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Domicio Proenga Jr. Eugenio Diniz Salvador G. Raza GUIA DE EsTuDOS DE ESTRATEGIA Jorge Zahar Editor Rio de Janei 70 ‘Guia de Estados de Estat Clausewitz e a Teoria da Guerra © contraste entre as vidas de Jomini ¢ Clausewitz ¢ profundo. Carl Phillip Gottlieb von Clausewitz nascera em 1780, de uma familia caja pretensdo & nobreza era, no mimimo, questiondvel, mas que foi confir- mada, anos mais tarde, pelo Rei Frederico Guilherme III. Posterior- ‘mente, filiou-se a uma emergente corrente de renovacdo militar ¢ foi membro destacado, junto com Scharnhorst e Gneisenau, do principal movimento de reforma militar prussiana, Participou da guerra contra a Franga aos 12 anos (1792), tendo contato direto com 0 novo exéreito francés. ‘Clausewitz cra membro ativo de um grupo de oficiais que buscava no iluminismo e na educagio a atualizagio do Exército Prussiano, suspeitando dos efeitos debilitadores da formalizagao de-tradigio fre- deriquiana e desejosos de dar conta das novas formas de guerra trazidas Revolugdo Francesa. Vivia entre generais intelectuais, escritores ¢ leitores de historia e teoria, como Yorck c os jé mencionados Scham- horst ¢ Gneisenau. Entre suas obrigacdes estivera a de ser o mestre-es- cola militar do bisneto de Frederico, o Grande, ¢filho do desafortunado Frederico Guilherme If, rei da Prissia quando da fragorosa derrota ‘militar prussiana frente aos franceses ¢ Napoledo na batslha dupla de Jena-Auerstaat, em 1806, em que foi feito prisioneiro, Clausewitz rebelou-se contra a subserviéncia da Prissia « Napo- edo ©, em 1812, abendonou sua patente no exército prussiano para servir ao czar da Réssia contra os franceses ¢ a propria Priissia (cujas ‘wopas integravam 0 exéreito que invadin a Riissia), tendo tido papel relevante nas negociagSes que afastaram posteriormente as forgas prus- sianas da alianga com Napolefo, Retornou & Prdssia para participar da reestruturagio e rearmamento secreto do exército prussiano, servindo como ajudente direto de Scharnhorst em 1813. Em 1815, jéreintegrado ao exército prussiano, teve papel significative na Batalha de Wavre, onde uma parte da ttopa reteve forgas francesas comandadas pelo ‘Marechal Grouchy, impedindo-as de terem qualquer papel na Batalha de Waterlop. ‘Apés as Guerras Napolednicas, Clausewitz foi promovido a gene- ral, em 1819, permanecendo por longo tempo em Berlim, como diretor (& época, um cargo administrativo) da Academia de Guerra Prussian, da revitalizada Allgemeine Kriegsschule, semente do que viria a ser a primeira escola de estado-maior do mundo, Foi ncsse perfodo que pode se dedicar mais intensamente a seus escritos. Com a crise polone~ sa, Clausewitz foi designado chefe do BSTADO.-MAIOR da mobilizagio 0s Fundodores do Pensamento Esvatigiea a O ESTADO-MAIOR Para dar conta do genio de Napoledo, 0s reformadores prussianas meta- marfosearam a equipe de assessoria € acompanhantes do comandante ‘numa instituigdo que, pela dvisdo coordenada do trabalho intelectual de preparagao e gestao da guerra, pudesse agregar os esforgos dé muitos © igualar o desempento extraoidinério do “grande Corso Neste process, iz expressio de Trevor N. Dupuy, institucionalizaram 0 genio militar: 0 estado-maior passou a ser uma verdadeirainstituigéo nacional, «que dave continuidacee aperfeigcamenta ao saber e estrutura militar de um Estado, Por um lado, permitia 0 processo de organizacéo militar de Forma ticas. Por outro, aperfeigoava e disseminava 0 processo de condugo das guerras de forma racional, informada tanta pela correta atribuigéo de responsal {quanto pela criagdo e sustentagdo de uma cultura organizacional militar orientada para a busca solidaia da vitoria, Os resultados que a organizagdo de um estado-meior franqueave um Estado eram de tal ordem que a posse desta estrutura se tomou obrigatéria 8 qualquer gals que desejasse conduzir uma guerra moderna, Assim, os elementos do Grande Estado-Malor Prussiano, que era um ‘rgao de Estado que perpassava e controlava toda a instituigdo militar tercestre, foram emmulados ¢ adaptadcs numa variedade de arranjos na~ cionais, admitindo variagbes consideravels no entendimento que cada pais, cada exército e cada marinha tinham do que era ou nao ere objeto dde sua competéncia, Pode-se argumentar que nenhum exéicite jamais conseguiu 0 grau: de organicldade e capacidade militar que 0 Grande Estado-Maior emprestou as tropas prussianas. Clausewitz vivew apenas 05 primeitos momentos deste processo. prussiana de 1831, sendo vitimado pela epidemia de célera daquele ‘ano, falecendo aos 51 anos de idade. Sua vidva, Marie von Clausewitz, organizou e fez publicar, em 1832, seu liveo Da guerra, cujos 150 cexemplares 56 se esgotaram trinta anos depois. 