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ESG: OPCOES POLITICO- ESTRATEGICAS PARA O BRASIL 1. Apresentagio As Bases paraa Atuaciio da Escola Su- perior de Guerra (ESG 2000), documen- to de 1988, estabelecem: “O papel da Escola Superior de Guer- ra, na sua qualificacdo de Instituto de Al- tos Estudos, é contribuir para o aperfei- coamento da sociedade brasileira, me- diantea pesquisa eo debate de opgGes po- litico-estratégicas democraticas que pos- sam servir como subsidios para a solugao dos problemas nacionais.’* Que opgdes politico-estratégicas po- dem ser consideradas, até o final deste sé- culo, para o Brasil? Como orientar o pro- cesso de decisées macrossociais para via- bilizd-las? Esta vem sendo, desde sua criacao, uma das preocupagées fundamentais da Escola Superior de Guerra: estudar 0 fu- turo do Brasil, Futuro ao mesmo tempo desejado, politicamente, ¢ vidvel, tecni- camente. Imagem de futuro consistente coma Doutrina formulada e aperfeigoa- da ao longo de quase 40 anos de vida da ESG. Na verdade, o Método para o Plane- jamento da Acao Politica inclui entre os Gen Ex Oswaldo Muniz Oliva Comandante e Diretor de Estudos da ESG seus estagios a elaboracao de cendrios para o periodo de governo considerado, imagens da realidade do Pais, nos 4mbi- tos internacional e nacional, que sao eta- pas intermediarias para aconquista e ma- nutencdo dos ONP (Objetivos Nacionais Permanentes). Na ESG, a elaboragdo de cenarios nao éuma mera projecao das tendéncias em- butidas na evolucao da sociedade, maso estudo de opcdes consistentes com os ONP. Ela pressupée, portanto, visdo geopolitica do Pais, nos ambitos interna- cional e nacional, e se assenta no exame de hipdteses politico-estratégicas alterna- tivas, consistentes com aquela visio. Para facilitar a interpretagao dos ONP, durante a aplicacao do Método, de- cidiu a ESG claborar um ‘‘Cenario dese- javel para o ano 2000” “Cendrio-2000"*. Trata-se de uma hip6- tese de trabalho de cunho didatico, ela- borada por membros do CP para uso des- de este ano de 1988. Nao se trata de um cendrio tendencial, mas de um exercicio prospectivo orientador para o alcance dos ONP, conforme desenvolvidos e for- malizados por esta Escola, ao longo de tantos anos. E a visualizaciio do que se- 9 poderd atingir em relagdéo aos ONP, no iniciar do novo século, uma projegdo do que se deseja atingir em um perfodo de doze anos, isto é, a muito longo prazo. Anualmente, esta projecdo deverd ser atualizada, para que os estagidrios, que claboram cendrios para prazos de cinco anos, se orientem por ela. Devera ser mantida, sempre, entre dez e doze anos a frente, Para o aperfeicoamento continuado desse exercicio prospectivo, em muito po- derao contribuir as observagdes colhidas entre Os estagidrios. 2. Visio Geopolitica Externa Para umacompreensao abrangente do Brasil, necess4rio se torna conhecer 0 mundo e a complexa trama das relacées internacionais que o envolvem. F um mundo desafiante, dificil, con- flituoso, contraditério. E um conjunto de realidades contrastantes e de desequi- librios: entre nagdes € entre grupos ou classes dentro da maioria delas. A simples existéncia dessa realidade conflitante facilita, em muito, a ago da- queles que, de forma clara ou sub-repti- cia, perseguem objetivos de predominio ou de dominagao. Para satisfazerem suas ambigGes, nao lhes peja, nem mesmo, 0 estimuto ao emprego da forca armada. Niio vivemos num tempo de paz, mas de lutas e guerras espalhadas por todos os continentes, As nagoes mais poderosas, inclusive as do mundo dito democratico, presas da avidez, ndo hesitam em assumir posicdes eatitudes para fortalecerem suas capaci- dades de decisdo e acdo ante o presente 0 futuro. As mais pobres quedam-se perplexas diante desse quadro. Sé a for- ¢a garante o direito. Se olharmos 0 mundo sob 0 prisma econémico, encontraremos alguns cen- tros de bem-estar, progresso, riqueza € 10 prosperidade em meio a um mar amplo de atraso, ignorancia e miséria. Algumas “ilhas”’, nas quais se inclui o Brasil, lu- tam para atingir, também, um lugar en- tre aqueles mais présperos e, talvez, mais felizes. Inequivocamente, o mundo € econo- micamente multipolarizado, com poucos tendo muito e muitos tendo