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Dimensão Religiosa - Alunos
Dimensão Religiosa - Alunos
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universo, do mundo desconhecido e ameaçador que o cerca (rodeado de perigos,
como animais ferozes, doenças e cataclismos), o homem necessita de uma
explicação e de um sentido para a realidade caótica em que se insere. Ora, no
recurso ao sagrado e ao divino, inicialmente na forma das divindades animistas,
depois, no politeísmo das grandes civilizações da antiguidade, até ao Deus teísta das
grandes religiões monoteístas, o homem encontra a explicação, o sentido e a
segurança que procura e lhe permitem uma existência mais tranquila e
organizada.
Pela religião, o homem abre-se para Deus, entidade que dá corpo aos ideais
de infinito e absoluto a que aspira. Este desejo profundo de absoluto é bem vivível
naquele que é um dos conceitos centrais das grandes religiões: o conceito de
imortalidade. Este conceito, se, por um lado, traduz a consciência que o homem,
porque conhece a experiência da morte, tem da sua temporalidade e finitude,
expressa, por outro lado, a sua aspiração a uma vida intemporal e eterna. Na
verdade, a certeza da existência de Deus e de outra vida sem fim, no além, oferece
ao homem o conforto e o sentido necessários à precaridade de uma existência que
é, muitas vezes, de injustiça, sofrimento e dor.
Podendo a atitude religiosa revestir-se de aspetos muito diversos, desde as
formas mais elementares de superstição e magia, passando pela experiência mística
(experiência interior intensa, de elevação e união da alma com Deus), a visão comercial
e contratual da religião (reza-se para obter um favor, dá-se esmola para ganhar o Céu),
até atitudes de fé esclarecida e de vivência autêntica, é possível encontrar um
conjunto de caraterísticas comuns a toda a experiência religiosa, nomeadamente as
que são expressas nas seguintes dualidades:
Humano/divino
Em toda a religião se verifica a relação do homem a um Outro, superior,
grandioso, que dá sentido à vida e ao mundo e que, por vezes, se dá a
conhecer e se revela em hierofanias (aparições do sagrado);
Sagrado/profano
Separação entre os domínios da existência quotidiana, do espaço e do tempo
comuns em que a vida do dia a dia decorre, e o domínio do sagrado, dos
lugares santos e do tempo sagrado das festividades;
Imanência/transcendência
A vida humana decorre (é imanente) neste mundo, mas é em Deus e no além
transcendentes (superiores, separados) que o sentido e a razão de ser da vida
presente reside;
Fascinante/tremendo
Formas diferentes, mas complementares de experienciar o sagrado, que
tanto é vivido como polo de atração, confiança e alegria (Deus benevolente,
que compreende e perdoa), como de temor (Deus justiceiro, implacável e
severo, que tanto salva como condena);
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Revelação/mistério
Toda a religião se apresenta como um conjunto de dogmas, isto é, de
verdades reveladas e aceites em virtude do seu fundamento sagrado. Se parte
dessas verdades são inteligíveis (racionais), há outras que, enquanto
mistérios incompreensíveis à luz da razão, apenas são acessíveis à fé.
O Fenómeno do Ateísmo
Quanto ao problema da existência de Deus, há basicamente três perspetivas:
Teísmo, que é a expressão que traduz a opinião daqueles que acreditam e
afirmam a existência de Deus ou deuses;
Ateísmo, que é a expressão que traduz a opinião daqueles que não creem e
negam a existência de Deus ou deuses;
Agnosticismo, termo que traduz a opinião daqueles que não afirmam nem
negam a existência de Deus ou deuses, mas antes suspendem o juízo, uma vez
que não têm provas nem de que Deus ou os deuses existem nem de que não
existem.
Relativamente ao ateísmo, há que dizer que manifestações deste fenómeno
sempre têm existido ao longo da história. Porém, enquanto fenómeno social
significativo, a sua origem remonta à modernidade (séc. XVII) e à progressiva
implantação da mentalidade científica e tecnológica que, sobretudo no contexto da
revolução industrial, veio a traduzir-se em profundas alterações nas condições de
vida dos indivíduos e das sociedades. Na verdade, o afluxo de massas de camponeses
às cidades (urbanismo) e o trabalho nas fábricas, ao abrigo dos fenómenos
atmosféricos, dos quais o camponês depende em absoluto, conferem ao homem
uma maior autonomia face ao poder e à inclemência das intempéries da natureza.
