdut6ria ao tema, a ser desenvolvido, com os resultados de propria experiéncia neste campo especifico. Sobre o aproveitamento terapéutico da andlise existencial dos sonhos, Boss recomenda aos terapeutas € pacientes a levarem 0 so- nho a sério, como uma das facetas mais integrais da realidade huma- na. Concluiu que 0 modo de existir onirico, aptado numa aniilise existencial do soniho, prova ser de decisivo valor terapéutico. E acres- Centa ainda o analista existencial: “Nas mios de um terapeuta experiente, os sonhos sao amitide claramente apropriados para alertar 0 paciente em 54 DOTHRAPIA EM Vixrop 7 gonHos NA Psic rm O sEnTin0 DOS 8 KY . rceptivo, 2UM Significadg :. Jesperto mais pet ptivo, ig c do a eee iver irrealizadas na prépria ... ae ilidades de viver HT ali Propri a co de possibilidi os : 1 o paciente sonnel Ie viver desperta &, consequen: tan a maneira de nae nen sua man lizagdo consigo Propro ec mundo te : ealiza bem a reali nd » (Boss, 1979 204) ; # FElACHO eg cle téncia. Isto ay cere es AR c a que existe uma vanlagem no sonho, Pois nele Boss sustent q e, na quase totalidade das vezes, andy pp nies enificagoes que, 7 presentes gl : orta aciente. Elas nao $6 j foram confrontadas na vida desperta do pac MPressig foram c Gas le que sonha, mas constituem uma circunstancia muito specia, nam aquele 4 Antes de explanar os significados dos sont. Renkh idem su autobiografica, mostra a importancia deles. ete um Sonh oe em sua vida. Na ocasiao, era ee Psiquiatr, e neurologista de destaque em Viena, sua terra natal, onde Ocupavay cargo de Diretor da Policlinica da Universidade de Viena. De otigen judaica e cidadania austriaca, Frankl e sua familia viveram Naquele periodo sombrio da Segunda Guerra Mundial. Quando foi deflagrad: @ guerra € a perseguigdo nazista atingiu os judeus, Frankl obteve un passe para os Estados Unidos; Estela, sua irma, conse para a Australia e seu irmao, pelos SS. guiu emigne tentando ir para a Italia, foi capturado Entretanto, Frankl, sem fazer nhava os pais em idade avang Ocupagao sobre a opgao que € da esposa e ainda uso de seu visto, acompe ‘ada. No seu interior persistia uma pre- deveria fazer entre a defesa de sua vill 40 profissional em outro pais, ou a protegi0? * companheiros. A decisio era de sua intel CUS Pais insistiran teve un a realizag SCUS Pais € 0 apoio ao; responsabilidade, Oportunidade A ats, Nesst N para ele deixar o pais. Nes eo n estranho sonho Protético, que Ihe indicava? A AtCOS: ee Muma grande multidao de psicdticos © Pacientes em fileira; : eiras pa “oe ae camatis e B85. O gangs “8 Para serem conduzidos as cman oe Compaixao experimentado foi CoupanmensAo B ANALISE DOs SONHOS 58 forte que decidi me unir a eles. Pensava que devia fazer ; 4 em um campo de concen- tragao haveria de ser mais significativo que ser um dos psi- algo: atuar como psicoterapeut quiatras de Manhattan...” (Frankl, apud Pizzoti, 1977: 25) Pareja Herrera comenta este sonho como um grande exemplo de contetido existencial dos sonhos que apontam para uma dimensiao de sentido além de si mesmos. No capitulo “A Interpretagio Logoterapéutica dos Sonhos” do livro A Busca do Significado (1984), de Joseph B. Fabry, 0 autor chama a atengao para o seguinte: “Assim como 0 psicanalista procura conscientizar seus pacientes de seus impulsos reprimidos, também o logoterapeuta tenta ajudar os pacientes a tomarem consci- éncia dos seus conflitos espirituais reprimidos e de seus conflitos de consciéncia. Como os impulsos reprimidos, a reprimida voz da consciéncia revela-se, algumas vezes, atra- vés dos sonhos. O psicanalista analisa os sonhos em busca de manifestagdes do inconsciente instintivo; o logoterapeuta, em busca dos indicios reveladores do in- consciente espiritual.” (Fabry, 1984: 101) Fabry, em um trabalho apresentado no VII Congresso Mundial de Logoterapia, publicado nos Anais pela Editora do Instituto de Logoterapia — Berkeley, Estados Unidos (1989), afirma que até Os pesadelos podem oferecer