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1.1.

Metabolismo dos Hidratos de Carbono I


1.1.1. Entrada de glucose na célula
 As principais vias do metabolismo dos hidratos de carbono começam ou
acabam na glucose:
 Utilização de glucose como fonte de energia
 Formação de glucose a partir de não hidratos de carbono
 Armazenamento de glucose na forma de glicogénio
 Libertação de glucose a partir do glicogénio

 A glucose é o único combustível usado por algumas células


especializadas e o principal combustível usado pelo cérebro.

 O metabolismo da glucose é deficiente em 2 doenças metabólicas


(obesidade e diabetes) que contribuem para a atereoesclerose, hiper-
tensão, doenças de rins e cegueira.

1
Principais
vias do
metabolismo
dos hidratos
de carbono
nos animais

2
3
 Em animais e plantas, a glucose tem 3 destinos principais:
 Armazenada (Polissacarídeo ou sacarose)
 Oxidada a compostos de 3 carbonos (piruvato) (Glicólise)
 Oxidada a pentoses (Via das pentoses fosfato)

4
Metabolismo da glucose em diferentes células

5
Metabolismo da glucose em diferentes células

6
Metabolismo da glucose em diferentes células

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1.1.2. Glicólise

 Cada glucose é convertida em 2 piruvatos


 Via anaeróbica e citoplasmática
 Vários carbonos são oxidados
 A energia é armazenada em 2 ATP e 2 NADH

Nas leveduras
É a via final de destruição da glucose.

Nos animais
É a 1ª fase seguindo-se uma oxidação aeróbica e mitocondrial (ciclo
de Krebs) do piruvato a CO2 e H2O.
 Os eritrócitos e córnea não têm mitocôndria e os leucócitos e fibras
musculares têm poucas → Dependem da glicólise como fonte de ATP
 No músculo, em determinadas condições, é anaeróbica.

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 A glicólise consiste em 10 reacções e ocorre em 2 etapas:

1. A glucose é fosforilada e clivada para formar 2 gliceraldeído-3-fosfato


(G-3-P) → Consumidos 2 ATP.

2. O G-3-P é convertido em piruvato. → Produzidos 4 ATP e 2 NADH.

 Devido a serem consumidas 2 ATP na 1ª etapa, a produção total de


ATP por glucose é de 2 moléculas.

 A via glicolítica pode ser sumariada na equação:

Glucose + 2ADP + 2Pi + 2NAD+ 


2Piruvato + 2ATP + 2NADH + 2H+ + 2H2O

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Via
Glicolítica

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As reacções da via glicolítica

 A glicólise começa com a formação da glucose-6-fosfato.


 A glucose-6-fosfato é produzida a partir da glucose sanguínea através da
hexocinase (glucocinase no fígado).
(A fosforilação impede a saída da glucose da célula)

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 Durante a 2ª reacção, a glucose-6-fosfato (aldose) é convertida pela
fosfoglucose isomerase (PGI) em frutose-6-fosfato (cetose).

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 A fosfofructocinase-1 (PFK-1) catalisa a fosforilação da frutose-6-fosfato
para formar a frutose-1,6-bifosfato.

 Depois da frutose-1,6-bifosfato ser sintetizada, a célula degrada glucose


(em vez de a converter noutra hexose ou armazená-la numa molécula
de glicogénio).

 Devido à frutose-1,6-bifosfato se ir separar em 2 trioses, outro objectivo


da fosforilação é prevenir a difusão do produto para fora da célula
(açúcares não fosforilados saem das células).
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A PFK-1 é uma enzima reguladora principal. A sua actividade catalítica é
controlada por várias moléculas:
Inibida
pela frutose-1,6-bifosfato e pelo ADP e por altas concentrações de ATP e
citrato (intermediário do ciclo de Krebs, indicador de reservas
energéticas altas).
Activada
por uma elevada concentração de AMP (indicador de défice energético)
e pela frutose-2,6-bifosfato (indicador intracelular de glucose elevada) no
fígado.

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 A 1ª etapa da glicólise termina com a quebra da frutose-1,6-bifosfato em
2 moléculas de 3 carbonos:
 Gliceraldeído-3-fosfato (G-3-P) e dihidroxiacetona fosfato (DHAP).

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 Dos 2 produtos da reacção de aldolase, somente o G-3-P serve de
substrato para a próxima reacção na glicólise.

