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Suporte Básico de Vida Adulto

FICHA TÉCNICA

TÍTULO
Manual de Suporte Básico de Vida

AUTOR
INEM- Instituto Naional de Emergência Médica
DFEM - Departamento de Formação em Emergência Médica

DESIGN e PAGINAÇÃO
DFEM - Departamento de Formação em Emergência Médica

ILUSTRAÇÕES
e-mail:

CAPA
DFEM - Departamento de Formação em Emergência Médica

Versão 3.0 - 1ª Edição 2016


Revisão da versão 2.0 - 1ª Edição 2012

© copyright

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INDÍCE

I. INTRODUÇÃO 4

II. A CADEIA DE SOBREVIVÊNCIA 5

III. SUPORTE BÁSICO DE VIDA


1. Suporte Básico de Vida, adulto 7
2. Segurança e riscos para o reanimador 10
3. Compressões torácicas 11
4. Ventilação 12

IV. VENTILAÇÃO COM ADJUVANTE DA VIA AÉREA


1. Ventilação com máscara de bolso 13

V. POSIÇÃO LATERAL DE SEGURANÇA


1. Posição Lateral de Segurança 14

VI. DESOBSTRUÇÃO DA VIA AÉREA


1. Obstrução da Via Aérea 16
2. Algoritmo de desobstrução da via aérea 16

VII. 112: O NÚMERO EUROPEU DE EMERGÊNCIA 19

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I. INTRODUÇÃO

A paragem cardiorrespiratória (PCR) é um acontecimento súbito, constituindo-se como uma das


principais causas de morte na Europa e nos Estados Unidos da América. Afeta entre 55 a 113 pessoas
/100,000 habitantes, estimando-se entre 350,000-700,000 indivíduos afetados por ano só na Europa.
A análise efetuada aos equipamentos de DAE (Desfibrilhação Automática Externa) utilizados logo
após uma paragem cardíaca, indica uma elevada percentagem (76%) de vítimas com um incidente
arrítmico (Fibrilhação Ventricular) na base das situações de Paragem Cárdio Respiratória.
Desta análise, pode concluir-se que a rápida atuação de quem presencia a PCR é fundamental neste
momento crítico, sendo que a atuação para a resolução da situação deverá ser enquadrada pela
designada Cadeia de Sobrevivência (CS).
A Cadeia de Sobrevivência (Fig. 1) interliga os diferentes elos, que se assumem como vitais, para o
sucesso da reanimação: reconhecimento precoce e pedido de ajuda; Suporte Básico de Vida precoce;
Desfibrilhação precoce; Suporte Avançado de Vida precoce e Cuidados pós-reanimação. Apesar de
implementada há cerca de 25 anos, a Cadeia de Sobrevivência continua atual.

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II. A CADEIA DE SOBREVIVÊNCIA

