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Historia do Brasil no contexto da historia ocidental LUIZ KOSHIBA Mestre e doutor em Historia pela USP Livre-docente pela Unesp * DENISE MANZI FRAYZE PEREIRA | em Histéria pela USP Licenciada e bacharel ra das Gragas Professora da Escola Nossa Senho' ENSINO MEDIO 8! edicao revista, atualizada e ampliada 9 reimpressao © Luiz Koshiba, Denise Manzi Frayze Pereira, 2003, Copyright desta edicdo: SARAIVA S.A. Livreiros Ediores, So Paulo, 2010, ‘Rua Henrique Schaumann, 270 — Pinheitos 5413-010 — Sao Paulo — SP PABX; (11) 3613-3000 SAC: 0800-0117875 sworweditorasaraiva.com.br ‘Todos os direitos reservados Dado Intrnacont eCatlnai ma Pablo CP \Gunane Brasileira do Livro, SP, Brasil) Keshiba, Luiz Historia do Brasil no contexto da histria ocidental + ensino sed le Koshiba Denise Manzi Frayze Petra, 8 ede staal. ¢ amp. —Sio Paulo ; Atual, 2005, Suplementado por manual do professor, Bibliograia, ISBN 978-85.357.0392.4 (Livro do alano) ISBN 978.-85.357.0393.1 (Livro do professor) 4. Histéria (Ensino médio) 1, IL Tito. 03-4424 Peteira, Denise Manzi Frayze, cop.s07 Indices para catélogo sistematico: 1. Histéria: Ensino médio 907 Histria do Brasil no context da histria ocdental Gerente editorial Lauti Cericato Editora: Ana Lica Lucene Gerente de arte: Nait de Medeiros Barbosa ‘Supervisio de arte: José Maria de Olwnce Colaboradores Proito editorial: Vitéria Rodrigues ¢ Silva Revisio ténica: Renata Stadter de Almeida io: Cilia Cassi ‘imagem da copa: Minas Historica ~ Ouro Preto, Minas Geta ‘Vista parcial do bairro Antonio Dine 2 Maio Yoshida Visite nosso ste: www atuaeitora com be A atenimento ao professor: (Oex11) 3613-3030 Centra (Os autores sio gratos a familia de Oswald de Andrade, que generosamente ‘autorizou a reprodugao de desenhos ¢ textos Com 08 quais 0 livro sai notavelmente beneficiado, Ap ao Os alunos chegam ao Ensino Médio com uma bagagem consideravel de conhecimentos histéricos. Nessa nova fase da vida escolar, é preciso que esses conhecimentos sejam integrados e aprofundados, tendo em vista um objetivo basico: a construgao de uma visio critica e analitica da nossa formagao histérica. Este livro pretende contribuir para a consecugao desse objetivo, adotando uma nova organizagio das matérias. [Apresenta em cada uma das nove unidades que o compéem um texto-sintese ¢ um conjunto de estudos tematicos, O texto-sintese aborda o conteido da unidade de um ponto de vista geral e abrangente, enquanto os estudos teméticos detalham e organizam esse conteiido por tema, dentro de uma ordem cronolégica. Os nove textos-sintese podem ser utilizados tanto como introdugao quanto como sintese final. Os estudos tematicos podem funcionar como médulos, pois permitem ‘combinagdes de temas e de problemas. Os autores se sentirdo gratificados em seu trabalho se este livro contribuir para a formagao e transformagio do aluno ~ finalidade maior de todo o processo de ensino/aprendizagem. Novamente para Joao e Isa, Manu e Gat, Isadora e Maira. PARTE I- COLONIA ‘Texto-sintese.. Estudos tematicos A expansao ultramarina portuguesa ... HE 0 povoamento do Bra GBH Indigenas e portugueses no Brasil. As bases econémicas da ocupagao portuguesa ... WE A constituigao do escravismo colonial .. Estudos tematicos {ESE 0 Brasil e as rivalidades internacionais A mineracao BEA economia colonial no século xvu . GE Colonizagéo ¢ formagio territorial ‘Texto-sintese Estudos tematicos ERO marqués de Pombal ¢ a opressao colonial .. A crise do Antigo Regime .... [GE Rebelises na colonia (ZA presenga britanica no Brasil . © encaminhamento da emancipagio politica [9B Revolucao ¢ recolonizagao: as duas faces do liberalismo A separagao definitiva Vestibulares ¢ Enem .... PARTE I - IMPERIO Texto-sintese Estudos tematicos BBM A Europa no século xx (2B O Primeiro Reinado Resisténcia ao absolutismo A abdicacio de D. Pedro WBS A Regéncia As rebelides regenciais ‘Texto-sintese .. Estudos tematicos A construgao do Estado imperial . ‘A “Primavera dos Povos” .. Rebelidio em Pernambuco: a Praieira ‘A economia no Segundo Reinado ‘A Guerra do Paraguai 290 297 304 Da escravidio ao trabalho livre 315 ‘A proclamagao da Republica 323 Vestibulares e Enem 332 PARTE Ill - REPUBLICA Texto-sintese .. 337 Estudos tematicos O nacionalismo: 350 As transformagoes do capitalismo e 0 novo imperi 358 367 378 384 391 403 A ascensao do socialismo Os primeiros anos da Repiibl A repiblica oligarquic: As rebelides na Repiblica Vell Economia cafeeira e inicio da industrializagao . As crises e 0 fim da Reptblica Velha Texto-sintese Estudos tematicos QA nova conjuntura internacional.. O Governo Provisério de Vargas.. O Estado Novo (GSE A economia na Era Vargas fim do Estado Novo Texto-sintese . Estudos teméticos A Guerra Fria HSE 0 governo Dutra O retorno de Getiilio ao poder... Jk € 0 desenvolvimentismo WM De Janio a Jang 478 486 493 499 505 Texto-sintese . Estudos teméticos WBE O regime militar A economia no regime militar fim do regime milita A globalizacao financeira BGO governo Sarney e o Plano Cruzado .. 15% A nova ordem constitucional Ascenso e queda de Fernando Color (599 rice o Plano Real Vestibulares e Enem .. Gabaritos Bibliografia Fontes das imagens Parte I Colonia 0 26 Pereira chegou de caravela E perguntou pro guarani da mata virgem — Sois cristéo? — N&o. Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte Tereré teté Quizd Quizé Quecé! La longe a onga resmungava Uu! ua! uu! O negro zonzo saido da fornalha Tomou a palavra e respondeu — Sim pela graca de Deus Canhem Baba Canhém Baba Cum Cum! fizeram o Carnaval Oswald de Andrade Ac na Id ¢ao derna Una visio ne conjunTO. No estudo da histéria, podemos fixar nossa atengao em um epis6dio, ocorrido em um determinado momento, ou analisar um processo transcorri- do ao longo de um certo tempo. Assim, podemos estudar apenas a viagem que trouxe Cabral ao Brasil ou, adotando uma perspectiva mais ampla, procurar entender quais os motives que o fizeram chegar a esse lado do Atl desdobramentos dessa sua viagem. Do mesmo modo, podemos estudar a ocupagio do Brasil pelos portugueses a partir do inicio, em 1530, ou tentar compreender essa ocupagiio dentro de ‘um cendrio mais amplo, iniciando o es- tudo no século xu. Ampliando ainda mais ‘campo de observacao, pode-se estudar ‘0 processo hist6rico situado entre os sé- culos xvtte xv, a fim de melhor com- preender o fendmeno da colonizacao. ‘Tomando como referéncia o periodo compreendido entre os séculos Xit € XVI ‘os estudos historicos apontam trés momen- tos marcantes: o século x1, época em que imento comercial ¢ urba- no; depois, o século xv, quando comegoua expansio maritima e comercial; ¢, final- mente, 0 século xv, inicio da Revolugio Industrial, Para facilitar nossa anilise, va- ‘mos nos deter nesses trés momentos. Con- siderados em conjunto, eles podem ser in- terpretados como fases de um iinico pro- ccesso: a formacao do capitalismo. A colonizacao da América foi uma consegiiéncia da expanséo maritima, Dentro desse quadro, deve ser enten- dida como parte do processo da for: magao do capitalismo. ocorreu 0 renas intico e, mais ainda, entender os ‘So Vicente, padroeiro de Lisboa, ostenta a nau a Biblia: a expansdo maritima portuguesa celebrada como uma missdo de f6, Nesse quadro, pintado por volta de 1515, o artista Vicente Gil id expressao a uma visao de sua época. ri INTENGAO & RESULTADO. Os comerciantes venezianos que navegavam no Mediterraneo nos séculos xit e xi, o navegador portugués que explorava a costa africana no século xv€ 0s senhores de engenho do Brasil nos séculos xvt e xv nfo sabiam, evidentemen- te, 0 que era capitalismo. Eles estavam comerciando, buscando boas oportunidades de negécio, ou simplesmente administrando seus dominios. Contudo, ao levar em consideracdo unidades maiores de tempo, percebemos al- guns aspectos da realidade que continuam invisiveis para aqueles que levam em con- sideragdo unidades muito pequenas de tempo. Assim, os comerciantes venezianos ¢ outros negociantes da época, apesar de visar apenas transagdes mais lucrativas, esta- vam construindo, sem se dar conta disso, 0 mercado europeu. Este, por sua vez, esti- mulou os comerciantes portugueses, os senhores de engenho ¢ muitos outros em- preendedores a criar o mercado mundial. Hoje, sabemos que sem este tiltimo a Revo- lucdo Industrial seria impossivel. O resultado do que fazemos nem sempre coincide com a nossa intengao. Concutros rasroxicos, Destacamos anteriormente trés grandes momentos do processo his- t6rico que se desenrolow entre os séculos xie xvi. Esses momentos estdo relacionados aos periodos da historia ocidental conhecidos como Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporénea, A cada um desses periodos, os estudiosos atribuem uma determinada ‘caracteristica geral. A Idade Média foi a época em que se constituiu 0 feudalismo, a Idade Moderna foi a do Antigo Regime e a Idade Contemporinea vem sendo, até agora, a do capitalismo. Feudalismo, Antigo Regime e capitalismo sao categorias ou conceitos hist6r cos. Como estamos interessados particularmente no capitalismo, vejamos uma definigéo desse conceito. © capitalismo é um sistema baseado no trabalho livre assalariado e na propriedade privada e concentrada dos meios de produgéo. Em resumo, trata-se de um sistema em que trabalhadores e empresirios constituem as duas classes sociais tipicas. No capitalismo, a ‘maioria da populagio ¢ formada por trabalhadores que vendem parte do tempo de suas vidas aos empresérios, No Brasil, a jornada de trabalho vigente é de 44 horas semanais, Isso significa que os trabalhadores vendlem quase nove horas dirias de suas vidas, durante cinco dias por semana. Esse tempo “pertence” aos empresarios, que fardo o melhor uso dele, de acordo com os seus interesses. Para os economistas, em linguagem técnica, os trabalhadores vendem aos empresarios capitalists a sua forca de trabalho. Como essa relacdo € contratual, sendo ambas as partes pessoas livres, o trabalha- dor insatisfeito com o seu emprego pode abandoné-lo sem grandes problemas. O empresério, por sua vez, poderd demitir aqueles trabalhadores cujos servigos nao mais the interessarem. ‘A contar do renascimento comercial e urbano, os europeus levaram “somente” seiscentos anos para consolidar e generalizar essa f6rmula contratual, que hoje qual- quer pessoa entende, aceita e acha normal. A pergunta que vem a mente é a seguinte: por que demorou tanto? A resposta é: porque isso nao é tio Sbvio quanto parece. Frupauisao e carrrausMo. Para comegar a entender todo esse processo, vamos limitar 0 intervalo de tempo analisado, concentrando-nos no periodo que vai do século xi a0 xv, conhecido como Baixa Idade Média. Andongo ie Me Esse 0 periodo em que se situa o feudalismo classico, socialmente caracterizado pelo dominio dos senhores feudais sobre uma multido de servos. No mundo de hoje, a divisdo social ¢ representada pelo par trabalhadores assalariados/empresarios; no mundo medieval, 0 par correspondente era servos/senhores feudais. ‘Vamos comecar examinando a diferenga entre senhor feudal e