 Para prevenir a perca do DHAP, a triose fosfato isomerase catalisa a


interconversão do DHAP e G-3-P.

 Após esta reacção, a molécula de glucose original foi convertida em 2


moléculas de G-3-P.
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 Durante a 6ª reacção, o G-3-P sofre oxidação e fosforilação.

 Processo catalisado pela gliceraldeído-3-fosfato desidrogenase.

 1 par de electrões e de protões transferidos para o NAD+.

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 Na 7ª reacção, o ATP é sintetizado e a fosfoglicerato cinase catalisa a
transferência do grupo fosfato do glicerato-1,3-bifosfato para o ADP
(fosforilação).

 Uma vez que 2 glicerato-1,3-bifosfato são formados por cada


glucose, esta reacção produz 2 ATP.

 O glicerato-3-fosfato tem um potencial de transferência do grupo


fosfato baixo. → Pobre candidato para a síntese de mais ATP.
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 Na 8ª reacção a fosfoglicerato mutase catalisa a transferência do grupo
fosfato do C-3 para o C-2.

 A interconversão do glicerato-3-fosfato e glicerato-2-fosfato é


semelhante à catalisada pela fosfoglucomutase.

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 A enolase catalisa a desidratação do glicerato-2-fosfato em
fosfoenolpiruvato (PEP) (9ª reacção).

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 Na reacção final (10ª reacção) a piruvato cinase catalisa a transferência
do grupo fosfato do PEP para o ADP.

 2 ATP formados para cada molécula de glucose.

 Devido à energia livre de hidrólise ser elevada para o PEP, este é


irreversivelmente convertido a piruvato.

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Inibidores para a via glicolítica

Reagentes sulfureto
Com mercúrio ou iodoacetato
 Inibem a gliceraldeido-3-fosfato desidrogenase (enzima com cisteína no
sítio activo).

Fluoreto
É um inibidor para a enolase.
 O Mg2+ e Pi formam um complexo iónico com o fluoreto, que é o
responsável pela inibição da enolase por interferência com a ligação
ao seu substrato (Mg2+ 2-fosfoglicerato).

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Arsenato
Impede a síntese do ATP pela arsenólise na reacção da gliceraldeído-3-
fosfato desidrogenase.
 O arsenato assemelha-se ao Pi e consegue substituí-lo.
 O 1-arsenato-3-fosfoglicerato é instável, sofrendo hidrólise
originando o 3-fosfoglicerato e o arsenato.
 A glicólise continua mas o 1,3-bifosfoglicerato não se forma,
resultando na perda de capacidade de síntese de ATP no passo
catalisado pela fosfoglicerato kinase.

phosphate arsenate
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Destinos do piruvato
Em termos energéticos
 O resultado da glicólise é a produção de 2 ATPs e 2 NADHs por cada
glucose.
 O piruvato ainda é uma molécula rica energeticamente, que pode produzir
ATP.

Na presença de O2
 Os organismos convertem o piruvato em acetil-CoA.
 O acetil da acetil-CoA entra no ciclo de Krebs e é degradado a CO2.

Em condições anaeróbicas
 Não pode ser gerada mais energia a partir do piruvato.
 O NAD+ é regenerado e o piruvato é convertido noutra molécula
→ Fermentação
(O NAD+ é reduzido a NADH na 5ª reacção da glicólise; Para continuar a
glicólise o NAD+ citoplasmático tem de ser regenerado.)
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Células musculares e certas bactérias
 Produzem NAD+ transformando o piruvato em lactato.

 No músculo em contracção a necessidade de energia é grande.


 Após o O2 esgotar, a fermentação do ácido láctico fornece NAD+ para
continuar a glicólise.

Re-oxidação do NADH
durante a glicólise
anaeróbica

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26
Leveduras e bactérias
 Ocorre a fermentação alcoólica
 O piruvato é descarboxilado a acetaldeído, que é reduzido a etanol
pelo NADH.

27
3 possíveis
destinos
catabólicos
do piruvato
formado
na glicólise

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Regulação da Glicólise
 A velocidade à qual a via glicolítica opera é controlada
fundamentalmente pela regulação alostérica de 3 enzimas
 Hexocinase, PFK-1 e piruvato cinase

 As reacções catalisadas por estas enzimas são irreversíveis e podem


ser ligadas e desligadas por reguladores alostéricos (concentração
celular é um indicador sensível do estado metabólico da célula).

