You are on page 1of 23
estupos [gl=J=y Politicas de agées afirmativas e pobreza no Brasil Resumo Questiona as polit ino superior € debate a questdo social, considerando nossa as de ages afirmativas por cotes para ingresso formagac a origem do problema a partir da histéria da avo @ as condicdes de desenvolvimento da Pais. Aborda jituagao da pobreza e as condicées de exclusio do pobre diante & educacdo de qualidade, m, analisa a escola bési ica de qualidade como dos direitos sociais, especialmente o dire dentemente de raga ou género, Por e seus resultados, evidenciando a educac rerdadeira acdo a Palavras-chave: agdes afirmativas; pobreza; formacao social; escola aisica. Abstract Affirmative policies and poverty in Brazil The present work analyzes the affirmative actions regarding quotas, which enable access to high education, as well as it discusses the social question considering the formation and development model of Brazil. Through the Brazil of the question and analyzes the poverty and exclusion conditions concer- n colonization history the article identifies the origin ning the social rights, especially the right to education to any children not considering racial and genre aspects. Finally; it analyzes the basic education school and its results highlighting the basic education quality as a truly affirmative action. Keywords: affirmative actions; poverty; social formation; basic education. Introducao (Otema referente as politicas de agbes afirmativas por meio de cotas nas universidades pil ‘se dastacam por seus arqumentes, em garal contraditérios, sobre a aceitacdo 15 tem sido o foco de muitos debates com posigées que dessas cotas, especialmente quando se referem a realidade do Brasil. Na perspectiva de levantar cuestionamentos sobre o assunto, este trabalho, de cunho tedrico, pretende incrementar o debate existente no Pais sobre as agdes afirmativas, tomando como base a origem desse movimento e a questéo do rultculniralismo presente nas politicas. Participar do dobars toma-co com- digo necesséria, considerando-se a histria de nossa formagao sociopotiticn © ccomdinino-clniral 2 as caractovisticas echicacionais co Brasil arualmento. Entende-se com Bergmann (1996) que realizar uma acao afirmativa implica plancjaro atuar no sontide do promovar a raprecontagao de corte tipos de pessoas, especialmente aqueles pertencentes @ grupos que tém sido subordinadce ou excluisos doo cireitas socinis As agoes afirmativas tiveram sua origem na década de 1940, na india, como medida assegurada na Constituicao Federal do petiodo, para garantir a reserva de vages no ensino superior, no Parlemento e no funcionalisma ppblico, aosmembros da casta dos dalits' ou “intocéveis". A India, portento, é opais de mais longa experincia histérica com politica de ago afirmativa, que comegaram a ser implantadas ainda sob o dominio colonial inglés e depois foram ratificadas pela Constituigdo de 1947, no pais ja independente. Tal como ne india, ocorreram experiéncias semethantes em outros paises, como a Alemanha, a Nova Zeléndia, a Malécia, a Australia, a als (anpura)susain @ Po stosoborpae Grdescupe fous duecendentes) que sole peteg Senin = 92 9 250 9 OES oie 2001 Nigeria, « Africa do Sul, entre outros. Na Africa, as politicas de aco firmativa podem ser identificadas nos procezsoe de independéncia dos paises do Continente, assim como do Caribe e do Pacifico Sul, depois da Segunda Guerra Mundial (Wedderburn, 2005), Assegura Wedderburn que, com propésito de colocar a populagao nativa ern lagar dos europeus nos postos de comande da sociedade, paises como Gana e Guiné adotaram politicas chamadas de “nativizacd na imposicao, mediante decreto, de cotas e outras medidas especificas para a formagao de um quadro administrativo autéctone, Na América, as acées afirmativas foram implantadas na década de 1960, encahogadas polos Estados Unidos, cijo objetivo foi premover a igualdade entre os negros © os brancos norte-americanos. Foram originadas, portanto, do ums questo sacial, Na socpuéncia, as politicas de acies afirmativas foram adotadas em muitos paises amaricanos, con- sideradas as diferengas culturais e econémicas de cada um, tais como Canada, Cubs © Angemtina, Nesses paisos, 0 objetive comm foi ofereoer a segmentos discriminados da sociedade tratamento diferenciado, como componsacao palas desvantagons originadas das condigSes sociais desiquais de vido. Pode-ce dizor com Widen (2005), cue ages afirmativas ou “indigenizagao", que consistiam Lad sto medidas especiais © temporarias, tomadas ou determinadas pelo Estado, espontanea ou compulsoriamente, com o objetivo de Gliminar desigualdades historicamente acumuladas, garantindo a jigualdade de oportunidades e tratamento, bem como de compensar 1perdas provocadas pela discriminagao e marginalizagao. decorrantes de ‘motives raciais, émicos, religioses, de género e outros (Weiden, 2005) ‘Nesse cendrio, é importante levantar alguns questionamentos: as politicas de ages afirmativas no Brasil deverdo centrar sua ago no ensino superior oui na problemética que envolve a base da escolaridade, que s= caracteriza pela exclusdo da maioria da populacéo ao direito por uma edu- cagéo bésica de qualidade, o que acontece em nossa realidade desde o inicio de nossa histéria politica? Estardo as politicas de cotas raciais no ensino superior, efetivamente, respondando aos problemas reais de escolaridade, que se encontram na questéo social evidenciada pela pobreza e pela falta de oportunidades a uma escola bésica de qualidade? Estariam as acces afirma- tivas invertendo as pricridades educacionais do Pais, pela preocupagéo com as consequéncias, sem um maior enfoque nas causas do problema? Esses questionamentos se fazem necessirios, considerando que as propostas de aces afirmativas tém colocado énface maior nas questées de raga e de género. Isso origina ume aparente democratizagao das oportunidades educacionais, ndo evocando a condicéo sociceconémica das classes excluidas, situaggo essa que entendemos ser a centralidade da problemética em questéo. Nesse particular, evidencia-se @ questao da pobreza, da discriminagao e da exclusao, a que nos tém submetido os interesses do capital, com seus reflexos nos resultados educacioneis, a partir do inicio da escolarizacdo, ‘Temos de considerar que até trinta ou quarenta anos atras as prio- ridades do Brasil estavam ligadas ao desenvolvimento econémico, & mo- demizagao do Estado, & participagao politica, a democracia e & mobilidade social. Hoje, o tema da pobreza aparece em primeizo plano (Schwartzman, 2004). Nao é um problema exclusive do Brasil ou dos paises do Terceiro Mundo, mas uma realidade que vem condicionando alternativas de poli- ticas sociais e, nestas, as educacionais. ‘Ao olharmos para a situagéo mundial, podemos afirmar com Lucci (2003) que o problema da pobreza tornou-se planetério, o que se constitu uma das grandes contradigdes do mundo contemporéneo, considerando que no Relatdrio 2000/2001 sobre o Desenvolvimento Mundial, dedicado a0 tema do combate & pobreza, observa-se, paradoxalmente, que nunca se produziu tanto e em nenhum momento se aplicou tanta ciéncia para a produgéo de bens e servigos como hoje e, apesar disso, 2,8 bilhdes de pessoas, ou seja, quase metade da populagée mundial, vive com menos de 2 délares por dia. Em nosso pais, o Banco Mundial (Bird), que tabalha com dados oficiais do Instituto de Pesquisa Econdmica Aplicada (Ipea), estimava em 2008 o mimero de pobres em 11,35 milhées, dos quais 3,12 milhées eram indigentes. (Como pobres, conforme o Ipea, definem-se todas as pessoas comrenda per capita igual ou inferior a meio salario minimo (RS 272,50), Da mesma