You are on page 1of 28
PUBLICAS EDIREITO FISCAL ‘Ano 5 + Numero 1» PRIMAVERA ARTIGOS COMENTARIOS DE JURISPRUDENCIA RECENSOES NA WEB CRONICA DA ACTUALIDADE Paulo Marques Execucii fiscal: Uma ruptura com o principio da separacio de poderes? Paulo Marques Sarit, Inspector tui da Deze. Geral doe inpostos 176 Revista de Finangas Piblicas e Diveit Fiscal RESUMO: [No sistema fiscal portugués € a adiministragao eributiia que fiquida e cobra o Jmposto, Esta dupla condigio de eredor e de executor da mesma divida do sucede com dade dos eredoves privacos. As recentes alteragdes decorrentes do Orgamento do Es ho sentido da atribuigio de eompeténeia a administagi tsbut pertencente a esfera dos tibunais, ado para 2011, vio ja de poseres antes stag Tributria Triburais ABSTRACT: Inthe Portuguese tax system, the tax administration is responsible forthe 18% assessment and collection. This dual status of creditor and exeeutor of the same debt is ‘not applicable to most private creditors, Recent changes stemming from the State Budget for 201, go towvards the atrbution Df jsisdietion over powers that once belonged tthe court sphere tothe tax administration Key-word Tax enforcement Tax administration 177 Artigas «Quando a casa estd a ander, ndo se vai pedir ao juis uma autorizacdo para dé mandar os bomberos» Romiru L. Enquadramento processo de execugtio fiscal tem natureza judicial, sem prejuizo da participagdo dos érgiios da administraco tributéria nos actos que no tenham natureza jurisdicional (artigo 103", 1,da LGT), processo de execugao ¢ tradicionalmente perspectivado como um processo de realizagiio coerciva do direito de crédito tributétio, na sequéncia da liquidagao (acto tributétio) e de emissio da certidio de divida (titulo executivo) para o efeito, sendo tramitado, na maioria das vezes, exclusivamente nos servigos da administragao tributdria, sem a interferéncia dos wibunais, pelo que o processo executivo € auténomo face ao procedimento que culminou com a liquidagao de imposto. A exe- Ccuciio fiscal constitui assim 0 meio de que dispae o fisco para a cobranga coerciva do imposto liquidado € ndo pago durante o respectivo prazo de smento voluntério, em virtude do princfpio da plenitude da adminis traco tributtia (artigo 10°, n.° 1 alinea f),do CPT). No entanto, fica reservado aos tribunais a decisdo sobre «os incidentes, os embargos, a ‘oposi¢do, incluindo quando incida sobre os pressupastos da responsa bilidade subsidiciria e a reclamagao dos actos praticados pelos drgdos da execugéo fiscal» (artigo 151.°.n2 | ,do CPPT) ~ Redaceaio dada pela Lei n.° 55-A/2010, de 31 de Dezembro (Orgamento do Estado para 201). No sistema fiscal portugués, 0 Estado-administrago assume a indumentdia de credor tributario ¢ de executor das mesmas dividas, 0 que néio sucede com 0 comum dos credores privados, uma vez. que este Papel estava tradicionalmente reservado no processo civil aos tribunais & ‘mais recentemente (Decreto-Lei n.° 38/2003, de 8 de Marco), em certos actos, ao agente de execugdo. No entanto, mesmo apds o Decreto-Lei 1226/2008, de 20 de Novembro, 0 proceso executivo comum continua ‘a.correr termos nos tribunais, Como esclarece VIRGINIO RIBEIRO “o lesi lador nao © retirou dos tribunais, sendo por estes que continua a passar, ainda que electronicamente, 0 registo de todos os actos com relevancia 178 Revisia de Finangas Pablicas e Dieito Fiscal para a tramitagdo da acedo executiva, Por isso, sem prejuizo das concretas fungSes atribuidas a outros intervenientes, sempre competiria a0 juiz pro~ videnciar, mesmo oficiosamente, pelo normal prosseguimento da acgéio" Diferentemente do.que sucede no processo de execugao fiscal em processo éivil, as propostas de aquisigdo sao entregues na secretaria do tibunal e abertas na presenga do juiz (artigos 876." n.° 3 € 893.,n! 1, do CPC) HL, (Des)judicializagio? AS recentes alteragées decorrentes da Lei n.° 55-A/2010, de 31 de Dezembro, no dmbito do proceso de execugao fiscal, designadamente a atribuigdo de competéncia & administragao fiscal em matéria de verificagiio € gradiiagdo de créditos (artigo 250.",n.°2, do CPPT) e de entrega do bem. vendido ao adquitente (artigo 256.°, n 2, do CPPT), vio no sentido da atribuigio de poderes ao fisco, antes deticos pelos tribunais. Este fenémeno de desjudicializagao ou, noutra perspectiva, de judi cializagio da administragao, merece uma cuidada € oportuna reflexao. Esta opgio do legislador justifica-se niio apenas pelos exigentes objectivos de cobranga coerciva mas igualmente pela necessidade de simplificagio do procedimento e pela maior responsabilizagao da administracao fiscal enquanto entidade publica que tem o poder-dever de aplicar a le, indepen- dentemente do mero interesse patrimonial do credor tributirio (ex: conhe- cimento oficioso da prescrigio das dividas tributdrias — artigo 175.