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i » ~ toe DESENHO URBANO CONTEMPORANEO NO BRASIL VICENTE DEL RIO WILLIAM SIEMBIEDA organizadores : i de ednor ov don snore a ocostncia do eventual pandas 68 Sa, Neoeseericn ur eam orgs mo wo desta pias. evo, & Sree eet et 930) | CONTEMPORARY’ Goppignt © 2009 by Vicente del Rio and Win ‘Alvighs rxerved Mint: Unversity Pres of li, 2009 ISBN. 978-0-8130-3536-9 i Direos exclusivos para lagu portaguesa Copyright © 2013 by ETC = Livros Téenios Cieniicos Eltora Lida, ina caiorsimegrante do GEN | Grupo Editorial Nacional Reservas todos 0 diets poibidaaduplicaio ou reproduso deste volime, no todo ar pane, sb gualagoer formas ou por qualquer mcis cletonico, mecknice, av35%0, Pecan distrib me internet oars), Sem pemisio express da eto remense 36 Dron Roo Jens RD CHP 2006000 ees 21-349-0790/ 1-S08D0770 Fav 213583. 0896 leg rupogen comb we teeters coo. Cope Leta Lite Tetras da ap Piotr de Li Carts de Menezes Toledo Toss de aberara de pare Christin Monnerat Brno elenbela: Design Monnet CIP-BRASIL. CATALOGACAO NA PUBLICAGAO ‘SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ. D486 Desenio ubano contemporineo no BrasiVorganizadores Vicente del Rio e William [tradugdo Denise de Alcantara. - 1. ed. - Rio de Janeiro : LTC, 2013. Siembied: 28m, ‘Tradupto de: Contemporary urbanism in Brazil: beyond Brasilia Incuibibliografiae indice ISBN 978-85-216-2255-0 1, Desenho urbano - Brasil 2. Urbanismo - Brasil. I. del Rio,Vicente, 1955- IL Siembieda, William J. 13403249 CDD: 711.43 DU: 711.432 INTRODUGAO 0 Contexto do Desenho Urbano no Brasil Vicente del Rio objetivo desta introdugso ¢ prover um entendimento bésico sobre a evalucso do desenho urbano ‘no Brasil como pratica profisional sistematica, do surgimento do modernismo 205 nossos dias, ‘com a ampliacao da nocéo de intervencao urbana, passando pelo periodo militar e pelos movimentos de redemocratizacSo do pais. Nesse sentido, deve ser vista apenas como um brevissimo ensaio, uma vis8o particular que no pretende anise exaustiva ou muito menos conclusiva,tarefa por demas pretensiosa ‘© que demandaria ~ com a imensidao e a historia tao complexa do Brasil - pelo menos uma obra propria com varios volumes! A ideia, portanto, é expor os fundamentos historicos das diferentes abordagens que lidam com a cidade brasileira contemporénea, auxiliando na compreenséo dos contedidos e das implica- ‘bes dos casos discutidos nos capitulas posteriores. Esta introducao foi particularmente importante na edicAo original deste livro nos EUA, pois praticamente 1no hé publicacBes disponivels em lingua inglesa que discutam o mesmo perfodo evolutiva do urbanismo edo desenho urbano brasileiro, embora vérias ~ partcularmente aquelas que tratam da arquitetura ‘modernista brasileira - abordem projetos ou quest6es especificas. Na medida do possivel,fizemos uma revisdo dos principals trabalhos publicados, apresentados nas referéncias bibliograficas, de modo 2 pos- sibilitar aos letores estudos mais aprofundados. Notamos que essa ¢ uma tarefa cade vez mais dificil no Brasil, dado 0 grande nimero de publicagdes e pesquisas na drea nos ultimos anos. Além disso, como. tentendemos que a histéria do desenho urbano no pode ser dissociada de urna compreenséo maior do ‘quadio de desenvolvimento politico, econdmico e social 0 presente texto também busca cobrir as prin- Cipais correlacbes entre esses tOpicos, Desde os primeiras esforgos para criar uma nacao avancada, desenvolvida e comprometida com 0 para- digma modernist, o Brasil cracia @ pela equidade social por meio da cons- ‘urbano contemporaineo brasileiro aceita 0 modernismo como um dos trugao da cidade. 0 desent possiveis modelos para entender e atuar sobre a cidade, mas adota ainda outros modelos igualmente ‘validos. Do discurso rigido, positivista, reducionista € universal do movimento mademo as mudangas fragmentadas, pluralistas e muttfacetadas das sersibilidades que caracterizam 0 pés-modernisma (Elin, 999; Dear, 2000) e os processos transnacionais de globalizacéo (King, 2004), 0 desenho urbano con- ‘temporaneo brasileiro vem se recriando e permite a coexisténcia de logicas territoriais miiltiplas na busca ‘usta auxlllar no enquadramento dos estudos de caso em uma perspectiva mais ampla e, assim espe- ramos, contribuir para explicitar por que 0 desenho urbano contemporéneo brasileiro se tornou capaz: de absorver perspectivas e possibilidades mUltiplas, razao pela qual o percebemos como pos-moderno. O Nascimento do Urbanismo e Desenho Urbano Modernos no Brasil ‘© caso de amor do Brasil com 0 modernismo é longo e Intenso, e ainda esta profundamente ar em todas as esferas culturais de nossa sociedade. Como em outros paises latino-americanos, no vistas cada vez mais como “parte de um pacote mais ambicioso de refo as estruturas sociais” (Almandoz, 2002, p. 17). De fato, © modemnismo no Brasil nunca teria se d ‘volvido to rapidamente e de forma tao intensa sem 0 patrocinio das elites e @ instalacao de um Est nacionalista, vindo a servi como ferramenta fundamental para a promoséo da visdo oficial de progresso, ‘Com a revolucao de 1930, a ditadura Vargas e, depois, o Estado Novo (1937-1945), o modemismo forne- ceria 0 vocabulario oficial perfeito para os projetos e edificios governamentais, A dedicagao do Estado Novo 3 modemnizacéo do aparato de Estado, ao desenvolvimento do pals e 3 criago de uma base econdrmica industrial deveria ser acompanhada por uma nova simbologia que representasse uma nacao jovem, ava de vis nacionalista e em processo de industralizacéo. Essa nova eta politica foi fundamental pare 0 j ‘grupo de intelectuais, arquitetos e artistas brasileiro que jéciscutiam 0 modemisino nas artes e na litera modernistas pioneiros, 20 perseguir 2 nogdo de braslfanismo ‘@ metéfora do canibalismo pare definir a relacdo do Brasil com a cultura europeia: uma ingestao deli i seletiva, pela qual um produto estrangeio era transformado em algo diferente, tipicamente brasileiro. ESSe ideal, assim como a busca por uma nova identidade nacional, iia definir o caminho tomiado pela arquit a € 0 urbanismo modemnistas no Brasil, Como observa Cavalcanti (1995, p. 179), a eventual “vitoria” dos arquitetos modernos no Brasil deveu-se, fundamentaimente, @ que eles “possuiam um projeto de nagao, incomparavelmente rais globalizante, sofisticado e incluswvo da complexa realidade brasileira”. ‘As conturbadas e intenses transformacbes politicas, socais e culturais no Brasil do final dos anos 1920 € ‘comego dos 1930 levariamn @ institucionalizacao de um ideal de modernidade e aconteciam ao mesmo ‘tempo em que o urbanism comecava a se definir como camipo espectfico de atuacéo. Trés planos urbanos, desenvolvides praticamente a0 mesmo tempo, foram emblematicos desse momento e refletiam bem a vido de Vargas e seu regime: os panos Agache do Rio de Janeiro, de Goiania e de avenidas de So Paulo. (© chamado Plano Agache? resultou das preocupacdes das elites cariocas pressionadas pelos crescentes: problemas urbanos e pela necessidade de consolidar a imagem da cidade como espelho da cultura e portal de entrada do pals (Rezende, 1982; Stuckenbruck, 1996; Ciiveira, 2009), Convidado pelo entéo prefeito Prado Jinior para uma série de conferéncias no Rio de Janeiro em 1927, Alfred Agache, importante urba- nista francés da época, fo logo contratado para desenvolvero primeiro plano diretor da capital, Agache, 0 primeiro a utilizar-se do termo urbanisme como uma ciéncia aplicada as cidades, foi um dos fundadores da. -associacfo francesa de urbanistas e, em 1913, havia conquistado 0 segundo lugar no’concurso internacio= ‘nal para 0 projeto de Camberra, nova capital da Australia (Underwood, 1991; C. Bruant, 1996). Aprovado em 1932, 0 Plano Agache, primeiro plano diretor realizado no ars em suas propos (eko-spacal, mas tambln Ta UR fake Deieen oe Ce oC '0¥8 abordagem de compreensao da cidade baseada em anaise exaustva de inaicadores socials e econémicos ~ fato inédito pare a época, "Sobre a influénca inicial do urbanismo europeu no ‘ perera GOOt} © Ainsace omjbanisme eurepeu no Bras e em outos paises atino-amercanos, ver Leme (1998), 5 Dficlalmente intitulado Cidade do Rio de Janeiro ~ Extensdo, Remodelacéo, (as pela Administragdo AntOnio Prado Jinior, sob a DirecSo Geral de Alfred. Olvera (2009) para excelente resumo co @ institucionais da dnaca = eae SSS See Embelezamento. Organizagoes Projeta- ‘Agache (Paris: Foyer Brésilien, 1930). Ver om minuciosa andlise histérica dos pracessos nolticas Introdugéo | ontextodoDesenhoUrbanono Bras 3 i a ve Soeremcon— UWOS& OOPS 4 Semone 12 teeta a 13 pina co cao Fla © Pano Aoscieprac Roe reo pepe dene tl end moxtndoopncos| ificios elementos ufoanos. (Desenho original adaptado por Vicente del Rio) ; Ly busomersizato » Propunha um zoneamento _rigido, cidades- satélites para_as classes operaries, planos infra- ~wiruras para toda 2 cidade, impressonantes Jezamentos urbanos e uma total renovacao ‘do centro para ser 0 portal do Brasil (Figuras I.1 € 1.2). Madernista no sentido de buscar uma cidade ideal em que as mudancas fisicas conduziriam a mudangas sociais (Rezende, 1982; Pereira, 1996), © Plano Agache se tornaria vitima das intensas transformacées politicas na decada de 1930, que acabariam identificando-o com a Republica Velha, levando a0 seu engavetamento, embora tenha sido mantido como referéncia dos trabalhos pos- teriores (Rezende, 1982; Stuckenbruck, 1996; Oliveira, 2009). Agache acabou estabelecendo escritério no Brasil e vir a fazer planos para outras cidades brasileiras, tais como Curitiba e Vit6ria, ‘empreendimentos urbanos, como o bairro paulista de Interlagos (Underwood, 1991; Leme, 2002). Outro importante exemplo de urbanismo da pace Vargas fo! a construcio da nova capital do. Figura L2 Galeria de pedestres:no centro do Rio ® oe aon Gatos vesgios des propots do Pano (“)-) $58 em 1933, sac Goto de Vente del RO) im gesto de rupture smbdica com as antiges 2 Sooo “apenas aan 2 een mmaas Seen son Figura 1.3. Perspectiva da epoca de inauguracao de Goidnia, mostvando o projeto do centro administrativo como’ visualizado por Attilio Corréa Lima, (Arquivo Gustavo Capanema, foto 491-8: Acervo FGVICPDOC ) ligarquias rurais e um Golds arcaico e o estabelecimento de um novo centro para apoiar a “Marcha para © Oeste”, politica do governo Vargas para acelerar 0 desenvolvimento do Centro-Oeste (Borges, 1995; Daher, 2003). A modernidade do projeto original de Attlio Corréa Lima = escolhido pelo interventor indi ‘cado para governar o estado — for influenciada pela escola francesa de urbanismo, pois, aps sua de arquiteto no Rio de Janeiro, ele fe7 pos-graduacao no Instituto de Urbanismo da Universidade de Pars Englobando uma rea de 1.000 hectares, 0 projeto previa uma populacdo de 50.000 habitantes, cu da localizacdo e composicéo arquitetOnica dos prédios publicas e do centro administrativo (tendo Versailles ‘como referéncia) com as sedes dos governos estaduale municipal, propunha zoneamento menos rigido do ‘que pregavam os madernistas mais extremados e inclula uma cuidadosa hierarquizaco viéria em estrutura aberta, conectando as avenidas a z0nas de expansao (Figura |3). Discordancias com a empreiteira da obra levaram 20 afastamento de Corréa Lima em 1935, sendo a implantacio do plano assumida pelo enge- rnheiro Armando de Godoy, que o modifica sobretudo em sua parte sul, inspirado nos sublrbios jardim2 Enquanto isso, em 1930, $20 Paulo conhecia o Plano de Avenidas, influenciado pelas demandas da circulacao viaria moderna € pelo nascente planejamento de transportes americano, elaborado pelos engenheiros Francisco Prestes Maia © Ulhda Cintra (Leme, 1999; Pereira, 2002). Foi a primeira vez que a cidade de S40 Paulo era pensada como um todo, com projeto de organizacéo espacial baseado num modelo ideal radiocentrico, baseado em avenidas perimetrais eradiais (Figura .4)- Interessantemente, +s modficacbesinserdas por Godoy ja constam de planta mais publicada de Goidnia, Para excelente estudo sobre © projeto orignal, ver Daher, 2003. Curiosamente, er gerel ess panta aparece pubicada com o norte votado para BsbO {como em Bruand, 1981). 4 Maia, Francisco Prestes, 1930. Estudo de um Plano de Avenidas para Sdo Paulo. Sao Paulo: Melhoramentos. * Para um estudo completo da obra de Pestes Maia, vea-se o lv Prestes Maia eas Origens do Urbanism Modemo Introducio 0 ContetodoDesenho Urbano no Bras 5 Figura La lustracdo do esquema teorco do Plana de Aversdas para ‘0 Paulo, mostrando 0 modelo radcenitico, suas avenidas © parkiays, parques e pontes. MANA, Prestes. 