Por outro lado, as condições absolutamente degradantes de vida e de trabalho
(exploração, miséria, doenças …) dos operários, conduziu aglomerados humanos
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inteiros a situações imensas de miséria, sofrimento, desespero e revolta. Face a
tanto mal, na angústia e no desespero que então se vive, muitas pessoas começam a
duvidar da existência de Deus.
Enquanto fenómeno socialmente significativo, o ateísmo aparece, assim, ligado
ao urbanismo à massificação e ao materialismo próprios das sociedades cientifico-
industriais.
Contudo, a dimensão espiritual e religiosa do homem, dado que preenche
uma sua componente essencial, continua viva, reaparece e manifesta-se sob novas
formas de que são exemplo: a proliferação de seitas e novas religiões alternativas, o
interesse crescente por temas como a parapsicologia, o ocultismo, a astrologia, a
ficção científica, o espiritismo e a meditação transcendental, para não falar das
múltiplas e trágicas situações de manipulação da religião, colocando-a ao serviço do
terrorismo e de interesses inconfessados de natureza política, económica e militar.
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Uma perspetiva fideísta, para a qual o acesso à certeza na existência de Deus
tem lugar exclusivamente através da fé, sendo dispensáveis e de nulo valor
quaisquer evidencias racionais que a esse respeito se possam verificar;
Perspetiva Racionalista
Situando-nos numa perspetiva racionalista, abordaremos três dos principais
argumentos mais comummente utilizados para provar racionalmente a existência de
Deus. Ocupar-nos-emos, de seguida, do problema do mal, uma vez que esse constitui
o principal argumento utilizado por quem pretende pôr em causa a existência de
Deus.
Prova do desígnio
Versão da Semelhança
Imagine-se que um belo dia, elevando o olhar, verificamos que no céu as nuvens
se estão a organizar e a formar letras, palavras e frases com sentido.
Suponha-se que essas frases correspondem exatamente aos versos e às estrofes de
Os Lusíadas de Luís de Camões. Suponha-se ainda que todo o poema épico do grande
poeta é, assim, escrito no céu.
Acreditaremos que este tão extraordinário fenómeno é fruto do acaso? Não parece
que tal crença seja provável. Contudo o universo e nós próprios, o nosso próprio
organismo é dotado de uma complexidade e de uma ordem bastante maior do que a de
Os Lusíadas, razão pela qual a probabilidade de ter sido fruto do acaso é ainda menor
do que a de o poema de luís de Camões aparecer escrito nas nuvens.
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Assim, partindo da constatação da ordem existente no universo, a versão da ordem
do argumento do desígnio é basicamente a seguinte:
Se Deus não existe, a ordem que verificamos existir no universo é fruto do
acaso.
O acaso (como o exemplo das nuvens ilustra) não pode ser a causa de tal
ordem, mas apenas um ser, Deus, sumamente poderoso e omnisciente.
Logo, Deus existe.
Objeção
Na objeção a este argumento é frequentemente invocada a teoria da evolução
natural de Charles Darwin, que mostra que no processo lento e longo da evolução
biológica das espécies, fenómenos puramente naturais e fruto do acaso, como, por
exemplo, as mutações, dão origem à ordem.
Ao evidenciar que o acaso pode originar a ordem, o evolucionismo de Darwin,
põe em causa a segunda premissa do argumento, abalando assim a sua solidez.