AMP
 Elevada concentração (baixa produção energética) activa a PFK-1 e
a piruvato cinase.
ATP
 Elevada concentração (necessidades energéticas atingidas) inibe a
PFK-1 e a piruvato cinase.
Citrato e acetil-CoA
 Fontes energéticas alternativas disponíveis. Inibem a PFK-1 e a
piruvato cinase.
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Frutose-6-fosfato
 Estimula a PFK-1.
Glucose-6-fosfato
 Inibe as hexokinases (excepto a hexokinase D).
Frutose-2,6-bifosfato
 Indicador da concentração de glucose nas células. Activa a PFK-1.
Frutose-1,6-bifosfato
 Activa a piruvato cinase.

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 O controlo da glicólise também é afectado por hormonas.

Glucagon e insulina
Hormonas libertadas pelo pâncreas que regulam os níveis de glucose no
sangue.

Glucagon
 Inibe a glicólise por inibição da síntese da frutose-2,6-bifosfato.

Insulina
 Promove a glicólise por estímulo da síntese da frutose-2,6-bifosfato.

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33
34
1.1.3. Gluconeogénese

 Formação de novas moléculas de glucose a partir de percursores não


hidratos de carbono.
 Os percursores incluem o lactato, piruvato, glicerol, e alguns -
cetoácidos (derivados dos aminoácidos).

 Ocorre no fígado
 Em certas situações (acidose metabólica ou cansaço) o rim pode
produzir glucose.

 O glicogénio do fígado mantém os níveis de glucose no sangue entre


refeições.
 Quando o glicogénio está em baixas concentrações (depois de
exercício vigoroso), a gluconeogénese fornece a glucose.

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Reacções da Gluconeogénese

 A sequência na gluconeogénese é o inverso da glicólise.


 No entanto, existem 3 reacções glicolíticas (reacções catalisadas pela
hexocinase, PFK-1, e piruvato cinase) que são irreversíveis.

 Na gluconeogénese, são usadas reacções energeticamente favoráveis


catalisadas por diferentes enzimas para ultrapassar estes obstáculos.

 As reacções únicas da gluconeogénese são:


1. Síntese do PEP
2. Conversão da frutose-1,6-bifosfato a frutose-6-fosfato
3. Formação da glucose a partir da glucose-6-fosfato

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1. Síntese do PEP
 A síntese do PEP (fosfoenolpiruvato) a partir do piruvato requer 2 enzimas
→ Piruvato carboxilase e PEP carboxicinase.

 A piruvato carboxilase (encontrada na mitocôndria) converte o piruvato em


oxaloacetato (OAA)

 A coenzima biotina funciona como transportador de CO2. 38


 O OAA é descarboxilado e fosforilado pela PEP carboxicinase numa
reacção conduzida pela hidrólise da guanosina trifosfato (GTP)

 A PEP carboxicinase encontra-se na mitocôndria de algumas espécies e


no citoplasma de outras (nos humanos em ambos).

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 Devido à membrana mitocondrial ser impermeável ao OAA, as células
que não tenham a PEP carboxicinase mitocondrial transferem o OAA para
o citoplasma.
 Neste processo, o OAA é convertido em malato pela malato
desidrogenase mitocondrial.

 Após o transporte do malato através da membrana mitocondrial, a


reacção inversa é catalisada pela malato desidrogenase citoplasmática.
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2. Conversão da frutose-1,6-bifosfato a frutose-6-fosfato
 A reacção irreversível catalisada pela PFK-1 na glicólise é contornada
pela frutose-1,6-bifosfatase.

 A fructose-1,6-bifosfatase é uma enzima alostérica. → A sua actividade é


estimulada pelo citrato e inibida pelo AMP e fructose-2,6-bifosfato.

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3. Formação da glucose a partir da glucose-6-fosfato
 A glucose-6-fosfatase (no fígado e rins) catalisa a hidrólise irreversível da
glucose-6-fosfato para formar a glucose e Pi.
 A glucose é então libertada no sangue.

 A gluconeogénese é um processo consumidor de energia


 Em vez de gerar ATP (como a glicólise) requer a hidrólise de 6 ATP.

