You are on page 1of 18
Preven : ust Sera a cidade contempordnea como o eereporto contempordineo sigue todos os outroas? Soré possivel teorizar esta convergancia? E em caso | afirmativo, a que configuragao definitiva aspira? A con- vergéncia é possivel apenas a custa do despojamento da Identidade. Isso 6 geralmente visto como uma per- da. Mas a escala om que Isso acontoce, tm desi | ficar algo. Quais sao as desvantagens da identidade |e inversamente, quais as vantegens da vacuidade? E se esta homogeneizacdo eparentemente acidental | a grtment deplrede-—fosse um process inten | cionel, um movimento consciente de distanciamento { | da diferenca.e aproximagdo da semethanca? Eso est- vermos a assistir a um movimento de ibertagao glo- bal: eabaixo 0 ca-racter!» O que resta se remavermos a identidade? 0 Genérico? |1.2. Na medida em que @ identidade deriva da substanciafisica, dohistrico,do contexto © do real, de certo modo néo conseguimos imaginar que algo contemporBneo —feito por nés— contribua para ela. Mas 0 facto do crescimento huma- no ser exponencial implica que 0 passado se tornars | em dado momento demasiado «pequeno» para ser ” habitadoe partithado por aqueles que estao vivos, Nos mesmos 0 esgotamos. Na medida em que a historia encontra 0 seu depésito na arquitectura, as cifras actuais de populagao vio inevitavelmente disparar © dizimar a substancia existente. A identidade concebi- da como forma de partilhar 0 passado ¢ uma proposta, perdedora: nao s6 existe —num modelo estével de expansao continua da popularao— proporcionalmen- | te cada vez menos o que partilhar, mas a historia tem uma ingrata meia-vida —quanto mais se abusa dela, ‘menos significativa se torna— até chegar o momento em queas suas decrescentes dadivas se tornam insul- tuosas. Esta rarefaccéo @ exacerbada pela massa sempre crescente de turistas, uma avalanche que, na busca perpétua do «cardcter», tritura as identidades bem-sucedidas transformando-as em poeira insig- nificante. 1.3.4 identidade 6 como uma ratosira, onde cada vez mais ratos tém de partilhar o isco original, e que, examinada mais de perto, pode estar vazia ha séculos. Quanto mais poderosa for a identidade, mais os aprisiona, mais resiste & expansao, a interpreta- ‘980, renovagao, & contradigao. A identidade torna-se semethante a um farol —fixa, sobredeterminada: pode mudar a sua posi¢ao ou 0 padrao em que emite, mas 0 Prego € desestabilizar a navegagao (Paris s6 se pode tornar mais parisiense —ja esta a caminho de se tor- "nar hiper-Paris, uma caricatura polida. Ha excepgdes: Londres —cuja Unica identidade ¢ a falta de uma identidade clara— esta perpetuamente a tornar-se cada vez menos Londres, mais aberta, menos estati- ca). 14, A identidade centraliza; insiste numa essén- cia, num ponto. A sua tragédia é dada em termos geo- métricos simples. A medida que se expande a esfera de influéncia, a rea caracterizada pelo centro torna~ se cada vez maior, dluindo irremediavelmente tanto a forga como a autoridade do nécleo; inevitavelmente, a distancia entre o centro e a circunferéncia aumenta pat até ao ponto de ruptura. Nesta perspectiva, a desco- berta recente e tardia da periferia como zona de valor potencial —uma espécie de condigéo pré-histérica que pode ser finalmente digna de atencao arquitects- nica— 6 apenas uma insisténcia dissimulada na prio- ridade e na dependéncia do centro: sem centro néo ha periferia; 0 interesse do primeiro compensa presumi- velmente a vacuidade do segundo. Conceptualmente 6rfa, a condicao de periferia 6 agravada pelo facto da ‘sua mae continuar viva, roubando o espectaculo,enfa~ tizando as insuficiéncias da sua descendéncia, As Lltimas vibragdes que eranam do centro esgotado pedem a leitura da periferia como uma massa criti- ca, Nao 86 0 centro & por definigdo demasiado peque- no para cumprir as obrigacdes que Ihe esto consig- nadas, como também nao é ja o centro real, antes uma miragem empolada em vias de implosao; contudo, a ‘sua presenca iluséria nega legitimidade ao resto da cidade (Manhattan denigra como «gente das pontes e taneis» aqueles que precisam do apoio das infra- estruturas para entrar na cidade e fa-los pager por isso). A persisténcia da actual obsess8o concéntrica faz quo todos nés sejamos gente das pontes e tineis, cidaddos de segunda classe na nossa propria civiliza~ ‘¢40, privados dos nossos direitos por essa tonta coin- cidéncia do nosso exilio colectivo do centro. 