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2 Caracteristicas do Diamante A palavra diamante provém do grego adams, que significa indomavel ou invencivel. O diamante é um mineral de caracteisticas peculiares e inicas, que o fazem desejado nio s6 como a mais preciosa das substincias gemolkégi- cas, como também pela moderna indtistria 4vida por materiais nobres, capazes de responder aos ripidos avancos tecnolégicos. Neste capitulo, serio estuda- das as principais propriedades do diamante, a partir de sua estrutura cristalina, passando pelos diferentes modos de classificagio propostos para ordenar as utilidades comerciais ¢ industriais do mineral, ¢ ainda suas aplicacées ¢ formas de avaliacio tanto dos espécimes em estado bruto como depois de lapida- dos. Por ultimo, deve ser ressaltado que o consumo de diamantes na industria é tal, que cerca de 80% dele séo provenientes de material sintético. Assim, diamantes sintéticos, diamantes naturais porém tratados de alguma forma, e ‘simulantes” de diamantes utilizados na industria gemologica, serio também abrangidos a seguir. 2.1 Minerais de carbono O diamante é um dos trés minerais compostos de carbono em estado puro. Desses trés, 0 mineral mais comum é a grafita, cujas propriedades &- sicas sio marcadamente contrastantes com as do diamante e cujos dominios de estabilidade siio mostrados na Fig. 2.1. De fato, observando-se a citada figura., observa-se que o diamante, ao contrario da grafita, necessita de altas condigées de temperatura ¢ pressio para a sua cristalizagiio. 34 Diamante: A pedra, a gema, a lenda 100.000 E dificil imaginar dois nas minerais_que, partilhando a composigio quimica, sejam 0.000 mais diversos: 0 diamante, de F 70.000 simetria interna ctibica, éa mais B dura das substancias, enquanto 8 g e000 4 a grafita tem simetria hexago- 2 50.000 nal e situa-se no outro extremo ¢ de dureza; o diamante € trans- 40.000 a parente, geralmente incolor ou 30.000 4 levemente amarelado; a grafita | Grafita “ so00 joe é opaca, de cor cinza ou negra. } Um tio grande contraste nas 10.000 S-4 propriedades-desses dois mi- bo nerais pode ser explicado pelas © 600 1.000 1.500 2.000 2.500 3.000 Temperatura (K) respectivas estruturas crista- linas. A lonsdaleita, o terceiro Fig. 2.1 Dominios de estabilidade (Pressao e ™ineral composto de carbono, Temperatura) da grafita e do diamante (Harlow, constitui uma fase muito rara, 1998). que também se cristaliza no sistema hexagonal. Por vezes conhecida como diamante do tipo III, é menos est4vel que o diamante, niio parecendo existir qualquer conjunto de condicées de pressio e temperatura em que seja idealmente estivel. E, um mineral cuja origem associa-se a cho- ques catastroficos, aparecendo em crateras de impacto de meteoritos, e a sua origem mio est4 ligada a processos internos da Terra. Estrutura interna e morfologia externa do diamante A estrutura interna do diamante (Fig; 2.2), conseqtiéncia das condi- cGes especiais da sua formacio, Ihe confere propriedades tinicas, tais como dureza, condutividade térmica ¢ caracteristicas opticas. Além disso, a mor- fologia externa do diamante, uma caracteristica com enorme importincia econémica, é fortemente influenciada pela sua estrutura interna A forma mais comum dos cristais de diamantes é 0 octaedro. Podem ser observados diversos outros habitos, como cubos, dodecaedros rémbicos 2 Caracteristicas do diamante 35 ¢ trioctaedros. Séo, também, possiveis combinagées dessas formas simples. As faces arredondadas, que por vezes se observam, correspondem a super- ficies de dissolucao. Sao observadas com freqiiéncia combinacées ¢ gemina- Ges de cristais de diamante. Uma outra caracteristica morfolégica importante tipica, também con- seqiténcia da estrutura interna, é a ocorréncia de cavidades de dissohagao, ou trigonos. Sio cavidades de forma triangular que ocorrem frequentemente nas faces octaédricas dos cristais. Assim, além de ajudarem na identificacio do diamante, a sua ocorréncia permite determinar a orientagio do cristal nos casos em que a sua morfologia ¢ irregular, permitindo orientar a lapidagio da pedra. Podem ocorter trigonos positivos (salientes do cristal), como re- sultado do crescimento natural da face cristalina. Estas € outras feigdes serio detalhadas no Capitulo 3, referente a mineralogia do diamante. @) ib) (©) Fig. 2.2 Estruturas cristalinas do diamante (a), da grafita (b) e da lonsdaleita (c) (Harlow, 1998). 