You are on page 1of 138
Paki cele (oMe (old e°K1 | » ik z ario Sum CAPITULO 01 * A CRISE DO ANTIGO SISTEMA COLONIAL 1. Avinda da familia real CAPITULO 02 + O PER[ODO JOANINO (1808-1821) 1. Aliberdade industrial e os Tratados de 1810 2. Aadministracao de D. Joo 3. Apolitica externa de D. Jodo 4. O desgaste de D. Jo30 CAPITULO 03 * O PROCESSO DE INDEPENDENCIA. 1. Do Dia do Fico ao Grito do Ipiranga CAPITULO 04 ¢ PRIMEIRO REINADO (1822-1831) . AAssembleia Constituinte ._ A Constituiggo Outorgada de 1824 Crise politica . Oreconhecimento da independéncia . A politica externa .. A abdicagio do imperador CAPITULO 05 * O PERIODO REGENCIAL (1831-1840) 1. © Avanco Liberal (1831-1837) 2. O Regresso Conservador 3. OGolpe da Maioridade aaa ene CAPITULO 06 * REVOLTAS REGENCIAIS 1. AFarroupilha (1835-1845) 2. Revolta dos Malés (1835) 3. A Cabanagem (1835-1840) 4, ASabinada (1837-1838) 5. ABalaiada (1838-1841) CAPITULO 07 * SEGUNDO REINADO: POLITICA INTERNA E ECONOMIA 1. As Revoltas Liberais 2. O Parlamentarismo as avessas 3. Economia do século XIX 4, migracio e lei de terras CAPITULO 08 * A POLITICA EXTERNA DO SEGUNDO. REINADO 1. O Prata e a Guerra do Paraguai 2. A Questo Christie 12 12 12 13 13 17 7 21 22 22 23 23 24 25 28 28 30 30 34 34 34 35 36 36 40 40 40 41 44 48 48 49 CAPITULO 09 * SECULO XIX: ASPECTOS CULTURAIS 1. Literatura 2. Amisica 3. Ocirco eo entrudo 4. O indio e o negro na cultura brasileira CAPITULO 10 * A CRISE DA MONARQUIA 1. Aquestao politica 2. Aquestao militar 3. A questo religiosa 4. Oabolicionismo EXERCICIOS PROPOSTOS Capitulo 01 Capitulo 02 Capitulo 03 Capitulo 04 Capitulo 05 Capitulo 06 Capitulo 07 Capitulo 08 Capitulo 09 Capitulo 10 GABARITO 53 54 55 55 56 59 59 60 60 61 65 e7 73 79 384 90 95 102 109 116 123 129 Brasil Império As tltimas décadas do século XVIII foram mar- cadas por acontecimentos internacionais que se refletiram no Brasil. Em 1776, as Treze Colé- nias aprovaram a Declaracdo de Independén- cia dos Estados Unidos da América. Em 1789, teve inicio a Revolucao Francesa, que abalou a Europa com sua bandeira lluminista e Libe- ral. Em 1791, ocorreu a revolta dos escravos de S40 Domingos e a independéncia do Haiti aconteceu em 1804. Enquanto isso, a Ingla- Histéria CAPITULO 01 + A CRISE DO ANTIGO SISTEMA COLONIAL au Isso representava uma superacao do estagio capitalista comercial para o industrial. Em certo sentido, podemos afirmar que essa mu- danga colocou em xeque todo um sistema de exploracdo desenvolvido até ali, comprome- tendo a ideia da manutencao de areas de ex- clusividade econémica defendida por Estados modernos europeus. 1. A vinda da familia real terra, pés-Revolucdo Industrial, intensificava sua luta contra a escraviddo e os monopdlios comerciais. No inicio do século XIX, era evidente a depen- déncia econémica de Portugal em relagdo a Inglaterra. Tal situag3o se iniciara a partir de 1640, com a restauracdo do trono luso apés © dominio espanhol. Essa dependéncia pode ser exemplificada pelo Tratado de Methuen Avelha ordem, construida em torno do poder absoluto dos reis, envolvendo um conjunto de prdticas econémicas conhecido por mer- cantilismo, com destaque ao protecionismo @ de 1703. a0 monopélio de comércio, definitivamente, encontrava-se em crise. O Tratado de Methuen Pelos seus termos, os portugueses se comprometiam a consumir os téxteis britdnicos e, em contrapartida, os britdnicos, os vinhos de Portugal. Com trés artigos, é 0 texto mais reduzido da histéria diplomatica europeia: I, Sua Majestade ElRey de Portugal promete tanto em Seu proprio Nome, como no de Seus Sucessores, de admitir para sempre daqui em diante no Reyno de Portugal os Panos de la, e mais fabricas de lanificio de Inglaterra, como era costume até o tempo que fordo proibidos pelas Leys, nao obstante qualquer condigdo em contrario. Il. He estipulado que Sua Sagrada ¢ Real Magestade Britanica, em seu proprio Nome e no de Seus Sucessores sera obrigada para sempre daqui em diante, de admitir na Gra Bretanha os Vinhos do produto de Portugal, de sorte que em tempo algum (haja Paz ou Guerra entre os Reynos de Inglaterra e de Franga), nao se poderd exigir de Direitos de Alfindega nestes Vinhos, ou debaixo de qualquer outro titulo, directa ou indirecta- ‘mente, ou sejam transportados para Inglaterra em Pipas, Toneis ou qualquer outra vasilha que seja mais o que se costuma pedir para igual quantidade, ou de medida de Vinho de Franga, diminuindo ou abatendo uma terga parte do Direito do costume. Porem, se em qualquer tempo esta dedugdo, ou abatimento de direitos, que sera feito, como acima he declarado, for por algum modo infringido e prejudicado, Sua Sagrada Magestade Portu- gueza poderd, justa ¢ legitimamente, proibir os Panos de 1d ¢ todas as demais fabricas de lanificios de Inglaterra. IIL, Os Exmos. Senhores Plenipotencirios prometem, ¢ tomao sobre si, que seus Amos acima mencionados ratificardo este Tratado, e que dentro do termo de dois meses se passario as Ratificagdes. SAMPAIO, Luis Teixeira de. Para a histéria do Tratado de Methuen. In: O Instituto, v. XVI, n® 1, Coimbra, 1928. Historia A dependéncia em relaco aos ingleses colocou Portugal numa situacdo delicada em meio as dis- putas entre Franca e Inglaterra, principalmente apés 0 desfecho da Revolucéo Francesa, fato particularmente significativo para 0 processo de independéncia da América, em especial, do Bra- sil, pois Napoledo Bonaparte assumiu 0 poder, criando um império na Europa. O general francés decretou um bloqueio eco- némico a Inglaterra, pois pretendia dinami- Brasil Império zar a economia francesa em detrimento da inglesa. O objetivo era realizar a Revolugdo Industrial na Franga. Para tanto, necessitava da abertura de mercados consumidores na Europa, os quais estavam dominados pelos produtos ingleses. Napoleio ameacou com guerra os governantes europeus que nado aderissem ao Bloqueio Continental. Assim, a Europa foi convulsionada pelas campanhas do imperador francés. © BLoqueto CONTINENTAL Brasil Império O exéreito de Napoledo por muito tempo foi considerado imbativel na Europa. O general francés aplicou os principios da revolusio francesa As suas tropas, conferindo maior mobilidade, liberando seus homens do antigo modelo de corpo militar que marcha organizado em linhas e colunas. As ages eram répidas ¢ eficientes, Dessa forma, Napoledo controlou boa parte do continente europeu. Portugal, conduzido por D. Jodo, Principe Re- gente, nao aderiu ao Bloqueio devido as fortes pressdes da Inglaterra, que levaram o governo luso a assinar a Convencao Secreta de 22 de outubro de 1807, estabelecendo: 01. transferéncia da familia real para o Bra- sil, caso Portugal fosse invadido pelas tropas francesas; 02. protecdo maritima inglesa a0 governo portugués na sua viagem; LEITURA COMPLEMENTAR Bloqueio Continental: 1806-1807 Histéria 03. ocupacao da ilha da Madeira pelos ingle- ses durante as guerras contra a Franca; 04, liberdade de comércio inglés através de um porto no Brasil. ‘Ao tomar conhecimento da Convencdo Secreta entre Portugal e Inglaterra, Napoledo negociou com a Espanha o Tratado de Fontainebleau, determinando: a. invaso e desmembramento de Portu- gal em trés partes; b. extingdo da Dinastia de Braganca; ¢. divisio das colénias portuguesas entre Espanha e Franca Tendo seu territério invadido pelo exército de Napoledo, em 1807, D. Jogo, para nao perder 0 trono, transferiu-se com a familia real e a Cor- te portuguesa para o Brasil Encurralado entre as duas maiores poténcias econémicas ¢ militares de sua Epoca, D. Joao tinha pela frente duas alter- nativas amargas ¢ excludentes. A primeira era ceder As pressdes de Napoledo e aderir a0 Bloqueio Continental. A segunda, acei- tar a oferta dos aliados ingleses ¢ emba car para o Brasil levando junto a familia real, a maior parte da nobreza, seus tesou- 10s ¢ todo 0 aparato do Estado (...) Havia, obviamente, uma terceira al- temativa, que sequer foi considerada por D. Jodo. Seria permanecer em Portugal, enfrentar Napoledo e lutar ao lado dos in- gleses na defesa do pais, mesmo correndo orisco de perder 0 Trono ¢ a Coroa. GOMES, Laurentino. 1808. Sao Paulo: 2d, Planeta do Grail, 2007 © Decreto de Berlim Campo Imperial de Berlim, 21 de novembro de 1806 Napoledo, imperador dos Franceses, Rei da Itdlia etc. ) Considerando, 12. Que a Inglaterra nao admite o direito da gente universalmente observado por todos os povos civilizados; 22, Que esta considera inimigo todo individuo que pertence a um Estado inimigo e, por conse- guinte, faz prisioneiros de guerra nao somente as equipagens dos navios armados para a guerra, mas ainda as equipagens das naves de comércio e até mesmo os negociantes que viajam para 0 seus negécios; Histéria Brasil Império 32, Que ela estende as embarcacées e mercadorias do comércio e as propriedades dos particulares o direito de conquista que sé se pode aplicar aquilo que pertence ao Estado inimigo; 42, Que ela estende as cidades e portos de comércio nao fortificados nas embocaduras dos rios o direito de bloqueio que, segundo a razo e o costume de todos os poves civilizados, sé se aplica as pracas fortes; que ela declara bloqueadas as pracas diante das quais ndo ha sequer uma Unica embarcacao de guerra; que ela até mesmo declara em estado de bloqueio lugares em que todas as suas forcas reunidas seriam incapazes de bloquear, costas internas € todo um império; 52. Que este monstruoso abuso do direito de bloqueio tem por objetivo impedir as comunica- Ges entre os povos, e erguer 0 comércio ea industria da Inglaterra sobre as ruinas da industria e do comércio do continente; 62. Que sendo este o objetivo evidente da Inglaterra, qualquer individuo, que faca sobre o continente o comeércio de mercadorias inglesas, por este meio favorece os seus designios e dela se torna cumplice; (...) 82, Que é de direito natural opor ao inimigo as armas de que faz uso, e de combaté-lo do mesmo modo que este combate, quando desconhece todas as ideias de justica e todos os sentimentos liberais, resultado de civilizagdo humana; Por conseguinte, temos decretado e decretamos o que segue: Artigo 12. As Ilhas Britanicas so declaradas em estado de bloqueio. Artigo 22. Qualquer comércio e qualquer correspondéncia com as Ilhas Britanicas ficam inter- ditados (...) Artigo 32. Qualquer individuo, stidito da Inglaterra, qualquer que seja sua condigdo, que for encontrado nos paises ocupados por nossas tropas ou pelas tropas de nossos aliados sera constitufdo prisioneiro de guerra, Artigo 42. Qualquer loja, qualquer mercadoria, qualquer propriedade pertencente a um stid to da Inglaterra sera declarada boa presa. Artigo 52. 