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Andlise de uma situagéo social na Zululandia moderna! Max Gluckman 1A organizagéo social da Zululandia moderna Introdugéo A Africa do Sul é um Estado nacional habitado por 2.003.512 brancos, 6.5 ‘Sua Populagao nao forma uma comunidade homogenea porque 0 Estado basicamente esta constitu 7.241 africanos e varios outros grupos raciai © por sua divisdo em grupos aciais de varios status. Portanto, o sistema social do pais é com. Posto, predominantemente, de relacées in cada grupo Jependentes em tre os varios grupos como grupos raciais. Do original ‘Analysis ofa social situation in modern Zululand” (Gluckman, 1958). Tradugio de Roberto Yutaka Sagawa e Maura Miyoko Sagawa 2 Outros grupos raciais: 767.984 euro-aisticos/euro-afticanos (de 219,928 asitcos. Cifras de acordo com ocenso de 1936, RelatérioPrelimin Neste ensaio, analisarei as relagdes entre africanos ¢ brancos donorte da Zululandia, baseando-me em dados coletados durante dezesseis meses de pesquisa de campo, realizada entre 1936 1938. Cerca de dois quintos dos afticanos da Africa do Sul moram em areas reservadas, distribuidas por todo pais. Apenas alguns europeus (administradores, técnicos do governo, missionérios, comerciantes e recrutadores) vivem nessas reservas. Os homens cumam migrar das reservas, por curtos periodos, a fim de trabathar para fazendeiros brancos, industriais ou se em- pregar como criados dom suas casas. A comunidade de africanos de cada reserva mantém ssticos, Findo o trabalho, retornam as estreitas relagdes econdmicas e politicas, bem como outros tipos de relagées com o restante da comunidade africana branca do pais, Por isso, quando se explicitam os problemas estrucurais em qualquer reserva profundidade a reserva est inserida no sistema social do pais, 6 preciso analisar amplamente como e em que quais relagSes dentro da reserva envolvem africanos brancos e como sio afetadas e afetam a estrutura de cada grupo racial Pesquisei, no norte da Zululandia, uma secdo territorial do sistema social da Africa do Sul, especificando suas relagdes com sistema como um todo. Acredito, entretanto, que provavelmen: te 0 padréo dominante da area pesquisada se assemelhe ao de qualquer outra reserva do pais.* Deve, além do mais, apre: tar 3 Peaquisa inanciada pelo Ministétio Nacional de Educagio e Pesquisa Social do Departamento de Educario da Unido (Fundo Carnegie), a0 qual agrade > pela vetba. Trabalhei nos distritos de Nongoma, Mahlabatini, Hlabisa, Ulombo, Ingwavums, Ngotshe ¢ Veyheid (ver 0 mapa da Afica do Sul). 0 sequer consigo agradecer adequadamente, 4 Possoassnalar aqui que a pesquisas da sen a Hilda Kuper na Swill, sob proteco bitinica, mostram muitas dessas 30 minha divida para com a senhora oerttério vizinho que es imlaridades. Reconheco com grat Kuper, com quem discuti em detalhes os nossos resultados. No poss in dlicar aqui o muito que devo a ela. © senhor Godfrey Wilson, A. W. Ho or Shapera crticaram 0 primeito rascunho ssiveis analogias com outras éreas localizadas em Estado \eterogéneos onde, embora vivendo separados, grupos social mente inferiores (do ponto de vista racial, politico e econdmico inter-relacionam-se com os grupos dominantes. Nao pretendo, aqui, desen im estudo comparativo; no entanto, vale a pena salientar o contexto mais amplo dos problemas sob Como forma de iniciar esta andlise, descrevo uma série de dia eventos conforme foram registrados por mim em um tinico As situagées sociais constituem uma grande parte da maté -prima do antropélogo, pois so os eventos que observa. A parti das situagGes sociais e de suas inter-relagdes em uma socieda. de particular, podem-se abstrair a estrutura social, as relagdes sociais, as instituigées etc. daquela s e de novas situagbes, o antropélogo di suas generalizagées, Como o meu enfoque dos problemas sociolégicos da Africa moderna nao foi previamente utilizado no estudo do que se con. dade. Por meio dessas leve verificar a validade d vencionou chamar “contato cultural”, apresento um material de hor pesquisa detalhado. Dessa maneira, serd possivel avaliar n e criticamente a abordagem adorada.’ Escolhi deliberadamente es eventos particulares, retirados de meu didrio de campo, porque ilustram de forma admiravel o que estou tentando enfati i neste ensaio, Poderia, entretanto + selecionado igualmente intimeros outros eventos ou citado outras ocorréncias do coti diano da Zululandia moderna. Descreverei os eventos da forma z de adicionar 4 minha descricéo ido aquilo que ja conhecia previamente sobre a estrutura total da Zululandia moderna. Espero que, dessa forma, a forga do met ‘argumento possa ser mais bem apreciada, nic, & claro, tem sido amplamente empregada por outros antropélogos, Antropologio das sociedades conten As situagdes sociais Em 1938, estava morando no sitio (homestead) de Matolana Nawandwe* um conselheiro do regente e representante governa- ‘mental. O sitiolocaliza-se a quase 21 quilémetros da magistratura europeia eda Vila de Nongoma, e a 3,2 quil6metros do armazém de Mapopoma. No dia 7 de janeiro, acordei ao amanhecer e pre- parei-me para ira Nongoma na companhia de Matolana ede meu criado Richard Nrombela, que vive em um sitio aproximadamente itocentos metros distante da casa do meu anfitrido. Naquele dia, meu plano era comparecer de manha a inauguracéo de uma ponte no distrito vizinho de Mahlabatini e logo apés, a tarde, a lum encontro distrital na magistratura de Nongoma. Richard, um cristéo que morava com trés irmaos pagios, veio vestido com suas melhores roupas europeias. Ele € um “filho” para Matolana, pois a mae de seu pai era irma do pai de Mato- lana. Richard preparou 0 vestuério de Matolana para ocasides especiais: uniforme de jaqueta céqui, calcas de montaria, boras € polainas de couro, Estévamos a ponto de deixar a casa de Matolana quando fomos retardados pela chegada de um policial uniformizado do governo zulu, empurrando a sua bicicleta, e acompanhado por lum prisioneiro algemado, um estranho no nosso distrito, que estava sendo acusado de roubar ovelhas em algum outro lugar. © policial e o prisioneiro cumprimentaram Matolana e a mim. Respondemos ao cumprimento do policial, que € membro de uum ramo colateral da familia real zulu, com as saudacées dignas de um principe (umtwana). Entdo, o policial relatou a Matola- 6 Ele orepresentance do rei zulu no subdistitode Kwadabsci (Mapopoma). 0 rei era, entio,egalmente, onic chefe da pequena tribo Usuthu. Aposicio| do representante € reconhecida pelo govern, j que ele pode julgar casos Civis.Suasdecis6es, depois de registradas na magistratura, sero reforgadas pela Corte Mensageira do Governo, se necessério, Ele é um dos conselheitos mais importantes do rei, 240 AAnéliso de uma stuagéo social na 2uuléndia modem na como tinha capturado o prisioneiro com a ajuda de um de seus guardas particulares.’ Matolana repreendeu 0 prisioneiro dizendo que nao admitiria escérias (izigebengu) no seu distrito Voltou-se, em seguida, para o policial e criticou 0 governo por esperar que ele e sua guarda particular ajudassem a capturar pessoas perigosas, sem pagar nada por esse servi¢o, nem levar em consideragao nenhuma recompensa aos seus dependentes, «aso fossem mortos. Matolana frisou ainda que trabalhava muitas horas administrando a lei para 0 governo, sem receber salério; disse também que era suficientemente inteligente para deixar de fazer esse trabalho e voltar as minas, onde costumava ganhar dez libras por més como capataz. © policial foi embora com seu prisioneiro. Em seguida, Partimos em meu carro para Nongoma. Paramos no meio do caminho para dar carona a um velho, lider de sua pequena seita crista, fundada por ele préprio e cuja paréquia foi construida em seu sitio. Esse velho lider atribui a si o titulo de supremo na sua igreja, mas as pessoas consideram a sua seita, que nao 6 reconhecida pelo governo, como parte dos zionistas, uma gran- de igreja separatista nativa (encontrada em Zululandia, Natal, Swazilandia e outros lugares do pais). O velho lider estava se dirigindo a Nongoma para comparecer ao encontro da tarcle como lum representante do distrito de Mapopoma. Ele sempre desem- penhou esse papel, em parte por causa de sua idade e, em parte, Por ser 0 lider de um dos grupos de parentesco local. Embora ‘qualquer um possa comparecer e falar nessas reuniées, ha pes- soas que slo reconhecidas como representantes pelos pequenos distritos. Separamo-nos no hotel, em Nongoma. Enquanto os. trés zulus foram a cozinha para tomar o café da manhi, resolvi tomar banho, antes do desjejum. Ao voltar para o café da manha, sentei-me & mesa com L. W. Rossiter, veterinério do governo para 7 Nomeatos por Matolana com a aprovagio do magistrado edo rei zulu, Eles recebem uma pequena parte dos impostos da Corte a ypologio dae soci 08 cinco distritos da Zululindia do Norte.* Conversamos sobre as condicdes das estradas e sobre as vendas de gado pelos nativos locais. Ele também estava indo & inauguragao da ponte e tinha, como eu, um interesse particular nesse evento, pois a ponte havia sido construida sob a direcdo de J. Lentzner, da equipe de engenharia do Departamento de Assuntos Nativos, um grande amigo e velho colega de escola de ambos. ‘Oveterindrio do governo sugeriu que Matolana, Richard eeu vviajassemos em seu carro até a ponte, pois estava acompanhado por apenas um nativo da sua equipe. Por meu intermédio, ele ja havia estabelecido relagdes cordiais com Matolana e Richard. Fui cozinha dizer a Matolana e Richard que seguirfamos no carro do veterinario ¢ ali fiquei por uns instantes conversando com (08 dois e com os empregados zulus do hotel. Quando saimos 20 encontro do veterindrio, todos trocaram cumprimentos, cada um indagando cerimoniosamente sobre o estado de satide do outro. Matolana tinha uma série de reclamagoes (pelas quais ja era co- nhecido entre os funcionérios qualificados do governo) sobre 0 exterminio dos parasitas de gado. A maioria das reclamacoes era tecnicamente injustificada. O veterindrio eeu sentamos no banco da frente do carro, enquanto os trés zulus sentaram atrés.” A ceriménia de inauguracao da ponte tornou-se relevante por ser a primeira construida na Zululandia pelo Departamento de Assuntos Natives, apés a implementacao dos novos planos de desenvolvimento nativo. A ponte foi inaugurada por H. C. Lugg, comissario-chefe dos nativos da Zululandia e de Naval." le é funcionério do Departamento de Agricultura e ndo do de Assuntos [Nativos, e¢ independente dos funcionérios dos Assuntos Nativs, 9 Oveterinirio, ue representa o govern, nasceu na Swazilandia. Ele fal ura zulu répidoe melhor ainda a lingua franca, com forte tendéncia& prontincia Swati 10 Em relacdo a0 seu stats, ver Rogers (1933). Na posigéo de chefe do De partamento de Assuntos Nativos na Zululandia e Natal, ele é subordinado 8 Secretaria de Assuntos Nativos para o pais. Abaixo dele, na hierarqua, 202 Andlise de uma stuacae social na Zululéndia moderna E construida sobre o Rio Umfolosi Negro na direcdo de Malun- gwana, no distrito magistratorial de Mahlabatini, numa estrada secundaria para o Hospital Ceza da Missao Sueca, alguns qui- lometros acima de onde a estrada principal Durban-Nongoma atravessa o rio num caminho de concreto. O Rio Umfolosi Negro sobe rapidamente seu nivel durante as chuvas pesadas (as vezes, até 6 metros), tornando-se inavegavel. O principal objetivo da construgao dessa ponte, nivel baixo (1,5 metro), foi ode permitir a comunicagao do magistrado de Mahlabatini coma parte de seu distrito