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RESOLUGAO DA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS* DE 1° DE JULHO DE 2022 ADOCAO DE MEDIDAS PROVISORIAS ASSUNTO MEMBROS DOS POVOS INDiGENAS YANOMAMI, YE’KWANA E MUNDURUKU. ARESPEITO DO BRASIL VISTO: 1. escrito da Comissao Interamericana de Direitos Humanos (doravante denominada “a Comiss&o Interamericana” ou Ya Comissio”) de 17 de maio de 2022 e seus anexos, mediante os quails submeteu a Corte Interamericana de Direitos Humanos (doravante denominada “a Corte Interamericana”, “a Corte” ou "o Tribunal”) um pedido de medidas provisérias, de acordo com o artigo 63.2 da Convencao Americana sobre Direitos Humanos (doravante denominada “a Convenggo Americana” ou “a Convengéo"), com 0 propésito de que 0 Tribunal requeira & Republica Federativa do Brasil (doravante denominada “Brasil” ou “0 Estado”) a adogdo das medidas necessdrias para proteger a vida, a integridade pessoal e a satide dos membros dos Povos Indigenas Yanomami, Ye‘kwana e Munduruku no Brasil (doravante denominado “os propostos beneficiérios”). 2. A nota da Secretaria da Corte de 19 de maio de 2022, por meio da qual, de acordo com o artigo 27.5 do Regulamento e seguindo instrugdes do Presidente da Corte, solicitou ao Estado que, a mais tardar até 27 de maio de 2022, remetesse informago a respeito do pedido de medidas provisérias apresentado pela Comisséo Interamericana. 3. A comunicagéo de 26 de maio de 2022, por meio da qual o Estado solicitou uma extensio do prazo antes mencionado, bem como a nota da Secretaria da Corte de 27 de maio de 2022, mediante a qual, seguindo instrucSes do Presidente do Tribunal, outorgou-se a extensiio solicitada até 3 de junho de 2022. 4. 0 escrito de 3 de junho de 2022 e seus anexos, mediante os quais o Estado se pronunciou sobre 0 pedido de medidas provisdrias da Comissao e solicitou que seja rejeitado. 5. A comunicagéo de 3 de junho de 2022, mediante a qual a Comisséo apresentou informagao adicional relacionada ao pedido de medidas provisérias, e a comunicaao de 14 de junho de 2022, mediante a qual assinalou que nao existem peticdes ou casos contenciosos relacionados aos fatos alegados no pedido de medidas provisérias. CONSIDERANDO QUE: : Devido as circunstancias excepcionals ocasionadas pela pandemia de COVID-19, esta Resolucéo foi deliberada e aprovada durante uma sesso realizada de forma ndo presencal utlizando meios tecnolégicos, durante 0 149° Periodo Ordinério de SessGes, de acordo com 0 estabelecido no Regulamento da Corte. O Juiz Rodrigo de Bittencourt Mudrovitsch, de nacionalidade brasileira, no participou no conhecimento e deliberagio da presente resolugdo, de acordo com 0 disposto no artigo 19.4 do Regulamento da Corte, 1. O Brasil é Estado Parte da Convenco Americana desde 25 de setembro de 1992 e, de acordo com 0 artigo 62 da mesma, reconheceu a competéncia contenciosa deste Tribunal em 10 de dezembro de 1998. 2. _ O artigo 63.2 da ConvencSo Americana dispde que, em “casos de extrema gravidade e urgéncia, e quando se fizer necessério evitar danos irreparaveis as pessoas”, a Corte poder, fos assuntos que ainda no estiverem submetidos 20 seu conhecimento, a pedido da Comissao, ordenar as medidas provisérias que considere pertinentes. Além disso, 0 artigo 27.2 do Regulamento da Corte afirma que: “[t]ratando-se de assuntos ainda nao submetidos & sua consideragdo, a Corte poder atuar por solicitaco da Comisséo”. 3. _A presente solicitacio de medidas provisérias nao se origina em um caso em conhecimento da Corte, mas no 4mbito de duas medidas cautelares adotadas pela Comisséo Interamericana em julho! e dezembro? de 2020, em beneficio dos membros dos Povos Indigenas Yanomami e Ye’kwana que se encontram no Territério Indigena Yanomami, e dos membros do Povo Indigena Munduruku que se encontram nos Territérios Munduruku, Sai Cinza, Kayabi, Reservas Praia do indio e Praia do Mangue, Sawré Muybu e Sawré Bapin, respectivamente. 4, _ No Direito Internacional dos Direitos Humanos as medidas provisérias tem um caréter no apenas cautelar, no sentido de que preservam uma situacao juridica, mas uma fungdo fundamentalmente tutelar, ao proteger direitos humanos, na medida em que buscam evitar danos irrepardveis &s pessoas. A ordem de adocio de medidas é aplicdvel sempre e quando estejam reunidos os requisitos basicos de extrema gravidade e urgéncia e de prevencdo de danos irrepardveis 8s pessoas.’ Dessa maneira, as medidas provisorias se transformam em uma verdadeira garantia jurisdicional de cardter preventivo.* 5. Tendo em vista o cardter tutelar das medidas provisérias, a Corte pode ordené-las mesmo quando no exista um caso contencioso no Sistema Interamericano, em situacdes que, prima facie, possam ter como resultado uma violagéo grave e iminente de direitos humanos. Para tanto, deve-se realizar uma avaliagéo do problema argumentado, da 1 Cf. MC-563-20-8R, Membros dos Povos Indigenas Yanomami e Ye'Kwana, vigente desde 17 de julho de 2020. Na Resolucdo 35/2020, em relacso a estas medidas cautelares, a Comissao solictou ao Estado que: "a) adote {as medidas necessarias para proteger os direites & saude, & vida e & integridade pessoal dos membros dos govos Indigenas Yanomamie Ye'kwana, implementando, de’ uma perspectiva culturalmente apropriada, medidas preventivas contra a disseminacao da COVID-19, além de Ihes fornecer atendimento médico adequado emi condicdes de disponibilidade, acessibiidade, aceitabilidade e qualidade, de acordo com os pardmetros internacionais aplcveis; »b) acordar as medidas a serem adotadas com os beneficarios e seus representantes; e c) relatar as acbes adotadas para investigar 05 fatos que levaram a adogdo dessa medida cautelar e, assim, evitar sua repeticdo". 2 CF. MC-679-20-8R, Membros do Povo Indigena Munduruku, vigente desde 11 de dezemoro de 2020. Na Resolugso 94/2020, em relacéo a estas medidas cautelares, a Comissdo solicitou a0 Estado que: "a) adote as medidas necessénas para proteger os direitos & sade, 8 vida e’8 integridade pessoal dos membros do Povo Indigena Munduruku, implementando, sob uma perspectiva culturalmente adequada, medidas de prevencio frente & disseminagio da COVID-19, bem como proporcionando-lhes um atendimento médica adequado em condicies de disponibilidade, acessiblidade, aceitablidade e qualidade, em conformidade com as narmas internacionais aplicéveis, ') coordene as medidas a serem adotadas com os beneficérios © os seus representantes; e ¢) informe sobre as acdes implementadas para investigar os Fatos que levaram & adogéo desta medida cautelar e, assim, evitar a sua repeticao.” 2 CC. Caso Herrera Ulloa a respeito da Costa Rica. Medidas Provisérias. Resolugio da Corte Interamericana de Direltos Humanos de 7 de setembro de 2001, Considerando , e Caso Barrios Altos @ Caso La Cantuta Vs. Peru. Solicitacdo de Medidas Provisérias. ResolucSo da Corte Interamericana de Direitos Humanos de 30 de marco de 2022, Considerando 4, ‘ Ch. Caso Herrera Ulloa a respeito da Costa Rica. Medidas Provisérias, supra, Considerando 4, © Assunto Moradores ‘das Comunidades do Povo Indigena Miskitu da Regido Costa Caribe Norte a respeito da’ Nicardgua. “Amplagdo de Medias Provisénas. Resolugdo da Corte Ineramericana de Diretos Humanos de 14 de outubro de 1, Considerando efetividade das acdes estatals frente & situacdo descrita, e do grau de desprotegéo em que se encontrariam as pessoas para quem se solicita medidas, caso ndo venham a ser adotadas. Para alcancar esse objetivo & necessdrio que a ComissSo Interamericana apresente uma motivaco suficiente que inclua os critérios indicados e que o Estado no demonstre de forma dara e suficiente a efetividade de determinadas medidas que tenha adotado no foro interno.