42
Gluconeogénese
e relação
com a Glicólise

43
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Substratos da Gluconeogénese

Lactato
 É libertado por eritrócitos
e células que não têm mitocôndria
ou têm baixo O2.

 No ciclo de Cori, o lactato é libertado


pelos músculos durante o exercício.

 Depois do lactato ser transferido


para o fígado, é reconvertido a piruvato
pela lactato desidrogenase e depois
a glucose pela gluconeogénese.

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Glicerol
 Produto do metabolismo dos lípidos no tecido adiposo. É transportado
para o fígado no sangue, e depois convertido a glicerol-3-fosfato pela
glicerol cinase (encontrada somente no fígado).

 A oxidação do glicerol-3-fosfato para formar DHAP ocorre quando a


concentração de NAD+ citoplasmática é relativamente elevada.

46
Alanina
 Quando o exercício muscular produz elevadas quantidades de piruvato,
algumas dessas moléculas são convertidas a alanina por uma reacção de
transaminação envolvendo o glutamato.

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 Depois de ser transportada para o fígado, a alanina é reconvertida a
piruvato e depois a glucose.

 O ciclo da alanina é um mecanismo de transporte de NH4+ para o fígado.


→ O fígado converte então NH4+ (ião muito tóxico) em ureia.

48
Relação entre a
Gluconeogénese
no fígado e a
glicólise no
resto do corpo

(a) Ciclo de Cori


(b) Ciclo da alanina

49
Regulação da Gluconeogénese

 A gluconeogénese é estimulada por elevadas concentrações de lactato,


glicerol, e aminoácidos.
 Uma alimentação rica em gorduras, torna estas moléculas disponíveis em
elevadas concentrações.

 As 4 enzimas chave na gluconeogénese (piruvato carboxilase, PEP


carboxicinase, frutose-1,6-bifosfatase, e glucose-6-fosfatase) são
afectadas por:
Frutose-1,6-bifosfatase
Activada pelo ATP e inibida pelo AMP e frutose-2,6-bifosfato.
Piruvato carboxilase
Activada pela acetil-CoA.

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Hormonas
 Afectam a gluconeogénese alterando as concentrações de reguladores
alostéricos e a velocidade com que as enzimas chave são sintetizadas.

Glucagon
Diminui a síntese da frutose-2,6-bifosfato, inibindo a PFK-1 e activando a
frutose-1,6-bifosfatase.
Inactiva a enzima glicolítica piruvato cinase.

Insulina
Suprime a síntese de todas as enzimas chave gluconeogénicas.

Cortisol
Hormona esteróide produzida no cortex da glândula adrenal. Estimula
a síntese das enzimas gluconeogénicas.

51
52
1.1.4. Via das pentoses-fosfato

NADPH
Requerido para processos reductivos (biossíntese de lípidos e
mecanismos antioxidantes).
Fornecido pela via das pentoses-fosfato (ou via oxidativa do
fosfogluconato).

 Esta via é mais activa em células nas quais são sintetizadas grandes
quantidades de lípidos (tecido adiposo, cortex adrenal, glândulas
mamárias, e fígado) e que têm risco de dano oxidativo (eritrócitos).
 Via alternativa para a oxidação da glucose, na qual não é gerado ATP.
 Para além de NADPH, é responsável pela síntese da ribose-5-fosfato
(componente de nucleótidos e ácidos nucleicos).
 Ocorre em 2 fases → Oxidativa e não oxidativa.

53
Fase oxidativa da
via das pentoses-fosfato

54
Fase não oxidativa da
via das pentoses-fosfato

55
Via das pentoses-fosfato regulada para atingir as necessidades da célula em
NADPH e ribose-5-fosfato:

G-6-PD
Catalisa a etapa limitante na via das pentoses-fosfato.

 A sua actividade é inibida pelo NADPH e estimulada pela glutationa


(GSSG) e glucose-6-fosfato.

 Uma alimentação rica em hidratos de carbono aumenta a síntese de G-6-


PD e da fosfogluconato desidrogenase.

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1.1.5. Ciclo de Krebs

 O metabolismo aeróbico ocorre na mitocôndria.

 A acetil-CoA (produto da oxidação de piruvato, ácidos gordos, e certos


aminoácidos) é oxidada pelas reacções do ciclo de Krebs (ou ácido
cítrico) na matriz mitocondrial.
Principais produtos  Coenzimas reduzidas NADH e FADH2 e CO2.

