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tina e, em certos momentos, até mesmo ndo-politicas, este livro procu- ra também verificar a possivel existéncia de uma linha consistente de |) atuagéo norte-americana no continente, por trés de mudangas even tuais. As limitages de espaco certamente prejudicam um deseriho ‘mais completo das relagdes de um século entre EUA @ América Lat na, Esperamos, pelo menos, ter levantado questGes que meregam es- tudes mais aprofundados em outra oportunidade, isa a saa orn ar on von roel caer ns rata, come Cn Fata aay 10 “Os Estados Unidos sao praticamente soberanos neste continen- te 6 sua orcem é lei para os stditos nas éreas em que inlervém.” Esta frase, dita por um alto funciondrio norte-americano durante uma dispu- ta sobre a Venezuela em 1895, sintetiza uma politica para a América Latina, que iia vigorar pelo século XX afora. O que o governo ameri- ‘cano prociamara como intengo em 1823 com a Doutrina de Monroe virou realidade no final do século XIX, inicio do século XX. Para entender essa "vocaego para o expansionismo" vamos via- Jar um pouco pelo tempo. Desde a fundag&o das treze colénias na cos- ta leste da América do Norte no século XVII, a ocupac&o de espacos constitui um: trago marcante da presenca anglo-saxd na América. E bem verdade que outros colonizadores europeus estavam também ‘ocupando espacos, mas impressiona no caso da América inglesa a velocidade, assim como,a variedade das formas de ocupacao e de ati- vidades econdmicas. Impressiona também a convicgao de um direito divino & ocupacao, assim como de uma missao especial desse povo na América, Essa crenca na sua prdpria excepcionalidade resultava de uma tradi¢éo religiosa (puritana) que realcava a realizagao da virtude individual, assim como de uma tradigao republicana que fundava as instituigSes politicas na aco e na vontade enérgica de homens livres. No momento mesmo em que se tomaram independentes da Inglaterra, 8 dirigentes americanos afirmavam a singularidade absoluta de seu pals no sistema intemacional das nagdes. Para Hamilton, um dos Pais Fun- dadores, parecia ser a missodos americanos demonstrar ao mundo que era possivel aos homens controlar racionalmente sua vida em comum. " A velocidade na ocupagéo do terrtério continental foi imprassio- ante, Ao vencerem a metrépole na guera da independéncia (1776-1781), os colonos americanos asseguraram-se as temas além- Apalaches @ legislaram sobre sua ocupacdo para si e seus descenden- tes. Em 1803, numa iniciativa ousada, compraram a Luisiana a0 go- vvemo francés. Em 1819, numa expedigéo de conquista, arrebataram a Flérida aos espanhéis. A presenga macica de colonos americanos no Texas (até ento sob dominio formal do México), levou & proclamacéo da independéncia da regiéo em 1836; a deciso texana de incorporar- 8 aos EUA dez anos mais tarde produziu a guerra entre México @ EUA (1846-1848), ao fim da qual se impés 20 govemo mexicano a en- frega de uma extensa faixa de territério, que inclula os atuais estados do Arizona, Novo México @ Califémia— equivalente ao temitério somado da Franca é da(s) (duas) Alemanha(s) — em toca de 15 milhdes de déla- tes. Os expansionistas mais exaltados queriam o México inteiro! O ‘avanco sobre as “terras livres" do meio-oeste — na verdade, povoadas Por dezenas @ dezenas de sociedades indigénas — terminou com a ‘cuparao do Oregon, numa conjugacao de esforpos missionérios Comerciais, regulando-se a frontelra ao norte com os ingleses em 1846 @ fazendo do Oregon um estado da Unido ern 1848, Em 1867, os EUA ‘compraram 0 Alasca ao governo Imperial russo. ‘A enorme variedade dos modos de apropriago e de exploracéo dos recursos naturais desse pals-continente produziram tanto um cres- cimento econémico vertiginoso quanto tens6es polticas insuportéveis, que levaram a uma guerra olvil (1861-1865), conheclda como Guera de Secesséo. As mudangas econémicas e sociais ocorridas durante a guerra e nas décadas seguintes foram drdsticas, Os esforgos de pro- duo industrial, Inovaco tecnolégica, legislaco protecionista, redes de comunicagao e transporte, novas formas de organizago econdmica @ avliberagdo de quatro milhes de escravos, produziram mudangas sociais extremaments répidas néo apenas no Norte urbanizado como No Sul @ no Oeste agrérios. O padrdo de industrializagao o urbanize- ‘¢é0 impulsionado por uma economia cartelizada iria jogar os EUA’em Pouco mais de trés décadas & frente daquilo que hoje chamamos de Mundo desenvolvido, A expanséo dos negécios néo tinha porque res- peitar as fronteiras nacionais, ainda mais que a propria politica exterior 0 governo americano ao final do século XIX era a de estender sua in- fluéncia politico-militar em mais de uma diregéo. Ce ENQUANTO ISSO, NA AMERICA LATINA Nessa diversidade complexa chamada Amiética Latina’ ~ consti luida por duas dezenas de Estados separados por diferentes culturas, 12 regimes pollticas distintos @ até rivalidades mortais ~ consolidava-se, ‘em meados do século XIX, aquilo que alguns autores chamam de “um, novo pacto colonial’, Feita a independéncia nas primeiras décades do século, isto 6, abolido o velho pacto colonial, os palses