Fig. 1 - Cadeia de Sobrevivência

Reconhecimento precoce - Ligar 112 Desfibrilhação precoce - Desfibrilhar

Chamar os serviços de emergência, previamente Na maioria dos casos de PCR o coração pára
à eventual ocorrência de uma PCR, aumenta a devido a uma perturbação do ritmo designada
probabilidade de sobrevivência da vítima. fibrilhação ventricular (FV). O único tratamento
O rápido reconhecimento de um enfarte ou de eficaz para a FV é a administração de um choque
uma PCR é um fator fundamental para a ativação elétrico (desfibrilhação).
dos SE e para o rápido início de manobras de Cada minuto de atraso na desfibrilhação reduz a
Suporte Básico de Vida. probabilidade de sobrevivência entre 10 a 12%,
O número europeu de emergência nos países da sendo que nos casos em que o SBV é realizado o
união europeia é o 112. Em Portugal, ao ligar 112, declínio da taxa de sobrevivência é mais gradual.
a resposta na área da saúde é assegurada pelos
Centros de Orientação de Doentes Urgentes
(CODU), do Instituto Nacional de Emergência Suporte Avançado de Vida (SAV) precoce e
Médica (INEM) - para mais informações, vide cuidados pós-reanimação - Estabilizar
página 19. O suporte avançado de vida (SAV) com recurso à
abordagem diferenciada da via aérea, utilização
de fármacos e correção das causas prováveis de
Suporte Básico de Vida (SBV) precoce - Reanimar PCR, são ações fundamentais após a abordagem
inicial da PCR.
O SBV consiste em duas ações principais: A qualidade dos cuidados pós-reanimação está
compressões torácicas e ventilações. O início diretamente relacionada com a qualidade de
imediato de manobras de SBV pode, pelo menos, vida pós evento de PCR.
duplicar as hipóteses de sobrevivência da vítima.
Quem presencia um evento de PCR deve,
quando treinado, iniciar de imediato manobras Leigos e o Suporte Básico de Vida
de SBV, enquanto aguarda a chegada dos SE.
Caso não exista treino prévio deve o Centro de Entenda-se para o efeito que se considera leigo
Orientação de Doentes Urgentes (CODU) instruir o individuo que presencia e / ou deteta uma PCR
telefonicamente a realização de compressões e que não tem formação em SBV.
torácicas até à chegada dos serviços de Está demonstrado que no intervalo de tempo
emergência. que decorre entre a ativação e a chegada dos
Na grande parte dos casos o SBV não irá serviços de emergência ao local da ocorrência,
recuperar a função cardíaca mas, se bem a execução de manobras de reanimação
realizado, prevenirá lesões de órgãos vitais e assume uma importância fundamental. O
aumentará a probabilidade de sucesso dos elos reconhecimento da PCR refere-se a uma
seguintes. situação em que a vítima está não reativa (não
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responde quando estimulada) e não respira


normalmente, pelo que devem ser iniciadas de
imediato manobras de reanimação logo após
ter sido efetuada a chamada para os serviços de
emergência.
Sem treino em reanimação, o elemento que
assiste a vítima deve realizar compressões
torácicas contínuas, devendo para o efeito ser
instruído pelo Centro de Orientação de Doentes
Urgentes (CODU).

SBV e o Papel do CODU

O CODU desempenha um papel importante


no reconhecimento da PCR, bem como na
instrução e acompanhamento das manobras de
reanimação.
No reconhecimento da vítima em PCR devem
ser identificadas vitimas não reativas e que
não respiram normalmente. Alerta-se para o
facto da respiração agónica, frequentemente
presente nos minutos iniciais da PCR, ser uma
respiração não eficaz, mais lenta e profunda com
som característico tipo ronco.
O envolvimento nas manobras de reanimação
de quem presencia ou deteta a PCR, antecipa
o início do SBV e tem influência no desfecho da
situação. Assim sendo, o CODU deve garantir a
instrução e acompanhamento das manobras
de reanimação via telefone no formato de
compressões torácicas contínuas.

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III. SUPORTE BÁSICO DE VIDA, Avaliar as condições de segurança: reanimador,
ADULTO vítima e terceiros.

Aproximar-se da vítima com cuidado, garantindo


Tendo por base as recomendações “European que não existe perigo para si, para a vítima ou
Resuscitation Council 2015”, a sequência de para terceiros (atenção a perigos como por
ações que compõem o algoritmo de SBV baseia- exemplo: tráfego, eletricidade, gás ou outros).
se na simplificação de procedimentos, focando-
se nos momentos considerados críticos.
O algoritmo apresenta-se assim de forma lógica Avaliar o estado de consciência.
e concisa, tornando-se fácil a qualquer elemento
a sua apreensão e desempenho. Coloque-se lateralmente à vítima, se possível.
Mantém-se o reforço na garantia das condições Abanar os ombros com cuidado e perguntar em
de segurança do reanimador e da vítima. voz alta: “Sente-se bem?”.
Reconhece-se igualmente que a avaliação da
reatividade da vítima, permeabilização da via
aérea, avaliação da ventilação e contacto para os
serviços de emergência, devem ser executados
numa breve sucessão.
Salienta-se ainda que a presença de outros
elementos no local deve ser utilizada para
contactar os serviços de emergência. Se estiver
sozinho, o desejável é que não abandone nem
atrase o auxílio à vítima, podendo utilizar o Fig. 3 - Avaliar o estado de consciência
sistema de alta voz de um dispositivo de rede
móvel.