0 comércio de mercadorias inglesas é proibido, e qualquer mercadoria pertencente a Inglaterra, ou proveniente de suas fabricas e de suas col6nias é declarada boa presa. (...) Artigo 72, Nenhuma embarcagSo vinda diretamente da Inglaterra ou das coldnias inglesas, ou la tendo estado, desde a publicagdo do presente decreto, seré recebida em porto algum. Artigo 82. Qualquer embarca¢ao que, por meio de uma declaracao, transgredir a disposicdo acima serd apresada e o navio e sua carga sero confiscados como se fossem propriedade inglesa. (...) Artigo 102. Comunicagao do presente decreto sera dada por nosso ministro das Relaces Exteriores aos reis de Espanha, de Napoles, da Holanda e de Etruria e aos nossos aliados, cujos stiditos sdo vitimas, como os nossos, da injustica e da barbarie legislacao maritima inglesa. Napoleio 10 Brasil Império EXERCICIOS RESOLVIDOS 01. Unesp ‘Artigo 5° — O comércio de mer- cadorias inglesas & proibido, e qualquer mercadoria pertencente a Inglaterra, ou proveniente de suas fabricas e de suas co- lonias, ¢ declarada boa presa. () Artigo 7° — Nenhuma embareagio vinda diretamente da Inglaterra ou das co- énias inglesas, ou 14 tendo estado, desde a publicagdo do presente decreto, sera re- cebida em porto algum, Artigo 8° — Qualquer embarcagio que, por meio de uma declaragio, trans- gredir a disposigdo acima sera apresada, © 0 navio e sua carga serdo confiscados como se fossem propriedade inglesa. Excerto do Bloqueio Continental, Napoledo Bonaparte. Citado por Kétia M. de Queirds Mattoso, Textos e documentos para oestudo da hist6ria contempordnea (1789-1963), 1977. Esses artigos do Bloqueio Continental, decre- tado pelo imperador da Franca em 1806, per- mitem notar a disposicao francesa de a. estimular a autonomia das col6nias in- glesas na América, que passariam a de- pender mais de seu comércio interno. impedir a Inglaterra de negociar com a Franca uma nova legislac3o para o comércio na Europa e nas areas colo- niais. . provocar a transferéncia da Corte por- tuguesa para o Brasil, por meio da ocu- pacao militar da peninsula Ibérica, ampliar a agéo de corsérios ingleses no norte do oceano Atlantico e a he- gemonia francesa nos mares euro- peus. . debilitar economicamente a Inglaterra, ento em processo de industrializacSo, limitando seu comércio com o restante da Europa. z 2 n Histéria Resolugao A politica expansionista francesa tinha como grande objetivo ampliar seus mercados na Europa, como uma das bases para sua indus- trializacdio e, nesse sentido, apds a derrota na tentativa de invadir a Inglaterra, a politica de Napoledo Bonaparte pretendeu isolar a Ingla- terra e estrangular sua economia. Resposta E 02. UECE Leia o fragmento a seguir atentamente. Em seguida, veio a mae de D. Joao, em seus 73 anos, a rainha Maria I. Dizem que, quando a carruagem corria para as do- cas, cla teria gritado: nao va tio depressa, pensardo que estamos fugindo. Ao chegar 0 porto, ela teria se recusado a descer.. WILCKEN, Patrick. mpério 6 deriva: a corte portuguesa no Rio de Janeiro (1808-1821). Rio de Janeiro: Objetiva, 2010, p. 44-46, episédio narrado acima esta relacionado com a: a. fuga da familia real portuguesa para a colénia brasileira. b. chegada da familia real portuguesa ao Rio de Janeiro. c. chegada da familia real portuguesa a Salvador, primeiro porto apés a fuga de Portugal. d. fuga da familia real portuguesa de Re- cife, antes do desembarque no Rio de Janeiro. Resolugao A questo trata da vinda da familia real para © Brasil no contexto das guerras napolednicas, tal como indica a fonte do trecho. Resposta A Historia Com a chegada da familia real e da Corte portuguesa, o Brasil passou a ser a sede do governo lusitano. D. Jodo aportou primeira- mente em Salvador, de onde, seis dias de- pois, decidiu abrir os portos brasileiros 8s nagdes amigas, nesse caso, principalmente, & Inglaterra, com a assinatura da Carta Ré- gia, de 28 de janeiro de 1808, permitindo a importagdo de todos e quaisquer géneros, fazendas e mercadorias transportados em navios que pertencessem aos paises amigos de Portugal Estava quebrado 0 pacto colonial, primeiro passo para a independéncia do Brasil. Depois a familia real e a Corte se estabeleceram no Rio de Janeiro, de onde D. Jodo passou a governar. 1. A liberdade industrial e os Tratados de 1810 0 periodo joanino foi marcado por varias re- alizagées que dinamizaram a vida da col6nia © Principe Regente revogou o Alvaré de sua mae, D. Maria, que proibia o desenvolvimen- ‘to de manufaturas no Brasil. Porém, ndo havia capitais suficientes nem uma politica econd- mica voltada para os interesses industriais, pois a aristocracia brasileira estava assentada na economia rural e escravista. Além disso, a Inglaterra dificultava ao maximo as importages de maquinas, a fim de manter © Brasil como seu mercado consumidor e no como area de producao de artigos que pu- dessem concorrer com suas mercadorias. Em 1810, D. Jodo assinou com a Inglaterra dois acordos: 0 Tratado de Alianga e Amizade e 0 de Comércio e Navegasao. Tais Tratados esta- beleceram, entre outros aspectos, o principio de extraterritorialidade para os ingleses que se estabeleciam no Brasil, ou seja, seguiriam ape- nas as leis e as autoridades inglesas e, além disso, garantiriam taxa de importagao privile- giada para a Inglaterra. R Brasil Império CAPITULO 02 + O PERIODO JOANINO (1808-1821, > | Tratado de Alianca e Amizade Dos onze artigos desse Tratado, os que mais afetavam o Brasil eram: a. D. Jo3o comprometia-se a ndo es- tabelecer a Santa Inquisicio no Brasil; b. 0 Tratado determinava a gradual ex- tingdo do trafico de escravos para o Brasil. Tratado de Comércio e Navegacdo Apresentava as seguintes caracteristicas: a. facultava aos ingleses a nomeacdo de julzes com o objetivo de julgar os stiditos britanicos no Brasil; estabelecia liberdade religiosa aos ingleses; c. estabelecia a taxa de 15% ad valorem para as importacdes de produtos in- gleses (enquanto Portugal pagava 16% € 05 outros paises pagavam 24%); d. declarava livre o porto de Santa Ca- tarina. 2. Aadministracao de D. Jodo A medida que criava o aparelho burocrético~ sstatal, D. Jodo demonstrava-se a favor de aliar os interesses da aristocracia brasileira com os dos comerciantes portugueses. As- sim, temos a criagdo do Banco do Brasil, da Junta do Comércio, da Junta da Agricultura e Navegacdo, da Escola Médico-Cirtrgica da Bahia, da Academia de Belas Artes, da Acade- mia Militar e da Imprensa Régia, com a publi: cago da Gazeta do Rio de Janeiro. Em 16 de fevereiro de 1815, D. Jodo elevou 0 Brasil 8 categoria de Reino, unindo-o ao Reino de Portugal e Algarves; assim, o império portu- gués passaria a ser denominado Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Brasil Império £m 1816, chegou ao Brasil a Missdo Artistica Francesa, destacando-se o pintor Jean Baptiste Debret, que retratou os costumes brasileiros do século XIX e teve grande influéncia sobre as artes plasticas no Brasil Retrato a dleo de D. Joao, hoje presente no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. D. Jodo esta iluminado, assim como seus atributos reais — trono, manto, coroa ¢ cetro—, ‘os quais salientam seu carater de realeza suprema, aclamado em 1818, Assim, na visio de Debret, a imagem de D. Joio aproxima- se Aquelas de Luis XIV e Luis XVI. 3. A politica externa de D. Jodo Em sua politica externa, 0 Principe Regente de- clarou guerra a Napolego, incorporando terri- torios na regio das Guianas que pertenciam 3 Franga. Aproveitando-se do dominio napo- leénico sobre a Espanha, deu ordens para a anexacdo de terras na regido do Prata, sendo criada a Provincia da Cisplatina, que, em 1828, tornou-se independente, passando a chamar-se Uruguai. 3 Histéria Com 0 apoio da Inglaterra, D. Joio ordenou um ataque aos dominios franceses no norte do Brasil, incorporando parte das Guianas. Era sua reagio a invasao das tropas napolednicas sobre Portugal que havia obrigado a saida da familia real para o Brasi 4. O desgaste de D. Jodo Os gastos com a Corte eram elevados e cus- teados com incremento da tributacdo sobre as elites coloniais. Muitos membros da eli- te se viram desprestigiados no governo de D. Jo%0, pois, além de arcar com os custos ampliados com o estabelecimento da Corte, eram preteridos nos cargos de governo em nome dos portugueses © quadro se complicou ainda mais quando Napole&o Bonaparte foi definitivamente der- rotado em 1815, pois D. Jodo nao voltou para Portugal e elevou o Brasil a categoria de Reino Unido a Portugal e Algarves, permanecendo no Brasil. Se, por um lado, era interessante ter © governo no Brasil por permitir a manutenco de um livre cambismo que interessava as elites coloniais, por outro, a falta de influéncia nas to- madas de decisdes descontentava muitos. Entre os grupos descontentes, estavam os dos decadentes senhores de engenho do Nordeste, sobretudo os de Pernambuco. O agicar produzido ali, que outrora fora o mo- tor da economia colonial, encontrava-se no inicio do século XIX pressionado por forte concorréncia no mercado externo. Ademais, © Nordeste havia perdido o status de regido sede do Governo-Geral em 1763. Historia Esse descontentamento logo se fez sentir quan- do, inspirada pelas ideias iluministas, desenvol- veu-se a Revolucdo Pernambucana de 1817. A agitacao estabeleceu um governo provisério, que procurava ganhar apoio de outras areas do Nordeste. © movimento era contra 0 abso- lutismo de D. Jodo, agora D. Jodo VI, pois sua me havia falecido no ano anterior. Além disso, © movimento propunha uma Constitui¢éo que dividisse 0 poder em Executivo, Legislativo e Judiciério, afirmando o principio da liberdade, mas contrério & aboligdo do regime escravista. Esse movimento foi duramente reprimido pelas tropas lusitanas, provocando mal-estar no go- verno de D. Joao e uma intranquilidade em sua administragao. Contudo, 0 movimento que colocou em xe- que 0 poder de D. Joo VI no Brasil originou- se em Portugal. Os comerciantes portugue- ses estavam irritados com a politica joanina A abertura dos portos e os Tratados de 1810 passavam diretamente para a Inglaterra re- cursos que, antes, em parte, ficavam nas maos dos metropolitanos. Assim, muitos em Portugal no entendiam © motivo da continuidade de D. Jodo VI no Brasil e a manuten¢do das vantagens para LEITURA COMPLEMENTAR Brasil Império a Inglaterra apés o encerramento da amea- ¢@ napolesnica. Manifestacdes ocorriam em Portugal em defesa do retorno do rei e inspi: radas também em um idedrio politico liberal, a exemplo do ocorrido em Pernambuco no ano de 1817. Porém, foi em 1820 que o movimento ganhou um impulso irresistivel, iniciado na cidade do Porto. Os revolucionarios lusitanos atingiram Lisboa, decretando o estabelecimento das Cortes (Parlamento), que deveriam discutir e aprovar uma Constitui¢o para Portugal. Des- sa forma, haveria uma monarquia limitada, com divis’o de poderes e um governo repre- sentativo. Para tanto, D. Joo VI deveria retornar a Por- tugal e realizar o juramento da Magna Carta lusitana. Membros da elite colonial brasileira foram convidados a participar de uma Assem- bleia Constituinte. Contudo, ao chegarem em Portugal, perceberam que existia uma pro- posta de anulacdo dos Tratados de 1810 e de fechamento dos portos brasileiros, ou seja, era uma tentativa de recolonizacaio do Brasil Muitos voltaram criticando a postura das Cor- tes e desejando uma ruptura definitiva com Portugal. Misica na Corte do Brasil (..) Durante todo o periodo joanino, houve no Rio de Janeiro uma intensa atividade musical, distribuida basicamente em dois setores, o da Corte, onde a qualidade era impres- cindivel, e 0 de fora da Corte, em que a funcionalidade era festiva e mitica, fi importante pensar nisto, numa complexidade que surge no momento em que negros e mestigos so chamados para tocar em festas religiosas, muitas vezes com seus instrumentos tipicos com suas proprias interpretagdes. Arregimentar miisicos, pintores e outros attifices para algum trabalho ou para abrilhantar alguma festa em cardter de urgéncia foi uma medida comum nos tempos de D. Joao VI. Na verdade era necessério atender um desejo de manter a pompa, a ostentagdo e a visibilidade de um gosto; mas para isso era necessirio que hou- vesse mao de obra suficiente. ‘Muitas vezes nao era possivel. Em algumas situagdes, criava-se, literalmente, o artifi- ce e artesio, normalmente uma maioria de negros, mestigos e brancos pobres, cujo desejo © habilidade eram formulados pela ordem e obediéneia, Em algumas circunstancias, para atender 4 demanda musical, ou de outra atividade artesanal, o que valia era o poder de um sobre 0 outro. O caso dos miisicos pobres, dos diletantes que estavam a mercé dessas re- lagdes de poder, nao foi diferente, Robert Southey chega a falar de “devotos miisicos” que eram chamados para as festas das igrejas “muitas vezes por égua”. Os misicos diletantes ou amadores dividiam-se entre os negros ¢ mestigos, com seus lundus, modinhas e batuques, e brancos pobres, que normalmente tinham uma outra ocu- pagdo que lhes assegurava o sustento. 