I nos ajustaram sua estrutura produtiva na direc&o dos paises industrials mais avangados, tomando-se em geral fomecedores de bens primérios (qricolas ou minerais) e comprando deles bens de consumo indus- trials, A este “novo pacto colonial” somou-se, ao final do século, um permanente fluxo de capitals que chegavam sob a forma de empréstimos Ou investimentos diretos. Foram tipicas dessa época a construcéo de fer- rovias, a instalacdo de servigos piblicos (gs, telefone, luz, Agua potéve, transportes urbanos) » a modemizagao da produgéo de exportagao. ‘Uma certa industrializagao havida no final do século XIX na Amé- rica’ Latina foi insuficiente para conferir um impulso préprio ao crescl- mento econémico, além de se dar em forma altamente concentrada, beneficiando certos grupos sosiais, determinadas regiées dentro de cada pals e alguns ramos da atividade econémica. O resultado geral fol © aprofundamento da dependéncia da economia latino-americana aos paises mais industrializados, especialmente Gré-Bretanha, Esta- dos Unidos, Franga e Alemanha (nessa ordem, os maiores exportado- res de capital para 0 nosso continente). Note-se também a forte in- fluéncia européla ocidental em varios planos da vida latino-americana, tais como a organizagéo militar, o pensamento flloséfico e as manifes- tag6es oulturais e artisticas em goral. 'No plano da organizacéo politica intema, eram notérias a crénica instabilidade politica, a dabilidade dos esforgos democréticos e a recor- réncia de govemos autoritérios (caudilhos) - fendmenos que se assen- tavam em relagdes sociais mercadas pela patronagem (relagao de fa- vorldlvida) tipicas da socledade agréria das haciondas @ latitindios, No plano da relac&o dos paises latino-americanos entre si, é de se notar a mesma auséncia de regias consensuais. Os esforgos de articulagao politica entre eles foram sempre débels © parciais, a comiecar pela cé- lebre Conferéncia do Panama, convocada por Simén Bolivar em 1826, qual se seguiram as conferéncias de Lima (1847/48), Santiago do Chile (1856) e Lima (1864/65). Cada um desses enoontros se deu por reaco a algum tipo de ameaga extema, européia ou norte-americana, ‘sobre 0 continente, Mas a fraca representatividade e a falta de unidade de propésitos, somadas & auséncla de qualquer mecanismo que regu- .- lasse as diferengas ou rivalidades dentro do oontinente, acabariam por impedir uma articulagéo latino-americana eficaz. Essa articulago seria afinal realizada pelos EUA como instrumento de sua politica exterior, a partir de 1890, por meio do movimento pan-americano. 13, — A POLITICA EXTERIOR AMERICANA, ‘As grandes definicSes da politica exterior americana no século XIX.s0 bem conhecidas, Em 1823, um discurso do presidente Monroe fixou duas diretrizes, conhecidas dal por diante como Doutrina de Man ‘toe. Pronunciada no contexto da restauragao monérquica na Europa e das tentativas espanholas de recuperar 0 poder que perdia em suas colénias americanas, a Doutrina continha dues afirmacées fundamen tais: 19) os EUA néo permitiiam a recolonizagéo da América pelas po- téncias europélas; 24) 0s EUA defenderiam o direito dos povos ameri anos & autodeterminapao nacional. A possibilidade de defender de fa- to esses dois pontos era minima naquele momento, mas Washington Confiava no poder naval briténico, que se antepunha entre as matro- poles ibéricas © suas colénias americanas, naturalmente em funcao dos interesses briténicos (comerciais, especialmente), Nesse momen- 10, portanto, @ Doutrina de Monroe traduzia mais uma intengaio do que uma realidade, mas j& apontava para um papel Intemacional que os EUA se reservavam, Ao mesmo tempo, tendo evitado fazer essa de- laragéo de intengdes em. conjunto. com. a. Gré-Bretanha, © governd) ‘americano pretendia, no fundo, afastar também sua ex-metrépole dos negécios do Novo Mundo, Em meio & “corrida para 0 oeste", na metade do século XIX, sur- giu uma expresso que iria marcar, senéo a politica da expanséo, pelo ‘menos o cima intelectual em que ela se dava, Tratave-se do "Destino Manifesto", expresséo jomallstica que se popularizou rapidamente © que via a expansdo territorial americana como um processo ilimitado, Que néo se deteria nas pralas da Califémia, mas avancaria pelo Pacifi- 0 afora e acabaria por dar a volta a0 mundo! Essa visGo carismética da _expanséo parece dar razio & tose de um autor, Waltor Wobb, de ue para os americanos a fronteira ndo era uma linha diante da qual se devia parar, mas uma area que convidava a entrar. Antes mesmo ‘que se iniciasse a expanséo nos oceanos, JA come¢avam a se formar 0 lima de-opiniéo pablica € as justifcativas religiosas, culturais, pollt- eas @ econémicas da nova expansio, 'No final do século, os animadores do expansionismo além-mar j& elaboravam suas estratégias e justificapSes. A montagem de um poder naval, ardorosamente defendida pelo Capitdo Alfred Mahan como fur- damento do poder nacional, acelerou-se nas titimas décadas do sé- culo @ possioilitou a guerra contra a Espanha em 1898, Para os expan- sionistas, 0 movimento de conquistas era natural, como nas palavras ‘de Cabot Lodge em 1895; 14 ‘As grandes nacbes do mundo esto