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Introdugao: Os lugares do historiador-divulgador ‘Ana Paula Tavares Teixeira e Bruno Leal Pastor de Carvalho Em entrevista concedida a Francesco Maiello no inicio dos anos 1980, o historiador francés Jacques Le Goff destacou o “triunfo da his- téria” em nossa sociedade. Refiro-me 4 procura do grande puiblico a que assistimos. Se langarmos um olhar pela imprensa, pelas revistas, pelos livros, pelos mass media como 0 ridio € a televisio, pelo mimero de obras historicas publicadas pelas editoras e pelas respectivas vendas, o triunfo da historia é inegé- vel; € uma realidade para a qual os proprios interessados nao estavam preparados. (2009, p. 8) Le Goff, contudo, de forma perspicaz, advertiu seu entrevistador logo adiante: “desejaria fazer-lhe notar que, quando falei de éxito e de triunfo, falei da Histéria e nao do historiador” (p. 11). Passados 40 anos, o “triunfo da histéria” néo apenas persiste como também se desdobrou em outros tantos objetos que sio vorazmente consumidos no meio social: biografias, blogs, documentatios, podcasts, filmes, palestras, jogos de tabuleiro, jogos eletrdnicos, jogos de cartas, eventos comemorativos, aplicativos, videos, um canal de televisto to- talmente dedicado & Historia e toda sorte de “produtos histéricos”. A Brande questo para nés que fazemos da interpelagio do passado um tkio € que, tal como antes, essa demanda social continua a ser pela ‘storia e nao por historiadores. aa patty feito por Le Goff refere-se ecbretndo aos paises lo pais, on eed Unidos, mas parece se aplicar tam| i 0 Bo isso nao ee di istéricos tém desfrutado de grande popularicace, ms izer que os historiadores ocupem um lugar proemine 10 em nosso meio socal, ou que sjam eles a principal referéncia dese enorme piblico interessado em Hist6ria, Y / Na verdade, sZo ainda poucos os historiadores que tém se dedicady a divulgar o resultado de seu proprio trabalho para.o sande piblicg Meso aqueles que se interessam pela audigncia ampliada, a despeitg de toda a qualidade que possam ter, estio onge de serem os mas in- fuentes. io os jornalistas os grandes veiculos de midi € 0 cada vey mais onipresentescriadores de conteido para a internet em sua mai- tia independentes, que detém os recursos ¢ as habilidades para falar com o piblico leigo e o poder de determinar os temas ¢ as discussoes histéricascirculantes no meio social. Outros tempos de divulgacao ‘Nem sempre foi assim. No século XIX, antes de a disciplina se esta- belecer na universidade, a imprensa foi um lugar de trnsito para aque- les que atuavam como historiadores. A Hlistéria aparecia ai de forma bastante difusa, Esses historiadores escreviam colunas, memoriais, obi- tuirios,faziam andlises politicas, descreviam perfis de homens podero- sos, anunciavam livros de Histéria que tinham acabado de chegar da Europa, documentavam suas viagens, descobertas ¢, em alguns casos, publicavam fasciculos que mais tarde seriam langados como livro. Tam- bbém naquele século, podemos dizer que o Instituto Histérico e Geo- sgrifico Brasileiro (IHGB) esteve frente de priticas que podemos con- siderar de divulgacio de Histéria Sio conhecidos seus concursos sobre Histéria do Brasil, notas publicadas na imprensa, revista ¢ reunies. No século XX, esse tipo de divulgaglo vai ganhar um novo e grande impulso com 0 processo de modemnizacio do mercado editorial brasi leiro. O escritor Monteiro Lobato € 0 seu sécio, Marcondes Ferreira, ti- vveram af um papel pioneiro quando fundaram, em 1925, a Companhia Editora Nacional. Repetindo uma pritica jé corriqueira no mercado europeu,a editora de Lobato e Ferreira investiu no formato de colecdes. Em 1931, langou uma das principais de seu