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Livro - Gestao Patrimonial e Logistica
Livro - Gestao Patrimonial e Logistica
E LOGÍSTICA
autor
LEO TADEU ROBLES
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2016
Conselho editorial jose dario menezes, roberto paes e paola gil de almeida
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2016.
isbn: 978-85-5548-389-9
cdd 658.5
Prefácio 5
5
gística, apresentamos sistemas usuais, o ERP, WMS, RFDC, RFID, EDI, TMS,
VMS e o ECR para transmissão e compartilhamento de dados e apoio logístico.
Os profissionais das áreas de administração de bens materiais e patrimo-
niais e os da logística tanto no setor público, como no privado devem estar per-
manentemente se capacitando em técnicas gerenciais, sempre, em desenvolvi-
mento contínuo e rápido. Esta obra pretende contribuir para isso. Boa leitura!
Bons estudos!
1
Gestão e aquisição
de recursos
materiais e
patrimoniais
privados e públicos
1. Gestão e aquisição de recursos materiais
e patrimoniais privados e públicos
OBJETIVOS
• Apresentar os conceitos e práticas correntes da gestão de recursos materiais
e patrimoniais;
• Conceituar recursos materiais, patrimoniais, de capital, humanos e tecnológicos;
• Analisar as práticas de aquisição de recursos e bens patrimoniais públicos;
• Analisar as práticas de gestão de recursos materiais e patrimoniais.
8• capítulo 1
de recursos com os objetivos de eliminar desperdícios e reduzir custos de aqui-
sição, utilização, manutenção, por meio de técnicas atualizadas de gestão.
A humanidade tem organizado seus empreendimentos como entidades pú-
blicas e privadas e, idealmente, para uma atuação com responsabilidade social
e sustentável ambientalmente. No setor privado, em geral, os objetivos são de
desenvolvimento e perpetuidade por meio da identificação e consecução de
vantagens competitivas em um ambiente de negócios globalizado e altamente
concorrencial. No setor público, as organizações buscam eficiência, economi-
cidade e atendimento ao interesse público, segundo os princípios de legalida-
de, impessoalidade, moralidade e transparência.
Nestes contextos, a gestão de recursos materiais e patrimoniais envolve um
conjunto de processos e procedimentos que atende os objetivos organizacio-
nais. Os processos, que desenvolveremos ao longo dessa obra, englobam, por
exemplo, a gestão de suprimentos/compras (prospecção de fornecedores, ava-
liação e sua homologação), a de estoques (guarda, manutenção, recuperação e
destinação), embalagens de bens e mercadorias, processos de distribuição (en-
trega de produtos a clientes) e a administração patrimonial, propriamente dita,
ou seja, seus procedimentos legais e de manutenção.
Recurso, segundo Martins e Alt (2001), é “tudo aquilo que gera ou tem a capa-
cidade de gerar riqueza” e também pode ser entendido como um meio de qual-
quer natureza que permite que a organização alcance seus objetivos (FENILI,
2015). Material, por sua vez, se refere à matéria e, assim, recursos materiais são
meios físicos que as organizações utilizam para obter riqueza (econômica).
Martins e Alt (2001) indicam que a administração do patrimônio de uma
organização, na concepção de valores monetários, significa a gestão de seus
direitos e obrigações ou, numa visão contábil, de seus ativos e passivos. Os au-
tores apresentam a definição de patrimônio líquido, que pode ser positivo ou
negativo qual seja:
capítulo 1 •9
Em contabilidade, tem-se o instrumento do balanço patrimonial, ou seja,
instrumento financeiro e legal que define a condição financeira da organiza-
ção em um exercício. Ele é dividido em duas categorias, o Ativo e o Passivo.
Ativos são os bens, direitos e aplicações de recursos controlados pela empresa.
Passivos são suas obrigações financeiras com o governo, funcionários e demais
fornecedores de recursos e serviços. A diferença entre Ativos e Passivos corres-
ponde ao Patrimônio Líquido, ou seja, se positivo, o que a empresa, de fato, tem
disponível e representa sua riqueza efetiva. No caso de valor negativo ou “pas-
sivo a descoberto”, as obrigações superam bens e disponibilidades e a empresa
encontra-se em situação falimentar.
Neste livro, adota-se a dimensão física do patrimônio das organizações, ou
seja, instalações, veículos, equipamentos e os recursos materiais (matérias-pri-
mas, peças e componentes, produtos em processo e produtos acabados) da orga-
nização. As considerações contábeis e financeiras serão feitas quando cabíveis.
Fenili (2015) aponta que as organizações podem ser decompostas em quatro
elementos básicos que se inter-relacionam, conforme mostra a figura 1.1, a saber:
• Pessoas, ou seja, os indivíduos que utilizam os recursos físicos e coorde-
nam tarefas para atendimento de objetivos propostos e acordados;
• Recursos, ou seja, elementos físicos colocados à disposição das pessoas
para a consecução de objetivos;
• Gestão e coordenação de atividades, ou seja, os procedimentos e práticas
de apoio às atividades realizadas pelos indivíduos para a utilização dos recur-
sos físicos com o emprego de sua capacidade e capacitação gerencial;
• Objetivos, ou seja, estados futuros desejados e acordados pelos indiví-
duos a serem atendidos por meio de sua capacidade de gestão e pela utilização
dos recursos físicos.
Organização
Figura 1.1 – Organização e seus componentes básicos. Fonte: Adaptado de Fenili (2015).
10 • capítulo 1
Maximiano (2000) define organização como o processo sistêmico de utili-
zação de qualquer conjunto de recursos para o atendimento de um conjunto
de objetivos, ou seja, a “organização é um sistema que transforma recursos em
produtos e serviços”. Mais especificamente, na abordagem da Administração
de Empresas, o autor entende a organização como uma entidade social de dois
ou mais indivíduos que atuam de forma coordenada em um ambiente externo
visando à realização de objetivos comuns.
A figura 1.2 mostra a concepção sistêmica proposta por Maximiano (2000),
na qual, o autor agrega aos insumos (inputs) do sistema, os recursos financei-
ros e de informação e aponta o processo organizacional como o conjunto de
processos de transformação, a divisão de trabalho entre indivíduos e áreas e
ação aglutinadora da coordenação (gestão). Os resultados (outputs) se referem
a produtos e serviços. Logicamente, esses resultados contemplam o atendi-
mento dos objetivos organizacionais.
RECURSOS RESULTADOS
ORGANIZAÇÃO
INPUTS OUTPUTS
• Humanos • Processos
• Materiais de transformação • Produtos
• Financeiros • Divisão de trabalho • Serviços
• Informação • Coordenação
Figura 1.2 – Organização como sistema de transformação de recursos. Fonte: Adaptado
de Maximiano (2000).
capítulo 1 • 11
etapas no desenvolvimento de produtos e serviços, na melhoria dos processos
de transformação e na gestão dos resultados da divisão de trabalho.
Em resumo, recursos (inputs) são os meios e formas empregados pelas or-
ganizações para o atendimento de seus objetivos, constituindo-se nos instru-
mentos para seu desempenho e sua utilização é condicionada às competências
organizacionais, ou seja, o conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes
existentes e referentes aos indivíduos que compõem a organização.
Os recursos podem ser divididos, conforme apresentado por Fenili (2015),
em duas categorias, como segue:
12 • capítulo 1
Recursos
Físicos ou
materias Financeiros Humanos Capital
em sentido intelectual
amplo
Recursos patrimoniais
capítulo 1 • 13
As ações de ampliação ou modernização dos recursos são decorrentes do
planejamento estratégico da organização e devem ser submetidas à avaliação
de viabilidade de retorno, como veremos adiante.
Os recursos físicos (tangíveis), conforme Martins e Alt (2001), também po-
dem ser classificados como:
14 • capítulo 1
A figura 1.4 apresenta uma forma estruturada de codificação de bens patri-
moniais, conforme apresentado por Martins e Alt (2001). As formas de codifica-
ção são comuns a organizações públicas e privadas e têm como função a utiliza-
ção de sistemas de informação e controle patrimoniais, apoiando a designação
de responsabilidades e suas eventuais transferências. O Capítulo 5 aborda os
sistemas de informação mais detalhadamente.
XX.XX.XX.XXX
Número sequencial
Subgrupo do bem
Grupo do bem
capítulo 1 • 15
Em relação à situação, Fenili (2015) classifica os materiais permanentes em:
Os bens patrimoniais, como vimos, têm caráter permanente, ou seja, uma du-
ração maior e, na maior parte das vezes, sua aquisição implica em dispêndio
significativo de recursos financeiros, assim, esse processo crítico não é rotinei-
ro e exige a abordagem diferenciada de projetos. Essa aquisição está ligada ao
planejamento estratégico da organização, ou seja, pode estar envolvida na im-
plantação ou expansão de um empreendimento componente do plano estraté-
gico da organização. Da mesma forma, pode estar vinculada à diversificação ou
modernização das atividades organizacionais.
O planejamento estratégico, conforme definido por Fischmann e Almeida
(1990) consiste em:
16 • capítulo 1
Técnica administrativa que, pela análise do ambiente de uma organização, cria a
consciência das suas oportunidades e ameaças, dos seus pontos fortes e fracos para
o cumprimento de sua missão e, por esta consciência, estabelece o propósito de dire-
ção que a organização deverá seguir para aproveitar as oportunidades e evitar riscos
(FISCHMANN; ALMEIDA, 1990).
capítulo 1 • 17
de investimentos e das despesas operacionais. Avaliação econômico-financei-
ra com o cotejo de entradas e saídas de caixa e estimativa da rentabilidade do
empreendimento/projeto.
Dessa forma, podemos decompor a primeira pergunta (Existe mercado
para o produto?) nas seguintes questões:
a) Qual mercado ou segmento de mercado o produto se destina? Qual a
dimensão do mercado-alvo determinado?
b) Quais são as especificações do produto? Quais suas vantagens e desvan-
tagens em relação a produtos existentes no mercado?
c) Quem são os potenciais compradores do produto? Onde estão localiza-
dos? Qual sua capacidade de compra? O que esperam do produto?
d) Quem são os concorrentes existentes nos mercados? Qual sua dimen-
são e participação? Quais os canais de distribuição existentes ou a desenvolver
no mercado?
e) Qual a política de preços que pode ser adotada? Quais os limites supe-
riores e inferiores para atuação nos segmentos de mercado identificados?
f) Quais são as perspectivas de desenvolvimento do mercado? Quais as
previsões de vendas dos produtos totais e por região?
18 • capítulo 1
Ou seja, tudo que é necessário para a produção do bem, inclusive o di-
mensionamento do pessoal a ser utilizado com a respectiva especificação de
capacitações necessárias para operação. Há que se considerar também se a
organização detém conhecimento e habilidades para a implantação do novo
processo produtivo.
Os resultados a serem obtidos dizem respeito às estimativas de custos de
aquisição de equipamentos e de instalações para produção, assim como, esti-
mativas das despesas operacionais anuais relativas às projeções de produção
para atendimento às estimativas de vendas.
A terceira pergunta (Quanto vamos ganhar com isso?) corresponde à ava-
liação econômico-financeira propriamente dita, ou seja, o empreendimento é
rentável? Qual o nível de rentabilidade previsto? Essa rentabilidade atende ao
planejamento estratégico da organização?
Quais são os procedimentos usuais que se adota para a verificação des-
sas questões? Primeiramente, precisamos conceituar o que é rentável para a
organização na abordagem de seus objetivos de desenvolvimento estratégico
ou, em outras palavras, qual a remuneração pretendida para o investimento.
Esta questão é complexa com diversas denominações na literatura acadêmica
e se refere ao custo do capital, ou seja, a remuneração mínima exigida ao capi-
tal investido.
Em geral, os economistas utilizam o conceito de Custo de Oportunidade
do Capital, os administradores, o de Taxa Mínima de Atratividade e os conta-
dores, o de Taxa de Desconto ou de Atualização. Estas três denominações se
baseiam na premissa de escassez de recursos, no caso o recurso financeiro, na
verdade de que “toda opção implica em uma renúncia” e no princípio básico
de que o valor do dinheiro varia no tempo, ou seja, é melhor um valor agora
do que uma perspectiva no futuro. Ou seja, em relação a recursos escassos ou
esgotáveis, sempre que optamos por uma forma de utilização, abrimos mão de
outra. O tempo é um exemplo, ao optarmos por assistir aula, desistimos de ver
o jogo de futebol.
Empreendimentos têm de propiciar uma rentabilidade que mais que com-
pense uma aplicação alternativa, muitas vezes, com riscos e esforços diferen-
tes. Por exemplo, o investimento de recursos financeiros em um projeto tem de
propiciar rentabilidade maior ou igual à sua aplicação em títulos governamen-
tais. O planejamento estratégico das organizações, geralmente, estipula o nível
mínimo de remuneração desejado.
capítulo 1 • 19
Mas, como se determina o quanto vamos ganhar com isso? Como vimos, as
respostas das outras duas perguntas fornecem a projeção financeira anual dos
montantes de receitas, dos investimentos e das despesas operacionais. Essas
informações comporão o Fluxo de Caixa do empreendimento, ou seja, o fluxo
anual das previsões de Entradas (receitas) e de Saídas (despesas) de caixa (nu-
merário) do empreendimento. Esses valores anuais serão descontados e soma-
dos de modo a se determinar seu Valor Atual Líquido (VAL) e sua Taxa Interna
de Retorno (TIR). O princípio básico, conforme mencionado, é o da variação do
valor do dinheiro no tempo, ou seja, é melhor um recurso no curto prazo que no
longo e a medida para essa avaliação é a Taxa de Desconto utilizada.
Manuais de Matemática Financeira e de Engenharia Econômica detalham
o cálculo desses indicadores financeiros, inclusive, sendo funções disponíveis
no programa Excel da Microsoft. O processo de avaliação consiste na atualiza-
ção (trazer ao tempo presente) dos resultados anuais do fluxo de caixa pela taxa
de desconto (rentabilidade) considerada desejável no planejamento estratégi-
co da organização e se o VAL for positivo o empreendimento mostra-se viável e
se negativo, não. A TIR corresponde à taxa que zera o VAL e seu valor é compa-
rado com a taxa mínima de atratividade estipulada.
Esse procedimento é utilizado por bancos de desenvolvimento na avalia-
ção de projetos de investimentos forma e o procedimento consubstancia a dis-
ciplina de Elaboração e Avaliação de Projetos, presente em muitos cursos de
Economia, Administração e Contabilidade.
A aquisição de um bem patrimonial, geralmente, não se constitui em uma
operação de rotina e exige cuidado especial à semelhança do que ocorre com a
licitação e contratação de serviços especializados, por exemplo, a prestação de
serviços de logística apresentada no capítulo 2 e a de serviços de segurança no
capítulo 3. No capítulo 4, detalhamos os critérios de terceirização da adminis-
tração de bens patrimoniais, assim como o processo de terceirização (outsour-
cing) de serviços e atividades consideradas, em princípio, não essenciais.
Esse procedimento, cujos passos básicos são típicos das relações comer-
ciais do chamado marketing industrial, ou B2B (Business to Business) exige a
participação da equipe multifuncional em todas as etapas do processo de lici-
tação, de modo a assegurar a consideração básica dos critérios técnicos e finan-
ceiros de escolha do fornecedor.
20 • capítulo 1
Na administração pública,os procedimentos de aquisição ou contratação
de serviços são regulamentados pela Lei Nº. 8666/93 e se referem às seguin-
tes modalidades:
capítulo 1 • 21
II. para compras e serviços não referidos anteriormente:
a) convite - até R$ 80.000,00 (oitenta mil reais);
b) tomada de preços - até R$ 650.000,00 (seiscentos e cinquenta
mil reais);
c) concorrência - acima de R$ 650.000,00 (seiscentos e cinquenta mil
reais). (BRASILb, 2016).
1.2.1 Depreciação
22 • capítulo 1
VI - VR
Da =
VU
120000 - 300.000
Da = = R$ 18.000 / ano
5
capítulo 1 • 23
A tabela 1.2 resume para algumas categorias de bens a vida útil e taxa de
depreciação anual conforme a Instrução Normativa da SRF Nº. 162 de 31 de
dezembro de 1998.
TAXA DE
VIDA ÚTIL
CATEGORIA DEPRECIAÇÃO
(ANOS)
ANUAL
Instalações 10 10%
Edificações 25 4%
Tabela 1.2 – Vida útil e taxa de depreciação anual de algumas categorias de bens. Fonte:
BRASIL, 2016.
24 • capítulo 1
Fineli (2015) resume os principais conceitos e significados relativos à depre-
ciação, os quais são comuns aos setores público e privado, conforme mostra o
tabela 1.3.
CONCEITO SIGNIFICADO
Tabela 1.3 – Principais conceitos relativos à depreciação. Fonte: Adaptado de Fenili (2015).
capítulo 1 • 25
CATEGORIA VIDA ÚTIL (ANOS) VALOR RESIDUAL
Armamentos 20 15%
Tabela 1.4 – Vida útil e valor residual para algumas categorias de bens segundo Manual da
STN. Fonte: Adaptado de Fenili (2015).
26 • capítulo 1
Fenili (2015) resume as condições de alienação de bens pela administração
pública, segundo sua categorização em móveis e imóveis. Assim, o autor expli-
cita que bens móveis são alienados na ocorrência de interesse público,sendo
necessária sua avaliação prévia e o processo de venda é feito por licitação. O
caso de bens imóveis, conforme aponta o autor a alienação parte de autorização
legislativa, da evidenciação de interesse público, com a necessidade de avalia-
ção prévia e por meio de processo de licitação (concorrência / leilão).
Autorização legislativa +
Interesse público +
Bens Móveis Avaliação prévia +
Licitação (concorrência/
Alienação de
leilão+
bens públicos
Interesse público +
Bens Imóveis Avaliação prévia +
Licitação
capítulo 1 • 27
Essa conferência tem como objetivo verificar a existência física dos bens
arrolados nos registros contábeis e nos almoxarifados da organização. Da
mesma forma, se procede ao levantamento da situação do bem inventariado,
identificando-se sua condição de uso e efetiva necessidade para a área em que
está alocado.
Fenili (2015) aponta duas formas de se realizar o inventário físico, a saber,
inventário rotativo e periódico. O rotativo implica no levantamento perma-
nente e seletivo dos bens em estoque e dos bens patrimoniais em utilização.
Para tanto, não será necessária a parada total da operação da organização e
sua programação deve permitir que ao final de um período todos os bens se-
jam inventariados.
No inventário periódico, geralmente realizado anualmente, são contados
todos os itens da organização. No caso, dele ser realizado no fim do período
fiscal, ele recebe a denominação de geral. Os dados coletados compõem o in-
ventário analítico, conforme aponta Fenili (2015), no qual os bens são caracte-
rizados por uma descrição padrão, a explicitação de seu valor, estado de conser-
vação, local de uso, centro de custo e área de alocação etc.
Na administração pública, a Instrução Normativa (I.N.) Nº. 2015 de 8 de abril
de 1988 da Secretaria de Administração Pública (SEDAP) regulamenta o uso de
materiais tendo em vista a racionalização de custos e modernização de procedi-
mentos. (BRASILe). Assim, a I. N. 250/1988 tipifica os inventários físicos em:
28 • capítulo 1
Lopes, Souza e Moraes (2006) apontam que o almoxarifado é a área na qual
se dá o recebimento, armazenagem, expedição e distribuição de bens mate-
riais. Dependendo das características dos materiais mantidos, o almoxarifado
pode ser em área coberta, climatizável e com nível de segurança compatível ao
material e às normas adotadas de acondicionamento, armazenagem, localiza-
ção e movimentação. Os almoxarifados devem ser dotados de sistemas especia-
lizados para registro, localização e recuperação dos bens guardados de modo a
apoiar as atividades operacionais da organização.
No próximo capítulo, ao abordarmos as questões logísticas essa questão
será detalhada, assim como, no capítulo 5 que apresenta sistemas de informa-
ção associados à administração de bens materiais e patrimoniais.
ATIVIDADES
Estudo de Caso de empresa desenvolvedora de Softwares
O estudo de caso apresenta processo de aquisição de bens patrimoniais de uma em-
presa desenvolvedora de softwares, compreendendo desde a demonstração de necessidade
das áreas da empresa, os procedimentos de compra até os registros dos bens adquiridos e
foi adaptado de Menezes (2013). Esse caso é apresentado por resumir os procedimentos
usuais em empresas de pequeno a médio porte e foi objeto de trabalho de conclusão de
curso em administração em instituição de Santa Catarina.
Processo de compras.