devorando rapidamente todos 0s lu- ‘gares desocupados da Terra, com vistas & sua futura expanséo e & sua dofesa atual; como uma das grandes nagSes do mundo, os Estados Uni- 08 no devem fcer atrés. Embora viesse a exercer um domfnio direto em certos territérios, Washington revelou-se mais interessado em estabelecer esferas de in- fluénoia econémica, assim como bases estratégicas, que Ihe dessem liberdade de atuagéo no Caribe, América Central e numa vasta faixa maritima do Pacifico. Um dos elementos fundamentals dessa estraté- ‘gla seria @ construg&o de um canal que unisse o Atlantico ao Pacifico, na América Central, O controle desse canal faciltaria a ligagdo entre 05 litorais leste oeste dos EUA, com evidentes ganhos comerciais e ampliaggo das vantagens estratégicas — em suma, um acréscimo do poder do Estado. Nao faltou, na ocasiéo, quem comparasse, como 0 Senador Morgan, a construgéo do canal a uma misséo providencial do Povo amerlcano, semelhante & “fundagéo do reino do Mesias pelos descendentes de Abraio”. ‘AS RACIONALIZAGOES Téo impressionante quanto a extenséo e rapidez da expansio norte-americana foi o rol de racionalizagdes que se criou para explicar ® justificar @ expanséo, boa parte delas fundadas em motivos de or- dem moral. Como jé notou um autor, 0 problema aqui consistia em enquadrar 0 imperialismo reoéri-nascido na tradigéio demoerdtica e Igualitéria que constitula 0 ceme do discurso politico. A expanso de- veria adequar-se de alguma maneira aos pressupostos éticos e pollti- 0s da Repiblica. Antes mesmo de lancar-se & aventura imperialsta, quando © expanséo teritorial se limitava &s teras “desabliadas’ do Oeste, nogées mais ou nfenos elaboradas do direito & expansdo iam sendo elaboradas, ‘A nogo de “civlizacéo" foi particularmente importante nessa construgao, De modo geral identificada aos valores do cristianismo protestante, & economia capitalista, ao conhecimento técnico-centifico @ & estabilidade politica, a civilizagéo norte-americana cedo se erigiu ‘em modelo e parametro para 0 conjunto do continente, Desse modo, cconstitula um dever moral da América protestante civilizar os povos atrasados (= espalhar o cristianismo), liando-os da “barbie” catdl- ca. © mesmo cardter “civilizado" da sociedade colonial Ihe assegurava um saber superior na utilizago do solo e dos recursos naturals, 0 que 15 Justificava © proceso de expropriagéio que ocorreu especialmente nos {erritérios indigenas. Difundida pelo conjunto da sociedade americana, €@ nogéo de civilizagéo superior tomou-se também um argumento para politicas estatais de cunho intervencionista e expansionista. E 0 caso do famoso Corolério de Roosevelt & Doutrina de Monroe, elaborado ‘em 1904 na presidéncla de Theodore Roosevelt. Nele, os EUA epare- cem como depositarios dos interesses coletivos (Intemacionais) @ re- presentantes do mundo civilizado: Incidentes crGricos, a incapacidade (de certos goveros)... podem, na ‘América, como em outtos lugares, requerer aintervengéo do uma nag civiizada e, no hamistéio ocidental, a adesso dos Estados Unidos & Doutina de Montoe podem forcé-os, mesmo contra sua vontade, a exer- 0 poderas de pollcia internacional om casos claros de incldentes ou in- capa Nesta definigéo de politica exterior, @ Doutrina de Monroe = su- postamente defensora da néo-intervencéo estrangeira na América La- tina — constituiu-se um pilar do direito de intervengo americana no continente. ‘Também verses vulgares ou eruditas do evolucionismo cientifico desempenharam um papel importante na autojustificagéo da exparr so, Popularmente, apelava-se para a nocéo da expansao como uma “lei da natureza: quem n&o se expande, moms, Numa linha semelhan- te, vers6as eruditas foram elaboradas, intencionalmente ou no, por yolta do final do século XIX, A famosa tese do historiador Frederick J. Tumer, de que a democracia @ 0 cardter norte-americanos foram pro- uto da fronteira em expanséo continua, teve como uma de suas con- ‘seqléncias a ilap&o de que a energia americana exigia continuamente novas e mais amplas reas de atuagéo para se exercer. O presidente Wilson, que também era historiador @ cientista politico, accitava as no- {goes de Tumer e interpretava a expanséo americana no final do século XIX como uma necessidade e uma oportunidade que se apresentou 20 avanzo da civlizagao americana, Brooks Adams foi outro autor muito influente sobre politicos eminentes. Suas idéias se fundamentavam na nogéo de que os centros civilizados seguiam as fronteiras da riqueza e que, nesse sentido, a civlizacao americana sé poderia ser preservada (evilar a crise) por meio de uma polltica expansionista, A receita de ‘Adams era simples: usar 0 poder econémico ¢ militar para expandir a fronteira este americana até o interior da Chinal Mas a racionalizagéo mais notével da expanséo — com vida ex- ‘remamente longa — ficou por conta da auto-imagem norte-americana 16 ‘como modelo de democracia, Outros povos seriam igualmente civiliza- dos @ présperos se adotassem o modelo democrético norte-americano. (Hé oito anos, o historiador G. Quester argumentou num de seus livros que os recantos distantes do mundo tornar-se-iam felizes se