You are on page 1of 19
oviousSoul a vrigeod ‘apypifrssoas 2190s SOmSUT vINeION'] © LULISOID) PUSPTT PINT opsenpg our ‘Dados Hnvemscionais de Catalogs va Publicagd (CIP) (Catlagipo na pubiasio chord pla Biblioteca Neide Maria Jarcinere Zaninell / CRB-9/884 C297 Grogiafae Literasca:enssioe robregeogeaicidale, posta e ‘imaginayao/ organizadores Eduardo Marandola Je; Locka ielens Batista Gratdo, Londeinas EDUBL, 2010, 354 523 ca. ISBN 678-95-7218-5474 1, Bstudos Geogeifices.2. Literatura. I Marandela i, Bfvardo i Gratio, sicia Helens Batista cou: 8 Dindtoe reer "Bom éa Uniresdade Estadual de Londina Compas Unorittrio. (Cais Petal 5001 6051-990 Londkina PR Pone/Fac 43) 37-4674 ermal edly swirmeLbwetiors Ipreco no Brsl/ Printed in Broil ‘Deposto Legal ra Bitiwea Naconal 2000 (O duende de Granada: vis tehirica ¢geogrfca do lrtam ‘ dramética de Garcia Lorca Livia de Ollvern iteraeura de explorastese aventuras; ai "Uiogens cxtraardindrias” de filo Cerne i Oswald Bueno Amorim Filho Ramo as eniranbas ~ um percurso pelo vi até o Coragde da Teva ‘Weaceslao Machado de Olivera L1- Rerisavpo 0 sexnio 0 reels « mitico na paizagem de Grande Serio Carlos Augurt de Figueiredo Montsito Os cantos.e encantamentes de uma geografiasertangja de Patation de Assaré Maris Geralds de Almeida IIT - Terarrortacspapes F ESPACIALIDADES As teritorialidades amarcinicas relucem na narvativn lierdria de Peregrine Fiinior ‘deni Terezinhs Antonello Ogueeuma gergrafia de lugar nenbumt Masia Lia de Amorim Soares POR ENTRE BECOS & VERSOS ~A POETICA DA CIDADE VI(VI)DA DE CORA CORALINA Liicia Helena Batista Gratio REVELAGOES FOETICASA CORA CORALINA-CoRIG40 DOMRASHL "Did alegria na pote saber que exit bm nn carat de Brasil um ser chamads Cora Coraline Carls Drummond de Andrade re Carta ecrita@ Core Coralia, ‘Ride Janeiro, 14 de ub de 1070 Cone Coraline disocnas legendas Bela pripria legen de uma época «de ura istria: ‘Desai gaace-réala do vivsncias potas de ats puro das Brass, o Braid lneror, Bras! Central, Brai- Caraga, Cora Coralia (987, p06) Cora Coralina —uma mulher do “interior” do Brasil - Coragio Cerrado ~ recolhendo “pedras” produzidas pela erosiio do tempo que estimulam seu extinto estético. Banhando nas “Aguas” do leito que alenta/acalenta seu corpo vivide de vida. Sorvendo do “liquido sémico-seminal” ow que cescomre pelas palavras e nos versos na escrita da poesia-meméria, Natureza cexuberante, fonte fluente de miitiplas formas ¢ contedido. Cora Coralina Snossas raizes sertanejas”, brotadas de um “vale de our”, ‘Nos seus Poemas dos Recos de Goitse Estérias Mais (CORALINA, 1987), “quantas ligoes materiais" (BACHELARD, 1980, p.72) para uma meditacio da vida e da morte, “As imagens literdrias corretamente dinamizadas dinamizam o leitor; determinam nas almas consonantes uma espécie de 298 igiene fisica centros nervosos" (BACHELARD, Com “s palavea da agus”, Bachelurd ( sa scvidade potion, uma epic de ella et i pois tem fv rafzes: reine as improssdes visuals, as improsiGe € as impressies vocals. E a alegria de exprimir 6 to exuberante «iltima andlise, € 2 expresséo vocal que marca a paisegem com etl dominantes. A vv projeta visées. O som, 0 som nativo, © som Nh {sto &, 2 vou poe as eoises no seu Tugar. A vocalizagio comandh os verdadeiros poetas. (BACHELARD, 1989, p.96-197). Associa palavra bachelardiana da agua com os versos coralinos dos becos de G transcrevo no mesmo acorde de Bachelard: A imaginagio é um sonoplasta, deve ampliar ou abafar. Depola a imaginagio se torna senhora das correspondéncias dinémicas, as Image _falam realmente. Compreenderemos essa corespondéncia das imagens | ‘0 som se meditarmos ‘estes versos sutis em que uma jovem inclinada vol ‘0 regato, sente pastar em seus tragos a Beleza que nace do som murmur (BACHELARD, 1989, p.201): And beauty of murmurin soun Shall pass into ber face. WORDSWORTH, Three years she grew Da mesma maneira que Bachelard transcreve os versos de Wordsworth, compreenderemos essa correspondéncia das imagens com 0 som fi meditarmos os versos dessa corajosa mulher do interior ~ Cora Coragett =, que das janelas da casa velha da Ponte, olba € medita sobre o rio da sun cidade de pedro rio da sua vida que atravessou um dia em busca do set destino ¢ que com(0) ele segue, levando o seu destino, compartillsando suay dguas ¢ seus versos: Que se alarga nos remanvos. La Rio de diguas vethas. Roladas das enxurzadas CCrescidas das grandes chuvas. Rio do principio do mundo. Rio da contagem das eras. Rio~mestre de Quimica, Na recorta das corredeiras, cotrige canos, esgotos, bueiros, das casas, das ruas, dos becos da minha terra, Rio, santo € milagroso. Padroeito que guarda e zela a satide