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“ rif I URC Cet as kage ete eas eee ee eee en eee ene ects ee ee ee ra Recenter Cee ee eee a ea see aie eed eRe ul Ron Ma ec ete cee ect Cr ee tan eRe Mee on aR oe he ee eee Cece renee cae tet CNR em Reon eae aoc Cec MR RS Rea Reon ete Pe eae eee a ee ee ete nD OO ent ke eee ees ett Pe eee ee ene ee ae eee eet Ree Me ees eee alo eset eee Cee ue a 77 ee Run) Beene en eet erect Rea Mater ee ee eee rs) Cena RCE Cet em eens es Poe n a Pree arsenal Pere cu cee eter matey Pen ee eres Bree see ere eae z Peer tee ped Pere ee ony arte. Que é arte, que é Peete ate ad Peete get eee naa Boren eee eR area td Sn Breen enna See Cd Bazar(ooTempo Phe fe) Ree] E TET. FI 8 Pte] itt fel TN ARTE E O QUE EU E VOCE Ct el rN ui 801 definicées er) eda) eT CTs) Bazar(oyremro Pts} itt fel VU ARTE E O QUE EU E VOCE Ney ARTE 801 definicées PC) eed CT lat) ae. yremPo FREDERICO MORAIS ARTE E O QUE EU E VOCE CHAMAMOS ARTE 801 definigées sobre arteeo sistema da arte ae 66 Aarte pode ser ruim, boa ou indiferente, mas qualquer que seja o adjetivo empregado, temos que chamé-ta arte. A arte ruim é arte, do mesmo modo como uma emogao ruim & uma emogao.” -MARCEL DUCHAMP NOTA DA SEGUNDA EDICAO Publicado originalmente em 1998, Arte é 0 que eu e vocé chamamos arte é resultado de décadas de pesquisas e estudos de Frederico Morais. Muito mais que uma coletdnea de citacées, o critico apre- senta uma série de defini¢des, da Antiguidade ao cendrio contem- pordneo, que buscam responder & pergunta: afinal, o que é arte? Em um ensaio de apresentaciio, Frederico Morais reflete sobre a Fungdo dos conceitos, e como essas variadas definigdes espelham ‘aprépria variedade dos principios estéticos e das Funcées da obra de arte, Como se verd, nao é Facil responder @ questdo que move este livro. As respostas sdo multiplas, muitas vezes contraditérias nunca completas, jé que, como confessao préprio autor, “depois de exercer durante mais de cinquenta anos a critica de arte, devo dizer que eu também ndo sei mais 0 que é arte”. Se pelo tempo que nos separa da primeira edigdo do livro alguns novos textos poderiam ter sido acrescentados, acompanhando as mudancas na arte e no sistema da arte, as oitecentas e uma definicées aqui presentes ndo envelheceram e voltam a circular, celebrando 0 aniversdrio de uma obra que se tornou importante referéncia e toda a dedicacdo incansdvel de seu autor - sempre em busca da ampliacdo e do aprofundamento dos conhecimentos sobre as artes. PARA QUE SERVEM DEFINICOES DE ARTE? _FREDERICO MORAIS imeros entre colchekes correspondem o definigses aprasentadas eo longo do livro, ° lenquanto os restantes remetem o Fontes relacionadas ne pagina 25. Quase ao final de sua aula inaugural dos cursos de filosofia e historia da arte do Instituto de Artes da antiga Universidade do Distrito Federal, em 1938, sobre o tema “O artista e 0 artesdo”, Mario de Andrade surpreendeu o auditério ao dizer: “Devo confes- sar preliminarmente, que eu ndo sei o que é belo e nem sei o que € arte." Confissdo surpreendente, porque, na verdade, o autor de Macunaima ja definira a arte de diferentes maneiras. Logo no inicio de sua aula, Mario diz que “todo artista tem que ‘ser ao mesmo tempo artesdo”, e prossegue, um pouco mais tarde’ “Artista que nao seja bom artesdo, ndo é que ndo possa ser artista (psicotogicamente pode), mas ndo pode fazer obras de arte dignas deste nome. Artista que ndo seja bom arteséio, n@o é que nao possa ser artista: simplesmente ele ndo é artista bom. E desde que va se tornando verdadeiramente artista, é porque concomitantemente esta se tornando artesdo."*4) Prossegue falando da importancia primordial da arte, mas sempre relacionando-a ao dominio ofi- cinal, reafirmando: (a) a imprescindibilidade do artesanato, (b) a desnecessidade do virtuosismo e (c) a solucdo pessoal do artistano Fazer a obra de arte ~ atitude “imprescindivel e inensindvel”. Esta técnica pessoal, diz, “é um fendmeno de relacao entre o artista e amatéria que ele move’, para concluir, na sequéncia de sua argu- mentacdo, que, “se o espirito ndo tem limites na criagdo, amatéria © limita na criatura*? Relaciona a seguir os conceitos de beleza e utilidade, questionando a nogdo de beleza tal como formulada pela estética grega e mantida pelos artistas do Renascimento italiano. Mario de Andrade Faz, nesse momento, como que uma pausa em sua conferéncia, para “prevenir, desde logo”, que, em suas aulas no Instituto, sera “muito mais um comentador que um teérico", e que vai apenas “ensalar um sistema de conversas”, cujo objetivo serd “muito mais 0 convite & aquisicao de uma séria consciéncia artistica que a imposicdo de um sistema estético, de uma Estética Perfeitamente organica e l6gica e, por isso mesmo, para o artista, asfixiante e enceguecedora’? Porém, mais que o dominio artesanal, mais ainda que a necessi- dade imperiosa de uma técnica pessoal, a arte é, para Mdrio, uma forma de aprofundamento da consciéncia, pois, como afirma, *é justamente a atividade artistica que nos abre um dos caminhos mais penetrantes de introducdo ao ser” Aconferéncia esté chegando ao fim, Mario ainda dispde de tempo para criticar “o individualismo mais desenfreado” do artista de hoje, que se “tornou um joguete de suas préprias liberdades' Dando como exemplo 0 Saldo de Maio daquele ano (organizado por Flavio de Carvatho), vé os artistas “escravos da determinagao contempordnea de que é preciso pesquisar".* E conclui: “Mas a inFlacao do individualismo, a inflacao da estética experimental, a inFlacaio do psicologismo, desnortearam o verdadeiro objeto da arte. Hoje, 0 objeto da arte no é mais a obra de arte, mas o artista Endo poderd haver maior engano.""! Marcel Duchamp, numa en- trevista de 1963, diré algo parecido, mas, para ele, com um sentido afirmativo: “A arte nao me interessa, apenas os artistas.""" Concluindo: em pouco mais de uma hora, mesmo se dizendo inca- paz de definir 0 que é arte e o que é beleza, Mario de Andrade discutiu algumas questdes Fundamentais da arte, acrescentando mais de uma dezena de definicdes de arte as jé existentes, RosGrio Fusco, que integrou o Grupo Verde, de Cataguases, num livrinho denominado Introducdo 4 experiéncia estética, da mesma Forma, ao Final de sua dissertacdo, elabora uma série de aforismos, nos quais, de certa maneira, questiona tudo o que dissera antes. Eis um deles: “A beleza é a finalidade da arte. Que é arte, que é beleza, que é finalidade?"™ Diirer também dissera, nos idos renascentistas: Nao sei o que é beleza, que ela se encontre em muitas coisas."*? Baudelaire, um dos Fundadores da critica moderna, assinala, por sua vez, a relatividade do conceito: “A beleza absoluta e eterna inexiste, ou melhor, é apenas abstragao empobrecida na superficie geral das diferentes belezas. O elemento particular de cada beleza vem das paixées, e como temos nossas paixes particulares, temos nossa beleza particular."25) Como Mario de Andrade, o critico inglés Herbert Read questiona a nocao de beleza formutada pelos gregos. Diz: "Na verdade, 0 significado histérico do conceito de beleza é muito limitado. Teve origem na Grécia antiga, produto de uma determinada filosofia de vida” E provoca: “Vivemos ainda 4 sombra da tradigao renas- centista, e para nés anogdio do belo anda inevitavelmente ligada @ idealizacdo de um tipo humano concebido por um povo antigo num pais tonginquo, longe das condicdes reais de nossa vida co- tidiana."*4 Read, que com seus livros impulsionou o movimento de “educacao pela arte” em todo o mundo, segue muito de perto as ideias de seu “apreciado mestre”, o historiador alemdo Wilhelm Worringer. Este distingue a “capacidade artistica’, base de toda estética grega, da “vontade artistica’, para valorizar, em contra- Partida, os “complexos artisticos ndo-europeus e ndo-classicos, como a arte egipcia, o Gético e o Expressionismo"* Qual a utitidade de um livro como este, reunindo 801 definicbes de arte? As utilidades podem ser mil-e-uma. Ounenhuma, Como diria Chacrinha nos tempos do Tropicalismo, eu nao vim para explicar, mas para confundir. De fato, conflitantes quase sempre, estas de- finicdes de arte servem para acentuar a relatividade de conceitos € principios estéticos e artisticos, mais do que para oferecer cer- tezas, Com este livro 4 mao, o leitor terG sempre a sua disposicao uma resposta circunstancial as indagacées propostas pela arte Esta resposta, claro, nunca serd plenamente satisfatéria. Depois de exercer durante 40 anos acritica de arte, devo dizer, como Mario de Andrade, que eu também no sei mais o que é arte. Jovens, somos ‘muito afirmativos, mas a medida que amadurecemos as duividas au- mentam e jd ndo temos certeza de nada. A arte continua existindo, e sua morte, tantas vezes anunciada, ndo ocorreu. Mas, se a sinto viva e necessaria, ndo sei mais como defini-ta.€ dificil aceitar, para a arte de hoje, dogmas e diktats ou apegar-se a uma unica defini- ‘go, para, com ela, abranger toda a diversidade da criagao plastica. 0 artista, hoje, é um ser anfibio, deslizante entre ismos, escolas e tendéncias. A arte atual é ambigua, hibrida, plural. Recordo-me de Mério Pedrosa afirmando, durante uma conferéncia no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, que os criticos, diante das ultimas criagées dos artistas, estavam, todos, com a tingua de Fora. A arte é tudo, dizem Naum Gabo, Ben Vautier, John Cage ("O Hap- pening pode ser um troco musical, uma experiéncia cientifica, uma viagem ao Japao ou uma visita ao supermercado mais proximo"™ (0u"Hé teatro todo 0 tempo, onde estejamos. Ea arte ndo faz sendo gjudar a nos persuadir de que tal é 0 caso"),"71 Hélio Oiticica ("0 que faco é misica”) e Wolf Vostell (“Os indios sao obras de arte. Os crocodilos sdo obras de arte. A selva é obra de arte. Os cupins so obras de arte. Os direitos do homem sao obras de arte”).©*) A arte 6 nada, dizem, com a mesma énfase, o dadaista Francis Picabia, os integrantes do Grupo BMPT e o fluxista Ben Vautier (contrariando, deliberadamente, o que dissera antes). A arte € um. bluff, afirmam os integrantes do Groupe de Recherches d'Art Vi- suel. A arte é irresponsdvel, garante Christo. "A arte ndo é tao bo- nita e tao Fina como parece depois de pronta, exposta nos museus. E muito bandida, as vezes pior que a gente. £ traidora, sacaneia. Nossa relagdo é por vezes muito violenta. Trocamos tapas e ca~ rinhos”,"°*) resmunga, alegremente, entre urna pincelada e outra, Iwald Granato. “A arte é um absurdo. £ uma escroqueria”,"4insiste Marcel Duchamp. Nada disso, porémn, impediu que esses artistas continuassem fazendo suas “ndo-artes", cuidando de suas “anti- carreiras”: Duchamp com seus readymades, os cinéticos do GRAV com seus happenings, Christo empacotando objetos, edificios e a prépria natureza, Ben Vautier, Piero Manzoni ou Antonio Manuel expondo a si mesmos como obras de arte-esculturas vivas. Num poema muito conhecido, Keats diz que “A belezaé averdade, a verdade é a beleza’.""