catélogo, a “Brasiliana’, parte enti de um projeto maior e mais ambicioso intitulado "Bibliote- a Pedagégica Brasileira”. A colegio estreou justamente com uma obr histérica: Figuras do Império, de Antonio Baptista Pereira, No total > sgl 40 obras foram publicadas a6 1993, quando “Basan? fo tra mua (Hallewell, 2017p. 78). “atatoe nomes da Histriae das Citacas Socials no Bras pari “is *Brasiliana’. Sérgio Buarque de Holanda publicow dentro rio um de seus mat Famosos esaos sobre o desenvolvimento ea dren brasleico, Visdo do paras: Os motives denice no desebrimenta pi lonizasa do Brasil}& Gilberto Freyre contibuia com ts obras: ‘Graton e mucambes, Novo mundo nos trépicose O exravn nas antincas de sts pases do véeuo XIX, Estio na. colegdo ainda muitos outos for qe se tomnaram fimosos no pensamentohistoriogifco bras piri como Histériaecondmica do Brasil (1500-1820), de Roberto C. Shaonsen, Extudos sobre historia do Brasil, de Ernesto Ennes, e Eitudee ye bistoria colonial, de Héio Vianna, |A “revolugao” editorial da Companhia Editora Nacional foi funda- mental para conectar 08 historiadorese a sua produsio com o pablico- “Teitor da primeira metade do século XX. Tamanho sucesso editorial Gertamente deve-se € muito ao pensamento inovador de seus autores. Mas a explicagdo do sucesso vai além da genialidade dessas obras. A Companhia Editora Nacional trouxe elementos técnicos importantes para a dinamizasio do mercado editorial beasileio, A editora produ iu obras que eram visualmente atraentes, com papel de boa qualidade, cores nas capas ¢ desenhos de ilustradores renomados. A distribuicao foi outro fator importante, jé que impactou diretamente na circulagio social dos livros. Seguindo “novos métodos comerciais, que incluiam a venda de livros em agougues, lojas de ferramentas, bazares, farmécias, bancas de jornal, papelarias da capital e do interior, de forma a alcangar o leitor nos lugares em que ele pudesse estar”, Lobato ¢ Ferreira pare~ iam obstinados a realizar a missio que definiram para a empresa no ano de sua fundagio: “inundar 0 pais com livros” (Dutra, 2004, p.5) © exemplo da Companhia Editora Nacional foi seguido por diversas cutas iniciativas no campo editorial, Nas décas seguintes,surgiram a8 colecdes Dacumentos Brasileiros, da Editora José Olympio, Reconguista do Brasil, da Editora Ttatiaia, Meméria Brasileira, da Melhoramentos, His mera Civilizasao Brasileira, da Difusio Europeia do Livro (Di- mle menstes do Brasil, da Vones, Retatos do Brasil da Civlizagio Bra- ira, Biblioteca Cultura ‘Historica, da Zahar e, mais recentemente, nos Digitalizado com CamScanner 2 Editora Braziliense, Tudo ¢ bis Em todas essas colesdes, 05 hisin, «do suas ideiase formando letores, anos 1980, 0 sucesso estrondoso da colegio de bolso que marcou époce siadores estiveram presentes,difundin § ‘Além do mercado editorial, nio podemos desconsiderar o papel que tiveram os museus histéricos neste século, com destaque para o Musey Imperial, principalmente, para 0 Museu Histérico Nacional que, no periodo de 40 anos, entre 1920 ¢ 1960, refltiu as grandes transfor. tmagoes da historiografia e da museologia, oferecendo 20 paiblico uma representagio da histéria que a da exaltagio dos hersis ¢ de mitos fundadores da nasio, algo apregoado sobretudo pelo Museu Histérico Nacional dirigido por Gustavo Barroso, até uma visio mais crit questionadora quanto a0 passado nacional,cm sintonia com as mudan- {525 no campo historiogrifico internacional (Santos, 1984). Mais recentemente, podemos destacar o sucesso da Revista de His- teria da Biblioteca Nacional (RHBN) entre 2003 2015. Distribuida em escolas, vendida em bancas de jornal em todo 0 pats, coordenada ial meio de divulgagio de Historia para o grande