° do CPPT), devendo haver lugar a verificagao e graduagdo dos créditos, agora dda competéncia da administracao tributéria, O produto da venda pode nem. vir a beneficiar o credor tributétio, mas inclusivamente outros credores munidos de direito real de garantia (ex: credor hipotecério). O procedi- mento de venda coerciva envolve a tutela do executado, do eredor tribu- tirio e dos demais credores munidos de direitos reais de garantia sobre os bens, jé que estes siio transmitidos livres dos direitos de garantia que Os onerarem, bem como dos demais direitos reais que nao tenham registo anterior ao de qualquer artesto, penhora ou garantia, com excepciio dos " VIRGINIO DA COSTA RIBEIRO, As Funcaes do Agente de Execugiin, Coim- bs, Aled, 2011, p.47, 179 ee 17.) Artigas que, constituidos em data anterior, produzam efeitos em relagtioa terceiros independentemente de registo (artigo 824.°,n.°2 CC). Anteriormente, a conjuntura caracterizava-se pelo incremento da _judicializagao do procedimento, traduzida na transteréncia crescente dos conflitos sociais para o poder judicial, com indiscutiveis ganhos para a cidadania mas igualmente como causa da subsequente morosidade e con- sequente ineficacia do aparelho judicial. Actualmente, assiste-se a uma necessidade premente da plena, célere e eficaz realizagaio do direito, facul- {ando inclusivamente as partes a altemativa de resol verem 0s seus litigios fora da esfera dos tribunais, mediante também a institucionalizagao da arbi- tragem em direito tributsrio, Nesta linha, a tendéncia actual aponta também no sentido da transferéncia de um crescente ntimero de actos procedimen- tais para outras entidades, nomeadamente a administragao fiscal, salva- guardando-se o niicleo essencial da fungio jurisdicional para os tribunais, LIL. O significado do artigo 103.2,n2 1, da LGT Natureza judicial do processo de execu fiscal © processo de execugiio fiscal tem natureza judicial, indepen- dentemente do érgio que pratica os respectivos actos procedimentais. Comentando 0 n°] do artigo 103." da LGT, LIMA GUERREIRO defende que “O proceso de execugao fiscal nio tem, segundo a norma do nimero ! expressamente declara, natureza meramente administrativa ou mesmo mista, mas € unitdria e imtegralmente um proceso judicial. Essa natureza integralmente judicial do processo nao prejudica, no entanto, a participagao los érgios da administragao tributdria nos actos sem natureza material- mente jurisdicional ou sefa, na prética dos chamados actos materialmente ‘administrativos da execugio fiscal. Nao é, pois, cindivel o processo de execupdo em uma fase formalmente administrativa e outra administra- fiva judicial. Ele € unitariamente um proceso de natureza judicial”: 2 ANTONIO LIMA GUERREIRO, Lei Geral Tibutiria ~ Anotada, Lisboa, Bl tora Rei dos Livros, 2000, 9p. 421-422, Em sentido um povco diferente. DIOGO LEITE DE CAMPOS sustenta que este normativo legal “revela uma opgio clara da legistador pela natureza 180 Revista de Financas Pablicas e Direita Fiscal No entendimento do Conselheiro JORGE LOPES DE SOUSA sustenta-se também que “O processo de execugao fiscal tem natureza judicial na suia totalidade, apesar da possibilidade de nele participarem 6rgios da admi- nistragio tributéria (art, 103°, n.° 1, da LGT). Por isso, todos os prazos para pritica de actos no aimbito do processo de execucio fiscal so prazos judiciais"®, De igual modo, o Supremo’Tribunal Administrativo entendeu que “O processo de execugao fiscal, apesar de instaurado e dirigido pelo Grgao de execugdo fiscal - érgio da administragio tributéria —, ndio deixa de revestir natureza judicial, tal como decorre do n. | do art 103.° da LGT” (Acérekio profierido em 4 de Novembro de 2009 Proc. m.° 896,09) © mesmo tribunal jf havia decidido que “tudo quanto se passa na exe- fiscal ~ que, segundo ao artigo 103° n.° da Lei Geral Tributaria 3T) € um proceso de natureza judicial - esta ao alcance dos poderes de cognigdo do Tribunal, ainda que aja como de revista, uma vez que se nao trata de elaborar jufzos probatérios com vista a estabelecer os factos ‘materiais interessantes para a decisao de direito mas, apenas, de considerar «as ocorréncias havidas no decurso do proprio processo judicial” (Acérckio de 13 de Fevereiro de 2008 ~ Proc. N.