pouco. Essa. disparidade é estopim facil para confli- tos ¢ guerras. Se, no entanto, o observarmos sob 0 prisma politico-ideoldgico, vemos dois grandes centros de poder, aferrados a bi- polarizacdo. Nas dreas que ultrapassam Suas respectivas capacidades de acao di- reta, verdadeiras dreas cinzentas, pulu- lam conflitos armados e guerras, geogra- ficamente limitados, mas nitidamente in- terligados pela polarizacao politico-ideo- légica, Embora as ages militares neles ocupem o primeiro plano, na verdade 0 decisivo ocorre na mente dos povos atin- gidos, Muitas nacdes, em desespero, ape- jam para solugGes autoritarias, como de- fesa contra a proposta totalitéria ou con- tra 0 caos. Quer sob 0 aspecto da multipolariza- cao econdmica, quer sob o aspecto da bi- polarizacao politico-ideolégica, avulta, cada vez mais, a importancia do compo- nente cientifico-tecnoldgico, O mundo de hoje encontra na tecno- logia —- ferramenta de crescente e vital valia — fator de aceleracdo de sua com- plexidade, aumentando a interdependén- cia de paises, reduzindo distanciase tem- pos sociais. As nagGes que pretendem ter presen- -¢a de destaque no mundo —c isto se apli- ca.ao Brasil —~ deverao dar atencfio espe- cial ao desenvolvimento e consolidacao de uma base cientifico-tecnolégica sdli- da. Para que possamos atuar firmemen- te nesse campo, em proveito do Desen- volvimento Nacional, indispensavel se torna estabelecermos prioridades dentre as tecnologias de ponta que nos serao in- dispensveis. Isso porque o dominio de uma tecnologia de ponta gera obrigaté- rio salto de qualidade nas indistrias que, direta ou indiretamente, com ela sc envol- ven —e sé ha um parametro de referén- cia para esse nivel de qualidade a alcan- car, que € 0 internacional. Como corola- tio ldgico, nenhum argumento justifica nos isolarmos do mundo. Por outro lado, tecnologia exige recur- sos vultosos, de que nao dispomos inte- gralmente. Ai surge 0 segundo corolario, qual seja, deveremos utilizar a melhor tecnologia disponivel no mundo para in- corpord-la as que decidirmos desenvol- ver; em ambos 0s casos, a participacao de capital estrangeiro sera essencial ¢ deve- ra ser cuidadosamente planejada. E importante caracterizar dois fatos novos que esto ocorrendo, Os quais, ori- ginados na 4rea econémica, caminham para provocar outros efeitos, a nivel mundial, tanto politicos quanto milita- res. ‘Trata-se do crescimento do Japao no Extremo Oriente e, a partir de 1992, pos- sivelmente, do surgimento da Comunida- de Européia. SAo duas superpoténcias econdmicas, sein diivida alguma. Se o Japao, como jé ha indicios, dedicar-se ao desenvolvimen- to de seu poderio militar, como conse- qiiéncia inevitavel, tera sua estatura po- litica bastante ampliada, ombreando-se aos Estados Unidos e a Unido Soviética. Sua vulnerabilidade continuard.a ser a auséncia de recursos naturais proprios, inclusive na agricultura. No que concerne 4 Comunidade Eu- ropéia, se viabilizada, traduzir-se-4 em um “mercado com cerca de quatrocentos mi- AhGes de habitantes, dotado de alto poder aquisitivo, excelente nivel cultural, cien- tifico e tecnoldgico ¢ em privilegiada lo- calizagao geografica, medeando entre as duas atuais superpoténcias, Dispondo de razoaveis recursos naturais, seus vincu- jos com antigas colénias garantem-Ihe o complemento necessério, Nao mais po- derd ser encarada como 0 “Velho Mun- do”’ e sera mais uma superpoténcia. Por nossa posicao geografica, nao ha como esquecermos nossos vizinhos ime- diatos, os sul-americanos, ¢ os préximos, os africanos da costa ocidental, em espe- cial os de lingua portuguesa. Com relagio a estes tiltimos, nossa imagem de pais “‘branco’’ com raizes “negras’’ facilita a aproximacao, pois nao estamos marcados por uma tradicdo colonialista. Na América do Sul, interessa-nos, em especial, o Cone Sul. Caminhamos, com razodvel rapidez, para uma associagdio comercial ¢ econdmica, o que, natural- mente, a prazo longo, tendera — se atuarmos com habilidade, inteligéncia e generosidade — para solucdo assemelha- daa européia, Deveremos batalhar para que o Chile, a Bolivia e o Paraguai se unam, também, a Argentina, ao Uruguai e'ao Brasil, Com os demais paises da América do Sul, do Caribe eda América