O pedido de compras é emitido pela área interessada na compra por meio de sistema
interno de solicitação. A ordem de compra gerada tem de ter a autorização do gerente da
área solicitante e do gerente administrativo/financeiro. A partir dessas autorizações se inicia
o processo de cotação e negociação com os fornecedores. No caso de computadores e
periféricos, a compra é solicitada à área de Infraestrutura de TI, e deve ser autorizada pelos
gerentes responsáveis.
Esse sistema interno de compras automatiza as solicitações e suas devidas autorizações.
A cotação de preços e condições é feita no mínimo com três fornecedores, ou, quando é
o bem já foi cotado nos últimos 12 meses, solicita-se compra direta ao último fornecedor.
Como se vê, o processo é simplificado com tempos e custos baixos. Os bens são entregues
nos locais especificados, seja na área de infraestrutura de TI, seja na área administrativa de
compras e seu recebimento é feito por profissional especializado, que confere a nota fiscal,
com o pedido e dá a confirmação de entrega.
capítulo 1 • 29
Após o recebimento, a nota fiscal é encaminhada para contabilização do conforme sua
natureza: Máquinas e equipamentos; Móveis e utensílios; Instalações; Imóveis; Computado-
res e periféricos; Softwares; Imobilizações em andamento; Terrenos; Aparelhos telefônicos e
outros. A partir destes registros realizados, a área contábil controla a depreciação dos bens
e registrando-os no ativo imobilizado. As movimentações dos bens só são registradas na sua
transferência para um local de outra cidade ou outro estado, com a respectiva nota fiscal
de saída. A depreciação é apresentada em relatórios mensais e a área contábil procede a
eventuais baixas, conforme a legislação em vigor. No caso estudado, não se apresentou a
existência de sistemas dedicados de administração patrimonial.
Conclusões.
O estudo de caso conclui que pelo crescimento rápido da empresa alguns sistemas
relativos a processos administrativos e operacionais não foram implantados. E, a exemplo de
muitas outras empresas de pequeno porte, no seu início, os próprios diretores que acumula-
vam as funções administrativas, financeiras e de gestão de pessoas, as quais foram delega-
das para equipes especializadas com a expansão da empresa e no tipo de organização. No
entanto, o estudo constatou a necessidade de sistema de gestão voltado para os recursos
patrimoniais. Esse sistema deve partir de inventário dos bens patrimoniais, na comparação da
existência física e os registros contábeis, ou seja, a classificação, codificação e identificação
(emplacamento).
Outra constatação é a necessidade de se estruturar unidade voltada para a gestão pa-
trimonial baseada no pessoal da empresa e no tipo de bens da empresa (equipamentos
de tecnologia) com depreciação rápida e seu controle contábil. Essa unidade deve contar
com sistema de gestão de patrimônio, que permita acompanhar a evolução patrimonial
com a identificação, classificação, codificação, baixa e depreciação e outros procedimentos
patrimoniais.
O estudo aponta ainda a implantação de programas de treinamento e capacitação em
processos de patrimônio, a necessidade de investimentos em pessoas, sistemas, etiquetas,
leitores e impressoras e a adoção por parte da organização de políticas estratégicas de ges-
tão de patrimônio. O estudo de caso apresentou um diagnóstico sobre a administração de
patrimônio e as possíveis formas de melhorar o modelo de gestão de patrimônio da organiza-
ção e apontou o papel importante dessa gestão para os objetivos empresariais.
Dessa forma, conclui-se que seja em organizações privadas, como públicas, a gestão
patrimonial tem a função de contribuir para o atendimento dos objetivos organizacionais
30 • capítulo 1
com a redução de custos e com procedimentos que assegurem a efetiva utilização desses
recursos básicos.
Perguntas:
02. Como você vê as sugestões de criação de uma unidade responsável na empresa? Viá-
vel? Inviável? Por quê?
MULTIMÍDIA
Sugestões de pesquisas e visitas a sítios:
ENAP – Escola Nacional de Administração Pública. Disponível em <http://www.
enap.gov.br/web/pt-br/a-distancia>
Portal da Escola de Contas Públicas. Tribunal de Contas do Espírito Santo – TCE-ES.
Disponível em<http://escola.tce.es.gov.br/>.
Revista Logística do Instituto IMAM. Disponível em <http://www.imam.com.br/logistica/>
Revista Mundo Logística. Disponível em:<http://www.revistamundologistica.com.br/
portal/index.shtml> Revista similar e concorrente à Tecnologística. Ela promove cursos vir-
tuais e divulga artigos de especialistas e profissionais da área.
Revista Tecnologística. Disponível em <http://www.tecnologistica.com.br/> Revista
técnica especializada em logística.
REFLEXÃO
Uma das condicionantes das organizações é a gestão de recursos escassos para a consecu-
ção de seus objetivos. Recursos escassos implicam em que ao optarmos por uma aplicação
abrimos mão de outra aplicação alternativa. Exemplos claros são o tempo e os recursos
financeiros. O aluno ao decidir ir para a faculdade e assistir aula estará deixando de praticar
esportes ou, simplesmente, dormir. Este é o conceito básico da troca compensatória ou trade
off, em inglês.
capítulo 1 • 31
A gestão de bens materiais e patrimoniais, nesse sentido, contribui para a racionalização
de dispêndios nas organizações e para a preservação das condições de uso de equipamento,
bens e instalações.
Atividade comum às organizações privadas e públicas, a gestão compreende um conjun-
to de processos de suprimentos/compras, de gestão de inventários desde a aquisição até a
destinação a usuários e clientes com a gestão dos bens patrimoniais, envolvendo procedi-
mentos legais e de manutenção. Abordamos organizações em sua visão sistêmica, ou seja,
resultados são obtidos a partir de recursos (Fatores de Produção (inputs): humanos, financei-
ros, físicos, informacionais e tecnológicos), que por práticas operacionais são transformados
em produtos e serviços (outputs).
Os recursos podem ser classificados de diversas formas, as mais usuais são recursos
tangíveis e intangíveis e recursos móveis e imóveis. Em uma organização, eles fazem parte do
ativo imobilizado e são controlados pelo seu registro, no qual consta data de aquisição, código,
preço pago, localização, formas de depreciação, alocação a centro de custo, manutenções e
intervenções sofridas. Em grande parte das organizações, esse controle é computadorizado.
No setor público, como vimos, a gestão e a aquisição de bens materiais são regulamen-
tadas com procedimentos fixados em normas e instruções. Da forma semelhante, organiza-
ções privadas obedecem a procedimentos formais com instrumentos e ritos determinados.
Bens patrimoniais, em geral, envolvem montantes financeiros significativos e sua aquisição
não é rotineira, exigindo a avaliação econômica do empreendimento e um processo crítico de
identificação, homologação e contratação de fornecedores.
Como se dá esse processo? A avaliação econômico-financeira é feita a partir da previsão
e cotejo de receitas e despesas previstas para o empreendimento com resultados positivos
suficientes para cobrir os custos de investimentos e assegurar o retorno de investimento
considerado desejável pela organização.
E o processo de aquisição? Dependendo do valor e complexidade do bem patrimonial é
comum a adoção de unidade de projeto responsável por todos os passos da compra: iden-
tificação e homologação de fornecedores; licitação e adjudicação da proposta vencedora;
contratação formal das condições de fornecimento (especificações técnicas, formas de fi-
nanciamento, o recebimento, montagem e treinamento de pessoal para operação e eventuais
contratos de manutenção por determinado período).
Nós abordamos a depreciação ligada à gestão de bens materiais e patrimoniais, ao re-
presentar legal e contabilmente um fundo de recursos financeiros para reposição do bem ao
final de sua vida útil. Como tal, a depreciação é um custo imputado, ou seja, não representa
uma saída de caixa, mas seu valor é abatido no cálculo do lucro de um exercício e, assim,
interfere na estimativa de imposto de renda a pagar. Esse valor anual resulta da relação entre
32 • capítulo 1
a diferença do custo inicial e o valor residual (valor ao fim da vida útil do bem) e o número de
anos de vida útil. A vida útil é regulamentada por normas da SRF obedecidas por organiza-
ções públicas e privadas.
Outro procedimento comum é a gestão de inventário, ou seja, o apontamento do total de
bens materiais e patrimoniais da organização. Normalmente, para inventário são realizadas
contagens físicas a serem comparadas comdados contábeis para se assegurara consistên-
cia dos bancos de dados (sistemas informacionais).
A gestão de bens materiais e patrimoniais deve apoiar o andamento das atividades das
demais áreas da organização e contribuir para atendimento dos seus objetivos e para a com-
petitividade em um mercado global e em permanente mudança.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Regulamenta, no âmbito da Administração Pública Federal, o reaproveitamento, a movimentação, a
alienação e outras formas de desfazimento de material. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/decreto/antigos/D99658.htm>. Acessado em abril de 2016.
BRASIL, PRE - Presidência da República. Lei No 8.666 de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art.
37, inciso XXI, da Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração
Pública e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
L8666cons.htm>. Acessado em: abril de 2016.
BRASILc, SRF - Secretaria da Receita Federal. Instrução Normativa No 162 de 31 de dezembro
de 1998. Fixa prazo de vida útil e taxa de depreciação dos bens que relaciona.Disponível em:
<http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?visao=anotado&idAto=15004>.
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BRASILd, STN - Secretaria do Tesouro Nacional. Manual de Regularizações Contábeis. Disponível em:
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abril de 1988 objetiva racionalizar com minimização de custos o uso de material no âmbito do SISG
através de técnicas modernas que atualizam e enriquecem essa gestão com as desejáveis condições
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comprasnet.gov.br/legislacao/in/in205_88.htm>. Acessado em abril de 2016.
FENILI, R. R. Gestão de Materiais. ENAP Didáticos. Brasília: Enap, 2015. Disponível
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capítulo 1 • 33
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LOPES, A. S; SOUZA, E. R.; MORAES, M. L. Gestão Estratégica de Recursos Materiais: Um
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MARTINS, P. G. e ALT, P. R. C. Administração de Materiais e Recursos Patrimoniais. São Paulo:
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tratadoaprendizagem/wp-content/files_mf/1415625539TCC_THAISISABELMENEZES.pdf>.
Acessado em abril de 2016.
34 • capítulo 1
2
Logística
empresarial e
decisões sobre
localização e layout
de instalações
2. Logística empresarial e decisões sobre
localização e layout de instalações
36 • capítulo 2
organizações envolvidas na movimentação de bens nas cadeias de suprimen-
tos, ou seja, transportadores, armazenadores, embaladores etc.
OBJETIVOS
• Apresentar os conceitos e componentes básicos da logística integrada e de cadeia
de suprimentos;
• Demonstrar a gestão integrada dos componentes logísticos;
• Analisar as formas de relacionamento entre fornecedores de bens materiais, produtores,
distribuidores e compradores no conceito de cadeias de suprimentos;
• Analisar os fatores de decisão da localização e de configuração de layout nas organizações;
• Apresentar as formas de avaliação de alternativas de localização em organizações priva-
das e públicas.
capítulo 2 • 37
• Buscar relacionamentos produtivos com clientes internos e externos;
• Buscar alternativas de exploração de trocas compensatórias para redução
contínua do custo total logístico;
• Aprimorar os planos e procedimentos de marketing;
• Buscar e implantar parcerias estratégicas nas cadeias de suprimentos
(supplychains).
Bowersox et al. (2006), por sua vez, definem logística como o processo de
mover e posicionar inventário ao longo das cadeias de suprimentos para obter
os benefícios desejados de tempo, local e posse de um bem a um custo total
mínimo. Ou seja, o inventário (estoques) se movimenta e seu valor se refere à
sua disponibilidade no lugar certo, no tempo certo, na forma certa e com trans-
ferência de propriedade para utilização.
Cada organização gerencia seu papel nas cadeias de suprimentos e logísti-
cas, de forma ampla, desde a negociação com os fornecedores até o recebimen-
to da fatura dos produtos entregues aos clientes, o que compreende:
• Negociar com fornecedores e gerir o processo de compras;
• Gerenciar o transporte, recebimento e armazenagem de materiais;
• Estabelecer procedimentos de operação, manutenção, instalações
e equipamentos;
• Gerenciar a armazenagem, expedição e transporte do produto;
• Negociar com clientes com base em diretrizes de marketing e processos
de vendas;
• Prestar assistência técnica e serviços de pós-venda;
• Gerenciar os processos de vendas e de análise de crédito;
• Controlar contas a pagar e a receber.
38 • capítulo 2
produtos aos clientes pela rede (canais) de distribuidores. Dessa forma, os au-
tores ressaltam que a logística implica na gestão de fluxos críticos das cadeias
de suprimentos, ou seja, os de produtos e serviços; os de informação e o finan-
ceiro e de conhecimento, integrando os processos de Suprimentos, Produção e
Distribuição ao Mercado.
Vale notar que a rede de suprimentos de uma empresa corresponde à rede
de distribuição de seus fornecedores.
Gestão de relacionamento
Fluxos de informação, produto, serviço, finanças e conhecimento
CONSUMIDORES FINAIS
Rede de
fornecedores Empresa
intregada
MATERIAS
Rede de
Distribuição
Compras Distribuição
ao mercado
Produção
Figura 2.1 – Arranjo geral de conexão. Fonte: Adaptado de Bowersox et al. (2006).
capítulo 2 • 39
Objetivos do Negócio
ESTRATÉGICO Estratégias de Marketing
Necessidades de Serviço
Fazer/Comprar
Localização/Tamanho das Unidades
Modais de transporte
ESTRUTURAL Nível de Automação
Layout das Plantas
Relacionamento com fornecedores
Relacionamento com clientes
Política Operacional
Regras de controle operacional
OPERACIONAL
Procedimentos operacionais
Roteirização e planejamento de transporte
Tabela 2.1 – Áreas e temas de tomada de decisões na logística. Fonte: Adaptado de Lam-
bert e Stock (1999).
40 • capítulo 2
• Resposta (Responsiveness): propiciar soluções personalizadas aos clien-
tes, por exemplo, agilidade e flexibilidade;
• Confiabilidade (Reliability): visibilidade ao longo da cadeia de suprimen-
tos, reduzindo incertezas da demanda, com estoques de segurança menores e
fornecimento com qualidade.
• Resiliência (Resilience): o ambiente atual se caracteriza por turbulências
e mudanças rápidas e significativas, levando a descontinuidades inesperadas.
A avaliação de pontos fracos das cadeias (ex.: transporte, fornecedores e outros)
deve ser permanente e resultar ações frente a eventuais desconformidades.
• Relacionamentos (Relationships): inter-relações precisam caminhar no
sentido de parcerias efetivas entre vendedores e compradores de modo a me-
lhorar a qualidade dos produtos e de seus atributos com inovações, reduções
de custos e integração entre produção e entrega.
Bowersox e Closs (2006) estendem a logística para clientes e fornecedores
e a gestão de fluxos de materiais e informações, para o conceito de logística
integrada em semelhança ao de Administração da Cadeia de Suprimentos, con-
forme mostra a figura 2.2.
Fluxo de Materiais
Apoio à Suprimentos
Distribuição manufatura (Logística de
física (Logística de recebimento, Fornece-
Clientes (Logística de planta ou cadeia
operativa dores
expedição admin. de de suprimento,
Outbound) materiais) Inbound)
Fluxo de Informações
Cadeia de Suprimentos
Figura 2.2 – Fluxos e processos logísticos nas cadeias de suprimento . Fonte: Adaptado de
BOWERSOX & CLOSS, 1996:34.
capítulo 2 • 41
apresenta a divisão dos macroprocessos de distribuição física (outbound),
apoio à manufatura (plant) e suprimentos (inbound), como segue:
• Distribuição física (outbound): prestação de serviços aos clientes, de
modo a “contribuir para a geração de receitas, fornecendo níveis de serviços de-
sejados pelos clientes ao menor custo total possível”. Na visão próxima a gestão
de materiais, esses serviços são compostos pelo recebimento e processamen-
to de pedidos, disposição de inventários, estocagem e manuseio de produtos e
sua movimentação nos canais de distribuição até os clientes.
• Apoio à produção (plant): planejamento, programação e apoio à produ-
ção. Atividades referentes ao planejamento e armazenagem de materiais em
processo; manuseio, transporte e utilização de componentes e estocagem de
materiais nas áreas de produção. Bowersox e Closs (2006) indicam ainda a res-
ponsabilidade de uma “flexibilidade máxima na coordenação geográfica e final
de montagens postergadas (postponement) entre as operações de produção e
distribuição física”.
• Suprimentos (inbound): abastecimento de materiais de fornecedores ex-
ternos, objetivando “a compra mais oportuna ao menor custo total possível”.
Compreende o planejamento de recursos, prospecção de fornecedores, licita-
ção, negociação, colocação de pedidos, transporte para a empresa, recebimen-
to e inspeção, armazenagem e manuseio, e garantia de qualidade.
Logicamente, os fluxos físicos e de informações são viabilizados por fluxos
financeiros entre compradores e vendedores, como veremos no capítulo 5 ao
abordarmos sistemas de informação e comunicação.
Lambert e Stock (1999) afirmaram que a logística não pode ser administrada
de forma fragmentada ou isolada, cabendo aos gestores logísticos identificar
e explorar de trocas compensatórias (trade-offs) de custos entre seus compo-
nentes. A abordagem deve ser sistêmica na premissa que a otimização do todo
não resulta da otimização das partes. Note-se, conforme apontado por Robles
e Nobre (2015), a importância da identificação e exploração de trade-offs entre
eles na minimização do custo total logístico.
A figura 2.3 ilustra esse modelo conceitual indicando as inter-relações de
seis componentes da logística na prestação de serviços aos clientes.
42 • capítulo 2
Serviço ao
cliente
Compras Transporte
Estoques Armazenagem
Processamento
de Pedidos
Seis atividades
Figura 2.3 – Modelo conceitual da logística integrada. Fonte: Adaptado de Lambert e Stock
(1999).
2.1.2 Transporte
capítulo 2 • 43
situações especiais, na forma pulverulenta, e bombeados misturados com
água. Características: alta capacidade e segurança; custos de implantação al-
tos; menores custos de movimentação; tempos de deslocamento adequados.
• Ferroviário: mercadorias transportadas por ferrovia, em vários tipos
de vagões compatíveis com a tipologia de cargas. A ferrovia é mais eficiente
energeticamente em relação à rodovia e apresenta vantagem de custo na mo-
vimentação de grandes volumes em longas distâncias. No Brasil, se consta-
ta uma malha restrita e de baixa confiabilidade, afetando o nível de serviço.
Características: Fretes mais baixos; alto custo de implantação e maiores tem-
pos de movimentação.
• Rodoviário: cargas domésticas e internacionais transportadas por cami-
nhões. Sua principal vantagem é o transporte porta-a-porta (door to door), ao
lado de agilidade, flexibilidade e adaptabilidade. Características: Custos unitá-
rios (fretes) relativamente mais altos, tempos de percurso menores, custos al-
tos de implantação, grande variedade de tipos de veículos adaptados às cargas
e grande número de ofertantes. Sua vocação principal é a movimentação de vo-
lumes de carga menores a distâncias menores e distribuição urbana de cargas.
No Brasil, é o modal predominante, inclusive em longas distâncias.
• Aquaviário: Transporte realizado por embarcações de médio e grande
porte pelos oceanos,mares, rios, e lagos em três formas de navegação:
• Cabotagem: realizada entre portos ou pontos do território do país,
utilizando via marítima ou entre via marítima e vias navegáveis interiores.
• Navegação interior: realizada em hidrovias interiores ou lagos (na-
vegação lacustre), em percursos nacionais ou internacionais.
• Navegação de Longo Curso: movimentação entre portos nacionais
e estrangeiros. A água, como se sabe, é o mais tradicional meio de trans-
porte utilizado pelo homem. O transporte marítimo concentra o comér-
cio internacional e tem sido e, assim será, o principal modo de transpor-
te no comércio entre as nações.
44 • capítulo 2
Os navios têm sido adaptados para o transporte de produtos a granel (lí-
quidos e sólidos) e para cargas secas gerais, notadamente, os navios porta-
contêineres. O contêiner, cuja introdução como embalagem padronizada de
transporte recentemente completou 60 anos, é considerado determinante na
evolução do comércio internacional e do transporte marítimo, levando à espe-
cialização dos navios, padronização das embalagens dos mais diversos tipos de
cargas. (NOBRE, 2006).
O contêiner, embalagem para o embarcador e equipamento básico dos na-
vios porta-contêineres, é padronizado em 20 pés e 40 pés, facilitando a movi-
mentação de mercadorias, como operações de carga e descarga mais rápidas,
redução de custos e manuseios seguros e eficientes. O contêiner compõe um
sistema de equipamentos de movimentação terrestre e de transbordo para na-
vios especializados. (NOBRE, 2006).
