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PRrEFACIO A EDICAO. REVista! I Fst ano Fragilidade estd completanclo quinze anos’. Durante esse tempo, muita coisa mu- dou, tanto na minha maneira de pensar como no ambito mais amplo da Filosofia, Com relaczo zomeu proprio pensamento, o meu crescente wvolvimento com a ética estéica ea minha pre- ocupagio cada vez. maior com questdes de lilosofia politica deram-me novas perspectivas s0- bre alguns dos temas éticos aqui discutidos. Entrementes, o trabalho sobre o pensamento ético dos antigos gregos, antes apandigio de um pequeno grupo de especialistas, ven aos poucos conguistando lugar central no palco da filosofia moral anglo-americana e da Europa continen- tal’, Esse movimento € heterogéneo, ¢ modelos gregos sio invocados para sustentar intimeras posigdes diferentes, algumas das quais s2o objeto da minha veemente discordancia. Assim, em- bora nesta edigio o texto em si esteja inalterado’, este novo Preficio me da a grata oportuni- dade de complementar Fragilidade com minhas reflexes sobre essas mudangas ¢ sobre como elas afetam minha visio atual do livro, Fragilidade examinou o papel da vulnerabilidade humana a fortuna no pensamento ético dos poctas tragicos, de Platio ¢ de Aristételes. Embora o texto tenha dedicado alguma atengao 20 papel da fortuna na formagao da virtude do bom cardter, ele enfocava primordialmente a lacuna entre ser uma pessoa boa ¢ conseguir viver uma vida humana florescente, uma vida que contenha proeminentemente a atividade virtuosa, (Assim, a “bondade” do titulo deve ser en- tendida como “o bem humano” ou eudaimonia, ¢ niio como “bondade de cardter”.) E famosa a alirmagao de Sécrates de que uma pessoa boa nio pode ser prejudicada ~ 0 que significa que, enquanto a virtude estiver a salvo, estara a salvo todo o necessirio para viver uma vida flores cente, Alirmo que essa id “ marcou um estagio de um debate rico e atribulado sobre o papel ‘ico da fortuna, debate que prosseguiu, em Atenas, a0 longo dos séculosVI eV a.C., edo qual Particparam tanto potas quanto fildsofos, Ao investir contra o papel da fortuna no pensa- mento dos poctas trigicos, Sdcrates preparou 0 caminho para 0 ataque mais sistemético de ' Souinuito grataa John Deigh, Mickac! Green, Andrew Koppelman, Charles Larmore, Michelle Mason, Richard Posner, Henrt Richardson, David Sedlley, David Strauss, Cass Sunstcin ¢ Bernard Wiliams por seus comentirios Soprerso 6 su novo Preficio nfo: 808 2.um eshogo anterior deste Preficio, O livro jé tem uma dedicatéria, mas se ico asim este Prefieio ao meu professor ¢ amigo Bernard Williams, um dos distintos filésofos do nosso tem- * Sv hilariante obra sobre a fortuna inspirou, ¢ continua a inspirar, meu trabalho sobre esses temas, verdad, muito mai ‘ bogi-la por volta de 1971 an * Muito mais antiga, js que comecei a esbogi-lap cant Niotencono cxclr outa cultures filoséficas: simplesmente nao conheo o suficiente para dizer se a an entees em outros lugares. Se que a flosofia moral peruana compara oterese pela iad i 45 Woe eteh @ importante jornal Areté fez del smas centrais. i io ts Jornal Areté fez dela um de seus te rae Into de vitios erro tp ‘complementaggo de referéncias a livros que entio no haviam “io etdne ” *St0s errs tipogrifics ea complementacio oc. Kt ee | | | xiv Afiagilidade da bondode ecdnoosnit Platao e para a complicada tentativa aristotélica de preservar alguns elementos da.cena trigicy ria de fazer justiga & posicao de Sere alga aleptos, uma concepeo como g Muito embora a idéia de Séorates ten Ei aes ments da at eon Ae one Maitos elementos da vida que normalmente so tidos eee ool rio de ser omitidos. Poi dificilmente se poderia negar que Ee as atividades envolvidas em varios tipos de amor eamirade, | jes associadas com as virtudes éticas maiores (coragem, justia, © assim por que a bondade do agente nao pode por si mesma ass tos que fogem ao nosso controle podem causar pre- que estio para além do nosso controle