2.2 Tipos de diamante Existem diversasmaneitasde classificagio dodiamante. Oscritériospara tal classificacio podem ser quimicos, motfologicos, estruturais ¢ comerciais 36 Diamante: A pedra, a gema, a lenda ow industriais. Sio apresentadas neste item as duas classificacées inerentes aos aspectos econdmicos do diamante, a saber: as classificacdes comerciais ¢ industriais. Classificagoes comerciais e industriais Os diamantes podem set classificados, de forma genética, como ge- molégicos ou industriais. Uma modificagao relativamente recente e impor- tante dessa classificagéo é 0 desenvolvimento da classe dos quase-gemas (ver-gem), wna clas iriais intermediaria entre as gemas e as pedras indu a verificada durante a década de 80 com 0 surgimento da mina de Argyle (Aus- trilia) € 0 crescimento conjugado da industria indiana de lapidacio. Uma diferenca fundamental entre as pedras gemolégicas e as indus triais, além da observada nos tespectivos valores unitirios, é a impossibili- dade de fabricar diamantes gemologicos com pregos ¢ qualidade competiti- vos com os de origem natural, sobretudo nas pedras de maior qualidade. A Natureza é, até agora, a Unica fonte competitiva de diamantes aptos a serem gemas. Nas apli auti- c6es industriais, existe uma crescente tendéncia par lizacéo de diamantes sintéticos, cuja granulometria ¢ outras especificacées podem ser melhor controladas. Um diamante gemolégico tem, em média, um valor cerca de dez vezes superior a0 de um sear-gew ¢ 0 deste é, também, cerca de 10 vezes supetior ao de um industrial. Gemas: diamantes gemoldgicos sao aqueles cujos tamanho, forma, cor € pureza correspondem as exigéncias do processo de lapidagio e aplica- cao em jdias e dos clientes finais. Uma das caracteristicas fundamentais dos diamantes-gema € 0 carater tinico de cada pedra. A vatiagio das principais propriedades que dao valor aos diamantes brutos — tamanho, cor, forma, claridade e integridade estrutural — faz com que o mercado dos diamantes em estado bruto seja diferente dos de outros minerais, como o cobre, ouro, prata, etc., podendo ser estabelecidas dezenas de classes de diamantes com base nas propriedades referidas. Quase-gemas (wear-gems): diamantes nenr-gems sio aqueles com im- purezas substanciais ou outros deteitos que, em func¢io das condicdes de mer- cado € dos custos de lapidagio, podem tanto ser usados como gemas de cus- to mais baixo ou como diamantes industriais. Essa classe é particularmente 2 Caracteristicas do diamante 37 importante, uma vez que permite promover algumas pedras que seriam clas- sificadas como industriais, através do trabalho de lapidadores de custo mais baixo. As melhores qualidades desse tipo de diamantes sio normalmente la- pidadas; as qualidades inferiores sto utilizadas em aplicacées industriais mais especificas que as das aplicagées dos diamantes classificados como industriais. Industriais: diamantes industriais sio os que apresentam proprieda- des que permitem sua aplicacio industrial, principalmente dureza inigualé- vel, uma das suas caracteristicas fundamentais. A tenacidade do diamante sera tanto maior quanto menor for o nuimero de inclusées ¢/ou fraturas (também chamadas de jacas) internas. Os diamantes industriais naturais sio aqueles com menor qualidade no que diz respeito 4 cor, tamanho, forma ou devido 4 presenca de falhas estruturais. Em termos puramente mineralégicos, os tipos industriais de diaman- tes podem ser agrupados em duas categorias, designadas como pedras in- dustriais ¢ agregados policristalinos (tal divisio pouco se aplica aos precos ptaticados pelo mercado para as duas categorias). As pedas industriais sto diamantes comuns, monocristalinos, por vezes de gtandes dimensées ¢ be- leza, porém com defeitos, e sfo utilizados — depois de moidos — somente em aplicagées na industria de ferramentas ou pastas diamantadas. Das diversas maneiras que 0 diamante ocorre na Natureza, é comum a existéncia de cristais agregados, densamente compactados, podendo ou n&o mostrarem alguma forma definida. Nao existe um consenso para a clas- stficacio do diamante policristalino. Dessa maneira, observa-se na literatura especifica uma imprecisio entre 0 que sio tipos definidos mineralogicamen- te € os conceitos que sio puramente comerciais. Obras classicas sobre 0 dia- mante, como a de Williams (1932), enquadraram como agregados cristalinos sete dessas variedades: hort, ballas, fiamesite, stewartite, short bort, hailstone bort © carbonado. Outros autores, no entanto, apropriadamente, consideram varios desses termos apenas como subtipos da variedade bart. * Bort: € a mais inferior das variedades do diamante, apresentando as- pecto granular, cristalitos defeituosos, que podem ser desde microscépicos até visiveis a olho-nu. Sua coloracio é cinza ou preta, devido a presenca de intimeras impurezas como inclusées. * Ballas: sio massas mais ou menos esf€éricas de microcristais interde: senvolvidos, arranjados de forma aproximadamente concéntrica 38 Diamante: A pedra, a gema, a lenda Tabela 2.1 Algumas das principais propriedades apresentadas pelo diamante Cee Goes Composiao © (carbon) Contém freqWertemante ragas de nitrogen, suite raramente, de eluminia e/ou boro. Sistema de cristalizagao Cubico (classe hexaoctaécrica) Grupo esaecial Fd m: 3= 357A Morfologia Vatiada: actaedtos, cubos, rombodedocasdtos, rioctaodros, gerinades (ro‘agao de do's semi-actaedros). ete Dureza 10 (Escala de Mohs): 56 - 115 GPa Knoop); maior dureza nag faces do oclaedio e@ menor nas do-cupo. Indice de retrapao. 