Uma de suas principais vantagens foi separar as operações de carga e des-
carga da presença do navio, ou seja, cargas são estufadas ou descarregadas em
terra antes ou após a operação do navio. Essa condição reduziu, significativa-
mente, custos de movimentação e tempos de viagem, possibilitando queda
de fretes e viabilizando a movimentação de mercadorias entre os continentes.
Alguns especialistas se perguntam: o contêiner possibilitou a globalização ou a
globalização levou à operação de contêineres. Essa redução foi tão importante
que, conforme veremos adiante, impactou as decisões de localização industrial
e mesmo formas de operação das grandes empresas multinacionais.
O contêiner é intermodal por natureza, ao movimentar entre os modos
de transporte é, em geral, terrestre na origem da mercadoria, aquaviário no
percurso mais longo e terrestre ao destino final. Cabe esclarecer que, tecni-
camente, transportes intermodais e multimodais têm o mesmo significado
– mercadorias transportadas da sua origem até seu destino, utilizando mais
de um modal. No Brasil, um transporte é multimodal quando existe somente
um conhecimento (fatura) com a ação do Operador de Transporte Multimodal
(OTM).(NOBRE, 2006).
A seguir, apresentamos os principais condicionantes da tomada de decisão
do modo de transporte a utilizar na visão do nível de serviço aos clientes, con-
forme apresentado por Robles e Nobre (2015):
• Disponibilidade/Tempo de Trânsito: capacitação do modal em prestar
serviços. O rodoviário se destaca pelo serviço porta-a-porta (door to door).
capítulo 2 • 45
• Frequência: quantidade de movimentações programadas e executadas
em determinado período de tempo. Os dutos se destacam pelo tempo contínuo
de operação entre dois pontos.
• Velocidade: tempo despendido na movimentação da mercadoria do pon-
to de origem ao de destino. Nota-se que o importante é o tempo da carga e não
somente o de percurso. O modo aéreo é o mais rápido dos modais.
• Confiabilidade: habilidade de cumprir o acordado (tempo, local, forma
e conteúdo).
• Capacidade: possibilidade de transporte do modal em tipos, volumes, lo-
tes e quantidades de cargas. Destaca-se o transporte aquaviário.
• Valor do Frete: Na maior parte das vezes determinante na escolha modal
e sua gestão efetiva, deve considerar trocas compensatórias de custo entre os
componentes logísticos.
• Índice Falhas ou Avarias: relação do número de entregas incompletas
ou com avarias e o total das entregas realizadas. Utilizado para avaliação do
nível de serviço prestado por operadores logísticos e para análise dos serviços
aos clientes.
Desse modo, fica evidenciada a inter-relação desses componentes logísti-
cos e o contêiner como exemplo explícito na sua condição de embalagem pa-
dronizada, que facilita o manuseio, transporte e mesmo a armazenagem de
produtos, como veremos a seguir.
2.1.3 Armazenagem
46 • capítulo 2
• Aproveitar descontos por volume e compras antecipadas;
• Operacionalizar e avaliar as fontes de fornecimento;
• Apoiar as estratégias de serviço aos clientes;
• Atender eventuais alterações dos mercados: sazonalidade, flutuações de
demanda (picos e vales);
• Reduzir as diferenças de distâncias e de tempo entre produtores
e consumidores;
• Apoiar programas de fornecimento just-in-time, reduzindo estoques pelo
ajuste dos suprimentos às demandas segundo tempos e quantidades acordados;
• Apoiar o atendimento do menor custo logístico total e dos níveis de servi-
ço desejados pelo cliente.
• Os armazéns podem ser instalações abertas (pátios) ou fechadas (galpões)
e suas funções básicas, conforme Robles e Nobre (2015), em relação à entrada,
manutenção e saída de estoques são:
• Recebimento (descarga);
• Identificação e classificação por tipo de produto;
• Conferência (qualitativa e quantitativa);
• Endereçamento para o estoque;
• Estocagem;
• Remoção de estoque (separação de pedidos - picking);
• Acumulação de itens;
• Embalagem;
• Expedição;
• Registro das operações. (ROBLES e NOBRE, 2015).
capítulo 2 • 47
recompostos em lotes menores e carregados de imediato em caminhões de
menor porte para transporte até o destino final. O custo de transporte aumen-
ta, mas os de armazenagem e de inventários caem, pelo estoque menor e fluxo
mais rápido de mercadorias. Essa operação é típica da distribuição urbana pe-
las restrições de circulação de caminhões grandes ou de horários de trânsito.
48 • capítulo 2
é adequada a hábitos (volumes) de consumo. A dimensão logística garante o
manuseio e movimentação preservando a condição do produto e facilitando as
operações.
Assim, embalagens, conforme Robles e Nobre (2015), correspondem a:
capítulo 2 • 49
• Unitização: consolidação de embalagens primárias (unitizadas) em
embalagens secundárias e a previsão de utilização de embalagens terciárias.
(ROBLES e NOBRE, 2015).
50 • capítulo 2
carregamento (estufagem) e descarregamento (desestufagem) na relação peso/
volume do contêiner.
As informações expressas nas embalagens e sistemas de leitura e compila-
ção de dados, conforme veremos no capítulo 5, objetiva reduzir tempos e custos
de expedição nos armazéns, custos de movimentação e de recepção, minimi-
zando eventos de extravio, avarias e roubos de cargas.
capítulo 2 • 51
FACILIDADE EM SE condições amigáveis de comunicação com clientes
FAZER O PEDIDO aprimorando acesso entre as partes;
52 • capítulo 2
explorar trade-offs (trocas compensatórias) entre as atividades, componentes e
responsabilidades ao longo das cadeias de suprimentos.
Os custos de um componente de uma cadeia logística afetam as receitas de
seu fornecedor e, assim, na negociação de preços, os serviços logísticos devem
ser identificados e associados aos custos de sua prestação integrada. Essa esti-
mativa é mais simples na identificação e avaliação prévia de alternativas logísti-
cas, de relacionamento e dos papéis (compromissos) nas cadeias de suprimen-
tos. Na operação normal, seu acompanhamento mostra-se complexo.
Albuquerque et al. (2014) apontam a importância do controle dos custos lo-
gísticos para as condições de concorrências da organização no ambiente em
que atuam e seu acompanhamento deve fornecer aos gerentes responsáveis da-
dos confiáveis, consistentes e oportunos. Faria e Costa (2012) apresentam uma
fórmula representativa dos custos logísticos totais, representando a somatória
dos custos logísticos de seus componentes, como segue:
Onde:
CLT = Custo logístico total
CAM = Custo de armazenagem e movimentação de materiais
CTRA = Custo de transporte
CE = Custos de embalagens utilizadas
CMI = Custo de gestão e manutenção de inventários
CTI = Custo de sistemas e da tecnologia de informação
CDL = Custos advindos dos lotes de venda e compra
CTRI = Custos de tributos não reembolsáveis
CDNS = Custos decorrentes do nível de serviço
CAD = Custos da gestão da logística (Adaptado de FARIA; COSTA, 2012)
Outra fórmula complementar apresentada por Faria e Costa (2012) é relati-
va aos macroprocessos logísticos (ver figura 2.2), qual seja:
capítulo 2 • 53
CLT = CLOGSup + CLOGPla + CLOGDis
Onde
CLOGSup = Custos logísticos de suprimentos
CLOGPla = Custos logísticos de Planta ou de Produção
CLOGDis = Custos logísticos da distribuição (Adaptado de FARIA; COSTA, 2012)
54 • capítulo 2
• Contribuir na fixação de preços de venda dos produtos e serviços;
• Contribuir para aprimorar os processos de produção;
• Controlar a eficiência dos segmentos das cadeias;
• Controlar investimentos em cada segmento;
• Contribuir na determinação de lucros por cliente e por produtos.
capítulo 2 • 55
possibilita a mobilização ou desmobilização de recursos nas alterações de mer-
cados, ou conforme Robles (2001), “a redução de pessoal direto das montado-
ras, diminuição de seu custo fixo, divisão de riscos e responsabilidades, com o
operador logístico fazendo parte do negócio, aportando competência e firman-
do contratos de prazo longo”. (ROBLES, 2001)
Operadores logísticos (3PLs – Third Party Logistics Providers) e, recente-
mente, integradores logísticos (4PLs – Fourth Party Logistics Providers) têm se
apresentado para atender atividades logísticas, os primeiros, muitas vezes, de
origem em fornecedores tradicionais (transportadoras e empresa de armazena-
gem) e os 4PLs voltados para estudos de alternativas logísticas e, ainda, a pres-
tação de serviços de coordenação e controle com oferta de soluções completas.
Em resumo, administração de materiais nas cadeias de suprimentos faz
parte do entendimento dos compromissos que se estabelecem ao longo de ca-
deias logísticas, na exploração de trocas compensatórias de custos e na solução
do aparente paradoxo entre a melhoria do nível de serviços ofertados (valor) aos
clientes e a necessidade de agregar valor (retorno) a acionistas.
56 • capítulo 2
Os estudos de localização são clássicos na literatura acadêmica e se dão nas áreas
da economia, geografia, engenharias e administração desde o modelo de Alfred
Weber de 1909, conforme citado por Leme (1990) até nossos dias, em que as cadeias
de suprimentos modificam a inter-relação dos fatores localizacionais e seus custos.
As premissas básicas dos modelos tradicionais se referiam à redução de
custos de acessos a matérias-primas, de energia e de distribuição de produtos
finais. Um dos parâmetros utilizados para a decisão de localização era a rela-
ção entre o custo de transporte e o valor do produto transportado, sendo que,
quando essa relação fosse alta (produtos de valor unitário baixo), a localização
se orientava para a fonte de produção e quando fosse baixa para os locais de
consumo (produtos de valor unitário baixo).
A tabela 2.2, conforme apresentado por Soares e Eisner (1984) resume as
variáveis levadas em consideração nos estudos localizacionais em referência
Manual de Localização Industrial do Banco do Nordeste do Brasil (BNB) elabo-
rado em 1968. As variáveis são classificadas em Primárias (Gerais e Regionais)
e Secundárias (Motivacionais Especiais: tangíveis, intangíveis, disponibilidade
de recursos, técnico-localizacionais).
As variáveis primárias se referem aos custos de transportes (matérias-pri-
mas, produtos, materiais secundários e da mão de obra), aos custos de energia
e aos acessos a mercados locais e para o exterior.
Variáveis ou custos tangíveis podem ser medidas, compreendendo:
• compra de terreno na opção construir ou aquisição de instalações exis-
tentes. Por exemplo: hospitais, escolas, indústrias etc.;
• Custos de construção (projeto, materiais, instalações, utilidades, mão de
obra, licenças etc.);
• Aluguel de edifício pronto e adequado para o uso em questão;
• Custos da mudança e de instalações finais, inclusive os de parada
de produção;
• Custo de transporte de matérias-primas, materiais secundários e demais
outros insumos necessários à produção;
• Custo de transporte de produtos acabados até centros de distribuição ou
estabelecimentos do mercado consumidor;
• Custos de água, saneamento e energia elétrica;
• Impostos federais, estaduais e municipais;
• Seguros. (FENILI, 2015).
Variáveis ou custos intangíveis não são medidos, mas representam custos
ou reduções potenciais de custos, quais sejam:
capítulo 2 • 57
• Disponibilidade e qualidade mão de obra. Capacitação e tamanho da
força de trabalho e sua demanda regional. É importante em Distritos e Polos
Industriais.
• Relações com sindicatos regionais;
• Relações com a comunidade local. Deve-se informar a comunidade em
relação ao processo produtivo, principalmente, as questões de poluição (do ar
e sonora), tráfego de caminhões de fornecedores e distribuidores. Esta é uma
questão importante e, muitas vezes, é tratada em audiências públicas de órgãos
ambientais. (FENILI, 2015).
CLASSIFICAÇÃO VARIÁVEIS
1. Baixo custo no transporte de matéria-prima
2. Baixo custo no transporte do produto
3. Baixo custo no produto dos materiais secundários
Regionais
Primárias
58 • capítulo 2
Os modelos tradicionais de localização apresentavam a decisão de local
“pela entrada”, ou seja, pela importância e características da matéria-prima
nas atividades operacionais. A matéria prima básica de grande peso é consu-
mida em grandes volumes, por exemplo, refinarias de petróleo, petroquímicas,
siderúrgicas, indústrias cimenteiras etc. A localização “pela saída” se refere à
maior proximidade ao mercado consumidor e, no caso, as matérias primas e se-
cundárias são processadas e montadas para se obter o produto final, por exem-
plo, a indústrias de confecção, de autopeças e empresas de serviços.
Nas variáveis do tabela 2.2 devem se destacar as relativas a incentivos fiscais,
ou seja, isenção ou créditos de impostos, mecanismos que têm sido largamen-
te utilizados no país no que se denomina de “guerra fiscal”. Diversos distritos
industriais foram criados em municípios com o fornecimento de estruturas,
como água, eletricidade, rede de esgotos, arruamento. Além de isenção tempo-
rária ou abatimento de impostos, ocorre a venda a preços convenientes de ter-
renos para atrair indústrias de interesse. Todos querem incentivar a implanta-
ção de indústrias pensando na renda e geração de empregos. A realidade, como
mostra o Estudo de Caso descrito adiante, pode não ser bem essa.
Outra variável diz respeito a limites técnicos para escolha do local de insta-
lação de uma unidade industrial produtiva ou de serviços. Essa consideração se
baseia nos custos envolvidos e na análise da mão de obra das áreas seleciona-
das. Por exemplo, empresas de serviço utilizam mão de obra especializada e em
pouca quantidade; já indústrias "pesadas", podem exigir grandes contingentes
de mão de obra em geral pouco qualificada. De toda forma, os decisores devem
ponderar pré-requisitos indispensáveis, como, por exemplo, disponibilidade
de água, de energia elétrica, de minérios, plantações, criações de animais etc.
Outra decisão importante é a de construir, alugar ou comprar um imóvel
pronto, as quais, logicamente, dependem da disponibilidade. A construção
exige o planejamento detalhado das obras necessárias com a intervenção de
especialistas nas atividades a serem desenvolvidas. Por exemplo, um hospi-
tal, uma escola, restaurantes etc. Essas obras devem contemplar instalações e
áreas adequadas como salas para reuniões, estacionamentos, vestiários e até a
instalação de creche, para atender a legislação vigente.
Atualmente, a localização industrial é ligada ao mercado atendido. Além de
incentivos fiscais, aos decisores é importante a agilidade no recebimento e en-
trega de produtos. Outra condição atual é a da globalização, resultante da sig-
nificativa redução de custos (fretes) e tempos no comércio entre continentes.
capítulo 2 • 59
Um exemplo da indústria automobilística é o uso de plataformas comuns em
diversos modelos de automóveis. A montagem final é local, mas feita com a uti-
lização de componentes que vêm dos mais diversos países, nos quais, as fábri-
cas se especializaram em tipos de componentes.
A escolha do local de instalação, conforme foi mencionado, se constitui
uma decisão complexa e feita por meio da avaliação ponderada de seus fatores.
Nessa avaliação ponderada tem sido utilizado método multicritério Analytic
Hierarchy Process - AHP. O AHP foi desenvolvido, na década de 1970, por
Thomas L. Saaty e consiste em técnica estruturada que associa diversas variá-
veis e critérios para a priorização de alternativas de decisão. Ela é aplicada no
cotejo de cenários com pessoas que atuam conjuntamente no julgamento e na
ponderação de fatores e indicadores quantitativos (tangíveis) e qualitativos (in-
tangíveis) para tomada de decisões críticas de uma organização. (SAATY, 2009).
A aplicação do AHP parte da decomposição do problema analisado em um
conjunto de critérios analisáveis e comparáveis de forma independente. Essa
disposição lógica é avaliada pelos tomadores de decisão na comparação de al-
ternativas em duas a duas em cada um dos critérios. O resultado é a ponderação
dos critérios e na quantificação de seus respectivos indicadores, a construção
de uma hierarquia entre as alternativas, por meio de algoritmo desenvolvido
por Saaty. O método tem a vantagem de propiciar uma decisão de consenso de
grupo lidando com as subjetividades inerentes.
Em resumo a localização industrial é uma área de pesquisa e de análise que
define métodos e critérios para escolha do local mais adequado para um esta-
belecimento. A seguir, apresentamos um conjunto de questões que, tipicamen-
te, são formuladas na avaliação de alternativas de localização.
• Existe mão de obra qualificada no local?
• A região é próxima de fontes de matérias-primas ou de fornecedores?
• Os mercados consumidores estão próximos?
• Quais as condições da estrutura de transporte e das vias de acesso para
receber matérias-primas e escoar a produção?
• Qual a disponibilidade de fontes de energia necessárias?
• Qual o espaço disponível?
• Onde estão localizados os concorrentes?
• Quais incentivos fiscais estão disponíveis? Como é a tributação? (PORTAL
DA EDUCAÇÃO, 2016)
60 • capítulo 2
Uma vez determinada a localização, na elaboração do projeto executivo da
instalação torna-se necessário a determinação do layout, ou seja, o arranjo ou
disposição física de equipamentos e materiais adequado ao processo produ-
tivo. Martins e Laugeni (1998) indicam que “a sequência lógica a ser seguida
para o layout é: localização da unidade industrial, determinação da capacidade
e layout da empresa. Os layouts podem ser classificados em: por processo ou
funcional; em linha; celular; por posição fixa e combinada”.
O layout pode também ser classificado como de produto, quando sua dis-
posição segue as operações relativas ao produto ou como de processo em que
a disposição se refere às etapas, seções de cada processo. Ou seja, no caso de
indústrias montadoras, o layout mais comum é a disposição de linha de monta-
gem (automobilística), percorrida pelos veículos nos diversos estágios de fabri-
cação. Na indústria aeronáutica, também de montagem, a opção é pela estação
de trabalho (o avião permanece em um local e é montado pelas diversas equi-
pes especializadas). A localização contribui para a economicidade do empreen-
dimento e o layout para sua praticidade e funcionalidade.
Martins e Laugeni (1998) propõem as seguintes etapas para a elaboração
de layouts:
• Determinação da quantidade a produzir;
• Planejamento do todo e depois das partes;
• Planejamento do ideal e depois do prático;
• Atendimento da sequência: local – layout global – layout detalhado
• Cálculo do número de máquinas;
• Seleção e detalhamento do tipo de layout com base no processo e nas
máquinas;
• Planejamento do edifício;
• Desenvolvimento de instrumentos que permitam clara visualização
do layout;
• Utilização da experiência de todos;
• Verificação do layout e avaliação da solução;
• “Venda” do layout;
• Estruturação do acompanhamento em gestão de projetos;
• Implantação.
capítulo 2 • 61
de cadeia de suprimentos, onde se reduz espaços de armazenamento e, mesmo
de montagem, conforme mostramos no estudo de caso a seguir.
ATIVIDADES
Estudo de Caso – Man Latin America
As cadeias de suprimentos, conforme afirmamos, são constituídas por inter-relações en-
tre suas empresas componentes, as quais são negociadas e acordadas, na forma de inter-
câmbio de informações e procedimentos comuns de requisição, entrega e pagamento dos
bens ao longo dessas cadeias produtivas. Dessa forma, as cadeias de suprimentos podem
ser consideradas como redes de negócios, de fato, por meio de novos arranjos organizacio-
nais. O setor automobilístico é pioneiro em novas formas de relacionamento com fornecedo-
res, os chamados consórcio modular e condomínio industrial.
O condomínio industrial é definido por Salerno et al. (1998), como “localização de unida-
des produtivas dentro das cercas da fábrica da montadora”, e sua diferença com o consórcio
modular é “função do maior grau de valor agregado diretamente pela montadora”. Em um
condomínio (sítio da montadora) se localizam fisicamente os fornecedores-chave da monta-
dora para facilitar os suprimentos ao sistema produtivo. Os fornecedores (sistemistas) são
responsáveis por sistemas automotivos completos e compartilham custos de infraestrutura,
transporte, saúde e alimentação entre outros serviços, com a empresa focal, no caso, a mon-
tadora (Pereira et al., 2010).
Esse arranjo representa um nível de interdependência alto com investimentos elevados
para ambos, mas a montadora desenvolve estudos de localização segundo os critérios já
apresentados, mas a localização das fornecedoras é determinística.
O outro arranjo é o de consórcios modulares que, segundo Pires e Sacomano Neto
(2010):
62 • capítulo 2
Um exemplo pioneiro mundialmente de consórcio modular é a fábrica da MAN Latin
America, montadora de caminhões e ônibus Volkswagen localizada em Resende (RJ) com
área de um milhão de m2 a 150 km do Rio de Janeiro e a 250 km de São Paulo. Esse arranjo
inovador apresenta oito sistemistas responsáveis pela fabricação e montagem de conjuntos
automotivos completos, quais sejam: a Maxion (montagem do chassi), a Arvin Meritor (ei-
xos e suspensão), a Remon (rodas e pneus), a Powertrain (motores), a AKC (armação da
cabine), a Carese (pintura) e a Continental (acabamento das cabines).