da minha gente, da minha cidade largada. Rio de lavadeiras lavando roupa. De meninos lavando 0 corpo. De potes se enchendo dgua. E quem jf ficou doente da gun do rio? ‘Quem jé teve ferida braba, febre malina, pereba, sama ou coceira? [al Rio Vermelho ~ meu rio. Rio que atravesset um dia (Altas horas. Mortas horas) i, an clare manha, cantar as vopais do regato! Onde i 0 voftimente? Bquehesismnor em dizer...le nance nat horas erm que acumulamos em ns coisas caladas, © regato vos ensinari 2 falraindaassim, apesurdasdorece daslembrangn ele vorensinaciaoria, pelo enfin, «energa plo poema. le vos epeir, a cada instante, Alguma palavia bela eredorte gue rola ax pedess. (BACHELARD, oy, p30) A sua béngito pra mien." Qs vers0s de Cora nap se calam! Ao contratio, a cidade, 0 rio, as ‘pediras, a sua gente de Goits a ensinon a falar ainda assim, apesar das dores e (CORALINA, 198%, p. 91-94). “das lembrancas, a ensinou a “euforia pelo eufemismo, 2 energia pelo poems”. Os seus versos repetem, a cada instante, alguma *palavra bela e redonda que as pedras”. Os seus versos carregam as doses ¢ 08 amores do seu tempo ‘de crianga e de juventude, tempos idos e vividos nesce vale de lembrangas: dostas imagens.em verso, retorno ao filbsofo e mestie revelando que a8 correspondéncias das imagens com i wortespondéncias realmente salutares. "O consolo de um 9, de um psiquismo enlouquecido, de um psiquismo pelo frescor do regato ou do rio, Mas seri preciso que ewe Ser preciso que o ser infeliz fale ao rio”, (BACHE) 402), assim fale a poctisa encomajada ¢ enraizada de "Paranil Longe do Rio Vermelho, Fora da Serra Dourada, Distante desta cidade, Nao sou nada, minha gente. Sem rebuco, fulo sim. Publico para quem quiser. Arrogante digo a todos. Sou Paranatba pra cé. E isto chega pra mim. (CORALINA, 1987, po). ois, minha cidade., Ew sou aquela amorosa de tas ras esteeitas, curtas, indecisas, entrando, saindo uma das outras, Ev sou aquela menina feia da ponte da lapa. Ev sou Aninha. Eu sou aquela mulher aque ficou velha, esquecida, nos teus larguinihos € nos teus becos tristes, contando est6rias, fazendo adivinhagao. ‘Cantando teu passado, laseados a machado, Janhacos,lacerados, Queimados pelo fogo, Pastados, Calsinados ¢ renascidos, “Minha vida, ‘meus sentidos, ‘minha estética, todas as vibragses ‘érm, aqui, suas raizes. (CORALINA, 1987, p. 47-48). "Segundo seu préprio depoimento, Cora Coralina teria saido da Cidade Golds, onde nasceu e viveu a maior parte de sua vida, a 25 de novembro i € voltado a a2 de marco de 1956, tendo permanecide 45 anos fort ‘Ao retornar, ela publica seu poema-prosa (on pros poética) minado “O Cintico da Volta’ ¢ o distribui numa memorével noite de Iso dessa volta, promovida pela Associagio Brasileira de Bscritores, impregna: iy toda sua poesia, hire pel een “sempre servout acesa a candela votiva da ternura pelo meu duco bergo de pedras”. (CORALINA, 2005, p. 107) Assepresentayoes da Cidade de Goids na contistica de Cora Coratina “slo sopros de vida na cidade de pedra. Os Coatoe de Pils Boa de Gaya ora trata de ura tempe do presente da entinciagio, ers to aftadas pela meméria da autora, que ¢rx7 para fo seu presente dado do pasado, o qual nese trabalho da mendes, & reveal, perdendo o Inga de ‘quack ma parede da memira’ para ton snr viva, (.] Poe anc da scar a autors cont rote sobre sua vids com beas enem to boas rezordag6es,estabelecendo relagSes afetivas com o espage de sua cidade. (RAMOS, 2004, p. 105. Por esse campo de contemplagto, como também observa Ramos, cidade de Cora ¢ presente, vibrante, nao € apenas memoria, € presentificada , apesar das transformayoes da modesnidade, conserva seu estilo. A Cidade de Golds de Cora nio € s6 historia, é feita de gente, sobretudo de gente simples, marginalizada, Além de pedras, histéria, celevo e clima, a cidade tem uma pottica aque a transfigura e reconste6i num diseurso de significagdes miltiplas. A “eserita’ de Cora é um pressentir de linguagens poéticas por entre secras, sigs, casarios, palicios, becos, igrejas, sinos € gente ~ cenisio intenso © borbulhante— vida (yi}vida, tocada, contada, cantada, encantada, tragada por entre “Os Becos de Goids”. Escrita poetizada e poetizante! Leitura poctizada e geografizada! Poetizante ¢ geografizante! Como diz Costa (apud RAMOS, 2006, p.106),a linguagem das cidades ¢ fundamentalmente poética, metaforizada, mediada pela paixto e pelo desejo de cada esctitor cou leitor que se aventure a percorrer suas ruas ¢ suas letras. Goids tem um lo que a recorty cidade em duas partes iguais. © um a lendirio rio de ouro € mineragdes pan cujas ibas agrestes.o bandeisante plantow a da primeira descoberta, Nase