empresério. O tipico empresario capitalista é dono de uma ou mais empresas (fazenda, loja, fabrica ou escrit6- rio) e emprega pessoas livres, sobre as quais no possui nenhum dominio pessoal direto. Diferentemente, 0 senhor feudal 6, em fungio de sua posicao social, detentor de um domi rnio pessoal sobre 0 servos: ele tem o direito de cobrar taxas e servigos destes Gilimos, ppermitir ou proibir casamentos entre eles, julgé-Ios e puni-los por crimes praticados. O servo medieval nao era um escravo, pois nao era propriedade do senhor, mas estava sujeito a sua vontade e no podia abandonar a terra que cultivava, Estar sujeito & vontade de alguém ou ao dominio pessoal de alguém é a principal caracteristica do que chamamos de trabalho forcado ou trabalho compulsério. O que caracteriza um trabalhador sob tal condicdo € que ele nao é livre (© sistema feudal baseava-se no trabalho servil, ao passo que 0 capitalismo baseia- se no trabalho livre assalariado. O trabalhador assalariado é um homem livre, 0 ser- Vo, nao, est preso a terra ¢ ao senhor, Do que foi dito, conclui-se que a passagem do feudalismo para o capitalismo con- sistiu, entre outras coisas, no seguinte: 0 trabalho compulsério nao livre teve de se transformar em trabalho livre e o senhoriato teve de ceder lugar ao empresariado. Era exatamente isso 0 que estava em gestacao na Baixa Idade Média, durante a qual desenvolveram-se 0 comércio as cidades, A medida que raio de agéo do comércio foi se ampliando, avancando do Mediterraneo para 0 Atlantico, os comer- ciantes europeus foram aumentando em niimero ¢ em riqueza e se consolidando como um grupo social, a burguesia. Loja de tecidos na iia (airesco do castelo de Issogne, século XV), Os mescadores de Venez Génova e Pisa, cidades do norte italano, promoviam 0 Intercambio de produtos, europeus, asiticos @ africanos através ‘do mar Mediterrdneo. A expanséo ulramarina integraria & atvidade comercial ‘novos mercados € centres produtores. © que estava acontecendo com os senhores feudais na mesma época nessa 10? Com o desenvolvimento do co- mércio e das cidades, os senhores foram envolvidos pelo mercado e ja no podiam continuar vivendo sem participar do circuito mercantil. Com isso, importan- tes mudangas comegaram a acontecer ropa ocidental (Franca, Inglater- ra, Italia, Portugal, Espanha, etc.), ten- do como pano de fundo a crise do feudalismo. A cxist Do reUDaLismo, Segundo os his- toriadores medievalistas, 0 sistema feu- dal alcangou seu apogeu no século xu, Se fosse possivel colocar na balanga a agricultura feudal de um lado € 0 co: cio ¢o artesanato urbano de outro, veri- ficariamos que a agricultura tinha um peso avassalador. Apesar disso, 0s rumos da economia nao estavam mais nas maos dos senhores, ¢ sim nas dos comerciantes. fato de 0 comércio passar a frente da produgio rural gerava problemas, pois a atividade mercantil dependia do campo para se expandis. Afinal, como os habitantes das cidades no produziam sua propria alimentacao, os negécios $6 continuariam prosperando se os camponeses tivessem cada vez mais excedentes para vender. Como 0 senhor feudal nao era empresirio, na mente a produgo em seus dominios com o propésito de elevar a produtividade. era uma preocupagio que os burgueses estavam apenas comegando a levar em conta € que ainda nao tinha chegado ao campo. Os servos, por sua vez, também nao tinham motivos para aumentar a produtividade, jé que isso implicaria transferir parcela maior do que produziam para o senhor (por meio dos tributos que pagavam), sem que isso melhorasse a sua propria situacio. Conclusio: 0 feudalismo nao era um sistema apto a promover o desenvolvimento continuo mediante melhoria técnica da produgao. Por- tanto, nao propiciava o crescimento da produgao e do comércio. Observe qui falando em desenvolvimento continuo, ¢ nao em melhorias t is que, em maior ou menor escala, toda sociedade conheceu, inclusive a feudal (ao desenvol- ver o arado eo moinho, por exemplo). Nese aspecto, o capitalismo é radicalmente diferente: ele nao existiria se nao hou- vesse inovagdo continua da tecnologia. A tecnologia rudimentar e 0 processo imutavel de trabalho no campo perdura- ram por séculos. Porém, a conjungao desses aspectos com o dinamismo comercial das cidades acabou por levar o sistema de produgio vigente ao limite e, em seguida, io the ocorria administrar racional- ‘Actraao ae tes, ‘Mointios no rio Sona, Paris. 0 renascimento do comércio e a urbanieagdo mudaram a face da Europa feudal. A produgdo de alimentos ‘am larga escala tornourse fundamental para 0 abastecimento dos grandes centros urbanos, ‘como Paris, que chegavam a reunir mais de 100 mil habitants. ao colapso. O desenlace dessa situagio foi uma ruptura que marcou o inicio da Idade Moderna. Durante um século, a Europa amar- gou uma crise devastadora com a fome, a peste ea guerra. A crise foi tio pro- funda que atingiu 0 coragao do feuda- lismo, aniquilando a servidao e, com ela, © poder senhorial. Quando a situagio comecou a melhorar, a Europa ja esta- va caminhando rapidamente em diregio a uma sociedade de homens livres, Na condigo de libertos da servidio, ‘uma importante parcela de homens livres havia se convertido em pequenos produ- tores independentes (camponeses) e, em menor escala, em prestadores de servigos (nas cidades}. Esse tipo de mao-de-obra predominou por quase toda a Idade Moder- na, entre os séculos xv e xvut. AAS HASES DA RECUPERAGAO DA EuRoPA. A constituigao de uma sociedade de trabalhado res livres nao foi um processo natural e pacifico. Ao contrario, foi um processo marca- do pela violéncia. A libertagdo do dominio dos senhores feudais e a conquista da condicao de homem livre implicaram, para os trabalhadores, a perda total (expropria- Gao) de seus meios de subsisténcia. A medida que os servos se libertavam de seus senhores perdiam as terras que cultivavam, os instrumentos de trabalho, a moradia, até atingirem o ponto de no possuiem outra coisa além de sua propria forga ou capacidade de trabalho. Um grande éxodo rural resultou da valorizagao das terras agora destinadas a empreendimentos comerciais, como a criagio de ovelhas e a pro- dugao de alimentos. Essa foi apenas uma das faces da constitui lismo, Fora da Europa foi ainda pior. Em 1518, 25 milhdes de indigenas viviam na Nova Espanha (México central). Trinta anos depois, a populagao havia caido para pouco mais de 6 milhdes*, A chegada dos espanhdis havia provocado a morte de 19 milhdes de pessoas, em decorréncia tanto dos trabalhos forgados quanto da propagagio de Ao do aj "fa, ere ar de Arti «Kk Ooi So Pao Bugs Bs Fano Acne Gs 19719128 Pow, Lei Hird Amin ponies, So Pl: lb 1383. p13. at doengas. O resultado foi a destruigao dos povos da regio, que haviam construido algumas cidades de maior porte do que as do Velho Mundo. ‘No Brasil, além do massacre dos povos indigenas, um outro tipo de violéncia fazia suas vitimas: a0 longo de trezentos anos, do periodo colonial até o final do Império, mais de 3 milhdes de africanos foram introduzidos no pais pelo trifico ¢ escraviza- dos?. Esses milhdes de seres humanos, sugados pela gandncia comercial até a morte, foram os verdadeiros financiadores da Revolugao Industrial e, portanto, da constitui- lo do capitalismo moderno. (O PionetkisMo PORTUGUES NA EXPANSAO ULTRAMARINA. Essa nova € terrivel etapa da his- téria européia teve Portugal como um agente de primeira importéncia. Portugal cra um pequeno reino, no extremo oeste do continente, que se separou, em 1139, do que viria a ser 0 reino da Espanha, ento em plena Guerra de Reconquis- ta contra os mouros. A peninsula Ibérica estava sob dominio mouro desde 711, fato que dava a regitio particularidades marcantes em relagio as outras regides ocidentais do continente. Além da religido distinta, a prolongada presenga mugulmana nao propiciara o esta- belecimento da mesma organizagio feudal verificada naquelas reas. Nas terras ocupadas pelos mugulmanos, praticava-se o cultivo intensivo de produtos destina- dos ao comércio, Nao havia servidio. O tltimo reduto mouro, Granada, foi con- quistado pela Espanha somente em janeiro de 1492. Cerca de um século antes, em 1383, a morte do rei portugués D. Fernando havia dado origem a uma questdo dindstica que desembocou numa guerra civil, enyolvendo Portugal e Espanha. © confronto entre as facgées terminou com a ascensio de D. Joao 1 ao trono portugués em 1385, assegurando total autonomia perante a Espanha. Esse acontecimento, conhecido como Revolugao de Avis (1383-1385), fez de Por- tugal o primeiro Estado moderno europeu. Entre outras caracteristicas, promoveu uma forte centralizagio politica, constituiu uma burocracia gestora dos interesses do Reino ¢ um exército permanente, instituiu impostos reais e controlou a cunha- gem de moedas. Foi exatamente esse Estado que, no século xv, deu inicio A expansio maritima. O primeiro passo da expansio foi dado com a conquista da cidade de Ceuta, em 1415, no Marrocos, norte da Africa. Os principes reais, filhos de D. Joao 1, participaram da agéo com 0 objetivo de demonstrar suas qualidades de guerreiros € de ctistdos na luta contra os infigis mugulmanos que dominavam a regido. Nao sabiam que estavam iniciando um dos mais importantes processos histéricos da Era Moderna. Nos anos seguintes, outras expedigdes foram enviadas para explorar o litoral africano em busca de ouro. Pelo caminho, descobriram as chamadas ilhas do Atlin- tico - Madeira, Agores e Cabo Verde -, onde os portugueses iniciaram o cultivo da cana-de-agticar com o trabalho escravo. Porém, no final do século xv, 0 interesse portugués estava voltado para a descoberta do caminho para as Indias, o que se dew com Bar- tolomeu Dias, que atingiu 0 Cabo da Boa Es- peranga (1488), ¢ Vasco da Gama, que che- ‘gou a Calicute (1498). Dois anos depois, cum- prindo a missio de implantar os negécios lusi- tanos nas {ndias, a expedigaio de Cabral che- gou a terra que viria a ser o Brasil. A COLONIZAGAO DO BRASIL A FORMACAO DO caprratisMo. Concentrando a nossa aten- ¢a0 no Brasil, podemos perguntar: 0 que a colonizagao do Brasil tem a ver com © capitalismo? Resposta: nada e, a0 mesmo tempo, tudo. Do ponto de vista das agdes cons- cientes ¢ intencionais, 0s povoado- res que aqui se instalaram tinham por objetivo o enriquecimento pessoal e, por esse meio, o enobrecimento. Vis- to desse angulo, as ages dos povoa- dores nada tinham a ver com 0 capita- lismo. Porém, na medida em que pro- moviam seus préprios interesses, 08 po- voadores contribuiam para o enriquecimento de mercadores portugueses e, mais tarde, ingleses. Funcionavam, assim, como agentes involuntarios no a, A costa africana, de Tunis a0 ’ processo de transferéncia de riqueza do Brasil para a Reino de Benin, cartografada Europa, da producao colonial para o setor comercial, imais de cem anos apds a . favorecendo o deslanchar do capitalismo. Nesse senti- Conquista de Cute ("Sea ‘no mapa), marco incial da do, os povoadore conribuiram objetivamente mbo- —_ppygan do content, Carta ra ndo conscientemente, como uma das forgas na for- includ no Lio de todo 0 mago do capitalismo. universo, de