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Relatório sobre as causas do abandono

escolar dos alunos no distrito de Bilene

1
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO À PROBLEMÁTICA: ABANDONO ESCOLAR, UM


SINTOMA DE COMPLEXIDADE DE FACTORES ................................................. 3
1.1. ESTRUTURA DO ESTUDO ...................................................................................... 5
1.2. METODOLOGIA ................................................................................................... 5
1.3. REVISÃO DE LITERATURA: DESISTÊNCIA ESCOLAR COMO CONSTRUÇÃO SOCIAL . 7
2. SISTEMA EDUCATIVO MOÇAMBICANO: UMA PERSPECTIVA
HISTÓRICA ................................................................................................................... 9
2.1. DISTRITO DE BILENE NA ENCRUZILHADA DE FACTORES DE DESISTÊNCIA ESCOLAR
11
3. NARRATIVAS SOBRE FENÓMENO DE DESISTÊNCIA ESCOLAR. UMA
ABORDAGEM A PARTIR DOS ALUNOS DESISTENTES .................................. 13
3.1. NARRATIVA SOBRE ESTIGMA ESCOLAR ............................................................. 14
3.2. NARRATIVA SOBRE PROBLEMAS MATERIAIS (FINANCEIRO) ............................... 15
3.3. NARRATIVA SOBRE REFERÊNCIA DE SUCESSO PELA ESCOLARIDADE ................. 16
3.4. NARRATIVA SOBRE PROBLEMAS DE NATUREZA FAMILIAR ................................ 18
4. FACTORES DE ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR. POR UMA DIMENSÃO
DE RETENÇÃO E ATRACTIVIDADE DE ALUNOS ............................................ 19
4.1. NARRATIVA SOBRE A FORMAÇÃO DOS PAIS E ENCARREGADOS DE EDUCAÇÃO .. 20
4.2. NARRATIVA SOBRE FACTORES ATRACTIVOS DA ESCOLA ................................... 21
5. FACTORES DE INTERMEDIAÇÃO COMUNITÁRIA. UM REFORÇO
NECESSÁRIO .............................................................................................................. 22
6. CONCLUSÃO: DESISTÊNCIA ESCOLAR UM FENÓMENO DE
PARTILHA DE RESPONSABILIDADE .................................................................. 24
7. RECOMENDAÇÕES ........................................................................................... 25
7.1. AO NÍVEL DA ESCOLA ....................................................................................... 25
7.2. AO NÍVEL DA FAMÍLIA ....................................................................................... 26
7.3. AO NÍVEL DA COMUNIDADE .............................................................................. 26

2
1. INTRODUÇÃO À PROBLEMÁTICA: ABANDONO ESCOLAR, UM SINTOMA
DE COMPLEXIDADE DE FACTORES

Regina Elina Chiluvane é uma menina de 15 anos de idade, residente do bairro de


Nhiuane – Praia de Bilene, posto administrativo do mesmo nome, distrito de Bilene
Macia. Ela tem três irmãos, um que frequenta 2a classe, outro 7a classe e o mais velho a
10a classe. Tendo falecido o seu pai em 2015 e a sua mãe constantemente doente e por
falta de material escolar — que compreende cadernos, uniforme, propinas e etc. —, com
consentimento desta última, a Regina abandonou a escola em 2017, quando frequentava
a 7a classe ainda no primeiro semestre. Aliás por conselho da sua mãe, a dona Elina
António Chiluvane, e da tia, Regina rumou para a cidade de Maputo onde iria procurar
um emprego que sustentaria a sua própria escola, e quiçá a família em Bilene. Sem
sucesso no Maputo, ela volta à Bilene no mesmo ano e pede a mãe para voltar a
frequentar a escola. Em atraso ao programa escolar, apenas lhe foi readmitida para
assistir as aulas sem direito de reinscrição, com a promessa de possível retoma no ano
próximo de 2018. Regina se diz arrependida de ter abandonado a escola ao mesmo
tempo que não tem esperança de ir longe apesar de acreditar que a escola lhe
emanciparia da pobreza. O sonho da Regina, com referência a sua ex-professora Sara da
Escola primária do 1° e 2° de Nhangono, é ser professora, mas vê essa expectativa longe
de se concretizar. A escola é, segundo ela, apenas ―um grande sonho e vontade, mas
também impossível de ser real porque significa condições [...]‖. Aliás, ela refere que
mesmo o irmão que está frequentando a 10a classe, ―este é o seu último ano porque a
11a classe dista a 30 km, na vila da Macia, e é preciso recursos para lá ir [...]‖. Enfim,
entre os choros de frustração da Regina se vê um divórcio entre a expectativa do
―impossível‖ e o abandono de espaço de socialização e de formação de um futuro, a
escola. A sua historia representada as vicissitudes duma política de educação primária,
das dinâmicas dos espaços de implementação e os resultados esperados cruzados com
os factores sociais, económicos e culturais dos alunos.

A resumida história da Regina Chiluvane retrata muitos dos elementos que se


pretendem levantar no presente trabalho relativo às causas de abandono escolar.
Obviamente que não se trata de um cenário exclusivo nem do mais extremo, mas
apresenta a problemática e a complexidade de captar um fenómeno multifacetado
quanto as causas da desistência escolar. Se por um lado, por exemplo, ilustra as
dimensões estruturais de ordem familiar, assim como de natureza administrativa e
escolar, por outro, mostra como dimensões individuais, podem participar na leitura de
um fenómeno que não pode ser entendido sob uma única abordagem.

O fenómeno de desistência escolar é apenas uma face da complexidade de


implementação da política de educação e da escolaridade obrigatória1 de forma
particular. De facto, se, por um lado, a expansão do ensino, sobretudo do nível primário
é sem contestação um dos grandes ganhos do Moçambique pós-colonial com a
multiplicação acelerada de escolas nas zonas rurais e surgimento exponencial de escolas
privadas ao nível urbano e, por consequência uma massificação de acesso à educação.

1
José P. Castiano, Severino E. Ngoenha et Gérald Berthoud, Histoire de l’éducation au Mozambique: de
la période coloniale à nos jours, Paris, L‘Harmattan, 2009.

3
Refira-se, por exemplo, que do fim da guerra que opôs o Governo da Frelimo a Renamo
em 1992 até 2005 o número de crianças nas escolas triplicou de 1.3 milhões a 3.8
milhões2. Por outro, o abandono da escola parece ganhar preocupação alarmante nos
últimos tempos, ou seja à medida que se progride na expansão do ensino um outro
fenómeno, o de desistência escolar, vai de pouco a pouco se instaurando como realidade
e desconstruindo o papel que historicamente foi atribuído à escola, e a educação de
forma geral3.

A dado de exemplo, a taxa de retenção no ensino primário indica uma redução de 44%
em 2008 para 36% em 20144, o que representa um aumento acelerado de número de
alunos que desistem de estudar. Ou seja, o número de alunos que completam o ciclo
primário de educação obrigatória está em queda livre sobretudo nas zonas rurais. A
crença no papel da escola como instrumento de emancipação e de combate à pobreza —
como dizia o presidente Samora Machel, ―um instrumento para o povo tomar o poder‖
— parece se divorciar da realidade medida pelo crescimento das taxas de abandono
escolar, e sobretudo das causas a ele subjacentes.

Os esforços do Governo de tornar o ensino primário gratuito, por isso acessível a todos
parecem se distanciar das dinâmicas e factores político-administrativos da escola em
concreto, mas também das expectativas das famílias dos educandos assim como dos
próprios alunos. O quadro do possível a partir da escola se deslumbra incerto. Nisso, o
alerta sobre a dificuldade de retenção escolar dos alunos ou do fenómeno do abandono
pode ser um sinal de causas e factores profundos que se não tratados com devida
antecedência podem minar todo um esforço das autoridades públicas e parceiros no
combate a pobreza, melhoria de qualidade de ensino, políticas de género — no concerte
sobretudo ao combate aos casamentos prematuros, gravidezes precoces, por exemplo —
e de muitas outras políticas relacionais.

