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HISTORIA DE PRESIDENTE EPITACIO VOLUME 1 Os jesuftas espanhdis catequisaram os indios até a barranca esquerda do rio Paranapanema Os bandeirantes ¢ as moncées, a caminho de Cuiabé, navegaram pelos rios ‘Tieté, Parana e Pardo. Fundam-se Campos Novos do Paranapanema e Conceig3o de Monte Alegre, no final do século XIX, ¢ Assis, no inicio do século XX. Contudo, entre estes pontos referenciais, encontravam-se “terras devolutas nao exploradas”, “terrenos despovoados”, “terrenos desconhecidos” do oeste paulista, Os indios da regido eram temidos € litavam contra os brancos que ousavam adentrar essa regiae. Mas uma estrada ligando Sao Paulo a Mato Grosso, hoje Mato Grosso do Sul, era de vital importancia Nesta obra tem-se desde os preparativos para esta emppreitada, a fundacdo da cidade de Presidente Epitécio através da construgao do Porto ‘Tibirigd, evolugao e dados a partir dessa época até 0 ano de 2010 sobre a Joia Ribeirinha, primeira cidade a ser fundada em fungio da abertura da estrada Boiadeira. Nasci em Tatui/SP no dia 8 de outubro, mas fui registrado no dia 17/11/1944 e tenho dupla nacionalidade, sou brasileiro ¢ italiano. Cursei 6 Primario em grupo escolar, fiz o exame de admisso e entrei no curso Ginasial, onde repeti 0 primeiro € 0 terceiro anos, Depois me formei professor primério cursando 0 Normal. Fiz todos estes cursos em escolas ptiblicas. Durante esse tempo, no periodo livre, trabalhei na iniciativa privada ¢ fui radialista. Em 1964 mudei-me para Sao Paulo onde continue o curso de Técnico em Contabilidade. Pouco tempo apés concluir este curso, prestei vestibular e entrei na Faculdade de Direito do Largo Sao Francisco, na USP, onde me formei em 1972, esta, também, escola ptiblica. Continue’ trabalhando no setor privado e lecionando inicialmente no ensino fundamental, depois no ensino médio e posteriormente no superior. Em 1979 formei-me no curso de Pedagogia da Faculdade Pinheirense. Anos depois deixei a iniciativa privada e passei para 0 servigo ptiblico estadual de Sao Paulo. Desde 1991 moro em Presidente Epitacio, onde me aposentei. Com 59 anos de idade, em 2003, formei-me jornalista pela Faculdade de Comunicagao Social da Unoeste. Pertengo 4 Academia Geral de Artes de Presidente Kpiticio - Agape, 2 Academia Venceslauense de Letras onde ocupo a cadeira n° 28 e ao Instituto Histérico e Geografico de Sao Paulo. Atual- mente exergo a advocacia, participo de conselhos municipais de Presidente E:piti- cio como membro, sou juiz. de casamento e, nas horas vagas, pesquiso e escrevo. godoy.moroni@uol.com.br » godoy.moroni@bol.com.br BENEDITO DE Gopoy Moroni HISTORIA DE PRESIDENTE EPITACIO 2° edigao selita, cortbida atualivada connplinda Copyright © 2011 by Benedito de Godoy Moroni Edigao do Autor Maringa (PR) FICHA CATALOGRAFICA Diagramacao: Paulo de Souza Carneiro Capa: Kase Propaganda Revisdo: Ligia Ferreira Atatijo Dados Internacionais de Catalogagao na Publicagao (CIP) (Bibliotecéria Responsivel CRB: 8/047) MORONI, Benedito de Godoy MS68h. Historia de Presidente Epiticio / Benedito de Godoy Moroni, - 2". ed. rev corrig. atual. e ampl. ~: Edigao do autor, Maringé (PR), 2011 600 pp ilustrado ISBN 978-85-903061-6.0 1. Histéria 2. Presidente Epitacio — Cidade. [. Autor II. Titulo CDD 951.61 Indice para catélogo sistematico: 1. Historia de Presidente Epiticio 981.61 2. Historia do Estado de Sio Paulo 981.61 Registrada a averbagao na FBN — Fundagao Biblioteca Nacional sob n* registro 500 550, Livro 947, folha 239 Impreszo na Grilica Regente, avenida Patanavai, 1,146, Marines (PR) Agradecimentos Aos amigos e colaboradores pelas folos e mapas cedidos de seus arquivos, contribuigées orais, bibliogréficas ¢ reflexes conjuntas que permitiram a realizacao deste livro Dedicatéria Aminha mulher, Shenka Aos meus fillios Renata, Fernando, Cesar Augusto e Ronaldo. As minhas noras Talita, Marisa e Cristiane e ao meu genro Heitor Aos meus irmaos Ana Rita, Solange e José Celso, A minha cunhada Ruth Ahistoria € Acciéncia dos fatos que se desenvolveram através dos tempos A descricao dos aconlecimentos ocorridos sobre a terra e nos quais o homem teve a principal parte. O conhecimento dos {alos de ordem politica, teligiosa, filosofica e de todos os que dizem respeilo a alividade humana A ciéncia dos fatos (assim como a filosofia é a ciéncia dos principios) Haddock Lobo NOTA LOBO, Haddock. Historia Universal, vol. 1, Egéria, Sao Paulo, 1979, p. 7. Prefacio da I* edigao Mas a cidade nao conta 0 seu pasado, ela 0 contém como as linhas da mao, escrito nos angulos das ruas, nas grades das janelas, nos corrimdos das escadas, nas antenas dos pararraios, nos mastros das bandeiras, cada segmento riscado por arranhées, serradelas, entalhes, esfoladuras. Italo Calvino! “SERTAO DESCONHECIDO’ até o final do século XIX, ultimo Oeste de Sao Paulo a ser colonizado, no século XX, Presidente Epilacio recebe somente agora, no XXI, uma publicacgo em livro sobre sua hisléria ¢ sua gente. Documento de inquestionavel valor, a Historia de Presidente Epitacio contribui para que nao se deixe perder, pelo esquecimento, a memoria desta cidade da Alla Sorocabana, em pleno processo de transformacao de sua paisagem e sociedade. Obra pioneira, a empreilada de Benedilo de Godoy dé o primeiro passo para superar essa lacuna bibliogréfica, com a virlude de legar informagées, alé enlao dispersas, para fuluras pesquisas Bem escrito, farlo em dados e em documentagao, o trabalho deve ser lido enquanto monumento, escolha intencional de uma meméria a ser preservada para as geragdes futuras’, como marco de uma histéria. Produzido fora do campo da producdo historiogréfica estrita, nao se pode cobrar uma preocupacao ledrico-melodolégica em histéria propriamente. Neste sentido, 0 trabalho se toma um testemunho imprescindivel para compreender 0 significado de Presidente Epitécio em um contexto mais amplo Como um instanlaneo folografico, o livro retrala a trajeléria cronolégica da formacao de Presidente Epilécio, captando nao sé 0 pasado, mas fornecendo registros importantes também sobre sua conformacao alual Obra sobre o passado, mas, sobretudo, obra do presenle, escrita com olhos no futuro. Fica nitido o desejo do autor de que a cidade cumpra, dentro em breve, sua “vocacao”, Deixo ao autor, entretanto, a tarefa de indicar as tendéncias e os caminhos futuros que se descorlinam para o municipio. Também nao se trala aqui de contar a historia de Epitacio, o que o autor faz de forma bastante consistente. Passo enlao a duas questées, nao abarcadas na obra, mas que suscilam reflexao: qual o significado da formacao histérica de Presidente Epiticio? E mais: quais as razées do surgimento, no presente momento, de uma obra sobre a historia deste lugar? As questoesestao mais entrelacadasdo que podem aparentar. Compreender o significado hislorico da formacao de Presidente Epilécio demanda pensar a transiloriedade que perpassa sua historia. Uma historia feita de lemporalidades descontinuas, entrecortadas. A cidade nasce em decorréncia do movimento, do transito de carros de boi entre a Provincia de Sao Paulo e o Mato Grosso, da navegacao no Porto Tibiricé e do caminho do trem modernizador. Surge na interseccao de caminhos, como paragem transiloria’ Formago espontanea de alguns pequenos grupos de aventureiros, mineiros em busca de riquezas, grileiros, especuladores de terra, fugitivos da policia, trabalhadores da Ferrovia e marinheiros paraguaios, a cidade nao foi planejada enquanto lal. O processo de fixagio do homem e de construgao de um espaco urbano foi bastante lento. A estrada boiadeira veio na virada do século, 0 Porto Tibirigd em 1907, os trilhos da Sorocabana em 1922. ‘A emancipacao do povoado formado ali nas barrancas do rio Parana, na fronteira, se dara apenas em 1949. Essa trajeléria traz a tona certo “vazio": a cidade nao foi fundada enquanto tal’, nem foi concebida por um projeto que esperasse dela um designio futuro de prosperidade ou mesmo uma “vocagao”. Isto nos conduz a segunda questao, que permite no momento apenas 0 esboco de uma hipétese. Seria taulolégico explicar uma lacuna de relatos memorialistas ou de produgao histérica sobre Presidente Epitécio com 0 argumento de que a cidade 6 “jovem” e que por isso no tenha suscitado um resgale histdrico em suas gerages em formacao. Neste diapasao, a memoria se consolidaria com as recordacdes numa espécie de “maturidade” vindoura. Invocando Tlalo Calvino, os desejos de uma cidade se lornariam agora recordagdes°. Mas, nao basta colocar a questao apenas nestles lermos Creio que ha uma forte busca de identidade do povo de Presidente Epilacio, neste momento em que ocorre um enraizamento na cidade, na medida em que hé fixagdo em detrimento da transiloriedade. Ainda nesta chave, é preciso observar que as elites locais formaram-se muito tarde, sem a necessidade de construirem uma identidade que as enraizasse naquele pedaco de chao que outrora foi terra de ninguém. O livro de Benedito Godoy Moroni é sintomalico, a meu ver, deste processo de enraizamento e de busca de identidade. A trajeloria do autor é bastante significativa: Benedito de Godoy Moroni nasceu em Tatu (SP), em 1944, mudando-se para Sao Paulo aos 20 anos. La, cursou direilo na Faculdade Largo Sao Francisco e aluou nos setores privado € ptiblico. Aposentado, radicou-se em Presidente Epilacio no ano de 199] Desde entao dedica-se ao jornalismo (sua segunda formagao académica) € a advocacia. Homem de letras, sua formagao nos lembra o perfil dos académicos do Instituto Histérico e Geografico de $40 Paulo, homens letrados, para os quais “a historia era concebida como um conhecimento fértil de ligdes, entre as quais se procuravam sentidos de legitimacao das agées no presente”® A historia de Presidente Epilacio nao é contada por um epilaciano de nascimento, mas por alguém que, vindo de fora, criou fortes lagos com a cidade e resolveu compreendé-la. De modo sensivel, Godoy capla com seu olhar 0 momento em que a sociedade passa a se organizar em torno de projelos de crescimento e expansao, objetivando cumprir sua “vocagao” de eslancia luristica’. Ao mesmo tempo em que resgala a formacao de uma identidade, 0 autor acaba por situar-se também neste processo histérico do qual dé lestemunho. A sociedade esforca-se, inclusive, na construgao de uma memoria e de um passado que se compatibilize com a potencialidade do presente Exemplo disso é a valorizacao dos “pioneiros” de Presidente Epilicio, cujos nomes estampam-se em placas de ruas, nomes de prédios ptiblicos e, agora, nas paginas de um livro de historia Neste momento, aparece vivo um milo que nos surpreende por sua permanéncia, o“mitodobandeirante”, como foi chamadopelo professor Pierre Monbeig’. Ao transformar postumamente o bandeirante em colonizador, o mito estabelece uma tradigao e cria uma historia para os homens que na virada do século XIX para o XX, plantaram cidades, desbravaram malas, exterminaram indios “bravios”. A posteriori, o milo atribui significado especial aos alos do passado. Gada gesto no passado portaria, desta forma, a “semente” do porvir. A construgio do Porto Tibirigé, a cargo do capilao Francisco Whitaker seria a “semente” de Presidente Epitacio, tendo sido ele aclamado pelo historiador Diéres Santos Abreu como um “bandeirante moderno”, Obra de meméria, elaborada com precisao jornalistica na informagao, o trabalho de Godoy contribui agora com uma peca que faltava para compor © mosaico das cidades pioneiras que inlegram a regido da Alla Sorocabana Muitas delas j4 receberam estudos geogréficos, histéricos e relatos de memorialistas. Duas obras sao precursoras desta empreitada: A ocupacao do Pontal de Paranapanema, do geografo José Ferrari Leite, e Formacao historica de uma cidade pioneira: Presidente Prudente, do 4 cilado historiador Diéres Santos Abreu. Ao lado destes estudos, 0 livro de Godoy vem somar esforcos para o conhecimento da estrutura, composigao social e institucional do municipio Somente agora, com este livro, pode se dizer que Presidente Epitécio nao 6 mais 0 “serlo desconhecido” de outrora. A cidade se dé a conhecer ao seu povo, que comeca a lecer os fios de sua propria memoria, construindo assim sua identidade e cidadania’. José Artur Teixeira Gongalves * * José Artur Teixeira Gongalves é dontor em Histéria pela UNESP. NOTAS 1 CALVINO, Italo. As cidades invisiveis. Trad. Sao Paulo: Companhia das Letias, 1990, pp. 1415. 2CE LE GOFF, Jacques. Documento/monumento, Histéria e meméria. Trad. Campinas: Editota da Unicamp, 1988, passim. 