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Revista Galileu - Edição 363 - Junho de 2022
Revista Galileu - Edição 363 - Junho de 2022
ESTUDAM AS
ORIGENS DA
INTOLERÂNCIA
RELIGIOSA
A CERIMÔNIA DE
POVOS INDÍGENAS
DO XINGU QUE
HOMENAGEIA OS
A CIÊNCIA AJUDA VOCÊ A MUDAR O MUNDO ED.363 JUNHO DE 2022 MORTOS
À ESPREITA
SARAMPO, MENINGITE,
POLIOMIELITE: DOENÇAS
IMUNOPREVENÍVEIS
AMEAÇAM VOLTAR COM
TUDO DEVIDO ÀS BAIXAS
TAXAS DE VACINAÇÃO.
O QUE DEU ERRADO?
COMPOSIÇÃO
JUNHO DE 2022
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CAPA
OS RISCOS DA
BAIXA COBERTURA
VACINAL NO BRASIL
E NO MUNDO
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SOCIEDADE 52
PRECONCEITO CULTURA
À ESPREITA
PROTEÇÃO EM QUEDA
A história das vacinas remonta ao século 18, quando o médico bri-
tânico Edward Jenner desenvolveu um imunizante contra a varíola.
Altamente contagiosa, a doença viral que provoca febre, vômitos
e lesões cutâneas assolou a humanidade em diferentes períodos.
Especula-se que essa tenha sido a causa de uma epidemia miste-
riosa que matou um terço da população de Atenas em 430 a.C., e
há registros da doença em múmias egípcias do século 3. Na Ingla-
terra de três séculos atrás, era a responsável por 10% das mortes
— até o início do experimento de Jenner.
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SEQUÊNCIA DE ERROS
O primeiro ponto que explica os atuais índices vacinais é a de-
sinformação. Tal qual os rebeldes de 1904, que se recusaram a
tomar a vacina simplesmente por não entenderem como ela fun-
cionava, o ano 2000 viu ressurgir movimentos que espalham in-
formações incorretas sobre os imunizantes. O caso mais emble-
mático foi o do médico britânico Andrew Wakefield, que em 1998
publicou um artigo usando dados falsos para associar a tríplice
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PANORAMA DA VACINAÇÃO
CONHEÇA AS DOENÇAS PARA AS QUAIS O PLANO NACIONAL DE IMUNZAÇÕES (PNI) PREVÊ
VACINAS E A SITUAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA DE CADA UMA DELAS NO BRASIL
ENTREVISTA
“Se Mozart
estivesse vivo,
talvez não
tivesse tempo
para escrever
concertos”
A
A humanidade nunca alcançou tamanho nível de ri-
queza. Ao mesmo tempo, temos a impressão de que
trabalhamos cada vez mais e que estamos sempre
estressados. Entender esse dilema sob uma perspectiva
histórica foi o que levou o antropólogo sul-africano James
Suzman a escrever Trabalho: uma história de como utiliza-
mos nosso tempo. Publicado em 2020, o livro foi lançado no
Brasil em maio pela editora Vestígio.
NOSÚLTIMOSANOS,VIMOSMUITOSDIREITOSTRABALHISTASSEN-
DO DESMANTELADOS NO BRASIL, LEVANDO AS PESSOAS À ECONO-
MIA INFORMAL. E ISSO TAMBÉM ACONTECEU DE FORMA ACENTUA-
DA COM A PANDEMIA, EM QUE MUITOS FICARAM DESEMPREGADOS
E OS TRABALHOS TRADICIONAIS FORAM PERDIDOS. QUAL A IM-
PORTÂNCIA DOS DIREITOS TRABALHISTAS PARA MANTERMOS UMA
ABORDAGEM SAUDÁVEL EM RELAÇÃO AO TRABALHO?
O ator Demerson
D’alvaro representou
Exu no desfile da
Acadêmicos do Grande
Rio, no Carnaval de
HISTÓRIA DE
2022 no Rio de Janeiro.
A escola venceu no
grupo especial.