fossem_ sgovernados do mesmo modo basicamente republicano, como Minneso- tal), Para os defensores dessa formulac4o, a democracia nao era ape- as um sistema de governo, mas uma condi¢ao moral; dal, que a im- plantagéo da democracia & americana no continente, mais que uma necessidade, seria um dever dos estadistas de Washington. A célebre frase do presidente Wilson, “Eu me proponho a ensinar as Repdblicas da América do Sul a elegerem homens bons” nao implicava apenas a ‘conviegéo de que os EUA possulam um padr&o de “bondade” politica, mas significava também a disposic&o de intervir nos paises latino- americanos para assegurar uma identidade politica aceitével a seus olhos. A CORRIDA IMPERIALISTA As relagées polices entre EUA e América Latina podem ser vis- tas na virada do século XIX para o século XX em duas linhas comple- mentares, de certo modo contraditérias, De um lado, havia a tentativa de articular diplomaticamente as nagdes do continente por meio de reuni6es coletivas (a8 conferéncias par-americanas), que, do lado de Washington, significavam um exercicio de lideranca regional, mas nas quais, mal ou bem, alguns paises latino-americanos vislumoraram a possibilidade de uma a¢éo comum face ao poderoso vizinho do Norte. De outro lado, as relapées bilaterais dos EUA com seus vizinhos se- guiam a légica do interesse exclusivo, néo sendo rara a utlizagéo de ‘métocis de coago polftica e de uso da forca. A iniciativa de reunir os palses do continente levou & realizago da Primeira Conferéncia‘intemacional dos Estados Americanos, em Washington (1889/90). Os resultados do encontro foram considerados decepcionantes, tanto os projetos de uma “unio aduaneira" como 0 Projeto de arbitragem de disputas entre os Estados do continente, A Conferéncia marcou certas diferencas de posigéo entre EUA, de um lado, e boa parte dos latinos de outra. Estes, jd percebendo os novos ventos que sopravam do Norte para o Sul, fizeram aprovar alguns prin- Cipios de direito intemacional sobre o tratamento a ser dispensado a estrangeiros, que ficaram conhecidos como “Doutrina Calvo" por ela, dever-se-ia assegurar aos estrangeiros um tratamento igual aos nacio- naais, negando-lhes porém privilégios especiais, A “Doutrina Calvo" 7 constitula uma negagéo do direito de extratenitorialidade que as po- téncias imperialistas praticavam especialmente no Oriente. A iniciativa latino-americana traduzia o receio da intervenco @ do direito presumi- do dos EUA a intervencdo. Enquanto a delegacao americana sublinha- vva 0 carater puramente americano da Conferéncia ("A América para os americanos!”), 0 chefe da delegagao argentina, Séenz Pefia proclame- vva, por contraste “A América para a Humanidade!”. Que “a América para os americanos" constitula uma articulacdo destinada a assegurar a hegemonia polltica dos EUA no continente j& ficaria claro na década de 1890. Em 1895, Washington impés sua arbi- tragem numa dispute entre a Venezuela e a Gré-Bretanha e em 1898 iniciou sua expanséo além-mar, a partir de uma guerra contra a Espa- ‘tha. No primeio caso, 0 govemo american viu numa disputa de limi- tes entre Venezuela & Guiana Inglesa a oportunidade de impor-se a uma poténcia européia sob a alegagao (real ou fictfcia) de que essa poténcia estava intervindo no continente @ poderia transtormar uma ago americana em colénia, Foi no contexto dessa imposigao, que o Secretério de Estado Olney disse a famosa frase "Hoje em dia, os EUA séo praticameente soberanos nesse continente...”. eS O MARCO INICIAL DA CORRIDA Em 1898, os EUA ingressaram na corrida imperialsta, a partir da guerra contra a Espanha, numa ampla faixa maritima, cujo ponto focal era a Ilha de Cuba, Esta fora considerada, no decorrer do século XIX, uma extenséo da Fiérida'e, em mais de um momento, imaginou-se & Possibilidade de anexé-la. A dificuldade dbvia de que Cuba ainda era uma colénia da Espanha comegou a ser removida a partir de 1895, Quando explodiu uma nova revolta cubana pela Independéncia politica, (Os expansionistes do Partido Republicano, como Theodore Roosovelt @ Cabot Lodge, viam nessa circunsténcia a oportunidade de ouro de inlclar novas conquistas e inelulram no programa do partido para as eleigdes presidencials de 1896 a promessa de tomar Cuba um pals in dependente da Espanha, No caso, ajuntava-se & fome a vontade de ‘comer, visto que os préprios revolucionérios cubanos procuravam ga- nhar um apoio ativo dos EVA para sua causa. O Congresso americano Feconheceu como legitima a beligerancia cubana @ 0 govemo republi- ‘cano de McKinley enviou para Havana o navio de guerra Maine para proteger a vida e a propriedade de norte-americanos na ilna; em 15 de fevereiro de 1898 uma exploséo afundou o Maine, morrendo 250 pes- soas. Um més depois uma comisséo de inquérito responsabilizou a 18 Espanha pelo afundamento, Um ultimato enviado ao govemo espanhol iniciou a guerra, Mesmo sem o incidente do Maine, ¢ confito estava posto. O jor nalismo sensacionalista (cadeias Hearst e Pulitzer) inflamava a opiniéio pdblica com relatos das atrocidades espanholas em Cuba; os adeptos da expanséo produziam continuamente as justificativas politicas @ hu- manitérias