* 6. __Aseguir, a fim de analisar 0 pedido de medidas provisérias em tela, a Corte examinaré: a) os fatos e alegacdes apresentados pela Comissao; b) a informagao oferecida pelo Estado, e, posteriormente, realizaré c) as consideracdes correspondentes. A. Pedido de medidas provisérias apresentado pela Comissao Interamericana 7. A Comiss&o fundamentou seu pedido de medidas provisérias nos seguintes fatos, que argumentou serem de “extremo risco’ A.1. A alegada violéncia contra os Povos Indigenas Yanomami, Ye‘kwana e Munduruku 8 Quanto aos membros dos Povos Indigenas Yanomami e Ye’kwana, a Comissdo afirmou que uma situacio de violéncia na regio estaria gerando impactos na vida e integridade dos propostos beneficidrios, consistente em conflitos entre as pessoas indigenas e pessoas néo autorizadas que se encontrariam explorando ilegalmente os minérios da regiéo (doravante denominados “garimpeiros”, por sua denominacao em portugués). De acordo com o indicado, estes conflitos t&m origem em razio da exploracdo de minérios, principalmente de ouro, em terras indigenas, e a luta das comunidades contra essas agdes, que alegadamente estariam gerand a) Ameacas contra a vida e persecuc&o de liderancas indigenas que teriam denunciado o aumento da presenca de pessoas néo autorizadas em seus territérios ea denominada mineracéo Ilegal;® b) Ataques com uso de armas de fogo por parte dos garimpeiros, que teriam ocasionado, inclusive, a morte de criangas indigenas; ©) Frequentes ameacas dos garimpeiros contra os indigenas em grupos de WhatsApp, com mensagens que indicariam expressamente sua intenc&o de continuar e intensificar 05 ataques armados contra as comunidades indigenas; d) © deslocamento de grupos indigenas em isolamento, em razo de alegados contatos forcados com os garimpeiros; e) Violéncia sexual contra criancas e mulheres indigenas, que incluem casos de estupro e assédio, com 0 consumo de lcool nao voluntario e a entrega de bens e alimentos “em troca de sexo"; 5 GF. Assunto do Internado Judicial Capital EI Rodeo I € EI Rodeo Il, Solictagio de medidas provisérias a respeito da Venezuela, Resolugso da Corte Interamericana de Direitos Humanos de 8 de fevereiro de 2008, Considerando aitavo, e Assunto Juan Sebastiin Chamorro e outros a respeito da Nicarégua. Medidas Provisorias. Resolugho da Corte Interamericana de Direitos Humanos de 24 de junho de 2021, Considerando 5 ‘ A prética da denominada mineracéo ilegal foi apontada pela Comissao e pelos representantes dos propostos beneficigrios, no &mbito das medidas cautelares que tramitam perante aquele organismo, bem como por distintas inst&ncias estatais, conforme se depreende dos documentos apresentados a0 Tribunal, no contexto deste pedido de medidas provisérias. Ha também informagbes sobre esta pratica nas decisdes dos tribunais brasileiros citadas pela Comissao e nos relatérios da Policia Federal sobre suas operacSes nos terrtérios indigenas, f)Assédio de pessoas indigenas jovens para trabalhar na exploracao de minérios em troca da entrega de armas de fogo, e 9) A presenca constante de garimpeiros armados nas imediagSes dos territérios indigenas. 9. A Comissao afirmou que houve um avanco da atividade de mineragao ilegal na Terra Indigena Yanomami em 2022 e a instalagao de trés dragas; 0 aumento do trafico de drogas e armas, bem como de ameacas de morte e contaminacao ambiental; a falta de atencao médica de 615 pessoas indigenas hd pelo menos seis meses; 0 ataque de 25 de abril de 2022 contra @ comunidade Arakaca, localizada na Terra Indigena Yanomami, quando os garimpeiros teriam estuprado e assassinado uma adolescente de 12 anos, e sequestrado uma crianca de 4 anos e sua mae. Ademais, a Comisséo afirmou que o Decreto 10.966, de 11 de fevereiro de 2022, criou o “Programa de Apoio ao Desenvolvimento da Mineracdo Artesanal e em Pequena Escala” (Pré-Mape), e esse programa “elegeu” a regio amazénica como “centro de exploracio”. 10. Em relac&o aos membros do Povo Indigena Munduruku, a Comisséo também afirmou existir uma situacdo de violencia na regio devido ao “aumento exponencial” da exploracéo ilegal de recursos em seu territério, e 0 consequente impacto na integridade e vida dos propostos beneficiérios, indicando que teriam ocorrido ameacas e ataques realizados por garimpeiros, alguns com o possivel apoio de autoridades estatais.’ Segundo a Comisséo, fariam parte dessa situaco: a) Atos de vandalismo contra as residéncias de liderancas indigenas, como, por exemplo, 0 incéndio de suas casas, a interrupc&o no fornecimento de energia elétrica, entre outros. A Comisso expressou que, depois do incéndio da casa da presidenta da Associacéo de Mulheres Munduruku Wakoborun, 15 lideres e suas familias, incluindo criangas, se “refugiaram” em outro municipio, e trés Iideres se incorporaram ao Programa de Protecéo a Defensores de Direitos Humanos;* b) Reiteradas ameacas e agressées fisicas a varias liderancas indigenas, e ©) A interceptac3o de um 6nibus que transportava 42 pessoas indigenas que se dirigiam a Brasilia para denunciar os supostos atos de violéncia e ameacas que haviam estado recebendo. Nesse evento, foi relatado que os passageiros foram ameacados de que o 6nibus seria incendiado. A.2, A situagéo de satide dos Povos Indigenas Yanomami, Ye'kwana e Munduruku 11, Quanto a situagdo de satide dos membros dos Povos Indigenas Yanomami e Ye'kwana, a Comissao assinalou: a) © alegado aumento de enfermidades nas pessoas beneficiérias devido & contaminac&o com mercério dos rios vizinhos, principal fonte de dgua potavel e de > Um relatério da Policia Federal sobre a operacdo *Mundukurdnia" indica fortes indicios de possive! Participagso de autoridades estatais, incluindo um prefeito e um membro do poder legislative municipal, com a enominada mineragdo legal. CF. Anexo 35. Relatério da Policia Federal sobre a Operacée "Mundukurénia", 17 de junho de 2021. : Segundo a Comissio, os representantes informaram que houve vérios outros pedidos de inclustio no Programa de Protegdo @ Defensores de Direitos Humanos que no foram atendidas. pesca para as comunidades. Ademais, enfatizou a inexisténcia de um diagnéstico e de monitoramento dos niveis de contaminacao entre os habitantes das terras indigenas; b) A propagacao de enfermidades contagiosas como a COVID-19, a “pobre” atenc3o médica, a baixa quantidade de testes de COVID-19, o lento avango da vacinacao, as alegadas “fortes pressées do Estado de Roraima para o desvio das vacinas reservadas para os indigenas”, e “corrupcao pelo desvio de vacinas por funcionrios do DSEI para aplicacao em garimpeiros em troca de ouro”; ©) 0 falecimento de pessoas indigenas em funcdo da entrada de profissionais de salide que estavam contagiados com @ COVID-19; d) O aumento de casos de malaria: afirmou-se que, no segundo semestre de 2021, foram registrados 16.982 casi e) A “atenco médica de garimpeiros em prejuizo das pessoas indigenas” e, em algumas regides a inexisténcia de atenco médic: f) A falta de medicamentos bésicos, e 9) © agravamento da desnutricio infantil, que teria relagio com o aumento da “inseguranca alimentar” nas comunidades em razio, entre outros fatores, da diminuig&0 da oferta de alimentos, da contaminac&o dos rios, da impossibilidade de fazer uso dos recursos florestais devido 4 ocupacgo dos garimpeiros e a0 desmatamento. 12. No que tange @ alegada situac&o de satide dos membros do Povo Indigena Munduruku, a Comisséo afirmou que 0 Plano de Contencéo da COVID-19, aprovado em 2021, no fol implementado em func&o de alegada falta de orcamento estatal; a auséncia de um registro dos casos de COVID-19 em terras indigenas ndo homologadas (aquelas que ainda n&o foram demarcadas); a impossibilidade das comunidades de comunicar casos graves de COVID-19 devido falta de manutengéo dos aparelnos de radio; a suposta adocdo de medidas discriminatérias ao excluir 5 pessoas indigenas de terras no homologadas como grupo prioritério de vacinagéo no Plano Nacional de VacinagSo; a existéncia de campanhas de desinformac&o que gerariam um clima de desconfianca sobre a eficdcia das vacinas, somada aos alegados possivels vinculos de agentes do Distrito Sanitério Especial Indigena com os garimpeiros; a “negligéncia” do Estado em prevenir e atender os casos de malaria que, em Janeiro de 2021, teriam aumentado 30% em comparagéo a dezembro de 2020, aumento este que estaria relacionado ao desmatamento da regio, e a suposta presenca de nivels de contaminacgo por merctrio superiores aos recomendados pela Organizacéo Mundial de Satide, o que teria causado “alterages” nos rins e figado da populacao indigena."