pablico. Ini rou outras publicacdes segmentadas na tea de Histéria e abriu cami- nho para que os historiadores estivessem mais presentes em jornais ¢ em revistas nio especializadas. Os historiadores e a divulgacao nos dias de hoje saga de Por que 0s historiadores nio sio os protagonistas na divu Histéria hoje? Nos temos duas hipéteses. Em primeiro lugar, devemos ter em tela que a divulgarao da Historia para o grande puiblico pow veres foi tomada como uma prioridade por historiadores, centeos de pesquisa, departamentos e programas de pos-graduagao em Histitia Uma ver. institucionalizada, a Histéria foi bem-sucedida no plano es colar, na pesquisa e na montagem de um robusto cireuito de comunic «20 voltado aos pares, composto por congressos, periduicos cientitieos seminirios e conferéncias, Porém, a divulgagio para o grande publi ‘com algumas importantes excegdes, permaneceu muito mais nas 10> de profissionais de outras areas. B se afsstamento da pritica da divulgacio talve2 se explique pela ee ie certas desconfiangas diante do processo de oon ra da Hite, cas manifestagdes podem ser ences dese 9 wstto XIX, quando a discipfina estava em processo de institionaiza- Antonio Paulo Benatte sublinha que manuais de Pntradugio aos Es- Si Histrces,como o desenvolvido por Charles Langlois e Seignabos goal daquele século,acreditavam que 0 dessjo de “impressionae” 0 public levaria até mesmo os melhores histriadoresa“atrouxarem, de Piero modo, o rigor cientfico ¢ a incidirem nos mesmos e condenados habitos da antiga historiografia” (Benatte, 2000, p. 74). Pouco a pouco, tesim, aretdrica, a narrativa e 0 estilo foram deixados em segundo plano pa escrita da Histéria ~ 0 que, nao se deve subestimar, trouxe prejuizos ara a sua divulgagio. José Murilo dle Ca Inelhante A de Benatte, porém levando mai allo fz uma avaliagio se- 80 brasileiro: n conta o tab gui s 10 do de outros Preocupados legitimamente em di sistas, nossos historiadores acabaram profissionais, sobretudo de jo desenvolvendo um estilo que se aprosima da Finguagem empolada ¢ tortuosa condenada por (Carl von] Marti. Jargdes, erudigio des cessiria ou deslocada, ou pura obscuridade, afistam o grande pil de nossos textos. Chegout-se ao pont dl a simplicidade com superficialidade, (Carvalho, 2003, p. 96) Mesmo quando os historiadores estiveram envolvidos com a di gisio de 0 fi itada, Séqgin Bu: que de Holanda se tornou muito conhecide por causa das ealeydes que coordenou € para as quais escreveu, sobretuclo entre um pt intelectualizaco, mas jamais reproduziu, no Brasil, historiadores como Georges Duby c Ja blico mais idade que ies Le Goff tiveram na Franga. 1 Em sa tee, fsoe Geog Von Mars sere, rma we deve exrewr a Histra de Rea, premviaa pelo lostnutn Uist asilein (HHIGB) cm ‘Cail Fitch Philipp teak do sco XI he gic "Nan na pista dae fara pret un vrai servigo ta pati deed eae ‘wong pont li devi ecru te whe eer er ei et Bopulitgse quent Devers ster tet nex ste sche levia ser eserita em uma lingua empolaa, net sobrecaregad de et sto dewina muda de tages entero (Vn Mann, 1845, p ALD). LP Digitalizado com CamScanner A go Basi um historias como A. .P.Tayjg, -Bretanha, arregimentar a atengig qo queso cma FOU or anamitios pla tlevi80 © pel iy grande pblico ome. No Brasil, guem mais chegou préximo dese (Burke, 2012, pe istéra foi Vtiato Cortéa (1884-1967), tipo de populatizasi ,dramaturgoe politico, que conduzin pro. nals bacharel en) Fria eescreve livros hist6ricos infants. Sey as de oa ns pubicao pela Companhia Editory Ny. Ee Ig adotado em escolas (Fernandes,2009} de cinco mil exemplares¢ sendo ‘A partir da segunda metade do século XX, mesmo quando os de- A pithrs de Histria estavam em plena atividade nas principai riiveridades