No caso de vítima reativa:

• Garanta a inexistência de perigo para a vítima;


• Mantenha-a na posição encontrada;
• Identifique situações causadoras da aparente
alteração do estado da vítima;
• Solicite ajuda (ligue 112), se necessário;
• Reavalie com regularidade.

Permeabilizar a Via Aérea (VA)

Em vítima inconsciente a queda da língua


pode bloquear a VA, pelo que esta deve ser
permeabilizada:
• Coloque a vítima em decúbito dorsal;
• Realize a extensão da cabeça e elevação
Fig. 2 - Algoritmo de Suporte Básico de Vida
do maxilar inferior. Esta manobra projeta a língua
para a frente.
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Fig. 5 - Avaliar a respiração.

Nota:
• Nos primeiros minutos após a PCR, a vítima
pode ainda apresentar respirações lentas,
Fig. 4 - Permeabilização da via aérea. ruidosas e irregulares. A respiração com estas
características, não deve ser confundida com
respiração normal para a vítima.
Se tiver ocorrido trauma ou suspeita de trauma, • Caso exista dúvida na “normalidade” da
devem ser tomadas medidas para proteção respiração, deve atuar como se a respiração
da coluna da vítima e não deve ser realizada a estivesse ausente.
extensão da cabeça. Como alternativa, deverá
ser realizada a protusão (subluxação) da Se a vítima respira normalmente colocar em
mandíbula (requer um reanimador à cabeça Posição Lateral de Segurança (PLS)
para estabilização/controlo da coluna cervical e
manutenção da VA permeável).

Para efetuar a protusão da mandíbula:


• Identificar o ângulo da mandíbula com o dedo
indicador;
• Com os outros dedos colocados atrás do
ângulo da mandíbula, aplicar uma pressão
mantida para cima e para frente de modo a Fig. 6 - Posição LAteral de Segurança.
levantar o maxilar inferior;
• Usando os polegares, abrir ligeiramente a
boca através da deslocação do mento para
baixo. Ligar 112
Se a vítima não responde e não tem respiração
normal ative de imediato o serviço de emergência
médica, ligando 112.

Avaliar Respiração

Mantendo a VA permeável, verificar se a vítima


respira normalmente, realizando o VO S até
10 segundos:
• Ver os movimentos torácicos;
• Ouvir os sons respiratórios saídos da boca/
nariz;
• Sentir o ar expirado na face do reanimador. Fig. 7 - Ligar 112.

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• Reanimador único: se necessário abandone Realizar Ventilações
a vítima/local; equacione utilizar telefone
móvel em alta voz; Após 30 compressões efetuar 2 ventilações.
• Se estiver alguém junto a si, deve pedir a essa A ventilação quando eficaz provoca elevação
pessoa que ligue 112; do tórax (semelhante à respiração normal),
• Se CRIANÇA ou vítima de afogamento devendo ter a duração de apenas 1 segundo.
(qualquer idade) só deve ligar 112 após 1 Evitar ventilações rápidas e forçadas.
minuto de SBV.

Após ligar 112


• Se DAE disponível, ligue-o e siga as indicações
do DAE;
• Se não há DAE disponível inicie SBV.

Realizar Compressões Torácicas

Posicione-se ao lado da vítima.


Realize 30 compressões deprimindo o esterno
5-6 cm a uma frequência de pelo menos 100 por Fig. 9 - Ventilação Boca-a-Boca.
minuto e não mais que 120 por minuto.
Nota:
Se não se sentir capaz ou tiver relutância em fazer
ventilações, faça apenas compressões torácicas.

Se apenas fizer compressões, estas devem ser


contínuas, cerca de 100 - 120 por minuto (não
existindo momentos de pausa entre cada 30
compressões).

Fig. 8 - Compressões Torácicas.


