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Perrenoud(1998), em “ Não mexa na minha avaliação!

”, conceitua o “aluno
fracassado” a partir da visão do sociólogo Jamati(1971): “O aluno que fracassa é aquele que
não adquiriu no prazo previsto os novos conhecimentos e as novas competências que a
instituição, conforme o programa, previa que adquirisse".
No texto “ A produção do Fracasso Escolar,” por Maria Helena, no capítulo 6
“Quatro histórias de (re)provação escolar”, a autora nos mostra os conceitos da palavra
reprovar: “não aprovar, rejeitar, excluir, censurar, repreender, desprezar/provar nova e
repetidamente, provar bem.” Partindo para provação: “ação ou meio de provar, de
experimentar a consciência, o sofrimento, a paciência, a virtude etc. Trabalhos penosos,
difícil.”
Essas citações abrem espaço para um debate sobre as práticas de avaliação nas
escolas, considerando o alcance dos alunos pelo êxito ou fracasso, um cenário degradado
advindo de uma cultura de classificações presentes na sociedade, conceituada pelos
sociólogos como “hierarquia de competição".
“O fracasso é um artefato real, produzido pelo exercício da avaliação em si, que faz
uma classificação predeterminada e nada mais é que a antecâmara da eliminação”(Hadji,
2012). Fracasso é o oposto do êxito. Mas o que seria êxito nas escolas atualmente? Tirar uma
nota boa, ser aprovado, ter bom desempenho? e não “reprovar”, pois reprovar “rejeita, excluí
e repreender”.
A prática de avaliação segundo Perrenoud(1998), “ é submeter regularmente o
conjunto dos alunos a provas que evidenciam uma distribuição de desempenhos, portanto de
bons e maus desempenhos”. Basicamente temos classificações: os alunos que tiram notas
altas, que possuem um bom desempenho, são alunos que obtêm êxito, no contrário
fracassados.
Vemos essa situação claramente estabelecida nos vestibulares, “A regra é: que vença o
melhor”. Uma competitividade, que prova, acertos e erros e como resultado uma vaga no
ensino superior.
Luckesi(2008) trata da “pedagogia do exame”, presente principalmente no final do
ensino médio, onde alunos e professores estão centrados em resolver provas para serem
aprovados no vestibular, e o que predomina é a nota. O autor formula a função da avaliação
da aprendizagem como algo auxiliar na aprendizagem do aluno sem ser um instrumento de
mera aprovação ou reprovação, ou classificar, ela deve constatar a qualidade da situação e se
necessário intervir.
As provas e exames não contribuem no aprendizagem do aluno, somente classifica-o.
Importa o que o aluno já sabe, não interessa o que ele precisa aprender. O próprio sistema de
ensino está mais preocupado com a nota do que com a aprendizagem dos alunos, fazendo
com que os professores utilizem as provas como forma de ameaça contra os estudantes
ocasionando o medo que os leva estudar para a obtenção de uma nota.
Luckesi(2011) “ Será premiado ou castigado em função do que conseguiu aprender
até o momento da prova”. Se o estudante não tiver aprendido o que deveria saber naquele
momento de avaliação será reprovado e registrado o seu desempenho por meio de nota ou
conceito. Perrenoud (1999) completa. “(...) A avaliação é onipresente [baseada] em uma
avaliação formal de notas ou provas, [onde] um aluno é considerado apto ou não para esta ou
aquela habilitação”.
O autor declara que “Os exames escolares estão aprisionados nos problemas da
aprendizagem e neles se perdem, tornando difícil qualquer possibilidade de busca de solução
para os impasses encontrados” (Luckesi, 2011, p.186). Os exames não buscam soluções para
os problemas os quais o educando enfrenta.
