You are on page 1of 12
Dossié Inflexées feministas e agenda de lutas no Brasil contempordneo Manifestagées textuais (insubmissas) travesti Sara Wagner York/Sara Wagner Pimenta Gonaives Jr' ® 0000-0002- 4397-891X, Megg Rayara Gomes Oliveira? ® 0000-0001-9203-9989 Bruna Benevides® Universidades Estacio de $4, Rio de Janeiro, Ru, Brasil, 20261-063 "Universidade Federal do Parand, Programa de Pés-Graduagao em Educagdo, Curitiba, PR, Brasil. 81020-430 - ppge.ufpr@gmail.com *Marinha do Brasil, Niteréi, RJ, Brasil, 24049-900 — bn. secom@marinha.mil.br — Resumo: A cisgeneridade-bindria, heterossexual e compulséria come regime de governamentalidade (Miche! FOUCAULT, 1979) determinou, por mutto tempo, pressupostos que abarcam marcas profundas ‘com seus estabelecieos normatives. Asnormas, marcactss pelo regime, acorrentaram as muitiacicades seruais © de género fora daquilo que compreendia o social no Brasil e em boa parte de mundo. A ‘marca repulsiva e morginailzaca Impressa pelos pressupostos a cls-netero-governamentalicade de Idertidades de género e sexo no Brasil fem sua emergénela a partir des estucos que nomeavam como substantive masoulino as travests, os primetros corpos ciborgues (Donna HARAWAY, 1994) dojno Brasil ‘Alem alsso, fal dinamioa marcaya corpes fravestis em uma condigao de nao lugar. Muifos estucios ‘abriram trincheira por voles colonizedos na tentativa de cescrever as subjetividaciesiravestis, clem dos ‘essenciolsmas de género (Poul PRECIADO, 2017) Este manifesta, dos moides de outs, busca opresentar, «partir de um pensamento travesti, caminhos atravessadios pelo transfeminismo e iransativismo, para um futuro travesti, marcado pela luta,afeto e pela presenca destas vidas e praticas (iransformadoras) ‘em fods of (antjestratos sociars que operam com 0 poder da negatividade (Jack HALBERSTAN, 2012) Palavras-ohave: manifesto; travesti: fransancestralidace; movimentos socla's. Travest! Textual (insubmlss) Manifestations ‘Abstract: The binary, heterosexual anc compulsory elsgenerty as ¢ regime of governance (FOUCAULT. 11979) determined for a long time, assumptions of deep marks in the established norms, The norms ‘marked by the regime, chained the sexual and gender multiplicities outste of what was understood by s0efety in Brazil andl in much of he worl. The repulsive an marginalized mark printed! by the assumptions of els-hetero-governamentally af gencier and! sex identities In Brea has iis emergence from the stucles that named the frst cyborg bodies (HARAWAY, 1994) In Brazil as male nouns. Moreover, such dynamic ‘marked, travestis bodies, in a non-place condition. Many studles have trenched through colonized valleys in an attempt te describe travestis subjectivites, in edition to gender essentiaisms (PRECIADO, 2017). This manifesto, along the lines of others, seeks fo present from a frevetis thought, paths crossed by transfeminism and transativism, to a trovest future, marked by struggle, affection and the presence of these ives and practices ransformative) inal (ant social sata that operate with the power of negativity (HALBERSTAN, 2012) Keywords: Manifest; ravestl; Tansancestraliy; Social movements. Manifestaciones textuales {insumisas) travesti Resumen: La cisgeneridad binaria, heterosexual y obligatoria como régimen de gobierno (FOUCAULT 1979} determiné durante mucho tiempo, supuestos de marcas profundas en las normas establecidas Las normas, mercacias por el regimen, encadlenaron las muttiplicidades sexuales y de género fuera de Jo que entendia ia sociedad en ei Brasily en gran parte del mundo. La marca repulsiva y marginada lmpresa por los supuestos de cis-hetero-gobernabilidad de los identidades de géneroy sexo en Brasil tiene su rigen en los estudlios que nomibraron como sustantivos masculinos 6 os primeros cuerpos ‘cibernetioos (HARAWAY, 1994) en Brasil Aciemés, tales ouerpos dindmicos marcados, de travestis, en una condicién ce no