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Diocleciano 

(nascido Diocles; Salona, 22 de dezembro de 243/245 – Espalato, 3 de
dezembro de 311/312) foi o imperador romano de 284 até sua abdicação em 305. Ele nasceu
em uma família de baixa posição social, porém conseguiu ascender pelas patentes do exército
romano até se tornar um comandante de cavalaria do exército do imperador Caro. Diocleciano
foi aclamado imperador pelas tropas da Nicomédia depois das mortes de Caro e seu
filho Numeriano durante campanhas contra a Pérsia. O título também foi reivindicado
por Carino, o filho sobrevivente de Caro, porém Diocleciano o derrotou em julho de 285
na Batalha do Margo.

O reinado de Diocleciano estabilizou o Império Romano e encerrou a Crise do Terceiro Século.


Ele nomeou o colega oficial militar Maximiano como seu coimperador em 286 e dividiu o
império em dois, governando por si mesmo o Império do Oriente enquanto Maximiano
governava o Império do Ocidente. Diocleciano delegou mais funções em 293 ao
nomear Galério e Constâncio Cloro como coimperadores júniores, ficando abaixo de si e
Maximiano, respectivamente. Isto estabeleceu a Tetrarquia, em que cada monarca governaria
um quarto do império. Ele garantiu as fronteiras e expurgou quaisquer ameaças a seu poder.
Conseguiu derrotar os sármatas e os carpos no decorrer de várias campanhas entre 285 e
299, os alamanos em 288 e usurpadores no Egito de 297 a 298. Galério, com o apoio de
Diocleciano, foi bem-sucedido em uma campanha contra a Pérsia, conseguindo saquear sua
capital Ctesifonte em 299. Diocleciano liderou negociações posteriores e conseguiu alcançar
uma paz favorável e duradoura.

Diocleciano separou e ampliou os serviços civis e militares do império e reorganizou suas


divisões provinciais, estabelecendo assim o maior e mais burocrático governo na história
romana. Estabeleceu novos centros administrativos em cidades como
Nicomédia, Mediolano, Sirmio e Augusta dos Tréveros, localizadas mais próximo das
fronteiras externas do que a capital Roma. Ele se intitulou autocrata e se elevou acima das
massas romanas ao impor cerimônias e arquiteturas de corte. O crescimento burocrático e
militar, campanhas constantes e projetos de construção aumentaram os gastos
governamentais e necessitaram de uma ampla reforma nos impostos. Os impostos foram
padronizados depois de 297 e deixados mais equitativos, sendo cobrados em taxas mais
altas.

Nem todos os seus planos tiveram sucesso, como o Édito Máximo de 301, que tentou
controlar a inflação por meio de congelamento de preços, que foi contraprodutivo e
rapidamente ignorado. O sistema da Tetrarquia funcionou enquanto governava,
porém ruiu depois de ele deixar o poder devido a reivindicações dinásticas
de Magêncio e Constantino, filhos de Maximiano e Constâncio. A Perseguição de Diocleciano,
a última perseguição oficial contra o cristianismo, falhou em eliminar a religião do império.
Apesar destes fracassos, as reformas de Diocleciano mudaram fundamentalmente as
estruturas do governo imperial romano e ajudaram a estabilizar o império militar e
economicamente, permitindo que permanecesse intacto por mais 150 anos. Diocleciano
abdicou em 305 por motivos de saúde e viveu sua aposentadoria em um enorme palácio no
litoral da Dalmácia, onde morreu em 311 ou 312.

Início de vida
Ruínas do anfiteatro de Salona, cidade em que Diocleciano nasceu

Diocleciano nasceu em Salona, na Dalmácia, entre 243 e 245.[1] Seus pais lhe deram o nome
grego Diocles, ou possivelmente Diocles Valério.[2] O historiador Timothy Barnes considera que
seu aniversário oficial, 22 de dezembro, era sua data real de nascimento. Entretanto, outros
historiadores não têm tanta certeza.[3] Seus pais eram de baixa posição social; o
historiador Eutrópio registrou "que a maioria dos escritores diz que era filho de um escriba,
mas alguns dizem ter sido um homem liberto de um senador chamado Anulino". Pouquíssimo
se sabe sobre seus primeiros quarenta anos de vida.[4] Diocles era um iliriano que recebeu
educação e foi promovido pelo imperador Aureliano.[5] O crônico bizantino João
Zonaras afirmou que ele foi um "Duque da Mésia",[6] um comandante de forças militares no
baixo Danúbio. A muitas vezes não confiável História Augusta afirmou que Diocles serviu
na Gália, porém isto não é corroborado por outras fontes e é ignorado pelos historiadores
modernos.[7] A primeira vez que seu paradeiro pode ser estabelecido com certeza é em 282,
quando o imperador Caro o nomeou comandante dos Protetores Domésticos, uma força de
cavalaria de elite ligada à criadagem imperial, posto este que lhe valeu a posição de cônsul no
ano seguinte.[8]