3 Sobre a constituicao proviséria da “civilizagao paulista”, ver MELLO E SOUSA, Laura, Formas provis6rias de esisténcia: a vida cotidiana nos caminhos e fronteitas e nas fortificagées. In. (o1g,) Historia da Vida Privada no Brasil. Sao Paulo: Companhia das Letias, 1997, p. 45. 4 Para a historia da ocupagao e surgimento das primeiras cidades do Pontal do Paranapanema, ver LEITE, José Fentari. A ocupacao do Pontal do Paranapanema. Sao Paulo: Hucitec/Fundunesp, 1998, especialmente capitulo 2 5 Op. cit. p. 12 6 FERREIRA, Anténio Celso. A epopeia bandeirante: letrados, instituigées, invencao histézica, Séio Paulo: Editoa Unesp, 2002, p. 124. 7 Para uma andlise preliminar da vocacao turistica de Presidente Epitécio ver OKIMOTO, Manita Mie. O projeto turistico de Presidente Epiticio e as suas implicagdes econémicas, sociais ¢ ambientais. Monografia (Bacharelado em Geografia). Presidente Prudente Faculdade de Ciéncias e Tecnologia/Unesp, 1990. S MONBEIG, Pierre. Pioneiros e fazendeiros de Sao Paulo. Trad. Sao Paulo: Hucitec/Polis, 198+, pp. 121/124. 9 Essas linhas devem muito as discusses com pessoas que encontrei e reencontrei nestes deslocamentos entre Assis/Presidente Prudente/Presidente Epitacio, sobretudo os professores Ana Angélica Rodrigues, com quem compartilho certa perplevidade diante desta cidade, Davi Valverde e Rogétio Assis. A esponsabilidade pelas ideias aqui contidas, evidentemente, é minha. ao Apresentagao da 1* edig Esta obra tem por finalidade apresentar um apanhado da Historia de Presidente Epilacio, desde sua fundagao, desenvolvimento como distrito, aulonomia ¢ seus falos marcantes alé os dias aluais. Nossa Historia comeca quando, no oeste paulista, Campos Novos do Paranapanema e Conceicao de Monte Alegre, alé o final do século XIX, e Assis, no inicio do século XX, eram os tllimos locais povoados antes dos “terrenos desconhecidos” do oeste paulista, que constavam nos mapas, como “serlao desconhecido” e desabitado desta parte do estado de Sao Paulo Uma estrada alravessando a regiao se fazia necesséria. Francisco Tibiriga recebeu a concessao para execular essa obra, associando-se a Artur de Aguiar Diederichsen. Os preparativos sao realizados e no dia 1°/01/1907, Francisco Whitaker fundou, na margem paulista do rio Parana, o Porto Tibiriga, célula inicial de Presidente Epitacio ADiederichsen & Tibiriga, depois Companhia de Viagao Sao Paulo Mato Grosso (CVSPMG) desbravou e construiu a estrada Boiadeira. Porto Tibiriga ganhou forle impulso e ao seu redor nasceu um patriménio balizado de vila Tibiriga. O local progrediu e, nas imediagdes do Porto Tibirigd, surgiut a vila que nascia para ser Presidente Epilacio Na vila Tibirigé existia toda uma estrutura vollada para a manulencao, abastecimento e estadia das embarcacdes. O movimento principal, que era 0 embarque e desembarque de passageiros, carga e descarga das embarcagoes, logo passou a ser do porto de Epilécio, o qual tinha mais calado e estava localizado junto aos trilhos da estrada de ferro. Seguem-se os ciclos ¢ seus reflexos, a instalacao de imigrantes na Colénia Arpad-Falya e Campinal, a luta pela autonomia polilicoadministraliva, as enlidades e associacées, alividades de recreacao, bandas, festas, infraestrutura, esporte, cultura e dados de interesse geral. Ressalte-se que a presente obra nao tem a inlengao de esgolar o assunto referente a Historia de Presidente Epitdcio, muito pelo contrério. Este despretencioso trabalho deve ser considerado como arcabouco a ser completado por oulros dados de relevancia dos quais Presidente Epilacio é prodiga O autor. Prefacio da 2* edicgao Ja houve quem dissesse que o prefacio é sempre algo inuitil, sobremodo quando o livro 6 tao pleno de informagées, meméria e recordacées de personagens que vivem a margem da historia oficial e de grandes vultos. Eo caso desse volume, j4 em sua segunda edicdo, revista e ampliada Acolhi 0 honroso convile para prefaciar esta edicao, com salisfagao, porque sio sempre bem-vindos os trabalhos que falam de nossa histéria local e regional, sem perder a nogao da histéria maior Desde a primeira edicao deste volume, um conjunto de pesquisas sobre diferentes cidades da regiao - antigamente conhecida por Alla Sorocabana - veio compor 0 quadro mais claro de uma hisléria regional que carecia de informacées que vao além dos dados oficiais e das pesquisas temalicas feilas na Universidade. Assim, a regiao vai sendo aos poucos revelada por estudiosos que, por diversos molivos, interessam-se pela historia local. Sao tantas as fontes que podem ser exploradas que a historia regional vai sempre se fortalecendo com as novas contribuigées. A que vem esse livro? Esta segunda edicao apresenla, sobre a oulra, dados referentes as imporlantes relagdes entre a descoberta do Oeste Paulista, a chamada “Zona Desconhecida”, com o sul de Mato Grosso. Tanto a inclusao do relato do Corariel Whitaker, como a constragao da Eatvada Boiadeita ¢ a valagao com a Companhia de Viacao que houvera resolvido ampliar a sua empresa com alividades de entreposto de venda de gadlo, vindo de Mato Grosso, em Indiana. As suas bases de operacdes estavam fundadas e eslabelecidas no Porto Tibiric e a Organizacao de Sao Paulo e Mato Grosso; o transporte do gado pelo Rio Parana, a travessia e a organizacao pela estrada alé Indiana. Essa maneira de entender a historia de pequenas cidades, dentro da historia regional, ganha muita forca quando € posstvel ainda encontrar remanescentes do periodo em queslao. Este trabalho tem esta qualidade: a de ter encontrado relalos proximos a importantes figuras, entre oulros, como a de Jan Antonin Bala na hist6ria regional e de Presidente Epilacio, Sua vinda ao Brasil e suas 0 Paulo Mato Grosso ¢ toda a mistica a relacées com a Companhia Viagao § respeilo de sua trajeloria e perseguicao internacional Além disso 0 volume apresenta dados histéricos da fundagao da Colénia Hungara Arpad Falva, de seus fundadores, motives ¢ trabalho. O mesmo procede com os japoneses e também com os paraguaios, que pela regiao eram muitos, dada a Companhia Mate Laranjeira e sua exploracao nos ervais. Enumera biograficamente esses herdis desconhecidos que cruzaram a fronteira com o Brasil ou Auantico para fundarem aqui, no pais da terra € da esperanca, novas bases de vida, de cultura e de trabalho. Do mesmo modo esta edicao amplia 0 conhecimento de alores, pessoas simples, sem rosto na historia oficial que construiram Presidente Epilacio. Essa segunda edigao tem, assim, um conjunto de informagées novas que vém solidificar mais e mais a historia de nossa regiao, de Presidente Epilécio ede sua mullipla identidade Maria Angela D'Incao* * Maria Angela D'Incao € Sociéloga, UNESP/PP e membro da Academia Venceslauense de Letras Nota do autor Nunca é demais lembiar de que ao propor-se escrever historia, cuidados devem ser tomados ¢ isto é um alerta feito desde os tempos antigos. O fildsofo, oradot, escritor, advogado ¢ politico 1omano Maico Télio Cicero, em latim Marcus Tullius Cicero - nasceu em Arpino no dia 3/01/106 a.C. ¢ motreu em Formies, no dia 7/12/43 aC. — (apud Carl Sagan) escreven 0 que chamou “leis”, quanto a maneira de se nantara historia: A primeira lei € que o historiador jamais deve se atrever a registrar o que é falso; a segunda, que jamais deve se atrever a ocultar a verdade; a terceira, que nao deve haver suspeitas de favoritismo ou preconceito na sua obra No tratado sobre historiogtafia “Como a historia deve ser escrita”, publicada no ano 170 d.C, o antor grego Luciano de Samésata («apud SAGAN) insistia “O historiador deve ser corsjoso e incorruptivel; um homem independente, amante da franqueza e da verdade.” Os dados desta obia resultaram de pesquisas documentais ¢ relatos de pessoas que vivenciaram acontecimentos. Entretanto tem-se que considerar ser limitada nossa capacidade em reconstiuir a historia em todo seu entrelagamento ¢ sequéncias, além do que se deve levar em considetagao o fato de que relatos de casos tém o “filto humano”. A presente edigao teve sew texto grafado segundo as regras do novo acordo ortografico da lingua portuguesa, em vigor a partir de 2009, ¢ com a utilizagéo da norma culta ensinada pelo dicionarista Luiz Antonio Sacconi. Benedito de Godoy Moroni NOTA SAGAN, Carl © mundo assombrado pelos deménios: a ciéncia vista como uma vela no escuro, tradugao Rosaura Eichemberg, Sao Paulo, Companhia das Letras, 2006, p. 293 CAPITULO T—DADOS'CERAIS uu yaueuournemiausumsawasuagaysuanaay 25 1.1 Descrigao perimétrica de Presidente Epiticio. .... . re 2 1.2 Aspectas geoptaficos. . bo vveeeeeveeses 26 CAPITULO? HISTORIA ma enc ane nmsxarnemnenarreunoavnsenennaea OT 2.1 Onigem ........ . . : . 7 2.2 Titulagio.......2... bo vivteeeeeeeses 30 233 Antecedentes bi ceeeeeeccttssttteeeessrtsteeeeesesB2 24 Fundagio bo von vovveveeeeeees 34 25 Eshada Boiadeita .... bovteeeeeeeees en 34 2.6 Dados do fundador... : re 36 2.7 Contestualizagao . ... cn a crc 38 CAPITULO 3 - ESCRITOS DE FRANCISCO WHITAKER «0.0.0.0... 41 3.1 Recordagées Al CAPITULO +- PORTO TIBIRICS 4.1 Priotidade 4.2 Thavessia 5S 43 Tecnologia «00.02... si rare soe Ha HNO a 58 44 Estaleito . : 60 AS Espotes. 000.0 eecceeeeeeeeecees bees 61 4.6 Festas. 62 4.7 Encampagio........ be bbsteeeteeetcetsseesees 62 4.8 Organizacao 63 4.9 Curiosidades no Porto bo deseebeceveseeseeeeeeesnnss G+ 4.10 Decadéncia. 6+ 4.1] Esada de Feno Sotocabana 0.0.20... 0000 cceecceeceeseeeeeens 6s 4.12 A Revolugio Paulista de 1924 66 CAPITULO 5 - DE “DIEDERICHSEN E TIBIR. “CINCO & BACIA” 69 5.1 Suigimento e evolugao. . con : 69 5.2 Legislacao : : woe : 2 CAPELULO'6: JAN ANTONIN BAT Ada sixexceneerecneunacverneqness TT CAPITULO 7- COLONIA HUNGARA ARPAD FALVA . 7.1 Imigracao htingara no Brasil . . 7.2 Imigiagao hingara em Presidente Epitécio. . 7.3 Origem do nome 74 Evolugio..........- be bet tte eeetetetteeetseee terete ree BS 7.5 Educagao 86 7.6 Bailes. 37.8 Moradotes 7.9 Segunda Guenta ‘88 7.10 Cemitério e Igrejas. 89 CAPITULO S$ - OS JAPONESES E PRESIDENTE EPITACIO ............ 3 8.1 Imigracao japonesa no Brasil... . bos 8 8.1.1 Infeio da imigragio so... 2B 8.1.2 Novas levas de imigrantes oF 8.1.3 Visitas da familia impetial japonesa.... . bocce ees 95 8.2 Os japoneses em Presidente Epiicio 96 83 Agticultura ....... — “ sei rat 96 84 Epiticio e seus ina janes o7 CAPITULO 9 - OS PARAGUAIOS E PRESIDENTE EPITAGIO ..........99 9.1 Histéia do Pataguai 9.2 Influéncia cultural 2 zat 7 ¢ 9.3 Paraguaios em Epitécio ... 5 agai: 4 sau lOB 94 Festas. 9.5 Destaques. CAPITULO 10 -A REGO: gus os cop ws eee wh eae aoraomoraemn'ssneeTOD 10.1 O tio Parand..... . a ve... 110 10.2 Ciclos re ell CAPITULO IL- siTIOs ARQUHOLOGICOS.D DE PRESIDENTE EPITACIO 11.1 Primeitos sitios encontiados. . . 11.2 Outros sitios 113 Ampliagao das pesquisas....0.... 00.0004 114 Onde estiio os indios? CAPITULO 12- EVOLUCAO DO MUNICIPIO ........0000....0.002.. 121 12.1 Autonomia 121 12.2 Eleigées. 122 123 Instalagao do municipio. ..... senses : wa aed 12-4 Ata da Instalacao do Poder Municipal 124 12.5 Ata cess I da Ciera Moni er ve vceveecceeeee 25 12.6 Cronologia........... boss : veveeeee 27 CAPITULO 13 - EXECUTIVO, EEGISLATIVOEJUDIOURIO vee BL 13.1 Evolugao politicoadministiativa....... o BI 13.2 Eleigées. 7 om — 7 a . BB 13,3 Prefeitos evice prefeitos.. o.oo. . vee BH 134 Legislative bo o boss : 2 BE 13.5 Judiciatio. becceeeeeeeees : viv eceeeeeecees 13.6 Juizado Especial ..... o bos : : veces SL 13.7 Justiga Eleitoral. 000000000 cece cece aie sata 13.8 Justiga do Trabalho... ” gs eusiemes ae 4 13.9 Justiga Federal... 13.10 Ministério Puiblico 13.11 Procuiadoria-Getal do Estado 13.12 Advocacia-Geral da Unio 13.13 Registros historicos 13.14 Legislagio CAPITULO 14- MARINHA. 14.1 Marinha do Brasil. 14.1.1 Distintivo da Delegacia Fluvial de Presidente Epiticio 14.2 Sunaman - Superintendéncia Nacional da Marinla Metcante . . CAPITULO 15 - SECRETARIA DA SEGURANGA PUBLICA .......... 15.1 Policia Civil 15.2 Policia Militar : 15.2.1 Pascoa e Cangao da Policia Militar 15.2.2 2° Regiment de Cavalaria . 15.3 Legislagao : CAPITULO 16 - SIMBOLOS E HINO MUNICIPAL. ......... 16.1 Simbolos municipais 16.2. A Bandeixa 16.3 Brasto .. 16:4 Hino Municipal . 16.5 Distico. . : CAPITULO 17 - DADOS ESTATISTICOS, 17.1 Populag: 17.2 Economia . . 17.3 Atividades . . 17-4 Veiculos 17.5 Construgées 17.6 Instituigdes de ‘acolhinienits CAPITULO 1S - CLUBES E ENTIDADES CAPITULO 19 - ESTABELECIMENTOS BANGARIOS ....... CAPITULO 20 - ASSOCIAGOES E SINDICATOS ............ CAPITULO 21--\ COMUNICA GAO i cnnnceccemcomarineneeasterss 21.1 Servigos de Alto-falantes 21.2 Imprensa Falada... 213 Imprensa Escrita. CAPITULO 22 - COMERCIO, INDUSTRIA E PRESTADORES DE SERVICOS ........ 