forma, so consideradas pessoas em condicéo de indigéncia aquelas com renda per capita igual ou inferior a um quarto do salério minimo. Isso considerado, 0 presente texto levanta questées, abordando, inicialmente, a origem do problema na histéria da colonizagao do pafs no qual se originaram as politicas de agdes afirmativas na América Estados Unidos) ¢ na historia da colonizacao de nosso pais, em uma perspectiva comparada, que enfoca os diferentes interesses dos paises colonizadores e suas consequéncias na formagio socioeconémiica dos Estados Unidos e do Brasil Essa abordagem implica, de maneira geral, analisar es similaridedes histéricas compartilhadas por Estados Unidos e Brasil, as maiores colénias curopeias a utilizar extensamente o trabalho escravo de africanos e seus descendentes ne Nove Mundo, bem como a grande influéncia da cultura norte-americana, que é particularmente forte nos paises do continente Como influéncia maior da cultura norte-americana, aparece com visibilidade a cultura negra dos Estados Unidos, a qual acumula um passado rico de lutas contra a discriminagao racial. Ou seja, devido a ra- 26es de poder imperial e de protagonismo histérico, o movimento negro americano e suas formas de luta, mobilizagao e conquista tornaram-se referenciais importantes para o movimento negro em todos os paises que sofreram discriminacao racial e exploracéo do trabalho escravo, como é © caso do Brasil Num segundo momento, o trabalho analisa a situacéo do Brasil, enfocando a questéo da pobreza © as condigdes de excluséo do pobre frente aos direitos sociais. Nessa ética, a atenc&o principal recai sobre a peteg Senin = 92 9 250 9 OES oie 2001 escola basica e sua importancia para as politicas publicas em nosso Pais. Por fim, em um terceiro momento, o trabalho analisa a situacdo da escola isica ¢ seus resultados, que se caracterizam pela exclusto social, tendo como um de seus fatores a falta de escola para todos, assim como a falta de uma escola de qualidade. Escravisme e capitalismo: revendo a histéria da colonizagao nos Estados Unidos o no Brasil A solucéo para a questao racial nos Estados Unidas buscou formas de ago afirmativa mediante programas especificos para o negro, diferen- temente das acées afirmativas para mulheres, indios, deficientes fisicos @ imigrantes (Kaufmann, 2007). Isso nos leva @ concluir que o problema central dessas ages surgiu da questo racial, especificamente em relagao 20 negro, davido & politica de segregacéo racial implantada naquele pais. Nos paises do Terceiro Mundo, observa-se que essas politicas tem sido adotadas como forma de resolver os problemas educacionais, copiando as solugdes dos paises dominantes do capitalismo central, sem considerar as diferencas estruturais e culturais entre o pas que inspirau essas politicas na América do Norte e os paises da América Latina, que hoje buscam as mesmas alternetivas, apesar das diferencas histéricas © do atual contexto, especialmente o Brasil, Avnossa histéria de escravidio e a miscigenacdo de racas (brancos, indios, negros), que se deu a partir da colonizagao, poderia justificar a dusca de alternativas norte-americanas para nossa realidade, fazendo adaptagées do iniciativas e solugdes, o que facilitaria medidas afirmativas sobre a questo racial no Pais. Diante disso, ha de se considerar os di- ferentes contextos entre os dois paises, apesar da produgdo académica e juridica sobre o assunto, Torna-se necessério, portanto, identificar argumentos brasileiros com produgdo externa, “como se os programas positives fossem os resultados de ume evolugao légica da cancretizagao do principio da igualdade, partindo do Estado Liberal ao surgimento do Welfare State” (Kaufmann, 2007, p. 2) A defesa da necessidade de cépia das solugdes adotadas nos Estados Unidos tem como argumento a ideia de que o Brasil “faz de conta” que nao vé o racismo, porque este vem sendo camuflado, escondido, enquanto os EUA 0 assumem publicamente com politicas de todas as ordens, especialmente as de caréter educativo, o que deve ser mais hem analisado, considerando que nao ¢ apenas a forma como se encara o racismo no pals que faz a diferenca, a comesar pelas condicées histéricas dos povos colonizadores do Brasil e dos Estados Unidos — Portugal ¢ Inglaterra, respectivamente, A histéria da colonizagio dos Estados Unidos pela Inglaterra e do Brasil por Portugal traz, desde a crigem, grande diversidade cultural, evidenciando os enfoques distintos de desenvolvimento dos dois paises, considerados os interesses econémicas que pautaram as agées dos colonizadores. Com a descoberta da América, afloram os desejos de expansao imperial, militar, politica e econémica. Comega a colonizacéo. _A.acumulagto primitive so peocorea com uma croiciads estarnocedirs © roubo, © saque, a pirataria, a matanca de indios indefeses, o rapto © a escravidao negra tornaram-se um sistema regular ¢ rotineiro de comércio @ a hase de acurmulagéo capitalista (Basbaum, 1975, p. 41) Para Basbaum (1975, p. 42), a histéria da Inglaterra, a partir do século 16, “deixa de ser a hist6ria de seus reis para ser a histéria de seu comércio de cua inchistria”. Nesse processo, os navios ingleses ¢ seus piratas dominam os mares com protecao real. Protegida por rigorosas leis que visavam resguerder sua industria @ seu mercado interno, a Inglaterra desajava no somente as riquezas do Novo Mundo, que assombravam a Europa, por meio de Portugal Espenha, mas promover a expulséo dos camponeses expropriados, que se tornaram uma massa de mendigos, vagabundos e aventureiros em suas cidades. Era preciso buscar alternativas para os problemas sociais que se apresentavam, assim como criar novos mercados. E nesse clima, associado a0 espirito expansionista, que se dé a colonizagio e, nesse processo, a colonizagao da América do Nerte. Acolonizacio da América nao visava apenas libertar-se de um excesso de gente capar de provocar perigosas agitasées na Inglaterra, nem ‘mesmo apenas um asilo inesperado para os descontentes religiosos 4 politicos da toda a espécie[..J. Era também uma porsibilidade d= criar novos mercados paraos produtos ingleses (Easbaum, 1975, p. 50) No Brasil sse de Portugal na colénia, na condigao de metrépole colonizadora, nao se calcava em um de- @ situagao diverge, visto que o int senvolvimento econdmico e cultural préprio e sim em “sua incorporagao no mercado mundial” (Sodré, 1977, p. 4). Para tanto, promoveu a colonizacao apenas com homens brancos, ensejando “o caldeamento dos portugueses com indias e escravas negras” (Kaufmann, 2007, p. 3), favorecendo, desse modo, a formagao de um povo altamente miscigenado, como é 0 brasileiro. Diferentemente, ao colonizar os Estados Unidos, a Inglaterra teve 0 intuito de povoer a terre, originando nuicleos familiares somente de raga brance. A isso se alia o desenvolvimento da manufatura, que ocorria na Inglaterra, e o fortalecimento do protestantismo, promovendo “a ética do trabalho © a recompensa do esforco individual” (Kaufmann, 2007, p. 3) ¢ evidenciando a Inglaterra, como diz Basbaum (1975), como poténcia mereantil que repercutiu na era moderna, Desde o século 16, a Inglaterra transforma-se de pais feudal em pais mercantilista e burgués, tornando-se a maior poténcia capitalista da época. Isso se dé pela expropriacéo da terra, que levou os camponeses para a cidade e formou o maior exército de reserva de mao de obra imaginével, tornando o sistema artesanal, até entéo predominante, sem sentido, Em ‘seu luger, a predugo da manufatura em bases capitalistas encaminha os artesdos para as fébicas. peteg Senin = 92 9 250 9 OES oie 2001 Areforma da Igreja deu novo impulso a esse processo de