Central de- yeremos intensificar nossos laos politi- cose econdmicos, com énfase em relagao aColémbia, ao Equador ¢ As Guianas; is- so tenderd a estabelecer o hoje inexisten- te equilibrio na Bacia do Caribe, face as atuacdes de Estados Unidos, México Venezuela, conflitantes e centrifugas, e a ago desequilibradora de Cuba. Singularmente, apesar da atual dife- renga ideoldgica, temos intimeros pontos de interesse estratégico convergentes com os da China; isso nos leva a verificar que nossos interesses na Asia obrigam-nos, ainda, aver a India ¢ a Indonésia como dreas estratégicas de interesse futuro, por isto merecedoras de estudos acurados, desde ja, Em relacdo afndia, as perspec- tivas de cooperagao comercial, tecnold- 1 gica e de servicos sao de curto e médio prazos. ‘As economias das nagGes européias tendem a complementar-se e comple- tar-se-4o com mercados selecionados da Africa e do Oriente Médio. Isto geraré um tipo de grande corporagao auto-su- ficiente. A longo prazo, o Brasil, para continuar a manter significativos lacos econdmicos e culturais com a Europa, co- mo nos convém, deverd consolidar e ex- pandir a ponte que, possivelmente, sé em Portugal permanecerd ao nosso dispor. Tanto isto é verdade que, paralelamen- te, a Espanha também esta buscando lan- gar uma cabega-de-ponte para o Brasil, na Argentina, e estA também adquirindo fortes posicées econdmicas em Portugal. Por outro lado, os interesses estraté- gicos das superpoténcias atuais ¢ da Co- munidade Européia so (¢ deverao con- tinuar a ser) os de conter o expansionis- mo econémico japonés. N&o podemos esquecer que as diver- géncias crescentes que tém surgido com os Estados Unidos decorrem de cenflitos naturais de interesses ante a ocupacao de espacos que, anteriormente, de forma pa- cifica, eram preenchidos pelos america- NOS € que nosso crescimento, nos tiltimos vinte anos, nos levou a disputa-los, Tal situag&o nao deve obliterar a tea- lidade de que somos parceiros nao sé ideoldgicos como, também, econémicos, culturais e cientifico-tecnolégicos tradi- cionais. Deveremos circunscrever as de- vidas dimensées os conflitos e intensifi- car e ampliar os lacos de interesses co- muns que sao deveras importantes. Deveremos ampliar nossos contactos politicos, culturais, cientificos, tecnold- gicos e econémicos com a Unido Sovié- tica e o mundo dito socialista. ‘Tal quadro mundial propicia oportu- nidades diversas ao Brasil, as quais deve- rao ser exploradas. A vocagao do Brasil — ja se disse — 12 nao é para ser integrante do Terceiro Mundo; somos, apenas, retardatarios do Primeiro Mundo. Se agirmos em consondncia com esta verdade, deveremos dedicar-nos a am- pliar este leque mundial de interesses, re~ forcando nossa presenca onde ja estamos e buscando ocupar posi¢Ges nas outras areas em que vislumbramos potenciais in- teresses A intelig@ncia de nossa atuacdo con- sistira em manter a coeréncia politi- co-ideolégica e o pragmatismo técni- co-cientifico e econdmico-comercial, ba- lizados por um tnico ¢ decisivo fator, 0 Interesse Nacional. A consciéncia exata das dimens6es dos interesses da Nagao Brasileira leva-nos a reconhecer que a cooperacdo externa ¢ ¢ serd essencial ao desenvolvimento interno, caminho para que obtenhamos crescente Justiga Social, em proveito da populagdo brasileira co- mo um todo, endo de alguns poucos seg- mentos privilegiados. 3. Visio Geopolitica Interna O Brasil, geografica, histérica e cultu- ralmente, deita raizes na civilizagiio oci- dental. Fez opcéio pela democracia e bus- ca o desenvolvimento. Nao esta, contu- do, imune aos coiflitos ¢ disputas que afligem o mundo. Apopulagiio brasileira, hoje da ordem de 140 milhdes, é preponderantemente urbana: cerca de 100 milhdes vivern nas cidades, Mantidas as atuais tendncias, chegaremos ao final do século a 180 mi- IhGes de habitantes, com 145 milhGes nas cidades. Na verdade, a populacao rural brasi- leira esta em declinio, devendo reduzir-se dos atuais 40 milhdes para 35 milhdes, no fim do século. Nesse contexto, o problema social do campo no Brasil — que efetivamente existe e, em algumas 4reas, precisa ser ra- cionalmente equacionado ¢ resolvido — é hoje de menor dimensdo que o urbano. O intenso debate que se