! Serd tao simples assim? Afinal, o que éa beleza, o que é a arte, o que é a verdade? Sao tantas as verdades, indica Leonitson no titulo de um de seus trabathos, datado de 1988, No qual arrola uma porcao de nomes de artistas que eram certa- mente de seu agrado. Cada um correspondendo a uma verdade”” Sao tantas as mentiras, alguém poderia contrapor. “O artista é um mentiroso profissional’,{*9) afirmou certa vez Oscar Wilde. “Nao acredite nunca no que diz um artista, veja, antes, o que ele Faz") alerta seu conterraneo, David Hockney. O artista é um falsdrio, sustentam Jorge Luis Borges e Orson Welles, este autor de F for fake, sobre um fatsificador de obras contempordneas, Elmir de Hory. Montaigne dizia que “a arte mascara e oculta”"!, e o mais brithante tedrico da época maneirista, Federico Zuccari, garantia, em 1607, que "A invengdo de grossas mentiras e a descoberta de belas inverdades Formam propriamente o objetivo da arte”** Men- tira que, entretanto, pode levar a verdade, pelo menos a verdade do artista, argumentava Picasso. Para Susanne Langer, a arte ilusdo, mas, se apressa em esclarecer, a ilusdo em arte é real, ou mais do que isso, é 0 seu principio cardial.) E o kitsch, 0 que 6? Segundo Abraham Moles e Eberhard Wahl, a palavra aparece, em seu sentido moderno, em Munique, por volta de 1870. Kitschen significa “reformar méveis para fazé-los parecer antigos". Verkitschen, por sua vez, é vender barato, mas, igualmen- te, trapacear, receptar, vender alguma coisa no lugar do que havia sido combinado.® Ou, em bom portugués, é vender gato por lebre. Ludwig Giesz propde uma outra versdo. A palavra seria uma cor- ruptela do termo inglés sketch, remontando a segunda metade do século passado, quando turistas americanos, querendo adquirir uma obra de arte por preco irrisério, pediam um esboco (sketch) da mesma-* Nas trés vers6es, 0 significado que subjaz é 0 da inautenti- cidade, levando Umberto Eco a caracterizar 0 kitsch como “mentira estética’, enfatizando, em sua abordagem do fendmeno, o Fator intencionalidade. Vale dizer, “existiria um kitsch ndo somente na mensagem, mas, também, por parte do fruidor”® Em outras pala- vras, produtor e consumidor seriam parceiros na mesma trapaca, como de resto é 0 que ocorre sempre nos atos de corrupcao, seja esta politica, econémica, administrativa, emocional ou estética. “A arte © lugar da liberdade perfelta” (André Suarés)#)“é um exercicio experimental de liberdade” (Mério Pedrosa),'**) “6 uma Forma de crescimento para a liberdade, um caminho para a wida’ (Fayga Ostrower),{") “é um exercicio de liberdade, ou ela é inuttil” (Daniel Abadie).29 bom senso indicaria que, mesmo quando se trata de arte, é preci- so balancear liberdade e rigor, pois “a arte tanto pode morrer de um excesso de rigor quanto de uma extrema liberdade” (Lefebvre). “Amo a regra que corrige a emocao","” diz Braque, justificando a extrema contencdo de suas colagens. “Amo a emogao que corrige aregra’#9 provoca Juan Gris, seu colega no movimento cubista e, na verdade, tao rigoroso quanto Braque em sua obra. A arte busca © equilibrio dos contrérios, sustenta Mondrian, Mas 0 bom senso, a ponderacdo e 0 equilibrio ndo sao o Forte dos artistas. Para Henry Miller, ‘o equilibrio no é mais o objetivo. As balancas devem ser destruidas. A arte consiste em ir ao extremo. Se a gente comeca com tambores tem de acabar com dinamite ou TNT” Como se vé, todas as definicdes, ou todas as contradigées, cabem dentro da arte. Cabem a regra e a emogao, o rigor e a intuicdo, a Fantasia mais desbragada e o cdlculo matemético. O Barroco ea arte moderna sao igualmente atraidos pelo cégito cartesiano e pelo c6gito irracional. Mas, bad ou beautiful, pura ou impura, a arte serd sempre arte, ou como quer Duchamp: “A arte pode ser ruim, boa ou indiferente, mas qualquer que seja 0 adjetivo empregado, temos que chamé-ta arte. A arte ruim é arte, do mesmo modo como uma emogao ruim é uma emocdo."*) “0 Belo torna-se belo pelo Belo” eis a tautologia de Sécrates. “A arte em arte é arte. O Fim da arte é arte como arte. O fim da arte nao € 0 fim’, eis a tautologia de Ad Reinhardt, o “monge negro” da arte norte-americana, “O que a arte tem em comum. com a légica e a matematica é que ela é uma tautologia, a ideia da arte e a arte sao. a mesma coisa. (..) A tinica reivindicacdo da arte é a arte. A arte é a definicao da arte”, reforca Joseph Kosuth em “Art after philosophy"! texto que pode ser considerado o primeiro manifesto da arte conceitual. A arte é o que Donald Judd, eu, voce ou a sociedade chamamos de arte. A questdo é estatistica, arremata Piotr Kowalski: “Se hd gente suficiente que decide que uma coisa é arte entdo ¢ arte."5) Muitos artistas viveram e continuam vivendo a utopia de uma arte Pura, intacada e incontaminada pela vida, pelo mundo exterior. A arte pura é uma das muitas manifestacées da tautologia artistica. Jé no século passado, Konrad Fiedler lan¢ava as bases de uma teoria da visualidade pura, conceito que é retomado de tempos em tempos no eterno rondé da histéria da arte. Em nosso século, especialmente por artistas construtivos, concretos ou minimalistas como Matevitch, Mondrian, Albers, Ad Reinhardt e Donald Judd Mas foi justamente um dos seguidores brasileiros dessa vertente Purista, Hélio Oiticica, na Fase inicial de sua obra, que conctuiu, um dia, que a pureza ndo existe ~ como se lé no final de um dos seus penetrdveis mais conhecidos, Tropicdtia, de 19675 _Jé entao rom- pido com 0 Neoconcretismo, que ajudou a Fundar e do qual foi seu principal teérico, Ferreira Gullar decide dar um basta: "Nao tem sen- tido o artista perder-se em experiéncias super-sutis, que poderiam maravithar um critico suico. A hora, senhores, é de grossura,”™®! E de Dostoiévski esta afirmacao: "Se Deus ndo existe, tudo é permi- tido.”" Da mesma Forma, poder-se-ia dizer: se a pureza nao existe, entdo tudo é possivel. E 0 que deveria estar pensando Oiticica quando anunciou no catdtogo da mostra Opinio 66: “Chegou a hora da antiarte.”"" Nao é preciso criar novos objetos de arte, basta ao artista apropriar-se dos objetos existentes. Uma mesa de bithar ~eis aarte. Esta ndo-arte ("auséncia da arte = arte”, Ben Vautier)"*" corresponderia a este “singular estado de arte sem arte” de que Fala Lygia Clark num texto de 1965.9) Hegel é previra em sua Estética a morte da arte, mas se tratava de um argumento puramente Filos6fico. O verdadeiro brado de guerra contra a arte Foi dado quase que simultaneamente pelos constru: tivistas russos (Tatlin ¢ El Lissitsky, entre outros) e pelo dadaista Marcel Duchamp. Este, mal chegara ao aeroporto de Nova York, em 1915, gritou para seu amigo e colecionador Walter Arensberg: “A pintura acabou. Quem faz methor esta hélice?""™) Desde entao os coveiros da arte se multiplicaram rapidamente em todo o mundo, do earth-artist Jan Dibbets aos ativistas de Viena, do critico Pierre Restany (“A pintura de cavalete esta morta")! ao tedrico da comu- nicagdo Décio Pignatar' ("Estamos assistindo & agonia da arte: a arte entrou em estado de coma, pois seu sistema de producao é tipico e nao prototipico, néo se ajustando ao consumo em larga escala”).""5) Arte, no entanto, resiste. Com mais de 40 mil anos de histéria, a pintura continua sendo, neste final de século, um espaco aberto a reflexdo e ao prazer, “Néo podemos matar uma tradicdo pictérica, Apintura é mais poderosa que a guerra, os governos ou 0 gosto’, diz René Ricard.""*) A arte no morreré, simplesmente porque em arte ndo hé progresso. Nem, a rigor, decadéncia, Mudam os meios de ‘expresso, mudam os suportes, os materiais e as técnicas emprega- das pelo artista, as formas de apresentacao e circulacdo das obras de arte, mas, essencialmente, a arte ndo muda. Desde os tempos pré-hist6ricos ela é sempre uma necessidade vital para o homem © as nacBes. As questées da arte serdo as questdes de sempre. E certo que alguns artistas passaram por momentos de depressdo e se perguntaram sobre a utilidade de seu trabalho. No final da vide, vetho, doente, prostrado em sua melancolia saturnina, Miguel Angelo escreveu: “Apoiado, ora no pé direito ora no pé esquerdo, eu titubeio e procuro a minha salvagao. Atraido pelo vicio e simut- taneamente pela virtude, o meu coracao inquieto me atormenta.” E prossegue: “Jd estou distinguindo o cheiro da uring nas latrinas, © cheiro mefitico dos loucos que perambulam livremente @ noite. (.) A tosse e 0 Frio tomam conta de mim. Sinto-me desgastado, dilacerado e alquebrado por todos os esforcos que despendi. Por companheira resta-me ainda a melancolia e como distracao os meus tormentos. (..) Tenho pedras no ventre. Meus olhos estdo tur- wos e doentes e meus dentes estatam quando Falo. Meu semblante horroroso. Em um dos meus ouvides instalou-se uma aranha e No outro um grilo, A sua incessante operosidade rouba-me o sono. E por ai vai, tamentando sua vethice, o abandono e a gléria perdida. © pintor do Juizo Final nao deixa escapar de seus lamentos sequer arte, “cujos segredos tao bem conheci” e que “reduziu-me a este estado. Sou pobre. Estou velho e dependo dos outros. Jé entrarel em estado de decomposi¢dio, caso ndo venha a morrer logo.”* Esta terribilitd que corroia a alma e o espirito de Miguel Angelo Prenunciava o Maneirismo, que esta para o Renascimento como 0 Dadd esté para o Cubismo: niilismo, ironia, antiarte, mas, também, invengdio e ousadia. Estado de espirito que jé se anunciava em Van Gogh, antes que o Expressionismo moderno se firmasse como uma das tendéncias marcantes do século XX. Numa das cartas que escreveu ao seu irmao Théo, Van Gogh se pergunta: “Que sou eu os othos da maioria? Uma nulidade, um homem raro ou um tipo desagraddvel, alguém que nao obteve nem chegard a obter uma situacao social, enfim, alguém que significa menos que a genera- lidade das pessoas? Bem, admitamos que seja exatamente assim. Pois bem. gostaria de mostrar com meu trabalho o que hé dentro do coracao deste tipo raro, desta nulidade.""=") Conta-se que um imperador da China, Li Su Hsun, Foi reclamar ao seu pintor de biombos que ndo podia dormir porque as cascatas por ele pintadas eram muito baruthentas."™ Os chineses acredi- tavam que uma paisagem pintada tinha o dom de transportar 0 homem diretamente para 0 leito do rio. Por isso, Confucio, sempre muito pragmatico, recomendava aos administradores das cortes e aos homens de negécios que, para vencer 0 cansaco, contemplas- sem, todos os dias, por uns poucos minutos, quadros de paisagem Cézanne, em suas conversagdes com Joachim Gasquet, disse-the que por vezes tinha a sensacéio de que era a consciéncia subjeti- va da paisagem, e sua tela, a consciéncia objetiva. Mas, racional como era, logo considerou sua obser vacdo uma tolice: “Eu sei, eu sei trata-se de uma interpretagdo, e eu ndo sou um universitério.“" No entanto, o historiador Max Friedlaender confirma o pintor: “Se saio ao ar livre apés ter contemplado um quadro de Cézanne, vejo nna natureza quadros de Cézanne."5"") Oscar Wilde escreveu: “Pode-se observar que, durante algum tempo, a natureza imitou as paisagens de Corot."'