1.5. Na nossa programagao concéntrica (0 autor passou parte da sua juventude em Amesterdao, cidade da maxima centralidade) a insist8ncia no centro como nicleo de valor e significado, fonte de toda a significagao, € duplamente destrutiva: nao 6 0 volume sempre cres- cente das dependéncias 6 uma tensdo essencialmen- te intolerével, como também significa que o centro tem que ser constantemente mantido, quer dizer lernizado. Como «lugar mais importante» parado- jente tem que ser, a0 mesmo tempo, omais velhoe (© mais novo, o mais fixo @ 0 mais dindmico; sofre a adaptagao mais intensa ¢ constante, que em seguida se vé comprometida e complicada pelo facto de ter de ser uma transformagao irreconhecivel, invisivel a olho nu (a cidade de Zurique encontrou a solucao mais radical e dispendiosa ao voltar a uma espécie de arqueologia inversa: camada apés camada de novas, modernidades —centros comerciais, parques de esta- cionamento, bancos, abobades, laboratérios, etc.— ‘sa0 construidos por baixo do centro. centro jé nao se ‘expande para fora ou parao alto, mas sim para dentro ‘em direcgao ao proprio centro da Terra). Desde o enxer- to de vias de comunicacdo, circunvalacées e tineis subterrneos mais ou menos discretos, a construgio de cada vez mais tangenciais atéa transformagao roti neira de habitagdes em escritsrios, de armazéns em lofts, de igrejas abandonadas em clubes nocturnos, desde as faléncias em série e subsequentes reabertu- ras de espagos comerciais cada vez mais caros até & implacavel conversdo de espaco utilitério em espago «piblico», a pedonalizacao, a criago de novos par- ques, plantando, ligando e expondo a sistematica res- ‘tauracao da mediocridade historica —toda e autenti- cidade se 6 incessantemente evacuada. 1.6,A Cidade aac Genérica é a cidade libertada da clausura do centro, do espartitho da identidade. A Cidade Genérica rompe com 0 ciclo destrutive'da dependéncia, nao é mais do que um reflexo da necessidade actual e da capacida- de actual, E a cidade sem historia. E suficientemente grande para toda a gente. E facil. Nao necessita de manutengo. Se se tornar demasiado pequena sim- plesmente expande-se. Se ficar velha, simplesmen- te autodestréi-se e renova-se. € igualmente emocio~ ante —ou pouco emocionante— em toda a parte, E «superficial» —tal como um estudio de Hollywood pode produzir uma nova identidade todas as manhas de segunde-feire, PRETEEN 2.1 Cidade Genéri- ca cresceu espectacularmente nas Ultimas décadas. No 86 0 seu tamanho aumentou, mas também os seus nimeros. No inicio da década de 1970, era habi- tada em média por 2,5 milhdes de residentes oficiais (e mais ou menos 500.000 eventuais) agora, ronda os 15 milhdes. 2.2. Serd que a Cidade Genérica comecou 1a América? € tao profundamente pouco original quo 186 pode ter sido importada? Em qualquer caso, Cida de Genérica agora também existe na Asia, Europa, Australia Arica. A passagem definitiva do campo, da agricultura para a cidade no é uma passagem para 8 cidade como a conhecemos: 6 a passegem para a Cidade Genérica, uma cidade que se expandiu tanto que chegou ao campo, 2.3. Alguns continentes como a Asia aspiram & Cidade Genérica; outros envergonham- se dela, Como tende para o tropical —convergindo em tomo do equador— grande parte das Cidades Genéri- as sao asiétcas, o que aparentemente 6 uma contre- digo nos termos: o superfamiliar habitado pelo ines- crutével. Um gia voltaré a ser absolutamente ex

You might also like