2.4175 (689,3 am) Dispersao 00a Densidade 3.520 kg. (media iceal} Cor ‘neolor, em geral com tonalidades amareladas de intensidades variaveis. Muito raramente de cor pronunciada. amerelo, cinzente, azul, rosa, vermelho, verde, eto Briho ‘Nao meialico = Adamantino Habito Octaédrico forma mais coum) - {111}. ctbico — (100) rembadadecaédica {110} Glivagem Peseta, paral aos planos do oclaedro~ (111) Ceondutividode térmica 5= 25x10 Wr KT Cendutiviads eletica 0 100.9 cm (a 3004) Compressibilidade a7a10° m2 ag! Madulo de Young (médio) 1060 GPa Inclustes minerals, Forstenila, ensitile, Cr-ioasicio, Cr-prapo, Crespinéio, Protogendiicas elou singensticas Mg-imenta, suites, zrcao, ontecta, piopo-almandina anita, sanidia,rublo, corincon (ri). diamente, et Serpentina, calcita, quartzo, grafla, hematita, caulinita, Epigenttions ‘ichienta, perovshiia, Mg-imenita espinélo, xenotimio, selalz, goethita, te Incertas Flogopita, biotite, moscovita, anfibdlio, magnetite, apatite, ote. Matediais semelnanies Minerais Topazio, rircao, anatasto, ste. Materials sinteticns YAG (¥iteum Aturninum Gael, GG (Gadolinium Galium Garnet), CZ (Cubic Zirconia), moissanita, ttanato ce estroncio, etc, 2 Caracteristicas do diamante 38 + Fiamesite: é um tipo grossciro de diamante, preto, de aspecto “areno- so” e preferencialmente friivel, encontrado de modo particular nas minas Premier ¢ Orapa, na Africa do Sul. * Stevartite: € considerado um tipo taro de Dorf, apresentando pouco brilho, e que ocorte em fragmentos disformes e com propriedades magnéti cae polar, devido a impurezas de magnetita € silica. + Short bort (ou shot boriy: & wm termo utilizado na Africa do Sul para um diamante bem arredondado, de forma estérica ¢ estutura radial, algumas vezes transhicido, mostrando uma coloragio cinza, rosada ou marrom * Hailitone bort: & um tipo artedondado de dort, que difere das outras formas por apresentar camadas ou zonas distintas de coloragées cinzentas, e os cristalitos podem se mostrar desde pobremente até bem cristalizados. * Carbonado: termo de origem brasileiza utilizado para conceituar agregados porosos de microdiamantes, apresentando coloragio preta ou cinza-escura, e constituindo uma massa granular e compacta. Comparando-se as descricdes anteriores, existe pouca precisio m1- neralégica para tais definicées, parecendo que diversos tipos, na realidade, constituem variacdes de outros. Estas, no passado, por suas caracteristicas algo peculiares, apresentavam valores diferenciados comercialmente. Com a entrada macica do diamante sintético no mercado, desde a década de 1970, vindo a suprir a maior parte da demanda do diamante industrial, essa cota- cao diferente, na pratica, passou a inexistir. Chaves (1997) agrupou mineralogicamente o diamante policristalino em apenas trés divisdes maiores, designadas de agregados policristalinos complexos (40 os Lorts, sensi lato), ballas ¢ catbonado, cujos conceitos sio ptecisos em termos fisicos e mineraldgicos, apresentando ainda proprieda- des estruturais microcristalinas especificas. Classificagao quimica O diamante é um mineral com uma composi¢ao quimica muito uni- forme. Composto por carbon, somente sob a forma de tragos se da a ocor- réncia de outros elementos no interior de sua estrutura (foram identificados mais de meia centena), sendo 0 nitrogénio o mais comum ¢ 0 que revela maior abundancia média. 40 Diamante: A pedra, a gema, a lenda Apesar da baixa proporcao de nitrogénio no diamante ¢, mais rara- mente, do boro, é de grande importincia na valorizacio do diamante. O nitrogénio é responsével, através da sua concentracio e modo de ocorréncia na estrutura do mineral, pela coloracio amarelada que freqiientemente asso- cia-se ao mineral. A ocorréncia de boro, em baixissimas concentragées, est’ associada A cor azul de alguns diamantes, o que muito os valoriza. O famoso diamante Hope (cuja historia foi relatada no capitulo anterior — Fig. 1.7) é uma gema de cor azul Apenas cerca de 2% dos diamantes mostram uma pequena absorcio na faixa do infravermelho entre 800 cm e 1.400 cm. Todos os outros diamantes contém nitrogénio em quantidade suficiente para apresentar uma absorcio significativa naquela gama; sio os diamantes do tipo I, que podem ser subdivididos nos subtipos Ia e Ib. A maior parte dos diamantes naturais pettence ao grupo Ia, enquanto a maior parte dos diamantes sintéticos é classificada como grupo Ib. O diamante tipo Ia contém agregados de 4tomos de nitrogénio como impurezas na rede cristalina, apresentando uma linha de absorcio aos 415 nm, € nao sao condutores elétricos. A maior parte dos diamantes amarelados pertence a esse grupo. Os diamantes do tipo Ia podem, ainda, ser subdividi- dos em IaA, laB ¢ laAB, de acordo com os tipos de agregados de nitrogénio presentes. As subdivisdes podem ser efetuadas pelas diferencas no espectro de absorcio no infravermelho. Diamantes do tipo Ib contém, principalmen- te, Atomos isolados de mitrogénio