Manter SBV

Manter 30 compressões alternando com 2


ventilações.
É raro reanimar a vítima (entenda-se presença
de sinais de circulação) apenas com manobras
de SBV.
Caso não tenha a certeza que a vítima recuperou,
mantenha SBV.
Mantenha as manobras de reanimação até:

• A vítima retomar sinais de vida;


• Chegar ajuda diferenciada;
• Em caso de exaustão do reanimador

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Acidente de viação
Se pára numa estrada para socorrer alguém
vítima de um acidente de viação deve:

• Posicionar o seu carro para que este o proteja


funcionando como escudo, isto é, antes do
acidente no sentido em que este ocorreu;
• Sinalizar o local com triângulo de sinalização à
distância adequada;
• Ligar as luzes de presença ou emergência;
• Usar roupa clara para que possa mais
facilmente ser identificado;
• Desligar o motor para diminuir a probabilidade
de incêndio.

Produtos químicos ou matérias perigosas


2. SEGURANÇA E RISCOS PARA O REANIMADOR No caso de detetar a presença desses produtos
e/ou matérias é fundamental evitar o contacto
com essas substâncias sem as devidas medidas
Por vezes, o desejo de ajudar alguém que nos de proteção universais (ex. luvas, máscara) e
parece estar em perigo de vida pode levar a evitar a inalação de eventuais vapores libertados
ignorar os riscos inerentes à situação. Se não pelas mesmas.
forem garantidas as condições de segurança
antes de se abordar uma vítima poderá, em
casos extremos, ocorrer a morte da vítima e do Intoxicações
reanimador. Nas situações em que a vítima sofre uma
intoxicação podem existir riscos acrescidos
Sendo a segurança a primeira condição na para quem socorre, nomeadamente no caso de
abordagem da vítima, a mesma deve ser intoxicação por fumos ou gases tóxicos. Para o
garantida antes de iniciar essa abordagem e ao socorro da vítima de intoxicação é importante
longo de todo o processo: não deverá expor- identificar o produto em causa e a sua forma
se a si nem a terceiros, a riscos que possam de apresentação (em pó, líquida ou gasosa)
comprometer a sua integridade física enquanto e contactar o CODU ou o CIAV (Centro de
reanimador. Informação Antivenenos) para uma informação
A tipologia de riscos que aqui é apresentada é especializada, nomeadamente quanto aos
extensível a outros momentos de interação com procedimentos a adotar. Em caso de intoxicação
as vítimas. por produtos gasosos é fundamental não se
Antes de se aproximar de alguém que possa expor aos vapores libertados, que nunca devem
eventualmente estar em perigo de vida, o ser inalados. O local onde a vítima se encontra
reanimador deve assegurar-se primeiro que não deverá ser arejado ou, na impossibilidade de o
irá correr nenhum risco: conseguir, a vítima deverá ser retirada do local.

• Ambiental (ex. choque elétrico, derrocadas, Nas situações em que o tóxico é corrosivo
explosão, tráfego); (ácidos ou bases fortes) ou em que possa ser
• Toxicológico (ex. exposição a gás, fumo, absorvido pela pele, como alguns pesticidas, é
tóxicos); mandatório, além de arejar o local, usar luvas e
• Infeccioso (ex. tuberculose, hepatite). roupa de proteção para evitar qualquer contato
com o produto, bem como máscaras para evitar
a inalação.