localizada além do rio, durante as pequenas subidas dele. Além disso, essa ponte torna possivel 0 acesso ao Hospital Ceza, famoso entre os zulus por sua especializacio em obstetricia. As mulheres zulus frequentemente viajam até 112,65 quilémetros para serem internadas nesse hospital. Durante nossa viagem, discutimos, em zulu, sobre os varios lugares pelos quais passavamos. Dessa conversa, somente anotei que o veterinario do governo perguntou a Matolana qual era a lei zulu de punigao 20 adultério, pois um de seus funcionérios estava sendo processado pela poli de outro homem, embora até entao ignorasse o fato de ela ser casada No local onde a estrada ébifurcada para Ceza, o magistrado de Mabllabatini havia colocado um zulu, vestindo trajes de guerreiro, para orientar os visitantes. Na estrada secundéria, ultrapassamos ia por morar com a esposa o carro do chefe Mshiyeni, regente da casa real zulu, que viajava de sua casa, localizada no distrito de Nongoma, para assistir & inauguragao da ponte. Nossos acompanhantes zulus dirigiram- -lhe a saudacdo real e nés 0 cumprimentamos, Além do chofer, que dirigia seu carro, Mshiyeni também estava acompanhado por um oficial militar armado, de uniforme aide-de-camp, e mais outro auxiliar dis ssirios nativos (questo também magistrados) de cada um dos em que Natal e Zululinia est diviidos, 3 von para mapiteniee Ge Nongoms 4 tra pra aptal CDA “04aem) 1 Mostra an || 2k dng) stone \ cago para cezn nici ae A ponte esta localizada num aluvido, entre margens bem in- ‘gremes. Quando chegamos, um grande niimero de zulus estava reunido em ambas as margens (em Ae B no mapa). Na margem ‘ao sul, em um dos lados da estrada (no ponto C do mapa), havia uma barraca, onde a maioria dos europeus estava concentrada. Os europeus haviam sido convidados pelo magistrado local ¢ incluiam a equipe administrativa de Mahlabatini, o magistrado, assistente do magistrado eo mensageiro da corte de Nongoma; O cinurgito do distrito; missionérios¢funcionérios do hospital comerciantes ¢ agentes recrutadores; policiais e técnicos; e vé ‘ios europeus com interesses centrados no distrito, entre eles C Adams, leilociro nas vendas de gado nos distritos de Nongoma € Hlabisa. Muitos estavam acompanhados por suas esposas. O comisséio-chefe dos nativos, Lentzner e um representante do Departamento de Estradas da Provincia de Natal chegaram mais tarde. Dentre os zulus presentes, estavam chefes locais, lideres (headman) e seus representantes; os homens que haviam cons 24 truido a ponte; policiais do governo; o funcionario dos nativos da magistratura de Mahlabatini, Gilbert Mkhize; e zulus residentes nas proximidades. Eramos, ao todo, aproximadamente 24 euro. eus e quatrocentos zulus. Arcos de ramagem tinham sido erguidos em cada extremida- de da ponte. Uma fita esticada passava pelo arco da extremidade sul da ponte e seria rompida pela passagem do comissério-chefe dos nativos em seu carro. Um guerreiro zulu, em trajes marciais, estava em posicdo de guarda perto desse arco. O veterinério do Soverno conversou com 0 guerreiro (um induna'' local) sobre @ desinfeceao do gado local. Nessa ocasiéo, fui apresentado ao Suerreiro para que pudesse Ihe falar sobre o meu trabalho e solicitar a sua assisténcia Enquanto o veterinrio do governo eeu conversivamos com varios europeus, nossos zulus juntaram-se ao grupo de zulus. Matolana foi recebido com o respeito devido a um importante conselheiro do regente. Quando o regente chegou, recebeu a saudagao real e se juntou aos seus stiditos, reunindo rapida mente ao seu redor uma pequena corte de pessoas importantes. O comissario-chefe dos nativos foi o préximo a chegar: cumpri- mentou Mshiyeni e Matolana, e quis saber sobre aartrite de Ma- tolana. Pelo que pude dedu assuntos zulus. Depois passou a cumprimentar os europeus. A inauguracao foi retardada por causa do atraso de Lentzner. Aproximadamente as 11h30, um grupo dos zulus que cons truiu a ponte reuniu-se na extremidade norte dela, Nao usavam jes marciais completos, mas portavam lancas € escudos. Quase todos os altos dignitérios zulus trajavam roupas de montaria curopeias, embora o rei estivesse usando um terno de passeio, Pessoas comuns trajavam combinacées variadas de roupas euro. ‘ambém discutiu com eles alguns rio politico menor. Uso 0 termo como & empregado na legisla governamencal. Essa palavra estésendo aceitana Africa do Sul pode ser encontrada no D Antropologia das sociedades contemporénee: Peias ezulus.”” A tropa de guerreiros armados marchou através da ponte, passando atras da fita na extremidade sul; ali cumpri entou 0 comissario-chefe dos nativos com a saudacio real zulu, bayete. Depois, voltou-se para o regente, saudando-o. Tanto comissario-chefe dos nativos como o regente responderam a sau- aco levantando o brago direito, Os homens comegaram acantar othubo (cangao de cla), do cla Butezeli (0 cla do chefe local que é principal conselheiro do regente zulu), mas foram silenciados pelo regente. Entdo, os procedimentos da inauguragio tiveram inicio com um hino inglés, conduzido por um missionério de isso sueca Ceza. Todos os zulus, inclusive os pagdos, ficaram de pé e tiraram seus chapéus. Mister Phipson, o magistrado de Mahlabatini, fez um discur- so em inglés, traduzido sentenga por sentenca para 0 zulu pelo seu funciondrio zulu, Mikhize."* O magistrado deu as boas-vindas a todos e agradeceu especialmente aos zulus por comparecerem a inauguracao. Parabenizou os engenheiros e os trabalhadores zulus pela construcio da ponte e ressaltou o valor que esta teria para o distrito, Em seguida, passou a palavra para o comissério: -chefe dos nativos, que conhece bem a lingua eos costumes zulus, Este falou sobre o grande valor da ponte, primeiro em inglés para © europeus, depois em zulu. © comissario-chefe dos nativos salientou que a construcZo da ponte era apenas um exemplo do que o governo estava fazendo para desenvolver as reservastribais zulus. Apés 0 comissario, o representante do Departamento de Estradas da Provincia falou brevemente, ressaltando que, embora tivesse sido pressionado a construir uma, seu Departamento nun- ‘a tinha acreditado na resisténcia de uma ponte baixa as cheias 12 Oscristios usam roupa europeia completa. Os pags geralmente usam cami ss €,&svezes, casacos sobre cintos de pele (ieshu = cinto de pele, pagic). 13. Nio posso reproduzir em detalhe esse discurso ou qualquer outro, ja que ‘io pude fazer anotagGes detalhadasdeles. Aqui menciono apenas os pontos relevantes, 246 ‘Anélise de uma stvegBo sociol ne Zululéndia modemna do Rio Umfolori. Continuando seu discurso, cumprimentou os engenheiros dos Assuntos Nativos pela implementacdo da ponte ue, mesmo construida a baixo custo, tinha resistido a cheia de 1,5 metro. Anunciou também que o Departamento da Provincia {tia construir uma ponte alta na estrada principal."* Adams, um velho zulu, foi o préximo a discursar em inglés e em zulu, mas ho disse nada de relevante. Oriltimo discurso foi o do regente Mshiyeni, em zulu, tradu- 2ido por Mkhize para o inglés, sentenca por sentenca. Mshiyeni agradeceu ao governo pelo trabalho que estava sendo realizado a Zululéndia. Disse que a ponte possibilitaria a travessia em época de cheia e permiiria que suas esposas fossem livremente Para o Hospital Ceza ter seus flhos. Apelou ao governo para que nao se esquecesse da estrada principal, onde também era necessirio construir uma ponte, pois i o rio frequentemente impedia a passagem. Mshiyeni anunciou ainda que o governo daria uma cabesa de gado a0 povo e que o comissario-chefe dos nativos the havia dito que deveriam, de acordo com o costume zulu," derramar a bilis nos pés da ponte, para dar boa sorte « seguranga as criancas quando a atravessassem. Os zulus riram ¢ aplaudiram. O regente considerou seu discurso encerrado ¢ recebeu asauda¢io real dos zulus, que, seguindo o exemplo dos curopeus, haviam aplaudido os outros discursos, © comissério-chefe dos nativos entrou em seu carro e, pre cedido por virios guerreiros em trajes marciais cantando o dhubo Butelezi, atravessou a ponte. Foi seguido, sem nenhuma orders hierdrquica, pelos carros de outros europeus e do regente, © Fegente pediu aos zulus trés vivas (hule, em zulu). Ainda tendo 08 guerreiros frente, os carro fizeram o contorno na margern 1s estrada princpais ¢ suas pontes slo conservadas pela provincia, e as SSrades secundaris em esitériosnatlvs, plo Departamento de Assuntos Nativos do pas 15 Mshiyeni¢ cristo, 247 ‘Antropologia dos sociedades contemporéneo posta ¢ retornaram. No caminho, um funcionério europeu da magistratura, que queria fotografé-los, pediu que parassem. Todos os zulus presentes cantaram o ihubo Butelezi (Os europeus entraram na barraca para tomar cha com bolo. ‘Uma missionéria serviu o regente fora da barraca. Na barraca, 0s europeus estavam discutindo assuntos zulus e outros mais getais, Néo acompanhei as discuss6es porque fui a margem norte onde os zulus estavam reunidos. Os 2ulus locais haviam presen- teado o regente com trés cabecas de gado. Na margem norte, numa atmosfera de grande euforia, o regente e seu oficial militar atiraram nesses trés animais, bem como no animal doado pelo governo. O regente pediu a Matolana para selecionar homens, a fim de esfolar ecortar o gado para distribuigao. Depois se dirigiu a um local de vegetacao rasteira nas proximidades (D no mapa) para conversar com seu povo e tomar cerveja zulu, da qual Ihe haviam ofertado grande quantidade. O regente enviou quatro potes de cerveja, carregados por garotas, 20 comissério-chefe dos nativos. Observei, do outro lado do rio, que ele bebeu de um pote que reservou para si, dizendo as carregadoras para beber dos outros potes e entdo distribui-los entre o povo, De acordo com a etiqueta zulu, esse procedimento € o apropriado. comissério-chefe dos nativos e quase todos os europeus foram embora. A maioria dos zulus tinha se reunido na margem norte, dividindo-se, grosso modo, em trés grupos. Na mata de arbustos (item D no mapa), estava o regente com seus indunas locals, sentados juntos, enquanto mais longe ficaram os plebeus. Estavam tomando cerveja e con versavam, enquanto esperavam pela carne, Logoacima da margem do rio (item A do mapa), esta~ ‘vam alguns grupos de homens cortando rapidamente trés animais soba supervisio de Matolana; eles faziam muito barulho, baten- do papoem tomaltoe rindo. O veterinério do governo, Lentzner € 0 técnico de agricultura europeia do distrito observavam-nos, Logo atrés, a uma maior distancia da margem, 0 missionério sueco havia arregimentado diversos cristdos zulus que estavam 248 Andlise de ume stvac6o social na Zululandia moderna alinhados em filas e cantavam hinos sob sua diregao. Entre os cristéos enfileirados, observei a presenca de alguns pagios. Len. tzner pediu a dois guerreiros que posassem ao seu lado para uma fotografia tirada na sua ponte. Os diferentes grupos continuaram cantando, conversando e cozinhando até irmos embora Eu tinha passado de grupo em grupo, exceto pelos cristéos que cantavam os hinos. Porém, passei a maior parte do tempo conversando com Matolana, Matole e o chefe Butalezi, a quem conheci somente naquele dia. Matolana tinha que ficar para asses- sorar o regente, e, por isso, combinamos que o regente o levaria a reuniéo de Nongoma, Partimos com Richard e o office-boy do veterinério. A reunigo na ponte duraria ainda o dia todo. Almosamos, novamente separados dos zulus, em Nongoma, ¢ fomos, o veterinério do governoe eu, separadamente, & reunifio ha magistratura. Cerca de duzentos a