° 048407)*, Esta matéria tem que ver com a distingao entre reserva absolura & vrelativa da jurisdigao, nao se justificando uma reserva absoluta de jurisdi {imbito da qual seria interdita qualquer interveneao de outro 6retio Go, nod do Estado, mas antes tem-se admitido uma reserva relativa de jurisdigio, Permitindo-se o exercicio de actos materialmente jurisdicionais a entes administrativos. ‘ego seal como processo judicial, como processo que devorte debaive de um apestado ccontrolo de egal do tibunal €em que a intervengio da alninistragaotributria est «onfosmada como de simples partcipacio na realizado sew excep jal” Lei Geral Teiurévie ~ Comentada e Anotada, 3. Bdigdo, Lishos, Visis, Setembeo 2003, p. 535), » JORGE LOPES DE SOUSA, Césdigo de Procedimentae de Processo Tributario ~ Anotado e Comentado, Mt Volume, Lisboa, Areas Editora, 2007, p, 462, © 0 Tribunal Constitucional tem entendide que “Nao importa assim saber se se lwatam de actos ackministraivas em sentida estilo © preciso ou de outro tipo de actos Aassereo que se afigurapertinente ser abandonando qualquer ertéio dalista puro.ade que estaremos peranteaeios e operagSes que Sin pratieados por lferentes servigos dentro 'de uma dimensio de colaborago operacional com a administagao da justiga segtindo os lermos em que esta se enconira cometida pela Constituiglo acs triburais” (Accra de 12.de Feversiro de 2003 ~ Proc. n.° 13102), Para a boa compreenstio do preceito em andlise, releva particular- mente a distingdo entre 0 acto adminisirativo* e 0 acto judicial e, dentro desta tiltima categoria, o acto jurisdicional e acto ndo jurisdicional i que estes dois tipos de actos so idénticos, mas o respectivo fim ¢ diferente tuma vez que 0 acto administrative aplica a lei mas nao se esgota nela, sendo este um fim em si mesmo para o acto jurisdicional. Os actos no Juisdicionais so aqueles que possuem natureza materialmente adminis- trativa, ow seja, os actos de gestdo ou os actos ordindrios do procedimento processual. Por seu lado, 0s actos jurisdicionais seriam aqueles nos quais as manifestagcies de vontade do juiz.no processo, implicariam decisées, independentes ¢ imparciais, sendo a aplicagio do direito o seu prop6sito essencial 2. Natureza administrativa do processo de execugao fiscal proceso de execudo fiscal apenas tem natureza judicial no caso de eventual exercicio do poder de cagnigao do juiz nesse proceso, como. esclarece 0 artigo 151° do CPT, pelo que segundo alguma doutrina a intervencio da administragao tributéria teria mero cariz. administrativo. Neste sentido, RUI MORAIS defende que “O processo de execugio fiscal & lum processo que, apenas em iltimo termo, ¢ judicial, contendo importantes momentos de inter vengio ~ no exereicio de competéncias proprias, fixadas por lei (o que no & 9 mesmo que dizer competéncias de drgdo executivo, ‘em sentido estrito) ~ de érgios da administragao fiscal que, assim, sio chamados a colaborar na cobranga dos tributos com 0 Tribunal™. Por seu lado, o Tribunal Constitucional entendeu que “Ao incluir-se este tipo de processo entre os processos de natureza judicial, apenas se pretende afirmar que os confitos de interesses que dentro dele se suscitem ~mesmo ‘que sejam emergentes, no s6 da actuagio das partes ou até de terceiros, no proceso, como também de qualquer decisao que nele seja tomada pela ‘administragao fiscal, relativamemte aos actos para cuja pritica a lei the * Cons isda Administeagio ‘que ao abrigo de nortmas de dicito publico visem produit efeitos juridicos nun situa ‘0 individual concreta artigo 120: do CPAP © RUT DUARTE MORAIS, A Execuedo Fiscal, Coimbra, Almedina, 2008, .43. ‘mse ata adminisraives as decisties dos org 18 tevisa de Finangas Piblicas e Direito Fiscal atribui competéncia —, serio sindicados, no préprio processo, sempre pelo Juiz tributsrio” (Acérdio de 12 de Fevereiro de 2003 - Proc. n.° 151/02), Oartigo 97.° do CPPT parece apontar neste sentido, ao prever apenas que constitui processo judicial tributdrio o recurso, no proprio processo, dos actos praticados na execugiio fiscal (artigo 97°, n.° 1, linea n) do CPPT), bem como a oposigao, os embargos de terceiros e outros inci dentes, bem como a reclamacao da decisdo da verificagto e graduagao de créditos (artigo 97.°,n2 | alfnea 0) do CPT), Por sua vez, o artigo 54.° da LGT a0 elencar, embora nvio taxati vamente, o mbito do procedimento tributdvio refere expressamente «a cobranga das obrigagées tributarias, na parte que nao tiver natureza judicial» (artigo $4.