4 Brasil Império Histéria Entre esses diletantes, encontravam-se ainda alguns professores, mecinicos “barbeiros-cirurgides”. No Rio de Janeiro ja existia uma vida musical significativa para aqueles tempos hist6- ricos, com compositores ativos e importantes, como Lobo de Mesquita, que saiu de Minas € foi para o Rio, morto em 1806; José Mauricio Nunes Garcia, mestre-de-capela, com- positor e organista, que se tornou uma das maiores expressdes da historia da musica no Brasil, e Gabriel Fernandes da Trindade, violinista e compositor, um dos mais prolificos instrumentistas da Colénia e do Brasil Reino. Além desses ilustres, tem-se ainda 0 vasto universo dos andnimos. A vinda da familia real para o Brasil, juntamente com alguns dos compositores ¢ intérpretes portugueses que serviram a Corte em Portugal, influenciou 0 estilo e as priticas desses musicos coloniais, “construindo” uma nova percepgao do gosto uma nova maneira de observar 0 mundo das artes. O surgimento de instituigdes de corte, como a Capela e a Camara reais, favoreceu a expansio da atividade musical, criou mais oportunidades de trabalho e redefiniu a hierarquia entre os misicos. As familias aristocré- ticas que vieram com D, Joao VI, ou que aqui se aproximaram dele, contribuiram com seus comportamentos e habitos de ouvir misica em saraus e reunides sociais. (...) Mauricio Monteiro {Prof. Dr. em Histéria pela USP) Disponivel em: . e.0 regresso de D. Jodo VI a Portugal Pressionado pelas Cortes de Lisboa e pela Revolucdo do Porto, de 1820, 0 monarca regressou a Portugal, dando instrugdes a seu filho D. Pedro para que fizesse a independéncia do Brasil. Resolugéo A transferéncia da Corte portuguesa para o Brasil se insere em um contexto de crise do Antigo Regime na Europa, com o avanco dos interesses capitalistas, principalmente ingle- ses, mas também franceses. A abertura dos portos as nacdes amigas favoreceu o comér- cio e a industria da Inglaterra e colocou 0 Bra- sil em contato direto com novos mercados, eliminando, na pratica, o monopédlio lusitano. Resposta B Historia 02. UFPR Em janeiro de 1808, D. Jodo, Principe Regen- te do Império Portugués, expediu a seguinte Carta Régia: Eu, 0 Principe Regente [...] atendendo 4 representaco que fizestes subir 4 minha Real presenga, [...] Sou servido ordenar [...] © seguinte: Primeiro — Que sejam admissiveis nos portos do Brasil todos e quaisquer gé- neros, fazendas e mercadorias, transporta- dos em navios estrangeiros das poténcias que se conservam em paz.¢ harmonia com a minha Real Coroa (...]. Segundo — Que no s6 os meus vassalos, mas também os sobreditos estrangeiros, possam exportar para os portos que bem lhes parecer, a beneficio do comércio e agricultura, que tanto desejo promover, todos ¢ quaisquer géneros e produgdes coloniais [...]. O que tudo assim fareis executar com 0 zelo ¢ a atividade que de vés espero. Colegdo dos eis do Brasil, 1808 Com base nesse documento e nos conheci- mentos histéricos, escreva um texto abordan- do as consequéncias dessas determinagées de D, Jodo sobre o pacto colonial. 16 Brasil Império Resolugdo ‘As novas normas aprovadas por D. Jodo apés sua chegada ao Brasil determinaram a “aber- tura dos portos as nagées amigas”, que, na pratica, representou a ruptura do pacto colo- nial, uma vez que a esséncia deste era o mo- nopdlio metropolitano, que havia vigorado praticamente por trezentos anos. Essa medi- da favoreceu a burguesia industrial e mercan- til da Inglaterra, Unico pais industrializado e com capacidade para exportar para o Brasil, € prejudicou a burguesia mercanttil lusitana, que perdeu o controle absoluto sobre o mer- cado brasileiro. Brasil Império A independéncia do Brasil no pode ser en- tendida como um fato isolado e resultante da mera atitude impetuosa de um jovem principe. O processo de independéncia comecou no sé- culo XVIII, com os primeiros movimentos que questionavam o pacto colonial - Inconfidéncia Mineira e Conjurago Baiana — e por que ndo dizer ainda no século XVII, com 0 nascimento do sentimento nativista. A transferéncia da Corte portuguesa para o Brasil, a elevacao do Brasil a categoria de Reino Unido e a abertura dos portos deram condicdes materials para o esto- pim do processo. ‘Apés 13 anos no Brasil, D. Jodo nao resistiu as presses e retornou a Portugal em 1821. Po- rém, deixou seu filho, D. Pedro, como Principe Regente do Estado do Brasil, com autoridade para tomar as decisées de governo. Entéo, as Cortes passaram a pressionar D. Pedro para que ele também retornasse a Portugal. Dessa situago dificil para D. Pedro surgiu um movimento composto pela aristocracia rural, por camadas intermedirias e por todos aqueles que eram beneficiados com a liberdade econémica alcangada no periodo joanino, que passaram a ver na permanéncia do Principe Regente a pos- sibilidade de realizar uma independéncia por cima, sem envolver populares ou agitar escravos. Aideia era manter a estrutura colonial que havia dado poder a essas elites, que queria dizer pre- servar os dominios sobre grandes extensdes de terra (latifiindio), uma economia voltada para 0 mercado externo e a mao de obra escrava. José Bonifiicio de Andrada ¢ Silva, chamado de “patriarca da independéncia”, foi responsavel pelas articulagées entre © Partido Brasileiro e D. Pedro. 7 Histéria CAPITULO 03 + O PROCESSO DE INDEPENDENCIA au Uma outra proposta de independéncia Joaquim Gongalves Ledo destacou-se como politico liberal, confrontando-se varias vezes com o conservadorismo de José Bonifiicio. Joaquim Goncalves Ledo queria a indepen- déncia imediata e a implantagao de uma Re- piiblica Federalista como a que vigorava nos Estados Unidos. Seus partidarios eram contrarios ao absolu- tismo dos reis portugueses, mas sabiam que a saida do Principe Regente do Brasil era uma ameaca ao processo de independén- cia. Por isso, quando as Cortes portuguesas exigiram que Pedro voltasse a Europa para completar os seus estudos, seus partiddrios apoiaram a sua permanéncia aqui. 1. Do Dia do Fico ao Grito do Ipiranga ‘As manifestagdes de apoio ao Principe Re- gente contribuiram para a decisio de D. Pe- dro em permanecer no Brasil. 0 Dia do Fico, 09 de janeiro de 1822, assinalou a ruptura clara do Regente com as Cortes. As tropas portuguesas que se recusaram a jurar fide- lidade ao Principe Regente viram-se obriga- das a deixar 0 Rio de Janeiro. Esbocava-se, a partir dai, a cria¢o de um exército nacional e a formacao de um ministério, cuja chefia caberia a José Bonifacio. Historia Qs membros da elite brasileira tinham um medo conhecido por sindrome do haitianismo, que se justificava pelo fato de o Haiti ter se tor- nado independente da Franga a partir de uma rebelido de escravos. Dessa forma, as elites brasileiras evitaram agitar escravos e criar uma situagio em que pudessem perder o controle do processo de independéncia. Assim, D. Pedro aparecia como figura-chave para uma indepen- déncia segura, sem sobressaltos. A independéncia do Haiti fazia arrepiar muitos senhores de escravos, pois f realizada pelos negros que nao aceitavam a politica de Napoledo Bonaparte, que restaurava o escravismo. Assim, membros de levantes de escravos no Brasil se 0 movimento pela independéncia levasse & agitacao de populares. A representaco diz respeito A Batalha em San Domingo. Nos primeiros meses de 1822, os politicos brasileiros comecaram a organizar a indepen- déncia em torno da figura do futuro monarca Em maio, D. Pedro determinou que qualquer decreto das Cortes portuguesas s6 poderia vi- gorar no Brasil mediante o seu consentimen- to, por meio do Cumpra-se. Ainda em maio, 0 Principe foi aclamado Defensor Perpétuo do Brasil. Em junho, ele convocou uma Assem- bleia Constituinte com o pretexto de analisar as leis portuguesas. 18 0s, destacando-se Anténio Carlos de Andrada, sofreram insultos ¢ até agressies fisicas por parte dos portugueses, durante os trabalhos parlamentares. Esperando uma reagio portuguesa aos ulti- mos acontecimentos, no dia 12 de agosto o Regente assinou um decreto em que decla- rava inimigas as tropas portuguesas que de- sembarcassem no Brasil e, no dia 6 do mesmo més, circulou um manifesto dirigido as nagées amigas, escrito por Bonifacio e assinado por D. Pedro, anunciando a independéncia, ressal- tando que o Brasil continuaria “reino-irmao” de Portugal, dando garantia aos grandes pro- prietarios, senhores de escravos, de que ndo ocorreria mudanca alguma na estrutura social eno sistema de trabalho. A coroacao da independéncia veio no més se- guinte, com o denominado “Grito do Ipiranga”, em 07 de setembro de 1822. Iniciava-se a his- t6ria do Primeiro Reinado. Brasil Império Histéria A independéncia declarada por D. Pedro foi __ para defender o poder centralizado nas méos um acordo realizado entre elites para que ndo de D. Pedro. Assim, gradativamente, toma- fosse colocada em questo a ordem colonial va corpo o que ficou conhecido por Partido que Ihes conferia poder. Contudo, D. Pedro, Portugués. sabendo de sua importéncia estratégica, exer- ceu 0 poder atendendo em primeiro lugar aos seus interesses, muitas vezes em detrimento das elites que 0 haviam apoiado. Contrapondo-se a esse grupo, formou-se o Par- tido Brasileiro, estruturado a partir da organi- zacao da aristocracia brasileira, que pretendia uma maior descentralizacao politico-admins- Os portugueses que moravam aqui agiam no trativa, garantidora de seus interesses em de- sentido de nao perder para os brasileirosespa- trimento das ambicSes dos portugueses que gos na administracdo; comerciantes, militares permaneceram no Brasil a0 lado de D. Pedro. e funciondrios do Reino uniram-se em grupo LEITURA COMPLEMENTAR Independéncia ou morte!, de Pedro Amé: 20 (6leo sobre tela, 1888) destino cruzou 0 caminho de D. Pedro em situagao de desconforto e nenhuma elegancia. Ao se aproximar do riacho do Ipiranga, as 16h30 de 7 de setembro de 1822, o Principe Regente, futuro imperador do Brasil e rei de Portugal, estava com dor de barriga. A causa dos disttirbios intestinais é desconhecida. Acredita-se que tenha sido algum alimento malconservado ingeri- do no dia anterior em Santos, no litoral paulista, ou a 4gua contaminada das bicas e chafarizes que abasteciam as tropas de mula na serra do Mar. Testemunha dos acontecimentos, 0 coro- nel Manuel Marcondes de Oliveira Melo, subcomandante da guarda de honra e futuro baréo de Pindamonhangaba, usou em suas memérias um eufemismo para descrever a situagdo do principe. Segundo ele, a intervalos regulares D. Pedro se via obrigado a apear do animal que o transportava para “prover-se" no denso matagal que cobria as margens da estrada. ‘A montaria usada por D. Pedro nem de longe lembrava 0 fogoso alazdo que, meio século mais tarde, o pintor Pedro Américo colocaria no quadro Independéncia ou morte: também chama- do de O Grito do Ipiranga, a mais conhecida cena do acontecimento. O coronel Marcondes se refere ao animal como uma “baia gateada". Outra testemunha, o padre mineiro Belchior Pinheiro de Oliveira, cita uma "bela besta baia". Em outras palavras, uma mula sem nenhum charme, porém forte e confidvel. Era esta a forma correta e segura de subir a serra do Mar naquela época de caminhos ingremes, enlameados e esburacados. Foi, portanto, como um simples tropeiro, coberto pela lama ea poeira do caminho, 8s voltas com as. dificuldades naturais do corpo e de seu tempo, que D. Pedro proclamou a Independéncia do Brasil GOMES, Laurentino. 