trezentos zulus estavam presentes. Entre eles, chefes,indunas e plebeus. A reuniao comegou um poucoatrasada, porque Mshiyeni nao havia chegado ainda. Fi- nnalmente, o magistrado iniciou a reunio sem a sua presenca. Apés uma discussao geral sobre assuntos do distrito (leil6es de gado, gafanhotos e reproducio de touros de qualidade), os membros de duas das tribos do distrito foram dispensados da reunio. Ha trés tribos: Os Usuthu, a tribo da linhagem real, que constituem o séquito de clientes pessoais do rei zulu (hoje, o regente) Somente o rei detém jurisdi¢&o legal sobre os Usuthu, muito embora quase todas as outras tribos na Zululéndia acatem sua autoridade. (Os Amateni, que constituem uma das tribos reais ¢ que so governados por um dos pais classificatérios do rei 16-ssasreunides acontecem pelo menos uma ver por trimestre,etodos esassuntos relacionados ao dstrito sio diseuidos por Funcionitios, chefese o pov. Sfo também convocaas reuniges exraordiniras quando necessrio. ‘Aniropologia des sociedades contemporéneo: * Os Mandlakazi, que séo governados por um principe de um ramo colateral da linhagem real, e que se separaram da nacao zulu em guerras civis que se seguiram a guerra anglo-zulu de 1879-1880, Os Mandlakazi foram requisitados a permanecer na reu- nido, pois 0 magistrado queria discutir as brigas entre faces Que estavam ocorrendo entre duas das secdes tribais. O chefe Amateni e seu chefe induna foram autorizados a permanecer na reunido (Mshiyeni, o chefe Usuthu, ainda nao estava la), mas 0 magistrado ndo queria que os plebeus de outras tribos 0 ouvis- sem reprimindo os Mandlakazi."” O magistrado dirigiu a palavra 205 Mandlakazi em um longo discurso, reprovando-os por terem saqueado a propriedade dos Zibebu (umzikaZibebu, isto 6, a tribo do grande principe, Zibebu) e por estarem em uma situacao em ue so obrigados a vender seu gado para pagar multas para o tribunal de justica, em vez de alimentar, vestir eeducar seus filhos © esposas.* Entrementes, Mshiyeni, acompanhado por Matolana, entrou e todos os Mandlakazi se levantaram para saudic-lo, inter. rompendo o discurso do magistrado. Mshiyeni desculpou-se por estar atrasado e sentou-se com os outros chefes. ‘AP6s ter feito suas reprimendas durante um bom tempo, 0 ‘magistrado pediu que o chefe Mandlakazi se pronunciasse sobre a questo. O chefe Mandlakazi reprovou seus indunas eos principes das segdes tribais em conflito; depois sentou-se. Vérios indunas falaram, justficando seus atos e culpando os outros; im deles, um individuo, que, de acordo com os outros zulus, estava adulando © magistrado para se promover politicamente, fez seu discurso clogiando a sabedoria e a bondade co magistrado. Um principe da linhagem Mandlakazi, que, além de membro de uma das seces em conflito, é também um policial do governo, reclamou que a outra 17 Ele me confdenciou isso & pare. 18 O desentendimento era sobre alguma ofensa banal /Anlise de uma stvagdo social ne Zulléndia moderna Se¢do tribal estava sendo auxiliada nas disputas por seus vizinhos, membros da tribo Usuthu que moravam no distrito de Matolana Finalmente, chegou a vez de Mshiyeni falar. Ele interrogou rigorosa- ‘mente os indunas Mandlakazi, dizendo-Ihes que tinham obrigacao de verificar quem iniciow as brigas e prender os culpados, sem permitir ue a culpa recaisse sobre todos que agora brigavam. Incitou os Mandlakazi ando destruirem a propriedade dos Zibebu afirmando ue, se 0s indunas néo pudessem zelar pela nagio, seria melhor que fossem depostos. Por fim, repudiou a acusagio de que seu pov éstariaparicipando das brigas.” © magistrado endossou tudo que © regente tinha acabado de falar'e encerrou a reunio. Andlise da situacéo social Apresentei uma amostra tipica dos meus dados de pesquisa de campo. Estes so compostos de varios eventos que, embora ocorridos em diferentes partes da Zululéndia do Norte e en- volvendo diversos grupos de pessoas, foram interligados pela minha presenca e participacéo como observador. Por meio dessas situagbes e de seu contraste com outras situacSes nao descritas, fentarei delinear a estrutura social da Zululéndia moderna Denomino esses eventos de situagdes sociais, pois procuro analisé-los em suas relagSes com outras situacdes no sistema social da Zululnda, Todos os eventos que envolvem ou afetam seres humanos s20 Sociais, desde a chuva ou o terremoto até o nascimentoe a morte ato de comer e defecar etc, Se as ceriménias mortuérias s40 exe. cutadas para um individuo, esse individuo esté socialmente mor- 19 Mais tarde, ele probiu seu povo de comparecer aos casamentos dos Man. lakaz, onde as uta tisham comesado. Baixou também uma lei segundo 8 ual ninguém deveria dancar com langas, para que ndo houvesse fries se alguma briga elodisse Aniropologia dos sociodades contornporén {oa iniciago transforma socialmente um jovem em um homem, qualquer que seja sua idade cronolégica. Os eventos envolvendo seres humanos so estudados por muitas ciéncias. Assim, 0 ato de comer 6 objeto de anilise fisiologica, psicolégica e sociolégica. £ uma atividade fisiolégica, quando analisado em relacéo a de- fecago, circulagao sanguinea etc.; uma situagao psicolégica, em relacdo a personalidade de um homem; e sociol6gica, em relacéo aos sistemas de producao e distribuigdo da comunidade, aos seus agrupamentos sociais, aos seus tabuse valores religiosos. Quando se estuda um evento como parte do campo da Sociologia, éconve- niente traté-lo como uma situacdo social. Portanto, uma situacZo social é, em algumas ocasies, 0 comportamento de individuos ‘como membros de uma comunidade, analisado e comparado com seu comportamento em outras ocasies. Dessa forma, a anilise revela o sistema de relagGes subjacente entre a estrutura social da comunidade, as partes da estrutura social, o meio ambiente fisico a vida fisiolégica dos membros da comunidade.”” Inicialmente, devo salientar que a situagdo principal estava se configurando pela primeira vez de uma forma particular na Zululandia.* O fato de os zulus € os europeus poderem cooperar na inauguragdo da ponte mostra que formam conjuntamente uma sinica comunidade com modos especificos de comportamento, Somente com base nessa perspectiva se pode comesar aentender © comportamento dos individuos da forma como os descrevi. Apesar de parecer desnecessario, quero enfatizar esse tipo de abordagem porque foi recentemente criticada por Malinowski (1922) em sua introdugao aos ensaios teéricos sobre “cultura de contato” escritos por sete pesquisadores de campo. Malinowski ataca Shapera e Fortes por adotarem uma abordagem similar 20 Sobre significado socioldgico de stuagdessocias, ver Forts (1837), Evans- Pritchard (1937, 1940) e Malinowski (1922). 21 entretanto, similar ds inauguragBes de pontes etc. em regides europeias 4 inauguragéo de escolase demonstragdesaprcolas na Zululéndia, Andlise de uma sivagdo social na Zulutndko moderna quela que me foi imposta pelo meu material de pesquisa (Glu- ckman, 1938b).2? Na segunda parte deste ensaio, examinarei a validade dessa abordagem para o estudo da mudanga social na Africa; aqui, quero somente salientar que a existéncia de uma \inica comunidade branco-africana na Zululandia deve, necessa- riamente, ser o ponto de partida da minha anilise. (Os eventos ocorridos na ponte Malungwana - planejada por engenheiros europeus e construida por trabalhadores zulus, que seria usada por um magistrado europeu governando os zulus ¢ por mulheres zulus indo a um hospital europeu, inaugurada por funcionérios europeus e pelo regente zulu em uma ceriménia que incluiu no somente europeus e zulus, mas também ages histo- ricamente derivadas das culturas europeia e zulu ~devem ser re- lacionados a um sistema que, pelo menos uma parte, é composto de relages zulu-europeias. Essas relagdes podem ser estudadas como normas sociais, como pode ser demonstrado pela maneira como zulus e brancos adaptam, sem coergao, seu comportamento tuns aos outros. Por isso, posso empregar os termos Zululandia e zululandeses para abranger brancos e zulus conjuntamente, enquanto o termo zulu designa africanos somente. 22 Acredito que a falta de percepeio da importinciateérica desse ponto en fraqueceu ou mesmo distoreu alguns estudos recentes de mudanca social na Africa, embora certamente todos os especilisas tenham reconhecido muitos dos fatos. Sobre os Pondo na Africa do Sul ver, por exemplo, Hunter (1936); sobre os Ganda, ver Mair (1934); e sobre os Ibo, ver Meek (1937). E surpreendente que os antropélogos apresentem wma falha que nfo poderia ‘ocorrer com 0s historiadores (por exemplo, W.M. Macmillan e}.S. Marais), economistas (por exemplo,S. H. Franks), peicblogos (por exemplo, I. . Macrone) ou mesmo algumas comissBes governamentais (por exemplo, 1 Comissio Econémica Ativa e Grifica do Governo da Unifo, Pretér 1922/1932). Possivelmente, porque, ao contririo do que dizem, os antro- logos ndo se livraram da tendénciaarqueol6gica. Entretanto, em outro Ponto da mesma introdugio, Malinowski (1922, .22) aponta o absurdo {que é nio adotar 0 ponto de vista que ele teoricamente critica: "Gostaria de encontrar o eindgrafo que conseguisse isolar as partes componentes de urn aticano ocidentalizado” 253 airopologia dos sociedades contempordneo Seria possivel enunciar inimeros motivos e interesses diferentes que causaram a presenca de varias pessoas 4 inau- guracio da ponte. O magistrado local e sua equipe compa receram por dever profissional e organizaram a cerimOnia porque estavam orgulhosos de dar ao distrito a contribuigéo valiosa da construcio da ponte. De acordo com seu discurso, © comissério-chefe dos nativos concordou em inaugurar a ponte para demonstrar seu interesse pessoal ¢ dar relevancia 420s planos de desenvolvimento assumidos pelo Departamento de Assuntos Nativos, Uma consulta ao rol de europeus pre- sentes & ceriménia mostra que os do distrito de Mahlabatini que compareceram a inauguragao tinham interesse governa- mental, ou pessoal, pelo distrito ou pela ceriménia. Além do mais, qualquer evento constitui uma recreagdo na monétona vida dos europeus em uma reserva. A maioria dos europeus sente também obrigagao em comparecer a esses eventos. Essas duas tltimas razdes poderiam ser atribuidas aos visitantes de Nongoma. O veterinario do governo e eu fomos atraidos a inauguracio por lagos de amizade e também pelo nosso traba Iho. Constatou-se que varios europeus levaram suas esposas, ‘que somente alguns poucos zulus cristdos (como Mshiyeni) fariam em situagdes similares. Entre os zulus, o regente, honrado por ter sido convidado (0 que nto teria sido necessério), veio, sem divide alguma, para mostrar seu prestigio e reencontrar alguns de seus stiditos que ele raramente vé, O escrivéo zulu e policia governamental compareceram a servigo: 0 chefe Matole e 0s indunas locais vie ram por se tratar de um evento importante no seu distrito. Os trabalhadores zulus, que tinham construido 2 ponte, sentiam especialmente honrados. Provavelmente, muitos dos zulus 25 As unicas mulheres zulus presentes eram da vizinhanca, porém a espost de Mshiyeni fequent soube de um chefe pagio que levasse sua esposa as reunid nente 0 acompanha a celebraySes similares. Nunca presentes foram até la atrafdos pela festa, pela excitagao e pela presenga do regente.