Foi por este entendimento que o Governo de distrito de Bilene solicitou — no âmbito do
consórcio do CEP e da responsabilidade de Rede de Aprendizagem e Advocacia sobre
educação (RAA-Ed) — um estudo sobre as causas de desistência escolar que informe,
mas também que lhe sirva de de instrumento para imaginar possíveis estratégias para
fazer face. Igualmente um instrumento de acção e intervenção dos seus parceiros
perante um fenómeno que parece ganhar um espaço de inviabilizar todo processo de
governação e gestão de educação e não só. O trabalho pretende, portanto, contribuir na
leitura profunda das variáveis que participam no fenómeno de desistência escolar. Ou
seja, o abandono escolar não é aqui tratado entanto que problema em si, mas como
resultantes de uma complexidade de factores que criam uma estrutura de oportunidade
para o desengajamento escolar das crianças antes de completar o ciclo de ensino
primário.

Os factores são variados segundo o contexto local, gestão escolar, cultura política,
motivação individual, etc. Para tentar captar com alguma abrangência o estudo cruza
entre espaços rurais e urbano ou de urbanização acelerada e turístico que caracterizam a
diversidade do distrito de Bilene. Esta diversidade mesmo se não pode ser generalizada

2
Jonathan Paul Casey, understanding high dropout rates in primary school education in Mozambique,
Working Paper, Southern and Eastern Africa Consortium for Monitoring Educational Quality, 2014.
3
Para uma visão geral do papel da educação na formação de Moçambique vide José Castiano
4
UNESCO, School Drop out: Patterns, Causes, Changes and Policies, 2015.

4
sem excepções, permite construir ilações e sugestões de intervenções mais apropriadas e
empiricamente verificáveis os seus resultados.

1.1. ESTRUTURA DO ESTUDO

O trabalho está estruturado em quatro capítulos. O primeiro capítulo que corresponde a


presenta introdução, uma breve revisão da literatura, apresentação de quadro de análise
e a metodologia da pesquisa. O segundo capítulo que faz um ponto de partida através da
leitura das narrativas de estudantes desistentes, ou seja, que elementos são levantados
pelos ex-alunos como factores de abandono da escola. Este tipo de partida permitiu não
assumir como dados adquiridos as diversas categorias apresentadas pela literatura como
explicações gerais do abandono escolar. O terceiro capítulo focaliza a análise sobre
espaço escolar procurando simultaneamente entender como este é ao mesmo tempo
lugar de concretização da política de educação e de socialização do aluno. Insiste-se
neste na leitura de factores que podem explicar a decisão do aluno fazer um exit
definitivo de um projecto que não é apenas dele, mas também familiar, da comunidade
bem como das autoridades públicas. Portanto, lê-se a escola como um espaço
coproduzido por uma multiplicidade actores. Finalmente, no quarto capítulo, o estudo
está direcionado na forma intermediação entra a administração escolar, a família, a
comunidade e o aluno. Aqui insiste-se no processo de acompanhamento da dura marcha
de ser aluno com os entraves de diversa ordem que se apresentam, sejam elas de origem
individual, familiar, comunitários, escolares. No final do estudo, para além das
conclusões, apresenta-se também as recomendações que podem participar no reforço de
retenção escolar do aluno, mas também que podem elevar a sua motivação no meio de
constrangimentos diversos a nunca imaginar o abandono escolar como solução de
qualquer ordem. A ideia é contribuir na construção de um framming que enquadre
quotidianamente o aluno a se manter na escola.

1.2. METODOLOGIA
O estudo insere-se nos trabalhos que procuram restituir empiricamente os factores que
explicam o fenómeno da desistência escolar tomando como base abordagens micro e de
button-up. Cruzou-se um conjunto de técnicas e métodos qualitativos, nomeadamente
grupos focais, entrevistas semi-estruturadas com actores chaves de gestão escolar, bem
como uma revisão documental e de literatura académica sobre a problemática.
O estudo abrangeu fundamentalmente três escolas sendo: uma da zona urbana a Escola
Primária do 1° e 2° graus 4 de Outubro na vila municipal da Macia, uma da zona rural a
Escola Primária do 1° e 2° graus A luta continua em Messsano e uma da zona turística a
Escola Primária do 1° e 2° de Nhangono na Praia de Bilene. Obviamente em alguns
casos como a entrevista com alunos desistentes e seus encarregados não se observou a
origem escolar. Aliás, para este caso houve predisposição de encarregados não
selecionados inicialmente em integraram as fontes para fornecimento de informação.
Uma iniciativa acolhemos e incluímos nos resultados. Agregou a isso entrevistas com
crianças (e seus encarregados) que nunca frequentaram a escola.
A técnica de grupos focais foi usada para aferir a opinião dos professores, alunos e
alunas e membros da comunidade sobre as causas do absentismo dos alunos e abandono
5
escolar, incluindo a sua opinião sobre as medidas que devem ser tomadas para resolver
o problema. No total foram realizados cinco grupos focais, especificamente: com alunos
e alunas que frequentam a escola e têm alguma percepção sobre os motivos de
abandono de escola dos seus ex-colegas. O segundo nível de grupo focal foi com
professores, com objectivo de extrair as experiências concretas da relação escolar na
sala de aula. O terceiro grupo foi com os pais e encarregados de educação dos alunos
que frequentam a escola. O objectivo com estes era apreender algumas lições que
podem ser replicadas para evitar e desencorajar o abandono escolar. E finalmente dois
grupos de actores foram também alvos desta técnica os pais e encarregados de educação
dos alunos desistentes assim como os próprios alunos desistentes. Estes dois grupos de
actores directamente concernidos pelo fenómeno de desistência escolar foram
inqueridos no intuído de colher não só as histórias de vida, mas também aferir
experiência da relação com a escola e dos diversos factores que teriam contribuído para
a decisão extrema de abandonar a escola. No entanto, pela sensibilidade do assunto a
estes foram administradas, em alguns casos, as entrevistas semi-estrutuas.
Entrevistas semi-estruturadas foram também aplicadas com os directores das três
escolas selecionada assim como com Directora dos Serviços Distritais de Educação. O
propósito era trazer a visão do sector em relação ao problema da fraca assiduidade e
abandono escolar bem como as estratégias que têm sido usadas para colmatar a situação.
Para além deste grupo da elite administrativa local, recorreu-se também a entrevistas
semi-estruturadas para os alunos desistentes que mostravam sensibilidade em participar
em grupos focais e partilharem suas experiências tanto no seio familiar assim como
escolar e que teriam ditado o abandono da escola. Foram entrevistados 17 alunos
desistentes das diferentes escolas selecionadas. A mesma técnica foi aplicada para os
encarregados de educação dos alunos desistentes na mesma proporção. Grande parte das
entrevistas com os actores directamente concernido foi realizada em língua local, o
Changana e posteriormente traduzidas em português. Por isso todos extractos
apresentados são resultado da tradução independente do autor do estudo.
A revisão da literatura consistiu essencialmente na leitura de estudos elaborados em
Moçambique e em outros países que abordam o tema da desistência escolar para
servirem de base para a análise dos dados e bem como a construção de ilações mais
profundas sobre o fenómeno. A isso se complementou também a revisão documental
que teve como base a consulta a alguns documentos do sector a nível nacional e distrital
como é o caso do Plano Estratégico de Educação 2012-2019; Balanço do PES 2016/1º
trimestre de 2017; mapas do distrito sobre a desistência escolar, sobretudo os últimos 3
anos lectivos (2014, 2015 e 2016). Isto permitiu restituir no tempo a evolução do
tratamento da problemática em estudo. Para análise de dados usou-se basicamente a
técnica de análise de conteúdo o que permitiu articular as informações e estabelecer
correlações. A isso aliou a técnica de root cause analyse, ou seja, análise das raízes mais
profunda do problema. Considerou-se, portanto, a desistência escolar como um sintoma,
os factores de ordem familiar, escolar, comunitários e individuais como as bases que
podem informar sobre as causas mais profundas da razão da desistência escolar.