O controle de qualidade do produto é de total responsabilidade da MAN Latin America
e o modelo de produção busca redução de custos operacionais, investimentos, estoques
e tempos de produção com a agilidade na montagem de veículos. No local, os sistemistas
compartilham com a MAN toda a infraestrutura de apoio, inclusive restaurante e ambulatório.
(MAN, 2016).
Esse arranjo, como se vê, transforma o processo de decisão localizacional em que a
empresa focal (montadora) determina a localização de seus fornecedores. O condomínio
industrial é semelhante, por exemplo, a Fiat Automóveis em Minas Gerais estimulou seus
fornecedores a se localizarem perto de suas instalações em Betim (MG).
Ambos os arranjos buscam a redução de custos e tempos de suprimentos e as novas for-
mas de produção levam ao enxugamento das empresas e, de certa maneira, a frustração da
expectativa de criação extensiva de empregos na região de localização, uma das motivações
da concessão de incentivos por estados e municipalidades.
Questões:
01. Visite o site da MAN e verifique o estágio atual de integração produtiva. <https://www.
man-la.com/>. Quais os aspectos que você mais destacaria?
capítulo 2 • 63
MULTIMÍDIA
Sugestões de pesquisas e visitas a sítios:
CSCMP – Council of Supply Chain Management Professionals. Disponível em: <ht-
tps://cscmp.org/>. Sítio norte-americano de referência na área de logística e administração
de cadeias de suprimentos.
Revista Logística do Instituto IMAM. Disponível em <http://www.
imam.com.br/logistica/>
Revista Mundo Logística. Disponível em <http://www.revistamundologistica.com.br/
portal/index.shtml> Revista similar e concorrente à Tecnologística. Ela promove cursos vir-
tuais e divulga artigos de especialistas e profissionais da área.
Revista Tecnologística. Disponível em <http://www.tecnologistica.com.br/> Revista
técnica especializada em logística.
Youtube.com: Apresentação do processo de montagem de caminhões Volks-
wagen em Resende. Consórcio Modular. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=ibhvpinz0Vk>.
REFLEXÃO
A atividade logística materializa vantagens competitivas em mercados globalizados e con-
correnciais, ao propiciar valor aos clientes com serviços diferenciados, e ainda agregar valor
(lucro) aos acionistas com redução do custo total logístico. O capítulo apresentou os con-
ceitos básicos de logística integrada e de cadeia de suprimentos, inclusive com a relação à
administração de materiais, como elemento logístico fundamental.
A gestão integrada das atividades logísticas, ou seja, transporte, armazenagem, emba-
lagem, manuseio de materiais, sistemas de informação, gestão de inventários, gestão dos
ciclos de pedidos e questões fiscais e ambientais, atua nos resultados organizacionais e,
como vimos, nas decisões de localização e layout das instalações industriais, comerciais e
prestadoras de serviços.
Dessa forma, analisamos essa inter-relação e integração na aplicação ao conceito de
cadeias de suprimentos, ou seja, a interdependência das organizações que as compõem. Vi-
mos que o transporte é o componente logístico mais visível pelos custos e tempos envolvidos
e que em troca compensatória com embalagem (o contêiner) tem alterado as relações de
trocas entre países. A armazenagem se relaciona com a gestão de inventários com técnicas
64 • capítulo 2
de agilização (sistemas de manuseio de mercadorias e de informação) e se adequam a novos
processos e arranjos produtivos.
A gestão de custos é cada vez mais importante e ao longo das cadeias de suprimentos
deve se identificar e explorar trocas compensatórias entre seus componentes. Da mesma
forma, a tomada de decisão sobre a localização de empreendimentos, a par dos modelos
tradicionais, tem apresentado modificações em critérios e na consubstanciação de redes
de negócios se apresentam empresas focais que determinam relacionamentos e interações
com fornecedores.
O caso apresentado exemplifica essa condição em que a montadora toma a decisão
de localização em função de menores custos (inclusive propiciados por incentivos fiscais)
e determina a instalação de fornecedores. Estes, por sua vez, para assegurar mercado se
instalam junto ao site, assumem funções de montagem e compartilham a estrutura existente.
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66 • capítulo 2
3
Segurança
patrimonial e
manutenção de
ativos
3. Segurança patrimonial e manutenção de
ativos
OBJETIVOS
• Apresentar os conceitos e objetivos da gestão de segurança patrimonial;
• Identificar os passos para formulação de plano de gestão patrimonial;
• Analisar conceitos da manutenção de ativos e equipamentos;
68 • capítulo 3
• Apresentar as bases da Manutenção de Classe Mundial: Manutenção Centrada na Con-
fiabilidade (MCC) e de Manutenção Produtiva Total (TPM);
• Analisar práticas e procedimentos de gestão da manutenção em ativos organizacionais.
capítulo 3 • 69
regulamentada de condições, situações ou pessoas que possam ser causadoras
de danos e adoção de procedimentos que inibam ocorrências ou como se diz
normalmente: “Evitar acidentes é dever de todos”.
Nessa condição é importante a aplicação de processos preventivos de cor-
reção para redefinição de procedimentos, disponibilidade de ferramentas e
instruções para eficácia das medidas de segurança estabelecidas. Da mesma
forma, o estabelecimento de procedimentos de recuperação das atividades,
com alternativas de restauração de ativos comprometidos e, também a siste-
matização do conhecimento obtido a partir dos eventuais incidentes ocorridos.
“Aprender e evitar pode ser um benefício de um acidente”.
A segurança empresarial também leva em conta a análise do que se faz em
entidades externas, ou seja, com o relacionamento com instituições financei-
ras, com empresas e grupos especializados em segurança na Internet, com
órgãos governamentais, universidades, organismos policiais, órgãos de inteli-
gência e outros.
Plano de segurança
70 • capítulo 3
O Plano de Segurança é composto, conforme explicita a figura 3.1, por
alguns grupos de procedimentos, como normas e procedimentos escritos,
práticas de prevenção (por ex.: incêndios e planos de ação em emergências),
controles de acessos às dependências da organização (pessoas e veículos) e co-
municação e treinamentos usuais e constantes sobre as questões de segurança
na base de consolidar atitudes.
Assim, a documentação envolve a definição de procedimentos, responsabi-
lidades, normas de conduta e de segurança (por exemplo, a circulação nos pró-
prios da organização, o manuseio de materiais, uso de equipamentos especiais
de segurança (EPIs) etc.). A documentação aborda, ainda, a prevenção, ou seja,
antes (prevenção, correção e recuperação pós-eventos) como após eventos, ou
seja, como um incidente deve ser avaliado para orientar ações que evitem rein-
cidências de mesma natureza.
Como já ressaltamos, a segurança é uma atitude compartilhada e assim,
todos os funcionários devem ser treinados e as lideranças devem reforçar pro-
cedimentos e usos dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). Os pro-
gramas de treinamento e a comunicação permanente e dedicada devem fazer
parte do Plano de Segurança.
Note-se que tais instruções não se restringem a empregados, mas a todos
que adentrem as instalações da organização. Por exemplo, na indústria quí-
mica e petroquímica é comum os visitantes terem um treinamento breve com
audiovisual, com instruções sobre como proceder na eventualidade de algum
incidente. Na VALE, antes do início dos turnos de trabalhos, os empregados
passam por reunião de reforço dos procedimentos de segurança e meio am-
biente com participação da liderança que apresenta instruções sobre operação
dos equipamentos e condições da sua operação.
O Plano também estabelece as condições de acesso de pessoas e veículos
às instalações, inclusive nos procedimentos de entrega de produtos, o sistema
logístico prevê a identificação do veículo e do motorista que está operando uma
entrega J. I. T. (just in time), por exemplo.
Uma condição especial diz respeito a ocorrências de incêndio, em que uma
brigada de funcionários previamente designados e especialmente treinada, é
acionada para providências de primeiros combates e para auxílio e condução
de planos de fuga. Para tanto, o Plano de Segurança prevê exercícios simulados
intermitentes para todos os funcionários.
capítulo 3 • 71
Como vimos a Segurança Patrimonial ou Segurança Empresarial representa
uma estratégia de atuação das organizações, ao envolver procedimentos de pro-
teção física de instalações de equipamentos e ainda a visão de responsabilida-
de sobre a vida dos empregados e ao meio ambiente. Muitas empresas têm ado-
tado sistemas abrangentes, denominados de SSMA, ou seja, Saúde, Segurança
e Meio Ambiente.
Os sistemas de gestão SSMA, tipicamente, estabelecem formas de atuação
que reduzam riscos operacionais (físicos e aos produtos), que atendam à legis-
lação vigente e que têm implícita, a comunicação de eventos às comunidades.
O SSMA deve ser de conhecimento de todos os empregados, assim como suas
metas de segurança em relação às formas de trabalho e impactos ao meio am-
biente. (BRASKEM, 2016).
Uma das bases de apoio é a NBR ISO 14001:2004 que estabelece as bases
de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA), definindo política e planejamen-
to para o meio ambiente pelas organizações com a busca de certificações. O
SSMA estabelece a necessidade de implantação e manutenção da gestão de se-
gurança e saúde ocupacional, atende a requisitos legais e se constitui fonte de
informações e de avaliação de riscos das atividades e processos, tendo em vista
sua minimização.
Em muitos setores e pela atuação em mercados globalizados e ambiental-
mente exigentes, a implantação desse tipo de sistema é condição de competição.
Vale destacar, ainda, a atuação da Associação Brasileira da Indústria Química
– ABIQUIM, que criou o SASSMAQ – Sistema de Avaliação de Segurança, Saúde,
Meio Ambiente e Qualidade com o objetivo de “reduzir, de forma contínua e
progressiva, os riscos de acidentes nas operações de transporte e distribui-
ção de produtos químicos”. (ABIQUIM, 2016). O sistema foi lançado em 2001
e não é obrigatório, mas, possibilita um diferencial para as empresas logísti-
cas certificadas.
Em resumo, a gestão da segurança empresarial (patrimonial) não pode ser
realizada de forma isolada e na sua inserção na estratégia empresarial mostra-
se como fonte de vantagem competitiva ao diferenciar a organização e seus pro-
dutos (certificações) para competição e reduzir custos (prevenção e recupera-
ção) relativos aos ativos da organização.
A gestão de segurança tem também uma visão ampliada e inerente ao trata-
mento, relação com empregados e com o meio ambiente em que a organização
atua e, como tal, depende de ações permanentes de treinamento, comunicação
72 • capítulo 3
e apoio firme da Alta Administração na consciência de que o atendimento da
legislação é uma condição necessária, mas não suficiente, pois a ação de segu-
rança depende da consciência e comprometimento de todos na organização.
De forma semelhante, como veremos a seguir, se apresentam as estratégias
de manutenção de ativos e equipamentos.
Nesta obra, adotamos a definição de manutenção como ações que objetivam reparar
ou repor algo que esteja avariado, ou que não funcione corretamente de modo que
venha a desempenhar sua função inicial e manter a continuidade do serviço. Os
métodos de manutenção se relacionam com o regime de produção, com os tipos de
equipamento e com a idade do sistema operacional.
capítulo 3 • 73
feita de forma sistemática e sem intervalo fixo para prevenir
falhas, avarias a queda no desempenho em equipamentos, obe-
decendo a planos estabelecidos, geralmente, recomendados
MANUTENÇÃO por fabricantes e tendo em vista a vida útil (medida em horas,
PREVENTIVA quilômetros etc.) dos equipamentos apresenta intervenções
sucessivas. Ela utiliza relatórios de inspeção do equipamento,
métodos de análise de falhas e a vida útil dos componentes.
74 • capítulo 3
Manutenção
Envelhecimento
Detalhamento
Projeto básico
e montagem
Fabricação
Operação
Descarte
Partida
e
Manutenção
Figura 3.3 – Custos e vida útil de equipamentos. Fonte: Adaptado de Kardec (2016).
capítulo 3 • 75
Kardec (2016) se refere a um dos conflitos básicos na administração das or-
ganizações, o entre as áreas de operação e manutenção, o qual pode ser equa-
cionado pela consciência dos custos ao longo da vida útil dos equipamentos.
O autor apresenta o exemplo da área de produção não liberar o ativo para a
intervenção de manutenção, para não paralisar suas atividades. No entanto,
essa ação pode acarretar custos maiores no evento de uma avaria (manutenção
corretiva não planejada) sem disponibilidade de materiais sobressalentes, de
pessoal necessário para a intervenção etc.
Outro viés apontado por Kardec (2016) é o da “redução de custo a qualquer
custo” com consequências futuras prejudiciais para a organização como, por
exemplo, “Redução da Confiabilidade; redução da Disponibilidade; aumento
do risco de acidentes operacionais e pessoais e maior possibilidade de danos
ambientais”. O autor defende a filosofia de gestão de ativos na direção da ma-
nutenção centrada em confiabilidade, em que se busca o aumento da dispo-
nibilidade dos equipamentos pela redução de suas paralisações e melhoria da
programação e execução dos serviços programados.
Corretiva
Preventiva Tempo de ressuprimento
Preditiva Número de peças sobressalentes
Detectiva Custo de aquisição
Inspeção Riscos de falta
Políticas de Peças de
manutenção reposição
Confiabilidade
Indicadores Mantenabilidade Equipamentos
críticos
Disponibilidade
TMPF, TMEF, TMPM Frequência de falhas
TMPR, Disp(%), Mant(%), Consequência das falhas
Conf(%), Custo, ... Riscos
Custo da
manutenção Redundância
(Previsão)
Mão de obra Redundância ativa
Peças sobressalentes Redundância reserva
Material Cargas compartilhadas
Lucro cessante
76 • capítulo 3
corretivas, o custo de manutenção e aperfeiçoar a frequência e as práticas de
manutenção preventiva. (SEIXAS, 2012). O custo de manutenção ótimo é resul-
tado dos custos da manutenção preventiva em cotejo com custos de eventuais
panes ou falhas com paralização da produção.
Esses três objetivos fazem parte dos conceitos de MCC e TPM, sendo que a mante-
nabilidade diz respeito à condição de equipamento, produto, componente ou sistema
de receber manutenção em um período de tempo determinado e a custos preestabe-
lecidos de acordo com procedimentos e recursos técnicos logísticos especificados.
capítulo 3 • 77
A MCC foi desenvolvida, inicialmente, para a indústria aeronáutica, sendo
aplicada a outros segmentos industriais e busca a redução de riscos de ocorrên-
cia de falhas, pela menor probabilidade de ocorrência em que se busca prio-
rizar o serviço a ser realizado para garantir a continuidade das operações dos
equipamentos ou sistemas. Moubray (1997) define falha, de forma simples,
como a “incapacidade de quaisquer ativos realizarem o que seus usuários de-
sejam que façam” e propõe a implantação da MCC, a partir da formulação e
resposta a sete questões básicas:
• Quais são as funções e padrões de desempenho associados ao ativo em
seu contexto operacional atual?
• De que maneiras o ativo está falhando no atendimento de suas funções?
• O que causa cada falha funcional?
• O que acontece quando cada falha acontece?
• De que maneira cada falha é importante?
• O que pode ser feito para prever ou prevenir cada falha?
• O que pode ser feito se uma providência proativa adequada não possa ser
determinada? (MOUBRAY, 1997).
Escolha do sistema
Manutenção operacional
preventiva
Definição de funções
e padrões de
desempenho dos
Manutenção equipamentos
baseada na
confiabilidade Análise dos modos de
falhas e efeitos
históricos das
paralizações
Manutenção
preventiva Frequência de
manutenção
78 • capítulo 3
A tabela 3.1 apresenta uma visão geral do processo de MCC com cinco eta-
pas. Primeiramente, para se identificar e avaliar as funções e requisitos de de-
sempenho monta-se uma equipe de análise que identifica e coleta de dados
para descrição dos sistemas, com elementos e inter-relações com outras áreas
da organização. Em seguida, são descritas as funções e definidas as caracterís-
ticas de falhas, que servirão de base para a ferramenta da FMEA - Failure Mode
and Effect Analysis, ou seja, os modos, causas, efeitos das falhas e suas conse-
quências e sistemas críticos, como veremos adiante.
capítulo 3 • 79
no levantamento e análise de indicadores de manutenção, que abordaremos
no item 4.3 adiante.
A MCC, em resumo, se apresenta como uma estratégia de gestão da manu-
tenção que aumente a disponibilidade (tempo sem falhas e interrupções) para
contribuir na diminuição de custos de produção. Nesse sentido, as sete ques-
tões propostas por Moubray (1997) contribuem para o entendimento da MCC
como apoio à racionalização dos procedimentos de Manutenção, inclusive no
conceito de Manutenção Produtiva Total, que veremos a seguir.
Nakajima (1989) aponta que a letra “T” de Total tem três significados:
1. Rendimento Total das máquinas: maximização dos rendimentos opera-
cionais globais, medidos, como veremos adiante, pela OEE (Overall Equipment
Effectiviness);
2. Sistema Total: foco global e envolvimento das áreas de engenharia, pro-
dução e manutenção e;
3. Participação de Todos.
80 • capítulo 3
Takahashi e Osada (1993), apud Barros Filho (2011) apontam que um me-
lhor desempenho operacional de equipamentos resulta do aprimoramento de
técnicas e métodos em sua fabricação, manutenção e operação.
O conceito MPT envolve a meta “Quebra Zero”, que parte da interação do
homem e máquina que, segundo Nakajima (1989), envolve a manutenção dos
processos como responsabilidade de todas as pessoas da organização. Os equi-
pamentos devem estar sempre disponíveis em perfeita condição, de modo a
reduzir custos e níveis de estoque, evitando perdas. Nakajima (1989) definiu
sete perdas que afetam a eficiência (rendimento operacional total) dos equipa-
mentos devido a:
1. Quebra esporádica ou crônica dos equipamentos;
2. Ajustes e tempos de preparação e de regulagens;
3. Substituição de ferramentas e peças que se desgastam pelo processo
de produção;
4. Tempos até o equipamento entrar em regime normal, devido a uso de
ferramentas inadequadas, a falta de domínio técnico dos operadores para acer-
to da máquina ou outra;
5. Parada temporária sem ocorrência de falha (quebra);
6. Redução da velocidade de produção;
7. Retrabalho ou descarte de produtos com defeitos.
capítulo 3 • 81
A TPM contempla as etapas do ciclo de vida dos componentes do equipa-
mento, desde sua especificação até eventual substituição e tem como base o
custo de manutenção e a produtividade do equipamento em estreita colabora-
ção com a área de produção.
Desse modo, a MPT (TPM em inglês) se apresenta como estratégica na ges-
tão das organizações e é voltada para obtenção de vantagens competitivas com
a otimização dos ativos, redução dos custos de produção e de retrabalho. A filo-
sofia MPT atua para aumentar a disponibilidade operacional, a capacidade pro-
dutiva e, consequentemente, promove a confiabilidade de toda a organização.
Uma das ferramentas da TPM é a da Eficiência Geral do Equipamento, mais
conhecida em sua denominação em inglês Overall Equipment Efficiency (OEE)
foi desenvolvida para o acompanhamento do desempenho de equipamentos
nas organizações, atuando na sua melhoria contínua e na dos processos produ-
tivos. Nós detalharemos a abordagem da OEE, no item 4.3.2, no qual tratamos
dos indicadores de desempenho da manutenção.
82 • capítulo 3
Os planos de manutenção têm como objetivos aumentar a disponibilidade
(horas para operação) dos equipamentos, reduzir eventos de falhas e aumentar
a confiabilidade (maior tempo entre falhas, como veremos adiante) dos seus
componentes. Esses objetivos implicam em se identificar a importância do
equipamento em relação ao sistema de operação, fixarem-se critérios de manu-
tenção e verificar a eficiência da manutenção.
Para tanto, existem diversos métodos de programação, por exemplo, os
ciclos de PDCA, conhecido por Ciclo de Deming (1990), mas concebido por
Shewhart (Deming, 1990) e sua extensão para manutenção, o ciclo de SDCA
(Kaysen, 2015); programa 5S; a adoção do princípio três GEN e a elaboração de
planos de ação explicitados, os conhecidos 5W1H (What, Who, When, Where,
Why, How). (Kayzen, 2005). Esses métodos têm origem na filosofia de Gestão da
Qualidade e, em comum, a origem em modelos japoneses de administração e o
uso de siglas mnemônicas para fixação de conceitos, como resumimos a seguir.
