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Interseccionalidades 2.0
Interseccionalidades 2.0
Com o passar dos anos, surgiu a emergência de teorizar e discutir a multiplicidade de diferenças que
articulam com o gênero, como por exemplo raça, nacionalidade, classe social, religião, entre outras,
essas são as categorias de articulação ou interseccionalidades, e o seu estudo busca compreender
como essas categorias se articulam entre si.
No final da década de 80, começou-se uma produção e publicação de textos críticos sobre o gênero,
como por exemplo o “Problemas de gênero - feminismo e subversão da identidade” de Judith Butler,
que questionou as primeiras formulações de gênero, onde existia uma cisão entre sexo biológico e
gênero, no livro a autora desconstrói essa diferença, apontando a influência dos pressupostos de
gênero na própria formulação biológica, já que elas também estão inseridas em um contexto
histórico, trabalhando junto com a ideia essencialista da formulação de gênero. A autora também
busca descontruir as noções estáticas de sexualidade e gênero, propondo uma visão fluída dos
mesmos e aponta o caráter performático da expressão de nossas identidades.
Inseridos num contexto de hierarquia de gênero, a imposição de uma série de características ligados
ao binário de gênero, feminino e masculino, designados de acordo com o órgão “sexual” biológico,
tiveram um papel fundamental para manter as desigualdades de gênero, seguidos por uma
imposição da heterossexualidade compulsória, fazendo com que todos que transgredissem essas
normas fossem gravemente oprimidos.
Também temos a corrente feminista que foca na articulação entre raça e gênero, denunciando a
exclusão das mulheres negras e não brancas, da segunda onda feminista, como por exemplo de
Angela Davis, bell hooks, Patrícia Hill Collins, Audre Lorde, entre outras. No livro “Imagens de
controle” de Patricia Hill Collins, a autora discorre sobre as imagens de controle que surgiram na
época da escravidão, como por exemplo as imagens de “mammy” e “jezebel”, que aqui no Brasil
podem ser traduzidas como a imagem da mãe preta, que é a figura da babá/empregada e a figura da
mulata, da mulher negra hipersexualizada.
*** Fato curioso sobre Harriet Mcdaniel que interpretou “Mammy” no filme “E o vento levou”, a
atriz que foi a primeira mulher negra a ganhar o oscar de atriz coadjuvante foi barrada na
premiação, e ainda sofreu represálias pelo movimento negro por interpretar um papel esteriotipado,
tal qual a atriz brasileira Zezé Motta, que sofreu duras critícas por interpretar o papel de Xica da
Silva, um papel que usava do esteriótipo de “Jezebel”. É interessante pontuar que essas críticas
foram direcionadas e muito mais pautadas às atrizes que interpretaram os determinados papéis e
não aos roteiristas e diretores das respectivas obras cinematográficas.**
Apontando o viés masculinista do movimento negro, a autora discorre sobre a sensação de não
pertencimento tanto no movimento negro, quanto no movimento feminista, assim enfatizando a
necessidade das mulheres negras por um estudo feminista negro, produzido por mulheres negras
buscando teorizar e buscar soluções para as suas pautas.
Todas essas intersecções não podem ser hierarquizadas nos termos de alguma condição primária de
opressão, a proposta é trabalhar com essas categorias para analisar e aprender como essas múltiplas
diferenças e desigualdades articulam-se entre si em contextos específicos.