22.1 Entidade de lazer 22.2 Hotéis e motéis. . 22.3 Pousadas ¢ Marina . 155 156 197 158, 159 . 173 173 176 176 177 177 180. 18] 185 188, 193 193 195 196, 197 198, eT 199 202 207 208 210 211 ote . 231 +233 243 28 245 250 «257 255 259 260 CAPITULO 23 - EDUGACAO.. 23.1 Evolugio 23.2 Desenvolimento . 23.3 Refeicées 2B.t Tiansporte escolar. .. : bovesees 23.5 Relagio das creches e escolas com seus diretores wee BTS CAPITULO 24- SAUDE 24 | Senger de Sade ecuionss nia Mhaaiespse. 242Rede ‘de Combate ao Cancer 243 Saneamento Basico 243.1 Abastecimento de Agi 243.2 Rede de esgoto. ... 2433 Coleta de lixo CAPITULO 25 - AGROPECUARIA ....... BNNs Bee 25.1 Atividades ....... wae wee munch Kan NaN 319 25.1.1 Exploragdes agricolas 321 25.1.2 Pecudtia. 6.6... eee eee eee . as 74.) CAPITULO '26-RELIGIO ss a 195 195 m5.05 195.109. eT SB CAPITUEO27.-CEMITERIOSs: o a an wr ay ar oor munawddD 27.1 Cemitérios desativados....... eee sees 27 2 Cemitério Horto da Igualdade 359 CAPITULO 28 - OBRAS DE HE DESTAQUES 3 348-4 <> oe he Pe. 28.1 Ponte... a eee mma, samen eactcmel 361 28.2 Porto 362 28,3 Parque Figueital.... 0.00.6... 0000c0e eee cece ee eee eee BOB CAPITULO 29- CARNAVAL .....00c00 cece cece eee e eee e eee BOS CAPITULO '30-TRANSPORTE: 195 195 vis a5 123-023. 00a.i. cee eBOD 30.1 Ferrovia 369 30,2 Aeropoito bveeve ees : . weceeee 370 30.3 Rodovidria... 6.026... . weeee ee BIL 30.4 Navegacao, CAPITULO 31 - VISITANTES ILUSTRES «2.0.00... 000000 00cceccee eee B75 CAPITULO 32-CAMPINAL.......0..00cce0cececeeeeeeeeeeeee eee 32.1 Origem do nome Campinal. 32.2. Antecedentes st 32.3 Criacao 32.4 Evolugio 32.5 Saneamento basico. CAPITULO 33 - FESTAS 0.00.00. 000ecceceece ees 33.1 Primeito de Maio 33.2 Nossa Senhora dos Navegantes 33.3 Festa da Praia 33.4 Festa do Rei Pintado. 33.5 Festa dos Pretos. . 33.6 Festival Nacional de Pesca By 7 Concurso de Miss. 8 Teatralizacao da paisao de Cristo . BI 9 Fogueitdo .. 33.10 Cavalgada de Sao Sebastiao.. 33.11 Cavalgada Rural CAPITULO 34- BANDAS 34.1 Banda Filaménica 27 de Marco 34.2 Banda Marcial Antonio Zocante CAPITULO 35 - ESPORTES 35,1 Atividades esportivas 35.2 Pracas de Esportes 35.3 Futebol . we 35.3.1 Futebol Masculino 35.3.2 Futebol Feminino 35.4 Circuito Esportivo Municipal CAPITULO 36 - MONUMENTOS.... ‘itio de Presidente Epiticio 36.1 Cent 36.2 Obelisco 36.3 Mortos no tio Parana 3644 Cruzeiro de Epiticio 36.5 Cruzeiro do Campinal 36.6 Tori 36.7 Imagem do Sagrado Coragao de Jesus. CAPITULO 37 - ARTISTAS PLASTICOS CAPITULO 35 - RODOVIA RAPOSO TAVARES . 38) 1 Desestatizacao .. 8.2 Cessdes gratnitas de reas. CAPITULO 39 - MARCOS GRAVADOS DE INTERESSE. PARA EPITACIO 39.1 Marcos “Zer 39.3 Marcos cravados pelo IGC. CAPITULO 40 - PERSONAGENS . 40.1 Adao Virgolino da Cruz 40.2 Ademar Dassie ..... de Presidente Epitécio. 30.2 Marcos de Estagao Geodésica do IBGE 383 383 38+ 387 387 385 389 390 302 394 305 306 a7 397 308 ee 309 400 401 A404 406 412 41S 41S 417 AIT 41S A19 419 420 421 aed 423 424 «425 425 426 427 oA29 429 430 403 Alberto José Assad 40+ Amandio Pires. . 40.5 Ana Rodhigues de Aguiar Lisboa . 40.6 Antonio Canhetti . 40.7 Anténio Quirino da Costa . 40.8 Azulao 40.9 Carlos Gardoso de Almeida Amorim 40.10 Celso Azevedo 40.11 Edson Valin ~~ 40.12 Emesto Coser....0....00.4 40.13 Esmetaldo Matinho..... 40.14 Geraldo Moacir Bordon. . 40.15 Helena Weller : 40.16 Ivan Agenor Noronha. ....... 40.17 Joao Biilhante 40.15 Joana Borges da Cruz 40.19 José Natal de Carvalho 40.20 José Nogueira da Silva 40.21 Mauricio Joppert da Silva. .. 40.22 Pedro Ferreita da Sila 40.23 Sebastiio Hojo. wi 40.24 Tito Livio Almeida Ferreita . 40.25 Wilson Cruz... CAPITULO 41 - LOGRADOUROS : 41.1 Denominagées de pred, lgzadlonroe-e pepastlgien plblicon: 41.2 Regras 413 Logradouros existentes em Epitacio. 41311 Relagdo de logradoutos na cidade de Presidente Epiticio 413.2 Relagao de logradoures do distrito do Campinal : 4133 Logiadoutos com a biogtafia do homenagendo ou historico 414 Baines bo . : : CAPITULO 42—-BIBLIOGRAFIA........ CAPITULO 43 - CREDITOS DAS ILUSTRACOES.. BO BB . B+ BE BT . BS BO AL oat: HH Aa). 456 cP . 459 465 469 469 . +71 AB AB - 478 . 478 585 +s 587 10998. HISTORIA DE PRESIDENTE EPITACIO Capitulo 1 — Dados gerais 1.1 Descri¢ao perimétrica de Presidente Epitacio Parte da foz do rio do Peixe, no encontro deste rio com o rio Parana, divisa entre os estados de Sao Paulo e do Malo Grosso do Sul; dai segue pelo rio Paranda, a jusante, aléa foz do Ribeirao da Agua Sumida (ou Cachoeira), limites com 0 municfpio de Teodoro Sampaio, alé os limites com o municipio de Maraba Paulista; dai continua pelos limites com Maraba Paulista até chegar ao Ribeirao dos Xavantes (ou Santa Cruz), nos limites com 0 municipio de Caiua; dai segue pelos limites com 0 municipio de Caiua até chegar ao rio do Peixe, nos limites com 0 municipio de Panorama; seguindo a jusante pelo tio do Peixe, limites com o municipio de Panorama até a sua foz, no encontro deste rio com 0 rio Parana, divisa entre os estados de Sao Paulo e do Malo Grosso do Sul. Segundo o IBGE, Epitacio localiza-se, com base no DATUM SIRGAS2000, na Latitude 21° 45” 53” S Gravidade(mGal) e Longitude 52° 06° 19” W Sigma Gravidade(mGal) - (no marco Zero de Epitacio). Sua extensao territorial perfaz 1.282km?. wes eon ‘SANTA RITA DO PARDO Mapa de Presidente Epiticio, de 2005 - IBGE, 2s BENEDITO DE GOCDOY MORON 1.2 Aspectos geograficos Presidente Epilécio toma o ponto do marco Zero, que fica em frente a Igteja de Sao Pedro, para estabelecer sua altitude orlométrica (m) de 292, 1481 metros acima do nivel do mar. Tem Epitécio como municipios limitrofes Panorama, Caiué, Maraba Paulista ¢ Teodoro Sampaio. Dista, segundo o site der, 90km de Presidente Prudente e 645km da Capilal ¢, pelo sile 1 dnil, 368km de Campo Grande, 623km de Curitiba e 1.091km de Belo Horizonte O municipio tem clima tropical timido caracterizado por estagao chuvosa no verao e seca no inverno, tendo a temperatura média anual oscilante entre 22 e 24° centigrados e precipitagao pluviométrica anual em tomo de 1.500mm, principalmente entre setembro ¢ marco, com maior frequéncia e volume nos meses de dezembro a fevereiro. Tem umidade relativamente estavel durante 0 ano, com médias anuais entre 70 80%, com ligeira queda nos meses de agosto ¢ setembro com média de 60%. Vista parcial de Presidente Epitdcio em 2007 26 HISTORIA DE PRESIDENTE EPITACIO Capitulo 2 — Historia 2.1 Origem O oeste paulista entre as barrancas dos rios do Peixe Paranapanema, 0 lado esquerdo do rio Parand e suas adjacéncias, alé 0 inicio do século XX, era habitado somente por indios, Nao ha registro de entradas ou bandeiras que livessem atravessado este Lerrilério. Apenas pelo rio Parana, divisa da regiao oeste pauilista, é que passavam mongoes ¢ bandeirantes com destino a Cuiaba, nos séculos XVII e XVIII, ¢ mesmo assim, somente navegando os rios Tieté, Parana e Pardo, sem ousarem enfrentar os indios que povoavam esta regiaio. Enrique Peregalli conta que “para chegar a Cuiaba, fundada em 1719, os paulistas se utilizavam da rede hidrogréfica formada pelos rios Tieté, Pardo, Taquari ¢ Cuiabi.” (p. 27) No mesmo sentido Roberto C. Simonsen escreve que 0 caminho para Cuiaba, denominado “varadouro”, “através de Ararailaguaba (Porto Feliz), ries Tielé, Parana, Pardo, Coxim, Taquari, Paraguai, Sa0 Lourengo e Cuiaba, demandavam mais de quatro meses em travessias penosas e perigosas” (p. 349 vol. 1), tendo que se defender, em Mato Grosso, de investidas dos indios paiaguas, eximios canoeiros, e dos indios guaicurus, habeis cavaleiros. Ainda demonstrando que por esta regiao se passava era pelo rio Parané, ¢ nao por terra, Whashington Laris conta que “a 6 de julho de 1726 partiu de Sao Paulo o governador, Rodrigo César de Menezes, com a sua comiliva” (p. 216) com destino a Araritaguaba, atual Porto Feliz, de onde saiu para Cuiabé em 16/7/1726 chegando ao destino no dia 16/11/1726. Joao Batista de Sousa, por sua vez, relata sobre esta mongao capitaneada pelo governador da Capitania de Sao Paulo, que “se realizou via Tielé, Parana, Pardo e deste rio, por terra, ao Camapuan, que desceu e, igualmente, os rios Coxim e Taquari, para depois subir os rios Paraguai, S40 Lourenco, Cuiaba.” (p. 42) Segundo o livro do naturalista alemao Carlos Frederico Philippe Von Martius, contratado pelos governos da Austria e da Baviera (Alemanha), 0 rio Parana como rota fluvial para adentrar o interior do Brasil sofreu declinio em sua utilizacao no inicio do século XIX ¢ naquela época safam “anualmente apenas seis a dez canoas de Porto Feliz para Cuiab: (p. 246) Posteriormente nem mais islo era feito, porque a rola dos bandeirantes passou a ser por Minas Gerais. Esta nova rola saia de Sao Paulo e passava pelas cidades paulistas de Sao Carlos (Campinas), Mogi Mirim, Casa Branca, por Minas Gerais, pela cidade goiana de Vila Boa alé chegar a entao Vila Real do Bom Jesus de Cuiaba BENEDITO DE GOCDOY MORON i “ aioe 3 Detathe da Carta da Provincia de Sao Paulo, mapa de 1879 - 1883 2s HISTORIA DE PRESIDENTE EPITACIO CML DO BABS DE IO RKO ( CALENDAR DANO ISRO DE He BRAZIL Detuthe do Mapu da Provincia de Stio Paulo de 1856 mandado organizar pela Sociedade Promotora de Imigragao de Sdio Paulo Em 1886 a Comissio Geogréfica e Geoldgica da Provincia de S. Paulo encarregou Teodoro Sampaio para execular os trabalhos de exploracao dos rios Itapetininga ¢ Paranapanema. A tarefa foi executada de 11 de abril a 27/9/1886 (pp. 1 © 3) ¢ 0 relato de viagem, os mapas ¢ 0 relatorio final foram publicados em 1889. Com o objetivo de ligar Sao Paulo ao Mato Grosso, em 1890, o engenheiro José Alves de Lima € incumbido de abrir uma estrada entre 0 ribeirao Sao Mateus, regido de Campos Novos, alé o rio Parana, para posteriormente chegar-se a Mato Grosso. Entretanto, devido a estrada localizar-se préxima das cabeceiras do rio Feio, desistiu-se do projeto. Nova tenlaliva se dé em 1892 com a contralagdo, pela Comissio Geografica ¢ Geolégica, do engenheiro Olavo Hummel para concluir 0 itinerario. Em 1893 ele constréi um caminho entre o povoado de Sao Mateus, situado as margens do rio de mesmo nome, no municipio de Campos Novos do Paranapanema, pelo Vale do rio Santo Anastécio, até as margens do rio Parana. Esta estrada, feita apenas para fins estratégicos e sem qualquer fungao econdmica, em pouco tempo é reabsorvida pela mata. Nesse mesmo ano a empreitada ¢ abandonada por Hummel. Campos Novos do Paranapanema e Conceicgao de Monte Alegre, alé 0 final do século XIX e Assis, no inicio do século XX, eram os tillimos locais 29 BENEDITO DE GODOY MORONI povoados antes clos “terrenos desconhecidos” do oeste pauilista Fazia-se necesséria uma estrada que ligasse S40 Paulo a Mato Grosso, mas na €poca, era um empreendimento que nem mesmo os governos estaduais linham coragem de enfrenlar, principalmente porque a regio era considerada serlao, lanto de S40 Paulo como de Malo Grosso e, segundo Francisco Cunha, “tergo do mapa de Sao Paulo onde se lia: terrenos desconhecidos e habitados pelos indios.” (p. 23) No mesmo sentido relata Didres Santos Abreu que “o exlremo oeste de Sao Paulo continuava a aparecer nos mapas oficiais, no comeco do século XX, com a inscricao “Terrenos Desconhecidos’.” (1972, p. 28) Todavia, nao se podia mais esperar para a construcao de uma estrada de rodagem ligando esta parte do estado de Sao Paulo, com o sul de Mato Grosso (atual Mato Grosso do Sul). Até entdo, os malo-grossenses dessa regidio s6 podiam alcangar a capital de Sao Paulo e Rio de Janeiro pelo Paraguai ou Uberaba, obrigados a percorrer mais de duzentas léguas para chegar a ponto de estrada de ferro. Como nos campos de Vacaria, no sul do enlio Malo Grosso, havia “criagao de gado originario das estancias dos missionérios paraguaios” (SIMONSEN, p. 246 vol. I), bem como as fazendas dos vales dos rios Verde, Pardo, Ivinhema, Amambai, Iguatemi e outras da bacia hidrografica do rio Paraguai, remetiam para Sao Paulo o seu gado através do Triangulo Mineiro, efeluando viagem longuissima, que consumia grande parte de seu valor 2.2 Titulacio Em meados do século XIX, as terras localizadas no oeste do estado de Sao Paulo, assinaladas como desconhecidas e habitadas por indios, passam a ser molivo de cobiga, geralmente, por parle de criadores de gado e de colonizadores. O mineiro José Teodoro de Sousa, para apossar-se de lerras do oeste paulista, procurou documentar-se, conforme era costume na época, alegando a0 vigério de Botucatu, Modesto Marques ‘Teixeira, de que ele, Sousa, era proprietirio de uma gleba desde 1847, com posse mansa e