Lazaro Lu’, 1563 ‘A ECONOMIA AGUCAREIIA. Os primeiros povoadores vieram ao Brasil atraidos pela pos- sibilidade de encontrar metais ¢ pedras preciosas e, assim, enriquecer rapidamente. Nio tiveram sorte. Mas havia uma alternativa: a cana-de-agticar ‘A idéia de seu cultivo j4 estava presente quando Martim Afonso de Sousa aqui aportou com uma expedig&o (1530). Havia a experiéncia, sobretudo da ilha da Ma~ deira, que poderia ser transferida para o Brasil. Além disso, o mercado europeu estava bastante receptivo, € os portugueses contavam com a competéncia comercial dos ho- landeses para a distribuigéo do produto na Europa. A terra era abundante, 0 proble- ma era a mao-de-obra. Os indigenas foram a solugio imediata e 0 trabalho destes foi amplamente utilizado na montagem de engenhos. Mas que tipo de sociedade esses primeiros povoadores portugueses estavam crian- do no Brasil? No momento em que se instalaram na “Terra do Brasil”, seguidos dos jesuitas que acompanharam Tomé de Sousa (o primeiro governador-geral), 0 mais Obvio era implantar uma réplica da sociedade portuguesa neste lado do Atlantico. Do ponto de vista oficial e religioso, a prioridade era a cristianizacao de indigenas © salvacio de almas. Esse projeto, entretanto, foi perturbado pela conduta dos povoa- dores que chegavam sozinhos, sem familia e sem mulher, pois na primeira oportunida- de faziam das nativas suas concubinas e nao hesitavam em submeter 0s nativos a trabalhos forgados ou a escravidio pura e simples. Ambas as coisas eram enfatica- mente condenadas pelos jesuitas, que nesse ponto tinham 0 apoio do rei. © conflito entre povoadores ¢ jesuitas sobre a questo da escravizagdo do indio foi se agravando, na medida em que se firmava a agroindiistria acucareira. Por outro lado, a instalagdo € 0 funcionamento dos engenhos haviam conectado o Brasil ao circuito mercantil portugués e curopeu, uma vez que toda a produgio agucareira era exporta- da. O crescimento da demanda tornava a questao da mao-de-obra fundamental. A conjungao desses dois fatores (0 conflito entre povoadores ¢ jesuitas ¢ 0 cresci- mento da demanda) ativou o trifico negreito que, pela escala rapidamente atingida, transformaria o Brasil para sempre. Antes de prosseguir no assunto, vamos dar uma olhada no outro lado do Atlantico, a Africa, Lintos « erioves. Do Atlantico 20 mar Vermelho, 0 norte da Africa é dominado pelos desertos, interrompidos apenas pelo estreito corredor formado pelo curso inferior do rio Nilo. A partir do oeste, estende-se o grande deserto do Sara, a0 qual se segue deserto da Libia, que termina na margem esquerda do Nilo. A leste deste mesmo tio, comega o deserto da Niibia, que vai até o mar Vermelho. Na vasta regiio desértica, a leste do rio Nilo, vivia uma populagao de pele clara, que os antigos gregos chamavam de libios. Ao sul das regides desérticas, situa-se a Africa negra, onde viviam os povos que os gregos chamavam de etfopes, que significa, literalmente, “rosto queimado”. Os portugueses do século xvit ainda usavam a palavra etiope como sinénimo de “ho. mem negro”. Benuitis, TUAREGUES E MOUROS. Em 639, os primeiros invasores érabes chegaram ao norte da Africa propagando o islamismo ~a religido fundada por Maomé. Os érabes deram aos libios o nome de barbar, designagao que resultou em berbere, em portugues, Entre os berberes havia agricultores sedentérios, que viviam nos oasis, e pastores nomades. A estes iltimos, ndmades do deserto, os arabes chamavam de tuaregues. Os antigos romanos chamavam o berbere de mauru (habitante da Mauritania). Na época, dava-se 0 nome de Mauritania A regido norte-africana junto ao estreito de Gibraltar, a0 sul da Espanha. O vocibulo mauru deu origem, em portugués ¢ espa- hol, & palavra mouro, que virou sindnimo de muculmano, adepto da religiio mao- song a se Masa metana ou islamica. No inicio do século xvi, 0s portugueses diziam que os berberes cram “mouros lavradores” que viviam em aldeias. Sudo, GuIst £ os nANTOS. Na regido subsaariana (ao sul do Sara), estende-se uma longa faixa de territério semi-drido, conhecida como Sahel. Ao sul do Sahel, dominam as savanas e, logo depois, comegam as florestas tropicais e subtropicais. A essa regiio subsaariana os érabes chamavam de Bilad as-Sudan e os berberes, de Akal n-Iquina- wen. Os dois termos significavam “terra de negros”. Do nome arabe originou-se a palavra Sudao', utilizada pelos portugueses, j4 no século xv1, para designar a regido ao sul do Sahel. O nome berbere deu origem & palavra Guiné*, que desig- nava a regido das florestas. ‘As savanas ocupam uma larga faixa que se estende do Atlantico ao Indico, passan- do pela nascente do rio Nilo. Essa ampla regido de savanas costuma ser dividida em Sudo Ocidental, Central e Nilotico (de Nilo). Os bantos viviam ao sul da Guiné. “Banto significa ‘povo’ ou ‘homens’. E 0 plural de munto, ‘o homem’*”, O termo banto refere-se a uma lingua que serviu de base para trezentas ou mais Iinguas faladas numa extensa regiao', Essa palavra designa uma unidade cultural e no racial. A populagio negra 8 qual se apica 0 termo ¢ formada por grupos huma- nos muito diferen- tes fisicamente das savai Rainna Ginga, dos reinos de Angola @ de ‘Matamba (1587-1663). Guerrera lend, 6 simbolo da resistencia dos bantos 4 dominagao portuguesa e ao trdfico de escravos. Esté presente ‘em diversas manifestagdes da cultura atro-brasilera, ‘como a congada 6 0 ‘maracatu. Aquarela da Missione Evangelca, 0 AntOnio Cavazzi da ‘Montecuccoto inicio do século XVI sf i eee eo nt a ‘Com Su bea Samad nar esas ox pores 2d Rio Ji: Nov Front, 996.193, ‘Aimee dws Bon seangem spade Aes queda alae Bann ta CaaS) Meee Quin do ld Gane ‘too ald oan sca, Mere nc De acordo com a hipétese aceita hoje em dia, o niicleo original banto situava-se as margens do rio Benué, na atual Nigéria. No inicio da Era Crista, os bantos teriam migrado para a regido de Chaba (ou Catanga). Ali permaneceram por um bom tempo antes de iniciar a grande migragao, por volta dos séculos vile vil, que resultow na ocupagao do territério que mencionamos anteriormente. Penetrando nas florestas tropicais, os bantos pressionaram os pigmeus, atualmente refugiados nas selvas da Repiblica Democrética do Congo. Mais ao sul, 0 mesmo aconteceu com os bosquimanos e hotentotes, falantes da lingua khoisan ou coisa, ramo distinto da lingua banto, Parentes distantes dos pigmeus, os bosquimanos e os hotentotes nao sdo negros: tém a pele amarelada, variando de clara a escura, Sabe-se, com certeza, que so sobreviventes de um povo muito primitive que ocupou o sul da Africa durante a época da Pedra Lascada (Paleolitico). Os bantos expandiram-se também para o leste da Africa, onde encontraram os etiopes, isto é, os camitas-orientais, um povo de nariz reto € labios delgados, cuja coloragio ia de moreno a negro. A EXTANSAO ISLAMICA, © COMERCIO F Os ESTADOS SUDANESES. Estabelecidos provavelmen- te ha 11 ou 12 mil anos nas florestas proximas As savanas, os negros povoaram quase toda a Africa ao sul do Sara, enquanto o norte permaneceu ocupado pelos berberes, povos de pele clara. A partir do século vit, os drabes beduinos invadiram o norte da Africa, onde converteram a maioria dos berberes ao islamismo. O dominio arabe intensificou as ligagdes comerciais entre 0 norte ¢ o Sudio. Percorrendo o deserto de norte a sul, as caravanas de camelos tragaram uma rede de contatos comerciais cons- ‘itufdas pelas rotas denominadas “transaarianas”. O sal, 0 ouro e os escravos eram os principais artigos desse comércio. O desenvolvimento desse comércio caminhou paralelamente a formagao sucessiva dos reinos sudaneses de Gana, Mali e Songhai. O reino de Gana, situado a 800 km do pais atual de mesmo nome, jé era mencio- nado em documentos drabes do século vit, Foi o Estado dominante no Sudo Ociden- tal até 0 século xi, quando o reino de Mali o superou. No século xv, 0 reino de Songhai ultrapassou o poderio de Mali. Todos esses reinos adotaram a religido mugul- mana. Esse foi o destino comum dos numerosos Estados que floresceram no Suda que nao se converteram viviam sob forte influéncia mugulmana, O sal, © ouRo £ 0 escRavo. O sal, um produto de primeira necessidade no Sudio, era extraido nas salinas existentes no deserto do Saara, vestigios de antigos lagos resseca- dos. A salina de Tegaza era uma das mais importantes. Caravanas de mercadores do norte transportavam 0 sal em forma de barra, tro- cando-o no Sudao ocidental por cereais, ouro ¢ escravos. Estes destinavam-se ao tra- balho nas salinas, de onde tinham poucas chances de retornat. © ouro era retirado nas regides de Bambuk (Alto Senegal) ¢ de Lobi (parte central do Alto Volta), levado para Tombuctu e ali negociado com os mercadores arabes mouros. De Tombuctu, as caravanas dirigiam-se aos reinos islémicos do norte da Africa. Marrakesh, Fez, Ceuta, Tanger e Ttinis eram os pontos terminais das rotas transaarianas, freqiientados por judeus e genoveses entre outros. Aoi ae as [ro aeserens Ti Cocos arcs Ose “Adaptado de: Georges Duby. Atlas historique. Paris: Larousse, 1987. ‘A escravidao cra conhecida na Africa negra desde tempos remotos, mas tratava-se de escravidio domeéstica, para servigos caseiros ¢ em pequena escala. Somente com a chegada dos arabes é que se introduziu a procura macica de escravos negros, sendo os sudaneses os preferidos. Por volta do século vm, pastores ndmades estabeleceram-se em torno do lago Chade ¢ ali introduziram a organizagao estatal que se especializou no apresamento de escra~ os, Assim nasceu 0 império denominado Kanem-Bornu, que apresava seres humanos no sul para vendé-los em Tripoli, Alexandria, Cairo e Suakin, no mar Vermelho. ite TRAFICO w > E. COLONIZAGAO. Como se pode notar, 0 tréfico de escravos era co- nhecido na Africa ha muito tempo. Com a demanda brasileira, no entanto, 0 que mudou foi a sua fungi: o trifico negreiro do Atlantico converteu-se numa peca im- portantissima do sistema colonial. O teafico negreiro transformou 0 povoamento em colonizagao ¢ foi o fator decisivo na constituigéo do chamado escravismo colonial. Por qué? Porque a escravidio dependia do abastecimento regular fornecido pelo tré- fico. Ou scja, sem o trafico, cedo ou tarde a escravidao se extinguiria. Portanto, pode-se dizer que a colonizagao ndo comegou em 1530, coma expedicao. de Martim Afonso de Sousa, como normalmente se pensa. Naquela data, teve inicio, sim, o povoamento portugués dos territérios ultramarinos na América. A colonizacao instalou-se com o incremento do trafico negreiro e, em conseqiiéncia, com a substitui- sao do indigena pelo africano, proceso cuja fase decisiva situa-se entre 1580 ¢ 1630. Nese sentido, a colonizagao pode ser entendida como uma ruptura com o projeto oficial e religioso que motivava o Reino portugues no inicio da sua expansio maritima € mercantil. Assim entendida, a colonizagao configura-se como uma vit6ria da bur guesia sobre o projeto de fundo aristocratico e clerical. O fenémeno colonial No sentido geral, colonizacao sig- nifica ocupagao © povoamento de um territério, onde se estabelecem ativida- des essenciais 4 vida de uma