nas margens desse doce rio € @ ‘murmiirio ininterrupto embalou 0 berye minha infincia, fecundou e perfumou u flor minha adolescéncia, acalentando com amivl sempre correntes E eu ficava longas e compridas horas, olhunii pasmada para essas diguas que corriam.. elas cheias, quando as chuvas lentas e mondtonit fazem os dias goianos timidos ¢tristonhos, dg do rio toma a cor de sangue do sew nome ¢ num coro de vozes formidandas entoa um cantochila funéreo e gave. Depois, a vazante; € 0 rio, no comprido de seu leito, recai na acalmia do ordinério curso, ‘As aguas volvem a corner compassivas ¢ mansis com a mesma feiticeira mansicio que embalou e dew ast aos sonhos de minha adolescéncia, Depois, oh!, rio, de espelhares as pontes, Longe de ti, oh!, aguas longinquas de minha terea,, meus olhos tém sede das tuas Aguas, ‘meus ouvidos anseiam pela tua vor blandiciosa e sedativa que despertou complacente as iusdes de minha adolescéncia.. Na minha alma, hoje, também corre um tio, um longo e silencioso rio de lagrimas que meus olhos fiaram uma @ uma ¢ que hi de ir subindo, subindo sempre, até afogar e submergir na tua profundez sombria a intensidade da minha dor!.. (CORALINA, 2003, p. 101-103). Rio Vermelho, de referenciado passa a ser evocado: “oh!, aguas Ionginquas de minha terra’; “oh!, Rio Vermetho da sandade"; Ohl, éeguas antigas e trangiilas!”, Obl, Sguas feiticeisas, ctimplices do meu grande infortinio’; ¢ a ele a narradora se ditige como “tu’, conferindo-Ihe consisténcia personificada, sendo o rio agora seu grande amigo solidario, a ‘quem pede: “avai uma vez, na tua piedosa cheia, os sedimentos e residuos da minha dorida amargura’. (CORALINA, 2003, p. 193). ‘Com esta percepcao compartilho com Ramos (2006) a leitura que faz sobre a personificagio do rio recorrendo a Eliade (1996, p. 152): Como ‘as “aguas conservam invariavelmente sua funcao: clas desintegram, liminam as forma, ‘lavam os pecados’, sio ao mesmo tempo purificadoras ce regeneradoras”, Ao contemplar o Rio Vermelho na “escrita” da cidade de Cora, muito anc alegra o que escreve Ramos (2006, p 1g) sobre as lavadeiras: tos’. Personagens do belo poema de Paulo Gabsiel (apa | 10% prt) ‘Mutheres do Araguaia, amantes do rio cescravas do rio senhoras da agua, lavadeiras!” f4guas murmurantes debaixo das janelas da sua Casa Velha dat jo tempos idos e (vividos de uma infancia presente: “O Rio 0, de Aguas avolumadas, corre, como sempre cantando e pulando de ppedra, como nos dias da minha inf’ncia’, guardacas na meméria “Bu me revejo em ti. Pequena, magrica, feia, despenteada, de Sou eu mesma que me ceencontro em voce, pequena goiana, desgraciosa, marcada pelo ferro em brasa de um destino duro” IA, 2003, p. t07). Nesse escavar de tempo e de meméria das Cora Coralina monta ¢ remonta (pedra por pedra) sua poética da ssa na fluidez/dureza onirica-existencial no belo poema ‘Rio ‘Tenho um rio que fala em murmtirios, ‘Tenho um rio poluido. ‘Tenho um tio debaixo das janclas da Casa Vetha da Ponte. Meu Rio Vermelho. " Aguas da minha sede. Meus longos anos de auséncia ‘dentificados no retorno: Rio Vermetho ~ Aninha. Meus sapos cantante. Exdticos, chamando, apelando, cobrindo suas gias Seus girinos pretinhos, pequeninos, inqaietos no tempo do amor. Sinfonia, coral, cantoria, Meu Rio vermetho. 10 Debaiso das janelas tenho um rio Correndo descle quando? Lavando pedeas, levando areias, Desde quando?.. Aninha nascia, erescia, sonhava. Estitica ( paciente ochorinho a laerimejar sutil, deictil tna pedra, na terra Duas perenidades— sobeeviventes no tempo. Lado a lado ~ conviventes, diferentes, juntas, separadas, Coniventes Mea Rio Vermelho. v ‘Meu Rio Vermelho é longinqua manha de agosto. Rio de uma infincia ma-amada. ‘Meus barquinhos de papel once navegavam meus sonhos; sonhos navegantes de um bareo: pescadora, sonhadora do peixe-homem. VL Um dia caiv na rede meu peixe-home Rio Vermetho, liquido amnistico ‘onde cresceu da minha poesia, feto, feita de pedras ¢ cascalhos. Agua lustral que batizou de novo meus delos cabelos brancos. (CORALINA apud DENOFRIO; CAMARGO, 2006, p. 328-320). A poéticn da sguua, conterplada nesse ensaio sobre a poética da cidade como uma extensio/escavacia da poesia de Cor Coralina, representa para esta ensaista uma projeco onirica bachelardiana pelos vislumbres da geopoética (GRATAO, 2006, p. 165-189), a partir da (ventura postica €’“O Rio’ - ARAGUAIA! GRATAO, 2002), que se revela na voz dos personagens do lugar. (GRATAO, 20052). Com inspiragao bachelardiana, a poética da égua foi também tema de estudo de Coneeigio Ramos (RAMOS, 1999); que pela leitura fenomenolégica de Thiago de Mello e de Garcia Lorca mergulha nos seus poemas