expropriacao, no momento em que a Igreja, grande proprietaria de terras com uma organizagéo de produgéo feudal, perde suas terras, seus moradores sao atirados ao proletariado. Portugal, por sua vez, apresenta ume realidade hem diferenciada O dominio do rei sobre as terras, como diz Azevedo (apud Basbaum, 1975, p. 43), era o de “ume monarquia tipicamente agraria”. Indiistias nao havia, ¢ a pobreza ere endémica, em evidente contraste com o luxo da Corte, No século 15, a descoberta da ceminho maritime das Indias repre- sentou para Portugal uma “fonte de maravilhas e riquezas sem fim, 0 ouro, as especiarias, os escravos” (Bashaum, 1975, p. 45). Naquele pericdo, Portugal jé possuia um grande contingente de negros, pois, como informa © autor, sé em Lisboa, 10% da populacdo eram de negros Isso repercute em nosso pafs, visto que os portuguese, jé convivendo com negros antes da descoberta do Brasil, evidenciam Portugal como um pais de forte miscigenagao racial e faz do Brasil, como diz Sodré (197), um pais de "cultura transplantada”, O mesmo nao acontecia na Inglaterra, que sé se utilizou da méo de obra escrava, negra, a partir do século 18, uma mio de obra que nunca foi considerada efetiva para os ingleses. O maior interesse pelos negros era devido ao trafica, “devido aos vultosos ganhos comerciais que se originavam com a magnifica frota de navios negreires”, como explica Kaufmann (2007, p. 3). Esses fatos evicenciam que a escravizacao assume papel diferente na colonizagéo dos Estados Unidos e do Brasil. Enquanto no Brasil o es cravo chegava nos primérdios da colonizagao e se constitula mao de obra exclusiva para uma produgéo agréria rudimentar, nos Estados Unidos, 0 escravo chegou com anos depois da colonizacio, que foi feita pelo branco, @ partir da diviséo da terra, Ha que se considerar, como fator relevante, que nos Estados Unidos os escravos tiveram pouca importancia para a economia como um todo, especialmente se langamos um olhar burgués, visto que, salvo emalgumas regides produtoras de algodéo, onde a mao de obra escrava foi utilizada, esta assumiu posigao secundéria. Isso € o que indica Basbaum (1975), considerando o tipo de economia na qual assumia prioridade o trabalho livre, base da produggo manufatureira. Nesse contexto, "o escravo era um elemento negative e mais ainda do ponto de vista da formacso de uma mentalidade artes, burguesa ou proletéria” (Basbaum, 1975, p. 93). Diferentemente, no Brasil, o escravo se constituiu a base estrutural da economia agréria, mas dificilmente se poderia dizer que a escravizacao contribuiu para o desenvolvimento econémico do Pais. Essa afirmacéo se apoia no fato de que, sendo a mo de obra escrava, e sendo 0 escravo excluide dos direitos sociais, assim como da remuneragao do trabalho, esse tipo de produggo néo contribuiu para a formacéo de uma estrutura de acordo com 0 modelo capitalista de acumulagao presente nos paises industrializados, A exploragéo do trabalho escravo beneficiou grandes proprietarios de terras que se utilizaram desse modo de producéo, arcaico, para © enriquecimento pessoal. As consequéncias disso consolidaram a desigualdade social em termos econémicos, politicos, educacionais, o que explica as grandes disparidades regionais ainda hoje no Brasil. Tem-se de levar em conta que até 1789 a populace brasileira totalizava 3 milhdes e 250 mil pessoas, das quais 1 milhao e 582 mil eram escravos, negros e pardes. Computa-se, ainda, 406 mil negros livres, 250 mil {ndios e 1 milhao e 10 mil individuos brancos que, na sua maioria, eram pobres, o que nao favorecia a formacéo de uma classe consumidora (Basbeum, 1975). ‘Nesse quadro, os escravos totalizavam mais de 50% da populacéo, que por 400 anos foi excluida de qualquer direito social e, como tal, nao fomentou a formagao de um mercado interno no Pais, ficando este & mercé das determinacées do mercado internacional. Isso indica que o Brasil, além de nao se organizar para integrar-se ao mundo desenvol- vido, industrial, manteve, sem nenhum questionamento, uma populagdo pobre de diferentes racas, sendo o negro o de maior expresséo numérica, Fode-se dizer com Basbaum (1975, p. 93) que "a escravizagéo (como modo de producdo) é [...] uma das causas de nosso atraso”, tanto do ponto de vista da auséncia de consume, como da formagéo de uma mentalidade artesa, burguesa ou proletéria, Havia no Brasil, no entanto, a probabilidade de compra da liberdade pelo proprio escravo, ou de libertacdo esponténea por parte dos senhores,? © que se evidencia nos dados apontados pelo niimero de nearos livres, enquanto nos Estados Unidos existiam leis que impediam qualquer possibilidade de existéncia de negros livres, As diferengas so muitas, incluindo o processo de libertagao dos escravos. Enquanto e abolicéo da escravatura no Brasil foi procedida por um intenso e pacifico movimento nacionalista, apesar dos interesses do mercado internacional, a abolico nos Estados Unidos foi precedida da mais violenta guerra civil, do que decorreu uma matanca indiscriminada dos negros pelos brancos. Escas so diferencas significativas, que evidenciam o caréter racial da colonizacao nos dois paises. As diferengas manifestam-se na forma dos povoamentos, dos interesses econémicos e religiosos, no emprego da mao de obra escrava, na existéncia, ou ndo, de miscigenagdo entre as racas, nas causas da abolicao, no tratamento dado ao negro depois da aboligao, nna questo da diviséo da terra e do préprio desenvolvimento de cada pais. ‘Nessa conjuntura se desenvolve o periodo de colonizacao em ambos 8 paises, que apresenta diferencas em seu préprio processo de indepen- déncia. No Brasil, de acordo com Mota ¢ Novais (1996), o Estado metro- politano é dividido na relagao entre o Estado ¢ a sociedade, visto que ha um tipo de relacéo na colénia e outro na metrépole. Na colénia, a classe cominante nao é a elite dirigente. ‘Aclasse dominante na colénia ¢ 0 senhoriato, os donos de terrae de gentes. Nesse cantexto, a Independancia busca, de certa forma, ajustar a sociedade ao Estado, @ a Nacdo trabalha para fazer esse ajuste de modo a defender as ideias propostas. No entanto, isso ndo provaca mudancas peteg Senin = 92 9 250 9 OES oie 2001 sociais e, além do mais, para os negros e 0s indios, nao havia diferenca ents ser govemade palo senhoriaro ou pela metrdpale (Mota Novels, 1996). ‘Além disso, a sociedade brasileira manteve sua estrutura politica, econdmica e social preticamente intact, ea unidade do teritério nfo so elterou em relasao ao period colonial, porque 0 processo de independéncia foi empreendico por quem jé estava no poder (Mora; Navas, 1990) Nos EUA, o proceso de independéncia teve caracteristicas préptias ‘esse pats, os colonos partiiparam dos debetes em busca de alternatives para acabar com os abusos cometidos pelos ingleses. Essas agdes ficaram explicit nos congresses realizados na Califérnia, nos quais se constatou que os colonos lutaram para ter o direito de participar da vida politica da colénia (Driver, 2008) Como @ Inglaterra no aceltou & independéncia de suas colénias f declarou guerra, os EUA enfrentaram seu colonizador. A Guerra de Independéncia, que ocorreu entre 1776 1783, foi vencida pelos EUA com 0 apoio da Franca e da Espana, Apesar dessas diferengas, no se pode igmorar que os processos que conduciram a indenendéncia das colénias foram parte integrante da decadéncia do Antigo Regime e resultante da cifurdo do liberaliemo econéinico, Nenhtima des movimentes, no entanto, coniribuiu para @ melhoria de condigbes dos negros. Ao contratio, @ discriminacdo e a pobreze da populacdo negra continueram, Nos Estados Unidos, em decorréncia do acirrado dio racial ao