22, Duruy, Trevor N.A Genius for War, Nova York, Stackpote, 1977 n Guia de Estudos de Esvatégia Clausewitz nfo escreveu 0 Da guerra pensando em pub! durante sua vida, Clausewitz foi um eseritor pro sua vida: suas cattas, memorandos, manifestos, projetos, textos e aulas ao conta do talento e rigor com que sempre se aproximou dos assuntos de seu interesse. Nesse sentido, o Da guerra sistematizava 0 conjunto de suas reflexes sobre a guerra eas enguadrava num arcabougo teérico de grande envergadura, Entretanto, sua morte prematura o impediu de revisar e completar a obra. ‘A falta de revistio do Da guerra induziu, como aliés o proprio Clausewitz previra, muitas e distintas interpretagées, de di ‘em fangdo da morte prematura de seu autor, Suc agio e divulgagio de seus outros textos, muitos dos piiblico tao tardiamente quanto 1937. A reputtagiéo 0 autor de um gs verdadeiramente gran’ se que suas reflexde de sua publicacdo. Clausewitz se confrontara com intrinseea do fenémeno bé ‘a pelas campanhas napolednicas. Ao uma forte tradigdo intelectual, construiu uma sélida teoria da guerra, Aig hoje, nenhuma obra jé esctita sobre a guesra pode The ser compa- de livro sobre a guerra; Feextraor um estado sobre o bélico, ‘Ao exclusfrem as diversas ponderages ¢ qualificagdes que Clause- wits fazia em suas reflexdes, 0s aforismas construfdos supostamente com base om interpretagoes dos escritos elausewtianos eram wma jel para um mundo habituado aos ismas ganharam ta foi praticamente rX contra a Franga, a as tudo que sabia de guerra (s Fundadores do Pensamento Esvatésico n ‘obra eade Clausewitz. O result ‘0 que Clausewitz realment Assim Clausewitz nao pertence, realmente, ao mundo do século XIX, Sua Jeitura s6 ganhou algum espago nas stimas décadas do século passado. Apenas em inicios do século XX 6 que Clausewitz comegou a ser tomado pelo que era: a primeira tentativa rigorosa de ‘uma teoria da guerra. traste com Jomini, Clausewitz nfo manteve suas con viegdes da juventude a0 longo de toda vida, Manteve, antes, suas apenas indi das partes revi Clausewitz, condu impacto dos trauméticos anos de 1792-1815, sob o peso da derrota prussiana de 1806, sob o impacto da capacidade individual de Napoledo de transfigurar o mundo ar, ¢ transtornar 0 mundo politico, em uima mei has. Ansiava por respostas: 0 que era a teoria da guerra? O que cla podia ensinar? Dependia de infinitas variagdes de ipo. Cada momento, cada era, tinha seus proprios requisitos ¢ exigén- cias. Nao admitiam uma ponderagdo genérica, mas um aprendizado ividades humanas. Bsta busca por plesmente oportunistas, outras mais filos6ficas, onde sua obra vista como 0 desejo por uma filosofia da guerra, uma forms pl ppura da guerra; outras leituras seriam politicas, onde o mundo seria reduzido a uma dinfmica de poder ¢ enfrentamento, a Realpolitik ” (Oia de Estos de Estrattgia despida de valores; ou outras ainda hist em que 0 processo de depuragao moral e fisica da guerra seria a mola mestra do progresso. Estas leituras no davam conta da meta de Clausewitz, muito mais ‘modesta: entender a guerra, Clausewitz. alicergou sua teoria a partir de uma reflexo abstrata sobre 0 absoluto da violencia da prépria guerra. Este processo o havi evado a idéia de que a guerra era viotei quando se dedicou A producio e revisio de uma série de estados hist6ricos, e se confrontou ia absoluta que sua teoria Ihe diziam algo, € que a vi fora sempre controlada, fa, limitada, Com Brande coragem intelectual, Clausewitz se debrugou sobre as limita. ‘$0es de suas idéias, reavaliando-os a partir de um © 08 fatos revelados por seus estudos; nao se volt aceitou-os. (Clausewitz exigia rigor de sua construgo. Uma verdadeira teoria que se emancipar de tudo que Quaisquer consideragoes sobre detalhes, armamentos ou chefias e estruturas hie- rérquicas eram in cessivamente vulneréveis & mudanca. 