6
1.3. REVISÃO DE LITERATURA: DESISTÊNCIA ESCOLAR COMO
CONSTRUÇÃO SOCIAL
O fenómeno de abandono ou desistência escolar ocupa uma vasta literatura que não só
se caracteriza por ausência de consenso como também apresenta uma multiplicidade de
factores explicativos que, às vezes, têm sido contraditórios entre eles. O objectivo aqui
não é de ser exaustivo em expor tal literatura, mas apresentar de forma sumária as
abordagens que orientaram o presente estudo. Da literatura sobre o assunto no geral
pode-se depreender que o fenómeno de desistência escolar como ―complexo‖. Ou seja,
ele não encontra explicação aceite por uniformidade. No entanto, a grande parte de
autores concordam em considerar existirem factores preponderantes e transversais para
entender o abandono escolar. Estes vão desde os aspectos individuais e familiares do
aluno, por lado; e factores de natureza escolar por outro lado. Existe, portanto, uma
leitura que olha o aluno desiste como unidade fundamental. Sobre ele se impõe um
conjunto de normas, protocolos, procedimentos os quais constroem o seu
comportamento. Ao mesmo tempo que ele desenvolve competências individuais que
participam na sua decisão em abandonar a escola ou desviar-se das normas comunitárias
e ou a vontade da família.
A estrutura familiar dentro das suas condições sociais, económicas, seria para esta
perspectiva um ponderador importante para entender a decisão de abandono da escola.
O mesmo se argumento sobre o contexto comunitário que se impõe sobre o aluno.
Agora que o ambiente escolar entanto que espaço concreto do ensino, portanto da
relação com o aluno joga igualmente um papel preponderante, seja na atracção e gestão
de expectativa do aluno. É por excelência o lugar de retenção do aluno. Finalmente o
aluno, por sua vez, se define como individuo que agencia tanto as normas e protocolos
da comunidade, da sua família e da escola e produzir um comportamento e decisão que
as vezes escapa a todas estruturas. A desistência é, simultaneamente, produto de
contratos sociais a que se lhe impõe ao aluno assim como da sua própria acção, táctica e
estratégia individual — seja de se alinhar aos pressupostos estruturais seja de desvio e
de invenção de novas formas de agir o que resultada na desistência escolar.
Por exemplo, Loraine Cook e Austin Ezenne5, depois de um levantamento exaustivo de
literatura e de modelos propostos para a análise do fenómeno de desistência escolar,
concluem que existem quatro categorias analíticas para entender o fenómeno de abando
escolar: questões de ordem familiares ou de lar, questões de escolares, questões da
comunidade e por fim questões de ordem pessoal do próprio aluno.
A leitura de Loraine Cook & Austin Ezenne parece ser estimulante na medida em que
propõe o entendimento mais diversificado do fenómeno. Aliás usando a metodologia de
root cause analyse estes autores consideram que o essencial do estudo do fenómeno de
abandono escolar é, numa primeira fase, fazer uma radiografia geral das causas da
desistência escolar para a posteriori se inventariar as diversidades de profundidas das
causas. Existiriam na desistência escolar factores sintomáticos e as raízes explicativas
que heuristicamente estariam na base do exit do aluno da escola. De uma forma geral
admite-se que o abandono da escolar pelo aluno é apenas um ponto de iceberg dos
constrangimentos sejam estruturais, organizacionais ou individuais do aluno.

5
Loraine D. Cook & Austin Ezenne, « Factors Influencing Students‘ Absenteeism in Primary Schools in
Jamaica: Perspectives of Community Members », 2010.

7
Em resultado desta diversidade de factores, existem duas tendências de leituras. Uma se
centra mais nos aspectos administrativos das escolas. Este tipo de leitura tende mais a
colocar o foco de análise no processo de retenção escolar. Ou seja, a preocupação
central deste tipo de análise é de estudar condicionantes escolares (ao nível interno) que
permitam atractividade dos alunos à escola. Em contexto moçambicano as estratégias
como de lanche escolar, mãe ou pai turma, surgem como resultantes deste tipo de
perspectiva6. A outra coloca o ponto focal nos elementos externos da escola,
nomeadamente na família. Para esta perspectiva as condições familiares são apontadas
como estando na origem do abandono escolar dos alunos7.
Queira uma ou outra perspectiva têm negligenciado os factores intermediários olhando
para os factores como se fossem isolados. David Porter, por exemplo, explorando o
conceito de co-coprodução de serviços de educação mostra que a escola não pode ser
lida fora do seu espaço social, ela é uma construção colectiva entre as autoridades
públicas, a comunidade, os gestores escolares bem como a família8. Um serviço de
educação ou de ensino, portanto, deve ser entendido como resultado de colaboração
entre múltiplos actores: as comunidades, a família, as autoridades públicas, o aluno, o
professor, etc. Apesar de, metodologicamente, apresentarmos os factores de abandono
escolar explorando as categorias familiares, individuais, escolares e comunitários.
Optamos por explorar as abordagens de coprodução por considerar que os factores de
desistência estão numa teia de causalidade e não se podem excluir um a outro.

1.4 QUADRO TEÓRICO E MODELO DE ANÁLISE

Pela natureza de problematização que a literatura suscita, a leitura em termos de exit,


voice and loyalty desenvolvida por Albert Hirschman9 parece pertinente para apreender
os motivos por trás da desistência do aluno da escola. Assumimos o pressuposto de que
a escola representa uma instituição que se impõe e constrói o comportamento do aluno
ao mesmo tempo que é o elemento da espectativa deste e da sua família para projecção
de um futuro. A decisão de desistir significa nestes termos que, esgotadas as alternativas
de lealdade, de outros comportamentos de manifestação directa, finalmente o aluno
retira-se definitivamente da escola ponderando todos os factores que lhe constrangem a
não decidir em abandonar a escola. O fenómeno de desistência representa, portanto,
uma prática construída, consciente ou não, de avaliação de diversos factores e que no
cálculo do aluno ou da família apresenta-se como alternativa última de se engajar pela
escola. Obviamente como veremos dos dados de terreno a decisão de abandonar a
escola não se constrói por simples capricho do aluno ou da sua família, ela resulta de

6
Ibrahim Mike Okumu, Alex Nakajjo et Doreen Isoke, « Socioeconomic determinants of primary school
dropout: The logistic model analysis », Research Series, 2008.
7
Rebecca Jacobsen, Jeffrey W. Snyder et Andrew Saultz, « Understanding Satisfaction with Schools: The
Role of Expectations », Journal of Public Administration Research and Theory, vol. 25 / 3, juillet 2015,
p. 831‑848.
8
David Porter, ―Co-Production and Network Structures in Public Education », in Victor Pestoff, New
Public Governance, the Third Sector, and Co-Production, Reprint, New York, N.Y., Routledge, 2015, pp.
145-168.
9
Albert Hirschman, Exit, voice, and loyalty: responses to decline in firms, organizations, and states,
Cambridge, Mass, Harvard University Press, 2004.

8
um conjunto de dinâmicas nas quais nem sempre os actores concernidos têm capacidade
de controlo.
Segundo Albert Hirschman um indivíduo tem três tipos de resposta assim que estiver
insatisfeito com um determinado serviço: (i) exit ele muda simplesmente de alternativa e
escolhe outro caminho ou outra natureza de satisfação; (ii) loyalty insatisfeito pelo
serviço, mas não toma nenhuma acção e continua fiel a prestação da organização; e por
fim (iii) voice que significa que o usuário do serviço pode protestar contra a má
performance do serviço. Esta proposta teórica de Hirschman nos parece heurística e
transferível para os objectivos perseguidos neste trabalho. Por duas razões: primeiro por
ser construída na base de uma relação de serviço, ela pode nos informar sobre as razões
que levam o aluno a optar por uma via alternativa a sua continuação na escola. Ou seja,
assumimos que a decisão em abandonar a escola significa uma escolha que descarta a
loyalty, a continuação na escola apesar de adversidades. Mas também significa que o
aluno ou outros actores a ele relacionados esgotaram as possibilidades de fazer face
directamente ao problema. Segundo esta teoria permite elaborar com certa flexibilidade
as recomendações de melhorias. Aliás ela foi concebida no contexto de estudar
estratégia de aperfeiçoamento da gestão organizacional no meio de concorrência de
mercado. Em metáfora diria-se que a escola concorre com outras alternativas
imaginárias de vida dos estudantes.
Este modelo, cruzado aos diversos factores levantados pela literatura e considerados
como sinais de origem das causas de desistência escolar, fornece elemento para
compreensão da problemática central deste trabalho. Em outras palavras trata-se de
cruzar tanto os factores de ordem administrativa escolar, comunitários assim como
familiares e individuais e procurar entender que situação poderia ditar que um aluno
opte por exit da escola. Assim que o aluno e/ou sua família decide desistir de escola
significa, nestes termos, que ele ou eles fizeram uma análise de custo/benefício num
dado sistema de interacção (recursos — de diversa natureza — da família, característica
do sistema de educativo e alternativas a este).

2. SISTEMA EDUCATIVO MOÇAMBICANO: UMA PERSPECTIVA


HISTÓRICA

A política de educação faz parte das pedras-angulares da edificação e emancipação das


jovens nações Africanas pós-coloniais. Quase que sem excepção a grande parte dos
recém-independentes países do continente fizeram da educação o projecto para
construção de um futuro risonho livre do jugo colonial. A escola em muitos destes foi o
alicerce essencial para imaginar uma nova realidade de desenvolvimento. Ela
representou desde cedo o ponto de passagem da subordinação colonial a uma plena e
completa liberdade, estrutura de construção de destino comum10.