negro, a seqreyacio foi dactetada pelo Extado como mecca legal legiima, oom 0 consequente separatismo instituido por politicas publicas traduzidas em Jeis, as quais proibiam os negtos de frequentar escolas grejas, banheitos piblicos, parques, praias, hospitais, ou qualquer locel publico frequentado palos brancos, Alem disso, os negros eram proibidos de te propriedades, de trabalhar em qualquer profiss4o, de voter, de serem testemunhas, de dirigirem nas mesmas estradas, situag&o que ocasionou “o movimento dos negros pelo fim da segregagto racial nos EUA nas décedas de 1950 @ 1960 e popularizou tum conceite juridice original: 0 da agBo afirmativa ou discriminagao positiva” Tragtenberg, 2002, p. 2) ‘A segregagto racial nos Estados Unidos causou prejutzos & prépria formagio de mio de obra compativel com az necessidedes do capital Essa situagio levou empresas e Estado a buscarem a aplicecho das leis dos direitos civis e politicos, visando reduzir a discriminagao racial, mas, pPrincipalmente, os efeitos dela sobre a sociedade e a economia, E nesse contexto que ocorre urna mudanga de postura do Estado, na qual a questdo educacional toma forma a partir de 1961 pelo sistema de cotas. Qs resultados foram quase uniformemente desastrosos. Admitidos de forma condescendente, por critérios menos exigentes do que os dos Gomais, os ecrucantos noqros ficaram fslecos dentro das univessideces, seguindo curriculos de qualidade académica duvidosa, que pouco Ihes servie na vida profissional posterior. Era um sistema que discriminava alunos brancos, que muitas vezes nao eram admitidos nas universidades para dar lugar neqros mencsepalificados e, por i, @ Suprema Cats Americana julgou 0 sistema de cotas inconstitucional (Schwartzman, 1987; Martins, 2008), Sao questdes que, necessariamente, fazem a diferenga e nao permitem pensar que solugdes adotadas nos Estados Unidos possam ser twanspostas para o Brasil. Trata-se, no caso do Brasil, de um pals depen- dente do capitalismo central, ainda carente de avancos na érea educacional para todos os niveis, que vao além das questdes de raga ou de género, embora estas nfo possam ser desprezadas, ‘A Convengao Intemacional sobre a Eliminago de todas as Formas de Discriminagao Racial, da Organizagéo das Nagdes Unidas (ONU), da qual o Brasil é signatario desde 1967, estabeleceu a necessidade de aplicar ages afirmativas como forma de promogao da igualdade, para a inclusao de grupos étnicos historicamente excluidos do proceso de desenvolvimento social (Martins, 2008). E 0 que veremos a seguir Agées afirmativas no Brasil A Constituigao Federal do Brasil de 1988, Art, 3°, I enfatiza “a promogéo do bem de todos, sem preconceites de origem, raga, sexo, cor, idade e quais- quer outras formas de discriminagao”. Essa determinagao legal apontou pare a necessidade de Pais adotar a politica de agdo efirmativa que, conforme ‘Martins (2008), tem sua meior énfase na década de 1990: a Lei n® 8.12/90 (Artigo 5°, § 2°), que reserva vagas, no percentual de 20%, para deficientes fisicos habilitados a cargos ptiblicos; para empresas, que devem oferecer vagas pare deficientes (Lei n® 8.219/91, Art, 93, que fixa para deficientes a cota minima de 2% e méxima do 5%), @ a Lei n® 9.504/97, Art. 10, § 9°, que reserva para as mulheres petoentual para participarem, como cendidatas de partidos politicos, evidenciando que em nosso Pais o sistema de cotas de vagas nao tinha como proposta a inclusao racial. Por sua vez, no periodo do golpe militar (1964-1985), foi criado um sistema de cotas na educacao que visava a privilégios de classe que nao necessariamente a excluida socialmente. Foi o caso da chamada io boi”, Lei n° 5.465/68,* que criou a reserva de vagas (50%) “para candidatos agricultores ou fillhos destes, proprietérios ou nao de terras”, que residissem com suas familias na zona rural, e 30% para agricul- tores ou filhos destes, proprietarios ou nao de terras, que residissem em cidades ou vilas que nao possuissem estabelecimentos de ensino médio, nos cursos de graduagao em Agricultura e Veterinéria. Por essa lei, manipulada nos seus reais objetivos, bestava o titulo de propriedade para garantir vaga e, com isso, a lei acabou apenas por favorecer a elite rural brasileira Nossa mesma perspectiva, a politica de aco afirmativa é tratada em muitas leis, sendo @ Consolidagao das Leis do Trabalho (CLT) uma das mais conhecidas e abrangentes. Por essa lei, fica garantido 0 emprego para brasileiros, na proporgéo de dois tergos em empresas individuais ou coletivas (podendo, neste caso, um terco ser destinado a estrangeiros), Feiees 40s, a 7968 —te Ordinsri, connec coms “Lat 4 bar. Dispontvel amp! ‘ev sana gpibrsconist Reirencis ton? codigo ‘Accor san 12/2010, peteg Senin = 92 9 250 9 OES oie 2001 assim como visa corrigir distorgdes responséveis pela desigualdade de acesso da mulher ao mundo do trabalho. Como se observa, 0 Brasil vem assumindo politicas de agdes afirmativas, tendo um histérico que néo prioriza as necessidades sociais na sua integra. Fm 1999, a questo racial integra as politicas educacionais mediante o Projeto de Lei n® 73/99, pelo qual fica instituido o Sistema Especial de Reserva de Vagas para estudantes egresses de escolas puiblicas, em especial nearos ¢ indigenes, nas instituigdes publicas federais de educaggo superior Mediante esse projeto de lei, 0 Brasil busca resgatar uma divida nistérica marcadamente com os negros e indios, garantindo-thes acesso a0 ensino superior, o que nos leva ao sequinte questionamento: como fica a garantia de direitos ao ensino superior para a totalidade dos excluides da sociedade, tendo como referéncia a excluséo a partir da escola bésica? Como ¢ tratada a questo da pobreza e do fracasso educacional brasileiro, 10 evidenciados em relatérios de érgaos governamentais nacionais e internacionais, nas pol Pensa-se que as politicas educecionais atuais buscam responder @ essas questées, quando definem “o direito & educagao, entendide como icas de ages afirmativas? direito inalienével do ser humana [...]. A educagao permite o exercicio das direitos civis, politicos, sociais e do direito & diferenca, sendo ela mesma também um direito social” (Resoluggo CNE/CEB n° 7/2010, Art. 5°). Por essa resolugao, a educagao fica comprometida com a igualdade do acesso e empenhada em garantir esse acesso aos grupos da populacéo em desvantagem na sociedade, “A oqpidade alude A importéncia da tratar de forma aifsronciada o que 32 apresenta como desigual no ponto de partida, com vistas a obter desenvolvimento @ aprendizagem equiparaveis, assegurando a tocios ‘a igualdade de direita & aducaclo, Na perspectiva de contribuir para a erradicagéo da pobreza e das desigualdades, a equidate requer ‘que sejam oferacidos mais recursos e melhores condigdes as escolas menos providas @ ans alunos que dales mais necessitem. Ae lado das politics universais, dirigidas a todos sem requisito de salecio, é preciso, também, sustentar politicas reparadoras que assegurem maior apoio ‘20s diferentes grupos sociais em desvantagem (Resolugio CNE/CEB n° ‘7/2010, art. 5°, § 8°, ID) debate esté em aberto © tem despertado fortes reagdes, princi~ palmente nos setores que tradicionalmente sdo beneficiados pela estrutura desigual Acées afirmativas para combater o racismo e a pobreza? Em agosto de 2001, ocorreu em Durban (Africa do Sul), a "3* Conferéncia Internacional de Combate ao Racismo, Discriminagao Racial, ‘Xenofobia e Formas Correlatas de Intolerancia”, promovida pela ONU, com intensa participagio de entidades do movimento negro brasileiro. Nesse evento, a delegagio brasileira levou propostas avansadas para lidar com 0 efeitos do racismo