1930. Introducso a0 stud de um Plano de Avenida para a Cidade de Sz0 Paulo. Sto Paulo: Melhorementos; p. 52) ‘apesar da modernidade do plano com suas parkways ao longo do Rio Tete previsdo de linhas de metro, sua arquitetura ainda inspirava-se no estilos clésico ou renascentista rionumentalzados. Prestes tera @ chance de iniciar a implantacao de seu plano quando prefeito nomeado de 1938 a 1945, durante pratica- mente todo 0 Estado Novo e, depois, como perfeitoeleto em 1961. As propostas visas progresistas do Plano de Avenidas influenciaram 0 planejamento da cidade e diversas obras pablicas durante mits anos. Piojetos similares foram elaborados em todo © pais segundo o discurso positivista do modernismo, pet- sequindo a ideia de promocao do desenvolvimento, de disciplina social e de ordem por melo do desenho urbano! No Rio Janeiro, por exemplo, Vargas se enluslasmou Cora proposia Ge ura nove avenids ‘monumental na érea central ~ a atual Avenida Presidente Vargas ~, que, com seus 60 metros de largura, estruia 20 Blocos da antiga morFologia colonial e quase mil edificios residendials, substituindo-os por Je 25 pavimentos, coladas lado a ado, em ambos os lados da averida,Interessante E que 0 pidjeio da Avenida Presidente Vargas retomou elemento Agache, como a galeria coberta para pedestes, as passagens em miolo de quadras e as areas pUblicas internas das quadras, “Além disso, durante o Estado Novo, departamentos de urbanismo foram criados nas principais cidades \. brasileiras, 05 primeiros cédigos de zoneamento urbano foram aprovados e muitos urbanistas foram nomeados prefeitos por Vargas (Leme, 1999; Outtes, 2002). Tanto Vargas quanto a agenda poltica do Estado Novo reconheciam a importancia do incentivo 20 progresso nacional, da difusdo dos valores da classe média eda educacBo do povo para obter apoio 20 RRASR BI228 pvsevege seco ERIRRRS 6 —_Desenho Urbano Contemporaneo no Brasil — regime. O sistema educacional fi objeto de profundas reformas, incluindo-se a criacao do Minist Educate eae Pica ey 1990, ue tema um fre nsruento na nstiucon sare u tina modernista. A educagdo superior foi expandida, com, por exemplo, a cri ; fc S80 Paulo em 1994 e a reorgorizag da Universidade do bral (Universidade Federal do Rode. eo fem 1938, Com 0 apoio do Estado Novo, um grupo de intelectuais capitaneados por Mario de Andrade, Rodrigo Mello Franco e Lucio Costa, interessados na preservacao da meméria brasileira, cou ap agencia para @ preservacio hist6rica, em 1936. 0 Sphan (Servico de Patrimonio Historico e Artstico ‘Nacional, atualIphan - Instituto do Patrimonio Historco e Artistico Nacional) foi criado dentio da est tura do Ministério da Educacdo e Satide, demonstrando que a preservacSo historica também poderia realizada a servico do regime, no minimo como meio de enfatizar a importancia da modernidade,, Por conta dos ideais modernists do regime, em 1931, logo apds a criacéo do Ministério da Educacao €¢ Satide, © ministro nomeou Lucio Costa, ent3o um jovem arquiteto modernista funcionario do minis- ‘rio, dretor da Escola Nacional de Beles Artes no Rio de Janeiro, com a responsabilidade de reformé-la totalmente. Costa institulir um curso "Tuncionalista” paralelo ao antigo curriculo beaux arts e contratou ~arquitetos e urbanistas modernistas como professores, obtendo sucesso imediato entre os estudentes, Evidentemente, ele também atraiu a oposicéo dos docentes antigos, que acabariam forcando a sua ‘endncia um ano depois, mas nao antes deter inspirado um importante grupo de estudantes — no qual se inclufam Oscar Niemeyer e Roberto Burle Marx-, que viriam 2 formar a primeira geracéo influente de arguitetos modernistas. As mudancas no currculo do Rio logo influenciariam as escolas de arquitetura de todo 0 Brasil, € Lucio Costa se tornaria a grande referencia para a nascente arquitetura moderna brasileira (Durand, 1991; Cardoso, 1996). 0 modernismo também dominaria os debates do_ primeira __ Congresso Brasileiro de Urbanismo em 1941. logo seria institucionalizado como profissao especifica ~través da criagéo do primero programa de pés-graduacéo em urbanismo na Faculdade de Arquitetura dda Universidade do Brasil (hoje FAU) no Rio de Janeiro, em 1945. Como observam varios autores, @arquiteturae o urbanismo maderno no Brasil muito devem as visitas de Le Corbusier ¢ sua influénca sobre os jovens arquitetos brasileos. © alinhamento de seu simbo- lismo e do seu discurso aos abjetivos do Estado Novo foi fundamental para 0 reconhecimento politico do modernismo e sua adogio como vocabulério arquitet6nico oficial dos edifcios governiamentals € da educacdo em arquitetura. Um bom exemplo foram as imbricacées palticas do famioso concurso de anteprojetos para o novo edifiio-sede do Ministerio da Educacao e Saude (hoje MEC) no Rio de laneito, em 1935, que deveria ser um icone méximo da ideologia de um Brasil modemo do Estado Novo. 0 projeto escolhido pelo ari -em estilo neomarejoara ~ foi reeitado pelo proprio minis, que passou incumbéncia para Lucio Costa, funcionério do minster (Ourand, 1991; Cavalcanti, 1995). Costa juntou tum pequeno grupo de jovens colaboradores e, convencendo 0 ministo a contratar Le Corbusier como consultor, acabou responsével pelo projeto de um dos préios modernistas mais celebrados internacio- nalmente.* naugurado em 1945, além dos avancos arquitetonicos para a época, como o uso de planta lure e brise-soleils, 0 projeto inovava pelo partido urbanistico em centro de terreno, pili lives @ os jardins de Roberto Burle Marx, permitindo grande fluidez entre espacos extemos e Intemos ao nivel do solo e rompendo a separacSo pilblico-privado. Com um agressive marketing profissional, esses primeiros pensadores modernos encabecados por Lucio Costa e Le Corbusier no poupavam crticas contundentes a seus competidores, e foram altamente influentes na consolidasa0 do discurso modernista no aparato do Estado Novo. Dois alvos de suas cr ticas, por exemplo, foram o Plano Agache e 0 projeto da Cidade Universitaria de Marcello Piacentini, arquiteto italiano que logo depois vila a se tornar o preferido de Mussolini. € interessante notar que, fem meados dos anos 1930, apesar de sua atracao pelo modemismo e pelo que ele poderia representa * Ocrupo inciua Affonso Eduardo Rei ‘Sor iy, Cals Ledo, Jorge Machado Moreira, Ernani Vasconcellos © Oscar Niemeye, Introdugho|OContet dDesenho tone no Brasil 7 em termos de progressismo, o Estado Novo comparthava razes populist filsbficas com 0 fascismo, como 0 do regime de Mussolini, © que o atraia para o estilo monumentaista de Pacentini. que ficava entre 0 neocléssico 0 racionalismo italiano, Esse foi o estilo adotado no novo edifcio-sede do Minstrio do Trabalho ~ ministéio polticamente fundamental pare 0 governo Vargas ~ por exempl, localizado {em quarteiréo contiquo 20.do MEC, construido praticamente ao mesmo tempo (Cavalcanti, 1995). Com altura equivalente a dezoito pisos e adotando pesado e monumental estilo neacassco, ele ocupa todo lum quartergo e possui imponente escadariaconduzindo 20 pético de entrada frontal, adornado com colunas doricas de quase dez metros de ature. No caminho para visitar um diente em Buenos Aires em 1929, Le Corbusier fez sua primeira vista 0 Brasil, por sua propria iniciativa, e percorreu quatro cidades, incluindo Sao Paulo e Rio de Janeiro, Etave atraldo pela possibiidade de obter novos trabalhos, particulrmente porque tinha ouvido sobre o deseo brasileiro de construir uma nova capital e por causa da presence de Agache no Brasil, seu competidor Deslumbrando seus sequidores, dentre os quais se destacava Lucio Costa, Le Corbusier proferiu palestras fundamentadas em sua Cité Contemporaine e outros projetos, fazendo dlversos croaus da palsagem ¢ das mulheres cariocas, Alguns estudiosos apontamn que essa vista foi decisiva em sua carrera, momento a partir do qual seu vocabultio comecou a adotar formas mais curilineas. Fraser (2000, p. 10) observa que, impressionado pela “paisagem maior que a vida", Le Corbusier adaptou sus geomet rigid e suas igantescas vias expressas 8 topograia curvnea (Figura 5). Em 1936, ele realzaria sua segunda viagem 20 Ro, como consultor no deserwclvimento do projet para oedifcio do Miristério da Educacso e Saude. [Nas décadas de 1940 e 1950, quando o madernismo estava em seu auge, o mundo admirava 0 “estilo brasileiro”. © prédio do MEC, o celebrado Pavilhao Brasileiro na Feira Mundial de 1939 em Nova York projetado por Lucio Costa e Oscar Niemeyer, 0 complexo residencial no Paraue Guinle de Lucio Costa no Rio (1948), o complexo da Pampulha em Belo Horizonte (1940) e 0 Parque do Ibirapuera (1951) de Oscar Niemeyer com paisagismo de Burle Marx, ¢ tantos outros edificios mademos, tornar-se-iam fcones intet= nnacionais do modernismo brasileira e exemplos de uma perfeita adaptacio dos principios da arquitetura moderna as condigdes locais (Fraser, 2000; Decker, 2001; Andreoli e Forty, 2004), A politica de “boa _ainhanga" dos Estados Unidos dos anos 1940 e 1950, a expos e ocatalogo Bra Builds do Wise Ge Arte Moderna de Nova York (Goodwin, 1943), 0s los de Stamo Papadakis sobre a obra de Niemeyer (1950) e de Henrique Mindlin sobre arquitetos modernos brasileros (1955), além de inumeras revistas nos Estados Unides e Europa, ajudaram a divulgar @ nossa arquitetura (Durand, 1991; Segawa, 1998). ‘A plataforma politica de Vargas inclulao financiamento ea construgao da moradia social através de recur 0s levantadios pelos fundos de pens80 e insttutos de seguridade socal igados ao Minst@rio. do Trabalho, figura 1 Ciogus de propos rbnsica de Le Corbusier para. i dean, o ant asa wage Faure 5 coos de ops gto sodovaencrando pede de 1 os sore plas. (OF LC e Cobusecencede por AUT, sl, 2012) 8 —_Desenho Urbano Contempordneo no Brasil tendo 0s mais signifcativos sido desenvolvidos pelo instituto de Aposentadoria e PensGes dos Industrsrios (Bonduki, 2012; Segawa, 1998). Proporcionar habitacao para a classe trabalhadora aumentava a legitimi- dade do regime e estimulava 0 Seu apoio para outras reformas sociais e econdmicas, além de dinamizar (© setor da construcao civil. Diversos desses projetos englobavam entre mil e trés mil unidades, a escala ‘de um pequeno bairro. Entretanto, no se conseguia construir moradias com a tapidez necesséria para acompanhar as politicas industriais do Estado Novo e o ritmo veloz da industrializacéo, que atralam cada ‘vez mais imigrantes do campo para as grandes cidades. No Rio de Janeiro, por exemplo, a década de 1940 registrou o maior crescimento de favelas, que chegaram a 105 em 1948 (Abreu, 1987), itos modernistas dos CIAM, juntamente com 0s principios de unidades de vizinhanca de Cl jde 1929, quiariam a habitacdo social no Brasil. Embora em quantidade insuficiente par. fade, esses projetos de habitacdo social obtiveram efeitos significativos @ permitiram a experimentacao criativa com os novos conceitos modernistas (Bruand, 1981; Segawa, 1998; Bonduki, 2012). Nesse periodo também se inicia a construcao de conjuntos de grande porte, quase todos localizados em subUrbios de grandes cidades como Rio, Sao Paulo e Belo Horizonte, Prova da qua- lidade e originalidade desses projetos foram os diversos prémios que receberam durante o Vi Congresso Pan-Americano de Arquitetos em 1940, realizado em Montevidéu, e a quantidade de importantes arqui- ‘tetos modernistas envolvidos com essa questéo, como as irmaos Roberto, Alvaro Vital Brasil, Rubens Porto, Attilio Corréa Lima, Flavio Marinho Rego e Affonso Eduardo Reidy, Este ultimo, que havia sido estagiario de Agache durante a elaboragao de seu plano para o Rio de Janeiro, foi responsavel pelo rojeto de habitacao social no Brasil de maior fama internacional: 0 Complexo Residencial Pedrequlho, 10 Rio de Janeiro, construido em 1947 7 (Segawa, 19 1998; Cavalcanti, 2001; Recaman, 2004). Projeto de ‘escala urbana significativa, inclufe 478 unidades habitacionais e um longo edificio curvilineo sobre pilotis @ acompanhando as curvas de nivel, compondo uma unidade de vizinhanca que inclufa escola, creche, centro de satide, um parque e uma piscina (Figura 1.6). De forma similar ao que ocorria em outras partes do mundo, o modemismo impunha-se como o vocabulério de projetos de baixa renda, 0 que se conso- lidaria no mesmo periodo em que se construla Brasilia. De 1937 aos ang 0s ambiciosos programas econdmicos, industrial e de desenvolvimento nacional iniciados em 1956 pelo presidente Juscelino Kubitschek - que como prefeito de Belo Horizonte havia construldo o complex dda Pampulha — inclulam a construcéo de uma nova capital que deveria nao apenas ser um simbolo do progresso nacional, mas também um meio de atrair desenvolvimento para o interior do pals. A l6gica >a we ESS, tim Figura 6 Complex Reside Pedreguho, Rio deri, 1947, il