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LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

ALMERITA SANTOS CARDOSO

ATIVIDADE INTEGRADORA

GUARATINGA

2020

ALMERITA SANTOS CARDOSO


ATIVIDADE INTEGRADORA

Projeto Integrador elaborado sob a orientação dos


Professores: Lucy e Sérgio, como requisito obrigatório
da disciplina de Educação, cultura e diversidade e
Prática pedagógica: saberes pedagógicos.

GUARATINGA

2020
É papel da família ensinar aos seus filhos, desde pequenos, o respeito
às diferenças. Mas é no contexto escolar que as crianças têm a oportunidade
de exercitar esses ensinamentos que “adquiriram” no seio familiar, pois na
escola elas convivem com outras crianças que são diferentes delas, que têm
vivências e costumes diferentes uns dos outros e é nesse ambiente que
presenciamos as atitudes de respeito ou a falta dele.

A intervenção do professor dentro da sala de aula é extremamente


importante para coibir ou potencializar as questões sobre diversidade cultural.
No sentido de coibir é naquele momento, que diante de uma situação
discriminatória entre os alunos o professor irá intervir de maneira a
conscientizá-los de que atitudes preconceituosas não são aceitáveis. Por outro
lado, a indiferença ou falta de diálogo sobre o assunto diante de um confronto é
potencializar o preconceito. Mas não é apenas nesses momentos, nos quais
nos deparamos com atitudes preconceituosas que devemos, enquanto
educadores, falar sobre essas questões. É necessário falar sobre esse assunto
em vários momentos, é importante explicar às crianças o que é discriminação,
preconceito e racismo, que aliás, não se trata da mesma coisa. Não adianta
“mascarar” essas questões, especialmente, no contexto escolar, porque é
justamente nesse meio no qual há um ajuntamento de pessoas totalmente
diferentes umas das outras que o embate acontece. Sobre essa questão do
diálogo, Capelo, ressalta que:

Uma educação fundada no diálogo entre as diferentes culturas,


aberto e democrático, que se recusa a colonizar ou civilizar
os outros, mas se põe a aprender com os diferentes, que se
compromete com a heterogeneidade sem, no entanto, usá-la
para produzir novos submetidos. Uma educação conduzida
pela solidariedade, contra as desigualdades, preconceitos e
discriminações, ao mesmo tempo em que garante, para além
da apropriação, a produção de novos conhecimentos
impressos e imagéticos menos etnocêntricos. (CAPELO, 2003,
p. 129-130)

Nessa perspectiva, trabalhar as diferenças, tão marcadas no cotidiano


escolar, se faz necessário haja vista que, na escola, é possível desenvolver a
diversidade cultural tornando a aulas mais criativas, através das práticas
pedagógicas que contemplam a interdisciplinaridade, articulando com as
vivências dos alunos.

Nos textos de Monteiro Lobato fica evidente as ações discriminatórias e


racistas desse autor, que utiliza a personagem Emília para deixar isso em
evidência:

“Pois cá comigo – disse Emília- só aturo estas histórias como


estudos da ignorância e burrice do povo. Prazer não sinto
nenhum. Não são engraçadas, não têm humorismo. Parecem-
me muito grosseiras e até bárbaras – coisa mesmo de negra
beiçuda, como Tia Nastácia. Não gosto, não gosto, e não gosto
!”.

Estudando a fundo a literatura de Monteiro Lobato, é possível perceber


que a personagem ”Emília” representa o racismo desse autor e utilizar seus
livros literários (e são vários), no contexto da sala de aula, é querer influenciar
as crianças a agir preconceituosamente, já que esse público tende a reproduzir
as músicas que ouvem, as histórias que os adultos/professores leem para elas.
A mensagem discriminatória contida nesse texto e em tantos outros de Lobato,
é muito clara e revela o sentido de discriminação na relação da personagem
principal com a empregada da família, bem como entre outros personagens.

No texto: “A figura do negro em Monteiro Lobato”, não é “apenas”, como


se fosse pouco, a imagem do negro que é tratada como inferior, mas também a
figura do branco é supervalorizada, superestimada, fazendo uma comparação
notoriamente racista e cruel. Esse texto de Lobato deve ser exposto na sala de
aula para, justamente mostrar a maneira que o discente negro não deve ser
tratado. Desde a elaboração do PPP até o tratamento dados aos alunos, no
ingresso destes na instituição escolar, o tema sobre o respeito à diversidade
deve ser propagado. A diversidade cultural deve fazer parte das nossas rodas
de discussões, da nossa práxis pedagógica. Vendar os olhos ou fingir que
essas questões não fazem parte do cotidiano escolar, é apoiar a injustiça
social.