conforto emanado de nosso inconsciente espiritual e que pode comprovar isto pessoalmente. Relata que, apos 4 guerra em 1945, ouviu que seus pais & muitos membros de sua familia haviam morrido em campo de concentragao. Conta que ten- {ou superar a tragédia da melhor maneira, mas. sentia que de certa forma muita represso 0 acompanhava. Em uma noite sonhou que andava em uma linda floresta, semelhante 4 lembranga de infancia nico floresta de Viena. Ai, repentinamente, um paissaro enor- -0, Olhou para os campos e florestas embaixo € nao sen- liu medo. ntx mba a feig cdo. Entao, uma ampla area de terra drida foi avistada, cinza © : Quand ro yoou ) estava bem acima desta terra indtil, o pas O sENTIDO Dos SONHOS NA PSICOTERAPIA ny Virnop, 56 » Bray mais baixo & af ele teve uma visio repulsiva: buracos Na terra 6 C4 Tey tos de cadaveres e esqueletos, como nos campos Ple. ra > de concen Diz que enquanto permanecia horrorizado, os cadaveres come, a se desintegrar formando htimus que preenchiam os buracos, Agr ma comecou a crescer assim como arvores ¢ flores. Quando 9 Pas; : ro levantou v6o mais alto, a area parecia fazer parte de uma florest, com passaros cantando nas arvores. Ao acordar, Fabry Fecorda que levou muito tempo para despertar completamente e, durante este periodo de sonoléncia, sentiu-se sereno como ha muito tempo nao se sentia. Comentando o sonho diz que nao considerou esta mensagem como sendo religiosa e, sim, como mensagem de seu préprio espiri- to. Entendeu-o de imediato e completamente sem que fosse necessé- tio um didlogo socratico para mostrar-Ihe 0 sentido. Reconheceu, neste sonho, a solucao para o problema que sofrera com a persegui- ¢4o do povo judeu e de familiares seus na Segunda Guerra Mundial, cujo trauma ainda se mantinha com resquicios reprimidos. (Fabry, 1989: 73-74) Reconheceu porém que, freqiientemente, os didlogos socrdticos séo absolutamente necessdrios para desvendar 0 simbo- lismo dos sonhos. Por outro lado, na andlise logoterapéutica dos sonhos € possi- vel, pelo didlogo socratico, verificar os valores do sonhador, Na co- lecdo de Fabry encontra-se um sonho sobre isto. Um paciente relata um sonho que 0 intrigou e 0 desgostou. Ele se viu em um pordo escuro com sua esposa e filhos. Quando seus olhos acostumaram-se com o escuro, percebeu que a sala estava repleta de pacotes belamente embrulhados. Sua esposa pediu-lhe que pega: um e ele 0 fez, Quando o abriu, decepcionou-se ao encontrar um busto de Richard Wagner. Sua esposa pediu-lhe que escolhesse outro pacote © novamente desapontou-se. Continha um jogo que nao jogava desde que seus filhos eram pequenos. Sempre considerava jogos uma perda de tempo. Ent&o sua esposa disse-lhe que teria uma terceira e ultima Oportunidade para desembrulhar um presente. Desapontou-se mais ui ma vez. O pacote continha uma drvore de Natal, de plastico, e coloridos objeios decorativos usu: © paciente que sempre se negou a am. i: CoMPREENSAO B ANALIBE DOS SONHOS JoMPREE B87 jatar dinheiro em OrnaMeNtos que seriam usado: por ano, ¢ seriam depois jogados fora, ( somente uma vez bry, 1989: 75) Em um diilogo socratico, Posteriormente, desvelamento do sonho. © homem teve 0 a mensagem do sonho ‘le percebeu que “Jogue! Relaxe! Divirt oa se! Nao seja um viciado em trabalho!” icc (Wagner), jogos (Monopélio), festas (arvore de Natal). Este sonho indicava a necessidade de valores vivenciais com © afasta- mento de um trabalho obsessivo. Ele s wit oO conselho de seu in- consciente e suas depressdes desapareceram. Um sonho também podera indicar a falta de satisfagao do paciente dla por um egocentrismo, neurdtico ou nao, mas que indica a au- séncia de valor de autotranscendéncia que possibilita uma telacdo mais ampla com 0 mundo circundante, incluindo um melhor e mais auténtico relacionamento Com as outras pessoas e uma forma de descoberta para ser-com-os-demiais. Esta realizagao, por meio da autotranscendéncia se- gundo a Logoterapia, é superior & auto-realizacdo