2 buscava relagdes, vinculos permanentes. Sua ambigio era ‘lo de uma teoria tao abrangente quanto possivel. Diante da ages so: igico do conceito da guerra (“um ato de forga imigo & nossa vontade"™) nao admitia qualquer moderagao, ¢ levava a um extremo de violencia, a guerra absoluta; * As guerras, na pritica, cram limitadas ou ilimitadas, jamais absolutas; * Isto se devia & assimetria entre ataque e defesa; as dificuldades intrinsecas de qualquer ago na guer io de divida, desgas- 23, C.ausewerz, Carl von. On War, (TradugSo Michac! Howard e Poet Paet.) Nova York, Altted A. Knopf 1993, p83, © A guerra era i mundo po! Foi com estas bases que Clausewitz se propunha a reescrever sua obra. Nunca a terminou. Apenas considerava defi As sombras do “Da guerra’ pelos olhos do século XX no século XIX A complexidade e a profundidade dos escritos de Clausewitz desafiam uma sfntese completa. Ao contratio de Jom ode encontrar um sistema geral simples e © aplicagio, Clausewitz nfo pode sor coloca em pauta relacionamentos ¢ fundamentos, ndo definigies de termes ou regras de imediata aplicagio. Clausewitz no buscava res. fauras, mas aprender: ao se debrucar sobre o seu tempo, fez.0 primeiro éstico sistemético do mundo bélico modemo e iden ico sobre os quais nos apoiamos. Acima de tudo, como © proprio Clausewitz, sua obra ainda nfo estava em sua forma iva; necessitava de uma exter Jomini, Clausewitz foi reeserit es que viam em sua obra o que {que se segue 6, necessariamente, um entenidimento sobre uma obra que fo, € que reflete um: apoiada em século XX, co-s6cio-bélica resultante das revolugdes Americana e Francesa, cuja forina final foi dada por Napolego. Criticava as tendéncias racionalistas © formalizantes do final do século XVII — como a geomeiria bélica de von Bitlow eos diagcamas identificava como excesso de partir de casos particulares. 0 Da guerra nao t culada do restente da vida 78 Guia de Etutos de Estat ida num mundo ‘omplexo, dinimico, éifuso, ¢ profundamente marcado por uma quan tidade tivel de ligagées ¢ relagdes, principalmente politicas. & mpossfvel Ihe fazer justiga sem ur espaco muito mais amplo do que © de que se dispde aqui — literalmente, 36 se The faz justiga Tendo 0 tGprio Da guerra e seus melhores intérpretes. ies de tum convite &Teitnra, adequado a um guia, mas nfo de um resumo que substitua 0 contato com a prépria obra. tem criticado enfaticamente foi (e se8 estudiosos mostraran que sua obra foi objeto de inferéncias ¢ edigdes muitas vezes completamente in- ;com suas bases ¢ assertivas. Muito de Jomini foi justaposto 4 Clausewitz, sem que se levasse em conta a profandas divergencias entre os dois autores e suas Ni se pretende, neste Guia, fazer uma revisio completa do traba- Tho de Clausewitz em si, nem de suas sucessivas interpretagées, mas antes de trazer 08 pontos pelos quais se tomar a sua obra, c do-a.com ade Jomini e seu legado. Com isto, busce-se ink a vertonte clausewitziana que orienta pensamento estratégico cont terizacto errénea de Clausewitz como fildsofo a lum reconbecimento de uma profundidade em seu trabatho que trans- cendia es necessidades muito préticas de boa parte de sew piiblico; ou, vez, a uma tentativa de enquedrar sua obra e p6-Ia lado a lade com outras de eatéter prescritivo — como a0 desejo, nem sempre consciente, de se interpretagio consistente, exilando o Da Como teoria, Clausewitz © 0 Da gi io dus obras fundadoras de campos cientifico modermo, podendo ser comparacos, didade, se inserem na grande ir0s do conhecimento fo em rigor quanto 's méximos génios dessa tradiglo, como Thomas Como aqueles gigantes, Clausewitz comega seu estudo sobre a ‘guerra definindo-a conceitualmente: para ele, como ja dito, “A guerra 0s Fundadores do Pensamento Estatégleo n Eo um ato de forga para compelir nosso inimigo a fazer a nossa vontade”. As c icas desse conceito so aquilo que ele chama de “as trés interagdes” que Jevariam necessariamente