no Brasil, que, na época, apresentava, na totalidade, uma populagao negra de 45% (556 de pretos e 40% de pardos, segundo a Pnad/IBGE de 1999). Atualmente, de acorde com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicitio (Pnad), Censo 2010, 0 Brasil conta com uma populagio de 190.732.604 habitantes, dos quais 42,6% so pardos @ 6,9% so negros, © que totalize 49,5%, frente a 49,7% de brancos, 0,3% de indigenas 0,5 de amarelos (Pnad, 2006),* dacos que, de certa forma, confirmam os estudos de Estronioli, realizados em 2010, quanto & proporgao do cresci- mento da populacéo negra e parda no Pais, diante do mimero de brancos, amarelos e indigenas. Entre as propostas apresentadas, est a criagéo de cotas para os negros entrarem nas universidades ptiblicas, considerando a proposicao da Conferéncia de Durban, que colocou na ordem do dia a questao do racismo e camo combaté-lo. Em consequéncia disso, o Brasil teve como um dos resultados visiveis a epravacdo de cotas de 40% para negros nas universidades estaduais do Rio de Janeiro — Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), em 9 de outubro de 2001 (Tragtemberg, 2002), iniciativa que foi sendo assumida por outras instituigSes de ensino superior nos demeis Estados do Brasil, mas que é uma solugao que nao considera a exclusao da maioria pobre, indepen demtemente da raga e das oportunidades educacionais, a partir da base da escolarizacao. Apesar dos dados que indicam a alta percentagem de pobres, ha dados da Fundagio Gettilio Vargas que informam sobre a reducéo da po- breza no Pals, Diz o jornal O Tempo, de 2 de dezembro de 2005, que "a pobreza atingiu seu patamar mais baixo desde 1992”, passando de 35%, em 1992, para 25%, em 2004. O fenémeno se explica, conforme o jornal mencionado, pelo crescimento da economia conjugado & escensao social de parte da populacdo contemplada com mais empragos, mais escolarizacao © acesso aos programas assistenciais do governo. 0 significative esforge empreendide atualmente para reduzir a pobreza, no entanto, séo medidas insuficientes para equalizar o problema das enormes diferenciagSes sociais, considerando que ainda convivemos em pleno século 21 com 1/4 da populagéo em estado de extrema pobreza, (O Brasil tem softido picos de crescimento econémico. De acorde com Pastore, Zylberstajn e Pagotto (1983), hd, pelos dados estatisticos, um cres- cimento econdmico relevante entre as décadas de 1950 e 1980, oque nao evidenciou, no entanto, uma diminuigao do nivel de pobreza que maltrata © Pais, desde os seus primérdios. E um crescimento que nao alimentou esperengas 20s faveladis, desempregados, aposentadis, marginelizados, 5 prostitutas e aos menores abandonados nos labirintos da vida. (Os autores citados discutem ainda a situacdo de pobreza em que vivem os assalariados no Bresil, pois um grande percentual sobrevive bem abaixo do minimo delimitado pela Organizago des Nagées Unidas peteg Senin = 92 9 250 9 OES oie 2001 (ONU). Isso nao diz respeito somente ao setor industrial privado, mas aos préprios governos estaduais, que remuneram mal seu pessoal, girando em torne de um a meio salério minimo legal, quando 0 minimo estipulado pelo Departamento Intersindical de Estatistica e Estudos Socioeconémicos (ieese) é és vezes 0 minimo oficial ‘No periodo estudado pelos autores, evidencia-se uma reducao maior da pobreza na década de 1960 a 1970. Contudo, observou-se que isso sé ocorreu devido a implantacdo das horas trabalhadas pelo operério envol- vido e, até mesmo, & participaggo da mulher no mundo do trebelho, o que significa dizer que essa pequena redugao no nivel de pobreza, constatada pelos pesquisadores, néo significa uma diminuicao da pobreza, mas maior exploragao do trabalhador, com 0 objetivo de a espoliagao ser maion A Jornada de trabalho aumentou consideravelmente, assim como o exército industrial de reservas, com a perticipago das mulheres, independen- temente de raga, que se sujeitaram a salérios de miséria para incrementar o rendimento familiar. No Brasil, @ pobreza é maior nes regiées mais periféricas, como & © caso do Nordeste, Norte e outras regides dessa mesma estrutura, que nao foram beneficiadas pelos investimentos diretos injetados na Nagao naquele periodo, além das condigées histéricas presentes desde o processo de colonizagao, ‘As fontes principais da pobreza nacional estéo principalmente nama distribuigao de renda, tendo em vista que 0 afunilamento na posse da renda nacional € visivel. A década de 1980 foi prédiga nos arrochos saleriais pelos quais passou a classe trabalhadora do Pais, impostos especialmente por decretos governamentais que tinham um Unico objetivo: o de tornar a classe produtiva mais pobre, em favor da classe improdutiva, tendo como consequéncia os direitos sociais reduzidos e, nestes, uma reducao da quantidade e da qualidade no processo educacional brasileiro, entre outros servigos sociais. Dizem os autores: © Brasil ¢ um pats pobre; nao vale apenas querar aparecer no cenario internacional como uma poténcia mundial, se a econemia interna no ‘caminna ber, nem tampolca ha parspactiva de um desenvolvimento que eye a nage ater um nem-ectar concignas com a sforga da seus flo que ‘ante uzam para crescerem bem (Pastore; Zytberstain; Pagotto, 1983, p41), Salles (2008), ao analisar os dadios do Ipea sobre o Mapa brasileiro da pobreza, en:re 1996 © 2006, diz que, embora o total de pobres tenha diminufdo em 32,7% da populagao, ainda so os negros e os pardos os mais afetados pela pobreza, especialmente na regio Nordeste. A populagaoneara, que em 1996 tina 46,7% dos individuos vivenciona pobreza, apresentou uma quedade 13,596, Em 2008, 33,236 (ou cercade lum tergo) dos negros eram pobres. Em nimeros absolutos, a mudanga no parece t20 significativa, j& que mais de 30 milhdes de pessoas se mantiveram em condig6es de pobreza. Isso porque a populazao negra também cresceu (Salles, 2008). Tomando esse quadro como referéncia, urge uma politica de elevecdo da qualidede da satide e da educacto piibica bésica em um contexto de pobreza, considerando que a condigao de vida oferecida pelos servigos so- ciais de melhor qualidade permite que os pobres de todae as ragas entrem na Universidade e nela permanecam, A politica de cotas, a0 contréto, se faz demagégica 20 permitir que parte dos negros e dos demais excluidos sociais entrem nas universidades, mas, devido a toda uma conjunglo de fatores, no se formem, ou, formados, fiquem alijados do mercado de trabalho, salvo rarissimas excogtes ‘Nesse caso, “agao afirmativa” é o mecanismo de incluséo das minorias cm espagos pilticos on privasos por meio de cotes, consistinae em wim sia de mio dupla, no instante em que determina, necessariemente, @ exclusie de membros pertencentes a grupos néo minoritrios, o que leva «um questionamento importante, visto que tal exclusbo poderia afrontar 9 principio da igualdade formal, ou seja, questionar se, por via obliqua, cerarie efsitos de ciseriminagac reversa (Silva, 2002) Isso considerado, nao ha como discordar de Tragtenberg (2002), quando destaca a importéncia de os brancos bresileiros perceberem que o problema dos negros e a discriminagao racial e social por estes softida néo sfo somente problemas deles. £ um aspecto da injustica reinante no Brasil, assim como so o da fome e o da pobreza em geral. Nesse cenério, uma critica muito difundide no ideério progressista sobre a questao é que realmente os negros sao desfavorecidos desde a escola bésica. Os negros sé desfavorecidos por serem pobres e negros eno apenas por serem negros, assim como os brancos pobres e os pardos pobes, que ocupam a maior parcela da populagio do Brasil, evidenciando a imensa desigualdade social no Pais, sendo a educagao bésica um fator coadjuvante relevante nessa exclusdo. Isso requer posicionamento e agées efetivas de brancos e negros no sentido do problema da exclusdo ser enfrentado com vistas a solugdes satisftérias. Ponderanda com Soares ¢ Alves (2002, p. “A influéncia da posigto sccia! insivicual ¢ soconhecida, pelo mence, desde a publicagéo do relatério Coleman, nos anos 1960 (Coleman et al,, 1966). 