socieda- de. E interessante notar que a palavra colénia vem do latim colonia (“lugar para onde se enviam novos povoado- 15"), enquanto colono deriva de colo- ‘mus ¢ significa “layrador” e “morador” de uma colénia. A palavra coldmia jé era usada em Portugal no século xvi, com o sentido de “habitacao” e “resi- déncia” Toda col6nia tem a sua metropole, palavra grega que significa, literalmen- te, “cidade-mae”. No século vi a.C., a Grécia vivenciou um grande movimen- to de expansio, fundando colénias tan- to na Asia Menor quanto no sul da Ita- lia. Porém, cada cidade criada era inde- pendente de sua metrépole. Portanto, em seu sentido original, a palavra colénia no tinha o significado de lugar em que se produz algo tendo em vista a sua exportacao para a metré- pole. Esse entendimento do termo é bas- tante recente ¢, aos antigos, seria incom- preensivel a idéia de uma metrdpole que criasse colénias com a tinica finalidade de explora-las economicamente. Tanto Eque o adjetivo colonial, o yerbo coloni- zar € 0 substantivo colonizagao 6 apa- receram no século xix. Esses termos fo- ram criados pelos franceses e importa- dos para o portugués. O que os antigos sabiam fazer era en- viar colonos para habitar col6nias, mas sem criar lagos de dependéncia colonial ou fa- ver da colonizagao uma atividade conti- nua ¢ sistematica. Mas foi exatamente isso que 0s moderos povos europeusfizeram na América, Fles a colonizaram. Acton tea Com a transformagao do Brasil em coldnia, Portugal converteu-se em metr6pole. Esse fato pode ser observado pela mudanga de direc3o do Estado portugués, que gra- dativamente substituiu 0 projeto aristocrético € clerical dos primeiros tempos pela politica colonial, isto 6, pelo interesse fiscalista e mercantil. triunfo da burguesia mercantil no ultramar, porém, nao teve equivalente na metrépole, onde 0 dominio aristocrdtico manteve-se intocado, E mais: a burguesia viu-se intimidada pela reagio aristocratica que fez da Inquisigao seu principal instru- mento, Essa vit6ria interna da nobreza é que impedira Portugal de, no futuro, dar 0 salto capitalista, Retomaremos posteriormente essa questo. Conewusto. Comegamos o capitulo propondo olhar a historia de uma certa distancia, de uma perspectiva temporal longa (séculos xit a xvii), a fim de perceber uma cons- tante. Examinando-a no plano dos acontecimentos imediatos, a histéria pareceu ou- tra: conflitos de interesse, busca de oportunidades individuais, projetos religiosos ambigées politicas. Ninguém estava agindo para promover a expansao maritima, ins- titwir a colonizagdo moderna, nem alavancar o capitalismo. Porém, mesmo nos amon- toados aparentemente desconexos de agdes ¢ reacdes & possivel identificar a linha de forca dos acontecimentos ~ a busca de riqueza -, que alguns condenavam, denomi nando-a de “cobiga de bens materiais” Sob essa condenacdo palpitava a economia, que nunca havia recebido a devida atengio por parte das sociedades aristocriticas do passado. A “cobiga de bens mate- riais” expressava, no inicio da Idade Moderna, a repulsa em colocar 0s interesses econdmicos como guia das ages. Porém, a condenagio ¢ a repulsa, manifestacdes tipicas da mentalidade aristoctatico-clerical da época, nao conseguiram barrar o triunfo da economia, que prenunciava a vitéria do capitalismo. © que vocé acabou de ler é uma reconstrugio histérica e, como tal, sujeita a eriti- cas ¢ revisdes. Porém, historiadores ¢ pessoas comuns concordam em um aspecto: 56 percebemos o que de fato aconteceu quando tudo termina. Isso foi dito numa lingua- gem metaforica e insuperavel por um filésofo alemao, Hegel, para quem “a ave de Minerva [a corujal s6 levanta 0 v6o ao entardecer”. ae Apprecoce centrlizagio politica advinda da __buindo para a formagao do capitalismo. Revolugio de Avis explica o pioneirismo @ O conflito entre povoadores ¢ jesuitas em ppornugués na expansio ultramarina, torno da escravizagio doindigena c ocres- © Os povoadores vieram ao Brasil para en- _cimento da exportagio do agticar abriram iquecer rapidamente e acabaramcontri- 0 caminho para o tréfico negreito. A Africa © Sudao ¢ Guiné sao vocabulos de origem —_influenciados pela religio islamica. arabe e berbere, respectivamente, ¢ sig- nificam “terra de negros”. ‘© Em estreito contato comercial com os ‘rabes, os sudaneses foram fortemente Osal, 0 ouro € 0 escravo eram os pi cipais produtos do comércio sudanés. A escravidio tornou-se maciga com a chegada dos arabes. O nascimento do antigo sistema colonial * Acolonizagio propriamente dita teveini- cio com o trifico negeeiro. * As acdes humanas do periodo da expan- sio maritima e mercantil orientaram-se, + “Os homens fazem a propria hist6ria, mas nao sabem que a fazem.” Justifique essa afirmagao, 2. Os portugueses tinham projetos ¢ in- teresses divergentes em relagio ao po- voamento do Brasil. No final, preva- leceu o interesse colonizador: Explique esse fato. 3. Qual a relagao existente entre coloni- ‘zagdo e tréfico negreiro? O historiador Caio Prado Jr. escreveu: ‘Todo povo tem na evolucio, vista a distin- cia, um certo “sentido”. Este se percebe nao nos ormenores desua histéria, mas no conjunto dos fatos ¢ acontecimentos essenciais que a constitu- ‘em num largo perfodo de tempo. Quem observa aquele conjunto [.. nao deixars de perceber que cle se forma de uma linha mestra e ininterrupta de acontecimentos que se sucedem em orcem ri- gorosa,e drigida sempre numa dererminada or- entagio. [.] Se vamos. esséncia da nossa formagao, vere- sobretudo, pela busca de riqueza. Foi esse © ponto de partida para a constituigio do capitalism. ‘mos que na realidade nos constituimos para fore necer agticatabaco, alguns outros génezos; tarde ouro e diamantes; depois algodio, ccm se- ‘guida café, para o comércio europeu. Nada mais do que isto. £ com tal objetivo, objetivo exterior, voltado para fora do pais ¢ sem atengio a consi- deragies que ni fossem o interesse daquele co- mércio que se organizario a sociedadeea econo- mia brasilcras. Caio Prado Je. Formaggo do Brasil contemporiieo. 7. ed. Sio Pato: easilen 6, 1963. p13, Embora convincente, essa visio tem sido criticada porque da a entender que existe um sentido ou uma finalidade na histéria, independentemente da vontade das pessoas. Se isso fosse verdadeito - di- zem 08 criticos -, nao haveria liberdade, pois todos estariam agindo de acordo com o sentido oua finalidade da historia, mes. ‘mo quando estivessem impondoa propria vontade aos outros. A histéria tem um sentido ou somos niés que the damos um sentido? HISTORIA OCIDENTAL [AS GRANDES FASES DA HISTORIA OCIDENTAL. Costuma-se dividira hist6ria ocidental do seguinte modo: ~ Antiguidade Classica (greco-romana) ~ Idade Média ~ Tdade Moderna ~ Idade Contemporanea ‘A hist6ria da Grécia antiga comega por volta de 1950 a.C., mas a civilizagao grega 1 adquire a sua forma tipica com o surgi- mento da polis (cidade-estado), no século va a.C. A Antiguidade Cléssica termina com a queda do Império Romano em 476 4.C. Ini- cia-se, ento, a Idade Média, que ira até 1453, com a tomada de Constantinopla pelos tur os oromanos. A Idade Moderna vai da que- da de Constantinopla ao inicio da Revolu- ‘go Francesa em 1789 e, dessa data até os dias atuais,situa-se a Idade Contemporinea. ‘Tomando como base as caracteristicas econdmicas centrais de cada um desses gran- des periodos, teremos o seguinte quadro: O BrasiL NA Cada um dos periodos é caracterizado por um tipo predominante, mas nao exclu- sivo, de mao-de-obra: a escrava, a do servo, ‘ado produtor independente (camponeses ¢ artesios) ¢ a do trabalhador live assalaria~ do, Convém lembrar também que a substi- tuigéo de um tipo de mao-de-obra por ou- tro envolveu longos perfodos de transigio. Varios séculos se passaram, por exemplo, entre a queda do Império Romano, que mar- ca inicio da Idade Média, ea pulverizagio da Europa em feudos. Assim, a servidiio no predominou em todo o periodo medieval, mas em alguns de seus dez séculos. (OBaasit, Considerando-se a época em que © Brasil foi ocupado apenas por socieda- des indigenas, a periodizacao historica re- ferida acima nao faz o menor sentido, uma vez que essas sociedades viviam formas muito distintas de organizagio social. Contudo, a partir da conquista portugue- sa iniciada no século xvi, essa periodiza~ do tem servido de referéncia para nés, jé que a conquista e a colonizacao do Brasil inserem-se no quadro mais amplo da for- macdo do capitalismo no Ocidente. Por esse motivo, para iniciarmos nos- so estudo, apresentaremos um quadro geral da Europa ocidental no periodo que antecedeu a expansao maritima. As DUAS FASES DA IaDE Mepia. Costuma- se dividir a Idade Média em duas fases: a primeira, chamada de Alta Idade Média (século v ao xi); a segunda, chamada de Baixa Idade Média (século xi ao xv). A Alta Idade Média corresponde, em linhas gerais, & fase da constitui¢io do trabalho servil, e a Baixa Idade Média, & fase de sua generalizacio e declinio. Existe ainda um outro aspecto impor- tante: na primeira fase da Idade Média, 0 comércio era local e inexpressivo; na se- gunda, o comércio torna-se uma poderosa influente atividade econémica, da qual nascerd posteriormente o capitalismo, ‘A senvinAo, O feudalismo era um sistema politico, social e econdmico bascado no trabalho servil ou, simplesmente, na ser- vidio. A servidao consistia na submissio do trabalhador a varias obrigagées, entre clas prestar servigo sem remuneragao nas terras do senhor (obrigagao ou tributo de- nominado corvéia). © servo também era obrigado a entregar ao senhor parte do que produzia nas terras que the eram con- cedidas (talha). Nio se deve concluit, porém, que exis- tiam apenas senhores feudais e servos nas so- ciedades feudais. Entre essas duas camadas encontravam-se, por exemplo, 0 villdos (que eram camponeses livres) ¢ 0s senescais e bai- lios (que trabalhavam sob as ordens de umn senhor). Havia ainda aqueles que se dedica- vam a vida religiosa e compunham o clero. (Usta £coNoMtA ESSENCALMENTE RURAL. tale mente, as inovagdes tecnolégicas nao sur- preendem ¢ fazem parte do nosso dia-a-dia, Porém, durante a era feudal, nao havia a preocupagao de criar novas e eficientes tec- nologias. Em geral, trabalhava-se da mes- ‘ma maneira e com as mesmas ferramentas de geragéo a geracio, num ambiente essen- cialmente rural, evidenciando o fragil do- minio do homem sobre a natureza. ‘Em comparacio com a sociedade atual, podemos dizer que o baixo nivel tecnol6gi- co foi uma das caracteristicas do feudalis- mo. A capacidade produtiva do sistema era comparativamente muito pequena. Ocorriam mas colheitas com freqiién- cia, 0 que colocava em perigo a sobrevi- véncia de todos, inclusive a dos senhores feudais. Em tais periodos, a tinica maneira de contornar a crise de subsisténcia era enviar alguém para adquirir alimentos — trigo, por exemplo ~ onde houvesse. Por tanto, 0 comércio, mesmo pequeno ¢ local, nao era desconhecido na Idade Média, Dstnal O RENASCIMENTO COMERCIAL E URBANO. Do século Vv a0 0%, 0 Ocidente sofreu uma série de perturbagées. No século v, os diversos povos germénicos invadiram ¢ destrufram ‘Servos colhendo cereals, c. 1340, Além da peste negra, (que se alasirou pela Europa naquela década, a fome ecorrente de més colheltas fot uta constante 40 século XIV. Mba do tas © Império Romano. Nos séculos vii € vi, (0s muculmanos vindos do norte da Africa tomaram a peninsula Ibérica. No século 1x, 0 leste europeu foi sacudido por novos invasores: os eslavos, os magiares (ou hiin- ¢garos),€ os normandos (ou escandinavos, também conhecidos como vikings). Depois esses acontecimentos, a paz.voltou & Eu- ropa, mas a presenca desses povos traria desdobramentos importantes. 