podem afetar, para o bem ou mal, nfo apenas nossa felicidade, sucesso ou stil, mas oe ele mentos éticos centrais de nossa vida: nossa capacidade ou incapacidade le agir de maneira | justana vida piblica, de amar outra pessoa e cuidar dela, de agir corajosamente. Assim, mesmo sem ponderar a questo do papel da fortuna’ em fazer-nos sabios, corajosos ou justos, perce- bemos que cla parece ter um papel ético importante na medida em que nos torna capazes, ou nio, de agir virtuosamente ¢, portanto, de levar uma vida plena do ponto de vista ético. Nao s6 para os poetas, mas também para alguns filosofos, parecia dificil negar que a uma pessoa in-_/ capacitada por uma doenga crénica que a desfigufrava, ou a uma pessoa presa e torturada, oua uma mulher estuprada pelo inimigo ¢ escravizada, foram recusados pelo menos alguns ele- mentos eticamente significativos do apogeu humano. Essas pessoas nao sao apenas infelizes: | elas também tém menos capacidade de fazer € intercambiar as coisas que possibilitam uma vida humana plena, | Somente, pois, pela identificagio da plenitude da vida com um estado de carater virtuoso, ou com certas atividades, especialmente a contemplacao intelectual, cuja realizacio parece menos —— de contigs eteviores, seria possivel sustentar de maneira plausivel que | get, por exemplo, prea Arsttles a deapete de sew ince ee eaneico do ape » a despeito de seu interesse em geral veemente pela. F¢P como indispensaveis 4 eu at a capacidade de atuar como cidadio, e mesmo as atividad: diante) requerem condigdes exteriores gurar. Fliminadas essas condigoes, even! juizo, inclusive prejuizo ético. Isto é, eventos estabilidade, empobrecer avid . vida dos seres hum, ‘ i av Que a vance eta dos sereshumanosa tal ponto que dea de ser digna de vier —_ fora posta oe iach 2 ortuna foi um tema central da flosofia grega pés-aristotélicajamas -S°8 reas aay tina, embora ease aspecto da ética helenisticacareceste ainda de um eXame a poeta tiene non aS em que Plato eAristbteles compartlharam a preocupasio dos losofi menos amplamente recoheed ns om MOldar a vida que os humanos conseguem viver fi | SS ecido, assim como o foram mui os ao: nadas entre os poctas ¢ os filisofos, Rea am muitas linhas de continuidade relacios | ge auais ca gam fol umn moony eee e828 continidades e gs temas em torno r ot centre in rofissdes na vid para o livto. Parecia so a Profisea na vida moderna hava-nos obseurecido avec a me que a segmentasio di 8. Afi sree YC» 08 poctas trigicos eram amplancnn ew emt® de que, na Atenas dos an i sue ies Os filésofos arvoravam-se em coma ets Como Fontes principals 9. Entre dleartamenta veloc competidores, nao sh Trrtamento reacionado. E competian tanto na Rema ee ampesmente colegas em mi for ; 8 : ™a como no conteido, selecionando a8 tes Xp, bs Not a, bom como no texto, emp ber remos eh EM: empREROo terme “Tortus” para des 1987 una concen pari ge Stes HuManOs no tz cont Tana OF BEBE designaram por pA 8 dois & ©. Aliegent te pervs sobre cua les ele no conota aleatoriedade, nem mest? tico d ‘NB mapa, ment tos de uma tal investigags | wees Paralelo a Fngitidade, ima tal investigacSo em The Therapy ¥ {9f Desire, publica ems 1994, um voli socrit Proficto dedisaoreviua = XY tratéjgins que pareciam mais propensas a revela seus alunos os tipos de fatos sobre © mundo q ¢ cles tomavam como verdadeiros, Assim, um tema secundério do livro & 0 debat toias e das fi ais é male acere dessa estratégias c das faculdades a que se divigem. Os poctas trigicos sustemtavamn « reve yam em sua escolha de formas literarias, a idéia de que emogdes forte : entre as qua cram fontes de percepgio da boa vida humana, Plat ia ¢ desenvolveu uma cones rent a piedade ¢ 0 lemor id intelecto retornou a p dade do foresei fio negou essa vlveu a 2 tanto quanto posstvel o influéncias perturbadoras do sentido ¢ da emogio'. Aristételes, segundo alirmei lo menos algumas das percepgdes dos poetas trigicos, tanto sobr ento A desgraga, quanto