 Os electrões energéticos do NADH e FADH2 são doados à cadeia


transporte de electrões (ETC, membrana interna).
O aceitador terminal para a ETC é o O2.

 A energia derivada conduz a síntese de ATP.

58
59
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Metabolismo aeróbico na mitocôndria 61
1ª reacção
Um acetil de 2 carbonos condensa com uma molécula de 4 carbonos
(oxaloacetato) para formar uma molécula de 6 carbonos (citrato).

Subsequentes 7 reacções
2 moléculas de CO2 são produzidas e 4 pares de electrões são removidos
dos compostos de carbono sendo o citrato reconvertido a oxaloacetato.

 Reacção global para o ciclo de Krebs:

Acetil-CoA + 3NAD+ + FAD + GDP + Pi + 2H2O 


2CO2 + 3NADH + FADH2 + CoASH + GTP + 3 H+

 Para além de produção de energia  Os intermediários do ciclo de Krebs


são substratos em reacções biossintéticas.

62
Ciclo de Krebs

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Conversão do piruvato em acetil-CoA
 Após o transporte para a matriz mitocondrial, o piruvato é convertido em
acetil-CoA (descarboxilação oxidativa) por reacções catalisadas por
enzimas no complexo piruvato desidrogenase.

Piruvato + NAD+ + CoASH  Acetil-CoA + NADH + CO2 + H2O + H+

 O complexo piruvato desidrogenase é multienzimático:

 A actividade da piruvato desidrogenase é inibida por acetil-CoA e NADH e


activada por piruvato, CoASH, NAD+ e baixa concentração de ATP
64
mitocondrial.
65
Reacções do ciclo de Krebs

 O ciclo de Krebs começa com a condensação da acetil-CoA com o


oxaloacetato para formar o citrato.

66
 Na reacção seguinte, o citrato é reversivelmente convertido a isocitrato
pela aconitase.

 Durante esta reacção de isomerização, forma-se um intermediário (cis-


aconitato) por desidratação.
 A ligação dupla carbono-carbono dos cis-aconitato é depois re-hidratada
para formar o isómero isocitrato.

67
 A descarboxilação oxidativa do isocitrato, catalisada pela isocitrato
desidrogenase, ocorre em 2 etapas.

 O isocitrato é oxidado para formar o oxalosuccinato, um intermediário


transiente.
 A imediata descarboxilação do oxalosuccinato resulta na formação do -
cetoglutarato, um -cetoácido.

68
 A conversão do -cetoglutarato em succinil-CoA é catalisada no complexo
-cetoglutarato desidrogenase.

 Reacção análoga à conversão do piruvato em acetil-CoA:


A acetil-CoA e succinil-CoA são produtos.
Os complexos multienzimáticos requerem os mesmos co-factores (TPP,
CoASH, ácido lipoico, NAD+ e FAD).

 Inibição pela succinil-CoA, NADH, ATP, e GTP.


69
 A quebra da ligação tioéster da succinil-CoA para formar succinato,
catalisada pela succinato tiocinase, está acoplada (nos mamíferos) à
fosforilação do GDP.

 O ATP é sintetizado na reacção catalisada pela nucleosídeo difosfato


cinase:
GTP + ADP  GDP + ATP

70
 A succinato desidrogenase catalisa a oxidação do succinato para formar
fumarato:

 Ao contrário das outras enzimas do ciclo de Krebs, a succinato


desidrogenase não está presente na matriz mitocondrial.  Está ligada à
membrana mitocondrial.

 É activada por elevadas concentrações de succinato, ATP, e Pi e inibida


por oxaloacetato e malonato.
71
 O fumarato é convertido em L-malato numa hidratação reversível
catalisada pela fumarase (ou fumarato hidratase)
Fumarato + H2O  L-malato

 O oxaloacetato é regenerado com a oxidação do L-malato.

 A malato desidrogenase usa o NAD+ como oxidante.


72
73
Ciclo de Krebs anfibólico
Vias anfibólicas
Podem funcionar em processos anabólicos e catabólicos.

Ciclo de Krebs é catabólico


Porque os grupos acetilo são oxidados para formar CO2 e há conservação
de energia em moléculas de coenzimas reduzidas.