a um exercfcio extremo de violencia nesta conceppao de guerra: ‘+ um lado que usasse a forea sem constrangimentos ganharia vantagem ct rma mais imoderada tenderd a ser capaz do infligir mi imigo; por forca desse fato, este inimigo teré ou que reagir no mesmo grau de violencia, abandonando suas perspectivas e mecanismos de moderaco, ou accitar uma luta desigual, uma assimetria de vantagens e desvantagens, a partir de que sua dervota é mais provével. /o da guerra, para ambos os lados, seria desarmar o inimigo; Dado que a guerra é um ato de forga, a © sucesso na guerra e a sua permané: ‘capacidade do inimigo de seghir combatendo, isto é, priva-lo de suas armas, Uma vez que ambos os lados podiam antecipar essa tend8i ambos tenderiam a usar 0 méximo de forea necessario para privat quanto antes 0 inimigo dessa capacidade, o que, outra vez, implicari uma ascensio a um extremo de forga ¢ na guersa guerra demandaria, para ambos os ledos, 0 mdximo dispéndio de todos 0s meios disponiveis e de toda a forga de sta vontade. Dados 0s riscos e conseqiéncias de se ver desatmado, cada um dos Jados agiria de maneira a evitar esse tisco a todo e g guerra atingiria, entéo, escrito como absolute, 1oderado e simulténeo do maximo de forga disponfvel em qualquer sociedade Entretanto, Clausewitz se deparou com um Fato, seus estudos histéricos mosteavam: as guertas nunca h: Pasinos de violBneia absoluta. Ao contrévio, as guerras sempre termi avam antes que se exigia. Para ele, as ‘© nunca eram um ato isolado de pure forga: ® Guia de Estudos de Estratégla + tmunca consistiam em um snico espasmo de extrema violencia; ‘+ seu resultado nunca era final, pois terminavam antes do desatmamen- to completo de um dos lados. witz: em estabelecer 0 porar teoricamente as differencas entre o conceito e a re ‘uma boa teoria no & simplesmente o desdobramento de um conceito, ‘mas a andlise de um fendt incorporar as gando ao concei © vigor desse método diferencia a obra de Clausew déncia de todas as demais, ofetecendo e incorporando em si mesma ‘titério poderoso de validacZo e critica, nao s6 de sua propria obra, mas i ras no campo dos estudos da guerra. essa passayem que Clausewitz se insere decisiva- cctual do grande cientista, afastando-se inape- cofia e da tradigao memorialista. ou pro- raver of textos sobre asstintos militares. até de-se dizer que a teoria da guerra exposta sesposta paca o paradoxo da diferenga entre ‘a guerra como histéria, Ao expor suas i refinando seu entendimento de por que é que goin 05 extzemos de violéncia; nesse processo, restigagBo sobre fendmeno bélico de atinge os extremos de violencia uma série de futores identii- conceituais? A resposia € dec cados por Clausewitz, a saber: # a guesta a continuagdo da politica por outros meios (especifica- mente, os meios de forga) Clausewitz lembra que, em fungdo mesmo de seu conceito, a ucrra ndo pode ser separads de seu propésito politico, ou seja, “nossa (0s Fundadores do Pensamento Estatépico ~ :migo cumpra, Essa vontade transcende , alojando-se no processo do inter-relaciona- rersas sociedades. Nesse sentido, ha uma conti- entre politica e guerra, jé que esta dltima € apenas uma jacionar os interesses conflitantes entre os ivos que impede a ascensdo aos extremos na guerra & que leva & guerra nunca é 0 nico propdsito ais importante ou vital que © tempo todo, os custos e riscos da conti .de de continuaggo de outras atividades que no .de de que outros objetivos sejam ameagedos por .co, tudo isto leva os governantes a nao empre- seus recursos forges num Gnico empreendimento. garem a totalidad ‘+ a guerra é a provincia da incerieza ¢ do acaso ‘A guerra ocorre num ambiente de informagdo imperfeita pleta, decorrente tanto da apo deliberada do inimi gerar desinformacio — quanto da imprey mentos que conforman 0 ambiente. A gu‘ a um sem-ntimero de fatores — acidentes, simples confusto, nascidos do simples acasd, Esse ambiente de teza e sensibilidade ao acaso concorte para que os responséveis pela condugdo da guerra sejam bastante prudentes no emprego da forga, moderando, mais uma vez, a tendéncia de ascensiio aos extremos de violéncia. «+ a guerra é dominada pela presenga dos fatores