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* Oreste texto coneaponde ao Capitulo 5 live de mesmo nome: Fal Foster. The tu the Fea. Lands WAT Pres, 1996, Hal Foster €protssor Townsend Matin de arte oarquenioga na Universidade de Pncton. autor dos los The tur of Ihe Pal Te ‘Avant Gide tthe Ero the nturye Corputive Beauty (ambos eta pla MT Pes. 1 Deoatalema, acca aniusorismo animus avenanieteniac ate ascents com a procura Avisto reterencial do pop warhaliano ¢ defendida por erticas ehistoriadores aque ligam a obra a temas diversos: 0 mundos da moda, da celebridade, da cultura gay, a Warhol Factory, etc. Sua versdo mais inteligente encontra-se em Thomas Gow que, om seu “Saturday Disasters: Trace and Reference in Early Warhol" (1987), questiona as andlises de Warhol ligadas ao simulacro, que ainmam serem asimagensindiscriminades, 60 atta indifeente, $b asupeticie lamourosa do fetiche das mercadorias eestrelas das mas, Cow encontra a ‘ealidade do sotrimento e da morte’; as tragédias de Marlyn, Liz e Jackie", em particular, vistas como desencadeando a “expressio deta de sentimentos’* ‘Aqui Cow encontrado apenas um objeto referencal para Warhol, mas um tema fempatico em Warhol, ¢ aqui le situa o cardter critica de Warhol — no num ataque a “vena coisa, arte" (como Bartheso queria) madiante a aoeitagao do Signo da mercadoria (como queria Baudrillard), mas antes numa exposigao do “consumo complacents" por meio do “lato brutal" do acidente eda martalidade” (essa forma, Crow empurra Warnol para além de sentimentos humanistas em Ciregao ao engajamento politico. "Be se sentiaatraido peas feridasabertas a vida politica americana’, escreve Crow numa leitura das imagens de cadeiras ‘étrcas como propaganda de agitacéo contra a pena de morte e dasimagens «a raceriot como um testemunho em favor dos direitos civs. “Longe de ser um puro jogo do signiticante libertad de qualquer reteréncia’, Warhol pertence a tradigao popular americana do truth teling (conta a verdade).* Aleitura do Warhol empatico, até mesmo engajado, & uma projegdo, mas ‘no mais do que ao Warhol supeticile ndterente, ainda que essa fosse sua prpiaprojrdo: “Se uiser saber tudo sobre Warhol, apenas che para asunerticie de minnaspinturase filmes, @de mim mesmo, e lé estou. Nao ha nada por detras isso" Ambosos partidos cram 0 Warhol que precisam ou obtémo Warhol que 4 Foland Baths “That ld Thing. A’, Pau Talos ed, Pos Fp (Cambridge: MIT ess, 1889), pp. 25:25. For sgniticado profund Barthes iar ie lato assxiogbs el alticas, camo const maton ime ‘61, 1p. 26. 5 Jean Bausillars, “Pop — An Art of Cansipion”’ im Fo ep. 38, 5. (fSsetoco foi entalda de La socité ae aasumnation ses Imes, ses srcures [Pas Galimard, 1970), 174-85) 6 Thomas Qow, “Sauray Disasters: Tae and Fefrence in Early Warhol, i: Sage Gi but (org) Fetonstcting sami (Camticge IT ress, 1990): 313, 317. Essa 6 uma soqunds esi; a primeira spaces em Artin America (May 1987) 7 ik, ibid. p. 902, 8 fa, iid, p. 324 9 Geetnen Berg, “Andy Wao: My Tive ory. Las Angus Fea Pass 17 de margn de 1963.8 Wath continua: "Nia hava nénhums az8o profunda para taner uma stio sabre mort, henhuma vilima oe seu tempo; nao havi, rnenhurra ranbo mesma, apenas uma raza do supetice’ Caro que essa ns stca pod Set isa como ua negagio, come un sina de ue hs*uma azo poland’ Ese transit enre a supoticie © a prouncicade ¢ constarte no op © pode ser eaactoristco do realism rau. (que, anal, 12 Ge Wayol o local do tanta prolerdo? Be posava como umatela om ras, am Gotera mas Waxtol era mutt consents dosss proegies,defato muito cansciente do rmecansm Ga idetlicagio amo prio: € um ge sau princpis temas. 10 Por rates que ve exlaecrtn, nto pode ‘icum religo raumaicaenquanto tal. No ‘enantio a nogéo ¢ dtl do porta go vista eurstico~ meso apenas como ue fora de superar as poses conldas na ova Wier a arte (semibtica versus métodos sécio: Fistéricos, texto versus contento} na citica ‘altura (signitcante vaeus referee, aujito candulgo vrs corpo natural) 11 Svereon, “What is Pop A”. 