• O ciclo de PDCA (Planeje, Execute, Controle, Aja), também conhecido
como círculo de Deming, para a manutenção, estabelece procedimentos e me-
tas padrão em suas quatro etapas. Plan: Fixação de clara e divulgada das metas
(quantificação do objetivo) de manutenção e dos métodos para atendê-las; Do:
Capacitar as pessoas na aplicação dos métodos adotados e executar o plane-
jado: Check: analisar a situação, identificando resultados e verificando-os em
relação às metas; Act: No caso de discrepâncias, adotar ações corretivas nos
processos tendo em vista as metas.
• O ciclo do SDCA (Kaysen, 2015) é uma variante aplicada às atividades de
manutenção mecânica, elétrica, eletrônica e predial para atendimento de suas
metas e é composto por quatro etapas: 1. Standard: Fixação da meta padrão; 2.
Do: Realizar procedimento para atender a meta padrão; 3. Check: Verificar o
atendimento da meta padrão após a execução; 4. Action: Atuar sobre a causa de
eventual desvio da meta padrão ou estabelecer a meta padrão caso os resulta-
dos estejam de acordo com o proposto.
• Programa 5S. Ferramenta de implantação da Qualidade Total tem como
objetivo a melhoria da produtividade e da qualidade do pessoal envolvido nas
atividades de manutenção. Esse método, atribuído ao Prof. Kaoru Ishikawa,
foi desenvolvido no Japão e representa práticas e consciência de melhoria da
qualidade e produtividade, de redução de acidentes e de custos, melhoria da
disciplina e do ambiente de trabalho. As cinco palavras (conceitos) em japonês
são: 1. Seiri – Sorting: Organização; 2. Seiton – Systematization: Ordem; 3. Seiso
capítulo 3 • 83
– Sweeping: Limpeza; 4. Seiketsu – Sanitizing: Asseio; 5. Shitsuke- Self discipli-
ne: Disciplina.
• O princípio dos 3 GEN, desenvolvido por Taiichi Ono, da Toyota e par-
te do Sistema Toyota de Produção (STP) diz respeito à investigação das causas
básicas de uma falha e por meio de perguntas orientadas levantar evidências
do fenômeno no local de sua ocorrência. O método é apresentado por meio de
três palavras, em japonês: 1. GEMBA: ir ao local da ocorrência; 2. GENBETSU:
identificar evidências ou objetos afetados; 3. GENSHO: entender o fenômeno.
Em resumo, consiste na atitude de “ir e ver” e ao ver “enxergar”, identificando
e entendendo o fenômeno.
• Planos de Ação: 5W e 1H (Kayzen, 2015). Método utilizado na gestão de
projetos resume as características de um programa de intervenção, explicitan-
do: O que vai ser feito (What); Quem (Who) é o responsável, de preferência o
nome da pessoa; Quando (When) será realizada, ou seja, início e fim da ativi-
dade; Onde (Where), ou seja, o local explícito da intervenção; Por que (Why),
ou seja, as causas da intervenção (plano de manutenção geral, ação de reparo,
de modernização etc.); e Como (How), plano de manutenção e de intervenção,
como explicitamos a seguir.
Esses métodos não podem ser tomados isoladamente e fazem parte de uma
filosofia de gestão na direção da Qualidade, na busca do entendimento das ati-
vidades de manutenção, do seu planejamento e acompanhamento e participa-
ção de todos na organização. Ou seja, sua adoção impacta a cultura organiza-
cional e, como tal, devem contar com o apoio firme da Alta Administração.
A seguir, apresentamos, baseando-nos em Seixas (2012), os componentes
básicos de um Plano de Manutenção em inter-relação com a área de produção,
quais sejam:
1. Especificação de todos os serviços identificados pelos setores de inspe-
ção e produção necessários na intervenção aos equipamentos;
2. Adequação a políticas de manutenção da organização. Por exemplo, o
seguimento aos métodos indicados (PDCA, 5S, 3 GEN).
3. Dimensionamento dos tempos necessários para a realização das ma-
nutenções, que podem implicar em parada da produção; tamanho e capacita-
ção da mão de obra, materiais e recursos a serem utilizados na intervenção;
4. Elaboração de programas de manutenção (cronogramas e planos de
ação) de acordo com as áreas envolvidas na organização.
84 • capítulo 3
Um programa de manutenção pode ser iniciado por uma ordem de serviço
(OS), que indica o equipamento a ser mantido, o tipo de intervenção a ser rea-
lizado, o tempo previsto, a necessidade de recursos e a OS fornece informação
básica para o acompanhamento do sistema de gestão da manutenção e para
seu registro histórico do equipamento.
Do ponto de vista prático, Fonseca Neto e Quezada (2011) recomendam os
seguintes critérios para a prioridade para estabelecimento dos planos de ma-
nutenção, quais sejam:
• Prioridade 1. Na ocorrência de paralização imediata da operação do equi-
pamento e risco elevado de acidente com o equipamento ou sistema produtivo.
Os serviços são realizados de imediato, suspendendo-se outros em andamento.
Muitas vezes, os serviços são realizados em urgência.
• Prioridade 2. Quando da redução parcial da produção sem perda irrecu-
perável. O serviço se inicia no curto prazo sem cancelar outros. A intervenção é
planejada e programada.
• Prioridade 3. Não reduz a produção e deve ser feita aos se constatar a redu-
ção da qualidade do produto ou da confiabilidade do equipamento. Atividade
programada com antecedência.
• Prioridade 4. Refere-se a intervenções de melhoria no equipamento e a
trabalhos solicitados pela engenharia de manutenção, pela inspeção ou pela
operação. O serviço é feito conforme a disponibilidade de mão de obra.
capítulo 3 • 85
8. Total de deduções a serem realizados = 250 horas
9. Horas disponíveis por semana = 530 - 250 = 280 horas
10. Back-log = 2 000 / 280 = 7,14
Resposta: O programa de manutenção (2.000 h) pode ser cumprido (back
-log) em cerca de sete semanas e um dia. Ou seja, o back-log pode ser utilizado
para estimativa da necessidade de mão de obra. No caso, se o programa tiver
de ser cumprido em tempo menor, a consequência é a contratação de mais
pessoas.
86 • capítulo 3
Os indicadores de desempenho da manutenção fazem parte dos planos de
manutenção e sua determinação deve refletir o plano estratégico da organiza-
ção, sendo sem acompanhamento e avaliação uma responsabilidade das áreas
de manutenção em conjunto com as de operação, como é o caso da FMEA, que
veremos a seguir.
λ (t)
Taxa de
falha
Mortalidade
infantil Período de vida útil Desgaste
capítulo 3 • 87
A figura 3.6 apresenta o formato geral da curva de falhas, conhecida como
“Curva da banheira” que ilustra o comportamento das falhas (taxa) ao longo de
sua vida útil nas fases de implantação, operação normal e de desgaste.
Desse modo, a figura 3.6 mostra uma primeira fase de Falhas Imediatas ou
Prematuras, denominada “mortalidade infantil” ou de “doenças infantis”, na-
turais no início de operação do equipamento e à medida que ele se ajusta e as
equipes se capacitam na sua operação, a taxa de falhas mostra-se decrescente.
Entre as causas desse comportamento se destacam falhas de especificação, de
projeto, de fabricação, de montagem, de operação, mecânicas ou metalúrgi-
cas dos materiais, sobrecarga de partida, componentes não testados, estoca-
gem inadequada (falta ou especificação) de componentes e erros humanos.
(LAFRAIA, 2001).
Na fase de maturidade, as taxas de falhas se mantêm constantes ao longo de
tempo e, em geral, são de natureza aleatória, com causas como: insuficiência
do fator de segurança; sobrecargas nas operações; acidentes vários por fatores
externos; imprevistos ou erro humano. Na fase de desgaste, as taxas de falhas
voltam a crescer pela deterioração das propriedades mecânicas, químicas e
metalúrgicas do material dos componentes dos equipamentos. Suas causas,
conforme apontam Fonseca Neto e Quezada (2011), são fadiga e degradações
(resistência mecânica dos componentes, circuitos elétricos e eletrônicos, com-
ponentes elétricos), cargas de impacto e manutenção inadequada.
A OEE (Overall Equipment Efficiency) faz parte da TPM e apresentada por Seii-
chi Nakajima, como medida básica de avaliação do desempenho de equipa-
mentos, sendo muito usada pelas empresas no contexto dos conceitos do Siste-
ma Toyota de Produção (STP) e produção enxuta. (OEE, 2016).
Moellmann et al. (2006) afirmam que o conhecimento da capacidade nominal
dos equipamentos permite avaliar a capacidade produtiva e eventuais gargalos
de um sistema operacional como um todo, com a utilização do indicador OEE.
Dessa forma, a OEE apresenta a relação percentual entre a eficiência global
verificada em um equipamento relativamente à sua eficiência global e teórica
de modo a se identificar possíveis perdas. Um exemplo claro é indicador de
OEE de 75% em um processo, ou seja, indica que 25% dos resultados não aten-
deram especificações ou foram perdidos.
88 • capítulo 3
Guachalla (2012) apresenta OEE como um indicador tridimensional, que
mede o desempenho de equipamentos em três vertentes: a Disponibilidade
(percentual do tempo útil de operação); a Eficiência (percentual da produção
real em relação à capacidade nominal); e a Qualidade (percentual da qualidade
do produto em relação ao processo em que o equipamento pertence). A figura
3.7 ilustra o cálculo do OEE com base na identificação precisa dos tempos de
falha, dos gargalos, das perdas de velocidade, das anormalidades e eventuais
produtos fora de especificação, conforme veremos a seguir.
capítulo 3 • 89
Taxa Comercial
CM
TCB =
TOD
Taxa Efetiva
CM
TE =
TOE
90 • capítulo 3
TOE = TOD − TEX − TOP − TMAN
Mede, conforme Vale (2011), a relação percentual entre a taxa nominal do equi-
pamento, linha, berço ou porto e a taxa efetiva realizada pela relação:
TE
TER =
TNOM
capítulo 3 • 91
Indicador que relaciona a taxa nominal do equipamento, ou seja, especifica-
ção do fabricante e taxa real e efetiva referidas a um período de tempo e pode ser
expressa em percentual. Por exemplo: 75%. Esse índice deve ser analisado tam-
bém ao tempo de instalação e operação do equipamento, pois equipamentos
novos costumam ter desempenho inferior ao nominal devido a ajustes e apren-
dizado. Outro fator importante é seu fluxo ou demanda de serviços e tarefas.
Disponibilidade Física
Produtividade Relativa
92 • capítulo 3
CM
PROD% = ÷ ( TNOM )
TOE
Utilização
TOE
U% = ×100%
TCAL − TMAN
Equação 7 – Utilização.
capítulo 3 • 93
O estudo de caso que apresentamos adiante mostra um exemplo da aplica-
ção do OEE em um porto de minério de ferro da VALE.
A OEE é considerada como a medida mais importante da produtividade de
processos produtivos e uma OEE de 100% representa que se produziram so-
mente peças boas, no menor tempo possível e sem paradas. (OEE, 2016). Seu
cálculo, mostrado na Equação 8 é a multiplicação de três fatores. Por exemplo,
uma OEE, aparentemente reduzida, de 73% indica que os três fatores foram
de 90%!
Note-se que a OEE não determina causas, ela apoia a gerência no acompa-
nhamento do processo produtivo e no controle de seus componentes e, na ver-
dade, se constitui em um indicador de desempenho a perseguir e avaliado pela
sua decodificação dos três fatores, como mostra a tabela 3.2 com a aplicação
da OEE, baseada nos conceitos de TPM, em relação a um processo produtivo e
análise das seis grandes perdas do processo. (OEE, 2016).
AVALIAÇÃO RECOMENDADA DE
OEE SEIS GRANDES PERDAS TRADICIONAIS
SEIS GRANDES PERDAS
Paradas não planejadas Falha do equipamento
PERDA DE DISPONIBILIDADE
Paradas planejadas Setup e ajustes
Ociosidade e pequenas
Pequenas paradas
paradas
PERDA DE DESEMPENHO
Ciclos lentos Redução de velocidade
Tempo operacional
OEE Tempo produtivo total
valorizado
Tabela 3.2 – OEE – Avaliação das seis grandes perdas de processos de produção. Fonte:
Adaptado de OEE (2016).
94 • capítulo 3
3.2.4 A terceirização dos serviços de manutenção
ATIVIDADES
Estudo de Caso
O estudo de caso se refere à aplicação da ferramenta da OEE na avaliação de sistema
de manutenção do Porto de Vitória da VALE, desenvolvido em contexto de curso de pós-
graduação em Engenharia Portuária realizado em conjunto pela VALE e UFMA. Um sistema
portuário se compõe dos subsistemas de chegada de navio, transbordo de carga, armaze-
nagem, recepção terrestre, despacho e um porto de minério de ferro conta com pátio de
recepção e equipamentos (correias transportadoras, empilhadeiras e recuperadoras) para
movimentação do produto.
O Porto de Tubarão, terminal de minério de ferro opera na interação entre: Viradores de
Vagões (VVs), Pátios, Peneiras, Empilhadeiras (EPs), Recuperadoras (RCs), Empilhadeiras
-Recuperadoras (ERs) e Carregadores de Navio (CNs), e Correias Transportadores (TRs). O
estudo focalizou o Píer I pela análise de suas taxas efetivas e as taxas dos equipamentos de
origens do produto para embarque.
O levantamento de toda a carga movimentada (CM) pelos equipamentos de origens com
seus respectivos tempos totais de operação efetiva (TOE) permitiu identificar as produtivi-
dades dos equipamentos de origens. Esse levantamento e entrevistas com responsáveis
indicaram que a melhoria da produtividade desse píer seria possível pelo aumento do volume
capítulo 3 • 95
embarcado em um intervalo de tempo operacional efetivo. A redução dos tempos de paradas
não previstas, eventuais gargalos, exige a avaliação do indicador de utilização.
Perguntas
01. Quais são as condições básicas para utilização de ferramentas gerenciais, como a OEE?
02. De quem deve ser a responsabilidade para a condução do processo gerencial relativo à
manutenção de grandes equipamentos? Quem deveria participar?
03. Apresente um exemplo de aplicação de OEE em uma indústria de grande porte. Escolha
um setor e pesquise na Internet.
MULTIMÍDIA
Sugestões de pesquisas
ABRAMAN – Associação Brasileira de Manutenção e Gestão de Ativos. Associa-
ção de fomento ao aperfeiçoamento das atividades de manutenção. Disponível em: <http://
www.abraman.org.br/index.php>.
96 • capítulo 3
OEE. Operational Equipment Efectiveness. OEE - What is Overall Equipment Effec-
tiveness? Sítio norte-americano de divulgação, discussão e treinamento na ferramenta do
OEE. Disponível em <http://www.oee.com/index.html>.
Portal da Metodologia TPM - Total Productive Maintenance. Sítio de divul-
gação e discussão da filosofia TPM. Disponível em <http://www.portaltpm.com.br/
metodologia_tpm.asp>.
Revista Tecnologística. Disponível em <http://www.tecnologistica.com.br/> Revista
técnica especializada em logística.
Revista Mundo Logística. Disponível em: <http://www.revistamundologistica.com.br/
portal/index.shtml> Revista similar e concorrente à Tecnologística. Ela promove cursos vir-
tuais e divulga artigos de especialistas e profissionais da área.
Youtube: Curso de cronoanálise e métricas industriais: <http://www.austenitect.
com>. Aula (parte de curso de cronoanálise) referente ao cálculo de OEE. Disponível em
<https://www.youtube.com/watch?v=k4WyO1vTbe4>.
REFLEXÃO
Este capítulo analisou a gestão da segurança patrimonial e da manutenção de ativos no en-
tendimento de seu papel estratégico nas organizações. Seu objetivo é manter as condições
dos ativos para uma operação segura, de baixo custo e eficiente na direção dos objetivos das
organizações. O cenário é da competição em mercados globais, exigentes e agressivamente
disputada.
Os conceitos básicos de segurança patrimonial foram analisados na dimensão da segu-
rança empresarial, ou seja, além da segurança de instalações físicas, equipamentos e das
pessoas da organização foram considerados fatores intangíveis de imagem e reputação na
sociedade e no meio ambiente. Os componentes básicos de um Plano de Segurança se
baseiam na análise dos ambientes interno e externo e seus condicionantes: instalações,
localização, fontes de recursos, incidência ou probabilidade de incidência de eventos dano-
sos. Uma extensão desses planos corresponde aos sistemas de Saúde, Segurança e Meio
Ambiente (SSMA).
A gestão da manutenção de ativos e equipamentos aborda os conceitos de Manutenção
Centrada na Confiabilidade (MCC) e de Manutenção Produtiva Total (TPM), esta com origem
no Sistema Toyota de Produção, largamente utilizado em empresas de classe mundial, como
Ford Motor Co. e a VALE, principal empresa mineradora mundial.
capítulo 3 • 97
A manutenção é gerenciada por meio de processos estruturados com o estabelecimento
de metas e seu acompanhamento por sistemas dedicados de indicadores de desempenho.
As áreas de manutenção se inter-relacionam com as de produção, por meio da realização de
reuniões periódicas para programação das intervenções necessárias e avaliação de desem-
penho. O conflito operação- manutenção, clássico nas empresas, deve ser gerenciado por
meio do entendimento mútuo e na negociação do atendimento de seus objetivos em cotejo
com os organizacionais. A terceirização da manutenção, à semelhança da logística, conforme
vimos no Capítulo 2, requer cuidados especiais e controle constante pela sua especialização
e criticidade nas organizações.
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Interno VALE, Vitória, 2011.
capítulo 3 • 99
100 • capítulo 3
4
Logística e
administração
patrimonial de
instalações, recursos
materiais e a gestão
de inventários
4. Logística e administração patrimonial de
instalações, recursos materiais e a gestão de
inventários
A logística integrada, conforme enfatizamos nesta obra, é responsável pela ad-
ministração de fluxos de materiais, de informação e de recursos financeiros no
conceito de cadeias de suprimentos, objetivando vantagens competitivas na
atuação em mercados globais e exigentes. A administração patrimonial das ins-
talações e dos recursos materiais desempenha papel importante ao assegurar
condições de operação a custos baixos e a disponibilidade de ativos para a pro-
dução e entrega de produtos e serviços aos clientes nas condições acordadas.
Ao focalizar a dimensão física dos ativos, apresentamos os aspectos básicos
da administração patrimonial pública e privada, sendo que a gestão de bens
públicos segue regulamentações oficiais na sua definição e procedimentos so-
bre compra, disposição, alocação e alienação. Faz parte da gestão pública de
materiais, a responsabilização das ações relativas ao patrimônio, entendido
como de propriedade de toda a população.
Neste capítulo, analisamos as condições de terceirização (outsourcing) de
atividades e serviços, identificando que as organizações a têm adotado com o
objetivo de flexibilizar recursos e variabilizar custos, ou seja, adequar a utiliza-
ção de recursos humanos e materiais a variações conjunturais e estruturais dos
mercados. Este processo estratégico é crítico e deve ser deflagrado após defini-
ção clara e consensuada do que deve ser terceirizado e a contratação deve pas-
sar por um conjunto de ações, desde a prospecção de potenciais prestadores de
serviços até a efetiva contratação e operacionalização de formas de controle e
de correção em relação ao desempenho acordado.
Nesse contexto se insere as ações de compras ou suprimentos, para as quais
descrevemos os procedimentos básicos e o conceito de TCO – Custo Total da
Propriedade que consolida os custos de aquisição nas fases pré-transação, na
de compra e na de pós-transação, como instrumento de gestão visando a me-
lhoria de resultados. Apresentamos, ainda, as bases para o desenvolvimento de
compras eletrônicas, principalmente os Leilões Reversos Eletrônicos que têm
sido adotados tanto na esfera pública como na privada.
Compras e a gestão de inventários andam de mãos dadas e, ambas, servem
aos processos produtivos no que se refere a matérias-primas e ao atendimento
102 • capítulo 4
a Marketing e vendas, em relação aos estoques de produtos acabados. Os es-
toques são importantes no total dos custos logísticos e sua administração ao
longo das cadeias de suprimentos é essencial ao desempenho e atendimento
aos requerimentos de vantagens competitivas às organizações.
OBJETIVOS
• Apresentar os aspectos básicos da administração patrimonial pública e privada relativa a
instalações e equipamentos;
• Apresentar o processo de decisão de terceirização de operações e atividades;
• Apresentar políticas de suprimentos e compras em relação à gestão de inventários;
• Analisar a administração de inventários em sua relação com a logística das organizações.
capítulo 4 • 103
como: todos os “bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas
de direito público interno; todos os outros são particulares, seja qual for a pes-
soa a que pertencerem” e mais especificamente, nomina bens públicos:
I - Os de uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas, ruas e praças;
II - Os de uso especial, tais como edifícios ou terrenos destinados a serviço ou esta-
belecimento da administração federal, estadual, territorial ou municipal, inclusive os de
suas autarquias;
III - Os dominicais, que constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito públi-
co, como objeto de direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades.