0 nivel socioeconomico do aluno ¢, sabidamente, o fator com maior impacto nos resultados escolares de alunos, Esse é um constrangimenta real, extraescolar, que pode ajudar ou dificultar 0 aprendizado do aluno e que afeta diretamente o funcionamento @ a organizagio das escolac e das salas de aula, Diminuir ar diferencas entre a condigdo sociogconémica e cultural des alunos de um sistema de ensino por meio de politicas sociais teré impacto nos resultados cagnitivos dos alunos ‘Ao vermos por essa dtica, compreendemos a educagio basica de qualidade como o fatar prepondarante para evitar as discriminagées @ as aces afirmativas que se identificam com um multiculturalismo compre- endide como um fendmeno "da inteligéncia académica oficial dos EUA outros orgdos formuladores de ideologias do aparato estatal deste pai: peteg Senin = 92 9 250 9 OES oie 2001 (Bonfim, 2007, p. 8), com seus intelectuais que Gramsci denominaria de ‘intelectuais orgnicos de classe dominante”. Para Bonfim (2007), (© mutticuinuralisme passon a sora tébus de salvagto, as alfa o no maga de pensamento politico. A ideologia de uma era sem ideologia, ‘para grand parte da intalectualidade norte-americana, Porque o grande capital permaneceu, como sempre, reciclando-se, reatualizando seu discurso com o objetivo expansionista e do lucro sem limites (Bonfim, 2007, p. 4) Segundo essa viséo, no contexto multicultural, 0 segregacionismo racial continua, sob a forma de um discurso social que, aparentemente, oportuniza situagao de iqualdade, contudo, mediante novas formas de discriminagao ¢, neste caso, a cota racial ¢ forma de discriminagao imposta pela lei, como nos diz Martins (2008). Resolver o problema da excluséo mediante agées afirmativas por discriminacdo de raga e de génera nfo é a solugéo que compreendemos para 0 nosso pais, SAo agdes paliativas, compensatérias e imediatistas que camuflam o problema. A solugio poderia estar calcada em ages afirmativas por meio de politicas sociais em todas as areas e, nestas, a educagio de base voltada para a equidade © 2 qualidade, questes que s= romam complexas quando analisadas em nosso contexto de diferenciagao social téo grande, A discussdo no pode ficer limitada ao problema do ingresso dos negros ¢ dos afrodescendentes no ensino superior, ao processo de frag- mentagio e de reificacao que as relagdes sociais de uma organizacdo social capitalista impdem, Segundo Atilio Borén, “nao se trata, em consequéncia, de suprimir ou negar a existéncia do ‘diverse’, para utilizar uma palavra muito em voga, da particularidade — e sim de procurar os termos exatos do seu relacionamento com a totalidade” (Borén, 1998, p. 5). Nesse as- ecto, ao ser uma categoria oriunda do capitalismo, dever-se-ia considerar supérflua sua legitimagao. Educagao bisica como direito social A universalizacdo do ensino fundamental, agora em nove anos, a erradicacao do anelfabetismo, a ampliagao das horas letivas, a democra- tizagao do acesso ao ensino médio, entre outras determinacdes da LDB/O6 (Lei n° 9.394/96), sao propostas que tém merecido especial atencao nas politicas atuais de governo, mas ainda sem resultados que revertam 0 qquaciro do fracasso educacional brasileiro. De acordo com Soares ¢ Alves (2003), ao tratar das politicas educa~ cionais atuais, [ol criou-se no Brasil um grande sistema de ensino fundamental, que ‘atende hoje a quase totalidade das criangas[..]. © ensino médto também caminha na diragao da universalisagis, com cobertura atual de 25% dos jovens de 15 a 17 anos. No entanto, a escola continua sendo um produto social desigualmante distribuido. Dasigualdades no ingressa aos Giferentes tipos e niveis de ensino persistem, ainda que se manifestem, hheje, dle forma monce maciga o mais sutl. Frese dosigualdados 28> sioduladas par filtro: socioacanémicns, racisis, ie localizagso (urtana, rural) @ por tipo de rede escolar (pubiica, particulay). H, portant, dois, problemas fundamentais: a qualidade do ensino de uma forma geral e esigualdades entra os estratas sociais (Soares © Alves, 2003, p. 2). Ninguém nega que © esforgo para sanar esses problemas vem se dando pelo acesso ao ensino fundamental para todas as classes sociais. © problema fica, agora, centrado na qualidade, que, por ser complexa, exige esforgo conjunto do Estado e da sociedade como comprometimento coletivo em busca de uma formagao que atenda aos diferentes estratos sociais, sem discriminacéo de race, sexo ou nivel sacioecandmico, Esse se torna o grande desafio a ser enfrentado por todos, de modo a preparar 0 cidadéo para participar da vida social em todas as suas insténcias, de forma igualitérie, seja ele branco, pardo, mulato, negro, amarelo, ind/gena. Com ssa formulagio, ndo hé uma clara distingdo entre “cor”, "raga" ou “origem mica". Séo todos brasileiras © merecedores do mesmo tratamento. [Nos estudos realizados por Soares e Alves (2003), por meio de dacios do MEC/nep/Saeb, considerando as desiqualdades sociais entre os alunos com posigdo social mais baixa, a diferenca entre os trés grupos (brancos, pardos e negros) é minima, enquanto nas posigSes mais privilegiadas © rau de proficiéncia entre os alunos se diferencia bastante, Nos grupos socialmente privilegiados, os rancos aparecem com melhor desempenho Isso significa que para os alunos negros subirem na escala de prestigio social néo implica a melhoria do nivel de desempenho escolar na mesma proporgéo que ocorre com os alunos brancas, quanda a diferenga de nivel socioeconémico favorece 0 branco. Essa questéo leva a outra altamenta envolvida no que se refere & qualidade relacionada com a variago dos contextos escolares. No estudo realizado pelas autoras, a diferenca de desempenho escolar observada entre alunos brancos, pardos e negros nao enconttra explicago somente nna condigdo socioeconémica. Com base nos dads do Saeb, encontram-se evidéncias sobre a origem dessas diferencas de qualidade na proposta da escola, confirmando o que antes afirmamos cobro serem @ propria instituigdo e os sistemas escolares coadjuvantes da exciuséo. Quanto a isto, dizem as autoras: [el sabemos que alunos de alta posigdo social, em média, tém melhor rendimento escolar e vo a escolas que oferecem bom ensino, Quando encantramos uma escola com alto desempenho, nao sabemo: == esse desempenho é alto porque seus alunos jé eran bons antes ou porque a cresia ofstocs, de faze um Bom onsino, Da mesma forma, = Superioridade de um aluno deve-ve a fatores sociosconémicoz ou a0 sett desempenno escolar prévio? (Soares; Alves, 2003, p. 7. grifo nosso). A questo levantada por Soares e Alves (2003) encontra resposta na pesquise realizada por Crespo e Gurovitz (2002), que afirmam ser a pobreza “privagdo de capacidacies elementares”, 0 que pode provocar peteg Senin = 92 9 250 9 OES oie 2001 ‘morte prematura, subnutrigao consideravel (especialmente de criangas), morbidez persistente, analfabetismo e outzas deficiéncias”. Para os autores, @ pobreza pode também ser caracterizada como renda inferior a um patamar preestabelecido, pois uma renda baixa pode ser a razdo primeira da privagéo de capacidades de uma pessoa, 0 que confirma a explicitago sobre pobreza e miséria jé definidas neste trabalho. Nessa perepectiva, estudos