26. ‘2Hesta eee “produtoe “imagen”, "axe & “consume” porque War parece ocupar uma poviga liminar entre as orders de producto & ‘consumo; 9 menos, as cas operayses se ‘ema er sa aban 90330 mina também expla minha estado etee-chaque um discus qe s2 desematie am toro de _tgentes ro contexte da producto industrial ‘“tauma, um escurso no qua 0 “choque™& repensade por meio de sua ficiéacia plcanlticas tant asa imagina.a~eprtaio, um izes tevez mais prime aum sito conauni 13 Sowonson, “What is Pop A?" p. 26 14 Para nilistas captalitas no Dat. ver mou ‘atigo “Rar Fou", Ctabr 56 (Sxing 1981) para o caso de Wthl, ver Benjamin Buchs, “The Andy Weel Line” in Gry Cael (org). ‘he Work of Arey Vahl (Sete Bay Press. 1980) Suga a sguir qu hoje exe ise ‘woqentemente assuneum apeco inant come se slua (acing) osse0 mesno quest aoance 15 Delratdo nao catada de autora de Andy Warhol, lida por Nicholas Love na misea ‘obaliva em manna de Ady Warhol, Pati’ Gahecra, Nova Yor em prima oe bil do 1987, ctado om Kynaston MeShine (ora), Andy Maral A Fetrospenve (Nova ork: Museum of Mace At, 1989). 457 16 Anoy Washo! Patt Hack, Fie: The Warhol'6Ds (Nova York: Harcourt Brace Jovanovich, 1960), 50 ‘ano 6 some nomen 8 pho 2005, (tomo dommat ‘merecom; nao ha divida de que isso ocorre com todosnés, Enenhuma das duas projeqies est errada, Acho ambasigualmente persuasivas. Mas ambas no podem estar correla... ou sera que podem? Seré que podemos ler asimagens de Death in America como relerenciais esimulacros, conectadas edesconect adas aletivas endif eentes,crticas e complacentes? Acho que devemos @ podemos, s2 as lermos de uma terceira maneira, nos termos do realsmo traumético, © Realismo traumatico Uma forma de desenvolver essa nogéo ¢ pelo famoso moto da persona washoliana: “Cuero ser uma maquina’. Normalmente essa delaragao ¢entendida como contirmagao da inexpressividade tanto do artista quanto da arte, mas ola pode talvez apontar menos para um sujeito inditerente do que para um sujelto em estado de choque, que assume a natureza daquilo que o choca, como uma detesa mimeética contra o choque: Sou também uma maquina, fag (ou consumo) Imagens: produto em série também, dou t€o bem (otto mal) quanto reoebo."= “Alguém disse que minha vida me dominou", dectarou Warhol ao critica Gene ‘Swenson em uma famosa entrevista de 1963. "Gosto dessa ida." Aqui Warhol acaba de admitr entregar-se a0 mesmo almogo todos os dias nos ultimos 20 anos (0 que mais sno sopa Campbell”). No contexto,entao, asduas declaragoes podem ser lidas como a predomindncia da compulsio a repetir colocada em jogo por uma sociedade de produgdo e consumo seriais Se vocd nao 0s pode vencer, sugere Warhal,junte-se2 eles. Mas, se voc® entrar totalmente no jogo talvez possa expésto, isto &, voce talvez revele 0 automatism ou mesmo 0 autismo dese processo, por meio de seu proprio exemplo exagerado. Usado de forma estratgica no Dada, esse capitalismo nilista era encenado de forma ambigua em Weal e, como vimos no Capitulo 4, muitosartistas jogam com ele desde ent. (Evidentemente isso & uma performance, ha um sujeito “atrés" dessa figura de ndo-subjetividade que a apresenta como uma figura. De outra forma, o sujlto em choque seria um oximoro, pois nao ha um sujeito presente paras mesmo no choque, quanto mals no trauma, Apesar disso, afascinagao om ‘Warhol ¢ que nunca se tem certeza sobre essa sujelto por detras: ha alguém em casa, dentro do autémato?) Essas nogées de subjetividade em choque @ repeticéo compulsiva reposicionam o papel da repticao na persona warholiana e nasimagens. °Costo de coisas tediosas" é outro moto famoso dessa persona quase autista “Gosto que as coisas sejam exatamente as mesmas sempre." Em POFism (1980), Warhol exboga essa accilagdo do tdi, repetigao e dominagdo: “Nao quero que seja cessencialmente © mesmo — quero que seja exatamente 0 mesmo. Pois quanto mmaisseolnapara exatamentea mesma coisa, tanto mais ela perde seu signitica, €@ nos sentimos cada vez melhor e mas