preconizada por ou- tras escolas de psicologia também chamadas de humanisticas, Conhecendo 0 interesse da autora do presente trabalho pela tematica da andlise logoterapéutica dos sonhos, a Dr Lola Pérez Uderzo, psiquiatra argentina, entregou-me alguns exemplares de seu arquivo ainda nao publicados. Foi escolhido 0 sonho de sua paciente Anita, que é transcrito aqui: “A paciente inicia a sessao afirmando que se sente mal espiritual- mente. Considera que nao tem objetivo na vida. Paciente: Nao sou nenhuma ativista politica e nem venci em mi- nha profissio de advogada. Vivo somente. Sei de tudo um pouco, mas nada em profundidade. Terapeuta: Voc® 6 extremamente inteligente, mas nao se detém, ndo se aprofunda. Isto j4 vimos na outra sessio. (Isto veio acom- panhado de grande carga emotiva na sesso anterior.) Paciente: Nio me comprometo, O snwTIpo DOs SONHOS NA PSICOTHRAPIA my Vv Teton, 58 . Bray, Terapeuta: Recorda 0 que dizia Goethe: Aquele que tem up fer “ : qué para viver suporta qualquer como’? Der q Paciente: E que nao tenho mais metas. Terapeuta: Descobri-las também poderia ser uma meta, » 7 We achas? Paciente: Quero contar-Ihe um sonho que me Impressionoy: deci sair desnuda porque me sentia bem assim. Nesse momento NB exty vam comigo nem meu marido nem minha filha. Andava nua, Mas tye sentia cémoda. Nao era por sedugao que assim andava. Sentj que ay pessoas me olhavam, mas eu sabia que nao tinha nada de mal, Viun homem que andou em volta de mim e se abragou em minhas Pernas ¢ me beijava com carinho. Eu 0 reprovava e dizia que nao me molestas. se. Porém, me deixei vencer pelo seu afeto e me abandonei a ele. Aj me transformei numa drvore, uma planta. Comegaram entiio a crescer raizes de plantas nos pés, nos bragos e nos ombros. Eram mais propri- amente tentaculos. Eles me asfixiavam. Desesperada eu os cortava com uma faca, mas eles voltavam a crescer. Quanto mais os olhavae lutava era pior. Sentia uma grande angtistia, Porém, num determinado momento, levantando os olhos e olhando ao longe, como por encan- to, desapareceram, os tentdculos cafram como mortos desintegrados. Terapeuta: Com 0 que associas 0 sonho? Paciente: Nao sei. Terapeuta: Vamos ler as minhas anotagoes. (A terapeuta 1é para a paciente ouvir.) Paciente: Algumas coisas sio tauito claras. O homem era meu marido. Ele agora esta bem comigo, ja nao abragava minhas per- nas. Vocé sabe que nos Unica relagao positiva € 0 sexo, E isto estava desaparecendo, Bu antes acreditava que 0 sexo era o mais importante, o que justificava meu matrim6nio. Mas agora, me dou conta de que nao 6, Isto nao basta. Eu sou algo mais. Verdadeira- mente eu nao me sinto bem. Me desvalorizava ao conformar-me 86 com isto. Bu queria mostrar-me tal qual sou. Desnuda. Auténti- ca. Ante: era muito irascivel, Brigava com todo mundo. Era into- CoMPREENSAO B ANALISE DOB soNHIo8 59 Jerdvel. Decidi ser amavel com as pessoas e manifestar meu afeto, to cada uma delas. Desnudas. Auténticas. Por isso me senti bem, assim no sonho. Creio que as coisas se confun- aceitando-as como dem ou se superpdem no sonho. Minha nudez com os demais, Terapeuta: B que & medida que aceitamos os demais, nos aceita- mos a nds mesmos. Somos mais tolerantes com os demais quanto mais © Somos conosco mesmo. Paciente: Sim, é 0 que estou fazendo Terapeuta: E os tentéculos? Paciente: So como todo o meu passado que aparece constante- mente e me pressiona, me sufoca. Quero cortd-los e trato de fazé-lo por todos os meios, com uma faca, mas reaparecem uma e outra vez. Terapeuta: Como resolves isto no sonho? Paciente: Resolvo porque eles se dissolvem, se desintegram quando Jevanto os olhos e vejo mais além de mim o horizonte. Terapeuta: E como que, & medida que vocé se concentra em si mesma, aumenta a pressdo do passado? Paciente: Sim. Quando olho mais além de mim mesma me sinto em paz, quando olho o horizonte. Terapeuta: Anita, relaxe agora. (A terapeuta sugere-lhe relaxar com os olhos fechados e