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; TJMG , [ \ Poder Judicidrio do Estado de Minas Gerals.x- Ss Autos n° 0010082-54,2019.8,13.627 Autor: Ministério Publico do Estado de Minas Gerais Réu: Municipio de Sao Joao do Paraiso SENTENGA 1-RELATORIO 7 Ministério Publico do Estado de Minas Gerais ajuizou ACAO CIVIL PUBLICA cle pedido de tutela provisoria de urgéncia antecipada em face do Municipio de Sao Joao do Paralso/MG, ao fundamento de que, apés instauragao de inquérito civil, a partir de reclamagées da populagao, verificou-se a presenga de irregularidades em ambos os cemitérios da cidade, sendo alvos de inspegdo pela vigiléncia sanitaria, que, diante do nao acatamento das adequacées pela requerida, foram interditados administrativamente. Aduz que a parte requerida teria descumprido a medida administrativa de interdigao, ao permitir 0 sepultamento de 02 corpos. Instada a se manifestar no Ambito administrativo, a Administragao Municipal teria informado sobre a construco de um novo cemitério, com previsdo de término das obras para o final do més de julho de 2019. Pugna a condenagao do requerido na obrigago de desativarfabandonar os cemitérios “Taboleiro Alto" e “S40 Jodo Batista’ , bem como seja o requerido condenado na obrigagdo de no fazer, consistente na abstengo de permitir a realizagao de sepultamento nos referidos cemitérios. Com a inicial, vieram os documentos de fis.08/140, Em sede liminar (fis.150/152), foi deferido 0 requerimento ministerial para determinar ao requerido a abstengo de realizar sepultamentos nos cemitérios supracitados, sob pena de multa diaria, Devidamente citado (fl.154), 0 requerido apresentou contestagdo as fis.156/157, informando que esta cumprindo a decisdo proferida e que esta construindo um novo cemitério na cidade, ja em fase final, Sobreveio impugnagdo a contestago pelo Parquet a f1.160. Pagina t des Fabio Figuejag9/dos Santos fuze Dielto /\ Poder Judiciério do Estado de Minas Gerais Devidamente intimadas, as partes no requereram a produgao de outras provas. A apreciacao da presente ago envolve analise de quest6es de direito, no havendo necessidade de dilagéo probatéria, além dos documentos ja juntados, comportando a hipétese de julgamento antecipado da lide, nos termos do art. 355, |, do CPC, Il- FUNDAMENTAGAO Presentes os pressupostos processuais e demais requisitos de admissibilidade, ausentes preliminares ou nulidades a serem decretadas de oficio, passo a analise do mérito, Cuida-se de ago civil publica proposta pelo Ministério Pdblico em face do Municipio de Sao Joao do Paraiso, com 0 objetivo de compelir o ente municipal em obrigagao de nao fazer, consistente na abstengéo de permitir a realizagdo de sepultamentos nos cemitérios “Taboleiro Alto" e “Sao Joao Batista’. Em sede de contestacao, o Municipio de a0 Jodo do Paraiso/MG alegou que existem diversas covas vazias, negando, assim, a informagao de que haveria superlotago nos cemitérios. Aduziu, ainda, que ha algum tempo ja vem trabalhando para solucionar o problema, bem como que 0 Municipio esta construindo um novo cemitério na cidade, ja em fase final. Em manifestagao a f1.162, informou que o novo cemitério jé esta em funcionamento. A Constituigao Federal, no capitulo que trata sobre a politica urbana, dispe 0 que se segue: "An182_.A politica de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Piblico municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar © pleno desenvolvimento das fungdes socials da cidade e garantir o bem-estar de seus habitante: No que toca ao assunto versado nos presentes autos, sabe-se que os cemité- rios piblicos qualificam-se como bens de uso especial, j4 que ha em suas reas prestagdo de um servigo piblico especifico. O servigo funerdrio, por se tratar de ine teresse local, é da competéncia municipal (art. 30, inciso | da Constituig&o Federal), Interpretando as disposigées do artigo 30 da Consfituigo Federal, o Supremo Tribunal Federal, quando do julgamento da ADI n° 1.221/RJ, chegou a conclusao de que os servigos funerdrios séo de competéncia dos municipios, pois relacionados com questées de interesse local. Vejamos: M) Pagina? des Fabio Fusedo dos Santos ule de Direito [\ Poder Judiciario do Estado de Minas G [algae he / "CONSTITUCIONAL. MUNICIPIO. SERVIGO FUNERADS RIO. C.F., art. 30, V. | — Os servigos funerdrios constitu- em servicos municipais, dado que dizem respeito com necessidades imediatas do Municipio. C.F., art. 30, V. Il — Ago direta de inconstitucionalidade julgada proceden- te." (STF, Tribunal Pleno, ADI n° 1.221/RJ, rel. Min. Car- los Velloso, j, 09,10.2003, DJU 31.10.2003, p.13). Por sua vez, artigo 207 da Lei Municipal n°027/2005 dispée que: “art. 207. os cemitérios do Municipio tero cardter secu- lar, sero administrados e fiscalizados