dispersos na sua rede cristalina. Apenas uma percentagem muito pequena dos diamantes naturais coloridos pelo nitrogénio sao deste tipo, os que mostram cor amarelo-can4rio, de muito maior saturagio que os do tipo Ia (ver, a este propdsito, o item Cor). ‘Todos os diamantes sintéticos que contém nitrogénio sio do tipo Ib. Os diamantes contendo pouco ou nenhum nitrogénio sao clasificados no tipo II. Alguns, muito raros, mostram alguma condutividade elétrica, de- vido a presenga de tragos de boro e/ou aluminio. A distingiio entre o tipo Ha ¢ IIb € feita com base no critério de condutividade, e os diamantes do tiltimo tipo sio condutores da eletricidade. O tipo Ila é raro e tem uma composi¢io quimica de carbono quase puro, com quantidades infimas de nitrogénio ¢/ ou boro. Esses diamantes, muito frequentemente, apresentam grandes dimen- ses, Em getal sio incoloes, embora haja os cor-de-rosa, castanhos ou de cor 2 Caracteristicas do diamante a azul-esyerdeada. Inertes a radiac’o ultra-violeta de onda curta, nao conduzem eletricidade, porém sao condutores muito eficientes de calor, O tipo IIb é mui- to raro € caracteriza-se pela substituicio na rede cristalina de alguns 4tomos de carbono por atomos de boro, e, do ponto de vista elétrico, sito semicondutores e to sensiveis a variacé es de temperatura que podem ser usados para medir Alutuagées da ordem dos 0,002° C. Sao fluorescentes 4 radiacio ultravioleta. A maior parte dos diamantes azuis naturais é do tipo IIb. Os cristais de diamante, mesmo monocnistalinos, nao sao, de fato, exatamente uniformes no que diz respeito a sua tipologia quimica, podendo coexistir na mesma amostra zonas com diferentes tipos, e a sua classificacio é dada pela do tipo predominante. Por vezes, cita-se a existéncia de diamantes do tipo III. Sabe-se atu- almente que se trata nao de diamantes mas do mineral lonsdaleita, o outro polimorfo do diamante e da grafita, inicialmente encontrado na famosa Cra- tera Barringer (ambém conhecida como Cratera Meteor), no Arizona. Um possivel “novo” ¢ raco polimorfo do diamante ¢ a chaoita, encontrado ape- nas em ambientes meteoriticos, onde condicées extremas de calor e pressio permitem a sua formagio. Até agora, a chaoita foi encontrada apenas em Mottigen (Alemanha), na Cratera Ries. Entretanto, ambas as espécies sio hexagonais € no foi ainda possivel confirmar uma teal diferenca entre elas, 2.3 Propriedades fisicas e quimicas As propriedades fisicas do diamante podem ser classificadas em pro- priedades mecAnicas, propriedades 6pticas ¢ outras propriedades fisicas. As ptopriedades mecanicas mais importantes sao: dureza; clivagem; peso espe- cif co; coeficiente de dilatagio linear, condutividade térmica, condutividade clétrica; compressibilidade ¢ resisténcia. Dentre as propriedades opticas mais importantes citam-se: indice de refiacio; indice de dispersio; transparéncia; fluorescéncia e fosforescéncia; espectro de absorgio e poder refletor. Algu- mas dessas, constantes ¢ de importancia no aproveitamento comercial das pedras, serio descritas a seguir. As propriedades mineraldgicas que podem apresentar parametros inconstantes, e titeis na caracterizacio das populacées de diamantes de diferentes localidades, serio apresentados no Capitulo 3. 42 Diamante: A pedra, a gema, a lenda Dureza e clivagem A elevada dureza do diamante é a sua caracteristica fisica mais co- nhecida a base da maior parte das aplicages industriais possiveis para 0 mineral. O diamante € a substancia mais dura, com um valor de 10 na escala de Mohs (ver Fig. 2.3). Sua dureza é maxima na diregio das faces do octae- dro (111) e menotes nas outras (110 e 100), e essa propriedade é largamente conhecida ¢ utilizada pelos lapidadores no momento de fazer 0 corte das pedras. Entretanto, apesar da sua enorme dureza, o diamante apresenta uma clivagem perfeita paralela as faces do octaedro (Fig 2.4). 8000 7000 6000 5000 4000 Dureza KNOOP 3000 s 5 Si zi 5 | 2000 1000 Fig. 2.3 Escala de Mohs versus a Dureza Knoop (Harlow, 1998). 2 Caracteristicas do diamante a Fig.2.4 Tragosdos planos da clivagem perfeita do diamante (Harlow, 1998). indice de refracao e dispersao O indice de reftacio do diamante, uma das propriedades com maior influéncia no seu valor estético, é de 2,4175 (a 589,3 nm). Isto significa que a luz “caminha” em seu interior cerca de 2,4 vezes mais lentamente do que no vacuo. A dispersio do diamante tem um valor de 0,044. Esse fendmeno ocorte devido ao fato de a luz, além de refratada, é decomposta segundo as cores do espectro c, por isso, a capacidade de retragio depende em grande parte do comprimento de onda da luz. Como cada cor do espectro posstii um comprimento de onda distinto, cada uma delas sera refratada separada- mente, No diamante, 0 indice de refracio no vermelho (comprimento de onda de 687 nm) é de 2,407; no amarelo (589 nm), 2,417; no verde (527 nm), 2,427; no violeta (397 nm), 2,465. A dispersto de uma gema é dada pela di- ferenca entre os indices