Aliás, a responsabilidade de formação do homem, o proclamado ―homem novo‖ do


Moçambique pós-colonial, foi, por excelência, atribuída a educação. E mais, a presença
do Estado em todo território, compreendendo as regiões mais recônditas e retiradas dos

10
José P. Castiano, Severino E. Ngoenha et Gérald Berthoud, op. cit.

9
centros urbanos, foi (e o é ainda) da responsabilidade da Escola11. Ela é das estruturas
estatais geograficamente mais presente em todo território nacional, construindo
representações e estreitando — seja para estatização da sociedade seja ainda pela
socialização do Estado — as relações entre Estado e sociedade. A escola é, portanto, o
espaço concreto da materialização do Estado, por um lado, assim como construção e
realização das aspirações das populações, por outro. Breve, é o local de ―encontro‖, a
matriz, produto e produtora do Estado e da sociedade em concreto 12. O professor, seu
instrumento-chave, é o ponto central da modernização da sociedade. Aquele que tem o
papel misterioso de transformar e modelar uma sociedade desejada. Em palavras
simples, o que tem em acções a tarefa de fabricar, descodificar e converter no concreto
as abstracções das políticas em práticas de vida das populações e, por consequência, da
presença do Estado.

Se é, obviamente, incontestável o papel que a educação e da escola, em particular,


desempenhou para o estágio actual do país, em todas as suas dimensões. É também
reconhecível que existe um certo divórcio entre as aspirações projectadas por trás de
política da educação e os resultados a que se tem atingido. Efectivamente, de 97% de
analfabetismo ao sair da colonização, em 1975, actualmente Moçambique se encontra
em aproximadamente 45% de taxa analfabetismo13. É, nisso, de sublinhar o progresso
da expansão dos serviços de educação em relação ao período colonial onde a educação
era fortemente selectiva e instrumento de exploração. No entanto, o eclodir da guerra
que opôs a Frelimo e Renamo desacelerou acentuadamente o progresso dos serviços de
educação em especial nas zonas rurais onde mais decorreram os conflitos militares. Por
exemplo das cerca de 5 683 escolas primárias existentes em 1981, somente 3 828
estavam ainda em funcionamento em 198714. Igualmente as reformas de caris neoliberal
a que se tem verificado, pelo sua natureza incongruente e dificuldade de apropriação nos
contextos locais, parecem participar na limitação da afirmação dos serviços de
educação, sobretudo no que tange a qualidade da educação15.

É mesmo por isso que apesar de alguns avanços assinaláveis, no concernente sobretudo
o progresso de acesso à educação das crianças e alfabetização de adultos, o país ainda se
encontra abaixo dos níveis referências mundiais. Da taxa de analfabetismo acima citada,
as mulheres, por exemplo, continuam sendo as mais afectadas rondando em cerca de
57,8% de taxa contra 30,1% dos homens, sendo as zonas rurais as mais afectadas.

Ademais, apesar do acesso à educação parecer relativamente progressivo, as


desistências escolares limitam ainda os esforços empreendidos. Entre gravidezes
precoces, casamentos prematuros, responsabilidades familiares infantis aliadas a
orfandade ―forçada‖ pelo Sida e outras doenças endémicas, bem como diversas
11
Anton Johnston, « Adult Literacy for Development in Mozambique », African Studies Review,
vol. 33 / 3, 1990, p. 83‑96.
12
Charles T. Goodsell, The Public encounter: where state and citizen meet, Bloomington, Indiana
University Press, 1981.
13
Centro de Aprendizagem e Capacitação da Sociedade Civil, « Estudo sobre a economia política do
sector da educação em Moçambique », Maputo, Mecanismo de Apoio à Sociedade Civil, 2016.
14
Miguel Buendia Gomez, Educação moçambicana : história de um processo, 1962-1984 /, Maputo,
Moçambique :, Livraria Universitária, Universidade Eduardo Mondlane, 1999.
15
Egidio Guambe, Réformer l’administration pour renégocier la centralité de l’Etat : une analyse à
partir du cas des municipalités de Beira, Mueda et Quissico (Mozambique), phdthesis, Université de
Bordeaux, 2016.

10
variáveis culturais, sociais e económicas, etc. As razões variam de acordo com as
especificidades contextuais e de natureza de gestão das escolas e mesmo de concepção
das políticas públicas sectoriais. A desistência escolar continua o entrave e um dos
impasses para o sucesso das reformas da política da educação.

2.1. DISTRITO DE BILENE NA ENCRUZILHADA DE FACTORES DE


DESISTÊNCIA ESCOLAR

O distrito de Bilene Macia localizado ao extremo sul da província de Gaza, a uma


distância de cerca de 140 quilómetros da capital do país, Maputo. É, a semelhança de
muitos outros distritos, enfrentado por situação de desistência escolar. Só para dar uma
ideia, no ano lectivo de 2016, de um total de 22.698 alunos matriculados no primeiro e
segundo ciclos bem como o segundo grau de ensino primário (1a a 7a classe) cerca de
2.022 alunos abandonaram a escola antes de completar a escolaridade16. Ou seja,
desistiram da escola antes da escolaridade obrigatória. A tabela abaixo pode nos dar uma
leitura geral e um ponto de partida do entendimento sobre o fenómeno nos últimos três
anos para o distrito de Bilene:

Tabela1. Desistência escola no distrito de Bilene 2014-2016


Ano Meninas Rapazes Total
2014 648 970 1618
2015 723 777 1500
2016 956 1066 2022
Fonte: Governo do distrito de Bilene, Mapa comparativo de desperdício escolar 2014-2016, Serviço
distrital de educação, juventude e tecnologia de Bilene, Bilene, 2017.

Uma nota a reter destes dados de desistência escolar, de forma geral há uma tendência
significativa de crescimento do fenómeno de abando escolar. Obviamente que a
diferença entre 2014 e 2015 (uma tendência de decréscimo de desistência de cerca de
118 alunos) parece não ser muito significativa. Em contrapartida se tomarmos em conta
a passagem do 2015 para 2016 a diferença deixa antever uma situação, relativamente
acentuada (um aumento de abando em cerca de 522 alunos desistentes), o que é
alarmante até certo ponto. Aliás, mesmo sem dados bem estimados do presente ano
lectivo, as escolas que fizeram parte de terreno de estudo do presente trabalho
demonstraram uma tendência mais agravada entre 2016 e 2017 sobretudo ditada pelo
longo período de férias entre o segundo e terceiro trimestre bem como a crise
macroeconómica que se faz sentir no custo de vida quotidiana das famílias, como
veremos mais tarde.

Contudo, não se pode generalizar as causas. O distrito tem uma vasta historicidade o
que faz com as causas das desistências escolares dos alunos também não tenham uma
variável mestre para a explicação. Podemos aqui apresentar alguns factores-mestre que
nos permitam elaborar uma estrutura de de oportunidade de leitura das variáveis mais
preponderantes das causas do abandono escolar no distrito de Bilene.

16
Governo do distrito de Bilene, Mapa comparativo de desperdício escolar 2014-2016, Serviço distrital
de educação, juventude e tecnologia de Bilene, Bilene, 2017.