1822 Rio de Janeiro: Nova Frontera, 2010. 19 Historia EXERCICIOS RESOLVIDOS 01. Unesp A Independéncia do Brasil do dominio portu- gués significou o rompimento com: a. a economia europea, sustentada pela exploracao econémica dos paises peri- féricos. b. o padrao da economia colonial, baseado na exportacdo de produtos primérios. ¢. a explorago do trabalho escravo e com- pulsério de indios e povos africanos. d. 0 liberalismo econémico e a adogdo da politica metalista ou mercantilista. e. 0 sistema de exclusivo metropolitano, orientado pela politica mercantilista. Resolugéo Dentro da ldgica mercantilista que norteou 0 sistema colonial ao qual o Brasil esteve subme- tido, era fungio da colénia o enriquecimento da metrépole por meio do pacto (exclusivo) colonial. Assim sendo, ao libertar-se do domi- nio portugués, o Brasil rompia com a submis- so econdmica imposta pelos preceitos mer- cantilistas. Cabe observar que a ruptura com 0 exclusivo colonial ocorreu ja com a “abertura dos portos brasileiros As nagdes amigas” de- cretada por dom Jodo VI em 1808, fato, por- tanto, que antecede a Independéncia. Resposta E 20 Brasil Império 02. Unesp Leia a declaracao. Como é para o bem do povo e felici- dade geral da nagao, estou pronto; diga a0 povo que fico. D, Pedro, Principe Regente, 9.de janeiro de 1822, ‘a. Qual 0 significado da decisio tomada pelo Principe Regente? b. Explique 0 que foi a Revoluggo do Por- to, iniciada em 1820, e aponte suas consequéncias para a porcdo america- na do Império Portugués. Resolugdo a. Orompimento do Principe Regente D. Pe- dro com as Cortes de Lisboa, o que deu inicio a0 processo que resultaria na proclamacao da Independéncia do Brasil b. A Revolucao Liberal ocorreu na cidade do Porto, em Portugal, no ano de 1820, e le- vou & queda do absolutismo e & instalacao de uma Assembleia Constituinte (Cortes de Lisboa). ‘As Cortes de Lisboa caractrerizaram-se por uma dupla posi¢ao politica, pois eram liberais em relacdo a Portugal, mas defendiam a reco- lonizaco do Brasil, fato que incentivou o pro- cesso de independéncia do Brasil. Brasil Império A independéncia formal do Brasil pode ser vista pelo Angulo de movimento elitista, sig- nificando um arranjo dos interesses da elite agroexportadora, em grande parte membros da maconaria, que estava associada aos inte- resses capitalistas britdnicos. Porém, os historiadores Mary Del Priori e Rena- to Venancio nos colocam que essa visio é in- completa e nao permite vislumbrar as divisdes entre os membros dessa elite, pois para com- preendermos a especificidade de nosso proces- so de independéncia, é necessdrio lembrarmos que ele conviveu com outros projetos alternati- vos, pois, hd muito, uma elite colonial aspirava & ruptura com Portugal. Tais propostas de inde- pendéncia, contudo, tinhham uma forte marca regional, como fica claro na denominagao de duas delas: a Inconfidéncia Mineira e a Revolu- ¢fo Pernambucana (ocorrida em 1817). Trecho retirado da obra Uma breve histéria do Brasil. p. 168. Histéria CAPITULO 04 + PRIMEIRO REINADO (1822-1831) au Outro aspecto a ressaltar é que a presenca da Corte, no Rio de Janeiro, entre 1808 a 1821, projetou um modelo de independéncia que foi canalizado posteriormente na figura do principe D. Pedro. Nas palavras de Raymundo Faoro: D. Pedro ao passar de regente a Defen- sor Perpétuo do Brasil (13 de maio de 1822) trata de reorganizar as bases do Estado, com 0 auxilio do gabinete José Bonifécio (janeiro de 1822 a julho de 1823). O encontro da na- ¢Go com o principe importou, desde logo, na continuidade da burocracia de D. Jodo, a bu- rocracia transplantada e fiel ao molde de Lis- boa, atrelada ao cortejo do futuro imperador. Um desdobramento imediato desse fato foi que o Brasil manteve a integridade territorial herdada do Periodo Colonial, diferentemente do que ocorreu na América espanhola, onde houve grande fragmentagdo territorial, dando origem a muitos Estados soberanos. ‘A guerra da Independéncia Embora proclamada, a independéncia ndo foi aceita por todos. Até 1823, governadores de algumas provincias se negavam a acaté-la, sendo apoiados por tropas portuguesas. José Bo- nifécio se encarregou de organizar um exército. Adquiriu navios e contratou mercendrios es- trangeiros, franceses e ingleses, principalmente. Mas a principal base na resisténcia armada contra as tropas lusas foi constituida de milicias civis, convocadas em caso de necessidade. (Os maiores confrontos com tropas portuguesas ocorreram na Bahia e no Pard, justamente as provincias que abrigavam grande numero de comert a Portugal. intes cujos interesses se vinculavam Houve lutas ainda no Rio de Janeiro, no Maranhio, Piaui, Rio Grande do Sul, em Sao Paulo e na Cisplatina, mas, em todos os casos, o povo foi sempre usado como "bucha de canhao", ou seja, nao Ihe cabia conduzir ou discutir 0 processo de independéncia, mas somente lutar. A participacao popular se revestiu de um nativismo radical dirigido contra a figura do portu- gues. A ideia de "nagao" nao passava de uma ideia artificial tanto para o povo quanto para as elites. Nao havia integrago nacional: a economia mantinha-se voltada para o exterior e as relagdes das provincias com a Europa eram muito mais fortes que as relagdes das provincias entre si. 2 Histéria Brasil Império D. Maria Quitéria de Jesus lutou em defesa do imperador contra as tropas fieis a Portugal. Por seus atos de bravura em combate na Bahia, foram-Ihe conferidas as honras de 1° Cadete, sendo recebida no dia 20 de agosto no Rio de Janeiro pelo imperador em pessoa, que a condecorou com a Imperial Ordem do Cruzeiro, no grau de Cavaleiro, com o seguinte pronuncia- mento: Querendo conceder a D. Maria Quitéria de Jesus o distintivo que assinala os Servigos Militares que com denodo raro, entre as mais do seu sexo, prestara 4 Causa da Independéncia deste Impé- rio, na porfiosa restauragao da Capital da Bahia, hei de permitir- he 0 uso da insignia de Cavaleiro da Ordem Imperial do Cruzeiro. TAVARES, Luis Henrique Dias. Histéria do Bahia. Salvador: Unesp; Sao Paulo: EDUFBA, 2003. 1. A Assembleia Constituinte direito do rei, preferiu o exilio diante da gran- de manifestacdo de absolutismo que ficou ain- da mais evidente quando D. Pedro constituiu um Conselho de Estado para redigit uma cons- io. que fosse digna do imperador. Em dezembro de 1822, D. Pedro foi reconheci- do Imperador do Brasil, tornando-se D. Pedro |. Em 1823, ele convocou eleicdes para a orga- nizag3o de uma Assembleia Constituinte, cuja fungao seria a de elaborar uma Constituicfo 2. A Constituigdo Outorgada de 1824 para o Brasil, firmando a autonomia em rela- 40 a Portugal Dissolvida a Assembleia Constituinte, D. Pe- dro nomeou um Conselho de Estado compos- Os trabalhos constituintes indicavam 0 cami- to por dez membros, a fim de elaborar uma nho para uma Magna Carta de cardter elitista, nova constituigio, que seria outorgada em 5 que restringia as competéncias de D. Pedro |. de marco de 1824. Logo os desentendimentos vieram a tona e 0 a impasse foi criado, pois o imperador nao acei- Constituico de 1824 estabelecia tava ter poderes limitados. Ao abrir os traba- 1- Monarquia unitaria thos constituintes, ele disse que esperava uma 2 — Governo monarquico, hereditario, cons Constituigdo digna do Brasil e dele. ional e representativo © anteprojeto constitucional aprovado pela 3 0 catolicismo como religido oficial Assembleia (Constituigao da Mandioca ou Pro- 4 _ a cubmissao da Igreja ao Estado jeto Antonio Carlos) teve a repulsa do impe- o¢ rador, pois limitava os seus poderes perante 0 5~ Voto censitdrio e descoberto Legislativo e restringia os direitos politicos de 6 ~ Eleigdes indiretas por meio dos eleitores portugueses. de paréquia e dos eleitores de provincia. Em 11 de dezembro de 1823, o imperador or- Os eleitores de paréquia elegiam os eleito- denou que o prédio onde funcionava a Assem- res de provincia, e estes elegiam os depu- bleia Constituinte fosse cercado por tropas tados; Em resposta, os deputados recusaram-se a 7 — Quatro poderes: Executivo, Legislativo, Ju- deixar 0 local, permanecendo ali até o dia se- diciério e Moderador. 0 Executivo era de guinte — evento conhecido como Noite da Ago- competéncia do imperador e de seus mi- nia. Mediante a presséo de D. Pedro |, a As- nistros. O Legislativo era exercido pela As- sembleia foi dissolvida e o imperador afirmou semblela Geral composta pela Camara dos que apresentaria uma constituigao para o pais. A dissolucao da Constituinte marcou a ruptura do imperador com a aristocracia rural brasilei- rae, a partir desse momento, a crise politica seria quase permanente. José Bonifacio, braco Deputados (eleita por quatro anos) e do Senado (vitalicio). O Judicidrio era exercido pelo Supremo Tribunal de Justica. O Mo- derador, poder pessoal e exclusivo do im- perador, era a chave de todo o sistema, na 22 Brasil Império medida em que legalizava o seu autoritaris- mo e permitia a existncia do Conselho de Estado, vitalicio e nomeado pelo imperador. Este era o quarto poder e ficava acima dos demais, zelando pela harmonia do Executi- vo, do Legislativo e do Judiciario. Na pratica, D. Pedro passava a controlar to- dos os poderes com esse expediente “har- monizador”. 3. Crise politica ‘Apés a dissoluco da Assembleia e a outorga da Constituigaio, membros da elite nordestina des- contentes logo agitaram bandeiras de revolu- go e de independéncia em relacdo ao que ha- via sido estabelecido pelo imperador. Em 1824, nascia a Confederacao do Equador. As provin- cias do Nordeste, de Pernambuco ao Ceara, declararam-se independentes em relaco ao restante do Brasil, formando os Estados Confe- derados do Equador, uma reptiblica nordestina. Ao mesmo tempo em que os rebeldes tentavam agregar novas regides, as tropas imperiais organizavam a reagao a partir do Rio de Janeiro. 23 Historia D. Pedro | reagiu imediatamente, enviando tropas, contratando um exército mercenario € exigindo a imediata rendicdo dos rebelados. A repressao foi violenta. Dentre os lideres do movimento, encontramos Frei do Amor Divino Caneca, 0 Frei Caneca, que foi executado. Essa atuagdo de D. Pedro Ihe rendeu varios de- safetos e estava iniciado o processo de seu isola- mento politico e de sua impopularidade. 