concentrar-se no horizonte visualizando-o to- talmente e logo deleitando-se nele para s6 depois abrir os olhos.) Desenha 0 que viste agora. (A paciente desenha 0 horizonte e co- as também.) loca uma série de pe: Paciente: Esta pessoa aqui é minha filha; estas, meus clientes... Terapeuta: Veja bem, Anita, A medida que nos esquecermos de n6s para nos abrirmos ao horizonte dos outros, nos sentimos ver- dadeiramente plenos. Paciente: E em paz.” Comentario da terapeuta sobre os resultados da andlise do so- ge Aqui se visualizou a tendéncia para a autotranscendéncia”. (Pérez Uderzo, 1992: 1-3) O SENTIDO DOS SONHOS NA PSICOTERAPIA EM Virton 60 Ray Oo pi e 0 inconsciente me, -a parte 0 inconsciente egy: je outra parte, qu eSpititug ~onsiderando, Considerando. eee eae 7 a todos os elemenios que dele fazem Parte, ‘is. ankl, revel me : ‘ rimidos. Ta acria lade ile. mbém reprimidos. Tanto a criatividade como , le. ao inconsciente espiritual. te, to por Fr ¢ encontr los ta ligiosidade pertencem o erava a relig Freud considerava : 73: 84), ao que Frankl responde que Na n * a =~ de transcendéncia e que a neuirose U icamente enferma. (Frankl, 1979 a. 74 9 como a neurose obsessiva Comury, a género humano (Freud, 19 8 haver uma deficiénct rose pode é sessiva € a religiosidade psiqu Jung considerava que era importante que o homem Claborasse corretamente a sua experiéncia de Deus ¢ nao utilizasse somente sua capacidade de raciocinio abstrato. ncia clinica, encontrava, nao raro, a abun. em estado latente, em sonhos de pa. Frankl, em sua exper! dancia de elementos religios cientes declaradamente irreligiosos. Assim, houve a oportunidade de ver como alguns sonhos foram, aproveitados na pratica da Logoterapia. Nos exemplos citados, 0 sonho de Fabry, analisado por ele mes- mo, ajuda a resolver a angtistia causada pelos resquicios de um trau- ma antigo; o sonho do paciente de Fabry proporcionou ao paciente deixar a obsessividade com 0 trabalho para realizar valores vivenciais mais gratificantes; o sonho da paciente Anita, relatado por Uderzo, serviu para mostrar-lhe uma visdo nova de si mesma e realizar uma mudanga do egocentrismo para a autotranscendéncia. Freud afirmou que os sonhos 0 real caminho para o incons- ciente. Frankl concorda, mas uma vez que considerou o inconsciente como parte n&o s6 da psique como também do espirito, abre um ca- minho que leva a um campo mais vasto ainda, ampliando o leque das possibilidades terapéuticas da andlise dos sonhos. Frankl destaca que © inconsciente humano contém uma dimensao instintiva em que emog6es sao reprimidas e nao havendo desejo de enfrenti-las cons- cientemente; assim, traumas reprimidos podem causar neuroses. Lem- bra também que, na visio da Logoterapia, hd uma dimensao espiri- tual do inconsciente na qual podera estar um desejo de sentido, E COMPREENSAO E ANALISE Dog SONHog sentido 61250 61 quando o sentido € reprimido Pode causar y al, conflitos de valores e deprescay -p., YtZ19 f ‘ac; a di tlores © depressio, Tambeém ¢ TUStracdo existenci- i a voz da c iéNcia ¢ 8 Va es é midos e a voz da consciéncia abafada. bem ec ores Eticos repri- . MO a eri ‘ 4 Criatividade e g lade ea religiosidade reprimidas, poderio Causar proble “MAS Psicol panhados de sintomas nas neuroses Noogenicas, f, gicos acom as, be — i = es Mm ce outros comportamentos neur6ticos de orige oo 7 a ie OFigens diversas, a Pela analise logoterapéutica dos sonhos pode-s > S, e-se toma mento destes sentidos, de uma gama de valores das ee ct eae a ° Cas manifestacs da consciéncia ética, das potencialidades Criativas e das t tens - IS iende a cas do espirito. 