°,n° | alinea h) da LGT). Refutando a possibilidade da pritica de actos jurisdicionais — mas nfo de actos judiciais néo jurisdicionais ~ pela administrago tributéria, © Supremo Tribunal Administrativo entendeu que “Nestes processos, a intervencdo da Administragdo Tributdria esta, pois, confinada a participa- io na realizagtio do seu escopo judicial mas sem qualquer intervencio ou ingeréncia em sede de poder ou fungio jurisdicional, 3. Nossa posigao 3.1. A tutela das “vitimas” do incumprimento fiscal processo de execueao fiscal tramitado pela administragdo tributstia desenvolve indiscutivelmente uma funcio publica —a realizago da justiga tributéria ~ a qual passa por uma conjugagao equilibrada e prudente da prossecucdo do interesse piblico com a tutela da posigéo juridica sub- Jectiva do contribuinte devedor, reafirmando-se a legalidade do acto de liquidago que titula a dvida exequenda, sem prejuizo das garantias dos ccontribuintes no dmbito da fase de cobranga coerciva da divida tribu (ex: oposicao judicial da execugtio, reclamagiio dos actos de execugio, anulagio da venda, ete) Como defendemos noutra sede”, a nossa discordincia de fundo com o entendimento de que existiria uma disfungio no sistema fiscal * PALILO MARQUES, Blogio do Imposto — A Relayio do Estado com as Comic buintes. Coimbra, Coimbra Bator, 2010, pp. 146-147 183 “Artigas em virtude da reunidio das qualidades de credor e de executor no mesmo sujeito jurtdico (o fisco), radica no facto da administracao tributaia n langar mao, no ambita do processo de execugdo fiscal a meios coercivos para apenas arrecadar receitas tributirias no estrito interesse patrimonial do credor fiscal mas igualmente tutelando o interesse de outras “vitinas” do incumprimento fiscal: os contribuintes cumpridores da obriga imposto. Em conformidade com os principios da legalidade e da igualdade (artigo 55.° da LGT), incumbe ao Estado Fiscal tudo fazer no quadra legal vigente para trazer também para o sistema os contribuintes devedores, concretizando o prinefpio da igualdade tributéria, Por exemplo, quando tum conttibuinte nao entrega o IVA tecebido dos seus clientes, esti em vantagem competitiva ilegitima e censuravel face aos agentes econémicos do mesmo segmento de actividade, gerando uma situagao de concorréncia desleal devastadora para o funcionamento da economia. De igual modo, ‘a administragao fiscal, apesar de ser 0 credor do imposto, possui a quia- lidade juridica de drgdo de policia criminal em matéria de investi gag da criminalidade tributéria (artigo 40, n.° 2, do RGIT), chegando ao onto de ter competéncia delegada ope legis em relagaio aos crimes fiscais (artigo 41.°,n2 | alinea b), do RGIT), ‘Ao aplicar tigorosamente a lei aprovada democraticamente pelos 6rgi0s constitucionalmente préprios. a administragdo tributéria na pessoa dos que a servem pode ter que decidir ou agi contra si propria, se pers- pectivarmos apenas no dmbito estritamente patrimonial do lado do credor tibutitio (ex: conhecimento oficioso da preserigtio das dividas fiscais). Concordamos com NUNO LUMBRALES quando destaca que “o interesse do Estado na justiga se sobrepGe ao respectivo interesse enquanto cre~ dor. O fisco sera assim, em sede de principios, um «credor imparcial»' proceso de execuicio fiscal, atento 0 seu cariz piiblico, no tem como. objectivo apenas a cobranga coerciva das dividas tributsrias, podendo até © produto da venda servir, na prética, apenas para o pagamento das dividas dos credores detentores de direitos reais de garantia que tenham reclamado €, por outro lado, existindo remanescente, o mesmo € entregue pelo drgio de execugio fiscal a0 préprio contribuinte (executado).O hem penhorado io de * NUNO LUMBRALES, “Sole a promogio da execuio fisel pelos servigos de Finangas", in Fiscaidade, a.” 18, Lisboa, ISEG, Abril 2004, p. 25 Ist ‘Revista de Finangas Pablicas e Divito Fi cal integra a esfera pattimonial do executado, no do Estado, pelo que é 0 executado que realiza a venda, embora sob o ius imperii do Estado-credor. Por outro lado, nunca é demais referir 0 cardcter preventive do processo de execugao fiscal A eficacia da cobranga coerciva mede-se mio apenas pelo valor de divida arrecadada em processo de execusao fiscal, ‘mas igualmente pela sa componente preventiva junto dos contribuintes devedores (prevengio especial) e dos demais contribuintes (prevengio eral). reflectindo-se na diminuigdio do nivel de instauragao da nova divida fiscal, bem como no mimero de devedores, 3.2. Indisponibilidade do crédito tributirio Enquanto expoente do prinefpio constitucional da igualdade trib tia, 0 crédito tributirio € indispontvel,s6 podendo fixar-se condigoes para ‘Sua redugdo ow extineao com respeito pelo principio da igualdade e da legalidade tributéria (artigo 30.°,n.° 2. da LGT).A administragao tributaria nao pode conceder moratérias no pagamento das obrigagdes tributarias, salvo nos casos expressamente previstos na lei (artigo 36.2,n.