0 des- gaste politico continuaria em sua politica externa. Frei Caneca momentos antes de ser fuzilado, condenado pela sua participagao na Confederacio do Equador. Nenhum carrasco quis enforeé-lo, dai sua execugio por fuzilamento. 4. Oreconhecimento da independéncia Embora a proclamagio de independéncia do Brasil tivesse ocorrido em setembro de 1822, 0 reconhecimento de nossa autonomia por parte de outros paises sé aconteceu pela primeira vez em 1824, quando os Estados Unidos da Amé- rica, apoiados em sua Doutrina Monroe, reco- nheceram o Brasil como pats independente. Na Europa, a relutancia quanto ao reconhe- cimento se dava devido ao fato de Portugal no fazé-lo. Essa situaco perdurou até 1825, quando as negociacdes entre os governos bra- sileiro e portugués, mediadas pela Inglaterra, foram concluidas. Para tanto, 0 governo brasileiro assumiu uma divida com a Inglaterra de dois milhes de li- bras, recursos esses repassados para Portugal como indenizacao. Histéria Brasil Império Decreto Achando-se mutuamente ratificado 0 Tratado assinado nesta Corte aos vinte e nove de agosto do ano préximo passado pelos meus plenipotenciérios e o senhor dom Jodo Sexto, rei de Por- tugal e Algarves, meu augusto pai, mediante o qual pondo-se o desejado termo a guerra que infelizmente se fizera necesséria entre os dois Estados, foi justamente reconhecida a plena In- dependéncia da nacdo brasileira, e a suprema dignidade, a que fui elevado pela unanime acla- magao dos povos, com a categoria de Imperador Constitucional, e seu Defensor Perpétuo; hei por bem ordenar que se dé ao dito Tratado a mais exata observancia e execugo, como convém 2 santidade dos Tratados celebrados entre as nacGes independentes e a inviolavel boa fé, com que sao firmados, o visconde de Inhambupe de Cima, do meu Conselho de Estado, ministro e secretério dos Negécios Estrangeiros, o tenha assim entendido, e faca executar, expedindo as devidas participacdes e exemplares impressos para as estacdes competentes desta Corte e provincias do Império, com as ordens mais positivas para que se cumpram e guardem como neles se contem. Palacio do Rio de Janeiro em dez de abril de mil oitocentos e vinte e seis. Com a rubrica de SUA MAJESTADE IMPERIAL Artigo Primeiro SUA MAJESTADE FIDELISSIMA reconhece o Brasil na categoria de Império independente, e se- parado dos reinos de Portugal e Algarves; e a seu sobre todos muito amado, e prezado filho DOM PEDRO por Imperador, cedendo, e transferindo de sua livre vontade a soberania do dito Império ao mesmo seu filho e a seus legitimos sucessores, SUA MAJESTADE FIDELISSIMA toma somente e reserva para a sua pessoa o mesmo titulo. Disponivel em: . 5. A politica externa © governo argentino reclamava o controle sobre a Provincia da Cisplatina, incorporada ao ter- rit6rio brasileiro 8 época de D. Jodo. Tropas argentinas entraram na regido iniciando a chamada Guerra da Cisplatina (1825-1828). O Brasil se endividou e o resultado da campanha nao nos foi favordvel, pois a drea se tornou independente com o nome de Uruguai. |sso aumentou as criticas a0 imperador. 24 Brasil Império Além disso, a morte de D. Jodo em Portugal colocou D. Pedro na linha de sucessao ao tro- no portugués, mas ele renunciou em nome de sua filha, Maria da Gloria. Contudo, o irmao do imperador, D. Miguel, que também pretendia © trono, deu um golpe nas Cortes, ajudado por defensores do absolutismo. Quando D. Pedro | soube do acontecido procurou ajudar os parti- darios de sua filha contra seu irmao. Portugal vivia uma guerra civil. Esse envolvimento do im- perador dava sinais, a muitos membros da elite brasileira, do comprometimento com questes portuguesas, e nao brasileiras. Sob esse clima politico, o Partido Brasileiro eo Partido Portugués, cujas confrontacdes entre 08 seus partidarios eram cotidianas, ganharam forma no Brasil. O primeiro era contrario ao imperador e 0 segundo o apoiava. 6. A abdicacao do imperador Em 1830, a situago para D. Pedro | ficou ainda mais complicada. Revolugées ocorriam em va- rias partes da Europa, impulsionadas pelo levan- te francés que havia destituido o rei absolutista da Franca, Carlos X. A associagao do ocorrido na Franga com a imagem ja desgastada de D. Pedro tornou-se uma importante arma da oposi¢o contra o imperador, vinculando seu modo auto- ritério de governar ao absolutismo monérquico. Parte da imprensa ligada ao Partido Brasilei- ro intensificou a campanha contra D. Pedro |. Na cidade do Rio de Janeiro, o politico e jor- nalista Evaristo da Veiga a fazia por meio do jornal Aurora Fluminense. Na cidade de S3o Paulo, o médico e jornalista italiano Libero Ba- dard, radicado no Brasil, criticava o imperador no seu Observador Constitucional. Badaré foi assassinado numa emboscada, em novembro de 1830. Sua morte, embora nao tivesse uma ligagdo direta com o imperador, serviu para acirrar os 4nimos da oposicao. Com o intuito de tentar preservar D. Pedro |e recuperar o seu prestigio, integrantes do Par- tido Portugués buscaram uma aproximacao do imperador com politicos de Minas Gerais. En- tretanto, em sua visita aos mineiros no inicio de 1831, D. Pedro foi recebido com profunda frieza por parte daqueles que associavam seu nome ao assassinato de Badar6. De volta ao Rio de Janeiro, o imperador teve uma festa organizada pelos portugueses em sua homenagem. Tal evento terminou no que Histéria conhecemos como a “Noite das Garrafadas” (13/3/1831), pois houve o confronto entre portugueses e brasileiros, sendo estes contré- rios 8 recepsao festiva Em 5 de abril de 1831, D. Pedro | demitiu seus ministros - todos brasileiros - e formou um novo ministério com integrantes do Partido Portugués (Ministério dos Marqueses). A re- acao do povo contra tal medida foi rpida e violenta, ganhando a adesio até mesmo da prépria guarda pessoal do imperador. Diante dessa situacao, D. Pedro |, em 7 de abril de 1831, renunciou ao trono brasileiro em nome de seu filho D. Pedro de Alcantara, se- guindo para Portugal, onde lutou contra seu ir- mao, tornando-se rei de Portugal com o titulo de D. Pedro IV. Assim, encerrava-se o Primeiro Reinado. D, Pedro I entrega ao Major Miguel de Frias, na madrugada do dia 7 de abril de 1831, 0 documento em que abdicava do trono brasileiro e partia para Portugal a fim de tornar-se D. Pedro IV. Com a abdicagao de D. Pedro I che- ga a revolugdo da Independéncia ao termo natural de sua evolugdo: a consolidagao do “estado nacional”. O Primeiro Reina- do nfo passara de um periodo de transigo em que a reagdo portuguesa, apoiada no absolutismo precério do soberano, se con- servara no poder, Situaco absolutamente instavel que se tinha de resolver ou pela vitéria da reagdo — a recolonizagao do pais, que varias vezes, como vimos, ame- agou © curso natural da revolugdo — ou pela consolidagdo definitiva da autonomia brasileira, noutras palavras, do "estado na- cional". E este o resultado a que chegamos. com a revolta de 7 de abril, PRADO Jr, Caio. Evolucdo politica do Brasil e outros estudos. Ed. Brasiliense. 25 Histéria Brasil Império LEITURA COMPLEMENTAR AAssembleia Constituinte nfo conseguiu estruturar a ordem politica de modo a con- ciliar, organicamente, o imperador do Pais. O soberano, segundo o modelo tradicional de Avis e Braganga, queria ser a cabega do Estado, defensor de seus interesses e sentimentos, sem a intermediagio de érgaos representativos. Os povos fazem o rei, mas no podem limitar-Ihe 0 poder ou cassd-lo, porque, segundo a doutrina que sustentou a ascensao de D. Joao IV, “a lei da verdadeira justiga ensina que os pactos legitimos se devem guardar ¢ que as doagdes absolutas valiosas nao se podem revogar”™, A teoria liberal, de outro lado, fundada no mesmo dogma, nao admite a irrevogabilidade do pacto, nem o incondiciona- lismo da outorga de poder. Os constituintes, consciente ou inconscientemente, rezavam todos por iguais letras: entre 0 rei e a nagdo nao havia duas pegas pertencentes ao mesmo corpo, que cumpria ajustar, soldar, fundir. O soberano e o pais eram realidades diversas separadas, cujo encontro se daria pela adeso ou pelo contrato, desconfiadas as partes da conduta de uma e outra, tendente o imperador ao despotismo e os representantes da nagdo 4 anarquia, O impasse de posigdes contraditérias parecia rompido com a aclamagao, pela qual o soberano precederia ao pacto e 4 propria nagao. A inanidade do esquema mostrou-se no primeiro lance, nas agitadas proposigdes dos deputados de 1823 e nas oleosas palavras de prudéncia dos aderentes da causa monarquica. A dissolugao da Constituinte e a outorga da Carta de 1824 procuram retornar o terreno do entendimento, com a supremacia do rei abandonada, porém, a velha doutrina monarquica em favor de um esquema transacional, elevado o soberano ao papel nominal de Arbitro das disputas e das dissensdes, com a menor participago possivel da vontade imperial na condugdo dos negécios administrativos. A exposigao de motivos de D. Pedro I aos redatores da Constituigao distingue o imperador da nag, procurando salvar a perdida unidade no mecanismo do Poder Moderador ¢ suas sequelas politicas. O imperador nao dispensa os poderes de dirigir, controlar € governar, mas veste-os de uma cor ja perseguida por José Bonifacio: a estrutura politica funcionaria apoiada nas liberdades dos cidadios, mas com a reserva da ditadura de cima, ditadura edu- cativa, senhor do estatuto liberal. FAORO, Raymundo. Os donos do poder 1, 12. ed, Rio de Janeiro: lobo, 1997. p. 289. EXERCICIOS RESOLVIDOS 01. IFSP Compare os dois excertos dados. A.D. Pedro I, por graga de Deus ¢ unanime aclamagao dos povos, Impera- dor Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil: Fazemos saber a todos os nossos siiditos, que tendo-nos requerido 0s povos deste Império, junto em Cama- ras, que nds quanto antes jurassemos fizéssemos jurar o projeto da Constitui- gio (...) Preambulo da Consttuigdo Potica dio Império Brasileiro, 1828 26 B. Nés, representantes do povo bra- sileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado de- mocritico, destinado a assegurar 0 ex‘ cicio dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a seguranga, o bem-estar, 0 desenvolvimento, a igualdade e a justiga, como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos (...) promulgamos, sob a protegio de Deus, a seguinte Constituigdo (...) Preambulo da Constituigdo da Repdblica Federativa do Brasil, 1988. Brasil Império I. As duas Constituigdes foram feitas por Assembleias Constituintes (no século XIX, chamadas de C4maras), portanto as duas Cartas foram promulgadas. I. Na primeira Constituigdo Brasileira, ha aideia de que o poder Executivo existe pela graca de Deus, enquanto, na atual, a Assembleia Constituinte se colocou sob a protecao de Deus. IIL A Constituigo Imperial trazia quatro poderes, sendo o Poder Moderador o mais importante, pois dele dependiam os outros poderes; na Constitui¢do de 1988, no se apresenta a superiorida- de de nenhum poder sobre os demais, pois tornou-se fundamental, a época, a busca da igualdade perante a lei e a pratica da justica. Assinale a alternativa: a. se |, Ile Ill forem corretas, b, se apenas Ile Ill forem corretas, ¢. se apenas |e Il forem corretas. d. se apenas |e Ill forem corretas. e, se apenas a | for correta, Resolugéo A Constituico de 1824 foi outorgada (imposta) pelo imperador D. Pedro | e é considerada cen- tralizadora e autoritéria, principalmente pela existéncia do Poder Moderador, de uso exclusi- vo do imperador e colocado acima dos demais poderes. Resposta 8 27 Historia 02. Unicamp-SP ‘No tempo da independéncia, ndo ha- via ideias precisas sobre 0 federalismo. Empregava-se “federago” como sinénimo de “repiblica” ¢ de “democracia”, muitas veres com 0 objetivo de confundi-la com © governo popular, embora se tratasse de concepcdes distintas. Por outro lado, Sil- vestre Pinheiro Ferreira observava ser geral a aspiragdo das provincias & autono- mia, sem que isso significasse a aboligao do governo central da monarquia, Mas a historiografia da independéncia tendeu a escamotear a existéncia do projeto federa- lista, encarando-o apenas como produto de impulsos anarquicos ¢ de ambigdes perso- nalistas e antipatridticas, ‘Adaptado de Evaldo Cabral de Melo. outro Independencia. O federalismo pernambucano de 1817 a 1824, S80 Paulo: Fé. 34, 2004, p. 12-14 a. Identifique no texto dois significados distintos para o federalismo. b. Quais eram os interesses econémicos envolvidos no processo de indepen- déncia do Brasil? Resolugdo a. De acordo com 0 texto, o federalismo po- deria significar a autonomia provincial, porém sem a aboligio do governo central, e também democracia, reptiblica ou governo popular. b. Entre os motivos econémicos envolvidos no processo de independéncia do Brasil podem ser apontados o interesse inglés em romper 0 pacto colonial portugués com o Brasil, eviden- ciado no apoio a transferéncia da Corte por- tuguesa para o Brasil e nos beneficios obtidos com a abertura dos portos brasileiros em 1808, © interesse da aristocracia agroexportadora em defender o livre-comércio e preservar seus pri- vilégios e o interesse portugués de restaurar 0 monopélio do comércio com o Brasil quando da instalacao da Corte portuguesa (Parlamento), a partir da Revolugao do Porto em 1820. Historia Vimos que D. Pedro | estava praticamente isolado em relaco as forcas politicas do pais quando re- nunciou ao trono brasileiro no dia 07 de abril de 1831. A partir dai, foram iniciadas as regéncias, pois seu filho herdeiro era menor de idade e nao poderia assumir 0 governo. Dessa forma, as elites brasileiras assumiam o controle politico do Brasil. Os nove anos do Perfodo Regencial foram de grande agitacao politica e social, que ameacou a integridade politica do pais com revoltas se- paratistas. Algumas dessas revoltas represen- taram a divisdo da aristocracia rural quanto & orientacao politica e governamental, no que diz respeito a maior autonomia das provincias ou 8 maior centralizagao administrativa, e também a luta das camadas médias e populares por me- thores condicdes de vida e pelo direito de parti- cipagao politica no destino do pais. © Periodo Regencial divide-se em duas fases: 0 ‘Avanco Liberal e o Regresso Conservador. A pri- meira fase compreende as duas regéncias trinas ea regéncia una de Diogo Feijé, enquanto a se- gunda corresponde a regéncia de Araujo Lima. 1. O Avango Liberal (1831-1837) Para melhor entendimento dessa fase politico— -administrativa do Brasil, vale a pena definir que, nesse momento, contavamos basicamen- te com trés agremiagSes politicas: 1 - Partido Restaurador: seus componentes eram conhecidos como caramurus e preten- diam o retorno de D. Pedro | e a restauragdo da monarquia centralizadora e autoritaria, 2 Partido Liberal Moderado: seus componen- tes eram conhecidos como chimangos, carac- terizavam-se por serem grandes proprietarios e por defenderem a escravidéo e 0 latifindio. Dividiam-se entre os que desejavam uma maior descentralizacdo politica e os favoraveis & ma- nutengo da centralizacdo, 2 maneira como ha- via sido instituida por D. Pedro | 3 - Partido Liberal Exaltado: seus componen- tes, conhecidos como farroupilhas ou juruju- bas, eram compostos por alguns latifundiarios e camadas médias da populaco que defen- diam a descentralizacdo politico-administrati- va do Brasil, por meio do federalismo caracte- ristico dos Estados Unidos da América. Alguns, inclusive, defendiam abertamente a mudanca de regime, de monarquia para republica Brasil Império CAPITULO 05 + O PER{ODO REGENCIAL (1831-1840) > | A principio foi constituida uma Regéncia Trina Provisdria até que o Legislativo elegesse os re- gentes permanentes, como definido na Consti- tuicdo de 1824, Os liberais ajustaram suas dife- rengas com o intuito de formar uma maioria e, com isso, terem condigdes de escolher os mem- bros do seu grupo para o governo regencial. Des- se ajuste, 0 resultado foi o controle do poder por parte dos liberais (principalmente os moderados, que representavam a maioria do Parlamento, em detrimento dos exaltados), o que permitiu a adocao de medidas descentralizadoras. © Poder Moderador teve suas atribuigdes re- duzidas, ndo podendo, por exemplo, dissolver a Camara dos Deputados. Ainda em 1831, Pe. Diogo Feij6, ministro da Jus- tiga, criou a Guarda Nacional, conferindo poder de policia as elites agrérias provinciais, pois era uma forca militar constituida pelos eleitores que visava zelar pela ordem em suas reas de poder. Isso representava a descentralizaco do poder de repressao, conferido agora as elites locais. © chefe da Guarda Nacional de cada érea era um grande senhor de terra e recebia a paten- te de Coronel. Isso originou a expresso coro- nelismo na histéria do Brasil para designar as liderangas politicas locais e regionais oriundas das oligarquias brasileiras. Padre Diogo Antonio Feijé foi o primeiro regente ‘uno do Periodo Regencial, que correspondeu a uma experigncia republicana em pleno regime monsrquico. Suas posigdes liberais, num contexto politico conturbado, provocaram a reagio das lites conservadoras ¢ da Igreja Catélica. 28 Brasil Império Outra medida importante tomada pelos libe- rais foi a criagio do Cédigo do Processo Crimi- nal em 1832. Esse cédigo estabeleceu que a figura do Juiz de Paz passasse a ter poder de vida e de morte sobre os habitantes de sua ju- risdigdo, descentralizando, assim, o poder de justica © problema dessa politica descentralizadora estava nas disputas entre os grupos locais pelo controle da Guarda Nacional e do cargo de Juiz de Paz. Tais disputam se faziam por meio da mobilizacdo de apadrinhados, homens depen- dentes dessas elites, que atuavam de forma armada, comprometendo a ordem nessas re- gides. © coroamento dessa politica descentraliza- dora ou federalista - sistema politico em que organizagées politicas (estados ou provincias) se unem para a formagiio de uma organizacdo mais ampla, porém mantendo sua autonomia = aconteceu com a criagdo do Ato Adicional 4 Constituigdo em 1834, Por esse Ato, as pro- vincias passavam a ter, no lugar dos Conselhos Gerais de Provincia, Assembleias Legislativas Provinciais com poder de legislar sobre varios assuntos e até reivindicar empréstimos no ex- terior. ‘Além disso, pelo Ato Adicional foi criado o Mu- nicipio Neutro do Rio de Janeiro, capital do Im- pério, e extinta a Regéncia Trina Permanente, uindo-se a Regéncia Una Eletiva e Tempo- réria, o que para muitos era a possibilidade de revezamento no poder dos membros da elite até que o herdeiro, D. Pedro de Alc&ntara, fos- se emancipado. Na ocasido, o regente unico eleito foi o liberal moderado Pe. Diogo Feij Por fim, o Ato Adicional de 1834 também ex- tinguiu o Conselho de Estado. A Regéncia de Feijé A descentralizacdo criou um quadro de ins- tabilidade politica expressa em agitagées en- volvendo tanto membros das elites quanto camadas médias e populares da sociedade brasileira. Feijé tomou posse em 12 de outu- 29 Histéria bro de 1835, num momento turbulento, mar- cado pela eclosdo da Revolucdo Farroupilha no Rio Grande do Sul, da Cabanagem no Pard e da Rebeliio dos Malés na Bahia. Muitos afirma- vam que o pals corria o risco de fragmentacao devido a essa descentralizacao, e varios libe- rais moderados passaram a desenvolver uma postura conservadora. Exemplo disso é encon- trado no lider Bernardo Pereira de Vasconce- los, liberal moderado, que afirmou: Fui liberal; entéo a liberdade era nova no pais, estava nas aspiragdes de to- dos, mas néo nas leis; o poder era tudo: fui liberal. Hoje, porem, é diversa o aspecto da sociedade: os principios democraticos tudo ganharam, ¢ muito comprometeram; a sociedade, que entdo corria risco pelo poder, corre risco pela desorganizacao e pela anarquia... © préprio regente uno Diogo Feijé, perce- bendo os riscos que ameacavam a ordem oligérquica e 0 territério nacional, pediu a0 Parlamento mais poderes para enfrentar a si- tuagdo. Nesse momento, parte do Parlamento concluiu que era necessario “interpretar 0 Ato Adicional e coibir as liberdades democraticas”, conforme palavras do deputado de oposicdo Rodrigues Torres. Felj6 nao percebeu, ou ignorou, que a opo- sigdo se fortalecia com 0 apoio da elite do- minante e, para piorar, a Igreja criticou suas declaracées publicas contra o celibato e a in- terferéncia clerical na politica interna do pals. Com a morte de D. Pedro | em Portugal — que ocorrera em 1834 -, os restauradores uniram- se aos moderados conservadores, formando © Partido Regressista, enquanto os exaltados uniram-se aos moderados mais liberais e for- maram o Partido Progressista. Feijé ficou com © Partido Progressista, que era minoria, rece- bendo ferrenha oposi¢ao que o levou a rentin- cia em 19 de novembro de 1837. Essa rentincia deu inicio & segunda fase do Periodo Regen- cial, 0 Regresso Conservador, sob 0 comando do regente interino Aratijo Lima, Historia oe) Pedro de Aradjo Lima, segundo regente uno, pos fim ao avango liberal e deu inicio ao Regresso Conservador. Entre os ministros nomeados por Araujo lima, estava o entao recém adepto do conservadorismo Bernardo Pereira de Vasconcelos (ministro da Justiga e do Império). 2. O Regresso Conservador Os conservadores modificaram todas as me- didas descentralizadoras do periodo anterior, estabelecendo uma politica claramente centrali- zadora. Além disso, tiveram de lidar com outros levantes: a Revolta Sabinada, em 1837, na Bahia, ea Balaiada, no Maranhio, a partir de 1838. No perfodo conservador, houve a criacdo da Lei Interpretativa do Ato Adicional que limitava o poder de atuacao das Assembleias Legislati- vas Provinciais ao estabelecer a nomeacao do presidente da Assembleia pelo poder central O presidente escolhido pelo Regente tinha po- der de veto sobre as decisdes da Assembleia Assim, se qualquer deciso provincial nao aten- desse aos interesses do poder central, haveria a sua anulagdo pelo presidente nomeado. 