* \Vimos que a vinda de Matolana e Richard & inauguragao da ponte foi motivada pelas relacées incomuns que mantinham comigo. Com exce¢io do grupo do regente, eram, juntamen te com o zulu que acompanhava o veterinério do governo, os tinicos zulus a viajar de uma certa distancia para comparecer 4 ceriménia. Para os zulus, a inauguracéo da ponte era um evento ais local do que para os europeus, Essa é uma indicacéo da existéncia de maior mobilidade e comunicacdo entre os europeus, cujos grupos dispersos em reservas tribais tém um forte senso comunitério, Enquanto a maioria dos europeus de Nongoma sabia da inauguracio, alguns zulus de Nongoma sequer sabiam da existéncia da ponte. ‘© magistrado local desejava exibir o término das obras da ponte. Por isso, convidou europeus e zulus influentes ¢ soliitou ‘ comparecimento dos zulus locais em um dia especificamente estabelecido; dessa maneira, focalizou todos os seus interesses na ceriménia. Foi também o magistrado local quem determinou a forma da ceriménia de acordo com a tradicao de ceriménias similares em comunidades europeias. Entretanto, acrescentou elementos 2ulus onde fosse possivel, para tornar plausivel a participagdo dos zulus e, provavelmente, para dar um toque de cor e brilho & celebrasio (por exemplo, no lugar de um policial comum, colocou um guerreiro zulu em trajes marciais para indicar 0 caminho). De forma similar, apés um hino ter sido cantado, 0 comissa fosse abencoada & maneira zulu. Portanto, a caracteristica principal da ceriménia em si (guerreiros zulus marchando pela ponte, hinos, discursos, rompimento da fita, chés etc.) foi ter ‘da por um representante do governo com formagéo io-chefe dos nativos sugeriu que a ponte sido organi: 24 Nao pesquisei essas questSes com o necessiriocuidado. rropologia dos seciedades conternpor cultural europeia, vivendo em contato intimo com a culturazulu Entretanto, omagistrado somente teve o poder de fazer o que fez como representante do governo, e foi o governo que construiu a ponte. Na Zululandia, além do regente, somente o governo pode promover um evento de importancia péblica para zulus € europeus. Por isso, podemos dizer que foi o poder organizatorio do governo no distrito que deu uma forma estrutural particular 0s intimeros elementos presentes na inauguracdo da ponte. Da mesma forma, o poder governamental também deu forma estrutural a reuniao em Nongoma. Quando Mshiyeni promoveu tum encontro de 6 mil zulus na cidade de Vryheid para analisar os debates da primeira reunido do Conselho Nativo Represen. tativo da Nacao, apesar de funcionérios europeus, policiais ¢ espectadores estarem presentes € de os assuntos discutidos dizerem respeito principalmente as relacdes zulu-europcias foram o poder e o capricho pessoal do regente, dentro do padréo herdado da cultura zulu, que orientaram o encontro. Isto é, 0 poder politico tanto do governo quanto do rei zulu constitui hoje forcas organizat6rias importantes. Mas a policia europeia estava presente na reunido do regente para ajudar a manter a ordem, ‘embora isso nao tenha sido necessirio. Na realidade, durante a inauguracio da ponte, o regente (como frequentemente faz em ocasiées semelhantes) roubou a celebracdo dos europeus e organizou uma festa propria (© magistrado planejou a ceriménia, teve 0 poder para or ganizé-la dentro dos limites de certas tradigSes sociais e pode obvia- er inovages de acordo com as condigées locais. Ma: mente, a divisdo das pessoas em grupos e muitas das ac6es nao foram planejadas. A configuracao subsididria ¢ néo planejada dos eventos do dia tomou forma de acordo com a estrutura da sociedade zululandesa moderna. Muitos dos incidentes que regis: trei ocorreram espontaneamente e a0 acaso, como o veterinario do governo discutindo com o induna, postado em guarda perto da ponte, sobre banhos parasiticidas de gado; ou 0 missiondrio organizando o coral dos hinos. Entretanto, esses incidentes cencaixam-se facilmente em um padrao geral, da mesma maneira como situacées semelhantes envolvendo individuos se amoldam em ceriménias funerdrias ou de casamento. Portanto, a parte ais significativa das situacées do dia ~ as configuraces ¢ as inter-relagSes de certos grupos sociais, personalidades e elemen- tos culturais - solidificou um pouco mais a estrutura social e as instituig6es da Zulu (Os presentes a ceriménia dividiam-se em dois grupos raciais: landia contemporanea. Zulus e europeus. As relagdes diretas entre os dois grupos eram predominantemente marcadas por separacio e reserva. Como grupos, reuniram-se em lugares diferentes, sendo impossivel para eles confrontarem-se em condigSes de igualdade. Embo- ra eu estivesse vivendo na propriedade de Matolana e tivesse grande intimidade com a sua familia, tivemos que nos separar para nossas refeicées, no ambiente cultural do hotel de Nongo: ‘ma; no poderia comer na cozinha com os zulus, tanto quanto eles ndo poderiam comer comigo no restaurante do hotel. A separacdo transparece em todos os padrdes de comportamento zulu-europeu. Entretanto, uma separacio socialmente reforcada ce aceita pode representar uma forma indireta de associacéo, na realidade, uma cooperagao, mesmo quando levada ao extremo do esquivamento, como testemunha o comércio clandestino na Africa Ocidental em tempos antigos. Essa separacZo envolve mais do que a diferenciacdo axiomaticamente presente em to- categorias que misturar, como é 0 caso das castas na india ou as das as relaces sociais. Pretos e brancos sio dua nao devem s categorias de homens e mulheres em muitas comunidades. Em- bora em suas relacdes sociais um filho seja distinto de seu pai também se tornaré um pai. Na Zululandia, um afticano nunca poder transformar-se num branco.™ Para os brancos, a manu- 5 Howve, e possivelmente ainda hi casos de homens brancos “vrando nat vos". Quando isso ocotre, no podem mais se misturar a0 tengo dessa separacéo é um valor dominante que transparece na politica dos assim chamados “segregacio” e “desenvolvimento paralelo”,* expressées que apresentam uma falta de contetido, como tentarei demonstrar na andlise que se segue Apesar de zulus ¢ europeus estarem organizados em dois {grupos na ponte, seu comparecimento ao evento implica estarem into de interesse comum. Mesmo assim, o comportamento de um grupo em relacéo ao outro é des: unidos na celebracao de um asst jeitado, o que nao ocorre no interior de cada grupo racial. De fato, as relaces entre os grupos so muito frequentemente marcadas por hostilidade e conflito, o que, de certa forma, transparece tanto 1s reclamagdes de Matolana contra o banho parasiticida do gado como na existéncia de uma igreja separatista zulu A cisao entre os dois grupos raciais é em si o fator de sua maior integragio em apenas uma comunidade. Eles nao se sepa- ram em grupos de status similar: 0s europeus sao dominantes. Os zulus no podiam entrar nas reservas dos grupos brancos, exceto se pedissem permissio, como no caso dos criados domésticos encarregados de servir ché. Entretanto, os europeus podiam movimentar-se mais ou menos livremente entre os zulus, obser- vando-os e fotografando-os, apesar de poucos terem feito isso. Mesmo a xicara de cha oferecida ao regente, como tributo a sua realeza, foi-lhe servida fora da barraca dos europeus. A posi¢ao dominante dos europeus transparece em qualquer situaco em que individuos dos dois grupos se reiinem por causa de um inte- resse em comum, abandonando a separa¢ao, como na discussé verificada entre 0 veterinario do governo e 0s dois indumas sobre os banhos parasiticidas de gado, ou no fato de o regente chamar qualquer europeu que encontra, mesmo aqueles que nao ocupam Uso este termo para abranger todas as atividades diretamente 1 posi¢ao governamental, de nkosi (chefe), nkosana (chefe menor se jovern) ou numzana (homem importante). Os dois grupos diferenciam-se em suas inter-relagoes na cestrutura social da comunidade da Africa do Sul, da qual a Zu. lulandia constitui uma parte. Por meio dessas inter-relagdes, podem-se delinear separaco, conflito cooperagao em modos de comportamento socialmente definidos. Além disso, os dois tupos também se diferenciam em relagdo a cor, raga, lingua, crengas, conhecimento, tradig&es e posses materiais. No tocante A cooperacio entre os dois grupos, as diferens: por habitos de comunicasdo. Esses dois tipos de problemas envol- vidos estao intimamente relacionados, mas podem ser tratados do permeadas separadamente, até certo ponto ( funcionamento da estrutura social da Zululandia pode ser observado nas atividades politicas, ecologicas etc. Politicamente, fica claro que o poder dominante esté investido no governo do grupo branco, sob o qual os chefes s4o, em um de seus papéis sociais, funciondrios subordinados. O governo detém aautorida- de suprema da forca, da penalidade e do aprisionamento. Assim, pode paralisar os conflitos entre facg6es na tribo de Mandlakasi, muito embora o magistrado, que representa o governo, tente manter a paz por meio de funcionarios zulus que Ihe s4o subor- dinados. Apesar de aefusivas boas-vindas dadas por Mandlakazi a Mshiyeni indicarem que a superioridade social de Mshiyeni € reconhecida, foi o poder do governo que o habilitou a interferir ros assuntos internos de uma tribo que se havia desligado da sua linhagem real zulu, Atualmente, 0 governo é o agente dominante em todos os assuntos politicos. Embora um chefe nomeie seus indunas, hav comentirios de que um induna estava procurando lisonjear 0 ma: gistrado com a finalidade de conseguir poder politico. Os zulus Pode-senotar que fci a posigéo do governo britinico na politica zukw em 878-1888 que viabilizou a independéncia dos Mandlakazi da casa real que ocupam posigGes governamentais constituem uma parte importante da méquina judicial e administrativado governo, Térm como dever, em relagZo ao governo, manter a ordem, auxiliar a politica governamental, assumir causas juridicas, ajudar nos banhos parasiticidas de gado e muitos outros assuntos de rotina. Entretanto, néo tém direito algum de julgar causas criminais im- Portantes, jé que somente o governo pode perseguir malfeitores (como os ladrdes de ovelhas) de um distrito a outro. Contudo, como resultado da divisdo entre os dois grupos raciais, ha uma diferenca nas relacdes do povo zulu com os administradores governamentais europeus zulus. Tanto 0 comissério-chefe dos nativos como o regente receberam a saudacio real dos guerreiros, ‘mas, enquanto 0 comissario-chefe recebeu trés vivas, a presenca do regente e do chefe local motivou a entoagao de cang: zulus. © comissério-chefe dos nativos conversou com os zulus importantes que conhecia, Enviaram-lhe cerveja zulu, mas pre- feriu tomar cha com o grupo branco. O regente sentou- 8 2ulus, tomou cerveja e conversou com eles, até muito depois tibais de os europeus terem se dispersado. O governo forneceu uma cabega de gado ao povo e o regente foi presenteado pelo povo com trés cabecas de gado e cerveja, que o proprio regente distribui entre os presentes, © governo nao tem somente fungées judiciais e adminis- trativas, desempenha também parte importante nas atividades cdentes, vimios que o governo construiu a ponte, que foi paga com os impostos coletados entre ambientais. Nas informacées pi os zulus; emprega cirurgi istritais, técnicos agricolas e en sgenheiros; organiza os banhos parasiticidas e as vendas de gado; € constréi estradas. Mesmo quando chefes e indunas participam hesse tipo de empreendimento governamental, nao o fazem téo facilmente quanto na organizagao judicial e administrativa Embora os chefes pudessem ter simpatizado com a faccio em conflito dos Mandlakazi de uma forma que o magistrado compreenderia, concordavam com este no aspecto de que a paz em uma tribo deve ser valorizada. Mas Matolana tinha uma série ntifico contra os banhos de