lugar. Muchos estuales han recorrido los valles colonizados en un Intento de Revita Estudos Feminitas, Florandpolt, 28(3): €75614 ‘DOK 10.1890/1806-9584-2020,2ere78614 7 ‘SARA WAGNER PIMENTA GONCALVES JUNIOR, MEGG RAVARA GOMES OLIVEIRA E BRUNA BENEVIDES lescribir las subjetiviiaces de las travests, alemis ce los esencialismos ce género (PRECIADO, 2017). Este manifesto, en ia linea de otfos, busca presentar desde un pensamiento travest, caminos cruzados Bor el fransfeminismo y el fransatvismo, 0 un futuro travesti, marcado por ia lucha, el afecto y Ia Dresencia de estas vidas y précticas (transtormadioras) en todos los estratos sociales fant) que operan ‘con el poder de la negatividad (HALBERSTAN, 2012). Polabras clave: manifesto; fravest); transancesiralidad: movimientos socicies. 1 Manifesto ‘@uando nes aproximames da prépria idela de um manitesto encentrames algumas letinigdes aproximativas come, por exemple: 1} ser uma deciaracée trazida a pUblico; 2} ser uma daclotagae solene de um partido, um grupe religioso, ou, Ginda, de crlistas; 3) possuir relacoes de. bens para efeitos fiscais; 4) documento que nao pode ser contestado ou oculto; 5) adjetivo para ‘aquilo que se revela por suc evidéncic. Nesta definicées que podemos localizar de forma mais ‘ou menos elaboredas, em clversos dlciondtios encontrames elamentos polices, raigioses & itisticos, mas, também, elementos jurdices, legais e burociéticos. Desa forma, quando nes aproximamos da composigGo de um manifesto travesti devernos remontar, também, é linha cura e 4 linha de fuga de um manifesto, A linha dura trata do manifesto ser um elemento do poder do soberano (FOUCAULT, 1988). O soberano manifesta sua vontade =infencdes. lels— pore o: seus sicitos. Nao obstante, ainda hole, a definigéo de manifesto term no s0U lastro ume questée burocrética @ prescriva. A linha de fuga 6 4 prépria usurpagao da ‘utoricade soberana, Neste momento poderiamos pensar numa prética que detiniu © Proprio. Pensamento queer. Trata-se da subversao dos métodos, da reapropriacde dos termos, do roubo Ccative de ideias e da extrema antropotagia: um pensamento Travest A respelto ca palavia travesti, né uma potente signiticagdo, por vezes torpe do verbo, ‘avest. Sea “travesti” na fentativa posta que em code momento vincula d sujeira, @ dosnge, a marginal, ¢ maleficéncia cistarcada, falssada, nGo genuina. Para nés, por suc vez, a polavic se vincula & luta, & resieténcia, & dignidade e a uma potencialidade politica e contestatéria. Uma ppolavia feminina, um substentivo feminino e nunca um verbo que sujaita @ infere. Corriqueliamant, @ de forma equivocada, pestoas clsgéneras utlizam © palavre travesti enquanto vero com esinéncia ce tempo pastac, para atribuicées ce cunho pejorative, come na frase, “6 politico, fulane de tal, estova travestide de aliado”. Travestico, judiado, denegride ¢ tantas outras formas que c lingua adere & norma co passo que pune. Guem determina os limites possivels de se existir ‘enquanto travesti @ ter uma experiéncia de vide que surge impregnada de estigmas fabus, Vieléncla, Invisibilddade e negacdo de espacos? E cesta linhe de fuga na palavra do soberano que nos eproximames. Assim, lembramos ‘que o manifesto, enquanto um género lterétio, raz @ sua poténcia neste cspecto. Alinhamo-nos ‘Go manifesto em produgde textual miitisa, pols propoe outras relagoes élicas, estéticas e de Ctetos. Esta producae multipla do manitesto marcada por uma posicGe politica dentro de uma determinada conjectura cultural ¢ paltica, @ incide com certa urgénela. Esta urgéncia do manifesto nos faz abarcar ¢ ctualidade na sua forma mais convulsa, contemporénea, plena em agora A celeridade das agdes necesstitias nos evoce o presente € 0 cotidiano, mas também uma perspective parc abertura de futuros possivels. Neste senticio, 0 manifesto & uma esciita que intensifica © agora. Ele é feito para que hoja possiblidace de mudaneas e