de refracio do vermelho e do violeta. Desta forma, aparece no diamante, cuja decomposicio das cotes é especialmente grande, um imponente jogo de cores que também é conhecido como “fogo”. Cor, fluorescéncia e fosforescéncia A petcepcao da cor depende da faixa espectral relativamente estreita de radiagio detec ida pelo olho, situada entre 400 ¢ 700 nm. Mesmo valores baixos de absorvéncia nessa banda espectral podem produzir uma coloracao apreciavel. Se um diamante for observado em luz branea, uma maior absor- cao na faixa azul do espectro dara origem a uma tonalidade amarela, enquan- to uma maior absorcio na faixa do amarelo produzir’ uma tonalidade azul. 44 Diamante: A pedra, a gema, a lenda Logo, a cor de um diamante é determinada, principalmente, pela forma do seu espectro de absorcao, mas é importante notar que diversos outros fatores podem afetar a cor aparente, mesmo em pedras de alta qualidade ¢ extrema- mente transparentes. A cor aparente de um diamante depende do seu tama. nho, sendo produzida pela absorgio preferencial de alguns componentes da luz branca. Assim, quanto mais longo for o percurso da Iuz no diamante, mais luz é absorvida e mais “colorida” sera a pedra; de dois diamantes com ter a cor mais forte. especttos de absorgio idénticos, o maior deve A aparéncia de uma pedra depende, também, da natureza da luz, de- finida por normas tigidas quando 0 objetivo é a avaliacto comercial dos diamantes. Mesmo para uma determinada luz, a cor obsetvada depende da sensibilidade dos olhos do observador A cor, esta sensibilidade varia, algu- mas vezes consideravelmente, de pessoa para pessoa A cor do diamante depende também da concentraciio dos chamados centros de cox” (vacincias eletrdnicas no interior da rede cristalina). Os diamantes apenas com nitrogénio nas formas A e B nao apresentam ab sorcio na regiio do visivel e serio, assim, incolores. O centro N3 produz uma absorcao que se prolonga suficientemente para a regtio do visivel, para absorver alguma luz azul e, consequentemente, produzir uma cor amatelo palido. O centro N simples origina uma forte absorcao na extremidade azul do espectro visivel, dando origem a uma pronunciada coloragao amarela. As plaquetas de nitrogénio nao produzem absorgio na regifio do visivel e, portanto, qualquer cor. Os centros de boro absorvem luz na extremidade vermelha do espectro visivel, dando origem a uma coloragio azul Os deslocamentos na rede cristalina parecem ser tesponsiveis pelo crescimento da absor io em diregio a extremidade azul do espectro, dando origem a uma coloracao acastanhada. Os diamantes vermelhos sio, talvez, os mais valorizados pela cor € a extrema raridade. As coloracdes rosa, vermelha e ptirpura sto considera- das proximas e¢ partilham de muitas caracteristicas: a origem da cor desses diamantes nao foi ainda totalmente determinada, mas supde-se que esteja relacionada a deformagées da estrutura cristalina do diamante. Os diamantes negros (monocristalinos) t8m sua cor originada pela pre- senga de imimeras inclusdes daquela cor — grafita, provavelmente. O grande ntimero de inclusdes torna-os dificeis de serem lapidados. Os diamantes bran- 2 Caracteristicas do diamante 46 cos (também designados de opalescentes) devem sua cor a presenga de peque- nas inclusdes que dispersam a luz em todas as diregdes. Nao é conhecida a natureza da mitiade de pequenas inclusdes que estio na origem do fenémeno. Muitos diamantes apresentam cor verde, na maior parte dos casos, res- trita a uma fina pelicula superficial. A cor verde ¢ possivelmente causada por radioatividade natural a que tenham sido sujeitos durante a sua vida, embora tenham sido apresentadas outras hipoteses de explicacio para a ocorréncia desta cor. Encontram-se, também, ocasionalmente diamantes de cor verde- garrafa uniforme com a qual nao foi ainda estabelecida qualquer relacio com um centro de cor particular. Veja-se a esse propésito, as discussdes apresentadas nos capitulos 3 ¢ 5, sobte a origem da cor verde em diamantes da regiio de Diamantina, Minas Gerais. Por fim, deve-se citar a ocorréncia de alguns diamantes quase incolo- res, que apresentam uma aparéncia algo cinzenta. Uma observaciio cuidado- sa desses diamantes cevela a existéncia de defeitos que reduzem a pureza da pedra, os quais podem ser inclusdes ou fraturas internas, em escala relativa mente grande, parecendo negras quando a pedra é observada em luz trans- mitida. Algumas vezes, as inclusées tém uma menor dimensio, aparecendo como uma nuvem ténue, dando uma aparéncia leitosa ao diamante. Em adicio a esses efeitos, s¢ a superficie do diamante for rugosa ¢ irregular, essas caracteristicas impedem a transmissio e reflexdo da luze a pedra parecera cinzenta quando comparada com um diamante semelhante lapidado. De fato, a qualidade de um diamante s6 pode ser definitivamente avaliada apés 0 polimento de superficies planas — designada abectura de janelas — em lados opostos da pedra, de forma a poder observar-se o