pacifica, e que estavia registrando esta area em 31/5/1856, fazendo constar que a mesma estendiase por 10 léguas da bamanca do tio Paranapanema até o espigdo divisor como rio do Peixe, ainda desconhecido, e 25 léguas do rio Turyo ao ribeiraio Figueira, cujas nascentes, ficam a rumo do mencionado espigio. (ABREU, 1972, p. 19) 30 HISTORIA DE PRESIDENTE EPITACIO Desta forma José Teodoro de Sousa, em 1856, procurava ludibriar a legislacao que, de acordo com a Lei n® 601 de 18/9/1850, regulamentada pelo Decreto n° 1.318 de 30/01/1854, proibia as apropriacées de terras devolutas, a nao ser por compra. Inocéncio Erbella, por sua vez, conta que Outros agiram de forma idéntica. Em maio do mesmo ano, José Anténio Gouveia, também mineiro, perante o Vigario Frei Pacifico de Monte Falco, na paréquia de Sao Joao Batista do Rio Verde, extraiu o registro de imensa area de terras localizadas, igualmente, nestes ser- toes sorocabanos, a qual denominou “Fazenda Pirapé- Santo Anastacio”. Além deles, outros dois mineiros fi- zeram grandes posses primitivas: Joao da Silva Oliveira e Francisco de Paula Morais, ambos parentes de José ‘Teodoro de Sousa. (p. 46) Com os registros paroquiais “nao se pode deixar de reconhecer que 0 extremo sudoeste de Sao Paulo passou a ter dono, pelo menos nos papéis.” (ERBELLA p. 46) Por sua vez, conforme relata Jovelino Morais de Camargo Jtinior ao narrar a hist6ria de Presidente Venceslau, em 1884/86, processou-se em Santa Cruz do Rio Pardo o inyentario de Francisco de Paula Morais. Os bens da- dos a partilhar foram: um par de esporas de prata e 0 tinico bem de raiz, a “Fazenda rio do Peixe” esta descri- ta como abrangendo todas as vertentes do referido rio, desde as suas cabeceiras na Serra, até o seu desdgue que faz no rio Parana. Entre seus herdeiros estavam seu filho Pedro Teodoro e seu genro Domiciano Luis da Rocha: Em fevereiro de 1889, por escritura ptiblica, Domiciano Luis da Rosa vendeu a Azarias Custodio da Silva a agua “Pedemeiras’, excluidos 1.000 alqueires, que alienow em 1890 ao padre Francisco José Serodio, vigirio de Conceigao do Monte Alegre. Em 1891 Azarias Custédio da Silva vendeu a sua parte do “Pedemeiras” a Manuel Vicente Lisboa. Este por sua vez a transferiu a Manuel José Teixeira em 1895. Manuel José Teixeira vendeu em 1905 a Francisco José Antunes a quem sucedeu por compra Anténio Mendes Campos Filho, em 1906 Alvaro Antunes Coelho, um homem terrivelmente inte- 31 BENEDITO DE GODOY MORONI ligente, apareceu nesta zona como procurador e sécio de Antonio Mendes Campos Filho. Todas essas transagdes foram efetuadas por escrituras ptiblicas € constituem ele- mentos de prova pré-constituida. 2.3 Antecedentes Antes de qualquer coisa, tem-se que alentar para 0 falo de que, alé o final do século XIX, segundo Sandra Liicia Lopes Lima, “a regido de Campinas e imediagées, o chamado ‘Oeste Velho” (p. 12), € que eram chamadas de Oeste Paulista. $6 posteriormente, no inicio do século XX, é que nossa regiao, constanle nos mapas de Sao Paulo como desconhecida e desabilada, passou a ser identificada por Oeste Paulista. Alé entao o governo pouca alengao havia dado a esla regio Com 0 govemador paulista Jorge Tibirica, em 1904, 0 Oeste Paulista passa a receber maior alencao sobre si. E que se fazia necessaria a construgao de uma estrada que ligasse Sao Paulo a Mato Grosso. O governador procurou seu primo, o médico Francisco Tibiricd ¢ ofereceu-lhe a administragao do projeto. Este, embora Livesse consult6rio na capilal, aceilou a missio. Abreu (1972 p. 30) relata que, enquanto isso, 0 governo do Estado, através da Comissdo Geografica e Geolégica, iniciou os preparativos para a realizacao do levantamento do rio Parana e seus afluentes do lado esquerdo, ainda desconhecidos em seus pormenores, para tanto, em 1905, organizou duas expedicées, uma para explorar ¢ levanlar os rios Tielé e Parand e oulra os rios Feio e Peixe. Francisco Tibiriga, por sua vez, para dar prosseguimento ao avengado com 0 governador, procurou 0 engenheiro Otlo Maoser, seu amigo, a quem propés dirigir os servicos técnicos da obra, que de imediato aceilou. Contudo, pouco depois, Otto apareceu morlo numa rua de Campos Novos Paulista. Francisco Tibiriga sabia que a Estrada de Ferro vinha sendo construida lentamente. O proprio governo do estado de Sao Paulo também sabia que s6 poderia utilizé-la, em um prazo longo. As bacias dos rios Feio, Peixe, Santo Anasticio, Parana e Paranapanema, ainda figuravam nos mapas como zona desconhecida e desabitada. Porém, as tribos daquela regio haviam reduzido suas forcas, excegao apenas quanto aos Coroados. Os Gaius haviam relrocedido, representando um risco menor. Francisco Tibiricé, que recebera a concessdo definiliva para construir a Estrada Boiadeira, obleve na mesma ocasiao, autorizacao do governo de 32 HISTORIA DE PRESIDENTE EPITACIO Mato Grosso para abertura da estrada naquele terrilério, em prosseguimento programado para o lado pauulista, a seguit assumindo a direcao da empreilada O destino da estrada seria a regiao de Vacaria, em Mato Grosso Tibiricd procurou um sécio e encontrou-o na pessoa do Coronel Artur de Aguiar Diederichsen, rico proprielério de fazendas de criagao de gado e de lavouras de café na regiao de Ribeirao Preto. A uniao de Francisco Tibirigd e Artur de Aguiar Diederichsen resultou na empresa Diederichsen & Tibirica, onde Francisco Tibiricé se encarregaria da abertura da Estrada do lado de Mato Grosso e da instalagao e geréncia do Porto Tibiricd, cabendo ao Coronel Diederichsen abrir a Estrada do lado de Sao Paulo, bem como fornecer a Firma tudo o que ela precisasse para éxito da Empresa No lado malo-grossense as obras foram iniciadas de imediato por Francisco Tibiriga O Cel, Diederichsen, a cujo cargo ficara a abertura da Estrada do lado de de Aguiar Whitaker, conhecido como Capilio Francisco Whitaker, que @o Paulo, convidou para trabalhar nessa obra Francisco Guilherme jé dirigia os negécios do Coronel em Ribeirio Preto. Whitaker aceilou a incumbéncia. Em seguida sugeriu ¢ obleve aulorizacao para contralar um. auxiliar, 0 Coronel Francisco Sanches de Figueiredo. © Capitao Francisco Whitaker foi a Campos Novos, de onde a Estrada deveria partir em demanda do rio Parand, e ali contratou a sua abertura com 0 Cel. Francisco Sanches de Figueiredo. Este passou a orientar, em marco de 1906, a construgao da Estrada Boiadeira no lado paulista, bem como as derrubadas que teria de fazer na margem esquerda do rio Parana para a aberlura do porto, pastos & rogas. Francisco Whitaker acompanhou o servigo de Figueiredo, da Boca da Mata ao Pouso Feio, de onde voltou a Ribeirao Preto para atender a administragao das fazendas do Gel. Diederichsen, cuja geréncia estava a seu cargo Quando relornou e encontrou o Cel. Figueiredo, este ja estava acampado no Corrego do Feiticeiro. Whitaker ali fez canoas e com cinco companheiros desceu pelo ribeirio Santo Anastécio em demanda ao rio Parand a fim de escolher o local mais apropriado para a construgao do porto. Achando o local vollou e informou a localizacéo do mesmo a Figueiredo que continuava abrindo a estrada. Em seguida Whitaker regressa a Ribeirdo Preto, de onde era, para reunir o necessario ao inicio efelivo das obras no porto. Em Ribeirao Preto o “Capito Chicuita” (como era também chamado o Capito Francisco Whitaker) foi informado que Tibi ic4, tendo ja lerminado em Mato Grosso 3 BENEDITO DE GODOY MORONI a parle que ficara a seu cargo execular, ja se achava de volta em Sao Paulo € por molivo de satide nao podia mais se encarregar da instalacao ¢ geréncia do Porto Tibiriga. A vista desse primeiro imprevisto, o Capilao Francisco Whitaker passou definitivamente a encartegado da obra substiluindo Francisco Tibiric4. A maior dificuldade para a realizagao da obra, segundo Whitaker, era sobre os transporles para abastecer os trabalhadores do Porto Tibirig4. Isto porque a Sorocabana estava ainda em Manduri e os carreiros e tropeiros desta zona temiam alaques dos indios € em especial dos Coroados. Assim, restava a opcao de realizar os transporles pelo rio Tielé. Era preciso quase que de uma frota, pois, além do pessoal, era preciso transportar viveres, sementes, ferramentas, enfim, tudo para a instalagéo de um estabelecimento desta nalureza, Isto posto, contratou-se 0 Cel, Paulino Carlos de Arruda Botelho. Este, em Ibitinga, organizou a Flotilha e Francisco Whitaker, em Ribeirao Prelo, organizou o pessoal, reuniu mantimentos, ferramentas € tudo o mais que requeria a expedicao. No dia 1°/12/1906 partiu do Porto Laranja Azeda, em Ibilinga, uma flotilha composta de nove barcas de madeira ¢ uma grande lancha de ferro, descendo 0 rio Tielé rumo a sua empreitada, 2.4 Fundacao O proprio Capitao Francisco Whilaker nos relata, em suas “Recordagées”, como se deu a fundacao de Presidente Epitacio: “No dia primeiro de janeiro de 1907, ao meio dia, depois de trinta e um dias de penosa navegacao, a flotilha estava ancorada no Porto Tibirigé. Era 0 termo de nossa viagem. A primeira elapa estava vencida.” (fl. 6) Ali e naquele momento, estava senco plantada a semente da atual Estancia Turfslica de Presidente Epilacio. Esta data foi oficializada como a da fundagao da cidade pela Lei 2001/2006 de 11/4/2006 2.5 Estrada Boiadeira Na sua chegada ao local para a instalagao do Porto Tibirigé 0 Capilao Francisco Whitaker constatou, quanto a empreitada assumida pelo Cel. Figueiredo, que a “estrada estava aberta e as derrubadas prontas, porém, estas completamente perdidas; tinham sido queimadas fora do tempo pelos indios Xavantes.” (fl. 6) Como se sabe, as dificuldades iniciais nao foram pequenas. Muitos HISTORIA DE PRESIDENTE EPITACIO trabalhadores foram morlos pelos indios, pelos bichos selvagens e pelas doengas, comuns na frente de desbravamento. Entretanto, as adversidades nao foram suficientes para impedir a marcha daqueles homens audazes, que a todo custo queriam domar o imenso serlao. Conforme descreve Francisco Cunha, a ingenle batalha linha sido finalmente vencida pelo “tiltimo bandeirante.” (p. 97) Em 1908 a Estrada Boiadeira foi concluida ¢ 0 Porto Tibiri¢é, homenagem ao governador de Sao Paulo, Jorge Tibiricé, ficou pronto Quanto aos pousos, galpées e barracées da Estrada Boiadeira, Dicres Santos Abreu descreve que: A Companhia de Viagao Sio Paulo — Mato Grosso or- ganizou entre Indiana e Porto Tibiricé, uma distancia de 120km, pela Estrada Boiadeira, seis pousos: Lagoa, Esperanca, Ribeirao Claro, Sucuri, Alegria, Porto Tibiric4, todos com 100 alqueires de area cada um, me- nos Porto Tibirica, que tinha 160 alqueires, distando um do outro em média 25km. Em cada um havia um gal- pao para os boiadeiros dormirem, um mangueirao para ogado beber agua, descansar e onde eram reunidos para serem contados e pasto (mais ou menos dez alqueires) Havia, também, uma casa de madeira simples para 0 “morador” que tomava conta do pouso. Era um empre- gado da Companhia que prestava contas uma vez por més do que arrecadasse das boiadas, nos escritérios em Indiana. A Companhia permitia que fizesse plantagées de subsisténcia nas areas de pouso. (1997, pp. 53/54) cewensteaco oos ovsoe og" O © OE viacko sKo PAULO-MaTO GROSSO Também em 1908, a empresa Diederichsen & Tibirigé (fundada por Francisco Tibiriga ¢ 0 Coronel Artur de Aguiar Diederichsen) passou a 35 BENEDITO DE GODOY MORONI chamar-se Companhia de Viagao Sao Paulo Mato Grosso. Detalhe de Mapa de 1908 Seus negécios se expandiram: compra de gado em Mato Grosso e venda aos criadores do estado de Sao Paulo, transporte efetuado através da Estrada Boiadeira. ‘Terceiros, por sua vez, pagavam pedagio pela travessia em balsa pelo rio Parana, além de terem que pagar pelo uso da Estrada Boiadeira, dos pousos e dos pastos da Companhia. Porto Tibiricé ganhou forte impulso. Ao seu redor, nasceu um patriménio, batizado de Vila Tibiriga. 