Parágrafo único. Não dispondo a lei em contrário, consideram-se dominicais os bens
pertencentes às pessoas jurídicas de direito público a que se tenha dado estrutura de
direito privado. (BRASIL, 2016).
104 • capítulo 4
Terras devolutas; lagos, rios e correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que
banhem mais de um estado ou sirvam de limites com outros países. Terrenos margi-
nais e as praias fluviais; ilhas fluviais; praias marítimas; ilhas oceânicas e costeiras; re-
cursos naturais da plataforma continental; o mar territorial e os terrenos de marinha e
seus acrescidos; os potenciais de energia hidráulica e os recursos minerais, inclusive
os do subsolo; as cavernas e sítios arqueológicos. (CARVALHO FILHO, 2007).
capítulo 4 • 105
Em relação ao uso os bens públicos podem ser classificados em Bens in-
dustriais: edifícios e instalações destinados à produção industrial do Estado.
Por exemplo, Casa da Moeda, a Imprensa Nacional, Escolas Industriais etc.
Bens de Defesa Nacional destinados a atividades e serviços de defesa nacional.
Por exemplo, quartéis, hospitais militares, navios e aviões de guerra, arsenais
e depósitos de material bélico, escolas e colégios militares. Bens científicos
e artísticos: bibliotecas públicas, museus, arquivos Nacionais, Estaduais ou
Municipais. Bens de Natureza Agrícola: escolas agrícolas, fazendas e campos
de experimentação agrícola e escolas técnicas e de nível superior de agronomia.
(VIANA, 1971).
No capítulo 1, apresentamos os aspectos principais da administração de
bens patrimoniais na administração pública nas operações de incorporação,
registro, utilização, movimentação, alienação e controle dos bens patrimoniais
e, como enfatizamos, as atividades de administração patrimonial são regula-
mentadas por legislação própria e regulamentos específicos. Na Internet, estão
disponíveis diversos manuais de administração de bens patrimoniais públicos,
um deles é o da Universidade de São Paulo - USP (2015) que apresenta procedi-
mentos e responsabilidades.
Em relação às responsabilidades, o documento explicita que:
106 • capítulo 4
as responsabilidades dos gestores no atendimento dos objetivos de desenvol-
vimento e lucratividade das atividades organizacionais. Desenvolveremos, a se-
guir, outro aspecto importante, a contratação e compra de serviços e materiais
pelas organizações. Para tanto, adotamos a abordagem logística e a inter-rela-
ção existente nas cadeias de suprimentos.
capítulo 4 • 107
A ROE é um indicador de rentabilidade da organização e, em geral, quan-
to maior melhor, ou seja, a organização está gerando lucro e sua referência à
sua riqueza efetiva é positiva (ver capítulo 1). Logicamente, seu valor tem a ver
com o setor de atuação da organização e, preferencialmente, deve ser positivo
e quanto maior, melhor. Ora, como já mostramos, o Patrimônio Líquido é a
diferença entre Ativos e Passivos, assim, ao terceirizar a organização deixa de
investir (ativar) em veículos, equipamentos e até instalações, reduzindo o de-
nominador da equação (1) e assim, aumentando o resultado do indicador ao
compensar a eventual diminuição do lucro líquido do exercício.
Vamos supor, em termos simplificados, que uma organização em um
exercício alcance lucratividade de $5.000 (Receitas: $15.000 menos Despesas:
$10.000) e patrimônio líquido de $100.000 (Ativos: $500.000 menos Passivos:
$400.000) e, assim uma ROE de 5%. Ao terceirizar, ela diminui seu ativo para
$450.000 e mantendo o passivo em $400.000, o patrimônio líquido será de
$50.000. As receitas podem permanecer em $15.000 e as despesas cresceram
com os encargos da terceirização para $11.500. Assim, a lucratividade será de
$3.500 e a ROE 7%.
Outra discussão permanente nas organizações e na academia diz respeito
ao conceito e definição do core business, ou seja, o negócio essencial da organi-
zação. Vejamos o exemplo da indústria automobilística: qual o negócio ou com-
petência essencial de uma montadora? A primeira vista, parecem ser o desen-
volvimento de novos modelos e projetos de veículos, capacidade operacional de
montagem e a relação com distribuidores. No entanto, essas atividades já estão
sendo desenvolvidas por terceiros, inclusive o desenvolvimento de projetos por
empresas especializadas, assim como, as operações de montagem, conforme
vimos no Capítulo 2, no caso da MAN Caminhões.
O relacionamento com montadoras permanece o vínculo comercial com as
distribuidoras/concessionárias, mas todas as operações de entregas de veícu-
los são contratadas fora e a própria gestão dos estabelecimentos revendedores
é independente das montadoras.
Desse modo, permanece a certeza da terceirização como estratégia de re-
dução e variabilização de custos e de melhoria de resultados. A competência
essencial da empresa focal em uma cadeia de suprimentos pode ser a de seu
comando e inter-relacionamento com as entidades envolvidas nessa cadeia.
A contratação da prestação de serviços não é trivial e depende de um pro-
cesso sofisticado de definição do escopo dos serviços a terceirizar, da prospec-
ção e identificação dos potenciais prestadores de serviços, de procedimentos
108 • capítulo 4
detalhados e multifuncionais de avaliação de propostas, de adjudicação e for-
mulação detalhada de contratos e dos procedimentos para seu acompanha-
mento, com base, por exemplo, em indicadores de desempenho previstos e
acordados.
A figura 4.1 apresenta uma guia em oito etapas, proposta por uma consul-
tora, apud Robles (2001) para gestão da contratação de fornecedor externo em
uma empresa em operação. O processo se desencadeia, conforme mostra a fi-
gura 4.1, pela decisão estratégica da organização de terceirizar e se divide nas
etapas mostradas adiante.
Analise detalhadamente
as propostas técnicas e
comercial
Revise detalhadamente
o contrato proposto
capítulo 4 • 109
temporária e a semelhança da estrutura de gestão por projeto desmobilizada
ao final do processo.
110 • capítulo 4
(organização, capacitações, clientes atuais etc.) e prazos de apresentação da
proposta, compatíveis com a complexidade e abrangência do bem a adquirir.
capítulo 4 • 111
Os processos de terceirização são críticos e nem sempre bem sucedidos nas
organizações em função das exigências de desempenho e de redução de custos
presentes nos contratos. Outra questão é a resistência, não exclusiva de entida-
des representativas dos trabalhadores (sindicatos e associações), mas também
de resistências culturais, por exemplo, a afirmação que terceiros “não têm com-
promisso com a organização”, “não vestem a camisa” e outras.
Robles (2001), ao analisar a contratação de operadores logísticos por monta-
doras de automóveis concluiu pela complexidade das relações com “exigências
de melhorias sistemáticas nas condições de prestação de serviços, principal-
mente, de diminuição de preços e o lançamento de novos processos concorren-
ciais” e constatou a tendência da terceirização global das atividades logísticas
(one-stop shopping) por parte das montadoras pesquisadas.
A tabela 4.1, proposto por Robles (2001), resume aspectos de relacionamen-
to entre montadoras e operadores, indicando que a terceirização é uma estraté-
gia das montadoras na intenção de variabilizar custos, com licitações no nível
global. Muitas montadoras têm mais de um operador logístico contratado, e
a contratação envolve diversas áreas funcionais, em processos longos para a
formalização de contratos de médio a longo prazos. No andamento dos con-
tratos, Robles (2001) apontou exigências permanentes de melhoria de desem-
penho, inclusive com a redução de custos e ainda troca constante de contra-
partes. Apesar da decisão estratégica, o autor identificou resistências culturais
à terceirização.
MONTADORAS
• Estratégia organizacional • Desejo de variabilizar o pagamento dos
de terceirização serviços à produção de veículos
• Mais de um operador logísti- • Troca constante de contrapartes
co contratado • Exigências de melhorias de desempe-
• Várias áreas envolvidas na contratação nho e reduções de custos em curto prazo
e no controle de contratos • Tendência para a contratação de opera-
• Tendência a uma contratação por dor único
especialidade • Necessidade de melhoria de desempe-
• Processos longos de contratação nho dos operadores
• Contratos de médio e longo prazos • Resistências culturais internas
• Renegociações constantes de contra- à terceirização
tos, inclusive com alterações de escopo. • Global sourcing nas concorrências
112 • capítulo 4
OPERADORES LOGÍSTICOS
• Contratação de profissionais especiali-
• Empresas com origem em atividades zados no setor e treinamento on the job
específicas do setor ou multinacionais • Entendimento das necessida-
• Incorporação de novas funções pela des dos clientes e uso de tecnolo-
exigência dos clientes gias personalizadas
• Profissional dedicado ao atendimento • Sentimento de compartilhamen-
do cliente to de riscos e investimentos e não
• Participação constante em processos de benefícios
de concorrência • Especialização e alta concentração dos
• Desenvolvimento de projetos e avalia- negócios no setor automotivo
ção de soluções logísticas, inclusive nos • Visão da atuação do setor automotivo
processos de licitação para alavancar imagem e reputação
• Esforço na prestação mais completa de • Soluções logísticas integradas e
serviços globais com maturação de médio e
• Estabelecimento de relações empresa- longo prazo
riais com empresas especializadas • Intenção de continuidade de atuação
no setor automotivo
capítulo 4 • 113
4.3 Gestão de compras e inventários (estoques)
114 • capítulo 4
Custo Total da Propriedade (TCO)
capítulo 4 • 115
A consolidação do volume se dá pela redução do número de fornecedores,
a qual, por um lado, pode representar vulnerabilidade e dependência de forne-
cedores, por outro, aumenta a força de negociação em relação ao fornecedor.
Estes, por sua vez, conseguem economias de escala ao consolidarem suas ven-
das. Um exemplo foi constatado por Robles (2001) em que pese as restrições e
relações conflituosas entre montadoras e operadores logísticos, estes se mos-
traram dispostos à continuidade de operarem no setor.
A integração operacional dos fornecedores representa a integração de seus
processos e atividades para melhoria das operações nas cadeias de suprimen-
tos e se constitui na principal característica da gestão em cadeias para reduzir
o custo total e melhorar os fluxos operacionais entre compradores e vendedo-
res. Um de suas bases é o acesso a sistemas de informações, trocando dados de
compras e vendas atuais e futuras. Por exemplo, os sistemas de EDI (Electronic
Data Interchange - Intercâmbio Eletrônico de Dados) que abordaremos no ca-
pítulo 5 tem como função a redução dos tempos de pedido, eliminando erros
e retrabalhos.
A gestão de valor, segundo Bowersox et al. (2006) é um estágio superior de
relacionamento entre compradores e vendedores com escopo mais abrangen-
te, que se inicia no desenvolvimento do projeto (engenharia de valor), em que
são avaliadas as necessidades de materiais e componentes no estágio inicial do
projeto. Dessa forma, o empreendimento se torna conjunto e compartilhado
com o comprador, capitalizando o conhecimento e as capacidades do fornece-
dor. O objetivo conjunto é reduzir o custo total (TCO) do fornecimento, melho-
rando o desempenho na pesquisa e implantação de soluções de menor custo e
maior funcionalidade dos materiais a serem adquiridos.
As estratégias de compras estão voltadas para o tipo de aquisição e atual-
mente são comuns compras eletrônicas, por exemplo, o sistema EDI que men-
cionamos. Nas relações entre empresas, ou seja, no Marketing B2B (Business
to Business) se apresentam ferramentas eletrônicas, via Internet, amplamente
utilizadas, tanto no setor privado como no público. Um dos exemplos notórios
é o do leilão reverso eletrônico (LRE) definido por Klein (2007) como “leilão
em tempo real entre uma empresa compradora e dois ou mais fornecedores
convidados”.
Nos LREs os proponentes submetem vários lances dentro do período de
tempo do leilão, com visibilidade a todos os potenciais fornecedores pela
Internet e são chamados de reversos, pois os lances se referem a preços mais
116 • capítulo 4
baixos que um preço base determinado pelo comprador. O processo tem um
tempo determinado que se estende a cada lance e termina quando não houver
lances menores. Esse procedimento também adotado por organizações públi-
cas e tem como condições, conforme Talluri e Ragatz (2004) apud Klein (2007):
capítulo 4 • 117
Macro-Fases
Planejar e requerer Comprar Pagar
Gerenciar almoxarifado e contratos
Processos
Estruturas de gerenciamento
Gerenciamento de Gerenciamento de Gerenciamento
fornecedores suprimentos financeiro
Gerenciamento de Gerenciamento de
cadastro contratos/medições
Gerenciamento do Desempenho do Processo e Relatórios; Monitoramento e controle dos SLAs (Acordo de nível de serviço)
Gerenciamento de Riscos
118 • capítulo 4
Note-se que essa disposição atende ao conceito de cadeias de suprimentos
e a movimentação física e a troca de informações ao conceito de logística inte-
grada que abordamos no capítulo 2.
A gestão de inventário pode ser associada também como analogia à função
das caixas d’água residenciais, as quais têm como função regular os fluxos de
recebimento de água da rede pública, com seu uso, ao longo do dia em uma
residência. Para tanto, conta como uma boia reguladora que abre ou fecha em
função da quantidade de água acumulada.
A gestão de inventário é similar, o inventário de materiais deve ter um vo-
lume suficiente (produtos em estoque) para compatibilizar os fluxos de saída
(consumo de materiais para produção e produtos prontos para atendimento
de vendas e expedição de mercadorias) e os fluxos de entrada (suprimentos de
materiais e peças para produção). O fluxo de produção, como a disponibilidade
para consumo de água na residência, não pode ser interrompido devido a seus
reflexos no nível de serviço e atendimento a clientes (produtos entregues no
prazo e condições acordadas).
Em resumo, segundo apresentam Robles e Nobre (2015), inventários têm
como objetivo atender as seguintes questões:
• Proteção em relação às incertezas e variações da demanda e nos ciclos
de pedido;
• Exploração de economias de escala. Maior produção => menores cus-
tos unitários;
• Possibilidade de equilíbrio entre oferta e demanda;
• Especialização da produção;
• Regulação de fluxos e interfaces na relação com canais de distribuição.
capítulo 4 • 119
de energia e demais insumos e se encontram aguardando sua destinação final,
com o devido faturamento e pagamentos por parte dos clientes. Ou seja, repre-
senta capital investido aguardando retorno.
A estratégia de implantação da produção “puxada”, ou seja, emissão das
ordens de produção a partir da demanda (venda) efetiva dos produtos é justi-
ficada pela diminuição dos custos de inventários de produtos acabados. Essa
estratégia, como podemos perceber, depende da coordenação estreita entre os
componentes das cadeias de suprimentos. Os clientes exigem pronta entrega
ou programação firme do recebimento do produto, o que implica na redução
do lead time entre a colocação do pedido de compra e, assim, o de produção e a
efetiva entrega do produto.
120 • capítulo 4
capítulo 1, ou seja, o recurso imobilizado em estoque não pode ser utilizado em
outra aplicação.
Em alguns setores, os custos de obsolescência são bastante relevantes, por
exemplo no setor de alimentos e farmacêutico. Os custos de armazenagem se
referem aos custos das instalações e equipamentos, custos do pessoal envolvi-
do, cuidados especiais de estocagem e outros.
São relevantes ainda os custos de pedidos e os custos de falta de estoque. Os
custos do processo de emissão de pedidos (ver Figura 4.3) se referem a salários,
emissão e envio a fornecedores, bem como, todos os recursos necessários para
tal procedimento.
O custo de falta de estoques é de difícil previsão, mas o não cumprimento de
prazos de entrega pode acarretar prejuízos relacionados à imagem e reputação
da organização, à confiabilidade junto a clientes e perdas de mercado para a
concorrência. Esse custo reforça a importância do inter-relacionamento com
fornecedores e clientes nas cadeias de suprimentos.
Martins e Alt (2001) classificam os custos de estoques em três categorias:
diretamente associados aos estoques (crescem com o volume de materiais
mantidos); inversamente proporcionais ou custos de obtenção em função dos
processos de aquisição ou fabricação e resultantes de economias de escala e os
independentes, ou seja, independe do tamanho do estoque, por exemplo, o alu-
guel de um armazém e sistemas de gestão de inventários. Os autores propõem
a equação:
CT = (CA + i.P) x (Q/2) + (CP) x (D/Q) + CI (1)
Onde:
CT = Custo total dos estoques
CA = Custo de armazenagem
i = Custo de oportunidade do capital
P = Preço de compra do item
Q = Lote de compra
Q/2 = Estoque médio em quantidade de itens
CP = Custo de obtenção ou fabricação
D = Demanda de itens em um período
CI = Custos independentes (fixos no período). Martins e Alt (2001).
capítulo 4 • 121
um custo unitário (P) de R$ 3,00. O custo de oportunidade do capital é fixado
em 20% a. a., sendo que a armazenagem (CA) custa R$ 1,00/un. e custos fixos
anuais (CI) independentes de R$ 200,00. Os custos de obtenção são de R$ 20,00
por pedido (CP). Calcular o custo total de inventário para lote de compra de
1.500 unidades.
Dados básicos:
CT = ?
CA = R$ 1,00/un.
i = 20% a. a.
P = R$ 3,00/un.
Q = 1.500 uns.
Q/2 = Estoque médio em quantidade de itens
CP = R$ 20,00/pedido
D = 30.000 un./ano
CI = R$ 200,00.
122 • capítulo 4
seu sítio industrial, para a manutenção de estoques em pronta-entrega com
produção na cadência e programação de entregas obedecendo aos planos de
produção da empresa focal. Desse modo, as exigências de produção serão “pro-
tegidas” por estoques prontamente disponíveis (fornecimentos), e os controles
de inventários emitirão pedidos de ressuprimentos.
Na inter-relação compras e inventários, Lambert e Stock (1999) indicam que
o modelo de lote econômico de compra tem como objetivo minimizar custos de
manutenção dos estoques e de pedidos de suprimentos, ao especificar quanto
e quando pedir. Logicamente, as compras, recebimentos e disponibilidade de
materiais devem servir ao plano de produção e de necessidade (quantidades,
formas e tempos) dos itens na fabricação de produtos.
Lambert e Stock (1999) classificam estoques como:
• Cíclico: quantidade média de itens em estoque que satisfaça a demanda
no período entre entregas por parte dos fornecedores. Muitas empresas produ-
zem e compram em grandes lotes tendo em vista explorar economias de escala
nos processos de produção, transporte e compra;
• Em trânsito: produtos em movimentação desde sua origem (fabricante)
para seu destino (comprador);
• Segurança: é o estoque mínimo mantido para dar atendimento a incerte-
zas da demanda ou demandas inesperadas. Da mesma forma, serve para prote-
ção contra eventuais falhas de suprimento;
• Sazonal: criado para atender a variabilidades previsíveis da demanda.
capítulo 4 • 123
• Políticas de pedidos − Quando deve ser realizada a revisão dos pedidos,
considerando quantidades e o lead time de entrega (tempo decorrido desde a
emissão do pedido até a entrega final do produto)? Quais são as fontes de incer-
tezas da demanda? Quais os impactos que provocam na organização?
• Análise da demanda − Quais são as particularidades e os hábitos de con-
sumo de cada produto? Onde são consumidos, por quem, quando (sazonali-
dade) e como? A análise da demanda tem a ver com os produtos acabados e o
processamento de vendas da organização e tem como objetivo apoiar as deci-
sões sobre inventários para atendimento aos clientes e, dessa forma, configu-
rar a resposta e a eficiência da organização e da cadeia de suprimentos em que
está inserida.
100
50
20 Estoque Mínimo
Ultilização do estoque mínimo Tempo c/ vendas perdidas
Tempo de Reposição Tempo
Ruptura do estoque
Figura 4.4 – Gráfico do dente de serra na gestão de pedidos e inventários. Fonte: TSESTO-
QUE (2014).
124 • capítulo 4
A dimensão logística da gestão de inventários, tanto na logística interna-
cional, como na doméstica, se relaciona com o nível de serviço acordado nas
cadeias de suprimentos, ou seja, os estoques localizados nos fabricantes e nos
centros de consolidação e distribuição, os estoques em trânsito e a quantidade
de produtos entregues aos clientes são controlados e na inter-relação entre os
componentes das cadeias busca-se sua minimização. Em relação à lógica da
administração de estoques, Bowersox et al. (2001) apontam a lógica reativa e a
de planejamento, sendo a reativa adequada a itens de baixo volume, demanda
significativa e incerteza em relação ao ciclo pedido-entrega. A gestão segue o
processo ilustrado na figura 4.4.