seu interior. Ao discutir a cor dos diamantes, é também importante notar que muitos diamantes, cerca de dois tergos, apresentam fluorescéncia. A fluo- rescéncia e a fosforescéncia sao dois aspectos de um fendmeno denominado luminescéncia — a emissio de luz visivel por um material sujeito a algum tipo de excitagao —geralmente originada, no caso das gemas, pela exposicio 4 luz ultravioleta. A fluorescéncia consiste na emissao de luz visivel apenas durante 0 petiodo de tempo em que o material ¢ excitado. Se a emissiio de luz prosseguir apés a remogio da fonte de excitasio, 0 fendmeno designa- se fosforescéncia, presente apenas em rarissimos casos no diamante. A luz “6 Diamante: A pedra, a gema, a lenda Tabela 2.2 A origem das diversas cores nos diamantes naturais e tratados (Fritsch, 1998) ay eed Deleitos relacionados Violeta ‘a com hidrogenio. Azul tip Vestigios de boro Azul laalis _Imadiagao GR = Deleites relacionados Aad Acizentado la com hidrogenio Azul lela Imatiago GR! es Irradiagao com componentes See: elle: amarelos ou caslanhos Verda ‘Amareiado la Fluorescéncia Ec . Defeitos relacionados ve ie a com hidrogénio Verdes: VArios tons: Varios defeitos Verde Varios tons lo Spies deratcs i Raiadc a 7 Verde traledo ae la Irradiagae GR a Faregado com 3 atomos Lisa ie de aitragério he , Deteitos relacionados: Ammarelo Acizeniado \o com hidrogenio Amarelo tb Nitrogénia isolado ; 'N3+ lacunas em agregados a Amarelo trated an) la Se nivogerio N3+H3eHd = = N3+ lacunas em agregar N3+H3e Lavanja Acastannado la Gentropenio teramenie 14 Lani Arrareo alaranado Desconhecido, relaconado Bandados died alaranja la com nitrogenio 480 nm Rosa, verrelho nelle __catitto Gasponhecido relacionado ou purpira com 3 doformagio Rosa, verrelho Lacunes adjacentes , Mi Me Nev ‘cu purpira Rosa patio a tomes de nitragénio tsolados Rosa a purpura To, mutes _Lacunas edjacentes e Nex. trotedo vezes comla _atomes de nitragéma isolados Castro Todos os Cento desconhecide relacionado tipos com adeformagao Casianho k anos deteitos relacionados N3, H3, Ha, tratado ia com o nitrogénio outies Negro Todosos Na maioria das vezes ‘pos inclusdes negras Negro tretado la trradiagae RI Muiles vezes: efeitos relacionados Sar srrarelao fa com hidrogénio Cinzent Muilas vezes lib \Vestigios de boro (2) azulado Branco la Inclusoes desconhecidas 2 Caracteristicas do diamante a7 reemitida tem mais freqiientemente uma coloragio azul, modificando assim accor aparente do diamante. Tanto quanto se sabe atualmente, a fosforescén- cia nfo tem qualquer papel na coloragio dos diamantes, mas a fluorescéncia pode influenciar as cores percebidas. Condutibilidades térmica e elétrica As condutibilidades térmica e elétrica do diamante e da grafita sfio ra- dicalmente distintas: a grafita comporta-se como um metal Gevido ao com. portamento de seus elétrons), apresentando assim uma boa condutibilidade elétrica; no diamante, todos os elétrons dos atomos de carbono se encontram fortemente ligados, o que torna a sua mobilizagio para a transmissao de cor- rente elétrica dificil e o mineral apresenta um comportamento nio-condutor. O diamante tem uma grande condutibilidade térmica, ao contr’ 10 do que seria de se esperar, dado o seu comportamento nfio-condutor da eletricidade. Essa caracteristica deve-se a sua capacidade de transmissio das vibracées, que pode ser efetuada por dois mecanismos: * movimentacio de elétrons excitados, razio pela qual os bons condu- tores elétricos séo bons condutores térmicos; * transmissao de energia vibratéra, que se baseia na existéncia de uma estrutura cristalina muito rigida, na qual inexistem ligacGes fracas, condicdes verificadas no diamante. E a combinagio dessas duas caracteristicas fisicas — fraca condutibili- dade elétrica e elevada condutibilidade térmica (quatro vezes superior 4 do cobre) — que da ao diamante uma vasta gama de utilizagiio em aplicagées ele- trénicas. A existéncia de determinado tipo de impurezas no diamante pode alterar a sua condutibilidade elétrica, transformando-o num semicondutor com propriedades interessantes do ponto de vista industrial. Propriedades de superficie O diamante é um mineral hidréfobo, atraindo as gorduras e dleos, uma caracteristica rara nos minerais em geral. Essa caracteristica dos diaman- tes foi identificada desde 1896, por um empregado da De Beers, na Africa do Sul, que desenvolveu um processo de separacio dos diamantes através dessa propriedade, com a criacio de uma graxa especial. 