morais ‘Uma de suas famosas afirmages € que, na guerra, fatores morais ‘confian- é expect paralelo evidente em qualquer outra atividade humana. Em suas pata- 2A, Clausewite, On War,» 9 Guia de Estudos de Estratigin “a guerra 6 uma prova de forgas morais ¢ fisieas por meio da Com isso, ao ressaltar¢ incorporar teoricamente 05 fetores morais, Clausewitz permite também compreender por que € que nem sempre fem uma forga materialmente superior triunfa nas batalhas ou nes, 1ém disso, a inconsténcia ¢ oscilago upicas dos fatores ‘morais introduzem uma fonte adicional de incerteza nos responsdveis pela condugao da guerra, acrescentando também outto fator intrinseco de moderagio na guerra, ‘+ a guerra é con: , forgas armadas © povo A guerra, segundo ele, se vincule d dades — seja em sua capacidade produtiva, seja como fornecedora de contingentes, seja em lermos de seu interesse quanto ao que esti cr Jogo, seja ainda em sua capacidade de sustentar os socialmente respon- sdveis por combater — ¢ to essencialmente a0 seu propésito politica dem ser separados no exame do “espantosa trindade, |, Sdio e inimizade, que devem I cega; do jogo do acaso e da prob- lade em que o espirito criativo esté livre para vagar: e de seu nto de subordinage como um instramento da politica, que & toma sujeita apenas & razo. O primeiro desses trés aspectos é relative principalmente 20 povo; o segundo ao comandante © sou exército; © terceito 20 governo”™, reconhecimento do povo como um dos componentes essenciais da atividade bélica ¢ uma inovagao marcante da teoria clausewitziana, Os que ihe precederam sempre reconheceram a pertinéncia da amizade ‘ou hostilidade das populagées, sem jamais as incorporarem como parte da guerra propriamente dita, Hostilidade ou amizade faziam parte do ambiente em que a guerta ocortia, mas néo eram paite da propria {da por uma srindade paradoxal, composta por I maneiga & vida das sooie- forgas armadas ou dobrar o governo — era preciso quebrar ou conquistar a vontade popular, (0s Fundadores do Pensamento Estatégica a Ao enguadrar, pela primeira vez, a possibilidade do povo em ‘armas, Clausewitz per mnhecer algo como uma guerrilha como. um fendmeno bélico ou politico, e nfo mais apenas como banditismo * O combate, mesmo “virtual”, é a atividade essencial da guerra Clausewite rejeita a idéia de que uma guerra possa ser travada independentemente do combate. Para ele, como dito acima, o combate € aalividade essencial da guerca, mesmo quando e corre de fato E dizer: hd situagées em que 0 combat as Torgas estejam em condigées de combater. Estas oct Clausewitz, se explicam pelo fato de que ele f —nesse sentido, cujo resultado provavel antecipado € desfavoriivel — seja , seja do estratégico —, diante de que decide-se ficar forgas, a forma mais forte da guerra parece uma das inovagdos mais Fortes ¢ cont . Para ele, existe uma assimetria na guerra, qual seja: a forga fendendo tem vantagem sobre & atacante. A forga que tom defensivo tem apenas que manter a situago para ganar a uotra; a forga que tem © propésito ofensivo 6 quem tem a tesponsa- bilidade de alterar a situacdo. Além disso, o defensor geralmente tem a vantagem de conhecer o terreno, de poder prepari-lo, do favor da Populagio, de proximidade com relagio as suas bases, e portanto de finhas de suprimento n a vantagem da 6a rapider, Tudo ponderado, e1 centre ataque ¢ defese, ientemente fortes para atacarem, Resulta daf.a impossibitidade do lado que tem o propésito ofensivo con facande com sucesso, dand uma vez vantagem ao ois a ele basta no ser detrotado para . Esta €, para Clausewitz, mais ume das explicacdes de na majoria das vezes cessa sem que algum dos lados sido totalmente desarmado. we Guia de Estudos de Estrategia ‘+ aonipresenga do fendmeno da fricgo Um fendmeno identificado por Clausewitz e incorporado A sua € 0 da friceto, Friegdo € um fendmeno pervasive a tox realidade da guerra, para © qual o préprio Clausewitz nfo ap uma definigao. Ele prefese ilustré-to por exemplos e analogias. Para cle, independentemente da agio do simples, mas mesino a coisa mais simples & Fendmeno que faz.com que esas c chuva atrasa um batalhio, impedindo-o de chegar na hora