Ciclo de Krebs é anabólico


Porque vários intermediários são percursores em vias biossintéticas.
 O oxaloacetato é usado na gluconeogénese e na síntese de aminoácidos.
 O -cetoglutarato desempenha um papel importante na síntese de
aminoácidos.
 A síntese de porfirinas (grupo heme) usa a succinil-CoA.
 A síntese de ácidos gordos e colesterol no citoplasma requer a acetil-CoA.

74
Ciclo de Krebs
anfibólico

75
Regulação do ciclo de Krebs
 Devido ao seu papel na produção de energia, o ciclo de Krebs também
depende de um contínuo fornecimento de NAD+, FAD, e ADP.

 As enzimas citrato síntase, isocitrato desidrogenase, e -cetoglutarato


desidrogenase são fortemente reguladas porque catalisam reacções que
representam pontos de ramificação metabólica importantes.

Citrato síntase
Devido às concentrações de acetil-CoA e oxaloacetato na mitocôndria
serem baixas em relação à enzima, um aumento de substrato estimula a
síntese de citrato.

Elevadas concentrações de succinil-CoA e citrato inibem a citrato síntase


actuando como inibidores alostéricos.

Outros reguladores alostéricos são o NADH e o ATP.


À medida que a célula se torna metabolicamente activa, as concentrações
de NADH e ATP diminuem.  A citrato síntase torna-se mais activa.76
Controlo do ciclo de
Krebs

77
Isocitrato desidrogenase
A sua actividade é estimulada por concentrações elevadas de ADP e
NAD+ e inibida por ATP e NADH.

 Somente o citrato pode passar a membrana interna mitocondrial.


 O transporte de citrato transfere a acetil-CoA para fora da mitocôndria.
 Uma vez no citoplasma, o citrato é quebrado pela citrato liase.

 A acetil-CoA é usada em processos biossíntéticos


 O oxaloacetato é usado em reacções biossintéticas ou convertido em
malato.
 O malato ou entra na mitocôndria (onde é re-convertido a oxaloacetato)
ou é convertido no citoplasma a piruvato pela enzima málica.
 O piruvato volta a entrar na mitocôndria.

78
Metabolismo
do citrato

79
-cetoglutarato desidrogenase
Quando as reservas energéticas de uma célula estão baixas, a -
cetoglutarato desidrogenase é activada e o -cetoglutarato é retido.
À medida que o fornecimento de NADH aumenta, a enzima é inibida, e -
cetoglutarato torna-se disponível para biossíntese.

 As actividades relativas da piruvato desidrogenase e piruvato carboxilase


determinam o grau em que o piruvato é usado para gerar energia e
percursores biossintéticos.
 Se uma célula está a usar um intermediário do ciclo como o -
cetoglutarato, a concentração de oxaloacetato diminui e a acetil-CoA
acumula-se.
 Devido à acetil-CoA ser um activador da piruvato carboxilase (e um
inibidor da piruvato desidrogenase), mais oxaloacetato é produzido a
partir do piruvato.

80
Reacções Anapleróticas
 Os intermediários do ciclo de Krebs (usado nos processos anabólicos)
são repostos por várias reacções anapleróticas.

 Uma das mais importantes reacções anapleróticas é catalisada pela


piruvato carboxilase:
 Uma elevada concentração de acetil-CoA (indicador de concentração
insuficiente de oxaloacetato) activa a piruvato carboxilase.
Como resultado, a concentração de oxaloacetato aumenta.
Algum excesso que não é usado no ciclo de Krebs, é usado na
gluconeogénese.

 Outras reacções anapleróticas incluem a síntese da succinil-CoA a partir


de certos ácidos gordos e certos aminoácidos.

81
82
1.1.6. Cadeia de transporte de electrões

 A cadeia de transporte de electrões (ETC) mitocondrial é uma série de


transportadores que transferem electrões, derivados de coenzimas
reduzidas, para o oxigénio. → Respiração aeróbica.

 A energia libertada durante a transferência de electrões está acoplada à


síntese de ATP.

 As coenzimas reduzidas, derivadas da glicólise, ciclo de Krebs, e


oxidação de ácidos gordos, são a principal fonte de electrões.

83
 Os componentes da ETC estão localizados na membrana mitocondrial
interna. → Organizados em 4 complexos, cada consistindo em várias
proteínas e grupos prostéticos:

Complexo I (ou complexo NADH desidrogenase)


 Catalisa a transferência de electrões do NADH para a coenzima Q (UQ,
ubiquinona).