*") De Fato, € @ vida que parece imitar a arte, ou pelo menos tem sido esta a pretensdo de muitos artistas. Em suas famosas “twelve rules For ‘anew academy’, Ad Reinhardt, depois de enumerar tudo 0 que a arte pura ndo é, e o modo como um artista puro deveria construir seu atelié, concluiu assim seu manifesto: “Um artista puro ndo tem desejo de se sentar com as pernas cruzadas."""7) Mas, por sorte, a arte ndo é realizada apenas por artistas como Ad Reinhardt. Se, como acreditava Herbert Read, “sem arte a vida seria torpe, brutal existir”{*" a arte ndo pode Fugir @ vida nem deixar de retratar a experiéncia de vida do artista. "Eu procuro chumbar minha vida em meu trabatho. Se meu ser ndo esta triturado na minha pintura como um automével prensado, meu trabatho nao vale nada”, confessa Julian Schnabel.) “Os grandes’, diz Iberé Camargo, ‘ndo queriam inovar. Queriam dar uma resposta @ vida A pintura é isso - uma resposta a vida." Castigado pelo cancer, mas ainda trabathando, Iberé acrescentaria, um ano depois, em 1993; “Eu ndo nasci para brincar com a figura, fazer berloques, enfeitar © mundo. Eu pinto porque a vida dé." Para que serve uma definicdo de arte? Serve, entre outras coisas, para ser citada, Serve como epigrafe de livros e artigos, serve como mote para debates ou conferéncias, serve para ampliar a bibliografia das teses universitdrias. Serviu para elaborar carta zes dadaistas (‘A arte esté morta. Viva a nova arte da méquina de Tatlin’),"*9 grafitar os muros de Paris durante as manifestacdes de maio e junho de 1968 ("A arte esté morta. Criemos nossa vida cotidiana”),"8 tem servido para brigadistas da pintura eleitoral ‘ou como tema para exposicdes e obras de artistas. A citacdo tem servido aos eruditos de todos os tempos, em obras de cardter enciclopédico, assim como tem servido como troca de insultos em polémicas intelectuais ou como troca de favores em textos enco- midsticos. A citacao, enfim, tranformou-se em metalinguagem-art ‘about art - em um novo ismo, 0 citacionismo nas artes plasticas. ‘Ou, como sugere Patrick D'Elme, em uma nova forma de belas ‘artes Mas, além de todas estas utilidades intelectuais ou munda- nas, sérias ou Frivolas, eu poderia dizer, concluindo, que, como nas datas em uma cronologia, uma citagao é a ponta de um iceberg. E preciso coragem para avancar, ir sempre mais longe, quem sabe ‘até aquela mao que o homem do neolitico deixou impressa no timo da gruta, e tentar, uma vez mais, decifrar 0 mistério da arte. 1.ANDRADE, Mério de. © artista €0 artesdo. In: © bolle das quatro artes. Se Poulo: Livraria 4.16, ib 51d, bi. 6. WORRINGER, Wilhelm. Lo esencla del estilo g6tico, Buenos Aires: Nueva Vision, 1987. Z.LAGNADO, Lisete, Sao tantas as verdades. Cat. exp. de Learilson Galeria de Arte do SES! Sao Peuto, nov. 195. 8. MOLES, Abrohom A.e WAHL, Eberhard. Kitsch et objet. Communications, Les Objets 13 Pris: Ed, du Seu, 1969, 19. GIESZ, Ludwig. enomenolagia det kitsch, Barcelona: Tusquets Editor, 1873. 10. £CO, Umberto. Apocalittce integrati Mildo: Bompian,1970, 11, DOSTOIEVSK|,Flédor M. Os iemaos Karamazov. In: Obra completa. Ro de Janeiro: Nove Aguitor 1995, 12. Cit HOCKE, Gustav R, Maneiizmo: o mundo come lbirinto. Sde Pouto: Perspective, 1974, 15. O'ELME, Patrick. Peinture et poltique. Pars: Repéres-Mame, 1974 — BELO, BELEZA 1 A beleza é a finalidade da arte. Que é arte, que € beleza, que é Finalidade? _RosARio Fusco, 1952 Sem duvida, homens, cavatos, vestimentas, virgem ou lira sao coi- sas belas; mas, acima de tudo isto, hé a prépria Beleza. SOCRATES 3 © Belo torna-se belo pelo Belo. s6cRATES 4 Um ser ou uma coisa composta de partes diversas sé pode ter beleza na medida em que suas partes componentes sao dispostas em determinada ordem e que possuam, além disso, uma dimensao que nao pode ser arbitraria, pois o Belo consiste na ordem e na grandeza. _ARISTOTELES 5 Abeleza é a harmonia de todas as partes, ajustadas com tal propor- do e vinculagdo que nao seria possivel agregar, tirar ou modificar coisa alguma sem detrimento da obra. LEON BATISTA ALBERTI, 1485 6 © génio grego, caracterizado pela constante e universal aspira- do @ justa medida, a perfeicdo, 4 beleza, e que via na arte uma transfiguracdo do homem e da vida em seus aspectos mais nobres, encontrou, depois de milhares de anos (em meados daquele Gureo século V antes de Cristo), a formula de um equilibrio estével entre Forma e contetido, Férmula que designarei aqui com o termo de “realismo ideal’ (..) Tentava, por assim dizer, realizar a intengao secreta da natureza, evocando a imagem de um homem que pu- desse viver se algum Pigmalido conseguisse anima-lo, e que Fosse, entdo, o mais belo dos homens. _DEOCLECIO REDIG DE CAMPOS, 1958 7 S6 buscamos 0 Util e o necessGrio tendo em vista 0 Belo. ARISTOTELES 8 © Belo é 0 que agrada universalmente, ainda que nao se possa Justificar intelectualmente. KANT Abeleza natural é uma coisa bela; a beleza artistica é a bela re- presentacdo de uma coisa. KANT 10 Beleza é verdade, verdade € beleza. JOHN KEATS n Nao hé realmente nem belo estilo nem belo desenho nem bela cor. Ndo hd sendo uma sé beleza, aquela da verdade que se revela. -AUGUSTE RODIN 12 Somos insensivels a beleza porque nao respeitamos a verdade e a bondade. HERBERT READ, 1962 13 ‘Sdo necessérias trés condi¢es para a beleza: primeiro, a integri- dade ou perfeicao, pois o que é incomplete é Feio por isso mesmo; depois, a devida proporcéo ou harmonise, por ultimo, a claridade, pois aquilo que chamamos belo tem cor brilhante. _SA0 TOMAS DE ‘AQUINO 14 A arte desenvolve-se nesta mais elevada esfera: a ideia da conci- liao dos contrérios. MEGEL 15 A arte nao é sendo um produto de substituigéo numa época em que a vida carece de beleza. A arte desaparecerd a medida que a vida tiver mais equilibrio. PIET MONDRIAN, 1925 16 O bom eo belo reduz-se no Fundo ao Util e ao agraddvel. KONRAD FIEDLER, 1876 7 O Unico ponte de partida possivel para a criagao é a vida moderna Todas as Formas modernas devem estar em harmonia com as novas exigéncias do nosso tempo. Nada que nao seja pratico poderd ser belo, OTTO WAGNER, 1894 18 Faz-se evidente, com efeito, que ndo pode tratar-se somente de desenvolver a beleza a partir da Funcao; devemos exigir, antes, que @ beleza, indo a par com a Fungao, seja ela também uma fungao. -TOMAS MALDONADO, 1955 19 Nem sempre se tem apreciado em seu justo valor a beleza das méquinas, que séo um produto maravilhoso de nossa arte. Uma locomotiva, um carro elétrico, uma maquina a vapor e, dentro em breve, uma aeronave, é 0 génio humano que passa. Nesta massa pesada que os estetas desprezam, triunfo aparente da forca bruta, hd tanta inteligéncia, tanto pensamente, tanta finalidade e, para resumir, tanta arte verdadeira quanto num quadro de um mestre ou em uma estdtua. PAUL SOURIAU, 1904 20 E mais belo um ferro elétrico que uma escultura. Uma maquina de escrever é mais importante que uma grande escultura. .GIAcomMo BALLA, 1915, 21 Declaramos que © esplendor do mundo foi enriquecido com uma nova forma de beleza, a beleza da velocidade. Um carro de corrida (.) € mais belo que a Vitéria de Samotrdcia, _TOMMAzZO MARINETTI, 1 MANIFESTO FUTURISTA, 1909 Oscar Niemeyer nos ensina que a beleza é leve. FERREIRA GULLAR, 1978 23 Aarte nao tem com a beleza relacao necessdria alguma, uma po- sido perfeitamente correta e légica se limitarmos 0 contetido do termo aquele conceito primariamente estabelecido pelos gregos, continuado pela tradicdo cléssica europeia. HERBERT READ, 1951 24 Na verdade, o significado histérico do conceito de beleza é muito Uimitado. Teve origem na Grécia antiga, produto de uma determina- da Filosofia da vida. Essa Filosofia era de caréter antropomérfico, enaltecia todos os valores humanos e nao via nos deuses mais que verses magnificadas do homem. A arte, assim como a religiao, era para os gregos uma idealizacao da natureza, e especialmente do homem como ponto culminante dos seus processos. Este tipo de beleza foi herdado por Roma, e o Renascimento Fé-lo reviver. Vivemos ainda a sombra da tradicdo renascentista, e para nés a Nogao do belo anda inevitavelmente ligada a idealizacdo de um tipo humano concebido por um povo antigo num pais tonginquo, tonge das condicées reais de nossa vida cotidiana, _MERBERT READ, 1951 25 A beleza absoluta e eterna inexiste, ou melhor, é apenas abs- tragdio empobrecida na superficie geral das diferentes belezas. © elemento particular de cada beleza vem das paixées, e como temos nossas paixdes particulares, temos nossa beleza particular. CHARLES BAUDELAIRE, 12846 26 Se a experiéncia estética varia com as culturas, com as épocas, com os povos, com os homens, como se poderd, entdo, estabelecer @ universalidade da beleza? ROSARIO FUSCO, 1952 27 Nao ¢ Facil atrever-se a falar de progresso no mundo das imagens da arte. As imagens, uma vez criadas, sao eternas. (..) E por isso que nao me parece Uicito dizer que a arte primitiva representa uma forma de beleza inferior a da arte grega; ainda que possa repre- sentar um estdgio inferior de civiliza¢ao, pode exprimir um instinto Formal igual ou até mais refinado. HERBERT READ, 1957 28 E um dos privilégios prodigiosos da arte que o horrivel, artistica- mente expresso, se torne beleza, e que a dor ritmadae cadenciada complete 0 espirito com uma alegria calma. CHARLES BAUDELAIRE 29 Na Europa, a beleza sempre foi premeditada. Havia sempre uma intengao estética e um plano de longo alcance. Foram necessdrios s€culos para edificar, segundo esse plano, uma catedral gética ou uma cidade do Renascimento. A beleza de Nova York é involunté- ria, Nasceu sem que houvesse intencdo por parte do homem, um Pouco como uma gruta de estalactites. As Formas se encontram Por acaso, sem nenhum plano. _MILAN KUNDERA, 1985 30 © sentimento estético inerente a maioria dos homens, inde- Pendente de seu nivel de desenvolvimento intelectual. HERBERT READ, 1957 31 Nao sei o que é a beleza, ainda que ela se encontre em muitas coisas. ALBRECHT DORER rN a 3 ARTE 32 Devo confessar, preliminarmente, que eu no sei o que é belo e lem sei o que é arte. MARIO DE ANDRADE, 1958, 33 Isto 6 arte? Arte € isto. WALTERCIO CALDAS JR., 1982 34 Se alguém chama seu trabalho arte, entdo é arte. DONALD JUDD 35 Aarte é um conceito estatistico. Se hé gente suficiente que decide que uma coisa é arte, entdo é arte. _PIOTR KOWALSKI, 1977, 36 Aarte é a arte. _sAN DIBBETS, 1972 37 Arte em arte é arte 0 Fim da arte é arte como arte © fim da arte nao é 0 fim. __AD REINHARDT, 1965 38 A Unica coisa a dizer a propésito da arte é que ela é Unica. A arte é arte enquanto arte e outra coisa é outra coisa. Aarte enquanto arte ndo é outra coisa sendo arte. A arte nao é ‘© que nao é arte. -AD REINHARDT, 1957 39 Ser um artista hoje significa se interrogar sobre a entidade arte. Se interrogamos a entidade pintura, nao podemos interrogar a fortiori a entidade arte. Se um artista aceita a pintura (ou a escultura), aceita a tradicao que a acompanha. Isto porque arte é um termo geral e pintura um termo especifico. JOSEPH KOSUTH, 1968 40 © objeto da arte & a prépria continuidade da arte enquanto pro dusdo de significados. € claro que a arte se enriquece de tudo, mas eo que mais enriquece a arte é a propria arte, é a possibilidade que ela dé a voce de continuar a Fazé-Lo, .WALTERCIO CALDAS JR., 1992 41 Ora, nenhuma obra de arte pode existir a nao ser como produto de si mesma e jamais como substituicdo. MARIO PEDROSA, 1967 42 A arte pode ser ruim, boa ou indiferente, mas qualquer que seja © adjetivo empregado, temos que chamé-ta arte. Acarte ruim é arte, do mesmo modo como uma emogao ruim & uma