° : © que indicaria que aproximadamente 65% dos membros dos Povos Indigena Yanomami e Ye'Kwana teriam sido contagiades, 1 esse respeito, a Comissao informou sobre uma pericia de 10 de fevereiro de 2022, solicitada pela Policia Federal do Brasil, remetida pela representacao do Povo Indigena Munduruku, na qual fol avaliada a situacao de partes do Rio Tapajés, que atravessa as terras habitadas pelo Povo Munduruku. Informou que, nessa pericia, observaram- se mudangas na coloracgo das aguas do rio, atribuindo o fenémeno & atividade de mineracdo. Alem disso, afirmou ue se destaca que 2 mineracdo na regido de Tapaiés utiliza mercirio, o que pode provocar “graves danos ambientais" e a sade humana. Ademais, afirmou que na regido de Tapajds também & comum o uso de cianeto para extrair 0 ouro de um mineral em estado bruto retirado do solo. Mencionau que o cianeto é uma substancia altamente téxica que, segundo a pericia, pode deixar a terra, os rios e os lagos estéreis durante um periodo indefinido. 13. A Comisséo mencionou que, apesar de decisdes do Supremo Tribunal Federal (STF)? e da Vara Federal Civil e Criminal do Estado de Roraima’2 que tinham por objeto proteger os Povos Indigenas, uma série de aces e omissdes do Estado contrérias a estas decisdes judiciais continuariam ocorrendo. A titulo de exemplo, mencionaram os seguintes aspectos: () a presenca muito esporddica de agentes policiais diante de alegados ataques dos garimpeiros, e a falta de continuldade de suas operacées; (il) o funcionamento inadequado das Bases de Protecdo Etnoambiental (doravante denominadas "BAPE”),"? ao no contar com insumos suficientes para realizar o seu trabalho, ou a inexisténcia dessas bases em certas regides; (iii) 2 abertura de novos centros de exploracdo de mineracao e a intensificacao da atividade de outros ja existentes em territérios indigenas; (iv) as deciaracdes das autoridades estatais que estariam defendendo a regulamentacdo da atividade de mineraco em terras indigenas como solugao para as atividades ilegais e as invasoes, e (v) a suposta decisdo da “Fundaco Nacional do Indio” (FUNAI)"* de nao “combater as condutas irregulares” nas terras no homologadas. 14, Em vista de todo 0 anterior, a Comisséo solicitou & Corte que ordene ao Estado: a) _adotar as medidas necessérias para proteger os direitos & vida, & integridade pessoal e & satide dos membros dos Povos Indigenas Yanomami, Ye’kwana e Munduruku identificados em seu pedido, sob uma perspectiva culturalmente adequada, com enfoque de género e etério, implementando medidas efetivas contra as ameacas, intimidagées e atos de violéncia, as quais incluem as medidas necessarias para combater as atividades ilegais e de contaminagio nos territérios; b) _adotar medidas culturalmente adequadas para prevenir a disseminacio de enfermidades, e mitigar 0 contagio e a contaminacéo, oferendo atencéo médica adequada em condigées de disponibilidade, acessibilidade, aceltabilidade e qualidade; 2 De avordo ao informado, em 8 de julho de 2020 o Supremo Tribunal Federal do Brasil (doravante, “STF") outorgou medidas cautelares no marco da “AgSo de Descumprimento do Preceito Fundamental” nimero 703 (Goravante "ADPF 709"), 2 favor dos povos Indigenas da Brasil no contexto da pandemla de COVID-19, na qual determinou-se, entre outros, a criacdo de “barreiras sanitérias que Impecam o contato de tercelras no autorizados com os povas indigenas de contato recente ou \solados”; a elaboracio de um Plano de Contingéncia de COVID-19, e 2 ampliagdo dos servicos de satide para 0s povos indigenas localizados em terras ainda néo demarcadas. Em 21 de ‘outubro de 2020 informou-se que 0 STF rejeitou a segunda verséo_ de um Plano Geral de Enfrentamento © Monitoramento da COVID-19 para os Povos Indigenas apresentado pelo Estado, determinando sua reformulacao. De outa parte, informou-se que, em deciséo ratficada em junho de 2021 pelo STF, foi ordenada 2 "a adocdo imediata das medidas necessérias para proteger a vide, a sade, e a seguranca dos povos indigenas que habitam as TI [Terras Indigenas] Yanomami e Munduru(klu, diante da ameaca de ataques violentos e da presenca de invasores” (expediente de provas, folhas 205, 209,212, 230 ¢ 238 a 239), a Comisséo informou que na Sentenca de 16 de novembro de 2038, proferida pela Vara Federal Civil e Criminal da Seco Judicial de Rorsima, no dmbito da Aco Civil Piblica 1000551-12,2017.4,01.4200, interposta pelo Ministério Piblico Federal contra a Unio (Governo Federal), a Funcaco Nacional do Indio (doravante denominada 2 “FUNAI") € 0 Estado de Roraima, ordenou-se que “i) seja apresentado plano de restabelecimento das Bases de Protecdo na Terra Indigena Yanomami e de fiscalizacBo e repressio a0 garimpo, observando todas as informacdes repassadas por comunidades indigenas acerca das localidades onde se constatou a existéncia de garimpo ilegal, bern como a estratégia mals adequada, a ser definida pela Unido e pela FUNAI no prazo de 60 dias; i) apds a apresentacBo do plano, que sejam reativadas as Bases de Protecdo Ambiental, nos Iocais assim definidos, com estrutura e pessoal necessario no prazo de 120 dias, e ili) nos casos de emergéncia, o Estado de Roraima disponibilze force polical pare auniliar nas atividades de fiscalizaco/ represso ao garimpo na Terra Indigena Yanomam|” (expediente de provas, folhas 87 2 97). 1 Conforme fol assinelado, os BAPE teriam a responsabildade de oferecer protecdo territorial e de elaborar 0 "Plano de Emergencia” para. retireca dos garimpeites. ‘| _A FUNAT & 0 Grado estatal brasileiro que estabelece desenvolve as polticas relacionadas aos povos indigenas, € responsével por demarcar e proteger as terras tradicionalmente hhabitadas © usadas por estas ‘comunidades, Esté encarregada, entre outros, de evitar a invasao dos territrios indigenas por terceiros. Disponivel fem: https://www.gov.br/funai/pt-br. ©) __acordar as medidas a serem implementadas com as pessoas beneficidrias e seus representantes, e d) __ informar sobre as ages realizadas para investigar os fatos que deram origem a presente solicitacio de medidas provisérias. 15. _ Ademais, a Comisséo solicitou que a Corte realize uma visita in situ que inclua reunides com os propostos beneficidrios e as autoridades vinculadas 4 implementacao das eventuais medidas. B. Informagao apresentada pelo Estado 16. 0 Estado rejeitou o pedido da Comisso, alegando sua improcedéncia, devido a falta de caracterizaco de uma situago de extrema gravidade e urgéncia; a que a maioria dos fatos mencionados pela Comissao j4 foram considerados por aquele organismo quando da adocio das medidas cautelares; & inexisténcia de “uma aco deliberada” do Estado com 0 objetivo de gerar um contexto de maior exposicao dos beneficidrios, bem como em virtude de que as medidas cautelares adotadas pela Comissao se encontram em fase de cumprimento por parte do Estado. Desse modo, o Brasil solicitou que a Corte rejeite o presente pedido de medidas provisérias. Além disso, ofereceu informacées sobre as ages que estaria empreendendo “para garantir os direitos dos membros das comunidades indigenas Yanomani, Ye'kwana e Munduruku”, conforme se resume a seguir. i. As investigagSes realizadas sobre os alegados casos de estupro, homicidio e violencia 17. O Estado afirmou que a Policia Federal é responsavel pelas investigacdes dos supostos casos de estupro, assassinato e violéncia contra membros dos povos indigenas Yanomami, Ye'kwana e Munduruku, A esse respeito, informou que, em comunicacéo de 29 de abril de 2022, @ FUNAL afirmou que apés as diligéncias realizadas na aldela Arakaca, na Terra Indigena Yanomami, a Policia Federal, o Ministério Publico Federal, a FUNAI e a Secretaria Especial de Satide Indigena (doravante denominada "SESAI"), com 0 apoio do Exército e da Forca Aérea Brasileira, no encontraram evidéncias sobre homicidios, estupros ou mortes por afogamento, que haviam sido denunciados pelo Conselho Distrital de Satide Indigena. Acrescentou que a FUNAI afirmou que as instituiges mencionadas se deslocaram a regio de Waikés para investigar os supostos delitos que teriam vitimado mulheres e criancas indigenas da localidade, conforme oficio também remetido pelo Conselho Distrital de Satide Indigena. No entanto, a FUNAI afirmou que 0s érgos mencionados continuam realizando diligéncias para esclarecer 0 ocorrido, 18. De maneira particular, 0 Estado informou sobre trés investigacées, uma notitia criminis e um processo penal iniciados no 4mbito dos alegados casos de estupro e homicidio de mulheres e criancas Yanomamis em abril de 2022. De acordo com o Estado, todos esses procedimentos se encontram em curso. Além disso, informou sobre