trava entre nds sobre a questao agraria parece motivar-se menos pela urgéncia em atender a neces- sidades basicas do povo do que pelo in- teresse em incitar conflitose conturbar a vida rural. Na verdade, nossas fronteiras agricolas continuam a expandir-se, po- dendo contribuir, pelo aumento da pro- ducéio e do emprego e pelas oportunida- des criadas a aquisicao de terras préprias pelos pequenos agricultores, para a me- Ihoria das condigées de vida rural. Em contrapartida, tudo leva a crer que énas cidades onde se apresentariio, cada dia mais, as necessidades prementes do nosso povo, jd que o crescimento demo- grafico urbano, em curto e em médio pra- ZS, sobrepuja as oportunidades de cria- Gao de empregos e a capacidade de ofer- ta de equipamentos e servicos urbanos, seja quantitativa, seja qualitativamente. Na verdade, se admitirmos que, no fi- nal do século, um tergo de nossa popula- cao urbana (estimada em 145 milhdes) tard vivendo bem, outro tergo com difi- culdades, ¢ o restante mal, teremos dois tergos — isto é, cerca de 100 milhdes — vivendo em condigées insatisfatérias. 0 acréscimo da populacao urbana sera de 45 milhdes nas cidades, em menos de 12 anos. ‘A dimensio prospectiva da problemd- tica social de nossas cidades é, portanto, assustadora. Com que realidade urbana haveremos de nos deparar, em futuro préximo, se nada ou pouco fizermos pa- raalterar essas tendéncias? Quantos mar- ginalizados e quantos marginais tere- mos? Como sera 0 caos das convulsdes, sociais atigadas por bandos rivais de cri- minosos? Quantas serdo as criangas de- sassistidas ¢ submetidas a uma vida de ex- pedientes ilicitos? Que qualidade de vida sera a de nosso povo? Que tera sido feito do futuro grandioso almejado por gera- gdes como sendo o destino natural do Brasil? Secontemplarmos 0 Brasil no conjun- to, percebemos, também, uma disparida- de marcante entre as suas diversas re- gides. Seus indicadores sociais e econd- micos variam entre valores comparaveis aos de paises plenamente desenvolvidos € OS que sao tipicos dos menos avanga- dos, Enquanto alguns indicadores econd- micos globais refletem o enorme poten- cial da nagao brasileira, os sociais nao fa- zem justiga a essa pujanga. A gravidade do problema urbano se reflete no risco de desagregagao da fami- jia. O agravamento das desiguaidades re- gionais poderd refletir-se em ameaga a In- tegragdo Nacional. Resta-nos lutar, de modo firme, para que semelhante quadro nao sé concretize. A luz dessas preocupagdes é que se precisa entender a compatibilizacdo do Desenvolvimento ¢ da Seguranga Nacio- nais com a Justica Social. Ea Justiga So- cial que compée os valores da liberdade da igualdade e da fraternidade, preten- dendo superar a tensdo entre liberdadee igualdade que constitui aesséncia do dra- ma politico de nossos dias. Sacrificar a liberdade, com o intuito de obter mais igualdade ou, em nome da liberdade, admitir a perpetuacao de de- sigualdades injustificaveis? A Tustica So- cial, preconizada pela ESG, representa a superacao desse dilema na medida em que propée, como critério de sua realiza- c&o, aigualdade de oportunidades, ou se- ja, uma igualdade de base, que enseja a realizagao pessoal diferenciada, a com- peticdo justa e, portanto, preserva o es- pago da liberdade. A Justica Social representa um com- promisso efetivo de construgao de uma ordem social mais humana e soliddria, em que, sem sacrificios das liberdades fundamentais, cada um se perceba par- ticipe e responsdvel pelo destino da co-. 13 munidade nacional. Nao ¢ tarefa exclu- siva do Governo, mas wm compromisso efetivo de todas as instituigdes, grupos, categorias ¢ classes sociais, com vistas a0 Bem Comum. Deve ser entendida nao co- mo igualitarismo sufocante c estéril, mas como um ponto de equilibrio entre 0 di- reito digualdade, que adyém do respeito a dignidade comum a todos os homens, eodircito a realizado diferenciada, que constitui um aspecto do préprio exerci- cio da liberdade, e se operacionaliza, nas democracias, através da oferta mais am- pla e eqiiitativa de oportunidades. 