0 feudalismo constituiu-se a0 longo esse periodo de perturbagdes, perfodo em que também foram geradas as particula- ridades regionais (a sociedade que se for- mou na peninsula Ibérica era muito dis- tinta da que se formou na regio central da Europa, por exemplo). Quando as in- vas6es cessaram, a populagaio comegou a ccrescer, a drea de cultivo se expandiu ¢ a Europa feudal alcangou um periodo de relativa prosperidade e estabilidade. No século x1, introduziram-se algumas melhorias na técnica de produgao: empre- 0 do moinho de vento e agua € atrela~ gem do cavalo pelo colo, no lugar da atre- lagem pelo pescogo (que asfixiava 0 ani- mal). Nessa época, apareceu também 0 uso do arado e da enxada de ferro Paralelamente a essa melhoria técnica, iniciaram-se as Cruzadas, expedigbes mi- litares cristis contra os mugulmanos. Ini- cialmente revestidas de ideais religiosos ‘contra os “infigis”, as Cruzadas trouxeram uma conseqiiéncia inesperada: a abertura do Mediterraneo, controlado pelos érabes desde 0 século vil, © acesso ao Oriente, especialmente as cidades que serviam de entrepostos comerciais, ficou facilitado. ‘A conjugagdo desses diversos fatores (fim das invasdes, crescimento demo- grafico, expansio da area de cultivo, me- Thorias técnicas € a abertura do Mediter- neo) deram origem ao renascimento comercial e urbano no Ocidente. |AS CIDADES ITALIANAS. A reconquista do Mediterraneo foi especialmente vigorosa no ‘mar Tirreno, onde Génova e Pisa se desta~ ccaram, Forgas dessas duas cidades lutaram contra 0s piratas muculmanos, perseguin~ do-os e atacando-os até no norte da Afri- ca, Aos poucos, 0 Mediterraneo tornou-se tum “lago cristio”, depois de ter sido, por trés séculos, um “lago mugulmano”. ‘As cidades italianas foram, assim, as primeiras a se beneficiar com a nova situa- ao, monopolizando o comércio de pro- dutos orientais adquiridos basicamente em trés pontos: Siria, Egito ¢ Constanti: nopla. A cidade de Veneza eta particular- ‘mente ativa: seus navios ~ carregados de madeira, metais e esctavos ~ atingiam Alexandria, no Egito, onde trocavam mercadorias pelo ouro proveniente do Sudio. Com esse ouro, compravam sedas, € especiarias em Constantinopla, Planta de Jerusalém, a partir de um manuscrito do séeulo XII), na época da Sexta Cruzada, ‘que dominow a cidade por alguns anos. ane Goip Pee Lay no EUROPA SETENTRIONALE FLANDRES. A penit sula itélica ndo era o tinico centro de co- mércio na Europa. Simultaneamente ao revigoramento das cidades italianas, um ‘outro importante foco comercial formou- se em Flandres, na regido da atual Bélgica. Ali, fabricavam-se tecidos de la mui- to famosos e apreciados no Ocidente. Essa prospera indiistria era alimentada pela Inglaterra, fornecedora da matéria- prima. Ypres, Bruges, Lille e Douai eram 108 grandes produtores. Seus tecidos eram vendidos, no século x11, em Novgorod (Riissia), nas regides do Baltico e tam- bém na peninsula italica, onde eram tin- gidos com cores brilhantes e, depois, re- vendidos no Oriente. Os tecidos flamen- g0s contribuiram para equilibrar, € pos- teriormente inverter de modo favoravel ao Ocidente, 0 comércio até entio defi- citdrio mantido com 0s muculmanos eos. mercadores de Constantinopla. Adaptado de: Aas histnco, Sao Paulo: Encyclopaedia Britannica, 1989, As ianas pe CHAMmnGNt. Os mercadores das cidades italianas e flamengas habituaram- se a se reunir nas feiras de Lille e Ypres, na propria Flandres. Mais tarde, a partir de 1050, o centro comercial deslocou-se para as feiras de Champagne, regio situada no nordeste da atual Franca. Gracas a ativi- dade comercial, essa regido tornou-se um poderoso condado, atingindo seu apogeu no século xvu, A Hansa Teutonica (LIGA COMERCIAL DE CIDADES ALEMAS). As relagdes comerciais uniram lentamente regides antes disper- sas através de intrincadas rotas que aca- baram abarcando a Europa inteira. De Flandres, 0 comércio tomou a diregao do. mar do Norte através de Bruges, que se converteu num grande centro redistribui- dor de tecidos. Os alemies af se instala- ram, Na Alemanha, cresciam as cidades de Lubeck e Hamburgo, nticleos da Han- sa Teut@nica ~ organizagao da qual parti- cipavam intimeras outras cidades. A Han- sa fazia a conexdo do centro comercial do Ocidente com a Ruissia, onde se desta- cava a cidade de Novgorod. Assim, for- mou-se um novo eixo de comércio: Bru- ges-Lubeck-Novgorod, a espinha dorsal das rotas da Europa setentrional. ‘A unnanizacho a Euroes. O renascimento do comércio acarretou importantes conse- qiiéncias para a organizagio feudal. Entre clas,a crescente urbanizagio, que contribuiu para a difusio ainda maior do comércio. Entre o campo ¢ a cidade, estabeleceu- se uma divisio de trabalho, dando ao sis- tema feudal uma nova feigéo. Os movi- mentados centros urbanos abrigavam es- sencialmente comerciantes ¢ artesios que, desafiando as autoridades feudais, foram lentamente se emancipando dos dominios senhoriais, muitas vezes sob a protegio dos reis!, Um orgulhoso patriciado urbano, formado por riquissimos mercadores, go- vernava as cidades. As corporacées de ofi- cio, que reuniam os artesdos de uma de- terminada atividade, multiplicavam-se com seus mestres, oficiais e aprendizes. EStABILZZACAO DO MOVIMENTOECONOMICO NO StCULO XIV. A histéria no é feita apenas de periodos de progresso. O inicio do século xrv marcou o fim do periodo expansionista da economia medieval. © movimento do comércio e da manufatura, a urbanizagio, a circulagdo monetéria, 0 crédito ¢ 0 cresci- mento demografico experimentaram um periodo de estagnagio ¢ retrocesso. Ou sejay, a crise havia se instalado. edo 0a ste ela Varios fatores explicam a crise. Entre eles, podemos destacar o principal: 0 siste- ‘ma feudal nao estava organizado de modo a promover o livre desenvolvimento do co- mércio, Os senhores feudais cobravam pe- dagios, o trabalho servil nao era adequado para aumentar a produtividade e abaste- cet 0 crescente mercado urbano; a Igreja condenava 0 lucro e a cobranga de juros. De acordo com a opiniao geral da época, a atividade comercial era considerada uma ‘ocupacio inferior. O Fim bo rrupALIsMo. Para piorar a situa- do, a Europa conheceu, a partir de 1317, tum ciclo de mas colheitas que generaliza- ram a fome. Em 1348, a peste negra se alastrou e matou um tergo da populagéo européia. Anos antes, em 1337, comega- raa Guerra dos Cem Anos entre Franga ¢ Inglaterra, que s6 terminaria em 1453. Por fim, rebelides eclodiram no campo con- tra os senhores feudais e, nas cidades, os. artesios empobrecidos se revoltaram con- tra o patriciado (mercadores ricos que governavam as cidades). Esse cendrio de instabilidade, conflitos ce lutas se arrastou por cem anos. A conse giiéncia mais importante foi que a serv dao, tal como se apresentava antes, per deu sua forca. © feudalismo, em sua for- ma medieval, também. SECULO XV: © INICIO DA RECUPERACAO. A Europa comegou a se recuperar s6 no sé- culo xv. A frente desse processo, estava Portugal. Nos séculos xv © xvi, esse pe- queno reino de populagao reduzida co- ‘mandou uma das maiores transformagdes. histéricas da humanidade. De acordo com ‘Adam Smith (1723-1790), fundador da moderna ciéncia econdmica, a “descober- Fn poca ov Rava certnndo 9 Pot om deinen dosent ese proc ea oem ds mnarasas ta da América ca de uma passagem para as {ndias Orientais pelo Cabo da Boa Es- peranga so os dois maiores ¢ mais im- portantes eventos registrados na historia da humanidade”?. RETENCOES Depois de se destacarem como os pionei- ros da expansio maritima, os portugueses fizetam do Brasil no s6 0 modelo, por exce- lencia, da colonizagao moderna, mas tam- bém o maior produtor mundial de acticar Periodizagao da hist6ria ocidental ‘© Antiguidade, Idade Média, Moderna e Contemporinea, principais perfodos da hiscotia européia, esto associados as dife- rentes formas de exploragio do trabalho. A Idade Média ¢ o sistema feudal A servidio foi a forma de trabalho pre~ dominante na Idade Média. # Inovacoes técnicas nao estavam entre as prioridades do sistema feudal, 0 que con- tribuiu para a sua permanéncia como eco- nomia essencialmente rural. Transformagées do feudalismo ‘# Como fim das invasdes no século x, a po- pulacdo cresceu e as cruzadas promove- Fam o expansionismo que resultou no ch ‘mado “renascimento comercial eurbano”, Ascidades medievais, governadas por po- derosos comerciantes(patriciado), eman- ciparam-se do dominio senhorial, O fim da Idade Média ¢ 0 inicio da Moderna # No inicio do século xiv, a economia feu- dal sofreu uma parada por motivos estru- turais: inadequacao do sistema produtivo ante o dinamismo mercantil, A recuperagao da Buropa foi iniciada so- mente no século xv, com a expansio ul- tramarina portuguesa 1, Em que se fundamenta a proposta de perio- dizagao apresentada no texto? 2. Havia uma incompatibilidade estructural entre o regime servil de trabalho € 0 de- senvolvimento comercial ¢ urbano, Disso resultou a grande crise do século xiv. Des- ‘creva no que consistia a mencionada in- compatibilidade. Leia 0 texto e responda as questies, [-] © ventre contraido pelo temor da. priva- ‘40, pelo medo da foe e do amanha, assim segue ‘© homem do ano 1000, mal alimentado, penando para, com suas ferramentas precirias, rar seu da terra. Mas esse mundo dificil, de privagio, € um mundo em que a fraternidade ea solidariedade ga- rantem a sobrevivénciae uma redistribuigdo das ma- gras riqueras. Partilhada, a pobreza é 0 quinhio ‘comum. Ela no condena, como hoje, a solidao 0 individuo desabrigado, encolhido numa plataforma de metr ou esquecido numa calgada. A verdadeira miséria aparece mais tarde, no séeulo xi, brasca- D> D> mente, nos arredores das cidades onde se amon- toam os marginalizados. Vindos dos campos para aproveitar a forte ond de erescimento que sacode 2 Tdade Média, els encontrar as porasfechadss. Desse abandono nasce um novo cristianismo, 0 de Francisco de Asis [1181-1226], predecessor dos p- Ares operiios edo abade Pere Nos tempos de So Lais [Luis rei da Fran- a de 1226 a 1270], a8 hordas que surgiam do Teste provacam terror e angésia no mundo cris tio. O medo do estrangciro oprime novamente a populagies TNo entanto, a Europa soubera digerse inte- sraros saqueadoresnormandos. Esasinvasbes[st- {los 2X nha tornado menos laras as fron- tetas entre 0 mundo pagioe a cistandade eesti mulado o crescimento cconémico. A Europa, en- to tera juvenil, em plena expansio, estendewse fn08 quatro pontos eardeais,alimentando-se, com ‘oracidae, das culturasexteriores. Uma situagio anit diferent da de