°3 da LGT), enquanto manifestagio do principio da celeridade e da igualdade entre contribuintes. Diferentemente de outros credores, a cobranga dos eréditos tributérios nao se trata de uma mera faculdade mas antes de um imperativo irrenun- cidvel, em face da indisponibilidade do crédito tributério (artigos 30°. n?2€36°,n2 3 da LGT € 852, n2 2.do CPT), justamente porque nao cestd em causa a mera tutela egofsta e restrita do direito patrimonial do ceredor fiscal ‘A administragéo tributéria, diferentemente do que sucede com 0 exequente comum, pode na execugio fiscal penhorar mesmo os hens ja penhorados noutra execugdo, sem que isso conduza A sustagio da exe- cugio, sendo que a suspensio apenas € permitida, nos casas previstos na lei, Pelo que podem ser penhorados pelo drgio da execucio fiscal os bens ‘apreendidos por qualquer tribunal, ndo sendo a execugtio, por esse motivo, sustada nem apensada (artigo 218. n.°3 do CPPT), 0 processo de execuezo fiscal €apontado frequentemente como tendo cardcter administrative numa perspectiva orgdnica e formal (artigos 54.° daLGTe 102,n~ | alineaf)€972,n2 | alinea 0) do CPPT), mas pode ser perspectivado como materialmente judicial, mesmo quando seja tramitado 185 en Artigas integralmente pela administragtio fiscal (artigos 250.°,n2 2,256, n22¢ 3.€2762,do CPPT)..A administracao tributatia pode ainda assim praticar actos que no envolvam a apreciagdo de uma questio juridica controvertida a dirimir pelos tribunais. 33. Execugio do Orgamento do Estado Cabe a0 governo fazer executar 0 Orgamento do Estado (ati : alinea b) da Constituigdo), pelo que naio se entenderia que a execugio do Orcamento do Estado estivesse, em termos praticos, na estrita depen- déncia dos tribunais enquanto érgdos independentes do poder executivo, respondendo este ultimo perante a Assembleia da Repiiblica e mesmo em eleigdes livres pelo seu desempenho politico orgamental. No que respeita & execucio fiscal, as atribuigdes da administragao tributdtia ndo se confinam a fungdo meramente executiva, antes abran- gendo fungdes de cariz planificador, de gestdo financeira global da divida € dos recursos humanos da administragao fiscal, excedendo em muito o tradicional niicleo jurisdicional. . Competéncia do fisco para a tramitacho do processo de exe cugio fiseal Considera-se, para efeitos do presente Codigo, 6rgio da execugao fiscal 0 servico da administracdo tributdria onde deva legalmente correr a execugio (artigo 149, 7." parte, do CPPT), através do drgao periférico local ~ redacgio dada pela Lei n 3-B/2010, de 28 de Abril legislador ao nao especificar, introduziu nesta nova formulago uma acrescida flexibilidade organizacional, competindo em todo 0 caso a0 Srgiio de execucao fiscal a instauragio do processo executive, a citagao do executado,a reversiio contra gerentes ou administradores,a penhora,a convocagiio de credores, bem como a verificagio e graduagao de créditos, a venda coerciva e a entrega do bem penhorado, entre outros. Em virtude da mesma lei, 0 artigo 150 do CPPT veio clarificar e alterar as regras de competéncia territorial do érgio da execueao fiscal, ou seja, em primeira linha € competente o servico de finangas que for designado por despacho do ditector-geral dos impostos, enquanto que em 2 linha, assente no pressuposto da falta desta designagiio, é competente 186 Revista de Finangas Piblicas e Direito Fiscal {erritorialmente 0 drgio periférico local resultante directamente da lei: 0 ‘rgio periférico local do domicilio ou sede do devedor, da situagao dos bens ou da liquidagao, salvo tratando-se de coima fiscal e respectivas eustas, caso em que é competente o drgiio da execugao fiscal da drea onde tiver corrido 0 processo da sua aplicagdo. Uma inovagio trazida agora jd pela Lei n° 55-A/2010, de 31 de Dezembro (Orcamento do Estado para 2011) prevé que quando razGes de racionalidade de meios e de eficdcia da cobranga o justifiquem, 0 dirigente méximo do servigo, mediante despa- cho, pode atribuir a competéncia para a execugio fiscal ao drgco periférico regional (director de finangas) da area do domicitio ou sede do devedor. Accobranga coerciva integra a estrutura da administragao fiscal nio ‘36 em Portugal mas igualmente em paises como Irlanda,a Alemanha, a Espanha, o Luxemburgo, a Dinamarca, a Franga,a Finkindia, os Estados Unidos da América, Coreia, o Canad, a Austria, a Austrilia,a Reptblica Checa, a Finlandia, a Grécia, a Noruega, a Poldnia, a Turquia, a Eslova- quia, Nova Zelindia, Japao, entre outros" 3.5. Personalidade tributs versus competéncia tributiria Apesar da unicidade que caractetiza Estado apontar tendencial- mente para a coincidéncia subjectiva na administrago do credor ¢ do executor, na seara tributdria, existem situagdes em que tal no