emocdo. MARCEL DUCHAMP, 1957 43 Pouca coisa fora da arte é moral, a vida sem industria é culpae a industria sem arte é brutatidade. _JOHN RUSKIN, 1649 44 Todo objeto de arte é um lugar de convergéncia onde encontramos © testemunho de um numero mais ou menos grande, mas que pode ser considerdvel, de pontos de vista sobre 0 homem e 0 mundo. PIERRE FRANCASTEL 45 Aarte é necessdria para que o homem se torne capaz de conhecer e mudar o mundo. Mas a arte também é necessdria em virtude da magia que the é inerente. _ERNST FISCHER, 1959 46 Atensdo ea contradi¢do dialética sao inerentes a arte; a arte ndo 6 precisa derivar de uma intensa experiéncia da realidade, como precisa ser construfda, precisa tomar forma através da objetivi dade. ERNST FISCHER, 1959 47 E belo como o encontro de uma méquina de costura e um guarda- ~chuva numa mesa de dissecar caddveres. CONDEDELAUTREAMONT, 1869 48 AinvencGo de grossas mentiras e a descoberta de belas inverdades Formam propriamente o objetivo da arte. FEDERICO ZUCCARI, 1607 as ‘Todos sabemos que arte nao é verdade. Arte é uma mentira que nos faz compreender a verdade, pelo menos a verdade que podemos compreender. PABLO PICASSO, 1923 O artista é um mentiroso profissional. OSCAR WILDE 51 Nada € o que parece ser. Tudo é algo distinto e, ademais, algo dis- tinto do que pretende ser. Vivemos num mundo de ocultamentos @ mascaramentos. A arte mascara e oculta. _MONTAIGNE, 1580 52 Quanto mais ilusdo causar uma obra de arte, tanto mais perfeita ela serd. FEDERICO ZUCCARI, 1607 53 A ilusdo constitui um importante principio em matéria de arte, na verdade, é um principio cardial. Nas artes, a ilusdo nao é pretexto ‘ou engano, nem methoramento do natural ou evasdo da realidade. A ilusdo é a “substéncia” da arte, a “substancia" com que se faz a Forma expressiva, semiabstrata mas ao mesmo tempo incomparé- vel e amitide sensivel. Dizer que aimagem artistica é iluséria equi- vale, simplesmente, a dizer que ndo é material, que ndo é tela, mas espaco organizado mediante formas equilibradas, com relacdes dinamicas, tensdes e resolugdes entre elas. SUSANNE LANGER, 1966 54 Tudo é arte. Nada é arte. _BEN VAUTIER, 1973 55 Adarte é tudo. Tudo o que fazemos ou mesmo imaginamos é arte. -NAUM GABO, 1962 Aarte nao pode nada, nao deseja nada, ndo diz nada. GRUPO BMPT, 1967 57 Tudo 0 que Fazemos é musica, (..) Ha teatro todo o tempo, onde estejamos. E a arte ndo faz sendo ajudar anos persuadir de que tal 6 0 caso, JOHN CAGE 58 © que Faco é misica, _Wét1o omicica, 1979 59 Os indios sdo obras de arte. Os crocodilos sdo obras de arte. A selva é obra de arte. Os cupins so obras de arte. Os direitos do homem sdo obras de arte. WOLF VosTELL, 1992 60 A arte, como formulacao visual da vida, abraca todas as suas facetas. Ela integra todos os campos do aprendizado, disciplina o coho ea méo, além do espirito. A arte é necessaria em toda a parte, na vida publica e na vida privada, do lar ao escrit6rio publico, da religido aos negécios. JOSEPH ALBERS, 1964 61 Meu sonho é uma arte cheia de equilibrio, de pureza, de repouso, sem temas inquietantes e que reclamem a atengdo. Uma arte que traga alivio ao trabathador intelectual, tanto quanto ao artista, que seja para ele um calmante espiritual, que acaricie suavemente sua alma e a tranquitize depois das Fadigas do dia e das inquietacdes de seu trabalho. HENRI MATISSE, 1908 62 Hoje a arte é ainda da mais atta importancia, porque é por ela que as leis de equilibrio podem ser demonstradas de uma maneira direta, independente de toda concepcdo individual. _PIET MONDRIAN, 1925 63 0 equilibrio nao € mais 0 objetivo. As balancas devem ser des- truidas. A arte consiste em ir ao extremo, Se a gente comeca com tambores tem de acabar com dinamite ou TNT. HENRY MILLER, 1963 64 A funcéo da arte nao é a de passar por portas abertas, mas a de abrir portas fechadas. ERNST FISCHER, 1959 65 As obras de arte ndo sdo mais que janelas abertas sobre um outro mundo... VIKTOR CHKLOVSKI, 1923, Arte ndo reproduz 0 invisivel, torna visivel. PAUL KLEE, 1925 67 indizivel - é af que comeca a arte. JEAN-LOUIS FERRIER, 1969 arte ndo é uma profissaio, é uma iniciacdo nos mistérios da vida (de nossa propria Vida). ROBERTO E. MATTA, 1975 Aarte 60 desejo do que ndo existe e ao mesmo tempo aferramenta para realizar este desejo. ROBERTO E, MATA, 1968 70 Toda arte é reminiscéncia da noite e das origens ancestrais, das. quais alguns fragmentos vivem ainda no artista. PAUL KLEE 71 A arte demonstra que 0 ordindrio é extraordinGrio. aMEDEE ‘OZENFANT, 1918 72 Arte 6 apalpar a divindade. ROBERTO MAGALHAES, 1970 73 Se a arte ndo tem Funcdo espiritual, ela ndo é nada. MATHIAS GoERITz, 1969, 74 0 objetivo da vida sao as criaturas vivas. O objetivo da arte sao Gs criages vivas. JOSEPH ALBERS, 1964 75 Assim como a natureza é um contraponto a poluicao e ao progres- so industrial, um universo diferenciado contra a padronizacéo da informatica, a arte é uma espécie de reserva mitica e utépica, uma reserva para a subjetividade, um caminho para a interiorizagao do homem ou, ao contrério, um caminho para o reencontro do homem com 0 social. FREDERICO MORAIS, 1994 76 As obras de arte séo projecées da “vida sentida” em estruturas espaciais, temporais e poéticas. HENRY JAMES 77 Aarte precisa ter uma espécie de toque humano e insinuar-se na meméria. Deve inspirar a uma pessoa algo que a comova ~ uma recordagao, o reconhecimento de sua soliddo ou tragédia ou o que quer que estejana base de suas recordacdes. _ISAMU NOGUCHI, 1962 78 Aorigem da arte: a diferenca entre a realidade fisica e 0 efeito psiquico. O contetido da arte: Formutacéo visual de nossa reacdo a vida, Amedida da arte: arelacdo entre esforco e efeito. A finalidade da arte: a revelacao e a evocagao de uma visao interior. JOSEPH ALBERS, 1964 79 A obra de arte esté dentro e fora de nés, ela é nosso dentro ali Fora. E isto que faz dela um objeto especial - um ser novo que o lhomem acrescenta ao mundo material, para torné-lo mais humano. A arte n@o seria uma tentativa de explicagao do mundo, mas de ‘assimilagdo de seu enigma. Se a ciéncia e a Filosofia pretendem ‘explicacdo do mundo, esse nao € o propésito da musica, da poesia ‘ou da pintura. A arte, abrindo mao das explicagdes, nos induz ao convivio com o mundo inexplicado, transformando sua estranheza ‘em fascinio. FERREIRA GULLAR, 1993 80 Acho que uma das preocupacées essenciais da arte corresponde @ sina do garimpeiro, que se autodefine como alguém que vive de procurar o que no perdeu. .¢1LDO MEIRELES, 1977 81 Averdadeira arte esté sempre ali onde ndo a esperamos. Ali, onde ninguém pensa nela nem pronuncia seu nome. A arte detesta ser reconhecida e saudada por seu nome. _JEAN DUBUFFET, 1949 (..) arte é expressdio~nada mais e nada menos. HERBERT READ, 1951 83 O essencial de urna obra consiste precisamente naquilo que nao se expressou. STEPHANE MALLARME 84 Aarte é individual como criacao e plural como significado. FREDERICO Morals, 1994 85 Arte néo é uma crise de nervos. CONSTANTIN BRANCUS! Aarte é um antidestino. ANDRE MALRAUX 87 Aarte é 0 lugar da liberdade perfeita. ANDRE SUARES 88 A arte é um exercicio experimental de liberdade. MARIO PEDROSA Aarte éum exercicio de liberdade ou ela € inuitil, DANIEL ABAK 90 ‘arte é uma forma de crescimento para a liberdade, um camninho de vida. _FAYGA OSTROWER, 1985 91 Quando gravo, estou fazendo alguma coisa que tedos deveriam Fazer, ou deveriam poder Fazer. Porque a arte é um pedaco de li- berdade, uma forma de enriquecimento das pessoas. Na verdade, ninguém pode prescindir da arte. Ela é um momento em que nos Ligamos com tudo. Com a arte, estabelecemos uma ligacéo uni- versal com o ritmo geral das coisas. ARTHUR LUIZ PIZA, 1961 92 Arte tanto pode morrer de um excesso de rigor quanto de uma extrema liberdade. HENRI LEFEBVRE, 1953 93 Aobra de arte é, em certa medida, uma libertacdo da personalidade. Normalmente os nossos sentimentos estéio sujeitos a toda espécie de inibicées e repressdes. Contemplamos uma obra de arte e dé-se imediatamente uma libertacdo e nao sé libertacdo ~ a simpatia também é uma liberdade de sentimentos -, mas também uma in- tensificagao, uma sublimagao. Esta é a diferenca essencial entre arte e sentimentalismo: o sentimentalismo é uma libertacdo, um afrouxamento, um descontrair de emogées. Arte libertagao, mas ao mesmo tempo uma estimulagao das emocdes. Arte é economia de emocdes, é emocdo que cultiva boa forma. HERBERT READ, 1951 94 A arte aparece na sociedade com a funcdo de poupanga. Uma das caracteristicas da obra de arte é rechacar a destruicdio, o consumo imediato. Poupar nao é enterrar, é orientar racionalmente 0 uso, € utilizar, com inteiro conhecimento, o momento mais favordvel. A va- sitha boa é tirada do armério nos dias de festas, _ETIENNESOURIAU, 1929 95 Fazer arte ¢ formular as percepcées que o artista tem. Ele percebe e tem de encontrar um suporte para estas percepcdes. Eu per- cebo aquilo que eu mostro e mostro aquile que percebo. .SERGIO ‘CAMARGO, 1975 96 Obra de arte: resultado da objetivacdo de uma verdade subjetiva. -SERGIO CAMARGO, 1961 97 Aobra de arte é uma mensagem fundamentalmente ambigua, uma pluralidade de significados que coexistem num nico significante. (..) Esta ambiguidade torna-se hoje um fim explicito da obra, um valor a realizar de preferéncia a qualquer outro... UMBERTO ECO, 1962 98 (..) toda obra de arte, mesmo enquanto forma acabada e “fechada" em sua perfei¢ao de organismo exatamente calibrado, é “aberta”, pode ser interpretada de diferentes maneiras sem que sua irredu- tivel singularidade seja alterada. UMBERTO Eco, 1962 99 Nossa arte é baseada na reciprocidade. Nao aspira a perfeicdo. Nao € definitiva. Nao pretendemos fazer quadros para a eternidade dos museUs. MARL GERSTNER, 1964 100 Quero uma arte politico-erdtica-mistica, que Faca algo mais que sentar a bunda num museu. Quero uma arte que cresca sem saber se € arte mesmo, uma arte que tenha a oportunidade de partir do zero. Quero uma arte que se misture com a merda cotidiana € que saia, opesar disso, na primeira linha. Quero uma arte que te o humano, que seja cémica, se necessdrio, ou violenta, ou 0 que seja necessdrio. Quero uma arte que copie suas Formas das linhas da prépria vida, que torca, estenda, acumule, cuspa e jorre, € que seja pesada e vulgar, doce e estupida como a prépria vida. _fLAES OLDENBURG, 1961 101 Nao existe arte a favor. O artista € sempre contra, _AMILCAR DE CASTRO, 1985 102 A arte, em sua Fantasia, deve sua existéncia ao ceticismo total. HUGO BALL, 1916 103 Aarte é um absurdo. & uma escroqueria. MARCEL DUCHAMP, 1915 104 Basta de mistificacdes. A arte atual é um Formiddvel blefe. 0 di- vorcio entre a criacdo artistica e o grande puiblico é uma realidade evidente. GRAV, 1961 105 Eu crelo que a arte ¢ irresponsdvel. No fundo a arte é reaciondria —quase criminosa em um certo sentido. Mas enquanto eu ndo es- tou lesando ninguém, eu ndo vejo por que justificar minhas agdes diante dos outros. CHRISTO JAVACHEFF, 1972 106 Arte nao é tao bonita e tao fina como parece depois de pronta, exposta nos museus. £ muito bandida, as vezes pior do que a gente. E traidora, sacaneia, Nossa relacao € por vezes algo muito violento. ‘Trocamos tapas e carinhos. WALD GRANATO, 1983. 