hoje, em que o Velho Conti nente se entrncheia contra a miséria do mando para preserva suas iquzas, Seo homem medieval feme, sobre todas as cose, 0 pagto, o muculmano {0 judeu, infigs a converter ua desta, deseon- fia também do outro, su vzinho de deol. fo fogo do mal dos ardentes que queima as populaes do ano 1000, Uma doenga desconheci da que provoca um terror imenso. Mas 0 pior es por ie a peste negra devastaa Europa e ceifa um fergo de sun populagio durante o veto de 1348 Como a Aids para alguns, essa cpidemia éviida como uma punigio do pecado. Eno, procuram-se bodes expatrioscencontram-s¢ os judeus € os le prosos, acusados de envenenar os pogos. As eida tes isolamse,prosbindo a entrada a0 estrangeco Suspito de tazer 0 mal. A morte ext em toda 3 tude 1-0 Wane ta ora parte, na vida, na arte na literatura. Contudo, os homens desse tempo temem muito uma outra doenga, a lepra, considerada 0 sinal distintivo do Aesvio sexual. Nos corps desses infelizes refletir- se-ia a podridio de sua alma, Ento, os leprosos so isolades, enclausurados. Uma rejeiga0 radical {que evoca algumas atitudes em relagio a Aids. [--] Quando ninguém davida da existéncia de uum outro mundo, a morte € uma passagem que deve ser celebrada em ceriménia entre parentes © viainhos. (© homem da Idade Média tem a convicgao de no desaparecer completamente, esperando a res- surreigio. Pois nada se detém e tudo continua na crernidade. A perda contemporinea do sentimento religioso fez da morte uma provagio aterrorizante, tum trampolim para as trevas e 0 incognoscivel. A solidariedade em torno da passagem da vida para a morte desapareceu e, hoje, apressamo-nos para desembaragar-nos do cadaver. Mais do que a morte, nossos ancestrais temiam o Juizo Final, a punigio do além ¢ os suplicios do inferno, Um medo do invisivel sempre presente, bem implantado no AAmago do homem de hoje, que vacila perante 0 sen timento de impottncia em face de seu destino. Georges Duby. Ano 1000 amo 2000 na pista de ‘nosso medor. S30 Paulo: Unesp, 1998. p. 168 1. Explique a relagio entre pobreza e soli- dariedade na Alta [dade Média. Por que {sso muda a partir do século xm? 2. Segundo o historiador Georges Duby, {quais eram os medos do homem do ano 1000? 3. E quais seriam 0s medos do homem do ano 2000? Discuta essa questo com seus, colegas e professores. 1, Osenascimento comercial e urbano na Bai- xa Idade Média. 2. Acrise do feudalismo no século xiv, na Eu~ ropa ocidental A FORMAGAO DE PorTUGAL A GueRRA De RECONQUISTA E A FORMACAO be Porrucat. O inicio da formagao de Portugal nos remete a situago da penin- sula Ibérica no século vu, Desde 624, a peninsula Ibérica era dominada pelos visigodos, pove germa- nico que se convertera ao cristianismo no século vi. Em 711, a peninsula foi con- quistada pelos mugulmanos!. Os ctistaos, entretanto, mantiveram sob controle a regido das Astirias, fururo reino de Leao, de onde partiram para a reconquista do territério perdido. ‘O movimento de reconquista sé tomou corpo a partir do século x1, com a forma- do dos reinos cristaos de Ledo, Castela, Navarra e Aragio. ‘No reinado de Afonso vi (1069-1109), rei de Leo ¢ Castela a partir de 1072, dois nobres franceses, Raimundo e Hen- rique de Borgonha, destacaram-se na luta contra os mouros. Como recompensa, receberam as filhas de Afonso viem casa- mento ¢ terras como dote. Henrique de Borgonha ficou com o condado Portucalense. Seu filho, Afonso Henriques, libertou-se de Ledo e procla- mou-se rei de Portugal em 1139. A inde- pendéncia do novo reino foi formalmen- te reconhecida pelo rei de Leao e Castela, Afonso vit (1109-1157), em 1143, Em Portugal, a luta contra 0s mouros continuou até 1249, quando se deu a con- guista do Algarve no sul. A partir disso, 0 reino ficou com os limites atuais, afirman- do-se como “o primeiro Estado europeu moderno”, no dizer do historiador Char- les Boxer. A dinastia de Borgonha, fundada por Afonso Henriques, perdurou até 1383. Nessa data, eclodiu a Revolucao de Avis, que levou D. Joao 1 ao trono portugués. ‘A nova dinastia reinou em Portugal até 1580. A DINASTIA DE BORGONHA E A CENTRALIZA- AO pottTica, O periodo que se inicia com a dinastia de Borgonha caracterizou-se pela intensa luta de Portugal contra os mouros ¢ pela progressiva conquista de territ6rios, consolidando finalmente seus limites com a incorporacao da regiao do Algarve. ‘A Guerra de Reconquista influenciou toda a organizagao do Estado portugues. A constante mobilizacao para a guerra re~ forgou o poder do rei como chefe militar, facilitando a centralizacao politica. Esse elemento destacou Portugal do resto da Europa, onde a descentralizagao era uma caracteristica dominante. Em virtude da importancia do rei, 0 feudalismo em Portugal teve uma carac- teristica peculiar: as terras conquistadas ‘208 mouros e concedidas aos nobres nio se converteram em dominios independen- tes. As instituigdes municipais eram for- "Rona dein ft por uma alps forma pr abs ey isin eee ke spel en Francesa, Madeid: Ito, 1985. tes ¢ subordinadas ao rei, ¢ nao aos no- bres. Tais caracteristicas explicam a pre- ‘coce centralizagao politica de Portugal. © comencio mantrimo. Ao lado das ques toes politico-territoriais, é necessério con- siderar a trajet6ria econdmica do reino portugués. Ao longo da Idade Média, a agricultura e 0 comércio maritimo foram a base econémica desse pequeno reino. Desde o século xi, os portugueses comer- ciavam com os reinos de Ledo, Castela ¢ 0s Estados mugulmanos. No fim do mes- ‘mo século, quando 0 contato com Flan- dres se estabeleceu, a cidade do Porto ja havia se transformado num importante centro comercial, juntamente com Lisboa. No comeco do século xi, os primei- ros mercadores portugueses foram auto- tude 2A rm oe Pot ‘Adaptado de: Hermann Kinder e Werner Hilgemann, Atlas bistério mundial: de los orgies la Revolucion rizados a comerciar na Inglaterra e, por volta de 1226, mais de cem autorizages haviam sido concedidas. No mesmo sé- culo, Sancho u (1223-1245), rei de Portu- gal, fez.a primeira tentativa de construir ‘uma frota naval pertencente ao Estado, ‘mas foi D. Dinis (1279-1325) que, con- tratando o servico de genoveses, instituiu a Marinha Real. SOCIEDADE PORTUGUESA: CARACTERISTICAS. Portugal exportava vinho, sal, fruta, azei- te, peixe seco, cera e couro; importava te~ cidos, especiarias, armas, metais € obje~ tos de decoragio, entre outros produtos. Esse comércio enriqueceu uma pequena parcela da populacao—a burguesia-, que, ‘em fungi disso, separou-se das camadas populares e até conseguiu ocupar alguns cargos administrativos de importancia, Contudo, a sociedade permaneceu aristo- cratica eos comerciantes (burgueses), para todos os efeitos, faziam parte do povo, dada a sua origem plebéia. Na época, nao se dizia que uma pes- soa pertencia a uma classe social, mas a uma ordem ou estado, Como em toda a Europa, a sociedade Portuguesa era constituida por trés ordens ou estados: a mais alta ordem era repre~ sentada pelo clero, que era o Primeiro ado do reino; em seguida, vinha a no- breza e, por fim, 0 povo - 0 Terceiro Es- tado, no qual estava incluida a burguesia. Portugal tinha uma populacao bastan- tevariada, Em 1094, quando o nobre fran- és Henrique de Borgonha recebeu a ter- ra que viria a ser Portugal, a populagio de seus dominios era composta por mou- autora de 0. Afonso X, o Sébio (século XI). 0s escravizados e mogérabes', os quais haviam vivido os tltimos quatrocentos: anos sob a influéncia mugulmana. Acrescente-se ainda a essa populagao os judeus, muito numerosos na Peninsula Ibé- rica durante a Idade Média. Sua presenga em Portugal ja era mencionada em docu- mentos do século x. Assim, em Portugal, tradigdes cristas conviviam tanto com o ju- dafsmo quanto com o islamismo. Isso con- feria a Portugal, e também a Espanha, uma situago muito particular, em comparagao com a verificada no restante da Europa, Sobre essa base social bastante hetero- sénea de ragas e culturas foi introduzida uma nobreza igualmente heterogénea em suas origens. Nobres franceses, ingleses, fla- mengos ¢ alemées, que vieram auxiliar os ctistdos na luta contra os mouros, foram recompensados com terras pelo rei. Assim Judeus, mueulmanos e cristéos aprendem com o boticério,llustragao de Cantigas de Santa Maria, de nasceu a camada dominante aristocratica de Portugal que, embora nao se interessas- se em assumir a diregao € protecao do po- ‘yo = como ocorria em outros reinos euro~ desse povo e do Estado. peus -, estava pronta para viver custa Sacerdotes, nobres, burgueses ¢ tra- balhadores formavam as principais cama- das sociais, quando Portugal foi atingido: pela peste negra em 1348. O efeito sobre a sociedade medieval portuguesa foi o mes- ‘mo que em toda a Europa: drastica dimi- nuigéo de mao-de-obra, j4 que as princi- pais vitimas foram os trabalhadores. Como conseqiiéncia, os que sobreviveram exi- giram salérios superiores aos que vigora- vam antes da peste. Essa situagao gerou insatisfagdo entre 0s proprietarios rurais, que solicitaram a intervengio do rei. Em resposta, Afonso wy (1325-1357), em julho de 1349, determinou que as autoridades, juntamente com 0s proprietatios locais, es tabelecessem algumas medidas cabiveis. sto 2= Alamo de Patil ber res A t ‘Queima dos corpos de vitimas da peste negra, na Holands, em iustragao do sécullo XIV Como era de se esperar, 0s emprega~ dores, primeiro, fixaram niveis salariais abaixo das expectativas dos trabalhado- res; segundo, tornarani obrigatéria a aceitagio dessa oferta salarial por todos 08 trabalhadores; e, terceiro, obtiveram o direito de recrutar a forca os que resis rissem. Porém, trés anos depois, em 1352, os proprietarios queixavam-se da dificul- dade de recrutar trabalhadores pelo sala- rio decretado. O insucesso da medida teve como conseqiiéncia 0 agravamento da crise de abastecimento que ja vinha desde 0 inicio do século, Fernando t (1367-1383) tentou solucionar o problema instituindo, ‘em 28 de maio de 1375, as Leis das Ses- marias, que regulamentavam a atividade agricola, Mas também nao deu certo. Portanto, desde a peste, uma luta sur- da entre proprietérios ¢ trabalhadores es- tava sendo travada. Foi em meio a esse clima de tensio social que o rei Fernandot morreu e, para piorar as coisas, nao dei- xou herdeiros masculinos. Leis das Sesmarias instituidas por Fernando 1, ¢ © historiador portugués Anténio Sérgio (1883-1969) faz a seguinte ex- posig&o sobre as Leis das Sesmarias: Determinavam que todos que tivessem herdades [propriedade rural], possuidas por qualquer titulo, fossem obrigados a semei-las,¢ as fizessem aproveitar por ou- tos se ndo pudessem agriculté-las a todas; que, nio lavrando os proprietarios as fa- zendas, as dessem aos sesmeiros a pessoa que as pudesse cultivar, mediante uma pen- so ou quota de frutos arrazoada; que os ‘que no fossem lavradores, nio tivessem lavoura, ou na cultura se no empregas- sem, ndo pudessem sustentar grandes ma- nadas de rebanhos [...]; que os que haviam sido lavradotes, assim como seus filhos ¢ seus netos, ¢ todos que nao usassem de ‘outro oficio stil a0 bem comum, deveriam ser obrigados