vazios’ * Aqui a repeticao 6 tanto uma ‘renagem do significado quanto uma detesa contrao afeto, @ essa estratégia ja truer quiava Warhol desde cedo, como na entrevista de 1983: “Quando se v6 uma imagem madonha repetidamente, ela ndo tan realmente um eteto’.” Garamente essa 6 uma das fungSesda repetigdo, ao menos da forma como foi oompreendida por Freud: repetir um evento traumético (nas agbes, nos sonhos, nas imagens) de forma aintegré-o & economia psiquica, que é uma ordem simbélica Mas as repetigies de Warhol nao so restauradoras nesse sentido; néo se trata do controle sobreo trauma, Mais do que uma libertagdo paciente por meio doluto, las sugerem uma fxagdo obsessiva no objeto da melancolia. Pense apenas em todasas Merilyns 0 cultivo,coloragdoelistagem dessasimagens: na medida em «que Wath! retrabalna esss imagens de amor, uma melancsica psicose desea’ parece entrar om jogo * Porém oss anise nao estat amibém exatamentecoreta Fis repetigio de Warhol no aponas rerodu efeitos traumaticos; ela também os prodvz Dea guma forma, nessasreptigdes, entao,ccorre uma sri de coisas contraditérias o mesmo tempo: uma evasdo do significado traumético e uma abertura em sua diregto, uma detesa contra afetostraumatioos esua producto. ‘Aqui devo explicitar o modelo teérico que esteve subentendido até agora No comego dos anos 60, Jacques Lacan est ava preocupado em defini oreal em termos do trauma, Intitulado “O Inconsciente @ a Repeticao", tal seminario corey mais ou menos contemporaneamente & criacdo dasimagens de “Death in America’ (no inicio de 1964). *Porém, &diferenga dateoria do simulacro de Baudillard @ companhia,ateoria do trauma de Lacan nao fi influenciacta pelo pop. Ba é, no entanto, informada pelo surreaismo, que aqui apresenta seu efelto retardatatio sobre Lacan, alguém associado ao surrealismo desde seu inicio, ¢ abaixo afirmarei que a arte pop ¢ relacionada ao surrealismo enquanto lum realism traumatico (certamente minha leitura de Warhol 6 surrealist. Nesse seminésio, Lacan define. traumatico como um desencontro com o real Enquanto perdido, o real ndo pode ser representado; ele so pode ser repetida. De fato ole deve ser repetido, “Maderholer’. escrove Lacan om releréncia dimolégica&idéia de repstigao em Feud, “nao 6 Reproduzieer (60): repetiggo no 6 reprodugao.1ss0 pode valer como epitome também de meu argumento: repetigdo em Warhol nao ¢ reprodugao no sentido da representagao (de um referente) ou simulagdo (de uma pura imagem, um signiticante desprendido). ‘Antes, a repeticao serve para proteger do real, compreendido como traumético Mas exatamente essa necessidade também aponta para o real, enesse ponto 0 ‘eal ompe oanteparo proveniente da repatigéo. Euma rupture menosno mundo {que no sujito — entre a percapedo e a consciéncia de um sujeito tacado por uma imagom. Numa alusio a idéia de causalidade acidental de Avistdtoles, Lacan chama esse ponto traumatico de tauché; em Gamera Lucida (1980) Barthes chama-o de punctum.* Esse elemento que nasce da cena, 6langado para fora ela como uma tlecha me atinge’,escreve Barthes. “‘Eaquilo que acrescento & fotografia e que mesmo assim jd estavala." “Epreciso, porém abafado, Gritaem 17 Syonson, “What is Pop At” 60. Isto 6 temumetetio, mas do rasnante Us “alto io para ntarar uma experiencia lean, mas an contro, para superit una experiencia {ue predsamente no pode ser local za. 18 Sgrund Fre, “Mourning and Melancholia (1997, in Graal ayeclepiealTheay, Pail. Fat (org), (Nova York: Clier Boks, 1963), 166. Otrbalho de Qow 6 especialmente bom no que cz respato 20 memeral ce Washo a Naty, pore ele 16 no sonido de um ut, femverdelheatibur um sentido ce mlanclia 19 Ver Jaeques Lacan. The Four Fundamental nails of Pycoanayss tad. Alan Sheridan (Nova York: WW Norton, 1978), 17-64; otras Felecéncias estado incluidas no texto. O ‘mini sobre olar (gaz, “Othe Gaze as ‘jet Fai a” tam eobiso aie atengto do aie 0 saminda sobre o real, ptm outimoten a rosa relovncia ara a arte contemporines quanto o primero (de qualquer forma, os dois festce devem ser loos em conunto). Para um usa proveeante do seminsio sabre 0 rat em ctitos contemporanes, ver Sisan Senat. "Gea Reverse Tompe Lai! The Buption ot the Fel," n esc iting (Novak Oxlors Univesity Pres, 27340. 