Pereguh, Re delanro, 1947, «projet de Afonso Rey que se tomou cane da habitagao social modernista. (Foto de Vicente del Rio.) ip : Introducio| 0 ContetodoDesenho Urbano noBrasl 9 ‘eritorial era desenvolver e moderizaro coracao do Brasil e povod-lo com populagbes das varias regioes 0 pas. 0 programa de Kubitschek fol essencial na consolidagdo do modernismo Sua estraté- “aja econdmica obteve sucesso na promocdo um otimismo genealizado e no estilo a industilizacso, ‘mas também acélerou a mhigrag8o para areas urbanas e a urbanizacao. Taig © direcionamento de Vargas, ¢ posteriormente Kubitschek, para a industrilizagio fol determinante 1a exploséo populacional das principais cidades brasileiras nas décadas de 1940 e 1950. Abreu (1987) ‘observa que 2 regio metropolitana do Rio de Janeiro cresceu 103% entre 1950 e 1960 e que nessa década 53% de sua populacao era constitulda por migrantes ~ metade dos quais habitava areas peri- {ericas do Rio, a maioria em loteamentos ilegais, aqueles sem titulos de propriedade, construidos sem ‘aprovacdo oficial sem a infraestrutura que 0 empreendedor imobiliario deveria fornecer. A situacao era similar na regiao metropolitana de Sao Paulo, cuja taxa de crescimento entre 1950 e 1960 foi de 6,17%, ‘enquanto no Brasil como um todo ela foi de 3,04% (Meyer, Grostein e Biderman, 2004). A confianca no crescimento econdmico € © positivism modernista guiaram a logica de dois projetos paradigmaticos no Rio de Janeiro que ajudaram a definiro ritmo do desenho urbano moderne brasileiro, ‘ambos sob @ tutela de Affonso Reidy como diretor de urbuanismo da prefeitura. © primeiro foi projeto para a Esplanada de Santo Antonio, érea resultante do desmonte do morto de mesmo nome e uma rea de casario do centro historico (R. Magalhées, 2008; Andrade, 2010). Inttulado Centro Civico Municipal, previa diversas edificacées de cunho piiblco-administratvo, inclusive uma torre, quatro blocos comer- Giais, um longo edifcio residencial sinuoso e os equipamentos sociais tipicos de uma “unidade de viz nhanc2”, Ancorado num plano mais amplo que incluia a construcéo de duas vias expressas cortando 0 ‘centro e conectando-se com a Zona Sul por um aterro ao longo da ora da Bala de Guanabara, 0 projeto era tipico da aplicacao dos rigidos preceitos modernists, desrespettava 2 morfologia preexistente e €P nao promovia a integracéo com o entorno. © projeto nunca foi plenamente realizado, mas seu espiito modernista permaneceu na area “loteada” para grandes torres comercais, principalmente empresas estatais (Andrade, 2010) (Figura 7) ‘Avia expressa Diagonal (atual Avenida do Paragua) promoveria uma grande enovacao urbana no cento “do Rio de Janeiro, integrava-se & Espanada de Santo Anténio e interligando-se 8 via parque, ou parkway, {20 espiito da engenharia de trafego norte-americana, sobre um aterro 30 longo da Bala de Guanabara, Convente de SsmeRntnio arn da Gon ‘Centro Chico Municipal na Esplanada de Santo Figura 17 Projeto de Affonso Reidy para o Rio de Jane'ro, 1938. 0 Centro Civico Municipal na TAmnénio seria igado pela Avenida Diagonal (clevada) a uma parkway e a0 Parque do Flamengo, que se concretizaria hos anos 1960, tlustracao de Vicente del Rio apud Andrade, 2010/ Revista Municipal de Engenharia.) EP lee ae corruldade das vs press assim coro a legato urbana mode nsprade plo roto SF tae se Capanaa de Sato anno, loaner evogido Ns ars 380 com ih, ave mol a erie ( Napaaes, 2008), Vr ote de Vented Rio Antara sobre o Preto or Ctra no Capitulo 1 10 _Desenho Urbano Contemporaneo no Brasil Figura 8 Parque do Flamengo, construido de 1962 1964 no Rio de Janeiro: projeto de Affonso Reidy (Gela pretetura) e paisacismo por Roberto Burle Marx (Foto de Sivio Macedo; Projeto Quapa.) de modo a conectar o centro & Copacabana e as areas de expansao da classe média na Zona Sul, 0 aterro fo’ iniiado ainda em meados dos anos 1950, com 0 material do desmonte do Morro de Santo Antonio para a construgéo da citada esplanadal Com projetos urbanistico e arquite- ‘tOnico (passarelas, pequenos equipamentos etc) Je Affonso Reidy, entao diretor de urbanismo a prefeitura, & projeto paisagistico de Roberto Burle Marx, a obra do que veio a ser conhecido ‘Como Aterro ou Parque do Flamengo for iniciada ‘em_1961._ Cortado por vias de alta velocidade @ incluindo éreas de praia, quadras esportivas, pistas de bicicletas e de pedestres e numerosas espécies de plantas nativas, 0 parque tornou-se ‘um importante equipamento de lazer € um icone internacional do desenho urban e do paisa- ‘gismo brasileiro (Figura 1.8). A inauguragao de Brasilia em 1960 representou ‘0 auge das politicas de desenvolvimento e de pouco mais de quatro anos uma cidade inteira foi construlda a partir do zero (Evenson, 1973; Fraser, 2000). Tendo inicialmente oferecido © projeto a Oscar Niemeyer, que sugeri: um concurso ~ mas aceitou ser responsével pelos projetos de arquitetura ~ e, segundo Cavalcanti (2001), recusando uma oferta de Le Corbusier para projeté-a, Kubitschek acabou optando por um concurso nacional de projetos com um jut internacional, Atraindo (0s maiores nomes da arquitetura e urbanismo brasleros, todos com propostas sequidoras dos cénones da Carta de Atenas, 0 concurso para o Plano Piloto de Brasilia acabou sendo vencido por Lucio Costa, Cujo trabalho se encontra amplamente divulgado e discutido,|O projeto da nova capital foi simbolo de profundas transformag6es, representando a realizacao dos sohhos de modernizacio, industriaizaco e distanciamento do passado agrario do pais. Ela representou a maior tentativa de alcancar uma urbaniza- {20 mals equilibrada do terrtorio nacional é acabou de consolidar 0 modernismo no repert6rio cultural brasileiro. Declarado PatrimOnio Mundial pela Unesco em 1987, 0 Plano Piloto considerado a mais (Holston, 1993; Fraser, 2000). “Completa realizaco do urbanismo prescrito pela Carta de Atenas e dos ensinamentos de Le Corbusier A despeito da construcéo de Brasilia e do otimismo gerado pelo desenvolvimentisme do governe Kubitschek no final da década de 1950, o inicio dos anos 1960 foi um tempo turbulento para o moder- nismo, para o Brasil e para a reputacao internacional de nossa arquitetura e urbanismo, A inflagso ea divida internacional ~ geradas pelos empréstimos tomados pelo governo Kubitschek e pela construgio dda nova capital - estavar extremamente elevades; aumentava a inquietacéo politica com a expansso socialista e 0 conflto de ideologias entre valores progressistas e conservadores na classe média. Nessa poca, 0 modernismo ja estava arraigado na cultura brasileira e nos circuitos da arquitetura, aceito no apenas pela elite intelectual, mas também pelos grupos socioecondmicos menos favorecidos. Nos assentamentos autoconstruidos, por exemplo, passou a ser comum ver casas com teto plano ou borboleta e colunas 20 estilo de Brasilia, Porém, em nivel internacional, pouco apés a inauguracao de Brasilia, j4 havia em artigos ou livros pouca ou nenhuma mencéo a arquitetura brasileira, conforme observado em varios estudos (Fraser, 2000; Andreoli e Forty, 2004). Fraser (2000: 2) notou que a Introdusdo |Contact doDesenho Urano no asl 11 ‘EonstrucSo de Brasilia foo cume mas também\o fim de um caso de amor... (de) uma ambigo grande emai ¢ a intelectualidade arquitetOnica dos Estados Unidos e da Europa se voliou contra ele". Por @remplo, Siegfried Gledon, famoso hstoriadore crico a arquiteture que no inicio dos anos 1950 ‘elogiava a arcuitetura brasileira, iderou um grupo de Harvard que analsou os pianos de Brasiae cri ticou 0 governo brasileiro por nao haverconvocado especialstasinternacionais ou Le Corbusier para ajudar (Fraser, 2000). _Nocensrio internacional, a década de 1960 marcouo nio do fim da arquitetura modernists, na medida "Bin que seus ditames autoritarios e seu #fid racionalismo eram cada vez mais criticados por académicos, rofissionais € usuarios (Frampton, 1992; Ellin, 1999). Como interessante contraponto, comparado a0 Fadicalsmo de Le Corbusier, « modernismo brasileiro, principalmente a o inicio dos anos 1960, foi de fato muito mais respeitoso dos models histeics e incorporou alguns de seus elements, como ‘demonstram diversos projetos daquele periodo, e pelo papel fundamental de Lucio Costa e de outros ‘modemnistas na preservac3o do patriménio histdrico brasileiro (Segawa, 1998). ‘Contudo, com as mudancas geopoliticas suscitades pela Guerra Fria © 0 reainhamento dos interesses politicas e culturals em direcao 20 eixo Estados Unidos-Europa, a arquitetura e 0 urbanismo brasleras softeriam com 2 perda de interesse da intelligentsia e da midia por varios anos, até o recente ressurgi- Imento do interesse no modernismo entre algumas importantes publicacbes sobre arquitetura (Fraser, 72000; Deckket, 2001; Cavalcanti, 2001; Andreoli e Forty, 2004; el-Dahdah, 2005). Além do progres- Ssivo desmantelamento do modernismo na arena intelectual internacional, 0 golpe militar de 1964 € 0 "governo militar que se manteve no poder até a metade dos anos 1980 depuseram contra a popularidade {de Brasilia e da arquitetura brasileira fora do pals, pois, como observa Fraser (2000), o simbolismo las ambientes urbanos modernists se adequarar faciimente ditadural A arquitetura monumental, 0 “zoneamento restritivoe os grandes espacos vazios tornaram-se a representagao perfeta do poder de um ‘govemo miltar de excegdo e centralizador. Isso era bem expresso por Brasilia, cujo urbanismo modes segregado ainda conduziu 8 cristaizacéo de um anel de pobreza em torno da érea do Plano Piloto, ma expressso espacial cara da Gicotomma social perversa da sociedade braslera a ot ee stecuinten tered eo eea bona aes Bo 0 arto poten gant prices yea Be ee reetssre RTE fm geal ne ris meampo ane Barer afer pre cts, como oe olson (163) ¢ Nat D0 Dr eames apeccs monies cura ster orptaes saga a trek sade oie cece 193, mE Se a bem ao regime militar € a seus rgaos estatais|A nova estrutura de poder soube se aproveitar da rnatureza autoritéria, de seu funcionalismo e eficlancia tecnocratica, do zoneamento segregador, da fase ao transporte individual de obras pUblcas grandiosas e de sua contnibuigSo & separacio cada vez alor entre ricos e pobres. Militares e 0 Modernismo Tecnocratico indo contra a instabilidade politica e econdmica do inicio da década de 1960 e as tendéncias socia- do govemo Jo80 Goulart, 05 militares toraram © poder em 1964, amplamente apoiados pela ‘média e pelos partidos conservadores. A agenda politica e econémica do regime militar era criar aco paderosa e desenvolvida, com um mercado interno forte e independente. A industrialzaceo, fesse respelio, vero Capitulo 1, de autoria de Kohisdor, Kohlsdorte Holanda, BRGRRG3. BESSE, TRG, PESEPLES, F25RSRR 0 de investimentos e de populacdo em uma rede urbana forte serviriam a urbanizacao €2 concent amo meios para desenvoWere integra o teritério nacional ; emo resuitado do programa militar para o desenvolvimento, de um cpitaliso conduzido pelo Etado fede uma grande entrada de capital internacional, ainflaglo foi reduzida de forma significativa entre +868. 1974, dhide extern basa fo! renegocada, eo cescimento da economia aicangou a més anual de 10%. Nesse periodo de expansso econdmica,apeldado o ces trent estava strelad a0 custo da justia sociale cscep8nc entre ios e pobres de fato aumentou, Mas 0 "milagre" néo teve vida longa: as crises do petréleo de 1973 e 1980, as crescentes dvidas interna! externa eo retorno da inflacéo galopante empurraram 0 Brasil em direcSo a uma crise econdmica entre as décadas de 1970 e 1980, que ira por fim alimentar 2 crescente oposicao & ditadura que levaria © pals de volta 20 estado de dito em 1985, De 1964 até o final da década de 1970, efletndo a esrutura de poder cetralzada dp regime mila o planejamento urbano nacional lresceu (chit, 1983; Sera, 1991; Vilace, 1999) Em nivel nals nal, 3 nove order teou equlbrar o desenvoimentoe reduir as dscrepsncias naira 0 G0Ver8@ federal criou agéncias de desenvolvimento regional - tals como a Sudam ea Sudesul (agéncias de desen- \ohimerto pare 0 Aranonas = Pts & REHED SU Tespectvarete) ~ sequindo © modelo da Sud ‘a Superintendéncia para o Desenvolvimento do Nordeste.