107 Aarte é uma situagao, ndo é uma coisa. E esta situagdo quando se dé 6 tao intensa quanto Fragil e instavel. Para Fazer uma compa- Facdo é como a Felicidade. O grande erro dos infelizes é achar que a Felicidade é coisa permanente. E um estado, uma situacéo que se manifesta em determinados momentos, mas, quando ocorre, & tal a sua intensidade, que pode modificar inteiramente sua vida. Arte é isso. JORGE ROMERO BREST, 1978 108 A intuigéio é uma mediagao na ciéncia como na matemética. Na arte, porém, é uma esséncia, uma objetivagdo em si mesma, uma entidade parasi. A arte é pois esse modo de conhecimento Funda- do numa sequéncia de intuicdes independentes, cristalizadas em Forma. MARIO PEDROSA, 1960 109 Aarte nos coloca em estado de graca. PAUL CEZANNE, 1921 ARTE PURA 110 Aarte é por enquanto visdio e ndo expresso. _JOSEPH ALBERS, 1964 m1 A arte pura tem seu proprio pensamento, sua prépria histéria e sua prépria tradicdo, sua prépria razdo, sua prépria disciplina. Ela tem sua prépria integridade e nao é a integracdo de alguma coisa em qualquer outra coisa. A arte pura néo é um meio de ganhar a vida nem uma maneira de viver sua vida. A arte que é questdo de vida ou morte ndo pode ser uma arte pura ou livre. Um artista que consagra sua vida & arte, carrega a arte de sua vida e a vida de sua arte. Arte é arte e vida vida. _AD REINHARDT, 1957 12 © reino de Deus na terra esté numa forma pura de arte e esta Forma pura nao pode ser compreendida por nés se tivermos ou- tros desejos. Porque tudo que atende aos nossos desejos sim- plesmente utilitdrios nao poderd ser do reino de Deus. _KAZIMIR MALEVICH, 1925 13 Sem ignorar os meios do mundo, nossa natureza individual, € sem que isto seja questao de suprimir a nota humana na obra de arte, a plastica pura é a unido do individual com o universal. Porque um ritmo livre é composto destes dois aspectos da vida em equivaléncia. No seio da abstracao, a arte vem interiorizando a forma e a cor e colocando a linha curva em sua tensdo mé- xima: a linha reta. Pelo uso da oposicdo do angulo reto, a rela- ao constante da dualidade universal-individual se faz unidade. -PIET MONDRIAN, 1925 14 A plastica nova nao se libertou inteiramente do tragico, mas deixou de ser dominada por ele tal como ocorreu até 0 aparecimento do Neoplasticismo. _PIET MONDRIAN, 1925 15 A pureza nao existe. WéLIo ormicica, 1967 116 Nao tem sentido o artista perder-se em experiéncias supersutis, que poderiam maravithar um critico su(go. A hora, senhores, é de Grossurd. FERREIRA GULLAR, 1965 117 Doze regras para uma nova academia: 1. Nenhuma textura. A textura é naturalista ou mecénica e é uma qualidade vulgar, especialmente a textura da cor ou do empasto. Nenhum acidente, nenhum automatismo. 2. Nenhum traco de pincel e nenhuma caligrafia, Nenhuma assinatu- a, nenhuma marca de Fabrica. “O traco do pincel deve ser invisivel.” 3. Nenhum esboco, nenhum desenho. Tudo, onde comecar ou ter minar, deve ser pensado antes. “Em pintura, a idela deve existir no pensamento antes que se tome o pincel.” 4, Nenhuma forma. 0 que hé de mais puro no tem Forma. Nenhu- ma figura nem no primeiro nem no ultimo plano. Nenhum volume. Nenhuma massa, cilindro, esfera, cone, cubo ou boogie-woogie. “Nenhuma forma, nenhuma substancia. 5. Nenhum croqui. “O desenho esté em toda parte.” 6. Nenhuma cor. “A cor cega." As cores sdo “uma expressdo da aparéncia e, logo, somente da superficie’, sao “um embelezamento que distrai”. As cores sdo barbaras, instaveis, sugerem vida, “ndo | | | podem ser completamente controladas’, e deveriam ser aprisio- nadas. Nada de branco. “O branco é uma cor e todas as cores. O branco é “antisséptico e ndo artistico. Apropriado e agradavel para aparethos domésticos e nunca o meio para se expressar a verdade e a beleza.” Branco sobre branco “é uma transicao da cor @ luz”, um “écran para a projecdo da luz” e de “imagens animadas’, 7. Nenhuma luz. Nenhuma luz viva ou direta na ou sobre a pintura, Nenhum claro-escuro. 8. Nada de espaco. O espaco deve ser vazio, ndo deve ser proje- tado nem deve ser plano. “A pintura deve estar atras da moldura da tela.” A moldura deve isolar e proteger a pintura do meio. Nao deve haver divisdes do espaco no interior da pintura. 9. Nada de tempo. “O tempo do relégio e o tempo do homem sao. inconsequentes. Nao hé antigo, nao hé moderno, nada de passa- do ou de futuro em arte. Uma obra de arte é sempre presente.” 0 presente é 0 futuro do passado, nao o passado do Futuro. 10. Nenhuma dimensdo, nenhuma escala. A amplitude e a profun- didade do pensamento e do sentimento na arte néo tém relacdo com sua dimensdo Fisica. As grandes dimensdes sao agressivas, Positivistas, imoderadas, venais e sem graca. 11. Nenhum movimento. “Tudo esté em movimento. A arte deve ser imével 12. Nenhum objeto, nenhum tema, nenhuma matéria, Nenhum simbo- lo, imagem ou signo. Nem prazer nem sofrimento. Nada de trabatho inquietante ou de inquietacao sem trabalho. Nada de jeu d’échecs. As regras complementares sao: nenhum cavalete. Nenhuma pa- theta, Bancos baixos, lisos e robustos sdo necessdrios. Os pincéis devem ser novos, préprios, lisos, iguais, na dimensGo de um dedo e duros. “Se 0 coracdo estd bem, o pincel é firme.” Nenhum baru- tho. “O pincel deve passar sobre a superficie ligeira e docemente.” Nenhuma esfregadura ou raspadura. A tinta deve estar permanen- temente livre de impurezas, misturada e conservada em potes.O perfume deve ser “de esséncia pura de terebintina, nao adulterada e frescamente destilada”. A.cola também deve ser prépria e a mais clara possivel. A tela é melhor que seda ou papel, o linho methor que 0 algodao. (..) Um quadro termina quando desapareceram todos os resquicios dos meios empregados. Um atelié para arte pura deve ter um teto cala- Fetado, medir 25 pés de Largura por 30 de altura, e estar separado da parte habitavel da casa, tonge das obrigacées do concubinato e do casamento, Um artista puro deve ter um espirito puro, “livre de toda paixao, de ma vontade e ilusdo”. Um artista puro nao tem desejo de se sentar com as pernas cruzadas. AD REINHARDT, 1957 ANTIARTE 118 Chegou a hora da antiarte. Com as apropriacdes eu descobri a Inutilidade da chamada elaboracao da obra de arte. Esté na capa- cidade do artista declarar se isto 6 ou ndo uma obra de arte. Tanto Faz que seja uma coisa ou uma pessoa viva. HELIO OITICICA, 1966 119 Sou contra a palavra “anti” porque é mais ou menos como o ateu em comparagao com o crente. E um ateu é um homem tao religioso como é 0 crente e um antiartista é tdo artista como outro artista. MARCEL DUCHAMP, 1959 120 Se a perda da individualidade é de qualquer modo imposta ao homem moderno, o artista oferece uma vinganca e a ocasido de se encontrar. Ao mesmo tempo que ele se dissolve no mundo, em que ele se funde no coletivo, o artista perde sua singularidade, seu poder expressivo. Ele se contenta em propor aos outros de serem eles mesmos e de atingirem o singular estado de arte sem arte. LYGIA CLARK, 1965 121 Auséncia de arte = arte. 122 Ando-arte pode ser para o artista uma arte, assim como a arte pode ser para o profano a merda. ALLAN KAPROW, 1974 123 € talvez a obra de arte que esté visada em primeiro lugar pela contestacao. A obra de arte e ndo a arte. _MICHEL RAGON, 1968 124 A antiarte sempre existiu: é Feita pelos maus pintores. ‘CAMARGO, 1970 BEN VAUTIER, 1975 BERE MORTE DA ARTE 125 Apintura acabou. Quem Faz melhor esta hélice?_MARCEL DUCHAMP, 1915, 126 Aaarte esté morta. Viva a nova arte da maquina de Tatlin. caRtaz APRESENTADO NA I FEIRA INTERNACIONAL DADA, BERLIM, 1920 127 Alguns verdo, nestes procedimentos, uma confirmagao do pessi- mismo hegeliano para quem a morte da arte era inevitdvel. Mas um prognéstico aberto parece defensdvel: a estética numérica estd, para a estética tradicional, como a Fisica quantica esté para @ fisica cldssica: um complemento indispensdvel. M. MATTYS, 1971 128 Aaarte estd morta, Criemos nossa vida cotidiana. .es¢RITo NUM MURO DEPARIS, MAIO DE 1968 129 A.arte esté morta, Cessemos nossa atividade especulativa (pintar quadros)e retornemos as bases sdsda arte—acor alinha, amatériaea Formano dominio da reatidade que é a construgao prética. .A.6AN, 1925 130 A pintura de cavalete esta morta, Ela desempenhou seu papel histérico. A pintura a 6leo sobre tela entrou, de uma vez por todas, No dominio da arqueologia. Em nossa época de comunicacao de massa, nada impede sua sobrevida residual e documentéria nos museus nacionais. _PIERRE RESTANY, 1968 131 A reducio total da obra de arte a seu valor mercantil anuncia eviden- temente a morte da arte, mas da arte concebida em termos de século XIX: pintura de cavalete e escultura de saldo. PIERRE RESTANY, 1969 132 © quadro, um icone para burgueses, morreu. E com o fim da re- presentacao acabou também o autor do quadro. (..) Ese alguém Pensou em salvar 0 quadro com a pintura “pura’, ‘abstrata’, “infor- mat’, a Gnica coisa que conseguiu Foi sepultd-la definitivamente. Contudo, 0 prdprio artista comecou a transformar-se. De repro- dutor passou a ser artifice de um novo mundo de formas, de um novo mundo de objetos. _ek LisstTskt, 1921 133 Talvez estejamos vendo ndo o fim das galerias ou dos museus de arte, mas 0 fim da arte Feita no atelié. JAN DIBBETS, 1970 134 Nés desejamos suprimir do nosso vocabulério a palavra arte. Prefe- rimos considerar 0 fenémeno artistico como uma experiéncia unica~ mente visual concernente @ Fisiologia mais que & emocdo. GRAV, 1961 135 Todas as artes ~ nao as obras singulares, mas a arte em seu con- junto - séo mortais. Chegaré um dia em que o ultimo retrato de Rembrandt deixaré de existir, pots ainda que a tela pintada per- manega intacta, ter desaparecido o olho capaz de perceber esta Forma de linguagem. OSWALD SPENGLER, 1920 136 Estamos assistindo agonia da arte: a arte entrou em estado de coma, pois seu sistema de producao ¢ tipico e nao prototipico, nao se ajustando ao consumo em larga escala. Nao hé per que chorar 0 glorioso cadaver, pois de suas cinzas jé esté nascendo algo muito mais ampto e complexo, algo que vai reduzindo a distancia entre producéo e consumo e para o qual ainda ndo se tem nome: poderd inclusive continuar levando o nome do defunto, come homenagem péstuma: arte. .DECIO PIGNATARI, 1968 137 Na civilizagao do consumo, a arte propriamente dita perdeu para sempre sua autonomia existencial e, naturalmente, espiritual, tornou-se para os burgueses imperialistas um capricho caro que se consome a si mesmo, indiferente a tudo o mais. Eo resultado da evolugao da arte nos grandes centros, da aceleracao dos ismos e sobretudo de sua chegada & body-art é um cul-de-sac perfeito: © ciclo da pretendida revolucdo Fecha-se sobre si mesmo, o que resulta é uma regressdo patética sem retorno: decadéncia. Acei- tar a morte como inevitdvel, em nome da saturagao cultural e da invencivel irracionalidade da vida. MARIO PEDROSA, 1976 138 Nao podemos matar uma tradigao pictérica. A pintura é mais po- derosa que a guerra, os governos ou 0 gosto. _RENE RICARD, 1962 139 Nao acrediito que a arte norte-americana esteja morta e sim que sofreu uma tentativa Frustrada de suicidio, que se estrangulou mediante uma combinacdo de ressentimento sexual, ideologias baratas, insuficiente estudo técnico por parte dos artistas e, so- bretudo, por essa crenca tao difundida quanto inacreditavel hoje em dia de que, se alguém tem uma queixa sobre algo, isto constitu uma declaracdo estética. ROBERT HUGHES, 1995 140 Uma contra-hist6ria da arte poderia ser contada em vérios ca pitulos, todos com 0 mesmo nome: a arte acabou. Todos estes capitulos, entretanto, constituem a prépria vida da arte. Trata-se, portanto, de uma morte-vida. Sempre que um artista proclama a morte da arte, novo salto é dado, e a arte acumula forcas para uma nova etapa. _FREDERICO MORAIS, 1970 O ARTISTA 141 Aarte ndio me interessa, apenas os artistas._MARCEL DUCHAMP, 1965 142 Mas a inftacdo do individuatismo, a inflacao da estética experimen. tal, a inflagdo do psicologismo, desnortearam o verdadeiro objeto da arte. Hoje, 0 objeto da arte nao é mais a obra de arte, mas o artista. Endo poderé haver maior engano. MARIO DE ANDRADE, 1938 143 © historiador ndo pode apagar as individualidades. A arte € Feita pelos artistas. LOUIS HAUTECOEUR, 1962 144 Aarte criada por individuos, ¢ isso é algo que nunca devemos es- quecer; 0 objeto da investigacdo deve ser sempre os artistas e suas obras, nao os estilos, os movimentos ou tendéncias que somente devem ser concebidos como hipéteses de trabalho, destinadas a Facilitar a investigacdo. _JAN BIALOSToCKI, 1966. 