quatro investigagbes e Processos instaurados por ameacas, intimidacdes, desnutricéo e atos de violéncia contra membros dos Povos Indigenas Yanomami, Ye’kwana e Munduruku, ocorridos, 20 menos, em maio e outubro de 2021, il. Criago de barreiras sanitérias para impedir 0 contato de terceiros no autorizados 19. _ O Estado informou sobre a medida proviséria 1027, de 1° de fevereiro de 2021, emitida pela Presidéncia da Republica e aprovada pelo Congreso Nacional, mediante a qual a FUNAT comecou a pagar didrias (per diem) a funcionérios e militares que trabalham em barreiras sanitérias para prevenir a propagacSo da COVID-19 entre a populacao indigena. Acrescentou que, além da criacdo de novas barreiras sanitérias, também foram reforcadas as j4 existentes. ‘Acesse respeito, mencionou uma série de artigos nos quais seria possivel observar o indicado, e afirmou que a FUNAT publica em seu sitio web um mapa com as barreiras sanitérias instaladas no territério nacional iii, Medidas adotadas para prevenir a disseminagao da COVID-19 e de doencas contagiosas 20, _ 0 Estado afirmou que a populacdo indigena foi considerada como um grupo prioritario no Plano Nacional de Operacionalizacdo da Vacinacao contra a Covid-19, e que 91% dessa populaco se encontra vacinada com a primeira dose, enquanto 86% contam com a segunda. ‘Ademais, informou que as aces da SESAI para combater a COVID-19 e outras enfermidades so publicadas no relatério das aces realizadas pela SESAI para enfrentar a Pandemia de COVID-19, que contém um capitulo referente as “ages especificas” realizadas em 2022. 21. Q Estado também informou sobre outras medidas. A saber, sobre a existéncia do Centro de Informacgo Estratégica em Vigiléncia em Satide, “como forma estratégica de tomada de decisdes na execugdo de acées sanitdrias de intervencéo e prevencéo de problemas de satide publica em territério indigena”; processos de educacao sanitdria que incluem palestras, debates e conversas para reforcar a importéncia da vacina contra a COVID- 19 entre as populacdes atendidas e para sensibilizar as Equipes Multidisciplinares de Atenc3o Basica em Saiide Indigena (doravante denominadas “EMSI”) para a identificacSo precoce de casos suspeitos de COVID-19; 0 Distrito Sanitério Especial Indigena de Yanomami esteve trabalhando na prevenc&o da COVID-19 em sua jurisdic&o e conta com equipes de protecdo individual e fornece testes répidos de COVID-19;"5 foram realizadas aces para melhorar a atengo oferecida por Agentes Indigenas de Salide e Agentes Indigenas de Saneamento; ea Equipe de Resposta Répida’® “atua diretamente no enfrentamento da COVID-19 e de outras doencas”. Além disso, informou sobre medidas adotadas para reforcar a vigilancia sanitaria para fazer frente @ COVID-19 nos territérios Yanomami."” 4 __afirmou que 0 Inventério dos Insumos de protegSo individual e testes répidos é felto pelo centro de abastecimento local, de acorda com a necessidade de cada posto, 16 nformou que a Equipe de Resposta Répida “trabalha na identificagio precoce dos sintomas de gripe, aplica testes répidos de COVID-19, orienta sobre o isolamento social e trata sintomas leves do novo coronavirus”. Afirmou ue © Distrito Sanitério Especial Indigena traslada os pacientes cuja condic8o se agrava & rede municipal ou estadual de sate, (1) Busca ativa de casos de sindrome gripal e de sindrome respiratéria aguda severa, suspeltas de serem causadas por COVID-19 em pessoas indigenas do Distrito Sanitério Especial Indigena; (ji) dretrizes sobre as medidas de prevengdo e controle da transmiss3o do novo coronavirus nas aldelas e na Casa de Saide Indigena Yanomami e do Distrito Sanitério Especial Indigena Yanomami; (i) testes répides para pessoas indigenas e profissionais com sintomas de sindrome gripal e de sindrome respiratéria aguda severa, de acordo com o pratacolo de orientacao do Ministério de Sade para a trlagem de casos suspeltos e/ou confirmados de COVID-19; (Iv) acompanhamento dos casos suspeltos e/au confirmados de COVID-19 nas aldelas do Distrito Sanitaria Especial Indigena Yanomam|, de acordo com 0 protocolo do Ministério de Sade; (v) isolamento domicilar de pessoas indigenas suspeitas e/ou Confirmadas com infeccéo por coronavirus; (vi) monitoramento dos casos de sindrome respiratoria aguda severe nas Unidades de Atencao Primaria Indigena;(vi) acompanhamento do fluxo de notficagao da COVID-19, recomendado pelo SESAI e pelo Ministério de Saude; (vill) apresentacdo de relatorios técnicos & Divisao de Atencgo a Saude Indigena e ao Coordenador Distrital de Saude Indigena; (Ix) inseredo de dados no Sistema de Informacao para 2 Atencio da Saide dos Indigenas, Sistema Covid-19 online e FormSus; (x) reuniges semanais do Comité de Crise do Distrito Sanitério Especial Indigena; (xi) reuniGes quinzenais da Sala de situago da FUNAI, e xl) atuagBes no &mbito da educagdo de saude, 22. Em relac&o ao cumprimento da quarentena dos EMSI para a entrada a uma area onde residem povos indigenas recém contatados, sustentou que ¢ realizada uma triagem e testes rapidos antes de sua entrada. 23. Quanto a outras doencas contagiosas, afirmou que o Distrito Sanitério Especial Indigena de Rio Tapajés esteve trabalnando em ages de educacdo de satide para prevenir enfermidades, através de aces de combate e controle da maléria, como a instalacéo de mosquiteiros, a busca ativa e acompanhamento de pacientes sintomaticos, a busca ativa de casos de tuberculose, hanseniase, hepatite B e C, HIV, sifilis, entre outras. 24. De outra parte, informou que os materiais contemplados dentro da atengao basica séo: sabao liquido, mascara cirdrgica, mascara N95, dlcool gel de 70%, alcool liquido de 70%, luvas, 6culos, lentes de protegdo, touca e aventais cirurgicos descartaveis, iv. Programas e érgos de satide especificos que prestam atenco s comunidades indigenas em questo 25. 0 Estado informou que a SESAI € 0 érgdo responsavel pela atencdo bésica de satide, e 0s municipios e Estados séo responsdveis pela atencéo de sade de média e alta complexidade. Ademais, afirmou que, com base na Politica Nacional de AtencSo Basica de Satide, 0 Distrito Sanitario Especial Indigena do Rio Tapajés e Yanomami sao os setores responséveis por desenvolver acées de salide para os povos indigenas sob sua jurisdicéo no contexto do Subsistema de Atencio a Satide Indigena. Dessa maneira, assinalou que ambos 0s Distritos de Satide realizam atividades'® de atencao basica de satide, de acordo com as diretrizes da Politica Nacional de Atencao 8 Saiide dos Povos Indigenas, em conformidade com a legislacdo do Sistema Unico de Saude. 26. De outra parte, informou que o Distrito Sanitério Especial Indigena de Rio Tapajés esta integrado por 353 profissionals, divididos em: 6 médicos, 60 enfermeiras, 95 técnicos de enfermagem, 86 agentes indigenas de salide, 45 agentes indigenas de saneamento, 11 agentes de doencas endémicas, 11 microscopistas, 5 auxiliares de satide bucal e 8 dentistas ativos no territério, em um horario de 30 dias trabalhados por 15 dias livres, com a excegéo dos agentes indigenas de satide, agentes indigenas de saneamento, agentes de doencas endémicas, microscopistas e alguns técnicos de enfermagem que vivem no territério e trabalham 44 horas por semana. Além disso, afirmou que as equipes contam com: 5 trabalhadores sociais, 5 nutricionistas, 5 farmac8uticos, 2 técnicos de saneamento, 1 bidlogo, 2 psicdlogos, 1 auxiliar de satide, 1 apolador técnico de saneamento, 1 engenheiro, 1 gedlogo, 1 responsdvel por saneamento ambiental, | 7 —‘técnicos. «de. saneamento/edificacdes/quimica/eletrotécnica e 2 técnicos de saide bucal. Destacou que, dos 353 profissionais, "329 trabalham diretamente na assisténcia de satide no territério, 0 que corresponde a uma média de 2.26 profissionais por habitante indigena”, 27. _ Adicionalmente, informou que o Distrito Sanitério Especial Indigena Yanomami conta com 429 profissionais de sade, distribuidos em 37 postos indigenas Yanomami e incluem médicos, dentistas, enfermeiros, técnicos de enfermagem, auxiliares de satide bucal, agentes indigenas de satide e agentes indigenas de saneamento. Ademais, mencionou os érgaos que apoiam a prestac&o de servicos do Distrito Sanitério Especial Indigena. __Essas atividades incluem: visitas domicilares, educaco de satde e circulos de conversa com temas centrados na prevencdo de enfermidades e doencas, consulta e avaliagdo médica e de enfermagem, vigilncia alimentar e nutricional para combater a desnutrigSo infantil, atividades concentradas na atengSo psicassocial dos ovos indigenas, e a atengdo & slide bucal e distribuigdo de material dental v. Estudos realizados para identificar 0 possivel nivel de contaminagao por merctrio outras substdncias nocivas 28. _ Em primeiro lugar, 0 Estado informou que, em 7 de janeiro de 2022, a SESAI iniciou negociagdes para criar um Centro de Referéncia para o Tratamento de Doencas causadas pela exposicdo ao mercirio. Ademais, informou que, em novembro de 2020, foram apresentados 08 resultados preliminares da pesquisa realizada por uma equipe multidisciplinar sobre o impacto do mercirio em areas protegidas e em populagdes da Amaz6nia Oriental. Como resultado do estudo, afirmou que foram apresentadas recomendacées para a protecdo dos povos indigenas que viver nessa regido. 