® Para praticamente toda area de desenvolv= ‘mento nacional, seriam criadosfundos e prggrames, asm como agEncias nacionalsresponsavels pel fiscazaio de sues pltca e investimentos|O programa nacional para construc de rosovas comps um papel importante nessa agenda nacional, impantando importantes rodoves, mas também faseose Bquivocosambentas ens, coro Transaraz@nce,concebida pa estar o deserwOWert recto sazOriea €Conctava 20 eto dopa, permitido 0 avango da eploragso de reuso5 haus ‘2 colorizagio do interior do pa Nesse period, @urbanzagio ea construc da cidade brasileira eram entencldasa partir de ppectiva econémica e de desenvolvimento nacional. Os problemas urbanos passaram a ser considerados, quase que exclusivamente, problemas econdmicos, e a solucao da exposiva caréncia habitacional fas resdenciais de bao custo. O Estado favoreceia as ages “rationale adminstrativas: se deslocariag tusce pela “cidade ideal” para o gbvenGamento rational «eficente da cidade Gxsterte da elminags “Ge “anormalidades injesnas’ (fibeiro e Cardoso, 1996). Montou-se um sistema nacional de planel= ‘THento urbano para implementar o gerenciamento racional das cidades, estabelecer uma rede urbana ‘mais equilibrada e integrada e controlar 0 crescimento das grandes metrépoles, enquanto se reforcavam cidades médias (Schmidt, 1983; Serra, 1991). 4 Como sinal desses novos tempos, em 1965 0 governador do Rio de Janeiro, Carlos Lacerda — grande defensor do golpe militar, contratou a firma grega Konstantinos Doxiadis Associates para dese _um novo plano diretor para a cidade, Com a inauguragao de Brasil, © Rio havia perdido 0 seu status ‘Capital nacional, ¢ via-se a necessidade de estabelecer polticas de desenvolvimento e controlar o crt ‘mento urtiano, Segundo Evenson (1973), 0 estudo urbano de Doxiadis foi o mais abrangente até aquel ‘momento, incluindo sofisticadas projegtes socials, econdmicas e estatisticas baseadas na ekistca, Ut “ciencia" para lidar com os assentamentos humanos que ele mesmo havia inventado. O plano bus ‘cava conduzir a cidade a um modelo territorial em grelha, formada por vias expressas hierarquicamente ' a PANO MOKMHS — LS {Rear alee nso co gone bth ‘Authority, dos Estados Unidos, criada em 1933 com a mi er Gennes ee ae PE Saas ee nae ere cena ma np Dou etna ste ets con ba oes tesa da ona rec eeu una n rs de sro renee Ge regio en stares unten da eis dete ola a oss ade orn ver st a Sect for Fess Mp rose Introdugio|0 Contero do Desenho Urbano no Bras 13 {5 ae 005 Rar HOS cestruturadas, dfinindo bairos, contrastando com o padr80 hstrco de crescimento radial da cidade. Embora nunce tenha sido implantado, o Pano Doxlacs representou a estela no Bras de um modelo de Pianelamento dito cienticoe reciona,ainhando-e com a cultura do modernism de estado da 6poca inidando uma fase de “superplanos” que atingiia o seu auae com 2 atuacio do SERFHAU(Vi"asa, 7899). Acabou inspirando © planejamento das vias expresses cariocas (Una Vermelha, Linke Amarela etc) tipologia edilicia modernista adotada pela legslacdo de uso do solo aprovada e queiria, por sua vez, influenciar praticamente todas as cidades brasileira (Figura 1.9)" {A abordagem conservadora em relagdo & habitagdo social do governo estadual do Rio de Janeiro seria muito influente durante a década de 1960. Com foco na erradicacdo de favels ena relocasso de sa Tapcovios beta coruuntos iebltacionsis abs parifering, com tquiteturaipedropizede:e’ de bebe out, lidade,sebemos que essa abordagem acabou Sendo Tuto mais um problema do que uma soluczo; entretanto, sequiar-se os modelos das agéncias internacionais de financiamento, tals como 0 Banco Mundial e a Allanca para o Progresso (Perman, 1977; Valladares, 1978, 2005). O modelo urbanisticoe, ‘especialmente, o arquitetdnico para habitacdo social utilizados pelo estado da Guanabara - tais como os conjuntos Vila Kennedy e Vila Alanca na periferia da cidade ~ seriam adotados pelo Banco Nacional da Habitacao e pelas agéncias estaduais de fomento a habitacao até sua revisdo com a redemocratizacao do pals, nos anos 1980. Talvez 0 primeiro grande exemplo do modelo BNH (Banco Nacional da Habitacao) tenha sido @ conjunto Zezinho Magalhies Prado (conhecido como conjunto Cecap-Cumbica),constuido em 1967 pela Cecap (Cava Estadual de Casas para 0 Fove), no municipio de Guarulhos, Séo Paul. Projeto de Villanova Artigas, Fabio Penteado e Paulo Mendes da Rocha para uma populacao de 55,009 pessoas em area de 130 hectares e organizado em torno a “freguesas” de cerca de 10,000 habitentes ¢ infzestrutura completa, 0 Cecap foi concebido como um modelo da politica habitacional do Estado, ‘mas nunca foi completado (Segawa, 1998). Reis (1996) observa que, durante o periodo militar, a rede de cidades brasileiras representava um quadro politico e econémico centralizado com quatro aspectos fundamentais: répida urbanizacio, concentra- (Géo crescente da populacao, escala de progresso excepcional e aumento das desigualdades socials e de renda. Dados censitarios indicam que se até 1960 apenas duas cidades ~ Rio S40 Paulo ~ possulam ‘mais de um milhso de habitantes, em 1980 nove regides metropolitanas e 0 Distrito Federal ja haviam ultrapassado essa marca. Nesse mesmo ano, 70% da populacao nacional ja morava em reas urbanas, Figura L9 Concste de quateiro para Copacabana do Pano Dovid, 1965. Separado ene veculas epedestes, piace pubIcs SS TRDIG de gona @ pos eaten acm dos dediados a como a garagem, (Corsa de Constantinos A. Doxiais Archives; Constantinos and Emma Dosads Foundation) 11) Sobre alguns dos efeitos dessa tipologiaediicia madernista nos cbdigos locas, ver © Capitulo 3, de Macedo, BeSeee. Ssese AESERESE SeeReeo eee YY A. ® MaLCADO “dos efeitos multipicadores do setor da construcéo cil sobre a economia e a eiacSo de e movil inploe mao de obra nao especlalizada. Esse ssterna financiou a habitacgo e obras piblicas para o desenvole 14 _Desenho Urbano Contemporineomno Brasil © 25 Nove regides metropoltanas contabilizavam 29% da populacSo total do pals e 42% da populacaa. urbana! Devido & falta de entendimento da verdadeira dimenséo social do desenvolvimento, 0 plane- Jamento tecnocratico e racionalista no contava com 0 ritmo acelerado de migracéo para os grandes Centros e da expansdo de seus loteamentos irrequlares e favelas Como periodo militar e se ecicburozacarodeservehimentst rs palavras de Ribeito © Cardoso (1996, p. 68), o urbanismo Brasileiro Wa adotar 0 "modernismo fundonal”, no muito diferente do que vinha sendo praticado em outras partes do mundo, eta Tocalzar esforcos na reestruturacBo das capitals «. eventualmente, nas cidades de porte médio (Serra, 1991),|4 lgica da cidade e sua estrutura predo. minante se tornariam cada vez mais dependentes da crculacdo de velculos, embora o sstema naconel Ge planejamento nao tenfis ocorrido sem coniradicbes internas: de 1976 a 1962, vltosas somas de TECUTS0S federal foram despejadas em sistemas de transportes pablces, como mete tres, enquanfp © mercado ¢ 05 plans diretores municipal estimulavam 0 uso de veiculos paricuares, Vilaga (1998) destaca que, além dos sistemas de crculagdo, as estruturas urbanas Dresleras s@ Tornariam ainda mals dependentes da reproducio do capital por meio do desenvolvimento e da especulacao do solae pela . ™~ Uo fruto da PNDU foi a constituicdo, pelo governo federal, de regioes metropolitanas em torno das em aiores cidades, assim como de agéncias piblcas, dentro do aparato do governo estadual, espe- Imente criadas para supervisionar o seu planejamento e 0 gerenciamento do seu desenvolvimento. Vistas 20 estabelecimento de um sistema de planejamento integrado, essas agéncias forneciam tipos basicos de servicos para os municipios da regido metropolitana{ suporte basico para geren- jento municipal (treinamento de equipe local, levantamentos aéreos e Yopograficos, mapeamentos fc), desenvolvimento de planos ditetores e legisiacao pertinente, assim como apoio Técnico para a sua tac80; € gerenciamento de questées e servcos intermunicipais,tais como transporte, abastec- fe Agua e destinacSo final do ixo, Embora esses fossem importantes servicos para as prefeitures Pobres em toro das metrSpoles, o real poder das agéncias metropoltanas era politico, po's elas M responséveis pela aprovacio de verbas e transferencias de recursos estaduais e federais. Embora certicos argumentassem que as agéncias metropolitanas representavam uma imposicao das pol iS estaduais e federais em assuntos locais disfarcada sob um racionalismo técnico, elas inegavelmente ‘um importante legado para o planejamento. 11978, em paralelo 20 fortalecimento do BNH e & transferéncia para 0 banco de programas para o jlvimento urbano, a CNPU foi absorvida pelo Ministério do interior e reestruturado, passando a inarse CNDU (Conselho Nacional de Desenvolvimento Urbano). © CNDU ajudou na aprovacso importante Lei n= 6.766 de 1979, que requlamentou 0 parcelamento do solo urbana e definiu seus Bes minimos.|Com a redemocratizagao do pals, sua reformulacdo e incorporacao 20 Ministério da G50 € Desesivolvimento Urbano na Nova Repdblica, trabalhou no projeto de uma lei de desenvol- nacional que seria Ge base para oEstatuto das Cidades, em 2001, Y6 regime de excecdo no pas e com o fortalecimento da autonomia municipal e a descentrali 9 institucionalizada ee aa) maior parte das agéncias metropolita- ‘planejamento foi desmantelada pelos governos estaduais e fechou as portas. Em nivel politico, sstavam desgestadas por seu papel no regime militar e, em nivel conceitual, pelas dificuldades na mentagao do plenejamento integrado srt] consid cn abilidade sobre as regiées metropolitanas e o poder de institutlas para “integrar a organizacéo, Rejamento e a execucso de funcoes publicas de interesse commun” emmbora sem detinir como se fam © Seriam gerenciadas (F. Magalhies, 2010), Essa Talta de critérios e os interesses politicos contribuiram para que, até marco de 2009, fossem criadas 24 regioes metropolitanas, abrangendo. jcipios em 18 estados, embora apenas 15 delas realmente possuissem as caractersticas prO- Tal (Garson, Ribeiro € Ribeiro, 2010).|Das agéncias de planejamento metropolitano montadas Brregime militar e que continuam atUando destacam-se a Empresa Paulista de Planejamento olitano S.A. (Emplasa), de Sa0 Paulo, e a Coordenacao da Regigo Metropolitana de Curitiba de Curitiba." Apés a extingdo de seus drg20s metropolitanos durante o primeiro perfodo de stizacSo, alguns estados sentiram falta de um sistema de planejamento em nivel metropol- mo, por exemplo, Minas Gera, que, em 2007, estabeleceu a Assembleia Metropolitana € 0 Deliberativo de Desenvolvimento Metropolitano de Belo Horizonte, como orgao de suporte B Agencia de Desenvolvimento Metropolitano da Regiso Metropolitana de Belo Horizonte: “ambiciosos, os grandes projetos e o modernismo tecnocrético caracterizaram o planejamento fasileit, 2 burocracia de apoio e 0 aparato financeiro criados durante todo o regime militar i 8 Secretaria de Desenvolvimento Metropolitano do Estado de S30 Paulo, @Emplase fo tada em 1975 J ragin metropltana de S20 Paul, ero cormpesta por 38 municipios. Atuamente el ida com um Fa runicpos,dstrbuldos em quato resides metopoltaras tes agiomeracdese dias micrregies. A Gada a Secretaria de Desenvolvimento Urbano do Estado do Parana, foi criada em 1973 para lidar com 14 Jehoje ido com 28, nso apens por adesb0 quanto por desdobramentos de manicos, sempre por meio seszean Peeczess wezee 18 _Desenho Urbano Contemporaneo no Brasil ‘Como observa Segawa (1998), principalmente entre as décadas de 1960 e 1970, a euforia do “milagre ‘econdmico” brasileiro, juntamente com a “sindrome_ do planejamento” do regime militar, encorajou ‘grandes obras publicas e polticas para rel6caao de investimentos e populacéo para o interior do pals, [Até 0 inicio dos anos 1980, os empreendimentos de obras piblicas refletiriam o “Brasil poténcia”: pro- jtos de renovacao urbana; construct de vas expresses e vadutos;remacao de populace faves € westrucdo de enormes projtos habitacionais de bala renda, novos centros administativos municipals€ cctedvats, camp! univesitérios, aeroportos,estacbes de trens e rodovidrias,hidrlétrcas e novas cidades endent ’ 4 corporatvas independentes Mopentstk — Mine COSTA bois exemplas do desenho urbane brSélero do inicio dos anos 1970, nao muito bem cotados, 380.0 Plane JUNO DA.” Piloto para a Barra daTivca lacaepagu na fia de lansin ¢0 plano para 0 NeWO ED imeiro, de autoria de Lucio Costa e apelidado Plano. DADA _=Ainekat estadal em Sadr Baia O Pi ‘da Barra, € paradigmético, pois representa a mesma busca por uma cidade racional ideal tentada em t Brasilia, Cobrindo cerca de 120 km, a intencéo era criar um nave bairro completo — incluindo um novo poktyo tyOVOCentro Metropolitano ~ sem incorer nos mesinos “eres” de Copacabana, que have crescido de forma eatin Soa Cerca ne les di Lace Cosas morfologia da cidade tradicional foi reeitada em favor de uma malha caracterizada por grandes avenidas e uma série de segdes thangulares em que se intercalam, ESSBSFR_ BESES_ res de torres e de habitagbes unifamiliares e comerciais, Nas juncoes entre os setores, o plano locali- “Jou grupos de edificios mais balxos para usos especificos publicos e privados. Ao concentrar a densidade Fabitacionale encorajar as torres, o plano buscava resquardar as vistas das serras, além de proteger 9 agil ambiente lagunar. Ao longo do tempo, o plano piloto original foi sendo modificado, embora nao ‘em sua esséncla infraestrutural viria, refletindo os interesses econOmicos e tornando-se o territ6rio dos) maiores empreendimentos imobilirios da cidade para as classes média e alta (G. Leito, 1999). Os usos “do solo s80 muito mais intensos do que 0s planejados, as torres muito mais altas e proximas entre si, © cédigo de zoneamento determina uma rigida separaggo de fungdes, e os condominios fechados € 05 Shopping centers prevalecem em um ambiente inteiamente dominado pelo autom6vel Figura 1.11). 