2.6 Dados do fundador zr Francisco Guilherme de Aguiar Whitaker, 0 Capitao Francisco Whitaker, nasceu na fazenda Paraiso, em Limeira (SP), em 10/3/1864. Era filho de Frederico Ernesto de Aguiar Whitaker ¢ Maria Amelia de Araujo Lima Whitaker. Seus avés paternos eram Guilherme (Willian) Whitaker e Angela da Costa Aguiar Whitaker, conforme relata Edmur de Aguiar Whitaker (1950 p. 145) Em 28/10/1893 Francisco Guilherme de Aguiar Whitaker é nomeado, HISTORIA DE PRESIDENTE EPITACIO para 0 posto de Capitao do Esquadrao do 64° Regimento de Cavalaria da Guarda Nacional da Comarca de Ribeirao Preto, através da Carla Palente emilida pelo Palécio da Presidéncia no Rio de Janeiro, datada de 19/4/1895, sélimo ano da Reptiblica, assinada pelo entao presidente, Prudente José de Morais Barros. Desde entao passou a ser conhecido como Capilao Francisco Whitaker. Em 1°/01/1907 funda Porto Tibiricd, povoacao origem de Presidente Epildcio Sua fibra, entre muitos fatos, pode ser constatada pelo relato contido no livro de Edmur de Aguiar Whitaker a quem 0 afilhado do Capitao Francisco Whitaker, Antonio Esteves, transmitiu 0 seguinte episédio: Iniciados os trabalhos da expedicao em terra, 0 pesso- al que a compunha desanimou e quis forcar a volta Francisco exortou-os a ficar, pois eram companheiros que escolhera com tanto cuidado e esperava nao o de- cepcionassem. Como insistisem em seus propésilos, afastou-se e encostado numa figueira, armado, declarou que poderiam voltar, mas ele, Francisco, permaneceria; apenas lhes pedia que levassem uma carta ao chefe da empresa, solicitando que mandasse nova turma de “ho- mens de yerdade”, para prosseguir na tarefa; ele conti- nuaria sempre, ou pelo menos a sua “caveira” la ficaria Diante de tao decidida atitude, resolveram os homens ficar. (p. 226) Vollando de Porto Tibirigé, ao final de 1908, vai para Ribeirdo Preto a fim do merecido repouso. Logo depois, vai a S40 Paulo encontrar-se com 0 Cel. Diederichsen Esle mostra a necessidade de transformar Indiana de simples entreposto em grande centro distribuidor do gado de Mato Grosso. Para tanto 0 Capitéo Francisco Whitaker é enviado aquele estado, percorrendo toda a parte sul do mesmo. De seus estudos resultou que a Empresa de Viagao Sao Paulo Mato Grosso abriria outros ramos de atividade, além do negécio com gado Assim foi feilo, primeiramente com a aberlura de uma casa comercial em Porto Alegre (MT). La seria 0 centro da seco de Mato Grosso, onde se canalizariam todos os negécios de gado. Depois de vencida mais essa elapa, © Capitao Francisco Whitaker retorna a $40 Paulo. Combina com o Cel Diederichsen sua mudanga para Indiana, a fim de controlar todas as secdes 37 BENEDITO DE GODOY MORONI da Empresa Viagao Sao Paulo Mato Grosso. Permaneceu na empresa alé 7/9/1922. Havendo anteriormente adquirido terras em nome préprio, funda em parle delas a fazenda Santa Maria, onde passou a residir dai em diante Torna-se, préspero fazendeiro na regio, sem deixar de ter um coracao generoso, a muilos ajudando, tudo isso sem fazer alarde. Capital Francisco Whitaker ia periodicamente a Sao Paulo a negécios e a passeio, ocasiao em que sempre adquiria novos livros, de preferéncia obras de inleresse geral ¢ politica de todas as épocas, inclusive a contemporanea, para estar a par dos grandes problemas do espirito. Era fervoroso defensor da existéncia de Deus. Possuta facilidade de expressio, além de conversa agradavel e amena, onde sua grande inleligéncia e elevada cultura claramente se entreviam No final de sua vida, fez doagées a inslituigées de caridade, sobrinhos, parentes e afilhados, tendo redigido seu testamento deixando os bens restantes a instituigdes de caridade, obras pias e aos seus 22 sobrinhos. Nao se esqueceu de seus pobres habituais, deixando uma renda de 300 cruzeiros por més para lhes serem distribuidos, renda esta que posteriormente passou para a Santa Casa de Indiana. Também beneficiou com suas doagées a Santa Casa da Capital e a de Presidente Prudente. Permaneceu em Indiana alé seu falecimento aos 20/9/1944, solteiro, com 80 anos de idade, hicido, apés adoecer gravemente. O fato foi noticiado pelos jornais Correio Paulistano e © Estado de Sao Paulo. O livro de Edmur Whitaker traz que 0 enterro do Capilao Francisco Whitaker foi concorrido ¢ se deu no cemitério de Indiana, em mausoléu com a inscrigao: Capitao Francisco Whitaker * 103-1864 -+ 20-9-1944 Pioneiro dos sertées do Paranapanema (1906-1933) Fundador do Porto Tibirigé (1907) (invia virtuto nulla est via) Saudades dos que Ihe devem imorredoura gratidao (p 226) 2.7 Contextualizacéo Estudando-se a hist6ria de Presidente Epilacio pode-se, a primeira vista, imaginar que os fatos ocorreram em periodo no qual vivia-se os primordios da colonizagao do Brasil. Entretanto, enquanto por esta regio do oeste paulista no inicio do século XX era conhecida por “sertao desconhecido” HISTORIA DE PRESIDENTE EPITACIO com “lerrenos despovoados”, no Brasil ja havia progresso significalivo nas mais diversas areas da cultura, comércio ¢ indtistria ¢ 0 mundo j4 possufa uma vida intensa e sofisticada que contrastava com a siluacao existente neslas paragens, Para melhor entender a historia da cidade hé que se conlextualiar 0s falos, nao 86 verificando o que ocorria no local, mas Lambém o que ocorria na €poca em outros pontos. Neste sentido o contido no blog portotibiriea blogspot.com, de Dalmo Duque dos Santos, postado no dia 28/01/2008, ressallando o falo de que Comparando a historia de Epitacio com a histéria de outras localidades entendemos de imediato que o tempo realmente é relativo, pois aquilo que nos parece velho e antigo, em outros lugares € novo e recente. Epiticio é uma cidade velha para quem lé os relatos dos primei- ros desbravadores, imaginando que o Capitao Francisco Whitaker, fundador do Porto Tibiriga ¢, portanto, de Epitécio, viveu_ nos tempos remotos da colonizacao portuguesa. Muito pelo contrario. Apesar do isolamen- to, dos perigos da selva, da precariedade de recursos, em 1907 o mundo ja era bem moderno. Paris era uma cidade de trés milhoes de habitantes, tinha galerias de compras mais sofisticadas que os shoppings atuais e j4 ditava a moda. Em Londres e Nova York j4 havia me- 16, jornais e revistas de grande circulacao e exposigdes de arte e tecnologia. Quando os trilhos da Estrada de Ferro Sorocabana chegaram a Epitécio, em 1922, em Sao Paulo estava sendo organizada a Semana de Arte Moderna, uma verdadeira revolugao estética na arte € ma comunicagao. Quando a cidade instalou sua Camara Municipal € teve o seu primeiro prefeito, em 1949, 0 mundo estava em plena Guerra Fria e no auge da pes- quisa nuclear, Nenhumas ruas de Epitacio era calgada quando, em 1963, os Beatles foram apresentados como a nova sensagao pop, no programa de TV de Ed Sullivan E finalmente, em 1969, quando, fazendeiros e posseiros do Campinal disputavam a bala um pedaco de terra que mais tarde seria inundado pelo lago artificial, os astro- nautas da Apolo 11 estavam desembarcando na Lua pensando na conquista do Espago Sideral E por isso tudo que Epitacio €, a0 mesmo tempo, uma cidade velha e também uma cidade nova, dependendo do ponto de vista de quem observa a sua histéria. 30 BENEDITO DE GOCDOY MORON Fi Betas sg xf Pen se Carta concedendo a patente de Capitdo a Francisco Whitaker prrgemo orsonextssnom ‘Anz6is utiliados por Francisco Whitaker na época da construgio da estrada Boiadeira 40 HISTORIA DE PRESIDENTE EPITACIO Capitulo 3 - Escritos de Francisco Whitaker A seguir transcrigao 5 da copia oblida em Indiana (SP) pelo ex- gerente da Cia. de Viacdo Sa0 Paulo Mato Grosso - CVSPMG, Vladimir Kubik, do relalo feilo por Francisco Whitaker em 1934, sob © titulo “Recordagées”, podendo ser considerado como “Certidao de Nascimento” de Presidente —_Epitacio, onde Whitaker conta: 3.1 Recordagies Muito afastado de qualquer pretensao a historiador, apenas vou dar aqui as principiais Francisco Whitaker com 80 anos, na sua residéncia em Indiana informagées para que, fuluramente, algum palridtico historiador possa, com verdade, clareza e justica escrever a historia do desbravamento da grande Regiao, outrora Sertaneja, tribuldria da Alta Sorocabana, cujo povoamento foi iniciado com a fundacao de Indiana ¢ Porto Tibiricé naquele remoto ¢ vasto Serlao de nosso estado. ds Alé 0 ano de 1906 as bacias do rio Feio, rio do Peixe, Santo Anasticio e baixo Paranapanema figuravam nos mapas de Sao Paulo como “zona desconhecida” e desabilada. Do lado de Mato Grosso, a parle divisa se achava nas mesmas condigGes, e os habilantes do Sul desse estado s6 podiam alcangar a Capital de Sao Paulo e Rio de Janeiro, pelo Paraguai ou Uberaba, obrigados 4 BENEDITO DE GODOY MORONI a percorrer mais de duzentas léguas para alcangar ponto de Estrada de Ferro. Havia, portanto grande e premente necessidade de abrir-se comunicacao entre estes dois estados. Mas, 0 empreendimento era dispendioso e de dificil execugao. Os prdprios Governos de Sao Paulo e de Mato Grosso dele se arreceavam. Foi entao, quando 0 Dr. Francisco Tibiricé, pauilista de antiga e fina raga, patriola e empreendedor, entrando em entendimentos com os Governos de Sao Paulo ¢ Mato Grosso, obleve concessio para abrir uma Estrada de Rodagem que, partindo de Sao Mateus, na comarca de Campos Novos do Paranapanema, estado de Sao Paulo, atravessando o rio Parand, fosse ter a Vacaria, no estado de Mato Grosso Precisando, porém, o Dr. Tibiricé, um sécio para ajudélo a realizar Empreendimento de tal monta, neste sentido entendeu-se com 0 Coronel Artur de Aguiar Diederichsen, proprielério de grandes Fazendas de café em Ribeirio Preto, e com razio tido e havido como homem de acao e empreendedor, ¢ pelo lado materno também Paulista de velha raga O Coronel Diederichsen, sempre entusiasta dos grandes projelos, achando a ideia bela e patridtica, cuja execucao, para homem de seus recursos ¢ energia seria “canja”, com toda boa vonlade e animo, entrou em acordo com o Dr. Tibirica e organizaram enlao, a firma Diederichsen e Tibiric4, na qual leve inicio esse empreendimento. Para execugao desse patridtico plano foi combinado o seguinte: O Dr. Tibirigé se encarregaria da abertura da Estrada do lado de Mato Grosso e da instalagao e geréncia do Porto Tibirigd, ficando a cargo do Coronel Diederichsen, abrir a Estrada do lado de Sao Paulo, e fornecer a Firma tudo de que ela necessilasse para levar avante a Empresa Assim combinado, 0 Dr. Tibirigd seguiu para Mato Grosso ali atacando imedialamente os servicos que ficaram a seu cargo executar. E 0 Coronel Diederichsen, a cujo cargo ficara a abertura da Estrada do lado de Sao Paulo, entendendo-se comigo, propés-me a diregao desse servico Atraido pelo desconhecido, ¢ lenda dos nossos Serlanejos, aceilei com entusiasmo a incumbéncia, e vindo a Campos Novos, de onde a Estrada deveria partir em demanda do rio Parané, ali contralei a sua abertura com 0 Cel. Francisco Sanches de Figueiredo, chefe politico de real prestigio neste serlao, e grande conhecedor dos habitos ¢ ardis dos Indios Coroados, com os quais jé tivera sangrentos recontros. Foi ele um dos serlanejos que mais concorreram para manler em respeito essa altaneira e aguerrida tribo 42 HISTORIA DE PRESIDENTE EPITACIO dos Coroados que, por longos anos, heroicamente defenderam a entrada dos nossos sertées, onde, em plena liberdade e felizes, criavam seus filhos, futuros defensores desse resto de Patria de seus antepassados. am ser agora perlurbados. Mas... Que fazer?! A civilizacao tem exigéncias € 0 progresso nao lem coracao. O Cel. Sanches, conhecedor de todas as dificuldades que iria encontrar, de tudo preveniusse, ¢, organizando uma grande turma de Sertanejos experimentados, em maio de 1906 deu inicio aos trabalhos, partindo de Sao Mateus rumo ao Parana em Porto Tibiricé. Acompanhei 0 servico, da Boca da Mata ao Pouso Feio, donde voltei a Ribei Diederichsen, cuja geréncia estava a meu cargo 0 Preto para alender a administracao das fazendas do Coronel Quando vollei, j4 0 Cel. Sanches estava acampado no Cérrego do Feiticeiro, Ali fiz. canoas e, com cinco companheiros embarquei no Ribeirao Sanlo Anaslécio, em demanda ao Parand Na manha do quinto dia de penosa navegacao a proa da minha tosca, porém, sélida piroga banhava-se nas claras e profundas éguas do grande rio O panorama era deslumbrante. A vista tio abaixo, nao encontrava terra. Era céu e agua. Depois de gozar por algum lempo esse maravilhoso panorama, aportei a ilha que ali existe, quase em frente & barra do Santo Anastécio onde permaneci os dias necessérios para explorar 0 barranco de Mato Grosso e escolher o Porlo mais apropriado para a abertura do Porto. Terminada esta exploracao ¢ resolvidas as derrubadas que eram necessérias ali se fazer, subi novamente o Santo Anasticio, encontrando 0 Cel. Sanches j4 acampado na Areia Dourada. A distancia dali ao Parand era cutla, a lurma do Cel. Sanches estava completa, havia satide e ordem, e 0 pessoal com pressa de chegar ao Parana. Podia-se dizer que a Estrada estava aberla. Dei entio instrugdes ao Cel, Sanches quanto as derrubadas que ele leria de fazer, na margem do rio, para a aberlura do Porto, pastos e rogas e voltei para Ribeirao Preto. Ali chegando, fiz ao Coronel Diederichsen clara e minuciosa exposigao de tudo que fiz ¢ observei, tanto no rio Parana como nesta zona, ¢ também das possibilidades