11
(i) Primeiro, trata-se de um distrito que é atravessado pela estrada nacional n°1, a
única que liga o país de norte ao sul. Esta localização não apenas acelera as
actividades económicas locais como também permite um crescimento
urbano exponencial. Aliás, a sede do distrito, a vila da Macia, elevada a
categoria de município em 2008, conhece nos últimos tempos grandes
mutações ligadas com a natureza de mobilidade de prestação de serviços
públicos e, por consequência, a um crescimento populacional sobretudo
resultante de um êxodo rural (saída de populações do campo para a cidade).
A vila da Macia representa por muitas populações vindas das zonas rurais
um espaço de realização económica e de esperança de melhorias de
condições de vida: como acesso aos serviços de saúde, educação, água,
energia, etc. A isso a precaridade da vida aliada às dinâmicas urbanas, que se
conhecem um pouco por todo território nacional, obriga a um conjunto de
actividades infantis que participam, directa ou indirectamenta, no
funcionamento escolar ou no abandono escolar, mais precisamente em
resultado da empregabilidade infantil, vendas informais em busca de
sobrevivência.
(ii) Segundo, historicamente toda região Sul de Moçambique, ou seja, a partir de sul
do rio Save, desenvolveu uma relação com o trabalho migratório na
República Sul Africana que se mantem na memória colectiva e estrutura
comportamento até os nossos dias. A história de Moçambique refere que a
ocupação colonial do sul do país por Portugal foi sobretudo desenvolvida via
trabalho migratório nas minas da África do Sul17. A passagem da juventude
para a fase adulta na grande parte da região sul de Moçambique foi sempre
marcada pela migração ao trabalho mineiro, uma forma de aquisição de
recursos para casamentos e outros fins de natureza familiar. Esta estrutura de
oportunidade influi na natureza e nas modalidades da relação entre a Escola
e os alunos, sobretudo os rapazes em fase de adolescência. A emigração a
África do Sul é das alternativas ao imaginário do futuro fora da escola.
(iii) E finalmente, o outro contexto de grande relevo no distrito está ligado com o
grande potencial económico advindo do turismo. A característica central das
actividades ligadas ao turismo é a sazonalidade. Desta característica, as
regiões circunvizinhas das zonas turísticas são grandemente afectadas por
causas resultantes. Entre vários factores, como veremos cf. infra, é o
abandono das responsabilidades parentais sobretudo pelos pais e
consequente precaridade, assim como mudanças de domicílios, etc.
Estes factores contextuais do distrito não informam sobre a sua exclusividade, mas
situam o ponto de partida desta pesquisa. Não são também elementos isolados, no
entanto, o trabalho de terreno permitiu constitui-los como pressupostos para
entendimentos dos factores centrais da desistência escolar, mesmo que isso não
signifique excluir os outros elementos explicativos como será detalhado no texto que se
segue. A diversificação das escolas usadas como base de estudo permite restituir
empiricamente estas hipóteses.

17
Malyn Newitt, História de Moçambique, Lisboa, Publicações Europa-América, 1997.

12
3. NARRATIVAS SOBRE FENÓMENO DE DESISTÊNCIA ESCOLAR. UMA
ABORDAGEM A PARTIR DOS ALUNOS DESISTENTES

Uma das grandes limitações dos estudos sobre a desistência escolar é a dificuldade de
obter percepções a partir dos alunos visados, i.é., os desistentes. Assume-se
normalmente os aspectos constrangedores resultantes das condições famíliares ou da
natureza de gestão escolar como factores determinantes e que se impõe sobre os alunos
e ditam o abandono ao sistema educativo. Outra dificuldade, sobretudo nos níveis
primários é a crença na impossibilidade de construir argumentos sólidos a partir de
depoimentos de menores. Mesmo reconhecendo estes condicionantes, é preciso, no
entanto, não excluir os elementos resultantes de subjectivação dos alunos, tanto das
normas de gestão escolar assim como das condições das famílias de origem bem como
dos factores comunitários. O que denominamos aqui de narrativas18 dos desistentes
resulta da tentativa de sistematizar os depoimentos colhidos dos diferentes alunos
desistentes e que estruturam a percepção da relação entre escola e família. As categorias
de classificação apresentadas não são cabais, mas fornecem um ponto de partida para
analisar as raizes dos factores de desistência escolar em Bilene.
Sem pretender ser exacto, sistematizou-se em quatro as narrativas dos alunos desistentes
escolares: (i) narrativa sobre estigma escolar; (ii) narrativas sobre recursos materiais e
por fim narrativa sobre referências escolares; (iii) narrativa relativa a existência de
referência escolar de sucesso; e (iv) narrativas relativas sobre causas de natureza
familiar. Evidentemente, elas não devem ser assumidas como factores explicativos de
per si, mas pontos de partida para apreender mais objectivamente possível os factores de
ordem familiar, comunitários e escolar (cf. Infra).
Categoria de narrativa de causa Indicador da causa de desistência Número de alunos
de desistência escolar
Estigma escolar  Falta de uniforme; 4
 Idade do aluno;
 Gravidez;
 Mau aproveitamento;
 Falta de lanches escolar, etc.
Falta de recursos materiais  Dificuldade de pagamento de 6
(financeiro) matricula, propinas, guardas,
material escolar, etc.
Problema de referência escolar  Distância para escola, 4
 Possibilidade vaga nas classes
subsequentes;
 Crença na empregabilidade a partir
de formação;
 Referencia local através estudos;
etc.
Problema doméstico/familiar  Casamento prematuro; 16
 Mudança de domicílio dos
parentes;
 Separação dos pais.
 Morte de um parente (mãe ou pai)

18

13
3.1. NARRATIVA SOBRE ESTIGMA ESCOLAR
Esta narrativa refere ao sentimento de desaprovação de um indivíduo na sua relação
com o grupo. A estigmatização de um indivíduo apresenta uma variante em relação aos
modelos oferecidos pelo ambiente em que se circunscreve. Como se pode ver na tabela
alguns alunos manifestaram como uma das razões do abandono escolar a
estigmatização. Com efeito este sentimento nem sempre é manifesto, ele pode resultar
do julgamento individual do aluno. Por exemplo, o uniforme escolar foi indicado por
muitos dos interveniente como uma das razões manifestas de falta de recursos materiais
(cf. Infra) para continuação dos estudos. Algumas escolas mesmo se toleram, em alguns
casos, a presença de alunos não uniformizados, os alunos desistentes revelaram que o
tratamento nas salas de aulas resultado de não posse de uniforme lhes exclui do resto
dos alunos. O caso de Elvira Cumaio do posto administrativo de Messano pode ser
expressivo para este entendimento.

O dilema de uniforme e a desistência escolar

Elvira Cumaio, tem 14 anos de idade e vive na localidade de Messsando, posto


administrativo de mesmo nome. O pai de Elvira, o Sr. Fernando, emigrou a África do Sul
em 2010 sem nunca mais voltar e nem manter contacto com a família de lá para cá. Vivendo
apenas com a sua mãe de 38 anos, a dona Lídia Chilaule. Esta última que exerce actividades
domésticas de cultivo de subsistência não tem tido recursos para garantir a escolaridade da
sua filha. A Elvira desistiu de escola em 2016 quando frequentava 5 a classe na Escola
primária do 1° e 2° graus ―A Luta Continua‖ de Messano. Segundo ela a falta de condições
para compra de material escola tem sido dos grandes entreves para ela continuar a estudar.
Mas o cúmulo de tudo foi a falta de uniforme. Como ela dizia: ― [...] eu ia na sala e sentia
que era a única sem uniforme e com a minha idade [em referência ao atraso escolar] perdi
moral‖. Se entenda, a desistência de Elvira não é resultado em si de limitação material, mas
das relações na escola.

O caso de Elvira não é exclusivo, muitas outras situações revelaram que o uniforme em
lugar de padronizar e identificar as crianças que frequentam a escola e por isso facilitar o
controlo e monitoria pela comunidade, ele pode, dependendo do tratamento, participar na
estigmatização. Obviamente, como veremos mais abaixo, esta situação precisa muito da
intervenção da administração escolar e, sobretudo, do professor. O uniforme na concepção
não devia servir de elemento de manifestação de desigualdade social, mas de integração.

À questão de uniforme alia-se a idade. Como se pode ver, por exemplo, para o caso de
Elvira (cf. Supra), tratava-se de uma aluna de 14 anos, mas que ainda frequentava a 5a
classe, agora que a idade escolar em tal classe é suposto estar numa média de entre os
10 a 12 anos de idade. Um caso extremo no mesmo posto administrativo de Messano foi
o da Lina Fernando e que retrata como a idade pode ser um elemento de estigma escolar
e, por isso, causa de desistência.

A vergonha da idade da Lina

Lina Fernando, tem 15 ano de idade e vive no bairro de Zucula, posto administrativo de
Messano. Sua mãe Zaida Francisco de 53 anos de idade é trabalhadora doméstica. Órfã de
Pai, Lina abandonou a escola em 2017 quando frequentava 4 a classe na Escola primária do
1° e 2° de Zucula. Ela justifica o abandono pela falta de condições. ―Quando desisti mesmo
é quando o professor me disse não tens [sic.] vergonha, estudar com crianças [...]. Senti
mesmo aquela vergonha de estudar com crianças e desisti na 4 a classe‖ — dizia ela.