Ascensão
Caro morreu durante uma campanha contra a Pérsia e em circunstâncias misteriosas,[9] tendo
supostamente sido atingido por um raio ou morto por soldados persas,[10] deixando seus
filhos Numeriano e Carino como os novos imperadores. Carino rapidamente partiu
para Roma de seu posto de comissário imperial na Gália e chegou na cidade em janeiro de
284, tornando-se o legítimo imperador, enquanto Numeriano permaneceu no oriente.[11] A
retirada romana da Pérsia foi realizada em ordem e sem oposição.[12] O xainxá Vararanes II da
Pérsia não conseguiu montar um exército para enfrentar os romanos por ainda estar lutando
para estabelecer sua própria autoridade. Numeriano só tinha conseguido chegar em Emesa,
na Síria, em março, enquanto em novembro avançou apenas até a Anatólia.[13] Ele ainda
estava aparentemente vivo e com boa saúde em Emesa, tendo emitido o
único rescrito sobrevivente em seu nome no local.[14][nota 1] Entretanto, depois de ele ter deixado a
cidade, sua criadagem, incluindo seu sogro e prefeito pretoriano Áper, uma figura de grande
influência, relataram que Numeriano estava sofrendo de uma inflamação nos olhos, passando
a viajar em um coche fechado.[16] Alguns soldados sentiram um odor emanando do coche
depois de o exército ter chegado em Bitínia.[17] Eles abriram as cortinas e descobriram o corpo
morto de Numeriano.[18]

Áper contou as notícias em novembro na Nicomédia.[19] Os generais e tribunos convocaram um


conselho para lidar com a sucessão e Diocles foi escolhido imperador,[20] mesmo com as
tentativas de Áper de ganhar apoio para si.[19] Os exércitos do oriente se reuniram em 20 de
novembro de 284 em um morro a cinco quilômetros da Nicomédia, saudando Diocles como o
novo imperador, com ele aceitando as vestimentas imperiais púrpuras. Ele ergueu sua espada
para o Sol e jurou que não tinha responsabilidade alguma na morte de Numeriano, em
seguida afirmou que Áper tinha matado o ex-imperador e encoberto o fato.[21] Diocles, diante
de todo o exército, pegou sua espada e matou Áper.[22] Segundo a História Augusta, ele
citou Virgílio enquanto fazia isso.[23] Diocles pouco depois mudou seu nome para o mais
latinizado Caio Aurélio Valério Diocleciano.[24]

Conflito com Carino

Escultura de Carino

Lúcio Cesônio Basso e Diocleciano foram nomeados cônsules e assumiram as fasces nos


lugares de Carino e Numeriano.[25] Basso era membro de uma família senatorial da Campânia,
um ex-cônsul e procônsul na África.[26] Ele tinha experiência em áreas de governo de que
Diocleciano supostamente carecia.[19] A elevação de Basso a cônsul por Diocleciano
simbolizou sua rejeição ao governo de Carino em Roma, sua recusa em aceitar uma posição
secundária a qualquer outro imperador[26] e sua disposição em colaborar com as aristocracias
militar e senatorial do império.[19] Essa ação também ligava seu sucesso ao do Senado
Romano, cujo apoio ele necessitaria para avançar sobre a capital.[26]

Diocleciano não foi o único a desafiar o reinado de Carino; o usurpador Juliano, corretor de


Carino, conseguiu assumir o controle do norte da Itália e da Panônia pouco após a ascensão
de Diocleciano.[27] Juliano cunhou moedas em uma casa da moeda em Siscia declarando-se
imperador e prometendo liberdade. Isto acabou servindo à causa de Diocleciano, pois ajudou
a retratar Carino como um tirano opressivo e cruel.[28] As forças de Juliano eram fracas e foram
facilmente derrotadas quando os exércitos de Carino deixaram a Britânica para o norte da
Itália. Diocleciano, como líder de um oriente unido, ainda era a maior ameaça.[29] Ele avançou
pelos Bálcãs rumo oeste durante o inverno na virada de 284 para 285. Suas forças
encontraram as de Carino na primavera em algum momento antes do fim de maio no rio
Margo, na Mésia.[30]

Carino tinha um exército maior e mais poderoso, porém mesmo assim se encontrava em uma
posição mais fraca. Seu governo não era popular e posteriormente foi alegado que ele havia
maltratado o Senado e seduzido as esposas de oficiais militares.[31] É possível que Flávio
Constâncio, governador da Dalmácia e companheiro de Diocleciano nos Protetores
Domésticos, já tivesse deserdado do lado de Carino no início da primavera.[32] Aristóbulo,
prefeito pretoriano de Carino, também deserdou para o lado de Diocleciano logo no início
da Batalha do Margo em julho.[19] Carino foi morto por seus próprios homens durante a batalha
e Diocleciano, após sua vitória, foi aclamado como o novo imperador pelos exércitos
ocidentais e orientais.[33] Ele fez o exército derrotado lhe jurar lealdade e em seguida partiu em
direção à Itália.[34]
Início de reinado