para encontrar © devaneio diante da gua. Seguindo o referencia! bachelardiano, Cunha (2000) escreve 0 ensaio sobre postica da natureza na obra de Eluard e Bandeira. A ensaista destaca a importancia que tém hoje 0s trabalhos de andlise temitica: ees tém a pretensio de contribuir, de alguma maneira, para o conbecimentn do género humano ¢ 0 tratamento das imagens da Natureza. Ao procurar desvelar os processos conscientes, inconscientes, miticos da formago da imagem da Natureza, esse tratamento vai abordar aspectos simbélicos que eariquecem a compreensio da obra poética - de Eluard ¢ Bandeira Em principio, « imagem, em sentido mais amplo, vai ser entendida como instauradora de verdades. Para Cunka (2000, p. 18), ela (imagem) a realidade que justifies @ de um trabalho de andlise literéria nfo é i eee Us, Sos yeimentg datmaginectoe do mero, en a aida ae Ikimins, metamorlovea ae experiencia do ctidiangy teanormne faiem material de profundo sentimento poético, ingruments Lia {nstaurigio e manutensio do Ser no mundo, (CUNHIA, 3600, 40) n)fluéncia dessas fontes de fuidez aquitica no campo do 9 du narureea marca c orienta o tragado de lecura e de (per)cursa le de Cora Coralina por entre becos € versos, Dessas fontes (con) ‘Vislumbra-se (a) Iuz para o (des)velamento e revelagto de uml ‘eyerita pelos tragos da literatura’ O PARA 0 (DESIVELAMENTOEREVELAGAO DE UMA LITERATURAY Inspicacio da arte ¢~palso, impulso—um pressentic de linguagens, lupo arsisticaespelha a visio pessoal do artista, da mesma forma que Mlo cientifica reflete a visio pessoal do cientista. O cientista necessita it criatividade quanto o artista UWvio Zamboni, buscando convergir arte ciéncia, declara que tanto fe como em ciéncia ou em qualquer atividade, o ato da criago é o de algo original que assume um carter que remete a0 novo, Pain i aan Sanaa ipa ema de descobera. algo novo, € um camino encoetsdo par se slo Ei etc odes compat foci ali Sac E ve desir ao que estes esoasio,€ present de forma sit eset de denen aveipdox dead wea Sess usr. aaa Aescoberts, enquanto io se pode lazer nenbuma distingio entre (ZAMBONI, 200, p. 30-30 fvencial. Por entre becos e versos, a cidade é (per)corrida lua da imaginagao geogrifica, iuminada pelos rains da poética onirica projetados por Gaston Bachelard. Por essapeispectiva oensaio procura (es)lumbrar projetaro horizonte de discussées no campo da pesquisa sobre experiéncia imaginagio da cidade. (A) luz de (des)lumbramento desse horizonte, busca contemplar € seguir pelas fronteiras do saber, no sentido de estabelecer o didlogo entre Arte ¢ Geografia, Geografia e Literatura. Como pesquisadora voltada para o imaginirio, nosso foco tem sido projetado no sentido de aprofundar a imaginagio geografics a partir de olhares e leituras que procuram (des)velar a cidade pelo do diilogo da Geografia com a Literatura na via da imaginagio poética. (BACHELARD, 1988a; r988b; 1980). E. um didlogo de exploradores, (di)vagantes, caminhantes, Icitores da cidade com projetor focado na imagem, pelo campo do imaginisio ce da imaginagio, buscando revelagdes! © didlogo cm torno de cidade esté permeado de imagens, quando aos “deslocamos” por ela ¢ nos deixamos “guiar” pela nossa vista, olhar, contemplacao € mirada, visuais e mentais. Nesse ato, ¢ “caprado” o verdadeico sentido daimagem do ponto de vista da teoria, pois, “teoria’, na sua etimologia, significa “vista”, que brota do verbo grego rheorein: ver, olhar, contemplar ou mirar. Diante dessa projesSo tedriea, deseja-se teagar caminhos para o (te) conhecimento de miiltiplas geografias, que se pensa, experiencia; que se cria € (re)eria na diregio de miltiplos olhares, imagens, paisagens e lugares. DEGEGGRAPOSA“AMANTES DAS LETRAS" O escritor italiano Italo Calvino, nas desesigdes de suas cidades invitees (CALVINO, 1990), nos guia pelos abisintos da existéncia humana wo mesmo tempo, que “nos leva a esséncia da maior de todas as construgGes hummanias: afd necessita abrir o: livros, 08 olhos ¢ as janclas pars \de vaberes, Necessita contemplar e viajar pelo magico "mundo day 1-se pelo campo da imaginacao geografica (DARDIMy, 1965 PRINCE, 1961, 1971), da imagem da cidade (LYNOM, cles invisfveis (CALVINO, 1990) ¢ pela cidade imaginitrl 4003). Aqui, precisa sair 4s ruas e becos, (aventurando-se Jor de paisagens e lugares, preencher os “espagos vazios" dow de sentimentos". {Glo geogréfica” é uma maneiea de fazer geografia € 4 hos conduz 4 jugares inacessiveis por outras abordagens de Wo, Dialogando com outros saberes e sabores, podemos acesiay gens do universo da cidade — aquelas reveladas pela literatura, esse prazer da pesquisa’ € preciso sair do seu “porto seguro” ¢ misterioso “mundo das letras” Ler e viajar farzem parte de uma tural Aqui, é preciso “ler” “viajas” por entre “becos ¢ versos", itescritora goiana Cora Coralina pela (sua) Cidade de Goiis. Aqui, se 2 grande magia da literacura no sentido de conheces uma cidade fn” por entre versos. Uma cidade trayada e (per)corrida pela experiencia er-poeta, Aqui, pode o gesgrafo encontrar uma outra maneira de a cldade ~ pela poesia! Gedgrafbs - leitores de cidade e de poesia! CAMINHO PARA PRAZEROSAESABOKOSA(ADVENTURA OBTICAP MUITOS CAMINHOS... UMA ESCOLIA-UM"BECODESAIDA’ 00 da poesia! Este & um “beco de sxida” - (a) huz da imaginagia 1 pela leitura postica! Par entre hecos caminhando, contemplando, 1d. com atores/autores, artistas/poetar - carninhantes... :pelas sombras e penumbras dos becos da Cidade de Gols pelos versos de Cora Coratina. A Cidade nfo éa mesma para aqueles que chegam ¢ a veem do alto do Planalto, do topo da Serra Dourada ow das margens do Rio Vermelho, ou para cada um de seus habitantes que {peicorrem por cada um dos seus becos. Ela é experienciada e vilvijda de maneira diferenciada por cada um que chega e que sai, € por eada um que mora e vive a cidade, Reconhecendo que a busca pelo imaginario ¢, de certa forma, 2 busea de algum traco de existéncia, & esse 0 caminho por onde procuramos trilhar... Um trilhar de experiéncia como nam ato explorador que busea as ineréncias de uma cidade. Um (des)cobrir experiencial e vivencial que (des)vela as “soisas mesmas” ao espago existencial. Um ato de (aventura geogrifica que desafia o tragado dos caminhos formais da Geografia. Um ato “perigoso” desafiado por Tuan (1983, p. 09): “Experienciar é vencer os perigos”. Entio, assim sendo, o nosso caminhar é de deseobertae segue pelo trago de existencia ¢ realidade geogrifica ‘Seem Eric Dardel encontrei a geografia que procura decifrar os signos, ocultos da Terra e trata da existéncia e da realidade geografica (DARDEL, 1952), € ele mesmo que nos (re)anima com sua revelacio poética, escrita nna sua lingua original: “Muleiples sont fer modalités sous lespuelles la réalte _gtographique conduit, parle symbole et seximagens, un an-dela dela matiére ot le postise”. (DARDEL, 1952, p. 52). Em Cora Coralina, encontro uma “geografia pessoal”, essa “[..] que a Terra revela so homem sobre sua condigéo humana e seu destino”, como é (des)lumbrada por Dardel. (1952, p-2). Encontro uma cidade vivi)da inscrita entre pedras, extraida da Serra Dourada que guarda e faz moldura a0 Rio Vermelho: Entre pedras cresceu a minha poesia. dos meus versos (CORALINA, apud DENOFRIO; CAMARGO, 2006, p. 213). cidade escrita por: Mos tenazes e obtusas, feridas na remoco ¢ pedrus ¢ tropegos, quebrando as arestas da vida. Miaos alavancas na escava de construgées inconeluas, ‘Mais pequenas ¢ curtas de mulher que nunca encontrow nada na vida. Caminbeira de uma longa estrada, Sempre a caminhar. Sozinha a procurar. (CORALINA apud DENGFRIO; CAMARGO, 2006, p. 218-210). ‘e interiorizadas em sentimentos. Na correnteza das aguas do Rio Hos cantos € recantos das suas margens, por entre becos, Cora ‘vii mapeando, escrevendo ¢ contando suas histérias ¢ a historia de Goiés ‘em sua poesia nativa e telirica— como lugar de viver. Enguanto Gaston Bachelard *imagina” a poética do espaco e do devaneio e James Hillman se aprofunda na alma humana para acessar a “alma da cidade” (HILLMAN, 1995), Cora Coralina se (en)raiza no seu “yale de ouro’ para compor ¢ revelar o seu amor As terras de Goyazes. Cidade ¢ Poesia misturam-se em verses — ¢ a cidade revela-se no universo da imaginagio geogsatica, VIAJANDOPELO “CAMPO DAS LETRAS" E 0 (RE)DESCOBRIR OVALE DE. OURO" DE CORA CORALINA-“UMd OUTRA MANEIRA DE EXPLORARA crpapE* Versa ito Peeia.. nde Un mad diferente de cantar vebas esis, Essa foi a trajetdria (pes)corrida para este ensaio da cidade. Uma tajetdriaporonde (#e}descobsi o amor pelasletras"e(relencontrsiasabedoria da ilustre poetisa brasileies ~ goiana ~ coragio. Segui pela orientagio do _gebgrafo inglés Hugh Prince ea geografla que “invoea o amor instintivo pela natureza”, Como o jardineciro, o novelista, o poeta, o pintor, o pescador e 0 montanhista, o gedgrafo compartitha uma experiéncia direta de paisagem. (PRINCE, 1961). Para Prince, a boa descriso geogrifica demanda no somente respeito a verdade, mas também inspiragio ¢ direcionamento de uma imaginasio eriativa. Porisso, considera que a Geografia deve buscar as ‘A huz desse (des}lumbramento, trilhamos a cidade aliando ao. ila a obscrvagio pessoal e poetica, guiados pela criagao, subjetividade glo! (GRATAO er al., 20050). Cidade como /ugar de morar, de © como base de reatizagdes existenciais. A “leitura” da Cidade de ‘umn (re)conhecer os significados ¢ os valores simbolicos construidos descricoes dos lugares fetos por poetas, ensafstas € novelistas, Por esse (pet) curso, encontrei a ‘geografia” de Cora Coralina no seu “vale de ouso”. Quantos lugares nos encantam? Quantos lugares nos sto magicos? A Cidade de Cora Coralina é um “vale de ouro’ lito de afeto (TUAN, 1983), espago felie — ‘opoflia. (BACHELARD, 19888). © “vale” - Rio \ Fam gdh is «i vm cock = TUL ii eee coisa naga ‘ar ldade apreendida pelo olhar, pelo sentido, por rons nos movimentos, nas cores, no cheiro, nos sons ¢ val? no “nfo vistvel”; que evoca sentimentos, emosbet © espitito do lugar ~ inscape ~ E a personagem do nificados particulares & cidade, expressando suas idutns. A cidade/poesia de Cora revela “clos” de pasagern @ ‘numa 36 memaria. (SCHAMA, 1996), Uma “escritura! fi que brota da riqueza de um “vale de ouro”—*Vintémn de Gol INA, 2001). Uma cidade que se estende por entre becos 4 oF suas ricas manifestagbes culturais ¢ religiosas se misturam Umne cidade “escrita pelas letras” que revela os elos afetivos, Gh um lugar de expressao postica, um vale de ouro! Um val Rio Vermelho Longe do Rio Vermetho. Fora da Serra Dourada. Distante desta cidade, nao sou nada, minha gente. Rio Vermelho das janelas da casa velha da Ponte. , santo milagroso. de lavadeizas lavando roupa. De meninos lavando 0 corpo. Rio Vermetho ~ meu ti. Rio que atravessei um dia (Atas horas. Mortas horas.) hii cem anos... Em busca do meu destino, Da janela da casa velha todo dia, de manha, tomo a bénsio do rio: ~ “Rio Vermelho, meu avozinho, sua benga pra mim..” (CORALINA, 1087, p. 91-94). ‘A Cidade de Goids ocupa o lugar e 0 coragao de Cora - Terra que pulsa e que dé vida ~ contada em prosa e versos como uma "geografia” que invoca o “génio do lugar’, guarda e expressa 0 sentimento de amor e de pertenga —terra-maten A arte de ‘guardar” 2 imagem do lugar com seus valores geogrifices, histéricos, culturais e imaginirios celebram a ligacao Homem/Terra, Nesse ato - em torno do “vale” celebra, também, 0 elo de aftisio que une as pessoas aos lugares. (TUAN, 1980). Nessa “loracio” de sentimentos, revelagSes de uma cidade vi(vi)da A luz da imaginagio Cora Coralina soube caprar 0 espirito do lugar onde habieou, transformou o espirico das pedras, das aguas e do vale do rio Vermelho em poesia (i) kuz da sua imaginagio pottica. Transfigurou e transcreveu todo 0 de Cora com Goids ¢ de respeito, encantamento, just relago de iberdace¢ de (en)ruizamento-=o p ivi nuove pea ds Corn Conk ‘serra rio e gente se misturam em versos pelos Beoow NA DO AMOR PELAS LETRAS"A "GEOGRAPLADOLUGAR*: GOLA “Para pete giana Cire Cortina vir éuma manera dere orn fata an alec de gre desea cnrcizamento rial ‘Oswaldino Marquet (1989) Coralina, leitora apaixonada, ameva os livros. A partir do ‘em que descobria o ‘amor pelas letras’, “seu mundo nio exth ‘ha mile, nas irmis, na ay6. Extrapola os paredées, as serra *, (TAHAN, 1969, p. 16). Uma grande descobertal Abre-se jundo das letras” © passa a “viajar” pelo “universo da poesia’. Sus grande “obra prima’, “Os Poemas dos Becos de Gotis e Estérian ala em 1965, & uina exaltagdo & “cidade dos bec arsombrlo, Tha velha umidade andrajosa. Teu lodo negro, esverdeado, escorregadio. Ld ‘Amo 2 prantina silenciosa do teu fio de agua, descendo de quintais escusos ‘sem pressa, ‘ese sumindo depressa na brecha de um velho CJ Amo e canto com ternusa todo o errado da minha terra, Becos da minhe terra, discriminados e humildes, Iembrando passadas eras. Beco do Cisco. Beco do Cotovelo. Beco do Antonio. Beco das Taquaras. Beco do Seminitio. Bequinho da Escola Beco do Ouro Fino. Beco ds Cachoeira Grande. Beco da Calabrote. Beco do Mingu. Beco da Vila Rica. Ld Becos de assombragio. Rominticos, pecaminosos... ‘Témm poesia ¢ tém drama. (CORALINA, 1967, p.103:105). FA ptisagem, abre-se ao que nio se evidencia e tent que ¢ impossivel. Eis a“ética do olhar” que esti no 0 “olhar 0 mundo como paisagem”, no ver rostos ¢ eld ugens. (PEIXOTO, 1088). © olhar de Cora traz a plenit Ii ‘de consciéneia de ium sujeito maravilhado pelas imagens po i wuyjwem da ‘consciéncia imaginante”. (BACHELARD, 19884, p, tel), "6 polifénica. E (geo\grapbial Tudo isso junto: uma vitalidadi saladora, encantadora, libertadora. Texto € imagem (lite ‘Whigtéria da arte, do lugar, Eo sentido (vida) que pela poe IGoe0 nos ensine, nos (re)educa a ver, ouvir, falar © tocne IA ¢ a Cidade — de Goits, Habitando, Cora Coralina tornounw do vale, da serra, do rio, da casa da ponte, do olhar as Agu m sobre pedras, por debaixo da ponte do Rio Vermelho, atravén do seu quartinho, transformando em “escrita” a