14
Portanto da intervenção da Lina fora da auto-estigmatização existe uma pressão do
professor. Os casos de atraso escolar têm diversas justificações que vão desde a entrada
tardia na escola, as interrupções no processo, as reprovações etc. Como para a questão de
uniforme, o tratamento aos alunos com diferença de idade requere uma perspectiva
particular.

Como se pode notar, os casos de estigmatização nem sempre resultam do julgamento


dos outros. Trata-se também de autoexclusão, isso se verifica sobretudo para casos de
gravidezes precoces, mau aproveitamento escolar assim como a falta de lanches e outras
situações. Por exemplo, para o caso de gravidez precoce, dentre os alunos desistentes
selecionados, encontramos apenas um caso de abandono por gravidez19 na Escola
Primária do 1° e 2° de Nhangono na Praia de Bilene. Em princípio a gravidez em si não
se apresenta como uma causa do fundo para o abandono escolar, mas é sobretudo a
auto-estigmatização em participar das aulas para uma criança de 14 anos grávida e entre
as outras.
O mau aproveitamento não apenas desmotiva o aluno como facilmente pode contribuir
na construção de um imaginário do ―impossível‖ com a escola. Aliado com a falta de
acompanhamento familiar participa grandemente como uma das causas do abando
escolar. Os lanches escolares por mais simples que pareça, são dos factores de estigma.
Alguns dos entrevistados revelaram que a falta de lanches para escola não apenas
isolava-lhes das outras crianças como também era uma causas de autoexclusão. Breve, a
estigmatização ou auto-estigmatização pode se revelar uma das raízes de diversas
causas de abandono escolar. Uma leitura antecipada e um tratamento precavido é que
pode diminuir a percepção de excepcionalidade. Muitas das causas ligadas a
estigmatização resultam do julgamento material.

3.2. NARRATIVA SOBRE PROBLEMAS MATERIAIS (FINANCEIRO)

O problema material (sobretudo financeiro) não devia ser levantado como uma narrativa
que justifica o abandono escolar, pois mesmo muitos dos que continuam a frequentar a
escola se reclamam das mesmas limitações financeiras de vária ordem. É um problema
geral apesar de intensidade variada. Ele aparece aqui como narrativa sobretudo pelas
consequências resultantes. Ou seja, é a reinvenção do aluno ou da família para fazer
frente a limitação material e que leva o aluno a abandonar a escola que pode contribuir
na explicação da raiz do problema. Com efeito quase todos entrevistados queira os
alunos desistentes, os seus encarregados, queira os professores assim como os gestores
escolares e as autoridades comunitárias no geral apresentaram a questão de limitação
material como estando na base do abandono escolar. Como diziam muitos dos
intervenientes em grupo focal em Macia é ―falta de condições que faz abandonar a
escola‖.
No entanto, dos alunos desistentes poucos são os que efectivamente abandonaram a
escola em consequência de reinvenção para fazer face ao deficit de recursos financeiros.
Ou seja, a narrativa de limitações de recursos tem por detrás outras motivações latentes
(como problemas familiares de separação dos pais, abandono dos filhos pelos parentes

19
Infelizmente não conseguimos entrevista com a aluna desistente por causa de gravidez e cuidado de
criança.

15
cf. infra) e a falta de recursos apresenta-se como uma justificação manifesta, imediata e
que resume uma complexidade de factores. Nestes termos a narrativa de limitação de
recursos deve ser entendida na medida em que ela resulta da procura de alguma solução
alternativa para cobrir os custos de escola e que fazem com o aluno abandone
finalmente a escola, muitas vezes por dificuldade de conciliação das actividades.
Dos dados de terreno pode-se constatar que a natureza de reinvenção às limitações
materiais variam. Pudemos notar, por exemplo, que no espaço urbano e turístico,
portanto na vila da Macia e Praia de Bilene, uma das alternativas à limitação de recursos
financeiros é que os alunos faziam simultaneamente actividades de ―venda ambulante‖
ou pequenos trabalhos nos mercados informais. O caso de Lino Manuel Matavel, por
exemplo, pode ser expressivo a este respeito. A senhora Sara Cossa de 76 anos que é
mãe do Lino nos explica que a situação da desistência foi gradual a tal ponto que ela
própria não sabe exactamente quando foi.
“Lino vinha sempre a escola e era inteligente, eu não sei bem o que teria
acontecido para definitivamente ele abandonar. Porque no início eu tentava
fazer tudo para ele estudar. Depois ele mesmo começou a fazer biscatos ai
nas barracas, mas sempre vinha na escola [...] de repente ouvi dizer que ele
já não ia mais as aulas. Quando falei com ele me disse que mamã você não
vai me conseguir mais, então ele começou a trabalhar ai. Ele lavava carros
na praia, e fazia biscatos numa barraca ai no mercado [...]. eu queria que
ele estudasse, mas como não tenho dinheiro para pagar matricula, ele tinha
que procurar alternativa para se sustentar e pagar escola dele. O país dele
faleceu e eu não consigo sozinha”.

O exemplo de Lino não é exclusivo, mas igual ao de Regina Elina Chiluvane


apresentado na introdução deste trabalho demonstram como as limitações financeiras e
a procura de supri-las podem participaram no desencorajamento a continuação de
estudos. Como referia-se acima mais do que o problema financeiro em si, é a procura de
meios alternativas para fazer face a tais limitações que pode explicar o abandono
escolar. Geralmente este tipo de situação provoca um abando gradual a medida que as
vias alternativas vão ocupando o aluno e, consequentemente baixando o
aproveitamento. Por gradação vai se originando um conjunto de problemas em série e
finalmente o aluno se vê fora do sistema de ensino sem forçosamente ter feito uma
decisão de abandonar. O mais importante neste tipo de causa de desistência são os
mecanismos de monitoria de alunos em situações sensíveis que garanta que não
abandonem a escola em resultado da busca de formas alternativas de sustentar.
Voltaremos a isso mais adiante.

3.3. NARRATIVA SOBRE REFERÊNCIA DE SUCESSO PELA


ESCOLARIDADE
Este tipo de narrativa é relativo a crença nos ganhos do futuro a partir de investimento
na escola ou nos estudos. Mas também serviu para captar as aspirações a médio e longo
termo dos estudantes. Referência é o realmente possível e imaginário, o tipo ideal que
contribui na construção de valores e representações sobre escola. O referencial nestes
termos participa na produção do comportamento e nas expectativas sobre o valor da
escola, e in fine na continuação ou abandono escolar. Os dados nos permitiram construir
dois níveis de referência sobre a escola e que participam na explicação do abandono
escolar:

16
(a) Referencial de médio prazo (distância para escola) – a médio prazo
refere-se à possibilidade de continuação de estudos e de obtenção de
vaga nas classes subsequentes. É preciso antes referir que inquerimos
maioritariamente alunos desistentes da 7a classe. Dos 16 alunos
desistentes inqueridos 4 deles referira não acreditarem que a escola lhes
traria resultado porque não teriam condições para continuar nas classes
subsequentes. Esta situação foi sobretudo referida no posto
administrativo de praia de Bilene e de Messano, por uma justificação
simples: para frequentar o nível médio, em alguns casos mesmo o
secundário ou técnico seria preciso uma deslocação diária ou sazonal
para a vila municipal da Macia ou Xai-Xai onde existem estabelecimento
de formação em tais níveis. A imaginação de dificuldade para garantir os
custos de transporte por exemplo desmotiva a continuação nos estudos.
Se desenvolve a crença do impossível que participa na percepção do
abandono da escola — ―porque se submeter a um esforço de escola agora
que a qualquer momento não terei condição de estudar‖. A distância de
escola e os custos que isso significa participa, portanto na construção da
mentalidade do impossível. A isso se alia a questão das vagas. Como
referimos acima os alunos desistentes têm também sido alunos com
idade relativamente maior que o normal, a as vagas para estes muitas
vezes são para o período noturno. Entre a dificuldade de fazer grandes
distâncias e incerteza de vaga no laboral se constitui uma retórica de
bloqueio a continuação dos estudos.
(b) Referencial de longo prazo (existência de caso de sucesso por escola na
zona) — a existência de referências de sucesso via escola ao nível local
pode ser um elemento de motivação pela visibilidade dos resultados de
escola. Uma das primeiras referências de sucesso via escola têm sido os
próprios professores, mas em termos de proximidade muitas crianças
encontram referências de figuras de sucesso fora dos quadros de
escolaridade por exemplo familiares que trabalham nas minas de África
de Sul, jovens locais em comércio informal como a posse de uma banca
de venda de produtos de primeira necessidade, etc. O caso de António
Luciano Bila que é filho de um professor pode ser interessante para
esclarecer.