(Fotos: Getty Images)
INTOLERÂNCIA
PESQUISADORES BRASILEIROS SE
DEDICAM A ENTENDER AS RAÍZES
DO PRECONCEITO RELIGIOSO, QUE
PERSEGUE E AMEAÇA HÁ SÉCULOS
SOBRETUDO CRENÇAS NÃO CRISTÃS
E
Era uma vez um bebê que, de tão faminto ao nascer,
sugou todo o leite de sua mãe até secá-lo. Ainda com
fome, o menino devorou a mulher que o trouxe ao
mundo. Como castigo, foi sentenciado a viver eterna-
mente esfomeado. Essa é uma das várias mitologias
sobre Exu, orixá iorubá cultuado no Brasil por religi-
ões de matriz africana como Candomblé, Tambor de
Mina e Batuque Gaúcho. A fome do filho de Iemanjá,
irmão de Ogum e Oxóssi, também é explicada em ou-
tro mito, no qual ele é expulso pelo rei devido a sua
índole de causar confusão. Esquecido pelo reino, ele
prega toda sorte de estripulias até ser reverenciado
com comidas e bebidas.
Religiões afro-
-brasileiras, como
Candomblé e Umbanda,
estão entre as que mais
sofrem violência no país.
PRECONCEITO EM ALTA
“Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de dis-
criminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedên-
cia nacional.” Eis o que diz o artigo 1º da Lei 9.459, de 13 de maio
de 1997. Quem executar, induzir ou incitar essas práticas pode ser
condenado a pena de um a três anos de prisão, além de multa. Ain-
da assim, esses crimes acontecem no país.
Intolerância contra
crenças indígenas
e muçulmanos
também é parte da
realidade no Brasil.
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CIÊNCIA CONTRA O
FUNDAMENTALISMO
O crescimento do fundamentalismo religioso e da intolerância, que
são dois fenômenos sociais interconectados, está atraindo cada vez
mais a atenção de estudiosos das áreas de ciências sociais. “É um
banho de água fria. O que está em jogo são conquistas democráti-
cas, o que está sendo tensionado é a própria democracia”, lamenta
o historiador André Chevitarese, coordenador do Laboratório de
História das Experiências Religiosas da UFRJ e autor do livro Fun-
damentalismo religioso cristão (Klíne, 2021). “Quando uma criança,
um adolescente, homem ou mulher são atacados por estarem de
branco, ou quando uma casa religiosa é incendiada ou tem bens
sagrados vilipendiados, é uma questão contra a democracia.”
A LUTA CONTINUA
Na segunda metade do século passado, as igrejas pentecostais e ne-
opentecostais ganharam força por aqui e tomaram as religiões de
matriz africana como inimigas. Exu era o maior dos vilões, com fre-
quência comparado ao diabo. “No catolicismo, o diabo é sempre ven-
cido. Mas os evangélicos dão muita atenção ao diabo: todo mal que
acontece eles acham que é obra dele. Ninguém é pecador, mas sim
vítima do diabo. E esse diabo não é genérico, etéreo, distante, como
é para os católicos; é um diabo que pode ser visto na sua frente, nas
entidades da Umbanda e do Candomblé”, opina Reginaldo Prandi.
A LUTA
DO LUTO
FOTÓGRAFO GAÚCHO VENCEU
O SONY WORLD PHOTOGRAPHY
AWARDS COM REGISTROS DO
HUKA-HUKA, ARTE MARCIAL
DE POVOS INDÍGENAS DO
XINGU PRATICADA EM RITUAL
QUE HOMENAGEIA OS MORTOS
BRASIL PROFUNDO
Teles conheceu o Xingu em 2016, quando foi
acompanhar o trabalho desenvolvido por médi-
cos voluntários nas tribos locais. Em sua primei-
ra visita, o fotógrafo conheceu o cacique Kotok
Kamayurá, que o convidou para a acompanhar Indígenas Kuikuro e de
a cerimônia do Kuarup, que ocorreria dali al- etnias convidadas praticam
o huka-huka no
guns dias. “Naquela época, eu não pude ficar encerramento do Kuarup,
exibindo a força dos melhores
até a data, mas foi daí que surgiu a vontade de lutadores para todos. Abaixo,
os lutadores treinam para
conhecer de perto esse ritual”, confessa. os combates oficiais.
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