Os centros de consolidação e de distribuição (CDs) são localizados de modo
que os produtos mantidos mais próximos das instalações dos clientes e serão
faturados somente na entrega, ou em alguns casos quando de sua utilização
efetiva. Na indústria automobilística e em outros setores de grande porte ocor-
re a implantação de shops (lojas) de fornecedores nos sítios das empresas fo-
cais. Na verdade, isso representa a absorção dos custos do inventário pelos for-
necedores. (ROBLES e NOBRE, 2015).
A estratégia do JIT (Just in Time) se estende às transações internacionais,
com peças e sistemas sendo embalados em contêineres, numa ordem e se-
quência que os deixe prontos para disposição e utilização sem a necessidade
de desembalagem, armazenagem intermediária e outros preparos para enca-
minhamento às linhas de montagem. É comum, na indústria automotiva, a uti-
lização de contêineres para transporte de conjuntos, os denominados sistemas
CKD (completely knock-down ou complete knock-down) e SKD (semi knock-
down). Os contêineres são estufados para que a retirada dos conjuntos atenda
à sequência de encaminhamento para as linhas de montagem.
Bowersox et al. (2006) apontam que os custos de inventários constituem-se
no segundo maior componente dos custos logísticos, em seguida aos de trans-
porte e a movimentação de materiais ao longo das cadeias de suprimentos au-
menta o risco de ocorrências de falhas. No entanto, ponderam os autores, no
desempenho de sua função de pulmão e de regulação dos frente às variações da
demanda, os inventários contribuem para a redução dos custos logístico total
nas organizações.
capítulo 4 • 125
A lógica de planejamento é baseada na inter-relação entre compradores e
fornecedores e se concentra em itens de volume alto com demanda mais está-
vel. Os autores indicam a lógica adaptativa em que existe a colaboração entre as
partes envolvidas e busca o melhor desempenho conjunto.
ATIVIDADES
Estudo de caso
Avaliação de inventários nas cadeias de suprimentos.
A gestão de inventários, conforme destacamos, não é uma atividade simples e apresenta
um grande impacto nas organizações e possibilitam vantagens competitivas e reduções de
custos e, assim, sua avaliação é permanente. Nesse sentido, apresentamos um checklist de
questões para sua avaliação no contexto de cadeias de suprimentos, com base em adapta-
ção de questionários apresentados por Lambert e Stock (1999).
01. Qual é a quantidade e valor médio de matéria-prima e peças em estoque? Qual a quanti-
dade e localização de produtos em processo? Qual é a quantidade média e valor de produtos
acabados em estoque?
03. Quais são as quantidades médias de compras? Qual é o lead time médio entre a emis-
são do pedido de compra e a entrega? Como se dá o controle entre compra e entrega? Quais
são os modos e formas de transporte e embalagem utilizados?
126 • capítulo 4
07. Quais são os procedimentos de ressuprimento a CDs, distribuidores e clientes? Quais
são os meios de comunicação utilizados?
09. Quem determina os níveis de inventário? Eles são estimados por SKU (Stock Keeeping
Unit), categorias, linhas de produtos ou produtos? Existe controle pelo método da curva ABC
(cotejo entre quantidades (%), custos e frequência)?
10. Como tem sido o desempenho real entre quantidade e valor planejados e realizados?
No total e por SKU?
11. Qual é a participação da área financeira na gestão de inventários? Quais são os re-
latórios usuais? Qual é a frequência de relato de situação? Quem os elabora e a quem
são encaminhados?
MULTIMÍDIA
Sugestões de pesquisas e visitas a sítes
ABRAMAN – Associação Brasileira de Manutenção e Gestão de Ativos. Asso-
ciação para fomento e aperfeiçoamento das atividades de manutenção e administração de
ativos. Disponível em: <http://www.abraman.org.br/index.php>.
Portal da Educação. Síte que disponibiliza artigos sobre temas da administração. Por
exemplo: <http://www.portaleducacao.com.br/administracao/artigos/16177/a-importan-
cia-da-gestao-de-materiais>.
Portal da Administração. Síte semelhante. Ver <http://www.portal-administracao.
com/2013/12/administracao-de-materiais-conceito.html>.
USP. Universidade de São Paulo. Manual de Administração Patrimonial. Fevereiro
de 2015. Disponível em: <http://www.usp.br/da2/arquivos/Patr/MANUAL_DE_ADMINIS-
TRACAO_PATRIMONIAL.pdf>.
Youtube: O que é terceirização? Economia e Negócios. Disponível em: <https://
www.youtube.com/watch?v=YIwQ8_25toA>.
capítulo 4 • 127
REFLEXÃO
Este capítulo nos mostrou a importância e a inter-relação do controle da administração pa-
trimonial e das políticas de compras na gestão de inventários nas cadeias de suprimentos.
Os inventários (estoques), como vimos, desempenham funções importantes e servem como
“pulmão” e proteção em relação às incertezas entre a oferta e a demanda de insumos e/ou
de produtos acabados. No entanto, eles sempre representam custos e, como tal, devem ser
cuidadosamente gerenciados.
Abordamos os procedimentos de terceirização como estratégia de variabilização de cus-
tos pelas organizações e discutimos o conceito de competência essencial frente à tendência
clara de delegar atividades e serviços a empresas especializadas contratadas. Da mesma
forma, a gestão de inventários como dimensão logística controla e interliga as organizações
das cadeias de suprimentos tanto domésticas como globais.
Assim vimos que os inventários atuam como “pulmão” ou “colchão” de amortecimento
dos impactos advindos das variações dos mercados, para não faltar produtos nas prateleiras
dos clientes e que esses produtos atendam aos requisitos de qualidade, quantidade e forma.
Nesse sentido, inventários, embora sempre representem custos e como tal devem ser reduzi-
dos, contribuem na agregação de valor aos clientes e lucratividade (valor) aos seus acionistas.
Inventários constituem-se em suas diversas categorias quantidades físicas de materiais
brutos, em processo ou acabados ao longo das cadeias de suprimento e se integram aos
demais componentes da logística, mas dependem na sua gestão e otimização de sistemas
de informação compartilhados, conforme veremos no Capítulo 5 a seguir.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BALLOU, R. H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos. 4ª. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.
BRASIL. Código Civil Brasileiro. Lei No 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: mai. 2016.
BOWERSOX, D. J.; CLOSS, D. J.; COOPER, M. B. Gestão logística de cadeias de suprimentos.
Porto Alegre: Bookman, 2006.
CARVALHO FILHO, J. S. Manual de Direito Administrativo. 17ª. Ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2007.
CFC. Conselho Federal de Contabilidade. Normas brasileiras de contabilidade: contabilidade aplicada
ao setor público: NBCs T 16.1 a 16.11. Brasília: Conselho Federal de Contabilidade, 2012. Publicação
128 • capítulo 4
eletrônica. 56 p. Disponível em: <http://portalcfc.org.br/wordpress/wp-content/uploads/2013/11/
setor_publico.pdf.>. Acesso em: mai. 2016.
capítulo 4 • 129
USP. Universidade de São Paulo. Manual de Administração Patrimonial. Fevereiro de 2015.
Disponível em <http://www.usp.br/da2/arquivos/Patr/MANUAL_DE_ADMINISTRACAO_
PATRIMONIAL.pdf>. Acesso em: mai. 2016.
VIANA, C. R. Teoria Geral da Contabilidade. 5ª. Ed. Porto Alegre: Sulina, 1971.
130 • capítulo 4
5
Tecnologia da
informação e
controle de
bens materiais e
patrimoniais
5. Tecnologia da informação e controle de
bens materiais e patrimoniais
OBJETIVOS
• Apresentar a evolução da Tecnologia de Informação (TI) na gestão das organizações;
• Analisar os componentes da TI - Hardwares; Softwares; sistemas especialistas aplicados
na administração de bens materiais e patrimoniais;
• Analisar sistemas de TIC e a logística aplicada à gestão de bens materiais e patrimoniais.
• Analisar a aplicação de sistemas de informação e ferramentas de TIC na gestão pública
de bens materiais e patrimoniais.
132 • capítulo 5
5.1 A Tecnologia de Informação (TI) e a gestão empresarial
capítulo 5 • 133
ANO EVENTOS
1600 Primeiras Calculadoras.
134 • capítulo 5
ANO EVENTOS
PDP, Unix e Linguagem COBOL. PDP-I (Digital Equipment Corporation)
primeiro minicomputador. 1960. Surge Cobol, primeira linguagem de
programação comercial. Primeiros desenvolvimentos da Internet. Aparece
o Circuito Integrado e o “Mouse”. 1961. A Texas Instruments anuncia o
ANOS 60´S
circuito integrado em larga escala. 1963. Douglas Engelbart patenteia o
"mouse". 1964. A IBM apresenta o mainframe System/360 de aplicação
comercial. 1967. A IBM constrói o primeiro disco flexível de 8” e capacida-
de de 80 Kb.
Surge o iPod, player portátil de áudio e vídeo digital. "POD" vem de "Porta-
2001
ble On Demand". Utiliza memória flash ou um mini HD.
iPad tablete, e-reader, câmera (dois lados), GPS, wi-fi, bluetooth, chamadas
2010
via VoiP.
capítulo 5 • 135
Laudon e Laudon (2010) definiram três funções principais dos sistemas
de informação:
• Entrada: coleta, compilação e agrupamento de dados que entram no sis-
tema para processamento. Ex. horas-extra por funcionário no mês;
• Processamento: processos de transformação que convertem o insumo
(dados de entrada) em produto (informações). Ex.: quantidade de horas extras
vs. valor da hora; e
• Saída: transferência das informações produzidas pelo processamento
(relatórios) até o destino e destinatários finais (gestores). Ex.: relatório de ho-
ras extras.
A figura 5.1 representa graficamente esse conceito de sistema, ou seja, dados
de entrada (insumos) são processados e armazenados para gerar informações
(produtos/serviços) para apoio a processos gerenciais. Sua utilização, por sua
vez, retroalimenta o sistema com a avaliação e controle do desempenho objeti-
vando melhoria da coleta de dados, do seu processamento e das formas de des-
tinação para uso de seus públicos relevantes e, logicamente, da ação realizada.
Armazenamento
Feedback
O armazenamento dos dados deve ser organizado para permitir sua recupe-
ração e processamento e, necessariamente, envolve uma modelagem, que de-
fine quais dados devem ser mantidos e como o será sua formatação de campos
de registros e acesso, ou seja, como se configura o banco de dados.
O’Brien (2003) amplia a definição de sistemas de informação como um con-
junto organizado de pessoas, de Hardwares, de Softwares, redes de comunica-
ções e recursos de dados, que compilam, processam e divulgam informações
em uma organização. O autor apresenta os componentes dos sistemas de infor-
mação, como sendo:
136 • capítulo 5
• Recursos de Hardware: Dispositivos físicos e equipamentos destinados
ao processamento de dados para obtenção de informações;
• Recursos de Software: Conjuntos de instruções de processamento de
dados e instruções operacionais, denominadas de programas, com as devidas
formulações de processamento e apresentação das informações necessárias á
gestão da organização, os chamados procedimentos;
• Recursos de dados: Dados são os insumos básicos dos sistemas de in-
formação e são considerados recursos organizacionais valiosos. Podem ter a
configuração alfanumérica, textos, imagens ou áudios. Os dados, tipicamente,
são organizados em bancos de dados para processamento. Ou seja, o banco de
dados é uma coleção integrada de registros ou arquivos que se inter-relacio-
nam. Exemplos: banco de dados dos funcionários da empresa, das vendas, das
compras, da produção, dos bens patrimoniais etc.;
• Recursos de Rede: Computadores, processadores de comunicações e
dispositivos interconectados por mídias de comunicação (por ex.: fibra ótica,
sistemas de satélite etc.) e controlados por Softwares. A Internet, as intranets
e extranets se apresentam como as principais redes de apoio aos negócios e as
comunicações interpessoais e;
• Os recursos humanos (pessoas): Especialistas em sistemas de informa-
ção, analistas de sistemas, programadores, operadores de computador e os
usuários finais. Usuários finais são as pessoas que utilizam (consulta, uso e
atualização) a informação em suas tarefas nos seus postos de trabalho (áreas
de recursos humanos, de produção, da contabilidade, de compras, das vendas,
da logística e externos: clientes e fornecedores etc.). Os usuários consultam as
saídas dos sistemas, elaboram de relatórios de avaliação de resultados, e muito
importante, eles são responsáveis pela alimentação de dados aos sistemas.
capítulo 5 • 137
A Comunidade Concorrentes
Controle
Administração
Agencias Reguladoras
Feedback
Clientes
Sl
os tas e
m Pro Rec
n
a lis gra urs
m ma os d
s Hu pecia se eS
rs o Es Controle do Pro oft
cu e ced wa
Re inais Desempenho do im re
s F en
r i o Sistema tos
u á
Us
de mento de produtos
Rec e Dadoimento
co d hec
idia re
recursos dados em de infor-
s e M dwa
urso s e
s
de dados informação mação
uina Har
s de Bas
Máqrsos de
Dad es de
Armazenamento de recursos
os
de dados
u
Rec
Recursos de rede
Meios de comunicação e suporte de Rede
Fornecedores
Acionistas
Entrada Processamento Saída
Recursos: processos organizacionais: Bens e Serviços:
pessoas, dinheiro, Comercializar, desenvolver, Produtos, serviços,
matéria-prima, produzir e entregar pagamentos,
máquinas, terra, produtos e serviços, dar contribuições,
instalações, energia, assistência a clientes, outros informações, outros
informação Processos efeitos
Figura 5.2 – Os públicos dos sistemas de informação nas organizações. Fonte: Adaptado
de O’Brien (2001) apud SANTOS JR.; FREITAS; LUCIANO, 2005.
138 • capítulo 5
Função Planejamento
Gerenciamento do estoque por
produto:
por cliente e por localização
Previsão da demanda
Planejamento estratégico
Função controle
Nível de serviço para clientes
Desempenho dos fornecedores
Desempenho de trasnportes
Desempenho do sistema
capítulo 5 • 139
• Internet - maior rede de computadores do mundo. Rede global, de total
integração de milhares de redes locais, regionais e nacionais. A Internet não
tem dono, não apresenta gestão centralizada de serviços. A Internet Society
(http://www.internetsociety.org/) é quem toma decisões sobre a rede, por exem-
plo, padrões tecnológicos e é composta por membros voluntários e é aberta à
adesão de qualquer pessoa ou organização;
• Intranet - rede organizacional interna modelada com base na Internet,
que utiliza a infraestrutura de rede existente nas organizações, os padrões de
comunicação da Internet e o Software “www” (Word Wide Web, ou simples-
mente WEB). As organizações se comunicam por Intranets, que divulgam in-
formações e mantêm afastados, usuários não autorizados.
• Extranet - acesso externo e limitado às Intranets, interligando as orga-
nizações com agentes externos com uso da tecnologia da Internet para cone-
xão de uma Intranet com outra de clientes, fornecedores, bancos e, mesmo, o
Governo.
140 • capítulo 5
CONSTRUINDO • Boletins, quadros de avisos, bancos de dados
EXTERNA ALIANÇAS de discussões.
ESTRATÉGICAS • Compartilhamento e experiência
AUTOMAÇÃO DAS
• Configuração on site processamento de pedidos
INTERNA ATIVIDADES E DO
• Transformação do processo de vendas
TRABALHO
RECURSOS HUMANOS • Aviso de abertura de vagas
E RELACIONA- • Procura por especialistas
INTERNA
MENTO COM OS • Aprendizado à distância
EMPREGADOS • Treinamento e suporte ao empregado
DISTRIBUIÇÃO
EXTERNA • Produtos, dados, informação, e-commerce (B2B)
ELETRÔNICA
• Vendas e Pagamentos
TRANSAÇÕES
EXTERNA • Gerenciamento de contas em bancos
FINANCEIRAS
• Pagamentos em cartão de crédito
• Notícias on line
RECUPERAÇÃO DE • Mineração de dados em banco de dados
EXTERNA
INFORMAÇÃO • Estatísticas, relatórios e bancos de dados
• Análises competitivas
• Logística
RELACIONA- • Rastreamento de produtos
EXTERNA MENTO COM OS • Gestão de transportes
FORNECEDORES • Intercâmbio Eletrônico de Dados - EDI
• Integração da cadeia de suprimentos
• E-mail
• Groupware
• Colaboração
COMUNICAÇÕES
INTERNA • Transferência de conhecimento
INTERNAS
• Comunicações internas, externas, verticais e horizon-
tais completas
• Teletrabalho
capítulo 5 • 141
O’Brien (2003) apontou a criticidade das questões relativas à interoperabi-
lidade, ou seja, a capacidade dos diversos sistemas de computação, dos meios
de comunicação, redes, Softwares e outros componentes de TIC e das organiza-
ções de atuar de forma conjunta (interoperação), de modo que pessoas, organi-
zações e sistemas computacionais interajam na troca eficiente de informações.
Uma das principais ferramentas de TIC para sistemas colaborativos, con-
forme apresenta a tabela 5.2, é a do groupware, ou seja, Software colaborativo
e facilitador do trabalho em grupo por meio do compartilhamento de informa-
ções. (O´BRIEN, 2003). As ferramentas de comunicação eletrônica transmitem
mensagens, documentos, arquivos em dados, texto, voz por redes de computa-
dor, e apoiam processos colaborativos. As principais são:
142 • capítulo 5
ADMINISTRAÇÃO os pacotes de gestão de projetos para trabalhos em con-
DE ATIVIDADE E junto e controles de atividades e seus prazos;
PROJETOS
gerencia atividades em projetos e processa eletronica-
SISTEMAS mente documentos. Essa ferramenta parte de regras
DE FLUXO DE sobre o fluxo de atividades e de informações relativo aos
TRABALHO formulários e documentos da organização. Apoia a gestão
(WORKFLOW) do fluxo de tarefas e o processamento eletrônico de
documentos;
• Conferência de dados
• Conferência de voz
FERRAMENTAS DE CONFE-
• Videoconferência
RÊNCIA ELETRÔNICA
• Fóruns de discussão
• Sistemas de reuniões eletrônicas
• Agendamento e programação
FERRAMENTAS DE ADMI- • Administração de atividade e projetos
NISTRAÇÃO E TRABALHO • Sistemas de fluxo de trabalho (work flow)
COLABORATIVO • Compartilhamento de documentos
• Administração do conhecimento
Tabela 5.3 – Groupware para colaboração nas empresas. Fonte: Adaptado de O’Brien (2003).
capítulo 5 • 143
O desenvolvimento dos sistemas de comunicação e a prática nas organiza-
ções têm conduzido à integração virtual das organizações pela qual reúnem
competências em um portfólio de relacionamentos, que reúne processos e
componentes padronizados de forma eficiente. Um exemplo é o sistema de res-
suprimento de produtos por parte de fornecedores com o uso de informações
compartilhadas a partir dos recursos de TI (Softwares, banco de dados, redes
e Hardwares).
O’Brien (2003) afirma que a qualidade das informações nos sistemas de in-
formação está referenciada às dimensões tempo (frequência, período), forma
(integridade, relevância, precisão) e conteúdo (ordem, clareza, detalhe) e inte-
grada em quatro níveis de funcionalidade: planejamento estratégico, análise
de decisões, sistemas de transações e controle gerencial, como segue:
• O plano estratégico apresenta as estratégias de melhoria da capacidade
de produção e da capacitação gerencial de identificar e aproveitar oportunida-
des de mercado no aperfeiçoamento da resposta aos clientes.
• A análise de decisões apoiada em Softwares de apoio ao processo de to-
mada de decisões, tipicamente, banco de dados, elaboração de relatórios e for-
mas estabelecidas de avaliação.
• O sistema de transações constituído de regras formais, procedimentos e
comunicações padronizadas.
• O controle gerencial do desempenho e de eventuais exceções ao progra-
mando, apoiado por sistemas e processos que evidenciem situações de discre-
pância em relação a padrões formais definidos pela organização.
A tabela 5.4 resume, conforme Bowersox et al. (2006), as funcionalidades de
sistemas de informação para a gestão das organizações, focalizando aplicação
voltada para a logística e cadeias de suprimento.
144 • capítulo 5
• Gestão de pedidos
• Alocação de inventários
• Separação de pedidos
SISTEMAS DE TRANSAÇÃO
• Expedição e embarque
• Formação de preços
• Pesquisa entre clientes
• Avaliações financeiras
• Custos
• Gestão de ativos
CONTROLE GERENCIAL
• Avaliação de serviços aos clientes
• Avaliação da produtividade
• Avaliação da qualidade
capítulo 5 • 145
de recursos, conforme mostra a tabela 5.5. Os sistemas ERP atuam no proces-
samento e alocação de pedidos, desde seu recebimento das áreas de vendas,
na gestão de estoques, na alocação e distribuição de produtos acabados, subsi-
diando as operações de transportes e a inter-relação com a função de compras,
conforme mostramos no capítulo 4.