para intervir e libertar a ilha; homens de negécio viam na aventura 0 inicio da abertura dos mercados orientais a inddstria ameri- cana; e 0s estrategistas ja visualizavam os novos contomos da defesa nacional dos EUA, A guerra foi um episédio relativamente simples para a modema forga naval americana. Vencida a Espanha, os EUA se apoderaram de Cuba com a promessa de liberté-la, Aproveitando 0 impulso, tomaram também Porto Rico, Guam e Filipinas e anexaram o Haval. No ano seguinte, ocuparam outras posigSes (a ilha de Wake para facilitar a i- ga¢do com Guam @ Tutuila nas Samoas). No titimo ano do século, 0 Secretério de Estado, John Hay, emitiu a famosa nota da Porta Aberta (Open Door), dirigida &s chancelarias dos paises que iniciavam a par tilha da. China, reivindicando 0 principio da igualdade de comércio para todos os estrangeiros no Celeste Império, Quanto a Cuba, sua indé- Pendéncia ficou severamente limitada pela famosa “Emenda Platt”, aprovada pelo Congresso americano, pela qual se estabeleceriam ba: ses navais em Cuba, limitar-se-ia a capacidade cubana de subscrever tratados ou contrair dividas e se daria aos EUA 0 direito de intervir na itha para assegurar a independéncia do pafs e manter a lei e a ordem. Por seus resultados, a guerra hispano-americana de 1898 nao foi um mero incidente isolado. Ela estendeu @ uma ampla faixa marftima do Pacifico @ presenga militar, politica @ econémica americana, lan- ando os EUA diretamente na polttica do Extremo Oriente! A presenca militar em Cuba praticamente fazia do Caribe um “lago americano”, No limiar do século XX, @8 EUA tinham entrado com o pé direito na com. da imperialista, A presehca @ a intervenc&io dos EUA na América Lati- ‘na Ifa aumentar nes dues décadas que se seguiram, ee AIMPORTANCIA DO CANAL ‘A guerra de 1896 tinha sublinhado a importéncia de um canal {ue ligasse 0 Atlantico ao Pacifico @ a urgéncia de resolver de vez es- sa questo, que se arrastava por décadas. Amarrado a um tratado de 11850, assinado com a Inglaterra e que previa um canal neutro e néo- militarizado, 0 governo americano foi aos poucos remiovendo obstécu- los e preparando 0 caminho para a sua construgao, 19 Em 1879, 0 construtor do canal de Suez, Ferdinand de Lesseps, propés-se a construir um canal no Panama com recursos privados, dentro do espirito do tratado de 1850, mas o governo americano reagiu desfavoravelmente. O Secretério de Estado Blaine tratou de afirmar solenemente em 1881 que os EUA néo consentiriam “em perpetuar nenhum tratado que estorve nossa pretensdo justa, hé muito tempo anunciada, de prioridade sobre o continente americano”, Na década de 1890, a empresa de Lesseps fracassara no esforgo de construir 0 ca- ral. Em 1901, Washington conseguiu demover 0 govemo briténico de ‘sua posi¢go e convenceu-o a aceitar a exclusividade americana na construgéo do canal, assim como a sua militarizagdo, Abria-se 0 cami- rnho para o pleno dominio do Caribe. Havia duas possibilidades para a construgdo do canal: através da Nicaragua ou através do istmo: do Panamé (regio pertencente & Co- Kémbia). Os politicos americanos optaram primelramente pela Nicaré- ‘qua, mas um lobby poderoso ligado & New Panama Canal Company (empresa organizada em 1894 para gerir a massa falida da companhia de Lesseps) conseguiu, em 1902, apoio suficiente para mudar o rumo do processo ¢ estabelecer negociagdes entre EUA, Colémbia e a em- presa, A recusa do Senado colombiano em 1903 em aceitar os termos ‘em que a transag&o foi posta desencadeou a reagéo final de Washing- ton, Para 0 Secretario de Estado, John Hay, “néo crelo que se deva permitir &s lebres de Bogoté que continue atrapalhando permanen- temente a construggo de um dos futuros caminhos da civilizagéo". O presidente Theodore Roosevelt conoordou em intervir na Colémbia em apoio a uma “revolugéo” pela independéncia da regiéo. ‘© navio de guerra Nashville fol mandado para o Istmo e desem- barcou seus fuzileltos no dia 2 de novemibro de 1903; no dia seguinte lrompeu a revolta pela independéncia, ficando as forgas militares co- lombianas bloqueadas pelas tropas americanas em Colén. Trés dias ‘apés, Washington reconheceu a independéncia do Panamé e seu novo ‘govemo @ nas semanas seguintes negociou um tratado para a cons- ‘rugo do canal, No dia 18 assit coincidéncia um agente da New Panama Canal Co.) um tretado pelo qual os EUA recebiam uma faixa de 16 km de largura através do ist- mo, que passaria a constiuir a zona do canal ¢ no qual os EUA teriam direitos soberanos. Em troca, o Panamé receberia dez milhbes de d6- lares em dinheiro ¢ um pagamento anual de US$ 250.000. Depois de obras de saneamento bésico, 0 canal foi construldo entre 1907-1914, (Os métotios utilizados por Roosevelt no episddio do canal consagra- ram a expresso politica do big/stick (porrete grande) que iria caracte- rizar sua politica para a América Latina, 20 3u com um ministro do Panama (por AS CONTINUAS INTERVENGOES Nos vinte anos que se seguiram ao episddio do canal, a interven- (¢60 norte-americana em paises do Caribe e América Central e 0 cres- imento de sua presenga econémica no restante do continente consti- tuiram a regra basica