Ao estudar sobre Educação Étnico Racial, por exemplo, verifica-se que


há uma necessidade urgente de se trabalhar sobre o processo de "ensinar e de
aprender", em meio a uma diversidade de sujeitos . É necessário pensarmos
sobre os dramas históricos que envolve o fazer pedagógico, em que muitas
vezes apontam a superioridade racial historicamente atribuída ao povo branco;
é preciso pensar que a dificuldade de aceitação da diversidade étnica e cultural
afro-brasileira e também Africana cria entraves para o Ensino da História do
povo negro e de seus descendentes de maneira justa.

A educação precisa admitir a diversidade étnico-racial, de gênero, etc,


pois a escola é um espaço propício para a reflexão e valorização das
diferenças. Desse modo, pensar na educação étnica-racial e de gênero é
reconhecer a complexidade dos processos de ensinar e aprender em um
espaço pluricultural e multiétnico.

Nesse sentido, a política de educação das relações étnicas-raciais é


uma forma de potencializar o ensino de “História e Cultura Afro-brasileira e
Indígena”. E as escolas são espaços difusores dessa história e cultura de modo
mais justo.

Por isso, as ações pedagógicas devem primar pela reconstrução de uma


memória histórica, de lutas, conquistas e marginalização . Por outro lado, pela
busca de justiça e eliminação do racismo e da discriminação. Além disso,
refletir sobre a diversidade de todas as formas, é defender a escola pública
como instituição imprescindível para a construção de uma sociedade mais
justa, como também, para a consolidação da democracia.

Outro aspecto a ser observado quando se fala em trabalhar a


diversidade no contexto escolar é a respeito do universo contemporâneo. Para
que assim possamos contribuir no universo escolar para formação social dos
discentes, baseado no respeito e tolerância à cultura ,crença ou opção sexual
de cada individuo ou grupo de pessoas. Não basta simplesmente dizer que
somos tolerantes, é preciso que haja uma abertura para dialogar sobre tais
temática com reflexão, entendimento. O aluno precisa ser orientado a exercer o
respeito ao outro, independentemente da cultura, raça, gênero ou crença.

Diante disso, percebe-se que é difícil toda essa questão da diversidade


dentro e fora do ambiente escolar, mas não impossível, a tarefa de tratar de
processos de ensinar e de aprender em sociedades multiétnicas e
pluriculturais, como a brasileira. Abordá-los pedagogicamente ou como objeto
de estudos, com competência e sensatez, requer de nós, professores(as) e
pesquisadores(as): não fazer vista grossa para as tensas relações étnico-
raciais que “naturalmente” integram o dia-a-dia de homens e mulheres
brasileiros; admitir, tomar conhecimento de que a sociedade brasileira projeta-
se como branca; ficar atento(a) para não reduzir a diversidade étnico-racial da
população a questões de ordem econômico-social e cultural; desconstruir a
equivocada crença de que vivemos numa democracia racial. E, para ter
sucesso em tal empreendimento, há que ter presente as tramas tecidas na
história do ocidente que constituíram a sociedade excludente, racista,
discriminatória em que vivemos e que muitos insistem em conservar.” (Silva, p.
3-4)

Mediante o exposto fica evidente que o ideal é que todo educador tenha
em mente a importância de propiciar ao seu aluno um ambiente que priorize e
estimule o respeito à diversidade, ajudando a formar cidadãos mais educados e
respeitosos que se preocupam com os outros, possuindo o espírito de
coletividade. Mas mais do que tratar desses assuntos no contexto escolar é
garantir por meio de diálogo com a família dos alunos que essa temática deve
perpassar pelo convívio familiar e se estender para todos os relacionamentos
interpessoais dessas crianças/alunos. Enfim, todos: pais, educadores e
sociedade, juntos, precisam orientar e ensinar seus filhos e alunos sobre o
respeito à diversidade no ambiente escolar, por meio da convivência em
harmonia com diferenças de gênero, raça, religião ou comportamento.

Referências:

CAPELO, Maria Regina Clivati. Diversidade sociocultural na escola e a


dialética da exclusão/ inclusão. In: GUSMÃO, Neusa Maria Mendes de
(Org.). Diversidade, cultura e educação: olhares cruzados. São Paulo: Biruta,
2003.
LOBATO, Monteiro. Histórias de tia Nastácia. Ed. Brasiliense: São Paulo. 6a.
ed. 1957 p.30.
SILVA, Petronilha Beatriz Gonçalves. Aprender, ensinar e relações étnico-
raciais no Brasil. Educação, v. 63, n. 3, p. 489-506, set./dez. 2007.

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