4, Hipéteses Alternativas Considerem-se, como ponto de parti- da para a construgiio de cendrios alterna- tivos para o Brasil, astrés seguintes hipo- teses: I — aintegracio do Pais a economia internacional, com énfase no mercado externo ena liberalizacao do comércio in- ternacional, ¢a minimizacao do papel do Estado na vida econdmico-social; Tl — aorientagiio da economia nacio- nal para o mercado interno, com redugaio dos fluxos econdmicos e financciros in- ternacionais, ea ampliaco do papel edos controles do Estado na sociedade; ¢ III — a integracdo competitiva do Pais na economia internacional, tiran- do-se partido de suas vantagens compa- rativas, com énfase na expansao do mer- cado interno, ea atuacao do Estado na economia como suporte ao fortalecimen- to da iniciativa privada nacional. A-primeira dessas hipéteses parece atrelar-se mais a objelivos de curto pra- zo (asclucdo dos problemas atuais de ba- lango de pagamento e da divida externa) eaatitude reativa contra o gigantismo do Estado ea regulamentaciio minudente ¢ asfixiante da vida econémica. Na verda- de, seria dificil admitir, como capaz de conferir sustentacdo ao desenvolvimen- 4 to brasileiro, o esforco de exportacées, em detrimento do mercado interno. Co- mo seria pouco prudente postular o Es- tado minimo associado ao liberalismo ex- tremado, impedindo sua capacidade de atuar como agente do desenvolvimento ede transformagcao social, em conjunto com outras forgas da sociedade. Jaa segunda hipsotese, ac abandonar ainserc&o produtiva do Pais na economia internacional, optando pela autarquia écondmica, bloqueia os fluxos de desen- volvimento gerados pelo comércio ¢ pe- los movimentos internacionais de capital e tecnologia e, ao ampliar o papel e os controles do Estado na sociedade, favo- rece a concentragio do Poder do Estado, inibidora da iniciativa privada e do plu- ralismo. A terceira hipdtese, exorcizando as compreensiveis preocupagdes coma con- juntura particularmente dificil em que vi- vemos, recoloca o pais nas vertentes mais duradouras do nosso desenvolvimento, Com efeito, a fonte de crescimento preponderante de um pafs das dimensdes edo potencial produtivo do Brasil éoseu mercado interno. As exportacées ea efi- ciente substituicdo de importagdes sao mais consent4neas com os objetivos, que Ihes s4o mais compativeis, de reequilibrio das contas externas e de ampliacao daca- pacidade de importar. O dinamismo da economia nacional repousara, em maior medida, na mobilizacao, inclisivecom 0 financiamento da poupanga externa e do potencial produtivo nacional, e na expan- sdo de seu mercado interno, De outra parte, se cabe estimular a iniciativa pri- vada para preencher novos espacos pro- dutivos, muitos deles hoje ocupados pe- lo Estado-empresario, nao parece pru- dente retirar do Estado sua fungao de es- timulador do processo de modernizacao nacional, de aglutinador e catalizador dos investimentos diretamente produti- vos e de promotor do desenvolvimento tecnolégico. Na opcao prependerante pelo mercado interno esta, finalmente, 0 caminho para a correcao dos graves de- sequilibrios sociais gerados, no passado recente, por conseqliéncia de crescimen- to acelerado que, do modo e coma rapi- dez com que 'se processou, dificilmente deixaria de produzir distorgdes e anoma- lias sociais e espaciais de desenvolvimen- to. Anomalias evidenciadas pela grave problematica urbana nacional, j4 anali- sada. 6. Desafio Este € 0 desafio colocado para o Cor- po de Estagidrios, bem como parao Cor- po Permanente da ESG, parcelas que so- mos da elite brasileira. Nao nos esquegamos de que a Vonta- de Nacional so se afirma quando dois im- portantes fatores se conjugam: 1° — as elites, com capacidade, des- prendimento, honestidade, dedicagao e patriotismo, capazes de indicat os cami- nhos a trilhar; 2° — o povo, na sua pureza, na sua sensibilidade, na sua vontade de acertar € no seu anseio de crescer, identificado com suas liderangas, por sentir que nelas pode confiar. Conjugados estes dois fatores, o Bra- sil, com certeza, haverd de ocupar o lu- gar de honra que merece no concerto das nagées. AESG, como instituto especializado em estudar 0 Brasil, s6 fara jus a este ga- lardao, de que tanto nos orgulhamos, se agir — na mais pura acepedo do termo — como elite que é, vencendo 0 desafio que se [he apresenta. 15

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