sobre a pertingncia ética das emogies ‘ecimento com respcito a importincia de tais rev Quando Fragilidade foi publi peao de entendimento ético que separ es. velo, havia na filosolia moral contemporinea uma surpreen- dente auséneia de discussdes sobre a vulnerabilidade e a fortuna, apesar des 4 permanente ates dos gregos também como uma incia humana. Considerei, poi ctomada dos deb ar sport Jo aum entendimento é contribuig ico contemporanco, Poucos de nds acreditam agora que vi al; poucos acre amo A maior perfeigio. cee, as conseqiiéncias éticas contempori nde parte indilerente aos nossos esforgos nao. ha também a intengo de ser um passo pre vemos em um mundo providencialmente ord aclo pela finalidade do bem ge ditam até mes mo cm uma teleologia da vida humana social que avanga aca mim F;, no entanto, pelo menos assim parec neas de supor que vivemos cm um mundo em g ido plenamente investigadas, Fragilidade sstigaga Sustento ainda a maioria dos argumentos de Frugilidade, tanto interpretativos como subs Jo de Aristétcles do ser humano, ¢ da del grande importincia para 6 pensamento politico ¢ éico contemporaneo; cacredito que a descricao da pluralidade de bens ¢ de conflitos entre eles que encontramos tanto nos poetas como em Aristdteles of 1 do raciocinio social contemporanco, Mas 0 meu crescente envolvimento com a ética estdica me fez, enxer- ar alguns temas do livro original sob uma nova luz — especialmente a natureza das emogbes ¢ fo de ser humano. Entrementes, minha preocupagio com a filosofia politica levou-me tantivos. Por exemplo, beragio pritica, é de «la penso que a conceps ce percepges ausentes em boa p a repensar varios t6picos de Fragilidade, incluindo a importincia ética da pluralidade de bens, avulnerabilidade da vida humana a fortuna ¢ a natureza da amizade. A segunda ¢ a tercei ges deste Preficio discute nterpretagd iderages. Com respeito & disseminada influéncia do pensamento ético dos antigos gregos sobre a fi- losofia moral contemporinea, sinto agora a necessidade de clizer explicitamente algumas co sas que deix m Fragilidade. Em particular, gostaria de me distancia temitica em ética ¢ 0 objetivo iluminista ‘a se es € reco! 1 essas, subentendidas dos ape- los aos gregos que insistem em rejci de uma vida social fundada na razio”. avam dispontve mplesmente 8.Afirmo, entretanto, que ele niio manteve es posicio ao longo de toda a sua carreira: 0 ero, particularmente, pear com clareza. nase life emi ‘mara uma mudanga, ainda que seja uma mudanga altamente imbuida de Entre as concepgies que tenho em mente aqui, as mais influentes sio as ke Bernar pend ial ‘nts of Philosphy (Cambridge, MA: Harvard University Press, 1985) e Shame and Necsy Berkerley Loy ngs les: University of California Press, 1993), ¢ dle Alasdair MacIntyre em Afr Virwe (Notre Dame: ied y Notre Dame Press, 1981) ¢ Whose Justice? Which Ractonalily? (Notre Dame: University of Notre Dame Press, 1987), Para uma discussio substantiva dle Willians, ver “Human Nature”, “Pr all They S ‘Virtue ios dois iltimos artigos também discutem obra relacionada de Annette Baier ¢ Cora Diamond. Para meu exile ico de Whose ar de Maclntyre, ver The NewYork Review of Books, 7 de dezembro de 1989. Na segio Ni a6 Mentarei que a diferenga entre Williams ¢ Macintyre é muito significativa: Macintyre & ets poe eee ido) como contra a razo; Williams, embora rejeite a teoria étia, deflende a fdéia tuminist socritica) de uma cultura critica publica. hies and the Li- 9, A fioglidade da bondade XVI c aqules que gostariam dle rotular como “antitcoria” a minha posisio,a qu vag rejeitaridéias iluministas, mas adequar os gregos como aliados de uma versio ey, aon ee eraliemo iluminista, estio simplesmente equivocados. A quarta e a quinta sesde, panda oe ocraesleexes asuntow. a quarta enfoca aascensio da antiteoria”e da anti-ranne ‘a semor do pensamento ético recente A quinta enfoca uma dscordncin mats sul quanta resposta apropriada as desgracas tragicas. quinze