48 Diamante: A pedra, a gema, a lenda 2.4 Utilidades e avaliagao dos diamantes brutos e lapidados O valor unitario ou dos lotes de diamantes é dado por suas: * Propriedades fisicas (obretudo dpticas ¢ de dureza) ¢ quimicas sta bilidade) tinicas, jA discutidas * Cavacteristicas estéticas: a beleza do diamante é uma das proprie dades que Ihe da valor. E impossivel definir beleza, propriedade subjetiva relacionada as caracteristicas 6pticas do diamante — poder refletor, transpa réncia, cor, dispersio ¢ indice de refragio — mas a que estio, associados va- lores culturais, varidveis ao longo do tempo. E elucidativo, a esse propésito, observar a valorizagao que os diamantes de cor tiveram nas duas tiltimas décadas, apés um longo periodo em que foram apenas considerados como curiosidades mineralégicas e como tal tratados, * Raridade: 0 diamante tem valor porque é raro na Natureza, Nio fosse o diamante raro, muito ou mesmo a totalidade do seu valor, enquanto gema, seria perdido. * Historia e mitologia que lhe estiio associadas: ao diamante esta asso- ciada uma importante componente cultural ¢ histérica. Muitos mitos ¢ dra- mas reais histéricos e atuais se deram em torno ou por causa dos diamantes, adicionando-lhe um importante valor subjetivo. * Demonstragao de riqueza ¢ poder; tario e é raro, bem como pela historia e mitologia que a ele esté associada, o diamante € um forte simbolo de poder € stains social. A afirmacio social associada 4 posse € uso de jéias com diamantes reforca, também, o valor utilitario do diamante. porque tem clevado valor uni * Valor unitirio elevado: 0 que os torna uma reserva de valor porti- til. Uma das propriedades do diamante que o torna valioso é a de que este mineral é uma forma de reserva portatil de valor. O elevado valor unitario do diamante, a sua estabilidade mediante a desvalorizagio monetaria e fa cilidade com que pode ser transportado ou guardado tornam-no um modo. extremamente popular de reserva de valor, acrescentando-the utilidade. * Gestiio do mercado: efetuada pela De Beers, que inclui uma garantia implicita de manutenco ou mesmo act de uma forte ¢ continua promo¢io comercial. scimo no valor dos diamantes, além 2 Caracteristicas do diamante 4 Principais aplicagoes O diamante tem caracteristicas tinicas, titeis para diversas inclistrias. As duas aplicagées mais conhecidas do diamante sio a joalheria e, nas outras industrias, como abrasivo. A utilidade do diamante para o homem é, todavia, mais extensa ¢ as suas aplicages tecnolégicas tém crescido rapidamente nos ultimos anos gracas ao desenvolvimento das técnicas de sintese de diamantes. O diamante fot inicialmente utilizado em joalheria na sua forma bruta ou, mais tarde, afeicoado de forma primitiva. O progresso da técnica per- mitiu a criacio de talhes independentes da morfologia original do diamante. A uttilizacio do Jaser permite a criacio de diamantes lapidados em qualquer forma, ao gosto do cliente final. As aplicagdes dos diamantes industriais sio diversas, ¢ crescem rapida- mente, As tradicionais aplicacées na perfuracio e corte, particularmente na pesquisa ¢ produgio de petroleo, na industria mineira, nas engenharias civil e mecanica, baseadas na dureza e resisténcia do diamante, juntam-se outras aplicagdes, como em dispositivos eletro-6pticos, em ambientes hostis (omo reatores nucleares e no espago) e em dispositivos eletrénicos, por exemplo. O crescimento das aplicagSes dos diamantes industriais nos uiltimos anos deveu-se sobretudo ao desenvolvimento de técmicas especiais de fabri- cacio de diamantes sintéticos. Apesar dos tipos sintéticos serem fabricados ha algumas décadas, com base em técnicas que exigiam altas pressées ¢ tem- peraturas, s6 recentemente foram desenvolvidos processos que permitem a sua deposicio ¢ cre Essas técnicas introduzitam uma nova era nas mento em peliculas, a partir de gases em barxa pressio. aplicagées tecnolégicas do diamante, permitin- do especificar ferramentas com configuracées € dimensdes até entio impossiveis. Mais de 90% dos diamantes industriais sio usados sob as formas granulométricas de areia (gil) © pd, para fabricar secea e outros instrumentos de corte (Fig. 2.5). Embora o dia- mante seja um produto abrasivo bem mais di pendioso, ele é freqitentemente preterido, pelo Fig. 2.5 Pormenor de uma coroa diamantada utilizada em sondas de rota¢ao (Chambel, 2000) 50 Diamante: A pedra, a gema, a lenda fato de ter um ciclo de vida maior, o que o torna mais econdmico que outros absasivos, como a alumina e 0 catbeto de silicio A procura no setor dos diamantes industriais devera continuar a cres. cer. Os Estados Unidos ¢ 0 Japio sio os maiores consumidores, seguidos, & distancia, pela Alemanha e Italia. Estima-se que mais de 80% do mercado dos diamantes industriais (+250 milhées de quilates/ano) atualmente cor- respondam A quota dos diamantes sintéticos, o que tem desestimulado o comércio dos diamantes industriais de origem natural. A vantagem compe- titiva do diamante artificial reside na tendéncia decrescente dos seus precos, que podem variar entre US$0,20 ¢ US$125,00/ct, para os Dorts e para as pedras grandes, respectivamente. Por outro lado, os diamantes sintéticos podem ser manufaturados de forma a cumprir determinadas especihcagées. Essa vantagem é cada vez mais pronunciada, especialmente no caso das no- vas aplicagdes que as técnicas de deposi¢io quimica de vapor possibilitaram. Porque se compram diamantes O diamante é um mineral com