0, plano consoldou o crescimento da cidade para oeste e, de grande exemplo do modernismo racionalista, fez da Barra da Tiuca um perfeito exemplo do territorio fragmentado da cidade pés-moderna ‘obreposto a uma estrutura espacial modernista Gantos e Vicente del Rio, 1998). quanto | 205695 ERTS FETEWENO 68, governo do estado da Bahia jem Salvador, ele representa bemo desenvolvimento urbano enco- rajado pelo “milagre econdmico” e a reorganiza- 40 do aparato estatal (Segawa, 1998). Iniciado no comego da década de 1970, 0 Centro contou com plano urbanistico de Lucio Costa ¢ concen- trou todas as secretarias de estado em projeto career a exclusivo separados entre si por amplos jardins. e dependentes de deslocamentos por carro. Dada sua localizagao em 4rea praticamente vir- gem nas aforas de Salvador, foi construida uma nova rodovia de acesso._A operagéo gerou um < fove iaor és cesinetio, Tae ra¢80_imobilidria pelo setor privado_e acabou ements com condominias residenciais € Testruturando 0s valores do solo na cidade de 198 dosolo searegados, em ambiente dominade “Todo gealocsienandoserorimpactesobeS oisne'earoie me tinon Ree apa Introducdo | 0 Contesto do Desenho Urbanono Bras 19 {Como a profunda influéncia do moderrismo na ia formulagao da visd0 de cidade ideal ena definigso Wocabulério oficial arquitetérico e urbanistico, fe © "milagre econdmico” brasileiro ~ desde o inicio da década de 1970 até a rise poltica e eco- pice do inicio de 1980 -, a maioria dos arandes projetos que marcaram a paisagem urbana resltou de cirulacto e de transportesfinanciados por verbas federas. Vas expressas urbanas, are Ho de artéiase, notadamente, a construgio dos sistemas metrovris de So Pavlo e do Rio de © geraram grandes transformagSes espacais ede uso e valor do solo. As linhas de mets tornaram-se korredoresestruturais nao apenas por sua funcdo principal como transporte public, mas porque am demolicoes ¢ reestruturagées na suport, densidades mais alts, novos usose fortes impac- 9 Mercado imobilro, Alguns projetos de moblidade urbana desse perfodo acabariam serindo de ‘como foi 0 caso da nova Avenida Atlantica dos anos 1970. Dando continuidade a via expressa © do Flamengo e facilitando 0 escoamento de veiculos entre o Centro e a Zona Sul, esse projeto a costa de Copacabana, por meio de arto hidraulico que alargou a érea de area © construcéo de um bulevar com largas nt todas as Gidaes costes sequram mo modelo, embelezendo ‘seus bairros cos do positivo, além da criacdo de um sis e uma cultura nacional de planejamento, ente nas grandes cidades, hd que car algumas importantes experitncas 10 periodo militar no amigo, do dese- 0, Dentre essas, destaca-se|o Projeto. investidos Nos projetos analisados 1), 57% destinavam-se ao sistema 77% a drenagem_ Cura era, na fea ‘empréstimo para que as prefeituras 4 5 Figura 1.12 0 alargamento da Avenida Atintica, Um projeto imiegrado € SUBS Ores, incluiu maior area de aria @cakades Meria ser pago com juros através da_ com o famoso desenho geomeétrco de Burie Mans de melhoria e ajustes __(Fato de Sivio Macedo, Projeto Quapa) sabre Salvador, no Capitulo 6, por Femandes e Gomes, asses eryeo BERSE ee Pnoreto 20 Desenho Urbano Contemporéneo no Brasil do IPTU nas areas de projeto. Para estimular a ocupago dos vazios urbanos no interior das areas do Cura, indicava-se a cobranca de IPTU progressivo, instrumento cujo potencial para o desenvolvimento ‘urbano seria reconhecido e estendido a todas as cidades pelo Estatuto das Cidades em 2001. (0 Projeto Cura era importante fonte de recursos para as prefeituras, numa epoca em que o centalismo do governo militar as havia destituld de quase todas as fontes de recursos. Segundo Serra (1991), apesar de seu cardter tecnocratico e autoritario, ao depender da aprovacao do BNH e da liberacao dos recursos, sua fundamentacéo e a boa exequibilidade técnica e urbanistica garantiram o relativo sucesso dda maiovia dos projetos, com melhoria da qualidade das éreas onde foi implantado. Entretanto, ainda segundo Serra (1991), 0 Cura acabou sofrendo, de um lado, imposicSes polticas cada vez mais fortes €0 1ndo seguimento das normas e, de outro, porque a maioria dos municipios no cobrava a contribuicao de rmelhoria nem o IPTU progressivo, nem atualizava 0s cadastros e os valores venais dos iméveis. Isso veio 1a transformar o Cura em um incentivo & especulagao imobiliaria, além de nao conseguir gerar recursos, ‘para O Pagamento da divida contraida com o governo federal Talvez 0 exemplo de plano urbano realizado durante o regime militar de maior repercussao e reconhec mento tena sido 0 de Curitiba ~ cidade que se tornou famosa por suas solugbes de transporte publico e seu enfoque na sustentabilidade. Resultado de uma concorréncia publica e financiado pelo SERFHAU em 1965, 0 plano inovou em sua metodologia participativa ~ evidentemente bastante limitada naquela 6poca ~, que integrou as principas insttuicbes locas, solugoes integradas de uso do solo € transportes €.2 proposta de um sistema de planejamento local com base em umt Instituto indapendente da maquina ‘administrativa.™ Sua implementaco inical foi viabilizada devide a0 apoio do regime militar ~ expresso. Yanto pelo governo estadual quanto federal - e, posteriormente, pelo fortalecimento e influéncia da equipe de planejamento local, que ainda hoje continua envolvida com o planejamento de Curitiba, ‘© planejamento eo desenho urbano pn Curitibe representaram grandes avancos através de pollticas e ‘projetos inovadores, como 6 primeifo calcado de pedestres no Brasil, construldo em 1972, e a implan- taco de cada vez mais parques e areas verdes, por vincular 0 zoneamento e a5 densidades edilcias @ eos de crescimento urbano e a um sistema de crculacéo viria e transporte pablico integrado. Esse: sistema, originado ainda no plano diretor de 1965 e composto fundamentalmente de exes estruturais ‘com vias exclusiva para Onibus expressos aliados a linhas interbairos integradas e tarifa Unica, revelou- se extremamente eficiente e popular tanto para a classe média como para a classe trabalhadora. Por solugdes como essas por seus diversas programas de desenvolvimento sustentavel, Curitiba tornoy tum modelo internacional e ter inspirado diversas cidades no Brasil e no exterior, particularmente suas solucbes de transport, tals como Bogota e Los Angeles.” Dois outros projetos urbanos implementados sob 0 regime militar podem ser destacados. Um foi a ‘cidade de Carafba, projeto desenvolvido entre 1976 e 1982 para empregados da companhia mineradors Warde 21a Meta e projetada para uma populacso estimada de 15 mil habitates." Apesar de seauit ‘isco modemista racionalista, houve 0 cuidado de estudar assemtamientos nas vizinhancas em Caralb buscaram-se um zoneamento mais flexivel e o uso de um tecido urbano aberto contendo seis pr ccentrais com os edificios significativos localizados em torno delas (Segawa, 1998; M, Bastos 2003), Si esenho urbano e solucbes arquitetdnicas harmonizavam com o clima local, evitavarn o ambiente ¢ 1 Sobre Curitiba, vero Capitulo 9 de autoria de razebal. J ‘Concorréncia vencida pelo escrtério de Jorge Wilheim, que desenvolveu o plano com a partcipagso de técnico prefeitura 'indmeras publicacdes interacionais referem-se a Curitiba e suas solugdes. A influer (inean tan) bl : me bl “ats peo ban ad inte des EUA, que em seu numero de abi de 2007 a Ruler 3, dedica um artigo inti a ela. Ela inspirou, por exer i ; Foptd Tons iponsdo ea ek aaah Por eke, o ter Tansileneo de Boots eo tema de Bs " Coratba fol planejada e projetada por Joaquim Guedes e Associados. Ver Process Architecture 17 (1980), Introdugdo | 0 Conterto do Desenho Urbano no Brasil 21 sa. € refletiam as tradicbes cuturaisbrasileras. Outro exemplo foi o planejamento e projeto d idade construida entre 1977 e 1988 para a relocacao do assentamento original por causa WoTepresamento do Rio Uruguai para a construcao de usina hidroelétrica em Santa Catarina. A equipe {82 Eletrosul, responsavel pelo trabalho, conduziu diversos estudos tipologicos do antigo assentamento iPficinas participativas com as duzentas familias residentes, resultando em Projeto urbanistico e solucdes: JeiquitetOnicas que refletiram a cultura e 0 contexto social local (Rego, 1996; M. Bastos, 2003) (Figura 113), Segundo Bastos (2003, p. 114), 2 preocupacdo com o modo de morar da comunidade “levou a Hm quase mimetismo entre as novas e antigas residéncias". Os edificios pUblicos foram localizados como Teferenciais urbanos, e sua arquitetura tenta reinterpretar 0 verndculo da regio. IOs efeitos mais duradouros do urbanismo modernista na paisagem urbana brasileira resultaram de um misto ipeceitos do CIAM, da tecnocracia e de um modelo econdmico que levou a praticas de desenvolvimento especulativas e predatorias. Assim como diversos outros autores, Maria Bastos (2003, p. 99) ‘Que, “no Brasil, o urbanismo moderno acabou permitindo a primazia do edifcio de expresséo sobre Be imate urbano”| Esses efeitos estao presentesna legisiacSo de uso do solo e nos codigos de edficacdo de Klas 2s cidades brasileras que estimulam a tipologia modernista de torres em centro de terreno e descor lespaciais nas ras, solucbes arquitetOnicas sern cratividade e volumetrias repetitivas, ambientes lacionais: novas instituicdes federais, estaduais e particulares, e novos curriculos decididos de cima Bia baixo, Em torno do final dos anos 1960 e inicio dos 1970, refletindo a montagem de um sistema gjamento nacional, os programas de graduacdo em arquitetura comecaram a incluir disciplinas sal dda cidade de Nova fa, Santa Catarina, para relocacSo da populagdo de cidade atingida HB Foto tt rugual- Foto de PlnioGordim; acervo TRACTEBEL Energia) 10 do Rio Uru Teac de uso do solo moderna se efeto em cdades brass, ero Captule 3, de Maced pre ale asGese 25ege2282 Pagesee e ———_ ASSERORS Shs ee 22 Desenho Urbano Contemporaneo no Brasil de planejamento urbano e regional, e os diplomas passaram a ser emitidos com o titulo Ya urbanista", medida acompanhada pela regulamentacéo profissional do arquiteto-urbanista em p mento urbano e projetos urbanisticos. As coisas ficaram complicadas epistemologicamente, pois 0 B acompanhou a tendéncia internacional, conduzida pela Gra-Bretanha e pelos Estados Unidos, 0." nejamento urbano e regional” se tornou a disciplina em voga; curiosamente, 0s cursos que fo ~arquitetos-urbanistas deixaram de oferecerdiscipinas sob a denominacso “urbanism”! O SERA ma grande influéncia nesse sentido, no apenas porque todo seu trabalho estava baseado no p mento integrado e interdisciplinar, mas também porque apoiava a pesquisa e a pos-graduacso. Enqua isso, continuavam a funcionar alguns programas de pds-graduacao em urbanismo com duracéo de dok ‘anos, voltados para arquitetos e engenheiros apenas, e que seguiam 2 tradicao do urbanismo ft desde 1945, 0 primeiro programa de mestrado em planejamento urbano e regional surgiu em LUFRI, sob os auspicios do Universidade de Edimburgo.