António com pai professor e referencia pelo trabalho nas minas de África do Sul

António Luciano Bila tem 14 anos de idade vive com a irmã e avó no posto
administrativo de Messano. Filho de um professor, Luciano Bila, e órfão de mãe.
António abandonou a escola em 2017 quando frequentava a 7a classe na Escola
primário do 1° e 2° graus ‗A luta Continua‘. A irmã de António, a Sra Célia Raquel, diz
que a causa da desistência é a vontade de ganhar dinheiro rápido a partir dos biscatos.
Segundo esta última, o António se prepara junto com amigos para emigrar a África do
Sul que é a moda em Messano. Efectivamente em Messano as referências de ―boas
casas‖, ―vida estável‖ é dos trabalhadores das minas e que na maioria não frequentaram
a escola. Contrariamente ao professor, enfermeiro e outros de uma pequena classe
média escolarizada local, são os trabalhadores das minas que dispõem de condições
imaginadas e com curto espaço de usufruto de benefícios.

A isso se alia a crença na dificuldade de encontrar emprego. Aliás, muitos são os jovens
ao nível local que concluíram a 12a classe ou alguns cursos técnico-profissional e que
não têm inserção profissional. Muitos dos entrevistados acreditam na importância da

17
escola para encontrar emprego, mas reconheciam também a dificuldade tal efeito. Estes
factores conjugados participam na crença do impossível através da escola. A Escola é
tida como espaço de socialização primária, mas não garantia de melhoria de vida por
isso pouco se deposita investimento pessoal nela. Obviamente que muito pesa a
estrutura familiar para a decisão de abandono da escola.

3.4. NARRATIVA SOBRE PROBLEMAS DE NATUREZA FAMILIAR


Esta narrativa é estreitamente ligada a factores de ordem familiar, mas que
influenciaram, segundo os entrevistados, na desistência escolar. Esta narrativa
compreende questões ligadas aos casamentos prematuros, responsabilidade familiar
(caso em que o aluno é o único provedor de casa), cuidado de criança, falta de controlo
dos pais que levam ao abandono escolar, mudança de domicílio, separação dos pais, etc.
Sem se alongar em todos os indicadores, uma questão central constatada é que do total
de 16 alunos desistentes interpelados 11 vivem somente com as mães sendo que os pais
estão separados ou faleceu o pai, apenas um é que vivem com os seus parentes
completos (pai e mãe) e uma é responsável de família (é mãe) e os restantes quatro
vivem com algum membro de família que não seja a mãe nem o pai (vide a tabela
abaixo).

Situação familiar do aluno desistente Número de alunos desistentes

Vivendo com pai e mãe 01

Vivendo com a mãe 11

Vivendo com o pai 00

Vivendo com outro elemento de família 04

Responsável de família 01
Fonte: adaptado pelo autor a partir das histórias de vida dos alunos desistentes

Estes dados não são conclusivos, mas dão um entendimento geral de que grande parte
dos alunos desistentes encarram no seio familiar alguma natureza de problema que pode
participar, certamente, na decisão de desistência escolar. Das entrevistas pudemos
constatar que existe uma diferença contextual das razões de elevado número de alunos a
viver apenas com a mãe e das dificuldades resultantes para o abandono da escola.
Para o caso do posto administrativo da Praia de Bilene, por exemplo, um caso comum
das mães ―abandonadas‖ e ―solteiras‖ está ligado com a sazonalidade das actividades
turísticas. Muitos dos pais das crianças chegaram para trabalhar em actividades
turísticas como a construção de instâncias turísticas e finda as actividades retornaram as
suas zonas de origem deixando as mães com as crianças. Uma história ilustrativa é da
Sra Inês.

18
A Inês abandona com quatro crianças sem se quer registo

Sra. Inês é mãe de Augusto, Samito, Anita, Narciso conheceu o Sr. Elísio, pai das crianças
em 2005 quando foi trabalhar para Praia de Bilene no sector de construção como pedreiro.
Terminada a obra ele ficou guarda de uma instância turística e em 2015 foi expulso. Depois
da sua expulsão voltou para Maputo de onde ele é originário deixando a Sra. Inês com as
quatro crianças. De 2015 para cá Sr. Elísio nunca retornou à Praia de Bilene, se quer para
fazer o registo das crianças. Tudo que a Sra. Inês sabe é que ele está em Maputo e que lhe
liga de quando em vez para prometer que voltará em algum dia. As quatro crianças não
estudam, a mais velha, a Anita, com 11 anos de idade abandou a escola porque a Sra. Inês
não tem condições para compra de uniforme, pagar propinas e outros materiais escolares.
Enquanto os outros dois Augusto e Samito com 8 anos de idade nunca frequentaram a
escola por falta de registo e na ausência do pai Sra. Inês não vê saída. O pequeno Narciso
com 4 anos de idade apenas está condenado a incerteza nem do registo nem de possibilidade
de entrada na escola.

O caso chocante da Sra. Inês não é o único no posto administrativo da Praia de Bilene.
Aliás em Messano a situação de abandono das mães e crianças foi muito reportada, mas
com outra natureza de características. Aqui a situação é de pais que emigram a África
do Sul sem nunca voltar, deixando as crianças sem registo nem meios de escolarização.
Na vila municipal da Macia a situação ganha outras características, mas o fim é o
mesmo, o abandono escolar. Os casos registados na Macia — os referentes a crianças
vivendo com outros elementos de família (vide a tabela acima) — referiam a parentes
que ambos (pai e mãe) abandonavam as crianças, as vezes sozinhas mesmo e outras
com familiares como avós sem capacidade de orientar as crianças para continuação dos
estudos. Dai o resultado de algumas recorrerem às actividades de venda informal ou
ambulante.

4. FACTORES DE ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR. POR UMA DIMENSÃO DE


RETENÇÃO E ATRACTIVIDADE DE ALUNOS

Abordagem do fenómeno de desistência escolar a partir das narrativas e histórias de


vida dos alunos desistentes assim como dos seus encarregados de educação acima
apresentada é pertinente para entender simultaneamente os factores de ordem familiar e
escolar subjectivados para a decisão final por exit. Mas para fundamentar a apreensão
do fenómeno, ele deve ser cruzado com leituras sobre do ―espaço escolar‖ entendido
como lugar de concretização do ensino e em concomitância o lugar abandonado. Para o
efeito dois elementos são essenciais, por um lado compreender o entendimento dos
actores escolares (a direcção da escolar e os professores) sobre os factores de
desistência; por outro, ter uma leitura sobre os elementos de ordem escolar que possam
participar para desistência dos alunos. O objectivo fundamental do exercício é elaborar
modelos que possam reforçar a retenção escolar e tornar a escola um espaço de atracção
dos alunos. O pressuposto é que a modalidade de funcionamento da escola, a sua forma
de relação com a comunidade e com as famílias pesa muito na decisão do aluno
abandonar ou não a escola. Ou seja, como tornar a escola um espaço de aspiração e de
realização do aluno? Como fazer com os pais vejam na escola um parceiro na educação
das crianças? Como o professor e administração escolar de forma geral podem ser
pontos de referência de formação do homem do futuro?

19
Dos dados de terreno resultantes de entrevistas com grupos focais de professores e
directores de escolas pode-se estrutura as percepções em duas narrativas básicas: (i)
uma referente a formação dos pais e encarregados de educação dos alunos e (ii) outra
sobre factores atractivos dos alunos na escola. O quadro que se segue oferece um breve
sobre os factores e indicadores entendidos pelas direcções das escolas e professores
como estando na origem do abandono escolar.
Quadro resumo do entendimento da Escola sobre desistência dos alunos
Narrativa de causa de desistência Indicador da causa de desistência
escolar segundo a Escola
Formação dos pais/interesse do aluno  Acompanhamento: ajuda nos deveres de escola;
 Valorização da escola;
 Reprovações dos alunos;
 Actividade domésticas: ir a machamba, cuidar de
crianças mais novas, etc.
Factores atractivos da escola  Falta de lanches escolares
 Fome dos alunos
 Férias longas
 Falta de formação especial dos professores
 Falta de encontros regulares com os pais
 Uma relação deficitária com os Conselhos
Escolares
Fonte: adaptado das entrevistas com professores e direcções das Escolas

4.1. NARRATIVA SOBRE A FORMAÇÃO DOS PAIS E ENCARREGADOS DE


EDUCAÇÃO
Esta narrativa resulta do entendimento dos professores e das direcções das escolas sobre
os factores que podem participar no abandono escolar dos alunos. Existe segundo a
percepção deste grupo de actores uma partilha de responsabilidade entre a escola e a
própria família na desistência dos alunos. O que se resume aqui como problema de
formação dos pais e encarregados de educação dos alunos procura sintetizar os vários
elementos levantados pelos professores como sendo de responsabilidade familiar, mas
que participam no ambiente escolar e que finalmente podem contribuir na desistência
dos alunos. Há uma percepção geral dos professores e directores de escolas de que
existe uma relação entre a formação dos pais e a desistência escolar. Um dos grandes
indicadores do processo é medido pelo acompanhamento que é dado ao aluno e a
valorização da escola ou da educação no geral. Podemos partir de um depoimento de
um grupo focal de professores da Escola primária do 1° e 2° graus A Luta Continua:

“As crianças nesta zona primeiro são levadas para machamba de manhã para ajudar os
pais [...], algumas crianças primeiro ficam com os bebés enquanto as mães vão buscar
água ou cultivar logo cedo [...], só depois disso é que podem vir a escola”.