reclamagSes sem fundamento ci parasiticidas, os quais avaliava num idioma cultural diferente daquele do veterinario do governo. Apesar de os zulus terem acolhido favoravelmente a construgao da ponte e de Mshiyeni ter agradecido, em nome de seu povo, por tudo que o governo estava fazendo em prol dos zulus, em muit julga que seus chefes tém o dever de manter oposigdo aos projetos governamentais (Gluckman, 1940b). tus esto igualmente interligados no s ocasides © povo Os zulus € os que se refere ao aspecto econémico mais amplo da vida da Zu: lulandia. Eu havia salientado que os criados domésticos eram admitidos na barraca dos europeus e que a ponte foi planejada por europeus, mas construida pelos zulus. O recrutador de tra- balhadores da Rand Gold Minas estava presente & inauguragio da ponte. Esses fatos sio indicativos do papel que africanos da Zululandia, bem como afticanos de outras éreas, desempenham como trabalhadores nao qualificados nas atividades econ6micas da Africa do Sul. Também estavam presentes & inauguracdo 2ulus que trabalham como policiais do governo e um escrivao zulu. Os zulus dependem do dinheiro que recebem dos europeus pelo seu trabalho para pagar seus impostos (que custearam a construcao da ponte e 0s salarios de técnicos governamentais) e para comprar produtos vendidos por comerciantes europeus ou, ainda, para negociar gado com os europeus, por intermédio das vendas de gado promovidas pelo governo, cujo leiloeiro havia comparecido A inauguragao da ponte. Para sua subsisténcia, os zulus depen: dem, em grande parte, da lavoura que o governo esta tentando melhorar por meio de seus técnicos em agricultura A integra e agricola da Africa do Sul domina a estrutura social. O fluxo de Jo econémica da Zululdndia ao sistema industrial 28 Do mesmo modo, nem todos os fazendeito ropeus valorizam as ne sidadescientificas como os técnicos. 261 ‘Aniropologia dos sociedodies contemporéneas trabalhadores inclui praticamente todos os zulus fisicamente capacitados. Em qualquer época, aproximadamente um terco dos homens do distrito de Nongoma esta ausente, trabalhando longe da reserva. So organizados, por seus empregadores, em ‘grupos de trabalho similares aos que existem em todos os paises industriais. Parentes e membros de uma mesma tribo tendem a trabalhar e morar juntos nos acampamentos ou nas locagdes municipais (Philips, 1938). Alguns empregadores, como no caso da Rand Gold Minas, agrupam deliberadamente seus tra~ balhadores de acordo com a identicade tribal.-Entretanto, nos locais de trabalho, os zulus encontram-se, lado a lado, com os bantus de toda.a Africa do Sul. Apesar de sua nacionalidade zulu éenvolvé-los em conflito com membros de outras tribos, chegam 4 participar de agrupamentos cuja base € mais ampla que a nacao zulu. Raramente esto sob a autoridade dos seus chefes, embora @ Rand Gold Minas e os acampamentos Durban empreguem simultaneamente principes zulus como induna e policiais. Os chefes visitam seu séquito de clientes na cidade para coletar di nheiro e conversar. Signficativamente, mesmo as demonstraces de lealdade ao rei zulu em reuniées urbanas tém sido marcadas Por alguns indicios de hostilidade. Apesar de os chefes zulus se imporem como tais em suas visitas, nao tém, nos locais de tra- balho, qualquer status legal sobre os individuos: as autoridades legais sdo os magistrados brancos, os supervisores de locacéo, 8 policia, os administradores e empregadores. Apenas os admi- nistradores brancos mantém a ordem e controlam as condicdes de trabalho, implementando contratos, promulgando leis etc. O chefe zulu pode protestar oralmente, ndo mais que isso. Mesmo has reservas, onde zulus vivem de agricultura de subsisténcia, e embora o grupo branco governe por meio de organizagées zulus, os que trabalham para europeus acabam subordinando-se, nessa relagao particular, diretamente aos administradores brancos. O chefe zulu nao tema palavra em assuntos que envolvam membros de sua tribo e europeus. O governo e a Corporagio de Recruta- 262 Anélse de uma sitvagdo socal ne Zulléndia moderne mento de Nativos das Rand Gold Minas agem por intermédio dos cchefes a fim de que as reivindicagées dos zulus sejam expressas, ¢, ocasionalmente, parecam ser atendidas por seu intermédio. Os chefes constantemente reivindicam melhor tratamento e salérios mais altos para os trabalhadores zulus; ao mesmo tempo, esto sempre (Mshiyeni, em particular) incitando que os homens de sua tribo saiam para trabalhar. Uma tarefa importante do governo é manter e controlar 0 fluxo de mao de obra para satisfazer, se possivel, as necessidades de mao de obra dos brancos. Além disso, tenta evitar a fixagdo de grande ntimero de africanos nas cidades. O trabalhador mi- grante zulu deixa sua familia nas reservas, para as quais depois Fetorna. Isso inevitavelmente envolve o governo em uma série de contradigdes, das quais luta para escapar. Nas reservas, a tarefa basica do governo é manter a lei e a ordem, tendo, secundaria- ‘mente (desde 1931-1932), comecado a desenvolver as reservas. governo foi forgado a implementar as reservas por causa do estado precario em que se encontravam, em consequéncia da mé agriculturae da excessiva alocagZo em terras inadequadas. Isso se deve, em parte, a0 fluxo de mao de obra que proporciona dinheiro aos zulus para compensar as deficiéncias técnicas existentes nas reservas, sendo possivel que essa demanda, em iiltima insténcia, tore sem efeito o plano desenvolvimentista ‘No posso analisar aqui mais detalhadamente essas impor- tantes questdes. Com evidéncia de que 0 desenvolvimento € secundario ao fluxo de mao de obra e as demandas nacionais, cito o caso da Rand Gold Minas , que deseja tomar a iniciativa de desenvolver 0 Transkei (um de seus maiores reservatérios de mao de obra), onde o empobrecimento das reservas tem debilitado a satide da populacao. Além disso, o magistrado de Nongoma deu inicio aos leil6es, por meio dos quais os zulus podiam vender suas cabecas de gado nas feiras livres. As vendas fizeram muito sucesso, e em um ano, aproximadamente, dez mil cabegas de gado foram vendidas por 27 mil libras. Em 1937, houve escassez 269 Aniropologia des sociededes conternpovdneos de mao de obra africana na Africa do Sul, e, como os empreen- dimentos agricolas europeus foram afetados, uma comissio governamental foi nomeada para investigar a situacdo. Cartas Publicadas nos jornais de Natal atribuiram a escassez de mao de obra ao fato de os zulus terem permanecido em suas casas vendendo gado, em vez de sairem para trabalhar (na realidade, as vendas de gado eram realizadas somente em trés distritos).”* © magistrado, orgulhoso com o sucesso de suas vendas, aparentemente julgou que elas estavam ameacadas, pois em seu epoimento & Comissao frisou repetidamente que as vendas de gado de modo algum tinham afetado o fluxo de mao de obra Entretanto, um velho zulu, reclamando para mim dos salérios baixos, disse: “Um dia vamos dar uma lico na Corporagao de Recrutamento. Vamos ficar em casa, vendendo nosso gado, sem sair para trabalhar”. Em razo da falta de espaco, deixarei de examinar as outras contradi¢6es da estrutura da Aftica do Sul com base na forma como emergem na Zululandia Os chefes zulus tém pouca influéncia politica nos aspectos econémicos fundamentais da vida da Zululandia. Nao estdo pre- sentes para controlar a vida comunitaria nos locais de trabalho, onde proliferam dormitérios para trabalhadores, grupos sociais ¢ sindicatos que possibilitam a associaco dos zulus com bantus de outras tribos e nacdes, e até mesmo de outros Estados brancos. Nao examinarei essas situagSes em detalhe, pois coletei poucos dados a respeito. Quanto aos sindicatos, hé em Durban 750 africanos que Pertencem a quatro diferentes sindicatos, e estima-se que apro- ximadamente 75% tenham seus lares nas reservas. Em Johan- nesburgo, hé 16.400 africanos sindicalizados, 50% dos quais 29, Embora servigos de sade, veteriniiae alguns outros tenham comecs muito cedo, sao das reservas,® segundo estimativas da Secretaria do Comité Conjunto dos Sindicatos Africanos. Os indices so irrisérios em relagao ao niimero total de trabalhadores africanos. Em um encontro que contou com a presenca de aproximadamente seis mil zulus em Durban, além do regente, principes, chefes, missio- érios e professores, um organizador industrial aricano também discursou em um palanque como um dos lideres da nacdo e foi bastante aplaudido. Os sindicatos africanos estao negociando para obter melhores condigdes para os trabalhadores, mas néo tem ainda forca politica efetiva. Entretanto, a oposi¢do africana A dominacao europeia, liderada por capitalistas e trabalhadores qualificados, esté comecando a se expressar em tetmos indus- ttiais. Ha, no entanto, pouca cooperacdo entre sindicalizados afticanos e brancos (Philips, 1938). Essa forma de agrupamentos nos locais de trabalho tem uma base completamente diferente da dos grupos tribais, que confere lealdade aos chefes. As vidas dos trabalhadores migrantes zulus estdo nitidamente divididas, jé que as organizacées as quais se as- sociam nas cidades, juntamente com outros bantus, negros, induse ‘mesmo trabalhadores brancos, funcionam em situagdes distintas daquelas que demandam lealdade tribal. As duas formas provavel- mente entrarao em conflito e o resultado dependeré da reagéo dos chefes as organizac6es sindicalistas. Atualmente,essas duas formas de agrupamento desenvolvem-se sob condigdes diferentes." 30 Nimeros fornecidos gemtilmente por Lynn Saffery,secretério do Instituto de Rela Johannesburgo, que os recebeu, por sua vez, dos ‘organizadores dos sindicaos trabalhisasaficanos, Nao poss dizer quantos sto zulus, mas provavelmentea maior parte dos homens de Durban é fiada essa nagto, 31 0 mesmo argumento aplica-se a outros agrupamentos urbanos. Acerca dessa questio das relagdes entre a reserva eas organizagdes urbanas, devo ‘muito auma cara estimulance do Dr Jack Simons, cujas pesquisas em teas urbanas parecem té-lo levado a um ponto de vista similar ao que cheguc! a0 Pesquisaro final do faxo de mao de obra s Racial de 265 Aniropologio dos sociodode Mais adiante examinarei como a oposicio zulu ao dominio europeu esta expressa em organizacées religiosas. Toda essa ‘oposigao ~ por meio de chefes, igrejas ¢ sindicatos de trabalha- dores - nao éefetiva e, no momento, redunda principalmente em satisfagao psicolégica, pois a severidade da dominagio europeia esté aumentando (Marais, 1937). Por isso, a oposigio ocasional- mente itrompe em revoltas e ataques a policia e funcionarios,® (8 quais s4o energicamente reprimidos. Tais eventos provocam reacdo violenta do grupo branco, e, sem fundamento aparente, ‘mas a semelhanga do pensamento moderno de feitigaria e sem base em qualquer investigacdo, a acusacdo imediata das partes envolvidas € atribuida & propaganda comunista. ‘A ascendéncia politica e econdmica dos europeus sobre os 2ulus, como capitalistas ¢ trabalhadores qualificados, de um lado, e camponeses ¢ trabalhadores no qualificados, de outro, pode ser em alguns aspectos comparada com outros paises. Em todos esses paises, a estrutura pode ser analisada em termos similares de diferenciacdo e cooperacao entre grupos econémi- cos ¢ politicos. Na Zululandia, a estrutura tem adicionalmente caracteristicas distintivas que, no todo, acentuam a separagio dos dois grupos e dificultam sua cooperacao. A diferenciagéo entre os dois grupos em relacdo a atividades politicas e ecolégicas, feita flagrantemente com base em critérios de raca e cor, coincide com