 Composto por 12 polipéptidos.


Maior componente proteico
na membrana interna.
Para além de 1 FMN, Centros Fe-S
contem 7 centros Fe-S. (a) 2 Fe, 2 S
(b) 4 Fe, 4 S

84
 O NADH reduz o FMN a
FMNH2.
 Os electrões são
transferidos do FMNH2 para
1 centro Fe-S, 1 de cada vez.
Depois são doados à UQ.

 A transferência de electrões
é acompanhada pelo
movimento de protões da
matriz para o espaço
intermembranar, através da
membrana interna.

85
86
Estrutura e estados de oxidação da coenzima Q
Complexo II (ou complexo succinato desidrogenase)
 Consiste na enzima succinato desidrogenase do ciclo de Krebs e 2
proteínas Fe-S.
 Medeia a transferência de electrões do succinato para o UQ.
 Contem 1 FAD covalentemente ligado.

Complexo III
 Transfere electrões da coenzima Q reduzida (UQH2) para o citocromo c
(cyt c).
 Contem 2 citocromos tipo-b, 1 citocromo c1 (cyt c1) e 1 centro Fe-S →
Complexo citocromo bc1.

(Os citocromos são proteínas transportadoras de electrões ligadas à


membrana que contêm um grupo prostético heme; os electrões são
transferidos 1 de cada vez à medida que cada Fe3+ é reversivelmente
reduzido a Fe2+).

87
 A transferência de electrões começa com a oxidação da UQH2 pela
proteína Fe-S no complexo III, gerando a UQH•
 A proteína Fe-S reduzida transfere 1 electrão para o cyt c1, que o
transfere para o cyt c.

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Complexo IV (citocromo oxidase)
 Complexo proteico que catalisa a redução do O2 a H2O.
Nos mamíferos contem 6 a 13 sub-unidades.

 Contem 2 Cu e Fe dos grupos hemes dos citocromos a e a3.


 O Fe do cyt a3 está associado a 1 Cu (CuB). → O outro Cu (CuA) tem uma
pequena distância ao grupo heme do cyt A
 O citocromo c (proteína na superfície externa da membrana interna)
transfere electrões, um de cada vez, para o cyt a e CuA
 Os electrões são doados pelo cyt a3 e CuB que ocorrem no lado matricial
interno da membrana.

 Permite o transporte de 4 electrões e 4 protões para o O2 ligado ao cyt a3-


Fe2+ → Formam-se 2 H2O que abandonam o sítio.

O2 + 4 H+ + 4 e  2 H 2 O

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Cadeia de
transporte de
electrões (ETC)

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1.1.7. Fosforilação Oxidativa
 A energia gerada pela ETC é conservada pela fosforilação do ADP
originando ATP.

Teoria Quimiosmótica
Teoria de acoplação quimiosmótica (Peter Mitchell, 1961)

1. À medida que os electrões passam através da ETC, os protões são


transportados da matriz e libertados no espaço intermembranar.
 Aumenta o potencial eléctrico () e o gradiente de protões (pH).

2. Os protões (no espaço intermembranar em excesso) podem passar


através da membrana interna e voltar para a matriz através de canais
especiais (a membrana interna é impermeável a protões).
 Cada canal contem uma ATP síntase → Síntese de ATP.

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 Durante cada reacção redox na ETC, 1 electrão perde energia.

 2.5 ( 3) moléculas de ATP são sintetizadas por cada par de electrões


transferidos entre o NADH e O2 na ETC.
 1.5 ( 2) moléculas de ATP resultam da transferência de cada par doado
pelo FADH2 produzido pela oxidação do succinato.

 Várias moléculas inibem o transporte de electrões.


Antimicina A
Inibe o cyt b. → O NAD+, as flavinas, e as moléculas de cyt b tornam-se
mais reduzidas. → Os citocromos c1, c, e a tornam-se mais oxidados.
Rotenona e Amital
Inibem a NADH desidrogenase.
Monóxido de carbono (CO), Azida (N3-) e Cianeto (CN-)
Inibem a citocromo oxidase.

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Controlo da Fosforilação Oxidativa

Controlo respiratório Controlo da respiração aeróbica pelo ADP.