sucede, nomeadamente quando a administragao fiscal do Estado cobra coerciva- ‘mente o tributo municipal". Acompeiéneia tributdria remete-nos para a administragao do proprio imposto, tarefa que incumbe, em regra, & administragao tributdria. Aos servigos da administragéo tributaria cabe liguidar e cobrar ou colaborat na cobranga dos tributos, nos termos das leis tributérias (artigo 10.9, 1 ” Aeste propssitovide JOSE C. GOMES DOS SANTOS, “Desempenho das Adi nistragbes Fiseais nos Paises da OCDE — 0 Caso Portuzés no Contesto Interaeion in Ciéncia e Téeniea Fiscal n."423. Lishoa, Ministétio das Finangas e da Administ piblica, Dizexeio-Geral dos Impostos, Cento de Estudos Fiscais, aneiro-Junho 2049, pp. 7-65 A-menos que se entenda que mesmo no caso dos impostos municipas, ‘tua através da adaministragao fiscal. a qual liquida¢ eabnteredore executor), ni tendo ‘8 autarquia local qualquer relagio com 0 suite passivo,restando-Ihe a titulardade da 187 ‘Avtigos ‘linea a) do CPPT), Em caso de dtivida,é competente para o procedimento © rao da administragao tributéria do domicilio fiscal do sujeito passivo ‘ interessado ou, no caso de inexisténcia de domicitio, do seu represen- tante legal (artigo 61.°, n.° 4, da LGT). A Direego-Geral dos Impostos (DGCI) prossegue como attibuigao a fiquidacdo e cobranca dos impostos € outros tributos que The incumbe administrar (artigo 2.°,n.° 2, alinea a) do Decreto-Lei n! 81/2007, de 29 de Margo). 3.6. Executor em causa propria? 36.1, Pris dda separagao de poderes A ideia da separagiio de poderes surgiu com o propésito de evitar a concentragio absoluta de poder nas maos de apenas um 6rgtio um Estado €, por outro lado, introduzir algum controlo reciproco entre os diversos poderes. A criagao de impostos incumbe ao Parlamento (artigo 103.2,n22, a Constituigdo), a liquidagaio dos impostos (ex: IRS, IMT, IMI, etc) e a cobranca coerciva fiscal compete & administragao tributiria. Entendemos que miio existe nenhum défice de controlo, mesmo estando reunidos no Estado-administragao 0 poder de liquidar 0 imposto e, por outro lado, 0 poder de execucao coerciva das suas proprias decisdes (qprivilégio de execugao prévian), Pelo que nao concordamos com Rut MORAIS, quando este sublinha que “Fazendo um breve excurso, diremos que existe aqui ‘um elemento perturbador: ¢ o proprio exequente, a administracao fiscal, quem pratica certos (a maioria) actos processuais. Aparentemente € ela quem executa 0 seu préprio crédito, Esta aparéncia, muito embora ni correspondendo no plano jurfdico a uma confusao entre duas posigées do Estado (Estado eredor e Estado jul gador), indesejdvel pelo modo como. prejudica a imagem publica dos Tribunais Tributérios, muitas vezes vistos pela opinidio publica como um drgéo mais da administragzo fiscal, que assim € entendida como julgando-sea si propria. Até porque, inicialmente, foi de Facto assim” ‘Como temos vindo a sustentar, ndo merece acolhimento 0 argumento, de que a opeiio do legislador pela via da execugo coerciva mediante a *” RULDUARTE MORAIS, A Execupdo Fiscal, Coimbra, Almedina, 2005, p. 41 Iss Revista de Financas Piblicos e Diveito Fiscal ‘etividade da propria administragao fiscal tolhe o principio da separagao de poderes. A ideta da separagio de bens (estrutura tripartida), celebrizada or John Locke e Charles Montesquieu, tem em vista, desde sempre, evitar Aconcentragio absoluta de poderes num s6 éraiio do Estado. Deste modo, cada uma das fungdes do Estado seria atribuigéo de um drgao ou mesmo de um conjunto de érgdos. No entanto, estes autores nunca defenderam uma separagdo totalmente rigida, destacando-se sobretudo a relagéo de forgas e a necessidade de equilibrio € harmonia entre os trés poderes (legislativo, executivo e judicial). O legislador ¢ a pritica sécio-politica znunca efectivaram uma coneepeao formalista da teoria da separagiio de oderes, cocxistindo sempre uma interpenetragao de poderes, de modo a Permitir um controlo reciproco entre todas os poderes(legislativo,exect- tivo e judicial). Perante a Constituigdo, os vsirios poderes do Estado esto ‘49 mesmo nivel,.com o propésito de que nenhum possa dominar o outro, existindo antes alguma autonomia propria. Um aspecto relevante reside Justamente no facto de os diversos poderes terem fungdes preponderantes, ‘mas no necessariamente em exclusividade, pelo que o poder legislative € em regra quem legisla, mas existem competézcias normativas no poder executivo, Apesar da fungtio judicial pertencer aos tribunais, tal circuns- {ancia nao impede o desempenho de fungGes judiciais por dros perten- centes a administragdo do Estado sem colidir com 0 micleo jurisdicional Em face do figurino