ao tréfego [trabalho] da la- voura, ¢, nlo possuindo propriedades, fos- sem compelidos a servir nas outras, por sol- O rei de Castela, casado com a filha nica do rei morto, apresentou-se como pretendente ao trono portugués. A alta no- breza de Portugal apoiou as pretensdes do rei castelhano, mas a alta burguesia de Lisboa e do Porto foram contra, 0 que acabou por dividir Portugal. Sob a lideranca de Alvaro Pais, a bur ‘Suesia comercial-maritima tomou a inicia- tiva de aliar-se a D. Joao, mestre de Avis, irmao bastardo de Fernando 1*, Depois de sublevar Lisboa, Alvaro Pais apelou com éxito para 0 povo. Gragas ao apoio popu- lar, a alta burguesia venceu os castelhanos na batalha de Aljubarrota (1385), pondo fim ameaga estrangeira. dada [salério} taxada na lei ou nas postu- ras [acordos] municipais; que os que ndo exercessem oficio sabido fossem presos (embora se dissessem servos dos infantes, dos nobres ou dos prelados), e, no pro- vando ocupacao ttil, 0s coagisse a autori- dade a0 servigo da lavoura; que os mendi {gos em idade eforga suficientes fossem pre- 0s € obrigados a trabalhar pelo sustento ‘ou por soldada, € os que vivessem como religiosos sem o serem que os fizessem la- vyradores ou criados de lavradores; que em cada cidade ou vila do reino, cabega de ‘comarca, se nomeassem dois homens bons {0s mais ricos ¢ honrados] encarregados de verem as herdades ¢ indagar se poderiam dar pio, e se eram lavradas ¢ aproveita- das, devendo compelir 0s proprietarios a elas [..] de maneira Que a terra nao ficasse improdativa Anténio Sérgio. Breve Instr de Portugal. Lisboa, ida Cove, 1978. p.28-9 agriculté-las, arren Internamente, por sugestio de Alvaro Pais, D. Jodo permitiu que os revoltosos saqueassem e se apropriassem dos bens da nobreza, que apoiou as Pretensdes do rei castelhano. Vitorioso contra os inimigos externos ¢ internos, D. Joao, mestre de Avis, com o apoio da alta burguesia, assumiu 0 trono com o titulo deD. Joao (1385-1433), fundando a dinastia de Avis (1385-1580). Esse acontecimento, conhecido como Revolugdo de Avis, 6 considerado pelos his- toriadores portugueses o inicio da Era Mo- derma em Portugal e é tido como 0 equiva- lente local das revolugdes burguesas como, Por exemplo, a Revolugio Francesa de 1789. No entanto, em Portugal, a nobreza D: Jee fio eg do iD ko (1357-367 com ma damage de oe Tc Lowe teh rary ores Muminura das Chroniques d'Angaterre, de Jean Warrin (século XV), mostra uma ‘cena do casamento de D. Joao ! com Filipa de Loncastre. derrotada pela revolugao foi substituida por uma nova, ligada ao rei D. Joao 1. tou a sociedade burguesa na Franga, a Re~ volugao de Avis nao alterou a estrutura s0~ cial aristocrética em Portugal. A revolugao nijo transferiu o poder politico para as mos da burguesia, como ocorreria na Franga quatro séculos depois. Em vez. disso, abriu caminho para a nobreza diversificar sua economia, Tanto que, depois da revolucao, cla jé ndo dependia exclusivamente da agri- cultura, A nobreza havia feito da pecusria, do comércio externo e da construcéo de navios, suas novas fontes de renda, © Novo Estapo £ 0 MERcANTIUSMO. A Re- volugéo de Avis trouxe importantes modi- ficagdes em relagdo a0 Estado. Nos pri- mérdios da monarquia, o Reino era con- ‘cebido como propriedade do rei. Nao ha- via distingao entre o piblico ¢ o privado. Adiferenciagdo apareceu no comego do século xiv, mas s6 se tornou transparente no reinado de D. Joao 1, com a instituigao do primeiro imposto langado em escala na- ional: as sisas, impostos que incidiam so- bre todo tipo de compra e venda. Em 1402, os recursos provenientes das sisas repre~ sentavam 75% da reccita total do reino, “eto ep come ord 4 7 aN ‘A importncia das sisas para o Estado mostrava que a economia monetaria € ‘mercantil das cidades havia assumido uma posigao de grande relevancia em Portu- gal. Porém, as rendas estatais ainda as- sim nao eram suficientes para fazer fren- te aos gastos crescentes da monarquia: as rendas estavam se reduzindo em razao do ambiente de contragdo econémica que caracterizou as crises do século xiv. © Estado viu-se, entao, forgado a par- ticipar dirctamente de empreendimentos, co que o transformou gradativamente num importante agente da economia. A sua 4rea de atuagao concentrou-se principal mente no comércio maritimo, na constru- io naval e na montagem de redes de fei- totias’. Assim, o Estado passou a benefi ciar-se duplamente. Nao apenas como empresirio, recebendo lucros, mas tam- bém como governo, recebendo impostos alfandegarios e criando e explorando di- retamente monopélios régios (chamados estancos) ou vendendo o direito de sua exploragio a particulares. ‘Desse encontro entre o Estado ¢ a eco- nomia, nos quadros de uma sociedade aris- tocratica, foi ganhando forma aquilo que veio a ser conhecido como politica econé- mica mercantilista. O fendmeno nao era nt apenas portugués. ‘Toda a Europa estava caminhando nessa diregio, ainda que com tacos particulares em cada reino. Resumindo, o mercantilismo consistiu ‘no controle da economia pelo rei, ou mais exatamente, na intervencao do Estado na economia. Com esse intervencionismo (os negécios deixavam de ser administrados apenas pelos interesses particulares dos mercadores burgueses), 0 rei tinha como ‘objetivo o fortalecimento do Estado, em- bora ao custo de continuar enriquecen- do, indiretamente, a burguesia. Historiadores c economistas que estu- dam 0 mercantilismo concluiram que, em sua forma madura, essa politica apresen- tou cinco caracteristicas fundamentais: a) Idéia metalista: 08 mercantilistas ava- liavama riqueza de um pais pela quan- tidade de metais preciosos que pos- suisse. Portanto, a riqueza era enten- dida como acumulagio de ouro e pra- ta, metais nobres com os quais se cu- nhavam moedas. Balanca comercial favordvel: para via- bilizar a acumulagao de metais, as au- toridades do governo entendiam que uma das melhores maneitas era esti- mular a exportagao e desestimular a importacdo. Desse modo, procurava- se favorecer a entrada de metais pre- ciosos obtidos com as vendas para outros patses ¢ impedir sua saida por meio de importagées. ©) Protecionismo: a balanga comerci favoravel era ainda reforgada pela ado- do de altas taxas alfandegarias para 05 produtos manufaturados ¢ taxas menores para matérias-primas. Ao fa- vorecer a entrada de matérias-primas baratas, estimulava-se a produgao de manufaturados a precos baixos, faceis de serem exportados. Por outro lado, bj 08 produtos vindos de outros paises costumavam ter pregos muito eleva- dos, o que restringia o seu consumo, Incentivo & manufatura: 0 Estado es- timulava o aumento da produgao ma- nufatureira vendendo privilégios de fabricagao de um determinado produ- to. Aos que adquiriam tais direitos, o rei assegurava o monopélio, impedin- do a concorréncia. Para beneficiar os manufaturciros, o Estado adotava uma politica de estimulo ao crescimento demografico, com a finalidade de ba- ratear a mio-de-obra. Note que o Es- tado nao se preocupava com 0 bem- estar social (0 que sé ocorreria muitos séculos depois). ¢) Sistema colonial:na medida em que cada Estado procurava fechar 0 seu mercado a entrada de produtos procedentes de outros reinos, os governantes atribu‘am maior importncia a posse de colénias. Estas se tornaram um bem econémiico disputadtssimo, pois funcionavam como importante retaguarda econémica da metrépole. O sucesso dos empreendi mentos coloniais, porém, dependia da capacidade da metrépole em impedir que suas col6nias fizessem comércio |i vremente com outros paises. Por essa razdo, 0 monopélio ou o “exclusive” ‘metropolitano converteu-se na espinha dorsal do antigo sistema colonial. qi A centralizagdo do poder politico © 0 mercantilismo podem ser considerados as. duas principais conseqiiéncias da ascen- sio de D. Joo 1 a0 trono de Portugal. Conclui-se, entdo, que a Revolugao de Avis deu origem ao absolutismo mondr- quico voltado a0 comércio, mas nao a uma sociedade burguesa e capitalista, Essa particularidade teve peso decisivo no pro- cesso hist6rico subseqiiente. ede 2 tao Pro 1. Qual a relago entre Reconquista ¢ een- tralizagio politica em Portugal? 2. Garacterize 0 Estado e a sociedade portu- sguesa durante a dinastia de Borgonha. 3, Por que, em Portugal, o comércio benefi- ciow mais a aristocracia ¢ 0 Estado do que ‘a propria burguesia? (© aque foi a Revolugto de Avis? Como 0 Estado portugués tomouse agente econtmico apés essa revolugio? 6. Portugal foi pionciro em vérios aspectos: politico, econdmico ¢ tecnol6gico. No en- tanto, o pais no se tornou uma poténcia capitalista. Como se explica isso? 7. *O Estado portugues tornow-se empreen- dedor, associando-se & expansio comer- cial ¢ maritima, cuja légica, definimos hoje, era o mercantilismo.” Explique essa afirmagao. Leia 0 texto € responda as questdes. Cumpre deseacae a conexo que vineula os dois processos paralclos de expansio mercantile forma~ {io de Estados de tipo moderno. Realmente, a aber- fra de novas rotas, a fim de superar os entraves detivados do monopélio das importagées orientais pelos venezianios e mugulmanos, € a escasser do ‘metal nobre implicavam dificuldades técnicas (na- ‘vegagdes do Mar Oceano) ¢ econdmicas (alto custo dos investimentos, rau muito elevado do risco ds empresa), 0 que exigi larga mobilizagao de recur- Desa forma, o Estado centralizado, capa de mobilizar recursos em escala nacional, tomou: se pré-requisito & expansio ultramarina; por outro Jado, desencadeados os mecanismos de exploracio ‘comercial e colonial do ulramay, frtalece-serever™ sivamente o Estado colonizador. Em outras p vas, a expansio maritima, comercial ¢ colonial, postulando um certo grau de centralizagao do po- der para tornar-serealizivel, constiuiu-se, por seu tumo, em fator essencial do poder do Estado me- tropolitano. Fernando Novais. © Brasil nos quados do Antigo Sistema Colonial. In: Carlos Guilherme ‘Motta (ors). Brasil ers perspectiva. 2. ed. Sto Pals Difel, 1969. p49. esse texto, 0 autor explica por que a cen- tralizagio politica deve ser considerada 0 pré- requisito da expansio maritima. Destaque 05 argumentos utilizados por ele. 1. AReconquista ea singularidade da forma- io de Portugal. 