tensionamentos ‘tutes. &tilogia queer cios manitestos taivez puciesse sernomeade com: 1} © manitesto Ciborsue, de Donna Haraway (1994); 2) Manifesto confrassexual, de Paul 8. Preciado (2017); @ 3) Manifesto Gaga, de Jack Halberstam (2012). £ evidente que em cada um destes manifestos ha suas ‘especificidades @ 0 seu contexto de producéo, porém, em fodos eles ha um programa e uma tentative de quebrar determinacas barrelras peliico-epistémicas, como assim também © 6 0 préptio Manifesto, ‘Aocontrétio do imagine do senso comum, ser uma travest 60 reconhecimento de um outo compe passive, Iegimo, ciém daquele normatizado. « consituigde de uma identidade real (quando ‘apresenta matericimente seu corpo), social (quand transita entre os espaces) e politica (quando relvingica ditaltos —de foto e de diate), Essa mesma identidade social, que é precutora de cultura, fompe com os signos bindrlos extticos @ expresta-se como pertencente co género teminino. A letuptura éenormas sockais, ao longo dc histéria, colocave as ravests &s margens socials, expondo: ‘ou naturalzando préticas de violencia (esttulural, simbélica, patimonial, psicolégioas € fice), clém da exclusce socio! comumente praticada por parte da populagae conta nés. "Octo #termuloso na vida # na marty ce causa a ment ou ce eta vvesO Poser Selerane, artes ae tut, So stata de opreensaa dofempa, a safpos naimanta, da vida, © penta mame cetee poser 8a pavisgis So ‘58 opoderar da vide para depos, caso osm o dessjose, supra FOUCAULT. 1988). Revsto Estucos Feminists, Forianépolis, 28(3) £78614 2 pot: 10.1890/1806-9884-2020,28n378614 MANIFESTACOES TEXTUAIS (INSUBMISSAS) TRAVESTI © direto a cutcceterminagae delibera ¢ todos of carps (exitans) @ possiolicadle da ‘culonomia sobre a escolna em etcar nome e género e, Com igo, uma vez mols experiencia a ‘edequacée 6 norma come Unica foma de inseiede civel e ecest0 dt pollicas publicas. Nos ‘ecequames pare sobreviver. Azim, aquelas que decieltam néo emergit para ume viele “fore do ‘ormstior seguem em 2ua travestiicede, tronsexuelidade ou tiensvesigeneridacle, gozanco de iteitos ou confortos que deveriam opera sobre todas. Neste momento, néo te rata de uma narrative solta, mas de enfaizar alguns elements do pido exercicio de escule da "vo2" havest Excutas lenis © outrora felas pot oulfos vieees Que Cconstrukiam Um arquivo ou benco de memétias pore desenho de uma epistemologia e, neste Caso, uma trans-spistemologia. A consequéncic logica apresentada € que, se existem dispositivos’ pate a née escuta desta ristvies, asim estamos clonte de um trans-enistemiciclo. Vie de regro, 8 incurdes etogidticas feitat por pesouitadoras © perquisadores brasileras © brasileirot eslacam « presenga de travests © mulheres transexuals em “bails de peiiferi, Boctes,pracas, enter @ teritrios de prostuigdo" (Marla dos Santos AMARAL; Taito Caetano SIVA, Karla de Olvera CRUZ; Maria Juraey Figueras TONEL, 2014, p. 302), reramenle no campo do conhecimento, ‘especiaimente o acdemico. ‘© pleconcelto que surge como principal obsiéculo de Havests © transexuals até o gtaduagce ganha uma outra forma nos programas de mestrado e doutorado, Nesse ambiente, as pouces pezquizederas rans coftem questioncmentos velades quarto & sua isengé0, expecicimente {Quando estuciam 0 univetso LGBT Paula MARTIN Gabriel SABOIA, 2018) No cate da explciiagde do corpo travesti a suas Nistrios, poclemos pansat em astratégios ‘9ue desestabilzam o vor haves cntes mesmo de ela folar ou emir quoicuer rude. Tote-e de plewras como: vilmisme, eoltodismo e denuncismo. € possvel aue encontremos palewres conelatas, mas, $60 estos és, que, ne atualidade, criam um mure ne escuta da voz Haves, sendo ume das faces de operagéo de transtobia. Exlomes diente da interpelacde ce Glorio Anzolelde (2005) @ sue autoistéra teériea postive! observa of limites e borrdes ene a descrigco ce historias de vidas enquanto elaboragao

You might also like