constitucional em que se valoriza uma relagiio equilibrada ¢ moderada entre os poderes do Estado, resulta a existéncia de mecanismos de controlo reeiproco, edificados de modo adequado & equilibrado, assegurando a autonomia entre os érgdos, devendo cada um eles prestar contas da sua actuagio aos demais. O controlo democritico do exercicio do poder exige que os tradicionais trés poderes retinam mais fungdes do que as tr€s originais e principais que Ihe esto normalmente adstritas, Conforme nos dé conta 0 constitucionalista GOMES CANOTILHO “O principio da separagio ¢ interdependéncia dos érgdos de soberania ‘em, assim, uma fungdo de garantia da constituigao, pois os esquemas de responsabitidade ¢ controlo entre os varios érgéos transformam-se em relevantes factores de observancia da constituigio”. Pelo que B 4.1. GOMES CANOTILHO Divito Constitucional, 7° Bdigio,Coinnbra, Altae- sina, 2003, p. 889. 189 “Arigos ugnamos pela inadmissibilidade de érgdos com fungdes preponderante- ‘mente comuns poderem controlar-se ou mesmo intervirem reciprocamente. Existe alguma afinidade entre as fungdes executiva e judicial, se tivermos em conta que ambas se reportam a aplicago do dircito (law enforcement), embora os tribunais tenham a prerrogativa de julgar com independéncia, estando apenas subordinados & lei enquanto que a fungio executiva tem que ver com a execugdio das leis a administragaio do Estado. Na relagiio entre a actividade jurisdicional e as outras, nao existe isolamento de nenhuma delas, nem sequer unilateral, 4 que os tribunais podem desempenhar acessoriamente fungdes diversas desde que nao implique, como ja se disse, uma descaracterizagiio do niicleo das que Thes so conferidas. Exemplo paradigmstico de algum paralelismo sucedeu com a entrada em vigor do Codigo de Processo Tributétio (CPT) em que a generalidade dos processos de execugao fiscal passou invariavelmente a ser tramitada pela administragao tributaria, apesar dos instaurados até 1 de Julho de 1991 ,nos tribunais tributatios de | *instancia de Lisboa e do Porto continuarem a ser nestes tramitadas, No entanto, 0s processes que estivessem ainda pendentes nos tribunais em 1 de Janeiro de 1994, tran- sitaram para o competente servigo tributario. Por outro lado, 0 legislador pode optar, em certas situagdes, por conferir uma determinada atribuigaio 0s tribunais ou a administragdo dotada de ius imperit (ex: graduaciio € verificagio de créditos), como resulta da Lei n® 55-4/2010, de 31 de Dezembro (Orgamento do Estado para 201 1), Nestes casos especificos, a fungao jurisdicional esgota-se na vertente meramente organica. Olegislador garante a possibilidade de impugnagzio junto do tribunal tributdrio de 1." Insténcia das decisdes proferidas pelo érgiio de execugio fiscal ou de outras autoridades da administragio tributdria desde que afectem os direitos ou interesses legitimos do executado ou mesmo de terceiro” (artigo 276. do CPPT), devendo ser apresentado no prazo de 10 dias a contar da notificagao da decisao (artigo 277°, n° 1, do CPT). E garantido aos administrados tutela jurisdicional efectiva dos seus direitos ou interesses legalmente protegidos (artigo 268." n° 4, da Cons- tituigao). Conjugando este normativo constitucional com o artigo 103.2, n°2,da LGT coneordamos com Dioco Lette pe CAMPOS quando refere "A Lei n? 109-B/2001, de 27 de Dezembro vei inclu igualmente o feceira, hamnizando-se deste modo com os ineressados refers no n.'2do artigo 103."e LGT 190 Revista de Finangas Piblicas e Dielto Fiscal gue “O preceito assenta, assim, na ideia de que todo o processo de exe cucdo poderd ser controlado pelo juiz de execugdio como qualquer outro processo judicial”™ A reclamagao preceituada no artigo 276° do CPPT tem como fim a sindicdncia de actos de execuedo praticados pelo fisco, pelo que em caso de subida imediata de reclamagio (artigo 278°, n° 3 € 4, do CPPT, nao. se trata de colocar em causa © proprio proceso de execuciio, pelo que nao o extingue ou suspende. Ji anulagdo da venda, segundo a maioria da jurisprudéncia, apenas pode ser decididla pelos tribunais" (artigos 257." e 279° do CPT), nflo poxiendo ser requerida pelo exequente,nem pode ser decidida a revogagzio da venda pelo drgdo de execugao fiscal — haja ou nao pedido de anulagio da venda, nem sindicavel mediante o artigo 276." do CPPT. Néio concordamos com este entendimento, uma vez. que 0 érgio de execugao fiscal, estando vinculado ao principio da legalidade, tem de na sua actuagao ir para além do seu mero interesse patrimonial egofsta. Pen- samos que 0 rgdo de execugao fiscal pode revogar qualquer dos actos que integrem o procedimento de venda coerciva, um pouco a semelhanga do n° 2 do artigo 277°, nao apenas porque a prépria anulagao da venda pode ser requeridla pelo préprio executado ou por terceiros (ex: credores) tum pouco a semelhanca da reclamagao (artigo 276.