brasileiras, alo houve um grande projeto de divulgasio dd Historia por parte da academia para o “grande pablico”. A parii- 1 hstoriadores no meio social se deu, como vimos ha pouco, imp ) mi al, Mas essas parte dos cas0s, nao su de iniciativas iveritrias, embora contassem, por Vezes, Com 0 importante envol- niversitras,embora . viento de historadores que estavam na universidade; surgiram de ‘projetos capitaneados por editoras ¢ vefculos de comunicagio. O en- gajamento do meio académico de Hlstéria com o grande piiblico no Basil no foi maior ndo por uma incapacidade da drea em falar com 0 b dinigen de Histés dk ‘grande pablico, mas porque a divulgacio de Histéria, a partir de uma perspectiva de divlgasio cientifica para o puilico em geral,raramente foi pensada estrategicamente ou como projeto de longo prazo. “Também jamais tivernos A relagio dos historiadores profissionais com o grande puiblico tem se resumido quase sempre ao periodo escolar, quando o aluno esti em contato frequente com 0 profissional de Histéria (professor) e com 0 ‘onhecimento historiogrifico? Trata-se de uma rela¢ao que tem, pot tanto, duragio muito limitada: os anos da formagio basica. Porém, de 2A alana hioigrat” olsstica. Ne F ica Nest texto, usamos o temo coro sn sree ga pl hss or mio de pagan «de poems Foye tna eo be de etende que determinadas perish Eilat fora da universidade,envalvendo autos mates 5 pois que deixam a escola, as pessoas continuam a aprender sobre o pas Pejo ea formar sua consciéncia histrica. Nesse period, justamente 0 mais longo na vida de um individuo, a presenca do historiador & quase sempre apenas episédica. Em segundo lugar é preciso levar em conta 08 impactos do pars- digma digital no meio historiografico, que alterou radicalmente os necanismos de consagragio e autoridade. Erudiglo,titulos, docéncia, pesquisa ou vinculasio institucional no necessariamente asseguram, hoje, prestigio, eredibilidade ou autoridade ao enunciador do discurso ~ elementos que 0 historiador costumava acumular no mundo analé- fe que estavam no cerne do seu reconhecimento social. No meio digital, credibilidade e autoridade.dependem principalmente de outros s.a capacidade de dominar a nova linguagem digital, ga rantindo presenca no novo “espaco piblico”,¢ @ capacidade de alcanca grandes audigneis; medida pelo nimero de cliques, comp: ualizasées, curtidas, eguidores tos, ‘A credibilidade no meio digital, dessa forma, assenta-se no alcance ¢ no dominio da técnica, que fivoreceu situayoes em que a legitimidade do conhecimes entifico produzido pelo historiador—e por profissio- nis de outras areas académicas, vide as polémicas entre a érea da saiide parte do piblico geral sobre vacinas — seja levianamente questionada ‘ou mesmo ignorada em um ambiente digital em que tantas outras vozes ‘compete com discursos sobre o passado (Carvalho, 2018, p. 173). A existencia de narrativas histéricas produzidas por nio historiado- ‘es nio constitu um problema em si-o historiador nio detém ¢ nunca deters o monopdlio dessa fala (¢ isso € saudével). O problema, 2 nosso ‘ver,é 0 que parte dessas narrativas historicas circulantes no meio social esti produzindo em termos de sentido: essa histéria nlo recorre a ques~ tes ou a problemas; é uma histéria que quase sempre relaxa, estabiliza; ‘uma histéria que fornece referéncias identitirias em conformidade com a expectativa do leitor; uma hist6ria reconfortante e que elimina a ten~ so inerente as relagdes sociais. Essa historia é uma espécie de “histéria ‘mestra” repaginada. tras interagbes._, Mais grave ainda sio aquelas narrativas queemboraatendendo a uma ‘agenda exclusivamente politica, se apresentam como apolitcas e buscam. deslegitimar o trabalho do historiador, algo