Antoniniano de Diocleciano

É possível que Diocleciano tenha se envolvido imediatamente depois da Batalha do Margo em


confrontos contra os quados e marcomanos. Ele acabou chegando no norte da Itália e
estabeleceu um governo imperial, porém não se sabe se ele visitou a cidade de Roma nessa
época.[35] Uma série de moedas contemporâneas sugerem um advento imperial na cidade,
[36]
 porém historiadores modernos afirmam que Diocleciano deliberadamente evitou Roma por
questões de princípio, pois a cidade e o senado não eram mais politicamente relevantes para
os assuntos do império e necessitavam aprender isso. O próprio Diocleciano datou o início de
seu reinado para a data em que foi aclamado pelo exército, não a data em que foi ratificado
pelo senado,[37] seguindo uma prática estabelecida por Caro, que havia declarado a ratificação
do senado como uma formalidade inútil.[38] Entretanto, ele demonstrou deferência em relação
ao senado mantendo Aristóbulo como cônsul ordinário e colega pelo ano de 285, uma das
poucas instâncias durante o Império Tardio em que um imperador permitiu um privatus como
colega.[39]

Mesmo que Diocleciano tenha entrado em Roma pouco depois de sua ascensão, ele não
permaneceu por muito tempo,[40] pois é relatado que ele estava de volta nos Bálcãs em 2 de
novembro de 295 em uma campanha contra os sármatas.[41] Diocleciano substituiu o prefeito
urbano de Roma por Basso. Entretanto, a maioria dos oficiais que haviam servido sob Carino
permanecerem em seus postos.[42] Ele também não matou ou depôs Aristóbulo, o prefeito
pretoriano e cônsul que havia traído Carino, mas sim confirmou suas duas funções,[43] um ato
de clemência que o historiador Sexto Aurélio Vítor descreveu como "incomum". Diocleciano
também depois deu a Aristóbulo o proconsulado da África.[44] Outras figuras que mantiveram
seus cargos talvez também tenham traído Carino.[45]

Maximiano coimperador
Busto de Maximiano

Os assassinatos dos imperadores Aureliano e Probo demonstraram que uma única pessoa


reinar como imperador sozinho era algo perigoso para a estabilidade do império.[19] Conflitos
estavam surgindo em várias províncias, incluindo a Gália, Síria, Egito e o Baixo Danúbio. Era
muito para uma única pessoa ser capaz de controlar, assim Diocleciano necessitava de
alguém que pudesse ser seu segundo em comando.[46] Ele elevou seu colega oficial
militar Maximiano para o posto de césar em julho de 285 em Mediolano,[nota 2] tornando-o
coimperador júnior.[49]

O conceito de dois imperadores compartilhando o poder não era algo novo no Império
Romano. Augusto, o primeiro imperador, tinha nominalmente compartilhado seu poder com
alguns colegas, com cargos mais formais de coimperadores existindo a partir de Marco
Aurélio no século II.[50] Mais recentemente, Caro e seus filhos tinham governado juntos, porém
sem sucesso. Diocleciano estava em uma posição menos favorável que a maioria de seus
predecessores, pois só tinha uma filha, Valéria, e nenhum filho homem. Seu coimperador
precisaria vir de fora de sua família, o que levantava a questão de confiança.[51] Alguns
historiadores afirmaram que ele adotou Maximiano como seu "filho augusto" ao nomeá-lo para
o trono, seguindo o precedente estabelecido por alguns imperadores anteriores.[52] Entretanto,
esse argumento não é aceito por todos.[53]

O relacionamento de Diocleciano e Maximiano foi rapidamente expresso em termos religiosos.


Diocleciano assumiu por volta de 287 o título de "Joviano", enquanto Maximiano ficou com o
título de "Hercúleo".[54] Esses títulos provavelmente tinham a intenção de transmitir algumas
características de seus líderes. Diocleciano assumiria os papéis dominadores de
planejamento e comando, já Maximiano atuaria como seu subordinado heroico.[55] Apesar
dessas conotações religiosas, os dois não eram "deuses" na tradição do culto imperial, porém
talvez tenham sido saudados como tais no panegírico imperial. Em vez disso, eram vistos
como representantes dos deuses, realizando seus desejos na Terra.[56] A mudança de
aclamação militar para santificação divina tirou o poder de nomeação dos imperadores do
exército. A legitimação religiosa elevou Diocleciano e Maximiano acima de rivais em potencial
de um modo que reivindicações militares e dinásticas não podiam.[57]

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