futuras. Fui entao por ele informado que, o Dr. Tiribic, tendo ja terminado em Mato Grosso a parle que ficara a seu cargo executar, ja se achava de volla a Sao Paulo, e, por molivo de satide nao podia mais se encarregar da instalagao e Geréncia do Porto Tibiriga. A vista desse primeiro imprevisto, 0 Coronel Diederichsen me propés encarregar-me eu, e enlao, a BENEDITO DE GODOY MORONI definitivamente, de executar os planos da Empresa. Embora conhecesse perfeitamente todos os perigos, dificuldades e desconfortos que iria enfrentar, aceilei. Nesta ocasiao, a maior dificuldade que encontrévamos, era sobre os transporles para abastecimentos do pessoal que trabalhasse em Porto Tibirig4. A Sorocabana estava ainda em Manduri, a sessenta léguas de distancia, e os carreiros e tropeiros desta zona, no se animavam a fazer a travessia da mala, receosos dos alaques dos Coroados, sobre cujas faganhas, havia aqui est6rias terrificantes. A vista disto, resolvi fazer os nossos transportes pelo rio Tielé, comegando pelo da minha expediga0. Mas, precisévamos enlao, quase que de uma frola, pois, além do pessoal, era preciso trazer também um grande carregamento de viveres, sementes, ferramentas para todos os misteres, enfim, tudo que requer a instalagao de um Estabelecimento desta natureza. Além disto, sabiamos que a navegacao do Tielé era muito perigosa. Portanto era preciso que esta Frola fosse organizada ¢ dirigida por pessoa pralica ¢ de grande competéncia. Eu nada entendia ainda, de navegagao de tal natureza Apelamos entao para a reconhecida competéncia do Cel. Paulino Carlos de Arruda Botello. Paulista dos legitimos, homem de ago evelho “Almirante” do Tielé, onde era fazendeiro. Assim combinado, enquanto 0 Cel. Paulino Carlos, em Ibitinga, organizava a Flotilha, eu, em Ribeirao Preto, organizava o pessoal que teria de descer comigo e reunia mantimentos, ferramentas e tudo o mais que requer uma expedicao para tal fim. Em fins de Novembro estava a Flotilha pronta e ancorada no Porto Laranja Azeda, na comarca de Ibitinga, onde também ja se achavam reunidas todas as cargas destinadas a Porto Tibiric4. No dia vinte ¢ oilo desse més eu ali chegava com 0 pessoal completo e pronto para descer. No mesmo dia chegava também, com sua turma de pilotos e vogueiros o Sr. Pedro Passos, velho conhecedor do Tielé ¢ Parana e respeilado Chefe de Mongies. No dia seguinte, sob a direcao suprema do Gel. Paulino Carlos, as barcas foram carregadas e entregues, cada uma a seu piloto, sob a direcao direta do Sr. Passos. No dia primeiro de dezembro de 1906, ao despontar do Sol, sob ocomando em chefe, do Cel. Paulino Carlos, a nossa flotilha, composta de nove barcas de madeira e uma grande lancha de ferro, largava as amarras no Porto Laranja Azeda, ¢ veloz deslizava Tieté abaixo em demanda do Parana Nesse dia almogamos no Porto do Vamicanga onde nos esperava 0 Sr. Ovidio Braga, sobrinho do Cel. Paulino Carlose que mais tarde, com seu bom + HISTORIA DE PRESIDENTE EPITACIO senso, calma e compeléncia, lao bons servicos prestou a esta Empresa. Ali recebemos os tillimos recursos de que nossa flotilha precisava e continuamos a rodar pelo serlao do Tieté abaixo alé o Salto de Avanhandava, onde chegamos no fim de alguns dias de penosa e perigosa navegagao. Ali falhamos alguns dias para fazer-se a varacao, que consiste em lirar-se as barcas fora d’agua, acima do Salto, e, arrasté-las por terra, contornando este ¢, novamente langélas ao rio logo abaixo em ponto navegével. Este servigo € moroso, pesado e muilissimo trabalhoso. Ali tivemos também de reparar as barcas que se estragaram de encontro as traicoeiras pedras do Tielé que estava muito baixo. Porém, o sempre eficiente comando do Coronel Paulino Carlos tudo previa e acudia. Reparadas as barcas, foram elas novamente carregadas, jd abaixo do Salto, sem falta de um s6 volume ou qualquer outro fato a lamentar-se; tal foi a eficiéncia do comando do Coronel Paulino Carlos Estava cumprida a missio do “Almirante” do Tielé, que era dirigir a flotilha aléo Avanhandava, durante cujo trajeto eu devia habilitar-me a assumir 0 seu Comando ‘Terminados os tillimos preparalivos e a mareagem a postos, o Coronel Paulino Carlos, acredilando ter me transmitido todos os conhecimentos que um “Almirante” deve possuir, transferit-me 0 Gomando da flotilha e com um abraco de despedida nos separamos Ele, rio acima, gozando a alegria que o éxito nos traz, recolhia-se aos seus penales. Eu, rio abaixo, apreensivo, e perfeitamente consciente das grandes responsabilidades que me pesavam sobre os ombros, s6 linha para arrimo moral, a grande Deusa que jamais abandonaré o homem, a Esperanca No fim de alguns dias de trabalhos e arriscadissima viagem, chegévamos, sem falo a lamentar, ao Sallo do Ilapura, antiga Colina Militar, hé dezenas de anos abandonada, mas cujas ruinas, atestam ainda, a enorme soma de energia ali outrora despendidas em defesa de nossa Patria ameacada pelo Ditador Paraguaio Francisco Solano Lépez. Nesta Colénia, ainda quando guamecida pelas forcas do Império, nasceu 0 eximio piloto “Corto”, 0 mais habil e arrojado piloto do Tielé. Era o maior conhecedor dos canais, corredeiras e perigos desse traigoeiro rio. Do Avanhandava para baixo foi ele o nosso Guia, sempre alegre e jocoso logo conquislou 0 coracgao de todos. No Itapura permanecemos alguns dias, para fazer a sua varacao e reparar as barcas jé bastantes avariadas pelos inevilaveis trompasios, que a pericia do Corré, apenas conseguia, nao serem fatais. No dia vinle e oilo, a tardinha, a flotilha toda, perfeitamente reparada, flutuava ancorada rio abaixo do Salto, 45 BENEDITO DE GODOY MORONI jd carregada e pronta para partir. Estava vencida a mais penosa e perigosa etapa da nossa viagem. Ali pernoitamos pela ultima vez no lendério Tielé. No dia seguinte pela manha, eu, j4 entao, conscientemente confiante na eficiéncia do meu comando, mandei sollar as amarras e duas horas depois a nossa flotilha entrava no grande rio Parané A grandeza do panorama que esse majestoso rio nos oferecia, a todos empolgou. Reinava jé alegria na tripulacdo. A confianga no éxito da nossa expedicao, que as agruras da navegacao do Tielé comegara ja a arrefecer, voltava novamente € 0 enlusiasmo invadia todos os coracées. Tal era a grandeza e majestade dessa Nalureza pata cujo seio o Destino nos impelia. Os perigos tinham desaparecido com 0 Tielé. A navegacao no Parana era franca ¢ bela. Porto Tibiriga estava perto. A tripulacao queria chegar, vibrava. Os vogueiros curvados sobre 0 cabo de suas vogas davam tudo que podiam em forga e energia. A flotilha voava, Parana abaixo, em demanda do Porto Tibiric4, termo de nossa viagem. Enlao o Chefe da flotilha, j4 seguro deste primeiro éxilo do seu empreendimento, num tltimo olhar de despedida, vislumbrando ao longe, do Tielé apenas a sua Barra, dele se despediu com saudades e gratidio, pois se nele sofreu, também muito aprendeu. Nesse dia e seguinte pernoitamos no barranco do Paranda. E no dia primeiro de janeiro de 1907, ao meio dia, depois de trinta e um dias de penosa navegacao, a nossa flolilha estava ancorada no Porto Tibirigé. Era o termo da nossa viagem. A primeira etapa estava vencida No dia seguinte 0 Sr. Pedro Passos, Chefe da marinhagem, e que lao bons e valiosos servigos nos prestou, deu descanso ao pessoal e no oulro dia, embora 0 Parana estivesse tansbordando, de gancho voga e forquilha, zarpou para 0 Tielé, sia morada e de quase todos os companheiros que com ele vieram e voltavam. Ficamos sds. Contamo-nos, eram vinle e cinco ao todo. Estavamos completamente isolados do resto do mundo e s6 podiamos contar com os nossos préprios recursos. Esla siluagao impressionou. Aqui comega a ingenle luta que tive de enfrenlar para a instalacao do Porto Tibiricd. O Cel. Sanches havia executado com pontualidade os servigos que ficaram a seu cargo. A Estrada estava aberla e as derrubadas prontas, porém, estas completamente perdidas; tinham sido queimadas fora do tempo pelos indios Xavantes. Este foi o maior e mais grave contralempo que na minha chegada sofri 46 HISTORIA DE PRESIDENTE EPITACIO Eu conlava com essa derrubada para as plantacées necessarias para a alimentacao do pessoal. Outra derrubada nao podia fazer, estévamos j4 fora da estacao prépria, a siluacao era grave. Devido a impossibilidade de encontrar-se carroceiros ou tropeiros que se encarregasse do transporte de géneros para 0 Porto, pois todos eles pelavam- se de medo dos Coroados, haviamos resolvido fazer pelo Tielé os transportes que fossem necessérios, alé que o Porlo Livesse produgao de cereais. Ora, tendo eu, na minha descida pelo Tielé, verificando 0 quanto a sua navegacao é precaria, e estando perdida a derrubada feila pelo Cel. Sanches, s6 nos restava uma solucao; afrontar, de qualquer forma, os perigos da travessia da mala, e por ela transporlar nossas cargas, Estudando 0 caso com a alengao que ele merecia vi de pronto que, a primeira coisa que linhamos a fazer, para que esta solugao nao falhasse, e garantisse definitivamente os servigos de transporles para 0 Porlo, era estabelecer na boca da mata e fim dos campos do Laranja Doce, um Posto de recursos, para onde viria um homem animoso e prilico dirigi-lo, eis a razao primeira da fundacao de Indiana. Fazendo minucioso relatério de tudo, escrevi ao Coronel Diederichsen pedindo-Ihe que, se estivesse de acordo, me mandasse imediatamente ao Porto o Sr. Alonso Junqueira, homem pratico, animoso e de aco, que nesse tempo administrava a Fazenda Novo Niagara proxima a Estacao de Manduri No més seguinte, Fevereiro, chegava ao Porto o Sr. Junqueira, com carla do Coronel Diederichsen concordando com todas as minhas sugestdes € aulorizando-me a dar ao Sr. Junqueira as necessirias instrucoes. Depois de tudo maduramente estudado e o plano, para fundagao desse Posto, definitivamente estabelecido, o Sr. Junqueira voltou ao Novo Niagara onde ia organizar turma e prevenir-se de tudo que era necessdrio para vir por em execucao 0 plano combinado Infelizmente o Sr. Junqueita apanhou febres durante o lempo que esteve no Porto ¢ s6 no dia quatro de Junho pde chegar ao lugar onde se acha hoje a Sede da Fazenda Indiana. Ali se abarracou, e no dia seguinte armava o primeiro rancho coberto de zinco que este serlao viu. Estava fundada Indiana Durante este tempo eu lutava no Porto com grandes e imprevistas dificuldades. Explorando a margem de Mato Grosso verifiquei que, devido aos seus grandes banhados e pantanais, s6 existe ali um lugar que se presta para o Porlo de embarque de gado, que é na Barra do rio Pardo com o Parana Porém, este, quando ali cheguei jé estava lomado pelo major Manuel da ag BENEDITO DE GODOY MORONI Costa Lima, vulgo “Major Cicilio”, também concessionario em Mato Grosso de uma Estrada de Rodagem para o mesmo fim que a nossa Major Cicilio, malo-grossense presligioso, de acao, enérgico e sagaz, logo que soube que em Sao Paulo se iniciava a abertura da nossa Estrada, nao itubeou, imedialamente abriu a sua ¢ lomou posse da Barra do rio Pardo para onde transportou uma pequena lancha a vapor ja bastante trabalhada e com a qual lencionava fazer a travessia do Parané e inaugurar a sua Estrada Verificado nao haver outro ponto em condigées de servir para Porto, s6 nos restava dois caminhos. Abrir luta, ou entrar em acordo com o Major Cicilio. Preferimos este. Mas, isto era dificil. © major era duro e dava grande valor a sua Concessao. Finalmente, depois de penosas demarches conseguimos chegar a acordo. O Major Cicilio vendeu-nos a sta Concessio, inclusive a lancha, com a qual, embora fraca e perigosa, iniciei a travessia do Parana. A maior dificuldade estava vencida. Mas... Ainda faltava muito. Era preciso fazer as derrubadas para as inslalacdes, roas & pastos, construir os prédios para a instalagao do Porto e seu pessoal, construir a balsa, transportar e montar vapores, fazer a ponte sobre o Santo Anastécio, enfim, tudo quanto requer uma Empresa desta nalureza. Quase todo pessoal alacado de impaludismo, desanimava. Nao tinhamos bois carreiros para transporte do material para as construgdes. O tempo de muita chuva nao permiliu que se queimassem as derrubadas, enfim, uma série interminavel de ingentes dificuldades e contratempos que s6 mesmo uma firme vontade de vencer poderia enfrentar. Finalmente tudo foi vencido, e antes do fim do meu segundo ano de estada naquele lugar, a primeira parte do nosso programa estava terminada. O Porto estava instalado com todas as suas dependéncias ¢ reservas; a balsa pronta; 0 vapor montado e ja fazenclo a travessia em dtimas condigées; a ponte do Santo Anaslacio