Em “Avaliação sem impacto na aprendizagem'', escrito por João Luiz Horta Neto, o
autor diferencia o ato de avaliar e o ato de medir. Afirma que “ avaliar é algo fundamental
em educação”, é um processo que permite apontar “o que pode ser feito para garantir a
aprendizagem dos alunos”. Medir é utilizar da prova, um teste para fazer juízo de valor por
notas sobre o que está sendo analisado. Dessa forma, o autor postula que avaliar é mais do
que medir, “mede-se para conhecer e avalia-se para escolher em que direção agir”. Sendo
assim, a prática avaliativa necessita “de ajustes para colaborar de forma efetiva no
desenvolvimento da educação basica”.
A consequência desse cenário de aprovações e reprovações é o insucesso escolar.
Hadji(2011) diz que o aluno não pode ser comparado a um atleta que ganha medalhas. O
objetivo não é passar a frente dos outros, aprender, não aprender a competir com os outros. Se
aprende melhor em um clima de cooperação do que em um clima de competição( Monteil,
1989). Não se trata de “saber se ele fez melhor que o Pedro”, o que conta é o progresso de
cada um em relação a si mesmo.
A avaliação contribui para transformar a escola em um local de sofrimento,
humilhação , comentários negativos e notas. Perrenoud(1998), relaciona o sistema de
avaliação com os efeitos devastadores sobre a auto-imagem, o estresse e a relação entre
professores e alunos. Emilia Ferreiro afirma que um dos maiores danos que se pode causar a
uma criança é levá-la a perder a confiança na sua própria capacidade de pensar.
Por isso, se faz necessário nos livrarmos da obsessão avaliativa. Não se avalia por
meio de uma avaliação, a criança que está aprendendo a falar por exemplo. “Esta forma de
entender, propor e realizar a avaliação da aprendizagem exige que ela seja um instrumento
auxiliar da aprendizagem e não um instrumento de aprovação ou reprovação dos alunos”
(LUCKESI, 2008, p. 82).
Perrenoud(1998), formula a ideia de uma “avaliação formativa que ajuda o aluno a
aprender e a se desenvolver, o professor compreende os funcionamentos dos alunos, de modo
que possa ajustar de maneira mais individualizada suas intervenções pedagógicas e as
situações didáticas que propõe”. O autor afirma: “Melhor seria falar de observação formativa
do que de avaliação , tão associada está a última palavra à medida, às classificações, aos
boletins escolares a ideia de informações codificaveis, transmissíveis, que contabilizam os
conhecimentos.”
No texto “Avaliação não é somente prova” por Claudio Sassaki, discute o processo de
aprendizagem, referente às provas, vistas nas escolas como inimigas pelos estudantes. Para
Sassaki(2015), “costumam ser aguardadas com ansiedade tanto pelos mais aplicados, que
temem decepcionar nos resultados, quanto pelos que têm mais dificuldades que receiam
receber algum tipo de punição.”
O autor ressalta que o objetivo da prova não deveria ser fazer o aluno “provar” que
sabe o conteúdo, mas sim servir como diagnóstico do que já foi feito e bússola para o
planejamento dos próximos passos. Mais a frente, Sassaki(2015) afirma que “O resultado da
prova não deve motivar punição, mas intervenções e planejamento”.
Menezes(2011) formula que “as provas devem servir para acompanhar o processo de
aprendizagem do aluno, e nunca ser temidas como sentenças”. Os processos avaliativos estão
servindo para dar uma nota a cada estudante e o aluno trabalha pela nota apenas isso, esquece
do parte importante que é, o sentido de aprender.
Em “avaliação da aprendizagem escolar - componente do ato pedagógico”, escrito por
Luckesi -, a escola e o educador, para avaliar o aluno numa perspectiva de contribuir para a
sua aprendizagem, deveriam “ conhecer mais e melhor a avaliação como componente do ato
pedagógico e o educador precisa estar atento às condições reais para que o educando obtenha
uma aprendizagem significativa e satisfatória”.
Luckesi(2008) conceitua a avaliação da aprendizagem escolar como um ato amoroso,
"O ato amoroso é aquele que acolhe a situação, na sua verdade" e afirma ainda: “por acolher
a situação com ela é, o ato amoroso tem a característica de não julgar”. O autor se refere ao
acolhimento não no sentido de excluir, julgar, mas de um ato que tem como propósito incluir.