com que os especialistas em Digitalizado com CamScanner * Jo, tm se deparsdo com frequtng exuos do Holotsto AE ser egeni especialmente dae Sen ce anos 197g ples em rs pas, tremardicta comes riadoras, nfo somos invsivels © 0 nosso tr, és histoiadores © HET mas o nosso alcance social, que jé np ‘alho nio se oa vpenor nos tltimos anos. Essa situasio tem, era ideal tem $a de profissionais da area de Histéia, mobilizado um a ‘universidades, museus, arquivos ou em outros vem cles em esc, OTN cuas competéncias como historiadors, tantos lugares que ST jesfiados todos os dias a compreender 9 Eset profislonai almente o seu lugar na divulgasio do conhec age ‘no meio piblico — precisamos encom ide comuniguem mais ¢ melhor cor o5 w eatratégiase parimetros que se comuniguem mais € com eae il ficos, no porgue sabe produide pl historiadores, cc neoessariamente supetior @ outros saberes.sol sa “Hhos po ue-acreditamos que 0-nosso “filos profets do_passato”, mas sim poraue que cae tir caeamente zune ‘cba pblico e promover una sociedade mais livre ¢ autnoma, debate piblic « promover uma sone Divulgag30 como dimensao do trabalho do historiador Depois de uma década trabalhando no campo da divulgaso, nossa perceprio éa de que os kistoriadores parecem hoje convictos da neces sidade de desenvolver uma melhor comunicasio com o grande publi co. Isso ¢ perceptivel em conversas que temos em eventos da drea, nos corredores dos departamentos de Histéria e em nosso trabalho como editores de um portal de divulgagio cientifica de Historia ~ temos uma longa lista de historiadores e de historiadoras que contribuem volunta~ iamente com artigos bibliografias eentrevistas para o projeto. Resta. contudo, alguns nds a serem desatados: como fazer urn bom trabalho de divulgagio de Histéria? Como tornar nossas pesquisas, questdes ¢ pt blemas historiogréficos relevantes para um publico tio amplo? Como podemos divulgar a Histéria de forma que ela nfo s6 de visibilidade «> Can abalhoy mas sj capaz também de contribuir para a cidadanit? ‘omo a divulgasto de Historia pode contribuir para os debates que si 4 constitutivos do espago piiblico? A divulgagio de Histériafeita por um fistoriador profissional tem as mesmas caracteristcas da divulgagio de Histéria feita por outros profissionais? Enfim, como, por meio da divulgacto de Historia, os historiadores e historiadoras poderio conti- nnuar sendo relevantes para a sociedade sobre a qual falam? Sao justa- mente essas perguntas que nos motivaram a organizar esta obra. Este livro traz nove textos inéditos, dstribuidos em duss modalida- des: seis artigos e trés entrevistas. Todos os autores ¢ autoras, inclusive 1s entrevistados ¢ a entrevistada, tém formacio em Histéria - quatro tém também formagio em Comunicagao Social - e desenvolvem ou participam de projetos de divulgasao de Historia parao grande ptblico no Brasil, Os artigos foram escritos em formato de relato de experién- cia, com detalhes sobre estratégias, dados de audiéncia, erros acertos. ‘Nossa intengio néo é desenhar formulas mégicas para projetos de di- vulgaséo — cada projeto tem ¢ sempre tera sua especificidade -, mas reunir boas priticas que possam servir como referéncia e modelo de inspirago para novos projetos. Também por isso procuramos variar no formato e nos tipos de midia dos casos apresentados. ‘Comecamos pela nossa midia mais tradicional e consagrada de di- vulgagao: o livro. Luciana Pinsky em Editando a Historia nos oferece tum balango do mercado dos livros no Brasil, com atengio especial 0s segmentos nos quais se incluem os livros de Histéria. A midia é tradi- ional e continua ainda hoje eficaz, mas, em tempos de novas midias, a autora também aborda as possibilidades dos livros