5 Fabry, seguidor da andlise logoterapéutica dos sonhos, com base na ampliag4o do inconsciente realizada por Frankl, comenta: mis “Pode-se dizer, talvez simplificando demasiadamente, que enquanto nosso inconsciente instintivo contém muito do que esta errado conosco, nossa dimensao espiritual con- tém muito do que ha de certo conosco, 0 que nos é ignora- do.” (Fabry, 1989: 1) Como a Logoterapia € menos retrospectiva € mais prospectiva, considerando este aspecto, a andlise dos sonhos, por este prisma, aumenta as possibilidades terapéuticas para os pacientes. _ InTRODUGAO AO ESTUDO DE UM siMBOLO com 2.1 ; @. ICADOS DIFERENTES — Simpono pa CoprRa sIGNIF’ procurow-se iniciar a apresentagao dos sonhos de uma forma imples para poder se estabelecer uma compreensio dos contet- ; < diante da realidade existencial de cada paciente. To- mou-se, inicialmente, o critério do significado do simbolismo para mostrar que nao pode haver critérios tinicos e preestabelecidos. Assim, um mesmo simbolo pode aparecer com significados dife- rentes conforme a hist6ria de cada sonho, que, por sua vez, esta inserida na historia de cada sonhador e expressa uma vivéncia oriunda diversa relacionada a situagao existencial de cada um. dos dele: Entre outros simbolos procurou-se escolher a da imagem de cobra que, pela divulgagio e popularizagiéo da simbologia psicanalitica, tem sido associado ao simbolo falico. Este tipo de associacao banalizado pela farta divulgacao de analises de so- nhos nao cientificas e que estado contidas em revistas e almana- ques populares levam os leitores a aceitarem como definitiva uma inica associagGo. Por outro lado, também nos meios cientificos, muitos analistas ainda seguem uma Unica interpretacdo simbélica com fundamento tedrico dogmatico. Considerando-se, pois, o simbolo da cobra, pode-se ver por meio Watro exemplos, com interpretagio diferente, como um tinico lo pode expressar coisas diferentes. Freud, utilizando 0 metodo de assoc de inte al. Ba ido livre, criou uma forma "Pretacdo de sonhos e estabeleceu os simbolos de forma univer- ho arma, obra Los Suerios (1973), tratando do simbolismo do so- sie Be stnibolos masculinos mais compreensfveis simbolo 7 . 7 peixes, mas sobretudo o famoso : Embory - Serpente.” (Freud, 1973: 2216) opic as “0 Se pretenda tecer comparacio entre teor Sclarecimento, pode-se usar os primeiros exem- Para Maing e RRAPIA IM Viscron, a >y1}COTHRAF Py, 66 O sentipo pos son1nos NA Pe At ar, dois exemple “g » lugar, ¢ 8, plos de autores renomados e, em segund Tetin, do preseme trabalho, a a a autor dos da pratica terapéutica da aut su livro Na Noi lista existencial, em seu Ni ile Pa, Medard Boss, analista agfo entre poe cer at seman fenomenolégica dos mesmog fe HO som a comparagac de um sonhar com a co} » um sonho com cobra, de, ando o exemplo de um ge Sey ie ee lo A natureza dos sonhos® (1936). Q $0) jado acho i Sq, reinterpretagao JUN guig né, Tito Nhe, no artigo de Jung intitul era O seguinte: . a ee . mn mogo sonha com uma grande serpente que CSté guay, Um homer § asubterranea.” Jung, apud p, - a gruta subterranea. 5 Api 08 dando um calice dourado numa g 8, 1979: 160 ae x4 ‘2 Zantesc, A paciente de Jung faz uma conexao com me c te ee : 7 analis' -onsidera este co; vista num jardim zoolégico. O analista co! texto | desapontador, mas neste caso diz ele: “Devemos recorrer 4 mitologia, onde serpentes e dra. ges, Cavernas e tesouros representam um rito de Iniclagio do herdi. Torna-se, entao, claro que estamos lidando com uma emogao coletiva, o que vale dizer uma situagdo emo- cional pica cuja natureza nao é basicamente pessoal e sim apenas secundariamente.” (Jung, apud Boss, 1979: 160) Jung apelava para o inconscient contexto da realidade do paciente, ; -hevalier € Gheergrant, no Dicionério de Simbolos (1988), sus- €nlam que a serpe, 40 apresenta c. Set td ad 4 oe nao apresenta somente um arquétipo, mas esta e4d4 4 nOite frig pegs; : 7 : : % Pegajosa e subterrinea das origens, Seria um at as fontes de vida e da imaginacao que € coletivo e nao se deteve no Sou708 QUS oe Yee CONTEUDOS INCONScInw TES 67 Boss considera que, do ponto de vista Daseinsanalitico? tagiio de Jung foi falha quanto ao Propésito de Captar cuid, comlexto pertinente. Segundo Boss, 0 terapeut; orientado, nao faria como Jung dirigindo o Paciente para longe da cobr; concreta