realizados entre diferentes ragas mostram que a importancia do professor no desempenho de sue funcdo pedagdgica junto a alunos pobres pode influenciar os resultados escolares, sem, no entanto, minimizar fatores de suas condigies sociais. A efirmagao a sequir confirma essa posicao: [Lu poucos fatores sém impacto estatisticamente significative. Ou soja, a maicria das fatoros asscciados a malher desampanie afcram, jigualmente o conjunte des aluncs, independentemente da sua cor. For exemplo, um professor que nutre altas expectativas em relagao 20, decempenho de seus alunos ind contrituir para sucesso de todos os alunos, sem que isso necessariamente ajude a reduzir as diferencas Iniciais entre eles (Soares: Alves, 2003, p. 16) A stuacéo docente frente a0 problema da pobreza é evidencieda em recente pesquisa avalitiva, desenvolvida pela United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (Unesco), sebre os programas sociais cqiovém condi implantacosno Brasil, ose posqisa damonatasizmiticativa redugao da repeténcia e da evasio escolar, assim como melhoria da apren- cizagom da populagas escolarizada das camacas mais pobros da sociedado ‘Sao sinais positivos, mas nao suficientes para tirar o Pais de sua condigdo de inferioridade educacional, visto que, de acordo como Indice de Desenvolvimento da Educagao Basica (Ideb) de 2005,* o quadro re- rrataco polos rosultadoo das avaliagice demonctra quo a situacdo atu do ensino é dramética. Apenas um pequeno numero de cidades (243), representando 5,58%, conseguit obter, nas duas etapas (1°8 48 série e S* 8 B* série) do ensino fundamental oferecide pelas redes municipais, um Ideb igual ou superior @ 5. De 18a 49 série das 4.349 cidades avaliadas, 4.112 obtiveram um indice inferior a 5, ou soja, uma taxa de 04,54. Na fase de 5¢ a 8% série, o total de municipios com indice inferior a 5 foide 2.453, entre 09 2.467 avaliadas ~ tata de 99,495, Nama ezcala de (0.8 10, o Brasil obteve, em 2005, um Ideb médio de 3,8 na primeira fase do ensino fundamental (1* & 4° série), de 8,5 na segunda (5* & 8* série) © 3,4 no ensino médio, Em 2007, segundo dados do Inep/idels* « alteragao ¢ insignificante diante dos dados de 2005, visto que em uma escala de O a 10, 0 Brasil tem hoje um Ideb médio de 4,2 nos anos iniciais do ensino fundamental, de 3,8 nos anos finais do ensino fundamental e 5,5 no ensino médio, Esse { Bador cbridor mo ste beei// indicativo esta aquém do Ideb de 6,0 pontos, considarado como média idebinep govbuSval acess “ n 1616/2008 minima para paises desenvolvidos, e revela o quanto ainda teremos de “Baloesuidot neste pd) avangar na perspectiva da ampliagio de politicas e agées para o pleno Ga ieezos "desenvolvimento da educacéo brasileira. Em 2009, conforme dados do MEC/Inep, o Idels sofre pequenas alteragées, passando para 4,6 nos anos iniciais 4,0 nos anos finais do ensino fundamental, © ensino médio, que tinha 3,5, passa para 0 indice de 3,6, Nesse contexto, foram avaliados 5.467 municipios, que incluem 44.765 escolas totalizando 2.559.566 alunos dos anos iniciais, 5.498 municipios, 32.901 escolas e 2.017.221 alunos dos anos finais do ensino fundamental. No perfado foram registadas 21.705.528 matriculas no ensino fundamental e 8.337.160 no ensino médio.” (Os dados mostram que a crise do ensino é muita maior que a soluggo por cotas raciais, o que exige compromisso social, envolvendo Estado e Sociedade, para um melhor desempenho da escola bésica, de modo que © aluno possa galgar todos os niveis de ensino, A ideia é tratar da base @ no do topo da pirémide educacional, reproduzindo em nossos dias a dréstica histéria da educagao do Brasil, o que se evidencia em um modelo que priorizou a educagdo das elites, mediante niveis superiores, sobre a ecucacao priméria, nivel este que atinge o povo em sua totalidade, independentemente de raga. Um estudo completo sobre essa complexa questo nao cabe no espaco deste artigo, mas fica em aberto a questo: de que qualidade de educagdo as escolas das classes menos favorecidas precisam pera alunos que pouco trazem de vivéncias ricas e variadas, porque provenientes de familias pobres? Que tipo de formacdo deveria ter o professor pera lidar ‘com criangas dessas classes, de modo a saber trabalhar com a diversidade menifestada na realidade de cada aluno? Que investimentos deveriam ser feitos para sanar definitivamente o analfabetismo que ainda persiste em nossa realidade? Seria esse o foco das verdadeiras agdes afirmativas? Consideracées finais Considerando a histéria da formagao sociopolitica do Brasil e as cGes de seu desenvolvimento, observa-se a formacéo de um pals pobre, de maioria negra desde a colonizacao, sem muitas alteragées desse quadro em nossos dias. Nesse prisma, deu-se a educagao como um processo de exclusdo da maioria pobre, em contraposigéio a um modelo educacional que favoreceu as elites econémicas desde a Colénia e se estendeu ao longo do Império e da Reptiblica, As consequéncias disso sao visiveis em nossa realidade nas altas taxas de analfabetismo, de re- provagio, de evasdo escolar, 0 que é evidenciado pela midia a partir de levantamentos estatisticos do MEC e de organismos internacioneis como a Unesco. ‘Nesse quadro, ages afirmativas para o ingresso no ensino superior, por questdes raciais, parecem ser medidas que reproduzem a exclusdo da maioria, constituindo-se medidas paliativas que servem, no maximo, para chamar a atenc&o dos brasileiros pare o problema, Na verdade, a solugao da equidade © da qualidade em educagao ndo reside em cotas, mas em maiores investimentos na educacdo, para a ‘Bades cbtdor no vm Be portal mec gov index pe ud=669= 1222 18opson=c conenténen article peteg Senin = 92 9 250 9 OES oie 2001 garontia do acesso, da permanéncia e da qualidade, fundamentelmente na rede piiblica, no ensino fundamental e médio, além da ctiagdo de mais vagas nas universidades, para possibilitar aos negros, aos afrodes- cendentes, aos indigenes e aos brancos das classes pobres igueldade de condigées para o acesso ao ensino superior £indispensével acriagdode alternatives para a formagdo dejovens, de modo a tornarem-se cidadios com possiblidades de ingressar no mundo do trabalho coma compreensio da realidade ea formal adequada; éne- cessério conhecimentos e no privilégios momentAneos que se esgotardo A medida que o aluno se depara com dificuldades técnicas e de manutengao, tais como compra de livros e de material necessétio ao desenvolvimento de uma educagao de qualidade, de modo a atender as exigéncias de uma sociedade altamente sofisticada em meios eletrocletrGnicos que tl sistema no saluciona, ‘No entanto, em meio a tantas adversidades no contexto educacional brasileiro, algumas medidas estao sendo implementadas mediante ages do MEC voltadas para a diversidade. Cita-se a criacdo da Secretaria de Educacdo Continuada, Alfabetizacao e Diversidade (Secad) como um asso importante, porque ampliou o didlogo com a sociedade brasileira e possibilitou partir-se para agdes que vio ao encontro de suas necessidades. Por sua vez, a posigao do MEC, favordvel aos recursos especificos para os alunos da érea rural, quilombolas e indigenas, no Fundo da Educacdo Bésica (Fundeb), é um reflexo desse diéloao. Entre as politicas da Secretaria de Educagao Basica (SEB/MEC), o destaque € a formagio inicial e conti- nuada de professores, condigéo indispensavel para melhorar a qualidade do ensino pubblico. Estas questées s&o noticias nos meios de comunicacdo dieriamente: © Brasil experimentou nos tiltimos anos um grande avango na educagio ‘com a universalizagao do ensino fundamental e o acesso crescents 30 ‘ensino médio e superior. Mesmo sendo de baixa