2. A Revolugio de Avis e a superacao da exi- se do século x1v em Portugal. Ea) PORTUGUESA A expansao maritima e comercial ECONOMIA MERCANTIL E SOCIEDADE AR CRATICA. No final do século xiv, 0 comér- cio tornou-se importante fonte de renda, nao s6 para a burguesia, mas também para.a “nobreza mercantil” e para o “Es- tado-mercador”". A florescente economia mercantil portuguesa estava se desenvol- vendo dentro de uma sociedade aristocra- tica, sob o comando do rei. Os nobres gastavam as suas rendas em produtos de luxo e rei consumia o dinhei ro na ostentagio da corte, no sustento de Parasitas. Nao havia a preocupacdo em rein- vestir os lucros para expandir os negi Mesmo os comerciantes (burguesia), domi- nados pela mentalidade aristocritica, usa- ‘yam seus luctos para comprar terras e viver como os nobres. Em Portugal, a posse de Explicando a singularidade de Por- tugal no cendrio europeu do século xv, © historiador inglés Charles Boxer (1904-2000) afirma: Nao € preciso lembrar os leitores que, durante a quase totalidade do século [xv], (08 outros paises da Europa Ocidental esta- vam convulsionados por guerras civis ou com 0 estrangeiro ~ a Guerra dos Cem ‘Anos, a Guerra das Rosas, etc. ~ ow preo- cupados com a ameaga do avango turco nos Paz em Portugal A EXPANSAO ULTRAMARINA ‘terras era o elemento mais importante para distinguir socialmente os individuos, ICA. Portu- gal havia definido as suas fronteiras atuais em 1249, com a conquista do Algarves, 0 liltimo reduto mouro. Em 1385, com a ascensio de D. Joao 1 (1385-1433), 0 ab- solutismo jé estava instalado em Portugal. No final do século xv, Portugal era o tini- co Estado centralizado e livre de guerras. Essa situagao hist6rica excepcional contri- buiu poderosamente para o pioneirismo portugués na expansio ultramarina. A PRECOCE CENTRALIZAGAO A conquista pe Crvra. Impregnado pelo “espirito cruzadista”, adquirido na luta de reconquista contra os mouros, 0 primeiro ppasso da expansio ultramarina foia conquis- ta de Ceuta (1415). Mas por que Ceuta? Considerando as razdes que levaram D. Joao 1 a optar pela cidade de Ceuta, o Baleas e no Levante. Mais particularmente ‘Castela © Aragio experimentaram um “pe- iodo de perturbacdes”, a beira duma anar- quia ruinosa, antes do reinado de Fernando e Isabel. Estas questées internas contribui= ram muito para impedir os Espanhéis de competirem tio efetivamente com os Por tugueses como eles de outro modo 0 pode- lam ter feito (se bem que os tenham even- tualmente expulsado das Candias). Charles Boxes 0 império colonial ornegués, Lisboa: Edigoes 70,1977, , 40, "Acs cpap Vrms Ngee, tr tee perp ik Ai 719.75 O infante D. Henrique, fi Iho do rei D. Joao t, foi con- siderado o principal impul- sionador da expansao ul- tramarina portuguesa. Por isso passou a his- téria como D, Henri- que, o Navegador. Segundo uma tradigao nascida no inicio do século xvi, deve-se ao infante D. Henrique a fundagao da Escola de Sagres, onde eram for- mados os navegadores portugueses do século xv, cronista portugués Gomes Eanes de Zu- rara (1420-1474) escreveu que era desejo do rei ordenar seus filhos cavaleiros em festas que durariam um ano inteiro. Os quatro principes ~ D. Duarte, D. Pedro, 1D, Henrique ¢ D. Fernando ~ julgaram 0 plano do pai muito modesto, pois que~ riam ser armados cavaleiros numa guer- ra de verdade, demonstrando a mentali- dade guerreira ainda dominante. Foi en- to que Jodo Afonso, vedor (ministro) da fazenda, propos aos principes a conquis- ta de Ceuta. D. Jodo 1, depois de muitas hesitagdes, concordou. ‘A cidade de Ceuta era um importante centreposto comercial muculmano, situa~ do no norte da Africa (Marrocos), onde chegavam ouro, escravos e marfim vin~ dos da Africa negra. Desde o século vill, estava sob o dominio dos arabes, que dali partiram para conquistar a peninsula Ibé- rica, No século Xv, passou a ser usada como base de ataques a navios cristios no Mediterraneo. do 9A gana preps Essa escola ndutica nun- ca existiu como institui- ‘so formal, mas nao ha daida de que D. Hen- rique desempenhou um papel impor- tante na expansio maritima portu- guesa. A determi- g nacdo cm gastar = elevadas quantias sem esperar com- pensagao imediata foi decisiva para a sua maior realizagao =a ultrapassagem do cabo Bojador, em 1434, por Gil Eanes, ‘A expedigdo foi planejada com muito cuidado e sigilo. Dinheiro, navios e tripula- cao ficaram a cargo dos comerciantes. A operagio propriamente militar coube na~ turalmente & nobreza. Essa divisio basea~ ‘va-se em interesses diferentes: a burguesia estava interessada na exploragio maritima comercial da costa africana, ao passo que a nobreza, guiada pelo espirito cruzadista, pretendia tanto a difusio do cristianismo quanto a aquisigao de terras. A frota partiu de Lisboa no dia 25 de ju- tho de 1415 e a conquista de Ceuta foi con- luda em 21 de agosto de 1415, Assim co- ‘mecou a expansiio ultramarina portuguesa. © ovno. Até 1415, 0 conhecimento do li- toral ocidental africano ia até o cabo Bo- jador, do qual os navegadores se afasta- vam por temerem a violéncia do mar, a densa neblina ¢ 0s ventos desfavoraveis que dificultavam o retorno. O cabo 86 foi ultrapassado, depois de muitas tentativas, por Gil Eanes em 1434, ‘Uma vez ultrapassado o cabo Bojador, © avango para o sul foi relativamente ra- pido. Os portugueses estavam interessa- dos no ouro do Sudao, extraido nas re- gides de Bambuk, Alto Niger ¢ Lobi, de onde era levado para Tombuctu ¢ nego- ciado com os mercadores arabes. Estes transportavam a carga de metal para Ceu- ta, Tiinis, Tripoli e Alexandria, cujos por- tos eram freqiientados por judeus, geno- vveses, venezianos e outros. Entretanto, as caravanas de ouro desviaram-se de Ceu- ta apés a conquista portuguesa. Os por- tugueses continuaram explorando a Afri- ca em direcao ao litoral sul, para onde pretendiam desviar 0 comércio do ouro. ‘A EXPLORAGAO DA COSTA AFRICANA. Por vol- ta de 1445, foi estabelecida a primeira fei- toria em Argiim?, uma pequena ilha des- coberta em 1443, situada ao sul do cabo Branco (atual Novadhibou), Dez anos de- ois, foi construido um castelo onde eram feitas as trocas de cavalos, tecidos e trigo, Por ouro em pé, escravos e marfim, A chegada desses produtos em Portu- gal despertou o interesse dos comercian- tes e armadores até entao relativamente indiferentes & aventura maritima coman- dada pelo infante D. Henrique, que era 0 concessiondtio da Coroa, de todo comér- cio da Africa ocidental. Em 1460, quan- do D. Henrique morreu, 0s navios portu- ‘gueses jd haviam chegado a Serra Leoa. ‘Com a morte do infante, 0 rei Afonso v? (1438-1481) passou a diregaio do comér- cio africano a seu filho ¢ herdeiro D. Joao, futuro D. Joao m, Além do ouro, havia outro “produto” de grande valor: 0 escravo. De inicio, os Principais fornecedores de escravos eram 08 némades do deserto do Sara (os tua- Tegues) €, posteriormente, as aldeias ne- sgras da regido do Senegal. Com o tempo, 8 portugueses perceberam que era mais facil obter escravos por meio de transa- ‘ses pacificas com os chefes tribais, que entregavam os criminosos condenados, Prisioneiros de guerra, etc. em troca de contas de vidro, facas e tecidos de la. De 1450 a 1500, quase 150 mill negros fo- ram capturados e vendidos como escra- vos pelos portugueses. Paralelamente 4 exploragio da costa africana, os portugueses conquistaram as ilhas do Atlintico: Madeira (entre 1419 ¢ 1425), arquipélago de Agores (1439) e Cabo Verde (1456). Nessas ilhas, os portugueses iniciaram a experiéneia colonial que seria transferida mais tarde para o Brasil. © inicio ba poutnca COMERCIAL MONoPO- usta. Bm 1481, D. Joio—que havia suce- dido o infante D. Henrique na diregao do comércio africano - tornou-se rei, com 0 nome de D. Joao 1! (1481-1495). Um de seus primeiros atos como rei foi ordenar a construgdo da feitoria de Sao Jorge da ‘Mina na Costa do Ouro, em 1482. A nova feitoria ndo demorou muito a superar a de Argitim, pasando a dominar o comér- cio do ouro. novo rei foi responsavel pela ctiagao de um modelo comercial que fez do Esta do o seu centro nervoso. Reservou para a Coroa © monopélio do comércio de im- Portagio (ouro, escravos, especiarias € marfim) ¢ de exportagio (cavalos, tape- tes, tecidos ingleses, objetos de latéo). O Estado vendia licenga aos comerciantes que queriam negociar na Africa, mas concedia a eles apenas o direito de importagio de produtos de pouco valor (papagaios, ma- cacos, téxteis de algodio). "Ari separ ed ora rd sn ain a Mc nd. "ho de. Doar, o send el da nat de Ay, Abn soba de Deeg Reda a i tide 9A pe ub pegs t — sanwlomeu Das (ae) ay — vaseo da Game (1458) ‘Adaptado de: Flavio de Campos e Miriam Dolhnikoff. Atlas Historia do Brasil Sto Paulo: Scipione, 1993. No reinado de D. Joao u, o navegador Bartolomeu Dias atingiu 0 extremo sul do continente africano € dobrou 0 cabo das Tormentas, rebatizado de Boa Esperanga. No reinado de seu sucessor, D. Manuel (1495-1521), Vasco da Gama chegou a Calicute, na India (1498). Depois da faga- nha de Vasco da Gama, D. Manuel dew a si mesmo o titulo de “Senhor da conquis- ta, navegacio ¢ comércio da Etiépia, {n- ia, Arabia e Pérsia”. Durante séculos, esse foi o titulo adotado pelos reis de Portugal. ‘Com a descoberta do caminho para a india, Portugal passou a dominar 0 comér- cio de especiarias (pimenta, cravo, canela), a partir de trés pontos cruciais: Goa, Or muz ¢ Malaca, Com sua rede de feitorias, dominou o comércio do ouro por cem anos (1450 a 1550), € estava preparado para se tornar o primeiro grande traficante de es- cravos quando a armada de Pedro Alvares Cabral chegou ao Brasil, em 1500. A EsPANHA £ © “DESCOBRIMENTO” DA AME syca. Enquanto os portugueses exploravam a costa africana em diregio & India, Cris- t6vao Colombo, navegador genovés, a ser- vigo de Castela, chegava a América (1492). ‘A audaciosa viagem de Colombo atra- vés do Atlantico tinha por objetivo atin- git a China, pois a rota da seda e o trans- porte de valiosas mercadorias dali par- tiam. Quando foi constatado que as ter- ras atingidas por Colombo pertenciam a ‘um continente até entao desconhecido, fo- ram consideradas um obsticulo. (© Novo Mundo~a América -, no ini- cio, nao despertou o interesse da Coroa espanhola, O mesmo ocorreu com o Bra~ sil depois que aqui chegou a esquadra de mi oy Pedro Alvares Cabral. O interesse, em um primeiro momento, foi meramente estra- tégico, pois para contornar o extremo sul da Africa era preciso chegar muito préxi- mo das costas brasileiras, que serviam como base de apoio néutico. Os espanhéis continuaram buscando uma passagem que permitisse coneluir a viagem ambicionada por Colombo. A fa- ganha foi executada por um portugués a servigo da Espanha, Ferndio de Magalhaes. Navegando até o extremo sul do continen- i sos Oriente ¢ Ocidente 8 aproximam: 0 primeiro passo foi «a descoberta do camino martimo para a india Mutheres soteras, Indias, crstas, J gravura extrata do Cédice Casanatense, teamericano ele encontrou a passagem, que recebeu 0 seu nome estreito de Magalhacs. Essa expedigio teve o mérito de ser a pri- meira viagem de circunavegacao (1519- 1522), mas a descoberta da passagem nao resultou em ganhos comerciais, jé quea dis- tancia entre a Europa eo Oriente por essa rota era muito maior do que se imaginava. Com a Espanha entrando em cena, co- locou-se o problema das fronteiras luso-es- panholas no ultramar, que s6 foi soluciona- do com o Tratado de Tordesilhas (1494), Tratado de Tordesilhas 0s paises ibéricos entraram em con- fronto por causa das fronteiras ultrama- rinas, cada qual defendendo a porcio do globo conquistada. Para resolver a ‘contenda, apelaram ao papa. Em 1494, logo apés a viagem de ‘Colombo (1492) e, portanto, antes da che- gada dos portugueses ao Brasil, D. Joao (tei de Portugal) ¢ Femando e Isabel (so- beranos espanhéis) assinaram o Tratado de Tordesilhas. Tomando por base 0 ‘meridiano que passava a 370 léguas a oes- te das ilhas de Cabo Verde, ficou estabele-

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