 Formação de ATP relacionada com a razão [ATP]/([ADP][Pi])


 A ATP síntase é inibida por elevadas concentrações de ATP e activada por
elevadas concentrações de ADP e Pi.

 As quantidades relativas de ATP e ADP na mitocôndria são controladas


por 2 proteínas de transporte na membrana interna.
 O translocador ATP-ADP e o transportador de fosfato.

Translocador de ATP-ADP
Proteína dimérica responsável pela permuta 1:1 do ATP intramitocondrial
pelo ADP produzido no citoplasma.
 Transporte de ATP para o exterior e ADP para o interior favorecido.

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Transportador de fosfato
Medeia o transporte de H2PO4- para dentro da matriz por permuta com OH-

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Durante a glicólise são produzidos 2 NADH.
 Quando o oxigénio está disponível, a oxidação do NADH pela ETC é
preferível (pela produção de energia) à formação de lactato.
 No entanto, a membrana mitocondrial é impermeável ao NADH.

 As células desenvolveram mecanismos para transferirem electrões do


NADH citoplasmático para a ETC mitocondrial.
 Mecanismo do glicerol fosfato e do malato-aspartato.

Mecanismo do glicerol fosfato


O DHAP (intermediário glicolítico) é reduzido pelo NADH para formar
glicerol-3-fosfato.
 Esta reacção é seguida pela oxidação do glicerol-3-fosfato pela glicerol-3-
fosfato desidrogenase mitocondrial.
 Devido ao glicerol-3-fosfato interactuar com a enzima na superfície
externa da membrana interna, não entra na matriz.

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 O FADH2 produzido é oxidado pela ETC.
 O FAD (aceitador de electrões) produz somente 1.5 ( 2) ATP por NADH
citoplasmático.

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Mecanismo do malato-aspartato
 Começa com a redução do oxaloacetato citoplasmático a malato pelo
NADH.
 Após o transporte para a matriz mitocondrial, o malato é re-oxidado.
 O NADH é oxidado pela ETC.

 Para o mecanismo continuar, o oxaloacetato tem de regressar ao


citoplasma.
 Devido à membrana interna ser impermeável ao oxaloacetato, este é
convertido a aspartato numa reacção de transaminação envolvendo o
glutamato. → Os produtos (aspartato e -cetoglutarato) são transportados
para o citoplasma.

 Para além de enzimas citoplasmáticas e mitocondriais, o mecanismo


requer 2 transportadores na membrana interna
 Proteínas de transporte glutamato-aspartato e malato- -cetoglutarato.
→ Gera 2.5 ( 3) ATP por cada NADH.
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 Dependendo do mecanismo usado, o nº total de ATP produzidos por
glucose varia entre 36 e 38.

 A reacção para a completa oxidação da glucose é:

C6H12O6 + 6O2 + 36-38ADP + 36-38Pi  6CO2 + 6H2O + 36-38ATP

 O nº de ATP gerados na oxidação completa da glucose é muito maior do


que os 2 ATP formados na glicólise.
 Os organismos que usam o oxigénio para oxidar a glucose têm portanto
uma substancial vantagem.

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Process Direct product Final ATP
Glycolysis:
2 NADH 4 or 6 ATPs*
2 ATPs 2 ATPs

2  pyruvate oxidation:
2 1 NADH 6 ATPs

2  acetyl-CoA oxidation:
2 3 NADH 18 ATPs
2 1 FADH2 4 ATPs
2 1 GTP 2 ATPs
Total: 36 or 38 ATPs
* - the number depends on which shuttle system transfers reducing equivalents into
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mitochondria
Stress oxidativo
 A redução do oxigénio a água que ocorre na mitocôndria pode produzir
espécies derivadas do oxigénio, muito reactivas e com elevado potencial
destrutivo → Espécies reactivas de oxigénio (ROS).

Cancro, enfarte do miocárdio, inflamação, envelhecimento têm sido


associados à formação de ROS.

Exemplos de ROS Radical superóxido, peróxido de hidrogénio, radical


hidroxilo e oxigénio singleto.

Circunstâncias que podem causar dano oxidativo sério


Consumo excessivo de certas drogas ou exposição a certos
contaminantes ambientais.

Principais defesas enzimáticas contra o stress oxidativo


Superóxido dismutase (SOD), catalase, e glutationa peroxidase

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Compostos que protegem contra as ROS: Ácido ascórbico e vitamina E

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