anos atras, u Um dos temas principais de Fagiidade, como sugeri, era o papel que as emogies tém de nos esclarecer sobre questdes de importincia ética: Ao tratar dos poetas trégicos, do Fedo de Platio e das concepgdes dticas de Arist6teles, falo com freqiiéncia de uma funcio cognitiva dag emogées; mas digo pouco sobre o que sio as emogdes. Entretanto, a anilise correta da emogin faz uma diferenga consideravel para a questio que suscitei; algumas anilises das emoges tor- nam muito mais plausivel do que outras sua fungao cognitiva. Refletir sobre as emog6es passou a ser um tema central em minha obra posterior. Meus conceitos foram largamente influencia. dos pelo fato de que dediquei considervel parte desse periodo intermediario ao estudo do pen- samento ético ¢ politico das trés escolas helenistas centrais: epicuristas, céticos ¢ estéicos!, Entre esses, 0s estdicos tiveram maior importancia no desenvolvimento dos meus conceitos sobre a emogio. Acredito que eles nos proporcionam 0 niicleo da explicagio de que precisa. mos, se quisermos tornar plausivel a idéia de que as emoges revelam realidade ética. Afirmando que as emogées sio formas de juizo de valor que atribuem As coisas € pessoas que escapam ao controle do proprio agente grande importincia para o seu proprio floresci- mento, os estdicos seguem insistindo que todos esses juizos sio falsos, ¢ que devemos nos des- pegar deles tanto quanto possivel. Rejeito em ultima instdncia essa visio normativa em sua forma simples, embora pense realmente que ela tem muito a nos oferecer no que diz respeito a insensata fixagao por dinheiro, gloria e status. A andlise que os estéicos fazem das emogdes como juizos de valor, entretanto, é indepen- dente de sua controversa tese normativa, Apropriadamente modificada, acredito que ela possi fornecer a base para uma explicacio filoséfica contemporanea das emogdes!’, Para que seja adequada, a teoria estéica requer trés tipos principais de modificagio. Em primeiro lugar, ela precisa dar uma explicagio plausivel da relagio entre as emogdes adultas e as emoges das criangas e dos animais. (Os estéicos negavam, sem nenhuma plausibilidade, que as criangas € 0s animais tivessem emogdes.) O desenvolvimento de tal explicag3o nos leva a ampliar a ani- lise cognitiva estdica de modo a incluir uma gama maior de tipos de cognicao, como percep- Ses e crengas nao lingiiisticas. Em segundo lugar, a teoria precisa dar uma boa explicagio da variedade cultural da emogao. Os estéicos demonstraram de modo convincente em que me dda as normas socials se tornam internalizadas na arquitetura de nossas emogdes; mas pens vam que as normas relevantes eram basicamente semelhantes em todas as sociedades, ¢ assim dedicaram muito pouca atengao a variacdes sutis. Finalmente, a teoria estdica precisa de uma historia genética de como as emogies adultas se desenvolvem para além das emogdes arcaicas vestigios das primeiras experiéncias substal a com relagao aos objetos amados. 10, Sai Gm Thevpyi mas 0 estécos também desempenham um papel central em “La yer”, Er “Kae Stes, Fr Love of County, Political Animal", “Cioero” “Tous py erase sea ae 11.0 projto de Ups conser mare dene apn tM atic Theory” Uphena ine i Preficio elie rere XNA Aquele que adotar u alterada, Pre na versio da teoria estéica da ¢ sara reconhecer, como conseqiincia, que + Mesmo nessa for ; orienta ta ético. As emogi bastante ; 4 io dada pelas exnogé hoa e as vezes ma, do ponto de v , be vezes bon y cs nao sio mais confiive Jraterial cultural do qual sio feitas. Uma boa eriticafiloséfica las norma ealtgans pa critica das emocoes culturalimente adquiridas", Esa a jteoria de Aristateles da emogio, embora cle nio confira a crenga 0 mesmo papl na ernony {ques teoria estdia confere', Esse problema devera, pois, ter sido exposto ear Fragiade tle mancira mais completa do que foi, Parece-me que 0 meu interesse em vindicar a possbilidade gral de uma fincio cognitiva para as emogées levou-me a enfocar