** Nos anos 1970 e 1980, diversos programas de mestrado em plane} foram criados no Brasil, e, logo, economistas, sociélogos, engenheiros de transportes e Outros p nais se juntariam aos arquitetos como especialistas em planejamento urbano e urbanismo. ‘Como notado por diversos autores, o regime militar no Brasil serviu para isolar a arquitetura e 01 urbano brasileiro do cenatio internacional (Segawa, 1998; Fraser, 2000; M. Bastos, 2003). Em lugar, a repressao cultural se aiou a0 pensamento da elite arquitetdnica de desenvolver uma arg €¢ um desenho urbano brasileiro independentes. Em segundo lugar, © modelo tecnocrético, rmentista e 0 “milagre econ6mico” do final dos anos 1960 ¢ inicio dos 1970 posicionaram o setor; como 0 principal contratante de arquitetos e urbanistas para desenvolver planos locais e regional jetos de renovacdo urbana, edificios governamentais, projetos de habitaco de interesse social @ por diante (embora também houvesse bastante trabalho no setor privado devido ao boom da co wil). Néo foi surpresa, portanto, que até o fim do regime militar e o retorno da democra 1980 0 desenho urbano e a construcao da cidade brasileira seja pela iniciativa publica quanto a p ‘tenham sido dominados pelo modernismo racionalista e funcionalista que permeou todas as cultura, inclusive a graduacgo e pos-graduacgo. A Retomada da Democracia: Preludio ao Desenho Urbano Contemporaneo ‘A década de 1980 representa um importante ponto de transicéo no Brasil, pois © cendrio polit a abrir caminho para 0 aparecimento de um novo tipo de desenho urbano. O pals encont ‘meio a profunda crise econdmica gerada pela imensa divida publica, pela exploséo do preco do) ‘nos anos 1970, pela inflagao galopante e pela crescente oposicao ao governo militar. Grandes tos politicos nacioneis para a redemocratizacao, 0 fortalecimento do movimento trabalhador, 8 dade social e os maiores protestos piblicos no pats de todos os tempos finalmente derrubaram 0 lo a dernocracia plena_ @ eleicGes diretas em todos os niveis de governo. D ‘eaualeceio aes olathe eas para goveios wladiab er oneeaeoe alee oa as Capitais no inicio dos anos 1980, a nova Constituicdo Nacional foi promulgada, e, em teve sua primeira eleicéo direta para presidente desde 1961, ‘eo Plimeiro curso de pos-graduacéo (ato sensu) em urbanismo comecou a funcionar na atual FAU-UFR) foi transformado em mestrado em 1994, O primeio curso de mestrado ijamento urbano ‘polado pelo SERFHAU, fol formado na Coppe (Coordenacao dos Peon de Pos-groduagdo em eng UFRY em 1971. Passando para o Ambito do Centro de Cintas Juridicas e Econdmicas em 1976, ele fo| "NO que hoje ¢ o IPPUR (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional), Introducdo | 0 Conterto do Desenho Urbano no Bras 23 intelamento de varias agéncias federais e metropolitanas, com destaque para a faléncia Movida, principalmente, pela onda de desemprego e as retiradas do FGTS ~ a receita basica do 1do SFH. O desmantelamento do SFH e das agéncias estaduais promotoras deixou a demanda ]onal nas mos do setor privado ou de um timido financiamento pablico. No final das contas, para Para.o mal, 0 BNH e 0 SFH financiaram mais de 2,4 milhOes de unidades residenciais de 1964 KMaricato, 2002, p. 44). 0 Sistema Financeiro da Habitagao foi reestruturado em 1986, com suas baisfuncoes passando para a Caixa Econémica Federal, mas, como Maricato (2002, p. 65) observa, le © fechamento do BNH o Brasil no apresentou desenho consistente de politica habitacional”. Politica e econdmica trouxe o desmoronamento do modelo autoritério e centralizador, ela 'gerou uma crise geral no sistema de planejamento urbano. O fechamento de diversas agéncias Metropolitanas foi um sério golpe a um jé fragilizado sistema de controle do desenvolvimento “Muito dos trabalhos dessas agéncias foi perdido, ¢ as bem treinadas equipes se espalharam ‘outras reparticdes publicas. Durante a dificil década de 1980, houve poucos avancos no lurbano brasileiro além do signficativo aumento do debate académico e profissional quanto 5 papéis da arquitetura, do planejamento e do urbanismo na sociedade. O urbanismo brasileiro itando muitas questoes: Como deveria responder aos novos programas politicos e sociais ‘Como deveria ajudar na luta contra as desigualdades sociais? Como deveriam as tendén- jonais ser incorporadas no projeto sem sacrifcio das identidades nacionais e regionais? Ao "PO, a5 cidades continuavam a sofrer por conta da economia inflacionéria, um mercado irmo- fatorio € a especulacio do solo urbano, a deterioracao da qualidade de vida e um sistema de ento enfraquecido pelo desmantelamento do aparelho existente. A fragmentacéo espacial e a ago social nas cidades continuaram a piorar nessa década coe Te ‘lado, as importantes mudancas politicas que estavam ocorrendo acabariam oferecendo um novo ads e ao desenho urbano no Brasil © restabelecimento do regime de direito e da democracia (0 foruns piblicos ¢ a particioacao comunitaria, possibiltando ao pensamento sobre a cidade snho urbano superar © paracigma modemista e 0 modelo hegembnico de Brastia. Diferentes tentendimento e de enfrentameento dos problemas urbanos e das demandas sociais emergiram etir com 0 modemismo, Foi o inicio de uma era que podemos chamar de "pos-moderna” em spensamento e & ago sobre a cidade, quando o respeito 20s contextos preexstentes ~ histéricos, sociais, ambientals etc. ~ ultrapassa os ditarnesrigidos e universas do paradigma modernista, izacBo e a participacao dos agentes sociais no debate sobre a construcio da cidade gera- onsciéncia sobre a importancla da preservacso arquitetGnica e cultural. projeto mais Tos anos 1980, e que caracterizou o inicio do urbanismo pds-moderno brasilein edor Cultural no Rio de Janeiro.” Nascido da alianca dos urbanistas da prefeitura, gru: 2s) |o Corredor Cultural empregou politicas e diretrizes de projeto pioneiras e criativas de modo A a Centro hist6rieo. Os conceitos, métodos ias de Fmplemeriac do ro idaria na sobrevivencia de varios administradores municipais de diferentes partidos politicos, ddo centro, e, finalmente, teria impactos sobre outras questoes culturais mais abrangentes. -Corredor Cultural, ver Pinheiro e del Rio (1993), R, Magalhaes (1998) e 0 Capitulo 5 de del Rio & ae CRE RERZ SHER SO STHRS> FSGSRSSE> Fa GSSEP 24 Desenho Urbano Contemporaneo no Brasil {oi repensada como uma expressdo de demandas socials em um sentido. mais amplo, ¢ dus gues tornaramse centri na busca por melhores cidades(@ inelus6o socal ¢ a democracia) O Neconal da Reforma Urbana promoveu debates em Uma variedade de foruns que incluiem politi representantes de grupos sociis e comunitaios, universidades e, organizagbes profissionals €ndo} rramentais. 0 documento que emergiu desse processo obteve 140.000 assinaturas e foi organizados quatro grandes metas: (a) gestdo municipal democratica e partcipativa;(b) equidade socal na dist fo do aluguel da terra urbana; ()redirecionamento de investimentos pblicos para priorizar inves rmentos sociais; e (d) acessibilidade igualitéria aos servicos e equipamentos pdblicos. . ‘As propostas do Movimento Nacional da Reforma Urbana foram parcialmente adotadas na Constituigao ide 1988, que, apesar de ter 0 capitulo dedicado a politica urbana limitado a apenas dois artigos, introd ‘iv mudancas importantes para 2 gestéio do desenvolvimento urbano. Em primeiro lugar, a Constituig definiu o municipio como uma “entidade” da Federacao, concedendo-Ihe autonomia politica, financei econdmica, 0 que, segundo Jones (2004), constituiu uma novidade na América Latina. Essa munici «fo da estrutura de poder do pals pressionou os estados @ mudar sues constituigSes e as municipalid 2 reorganizar suas leis orgénicas municipals| A Constituigéo se fundamentou no ideal da cidade « locus para redistribuicao de riqueza e de redemocratizacao da ‘sociedade (E. Fernandes, 2001; L. Rib ‘Cardoso, 2003). O capitulo de politica urbana reconhece que o desenvolvimento, urbano deve g 3s fung6es soca Urbanas eo ber-estar da populacSo, e que a propriedade urbana cumpre sua funga0 Soda ‘quando atende as exigencias de ordenacéo urbana expressas no plano diretor. A Constituicao introduzia ‘assim, 0 conceito do papel social da propriedade urbana e da cidade e reconheceu a necessidade de ul deservolvimento urbano socialmente inclusivo, O mesmo capitulo determina que municipios com 2 habitantes ou mais tenham planos diretores e introduz importantes mecanismos de controle do dese mento — embora de forma geral e dependentes de legislaces municipais especificas complementa ‘estados e municipios replicariam entdo essa demanda dos Planos Diretores em suas préprias const ¢ leis orgénicas, e a maioria incluira os novos mecanismos de controle de desenvolvimento ‘mente endossados. Cardoso (1997) nota que a Constituicéo significou uma importante mudanca ps para o planejamento urbano, redirecionando-o para 2 solucdo das desigualdades sociais. ‘Além disso, embora 0 Brasil tivesse leis de protecao ambiental desde os anos 1970,)a nova | avancou nessa questdo ao dedicar-Ihe capitulo proprio e determinar a obrigatoriet e impactos para projetos que pudessem afetar 0 meio ambiente. Mais importante, a0 reconhec ‘impactos ambientais afetam toda @ populacto, a constituicdointroduziu @ nocéo do diteto d quer cidad30 pode dar inicio a um processo contra uit Projsto por conta Ge seus pO ambientas, nfo apenas aqueles locaizados em sua drea de influtnda deta, Ou Teconhedido como uma entidade coletva, ea cidade, como uma Tealidade socel, AO exp ‘e impactos ambientai, conceto de direitos cifusos pode ser utlizado em acoes conta pro hos e de vizinhanca, tornando- poderoso instrumento para grupos comunitarios e organiaacc governamientais. Ainda, a0 criar 0 Ministério Pablico nacional independente de acesso livre oral "Para qualquer cidadao, fortaleceu-se a possbilidade de controle cdadao sobre as quest6es ambi ‘os trésniveis de governo, Essas mudancas politicas ocorridas na dlrecdo de uma democracie p significaram fundamentais rebatimentos ~ a0 menos ppotencialmente ~ na construcao da ci AA primeira cidade a seguir as novas regras constitucionais em seu Plano Diretor foi o Rio de que se torniou_uma espécie de modelo Aprovedo em 1992, em contraste com Quando da promulgago da Constuio, exist abies : 8 existiam mais de mil municfpios brasliros com ; de sap mecanismos de controle de desenvolwmento (as como een cifeoge eae cape de Posto progressivo,concesso ao municipio de deitos preferenciais para @ compra de i e era urbana) seriam regulrizados pelo Estatuto das Cidades em 2001 (ver E. Femandes, 2001, 2 | IntrodugSo| 0 Contesto do Desenho UrbanonoBrasl 25, Puno MUSTON Nat 92. Kes t80 comuns durante o regime militar, a elaboracao do Plano Diretor do Rio envolveu um Se participacSo publica e de referendos através da Camara de Vereaaores, que Msttura Torun © com representantes da sociedade, grupos comunitaros e organizagbes no governamen- tal como 0 Instituto de Arquitetos do Brasil- Seco Rio de Janeiro, O Plano incluiy e @nt0u diversosinstrumentos avancados para controle de desenvolvimento conforme previsto na oo facional € até entao novidade no Brasil, tais como declaracées de impactos de vizinhanca te, 2 abertura politica e as mudancas sociais ocorridas durante os anos 1980 se refietiram fem que o planejamento, 0 urbanismo, 0 desenho urbano e a arquitetura se reinventavam, mo fa forma em que eram ensinados e praticados. Com foco na questdo urbana, intensos Kadémicos foram acompanhados por avancos significativos na teoria e na pesquisa urbana. A ida cidade no desenvolvimento nacional e o navo pacto social se refletiram no fortalecimento que lidam com a cidade e 0 social no curriculo dos cursos de arquitetura e urbanismo. f, © Curriculo minimo aprovado pela ABEA (AssociacSo Nacional de Educagdo em Arquitetura 10) € 0 Ministério da Educacao inclu disciplinas em planelamento urbano e regional, projeto ismo e estudos ambientais. Aprender como enfrentar os problemas urbanos e as neces- is vinculadas a eles € parte da educagdo exigida para obtencéo do diploma de arquiteto- ito de Pessoal de Nivel Superior através de apoio financeiro para docentes, de um sistema ‘continua para os programas de pés-graduacao e do fortalecimento dos niveis de mestrado fado, Apoio paralelo acontece no CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico & co) através de seu sistema de concess6es de bolsas de estudo e da rede nacional de pesquisado- orme importéncia para a érea foi conquistada com o trabalho da Anpur (Associagao Nacional [Estudos de Pos-Graduacao em Planejamento Urbano e Reaional), que, fundada em 1983 AN PUR as cinco programas de pOs-graduacao, registrava em 2011 mais de 50 programas filados ou Totados em escolas de arquitetura e urbanismo, geografia, ciéncias sociais, economia € adm piiblica em diversas partes do pals. a0 estado de direito no pals, a academia e as ‘organizac6es profissionais retomaram o debate bre a construcdo da cidade, particularmente por meio de eventos internacionais, nacionals ‘De grande importancia para 0 avanco do planejamento urbano, do urbanismo e do dese- am 05 trabalhos e debates promovidos pelos congressos nacionais estabelecidos pelo “Arguitetos © a Anpur e 05 seminsrios sobre a historia da cidade e do urbanismo realizados 7, entre diversos outros encontros. Fundamentais para 0 estabelecimento da area do desenho Brasil, acompanhando a tendéncia nos EUA e na Europa, foram os seminarios em desenho S Universidade de Brasilia de 1984 a 1989, coincidindo com o retorno de dversos profissio- ores formados no exterior € suas publicagbes (Turkienicz, 1984; Koblsdorf, 1988; Nelson, fo, 1990). Nas duas décadas sequintes, multiplicaram-se as publicagoes que fieeram avancar vo aair sobre a cidade, partcularmente de desenno urbano, Diversos programas curiculares, ‘reas de pesquisa em escolas de arqutetura adotaram o desenho urbano comm dicping 0) trai edstem mais de 40 mil alunos dtrbuidos em 85 programas de aqutetraeurbansmo NUkC. Ver httpuwnwabea-ara.org br. Acesso em: 5 mar, 2012 ae BRIRRRE. ERASE. BeRSS, FQegass. seszsey 26 —_Desenho Urbano Contempordneo no Brasil i cou drea de interesse, embora, surpreendentemente, ele ainda no apareca reconhecido em nenhum dos niveis das éreas de conhecimento da Capes ou do CNPa, Cidade e Segregacao Espacial 7 ‘As disparidades entre a cidade formal e a informal e as desigualdades econémicas e sociais entre as clase ses de rend, na verdade, piorafam durante 0 programa de desenvolvimento tecnocratico do gover militar e com a crise do final dos anos 1970 e do inicio dos anos 1980. Como observa Rolnik (2004), se tivéssemos de apontar um tnico ator que melhor descrevesse a cidade brasileira tanto no tempo quanto no espaco, ele seria a existincia das profundas contradicOes urbanas que afetam diferentes grupos: sociais dentro da malha urbana. Os recentes avangos conquistados ainda precisam superar uma longa historia de fragmentagao social da cidade, que, de fato, data do periodo colonial. ‘A despeito do caminho cada vez mais democratico tomado pelo Brasil seu urbanismo desdea Constituicao | de 1988, a maior parte da populacio continua a softer com as desigualdades sociais, lutando por uma distribuigéo de renda mais juste ¢ maior qualidade de vida nas cidades. Inmeros pesquisadores mostram ‘que, apesar da redemocratizacéo do pais, as cidades brasileiras refletem cada vez mais claramente as dive ses sociais e espaciais entre o legal eo ilegal,o rico e o pobre, o formal e 6 informal Fernandes e Valenga, 2004). As desiqualdades € os conflitos continuam a se destacar na paisagem urbana, na qual, como nots Villaga (1998), a segregacio espacial historicamente imposta pelas classes dominantes € comum e define 28 codigos de zoneamento @ os padrOas de investimento do capital mobili. ‘ As desigualdades sociais histéricas na cidade brasileira s40 exacerbadas pela globalizacao ¢ o aume “nas taxas de criminalidade e violéncia urbana, resultando em uma fragmentagao espacial ainda m erversa, com a populacio se retraindo para ambientes murédos, as classes mais altas em primelo [ugar guides pela Case media. Caldera (2000) mostra a clara relacao entre o crescimento da pobre “urbana e 3 eicalada de crimes de tua em $80 Paulo, ¢ como ambos contribuem para a sindrome d medo, a segregagio espacial e 0 controle da acessibilidade. Nesse sentido, movendo-se na direcao ‘oposta da redemocratizacao da cidade epontada pela constituicao e o Estatuto das Cidades, 0 desenhe urbano contemporéneo no Brasil também serve d exclusdo social, a sepiaracdo e a0 controle de tines d Usuérios de espagos e & prevencao das relacdes socials ¢ culturais como deveriam ser promovidos pot ‘uma ufbani Cada vez mais, as grandes cidades brasileiras refletem a estrutura interna das cidades mundiais descr por Fried mann e Wolff (2006, p. 64): uma dlvisao er fem uma geo iota desiqualdade e dominagao de classes. A percencao de sequranga, de certa forma iluséria, ‘ambiente da rua e cria impactos visuais extremamente negatives na paisagem urbana, como balffos t © A DADS Gcionais com praticarrente todas as suas casas edificios gradeades]O desenho de nossas adades ve [ MUNOS ‘Sendo dominado por parques, pragas, shopping centers, centros administrativos e ambientes arai nicos vigiados, numa paisagem cada vez mais dominada por condominios i {ue encoraja a separacéo entfe 05 US0s e os dominios publico e privado (Figura I. 14). f ie de res} ainda mais visivel e perversa em ambientes e bairos gerados pelo parad modernista 3125 morfologias, como claramente explicitado na Barra da Tijuca. O ideal corbusiano torres em meio ao verde e grandes distancias entre eles, o zoneamento de uso exclusivo, a prioridade ‘a circulagéo de veFculos e areas piblicas que configuram "terras de ninguém” faclitam um urbanism ‘ominios segregados e a apropriagio do pOblico pelo prvado, ironicamente sjudando a confor ppaisagem urbana pés-moderna (del Rio e Santos, 1998). No Brasil contemporaneo, nenhum emoree “GiTvento residencial deixa de ser provido de cercas ou muios, e, em) geral, Seguem estilos arquitetOnicos inspirados no imagindrio do estilo Miami, q jereal dia, que Introdugéo | 0 Contexo da Desenho Urbanono Brasil 27 we Figura 14 Now sro resdencal em Sto Pal, em eto i Jo,em ave ts as tors configu comnides eoregnds di tiBanismo de excluso que promve a sparaia de ungose pigs 2 "qulzario" da ddade (ato Ge Sho Macedo; Projeto Quap4.) Bek ota ae Tica, As metsfores soci cultura nos modernasadotadasno Bras eletem a forca do consurismo ‘Global com base em modelos norte-americanos, 0 que, como observa Lara (2006), é irGnico em um pals fem que a arquitetura modema foi heroica, rodou o Tundo © no Brasil, tanto influenciou até mesmo as Take hurides aquietures dos ancs 1950 aes anos 1970. Segundo Sennet (1986), uma vez que a ge traf pabica da cidade representa ainstituonalizaceo dacvlidade, os condominosfeehados ou sos Ge autossearegacdo podem ser entencidos como a comunidade conta socedede._ Bairfos e suburbios de todas as grandes cidades brasileras encontram-se profundamente marcados pak TovOs sitios de exclusdo social - condominios fechados e shopping malls ~ fendmeno reconhecido como SG naiar geador de novas e complexas Tnbmicas urbana® e tertorais (Fredmann e Woif, 2006; Souza, 2004; Lago, 2006). Distando 23 km do centro ‘de 5a0 Paulo, os empreendimentos Alphaville, com 35.000 hhabitantes em mais de 30 condominios fechados, ocupam quase 20.000 hectares e praticamente con- Neen tron cealanad Prated phd esulpolcament xr, hrs Nae sicopie carr sins, cubes, en, ua verdana ad an arte ‘controlado sem urbanidade, em que, ndo rar, 0s jovens sequer visitaram a cidade de Sao Paulo] Esses, novos modelos de organizagto socioespacial geram novas centralidades, fragmentam o tert Politano € resultam em uma colagem ‘de fragmentos urbanos, conjuntos de escritorios, shopping centers E coadominios Techados iterigads por vias exoressas. S40 0 que King (2004) denomina “supraurbes” 1 Globurbes",referindo-se aos subtrbios que se tornarem independentes de sua cidade hospedeira © esenvolveram conexdes direlas com a esfera global TP capitaismo global eo neoliberaismo tem contibuido paraaperpetuacio de ambientesurbanos segre- pela nogdo de que “os males urbanos s40 explicados como consequeén- joss ‘gados e socialmente injustos i da dissociacao entre cidade e economia global, fruto da incapacidade dos governos em t : (ANU 4 MUNS No MeLiAdo IMOPRUNUO era senont nhs Uh AUNIE — KONG MEMADONA- ceovlonnsnesacidescotasinacoras (Rs, 200,138) et Ma (2000) notam que as modelos contemporaneos de planejamento estratégico e de stao urbana q Soneauasee al Se nares Ce a ee lars boa gesle band ie fas avangados tem como prerrogativa considerar a cidade uma. a, mascarando as verdadeiras intencbes dos interesses transnacior ‘apoiar-se em conceitos tais co dates competitvas”, aior participacso do capita privado no desenvolvimento urbane, flexible =ormatva, e menos em planos compreensivos e de longo prazo e mals em =e escopo limitado, Fa chamada “arcelonizagao"™ do urbenismo conduz os governantes 2) “banismo de resultados de curto prazo, econ6mica e politicamente atraentes, que limita, ow exclu, a participacto cidada nos process0s decisorios (© Rio de Janeiro parece ter sido a primeira cidade brasileira a adotar essa abordagem no des mento de seu plano estratégico no inicio dos anos 1990, assim como na maior parte das agbes ¢ p ‘que tem se sequido desde entao (Acioly Ir, 2004). Esse modelo de desenvolvimento urbano esteve tds, por exemplo, do Projeto Rio Cidade, da realizacao dos Jogos Pan-Amiericanos (2007), nas tentativas de atrair 0s Jogos Olimpicos (2004, 2012 e 2016), Tas obras para ‘do Mundo (201 € no controvertido pfojeto Porto Maravilha, de renovaco da érea portuaria, calcada na pre cidade para as Olimpladas de 2016. Infelizmente, temos visto queé]a visdo empresarial tende od 7, investimentos piiblicos de iniciativas mais abrangentes ¢ socialmente mais justas NRE PA ro. Estes eralertebeneiam deterinads bares Ou grupos soca no ream 300 Hoss ~privatizacdo de espacos puiblicos, a especulacio imobilériae levando a decis6es que atropelam <0 _. "edestespeitam contextos presistentes, acirando as contradigoes na palsagem urbana, A globalizagao tem aumentado a complexidade das contradicbes urbanas brasileiras € 0 seu padr ‘escimento urbano amplamente dominado por comunidades de baixa renda, “Visées irregulares nas periferias das areas metropolitanas, Na economia global essas desiqualdades te ‘era @ piorar: em um estado recente de 520 Paulo, Buechler (2006) aponta que a natureza muta “Gin, 1995 estes passaram a ter ‘anos, 0 indice de concentragao de renda no Brasil ainda é dos piores do mundo, 0 IDH ((ndice de vvolvimento humano) nos coloca na 85¢ posicao numa lista de 187 palses, e 0 Brasil é o quarto pals: (05 maiores desniveis de renda na América Latina ** Novos Horizontes? Apesar de a fragmentacéo territorial e espacial e as injusticas sociais historicamente entrinct Fepresentarem o lado escuro das cidades brasileiras, acdes recentes na politica € a ampliacao da > Barcelonizacao" & uma metafora utlizada pare representar o processo de planejamento estratégico de € 0 tipo de urbanismo por ee suscitado, cujo sucesso 05 tornou modelos intemacionaispromovidos at vigos de consultoria internacional de frmas espanholas, como fizeram no Rio de Janeiro durante os gover Maia (1993, 2001 e 2005) € Luis Paulo Conde (1997). % Como, por exemplo, pelos projetos como 0 Rio Cidade, discutido por del Rio no Capitulo 10. 2 Ver Estado das Cidades da América Latina do Caribe 2012 - Rumo a uma Nova Tansicéo Urbana, ela COrganizagdo das Nagoes Unidas. Disponivel em: httpdiwwaconuhabitat org. Acesso em: 5 now. 2012 Introdugéo |O Contxto do Desenho Urbanono Basil 29 4 pointes Ye CFA po PANETAMSNTD © LONSTIVIND OR Keiigs Ta Pliblica ¢ tem resultado em investimentos signficativos na qualidade de espacos e servicos Blicos: Jones ainda acrescenta que'o Bras € o nico pais latinowamericano onde a democratizn Jo acompanhada por um debate sobre o tipo de cidade que seria compativel com uma nogio mais, ngente de cidadania. | Giivida\o retorno do Brasil a plena democracia permitiu pavimentar novos caminhos na direc3o des ee rt ee ee te fase de uma melhor gualdade de vida. Os manéotos da Consttugas Navona 8B, © Fessurgimento de partidos de esquerda e de movimentos sodas e comunitaros organizados e, pete 2001, 0 Estatuto das Cidades ttm forcado 0 Estado e 0s governos locais a revisor seus site: planejamento, para uma gestao democratica da cidade. Para isso, o Estatuto das Cidades define trumentos importantes tais como organs colegiados de politica urbana nos trés nivels de governo, léncias e referendos puiblicos, a iniciativa popular para planos e projetos, 0 acesso a informacao € 0 gamento participativo. A criagéo de controladorias gerais de municipios e da montagem de sistemas Macionais on-line faciimente disponiveis a0 publico, e de sistemas de gestao mais participativa em ‘Gdades, representa uma grande conquista. importante experiéncia brasileira nesse sentido € 0 Reno particpative, que, por seus evidentesreflexos ne amplogio da cidadania ena democratiza- da construcao da cidade, tornou-se um modelo internacional de boa governanga e desenvolvimento erie bes Outed weriserto SPE parte cxnecu er 109 em Poe Acre curd o gor earl So Fr atou um sistema de tomada de decisio em que as comunidades, através de uma série de assembieias iilares, podiam decidir quais projetos seriam implementados em seus territérios (Abers, 1998; A. iro e Grazia, 2003). Com o passar do tempo, o OP aumentou em importancia na cidade: de 900 sipantes em 1990 as assembleias passariam a receber mais de 50 mil em 2003, eo escopo e as impli- ‘das questOes discutidas evoluiram de problemas simples ¢ localizados — tais como pavimentacao 35 € coleta de lixo — para programas culturais e politicas municipais. A ONU incluiu a experiéncie orto Alegre na lista das melhores praticas de gestdo municipal, e o Banco Mundial o considera um Bearer Ta A spt cesinitogies tras mo prora ¢e ais Fe BS aTe cae prea para pricoacbo cca eo evar Go odana fez com que vies fesbrasleias adotassem versbes similares, Independentemente dos partidos poticos de suas edm- ic6es, Belo Horizonte, por exemplo, inovou com 0 OP digital, que permite a participacdo e votacio et, & Sdo Paulo estabeleceu 0 OP da crianga nas escolas municipais, incluindo a educagso na o politica. O potencial de fais sstemas partcpativos em controlar o desenvolvimento, gerir sabilidades e melhorar 2 qualidade de vida e o desenho da cidade brasileira é ébvio. de de 1990, muitas prefeturas comecaram a se voltar para 0 mercado global ea rediecionar Slorcos urbanisticos no sentido de defini uma nova imagem para suas cidades na atragdo de inves- Fe de capital internacional. Mais uma vez, o fio de Janeiro configura um exemplo pioneio a esse oi no inicio da década de 1990, passou a reorganizar a sua capacidade de gestéo administrative ico que delineou modos de tornar a cidade global e mais competiva ‘rea de deserno urbano foram inciados no sentido de uma trans fo imagelica, melnova da qualidade de vida eatrado de investimentos por rao de programas Tricor de impale, com de TevaizaBo urbane (Ro Cidade) e ubanzacao de Tavelas (aves =e grandes eventos internacional.” 