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93. | ae Material Cy. | Prarie Drow, is Compe ica/Folha de sis Ro oP si 6. CORE INCONSCIENTE bsildinba Baptista Nogueira ; A despeito de sua condicao econémica, social e intelectual, @onquistas “porque o olhar do branco ¢ @iidealide ‘Ao receber 0 convite do Departamento de Psicanilise do Insti- tuto Sedes Sapientiae para o debate “Cor e Inconsciente” — exatos quatorze anos depois da apresentagao de meu €faballiomenouto- fiquei extremamente feliz. Finalmente, pensei, poderia fazer a relacdo direta sugerida no titulo do debate, inclusive porque GHEGHSGER”. Talvez uma provocacao mente trabalhei vesmnas sim na ideia de como o significant "cor COR E INCONSCIENTE 8 maneira tio eficiente na psique do negro por separar oy segundo a cor € a raga. “Pare Refiro-me ao apartheid psiquico, porque, felizmente sistema politico nao ¢ 0 que nos separa socialmente TT i e negros. E 0 racismo é ctimemoBrasil. Nos, 68 negtos, = uma segregacao silenciosa, 0 que durante muito tempo, funcion’ como se tivéssemos um sentimento persecutorio, uma vez ~ preconceito era negado. Sentiamos uma perseguicao sem rari Isso vem mudando, atualmente, ja que parece existir uma dispo. sigio maior da comunidade cientffica e da sociedade de expor a crueldade de um sistema que se diz “nao racista”, mas que aindg conserva e mantém atitudes racistas. O negro pode ser consciente de sua condi¢ao, das implicagies hist6rico-politicas do racismo, mas isso nao impede que ele seja afe- tado pelas marcas que a realidade sociocultural do racismo deixou inscritas em sua psique. Embora juridicamente capazes de ocupar um espaco na sociedade, os negros foram, na pratica, dela excluidos e impedidos de desfrutar de qualquer beneficio social. Foram mar- GimAaliZAdOspestisMatiZadespmarcados pela cor que os diferenciava e discriminados por tudo quanto essa marca pudesse representat. Libertados do cativeiro, mas jamais libertos da condicao de eseravos Por causa desse estigma, Gsmiegrosirenmsofridostodasor de discriminacao, que sempre tem como base a ideia de serem as inferiores e, portanto, nao merecedores de possibilidades socia® iguais. Sabemos que as condigdes socioecondmicas € a ideologi# moldam as estruturas psiquicas dos homens. Tal process? nae imediatamente verificavel, porque as representagdes da estrutut psiquica dos homens nao sao puro reflexo das condigoes objet As estruturas psiquicas sfio contaminadas pelas condigoes obie que receberio, no plano inconsciente, elaboragao propria = tir das quais sao assimiladas e incorporadas, tornando 0s es cativos e mantenedores de tais condicées. Eo que anal se da no proceso de identificagao, em que 0 sujeit a arcial OU totalmente, por meio da imit: i ago ou dai o objeto amado ou odiado, ou ambas as ee incorporacio, ‘imul: 5 q eagindo, assim ao amor ou ao ddio pela incor tancambnitey priedades do objeto. Porasao’das pro- Esse mecanismo € 0 que a psicandlise caracteri ‘ ficagao com © agressor. Dessa forma, 0 agressor a de identi- ‘Assimiyno, CmecessAriala presen fisica de um ee. o negro passa a se autorrejeitar. O “ser negro” correspo i categoria incluida num eddigo social que se expressa _ le 2 uma campo etno-semantico ae © significante “cor near encom viatios significados. Gusigas: negro” remete nao s6 a posigdes sociais jnferiores, mas também a caracteristicas bioldgicas supostamente aquem do valox,das propricdades biologicasiatribuidas aes braces) Se o que constitui 0 sujeito é o olhar do outro, como fica 0 negro que se confronta com o olhar do outro, que mostra reco- nhecer nele o significado que a pele negra traz como significante? Para além de seus fantasmas inerentes ao ser humano, resta ao negro o desejo de recusar esse Signihicanteyquelrepresenta'© SiR- nificado que ele tenta negar, negando-se dessa forma a si mesmo pela negagao do proprio corpo. Negar ¢ anular 0 proprio corpo nos torna o sujeito “outro”, visto que 86 existimos como sujeito em relacdo ao outro, a alteridade Senisujeitorssporan"?> SerOUtrD E ser outro € nao ser 0 proprio sujeito, 10 caso do negro. O que somos entio nds, 0 negros? . Ser branco, afinal, significa uma condigio generica® ser — constitui o elemento nao marcado, © neutro da humanidade = . em nés, portanto, o desejo de “pranicura’ . Wista da ee 40 olhar do negro oprimido, abrancura transcende - a ig-caciah BRAC, A brancura namente um terror interno face eficiéncia do terror da ideologia racistayiquelsubsistemomBrasil. Nunca exposto claramente, €s8e terror permanece escondido covardemente atris do mito da demo- cracia racial que, de modo eficaz, tem assegurado as geragdes 0 lugar de conforto e dominio da populagao branca do,pais. Nao € possivel sermos cordatos e cordiais com esse lugar socialmente marcado, no qual somos persistentemente identificados. E pre- ciso que tenhamos acesso a formas de fortalecimentogdemnosses Sstruturas psfiquicas. MiniaeEAEIMA — nesta breve reflexao complexas quanto as que envolvem 0 preco! 0 racismo em relagfio aos negros € aos dit 20s ~ foi eICOHEFIBUr, como psicanalista, con a aa comoa realidade sociocultural —~-s iscriminacao se inscreve na psique que acerca de questoes tio neeito, a discriminagao reitos sociais € huma- explorasa0 da do preconceito \sildinha Baptista Nogueira COR E INCONSCIENTE " & COR E INCONSCIENTE Como profissional (e, particularmente, como negra), minha escuta min foi assim direcionada, até porque me “parece que praticadas nos consultérios’ Referéncias Bibliograficas NocuerRa, Isildinha Baptista. Significacaes do Corpo Negro. Tese de doutorado. Departamento de Psicologi ia Escolar e do Desenvolvimento Humano, Sio Paulo, Ipusp, 988. Disponivel em: . Acesso em: 13 jan. 2016. : scHwarcz, Lilia Moritz. O Espetdculo das Ragas: Cientistas, Instituigoes e Questio Racial no Brasil, 1870-1930. Sio Paulo: Companhia das Letras, 2001. sopre, Muniz. Claros e Escuros: Identidade, Povo e Midia no Brasil, Petrépolis: Vozes, 2000. venturi, Gustavo; TuRRA, Cleusa (orgs.). Racismo Cordi Anilise Sobre o Preco: al, a Mais Completa nceito de Cor no Brasil. Sao Paulo: Ati S.Paulo/Datafolha, 1995,

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