ct ordem & mal compreendida ou perdida; a munico det voeiro impede o igo de ser avistado em boa hora, ‘a ago na guerra 6 como o movimento num meio resistente”™, Is30 se deve ao fato de que, no ambiente de acaso, i © perigo que & a guerra, qualquer acto finplica perdas ¢ risco, Ordens sto mal compreendidas ou nao s20 recebidas, caminhos erratios sdo tomados, equipamentos quebram, o desperdicio impera e uma infinidade de eventos fortemente relacionados cor A existéncia da fricgéo faz com que as forgas, existirem ou se moverem, sejam progressivamente consumidas e pre- Jiudicadas. Com 0 passar do tempo, esse fenimeno pode causar perdas absolutamente decisivas. Como resultado, esforgos normais no pro- uzem os efeitos esperados; a guerra consome as forgas e exige esfor. 90s desproporcionais para as coisas mais simples. Por tudo isso, a frice#o € mais uma das ex; guerra na realidade & to diferente do previsto c sagdes de por que a * © ponto culminante do atague : Dos pontos acima, Clausewitz extrai ums idéia importantfssima, @ Iminante do ataque. io da fricedo, da assimetria entre atague ¢ defesa, da acdo do povo na guerra, da dindmica das forgas morais, do ‘0 dos combates © do cariter politico da guerra, Clausewitz que © ataque tende & se exaurir com o seu evango pelo imigo e com a passagem do tempo. Os fenémenos associ dos a frieeao se multiplicam, as vantagens inerentes da defesa come: am a produzir resultado, o atacante € obrigado a desviar cada vex mais 27. Cause, On Wen 28, Clauscvit, 01 0s Fundadores do Pensamenta Estatégion a3 forgas para proteger flancos ¢ linhas de comunicagio cada vez mais exten: vanguarda se distancia cada vez mais de suas bases de abasiecimento ¢ fores, complicando seu problema logistico: o atacante tende a esforgos © Estados neutros tendem a interferir na guerra para restabelecer 0 status quo eo equilibrio de poder, Trata.re de uma dinémica pela qual o atacante se enfraquece progressivamente uo mais profundamente penetre no tertitério inimigo e se distancie de suas bases, quanto mais territério ocupado tenhe que defenden, quanto mais postos tenha que guamnecer. Jé o defensor, recuanda "' 4 suas préprias bases, fortalece-se pela facilidade de teforgar-se, tan mals dificuldade para se juntarem as dernais e o sucesso I cabega, 0 defensor pode contar com forgas adicionais in facilmente e possivelmente mais motivadas, A partir de corto p E bastante dificil —, 0 p esse ponto Clausew' Atingido 0 ponto cul o prosseguime: —, Seu prosseguimento compromete a ficar © que fora obtido idade do ataque para além de seu ponto vulminante pode © atacante perca até mesmo 0 que jé havia conquistado nda, a sua capacidade de se defender, expondo-se a um contra. ataque que pode chegar 20 ponto de ocupar parte de seu tenitério, A Persecugao do objetivo l6gico de toda guerra — o desarmamento do inimigo— nem serapre é possivel, em fungo do atingimento do po culminante do ataque. A percepeao do ponto culminante do ataque dove ser uma das maiores preocupagdes do estratogista Nese sentido, 0 ponto culminante do ataque € um fator no mais de moderaglo da tendéncia de ascensio aos exitemios de violéncia, mas de limitacao dos préprios objetivos da guerra, far a propria forga at Spria forga e arrisca a sa‘ ‘* as guerras podem ser. I, que guerras podem ter objetivos dos — a saber, a destruigao efetiva das Toreas armadas do inimigo — ou limitados — a posse e conquista 6 Guia de Estudos de Esra desta ou daquela parte do terrt6rio inimigo, na maior parte dos casos. 5, mais a guerra tenderd a se forma exigida pelo conceit a guerra tenderd a se afa imo fator moderador da ascensio 403 extromos de violéncia: para objetivos limitados, uma violencia proporcional Apresentou-se assim, em suas linhas gersis, a teoriaclausewitziana, assunto, mas apenas introdi propésitos desse Guia. C a0 Da guerra: € neces jo e a seus intérpretes. A incompatibilidade entre Jomini e Clausewitz Hi ainda, en . outros pontos que devem ser apresentados, a fim de que se tenha uma visio mais abrangente do significado de Clause- witz. Com isso . pode-se mais facilmente estabelecer um quer contribuigées, evitando, no entanto, justapor idéias de bases