das relagdes EUA-América Latina, Uma grande variedade de situacdes definia a natureza @ duracdo da intervengdo: presenga de tropas para defender propriedade @ os bens de norte-americanos; “protetorado” financeiro com ocupago das alfandegas; apoio ou repulsa explicitos a politicos para favorecer inte- esses econémicos ou estratégicos americanos, € ocupagéo direta € ‘administragao de palses “instéveis". Em 1902, impossiotitado de pagar seus credores, o governo da Venezuela néo reconheceu suas dividas. Imediatamente, @ Gr-Breta- nha e a Alemanha (e depois a Itélia) enviaram uma forga naval para bloquear o pals, Tendo aceito em principio o bloqueio, 0 governo ame Ticano mudou de orientag&o quando comegou a suspeitar que os ale- mes planejavam ocupar teritérios venezuelanos ou antilhanos. A dis- posigéo de Caracas de submeter a questo das dlvidas ao Tribunal de Haia praticamento resolveu o problema, retirando-se a forga naval eu- ropéia do continents. Mas para o govemo americano, ficou a liga de que @ intervengo européia na América ainda era uma possibilidade e os EUA deveriam fazer alguma coisa para evité-la. (© incidente produziu duas reacées diferentes no continente. De um lado, © governo americano procurou elaborar prinelpios @ adoter politicas que impedissem nova intervengo européia na América, Sur- giram dat: 1) 0 Corolirio Roosevelt & Doutrina de Monroe que, como vimos, admitia a possibilidade de intervencéo na América Latina, mas vedava a sua execugéo 2,poléncias européias, reservando-a para Wa- shington; 2) uma politica de prevenedo ativa, como fez 0 govemo Roo- sevelt em 1904 ao intervir na Repiblica Dominicana, controlando a ar- recadagSo da alféndega e negociando com os credores do pais uma redugo dos juros e do montante da divida. De outro lado, @ reagao latino-americana mais significativa veio da Argentina, cujo chanceler, Luls Drago, propés aos EUA o principio de que “a divida publica nao pode ser causa de intervengo armada e, menos ainda, de ocupagao material do solo de nagées americanas por uma poténcia européia”. Conhecido como “Doutrina Drago”, 0 principio ‘ido foi considerado pelo govemo Roosevelt. Este néo somente aceita- va 0 principio da intervenco, como o reservava, no caso do continente 2 r- ‘americano, para seu USO exclusive, Outros paises, como o Brasil, ace! taram a nova disposigo norte-americana. Desejoso de contrabalancar a influéncia britnica, 0 chanceler brasileiro Bardo do Rio Branco pro- moveu, nesse comego do século XX, uma “alianga néo-escrita” com os EUA e tendeu de um modo geral a apoiar sua politica intemacional. Theodore Roosevelt deixou 0 governo em 1903, mas a interven- 40 continuou na década seguinte, Com o presidente Taff, ela se es- cudava na diplomacia do délar, com o presidente Wilson ela fazia parte de uma politica preventiva. A primeira, grosseiramente pragmdtica, 8 segunda, pretensamente ética, fazlam da superioridade (materiel ou moral) americana o eixo fundamental das relagdes com o restante do continente, © governo Taft achava perfeitamente legltimo que 0 poder do Es- tado fosse empregado para proteger, estimuler, defender os capitais © 2s propriedades americanas no exterior, De outro lado, 0 uso de recur ‘808 econ6micos financeiros privados dos EVA serviria para fortalecer a influéncia americana, especialmente no Caribe ¢ América Central. Es- a associaglo de interesses levou & intervengéo.na Nicaragua em 1909, onde os funcionarios de uma companhia de minerayéo america- na, a US Nicaragua Concession, ajudaram a promover uma revolta contra: 0 presidente Zelaya, Com ajuda dos fuzileiros americanos, pu- ‘seram no poder um ex-secretério da tal companhla de mineragho, 0 8. Adolfo Diaz. Em 1912, Taft mandou novamente os fuzileiros a Nicaré- ‘qua para impedir que 0 st. Diaz fosse demrubado por uria revolt po- ular. A circunsténcia ajudou a estabelecer uma base militar america~ 1a no pals @ obter 0 arrendamento de duas ilhas nicaraglenses por 99 anos. ‘© govemo Wilson prometia uma nova politica — liberal, idealista, antiimperialista - € 0 abandono do uso da forga. Entretanto, foi 0 go- ‘vemo que mais intervengées promoveu na década de 1910. isso decor- reu no apenas da heranca de situag5es consolidadas que ele n&o po- deria reverter, mas também de suas conviogées anaigadas de que se ria possivel estabelecer democracia e liberdade (eleger homens bons") entre os vizinhos menos afortunados. Houve uma série de In! Ciativas bem intencionadas no plano do arbitramento de diferengas, re- conhecimento de eros passados etc, mas a intervengo continuou a ‘ser um instrumento de politica. Ele interveio na Nicarégua para susten- tar 0 govemo Diaz e em 1916 assinou um tratado pelo qual a Nicaré- gua receberia 3 milhdes de délares e faria aos EUA a opgdo da rota nicaraglense para um novo canal interoceénico; além disso, os EVA se asseguravam 0 direito de intervir para preservar a ordem, proteger & ‘manter a independéncia do pals. 22 ‘Também para impedir @ anarquia e 0 caos econdmico, 0 governo Wilson intervelo no Haiti e Reptblica Dominicana. No Haiti, os fuzilei- os desembarcaram em 1916 e obrigaram a Assembigia Nacional & eleger um