demasiados casos (por exemplo, o dos amantes no Fedro) em que a influéncia delas é boas cu dleveria ter reconheerlo mas plenamente a verdade do juizo de Patio, segundo o qual elas porlem fixar no espirito er. ros arraigados na cultura, Ainda que a concep¢ao estdica apresente assim alguns problemas para todos os que contfia riam na orientaga0 da emogao, ela também conserva esperancas para o esclarecimento da so: ciedade ignoradas por ao menos algumas tcorias iluministas, como a de Kant, por exemplo, que tende a tratar as emogdes como elementos relativamente nio-inteligentes da natureza hu nana. A concepcio estdica sustenta que, muito embora a mudanga nio seja facil, é possivel & personalidade como um todo se tornar esclarecida, se combater os juizos de valor que consti tuem a raiva e 0 édio insensatos"*. A explicacao de Aristotel ranga semelhante; com efeito, sua idéia de que a emogio apropriada é uma parte constitutiva da virtude significa que um individuo pode cultivar emogdes virtuosas, aprendlendo a sentir raiva da pessoa certa e nio da errada, no momento certo, e assim por diante. Aristoteles é, por certo, demasiado confiante quanto 4 medicla em que as emogoes, adqui ridas cedo, podem de fato ser mudadas. Os estdicos percebiam que todos os hibitos profunda mente arraigados sio dificeis de alterar, e mais dificeis ainda se estio enraizados na estrutura motivacional da personalidade, Em Therapy, argumentei que Séneca enxergava mais longe que Aristdteles quando afirmava que a luta contra a raiva requer vigilincia perpétua. Sobre © amor cerdtico apaixonado, suas idéias cram ainda mais complexas: nas tragédias, mas no nos escritos filosoficos, ele insistiu na capacidade do amor de fugir & avaliagio moral, e encontrou nessa energia amoral uma fonte potencial tanto para a beleza quanto para o perigo. Minhas préprias rellexdes recentes sobre as raizes da emocio na infancia e na puberdade sugerem ainda outras raves para supor que as emocdes arcaicas poclem criar obstaculos formagio de um cariter virtuoso, Contudo, a adocio de um tipo cognitivo de tcoria da emogo ainda sugere dire para o aperfeicoamento da sociedade que nao serio evidentes para nés S€ cons emogées simplesmente como impetos ou impulsos, desprovidas de um rico contetido cogni. tivo ou de intencionalidade. Devemos pensar que o objetivo apropriado para uma sociedade justa, por exemplo, nao é meramente a supressio do édio racial; ¢ a auséncia completa de tal emogio, a ser realizada através de formas de um discurso piblico e (especialmente) de uma ceducasio piiblica que ensine 0 respeito mituo entre todos os cidadios. Desse modo, pensar bem sobre o que so as emogdes pode nos ajudar a de! tese geral de Fragilidade sobre a sua funcao cognitiva. Concomitantemente, a obra revela tanto alguns riscos que corremos a0 confiar na orientacio delas, quanto algumas perspectivas para Progresso pessoal ¢ social anteriormenté nao reconhecidas, queo : retara © ponto importante se aplica também es da emogio conserva uma espe derarn sas ender melhor a 12 Para um caso sobre esse ponto, ver minha reflexdo Sobre a critica estéica de éos em “Ens” esse artigo inclui al ‘gums modificagdes da minha reflexdo sobre o Fedo cle Platio em Fraildate Capitulo 7.4 principal modiiex 13,829 osconamento mais seguro do argumento em seu contexto social ehistirico. a yeaa rellexdo sobre a diferenca, ver Then, Captus 16 10. | Ner*Kant-Stoics" e, para algumas implicagses legais contemporineas, 1 fo\h 4 \ PV dk eric. culluce\ dus emo Two Conceptions", Vi —————— ti tt XVHIE A finglidade do bondode ait em questoes politicas ~ entre seus temas. M nto politico. Ein particular, a « | embora 0 papel da fortuna em nossa e, Fragilidade nfo era centrado e™ nas éticos da obra tf pacidale de agir como ciao estives if realmente implicagdes significativas para © | aristotélica do ser humano como um ser Ho rica pluralidade de atividades vitais (conceps trigios), tem notdvel ressondnci para 0 pens