20*tu tentanc enterder ad como tous 6 toprosntato na arconsio wa. dzLacan. Mostrar que ¢ 20 nivel do que chao do *mancha" quo o pont ce ices encontraso ma fungéo esopica™ (77). Esse pono de tiche eno, es no seit, maso sete enquanto mela, unasombrage una mancha’ lana pelo aha do mundo. 2 Foland Bares. Gime Lick, trad, chars Howard (Nova York: Hil ane Wang, 1981), 26 55,58, 22 indaourasvasio dass paca pcping) ‘boagagamenio ca imagem (que rgdentemente seorre nos diptcos, isto ¢, um monociomo fimo coum pail da um acicente oe carro ( de uma cara rica), como se ele fosse um creative de um actu £25 see, alés untoramodaristalmpatante ‘e Badelaitaosuelsmo e lem. Ver Wier Benjamin, *On Some Motifs in Baucela ce” (1999), a lumiations tra. Harty Zohn (Nova York: Sehecken Books, 1959), assim come tambon Wolfgang Sehivalousch, The Ruay ova (Briley: Un very of California Fess 1986). Como aponto na nota 7 ese chaque é tall en Benjamin, camo de cute manara, fem Waral: "Voie tudo daquela forma, supetidecisso, uma espicie de Baile mena apenas passo minnas mios see @ supatiog as ois (Bag, "Any: My Tie Son," 3), (1831), in an Taclenbe (org), asic ays fan Peters (Now Haver Leste tare Backs. 1980) © "The Works of Art in the Age of mechanical Reproduction” (1938), in uma 25 Iso & igualmente vecdace para Acie, ‘pecamente em seu conunto oe pintures ce 1989, Qtober 18,1977, no que dz espato 20 ‘1Up0 68 Baader-Meinhal. O aunatum dossas fintuas, qe so basoadas em ftogtalias de mmambios de grupos. las de pris, adivree ‘fuera, nfo # um sents priv, prem tanpoven pode sex expicato por um cicigo pulico (ou studum no loco bartnesano) Faso igulmente fas favor oe una cantusio Irauntica das eseras publica pivaca ‘ano 6 some nomen 8 pho 2005, (tomo dommat silencio. Estranna contradicao: um raio flutvante."® Essa confusdo sobre 0 local da ruptura, touché, ou pundtum, & uma confusio entre sujeito e mundo, entre dentro ¢0 fora. Eum dos aspectos do trauma; de ato, pode ser que essa mesma contusdo sejao traumético. ("Onde esta sua ruptura?, pergunta Warhol ‘em uma pintura de 1960, baseada em uma propaganda de jornal, com uma sie de flechas voltadas para o buraco entre os seios de uma mulher). Em Camera Lucid Barthes esta preacupado com fotografia simples, assim, de situa 0 puncium em detalhes de conteddo. Esse raramente 6 0 caso em Warhol. Porém hn para mim um punctum (Barthes estipula que ele €um eteito pessoal) na indiferenca do passante em Mhite Burning Car 11 ("Caro Branco (Qurmando 111, 1963). Tal inditerena om relagdo a0 acidentado lancado sobre © poste do telefone 6 ruim o suficiente, mas sua repetigio 6 insyportavel © aponta para a forma de funcionamento do punctum em geral om Warhol. Be funciona menos por meio do conteddo do que dattéenica, especialmente pelos “ralos tlutuantes’ do processo do silkscreen, o escorregar e marca, o alvelar e vata, 0 repetire colori das imagens. Para toma outro exemplo, um punctum aparece para mim em Ambulance Osastr(*Desastre de Ambulancia’, 1963) nao na mulher jogada na imagem de cima, mas na gota obscena que apaga sua cabeca naimagam debaixo. Nos dois casos - exatamente como 0 punctumm em Gerhard Fichter aparece menos nos detalhes do que ne destocar exparramado das imagens ~ assim 0 punctum em Warhol aparece nao nos detalhes, mas no pipocar (poping) repetitive daimagem.* ses pops, como falhas no registro ou uma diuigso na cor, servem como cequivalentes visuals de nosso desencontro com o real. “O que ¢ repetido” ceszrove Lacan, “6 sempre ago que acontece.. como poracass.Petanto, écamo ops: pareoem acidentais, nas também parecem repetitive, aulomaticos, ‘mesmo técnoligicos (a retagao entre acidente @ tecnologia, crucial para 0

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