presidente pré-americanos, o qual assinou um tratado que dava a Washington a superviséo das finangas haitianas e criava uma ‘quarda nacional sob controle americano. Por via das diividas, os fuzi- leiros ficaram no pals até 1934 para assegurer a ordem. Na Repiiblica Dominicana, os fuzileiros desembarcaram em 1916 para restaurar a ordem e colocar na presidéncia um homem bom. Este, porém, recusou-se a assinar um acordo que colocaria sob total controle ‘americano as alfandegas dominicanas, assim como sua politica finan- Ceira © a defesa nacional. A resposta de Washington fot instituir uma administragéo militar norte-americana para govemar o pals, que durou até 1922. A parte os costumeiros aspectos humanitérios de valor real (programas senitérios, de educacéo etc), a mais importante realizagao da ocupagéo militar foi a criagéo de uma guarda nacional que tomasse desnecessérias futuras intervengées. Com base nessa forca policial de lite, estabeleceu-se em 1830 0 periodo ditatorial do conhecido Rafael Leonidas Trujillo, No caso da revoluggo mexicana, embora apoiasse ativamente os politicos @ programas liberais do México contra as ten- déncias ditatoriais representadas pelo general Huerta, 0 govemo Wik son fez duas intervengbes desastradas no pais, numa delas quase pro- vooando uma guerra generalizada contra © govero constitucionaliste de Camanza, A NOVIDADE DOS ANOS VINTE Nos anos vinte, 0 controle poltco @ econdmico do Caribe e Amé- rica Central criou uma certa tranqtlidade nas relagées Interamerica- nas, abalada somente por uma revolugao qual se tomou célebre 0 comandante quenilhsiro Sandino — 0 que de- terminou uma nova intervengéo militar americana, que durou de 1926 a 1992, Além de restaurar a ordem e instituir um presidente aceitdvel, ‘as forgas de ocupacéo também criaram uma guarda nacional, que constituia a base de poder do seu comandante, o futuro presidente ‘Anastécio Somoza, cuja dinastia iria dominar o pals até os anos seten- ta. Em relagdo & malor parte dos paises do “lago americano” a inter- ‘vengao direta néo tinha desaparecido, mas se tomara desnecesséria nos ‘anos 20, gracas &s quardas pretorianas estabelecidas por Washington, A novidade da presenga americana nos anos 20 foi o extraordin&- tio crescimento de sua influéncia econémica. Para o conjunto da Amé rica Latina, pode-se dizer que o marco inicial desse crescimento foi 0 perfodo enire a Primeira Guerra Mundial ¢ a crise de 1929. Nesse pe- 23 ‘fodo de “boom” econdmico puxado pela vertigem da indéstria auto- ‘mobillstica, os EUA iniciaram o deslocamento da hegemonia econdm- ca britanica, © capital americano ampliou enormemente sua influéncia ‘10 cone sul do continente, colocou inteiramente em sua érbita os pat ses do Pacifico © se tomou praticamente o dono das atividades produ tivas © comerciais do Caribe e América Central. Neste titimo caso, 0 controle das alfandegas e a responsabilidade pelas dividas extras daqueles pequenos paises promoveu a mals completa abertura de suas economias aos negécios americanos, fosse minerago, servigos piblicos, producéo frutfoola, eletricidade, ferovias, merinha mercante ‘ou exploragao de madelras. ‘A outra novidade 6 que, ao lado da crescente presenga econémi- ca @ do intervencionismo remanescente nas Antlhas, surgiram linhas de resisténcia latino-americana 4 hegemonia norte-americane, tanto a rivet poltico como a nivel cultural, No plano politico, contrastando com a politica americana de ndo-adesdo Liga das Nagées, os paises lati- rno-americanos participaram, em um momento ou outro, desse organismo intemacional. Essa participacéo tem sido interpretada como um protes- to do continente & nogao de exclusividade americana, embutida na Doutrina de Monroe. A Liga das Nagées constituiria, desse ponto de vista, uma espécie de contrapeso as relaodes interamericanas, fer reamente controladas por Washington. Também aumentaram significa- tivamente nas préprias Conferéncias Panamericanas dos anos 20 os, protestos contra a politica de intervengéi. Um exemplo significativo foi a 6? Conferéncia, realizada em 1928 em Havana, na qual os delega- dos norte-americanos receberam instrugdes para se aterem a temas gerais ndo controvertidos (isto ¢, evitarem as discussées das relagdes politicas no continente). Apesar dos cuidados prévios, 0 tema do inter- vencionismo foi asperamente debatido, tendo o representante ameri- Cano justifeado a politica de seu pals como o de uma “interposi¢&o de cardter temporério” para proteger vidas americanas, Apesar disso, tre- 0 pafses latino-americanos apolaram um mogac de proibigdo da inter- ‘vengo sob qualquer pretexto. No plano cultural, especialmente na América Hispénica, os auto- res notam um retomo nas primeiras décadas do século XX as ralzes ibéricas da cultura, por oposigo aos avangos da cultura anglo-saxé (ou mesmo européia, em geral). Esta oposicao, que tinha froqdentemente tons conservadores € néo necessariamente antiimperialistas, obstacu- lizava também a penetragéo norte-americana no continente, Talvez a nica exce¢do significativa tenha sido a entrada e a diuséo dos filmes de Hollywood ao sul do continente. A. ampliagao da influéncia ameri- ‘cana itia sofrer, no final dos anos 20, um sério baque promovido pela crise econémica. 