pronta; todos os servigos de lerra e agua organizados, 0 pessoal completo; a Estrada Boiadeira em franco transilo e o nome desta Empresa, jd entao, Companhia de Viacao Sao Paulo Mato Grosso, cercado de grande prestigio lanto aqui como em Malo Grosso, onde a ela s6 se referiam com simpalia e respeito. A minha missao eslava lerminada. Entregando entao a Geréncia do Porto Tibiricé ao Cel. Paulino Carlos, e, consciente de ter, com lealdade e perseveranga cumprido o meu dever, retire me para Ribeirao Preto a procura de algum repouso, de que tanto carecia Preciso agora, solenemente consignar aqui que, os meus esforgos ali despendidos, jamais teriam conseguido o éxilo que os falos demonstram, se HISTORIA DE PRESIDENTE EPITACIO nao fora a tenacidade do Coronel Diederichsen, os imprevistos, comegando pela compra da Concesséo do Major Cictlio no valor de duzentos contos mais ou menos, e com a qual nao se contava, obrigaram-no a dispéndios maiores, muilo maiores do que se esperavaa. As dificuldades de ordem material apresenlaram-se maiores, mas muito maiores, do que se supunha. Mas, a stia férrea vonlade de levar avanle esta Empresa nunca esmoreceu, a tudo ele resislia ¢ providenciava. Nunca sofri no Porlo as consequéncias da mais leve falta de providéncias. O servico de retaguarda, do qual 0 éxito dos grandes empreendimentos sempre dependeu, era perfeito. JIL Chegando a Sao Paulo e expondo ao Coronel Diederichsen 0 que se podia esperar do transito esponlaneo pela nossa Estrada, verificou-se, contra toda expectaliva, que era insuficienle para remunerar o capilal, j4 lao elevado que esta Empresa enlao representava ‘A produgao de gado, do Sul de Mato Grosso saia toda para Minas e Barrelos. A corrente para aqueles mercados jé eslava estabelecida. Portanto, era preciso atraé-la para o nosso Porto. Mas, nao havendo ainda invernadas na alta Sorocabana, era preciso canalizé-la para as invernadas de outras zonas Mas isto era dificil. Da agao espontanea dos criadores de Malo Grosso nada se podia esperar. A sua freguesia era loda Mineira, Tornava-se, portanto imperiosa a inlervengao da nossa Empresa nesse mercado Mas, de que modo? Ela nao eslava preparada para isso Foi entio, quando surgiu a ideia de transformar-se a Indiana, de simples Entreposto, num grande centro distribuidor de gado de Malo Grosso. Tomada esta resolucao, fui a Malo Grosso estudar todas as. suas possibilidades Percorrendo quase lodo Sul de Malo Grosso, estudando suas possibilidades, criagao, sistema de trabalho e hébitos, tive ensejo de travar duradouras relagées de amizade com o seu heroico, inteligente e hospilaleiro povo Na minha volta, apresentando 0 meu relalorio ao Coronel Diederichsen ficou definilivamente resolvido ampliar a nossa Empresa com mais oulros ramos de alividade, sendo as principais 0 negécio de gado e estabelecimento de casas comerciais em ponto onde pudessem ser abastecidas pela nossa navegaciio do rio Parand e seus afluentes. Naquele tempo, em Mato Grosso, a nao ser 0 comércio de gado, qualquer 40 BENEDITO DE GODOY MORONI outro ramo era quase impossivel, pela caréncia de transportes. Ora, podendo a companhia de Viacdo navegar os rios que desciam daquele estado, esta dificuldade, para ela, nao existia. Portando, qualquer comércio dependente de transportes que ela ali estabelecesse, por muilos anos ainda, seria quase que, privilégio seu. Esta foi a razao CAPITAL das nossas Casas comerciais em Mato Grosso. -Il- Tudo maduramente combinado e estudado, voltei a Mato Grosso e ali tomei asnecessérias providéncias para estabelecimento de uma casa comercial em Porto Alegre, servida pela nossa navegacao do Inhandui, e outra em Entre Rios, grande centro criador, garantida pela nossa navegacao do Ivinhema Naquele tempo, em Entre Rios, s6 existiam algumas casinhas a beira do cérrego e 0 ponto que os moradores indicavam para o largo da fulura Mattriz. Para poder demarcar o terreno onde seria edificada a nossa Casa de comércio, me foi preciso demarcar e esquadrejar o Largo e determinar e alinhar as futuras ruas, para s6 enlao, poder fixar 0 ponto para edificagao do prédio, cuja primeira estaca foi por mim cravada em presenca dos Grandes da Terra que ja comecavam a ter confianga no futuro. Porto Alegre seria 0 Centro da Seco de Mato Grosso ¢ para ali seriam canalizados todos os negécios de gado a fazer-se nesse estado. Ali seriam recolhidas as boiadas que se comprasse. E, a proporgao que fossem entrando e descansando, depois de selecionadas, iriam seguindo para Indiana, que se lornaria enlao 0 maior Centro distribuidor de gado para a engorda que Sao Paulo iria ter. Enlusiasmado por esse plano, que s6 a falalidade poderia fazer falhar, & sua execugao dediquei-me com oda energia de que a minha nalureza foi capaz, Bem pouco, talvez. Porém, bastou Terminados os servigos que eram possiveis serem feilos por mim em Malo Grosso; adquiridas as propriedades lerrenos que na ocasiao eram possiveis de set adquiridos, lomadas as providéncias, para a aquisigao dos campos de que precisavamos para a formagao de um Grande Centro aquisidor em Porlo Alegre; e delineado o plano geral para a Seccao de Mato Grosso, vollei a Sao Paulo. Apresentando ao Coronel Diederichsen 0 meu relatério, depois de tudo bem estudado e refletido, combinamos os tiltimos detalhes Nessa ocasiao, aceitado, entao definitivamente, a Superintendéncia da Companhia de Viagao que 0 Coronel Diederichsen me oferecia, transportei- 50 HISTORIA DE PRESIDENTE EPITACIO me para Indiana. Centro natural ¢ obrigatorio de todas as administracoes da Companhia de Viacao. Ali fixei residéncia para poder estar sempre em contato direto com todas as secbes, e assim, e s6 assim, poder conscienlemente, superintendé-las. -IV O Sr. Alonso Junqueira, fundador de Indiana, onde residia, assumindo a Geréncia da Seccao Mato Grosso ¢ para ali se transporlando, fundava Porto Alegre ¢ o preparava para o fim a que se destinava O Cel, Paulino Carlos, no Porto Tibirica, com a sua incansavel atividade © energia, exploraya rios, montava vapores, regularizava a travessia e tudo providenciava com eficiéncia Eu, na Indiana, sob a pressiio dos Goroados, que depois do assallo que ali nos deram com sacrificio de trés vidas da nossa gente e que por muilos anos nos rondaram, fazia exploracées, comprava e dividia terras, abria estradas e veredas, inslalava Reliros, planejava e execulava as inslalagdes que ali existem 00s seus vestigios e superintendia a lodas as outras Secoes. Mais ou menos um ano depois de ter a Companhia de Viagao resolvido ampliar a sua Empresa com mais estes ramos de alividade, as suas bases de operacdes estavam fundadas e estabelecidas. Indiana, com suas ramificagdes que se completava em Mato Grosso, garanlia paslagens e abrigo em 6limas condicoes, para um movimento anual de milhares e milhares de rezes e lornava-se, pata o fim a que se destinava, a mais completa e importante Organizagao de Sao Paulo e Mato Grosso Em Mato Grosso, o Sr. Junqueira, completava as instalagdes de Porto Alegre ¢ ali abria a nossa primeira Casa comercial Em Porlo Tibiriga, 0 Coronel Paulino Carlos, j4 com mais um vapor montado, iniciava a navegacao do Parana, Inhandui e Ivinhema. Em Indiana, eu, ja com as instalagdes mais necessirias pronlas, vendia e enlregava em Faxina, ao Coronel Malinho de Almeida, a primeira boiada comprada em Mato Grosso pela Companhia de Viagao. A Empresa estava instalada. Suas principais possibilidades ja em franca alividade e 0 caminho para entrada dos futuros Bandeirantes e Sertanistas estava aberla. A minha missdo estava terminada 51 BENEDITO DE GODOY MORONI Vv Vejamos agora as consequéncias, direlas e indiretas, decorrentes do empreendimento que a Companhia de Viacdo Sao Paulo Mato Grosso acabava de realizar. Foram enormes. Osul de Mato Grosso que, por falla de vias de comunicacoes e transporles, achava-se estacionério, linha agora, em Porto Tibiricd, um seguro Centro de abastecimento, e pela Estrada Boiadeira, comunicagao relativamente rapida e facil com Sao Paulo. Seu mercadonatural. Estava, portanto, resolvida a maior dificuldade com que os seus habitantes lutavam. A nossa Estrada garantia-lhes a exporlacao do gado e a nossa navegacao e Casas de comércio a imporlagao de mercadorias. A situagdo era nova ¢ animadora. O espirilo de inicialiva, j4 quase desaparecido, vollava-lhes novamente e os seus efeitos nao se fizeram esperar. A criagao foi intensificada, 0 comércio de gado desenvolvido, oulras alividades foram iniciadas e toda essa riquissima regiao entrava em franco desenvolvimento. Em Sao Paulo foram muito maiores. Mas para nao abusar da paciéncia do leitor, vou me referir apenas a uma, a principal, ¢ que foi decisiva para 0 progresso desta zona. Devassaclo o nosso Serlao pela Estrada Boiadeira e outras exploracées que fizemos, a zona tomou-se conhecida, e, 0 Governo reconhecendo entao 0 seu grande valor presente e futuro, resolveu abandonar o tragado do Tibagi e trazer a Sorocabana a Porto Tibiriga passando por Assis ¢ Indiana Esta resolugao do Governo, posta imedialamente em execucao, foi decisiva, Estava garantido o futuro e prosperidade desta Regido. Podia-se trabalhar com confianga. E assim aconteceu. Os fazendeiros que agora jé tinham onde se abastecerem de gado para engorda, derrubavam malas e formavam invernadas. Os que ja as possuiam adquiriam boiadas em Mato Grosso para povod-las. Capilalistas de oulras zonas aqui adquiriam terras para formarem invernadas ou colonizé-las. Os engenheiros, advogados, © os “benemérilos Grileiros”, promoviam a divisio das grandes fazendas incultas que aqui existiam e dividindo-as em loles, iniciavam as primeiras colonizagdes. O transito de boiadas intensificava-se. O comércio desenvolvia- se. Os Coroados, assombrados com tanto barulho, retrafam-se, e 0 nosso Serldo, aos poucos, ia sendo desbravado. Enfim, a “Zona desconhecida” do estado de Sao Paulo era agora um centro de vida e iniciativas. Com a chegada da Sorocabana 0 progresso acentuou-se em toda esta Regiao que, 52. HISTORIA DE PRESIDENTE EPITACIO recebendo novo e decisivo impulso, leve esse grande desenvolvimento que lodos admiram, mas cuja génese, poucos conhecem: VE Por motives de forga-maior esta Empresa ainda nao deu os resultados financeiros que se esperava e ainda leve de recorrer a capilais estrangeiros para poder continuar a desenvoler as suas possibilidades. Porém, este assunio, a tinica pessoa que tem compeléncia e auloridade para desenvolvé- lo 6 0 proprio fundador, o Coronel Artur de Aguiar Diederichsen, cujo nome deve ser lembrado sempre com grande simpalia e respeilo, pois se nao fora a tenacidade com que lutou contra as grandes ¢ imprevistas dificuldades que aqui viemos encontrar, esta Empresa teria fracassado logo no comeco e 0 desenvolvimento desta Regiao seria retardado talvez muitos anos ainda, Seria, porlanto de clamorosa injustiga que o historiador que escrever a historia do desenvolvimento do estado de Sao Paulo deixasse de reservar, na Galeria dos Paulistas Iustres, um lugar de destaque para este Paulista empreendedor e tenaz, que foi, de falo, quem abriu este Serlao, ¢ aqui, inverlendo milhares de conlos de réis, por largos anos manteve sozinho, e em estado préspero, este grande Centro de ordem e trabalho que sempre foi, e ainda é, a Companhia de Viacao Sao Paulo Mato Grosso. Nao nego, e muito menos desconhego ou diminuo, o valor do concurso que outros, que vieram mais tarde, prestaram ao desenvolvimento e progresso desta zona, merecendo especial referéncia o Coronel José Soares Marcondes, esse grande e arrojado espitilo empreendedor. Foi ele o organizador e Chefe da maior Empresa de colonizacao que Sao Paulo ja teve, a “Companhia Marcondes”, cuja agao foi decisiva para o desenvolvimento de Presidente Prudente e parle da zona fronleirica do estado do Parand Mas... Vieram depoi Sao os da Segunda hora. Aqui chegaram ja pelos trilhos da Sorocabana oui 0 seu Picadao. O Serlao jé estava aberto. Os indios nao alacavam mais. Ja eslavam calequizados, Os Coroados, pelo Posto-de- Atracao fundado pelo governo Federal na Noroesle, e os Xavantes e Caiuas, por mim, em Porto Tibiric4. Este perigo, que foi sempre o maior empecilho para o desbravamento deste Sertao, jd nao existia. A Regido ja era conhecida Vieram povoa-la. E povoaram. E fundaram Cidades. E lutaram. E venceram, E loda esta rica Regido prosperou. s 0, porlanto merecedores de todo nosso acalamento, e também, de 53 BENEDITO DE GODOY MORONI figurarem com honra na Galeria dos Pioneiros do povoamento das zonas serlanejas do nosso estado. Merecendo, com muila justica, um lugar de destaque