29, Outrossim, informou as anélises realizadas quanto 4 contaminacgo por merctirio. A saber, em outubro de 2019 foram analisadas mostras de cabelo da populacio indigena Munduruku de Médio Tapajés; esta andlise indicou “uma alteracdo dos niveis de merciirio na populacio”. Em particular, 114 pessoas indigenas tinham niveis de mercirio superiores a = 6,0 19/9, 0 que indicava intoxicacdo, e 88 apresentavam niveis inferiores a < 6,0 9/9. ‘Ademais, em novembro de 2019 fol realizado um trabalho de monitoramento cli laboratério dos niveis de mercirio do povo Munduruku do Alto Tapajés que deter apresentavam niveis superiores aos recomendados pela Organizacdo Mundial da Satide, com uma média de 67 ug/L. 30. Com respeito as ages preventivas realizadas no Rio Tapajés, informou que durante os anos de 2021 e 2022 foram realizadas, entre outras: o registro dos resultados com alteragdes nos niveis de merciirio na Base de Dados do Sistema de Informacao para Atencio da Satide Indigena; 0 Distrito Sanitario Especial Indigena do Rio Tapajés apoiou a realizac3o do monitoramento clinico e de laboratério dos niveis de merciirio do povo Munduruku do Alto Tapajés; foi realizada aula de formacao de 40 profissionais de sade que trabalham na EMSI sobre os problemas do mercuirio no melo ambiente; foi realizada uma orientac&o com a equipe do Programa Mais Médicos pelo Brasil e as enfermeiras do Distrito Sanitério Especial Indigena do Rio Tapajés sobre os efeitos da contaminacéo por merctirio no crescimento € desenvolvimento das criangas; na regio do Médio Tapajés, foi realizada a coordenacéo da implementagao de 116 tecnologias para o acesso & 4gua, medida essa que se pretende ampliar para a regiao do Alto Tapajés; foram elaborados projetos destinados 3 implementagao de nove Sistemas Simplificados de Abastecimento de Agua que beneficiariam & populacio da rea de estudo do relatério preliminar "Monitoramento clinico e de laboratério dos nivels de merciirio no povo Munduruku do Alto Tapajés"; o Setor de Edificactio e Saneamento Ambiental “vem realizando mensalmente o controle da qualidade da 4gua nas aldelas adscritas” ao Distrito Sanitario Especial Indigena do Rio Tapajés; est4 em andamento um acordo de cooperacéo técnica para implementar a tecnologia social “SALTA-2”"* em 27 aldeias do territério Munduruku; esto sendo realizadas negociagdes para estabelecer uma associacéo com 0 Instituto Federal do Paré, localizado em Itaituba, para realizar a anélise do mercurio como forma de monitoramento sistematico desse elemento nas aldeias; foi elaborado "Plano de Acdo - Resposta & Exposicao ao Mercirio na Populacao da DSEI Rio Tapajés". 31. Quanto ao Distrito Sanitério Especial Indigena Yanomami, o Estado afirmou que também realizou exames e estudos na regido, com o fim de conhecer os niveis atuais de mercirio na populacéo e reforcar as medidas de prevenc&o e tratamento das pessoas contaminadas, A esse respeito, informou que a FIOCRUZ coletou amostras de cabelo para identificar possiveis infeccdes toxicolégicas. Em particular, na comunidade de Waikas e na comunidade de Maloca Paapiu. Ademais, afirmou que foi coletada dgua do canal do Rio 1 __Informou que consiste em um filtro feito a mo com tubos e conexdes de PVC e que utliza © mineral zeélita como meio de filtragem. -10- Mucajai para que o Instituto Evandro Chagas realizasse estudos. Sobre esse tltimo ponto, 0 Estado informou que os resultados nao foram publicados. Quanto ao componente humano, afirmou que realiza acdes para estabelecer uma associacao entre 0 Distrito Yanomami, @ FIOCRUZ e a Universidade Federal de Roraima, com o fim de fortalecer essa linha de pesquisa. vi. Membros dos Povos Indigenas Yanomami, Ye’kwana e Munduruku inclufdos no Programa de Protecio a Defensores de Direitos Humanos, Ambientalistas e Comunicadores Sociais 32. 0 Estado esclareceu que, em virtude de que a informacao solicitada contém dados sensiveis, utilizaria as iniciais das pessoas protegidas. Em relacéo a etnia Yanomami, informou que D.K.Y, se encontra no Programa desde 5 de agosto de 2014, a partir de uma solicitagio remetida pela Superintendéncia da Policia Federal em Roraima, e as medidas adotadas sao: intervengSes e articulagGes institucionais entre o Programa e érg3os como o Ministério Piblico Federal, a Secretaria de Estado de Seguranca Piblica de Roraima, o Ministério Piblico do Estado de Roraima, a Policia Federal e a Policia Militar de Roraima; orientaco para a denuncia sistemética de ameacas & sua integridade fisica e de préticas de mineracdo ilegais no Territério Indigena Yanomami; mapeamento de riscos e ameacas na comunidade; pedido de patrulhas policiais e rondas de protec8o na sede do Instituto Socioambiental e da Associagéo Yanomami Hutukara, com motivo da Campanha sobre a denominada mineracgo ilegal e os efeitos da pandemia no Territério Indigena Yanomami e o envio de oficios & FUNAI e SESAT sobre 0 aumento de casos de maléria na regio para que esclaregam a situago sanitdria dos Yanomami 33. _Adicionalmente, informou que o Programa Estadual de Protec de Defensores dos Direitos Humanos do Paré acompanha as liderancas indigenas Munduruku A.K.S, A.P @ M.L.K, através da articulac&o com érgaos e instituicSes a fim de solicitar que se realizem aces diante da situac&o de ameaca e risco, de acordo com suas competéncias institucionais e buscando informag&o adicional que complemente 2 anélise do caso, vil. A explorago da denominada mineragao ilegal nas terras dos Yanomami, Ye'kwana © Munduruku e as ages de fiscalizacao periddica realizadas 34. _ O Estado assinalou que, segundo a FUNAI, as medidas adotadas para o funcionamento das barreiras sanitdrias no Territdrio Indigena Yanomami incluem a realizacao de um Proceso Seletivo de Servidores Temporérios destinados exclusivamente a trabalhar nas barreiras sanitérias. A esse respelto, afirmou que foram contratados 79 servidores temporérios, distribuidos nos seguintes postos: Agentes de Proteco Etnoambiental, Chefe dos Agentes de Proteco Etnoambiental e Supervisor dos Agentes de Proteco Etnoambiental, para atuar nos Postos de Controle de Acesso e Barreiras Senitérias no Territério Indigena Yanomami, destinados a impedir 0 contato de terceiros no autorizados com povos indigenas recém contatados e povos isolados. Ademais, afirmou que a “Coordenaco Geral de indios Isolados e Recém Contatados”, da Direcao de Protecao do Territdrio da FUNAI, atua junto com a Frente de Protec3o Etnoambiental Yanomami “Yekuana” a partir das Bases de Protecéo Etnoambiental® para frear a entrada de pessoas n§o autorizadas, na medida de suas possibilidades, 35, _ Ademais, afirmou que a Unio, a FUNAI e outros érgdos federais “assumiram o desafio de reprimir eficazmente as invasdes e os crimes ambientals no Territério Indigena Yanomami” através de operacées coordenadas pelo Conselho Nacional da Amazénia e Policia Federal, ) 2 __Informou que as BAPE atualmente ativos na Terra Indigena Yanomami so denominadas (i) Ajarani Walo Pali "Demarcaeao', (ll) Xexena, (iv) Serra da Estrutura, e (v) Korekorema, oie Ministérlo de Defesa e IBAMA, por meio de decisdes judiciais. Em cumprimento dessas decisdes, afirmou que a Secretaria de Operacées Integradas do Ministério da Justica realizou “uma ampla coordenagao interinstitucional com 0 fim de implementar 0 Plano Operacional de ‘Aco Integrada”,** que prevé a vigilancia territorial do Territério Indigena Yanomami, a luta contra os delitos ambientais, entre outros. 