senvolvimento, Porque passei grande parte do ter e oes e porque, aqui também, vejo agora as quests sob anna 1 resultado de meu envolvimento com a é ; veclobramentos, ainda que a narrativa Fesultante possa parecer menos diretamente ligada ay argumento de Pgildade,O que deve emergit dat & uma maior continulade do que a pring pio poderia parecer entre o livro ce 1986 e as minhas aluais preacupayies politicas. O pensamento de Aristtees foi apropriado pela teoria politica moderna de ras. Meso que nos restringlssemos is suas iias sobre a capacidade e a atuagio hurmanas, esas idéias foram centrais para um bom nGimeto de projelos modernos diferentes: a doutrina e Tica socialdemocrata de Jacques Maritain; a doutrina catélica conservadora de John Germain Grisez; 0 comunitarismo catélico de Alasdair Macintyre; 6 marxismo humanista do nento de Marx; a tradigao so- nc Ernest Barker’. Todos esses pensadores podem corretamente alirmar que encontram cm Aristétel © que dizem; em parte, a razio disso ¢ que Aristoteles ¢ um pensador politico incomumente diversificado, e por vezes também internamente incocrente", Durante os iltimos doze anos, vali-me de Aristételes para descnvolver uma teoria politica e uma teoria das bases éticas para 0 desenvolvimento internacional que é uma forma de libera- lismo socialdemocrata, estreitamente relacionadla is concepgoes «le Maritain, Green ¢ Barker, Embora tenha por vezes me interessado pela interpretagéo textual estrita das concepgbes de Aristételes, almejei primordialmente de: os t o pensam nce apa, quanto vuln necessita de uy Jo que ele exttai sob vérios aspectos, dos poet le. cimpo intermedidrio em busea dessas implica vel, qu ento contemporanco sobre bem-estar ¢ substancialmente nova, com v estoica, parece de grande valia esclarecer esq nuitas manci 6. Finnis ¢ jovem Marx c dos seguidores posteriores dessa linha do pen! cialdemocrata liberal briténica representada pela obra de'l. H. Gre sustentagio para lmejet envolver uma concepgio propria que, nao obstante em certo sentido aristotélica em espirito, afasta-se de Aristételes sob muitos aspectos, tanto m2 diregdo do liberalismo como na diregio do feminismo'”. Em colaboragio com © economists ‘Amartya Sen's, mas desenvolvenclo uma proposta politica normativa inclependente do uso com” Parativo que Sen faz das capacidades como uma medida, argumentei que uma explicagio de eer tas capacidades humanas centrais tem o potencial de fornecer diretrizes ao planejamento pol 15, Para Maritain, ver, entre o i bs a oe mes The Rights of Man and Natural Law (Nova York: Charles Scribner's Sons, 1943)¢ fon Chr (tng: Chicago University Press, 1951); para Finis, Ntural Law and Nar Rg (O* agree oes a 1980), qu tac desenvolve as obras de rise, gralmente mais rents pr Ms Ae Mave non aa na boa rllexdo sobre a inugncn dos Leomomic and Piowphial Manuscript 14 ismos humanistassubseqientes esti em David A. Crocker, Pass and Democratic Soot ara Green, ver Prolegomena to Ethics (Oxford: Clarendon Press, 18%) ans, reeditado em 1941), As partes mais pertinentes da cP Por meio cle uma cuidadosa leitura de seu The Political Thong 9 Plato and Aristotle (Londres: Methuen, 1906 mentirios que relaciot le 8: Methuer é bee répria posicio floss hea ecom ade Gees) TP de comentirios que relaci 7 dade e suas fom ass at Lome textais, ver “Aristotle/ Capabilities ‘ nespeio até em IHD, que contém também uma enumeraei® Portant, no slo na ibliogafia Porque esto enumeradas em WHD. SE Proficto & edigdo roving XIX. jo minima necessiria da justiga social, dew como condigi se garantir aos cidadios um nivel gr dessas capacidades, 0 que quer que posstiam além delas, As capacidadles podem também eas comparativamente, como un indice de qualidade de ‘ko longo «los anos, venho enfatizando cada vex mais a pela discordincia razoavel sobre o valor mente de Aristételes, que fi fin ida. cm diversas nagbes. mportincia do respeito pelo plura ysnoe ©-0 significado tiltimos da vida. Distanciando- ne