30 Brasil Império Duas alteracdes significativas do carater des- centralizador que havia vigorado no inicio da regéncia so encontradas na reformulagdo do Cédigo do Processo Criminal, que reduziu as competéncias do Juiz de Paz e o atrelou ao po- der central, ou seja, do Regente, e, por ultimo, na definigio da patente de coronel das Guar- das Nacionais provinciais que passava para as maos dos regentes. Contudo, a anulacdo das medidas politico- administrativas descentralizadoras no foi suficiente para conter as agitacdes sociais. A Farroupilha, a Cabanagem e a Balaiada eram exemplos dessa instabilidade 3. O Golpe da Maioridade Com a fase do Regresso Conservador, os libe- rais perderam espaco na vida politica nacional e comegaram a conspirar contra 0 govern conservador. Nesse sentido, visando abreviar a regncia de Araujo Lima, iniciaram a campa- nha de antecipacao da maioridade do herdei- ro, D. Pedro de Alcdntara. Os conservadores no viam como ruim a emancipagio de D. Pe- dro. Muitos acreditavam que a possibilidade de preservar a integridade territorial e pacifi- car 0 pais encontrava-se justamente na figura de um imperador. Assim, a proposta dos liberais golpistas ganhou terreno e apoio de muitos conservadores. Foi dessa forma que o Parlamento brasileiro de- clarou 0 filho de D. Pedro | maior de idade aos quatorze anos, encerrando o Periodo Regen- cial e inaugurando 0 Segundo Reinado da his- t6ria do Brasil em 1840. Brasil Império Histéria LEITURA COMPLEMENTAR Federalismo regional num pais periférico Paulo Bonavides Regionalizar politicamente uma federagdo mediante outorga de autonomia a suas re~ gides €, todavia, muito mais dificultoso que regionalizar, com tal status, um Estado uni- tario. Ali os infundados temores do desmembramento ou da secessio estigmatizam tal processo ¢ tendem a perpetuar, vexatoriamente, sem perspectiva de solugdo institucional imediata, a crise do sistema federativo quando ela chega as regides. Houve no Brasil duas frentes conjugadas de combate para erradicar as desigualdades regionais: uma no campo politico e juridico-constitucional; outra no campo econémico administrativo; ambas até agora desgragadamente malogradas. A primeira antecedeu a segunda e as duas prendem seus lagos num velho pensamento de solugdo basica dessa anomalia, que tem freado e retardado por tanto tempo 0 projeto politico-civilizatério da nagao brasileira. Vejamos 0 caminho histérico percorrido até aos nossos dias nas duas esferas distintas © comunicantes, Seu exame e compreensio nos ajudam a perceber que dificuldades se atra- vyessam ainda como embargo a concretizacao do desenvolvimento federativo harménico ¢ equanime, privado do qual correrd o Pais o risco de repartir-se em varios Brasis, sujeito assim a desagregar-se eventualmente pelo agravamento da crise que os fatores econdmicos porventura venham acelerar. ‘As desigualdades regionais em pais de dimensio continental podem se tornar por extremo grave, aumentando grau repressivo da centralizagao. No vulcdo social das dis- paridades, as reivindicagdes esmagadas ou desatendidas acabardo por arruinar os lagos da unio, ¢, afrouxados estes, consumar o termo da alianga federativa. A descentralizagao foi a bandeira que os politicos liberais do Império desfralda- ram, mas nfo souberam ou ndo puderam manter de pé hasteada nas ameias do poder €, assim, executar as reformas constitucionais de sua iniciativa quando subiram as escadas de governo. Consentiram os liberais ¢ federalistas, assim no Império como na Republica, que po- liticas unitaristas opostas ao sentimento nacional prevalecessem, acentuando o cardter rigi- damente centralizador da organizacao do Pais. Disso resultaram politicas adversas 4 Constituigao formal no periodo republicano, as quais patenteavam, com frequéncia, a vocagao do Poder Central para se converter num Leviata absolutista, de vestes federativas Assim como 0 habito ndo faz o monge, o substantivo no faz a federagao; nao faz, portanto, a autonomia dos entes federados como cuidava Rui Barbosa com a ingenui- dade de seu projeto de criar instituigdes por decreto, consoante fez com a repiblica ¢ © presidencialismo. Com efeito, o nome Estados Unidos do Brasil, com que fomos batizados no comego da Republica, pouco ou nada acrescentava 4 natureza supostamente federativa do sistema, posto que tivesse, em termos formais, correspondéncia com o sentimento profundo das correntes liberais da monarquia, inclinadas a reforma e renovagdo institucional. ‘Aquele nome, inchagao semantica de puro formalismo constitucional, veio abaixo por obra dos autores da Carta semioutorgada de 1967 que, num raro ato de sensatez, des- fizeram-se de imitagdo tao grosseira e servil do pais americano, trasladada a repiblica brasileira pelo principal redator da Constituigo de 1891. Isto, todavia, ndo invalida a grande verdade da semente federativa plantada no solo da nagdo ¢ que germinou ao longo do Império em movimentos de sentido e inspi- racio libertaria (...) Com efeito, durante 0 Império, porfiou-se por estabelecer o regime federativo ao transcurso de duas graves crises: a da Abdicagao, que acompanhou toda 31 Historia Brasil Império a Regéncia e introduziu desde o Ato Adicional a descentralizagao das provincias, ¢ a do Segundo Reinado, que marcou 0 ocaso das instituigdes monrquicas. Em ambas, a reforma corretiva se continha num projeto de monarquia federativa, sendo o da segun- da crise, de autoria de Joaquim Nabuco, que tinha a estatura dos grandes estadistas. Disponivel em: . EXERCICIOS RESOLVIDOS 01. UFRS O cargo de Juiz de Paz teve suas fungdes regu- lamentadas pelo Cédigo de Processo Criminal de 1832. Esses juizes representavam o libera- lismo brasileiro durante o Periodo Regencial. Esses magistrados eram: a. nomeados diretamente pelo impera- dor, exercendo as fungdes de chefe de policia. b. designados diretamente pelo ministro da Justica, exercendo as fungées de promotor ptiblico. c.eleitos pelos cidadaos para exercer funcdes conciliatérias e de qualificagdo eleitoral. d. eleitos pelos deputados gerais para ad- ministrar os bens dos érfaos e de pes- ‘soas ausentes. e. indicados pelo presidente provincial para pacificar os conflitos pela terra. 32 Resolucao Oano de 1832 foi marcado por uma série de me- didas consideradas liberais, no inicio do Periodo Regencial. Nesse periodo, o ministro da Justiga Feijé procurou descentralizar as estruturas admi- nistrativas. Os Jufzes de Paz seriam eleitos local mente pelo voto censitério e teriam funcdes de controle moral, papel conciliatério ¢ eleitoral Resposta c Brasil Império Historia 02. Unicamp Resolugdo Desde 1835 cogitava-se antecipar a Estendendo-se de 1831 a 1840, 0 governo re- ascenséo de D. Pedro Il ao trono. Aex-_gencial abriu espaco para diferentes correntes pectativa de um imperador capaz de ga- ——politicas, como a dos liberais, subdivididos en- Tantir seguranga ¢ estabilidade ao pais era tre moderados e exaltados, cujas posigdes po- muito grande. Na imagem do monarea, —_|ticas iam desde a manutengao das estruturas buscava-se unificar um pais muito grande monérquicas até a formulacao de um novo go- ¢ disperso. verno republicano e a dos restauradores, em Adaptado de Lilia Moritz Schwarcz.As barbos do sua maioria portugueses defensores de que a Jimperador: D. Pedro tl, um monarca nos trépicos. S40, i 5 Paulos Companhia doe tree 2006 pei 76, 31, ¢stabilidade s6 se daria com o retorno de Dom Pedro | No Periodo Regencial, a estabilidade e aunida- A existdncia de diferentes posi¢Ses politicas, de do pais estavam ameacadas porque: revelando a falta de unidade entre os integran- a. a auséncia de um governo central forte tes da politica nacional, gerou um quadro de causara uma crise econémica, devido a disputas e instabilidade. Umas das mais claras queda das exportacdes e 8 alta da in- consequéncias desses desacordos foram as re- flagio, o que favorecia a ocorréncia de voltas deflagradas durante a regéncia. distirbios sociais eo aumento dacrimi- Resposta nalidade. c b. 0 desenvolvimento econémico ocorri- do desde a transferéncia da Corte por- tuguesa para o Rio de Janeiro levou as elites provinciais a desejarem a eman- cipacao em relacdo & metrépole. c. a auséncia de um representante da le- gitimidade mondrquica no trono per- mitia questionamentos ao governo central, levando ao avanco do ideal re- publicano e 8 busca de maior autono- mia por parte das elites provinciais. d. a expansio da economia cafeeira no sudeste levava as elites agrérias a dese- jarem maior pat pagdo no poder po- litico, levando @ ruptura da ordem mo- ndrquica e & instauracao da epublica, e.a expansio da economia cafeeira no sudeste levava as elites agrarias a dese- jarem maior participacao no poder po- litico, levando & ruptura da ordem mo- ndrquica e a instauracao da republica, 33 © perfodo regencial (1831-1840) foi marcado pelas violentas revoltas que eclodiram em di- versas partes do pais, com tend@ncias politi- cas liberais e populares que, em alguns casos, ameacavam a unidade politico-territorial do Brasil. Nessas revoltas, destaca-se a participagdo po- pular que, apesar de malsucedida, ganhou au- tonomia e radicalidade inusitadas. Movimento iniciado por estancieiros criadores de gado contra o governo devido a elevada tri- butaco sobre os produtos derivados de sua pecudria, principalmente a carne charqueada. Com isso, 0 prego da carne produzida no Rio Grande do Sul ficou mais alto do que o da car- ne vendida ao Brasil pelos uruguaios e argenti- nos, deflagrando a revolta. Com o tempo, a campanha passou a ser moti- vada por conflitos existentes no interior das eli- tes rio-grandenses, opondo o grupo litoréneo, vinculado ao governo regencial, e 0 interiorano (os farroupilhas), que via na politica regencial um obstaculo & afirmacao de seu poder. Bento Goncalves foi o lider da agitacao que contou com a participago de um italiano liberal e defensor da Republica, Giuseppe Garibaldi Garibaldi liderando a expedigao & Laguna (Lueilio de Albuquerque) A atuacao farroupilha se estendeu a Provincia de Santa Catarina, sendo prociamadas duas repliblicas: a Rio-Grandense ¢ a Juliana (Santa Catarina). 34 Bento Gongalves, um dos mais importantes lideres da Farroupilha. Preso em 1836, conseguiu fugir da cadeia no ano seguinte gragas & ajuda da magonari A Farroupilha foi uma das mais longas revoltas da histéria do Brasil, iniciou-se em 1835 e sé terminou em 1845 em um acordo feito com o Duque de Caxias. Pelo acordo, houve uma anis- tia geral aos revoltosos com a integracdo de seus homens as forcas do Exército brasileiro, ou seja, um desfecho bem diferente daquele dado a movimentos de carter popular na historia do Brasil, como veremos na Cabanagem, na Revol- ta dos Malés, na Sabinada e na Balaiada. A situaco na Provincia da Bahia era muito dift- cil, pois boa parte da populacao era constituida de escravos e de negros e mesticos libertos que viviam em condig&io de pentiria. Os maus- tratos eram comuns e a exploracao intensa, 0 que criava um clima de tenso permanente. A revolta contra essa exploracao foi organizada por africanos e descendentes de origem islé- mica, conhecidos por Malés, que realizavam seu culto de forma particular e conheciam a escrita e a lingua drabes. Varios autores afir- mam que a trama contra os senhores de es- Brasil Império cravos teve seu curso pela possibilidade de comunicagao em uma lingua que a elite des- conhecia. ‘Aacao pretendia libertar os africanos da escra- vido, eliminando os senhores e mestigos con- siderados ciimplices dos brancos, pois muitos eram capitaes do mato e soldados que perse- guiam escravos fugitivos. A agitacdo, iniciada na madrugada do dia 25 de janeiro de 1835, se estendeu ao longo do dia, com varios com- bates entre os rebeldes e as forcas policiais de Salvador. Por fim, a rebelido foi contida: alguns de seus participantes foram fuzilados, outros receberam acoitamento em puiblico e, a maioria, foi deportada ou vendida para ou- tras dreas do Brasil. 