outras diferencas jé detalhadas. Ao descrever a situacio, néo esbocei essas diferencas com particular atencao e nao pretendo aprofundar-me aqui nesses detalhes 32 Por exemplo,em Vereeninging, em 1937, quando virios g mortos. Zulus amotinaram-se em Durban em 1930, 33. £ quase desnecessirio notar que oterma “raga” éusado num sentido total ardas cvs foram -mente nfo cientifco na Africa do Sul. Hi muito escrtosepronunciamentos pseudocientiicos sobre raga (cf. Heaton-Nichals, 4; Huey eta, 1935), {Uso terme para indica a base de agrupamentos sociais,ndoa demarcagio clemtifica das ragas Anise de ume sitvagéo social na Zlulandie moderna Podemos notar que os dois grupos falam linguas diferentes. © conhecimento da lingua de cada grupo pelos membros do outro possibilita a comunicagao entre ambos, sendo a posi¢ao do intérprete uma instituigdo social que ultrapassa a barreira da lingua. Na inauguragao da ponte, ambos os recursos possibilita: ram a cooperacio dos dois grupos. Dentro de sua esfera isolada, cada grupo usa sua prépria lingua, embora palavras da outra lingua sejam comumente usadas. O pidgin zulu-ingles-afrikaat desenvolveu-se como modo alternativo de comunicacao, Os dois grupos tém, no geral, modos de vida, costumes e crengas diferentes. Todos 0s europeus das reservas tém ativi- 5; 05 zulus, apesar de também trabalharem para os europeus, so camponeses nao especializados com permisso de praticar agricultura somente nas areas que lhes sdo reservadas. L4, vivem sob um tipo de organizacio social e por valores e costumes diferentes daqueles do grupo europeu, embora sejam afetados em todos os aspectos pela sua presenca. Entretanto, mesmo onde as diferencas entre zulus e europeus so marcantes, eles adaptam seus comportamentos em modos socialmente determinados, quando se associam uns aos outros. Assim, funciondrios europeus frequentemente fazem um esforco deliberado para satisfazer os grupos zulus, como se viu no uso de guerreiros zulus e no derramamento de bilis na inauguracio da ponte. Além do mais, em situagées de associacao, hd um modo regular de reacio de cada grupo em relacio a certas priti costumeiras do outro, mesmo quando os dois avaliam essas praticas diferentemente. Zulus pagdos permaneceram de pé ¢ tiraram o chapéu durante a entoago dos hinos em ingles, tendo também aplaudido os discursos adotando costumes europeus, 0 comissério-chefe dos nativos aceitou a cerveja que lhe foi presen- teada como um chefe zulu aceitaria, mas permaneceu separado do 34 Uma linguagem que, em uma explicacio breve, usa principalmentepalavras € raizes zulus com sintaxe € amiticainglesas 267 grupozulu como um chefe zulu nao poderia ter agido. Entretanto, ainda subsiste um campo amplo de costumes zulus que muito raramente aparecem nas suas relagdes com os europeus, exceto © fato de que todas as relagdes entre os zulus transparecem para © governo, em termos de leis ¢ administragao.” O grupo europeu também tem sua cultura distinta, aliada as culturas dos paises europeus ocidentais, porém completamente marcada por suas relagdes com os africanos. Existe também a base material da diferenciagéo e coopera cao entre zulus e europeus. Na situacéo desc esta centrada na ponte ¢ no rio a ser cruzado, sendo geralmenté determinada pela miitua exploracao, mesmo que diferenciada e separada, dos recursos naturais. Os bens materiais dos individuos que pertencem aos grupos diferem amplamente tanto em quanti- dade como em qualidade e técnicas de uso. Alguns poucos zulus ta, a cooperacio também possuem alguns bens que so comuns entre os europeus, como carros, rifles ¢ boas casas. Nas reservas, os zulus possuem mais terras e gado que os europeus que ld residem, mas, por toda a nagao, a distribuicao diferenciada de terra entre africanos e eu: ropeus tem um efeito importante nas suas relag6es. Nao tenho espaco para discutir a riqueza relativa de zulus e europeus, ¢ € dificil computé-la; os salérios nos ¢ praticamente cada zulu é um trabalhador assalariado, so bem ros de mao de obra, onde mais baixos para africanos do que para brancos. Nas reservas da Zululandia do Norte (mas nao em algumas reservas do sul ouem ), a maioria dos zulus tem terra propriedades agricolas europ. e gado suficientes para suas necessidades imediatas, e alguns deles tem grandes rebanhos. Seu padrio de vida é né ‘mais baixo do que o dos europeus nas reservas. Nos dois grupos, tadamente 35. Edbvio que esses costumes zulus como existem hoje so muito diferentes daqueles de cem anos ets, em razio do contato com 0s europeus e dos sucessivos desenvolvimentos internos. Estamos aqui negligenc processes de mudanca que produziram os costumes atuais. existe também uma distribuigéo diferenciada de bens entre os individuos. O fato de a separagao em grupos raciais representar para o grupo branco, padrdes de vida ideais e muitos brancos estarem abaixo enquanto africanos esto ascendendo tem efeitos importantes nas relagdes entre africanos e brancos." O desejo dios 2ulus por bens materiais dos europeus e a necessidade dos europeus do trabalho 2ulu, bem como a riqueza obtida por esse trabalho, estabelecem interesses fortes e interdependentes entre \s.No lu, 08 poligamos que precisam de muita terra, homens ‘os dois grupos. £ também uma fonte latente de seus conflit grup ‘com grandes rebanhos de gado, homens que desejam ardentemen. tea riqueza europeia, e outros, constituem diferentes grupos de interesse. Por isso, a posse de bens materiais diferentes entre os dois grupos dificulta a diferenciagZo baseada em ctitério racial Deve-se acrescentar que as relages entre individuos zulus ¢ europeus variam de infimeros modos em termos de norma social geral, apesar de serem sempre por ela afetadas. Existem relagSes impessoais e pessoais entre 2ulus e europeus. A relagao do comissério-chefe dos nativos com seus milhares de stiditos zulus é pessoal, mas com Mshiyeni e Matolana é pessoal. Onde quer que zulus e europeus se agrupem, acabam desenvolvendo relagdes pessoais de diferentes tipos, ainda que sempre afetadas pelo padrio tipico de comportamento. Eu, como antropélogo, estava em condigées de me tornar um amigo intimo dos zulus, de uma forma que os outros europeus nao conseguiriam. E fiz isso por cansa de um tipo especial de relagao social reconhecido como tal pelas duas ragas. Mesmo assim, nunca pude ultrapassar a social entre nés existente. completamente a distanc 36. Aesposa de um abastado europeu, comentando sobre um europeu que an dow 112,65 km para obter um trabalho temporirio no dstrito de Nongoma, dlisse-me: "Quando eu penso em todos estes 2 cerveja..”, Ela no pode terminar sua frase (cf. Report ofthe mission, 1932). do, terras ¢ arnegie Co loge do Dentro de ambientes sociais especiais, europeus ¢ zulus tém relagdes amigaveis, como acontece em missoes, centros de trei namento de professores, conferéncias conjuntas bantu-europeias etc. Nesse caso, cordialidade e cooperacio sao as normas sociais, afetadas pela norma mais ampla de separacio social. Em outras relagSes sociais - entre administradores governamentais e seus tos, empregadores brancos e empregados africanos, técni cos governamentais e seus assistentes -, as relag6es pessoais desenvolvem-se de modo a facilitar ou exacerbar as relagdes entre os dois grupos raciais. Como exemplo do primeiro tipo de relagdes (cordialidade e cooperacao), cito a maneira como © veterinario do governo se preocupou em ajudar seu auxiliar africano, pedindo esclarecimentos sobre a lei zulu referente ao adultério. O veterinario informow Matolana porque tinha laces mais préximas e mais cordiais com meus amigos zulus do que com outros zulus. Alguns empregadores brancos tratam bem seus criados zulus, respeitando-os como ser e sobre o assunto com tabelecido, por meu intermédio, re- 1s humanos; ‘outros os tratam sor te como empregados; enquanto outros praguejam e os espancam constantemente (o que é legalmente permitido pela Lei do Patronato e Servidéo). Embora seja ilegal na Africa do Sul e socialmente desaprovado pelos doi grupos, brancos mantém relagées sexuais com zulus. As relagdes pessoais, que dependem em parte de ambic sociais especificos na orgat individuais, constituem as social. Sao, frequen ntes .c4o social e em parte de diferencas zes grupos dife entes na estrutura ente, variagdes de normas sociais e tém efeitos importantes sobre ess s mesmas normas que, por sua vez sempre afetam essas relagdes. Posso observar que cada grupo escolhe prestar atencio exatamente as ages do outro grupo que sao totalmente fora de proporcao, por setem as que melhor se ajustam aos seus valores. Por exemplo, os fazendeiros europeus ma de mal tratarem seus empregados zulus. Independentemente que residem nas proximidades das reservas tém a f reputacdo ser justificada ou nao, os zulus so sempre capazes de citar casos individuais de maus-tratos para reafirmar a crenga social. Se apenas um dos fazendeiros tratar bem seus empregados ulus, sua atitude ni dele ou a imagem que seus empregados zulus tém dos outros fazendeiros. Mesmo se a maioria dos fazendeiros tratasse bem ‘seus empregados 2ulus, 0s zulus ndo poderiam generali base em suas prépri rapidamente esquecido ea opressio é sempre lembrada, a crenga o afetard a imagem que os outros zulus tem com experiéncias, E como o bom tratamentoé yermanecerd, mesmo que intimeros f endeiros tratem ‘bem seus empregados. Similarmente, uma mera sugestao de ‘um zulu ter feito investidas sexuais sobre uma garota europeia foi o suficiente para provocar violenta animosi brancos em relago aos zulus, na base de que todos os africanos tinham desejos sexuais por mulheres bran s."” Na realidade, du- rante muitos anos nada parecido havia ocorrido na Zululandia, Passo agora a considerar uma relagio particular entre o cial dentro do grupo africano: a divisfo entre pagaos e cristaos. Durante 0s europeus, que também constitui uma divisa canto dos hinos, sob a direco do missionério, tal cisdo era mar cante, apesar de os pagao: juntarem aos cristdos e vice-versa Todos 05 cristiios usam somente roupas europeias, poucos pagios o fazem, com excegao das autoridades politicas importantes. Mas 0s pagios tiraram seus chapéus durante o enquanto hino europeu ¢ os cristéos cantaram 0 ihubo. Ambos comeram e beberam com on jente, Ambos estavam presentes a reuniao de Nongoma. Isso porque a cisio no é absoluta. Observei, al do mais, que, enquanto meu criado Richard ¢ é pagio, Richard e seus irmaos pagios com quem vive devem tratar Matolana como um pai. Cristdos e pagios saudaram 0 regente. O regente, cristio, tomou providéncias para que a bilis isto, Matolana cao ser acusado de crimeninjuria, fol absolvido pela Corte sem ne podiam misturar-se aos eu ropes A cisio entre cristaos e pa Parentesco, cor, alianca politica e cultura. O grupo de zulus cris 8 estd entremeada por lacos de os estd associado ~e n certas situagGes e sob certos critérios 20 grupo de europeus, opondo-se ao grupo de pagdos. Entretanto, Sob outros critérios e em outras si te do grupo zulu como um todo, em oposi¢ao ao grupo europeu como um todo. Dentro de sua composi¢go como PO cristo, conta també a participagao d © europeus até que se dispersassem, Somente abandonou sua Filiagao ao grupo branco e juntou-se 20 grupo zulu para organiza: ‘canto dos hinos, cristalizando, dessa forma, a divisao social dos zulus em cristaos e pagios. A filiagao dos zulus cristdos aos dois grupos raciais cria certa tensao entre cristiios e zulus pagdo: que € resolvida apenas parcialmente pelos lacos que mantém em comum e ¢ refletida n: ctista, cujo