24 cataclisma representado pela crise de 1929 atingiu em cheio 0 continente americano, ainda mais que seu centro irradiador foi exa- tamente a economia americana. A América Latina participou da con- vulsdo geral @ redefiniu em alguns nfveis a sua dependéncia face as poténcias industriais, tomando-se, ao final do processo, mais atada ainda a érbita poltica @ econdmica dos EUA. Essa redefinicgo constituiu um capitulo complexo, feito de altos e baixos, desequillbrios e reed brios, tudo em meio & mais devastadora guerra de que se tem noticia. Durante a depresséo econémica dos anos 30, os problemas $0- ciais ascumiram proporgGes catastréficas @ a organizacéo polttica dos palses liberaldemocratas foi abalada nos seus aliceroas. Os governos ‘estabelecidos pareciam impotentes pare solucioner os problemas do dia; movimentos radicais de varios matizes clamavam por mudangas drésticas e por todo lado emergiam regimes ditatoriais de cunho ultra- acionalista, que anuncifivam o fim das liberdades democraticas € 0 estabelecimento de uma “nova order", No plano das relagées interna: ionais, 0 mesmo cenétio: desorganizagao e diminuicéo do comércio intemacional, com reflexos imediatos sobre as economias industriais € néo-industriais; adogao de rigidas medidas protecionistas e reforco de tacos imperiais por parte de poténcias européias; fracasso na tentativa de criar uma Liga das Nagdes e de produzir um real desarmamento; ¢ finalmente, 0 desafio das poténcias do Eixo — Japéo, italia e Alemanha = &s posigdes hegeménicas que Gré-Bretanha e Franca ainda defen- diam dentro e fora da Europa e que os EUA detinham no continente americano e no Pacifico. 25 SSHUTEHHHHT EE FUTTITTLTS \FUTTITITSSS 230 © Relaciones iternaclovles de Améiiea Lina rvevas fueras. La Organizacién de los Plses Exportadores de Petrleo (OPEP), integrada por Venezuela y'por un conjunto de pass érabes,persa,afrieanos ¢ {ndonesios, sument6 su poder y se transforms gradualmente en vanguardia de las naciones subdesarrolladas o neocoloniales en su lucha por la justicia econémica internacional. El movimiento de lospaisesno alineados,quede 1965 a 1969 pareefa estar en crisis, experiment6 un nuevo auge Es obvio que el nuevo ambiente mundial tenia que repercutir sobre América Latina, En este continente, como en los demés, nuevas fuereas inconformes se hicieron sentir. EI nacionalismo rebelde, diigido contra la hegemonia de Estados Unidos, se combiné en diversos casos con los intentos de llevar alas clases pobres hacia una mayor paticipacin en la riqueza y en ta toma de las decisiones, y de reducir el poder y los privilegios de las clases dominantestradicionales ‘Contribuy6 grandemente al ascenso de esas fuerzas nuevas cl hecho de que Cuba, a partirde 1968, definié una nucva politica, de téctica moderada frente a los regimencs conservadores del continente. Como ya sefalamos antes, el apoyo cubanoamovimientos guerrlleros no dio resultados revolucionarios positivos. Ese apoyo aisl6 a Cuba y unificé a toda América —incluso a fuerzas progresistas que vacilabanentreelreformismo y larevolucién—contraclrégimencastrsta.Lalinea _guerilleraen muchos casos provocé una represin cada vez més dura, desacredits al movimiento revolucionario ante los ojos del pueblo y, sobre todo, czrr6 vias de accién socialista 0 comunisia legal, sislando y debilitando a los mevimientas de izquierda. Al mismo tiempo, dificulté os intentos dela Unién Sovitica, protectora de Cuba, de acercarse a as burguesfasnacionales ltinoamericanas por la via del ccomercioy la cultura Fidel Castro sus compaferos, con a caida del Che Guevara en Boliviaa fines ‘de 1967, probablemente se convencieron del error de trata de convertirlos Andes cen Sierra Maestra, Aquella muerte heroica pero solitariay quijtesea mare6 el fin “wysasap ¥| op ‘—tatstoagns sorere & a1uouratjaa—uproisodo ajumysuod e|Bas9q “BUNNe waUAUY ut 'saropefeqen eed ojdurata k 1Suei8 2p olreuoronjoA810004 un aI unpajoud [ap ostase o1gupnput 14301295 fp wjoeunsd aitorsar9 ef “susaudua sopurse 2p ny Seaants ap Bint 2 ‘oxsnu fo Jod ajisod wysay peprum “a ud S81 sepo1 anu smjndod peptun soiovow! soda sono A “(ae 209 O] 9p eis|praIbzt ot S3P) NAV ‘eatpey “esjUnUIED “esHe!O0$ sopried PEpIUA 2p van ‘oyun yop zpos w 98] Orqui¥o 9p osa20:d opunjoid sp vezueg, O8nf je12u98 [9 10d ‘psBiap eypotop e 10d opeaoazep ang opuena ‘1.61 2p pm epundos w]e gamp $810] ap wstjeuotoeu epuambzr op wawrd fq "wrzevoton|o4at-{eUO|SEU O BSjORN ‘aisrjsion ‘nstunos soejuasaidas op visond ‘st[evoroeu 'sano4, ff pe22U98 fo epindas varse9: 19218996 "s9p0d 's ¥oquen wo souuy803 Sop so] 2p pms to opeseg O12 ‘8 puog £ esto anu “soptun $9 1 ® Soule £ BLCUOFoNjOAaH jZojo=pt 108 ns ua se0quIOD & OuIETT ‘oatupUOD® ow PA sesafvennxasesaudura ga "ereaany a4 [9p pp sei} /OpepuEWIODwqeY OpUEAG ‘DLalloe 9p s9Iek siu9 Soa!sauda1 sp So] 2p Oun ows09 opesapisuoa wQe beopueag jexoua8 40d 696] wo opeaousep anyoisg Salts ‘epesapout /un opus [9 uo 2{0pUup!Pa9NS ‘aWwep}ooe un uo oproated qeY ‘sopIun sOpEIS RT RR ap POLAT TY TT CEE

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