qualidade, o ensino bisica pressiona os demaic. A populacio brasileira de renda mais basa ‘despertou para a importancia da educagao como faior de redencao social. [..] O brasileiro pobra, que antes ficava restrite, s2 muito, aos ‘quatro primeiros anos do antigo curso primério, exige. hoje, ingresso no ensino médio e jé almeja chegar @ univarsidade, mesmo que esta info seja gratuita (O Tempo, 2008). Nessa ética, o MEC criow a politica de ingresso no ensino superior mediante o Programa Universidade para Todos (ProUni), que nao deixa de ser um tipo de politica afirmativa, Escas ¢ outras iniciativas so louvaveis como solugdes emergenciais, mas nenhuma teré sucesso se as desiqual- dades sociais, tdo acentuadas em nossa realidade, ndo forem levadas em consideragao no proceso educacional desde a base. (© que poderia provocar algumas alteragées, de forma efetiva, seria favoracer © aceseo A educagao basica, pois nao hé ainda qualidade de ensino efetiva e claramente compreendida como necesséria, 0 que nos remete & escola bésica, @ partir da educago infantil, na qual se situa maior parte da populacao pobre do Pais. Pensar uma escola bésica de qualidade consiste em transformar a escola do pobre em escola de formagao de cidaddos aptos para assumir seus direitos e deveres na sociedade, tendo como premissa a recuperagao da fungdo social da escola. De nada adiantaré pensar em ago afirmativa, se a escola do pobre con- tinuar sendo uma escola pobre em condicéas fisicas, em conhecimentos, em produgao do conhecimento, em visdo de mundo, com professores desprestigiados socialmente e despreparados para trabalhar com a po- breza. Acdo afirmativa a partir da educacéo basica lembrar que falta de dinheiro e diferenga raciel nao s4o sinénimos de falta de inteligéncia, Nessa perspectiva, entende-se que oferecer condigdes educacionais para filhos de pobres e ricos igualmente, a partir da educagao bésica, pode significar a oportunidade de o Pais avangar efetivamente na questdo cultural e de desenvolvimento social. Sem isso, toda e qualquer politica educacional seré inadequeda. A principal conclusdo deste trabalho é, portanto, a consciéncia da importéncia de formulacao e de implementacéo de politicas puiblicas edu- cacionais, nao s6 para a melhoria do desempenko escolar de uma forma geral, mas também para diminuir o impacto da arigem sociceconémica no desempenho escolar, a partir da escola bésica, Afinal, se a educagao nao é utilizada adequadamente pare a incluso, pode ser apenas um fator coadjuvante na reprodugao das desiqualdades. Referéncias bibliogréficas BASBAUM, Leéncio. Historia sincera da Reptiblica. Das origens a 1880. ¥. 1, 4, ed, Sao Paulo; Alfa Omega, 1975. BERGMANN, Barbara. In defense of affirmative action. New York: Basic Books, 1996. BONEFIM, Eduardo. Cultura, politica e mitos do multiculturalismo. Gazeta WEB, Maceié-AL, 7 de julho de 2007. Disponivel em: . Acesso em: 12 dez. 2009, BORON, Atilio. Epilogo: éUna teoria social para el siglo XXI? Fonencia presentada em el XIV Congreso Mundial de la Asociacion Internacional de Sociologia. Montreal, Canadé, 1998. Disponivel em: . Acesso em: 10 mar. 2010. BRASIL. Constituicdo da Reptiblica Federativa do Brasil, 1988. Fromulgade em 5 de outubro de 1988. S40 Paulo: Fisco e Contripuinte, 1988. Lei n® 9.294, de 20 dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educagao Nacional. peteg Senin = 92 9 250 9 OES oie 2001 BRASIL, Ideb. Brasilia-DF: Inep. Disponivel em: . Acesso em: 16 jun. 2008. - MEC/CNE/CEB. Resolucdo n® 7 de 14 de dezembro de 2010. Fiza as Diretrizes Curriculares Nacionais para 0 Ensine Fundamental de 9 (nove) anos. CRESPO, Anténio Pedro Albernaz; GUROVITZ, Elaine. A pobreza como um fendmeno multidimensional. RAE-Bleténica, v1, n. 2, juldez., 2002. Disponivel em: , Acesso em: 16/1/2010 DRIVER, Stephanie Schwartz. A Declaragao de Independéncia dos Estados Unidos. Séo Paulo, Jorge Zahar, 2006. ESTRONIOLI, Elisa. Cresce proporgao de pardos e pretos no pais; bbrancas, amarelos e indigenas perdem espaco. UOL Noticias. Disponivel em: . Aesso em: 5 jan. 2011. IPEA. Assessoria da Presidéncia. Pobreza e riqueza no Brasil metropolitano. Disponivel em: , Acesso em: 13 nov, 2010, KAUFMANN, Roberta Fragoso Menezes, Pobreza nao tem raga. Revista Consultor Juridico, 2007. Disponivel em: . Acesso em: 12 nov. 2010. Agdee Afirmativas & brasileira: necessidade ou mito? Uma andlise histérico-juridico-comparativa do negro nos Estados Unidos da América e no Brasil. Porto Alegre: Livraria dos Advogados, 2007. LUCCT, Blian Alabi. 0 verdadeiro sentido da pobreza. Diério da Regiao, Sao José do Rio Preto-SP, margo de 2003 MARTINS, Ives Gandra da Silva. Terra de privilégios. Gazeta Mercantil, Sao Paulo, 6 de fevereiro de 2008, ‘MOTA, Carlos Guilherme; NOVAIS, Fernando. Independéncia politica do Brasil. Sa0 Paulo: Hucitec, 1996. PASTORE, José; ZYLBERSTAIN, Hélio; PAGOTTO, Carmen Silva ‘Muclanca social e pobreza no Brasil: 1970-1980. Sao Paulo: Livraria Pioneira, 1983 FOBREZA e educacéo. O tempo, 2 de dezembro de 2005. Disponivel, em: . Acesso em: 15 mar. 2009. SALLES, Silvana. Mapa da pobreza mudou pouco em dez anos. UOL Noticias, Sao Paulo, 2008. Disponivel em: . Acesso em: 15 jan. 2011 SHAKTI, Deva. Dalits. A dificil vida dos dalits na india. Postado em 4 de fevereiro de 2009. Disponivel em: . Acesso em: 13 out. 2010. SCHWARTZMAN, Simon. O populismo universitério. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 8 de julho de 1987. Disponivel em: _ As causas da pobreza, Rio de Janeiro: Fundagéo Getiilio Vargas, 2004. SILVA, Alexandre Vitorino. 0 dasafio das acdes afirmativas no direito brasileiro, Jus Navigandl, Teresina-PI, a. 7, n. 60, nov. 2002. Disponivel em: , Acesso em: 24 maio 2008. SOARES, José Francisco: ALVES Maria Tereza G. Desigualdades raciais no sistema brasileiro de educagto bésica. Fducagao e Pesquisa, Sto Paulo, v. 29, n. 1, p. 1-23, jan jun., 2003, SODRE, Nelson Werneck. Sintese da histéria da cultura brasileira, 5, ed. Rio de Janeiro: Civilizagao Brasileira, 1977. ‘TRAGTENBERG, Marcelo Henrique Romano. Um olhar branco sobre agbes afirmativas. Revista Espaco Académico, Maringa: UEM, a. Il, n. 13, jun. 2002. Dispanivel em: . Acesso em: 10 nov. 2009. UNESCO, Relatério da 3# Conferéncia Internacional de Combate a0 Racismo, Discriminagao Racial, Xenofobia e Formas Correlatas de Intoleréncia, realizada em Durban, 2001. Disponivel em: . Acesso em: 15 jan. 2011 WEDDERBURN, Carlos Moore, Do marco histérico das politicas pliblicas de acées afirmativas - perspectivas e consideracées. In; SANTOS, Sales Augusto dos (Org.). Agdes afirmativas e combate ao racismo nas Américas. Brasilia: Ministério da Educagao/Secretaria de Educagéo Continuada, Alfabetizacao © Diversidade, 2005, peteg Senin = 92 9 250 9 OES oie 2001 WEIDEN, Fernanda Giroleti. © que sao acées afirmativas? Dispontvel em: . Acesso em: 17 maio 2008. WERTHEIN, Jorge. Pobreza e educacdo: rompendo o cfreulo vicioso, 0 Globo, Rio de Janeiro, 10 de julho de 1998; Diario de Pernambuco, Recife, 15 julho de 1998; A Gazeta, Vitéria, 16 de julho de 1998; 0 Popular; Goiania, 16 de julho de1998. Sueli Menezes Pereira, doutora em Educagéo pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), é professora no Programa de Pés- Graduagao em Educagao na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) sueli@ce.ufsm.br Clarice Zientarski, doutoranda em Educagéo pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), ¢ professora de Ecucacio Bésica em escola publica. claricezientarski@yahoo.com.br Recebido em 10 de abril de 2011. Aprovado em 29 de setembro de 2011, 1 tas peep. Sain. + 92m 29240516. vce. 201,

You might also like