lider levei a Nongoma. Essa seita, uma dent isténcia da seita paratista 2ulu muitas putras, aceita alguns dogmas e cren¢as do cristianismo com base em crencas de bruxaria, porém protesta contra o control europeu sobre as igrejas zulus e, por isso, ndo esta ligada aos europeus, como as outras igrejas por eles controlada: Outras relagdes entre os zulus ¢ 0s europeus, anteriormente discutidas, podem também ser consideradas divisées sociais dentro do grupo africano, mesmo que naa sejam tao formali quanto & divisdo existente entre cristos ¢ pagdos. Mencionei efeito da diferenciagao da riqueza. Poderiamos classificar 0s zulus entre os que trabalham e os que nao trabalham para os europeus, ‘mas, como quase todos os zulus fisicamente capacitados o fazem durante uma parte do ano, tomariam parte, em diferent: perio- critério da classificagao dos, de grupos diferentes. Entretanto, se estabelecer que devemos separar os zulus que séo empregados Permanentemente pelo governo (funcionarios burocraticos, «éc es) cos assistentes africanos, policiais e mesmo indunas do governo, enquanto os dos outros zulus frequentemente nac coincide. A mesma observagio se aplica aos zulus que desejam vender seu gado, que estéo ansiosos para itais. Pode-se também notar que livisdo, baseada ne: melhorar sua agricul ‘ura ou ir para escolas e ho: estes sao geralmente cristaos. A na-se flagrante nas reunies magistratoriais em que os cristos esto mais dispostos q 0s a apoiar o magistrado, 0 que constitui fonte de conflicos entre eles. Portanto, a associacdo de Tengas, cria grupos entre ulus que transpassam, em certas situagdes, a separa¢io dos interesses dos africanos e dos brancos, enfatizando, porém, suas diferencas. Outras divisdes que apareceram dentro do grupo zulu, embora afetadas pelas relacées africano-brancas, tém tradicéo de continuidade na organizado social da Zululandia, anterior 4 ocupagao britanica. Os zulus dividiam-se em tribos que mais tar- de foram divididas em segdes tribais ¢ distritos administrativos Nessa nova organi: io politica, hé uma hierarquia definida de Principes do cla real zulu e de plebeus, de regente e chefe indu na da nagéo, chefe Mandlakazi, além de outros chefes indunas uns desses grupos politicos e administradores so unidades no sistema de dominagao do governo europeu, conforme ficou > em Nongoma, 0 incerferiu nas relagoes locais. Ainda assim, embora sejam parte lemonstrado quando, na reun magistrado ional, o que atualmente thes confere uma importancia que nao € somente administrativa em relacio aos zulus. Apesar de o regente nao ter sido oficialmente reconhecido Pelo governo como chefe da nacao zulu, todos os zulus respeitam 2 sua supremacia.™ E parcialmente por meio de sua organiza¢ao politica que eles tem reagido a domina europeia, pois as au- toridades politicas 2ulus recebem lealdade de seus stiditos nao somente como burocratas do governo ou por sentimentalismo ¢ conservadorismo, mas também porque parte da tensio politica contra o governo é expressa nessa lealdade (Gluckman, 1940b). Na vida social da Zululandia moderna, a organizacZo politica é importante, pois determina os agrupamentos nos casamentos, 08 circulos de amigos nas cidades, os pactos de alianga em cor flitos entre facgdes e as rodas de cerveja. Além do mais, as casas dos chefes ¢ indunas so tanto um centro da vida comunitéria como de administracdo. A divisdo em tribos cria uma fonte de dissensio dentro do grupo zulu, pois as tribos sao hostis entre si Além disso, sentem sua comunidade como uma nacfo, tanto em relagao a outras nag6es bantu quanto em rela¢do aos europeus. Entretanto, deve-se salientar que os zulus esto se unindo cada vez mais a outros bantu, em um tinico grupo africano, Finalmente, deve-se observar que os zulus, tanto quanto outros bantus, expressam em certas ocasides forte lealdade ao governo, como ocorre quando estéo em guerra. Dentro de um distrito, um administrador governamental, que é popular, pode zade e a lealdade dos zulus, porque para eles é impor- tante e agradavel té-1o no cargo. Mas ainda nao entendo allealdade dos 2ulus ao governo: é, em parte, resultado da dependéncia do che ganhar aan zulu ao governo, e, em parte, porque expressa seus fortes guerreiros em tempo de guerra. tiltimo conjunto de agrupamentos a ser mencionado é aquele constituido por sitios habitados por um g 0 de agnatos com suas esposas e seus filhos. O sitio de Matolana compo nna época, o proprio Matolana, trés esposas, um filho de 21 anos de idade que ficou noivo quando trabalhava em Johannesburgo (depois se casou e passou a morar Id com a esposa eo filho), quatro outros filhos cuja: 10 e 20 anos, dos quais os dois mais jovens sao cristaos, e mais trés filhas. Uma fades variavam ent ima classificatéria de Matolana também la pousava frequente- mente, tendo ali se casado, apesar de sua propria residéncia ser em outro lugar. Um de seus filhos, de 12 anos, arrebanhava s de Matolana, em gado para 0 marido de uma das outras irm um sftio que distava aproximadamente 1,6 km. Perto do sitio de am-se 0s sitios de dois de seus irmaos: um Matolana, loca por parte da mae e o outro por parte de um av comum. O meio deste tiltimo (por parte de pai) era considerado parte do deni (grupo de parentesco local), embora residisse em territério vizinho pertencente & tribo Amateni. O sitiode Richard ficava préximo ao de Matolana. Richard e sua esposa eram os tinicos cristéos que li Tesidiam, e o lider do sitio era seu irmao mais velho, abaixo do qual estava outro irmio, depois Richard e, entao, 0 mao mais novo. Todos eram filhos da mesma mie, que também morava com eles. Todos os irmaos eram casados, cada um dos dois mais velhos tinha duas mulheres e todos tinham filhos. O sitio foi recentemente mudado, e Richard construiu sua moradia um pouco distante das de seus irmaos, porque queria ‘uma cabana mais permanente. Perto desse sitio Ntombela havia quatro outros (Ntombela é o sobrenome de um cla), além do sitio de um homem cuja mae era uma Ntombela. Ela havia se casado longe dali, mas deixou seu marido para morar no distrito de seu pai (s grupos de si jos agnaticamente relacionados, de muitos clas diferentes, distribuem-se por todo o pais ¢ estio relacionados grupos similares de seu proprio cla, por meio de lacos agnaticos, ea outros grupos, por meio de laos de matriménio ¢ afinidade Mesmo onde nao existem lagos de parentesco entre vizinhos as relagées sao geralmente baseadas em termos amigaveis de coop Grande parte da vida de um zulu é despendida nesses agrupa mentos de parentes ¢ vizinhos. Se possivel, um zulu associa-s as mesmas pessoas nas cidades como nas reservas. Os agrupa- mentos de parentes constituem unidades cope’ as parti cularmente fortes, seus membros ajudando-se mutuamente e Aniropologia dos sociedodes confem dependendo uns dos outros. Pi em terras em proximidade umas das outras, arrebanham seu gado conjuntamente, dividem as atividades agricolas, frequentemente trabalham juntos em reas europeias e ajudam-se em conflitos e em outras ativida- des. Estdo sujeitos as suas préprias tens6es, as quais explodem em as € culminam em processos judiciais e acusagdes de bruxaria, resultando, as vezes, na divisao dos sitios e de seus grupos de residéncia. Entretanto, nos grupos em que existem es ligages sentimentais, as tens6es causadas por conilitos de filiagao a outras divisdes no grupo zulu sao parcialm resolvidas. Embora muitos pagaos se oponham e sejam hostis ao cris- tianismo, afirmando que essa religido esté abalando a cultura e a integridade zulu, nao discriminam entre seus parentes cristaos € pagaos. Hé fortes lagos na vida familiar, capazes de superar a clivagem entre cristdos e pagios, entre homens progressistas que adotam costumes europeus e aqueles que nfo os adotam. Entre- tanto, o efeito dos novos costumes esta se fazendo sentir cada vez mais, especialmente nesses grupos, ¢ os lacos de parentesco estao se enfraquecendo. Por isso, quando tratarmos dos proble- ‘mas referentes a mudanga social, veremos que o grupo europeu influencia marcadamente o comportamento desses grupos 2ulus, por meio dos cristaos que moram com seus parentes pagios eos jovens que moram com seus parentes mais velhos. Podem-se, igualmente, delinear divisdes sociais dentro do xgrupo branco ¢ examinar sua relacdo coma principal organizacao emdois grupos raciais. Tal estudo nao faz, a prior, parte doescopo de minha investigacdo, mas esse tipo de informacao é levado em consideracdo desde que seja relevante as relagées zulu-brancas ou estrutura interna do grupo zulu. J4 me referi as relagdes entre funcionarios do governo, missionérios, comerciantes, empregadores, técnicos especializados, de um lado, e zulus, de outro. Aqui, quero indicar alguns problemas que surgem quan do consideramos as relagdes entre esses europeus. Uma anilise .es e motivos que influenciam em diferente: dos valores, interes veriodos os europeus como individuos mostraria que, de acordo -xatamente comoos zulus, coma situacéo, poderiam fazer parte, de agrupamentos diferentes na estrutura social da Zululandia \Vimos que o missiondrio até se uniu temporariamente ao grupo zulu, abandonando o grupo branco. O encontro harmonioso na inaugura¢ao da ponte é uma caracteristica das relacdes entre ritério das reservas. Entretanto, isso nao zulus e brancos no t ccorrera facilmente nas fazendias europeias ou nas cidades, onde 60s conflitos entre os grupos so maiores. Enfatizei que os funelormarios governamentais fazem um esforco deliberado para satisfazer 05 zulus e devo salientar que juncionérios isso também é mais comum nas reservas. Embora sejam obrigados a implementar as decis6es do governo branco, muitos se tornam pessoalmente ligados ao povo zulu durante a rotina da administragao. Como prezam seu trabalho, desejam que seus distritos progridam e estado interessados no bem-estar dos habitantes, tomam ocasionalmente 0 partido dos zulus contra © grupo branco, cuja dominacdo representam, Controlam, em nome do governo, as relacées dos comerciantes, recrutadores ¢ empregadores com os zulus, frequentemente a favor dos interesses destes. Assim, as vezes, quando afetados em seus interesses, outros grupos de europeus se opGem ao trabalho da administracao. Mais frequentemente, seus interesses vis-i-vis entram em conflito, tanto quanto entre os grupos constituidos de acordo com cada tipo de empreendimento europeu. Contudo, uunem-se contra o grupo africano quando agem como membros {grupo branco em oposigdo ao afticano. Com frequéncia, alguns missionérios tomam o partido dos zulus contra a exploracao dos brancos, mas deve-se acrescentar que esto, ao mesmo tempo, exercendo sua influéncia para que os zulus se tornem mais dispostos a aceitar os valores europeus e, consequentemente, sua dominagao, muito embora a barreira racial possa provocar a hostilidade de muitos, ‘Aniropologia das sociedades contemporéineo ‘Tentei delinear o funcionamento da estrutura social da Zu: lulandia, em termos das relagdes entre grupos, tendo indicado algumas das complexidades que permeiam essas relagSes, jé que "uma pessoa poe pertencer a intimeros grupos que estio as vezes ‘em oposigao entre si ou unidos contra outro grupo. Como muitas relagdes e interesses podem interseccionar-se em uma pessoa, exemplificarei brevemente 0 que ocorre no comportamento dos individuos. Jé fiz algumas sugestdes a respeito, ao analisar © grupo cristéo: vimos que 0 missionério branco juntou-se por algum tempo aos zulus apés 0s outros brancos terem se disper- sado.e que Richard era influenciado