con- jernativamente, produ ¥4 foi dito que Clausewitz considerava 0 combate como a atividade cessencial da guerra. De falo, isto é tio forte na sua construgio tedrica que oricnta mesmo a sua anslise e definicZo de alguns termos ¢ pers pectivas centrais, como, por exemplo,tética e estratégia. Enquanto para ‘esos termos S40 estanques, sem outro relacionamento que nfo de serem todos cles “partes da arte da guerra”, para Clausewitz, igagdo 6 dada pelo proprio combatee que * (0 Fundadores do PensamentoEstratégico 85 tém uma relagio de interdependéncia muito estreita, sendo imposstvel pensar um sem ter em mente sua conexio com 0 outro. Os melhores exemplos so as definicGes de tética ¢ estratégia de cada um deles. ‘Tomem-se inicialmente as definigdes de Jomini. Pera ele, a estra- (6gia € “a arte de fazer a guerra sobre o mapa”; a tética admite wina epartigao entre propriamente dita e ‘grande tética”. Grande tica é “a arte de alocar tropas sobre o campo de batalha de acordo com 08 toe a arte de Iutar sobre o terreno, em distingdo a planejar sobre o mapa”™*, ‘Em outro ponto, no entanto, estratégia é apresentada como send ‘a arte de se trazer a maior parte das Forgas de um exército para o importante do teatro de guetta ou da zona de operagdes"”". A tética seria “a arte de usar estas massas nos pontos para 0s quais foram Jevadas por marchas bem realizadas; € dizer a arte de fazé-las atuar no momento e ponto decisivos do campo de batalla" No entanto, é dificil conciliar este entendimento com as se passagens, por exemplo: ‘ecugio pertence & tética, [ainda] que sua con- [pertengam] & estratégia™* icas, € trazer 0 gross0 da 0 inimigo, sobre aquele ponto portantes”™, Guia de Estudos de Estratigio De fato, © cariter particional das definigdes jominianas adr leituras que so expressas num jogo de relacionamentos de di comega com detalhes, ¢ ascende as combinagbes ¢ ages necessérias a formatura ¢ manejo de um grande exér- As miiltiplas definigdes, muitas ve7es contradit6rias, do que seja tética ¢ do que a ela pertenga em Jomiini obrigam a inferir, a partir de algumas observagbes, o que ele entende pelo termo. A primeira refe~ ia a tética diz respeito & stua natureza como uma das partes da arte ica das armas?” (armas enten- idas como infa nfatiza que a fe quo insirui a organizagiio de “um grande exércite téticas de batalhas e sitios, circunserevendo em diversas pass valor de combinagdes téticas no campo de batalla e a espex tética de uma variedade de operagies como, por exemplo, a passagem de ios, a escol a em Jomini fica aberto i interpretagao de seus feitores, que podem escolher o que quiserem entender como “tética” para Jomi partir destas passagens, Contrastem-se 05 Clausewitz, Paraest enguanto estratégia & ra™. A idéia de Observe-se que a defini¢ao clausewitziana de estratégia depende 6a de tética, e ambas estio dirctamente relacionadas com 0 combate, que, como fo dito, € para Clausewitz a atividade essencial da guerra. Note-se que a definigdo do “propésito da guerra” é uma questdo ica, evidenciando assim, mais uma ver, a com- (s Furdadores do Pensamento Esvatigiea tos fundamentais, e no simplesmente oferecer uma termin 0 € 0 seg em 0 desejo de que suas deciso na guerra, a maneira pel Clausewitz pretends fundamentalmente educar 0 comandantes, mostrar os relacionamentos entre 0s c clementos presentes na guerra, suas constantes © variagées, pois, considera a guerra algo excessivamente complexo pata que se possa sobre ela fazer prescrigGes de caréter geral. Jomini afirma 0 contririo: pretende ensinar como produzir vit6ria, e para tanto expoe um sistema ncfpios a serem seguidos por coman- vvitdria na guerra, Para Clausewitz, no ‘uma regra ou conjunto de regras que leve necessaria- idade da guerra é pautada pelo pelas forgas inimigas € pelas * coragem para tomar decisdes diffceis; * perseveranca para prosseguir em situagdes desfavordveis; © iduzir € restaurar forgas com moral baixo*, io desse contraste entre os dois fundadores do pen- samento sistemético sobre a guerra, cabe ressaltar 0 seguinte paradoxo: enquanto para Clausewitz, um tecrico inscrito na melhor tradiglo a, nfo existe nem pode cxistir uma ciéneia da vit6ria