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Se houver necessidade de ventilar a vítima com De modo a realizar corretamente compressões
ar expirado deverá ser sempre usada máscara torácicas num adulto deverá:
ou outro dispositivo com válvula unidireccional, • Posicionar-se ao lado da vítima;
para não expor o reanimador ao ar expirado
• Certificar-se que a vítima está deitada de
da vítima. Nunca efetuar ventilação boca-a-
boca. costas, sobre uma superfície firme e plana;
• Afastar/remover as roupas que cobrem o
tórax da vítima;
Transmissão de doenças
• Posicionar-se verticalmente acima do tórax
A possibilidade de transmissão de doenças
durante as manobras de reanimação, apesar de da vítima;
diminuta, é real. Estão descritos alguns casos de • Colocar a base de uma mão no centro do
transmissão de infeções durante a realização de tórax;
ventilação boca-a-boca (nomeadamente casos
• Colocar a outra mão sobre a primeira
de tuberculose). No entanto, nem um único
caso de Hepatite B ou vírus da imunodeficiência entrelaçando os dedos;
humana (VIH) foi registado/declarado como • Braços e cotovelos esticados, com os ombros
resultado da realização de manobras de SBV. na direção das mãos;
O risco aumenta se houver contato com sangue
• Aplicar compressão sobre o esterno,
infetado ou com uma superfície cutânea com
soluções de continuidade (feridas). Durante a deprimindo o esterno 5-6 cm a cada
reanimação deve evitar o contacto com sangue compressão (as compressões torácicas superficiais
ou outros fluidos corporais como: secreções podem não produzir um fluxo sanguíneo adequado);
respiratórias, secreções nasais, suor, lágrimas,
• No final de cada compressão garantir a re-
vómito e outros. O dispositivo “barreira” mais
utilizado é a máscara facial (máscara de bolso e/ expansão total do tórax, aliviando toda a
ou insuflador manual), devendo existir o cuidado pressão sem remover as mãos do tórax (o
de minimizar as pausas das compressões ao retorno completo da parede torácica permite que
mínimo indispensável, aquando da sua utilização.
mais sangue encha o coração entre as compressões

3. COMPRESSÕES TORÁCICAS torácicas);


• Aplicar compressões de forma rítmica a uma
No decurso da PCR o sangue que se encontra frequência de pelo menos 100 por minuto,
retido nos pulmões e no sistema arterial
mas não mais do que 120 por minuto (ajuda
permanece oxigenado por alguns minutos. São
as compressões torácicas que mantêm o fluxo se contar as compressões em voz alta);
de sangue para o coração, o cérebro e outros • Nunca interromper as compressões mais que
órgãos vitais, pelo que é prioritário o início 10 segundos (com o coração parado, quando não se
de compressões torácicas, ao invés de iniciar
comprime o tórax, o sangue não circula).
ventilações.

Fig. 10 - Compressões torácicas.

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Fig. 11 - Ventilação boca-a-boca.


Para ventilar adequadamente uma vítima adulta:

• Posicionar-se ao lado da vítima;


4. VENTILAÇÃO • Permeabilizar a VA. A posição incorreta da
cabeça pode impedir a ventilação adequada
por obstrução da via aérea (OVA):
Numa situação de paragem cardiorrespiratória • Colocar uma mão na testa da vítima e
a necessidade de assistência ventilatória não é empurrar com a palma da mão, inclinando a
prioritária devido à presença de sangue ainda cabeça para trás (extensão da cabeça);
oxigenado no sistema circulatório. • Colocar os dedos da outra mão por baixo da
Contudo, na presença de um reanimador parte óssea da mandíbula, perto do queixo
treinado, e desde que seja possível, advoga- (a pressão excessiva nos tecidos moles por
se a realização de compressões torácicas e baixo do queixo podem obstruir a VA);
ventilações como manobras de reanimação. • Elevar a mandíbula, levantando o queixo da
Alerta-se para o risco diminuído, mas presente, vítima (Atenção: não feche a boca da vítima!);
na realização das ventilações com recurso ao • Aplicar 2 ventilações na vítima, mantendo a
método de “boca- a- boca”. Em alternativa e VA permeável:
desde que possível, deve ser considerada a • Com a mão na testa da vítima comprimir as
utilização de outras técnicas que garantam a narinas;
assistência ventilatória da vítima. • Respirar normalmente e selar os lábios ao
redor da boca da vítima;
Na impossibilidade de utilizar um adjuvante • Aplicar 1 ventilação (soprar por 1 segundo;
da via aérea (máscara de bolso ou insuflador esta duração maximiza a quantidade de
manual), a ventilação “boca a boca” é uma oxigénio que chega aos pulmões, com
maneira rápida e eficaz de fornecer oxigénio à menor probabilidade de distensão gástrica),
vítima. O ar exalado pelo reanimador contém observando se visualiza a elevação do tórax
aproximadamente 17% de oxigénio e 4% de da vítima. Cada ventilação deve ser suficiente
dióxido de carbono, o que é suficiente para para provocar elevação do tórax como numa
suprir as necessidades da vítima. respiração normal (se o tórax não se elevar,
corrigir as manobras de permeabilização da
VA);
• Aplicar uma segunda ventilação, observando
se existe elevação do tórax;
• Caso uma ou ambas as tentativas de ventilação
se revelem ineficazes, deve avançar de
imediato para as compressões torácicas.