99)Conferéncia Mundial da ONU sobre o Meio Ambiente e 0 Desenvohiments), no lo de Janel, de FT yplano abrangente de acbes assinado por cversos pases que compareceram 2 Rio‘2 dria ONY) foram as primeiras ancores “midisticas” pés-abertura politica que ajudaram NAAT W & Mo 1 5 10 de del Rio e 0 Capitulo 12 de Duarte e Magalhaes, a reposicionar 0 Rio de Janeiro no mapa global, gerando importantes repercussdes nas pol desenvolvimento nacional e local, particularmente na ampliacéo das nocoes de sustentabilidade e| 40 ambiental. A Agenda 21 influenciaria ainda a regulamentacao dos capitulos de politicas urba ~ambientais da Constituicdo nacional através das discussdes que levaram ao Estatuto das Cidades, 0s conceitos basicos do Estatuto das Cidades comecaram a ser delineados, na verdade, com 0 trab do CNDU e a Lei de Desenvolvimento Urbano aprovada em 1983, zinda durante 0 governo militar, 3 ‘aprovacio da Constituicao Nacional em 1988 e a necessidade de requlamenté-la no sentido de imple ‘at seus capitulos de politicas urbanas e ambientais. Aprovado apés anos de debates, foruns @ pollticas, e dos esforcos do Forum Nacional de Reforma Urbana, criado em 1987, durante o processo Assembleia Nacional Constituinte, 0 Estatuto das Cidades é poderosa ferramenta de imple Juridico paraa implementacio das poltcas urba L Ribeiro @ Cardoso, 2003). Além de juntar instrumentos legais que se encontravam, pasos na ele definiu mecanismos ¢ instrumentos novos e avancados para o controle do uso do solo urbano, ai mentagao dos planos diretores, a participacao cidada e o controle de desenvolvimento. © Estatuto das Cidades injetou nova vida ao planejamento e ao urbanismo, aumentando as p lidades de implementacao do desenho urbano, e comecou a forjar 0 caminho para uma cida temporanea democratica e mais justal 0 espirito que o nortela é o de tomar as cidades mais inc “€ Fernandes, 2001). Espera-se que o Estatuto tenha um forte e longo impacto na estrutura: urbana do Brasil 20 definir as bases para um novo paradigma legakpolitico que assegura 0 propriedade urbana desde que sua fungao social seja alcancada, ou seja, desde que responda a minado no plano diretor e consequente legistacéo municipal de construgao (permitindo a permuta de terra entre Estado e empreendedores imobiliarios), 0 Urbano, a regularizacao facilitada de concesso de titulos de propriedade, 0 zoneamento esp favelas, o imposto progressivo, as operacdes urbanas consorciadas € 0 direito de preempcao. Ef Estatuto também tenha introduzido 0 importante conceito de direito de vizinhanga, os municipios: que devem definir e requlamenté-lo, 0 que pode vir a gerar possibilidades politicas interessantes, ja q cada cidade terd que fazé-lo a partir de seus proprios processos sociopolliticos.?* Considerado um avancado mecanismo legislativo, o Estatuto tem influenciado fortemente as forca ticas e a construgao da cidade brasileira (Maricato, 2001; Ribeiro e Cardoso, 2003). O primeiro im ‘alvez tenha sido a regulamentacao da Constitui¢3o Nacional, no sentido de determinar que munic com mais de 20 mil habitantes, aqueles localizados em regies metropolitanas, 05 declarados ¢ "esse turistico e aqueles afetados por grandes projetos deveriam, todos, ter Planos (ou revisados) e aprovados por suas cémaras de vereadores até outubro de 2006, prazo esse dt 2 Luls Cesar Ribeiro, Adauto Cardoso e Luciana Correa do | (professores do IPPUR/UFRJ) em entrevista @ Vicente del Rio, em 10/7/2005. aay a » Informacao de www.cidades.gov.br, obtida em 26/10/2006. Introdugéo | Contexto do Desenho Urbano no Brasil 311 Sas Grandes cidades a desenvoherplanos dretores que incorporaram as diretrzes do Estatuto Parecem ter sido Porto Alegre em 2001 (mesmo antes de o Estatuto ser aprovado pelo BS0) € S80 Paulo em 2002. 0 plano de S80 Paulo, desenvolvido pela segunda administragao Pe inttulada, em grande estilo, Plano DiretorEstratégico, resultou de uma série de reu- £25 com diferentes atores e descentralizaa gests urbana em distritos e conselhos Consultves fantes da Comunidade @ do setor privado. O plano de S80 Paulo contém 308 artigos (nao fe, em uma cidade de 14 milhdes de pessoas) e incl véras inovacbeseferramentas de pla- #vancadas, tals como parceras pOblico-privadas e operacdes consorcadas (empreendedores Bbter uma mudanca no zoneamento de um terreno em troca de construir habitacio de interesse R outro lugar, transferéncia de direitos de construgio, zoneamento especial para favelas © a de IPTU progressivo para incentivar o desenvolvimento de vazios urban. gavel grande passo institucional para um desenvolvimento urbsano regionalmente mais equil- @s cidades brasileiras mais ustas e com melhor qualidade de vida foi a formagao do Ministerio das M2003, ainda na primeira gestao do governo Lula. Dividido em quatro Secretarias -HabitacSo, i Sua misséo basic & implementar onal de Desenvolvimento Urbano e a Politica Nacional de Cidades. Sua missao tem sido Drincipalmente através de repasses de verbas e programas de investimento em infraestru- taco e treinamento de funcionérios publicos locas e apoio 20 desenvolvimento de planos locas, particularmente através de financiamento a0s municipios mais pobres * Além de verbas definidas pelo orcamento federal, 0 Ministerio ¢ o gestor dos recursos provenientes do FIGS, mmo agentes operadores a Caixa Econdmica Federal e 0 Banco Nacional de Desenvolvimento. htemente, algumas das politics do Ministério refletem preocupacées evoluldas a partir do tra- ERFHAU e do CNPU/CNDU. Nos titimos anos 0 Ministério tem incorporado a seu trabalho a ‘em incentivar os meios alternatives de mobilidade e a sustentabilidade, Acima de tudo, a {0 trabalho do Ministerio refletem o reconhecimento nacional da importancia das questoes fa o desenvolvimento nacional e para o alcance da equidade social alamada na Constituicao. plo do rebatimento direto do trabalho do Ministério das Cidades no desenho urbano foi a ipromovida em 2006 na Assembleta Nacional no sentido de aumentar os padrées minimos ss ambientals para loteamentos urbanos definidos pela Lei n° 6.766 de 1979. Se isso ‘Passo importante na direcao de projetos urbanos de maior qualidade, poderia também feamente no mercado a0 elevar 0 valor do solo ¢ 0 alienar os consumidores mais pobres. Fernandes, ex-diretor do Departamento da Propriedade da Terra Urbana do Ministério $, 05 principals problemas urbanos que o Brasil ainda enfrenta sao a proviso de escrituras mas de propriedade legal, assim como infraestrutura e servigos para favelas e ocupacdes y sub-humanas fas perlferias das grandes cidades (Fernandes, comunicacao pessoal, 11 de Pelos calculos do Ministério, ainda existem 11 milhGes de domicilios com falta de infraestrutura basica, e a caréncia de novas habitacdes é de cerca de cinco milhoes de to ele almeja ter apoiado a construcao de trés milhdes de novas habitacGes até 2014. pant Rag 1 Marple 2 jo em Aberto oncluir sobre uma hist6ria que ainda esta sendo escrta, mas nos parece evidente que com novo milénio o desenho urbano no Brasil vive possibilidades promissoras que iro afetar de o Ministério das Cidades em wowcidades.govbr. ins Magalhdes,Secetara Nacional de Habitag, Minstro das Cidades. Comuricago no Férum ‘Urbanizago e Infaestutura Sustentaveis, Washington DC, em 10/4202 SO S5GRSe FSSSR ESS > Feser es ESacbege 32. Desenho Urbano Contemporéneo no Brasil modo significativo o futuro das cidades. Tais possibilidades resultam de forcas que atuam em di diversas, mediadas pela fragmentacao socioespacial 120 historicamente arraigada e o desejo das ‘alta e mécia de manter 0 status quo. Por um lado, a redemocratizacao, o aumento da partic democratica na gestao das cidades e do pais e @ nova ordem juridico-administrativa estabelecida pe Constituicdo Nacional e 0 Estatuto das Cidades abriram um caminho fundamental na diregio d desenvolvimento urbano mais socialmente justo e uma dimensao publica mais inclusiva e acessvel P ‘outro lado, 0 recuo do modernismo radical, o debate na direcao do desenvolvimento sustentavel busca por valores mais humans e a economia e a cultura da globalizacéo pressionam por mudancal paradigmas tedricos e modelos urbanos nem sempre coincidentes. Com 0 desenvolvimento brasileiro ¢ as cidades refletindo cada vez as implicacbes € contradicoes globalizagao, corre-se o risco de perder a nocéo do espaco como “conjunto indissociével de obj sistemas de aces” e 2 ordem mundial pode superar e impor-se & ordem local (Santos, 2002, p. Se 0s lugares podem ser vistos como intermédio entre o mundo e 9 individuo, o desenho da cidad de seus lugares possui uma responsabilidade direta nessa intermediacéo € na nogdo de mundo sociedade que o individuo apreende e vivencia, Ainda como diz Milton Santos (2002, p. 319), "0 esta 0 papel fundamental que 0 dominio publico e as suas manifestacdes urbanas representam na politica e sociocultural brasileira Enquanto a privatizagéo se expande sobre o espaco publica e produz espacos segregados, muitas exp «Ges socioculturais fundamentais para uma sociedade urbana sadia s6 podem ocorrer "fora de casa” nas ruas’, e, portanto, dependem de espacos plblicos acessive's, bem projetadas e minimamente eq pados. Por um lado, desfles carnavalescos, celebragies religiosas, partidas de futebol e outros esportivos, a cultura da praia, as manifestacoes e grandes eventos publicos devem acontecer na este publica das cidades ~ em areas visiveis, amplas e acessfveis por todos. Por outro lado, encontros € sociais, visitas familiares, reces sociais, ver e ser visto, o lazer familiar, e mesmo pequenos nega de varejo, particularmente em bairros mais pobres, tradicionaimente demiandam espacos no ambito ¢ dominio publico. Além disso, 0 espaco da rua e os espacos pUblicos s8o particularmente impor n para as populagdes de baixa renda que moram em unidades residenciais diminutas, dependem de i sociais para sua sobrevivéncia, se apoiam no dominio pdblico para mediar distincoes de cl cdemarcam rigidamente os dominios socias da rua (pablica) e da casa (privada} (Da Matta, 1979) a praca, a calcada, 0 parque e a praia serao sempre lugares fundamentals para a sociaizacao € ap dade, e assim para 0 urbanismo e 0 desenho urbano brasileiro. sobre o que a cidade deve ser, 0 desenho urbano contemporéneo brasileiro @ pés-moderno No St ‘em que aceita e incorpora uma variedade de valores socias e diferentes visGes sobre o urbano como pode ser, Ele é mais participativo e responsivo as demnandas da comunidade e se empenha na pret de ambientes mais justos socialmente. A cidade do modernismo tardio, a cidade reutlizada € 2 socialmente inclusiva, as trés tendéncias representadas neste lv, representam urbanismos cont ‘eos distintos que coexistem no ambito de todas as cidades brasileira e ria mente de todos 05 a cose profissionais brasileros. O desenho urbano no Brasil ndo mais aceita as limitacoes de um para unico e as possiblidades limitadas dos modelos rigidos que dat surgiriam, @ tem se voltado para diet tes sistemas de valores e de vis6es de mundo, gerando multiplas possiblidades, Os urbanistas bra esto cientes de que @ qualidade da cidade, a funcéo social e o significado cultural do dominio p so pilares fundamentals da sociedade, Para se tornar totalmente eficiente como uma ferramenta ‘ desenho urbano tem que se valtar cada vez mais na busca por uma cidade verdadeiramente plur @ com especifcidades culturais, e por um desenvolvimento social e econdmico justo e equilibrada cidades brasiliras possuem esse caminho aberto, e sua populagao, mais do que 6 almeja, © merece

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