3. A Cabanagem (1835-1840) Movimento popular que atuou contra as con- diges de pobreza e abandono em relacdo as politicas governamentais elitistas. Constituido Por indios, mesticos e escravos que combate- ram o governo provincial do Paré nomeado pela Regéncia. A principio, setores das oligar- quias nao contempladas mobilizaram popula- res pretendendo assumir o controle da Provin- cia, contudo os anseios da populagao pobre, por melhora nas condicées de vida, afastaram 05 grupos oligérquicos do movimento. Os cabanos, como eram chamados os rebeldes populares, produziram uma agitaco que, em 1835, chegou a dominar a cidade de Belém Isso fez com que criassem um governo provi- sério que durou cerca de nove meses. Porém, sem condicées de realizar uma politica que contemplasse a todos, o movimento se dividiu e, com a chegada das tropas imperiais, perdeu forca. Depois da recuperacao de Belém pelas forcas regenciais, os cabanos se dirigiram ao interior, constituindo focos de resisténcia que aos poucos foram destruidos. A repressao foi violenta e milhares de cabanos foram mortos, reduzindo drasticamente a populacao da Pro- vincia do Pard. ‘A Cabanagem do Pari & © tinico movimento politico do Brasil em que os pobres tomam o poder, de fato. E 0 tinico € isolado episédio de extrema violéncia social, quando os oprimidos ~ a ralé mais baixa, negros, tapuios, mulatos e cafuzos, 35 Histéria além de brancos rebaixados que parecem nao ter direito a branquitude, (...) assu- mem o poder e reinam absolutos, elimi- nando quase todas as formas de opressio, arrebentando com a hierarquia social, des- truindo as forgas militares ¢ substituindo- as por algo que faz tremer os poderosos: 0 povo em armas. CHIAVENATO, Jilio José. Cabanagem: 0 povo no poder. $30 Paulo: Brasiliense, 1984. p. 12-14. MEMORIAL DA CABANAGEM Oscar Niemeyer O Memorial da Cabanagem ¢ um monumento de 15 metros de altura por 20 de comprimento, todo em con- creto, erguido no complexo do entron- camento, em Belém do Para. Segundo a concepcao de Nie meyer, representa a luta heroica do povo cabano, que foi um dos movimen- tos mais importantes de todo o Brasil. A rampa elevada em diregao ao firma- mento representa a grandiosidade da revolta popular que chegou muito perto de atingir seus objetivos e a "fratura" faz alusdo a ruptura do processo revo- lucionério. Mas embora tenha sido su- focada, a Cabanagem permanece viva na memeéria do povo, por isso, 0 bloco continua subindo para o infinito, sim- bolizando que a esséncia, os ideais e a luta cabana continuam latentes na his- toria do pais. SALLES, Vicente, Memorial da Cobanagem. Belém: Conselho Estadual de Cultura, 1985, Historia 4, A Sabinada (1837-1838) A reniincia do padre Diogo Feijé em 1837 co- locou no poder regencial os conservadores li- derados por Araiijo Lima, iniciando o chamado regresso conservador. Porém, os liberais da Bahia ndo aceitavam a politica centralizadora que se iniciava com os conservadores, dando inicio a agitagdes que visavam impedir a per- da de autonomia da Provincia. © movimento foi liderado pelo médico e jornalista Francisco Sabino, representante da classe média baien- se, daf 0 nome dado & rebelido. Mas contou também com a participacao de populares que atenderam ao apelo do médico por estarem descontentes com o estado de pobreza da Provincia Houve, a partir do levante em Salvador em 1837, a proclamagao da Republica Baiense que existiria até a maioridade de D. Pedro de Alcantara, pois a ideia era escapar do governo conservador de Aratijo Lima. © governo regencial agiu rapidamente, en- viando tropas que sitiaram a cidade de Sal- vador com apoio de senhores de engenho da regio do Recéncavo Baiano. O resultado foi © massacre da populacao a excecdo de Fran- cisco Sabino e seus préximos em condi¢éo social que foram presos e depois anistiados. 36 Brasil Império 5. A Balaiada (1838-1841) A Balaiada ja foi descrita por historiadores como um movimento integrante do banditismo de cardter social na histéria do Brasil, pois ata- cou fazendas e libertou escravos que passavam a se organizar em quilombos. A origem da agitacdo, como outras agitaces na historia, associa-se a crise econdmica e a pobreza extrema existente na regido naquele periodo. Porém, o catalisador foi a disputa en- tre membros da elite do Maranho pelo poder politico na Provincia. Os liberais maranhenses (bem te vis) estavam em campanha contra os conservadores que governavam com apoio da regéncia de Aratjo Lima e decidiram manipu- lar 0s populares colocando-os contra o gover- no. Assim, municiaram a populacao pobre para combater 0 grupo conservador. Contudo, o movimento saiu do controle da elite liberal e passou a agir por conta prépria, ten- do como liderangas 0 ex-escravo Cosme Bento e Manuel Francisco dos Anjos Ferreira, artesdo que confeccionava balaios — dai a inspiracdo para 0 nome do levante. Os balaios chegaram a controlar a cidade de Caxias, o que deu mais forca ao movimento. Mas a repressao no tardou. Comandando cer- ca de cito mil homens das forcas imperiais, Luis Alves de Lima e Silva atacou a cidade de Caxias € 0 balaios foram massacrados. O sucesso de Lima e Silva o fez Bardo de Ca- xias, credenciando-o a atuar contra outros levantes, como foi o caso da repressao a Re- volucao Farroupilha. Brasil Império Histéria LEITURA COMPLEMENTAR Revolta dos Malés em 1835 Jo80 José Reis Universidade Federal da Bahia Na madrugada de 25 de janeiro de 1835, um domingo, aconteceu em Salvador uma revolta de escravos afficanos. O movimento de 1835 é conhecido como Revolta dos Malés, por serem assim chamados os negros muculmanos que o organizaram, A expresso malé vem de imalé, que na lingua iorubé significa mugulmano, Portanto os malés eram espe cificamente os muculmanos de lingua iorubé, conhecidos como nagés na Bahia, Outros grupos, até mais islamizados como os haussis, também participaram, porém contribuindo com muito menor nimero de rebeldes. Arevolta envolveu cerca de 600 homens, o que parece pouco, mas esse mimero equi- vale a 24 mil pessoas nos dias de hoje. Os rebeldes tinham planejado o levante para aconte- cer nas primeiras horas da manhé do dia 25, mas foram denunciados. Uma patrulha chegou uma casa na ladeira da Praga onde estava reunido um grupo de rebeldes. Ao tentar forgar a porta para entrarem, os soldados foram surpreendidos com a repentina saida de cerca de sessenta guerreiros afticanos. Uma pequena batalha aconteceu na ladeira da Praga, ¢ em seguida os rebeldes se dirigiram 4 Camara Municipal, que funcionava no mesmo local onde funciona ainda hoje. ‘A Cémara foi atacada porque em seu subsolo existia uma prisio onde se encontrava preso um dos lideres malés mais estimados, o idoso Pacifico Licutan, cujo nome mugul- mano era Bilal, Esse escravo ndo estava preso por rebeldia, mas porque seu senhor tinha dividas vencidas e seus bens, inclusive Licutan, foram confiscados para irem a leildo em beneficio dos eredores. O ataque A priso nao foi bem sucedido. O grupo foi surpreendido no fogo cruza- do entre os carcereiros € a guarda do palacio do governo, localizado na mesma praca. Dai este primeiro grupo de rebeldes saiu pelas ruas da cidade aos gritos, tentando acordar os escravos da cidade para se unirem a eles. Dirigiram-se a Vitoria onde havia um outro grupo numeroso de malés que eram escravos dos negociantes estrangeiros ali residentes. Apés se unirem nas imediagdes do Campo Grande, os rebeldes atravessaram em frente ao Forte de Sao Pedro sob fogo cerrado dos soldados, indo dar nas Mercés, de onde retornaram para 0 centro da cidade. Aqui atacaram um posto policial ao lado do Mosteiro de Sao Bento, outro na atual Rua Joana Angélica (imediagdes do Colégio Cen- tral), lutaram também no Terreiro de Jesus e em outras partes da cidade. Em seguida, desceram 0 Pelourinho, seguiram pela Ladeira do Tabodo e foram dar na Cidade Baixa. Dagui tentaram seguir na diregao do Cabrito, onde tinham marcado encontro com es- cravos de engenho. Mas foram barrados no quartel da cavalaria em Agua de Meninos. Neste local se deu a iiltima batalha do levante, sendo os malés massacrados. Alguns, que tentaram fugir a nado, terminaram se afogando. A revolta deixou a cidade em polvorosa durante algumas horas, tendo sido vencida com a morte de mais de 70 rebeldes e uns dez oponentes. Mas 0 medo de que um novo levante pudesse acontecer se instalou durante muitos anos entre os seus habitantes livres. Um medo que, alias, difuundiu-se pelas demais provincias do Império do Brasil. Em quase todas elas, principalmente na capital do pais, o Rio de Janeiro, os jornais publicaram noti- cias sobre 0 acontecido na Bahia ¢ as autoridades submeteram a populagao afticana a uma vigilancia cuidadosa e muitas vezes a uma repressio abusiva. Disponivel em: . a7 Historia EXERCICIOS RESOLVIDOS 01. UFRGS-RS Leia o texto abaixo. Conhega 0 Brasil que o dia 20 de setembro de 1835 foi a consequéncia inevitavel de uma ma e odiosa adminis tragdo; € que nao tivemos outro objeto, € ndo nos propusemos a outro fim que restaurar o império da lei, afastando de nés um administrador inepto e faccioso, sustentando © trono constitucional do nosso jovem monarca ¢ a integridade do Império. ‘Manifesto de 25 de setembro de 1835, Coleténea de documentos de Bento Goncalves da Silva. Porto Alegre: Arquivo Histérico do Rio Grande do Sul, 1985. p. 269, Em relaao ao manifesto acima, é correto afir- mar que: a. 0s farroupilhas defendiam, desde o pri- meiro momento, 0 idedrio republicano e separatista. b. os revoltosos desejavam antecipar a posse de Dom Pedro Il, ainda menor de idade. ¢.a revolta foi motivada pelo desejo dos farroupilhas de reintegrar a provincia a0 Império brasileiro, d, os revoltosos estavam contrariados com 0 governo do presidente provin- cial. e. os farroupilhas representavam os ide- ais conservadores, manifesto na defesa do "império da lei" 38 Brasil Império Resolugio © movimento farroupilha néo adotou, em um primeiro momento, um caréter de ruptura, mas reivindicava uma mudanca na politica adota- da pelo governo regencial, que havia imposto maiores tributos ao charque e nomeado Antonio Rodrigues Braga para a presidéncia da provincia, contrariando os interesses dos estancieiros. Resposta D 02. G1 - Col. Naval A revolta de 1835, também chamada a "grande insurreigdo", foi ponto culmi- nante de uma série que vinha desde 1807, A revolta desses escravos islamizados, em consequéncia, néo seré apenas uma eclo- jo violenta mas desorganizada, apenas surgida por um incidente qualquer. Seré, pelo contrério, planejada nos seus detalhes, precedida de todo um periodo organizativo (..). Reuniam-se regularmente para discuti- rem os planos de insurreigo, muitas vezes juntamente com elementos de outros gru- pos do centro da cidade. (...) O movimento vinha sendo articulado também entre os escravos dos engenhos ¢ os quilombolas da periferia. (...) O plano nao foi cumpri- do na intrega porque houve delagao. (...) os escravos, vendo que tinham de antecipar a revolta, langaram-se 4 carga de qualquer maneira. (...) Derrotada a insurreicdo, os seus lideres se portaram dignamente. MOURA, Clévis. Os quilombos e a rebelido negra. 7.04, Sdo Paulo: Brasiliense, 1987. p. 63-69.

You might also like