36. Com respeito as préticas da denominada mineracéo ilegal em terras indigenas, informou que “promoveu ages sistematicas para reprimir as atividades de mineracao ilegal”. C. Consideragées da Corte 37. _0 artigo 63.2 da Convencdo exige que, para que a Corte possa ordenar medidas provisérias, devem concorrer trés condicdes: i) “extrema gravidade"; Il) “urgéncia”, e ill) que busque “evitar danos irrepardveis” as pessoas. Estas trés condicdes so coexistentes e devem estar presentes em qualquer situag&o em que se solicite a intervengo do Tribunal através de uma medida proviséria.*? De acordo com a Convenco e o Regulamento, o 6nus processual de demonstrar prima facie a existéncia desses requisitos recai no solicitante.” Quanto & gravidade, para efeitos da adocéo de medidas provisdrias, a Convenc&o requer que seja “extrema”, isto é, que se encontre em seu grau mais intenso ou elevado. O caréter urgente significa que o risco ou ameaga envolvidos sejam iminentes, o que requer que a resposta para os remediar seja também imediata. Finalmente, quanto ao dano, deve existir uma probabilidade razodvel de que se materialize e nao deve recair em bens ou interesses juridicos que possam ser reparados.”* 38. Agora, em considerac&o do pardgrafo anterior, 0 Tribunal procederé ao exame da solicitacéo de medidas provisérias & luz dos requisites previstos na disposicio supracitada. 39. A Corte ordenou com anterioridade a protecio de uma pluralidade de pessoas que néo foram previamente identificadas, mas que sao identificdvels e determindvels e se encontram em uma situagéo de grave perigo em razéo de pertencerem a uma comunidade,”* De acordo com a informagéo proporcionada, os povos Yanomami e Ye'kwana vivem na Terra Indigena Yanomami (TIY), com uma superficie aproximada de 192.000 km? Esses povos contariam com uma populacao aproximada de 25.000 e 700 pessoas, respectivamente, distribuidas em 321 aldeias. Este territério esta situado na fronteira entre o Brasil e a Venezuela, na regio do interfidvio Orinoco - Amazonas (afluentes da margem direita do Rio Branco e esquerda do Rio Negro), parte dos Estados do Amazonas e de Roraima. Os Yanomami, na maior parte de seu territério, se identificam como um povo recém contatado, e hd registro de pelo menos ito grupos em isolamento voluntério em seu territério, Por sua vez, 0 povo indigena % __Afirmou que 0 Plano completou trés ciclos de operacdes durante 0 ano 2021, ¢ esté sendo planejada sua segunda edigao para este ano. ® ch, Caso Carpio Nicolle € outros a respeite da Guatemala. Medidas Provisérias. Resolugéo da Corte Interamericana de Direitos Humanos de 6 de julho de 2009, Considerando 14, DCF. Assunto Belfort Istiniz € outros 2 respeito da Venezuela. Medidas Provisérias. ResolucSo da Corte Interamericana de Direitos Humanos de 15 de abril de 2010, Considerando 5, e Caso Urrutia Laubreaux Vs. Chile. Solicitacao de Medidas Provisérias. Resolucao da Corte Interamericana de Direitos Humanos de 12 de marco de 2020, Considerando 3. % Gf. Assuntos Internado Judicial de Monagas ("La Pica") a respeito da Venezuela. Medias Provisérias. Resolugio da Corte Interamericana de Direitos Humanos de 24 de novembro de 2009, Considerande 3, ¢ Caso Cuya Lavy e outros Vs. Peru. Solieitagho de Medidas Provisérias. ResolucBo da Corte Interamericana de Direitos Humanos de 12 de marco de 2020, Considerando 5. % Gh, inter alia, Caso das Comunidades do Jiguamiandé e do Curbaradé, Medidas Provisérias. Resolucao da Corte Interamericana de Direitos Humanos de 6 de marco de 2003, Considerando 9, e Assunto Kankuamo, Medidas Provisérias, Resolucio da Corte Interamericana de Direitos Humanos de 5 de Julho de 2004, Considerando 7. na Munduruku estaria conformado por aproximadamente 14.000 pessoas que vivem nas margens do Rio Tapajés e seus afluentes no Estado do Pard, Brasil. O povo se distribul em sete terras: Munduruku, Sai Cinza, Kayabi, as Reservas Praia do Indio e Praia do Mangue, Sawré Muybu e Sawré Bapin. O territério total dos Munduruku cobre aproximadamente 178.173 hectares (1.781,73 km?).2 40. No tocante ao requisito da extrema gravidade, conforme decorre da informacéo proporcionada pela Comisséo, os membros dos Povos Indigenas Yanomami, Ye'kwana e Munduruku estariam sujeitos a0 avanco significative da exploragdo da denominada atividade de mineragdo ilegal em suas terras indigenas, entre outras, realizada por terceiros ndo autorizados a ingressar em seu territério, o que estaria ocasionando: (i) homicidios de adultos e criancas indigenas,” bem como mortes decorrentes da operacéo da mineracao;*® (ii) atos de violéncia sexual contra mulheres e criangas indigenas; (iil) ameacas a liderancas indigenas, alguns dos quais desempenham um papel muito importante dentro da comunidade; (iv) deslocamentos ndo voluntérios de algumas comunidades indigenas que so ameacadas pela presenca cada vez mais préxima de garimpeiros e pelos produtos de suas atividades; (v) a disseminac&o de doencas, especialmente em razéo do contégio por COVID-19, em uma populaco que apresenta uma vulnerabilidade imunolégica particular, e (vi) a contaminacéo, especialmente com merciirio - produto da mineraco do ouro - dos ios que server para a subsisténcia dos povos indigenas, e o desmatamento, impactando de forma grave a salide e a seguranca alimentar dos propostos beneficiarios. 41. No que concerne & violéncia de forma geral, praticada contra membros dos povos indigenas, este Tribunal observa que, segundo a Comissao, ha uma continuidade e possivel intensificago de ameacas, perseguig6es, homicidios e de casos de estupro contra mulheres e criancas indigenas que foram denunciados durante a vigéncia das medidas cautelares. A modo de exemplo, em 10 de maio de 2021 duas criancas Yanomami teriam sido assassinadas durante um ataque de garimpeiros na comunidade de Palimiu; em 30 de julho de 2021, um membro da comunidade de Homoxi, teria sido morto apés ser atingido por um aviso do garimpo que utilizava a pista de aterrisagem da comunidade; em 1° de novembro de 2021 dois membros do povo indigena Moxihatétéma, em isolamento voluntario, teriam sido assassinados por garimpeiros, e em 11 de abril de 2022 um ataque armado na regido chamada Xitei, préxima da regio de garimpo conhecida como “Pupunha", teria provocado a morte de trés indigenas Yanomami. 42. _Apesar de que, de acordo com a informacdo apresentada, o Estado estaria realizendo algumas acdes com 0 objetivo de fazer frente a esta situac&o, por meio, principalmente, de operacées da Policia Federal, de acordo com o descrito anteriormente, as acdes estatais pareceriam ser insuficientes, Nesse sentido, a Corte nota que o reportado avanco da denominada mineracéo ilegal nos territérios indigenas” no apenas agravaria a contaminacéo % CF. O Brasil Indigena, Instituto Brasileiro de Geografia ¢ Estatistica, Censo Demografico de 2010. Disponivel fem: _https://wmw.gov.br/funai/pt-br/arquivos/conteudo/ascom/2013/ima/12-dez/pd-brasi-ind. pdf, Povos Indigenas n0 Brasil, Instituto Socioambiental, _Sesa/DSEI_ Yanomami, 2019. _Disponivel_ em: hittas://pib.socioambient|.org/pt/Povo:Yanomami; Povos Indigenas no Brasil, Instituto Socioambiental, Siasi/Sesal, 2014. Disponivel em: _htps://plb.socioambiental.org/pt/Povo:Munduruku, e Povos Indigenas no Brasil, Instituto Socioamblental, Slasi/Sesal, 2019. Dispontvel em: hitps://p\b.socioarb ental.org/t/Pove:Ye'kwana, 2 Segundo 0 pedido da ComissBo, houve ao menos 10 homicidios de membros dos Poves Indigenas Yanomami, Yerkwana e Munduruku com posterioridade & adoglo de medidas cautelares a favor desses povos. % Como, por exemplo, a morte de duas criancas, em 13 de outubro de 2021, que teriam sido arrastadas pela correnteza gerada pelas dragas instaladas por garimpeiros. 2% Consta da lnformaco apresentada pelos representantes 4 Comisso, no 4mbito das medidas cautelares, que, desde 2018, aproximadamente 20 mil garimpeiros ilegais teriam ingressado na Terra Indigena Yanomami, “3 dos rios com metais pesados ¢ intensificaria 2 degradacao ambiental,?° mas também estaria gerando conflitos e enfrentamentos com os indigenas. 