diretamente pela Prefeitura. (.) Art, 208. No recinto dos cemitérios, além da area destina- da a ruas e avenidas, serao reservados espagos para construgao das capelas e depésitos mortuarros. Art. 210. Os cemitérios poderao ser abandonados quan- do tenham chegado a tal grau de saturagdo Que se torne dificil a decomposi¢go dos corpos ou quando se hajam ‘tornado muito centrais, §1°. Antes de serem abandonados, os cemitérios perma- ecerao fechados durante 5 (cinco) anos, findo os quais seré sua drea destinada a pragas ou parques, ndo permi- tindo proceder-se ai o levantamento de construgdes para qualquer fim; {§2°. Quando, do cemitério antigo para o novo, se tiver de proceder a transladago dos restos mortais, os interessa- dos, mediante pagamento das taxas devidas, terdo direi- to de obter nele espaco em superficie ao do antigo cemi- tério. (—) ‘Art. 232. A administragao do cemitério sera exercida por um encarregado ao qual compete também a execugo das medidas de policia afetas ao servigo.” Destarte, no hd outra interpretagdo a ser feita a tais normativos, senao que constitui dever da Administragao Publica, mais precisamente do Municipio, imple- mentar medidas e agdes para o regular funcionamento de cemitérios publicos. Compulsando-se os autos, verifica-se que os dois cemitérios municipais da ci- dade estariam comprometidos pelo excesso de sepultamentos e auséncia de espa- 40 fisico, 0 que levou a intervengao da vigilancia sanitaria, conforme relatério acos- tado as ff.109/110, que indica, inclusive, a ocorréncia de sobreposigao de corpos numa mesma sepultura, inexisténcia de sistema de esgoto, instalagao sanitaria ou Paginas des Fabio jo dos Santos fz de Direito l \ Poder Judiciario do Estado de Minas Gerais abastecimento de gua. Ficou consignado ainda que o local nao possui depdsit© Para guarda de matetiais e equipamentos, nem para administragao ou recep¢a0 NAO atendendo as exigéncias da legislagdo vigente, Consta ainda dos autos a ‘manifestagao da Prefeita Municipal a f.113, reconhe- Gendo a necessidade de uma readequagao e mencionando a adogao de providén- ©'as para um novo cemitério municipal, Ressalte-se que ambos os cemitétios, tanto 0 Cemitétio do “Taboleiro Alto" Como © cemitério “S80 Jodo Batista", ambos mu Problemas, ipais, apresentam os mesmos AS autuagbes de ff.107/108 e copia da notficagao sanitéria a £116, encami- ‘Mhada Administrago Municipal, a serem conjugados com as fotografias coligidas NOS autos, permitem ter uma nogo dos riscos a0 meio ambiente, ocasionado pela Precariedade, negligéncia e imprudéncia na administragdo desses cemitérios, com "slates, inclusive, de covas abertas em locais com cadéveres jé enterrados, Prejuizos, inclusive, & meméria de parentes e pessoas proximas dos falecidos, alm de outras irregularidades referentes aos sepultamentos. Diante disso, considerando a documentagao coli ida aos autos que aponta o risco de contaminagao ambiental e comprometimento da membria de um nimero ainda maior de falecidos, ante a noticia de sobreposigso de corpos sepultados e int meras irregularidades estruturais, sem espago fisico para novos sepultamentos, mis- {er que 0 pedido inical seja acolhido para impor ao Municipio Requerido obrigagao de n&o fazer, devendo abster-se de proceder a novos sepultamentos nos cemitérios Municipais do "Taboleiro Alto" e "Sao Jodo Batista’ Ml DisPositivo Diante do exposto, JULGO PROCEDENTE a pretenséo formulada na inicial, com resolugéo de mérito, nos termos do artigo 487, inciso | do Cédigo de Processo Civil, para confirmar a decisdo liminar de fis. 180/152 e impor a0 Municipio Requerido obrigago de nao fazer, devendo abster-se de proceder a novos sepultamentos nos cemitérios municipais do "Taboleiro Alto" e "So Jodo Batista, conforme interdigées realizadas pela vigilincia sanitaria e, portanto, ratiicadas por este juizo, sob pena de muita diariaipor ato de descumprimento de R§10.000,00 (dez mil reais) imitada 20 montante maximo de R§200,000,00 (duzentos mil reais), Pagnatdes TIMG rafs* L\, Poder Judiciério do Estado de Minas onal sem jt i P'Suiz0 das responsabildades civs e eiminals do agente pblico que the der causa, Deixo de condenar 0 réu ao pagamento das custas e despesas processuais ° disposto na Lei Estadual de n° 14.939/03, Sem condenagao em honorérios Por se tratar do Ministério Publico (RT 728/202, JTJ 175/90), Decorrido 0 prazo para recurso voluntario, remetam-se os autos ao egrégio Tri- ante Dunal de Justica de Minas Gerais para reexame necessétio, Transitada em julgado e cumpridas as formalidades legais, arquive-se com bai- xa, Publique-se. Registre-se. Intimem-se. S80 Jodo do Paraiso, 27 de janeiro de 2021. 4b 2 fgerh Ay é FABIO FIGUEIREDO DOS SANTOS Juiz de Direito

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