digitais. Luciana é Jomnalista e historiadora e desde 2005 atua como editors na Context. Em seguida, Juliana Sayuri conta como foram os processos de esco- tha de pauta ¢ abordagem para a produsio de matérias para a impren- 's2 que abordam 0 oficio do historiador em 4 Histéria & noticia: temas bistéricos eo oficio do bistoriador em reportagens na ‘Folha de S.Paulo. Se existem divergéncias entre o olhar de um jornalista eo de um historia dor, Sayuri consegue nos fazer compreender ambos os lado, ji que ela acumula as duas fungdes. A Histéria Pablica, als, € tema de uma das, Teportagens abordadas por Sayuri. Os demais artigos do livro tém enfoque na internet, embora nas en- trevistas voltemos a tratar de projetos “analégicos”. Isso reflete 0 mo- Mento em que estamos vivendo, de intensa presenga das midias digitais Digitalizado com CamScanner 8 : 7 ‘comunicagbes €, COMO ja dissem, em nossas vidas median rede de conteido. 8, democtatzande 0 Peis pulicada € pesquisa divulgada? 4 Roberta Cerqucia a uta ‘Historia, Ciéncia, Saide — Mangy. experienc de diva das estratégi wslizadas pelo periédicy nos em que flute BUMS rea de Histéria c de Histéria da Cin. {um dos mais conect o de seus artigos cientificos. Vale destacar ia) para ampli a i ine desde 1998 e hoje tem conteido qc 2 revista jf tem Doe Tam de petis nas redes sociais em ery de engsjamerto om 6 etaeae bastante diane de outros pei Ings ns nara eS pon a diovisual paa a conversa, Icles Rodrigues conta como Tena omdlpn sce afm sia a0 nsrtos eum public asiduo, com um de seus videos sragando ras de 470 mail vsualizages. Em Pistia no YouTube: e- tarde copra posiiidades por futuro, o bstoriadordestaca seus vpvendados, apontando experizncit que deram certo outa que foram deixadas de lado, com um colho no contedido € outro no piiblico. Paulo Cesar Gomes apresenta, em seguida, Historia da Ditadua: como tratar de regimes ditatoriais com o grande puiblico, criado em 2016 ‘com o desafio de abordar memérias sensiveis na comunicacao com o grande publico, A missio é dificil, mas, sem divida, muito necessiria, tspedalmente nos tempos auais de obscurantismo e de distorsio do passado.Além do portal e dos perfs nas redes sociais,0 projeto também. investe em videos que trazem entrevistase relatos de pessoas, andninmas ‘ou conhecidas, que viveram o periodo, Encerrando a segio de artigos, temos Caft Histria: divulgagaocin- fea de Hitria na internet, n0 qual Bruno Leal conta em detalhes 4 trajetoria da maior plataforma de divulgagio de Histéria online em atvidade no Brasil Seu relatorevela também a vasta gama de conhes ‘mentos sobre intemet, servidores, estratégias de comunicacio, etc. que {quem trabalha (ou quer trabalhas) com projetos dessa natureza preciss Compreendet. A trajetéria do Café também nos ajuda a perceber a8 ™- dansas de comportamento do publico da internet na tltima década ¢ 0° Processos que envolvem o trabalho do historiador-divulgador. > ci © livro, Bruno Leal entrevista Keila Grinberg, profes a Unico que, por seis anos, fi colunista da revista Cigna HZ 9 (online); os criadores do projeto Histéria ao Ar Livre, Lue Paulo Fer- raz e Rodrigo Bione, que retine centenas de pessoas para ecupat locais piibicos do Recife; e Paulo Knaus, professor da UFF, que conta sua Experiéncia a frente do Museu Historico Nacional desde 2015, Nas préximas paginas e capitulos deste livro, essas pessoas trazem reflexdes tebrico-conceituais importantes, mas principalmente expdem rnimeros, modes de fazer, estratégia, processo,falhase acertos que aju- daram seus respectivos projetos a obterem & casos sirvum de inspiracZo para muitos outros to. Esperamos que esses Referéncias que nos movem Este organizador ¢ esta organizadora do livro tém trabalhado com