do sonhar. Ele teria insistido numa descricaio simples area em seu meio ambiente € nado em cobras mitolégicas e ee Ain, mais, afirma o analista existencial, as figuras e as imagens mitolbgicas sio derivadas das experiéncias concretas de seres humanos individuais em vez de serem tais mitos 0 solo comum dos quais brotam os : eas coisas do sonhar humano, como quer Jung. » a interpre- ladosamente o a fenomenologicamente animais. Medard Boss apresenta em seu livro 0 sonho de um paciente que estava numa selva primitiva onde é picado por uma cobra. Ele puxa de uma arma, atira e mata a cobra. Mas logo em seguida come- ca asentir-se mal por causa da picada, perde a consciéncia e vai para o hospital onde acorda acompanhado de uma enfermeira, vestida de branco com olhar amoroso de mae. O autor existencialista afasta-se de qualquer especulagao sim- b6lica ao analisar este sonho e comenta: “Para um observador nao tendencioso, a selva que se apresentou aos sentidos do sonhador nao é mais do que uma selva e, entretanto, tao real quanto qualquer selva que possa ser percebida em seu estado desperto. Da mes- ma maneira, a cobra do sonho € s6 uma cobra, ela nao ‘significa realmente’ outra coisa que nao ela propria.” (Boss, 1979: 53) Entretanto, lembra 0 autor que tanto acordado como sonhando o Paciente que tem uma cobra investindo contra ele o faz enxergar a Vida nfo domesticada, mas como uma forga hostil. Ele poderia ser indagado se, em estado desperto, que nado somente 0 da natureza, mas 4 propria existéncia contém um dominio selvagem repleto de po: bili- dades de vida indomada e de forgas perigosas & ameagadoras. PsICOTERAPIA BM Vinr . O senTrpo DOS sonHos NA ™ Pay, e 68 xistenciais. tanto ocontetido do sonho qu, ane Jas exis ee : Nt, quer apoio da mito Sug Bia ica emergirao sem qué r mento de psicologia primitiva ou aux; : age fi doutrina psicoldgica expressa. de Para os analist peut hum conhecit you de mensagem ter} folclore, sem nen! simbologia preest O terapeula podera © tencial de seu sonho. and nte no esta pelecida i portuni Zar ao paciente encontrar © se tig, ") exist Jitico existencial apela para a Maior cons " O comportamento cia de percepgoes do pacie! do desperto do que no sonhar, Frankl, no capitulo sobre a interpretag sonhos, diz que utiliza o método de Freud para ir ao inconsciente i sivo, mas que marcha adiante perseguindo outro fim. Afirma o ain “Caminhamos juntos, mas Ms mente.” (Frankl, 1979 b: 44) Elisabeth Lukas, em seu livro Altitude € sonho repetitive de um paciente que, conunuamente, sonhi ata 9 uma cobra que se enrolava em secu Corpo € a oe = 1aVa Com pescogo. O psicoterapeuta reconheceu, no sintoma ce “ ied “eito de um Qo analitico-existe, MSCENCial arcamMoOs O Passo separad, trad. Satide (1987), rel trauma muito anti peas a en a que teria se originado no estagio pré ilical enrolado ¢ 3 é-natal c psicoterape oe a0 pescogo. A reativagdo di Atal coma peuta foi considerada nociva, poi 6 lo trauma pelo vis O paciente nico ao ouvira palavi . Vira palavra cobra, mesmo despento. F entrava em pi : 0. Esta teraj fez com ue a pacie! : \ que a paciente consultasse a logote pia malsucedida : “a fogoterapeuta Dr? [ _ukas. com o pac; © paciente cenas j &acobry a UM ani oO ap animal iMagingn: sinanas em que ele atic amg. USO da £0 que plateig . Se enrolavs Fa. ADSs meio . a ns 10 trab Sena um acrobata de ce 2) ele CM Cenas Que re jue L who ter ter Son! espa ecido, A logoterapeuta, comentando com 0 Jo havia d go, disse-Ihe que agradecesse a Deus pesade do tratamento, 0 ca 10. OF sjente, NO ard y como Unt bebé fim eter oc Lenrolado no pescogo, ter visto a luz Pee sro umbilical of, apes’ : : en rl saudiivel ¢ que fizesse alguma coisa boa na do munde ue The fort pre ao despedir-se, agradecer a ela ssenteada. vida 4 i pegou a mao da terapeuta e disse O pacientes gar deverta primeiro li que em que em Logoterapia 0 que impor- seu significado por melo de uma aramente, Isto vem mostrar, © ta nao € descobrir