Luckesi (2011) afirma que a avaliação “é um ato de investigar a qualidade do seu
objeto de estudo e, se necessário, intervir no processo da aprendizagem, tendo como suporte
o ensino, na perspectiva de construir os resultados desejados”. A prática avaliativa deve ser
vista como um instrumento para a melhoria da aprendizagem do aluno, e para que seja
efetiva deverá ser dinâmica e construtiva, dando suporte ao professor. Felipe Bandoni em
“A importância de ir além da nota”, afirma que “mais do que avaliar, é preciso apontar
caminhos para os alunos avancem, sobretudo quando cometem erros”.
Desse modo, a avaliação como componente do ato pedagógico, proposto por Luckesi,
deve ser planejada e executada para que haja o desenvolvimento de aprendizagem
significativa e eficaz na vida do estudante, sem classificá-lo, selecioná-lo ou excluí-lo.
No artigo “Alguém me explica: Conheça a pedagogia que acaba com as notas e
provas” de Douglas Lisboa, temos a linha de ensino Waldorf, uma pedagogia que propõe
olhar para o desenvolvimento do aluno em sua integridade. As crianças não são avaliadas por
provas tradicionais, mas tem lição de casa e um boletim que não tem notas, mas uma
descrição do desempenho nas atividades da escola e o conteúdo é passado de forma lúdica.
“O estímulo ao intelecto dá lugar à clareza de raciocínio, equilíbrio emocional e à iniciativa”
e os alunos “ serão capazes de levar para a vida um forte senso de justiça, amor pela liberdade
e compromisso social”. Nesse tipo de ensino, “as crianças cuidam de uma pequena horta,
preparam a terra, plantam e colhem trigo para fazerem pães na cozinha da escola. Tem aulas
de música, tricô, artes, inglês."
Estabelecendo um paralelo a esta linha de ensino, temos o texto da professora
Kimberly O’Malley, “Os 4 tipos comuns de avaliação que os professores podem aplicar”, em
que a professora diz que utiliza diferentes tipos de avaliações e ressalta “O que as avaliações
oferecem para mim, como professora, são informações sobre como os meus alunos estão
aprendendo e percepções que me orientam na medida em que prossigo com meus planos de
aula”.
Kimberly O’Malley é uma professora de escola pública, especializada em métodos
para medir o desenvolvimento do aluno e de encontrar novas maneiras de interpretar os
resultados das avaliações para que estas sejam mais significativas. Um trecho interessante
sobre suas aulas, que chama atenção para uma forma diferente de ensino e avaliação, é na sua
aula para a turma do segundo ano sobre horas:
“ Quando ensinei uma turma de 2º ano a contar o tempo em um
relógio analógico, distribui relógios e ditei diferentes tipos de
horas. Os alunos moveram os ponteiros com suas próprias mãos
para expressarem as horas, momento em que pude verificar
quem não havia entendido a tarefa. Obtive o nível de
aprendizado de meus alunos durante a aula e isso ajudou a
concluir minhas instruções em tempo real.”

Bandoni(2019) formula que “Para gerar aprendizado, a devolutiva do professor


precisa ser bem mais detalhada do que marcas vermelhas nas provas”, o autor continua “É
preciso que o aluno perceba que errou, reflita sobre o erro e pense em como fazer para
superá-lo." Temos um exemplo na aula da professora Kimberly O’Malley, onde os próprios
alunos moveram os ponteiros dos relógios, dando sentido ao aprendizado e aprendendo de
forma lúdica com seus erros.
Como concluir com o pensamento de Rubem Alves “Se fosse ensinar a uma criança a
beleza da música não começaria com partituras, notas e pautas. Ouviríamos juntos as
melodias mais gostosas e lhe contaria sobre os instrumentos que fazem a música. Aí,
encantada com a beleza da música, ela mesma me pediria que lhe ensinasse a mistério”.

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