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IV. VENTILAÇÃO COM
ADJUVANTE DA VIA AÉREA

1. VENTILAÇÃO COM MÁSCARA DE BOLSO



Uma máscara de bolso pode ser utilizada por
leigos, com treino mínimo na realização de
ventilações, durante o SBV. Este dispositivo
adapta-se à face da vítima, sobre o nariz e
boca e possui uma válvula unidirecional que
desvia do reanimador o ar expirado da vítima.

Um reanimador único deve aproximar-se da


vítima de lado. Isto irá permitir uma troca fácil
entre ventilações e compressões torácicas.

1. Colocar a máscara sobre o nariz e boca
da vítima (a parte mais estreita da máscara
de bolso deverá ficar sobre o dorso do nariz;
a parte mais larga da máscara deverá ficar
sobre a boca);
2. Colocar o polegar e o indicador na parte
mais estreita da máscara;
3. Colocar o polegar da outra mão a meio
da parte mais larga da máscara e usar os
outros dedos para elevar o queixo da vítima,
criando uma selagem hermética;
4. Soprar suavemente pela válvula
unidirecional durante cerca de 1 segundo
(por cada ventilação), por forma a que o tórax
da vítima se eleve;
5. Retirar a boca da válvula da máscara
após ventilar.

Fig. 12 - Ventilação boca-máscara.

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V. POSIÇÃO LATERAL DE
SEGURANÇA
TÉCNICA PARA COLOCAR UMA VÍTIMA EM PLS
1. POSIÇÃO LATERAL DE SEGURANÇA (PLS)
Ajoelhar-se ao lado da vítima
Nas situações em que a vítima se encontra não • Remover corpos estranhos do corpo da
reativa e com respiração eficaz, ou se tiverem vítima, os quais ao posicioná-la possam
sido restaurados os sinais de circulação após eventualmente causar lesões (ex: óculos,
manobras de reanimação, a manutenção canetas);
da permeabilidade da via aérea deverá ser • Assegurar-se que as pernas da vítima estão
obrigatoriamente garantida. estendidas;
A PLS garante a manutenção da permeabilidade
da via aérea, diminuindo o risco de aspiração,
e não se demonstrando riscos associados à sua
utilização.
Este posicionamento da vítima está
contraindicado em situações de trauma ou
suspeitas de trauma, bem como em vítimas que
apresentem respiração agónica.

Se ao abordar a vítima ela:

Responde
• Deixe-a como encontrou
• Procure quaisquer alterações • Colocar o braço mais perto (do seu lado) em
• Solicite ajuda (ligue 112) ângulo reto com o corpo, e com o cotovelo
• Reavalie-a regularmente dobrado e a palma da mão virada para cima;

Estiver inconsciente e a respirar normalmente


• Coloque-a em PLS.
A PLS mantém a permeabilidade da VA numa
vítima inconsciente que respira normalmente.
Previne que a queda da língua obstrua a VA e
permite a drenagem de fluidos pela boca.

• Segurar o outro braço (mais afastado)


cruzando o tórax e fixe o dorso da mão na
face do seu lado.

14 | I N E M
Se trauma ou suspeita de trauma
Reafirma-se uma vez mais a contraindicação da
PLS no trauma ou na sua suspeita.
• Com a outra mão levantar a perna do lado
A proteção da coluna por via do seu alinhamento
oposto acima do joelho dobrando-a, deixando
é fundamental nestas situações e deve acontecer
o pé em contato com o chão;
antes da vítima ser mobilizada.

A mobilização da vítima, por sua vez, só deve


acontecer se for imprescindível e nas seguintes
situações:
• Não for possível manter a VA permeável;
• Se o local não for seguro;
• Se não conseguir realizar SBV na vítima.