intencional teles, que seguramente acreditava que a politica devia foment Fatuagzo de acordo com tuna dinica concepsiio abrangente.da vida humana boa, afirmo que a itica deve restringir-se 4 promocio de capacidades, e nao de atuagdes efetivas, com o intuit A abrir espago para escolhas quanto a seguir ou nao seguir uma dacla atividade”, Ademais, sreamo isso deve ser feito de maneira a deixar espago para escolhas plurais le religido ¢ demais formas abrangentes ce vida. Em outras palavras, minha concepgio aristotélica —como a de M ritain, mas diferentemente de outras concepges familiares da tradigo — & uma forma.de ralismo politico”, significando um liberalismo que reconhece a importancia de respeitar dive fos modos cle vida, inclusive formas nfo liberais razodveis”, Nessas circunstncias, meu aristo- “mai m influenciado pelas idéias de John Rawls e de Kant. Outro aspecto em telismo foi cada : que me afasto de Aristoteles é meu enfoque te ico € pratico nas condigdes das mulheres nos pases em desenvolvimento ¢ na sua luta pela igualdade. As concepgées de Aristdtcles sobre as iulheres no sGo dignas de um exame sério, mesmo encaradas como meras falsidades Como trabalhei nessas idéias, utilize’ e desenvolvi mais os aspectos de Aristoteles que Fra- gilidade consicerou centrais; sua insistncia em que os seres humanos sio tio vulneriveis quanto ativos, sua insisténcia na necessidade que eles tém de uma pluralidade rica e irredutivel de atuagbes, sua énfase no papel do amor e da amizade na boa vida. Mas, uma vez mais, meu en- rolvimento com as concepgdes estdicas foi também de considerivel importéncia, O estudo dos estdicos faz-nos vivamente cientes de alguns grandes defeitos do pensamento de Aristote- les, Dado que esses defeitos esto ausentes nos pensadores estdicos que viveram no mesmo p iodo que Aristételes (¢ no caso dos pensadores cinicos, até mesmo antes deles), eles no po- dem ser escusados sob a justificativa de que a modernidade ainda nio havia acontecido”". Acre- dito que esses defeitos deveriam ter recebido em Fragilidade pelo menos algum destaque, ainda que fosse diverso 0 propésito desse livro, O primeiro © mais surpreendente defeito & a auséncia, em Arist6teles, de qualquer senso de dignidade humana-universal, a fortiori da idéia cle que o valor e a dignidade dos seres hun ‘nos sio iguais. Talvez haja efetivamente uma tensio interna no pensamento de Aristételes: pois 38 vezes ele acentua (como enfatizarei) que todo ser natural é digno dle reveréncia. Mas é preciso almitir que em seus escritos éticos e politicos sio reconhecidas classificagées distintas de seres humanos: mulheres subordinadas a homens, escravos subordinados a senhores. Para os estT= 08, 29 contratio, o simples ato de possuir a capacidade de escolha moral.confere a todos nés ‘uma ilimitada e igual dignidade. Homem e mulher, escravo ¢ livre, grego e estrangeiro, rico ¢ pobre, de classe alta ou baixa — todos sio de igual valor, ¢ esse valor impde a todos nds estritos Aeveres de respeito” Os estdicos, seguindo seus antepassados, os cinicos, utilizaram-se dessa 10, Par outras discusses sobre esse pont, ver WHD c “Aristotle / Capabilities” | +A expresso foi introduzida por Charles Larmore: ver “Political Liberalism” in The Morals of Modernity (Nova Tork: Cambridge University Press, 1996). Ver também seu Paters of Moral Complesty (Cambridge: Cambridge {versity Press, 1987). O conceito 6 ainda desenvolvido por Jonh Rawls em Politica! Liberalism (Nova York: Colambia University Press, edicdo ampliada em brochura, 1996). nic ttata da irrelevancia politica da diferenca sexual, ¢ da necessidade de criticar normas sociais de géne- Plato, evidentemente, indicou o caminho, a selene! oes achat pe ais Gl Saree foresees virtua < Ades do (ers cus eee, § py Perm acreitar que a prépria presenga do aparelhamento bisico paraa vrtude & dign de respcito, E porque z. a 2 aE —_—_—_ @#&8&@3#=7«]T

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