Prova do Cosmológica
Versão da Causa Primeira
A versão da causa primeira da prova cosmológica, que tem na sua base a
distinção entre os conceitos de ser necessário (não pode não existir, uma vez que a
existência faz parte da sua essência, ex.: a existência faz parte da essência de ser
perfeito, uma vez que este se não existisse não seria perfeito. Seria contraditório pensar
um ser perfeito a quem faltasse a perfeição de existir) e ser contingente (ser que existe,
mas poderia não existir. Não há qualquer contradição em pensar a não existência de um
ser que contingentemente existe, mas poderia não existir, por exemplo, esta mesa, ou o
mundo no seu conjunto) consiste em partir do princípio de que tudo o que existe tem
uma causa. Depois, recuando na cadeia das causas chegaremos à causa primeira,
que só pode ser Deus, o ser necessário, ser cuja existência decorre da sua essência,
pelo que existe necessariamente, sendo impossível a sua não existência.
Há quem defenda que descendo na cadeia das causas chegaremos não a
Deus, mas ao Big-Bang, que seria a causa de tudo. Mas dada a natureza de ser
contingente da Grande Explosão (a sua existência não decorre da sua essência, pelo
que aconteceu, mas poderia não ter acontecido), o Big-Bang tem ele próprio de ter
uma causa, e essa só pode ter sido o ser necessário que é Deus.
Objeção
Há quem objete a este argumento, considerando não há razão para parar o
raciocínio causal em Deus, devendo, pelo contrário, ser continuado perguntando
pela causa de Deus.
Caso se responda que Deus não tem causa, contradiz-se a premissa que diz
que “tudo o que existe tem uma causa”; se se responde dizendo que Deus é causa de si
mesmo, pode perguntar-se, por que razão não pode também o universo ser causa de si
mesmo?
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Versão da Sequência de Causas (estudo opcional)
A versão da sequência de causas do argumento do desígnio baseia-se na ideia de
que tudo o que existe tem uma causa, causa essa que é, por sua vez, efeito de uma causa
anterior e assim sucessivamente. Agora, ou se considera que a sequência de causas para
num dado ponto, ou prossegue infinitamente.
Se a sequência causal para num dado ponto, por exemplo, no Big-Bang, temos
de supor, dado ser este um acontecimento contingente, que foi Deus, o ser necessário
quem criou o Big-Bang, que está na origem de tudo o resto;
Se a sequência causal é infinita, também ela, dada a sua natureza contingente,
supõe, como seu criador, a existência do ser necessário que é Deus.
Esquematicamente, o argumento é o seguinte:
A sequência causal para no Big-Bang ou prossegue para sempre.
Se para no Big-Bang, temos de supor que foi Deus o seu criador.
Se prossegue para sempre, temos de supor que foi Deus o criador dessa
sequência infinita.
Objeção
a) Pôr em causa a segunda premissa do argumento, que diz que temos de supor ter
sido Deus o criador do Big-Bang.
Por que razão temos de supor tal coisa? Não poderá o Big-Bang ter
surgido do nada? Não poderá ser um acontecimento necessário? Em qualquer
dos casos, uma vez que há outras maneiras possíveis de explicar o Big-Bang, a
premissa é, no mínimo, duvidosa.
b) Pôr em causa terceira premissa do argumento, segundo a qual temos de supor ter
sido Deus o criador da sequência causal infinita.
Não poderá essa sequência causal ter surgido do nada? Não poderá ser
necessária? Dado que há outras maneiras de explicar a infinitude daquela
sequência causal, a terceira premissa do argumento é também, como a anterior,
no mínimo, duvidosa.
Prova do Ontológica
A prova ontológica da existência de Deus é uma prova a priori, que consiste
em afirmar a existência de Deus com base na simples consideração do seu conceito.
Com efeito, pensar Deus equivale a pensar num ser perfeito (no ser “mais
grandiosa do que o qual nada pode ser pensado”, como diria Santo
Anselmo);
Ora, a existência é uma perfeição;
Portanto, Deus, o ser perfeito, existe.
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Objeção
Pode objetar-se a este argumento mostrando que, caso ele fosse um bom
argumento, poderíamos provar a existência do que quer que fosse. Por exemplo,
do jogador de futebol perfeito. Bastaria, para tal, definir o jogador de futebol
perfeito como “o jogador mais grandioso do que o qual nada poderia ser
pensado”. Esse jogador, para ser efetivamente o mais grandioso, teria de existir não
apenas no pensamento, mas também na realidade (se existisse apenas no
pensamento, não seria o mais grandioso, uma vez que poderia pensar-se um para além
de existir no pensamento, existisse, também, na realidade). Acontece, porém, que,
como a experiência o mostra, definir uma coisa como a mais grandiosa do que a
qual nada pode ser pensado, não basta para a fazer existir. Portanto, definir Deus
desse modo não prova a sua existência.