sua imaginagli s escrevendo a sua “geografia” ~ ea geografia de Goids. Geografia da terra! Cora, um ser Terra. A Terra ndo gera apenas 16s serey 0§, como expressa no “Poema do Milho”, Em qualquer parte da‘Terra tum homem estard sempre plantando, recriando a Vida, ixa a respiga para os que nfo plantam e nem colhem. =O pobrezinho que passa. = Os bichos da terra ¢ os paissaros do céu. (CORALINA, 1987, p.165-172). Sentir que somos ‘Terra nos faz ter os pés no cho sentir sua forga, As veres, ameagadora, As vezes, encantadora, Sentir a Terra & sentir a chuva na pele, a brisa refrescante no rosto, o sol escaldante dos trdpicos em todo ‘6 corpo. Sentir a paitio que queima o corpo ¢ © coragio. Sontira Terra é ‘explodir sentimentos em versos, em poesia! A poesia de Cora éexistencial. Brota a luz de uma conscieneia poético~ existencial. Ramén (12003, p. 183) diz sobre essa dimensao de Cora Coralina: “Os aspectos que se descortinam no horizonte dessa nova dimensio da personalidade de Cora se reportam 4 histéria do pensamento sobre os poderes da mente humana de “saber-se” e de “saber das coisas”, na sua vontade mais pura”. Nesse sentido, nossas ideias se convergem quando entendemes que esse pensamento tem sido atualizado pelos postulados da moderna filosofia e psicologia fenomenolégicas. A fenomenologia geografiva desenvelvida por Eric Dardel (1952) conduz ‘uma hermentutica da existencia humana situada sobre a’Terra. A concepyio dda paisagem desenvalvida em £, Hlomeme et fa Terre éa representagdo desta condigao. Antes entao da instituicao de qualquer experiéncia visual, ances de qualquer espeticulo, e dando 20 espeticulo sua verdadeira dimensio, a paisagem € expresséo, e mais precisamente, expressio da existéncia, Ela ¢ portadora de um sentido, porque ela € 2 marea essencialmente do ‘encontio entre a Terra eo proet> humane. A puimgem é exsencialmente mais mundo do que narureza, ela & 0 mune humano, 1 su/eare como ‘encontro daliberdade humans com » higar do seu derenvolvimento: 1 Tera ie original de toda vida. cho que se prende & tua casa. jou a telha da coberta de teu lar. A mina constante de teu poco. ‘onveq nm Eu sou 2 grande Mie universal. Bae, cape nice ae ee een 1. (BESSE, 2008, p. 94). 7 A mulher eo ventre que fecundas. Sou a gleba, a gestagia, eu sou o amor. 0 verdadeiro poético encontro da geografia # a fia ¢ as letras. Pela geografia, procuranda ina. Na “escrita” de Cora Coralina, a sua Plantemos a roa. (CORALINA, 168%, p. 215-214). milina soube captar 0 “saber-se” e o “saber das ep Inscapes dos pedras, das aguas, do vale, do rio Ve os em versos para revelar sun cidade-mater. Corn Urlon Como, também, em “Misha Cidade’. ‘isso: encantamento, justica, respeito-namoro. & assim gratia de Goids” ~ exrita Goids. No Velho Cum Goiis, minha cidade. do Rio Vermelho, com as janelas abertas parao io, olhat Aguas, Cora compés os seus Poemas, seus Contos. Eu sou aquela mulher sacs acl wigs nie vin Noga nutter entice bec ie Tends. Meus stacio extroasaram a velba cua, Arrombacan Por contando estérias, Janes e eu me fr 20 largo ca vida. Vesti de caelos bronco val & ‘Casa Velha da Ponts’, barco centendrio ~ encalhado no Rio Vermelhns E bec (CORALINA, wp. 78) Eu vivo nas tuas igrejaa e sobrados sentimento de pertencimento, revela-se (en)raizada na tern E *O Cintico da Terra” (Hino do Lavrador). Bu sou estas casas encostadas Fusom a terra, eu sou a vide cochichando umas com as outras. ‘Do meu hart primeiro veio o homem. De mim veio a mulher ¢ veio 0 amor. Veio a érvore, veio a fonte. et trea natal 60 Silets A Sena pralina € Goits, éa Serea Dourada, é a gente goiana de Goyasey, | Vermelho que corre pelo olhar do tempo através da janela da Chun Goite tem um rio que a recorts, dividindo m eidade em duas partes E um antigo ¢ lendasio no de ouro « mineragdes passidab. fas margens dese doce rio « o seu murméro embalon 9 beego deal Infinea,fecundou e perfumou a flor da minha adolesténca,acalentand com amavin estranho os sorhoe da minha fantasia. (..] Na minha tity hog, tambem corre um rio, um longo ¢ slencioxo rio de agrinas que meus olhos faram ums avira e que hs de ireubindo, subindo sempre, aM afore submergirna tus profundex sombriaa imensdade danni dla (CORALINA, 2003, p. 10-103) porsia de Cora é hist6rica, mas também psicolégica, uma poesia nativa, Uma poesia de queséncia, terra em que se nascen © da tem saudades, como expressa “O Cantico da Volta’. Velha da casa de Goids. Acothedora e amiga, [..] A cidade-mae nem me surpreendeu, nem me desencantou, Conservada, firme, hem impostada, tem recato de mistério, tem feitico de prender, LJ Sobrevivi aqui ainda, e, sempre, o mesmo determinismo histérico que fe2 viver e florescer, dentro desta muralha de cerras e rodeada destas guas vivas, uma auténtica civilizagao, que, no enluramentor de dois séoulos, ve considerou um azul lavado dos ares, e no meu “ténsado coragio, uma festa maior: - A festa da Volta as Origens da Vida. [..] A cidade lendavia sme coma nos bracos, me enlaga e prende, Euforia, Eumevejoemti Pequena, magriga [ua] Para ti, cidade-mater, este cantico perdido de quem volta as origens da Vida, (CORALINA, 2003, p. 105-109). Nesse (per)mear de “devancios geogrificos” segue-se pela “eserta dor sonbes?