145 Quando se fata da personalidade do artista, deseja-se falar do homem, no momento em que ele cria. Nesse momento, ele é o representante do eterno na arte. Geralmente, considera-se 0 contrdrio, que, na obra de arte, o cardter individual é efémero e contingente e construimos “leis de arte’, cuja observancia constituiria 0 valor eterno da obra de arte. Mas 0 estudo da historia da arte, o da histéria da critica de arte, convenceu-me que sdo justamente as leis da arte que tém um caréter efémero e contingente, valendo para um perfodo ou escola, jamais Para todos os tempos e lugares. (...) Logo, a personalidade artisti- Ca deve ser considerada como a prépria lei. LIONELLO VENTURI, 1969, 146 Um grande artista deve ser um homem bom, isto é, tem que ter elementos bons para mostrar em sua arte. JOHN RUSKIN, 1848 147 O que é um artista? Um grande ser humano. Uma coisa esté inti- mamente ligada a outra. Nenhum artista inventa uma experiéncia de vida. E impossfvel. Em arte, s6 expressamos a nossa experi- €ncia de vida e no outra coisa. € preciso ler a vida na obra de arte, Esta nao é sé ilustracdo de problemas tedricos, de equacoes. A obra existe antes da teoria, 6 0 resultado de alguma vivencia. (.) Dati, por exemplo, nao é um bom artista, porque como ser humano ele é mediocre, negativo, nada tem a dizer. .FAYGA OSTROWER, 1963 148 Quando pinto, uma das minhas alegrias é saber que estou Fazen- do ouro, e sei com toda a razao, pois cada um dos meus quadros produz um polpudo cheque que é imediatamente convertido em metal nobre. SALVADOR DALI, 1968, 149 Em minha arte, obedeco a essa paixéo do tesouro escondido. Pelo amor da dissimulacao, realizo uma pintura de Feitura classica e Louvo a arte pompier. No dia em que se ocuparem seriamente de minha obra, verdo que minha pintura é um iceberg, que s6 mostra um décimo de seu vo- lume. Ocupo-me jesuiticamente em esconder meus valores, con- siderando a hipocrisia jesultica uma técnica magistral. Assim, meu exibicionismo mascara minha verdadeira personalidade. Fujo aos cothares ao mesmo tempo que os atraio e, ao abrigo do dandismo mais provocante, escondo-me na ltima peca de meu palacio para manipular sozinho meu ouro. SALVADOR DALI. 1968 150 Se vocé vende barato 0 seu trabatho, esta simplesmente sendo usado pelo sistema. Alguém compra e vende mais caro, entdo vocé tem que tirar isso deles. Dinheiro é como droga, eu ovejo em todas 5 esquinas da vida e néio encontrei um modo de mudar isto. De certa forma aderi. € dificil nao fazé-lo - é dificil querer trabalhar Para alguém por dois détares e meio a hora, somente para manter Sua integridade. KEITH HARING, 1982 151 Um pintor nao é uma senhora que entretemos, que oferece ou cede ‘seu corpo, mas um produtor do qual adquirimos seus produtos na medida de nossas necessidades, de nossos meios e segundo as circunst@ncias. LEONCE ROSENBERG, 1924 152 Othe a mim, isto basta, eu sou arte. BEN VAUTIER, 1973, 153 Eu, Ben, sou o maior artista anénimo. _BeN VAUTIER, 1973 154 O artista pathaco, o artista refém, o artista maldito, arriscam-se @ permanecer no mundo de amanha téo anacrénicos quanto os cocheiros de Flacre, se nao tomarem consciéncia da mudanca ine- lutdvel da sociedade contempordnea. MICHEL RAGON, 1968 155 O artista nao cria como 156 E missdo do artista penetrar tao Longe quanto possivel na busca do Fundo secreto das coisas, onde uma lei primordial estrutura e. Vive como cria. JEAN LESCURE seu crescimento. Com 0 coracdo batendo, somos levados cada vez mais um pouco para baixo, para a fonte primeira. PAUL KLEE 157 © verdadeiro artista, no momento em que cria, esquece os ele- mentos que deve a civilizagao e que efetivamente condicionam ‘sua cria¢Go. LOUIS HAUTECOEUR, 1962 158 © papel do artista ndo é criar uma obra, mas criar a criacdo. NICOLAS SCHOFFER, 1969 159 Que sou eu aos othos da maioria? Uma nulidade, um homem raro ou um tipo desagraddvel, alguém que ndo obteve nem chegard a obter uma situacdo social, enfim, alguém que significa menos que a.gene- ralidade das pessoas? Bem, admitamos que seja exatamente assim. Pois bem, gostaria de mostrar com meu trabatho o que hé dentro do coracdo deste tipo raro, desta nulidade. VINCENT VAN GocH, 1882 160 Mas o artista de agoranos convida a que contemplemos uma arte que ‘éumabroma, que é, essencialmente, aburladesimesma. Porquenisto radica a comicidade desta inspiracdo. Ao invés de rir de alguém ou de ‘algo determinado, anova arte ridiculariza a arte._ORTEGAY GASSET, 1925 161 O artista néio se sente mais limitado por uma forma, matéria, di- mensdo ou lugar. GREGOIRE MULLER, 1969 162 O artista , hoje, uma espécie de guerritheiro. A arte uma Forma de emboscada, Atuando imprevistamente, onde e quando é menos es- perado, de maneira inusitada, o artista cria um estado permanente de tensdo, uma expectativa constante. Tudo pode se transformar em arte, mesmo o mais banal evento cotidiano. Vitima constante da guerritha artistica, 0 espectador vé-se obrigado a agucar e ativar seus sentidos, precisa tomar iniciativas. A tarefa do artista guerri- theiro é criar para o espectador (que pode ser qualquer um e néo ‘apenas aqueles que Frequentam exposicdes) situagdes nebulosas, Incomuns, indefinidas, provocando nele, mais do que estranhamento ou repulsa, o medo. E $6 diante do medo, quando todos os sentidos 'sdo mobilizados, hd iniciativa, isto &, criacdo. FEDERICO MORAIS, 1970 163 ‘Ao atingir a maturidade, o artista vive uma dupla situagao: ao mes- mo tempo que observa o trepidante avango das feicdes vanguar- distas mais ousadas, possui dentro de si uma realidade construida pelo tempo, que se expressa em termos de estabilidade emocional, de sedimentacao de continuidade. ABELARDO ZALUAR, 1975 164 © bom politico é aquele que tranquiliza, que dé estabilidade e con- Fianca; 0 verdadeiro artista é 0 que inquieta o publico, Forcando-o @.uma revisdo de conceitos. SERGIO MILLIET, 1940 165 No momento, eu vejo para o artista ~ seja ele pintor, escultor ou arquiteto ~ um dever essencial: tentar empreender a espirituali: Za¢ao de um mundo pobre em espirito e em sentimento. Isto im= Plica um sentido das grandes massas, do ritmo e da diversidade, Porque o objeto de arte ameaca desaparecer no efeito da massa moderna. MATHIAS GOERITz, 1969 166 © artista é 0 homem das passagens, e assim deve permanecer, se ele desejar salvar sua utilidade em um mundo cada vez mais obliterado. Passar da natureza 4 histéria, da vigilia ao sono, do possivel ao impossivel, do cotidiano ao poético, do trivial ao mitico, do real ao onirico, do consciente ao inconsciente. _JEAN-CLARENCE LAMBERT, 1969 167 Oartista quer provar. Teorias sociais ou psicolégicas. O artista ndode- seja mais ser Fidias, porém Platdo ou Freud, Assim, desprende-se mais mais da matéria e perde contato com o humano, SERGIO MILLIET, 1940 168 Nos somos 0s dois maiores pintores de nossa época, vocé (Picasso) No género egipcio, eu no género moderno. MENRI ROUSSEAU 169 Nao acredite nunca no que diz um artista, veja, antes, o que ele Faz. DAVID HOCKNEY A CRIAGAO 170 Criar como um deus, ordenar como um rei, trabathar como um escravo, CONSTANTIN BRANCUSI 71 Adarte cria, a técnica Fabrica. _1BERE CAMARGO, 1970 172 Aatividade artistica comega no momento em que o homem encon- tra-se Frente a frente como mundo visivel como algo terrivelmente enigmético. Na criacdo de uma obra de arte, o homem se entrega @uma luta com a natureza ndo por sua existéncia Fisica, mas sim por sua existéncia espiritual. KONRAD FIEDLER, 1876 173 Aarte se faz com as maos. Elas so o instrumento de criagdo, mas logo sao 0 érgao do conhecimento. HENRI FOCILLON, 1947 174 A arte ndo se faz com maos ou misculos, mas com imaginacao criadora. Eu fixei como objetivo de meus trabalhos a desmate- Fializa¢Go do objeto, de maneira que a diminuic&o progressiva da importancia Fisica do objeto provoque a multipticacao de seus efeitos no sentido inverso. NICOLAS SCHOFFER, 1969 175 (..) 0 artista cria a ideia, a obra ser realizada doravante, seja pela maquina, seja pelo préprio consumidor. Assim ele aliaré a Preciosidade do tinico 4 pregnéncia do jogo. Nao hé mais Frontei- ra entre um e outro; o artista, genial ou ndo, ndo € uma espécie transcendente ao comum dos homens, ele é um programador como todos nés © seremos. ABRAHAM MOLES, 1971 176 A.criagdo é um processo, ndo um esguicho. O criador nao esté mais envolvido por sua obra, ele estd na origem desta e © pensamento artistico tem preeminéncia de direito sobre a realiza¢do. ABRAHAM Motes, 1971 177 Somente uma arte baseada nas formas criadas pelo subconscien- te, equilibradas pela razdio, constitul uma verdadeira expressao do ser e uma sintese do momento histérico. .LUClo FONTANA, 1946 178 E mais do que permissividade o que conduz @ criatividade. Hé aium dos temas muitas vezes desconhecido no dominio social e que os artistas repuseram apés longo tempo, aimportancia do ato criador Fora de qualquer consideracdo de contetido ou de consequéncia. ALFRED WILLENER, 1970 MECANISMOS DE CRIACAO 179 Eu ndo procuro; encontro. _PABLO PICASSO, 1923 180 Nao é preciso procurar, basta esperar. CAMILLE COROT 181 Todos os meus quadros, livres e fantdsticos, surgiram sem nenhum exemplo nem modelo, sem nenhuma representacéo de contornos determinados. Evitei de antemdo toda reflexdo, bastava-me uma vaga representacdo de ardor e de calor. .EMIL NOLDE, 1934 182 Eu pinto e desenho procurando conservar algo do ser primigeno. Os produtos artisticos dos povos primitivos sdo a ultima sobrevi- véncia de uma arte primeira, EMI NOLDE, 1927 183 Quero ser como um recém-nascido, ndio saber nada da Europa, ignorar Poetas e modas, ser quase um primitivo. Quero fazer algo moderno, elaborar por mim mesmo um pequeno motivo Formal. Um motivo que seja capaz de sustentar sem técnica alguma. Basta um s6 momento Favordvel. A coisa se assenta com facilidade e concisdo. PAUL