O Problema do Mal
O Ónus da Prova
Deus existe ou não? A quem pertence o ónus da prova, isto é, quem tem de
apresentar provas? É o crente que tem de provar que Deus existe ou é o não
crente que tem de provar que Deus não existe?
Se o ónus da prova pertencer ao não crente, não basta a este mostrar que as
provas da existência de Deus não são boas. Ele terá de apresentar boas razões para
se crer que Deus não existe.
Se bem que em princípio, no que respeita à existência ou não existência de
Deus, o ónus da prova caiba ao crente, o não crente também pode argumentar
contra a existência de Deus. Um argumento frequentemente utilizado baseia-se na
invocação do problema do mal.
O Argumento/Problema do Mal
O problema do mal é o argumento utilizado pelos críticos da religião para
justificar a incompatibilidade entre a existência de Deus e a existência do mal, isto
é, das injustiças, do sofrimento e da dor que se verifica no mundo.
Dentro do mal, é usual distinguir-se entre mal moral e mal natural,
considerando-se que o mal moral é o mal provocado pelo homem, isto é, o mal
resultante do agir humano como, por exemplo, a mentira, o homicídio, a tortura, o
roubo, etc., enquanto o mal natural é, aquele que resulta de fenómenos naturais
como doenças, terramotos, inundações, etc.
Ora, será possível compatibilizar a existência do mal, seja do mal moral, seja
do mal natural com a existência de Deus, do Deus teísta.
Para que este problema se compreenda é preciso que se tenham presentes
três atributos essenciais de Deus: a omnisciência (Deus sabe tudo), a omnipotência
(Deus pode tudo aquilo que é logica e ontologicamente possível) e a absoluta
bondade (Deus é sumamente bom).
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De acordo com o argumento, é impossível conciliar a existência de um Deus
dotado destes três atributos com a existência do mal. Com efeito:
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livre-arbítrio e mal moral (ou, pelo menos, a possibilidade de este existir) é melhor
do que um mundo onde não houvesse livre-arbítrio nem mal moral.
Assim, portanto, a possibilidade do mal moral existe e Deus permite essa
existência, para que os homens possam ter livre-arbítrio e as suas escolhas possam
ser moralmente significativas. Ora, descobrindo-se com livre-arbítrio, o homem
pode escolher entre o bem e o mal. Infelizmente muitas pessoas, sem que Deus o
deseje, optam pela escolha do mal.
Assim, de acordo com esta perspetiva, se bem que possibilite a existência do
mal moral, Deus não o deseja, não é o seu autor nem o responsável pela sua
existência, mas sim o homem, através das más escolhas ou do mau uso que faz do
seu livre-arbítrio.
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seria necessário provar, por razões próprias e independentes que este é o melhor
mundo possível.
Perspetiva Fideísta
Para o fideísmo, tentar aceder a Deus pela via da razão é o mesmo que
procurar conhecer as cores através do sentido da audição. Num e noutro caso, a
metodologia utilizada não é a adequada ao fim que se pretende. Na verdade, se as
metodologias utilizadas nas ciências e na filosofia (a razão e as experiências) são
boas para o conhecimento dos fenómenos do mundo natural, são inadequadas para
o conhecimento do mundo sobrenatural. Esta é a perspetiva defendida pelo fideísmo,
para quem só a fé, e não a razão, permite o acesso a Deus.
A Perspetiva de Kierkegaard
Fideísta, Kierkegaard, para quem faz parte da natureza da fé crer sem
provas, não só distingue e separa os domínios da razão e da fé, como considera que
são entidades incompatíveis que, como tal, se excluem. Não faz sentido exigir provas
ou procurar argumentos a favor da existência de Deus, uma vez que ao fazer isso
perde-se aquilo que há de especial, aquilo que há de singular na vida religiosa e que
se prende com o sentimento, a experiência profunda, vivida e sentida, da fé.