°,n.2 1, do CPPT) mas sobretudo porque entendemos que o pedido de anulagao da venda apesar de ser ditigido ao tribunal tributario de 12 instincia (artigo 151°.n2 1, © DIOGO LEITE DE Lei Geral Tribunévia ~ Comemtada ¢ Anotada. iio, Lishoa, Vislis Baitores, Setembro 2003, p. S35 ' Para o Conselheiro VALENTE TORRAO “Embora no artigo 151°, referente ‘ompeténeis do Tribunal Tributivio de 1 Instneta, se no tira a anulagio da vend, seguro que este pedido & da sua competéncia, quer porque se trata de um incidente bo processo de execugso fiscal, quer porque © artigo 2792, n: tales b) se refere os recursos dos actos juriscionais no process de execu fisal,designadamenteaanulagio de vena”, Cidign de Procedimento e de Processo Tributirio ~ Anctado e Comentatlo, Coimbea, Almedina, 2008, p. 914). ° O Supremo Tribunal Administrative deci que “O pedo de anu efectunds em processo de execueto fiscal integra © iedoda vers ceva da competgneia material dos ‘wibunais tibutitios de 1. instaneis, quer por se tratar de ineidente provessual (ait? 151° 2 1 do CPPT e 237° n* 2 do CPT), quer por, como tal. inlegrar acto de natureza est tamente jurisdicional, que a lei ea consttuigdo reservam exelusivamente 20s trbunais” (Acco de 26 de Janeiro de 2005 - Proc. .° 0189003), —— It Artigos do CPPT), deve ser apresentado nos servigos da administracdo tributétia'? lum pouco a semelhanga do que se verifica na oposig&o judicial a execuctio (artigo 207.", n° 1,do CPPT),nos embargos de terceito (artigo 237°,n°2, do CPPT) ¢ na reclamagao (artigo 277°, n! 2, do CPPT), A administragao fiscal, sendo 0 ctedor (exequente) tem legitimi dade para requerer a anulagao da venda coerciva com fundamento na alinea c), don? 1, do artigo 909-° do CPC. Pensamos que néio procede 0 argumento no sentido de que a anulagaio da venda coerciva em execugio fiscal somente afecta os interesses patrimoniais doadquirente do bem, nio ‘apenas porque pode vira ser condenado o Estado numa indemnizagao por responsabilidade civil extracontratual, mas sobretudo porque incumbe ao Estado tutelar 0s interesses dos contribuintes cumpridores, aplicando os principios da legalidade e da igualdade. A anulagao da venda néo prejudica os direitos que possam assistir 0 adquirente em virtude da aplicagaio das normas sobre enriquecimento sem causa (artigo 257°,n.°4,do CPT), afastando-se 0 direito de indem- nizagio nos termos gerais da responsabilidade civil. A possibilidade de revogacdo pelo srgio de execugtio que praticou © acto no procedimento de venda €, por sua vez, sindicavel mediante a apresentagiio de reclamagao pelo executado e/ou terceitos (artigo 276°, ne 1, do CPPT), Mesmo que consideremos que 0 elenico de incidentes'* constante no antigo 166.° do CPPT & metamente enunciativo, nao concordamos que a anulagdo da venda seja um incidente, uma vez que a venda coerciva nao constitui, em bom rigor, uma ocorréncia extraordinria que perturba 0 ‘movimento normal do processo, sendo inclusivamente nos casos de ndo PNosentico de que respective pedi de anulago da venda deve se apresentado no avo de execu fiscal, pronunciaram-se RU DUARTEMORAIS,A Exec Fiscal, Coimbra, Almedina, 2005, p. 186e JORGE LOPES DE SOUSA, Cédiga de Pracedimento de Processo Tributirio ~ Anotado e Comentado, I Volume, Eaitora, 2007, 591 " Para JORGE LOPES DE SOUSA “a apresentagio de um pedido de anulagio de venda.com a possilidade de ser afectada a validade de actos processus. no pxle deixar de ser eonsiderada como uma ceorréncia estanhs a0 desenvolvimento normal do Droeesso que, coma tal, eabe no conceito de incidente processul,estando, por esta via ‘englobada neste n° 1 do artigo 151", Céidigo de Procedimentoe de Prucesso Tributavio = Volume If, Lisboa, Areas Editores, 2007) Figo, Lishoa, Areas 192 Revista de Financas Piblicas ¢ Diveito Fiscal regularizagio voluntéria da situago tributdria subjacente pelo contri- buinte, uma consequéncia I6gica do acto instrumental que é a penhora. Porém. apenas se verifica 0 pagamento coerci vo da divida executiva com a aplicagio do produto da venda no mbito da execugao fiscal, excluindo as situagdes de penhora de dinheiro ou de outros rendimentos, sendo entiio tendencialmente a penhora dos bens uma fase preparatdria ou instrumental dda venda executiva dos mesmos bens e niio um acto definitivo ou terminal no processo. Por seu lado, 0 artigo 179. na alinea b) do seu n 1 vem dar razfio 4 distingao que propomos, mencionando distintamente «incidentes» &

You might also like