duas grandes perspectivas em vista ~ ¢ acreditamos que sio perspecti- vas compartilhadas, em alguma medida, pelos nossos autores e autoras. A primeira dessas perspectivas comecou a ser discutida no Brasil com mais vigor em 2011, de forma bastante timida em pequenos circulos académicos, despertando muita desconfianga e até certo desdém: a His- t6ria Publica. Quase uma década depois, a Historia Publica se tomnou uum dos “campos” mais oxigenados no campo historiogrifico brasileiro, provocador,reflexivo,interdisciplinar, mutante e inspirador para aque- les que buscam repensar a conexio com o piiblico. Tal desenvolvimento s€ tora ainda mais surpreendente se pensarmos que a Histéria Pabli- a nasceu em meados dos anos 1970, nos Estados Unidos, a chamada Public History, Nilo nos parece fortuito que o movimento da Historia Pablica tenha se afirmado no Brasil apenas recentemente. Embora no se resuma auma Tesposta politica, ele reage aos dilemas que tanto o campo historiogrifico como a sociedade tém enfientado: o anti-intelecrualismo, 0 anticientif- Smo, 0 conspiracionismo, os ataques dirigidos a0 meio académico, so- bretudo is universidades piblicas no Brasil, os preconceituosos orgulho 08 de seus preconceitos,a defesa da ditadura militar eo negacionismo do Holocausto. A ‘Historia Piblica no tem todas as solugdes, mas a maneira como ela tem arregimentado forgas em diferentes campos, do audiovisual 30 design grifico, do meio editorial aos museus € arquivos, passando pela Digitalizado com CamScanner 20 eccala ¢, claro, pel cenfrentar os enor son como tra forma promissora para 5. resis que emos dante de nds, feréneia que nos move & & divulgaso cientifica, campo A outa reference a Histéria Pablica. Quando pensamos na gi. bem ares * alizada pelo historiados, pensamos na divulgesig vugardo. oeeelo. A Historia, assim como as Ciéncias Humanas clemtfca como mo\ pao costuma ser pensada como uma das cing de ua forms queso wadcionalmente as “ciéncas david’, 8 aoe com pica efise & Fisica, Quimica Matematica e 4 Biologia. Porém, ainda que reconhecendo as diferen- Mpmemolgcs enue esis dncas¢& ists, aceditamos que $ Finéra, por ser constuida como uma disciplin académica bass. dda em mecanismos que caracterizam a drea da ciéncia (que vio desde peoqiss eregras de esrita até a validagdo desse conhecimento espe- Pitade), pode ser pensada a partir da chave da divulgacio cientfca, Taldivlgasio tem uma rica tajetéria que pode nos fornecer recursose habilidades a fim de repensarmos a comunicacao da universidade com o pablico. ‘Nio necessariamente mais estudos € mais projetos de divulgacio cientifica ede Historia Pablica significam uma sociedade com “maior” ¢ “melhor” conscinciahistérica. Porém, a presenga do historiador pro- fissional no meio pablico nunca se fez tio sentida ~e,talvez, necessii ‘Nio nos parece equivocado supor que os historiadores devem se ocupat sais com a divulgagto do conhecimento que eles préprios produzes, conhecimento este sobre a sociedade em que vivem, fruto de pesquiss a franca por agéncias piiblicas e que tratam de questoes ue inteessam a0 pabico. O site do repositério institucional da Universidade Autonoma do Estado do México (UAEM) exibe em sua pagina principal um lema ae os 9 ideal de divalgasio cientifica da instituigao: “A. ciéncit A Reece eee 0 mesmo poderiamos dizer do nosso ca moana =e nlo sv, no existe", Pos ber, que és, historiado +a fagamos existir, a academia, 3 Repost Insuion «butp/frisuaemex.mx/handle/20,500.11799/6545°. Referéncias BENATTE, A. P.“Hiseéra, cigncia, excriturae polis’. In: RAGO, M; GIME- NES, R. A. O. Narear o passado, repensar a histria. Campinas, SP: IECH- “Unicamp, 2000. BURKE, P. 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