KLEE,1920 184 Meus modelos, inconscientes, creio, seriam certos ritmos, certas proporgdes, contrastes, quer dizer, certas formas de equilibrio. geral. Obviamente deve existir alguma correspondéncia entre tais modelos e a prépria emotividade, o modo de sentir as coisas como sendo justas ou coerentes. Por isto, embora certamente sirvam de guia, acho que meus modelos devem ser inconscientes ou pelo menos subconscientes, pois antes de concluir um trabalho nem eu poderia assinalar para mim o que, exatamente, estava procurando. Quer dizer, somente depois de encontrar eu sei o que estava procurando. FAYGA OSTROWER, 1970 185 Comego a pintar e, a medida que pinto, © quadro principia a se afirmar, ou a sugerir-se sob o pincel. A forma torna-se um sinal Para significar uma muther ou um pdssaro a medida que progrido. © primeiro estagio é livre, inconsciente. Mas 0 segundo é cuida- dosamente calculado. _JOAN MIR6, 1975 186 Sempre parto de alguma coisa ~ uma cadeira, uma mesa -, mas & medida que o trabatho progride vou perdendo a consciéncia da Forma inicial. No fim, quase perdi a referéncia do assunto que Foi meu ponto de partida. HENRI MATISSE, 1932 187 Comego sem qualquer imagem ou plano na cabeca, e desenho ou pinto rapidamente, seguindo meus impulsos. Gradualmente, nos sinais que Faco, principio a ver sugestdes de figuras ou objetos. Encorajo essas formas a emergir, procurando extrair suas impli- ages da mesma maneira como agora procuro conscientemente ordenar a composicdo. ANDRE MASSON, 1932 Eu comeco a pintar uma muther e termino pintando um ledo. -THEODORE GERICAULT 189 Nao importa que lugar, que objeto. Submetamos a primeira im- Pressdo. Se nés tivermos sido realmente tocados, a sinceridade de nossa emogdo passaré aos outros. CAMILLE COROT 190 Cada inicio sugere alguma coisa. £ quando eu percebo a sugestao, comeso a pintar, intuitivamente. A sugestéo torna-se entéo um Fantasma que é preciso captar e tornar real. € durante o trabatho, ‘ou mesmo quando « pintura esta terminada, que o tema se revela. JACKSON POLLOCK, 1948 191 Minha pintura no vem do cavalete. Prefiro prender a tela nao esticada na parece dura ouno chao. Preciso da resisténcia de uma superficie dura. No chao, sinto-me mais a vontade. Sinto-me mais Préximo, parte da pintura, jé que dessa Forma posso passear em torno dela, trabathar dos quatro lados e, literalmente, estar na pintura. Continuo a afastar-me mais dos instrumentos do comum, tais como o cavalete, a paleta, os pincéis etc. Prefiro bas- toes, trothas, Facas e tinta liquida gotejante ou um pesado empas- tamento com areia, vidro quebrado e outros materiais estranhos por acréscimo. Quando me encontre na minha pintura, ndo tenho consciéncia do que estou Fazendo. JACKSON POLLOCK, 1948 192 A obra de arte nasce como um mundo que se organiza: é sempre criadora de mundo. O material trabalhado faz-se Forma objetivada desta nova realidade. Partindo ou ndo de um ser natural, chega © momento em que me deixo arrebatar pelas cores, pelos ritmos, pelas figuras que nascem sobre a tela. Entdo, persigo a verdade que intuo, mas que ndo posso precisar a priori, 1BERE CAMARGO, 1970 193 Em meu caso, toda a pintura é acidente. Sim, eu a imagino mental- mente, contudo, quase nunca realizo como a imagino. O quadro se transforma no seu processo de elaboragdio. FRANCIS BACON, 1977 194 Diga-the que meu maior desejo é aprender a cometer também estas inexatidées, chegar a tais desvios, alteracdes, modificacées da realidade, mentiras, se quiser, mas que sdo mais verdadeiras que a verdade literal. VINCENT VAN GoGH, 1882 195 (Os acidentes podem ser importantes como pontos de partida, mas lndo como fins em si mesmos. Doutro modo, a arte seria diversao. Encontro acidentes como qualquer outra pessoa, mas prefiro-os como estimulos de controle, JOSEPH ALBERS, 1962 196 Algumas vezes, sdo os defeitos que déo mais vida a um quadro. |RRE BONNARD 197 Nao existe acaso na arte, ndo mais que em mecénica, Uma coisa encontrada com Felicidade é simples consequéncia de um bom raciocinio, de cujas deducdes intermedidrias se saltou, as vezes, assim como um erro é consequéncia de um principio errado. Um quadro é uma maquina na qual todos os sistemas sao inteligiveis Para um otho habituado; onde tude possui uma razdo de ser se 0 quadro for bom; onde um tom se destina sempre a realcar outro; ‘onde um erro ocasional de desenho as vezes é necessdrio para no sacrificar algo mais importante. CHARLES BAUDELAIRE, 1846 198 Mas esta apropriacdo do acaso aprisiona outras aspiracées secretas, Tratava-se de restaurar a magia original da obra de arte e de reen- contrar esta iminéncia Fundamental que tinhames passando pelo classicismo de Lessing, Winckelman e Goethe. HANS RICHTER, 1968 199 Nao deixarei de dizer, entre meus preceitos, uma nova invengao de teoria, ainda que pareca mesquinha e quase ridicula, porque ela € muito apropriada e muito util para predispor o espirito as mais variadas invengGes. Eis do que se trata: se voce olha certos muros cobertos de manchas e construidos com pedras mescladas, supondo que tenha de fazer alguma obra, poderé ver sobre esse muro os simulacros de paises diversos, com suas montanhas, seus rios, suas rochas, suas drvores, suas lendas, os grandes vales, as colinas e outros aspectos diversos. Poderd ver nele batalhas e vivos acontecimentos de figuras, rostos estranhos, roupas e mil coisas mais que poderé reduzir a formas precisas e titeis. Vinuvens e velhos muros que me sugeriram belas e variadas composicdes e estas imagens enganosas, ainda que privadas de toda perfeicdo formal, nao carecem de outro género de perfeicao, no sentido de movimento, sob outros aspectos. LEONARDO DA VINCI 200 Eu dependo, como pintor, do que Flagrar na rua, em casa, do que vivi um minuto antes e nao faco questao de saber 0 que poderd acon- tecer no minuto sequinte. Muitas vezes interrompo o quadro, nao Por altas considerag6es estéticas mas porque o pinto pia, o telefone toca ou mesmo por ter ido buscar um tubo de tinta e, ao voltar, o quadro nao é mais o mesmo para mim. _José CLAUDIO DA SILVA, 1982 201 Embora pintura seja cosa mentale, o cérebro esté muito misturado com as tripas, as pernas, os sentidos, 0 coraco. Eu mordo cada canto do quadro sem me importar com o resto e sem me preocupar com seguir um método. _JoSE CLAUDIO DA SiLva, 1982 202 Para expressar 0 drama, ndo hé necessidade de facas nem de ca- daveres, canhées ou bandeiras, mas simpLesmente de linhas, cores, superficie e, por assim dizer, de todos os meios préprios & pintura, sem ideia preconcebida de qualquer espécie._ATANASIOSOLDATI, 1935 203 Cézanne faz de uma garrafa um cilindro, enquanto eu parto de um cilindro para fazer uma coisa individual do tipo garrafa. Cézanne Persegue uma arquitetura do quadro, enquanto eu parte dela e Por isso componho com abstragdes (cores): @ medida que ordeno essas cores faco que se transformem em objetos. Esta pintura 6, com respeito & outra, o que a poesia é com respeito & prosa. (..) Nao € © quadro que chega a coincidir com meu objeto, mas é 0 objeto X que chega a coincidir com meu quadro. JUAN GRIS, 1925, 204 Acho que fazer estudos é igual a semeadura, e Fazer quadros, igual 4 colheita. VINCENT VAN GOGH 205 As vezes, cerro os othos, e, lentamente, comecam a tomar forma certas ideias-cor, Entdo Faco esbocos preliminares - pequenos e geralmente sem grande importancia. Gradualmente, depois de numerosas tentativas, experiéncias, justaposicdes e pequenas alteragdes, « pintura comeca a aparecer. _JOSEPH ALBERS, 1962 206 © processo criador da arte concreta se inicia na imagem-ideia e culmina na imagem-objeto. Trata-se de uma figura ideol6gica que, feita visivel e traduzida num quadro, deu origem a um objeto con creto. (..) Vale dizer, a arte concreta pée acento no cardter objetivo, verificdvel, praticamente verificével da imagem final: uma realida- de que possa ser controlada e observada. .TOMAS MALDONADO, 1955 207 Em aritmética, um mais um sao dois, mas em arte pode ser trés. JOSEPH ALBERS, 1962 208 E como aprender as letras aeiou. Agente aprende uma por uma, para depois juntar e fazer uma patavra. As letras so mais Faceis de juntar que as imagens. As figuras sao mais dificeis para ligar. As letras a gente sabe logo. As figuras nunca se sabe totalmente. (..) Agente vai aprendendo de ano em ano. Uma coisa separada da outra. A gente tem de saber cada parte, o valor de cada coisa, de cada Pedacinho, até o ponto de saber que ajanela quer ver a paisageme que se a sala for grande a gente vai se perder. FERNANDO DINIZ, 1979 209 Comeco pelos pés, ndo como outros pintores que comecam pela cabeca. E légico, hd que colocar uma primeira pedra e dal vou su- bindo. 0 primeiro tijolo sdo os pés. Se comeco a pintar pela cabeca, Me perco. FERNANDO BOTERO, 1991 210 A partir do momento que temos um mecanismo de percepgdo e captagao da realidade, qualquer coisinha é um mundo, a imagina- cdo voa, nao péra mais. Com um caquinho das listas telefonicas trabatho o dia inteiro, Nao corro atras dos acontecimentos. Luiz PAULO BARAVELLI, 1984 2u Da mesma maneira como a crianga jogando nos imita,jogando nés imitamos as Forcas que criaram e criam o mundo. .PAUL KLEE, 1919, 212 Aobra de arte é por exceléncia génese. Ela ndo se apresenta jamais como um produto acabado. Certo Fogo pretende viver. (..) Nossa andlise deve nos conduzir para os estados da criac&o, para agénese. A historia de um quadro comeca mesmo antes do primei- ro traco, com o desejo de exprimir, com uma certa disposi¢ao para compreender o mundo desta ou daquela maneira. PAUL KLEE, 1919 213 Hé duas maneiras de expressar as coisas: uma € assinalando-as brutalmente, a outra evocando-as com arte. HENRI MATISSE, 1908 214 Eu me pergunto se ndo devemos pintar as coisas como as conhe- cemos, e ndo como as vemos. PABLO PICASSO, 1926 215 Sempre pensei que a riqueza de um pintor sdo suas influéncias. -FERNANDO BOTERO, 1991 216 Eu tenho uma profunda repugnéincia por tudo isto que se asse- metha @ habilidade da mao. _JOHN RUSKIN, 1879 217 Amaturidade nao se Forca. Tudo o que fiz Foi em lenta preparacao. Gracas @ Deus nao sou habilidosa, _DJANIRA 218 Perdoa-me, mas eu nao creio nestes artistas que dominam, com toda seguranca, seus préprios meios (...) Sempre e sempre, a pintura é, como a vida mesma, uma nova escotha, uma responsabilidade nova. Nada é Facil para mim, minha mao no se agita sendo apés meses de Preparacdo, apés um continuo aprofundamento da consciéncia. Por vezes me parece ter esquecido tudo. A pintura € dificil, todo signo sobre a tela é uma responsabilidade que ndo deve, jamais, ainda que por um instante, declinar num “jé sabido”, EMILIO VEDOVA, 1960 219 Eu sou contra (a droga) porque eu ndio vejo em que ela possa servir (@criacdo). Eundo creio que a droga torne liicido, ela é somente um meio de estimular 0 delirio. Isto ndo pode ser util sendo aqueles artistas que fazem seus quadros sem 0 culdado da objetividade. JOSEPH BEUYS, 1969, 220 Utilizar meios manifestamente pereciveis, como 0 jornal, o barban- te, 0 adesivo, a gramaem pleno crescimento ou 0 alimento, de tal maneira que ninguém possa ignorar que a obra se transformara rapidamente em poeira ou Lixo. ALLAN KAPROW, 1960 221 Por que usar materiais nobres se ndo estou fazendo arte para o Futuro? O presente exige materiais precdrios. ALBERTO BURRI 222 No meu trabatho, a Funcéo do processo criativo ndo se prende mais, @ uma situacdo interna, ou seja, o atelié ou oficina como inicio ou fim do processo de criacdo. A ideia pode germinar em qualquer local, no banheiro inclusive, considerado portanto como local de trabalho, ARTUR BARRIO. 