por seus lagos de parentesco ‘com pagaos e por modos de comportamento comuns a cristios € pagios. Ha outros exemplos. Matolana saudou um policial do Boverno como um principe zulu e, logo apés, passou a fazer re- clamagées sobre o mau tratamento que o governo Ihe dispensava, ‘muito embora ele proprio fosse um representante governamen- tal. Matolana ajudou a prender um ladréo para o governo; em rol de seu povo, protestou ao veterindrio do governo sobre 0 banho parasiticida; ficou exultado com a possibilidade de ajudar € trabalhar para 0 regente; ponderou que seria mais lucrativo abandonar sua posigao politica junto ao governo e ao regente Para trabalhar para si préprio. Na reuniao de Nongoma, um po- licial do governo, que também é principe Mandlakazi, reclamou contra a ajuda dos Usuthu do distrito de Matolana & faccdo em conflito com sua acco tribal, embora ele préprio tenha agido como policial do governo em uma briga entre essas faccoes. Na inauguracdo da ponte, funcionérios auxiliares e policiais zulus do governo uniram-se ao grupo dos zulus, permanecendo isolados dos brancos, a quem tém o dever de ajudar a governar o pais. Os grupos principais de brancos e zulus esto divididos em sTupos subsididrios, formalizados e nao formalizados, ¢, de acordo com os interesses, valores e motivos que determinam seu comportamento em situagées diferentes, 0 individuo modifica sua participacdo nesses grupos. Apesar de eu ter realizado a Anilce de uma sitvagdo social ne Zululéndie moderna minha anélise em termos de agrupamentos, outra anilise, sobre como valores e crengas determinam o comportamento dos indi viduos, chegaria a conclusdes similares. Como socidlogo, estou interessado em estudar as relagdes dos grupos formados por esses interesses e valores, bem como os conflitos causados pela participacéo de um individuo em diferentes grupos. Para resumir a situa¢ao na inauguracéo da ponte, pode-se di er que o comportamento dos grupos e dos individuos presentes expressava o fato de a ponte, que era o centro de seus interesses, t8-1os unido em uma ceriménia comum. Como resultado de seu interesse comum, agiram segundo os ¢ostumes de cooperagao € comunicacao, apesar de os grupos raciais estarem divididos de acordo com o padrio da estrutura social. Igualmente, a cele- bragdo uniu os participantes de cada grupo racial, apesar de eles terem se separado de acordo com as relagdes sociais existentes no interior do grupo. Nessa situacao de cooperacao, o poder do govern € a base cultural dos seus representantes organizam as ages de grupos e individuos dentro de um padrao que exclui o conflito. Grupos menores separam-se com base em interesses comuns e, se isso for apenas por causa da localizagéo espacial (por exemplo, cristios e pagios), nao entram em conflito um com outro." Nessa situacdo, todas as reuni6es grupais so har- ‘moniosas, incluindo a concentragao geral na ponte, por esta ser © fator central, constituindo uma fonte de satisfacio para todas as pessoas presentes, Por meio da comparagao dessa situa¢ocom iniimeras outras, seremos capazes de delinear o equilibrio da estrutura social da Zululandia em certo periodo. Por equilibrio, entendoas relagées interdependentes entre partes diferentes da estrutura social de 39 Devo, porém, notar aqui que, durante a entoaglo do hino, o missionério reclamou do barulho vindo dos homens que cortavamas reses eda conversa tum tanto quanto alta entre ovetrinitio representando o governo, Lentzner, 0 fancionério agricola e ew 219 ‘Aniropologio dos sociedades contemporéneo uma comunidade em um perfodo particular. Devo acrescentar, como de fundamental importancia para a anélise, que a hege- monia do grupo branco (que ndo apareceu na minha andlise) é © fator social principal na manutengao do equilibro. Tentei mostrar que, no periodo atual, a estrutura social da Zululéndia pode ser analisada como unidade funcional, em equilibrio temporario. Vimos que a existéncia de dois grupos de cor em coopera¢ao dentro de uma tinica comunidade constitui a forma predominante dessa estrutura. Esses dois grupos estao: ferenciados por grande mtimero de caracteristicas, o que provoca 2 oposicio e a hostilidades entre eles. O grupo branco dominao ‘grupo zulu em todas as atividades nas quais cooperam, e, embora essa dominasdo afete todas as instituigdes sociais, somente se ‘expressa em algumas delas. A oposicio desigual entre os dois srupos raciais determina o carter de sua cooperacio. Interesses, crengas, valores, tipos de empreendimentos ¢ variagGes de poder aquisitivo diferenciam grupos menores dentro de cada grupo ra- cial. Hé uma concordancia entre alguns desses grupos que trans- passa.as fronteiras de cor, interligando os grupos raciais por meio da associacao de alguns de seus membros em uma identidade de interesses temporéria, Entretanto, o equilibrio entre esses grupos Eafetado pelas relagbes raciais de conflito e cooperagao, de modo ue cada um une os grupos raciais por um lado, e enfatiza, por Outro, sua oposi¢ao. As mudancas de participasio nos grupos ‘em situagSes diferentes revelam o funcionamento da estrutura, pois « particlpagdo de um individuo em um grupo particular em uma situacao especifica é determinada pelos motivos e valores ue o influenciam nessa situa¢io. Os individuos podem, assim, assumir vidas coerentes por meio da selecao situacional de uma miscelinea de valores contraditérios, crengas desencontradas, interesses e técnicas variadas (Evans-Pritchard, 1937). As contradigSes transformam-se em conflitos medida que a frequéncia e importincia relativas das diferentes situagSes au- mentam no funcionamento das organizacées. As situacées que 240 ‘Anélse de uma sivagdo social na Zululéndia moderna envolvem relacdes entre afticanos e brancos estdo rapidamente se tornando as dominantes, jé que um ntimero cada vez menor de zulus esté se comportando como membro do grupo africano em oposi¢ao a0 grupo branco. Tais situagbes, por sua vez, afetam as relacoes entre os africanos. Assim, as influéncias de valores ¢ grupos diferentes produ- zem fortes conflitos na personalidade do individuo zulu e na estructura social da Zululandia. Esses conflitos fazem parte da estrutura social, cujo equilfbrio atual esta marcado por aquilo que costumamos normalmente chamar de desajustamentos: Os proprios conflitos, as contradig6es e as diferencas entre e dentre grupos zulus e brancos, além dos fatores que ultrapassam tais diferencas, constituem a estrutura da comunidade zulu-branca da Zululandia.®” Sao exatamente os conflitos imanentes no interior da estru- tura da Zululandia que desencadeardo seu futuro desenvolvi- ‘mento. Por meio da definicao precisa desses conflitos em minha anilise do equilibrio temporério, espero poder relacionar meu estudo seccional comparativo ao meu estudo de mudanca social Portanto, sugiro que, para estudar a mudanca social na Africa do Sul, 0 sociélogo deve analisar 0 equilfbrio da comunidade branco-africana em diferentes periodos de tempo e mostrar como sucessivos equilibrios estdo relacionados entre si. Na segunda parte do ensaio, espero examinar mais profundamente esse processo de desenvolvimento na Zululéndia. Analisarei a alteraco e 0 ajustamento da estabilidade dos grupos (a mudan- 40. Acredito que “conflito” e “superacio do confit” (ssioefusio) devam ser ois aspectos do mesmo processo socal e que estejam presentes em todas as relagSes sociis. Conferir as teorias do materialismo historico ea teoria de Freud sobre a ambivaléncia nas elagdes estudadas pel Psicologia, Que eu saba, Evans-Prischard (1940) foi o primeiro antropélogo a desenvolver ‘esse tema, Ver também Evans-Pritchad e Fortes (1940). Sobre abordagem ‘40 mal-ajustamento em uma comunidade aticana moderna, ver Malinowski (1938, p.13-5) 281 ‘Antropologie das sociedades confer ¢a no equilibrio) envolvidos, durante os iltimos 120 anos, na constituigao da comunidade da Zululandia em grupos raciais de culturas relativamente diferentes. Il Mudanga social na Zululéndia O desenvolvimento da nagdo zulu Na primeira parte deste ensaio, analisei o equilibrio (ou seja, as relagGes interdependentes entre as partes) da estrutura social da Zululndia no momento atual. Pretendo agora examinar alguns dos processos histéricos que produziram esse equilibrio. Infelizmente, pela impossibilidade de se obterem alguns dados hist6ricos necessérios, me passado nio pde ser to completo quanto 0 apresentado para a anilise do equilibrio atual. No entanto, os documentos existentes sobre a Zululandia sao suficientes para indicar certos aspectos importantes. Na Zululandia, relativa estabilidade foram gradualmente substicuidos por periodos de ripida mudanga. Os primeiros foram marcados por certos conflitos flagrantes que, no decorrer dos anos, s¢ tornaram parte de certo equilibrio, nao mudando seu padrao (Fortes; Evans: Pritchard, 1940, p.11). Entretanto, em altima andlise, foram esses conflitos que determinaram as direcdes por meio das quais as mudangas se operaram. Por isso, analisarei o equilfbrio na Zululandia em cada um desses periodos de estabilidade relativa, indicando como os conffitos que alteraram o padrao de equilibrio material sobre a mudanga social no Jomo em qualquer outro lugar, os periodos de ocasionaram certos desenvolvimentos necessarios." 11 0 primeiro periodo de estbilidade acabou pouco antes da chegada dos brancos& Zululandia, Sua documentagioe alguns registros feitos por ma > o precederam sio suficientemente fis is tradigbes nativas para ‘Andlse de ume stwosée social ne Zululdndic moderna Os povos de lingua bantu, que tm uma cultura comum (conhecidos como Nguni) e que mais tarde formaram a nacio zulu, sairam do norte e do oeste, antes do século XV, em varias migrag6es, instalando-se nas provincias de Natal, Zululandia e Transvaal Sudeste. Perambularam pelos séculos seguintes em migrages maiores e menores até se fixarem esparsamente por toda. regido fértil (Os Nguni viviar em pequenas propriedades rurais delim tadas por um circulo de cabanas em volta de um cercado para o gado, Cada propriedade rural era habitada por um grupo de homens relacionados agnaticamente, juntamente com esposas; filhos e outros dependentes. Todos os moradores de uma pro- priedade rural estavam sob a autoridade do seu chefe, que era ge- nealogicamente o homem mais velho. A propriedade rural era ‘uma unidade econémica, onde seus membros trabalhavam em conjunto na criagao de gado e nas hortas. Cada esposa tinha sua prépria horta e poderia ser responsdvel por uma parte do gado, ‘em adigio ao rebanho principal que era mantido pelo patriarca ‘Os homens arrebanhavam o gado, cagavam e faziam algum tra- balho relativo a construcéo das cabanas, e as mulheres colhiam cana, milho e tubérculos. ‘As propriedades rurais vizinhas estavam relacionadas umasas coutras agnaticamente, embora pudessem também ser encontrados parentes matrilineares ou por afinidade, ou mesmo algum estranho. ‘Um chefe de linhagem estava na lideranca de cada grupo de proprie- dadesruraise, juntamente com outros chefes de linhagem similares, subordinava-se ao chefe da tribo, oherdeiro em linha direta docla patrilinear eponimico, que era o centro do grupo tribal Toaferralguma validade’ minha reconstrucio, que consisteprincipalmente na interpretacao da obra brilhante de Bryant (1929). Ha uma quantidade de documentagio ede tradgbes nativas que remonta ao desenvolvimento ninha andlise do primeizoe do segundo perfodos. O tempo abrangido p smentagso disponive foi determinado pela dc

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