ATIVIDADES FUNCIONALIDADES
• Entrada de Pedidos (via manual, listas ou eletrônica)
• Verificação de Crédito
• Disponibilidade no Inventário
• Conhecimento de Pedidos
• Modificação de pedidos
PROCESSAMENTO DE
• Formação de preços de pedidos
PEDIDOS
• Conhecimento da condição de pedidos
• Preços e extensão de descontos
• Verificação de promoção
• Processamento de devoluções
• Gestão de serviços
146 • capítulo 5
ATIVIDADES FUNCIONALIDADES
• Alocar e rastrear localizações de armazenagem
• Contagem de ciclos de inventário
• Programação de mão de obra
• Programação de equipamento
OPERAÇÕES DE • Controle de lotes
DISTRIBUIÇÃO • Seleção de pedidos, localização e ressuprimento
• Recebimento
• Descarte
• Armazenagem
• Mensuração de desempenho
•Seleção de transportadoras
•Programação de transportadoras e de rotas
•Despacho
•Preparação de documentos
•Pagamento de fretes
TRANSPORTES E
•Mensuração do desempenho
EXPEDIÇÃO
•Consolidação de embarques e criação de rotas
•Determinação de tarifa de embarques
•Programação de embarques
•Rastreamento e expedição de embarques
•Carregamento de veículos
capítulo 5 • 147
disponíveis, à estrutura e às estratégias da organização. A TI, como já men-
cionamos, tem representado o avanço nas inter-relações comerciais das or-
ganizações e abrange uma série de sistemas, configurações e ferramentas de
intercâmbio de informações entre organizações públicas e privadas. Assim,
destacamos:
O Business to Business (B2B) - relação comercial apoiada em sistemas com-
putacionais que compõe o e-commerce, ou seja, vendas e compras inter- orga-
nizacionais realizadas pelo intercâmbio de informações e fluxos financeiros,
via redes de comunicação por computador. Em outras palavras, B2B diz respei-
to a uma organização comprando ou vendendo produtos ou serviços para outra,
uma indústria, um atacadista ou importador. As práticas do B2B fazem parte do
Marketing Industrial, com relações comerciais realizadas pela Internet, assim,
os agentes precisam se assegurar das condições de interligação, da capacidade
e reputação de fornecedores e dos meios de transferência de recursos antes de
efetivar as transações.
Um dos exemplos de B2B, conforme já mencionamos do capítulo 4, é o caso
dos leilões reversos, que exige para que produtos e serviços sejam comercializa-
dos sua descrição detalhada e que não tenham diferenciação de marca, emba-
lagem (o tipo deve ser discriminado) e fornecedores. Essa prática de leilão, co-
mum no setor privado e público (ver Estudo de Caso adiante), parte da relação
de confiança entre os envolvidos e, vale reforçar, não devem ser utilizados como
meros levantamentos de preços para eventuais renegociações.
148 • capítulo 5
armazenados. Banzato (1998) define os WMS como sistemas de gerenciamento
que objetivam otimizar todas as atividades operacionais (fluxo de materiais) e
administrativas (fluxo de informações), incluindo recepção, inspeção, localiza-
ção precisa (endereçamento), estocagem, separação, recuperação, embalagem,
encaminhamento, expedição, emissão de documentos e controle de inventá-
rio, entre outras.
Dessa forma, o WMS se integra à gestão logística nas operações de armaze-
nagem, apoiando a programação e processamento de pedidos, alocando áreas
de armazenagem por cliente e contribuindo para o planejamento e alocação de
recursos. Os WMS controlam as ações relativas às portarias (gates); recepção,
inspeção e controle de qualidade de materiais; procedimentos de estocagem
(endereçamento); controle de alterações de estado e de transferências; orien-
tando a separação de pedidos e recuperação de produtos, sua expedição e na
gestão de inventários, a emissão de termos de falta, de avarias ou acréscimos.
Os WMS podem se basear seu controle e rastreamento de materiais em tecno-
logias de codificação em barras e leitura por equipamentos de Radiofrequency
Data Collection (RFDC), descrito a seguir.
capítulo 5 • 149
de computadores para processamento. Laudon e Laudon (2010) indicam que,
diversamente aos códigos de barra, as etiquetas RFID não necessitam estar na
linha de visão da leitora para serem reconhecidas.
150 • capítulo 5
Vendor Managed Inventory (VMI) - Inventário gerido pelo fornecedor
O Inventário Gerido pelo Fornecedor (IGF), também denominado Programa
de Reposição Contínua (Continuous Replenishment Program) - CRP, contitui-
se em programa desenvolvido em parceria por fabricante e fornecedores para
a gestão de estoques e controle de informações de ordens de compra e venda,
sendo que a troca de informações é feita por EDI.
Como vimos nos Capítulos 2 e 4, as organizações têm buscado lidar com as
variações de mercado pela coordenação entre os diferentes elos das cadeias de
suprimentos. A implantação de sistemas VMI atende essa questão, sendo que o
fornecedor acessa dados relativos às vendas dos clientes e assume, ele próprio,
o ressuprimento. Esta condição é, tipicamente, negociada pelo comprador e se
insere na estratégia de logística enxuta (lean logistics) e em relações de parce-
ria diminuí custos operativos. Note-se o poder de negociação não é igual e nas
cadeias de suprimentos ou rede negócios, que comanda o processo são as em-
presas líderes, por exemplo, no setor automotivo, as montadoras.
Grandes redes varejistas estabelecem indicadores de desempenho com
seus fornecedores e seu descumprimento, por exemplo, rotulação incorre-
ta de embalagens, emissão e transmissão incompletas de pedidos, etiquetas
incorretas podem levar à cobrança de multas e mesmo à descontinuidade
de fornecimentos.
Davenport e Marchand (2004) apontam que a disponibilidade de estoques
físicos está dando lugar a informações sobre eles, por exemplo, compras ele-
trônicas no setor de farmácia compras e entregas são feitas por encomendas
firmes, como se sabe, um dos estoques mais caros e trabalhosos de gestão são
os de remédios nos pontos de venda.
No VMI, o fornecedor controla o nível de estoque do comprador, tendo como
base o volume de estoque apropriado e acordado entre as partes para cada um
dos produtos. Em outras palavras, o estoque é estabelecido para atender a utili-
zação (demanda) pelo comprador (programa de produção) e o tempo de ressu-
primento pelo fornecedor, em semelhança aos procedimentos que mostramos
no Capítulo 4, os referentes ao gráfico da serra dentada. Outra questão é que,
apesar da presença física do estoque nas dependências do comprador, o fatu-
ramento só acontece após a retirada e uso efetivo do material. Novamente, uma
condição de poder de negociação entre as partes.
capítulo 5 • 151
Esses sistemas integrados podem compor a estratégia do ECR, como mos-
tramos a seguir.
ECR (Efficient Consumer Response) - Resposta Eficiente ao Consumidor
152 • capítulo 5
No setor público, conforme analisaremos no Estudo de Caso a seguir, as ati-
vidades têm se voltado para a utilização de sistemas de TIC. Um dos exemplos
é o da elaboração das declarações anuais sobre o imposto de renda, que tem
todos seus procedimentos informatizados e bem sucedidos.
MULTIMÍDIA
Sugestões de pesquisas e visitas a sites:
Sebrae. Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. Entidade de apoio
a empreendedores de pequeno porte. Ver matéria: Atuação da Sebraetec em serviços digitais.
Disponível em: <http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/Programas/a-atuacao-do-
sebraetec-em-servicos-digitais,6118fef800433410VgnVCM1000003b74010aRCRD>.
Síte do Governo Federal em que se apresentam informações atendendo a diretriz
governamental de transparência. Disponível em: <http://www.governoeletronico.gov.br/>.
Websupply. Síte dedicado à divulgação e promoção do uso da Internet na ges-
tão de cadeias de suprimentos. Disponível em: <https://portal1.websupply.com.br/
default.asp?lnk=home>.
Youtube: - Adoção de Governo Eletrônico no Brasil. PARTE 1. Disponível em: <ht-
tps://www.youtube.com/watch?v=B8J3TbJSBk8>.
ESTUDO DE CASO
Estudo de Caso: E-government - Programa de Governo Eletrônico Brasileiro
Este estudo de caso apresenta os principais aspectos do Programa de Governo Ele-
trônico Brasileiro focalizando a administração de bens materiais e patrimoniais e o uso de
tecnologia de informação e comunicação. (BRASIL, 2016).
O termo e os programas e-Government surgiram no Reino Unido ao final dos anos 1990
com o objetivo de aliviar a carga burocrática na atividade pública e aproximar os cidadãos
ao Governo. Desse modo, conforme UE (2007), e-Government objetiva a modernização dos
serviços públicos e aproximação de cidadãos e empresas às organizações públicas com a
utilização da Internet e de tecnologias de informação e comunicação para troca de informa-
ções e realização de transações com cidadãos, empresas e entidades governamentais.
Nessa diretriz, o Programa de Governo Eletrônico Brasileiro se propõe a democratizar
o acesso à informação pelos cidadãos, melhorar a gestão interna e a prestação de serviços
públicos, integrando empresas e indústrias fornecedoras por meio de TICs. No Brasil, o pro-
capítulo 5 • 153
grama foi iniciado no ano 2000, na virada do milênio e tem se estendido até nossos dias.
(DINIZ et al., 2009).
O Programa pode ser acessado pela Internet e tem as seguintes diretrizes:
1. A prioridade do Governo Eletrônico é a promoção da cidadania;
2 . A Inclusão Digital é indissociável do Governo Eletrônico;
3. O Software Livre é um recurso estratégico para a implementação do Governo Eletrônico;
4. A gestão do conhecimento é um instrumento estratégico de articulação e gestão das
políticas públicas do Governo Eletrônico;
5. O Governo Eletrônico deve racionalizar o uso de recursos;
6. O Governo Eletrônico deve contar com um arcabouço integrado de políticas, sistemas,
padrões e normas;
7. Integração das ações de Governo Eletrônico com outros níveis de governo e outros
poderes. (BRASIL, 2016).
154 • capítulo 5
que personaliza o cidadão na rede mundial de computadores, garantindo, pela legislação
atual, a validade jurídica de atos praticados.
Inclusão Digital. O site do Ministério das Comunicações informa ao cidadão sobre os
tele centros, espaços sem fins lucrativos, de acesso público e gratuito, com computadores
conectados à Internet, disponíveis para diversos usos.
Compras Governamentais. O Portal Compras Governamentais apresenta orientações,
regras para a aquisição de bens e serviços e a legislação sobre licitação e contratação por
órgãos do Governo Federal. Este sítio nós exploraremos em mais detalhe adiante.
Portal dos Convênios. Instrumento público de gerenciamento online de todos os con-
vênios cadastrados no Sistema de Gestão de Convênios e Contrato de Repasse (SICONV)
do Governo Federal.
Contratações Públicas Sustentáveis. Portal voltado para servidores públicos das
áreas de compras e para fornecedoras de bens e serviços, apresentando também infor-
mações sobre legislação e iniciativas de contratações públicas com base nos princípios de
sustentabilidade ambiental.
Portal do Software Público. Nova etapa na política de Software livre no Brasil, englo-
bando modelo de licenciamento, gestão e regras de disponibilização de soluções desenvolvi-
das pela Administração Pública e pela rede de parceiros da sociedade.
5CQualiBr – Confiança para Cooperação, Comunidades, Conhecimento, Compartilha-
mento. Comunidade do Portal do Software Livre Brasileiro para debate da qualidade e co-
nhecimento de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) no Brasil.
4CMBr - Comunidade, Conhecimento, Colaboração e Compartilhamento dos Municípios
Brasileiros. Portal do Software Público Brasileiro para estímulo do uso de Softwares livres
nos municípios, com oferta gratuita de diversos programas para a administração pública. O
Portal apoia programas de inclusão digital e disponibiliza estórias de sucesso em cidades
brasileiras, publicações de interesse de prefeitos, e outras.
I3Gov – Integração e Inteligência em Informações de Governo. Implantação de arquite-
tura referencial de interoperabilidade de sistemas para integração de sistemas informatiza-
dos de Governo; para troca de dados e disponibilidade de catálogo de serviços web.
Portal SISP. O SISP agrupa a comunidade do Governo Federal sobre o Sistema de
Administração dos Recursos de Tecnologia da Informação – SISP, fornecendo informações,
acesso a aplicativos e estrutura de trabalho colaborativa a seus usuários.
Ambiente CATIR – Comunidades de Aprendizagem, Trabalho e Inovação em Rede. Am-
biente virtual para criação e prática de comunidades virtuais no apoio de atividades e melho-
ria de conhecimentos entre servidores e funcionários.
capítulo 5 • 155
Compras Governamentais – http:// www.comprasgovernamentais.gov.br/
O sistema de compras governamentais do Governo Federal que apoia a realização e
acompanhamento de compras eletrônicas, do cadastro de fornecedores e de informações
sobre licitações, contratações, processos de aquisições de bens e passagens e diárias do
Governo Federal. Ele é composto pelos subsistemas e sites:
• Sistema Integrado de Administração de Serviços Gerais – Siasg
• Portal de compras do Governo Federal - Comprasnet
• Pregão Eletrônico
• Fornecedores
• Sistema de Cadastramento Unificado de Fornecedores – Sicaf
• Microempresas e Empresas de Pequeno Porte – MPE
• Contratações Públicas Sustentáveis
• Margem de Preferência
• Regime Diferenciado de Contratações – RDC
• Sistema de Concessão de Diárias e Passagens – SCDP
• Estatísticas de Compras Públicas
Podemos considerar esse sistema, como correspondente no setor público, dos sistemas
de relacionamento de compra e venda que abordamos neste Capítulo. Assim, o portal de
compras do Governo Federal – Comprasnet, gerenciado pelo MPOG, é responsável pela
realização de processos eletrônicos de aquisições e pela disponibilização de informações re-
ferentes às licitações e contratações promovidas pela Administração Pública Federal direta,
autárquica e fundacional.
O Comprasnet realiza licitações previstas na Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993
(convites, tomadas de preço e concorrência), pregões, licitações sob o Regime Diferenciado
de Contratações (RDC) e as cotações eletrônicas. No seu site são apresentados os editais e
o acompanhamento das licitações e, também como subsídio, publicações, legislação, capa-
citações, eventos e informações sobre contratações realizadas e cadastro de fornecedores,
dentre outras.
Os fornecedores interessados nas compras governamentais podem solicitar inscrição no
Sistema de Cadastramento Unificado de Fornecedores – Sicaf, ter acesso a editais e partici-
par de processos eletrônicos de aquisição de bens e contratações de serviços, dentre outros.
Na sua tela principal pode-se realizar cadastro, obter login e senha para acesso a serviços
aos fornecedores, por exemplo, receber avisos de licitações e de cotações por e-mail. O Por-
tal tanto atende ao público externo (fornecedores e cidadãos) como o interno (servidores).
156 • capítulo 5
Um exemplo é a Cotação Eletrônica de Preços para aquisição de bens de pequeno valor
pela Internet. Nós já o conhecemos com o nome de Leilão Eletrônico Reverso. Os funcio-
nários responsáveis devem cadastrar pedido de cotação com a indicação dos bens a serem
adquiridos e o sistema o encaminhará, por correspondência eletrônica, aos fornecedores
inscritos para participar desse procedimento.
Em um período estabelecido, os fornecedores apresentam suas propostas e competem
com novos lances de menor valor. Ao término do período, automaticamente, o Sistema en-
cerra a sessão e classifica as propostas para adjudicação. Assim, a cotação eletrônica é uma
sessão pública virtual, sem interferência do servidor responsável pelas compras, que, ainda,
permite que a sociedade acompanhe as aquisições efetuadas e valores contratados pelo
Governo Federal. O Sistema de Cotação Eletrônica de Preços foi instituído pela Portaria nº
306, de 13 de dezembro de 2001 e tem Manual disponível no sítio Comprasnet.
Outros exemplos importantes dizem respeito a tratamento especial de aquisição do
Siasg, as contratações públicas sustentáveis, aquisições com margem de preferência e o
regime diferenciado de contratações (RDC), como segue:
Margem de Preferência
A margem de preferência nas aquisições é resultado da Lei nº 12.349, de 15 de dezem-
bro de 2010 e se refere a tratamento diferenciado e favorável a produtos manufaturados
e serviços nacionais para estímulo à inovação tecnológica e compensação comercial em
relação a produtos importados.
capítulo 5 • 157
Regime Diferenciado de Contratações – RDC
Nova modalidade de licitação, instituída pela Lei nº 12.462, de 2011 e regulamentada
pelo Decreto nº 7.581 de 2011, que objetiva maior eficiência e agilidade nas contratações
públicas e promoção da troca de experiências e tecnologia no incentivo à inovação. O RDC
é restrito a licitações e contratos referentes a:
• Os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016;
• A Copa das Confederações da Federação Internacional de Futebol Associação -
Fifa 2013;
• A Copa do Mundo Fifa 2014;
• Obras de infraestrutura e de contratação de serviços para os aeroportos das capitais dos
estados distantes até 350 km das cidades sedes dos mundiais;
• Ações integrantes do Programa de Aceleração do Crescimento - PAC;
• Obras e serviços de engenharia do Sistema Único de Saúde - SUS;
• Licitações e contratos necessários à realização de obras e serviços de engenharia no
âmbito dos sistemas públicos de ensino;
• Obras e serviços de engenharia para construção, ampliação e reforma de estabelecimen-
tos penais e unidades de atendimento socioeducativo.
As aquisições por parte do setor público, conforme já enfatizamos, nesta obra seguem
procedimentos rígidos e, muitas vezes, burocráticos e demorados. O Programa do Governo
Eletrônico Brasileiro, pela utilização da Tecnologia de Informação e Comunicação, pretende
disponibilizar informações com transparência e acesso aberto aos cidadãos, aprimorar a ação
de Governo com procedimentos racionais de redução de gastos e colabora para a efetividade
de resultados.
REFLEXÃO
Este capítulo abordou a importância do uso das tecnologias de informação e de comuni-
cação (TICs) no apoio à gestão e no controle das transações realizadas nas organizações.
Os sistemas de informação devem estar coordenados, integrados e entendidos como es-
senciais para a competitividade das organizações em mercados locais e globalizados. Sua
evolução recente, tanto em equipamentos (Hardwares) e sistemas (Softwares) como em
formas de comunicação os tornam omnipresentes nas inter-relações pessoais e organiza-
cionais. Reduções de tempos e custos e sistemas compartilhados compõem a regra dos
negócios contemporâneos.
158 • capítulo 5
Os sistemas computacionais migraram para sistemas integrados de gestão e para a con-
secução de redes de negócios e cadeias de suprimentos. As relações interorganizacionais
do B2B se dão eletronicamente. O e-commerce se apresenta no dia a dia das pessoas, for-
mas de pagamento mais comuns são relativas à comunicação de dados entre compradores,
vendedores e entidades financeiras.
Existem diversas siglas que expressam a troca de informações (comunicação) entre
agentes, entre elas estão o B2B, conforme vimos e algumas formas derivadas como B2C,
ou seja, Business to Consumer, referentes às formas usuais de comunicação na promoção
de produtos e serviços das empresas com seus clientes (consumidores); C2C, Consumer to
Consumer, que se insere em várias formas de comunicação, inclusive as redes de relaciona-
mentos, cada vez mais populares. Na inter-relação eletrônica como os Governos se apresen-
tam as G2G; B2G; G2C com características semelhantes e o G significando Governo, ou em
inglês, Government. O numeral 2 é uma versão onomatopaica do vocábulo inglês to (para)
com two (2) de mesma pronúncia.
Nas atividades logísticas, informações são compartilhadas em tempo real e processadas
por sistemas dedicados e integrados, como vimos, o ERP e na logística, o WMS, o RFDC, o
RFID, o EDI, o TMS, o VMS e o ECR englobando desde a transmissão e compartilhamento
de dados como a gestão de pedidos dos clientes em seus diversos estágios de fabricação,
transporte, armazenagem e entrega.
Aos profissionais das áreas de administração de bens materiais e patrimoniais em cor-
relação com os das áreas da logística integrada cabe sua atualização permanente e a profi-
ciência na utilização de sistemas e nas tecnologias de informação e comunicação, em desen-
volvimento contínuo e rápido. Esta obra pretende contribuir para tanto.
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160 • capítulo 5