43. _ Outrossim, o Tribunal nota com grande preocupacio os relatos de que os garimpeiros estariam exigindo atos sexuais de mulheres e criancas indigenas em troca de alimentos, atos que seriam particularmente atrozes quando se toma em consideracio, ademais, os niveis indicados de desnutricao infantil da populac&o indigena, bem como as alegadas dentincias de que alguns dos atos de violéncia sexual ocorreram “constantemente" e na mesma regiéo.:! 44, Também é preocupante a alegada existéncia de um grande nimero de garimpeiros ilegais com armas de fogo nos territérios indigenas, que estariam reagindo com violéncia em resposta aos atos de resisténcia dos indigenas e as operacées da Policia Federal. Adicionalmente, em relacdo & Terra Indigena Yanomami, a reportada falta de continuidade da permanéncia das forcas de seguranca na regio, a qual teria sido informada pelos Yanomami s autoridades estatais,* estaria deixando o Povo Indigena completamente desprotegido. 45. Por outro lado, algumas liderancas indigenas se encontrariam em uma situagéo de extrema vulnerabilidade, pois, zinda que o Estado tenha informado que esto sob a protecéo do Programa de Defensores de Direitos Humanos, continuariam recebendo ameacas, assim como seus familiares. A Comissdo Informou que o Programa de Protecdo de Defensores de Direitos Humanos nao garantiria a protecdo das pessoas envolvidas de maneira efetiva, em razo, entre outros, de falta de estrutura e de medidas adequadas a realidade de cada pessoa defensora. Com efeito, um relatério da Policia Federal de junho de 2021, assinalou o agravamento dos atos de violéncia e ameacas contra liderangas indigenas que estariam colocando em grave risco & populago Munduruku.* 48. Quanto as barreiras sanitérias criadas para proteger as comunidades indigenas do contato com terceiros néo autorizados a ingressar em seus territ6rios, especialmente levando em consideracéo a pandemia de COVID-19, a Corte constata que o Estado no especificou quais e quantas s8o as barreiras existentes e em pleno funcionamento especificamente nos territérios dos trés povos indigenas propostos como beneficiérios, Além disso, no indicou se também ha barreiras nas terras indigenas ainda nao demarcadas. De toda forma, em atengao aos dados apresentados pela Comissao quanto ao aumento significativo de casos de COVID- 19 entre os membros dessas comunidades indigenas, as barreiras existentes pareceriam no ser suficientes. ndmero este que & muito significative quando considerada @ populaclo indigena do terrtério (aproximadamente 25 mil) 3 Consta da informaco apresentada pelos representantes & Comisso, no 4mbito das medidas cautelares, que em setembro de 2021 a denominada mineracSo ilegal nas terras Yanomani superou a marca de 3.000 hectares de floresta destruida - um aumento de 44% em comparagao a dezembro de 2020. CF. Anexo 26. Documento das organizagées solictantes. Assassinato de dois indigenas em \solamento voluntario (Moxinatetema) e outras, atualizagdes sobre ameacas & vida, saiide, seguranca € integridade pessoal dos povos Yanomami e Yerkwana, 2.de ovembro de 2021 (expediente de provas, folnas 656 a 664). A Comissai afirmou que um fazendeiro conhecido como “Pegador” assediaria "constantemmente” as mulheres Yanomami e seria responsdvel por estupré-las frequentemente. Também mencionou que a propriedade de "Pegador” daria acesso 20 Rlo Aplau e, por Isso, 2s propostas beneficérias estariam obrigadas a atravessé-la para chegar 20 = Cf, Anexo 31. Documento das organizacdes solicitantes. Solicita o envio & Corte Interamericana de Direitos Humanos para a consideracio de Medidas Provisdrias para proteger a vida, sade, integridade pessoal e seguranca fisica dos povos Yanomami e Yerkwana, 12 de maio de 2021 (expediente de provas, folhas 670 a 676). ® Gf, Anexo 35, Relatério da Policia Federal sobre a Operagio "Mundurukénia", 17 de junho de 2021 Cexpediente de provas, folhas 842 a 849). ode 47. _ Com respeito aos danos & satide dos povos indigenas, a Corte observa que, de acordo com 0 relatado, se relacionariam principalmente com a contaminacao dos rios por mercuirio, entre outros agentes com potencial téxico, como consequéncia da denominada atividade de mineracdo ilegal nos territérios indigenas. Por outro lado, a Corte nota que foi informada sobre a auséncia ou insuficiéncia de atenc3o médica no contexto da pandemia, a falta de medicamentos e a n&o conclustio do esquema de vacinagio contra a COVID-19. Outro fator que chama a atencéo do Tribunal é 0 alegado aumento do desmatamento, o que, além de afetar os meios de subsisténcia das comunidades indigenas, e ocasionar que tenham que desiocar-se, teria impactos profundos para o meio ambiente. 48. _Além disso, mencionou-se um nivel preocupante de desnutri¢o infantil das populacdes indigenas. Sobre esse aspecto em particular, considera-se que 0 Estado no informou o efeito concreto na sua diminuicgo que teriam as medidas que vem adotando, como as distintas capacitagées de agentes de saiide e pessoal médico, as negociacées para a realizado de estudos Sobre a contaminago dos rios, a oferta de sistemas alternativos geradores de égua potavel para algumas comunidades, entre outras. No que concerne aos povos indigenas em isolamento voluntério ou de contato inicial, a situac&o descrita tem um impacto agravado sobre os mesmos, como destacou a Comisséo, levando em consideracdo sua elevada vulnerabilidade imunolégica. 49, _Diante dos diversos aspectos que se relacionam com a situacio de risco das referidas comunidades indigenas, além das medidas cautelares adotadas pela Comisséo Interamericana, a Corte verifica que algumas autoridades judiciais nacionais™ proferiram decisées ordenando distintas medidas, especialmente de natureza cautelar, inclusive o Supremo Tribunal Federal (adiante, o “STF”),2> com o propésito de proteger os povos indigenas, entre eles, os propostos beneficidrios. Apesar disso, segundo o préprio STF,2° os atos da FUNAI, éra&o cuja atribuic&o primordial é @ protecéo dos povos e os territérios % A. modo de exemplo, em 25 de agosto de 2020, com motivo de uma deciséo cautelar dentro da Agio Civil Publica 1000962-53.2020.4.01.3908, Interposta pelo Ministério Pdblico Federal contra a Unio (Governo Federal), 2 FUNAT e 0 Instituto Brasileiro do Melo Ambiente @ de Recursos Naturals Renovavels, a Vara Federal Civil e Criminal da Seco Judicial de Itaituba do Estado do Paré, observando que "houve uma falta de compromisso, articulacéo, planejamento e, sobretudo, de vontade de todos os érgios responséveis em proteger a comunidade e 0 med ambiente da atividade extremamente degradante que & a mineracdo", ordenou realizar ages de “fscalizacko de lemergéncia” contra a denominada mineracdo ilegal nas terras habitadas pelo povo indigena Munduruku, e elaborar um Plano de Trabalho pre retrar es pessoas ndoautorzads de seu tere (expdiente de rove, fas 2482 3 _ Em 8 de julho de 2020, 0 STF concedeu medida cautelar a favor dos povos indigenas do Brasil no contexto dda pandemia da COVID-19, determinando, entre outras coisas, a criaco de barreiras sanitérias para evitar o contato de terceiros no autorizados com poves recém contatados ou povos isolados; a elaboracdo de um "Plano de Enfrentamento da COVID-19 para os Povos Indigenas Brasileiros", e a extensio dos servicos de saide indigena aos povos indigenas em terras que ainda nko foram demarcadas (STF, ADPF 708 MC/DF, 8 de julho de 2020); em decisdo de 24 de malo de 2021, ratiicada pelo plenario do STF em 18 de junho de 2021, ardenou "a adocBo imediata de todas as medidas necessérias para proteger a vida, a saide e a seguranca das popUlacBes indigenas que habitam os Territorios Indigenas Yanomami e Munduruku, diante da emeace de ataques violentos e da presenca de Invasores, valendo-se de todo 0 pessoal necessério para tanto e sua permanéncia enquanto dure este risco” (STF, ADPF 703 PI / DF), € em 1° de Fevereiro de 2022, 0 STF determinou que a FUNAI devia voltar a atuar para a protecgo das terras indigenas, independentemente da conclusio do processo de demarcacio, considerando que a exclusdo das terras no homologadas indica *aos invasores que a Unigo se absteré de combater as acdes irregulares nessas éreas, © que pode constituir um convite para invadir as reas"; e que “a suspensao da protegdo territorial abre o camino para que terceiros passem pelas mencionadas terras, oferecendo isco a saide cas comunidades" [..] estes terceiros so vetores de contégio da COVID-19, assim como de outras enfermidades -especialmente infecciosas e contagiosas- 0 que torna mais vulnerdvel a saide desses novos" (expediente de prova, folhas 205, 209,212, 230, ¢ 238 2 238). % Amado de exemplo, é possivel citar a medida cautelar concedida pelo STF no ambito da ADPF 703, mediante ‘a qual determinou: “a adocdo imediata de todas as medidas necessérias para proteger a vida, a sadde e a seguranca ddas populacdes indigenas que habitam os Territérios Indigenas Yanomami e Munduruku diante da ameaca de ataques Violentos e a presenca de invasores, valendo-se de todo o pessoal necessério para isso e permanecer no local lenguanto este risco esteja presente’. Cf. STF, ADPF 709 TPI / DF (expediente de prova, folhas 649 a 664) indigenas, "representam uma tentativa - reiterada, é valido frisar - de esvaziamento de medidas de protecao ja deferidas por este juizo"..” 