algumas propriedades peculiases a que a Historia ¢ 0 marketing da De Beers associaram as idéias de magia, poder, riqueza e amor eterno, com uma importincia diferente ao longo do tempo e para os diferentes segmentos de mercado. Sem chividas, 0 Wagan criado pela De Beers — Déarronds are forever — & um dos mais bem sucedidos jargoes co- merciais de todos os tempos. Na atualidade, o diamante é a gema preferida pelo piiblico; uma pes- quisa realizada pela associacio americana de vatejistas de joalheria mostrou que 61% dos clientes americanos preferem o diamante, 10% a esmeralda, 9% a safira e 7% 0 rubi, As tazdes por que se compram diamantes como gemas sio diversas e mudaram ao longo do tempo. Nem sempre a celebracio de datas importantes, como o aniversario ou o Natal que é a melhor época de venda de diamantes durante 0 ano), ou a associacio com a promessa de amor eterno — ou a constatacio do seu fim (como os anéis de divércio) — foram razées para adquirir diamantes. Durante a Idade Média, os diamantes nao eram usados em joalheria, isto é, 0 seu valor estético ou como revelador de status era muito pequeno. Assim, 0 seu valor era essencialmente “magico”, sendo utilizados apenas por homens @o contrario do que sucede hoje). Os diamantes eram incrustados 2 Caracteristicas do diamante 1 em armaduras (stando apenas ao alcance dos muito ricos ¢ poderosos), na esperanca de que as propriedades magicas, 20 exemplo da invencibilidade associada a sua dureza, se estendessem aos seus portadores. Mesmo hoje, as razdes referidas nfo sfio as tinicas ligadas & aquisicio de diamantes-gema, embora correspondam, é certo, as dos principais seg- mentos de mercado. Além daqueles segmentos, existem outros, 0 que tem como principal razio para a aquisicio de diamantes o investimento ¢ a reser va de valor que representam, e o da chamada “mulher moderna”, segmento constituido pelas mulheres economicamente independentes que compram diamantes por si e/ou para si. O cendimento disponivel, as tradicdes culturais, tendmenos de moda eas agdes de promogio de venda de diamantes patrocinadas pela De Beers ¢ comerciantes de joalheria sob a forte pressio de produtos concorrentes, sio as ptincipais forgas que mfuenciam em dado mercado © momento o volume de aquisicio de joalheria utilizando diamantes Todos os produtos de luxo, entre os quais o diamante, tém um apelo intrinseco, adicional ao apelo que advém da sua funcio de exibi¢io de po- sicio social. Estar rodeado de luxo ou possuir um produto de Iuxo ajuda a ctiar a ilusio de ser independente dos outros; muitas pessoas bem-sucedidas tentam dessa forma compensar a auséncia de amigos. Os produtos de luxo ajudam as pessoas a sentirem-se acima da multidio, dado que a sua posse é paralela aparéncia de posi¢io social. Alguns desses produtos, como os diamantes e os artigos de metais preciosos, também oferecem seguranca. Os diamantes, mais que as outras gemas, exemplificam riqueza e luxo e assim tém a vantagem de serem considerados e aceitos mundialmente (as Tabelas 2.3, 2.4, 2.5 ¢ 2.6 ilustram diversas formas de comportamento no mercado de consumo de diamantes). Podem definir-se dois segmentos neste mercado, com base no ctitério da raziio de compra: * presentes para marcar ocasies festivas (Natal, noivado, aniversirio de casamento, de nascimento, etc.); * aquisig&o de diamantes sem qualquer ocastio especial. Sob a perspectiva de mercado global, pode-se usar um outro critério de segmentacio, baseado na telacio existente entre 0 comprador e 0 utiliza- dor, em que o comprador da pega é 0 proprio utilizador, ou o comprador ad- quire a peca para oferecer em alguma ocasitio especial. Com base nas citadas 52 Diamante: A pedra, a gema, a kenda tabelas, pode-se definir 0 comportamento ocidental de acordo com as so- ciedades de lingua e cultura anglo-saxénica, nas quais os diamantes sio, na maior parte das vezes, presenteados para mulheres, ¢ se relacionam princi- palmente a ocasiées festivas. O comportamento asiatico, de outra forma, apresenta certas particularidades, pois as compras sio feitas independente- mente de ocasides especiais, e os compradores adquirem as pecas para si (em geral homens), aparentemente como forma de investimento. 0 valor unitario dos diamantes Os diamantes tém um valor unitario extremamente elevado: uma gota de agua com 1 ml de volume — +1 g —custa menos de 0,001 centavo de dolar ao consumidor brasileito'no 3° escalio de consumo, um grama de ouro cus ta cerca de US$10,00 ¢ um diamante bruto de boa qualidade com o mesmo peso (I g = 5 ct), deve custar cerca de US$5.000,00 (valores de maio de 2003). Tabela 2.3 Habitos de consumo de diamantes lapidados em diversos paises ~ 1996, De Beers Coes coe i Estados Unidos 85% % ut Canada 0% 78% Australia. 74% 73% Reing Unido 72% - 3% : w% Jape 1% “% as Alemanha 46% 17% ute tia 4% 26% a% Franga 3% 21% xe Hong Kong 20% om Coréia 24% 92% Mexico 2% Tawan ae Indonésia 55%

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