Nestes casos, dentro do possível, é necessário


proteger a coluna da vítima para rodar o seu
corpo.
• Rolar a vítima;
• Enquanto uma mão apoia a cabeça a outra
puxa a perna do lado oposto rolando a vítima
para o seu lado;
• Estabilizar a perna de forma a que a anca e o
joelho formem ângulos retos;
• Efetuar a inclinação da cabeça para trás
assegurando a permeabilidade da VA;
• Ajustar a mão debaixo do queixo, para manter
a extensão;

Fig. 13 Posição Lateral de Segurança.

• Reavaliar regularmente a respiração (na dúvida


desfazer a PLS, permeabilizar a VA e efetuar VOS
até 10 segundos).

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VI. DESOBSTRUÇÃO DA VIA


AÉREA

1. OBSTRUÇÃO DA VIA AÉREA (OVA)

A obstrução da via aérea por corpo estranho


é pouco frequente, mas constitui-se como
uma causa de PCR acidental potencialmente
reversível. Normalmente associada à
alimentação e comumente presenciada, as
vítimas apresentam-se inicialmente conscientes
e reativas, pelo que as oportunidades de
intervenção precoce podem de forma mais fácil
2. ALGORITMO DE DESOBSTRUÇÃO DA VIA
resolver a situação.
AÉREA: ADULTO E CRIANÇA
(COM MAIS DE 1 ANO DE IDADE)
O reconhecimento precoce da obstrução da via
aérea é fundamental para o sucesso da evolução
O algoritmo que a seguir se descreve pode ser
da situação de emergência. É importante
aplicado a crianças com mais de 1 ano de idade.
distinguir esta situação de emergência do
Alerta-se para o facto de que apesar do sucesso
desmaio/síncope, do “ataque cardíaco” (enfarte
das manobras, o corpo estranho responsável
agudo do miocárdio), das convulsões, da
pela obstrução pode ficar alojado nas vias
overdose por drogas e de outras condições que
aéreas e causar complicações mais tarde. Como
possam causar dificuldade respiratória súbita,
tal, vitimas com tosse persistente, dificuldade
mas que requerem um tratamento diferente.
em engolir ou sensação de corpo estranho ainda
O reanimador treinado deve identificar
presente nas vias aéreas devem ser submetidas
sinais de obstrução da VA.
a observação médica.
O risco de OVA é mais elevado em vitimas que
As compressões abdominais e as compressões
apresentem algumas das seguintes situações:
torácicas quando aplicadas, pese embora o
redução do nível de consciência, intoxicação
sucesso que resulte das mesmas, podem causar
por álcool e /ou drogas, alterações neurológicas
lesões internas. Assim sendo, vítimas submetidas
com dificuldades de deglutição e diminuição do
a estas manobras devem igualmente ser sujeitas
reflexo da tosse, alterações mentais, demência,
a observação médica.
dentição inexistente e idosos.

Podemos classificar a OVA quanto à gravidade:

LIGEIRA: vítima reativa, capaz de falar, tossir


e respirar; eventual ruído respiratório na
inspiração; mantém reflexo da tosse eficaz.

GRAVE: Vítima incapaz de falar ou chorar (no


caso de um lactente). Tosse fraca/ineficaz ou
ausente. Respiração em ”esforço” com ruído
agudo alto à inspiração ou ausência total de
ruído. Incapacidade de movimentar o ar (trocas
gasosas ineficazes ou ausentes). Cianose. Agarra
pescoço com as mãos (sinal universal de asfixia).