50. Em relac&o ao risco de danos irrepardveis 8s pessoas, é possivel advertir da informag3o proporcionada que existe uma grande probabilidade de que os danos irreparaveis & vida, & integridade pessoal, a satide e ao acesso & alimentaco e & dgua potdvel dos membros dos referidos povos seja materializado. 51. Esta Corte adverte, quanto ao requisito convencional da urgéncia, que haveria um aumento no ingresso de pessoas nao autorizadas em seus territérios, resultando em um aumento de ameacas, episédios de viol€ncia, homicidios, contaminago dos rios, propagagso de enfermidades, entre outros fatores geradores de danos graves a vida, 2 integridade pessoal, & satide e ao acesso & alimentacdo e & agua potdvel dos propostos beneficiaries. De acordo com a informacao apresentada, estes fatos continuam ocorrendo, apesar da adog3o de medidas cautelares por parte da Comisso e dos vérios pronunciamentos das autoridades judiciais brasileiras, inclusive 0 seu érg%0 maximo, no 4mbito de processos judiciais internos. Somado a Isso, 2 Corte nota relatos de fatos recentes que refletem com malor preciso a urgéncia da situacdo em estudo.* 52, _ Tribunal adverte a complexidade da situacio proposta pela Comisséo e considera que os antecedentes apresentados revelam prima facie uma situagao de extrema gravidade e urgéncia, sendo que, apesar da adocdo de medidas de protec3o no ambito doméstico e de medidas cautelares por parte da Comissio, os membros dos Povos Indigenas Yanomami, Ye’kwana e Munduruku estariam sujeitos a uma série de ameagas, agressées fisicas e sexuais, vandalismo e tiroteios, contaminacao de seus rios e impactos 4 sua sade e seu acesso 4 gua potével e & alimentac&o, que parecem estar aumentando diante da presenca de pessoas no autorizadas e do avanco da exploracéo da denominada mineracio ilegal em seus territérios. Portanto, este Tribunal considera a necessidade urgente de adocio das medidas que sejam necessarias para evitar danos irreparavels dos direitos & vida, @ integridade Pessoal, @ salide e ao acesso @ alimentacao e agua potavel dos membros dos Povos Indigenas Yanomami, Ye'kwana e Munduruku, Diante do alegado aumento e intensificacio da violéncia contra estes povos e da falta de medidas efetivas por parte do Estado do Brasil para mitigar a situacao, existe um risco latente de que estes danos Sejam consumados e se intensifiquem. 53. _O Tribunal recorda que os fatos aos quais se refere o pedido da Comissao ndo se encontram em conhecimento da Corte quanto ao mérito, de modo que, ao adotar medidas provisorias, esta Corte estd garantindo o poder de exercer fielmente 0 seu mandato, conforme a Convengo, em casos de extrema gravidade e urgéncia que requerem medidas de protecéo para evitar danos Irreparavels &s pessoas.* GF. Anexa 51. STF. ADPF 709. 1° de fevereiro de 2022, par. 16 (expediente de prova, folha 1213). % Amado de exemplo, segundo @ Comissio, um ataque ocorrido em 25 de abril de 2022 contra a comunidade Arakaca, localizada na Terra Indigena Yanomami, no qual os garimpeiros teriam estuprado e assassinado a uma adolescente de 12 anos, e sequestrado a uma crianga de 4 anos e sua mie, Quanto & crianga, informou-se que se desconhece @ seu paradeiro, sendo que, segundo indicaram, caiu do barco onde se encontrava, no Rio Uararicoea, regiéo de dificil acesso. Cr.’ Roraima em Tempo, “Garimpeiros atacam comunidade Yanomami, sequestram duas Indigenas e estusram adolescente até a morte", 26 de abril de 2022, (nota de rodapé 293 da solicitacdo de medidas Provisérias, disponivel em: https://roraimaentempo.com.br/palicia/garimpelros-atacam-comunidade-yanomami Sequestran-duas-indigenas-e-estupram-adolescente-ate-a-morte/amp/). ® Ch, Caso des Inmdos Gémez Paguiyauri a respeito do Peru. Medidas Provisérias. Resolucéo da Corte Interamericana de Direitos Humanos de 7 de maio de 2004, Considerando. 9, ¢ Caso Bedoya Lima e outra Vs. Colémbia, Medidas Provisérias. Adogdo de Medidas Provisérias. Resolugso da Corte Interamericana de Direitos Humanos de 24 de marco de 2021, Considerando 8, “16. 54. Por Ultimo, no tocante ao pedido de que a Corte realize uma visita in situ, 0 Tribunal analisaré_ sua pertinéncia uma vez que receba 0 relatério estatal ¢ as correspondentes observacées dos beneficiérios das presentes medidas, nos termos dos pontos resolutivos sexto e sétimo. PORTANTO: A CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS, no exercicio das atribuicies conferidas pelo artigo 63.2 da Convencao Americana, e artigos 27 e 31 do Regulamento do Tribunal, RESOLV! Por unanimidade, 1, Requerer ao Estado do Brasil a adogio das medidas necessdrias para proteger efetivamente a vida, a integridade pessoal, a salide e 0 acesso & alimentacio e & 4gua potdvel dos membros dos Povos Indigenas Yanomami, Ye'kwana e Munduruku,*® sob uma perspectiva culturalmente adequada, com enfoque de género e etéria 2. Requerer ao Estado a adogSo das medidas necessérias para prevenir a exploracdo e a violéncia sexual contra as mulheres e criangas dos Povos Indigenas beneficiérios. 3. Requerer ao Estado a adoc&io das medidas culturalmente apropriadas para prevenir a propagaco e mitigar o contagio de enfermidades, especialmente da COVID-19, oferecendo as pessoas beneficlérias a atencdo médica adequada, de acordo com as normas internacionais aplicavels. 4, __ Requerer ao Estado a adocdo das medidas necessérias para proteger a vida e a integridade pessoal das liderancas indigenas dos Povos Indigenas beneficidrios que se encontram sob ameaca. 5. Requerer 2o Estado que coordene de forma imediata o planejamento e a implementagao dessas medidas com os representantes das pessoas beneficidrias e que os mantenha informados sobre o avanco de sua execugio. 6. __ Requerer ao Estado que apresente a Corte informaco atualizada sobre as medidas que forem adotadas, o mais tardar em 20 de setembro de 2022. 7. Requerer aos representantes das pessoas beneficiérias que apresentem suas observacées dentro de um prazo de trés semanas a partir da notificacgo do referido relatorio do Estado solicitado no ponto resolutivo sexto, e 4 Comissao Interamericana de Direitos Humanos, que apresente suas observacées ao relatério do Estado e as observacdes dos representantes, dentro de um prazo de duas semanas a partir do recebimento deste ultimo escrito. 8. __ Requerer ao Estado que continue informando & Corte a cada trés meses, contados a partir da apresentacdo de seu ultimo relatério, sobre as medidas provisérias adotadas. © Identificados como Povos Indigenas das etnias identificadas nas seguintes Terrasi Terras Indigenas ‘Yanomami, Munduruku, Sai Cinza, Kayabi, Reservas Praia do Indio e Praia do Mangue, Sawré Muybu e Sawré Bapin, “7 9. __ Dispor que a Secretaria da Corte notifique a presente Resoluco ao Estado do Brasil, & representacao das pessoas beneficidrias e 8 Comissdo Interamericana. “18. Corte IDH. Assunto Membros dos Povos Indigenas Yanomami, Ye‘kwana e Munduruku a respeito do Brasil. Medidas Provisorias. Resolucéo da Corte Interamericana de Direitos Humanos de 19 de julho de 2022. Resolugéo adotada em San José, Costa Rica, por meio de sesso virtual. Ricardo C, Pérez Manrique Presidente Humberto Antonio Sierra Porto Eduardo Ferrer Mac-Gregor Poisot Nancy Hernandez Lépez Verénica Gémez Patricia Pérez Goldberg Pablo Saavedra Alessandri Secretario Comunique-se e se execute, Ricardo C. Pérez Manrique Presidente Pablo Saavedra Alessandri Secretario

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