na guerra, sendo sua condugio o espaco da genialidade, para Jomini, um artisia da persuasio, a guerra tem princfpios ctemos, de universelidade ¢ Validade cientificas, cujo cumprimento por si s6 assegura a vi 41, Chausewite, On War, p.115-31 ‘Guia de Estudos de Estrategia reba que 0 que esta em jogo no é uma questio iio de método, Tome-se te desafio luz da teoria de Clausewitz nada dizia sobre 2 perspectiva de vitéria ou derrota da guerritha, informando tratar-se de um tipo viel de guerra na qual o povo prescindia de forgas armadas e governo formalmente organizados, acessando, desta forma, recursos que normalmente no poderiam ser mobilizados para a luta. Desta pesspectiva, H. Summers, por exemplo, pode americana no Vietn’ exatamente pelo cont povo-governo-forga dos viet metas politicas, as opgdes mi América’, Para um estudioso que compreenda Clausewi dos Estados Unidos néo se deveu forma do conflito — mas sim 20 daquela guetra uma guert ‘era ocupar o Vietnt do Si ceaso dos Estados Unidos, que s6 ao govemno do Vi Si imitados no apoio yesar da desrota americana no lausewitz se aproximaria da 19 prévio sobre se a guerritha seria fidades de guerra do Afeganistio sem um ‘osa ou néo, buscando identifi ios de ambos os lados, isto é, os limites no interesse px alternativas militares disponiveis para cada um dos lados ‘empenho de seus povos. ‘Uma postura diferente reflete o enfoa) Por um lado, a stio da forga para 0 exereici combate sem abrir mio da luta, a0 se iniano diante do mes- tos europeus do a foi a de negar ado, se abtirem a derrotas fragorosas 1 sua existéncia e, como rest 42, Sunaves, Hany G. On Sraegy. Nove York, Deli, 1882. eT 0s Fundadores do PensamentoEstratégho 29 ‘quando a insurgéncia péde amadurecer solidariedade politica, apoio lar e forgas armadas proprias, j& que 08 exércitos fingiam estar de bandidos. Por outro lado, a tradiglo jominiana buscou, na auséneia de uma solugio para o problema da guerrilha, enquadré-la les e clara na qual 08 resultados da forma de contidos. Isto implicava, de a de descrever ou analisar 0 volvimento da guert tava no resultado final do ‘quando as forgas guerrilheiras travavam batalhas convencio- a leitura da guerritha como prati- jomini € muito reticente — a sempre vence”, O crucial ura reside na alegada cap - 4 sempre derrotado — e guecrilha ~~ que sempre vence. Assim, as leituras jominianes transferiam 90 comandante na ‘cona de ago 0 Snus de aferir se os reclamos populares eram desordem fe matis elementos ou, de forma Fata era uma proposigao taut idenciava-se que ela nto era uma gue se que se enfrentara um inocentava-se © comandante que perdesse, poi guerrilha sempre no se buscou dar a aparéncia de rigor Aquela afirma- simples e fécil: a guerrill de ser defendida se, aulomaticamente, sargencia for derrotada nfo forem considerada assim, 0 efetivo controle prussiano do teritério francés durante fa guerra de 1870-71 nifo podia rado como um caso de derrota de uma guertilha, jf que isto con! {ei da guerrilha. Da mesma forma, os sucessos briténico ¢ francés jeram que ser renomeados nfo como @ derrota jos, onde uns po da guer agitadores e maus elementos haviam perturb: jominiana, perdida em nosso tempo, tomava tais casos para afirmar o 90 Guia de Estudos de Estratégia © modeme, a guerritha sempre perdi. raturas falsamente ‘com a obra original: 0 de querer previstio do Em seguida, passa-se ao exame dos dois principais fundadores do estudo da guerra no mar, j4 amentos, para o mundo mi Capitulo 3 Pensadores da Guerra no Mar resisténcia estratural ane de 6 2 8 meses do an fe tee gsiat eee gue tor asta eae mac Guatse poet milicias voluntérias por curto period de tempo, ou de pequeno mimero de escravos de forma permanente); pela extrema depend Dase (pela necessidade de dar quartéis de inverno para as para reparo das frotas, jé que nfo era fécil mover os artesdos e materiais de um lugar para ouiro); pelos armamentos, que impunham uma ding ica de enfrentamenio dominante indistingufvel da luta de infantaria nos conveses e, por outro lado, @ permanente op¢o de abicar emma praia e utilizar os navios como fortificagdes de campo.

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