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PANCADAS INTER-ESCAPULARES COMPRESSÕES ABDOMINAIS

• Coloque-se ao lado e ligeiramente por detrás As compressões abdominais devem ser aplicadas
da vítima, com uma das pernas encostadas no caso das pancadas inter-escapulares não
de modo a ter apoio; serem eficazes.
• Passe o braço por baixo da axila da vítima
e suporte-a a nível do tórax com uma mão, Com a vítima de pé ou sentada
mantendo-a inclinada para a frente, numa
posição tal que se algum objeto for deslocado • Fique por detrás da vítima e circunde o
com as pancadas possa sair livremente pela abdómen da mesma com os seus braços;
boca; • Incline a vítima para a frente;
• Aplique até 5 pancadas com a base da outra • Feche o punho de uma mão e posicione o
mão, na parte superior das costas, ao meio, punho acima da cicatriz umbilical, com o
entre as omoplatas, isto é, na região inter- polegar voltado contra o abdómen da vítima;
escapular; • Sobreponha a 2ª mão à já aplicada;
• Cada pancada deverá ser efetuada com a • Aplique uma compressão rápida para dentro
força adequada tendo como objetivo resolver e para cima;
a obstrução;
• Repita as compressões até que o objeto seja
• Após cada pancada deve verificar se a expelido da VA;
obstrução foi ou não resolvida, aplicando até
5 pancadas no total. • Aplique cada nova compressão (até 5) como
um movimento separado e distinto.

Fig. 14 - Pancadas inter-escapulares. Fig. 15 - Compressões abdominais.

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Suporte Básico de Vida Adulto

VÍTIMA INCONSCIENTE POR OVA GRAVE



No caso de a vítima ficar inconsciente ou não
reativa, as compressões torácicas devem ser
iniciadas logo que possível. A realização de
compressões torácicas resulta no aumento
da pressão da via aérea, tal como com as
compressões abdominais, traduzindo-se numa
forma eficaz de promover a desobstrução da via
aérea.

Assim:
• Suporte / ampare a vítima colocando-a no
chão em decúbito dorsal sobre superfície
rígida;
• Ligue de imediato 112, ou garanta que alguém
o faça;
• Inicie compressões torácicas e ventilações
(após 30 compressões, tente 2 ventilações
eficazes)
• Mantenha compressões e ventilações até a
vítima recuperar e respirar normalmente.

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 VII. 112 Ao ligar 112:
O NÚMERO EUROPEU DE EMERGÊNCIA
• Procure manter-se calmo, de modo a facultar
Criado em 1991, o número universal de informação relevante;
emergência nos países da união europeia é o • Quando possível, deverá ser a vítima a fazer a
112; não precisa de indicativo, é gratuito e pode chamada – ninguém melhor do que a própria
ser marcado a partir de dispositivos das redes para fornecer informação relevante;
fixa (incluindo telefones públicos) ou móvel,
• Aguarde que a chamada seja atendida, cada
tendo prioridade sobre as outras chamadas.
nova tentativa implica que a chamada fica no
Deve ligar 112 quando presenciar uma das
final da fila de espera;
seguintes situações: doença súbita, acidente de
viação com feridos, incêndio, roubo/destruição • Identifique-se pelo nome;
de propriedade, agressão. • Faculte um contacto telefónico que
Em Portugal, ao ligar 112, a chamada é atendida permaneça contactável;
numa Central de Emergência da Polícia de
Segurança Pública (PSP); deverá informar qual • Diga o que aconteceu e quando – O quê?;
o tipo de ocorrência: doença súbita/acidente • Indique a localização exata (sempre que
com feridos, situação que requeira autoridade possível Freguesia, Código Postal, pontos de
(assalto) ou que necessite da intervenção referência) – Onde?;
de bombeiros (incêndio); após facultar esta
• Quem está envolvido (número, género, idade
informação a sua chamada será transferida,
das vítimas) – Quem?;
respetivamente, para os Centros de Orientação
de Doentes Urgentes (CODU) do Instituto • Diga quais as queixas principais, o que
Nacional de Emergência Médica (INEM), para observa, situações que exijam outros meios
um Agente da Autoridade ou para o Comando – Como?;
Distrital de Operações de Socorro (CDOS)/ • Responda às questões que lhe são colocadas;
Bombeiros.
• Siga os conselhos do operador;
• Não desligue até indicação do operador;
• Se a situação mudar antes da chegada
dos meios de socorro, ligue novamente 112.

Só assim é possível otimizar o socorro às vítimas.

Lembre-se
”A Emergência Médica começa em si”

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