um simbolo ¢ 1 nc . “mei > de sonho, mas que esta andlise e este sonho sejam integrados como recurso terapéutico eficaz. sproveitados ¢ Paciente Ivete esentacdo e dados sobre a paciente mora sozinha. Com curso superior tra- ‘o cultural. Possui uma perso- intelectuais e criativas. Tra- Apr Ivete, 32 de anos, solteira, ha em empregos aquém de seu prepart dade rica em possibilidades afetivas, omo auxiliar de contabilidade, prestando servigos de datilogra- fe. as veves, de telefonista. Boa aparéncia, olhos grandes e perspica- Seu principal problema é um “vazio existencial”®, envolvido num fetivo”. Diagnéstico: sofre de “neurose noogénica”””. Ja fize- nto anterior individual e em grupo, com base psicanalitica. ne! Sua familia nao € acolhedora. Tem 0 habito de criticar. Nao € aati pelos irmaos, acentuando sua necessidade de afeto e le- ie oe de homens. Durante a psicote- a nevescidac 7 ue a evaya-4 estes relacionamentos nao mulher frigida, — io podia caracterizar-se como uma zada em termos fa enalenaas era construir uma familia organi- Vazi0 existencial, onais e afetivamente estdvel e resolver seu y10OTH 70 O srwrino pos sontos NA Pt pie il, buscando n, ster 1 psicote 2 Tea. jo SexUs ‘liz, y | _ a r-re flex y desejo de sey, ste que havia feito uma hipe! afetos, ¢ a Ivete que havia nados com Of « frustragoes famitig i. gio sexual valores relacioné jo de sua ates snsaga a compensagae fos com ¢ » wabalho $6 por." ta, o ideal familiar, ley: de tral POF a at a prazcr, O que @, 1 cont jo sentia pra We er, 0 “cs a relage nida © ete. Por isto mantinha en gdo sexual Quando tinhe 1 frustrada. » depri ase dep’ ‘ase intermediaria d m simbologia fé ica, a ada vez mais fregiient, i © trat, mais comum, sen oral + srtence 4 4 jo pe : : 4 sonho, © 5 foram © O sonho rele ° partir do ulime mento, Foi a aero ares poste as cenas familiares T nos sonhos. nho . : Relato do so Bs pessoas, Antonio, eu e outra mulher que ramos trés pess do no mar, O mar tinha a forma de esfer, Sguei, mergulhando . : fiquei, mergw Sp, fone epee vamos i ereuilhandlo sem aparelhagem alg! ate or ane - debaixo da agua. Tudo estava normal; 7 7 pe, mente, ? : - ie fe : malr nos mexendo debaixo da agua. Havia cobras bem g “n es que mas ni ; a andavam também no meio da agua. Uma cobra tentou me al Ocanhar uma perna e eu tirei a perna e tentei fugir dela, sem medo ou payor, Paciente: nao ident Resumo da analise do sonho A paciente identificou a cobra como simbolo falico. Ela mantinha relacao com Antonio, seu colega de trabalho, que era casado, numa ca- bine telefonica do prédio. Identificou a cabine com o mar redondo, por- que ld 6 podia ficar em pé, isto é, manter telagio em pé. O mexer-se debaixo d’gua foi associado com og movimentos na relagio sexual. No inicio do tratamento ela nao fazia selegdo em suas relacées sexu, Mas, 4 medida que o tratamento se des Mais seletiva e descobria envolvia, ela ficava q ais, mas de era de relagdes sexu éncia de afeto, o que realmente uma familia. Sendo assim, o simbolo filico cobra, fez com que ela fugisse. Sua fuse NdO se envolver com ligagSes sexuais sel [ue sua caréncia nao afeto, e, Por detras da ela buscava era Constituir PO Sonho, expresso pela representa, 0 desejo de afeto e sem sentido, g EXPRESSAM VARIOS CONTEUDOS ICONSC sonxos Que CONSCIENTES, v1 Comenta ‘este caso da paciente Ivete, a cobra foi considerad a um simbo- Io filico. Este sonho foi 0 ultimo de uma série de sonhos d jo fe s . i a Paciente com contetido de libido sexual. E de notar que a pacie : nte nado se eixou dominar pelos impulsos sexuais sentidos no sonho. A pacien- de z : te descobriu que a relagao sexual isolada nao realizava seu sentido de amore de famitia. E, conquanto a simbologia falica aparecia cada vez menos Nos sonhos, as cenas familiares foram cada vez mais fre- giientes. A paciente descobriu outras areas de interesse existencial e de certa forma passou por um processo de reeducacgao sexual e reorientacao afetiva. Paciente Carmelinda