- txagada por Cora Coralina, e “scritura des sonbes' ~ tragada por Dardel (r952), compondo a géegrapbie des réves. Um (ped)curso que permitiu © descjo do despertar (8) luz da imaginacio geogrifica. O acesso a esse “instrumento de comunicagic” 6 nossa vontade maior. Queremos, sim, unir outras “aotas musicais” para compor um grande *coro” entoando o tempo, A cidade é, também, lugar de contemplarmos a vida! Para esse encontro de geoggrafiae iteratura, convidamos € evoeamos 0s “tocados" ¢ os “acordados” por esse ato, para juntos crithar © caminho geogrifico com arte € muita poesia! Ao firzermos esse (pez)curso por entre becos e versos, teremos ent rmiaos 2 eseritura ~“geografia” ao pe da letra ~ da historica Cidade de Gots ~ ora entre 0 realismo ea transfigurardo, ora pela pura emocio da eserita de um papel impresso. REFERENCIAS. BACHELARD, Gaston. 4 Psética do Denancia. Sto Paulo: Martins Fontes, 1988 A Pectaa de Expose, So Paulo: Martins Fontes, 1988. A Agua o 08 Sanbss. Sao Panlex Martins Fontes, 1989. Me Baa de Goyas: Sao Paulo: Global, 2003. ina RR. da, A Poetca dia Nacureza na Obra de Eluard ¢ lume, 2000, 4 fe, L'Homine ot La‘lere ~ Nature de la réalité géographique. Pari O, Direy F; CAMARGO, Goiandica ©. de (org) Core Geral) da volts. Goiania: Canone Editorial, 2006, ent. Namerunds @ Terra. Sao Paulo: EDUSP/Melhoramentos, 1961, Mircea, Inagens ¢ Sinbelor:ensaios sobre o simboliomo magica 9, Slo Paslor Marin Fortes, 1996, PAO, Licia Helena B. 4 Pottca d°0 RIO"—ARAGUALA! De Chelann OF i (A) Licz da Imeginayés! 2002. Tese (Doutorade/ Geografia), FFLCH o Paulo, 2002. (A) Luz da Imaginacéo! “O RIO” se revela na vor dos personagens do RAGUAIA! In: SIMPOSIO NACIONAL SOBRE GEOGRAFIA, PGAO E COGNICAO DO MEIO AMBIENTE, 2005, Londrina lin, Londzina: UEL, 20052. [CD-ROM]. set al. Londsina-Imagens, Pazayense Pertonagensium Olhar Geogrifica Digital. In: SIMPOSIO NACIONAL SOBRE GEOGRAFIA, mnidades, 2006, p.165-189. HILLMAN, James. Cidade e Alma, Sao Paulo: Studio Nobel, 1993, LYNCH, Kevin. 4 Imagem da Cidade. Sio Paulo: Martins Fontes, 1997. MARANDOLAJR,, Eduardo, Narretivascalvinianas: da devcrigio do explorador ao percurso do andaritho. Rus, Campinas, n12, p.47-58, 2006. NAZARIO, Liz (org). 4 Cidade Imagindria, Sao Paulo: Perspectiva, 2005. PEIXOTO, Nelson B. © Othar Estrangeiro. In: NOVAES, Adauto tal. O-Otbar. Sio Paulo: Cia das Letras, 1988, p. 361-366. PRINCE, Hugh C. The Geographical Imagination, Landscape, v U1, 0. Ly p 22:25, 1961, Real, Imagined an abstratc Worlds of the Past. Progress in Geography, 3, p. 1-86, 1971. RAMON, Saturnine P. Core Cerufine: 0 mito de Aninha, Goiinia: Ed. da UFG; Ed. da UCG, 2003, RAMOS, Conceigio de M. de A. Petia da Agua: uma leicura fenomenoligica de Thiago de Mello ¢ de Gareta Lorca, Macel6: Edighes Catavento, 1999. RAMOS, Marihicia M. Representagies da Cidade de Goiis na contistica de Cora Coralina: um sopro na cidade de pedra, In: DENORRIO, Darcy F; CAMARGO, Goiandira ©. de (org) Cora Coralina: celebracio da volta. Goinia: Eaditorial, 2006, p. 103-121 SCHAMA, Simon. Paisagers ¢ Meméria. Sio Paslo: Companhia das Letras 1996. ‘TEMPO E ESPACO COTIDIANO — CRONICAS DE UM TECIDO INACABADO Eduardo Marandola Je Fonte: Versio (05, p08) CRONICADEUM LEITOR DE CRONICAS. Veneto livres. Sempre busquei estar perto deles e deles me cercar. © gosto vern da minha mae ¢ da formacao religiosa. No primério, sempre li mais do que poderia, enchendo carteirinhas seguidas. Depois veio o ginasio ¢ 0 colegial. Epoca de hormonios, crescimento vertical ¢ muito esporte. ‘Embora continuasse a gostar de ler, o habito se foi. Passei quase em branco pelos romancistas brasileiros na época do vestibular, que € quando se le Machado de Assis, Jorge Amado, Lima Barreto, Graga Aranha, Guimaraes Rosa, Carlos Drummond de Andrade e toda a corte, pelo menos para a minha geragao. S6 fiti readquirir o habito de ler na universidade, quando ‘tentei recuperar tempo perdido. E estranho que foi justamente nesse histo literirio que eu descobri a crénica. Talver toda minha dificuldade em ler na adoleseéncia sejan de fazer

You might also like