Se houver boas razões, bons argumentos ou boas evidências a provar que
Deus existe, a fé não só é desnecessária como é impossível. É que, pela sua própria
natureza, a fé envolve sempre risco, o risco de acreditar numa divindade, quando
não há boas razões para pensar que ela existe.
Objeção
Há quem objete a esta perspetiva, que defende que ter fé implica acreditar
sem provas, porque é essa é a natureza da fé, dizendo que ela assenta numa falácia
(petição de princípio), uma vez que na sua base está o raciocínio circular seguinte:
É correto ter fé, porque é correto crer sem provas. Mas é correto
crer sem provas, porque é correto ter fé.
No fundo explica-se a premissa (é correto ter fé) pela conclusão (é correto crer
sem provas) e esta (é correto crer sem provas) por aquela (é correto ter fé).
A saída deste círculo vicioso implicaria mostrar de forma independente
porque é que “crer sem provas é em si mesmo correto”, uma vez que se ficasse
provado que o não é, então também não seria correto ter fé.
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A Aposta de Pascal
Fideísta, Pascal considera que numa situação de empate da razão quanto à
existência de Deus, é de todo conveniente acreditar que aquele existe. Com efeito,
tomando como referência o nosso destino após a morte:
Verifica-se, portanto, que se Deus não existir, sejamos ou não sejamos crentes,
nada de significativo temos a ganhar ou a perder. Por outro lado, se Deus existir e
não formos crentes, teremos tudo a perder, uma vez que Deus nos castigará pela
nossa incredulidade; mas se Deus existir e formos crentes, teremos tudo a ganhar,
uma vez que Deus nos haverá de recompensar pela nossa crença.
Assim, pesando os prós e os contras e numa análise de custo-benefício, Pascal
conclui que, independentemente existir ou não, o mais razoável é acreditar, pela via
da fé, que Deus existe.
Objeção
Há quem objete a este argumento refutando a ideia de que temos tudo a
perder caso não sejamos crentes e Deus exista. Esta ideia baseia-se na conceção de
um Deus justiceiro, implacável e vingativo, que castigará aqueles que não
acreditaram na sua existência, mesmo que tenham sido pessoas honestas bondosas, e
justas. Esta crença, acentuam, contradiz o princípio da absoluta bondade divina.
Alem disso, o que é que nos garante que Deus, ao contrário do que a aposta de
Pascal pretende, não castiga antes os crédulos, que acreditam de forma precipitada e
sem provas, e recompensa as pessoas cautelosas e sensatas que, na ausência de
provas e fazendo uso da sua capacidade racional, não acreditam?
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O Paradoxo da Pedra
(apresentado a título de curiosidade)
Pelo facto de ser frequentemente enunciado pelos alunos, com o pedido de que o
professor de filosofia se pronuncie sobre ele, faz sentido que, a título de curiosidade
se apresente o argumento da pedra, acompanhado de uma possível via de
abordagem crítica do mesmo. Deve dizer-se que o essencial desta apresentação tem
como base informação disponibilizada num Curso de Filosofia da Religião, ministrado
por Domingos Faria e Luís Veríssimo.
O paradoxo da pedra, que tem na sua base o atributo divino da omnipotência,
pode ser apresentado da seguinte maneira:
Ou Deus pode ou não pode criar uma pedra de tal modo pesada que
ele próprio não a consegue levantar.
Se Deus pode criar tal pedra, não é omnipotente (uma vez que não
pode levantar essa pedra).
Se Deus não pode criar tal pedra, não é omnipotente (uma vez que
não pode criar essa pedra).
Uma via de abordagem e de resposta a este argumento passa, como foi
sugerido por São Tomás de Aquino, pela revisão do conceito de omnipotência,
considerando-se que:
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O ser omnipotente não pode fazer nada que o faça perder a sua
omnipotência.
Criar uma pedra que ele próprio, ser omnipotente não possa levantar,
fá-lo perder a sua omnipotência.
Logo, o ser omnipotente, pelo facto de ser omnipotente, não pode criar
uma pedra que ele próprio não possa levantar.
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