Apresenta¢ao e dados sobre a paciente Carmelinda, dezessete anos, solteira, tinica filha mulher. Os pais sio muito rigidos, porém, zelosos e interessados nela. Pela linha pater- na tem antecedentes familiares de casos psic6ticos. Mora com os pais gue a protegem muito em virtude de sua fragilidade fisica e psiquica. Apresenta-se muito fraca, sugerindo um organismo fragil, ex- cessivamente magra, desconfiada e ensimesmada. Estudante do 2° grau. Inteligéncia média. Gosta de miisica. Passou a interessar-se pela leitura durante o tratamento. Vivia isolada tanto em casa como na escola. A relagdo afetiva era manifesta aos anim: iS € AOS avOs. No inicio do tratamento nao falava nada e demorou a estabele- Cer um lago afetivo com a terapeuta. Mais tarde foi estabelecido um relacionamento de verdadeira amizade entre ambas, que era expres- ‘4 pela troca de presentes e gestos de estima e entusiasmo. Apresentava caracteristicas psicéticas bem acentuadas: isolamento PO aulista, auto-agressio freqiiente (arranhar o préprio rosto, be- ae ee) visio do mundo e dé Is pessoas como ae ie pai i Embora tivesse essas manifestagoes, nao confun- re € coisas da realidade com fatos e coisas internas, mas os Sformava dentro de si, O tratamento iniciou-se com psicoterapia, do ti liscay iv, BRAPIA mM V- pos soNHOS NA PSICOTER. 10% Py, O snwrmpo DoE 7 plementou-se com psicofar Macog re a equipe de trabalho, oi > com na linha da Logoterapia, ¢ ¢ . atra pertencente é parte de uma seqiiéncia em que ag . obra é parte de um | que as ex tados pelo psiqu O sonho com © sressores. edo seres sempre agressore sonho n° I Relato do s oe ae 5 me lembro da situagao em que estdvamos no que era muito grande. Paciente bra : Mg i cel na cobra he { apareceu uy uito gr “s to. Ai ap mpressao que cu tinha € que cla ery fei, ela veio contra alguma coisa. Pensej te ja passou ao meu lado. Bu fiquej do mal : Jembro como ela era. All de repente, eredir, mas 2 da. Eu nao estava perto de minha casq pavorosa. Al, Para, esse me a ela quisesse I q rm da, com medo ¢ assusta tinha como me proteger. Relato do sonho n° 2 : ia Paciente: Sonhei esta noite com oe co de aparéncia hon. vel. Ela era marrom e tinha dentes grandes. i me mordeu duandy eu estava fora de casa, perto do muro. Quando a vi eu Pensei em entrar logo para o nosso lado e tentar fugir dela. Tinha mais gente perto de mim, mas ela mordeu s6 a mim. Escolheu-me exatamente em vez dos outros. As outras pessoas viam esta cobra como uma cobra qualquer. Eu vi logo que ela tinha alguma coisa e estava feroz, Resumo da analise dos sonhos A paciente identificou a cobra primeiro com as pessoas com as quais convive na escola e depois com ela mesma. Identifica sua po- sigdo estatica com a postura que tem socialmente, nado procura nin- guém e nao se relaciona com ninguém. Diz nao se aproximar de ninguém, pois assim se sente protegida. Quando identifica a cobra consigo mesma, lembra que comete auto-agressGes, Comentario: A paciente Carmelind: a relacionou a cobra vistz a expresses de seus impuls ‘a vista nos son OS agressivos, Este sonho foj um dado a Sua problematica Psicol6gica, mals que permitiu a Paciente reconhece! aceitar o tratamento psicofarmacolog SoNHOS QUE EXPRESSAM VARIOS CONTEUDOS INCONSCLENTES 73 um recurso de como mit C ude, Sem centrar-se no sintoma de auto- agre ividade, aceitou ser orientada para ampliar sua drea de liberda- de, dentro da visao de pessoa humana na Logoterapia, aumentando o grau de responsi abilidade para consigo e procurando assim aumentar suas potencialidades pos s Na diregdo de valores por realizar, Com este tratamento, a paciente aumentou também seu grau de autoconfi- anga, melhorou seu relacionamento com os outros (autotranscendén- cia) e conseguiu ingressar na universidade, realizando, desta forma, suas potencialidades intelectuais e artfsticas (valores criativos). Conse- m 0 autodistanciamento da problematica. guiu ass

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