o Coronel Francisco de Paula Coularl, que foi quem fundou a Cidade de Presidente Prudente e a cujo desenvolvimento, de corpo ¢ alma dedicou-se, jamais medindo esforcos ou sacrificios para ausiliar ¢ impulsionar o desenvolvimento e progresso desta Cidade que acabava de fundar e da qual, por muilos anos foi o seu Patriarca. -VIL- Nao quero lerminar sem me referir & alual Diretoria desta Empresa, a qual, embora estrangeira, tem agido com patriotismo e tem conquistado merecidamente, geral simpatias e respeilo em toda esta zona de Indiana a Mato Grosso, onde suas alividades se ramificam e terminam Sob a orientagao geral do Sr. Henrique (sic) Sloman, hoje, omaior acionista, e Chefe supremo desta Empresa, embora tenha modificado o primilivo plano para desenvolvimento de suas possibilidades, ela tem conseguido conservar 0 seu prestigio e manté-la sempre em estado de prosperidade. Com 0 auxilio dos grandes capitais que o Sr. Sloman aqui investiu, ela tem conseguido desenvolver as suas principais possibilidades. Merecendo especial referéncia a navegacao do rio Paranda e seus afluentes, cujo servico, se ainda nao é completo ou perfeilo, jé €, perfeilamente salisfaldrio e de alto e reconhecido valor para a grande Regiao sua tributaria, que ainda é pouco habilada, mas para cujo povoamento ela esl4 eficazmente concorrendo com esta navegacdo, que garante agora, aos seus povoadores, transporte seguro € relativamente rapido Com muita raz4o os Diretores desta Empresa lém dispensado especial alencao a esla navegacao, para cujo desenvolvimento lem empregado os maiores esforcos. E justo, patridtico, e atilado. Pois esta navegacao, além de vir, grandemente concorrer para facililar o povoamento das partes ainda desabitadas dos estados de Sao Paulo, de Mato Grosso e do Parana, esta ainda destinada a ser, em futuro nao muito remoto, a grande Via de comunicacao entre o Alto Parana e as Republicas do Prata alé ao Mar, por onde, fatalmente, tera de escoar-se grande parte da nossa produgao, e sera também ainda uma via estratégica de allo valor militar para a defesa de nossa Patria Nao podendo entrar em detalhes, 0 que este trabalho nao comportaria, 5 HISTORIA DE PRESIDENTE EPITACIO limito-me a afirmar que a Companhia de Viagao Sao Paulo Malo Grosso continua a ser um grande Centro de ordem e trabalho onde milhares de familias ganham 0 seu pao, e muito tem concorrido para o progress desta Regiao Estou certo que, se nao houver algum contratempo, ela leré ainda a sua fase de grande prosperidade e 0 St. Henrique (sic) Sloman nao se arrependera de ter investido os grandes capilais que nesta Empresa investitt VILL Procurei relalar com fidelidade, nesta lalvez confusa exposicao, a génese da Companhia de Viagao Sao Paulo Mato Grosso, a razio das stias inicialivas € os resultados diretos e indiretos decorrentes da sua aluagao nesta Regio. Se a memoria e minhas faculdades nao me trairam, espero ter conseguido Leilor amigo, indulgéncia para 0 obscuro autor destas linhas, ele nao entende disto. SEGUNDA EDICAO: Revista e ampliada pelo autor em Margo de 1934 (a)Francisco Whitaker Alforge, buzina de caca ¢ mata de viagem de Francisco Whitaker 55 BENEDITO DE GODOY MORONI CAMINHOS E ESTRADAS MUNICIPIO. DE PRES. PRUDENTE 19i7-1940 Estrada Boiadeira -— estan De Fenno sonocanana mm ESTRADA DE RODACEM HISTORIA DE PRESIDENTE EPITACIO Capitulo 4 — Porto Tibiriga 4.1 Prioridade © objetivo primordial dos desbravadores de Porto Tibirigé era criar uma ligagdo entre os estados de Sao Paulo e de Mato Grosso bem como um servico de “travessia” A partir de 1°/01/1907 sao feilas derrubadas, plantio de rogas ¢ pastagens, alem das construgdes necessarias. A Estrada Boiadeira, que ligava Porto Tibiriga a cidade de Conceigao de Monte Alegre, € concluida. Para navegar os rios Parand, Pardo, Ivinhema e Piquiri é iniciada a construgao de embarcagdes que se juntam a lancha a vapor “Carmelita”, jé bastante trabalhada, comprada do major Manuel da Costa Lima, sendo que esta, segundo a pesquisadora Lygia Carrico de Oliveira Lima, era denominada, também, “Panchita” (in Um cerlo Pioneiro realiza a primeira navegacao a vapor pelos rios Parana e Pardo). Em 1908 0 Capiléo Francisco Whitaker transfere a geréncia de Porto Tibirigé a0 coronel Paulino Carlos Os trabalhos prosseguiram com a construcao de escritdrios, armazém, almoxarifado, oficina mecanica, estaleiro para construcao de embarcacées, casa cla geréncia, colonia dos empregados, reptiblicas para solleiros, hospital, casa de bombas de recalque ¢ caixa d’agua, relata o historiador Wilson Cruz (in anotagoes sobre Porto Tibiriga, 2002), libirigaense nascido em 1933. Tudo edificado na diretriz da hoje avenida Juliano Ferraz Lima, entre os km 4,9 5,2, eram construgées de madeira, abundante naquele tempo. Por volta de 1910, foi instalada caldeira a vapor para movimentagao das maquinas, e produgao da energia elétrica consumida na vila, construida rede de agua, e de estradas Comecavam a aparecer, na época, os primeiros veiculos aulomolores. Os pioneiros da vila continuaram a expandi-la e mais moradores chegavam de todos os pontos do Pais. A Casa de Geréncia, com direito a mirante Caldeira geradora de energia para observagao do movimento das embarcages em travessia, também servia de ponto para realizacdio de piqueniques. 57 BENEDITO DE GODOY MORONI - Vista parcial do Porto Tibiricd observada da atual avenida Tibirigé 4.2 Travessia Existiam, nas duas margens do rio, dois sinaleiros em forma de enormes bolas, em chapas galvanizadas, pintadas de vermelho e verde. Quando igadas, avisavam que havia passageiros, vefculos i ou boiadas para fazer a travessia do rio. Um rebocador saia do alracadouro (nee paullista, no lado direito da avenida Juliano Ferraz Lima, altura do km 4,1, levando uma balsa vazia propria para transporte de gado. Ela retormava com seus curtais laterais cheios. No corredor central vinham vefculos, passageiros ¢ a tropa das comitivas. De trés a seis horas eram —consumidas —na_travessia, Tibi Balsa para a travessia de gado de Porto ied a Porto XV dependendo da condic&o do tempo ou da estagao de cheia do rio. 43 Tecnologia A Companhia de Viagao §. Paulo Mato Grosso (CVSPMG) desbrava e constréi a vila Tibirigé, a estrada Boiadeira para Indiana, uma exigéncia para a instalagao do porto, e tudo mais. Para transportar gado de Mato Grosso a Sao Paulo pagava-se pedégio pelo uso da Estrada Boiadeira, pela travessia em balsa pelo rio Parana, bem como pelo uso dos pousos e pastos. A histéria da conta das dificuldades para a implantacio da navegagao no rio Parané, a conclusao da Estrada Boiadeira para Indiana e a vila Tibirig4, superadas gracas aos trabalhadores de Porlo Tibiricé. Eram descendentes de alemaes que trouxeram, com a CVSPMG, cultura e tecnologia de origem europeia, avancada e rara na época. Os imigrantes tinham conhecimentos especificos, que se somaram aos clos brasileiros, em geral nordestinos, que oriuindos da Bahia, traziam em suas bagagens a experiéncia da navegacdo fluvial no rio Sao Francisco. Assim, as oficinas faziam milagres, fabricando pecas nao existentes nos HISTORIA DE PRESIDENTE EPITACIO mercados mais proximos. Usava-se muilo 0 torno mecanico, a freza e a solda elétrica. Tinha trabalho: ferreiros, caldeireiros, carpinteiros, pintores, ajustadores, mecanicos, maquinislas e outros profissionais. Fabricavam-se, da coroa dentada ao mais simples parafuso de rosca soberba. Grandes nomes passaram por Porlo Tibiric4, como Marcelino Celestino de Oliveira, Joao Batista. dos Santos—o mestre Jodo, Valdemar dos Santos, Anténio Benetti, Conrado Oviedo Gongalves, Estanislau Ascéncio, Luis Soares da Mola, Joaquim dos Santos, Chalaca, Rafael Cruz, José Dionizio dos Santos, Nelson Funciondrios da oficina de Sousa, Geraldo de Sousa, Marliniano Chaves, Sebastido Alves de Sousa, Natalicio Moreira dos Santos, na mecénica. Comandantes, pilotos, marinheiros ¢ administrativos Guilherme Borges dos Santos, Artur Mazzine da Silva, Joaquim da Rocha, Jonas José de Deus, Olegario Rodrigues da Rocha, Genésio Xavier Duque, Mauricio Xavier Duque, Erasmo Ferreira da Silva, Dercilio Alves, José Carlos Machado, Anténio Brandao Teixeira, Vicente Cardoso da Paz, José Fernandes de Amaro, Carlos José dos Santos, Eliseu Nunes de Sousa, José Franca de Almeida, Madaleno Gomes Chaves, Gaspar Chaparro Vilhalva, Martins Ramires, Baiano, Ermirio Menezes da Sika, Valler Pereira dos Santos, Herculano de Oliveira, Joao Rocha, Joao Ferreira da Silva (Seu Pidoca), Pedro Ferreira da Silva, Sebasliao Moreira dos Santos, Nicomedes Rodrigues Martins, José Pereira dos Santos, Pedro Morais, Joao Batista dos Santos, Joao Santana, Manuel Santana, Januério Nunes de Freilas, Belmiro Pimenta, Lauro Romao Rodrigues, Egidio Alves de Sousa, Valdemar Gomes Martins, José de Paula, Martins Benegas, Cristovao de Oliveira, Claudionor Ferreira da Silva, Orli Caceres, Laurindo Zinezzi, Luis Farinha, Isaias Benedito de Sousa, José Francisco dos Santos, Germano (Alemao), Andrelino Novazzi, Arménio Macério Ribeiro, Joao Ferreira da Silva (Ferreira), Euclides de Ataide Pacos, Deocleciano dos Santos Araujo, Salvador Zinezzi, Salvador Lopes, Paulo Lopes, Adolfo Muntoreano, Domingos Mauricio de Jesuz, Joao Mendes de Oliveira, Amaldo Xavier Duque, Carlos Alberto dos Santos, Marino Amarante Ribeiro, Itaci Guaracy Novazzi, Wilson Cruz, Joao Mendes de Oliveira e outros, na navegacao. 50 BENEDITO DE GODOY MORONI Senudinho, encontro de trabalhadores do Tibiried 44 Estaleiro Na década de 1910, a CVSPMG inicia a construgao, em estaleiro préprio, de suas embarcagoes. O primeiro vapor a navegar foi o vapor Guaira I, que fazia 0 trecho Porto Tibirica/Porto Guaira (PR), transporlando passageiros e cargas. Por sua precariedade, navegou somente alguns anos, até deteriorar-se préximo ao kn trés, onde era a oficina mecanica, Para afastar as criangas do local, dizia-se que o mesmo era assombrado Foi construido o vapor Rio Brilhante ~ (O Papagaio Depenado) em homenagem a cidade de Rio Brilhante (MT) - antigo “Entre Rios”. Sua rota era Porto Tibirigé/Entre Rios (rio Ivinhema), com o transporte de passageiros e cargas Ovapor Rio Pardo, homenageando o rio do mesmo nome, recebeu depois o nome de Guaira II, também nao leve vida longa. Devido a sua altura nao Ihe dar estabilidade, era impedido de navegar nos cérregos. Seu principal trabalho foi participar da 1" Carta Hidrografica do Rio Parana no Trecho Alto Parana (Porto de Jupi — MS a Guaita — PR entre 1956 e 1961) que perdeu sua validade com a formacao do lago da represa hidroelétrica Sérgio Motta. O Guatra II terminou deteriorando-se préximo a Bomba de Agua (hoje Areial). Nos anos 1918/1919 chega da Alemanha o vapor Rio Parana. Ele estava desmontado em trés partes. Conta-se que a parle central, com cerca de 15 metros de comprimento, teve que ser alirada ao mar devido a temporal enfrentado na travessia para o Brasil. Assim, s6 chegaram ao destino a proa ea popa. Adaplacao teve que ser feita. O mesmo era utilizado no servico de transporte de passageiros e cargas. HISTORIA DE PRESIDENTE EPITACIO O vapor Tibirig4, lolalmente de ferro, foi a maravilha da navegacao do rio Parané na categoria de turismo-luso, Era dotado de camarotes com luz elétrica, ventiladores, venezianas, camas e pias individuais, salao de jogos, sala de estar, sala vip, salao de restaurante luxuoso onde imperava a cor dourada. Possufa, ainda, escadarias de madeira totalmente envernizadas, cozinha internacional, casa de comand, amplos corredores laterais, casa de maquinas de uma limpeza impecével ¢ demais comodidades. Hoje, modificado, encontra-se em Barra Bonila (SP) Navio Tibirigd Operaram em Porto Tibirigé também rebocadores, sendo o XV de Novembro utilizado para a travessia do rio Parana e o Amambai, na navegacao dos rios Pardo (Porto Alegre) e Ivinhema, (Porto Entre Rios). Era utilizada a lancha Guassu para servicos auxiliares, havendo ainda chatas de madeira e de ferro, além de balsas para transportar boi em pé. 4.5 Esportes A CVSPMG construiu campo de futebol na parte central da vila Porto Tibiriga, gramado, cercado com cabos de ago e palanques de trilhos, Plantou uva japonesa e cedros, arborizando toda a area que rodeava o campo. Alé hoje, nao se sabe a razao da destruigao do mesmo Construitt ainda, um salio, paleo dos grandes bailes do E.C. Fluvial, também ulilizado para exibicao de filmes e realizacao de festas. Nos idos de 50, a Grande Orquestra Cassino de Sevilha, da Espanha, a de Pedrinho de Guararapes, a de Tobias, os Trés do Rio e oulras se apresentaram ali 61

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