223 Concluido © quadro, vejo-me desamparado e $6, como um anjo caido que ronda © paraiso, sem saber nem lembrar a entrada secreta deste mundo invisivel. Este espaco e este tempo sdo aintuicdo do artista. A verdade do artista 0 obstdculo intransponivel que a obra engajada ndio conseque superar. O personagem cumpre o seu destino @ revelia do autor. Modificd-La ¢ criar uma obra Falsa. 1BERE CAMARGO, 1970 O FAZER 224 Todo artista tem que ser aomesmo tempo artesao (.) Artista que ndo seja.ao mesmo tempo artesdo ndo é que ndo possa ser artista (psi cologicamente pode), mas ndo pode Fazer obras de arte dignas des- tenome. Artista que ndo seja bom artesdo, ndo € que nao possaser artista: simplesmente ele ndo é artista bom. _MARIO DE ANDRADE, 1938 225 Fora do fazer ndo hé salvacdo. _RUBEM VALENTIM, 1967 226 Arte nao quer dizer fazer bem feito, mas fazer melhor. (..) ndio & fazer diferente, mas fazer methor, que € o que provoca a diferenca, -MARIO DE ANDRADE, 1943, 227 Que as técnicas se adaptem a nossa prépria natureza. Sé assim 0s sonhos se convertem em matéria na obra do artista. MARIO ERAVO JR. 1991 228 A técnica é 0 resultado de uma necessidade. Novas necessidades exigem novas técnicas. JACKSON POLLOCK 229 Existem técnicas do acabado, como existem técnicas do inaca- bado. As técnicas do acabado sdo eminentemente dogmaticas, afirmativas sem discussGo, credo quia absurdum, e é por isso que aescultura, que é por psicologia do material a mais acabada de todas as artes, Foi a mais ensinadora das artes ditatoriais e reli- giosas de antes da Idade Moderna. Biblias de pedra. Pelo contré- rio, o desenho e o teatro, que sao as artes mais inacabadas por natureza, as mais abertas e que permitem a mancha, o esbo¢o, a alusdo, a discussdo, 0 consetho, o convite, sao artes do inacabado, mais préprias para o intencionismo do combate. (..) Toda obra de circunstancia, principalmente a de combate, nao 86 permite mas exige as técnicas mais violentas e dinaémicas do inacabado. 0 acabado é dogmatico e impositivo. © inacabado € convidativo e insinuante. E dinamico, enfim. Arma o nosso braco. MARIO DE ANDRADE, 1943. 230 Se eupinto desta maneira é porque desejo ser uma méquina. ANDY WARHOL, 1968 231 Se os problemas artisticos puderem ser tratados por maquinas ou Por equipes que incluam o partner computador, poderemos saber mais a respeito de como o homem trata os problemas artisticos. A simulacao reproduz com eficdcia e rapidez a producao artistica tradicional, exaurindo-a, esvaziando-a, Fornecendo a radiografia e os elétrons de seu cadaver, o que vale por uma certidéo de Sbito do misoneismo. WALDEMAR CORDEIRO, 1971 232 Se sGo as maquinas de informagdo que determinam cada vez mais nossos ates, inclusive aqueles de pensar (“mdquinas de pensar”) ou de criar ("maquinas de criar*), nada mais natural que os pro- gressos muito répidos verificados no campo dos computadores levassem os artistas (como a vanguarda dos homens) a realizar certos esbocos de criacdo artificial. ABRAHAM MOLES, 1971 233 Se nas artes artesanais a producdo ¢ individual, nas artes indus- triais e eletrénicas a producao é coletiva. O artista jé ndo pode mais criar sem a ajuda do engenheiro, do matemtico ou do pro- gramador de dados. JULIO PLAZA, 1985 FORMA 234 Numa forma de arte verdadeiramente bela, o contetido ndo deve ser nada; a Forma, tudo:s6 através da forma atuamos sobre ohomem:como totalidade; através do contetido sé atuamos sobre as Forcas dele se- paradas. O verdadeiro segredo do grande artista consiste no seguinte: ele destrdi a matéria por meio da forma. FRIEDRICH VON SCHILLER, 1795 235 ‘A Forma constitui por si mesma a matéria pela qual existe a obra de arte. Esta forma, que é, ao mesmo tempo, matéria, no hd de expressar outra coisa sendio a si mesma. KONRAD FIEDLER, 1876 236 Cada matéria conduz suas préprias Formas. SERGE POLIAKOFF, 1973 237 Para mim, arte é forma, a qual se juntam as cores que sdo necessé- rias a sua forca. E a invencdo da forma sustentando sua expressGo que faz dela um acontecimento indiscutivel. A cor, sem Forma, & como um poema de palavras em liberdade, mas sem fio condutor. Ao contrGrio, a cor sobre Formas longamente refletidas completa um todo, necessdrio @ perenidade da obra de arte. Sao os dois pélos que, reciprocamente, dirigem a imagem e criam este mistério que prolonga a visdo em profundidade. ALBERTO MAGNELLI Toda forma cuja razao é impossivel de se explicar ndo poderé ser bela, _vioLet-Le-puc, 1872 Quatquer forma é aceitdvel se é verdadeira. E sendo verdadeira é ética e estética. JOSEPH ALBERS, 1962 240 A perfeicdo da Forma nao existe, isto é, toda forma é perfeita quando é criada. A perfeicdo da forma depende entdo da persona- lidade do artista, e isto é tudo, Para ver se a forma é perfeita basta reconstruir a personalidade do artista e compreender se ela tem sido absorvida por sua imaginacdo criadora. _LIONELLO VENTURI, 1969 241 A Forma, ainda que possa ser analisada em termos intelectuais, tais como medida, equilibrio, ritmo e harmonia, é, na realidade, de origem intuitiva, nao 6, na pratica real dos artistas, um produto do intelecto. HERBERT READ, 1957 242 A Forma deve organizar-se de acordo com sua prépria “lei de desenvolvimento” e a partir de seus préprios dados interiores. -MAX BILL, 1955 243 A forma segue a fungao. 1 244 Sem falsa modéstia, posso afirmar que ful o primeiro a declarar tranquilamente que toda forma capaz de criar beleza é funcional. OSCAR NIEMEYER, 1978 245 Posto que a forma significa a soma de todas as Funcdes em uni dade harménica e sendo “forma = arte = beleza”, se nos impde a conclusdo de que também arte e beleza podem definir-se como “a.soma de todas as fungdes em unidade harménica”. Este prop6- sito, o sabemos, é dificil de Lograr. Porque a qualidade da forma ea qualidade da beleza séo relativas. Sem embargo, deveriamos orientar-nos até um estado ideal de coisas, onde tudo, desde o LOUIS SULLIVAN, 1922 objeto mais insignificante até a cidade, possa ser igualmente de- Finido como “a soma de todas as Func6es em unidade harménica", convertendo-se, assim, em um elemento natural da vida cotidiana. Este estado de coisas é 0 que poderfamos chamar cultura e é em sua diregdo que deveriamos nos encaminhar. MAX BILL, 1955 246 Numa obra de arte bem-sucedida a forma é insepardvel do conteu- do. A aparéncia nao ¢ arbitréria. Mas ndo hé Formula que permita assegurar sua unidade: ela € particular a cada obra e é isto que Faz seu valor. JOHN BERGER, 1970 247 A forma, aquilo que persiste em um estado de equilibrio relativa- mente estdvel, esta sempre sujeita a ser destruida pelo movimento e pela mudanga do contetido. ERNST FISCHER, 1959 248 Eu penso que o formalismo ndo existe mais. Mas permanece o pro- blema da forma e da antiforma. E a grande questdo. (..) As Formas se assemelham as ideias e a antiforma é a energia. JOSEPH BEUYS, 1969 249 Vivendo na sua cabeca. Quando as atitudes se tornam Forma. -TITULO DA 1 EXPOSICAO DE ARTE CONCEITUAL, BERNA, 1969 As formas tornam-se Formas. BERTRAND LAVIER COR 251 Accor me possui. Eu ndo tenho mais necessidade de persegui-ta. Ela me possui para sempre, eu o sel. E 0 sentido desta hora afortunada: eu e a cor somos um, Eu sou pintor. PAUL KLEE, 1914 252 Quando a cor é dada toda a sua riqueza, a Forma adquire toda a sua plenitude. PAUL CEZANNE, 1912 253 Toda inflexdio da Forma se duplica com uma modificacdo da cor. Toda modificagdo da cor engendra uma forma, GLEIZES E METZINGER, 1912 254 Na realidade, com excecdo de Constable, nos seus esbocos, e dos pintores Fotogrdficos da segunda metade do século XIX, o uso natural da cor é extremamente raro na histéria da arte e, como as experiéncias de Turner e dos impressionistas viriam mostrar, extremamente dificil de determinar. Quando vemos as cores reais da natureza sentimo-nos tentados a protestar contra a sua irre- alidade. HERBERT READ, 1951 255 Um quadro nao representa endo deve representar nada mais que cores. (..) Existe uma verdade puramente pictérica das coisas. PAUL CEZANNE, 1921 256 Nao existe (na natureza) nenhuma linha, nenhum modelado. S6 ‘existem contrastes. Mas os contrastes ndo sao branco e preto, sao movimentos cromadticos. PAUL CEZANNE, 1912, 257 Nao se deveria dizer modelar (corpos) mas modular (cores)._F CEZANNE, 1930 258 Toda essa quantidade de cores “corretas” é algo sem vida, conge- Lado, uma mentira. (..) A cor pura: a ela devemos tudo sacrificar. -PAUL GAUGUIN, 1919 259 E bom que as pinceladas ndo sejam materialmente Fundidas; elas se Fundem naturalmente a uma distancia desejada pela lei sim- patica que as associa. A cor obtém assim mais energia e Frescor. EUGENE DELACROIX, 1085 260 A cor é um elemento sensual. Os sentidos sdo a realidade, por isso o mundo é colorido. Os sentidos constroem, eis 0 espirito. As cores cantam. Negligenciando a cor, os cubistas negligenciaram © principio emotivo que implica toda obra viva. Toda obra de arte comporta um elemento sensual, irracional, absurdo, lirico. BLAISE CENDRARS, 1919 261 As cores chegaram a ser para nés cartuchos de dinamite, cuja missdo era descarregar a luz. Tomavamos a cor diretamente. Era maravilhosa sua Frescura, aideia de que podia elevar-se acima da realidade. ANDRE DERAIN 262 Aescotha de minhas cores nao repousa em nenhuma teoria cien~ tifica. Esté baseada na observacao, no sentimento, na experiéncia de minha sensibilidade. HENRI MATISSE, 1908 263 Todas as relagdes de tons que encontro devem resultar num acordo de cor viva, uma harmonia andloga aquela de uma composi¢ao musical. HENRI MATISSE 264 Atela A mdsica foi Feita com um formoso azul para o céu, com 0 azul mais azul-para o qual trabathei a superficie até a saturacao, isto é, até um ponto em que se Fez evidente o azul, a ideia de um azul absoluto. HENRI MATISSE 265 Apintura, tal como é hoje, promete converter-se em algo mais sutil =mais miisica e menos escultura-,e a0 fim promete a cor. Bastaria cumprir esta promessa, a de produzir uma cor que se enlace com © sentimento, como a musica com a exaltaco. VINCENT VAN GOGH 266 Hd onegro antigo eo negro fresco, o negro brithante eo negro mate, © negro na Luz e o negro na sombra. Para © negro antigo, é preciso misturar 0 vermelho, para © negro fresco é 0 azul, para o negro mate é 0 branco, para onegro brithante é preciso acrescentar a cola, para o negro na luz € preciso refletir 0 cinza. .ATSUSHIKA HOKUSAL 267 Ha quem pense por vezes que eu me limito a pintar sinais pre- tos nas telas, mas isso ndo é verdade. Eu pinto com o branco, do mesmo modo que com o preto, sendo um tao importante quanto © outro. FRANZ KLINE, 1962 268 Fabricamos freneticamente cores antimerda, pelo desejo panico de Fugir da exist€ncia. Mas as cores da nobreza, da boa cozinha e da grande pintura so os pardos de Chardin, o amarelo queimado

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