“Grande parte dos alunos que desistem são os que estudam de manhã. No inverno por
exemplo os pais madrugam para machamba e os filhos ficam a dormir e geralmente por
causa do frio estes acabam não vindo a escola [...]. Muitas vezes os pais nem sequer sabem
que os filhos não vêm à escola; porque no período em que o filho devia estar na escola eles
estão na machamba. O acompanhamento dos pais é muito fraco e muitos ficam surpresos
quando são chamados para justificar a ausência dos seus educandos [...]” (Entrevista de
Grupo Focal dos professores da EPC A Luta Continua de Messano)

Desta intervenção dos professores pode-se extrair muitas ilações. Primeiro o


acompanhamento das actividades escolares pelos pais. No entendimento dos professores

20
o acompanhamento dos pais e encarregados de educação é limitado. Aliás passa muitas
vezes por delegação da responsabilidade da própria criança se gerir entre ir ou não a
escola. Assim que os parentes partem aos afazeres domésticos e sem se informar
devidamente da ida ou não da criança à escola. Deste entendimento pode se constatar
que mesmo em termos dos deveres da escola os pais não são geralmente informados,
donde a afirmação de que eles ―ficam surpresos quando são chamados para justificar a
ausência dos seus educandos‖. É judicioso o discurso dos professores segundo o qual a
formação dos pais e encarregado de educação é um elemento preponderante para o
abandono escolar. Ademais, segundo estes, a referência a formação não é apenas
relativa ao acompanhamento nos deveres, mas isso vai de per si com a importância que
se atribui a escola.
A situação não é exclusiva de Messano, na Praia de Bilene, por exemplo, a dificuldade
de acompanhamento das crianças está ligado com a natureza de actividade pesqueira: os
pais e ou encarregados de educação madrugam ou pernoitam no mar ou em actividade
afim e dificilmente conseguem saber ou acompanhar a rotina das crianças. Enquanto na
vila municipal da Macia são as actividades informais (a venda de crédito nas ruas, por
exemplo) as quais muitas vezes são parcialmente delegas às crianças o que participa no
absenteísmo ou ainda no abandono escolar dos alunos. Entre o acompanhamento — que
compreende a participação na vida escolar do educando, controlo dos deveres de escola
— e a primazia das actividades domésticas os resultados escolares dos alunos têm sido
baixos o que por consequência desmotiva e favorece o abandono escolar.
De todos formas, pode se inferir igualmente que a interacção entre os pais dos alunos
desistentes e os professores têm sido deficitário. Pelas entrevistas foi notório o facto de
que os encontro entre os pais ou encarregados de educação com os professores têm
lugar apenas em casos extremos. A desconexão entre os pais ou encarregados de
educação com a administração da escola deixa espaço de manobra para o aluno
desenvolver comportamento desviado e que conduzem finalmente ao abandono escolar.
Isso aliado a falta da atractividade no ambiente escolar constituem em si elementos
amais para o desincentivo do aluno.

4.2. NARRATIVA SOBRE FACTORES ATRACTIVOS DA ESCOLA

Esta narrativa é resultado da sistematização dos discursos das direcções das escolas e
professores sobre os elementos críticos ou que as escolas não dispõem ou estão em fraca
operacionalização. Elementos que contribuem para fragilidade das estratégias de
retenção dos alunos.
Para esta perspectiva o ambiente escolar conta muito para reter as crianças na escola.
Em algum momento algumas escolas como a EPC de Nhangono teve apoio para lanches
escolares e isso contribuiu sobremaneira para incentiva muitas crianças a permanecerem
na Escola. O Director da Escola de Nhangono na Praia de Bilene explica que a situação
de fome pode ser um dos entraves para o abandono das crianças sobretudo no primeiro
ciclo. Como dizia em suas palavras:
―gerir uma criança das 07h00 para quase as 12h00 é muito complicado [...], muitas
vezes sentem fome e as outras que têm lanches podem comer alguma coisa nos
intervalos e outras sentem-se mal e acabam fugido da escola por causa da fome. A

21
escola reconhece a importância do lanche escolar, mas é um assunto complicado
mesmo para o Governo”.

Como tínhamos avançado mais acima a complexidade dos lanches provoca


simultaneamente estigma entre os alunos. Para muitos dos intervenientes a introdução
do sistema de lanche escolar seria um bom incentivo para as crianças terem vontade de
ir a escola.
O outro elemento levantado e sobretudo para o presente ano de 2017 foi relacionado
com o período de férias. Das entrevistas pudemos constatar que o período de maior
desistência dos alunos é o terceiro trimestre, portanto nas férias antes da realização das
avaliações finais. Entre o mau desempenho durante o ano e o receio de maus resultados
nos exames. Aliados ao período de férias se desenvolvem tácticas de fuga à escola que
as vezes estnao o controlo dos pais. O presente de 2017 ano foi, segundo os professores,
o extremo, em resultado da realização dos jogos escolares as férias foram relativamente
longas que o habitual ―as crianças foram e não voltaram mais, as que voltaram parece
que esqueceram tudo [...] temos de começar do zero ou ficam desincentivados” — dizia
um professor da Escola Primária 4 de Outubro de vila municipal da Macia.
Um outro elemento de natureza organizativa foi a gestão do calendário. Por exemplo o
período de inverno foi apontado como sendo o que mais regista desistência escolar
devido a alteração do ciclo solar (o sol sai mais tarde e o poente chega mais cedo).
Neste período observa-se mais atrasos e mais faltas o que faz com que os alunos
abandonem por acumulação de faltas e insuficiência de matérias para as avaliações.
Estas questões de ordem de organização das escolas ou mesmo do sistema de educação
aliadas a ausência de um contacto permanente com os Conselhos de Escolas e destes
com os pais ou encarregados de educação fragilizam cada vez mais as instituições de
ensino e criam espaço para o abandono facilitado da escola.

5. FACTORES DE INTERMEDIAÇÃO COMUNITÁRIA. UM REFORÇO


NECESSÁRIO
Consideramos ―factores de intermediação‖ as formas de organização da comunidade
para garantir a inserção da escola no contexto local e dos pais ou encarregados de
educação na administração escolar e vice-versa. Entende que uma gestão democrática
da escola seja um elemento importante para limitar o imaginário dos alunos sobre o
abandono escolar. Se em todos lados, tanto na família assim como na comunidade e na
escolar, os alunos encontrarem incentivos de permanência na escola e constrangimento
para o abandono o índice dos desistentes poderia baixar significativamente e a qualidade
do ensino melhorar, por consequência. Esta equação depende muito do papel dos
Conselhos de Escola e como estes articulam a participação das comunidades na vida da
escola. Eles são os órgãos que garantem não só a monitoria, o acompanhamento e
fiscalização das escolas, mas são elemento chave para garantir que pais e encarregados
de educação participem no funcionamento quotidiano da escola. Eles são os
termómetros tanto dos problemas dos alunos nas famílias assim como na escola e,
portanto, de monitoria dos potenciais de desistência escolar.
No entanto, se esta definição do papel dos Conselhos de Escola parece seminal para
redução do fenómeno de desistência o funcionamento dos Conselhos ainda enfrenta

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muitas dificuldades. Em quase todas escolas estudadas reconheceu-se a existência do
Conselhos e de alguma contribuição para a melhoria da relação entre a Escola e
Comunidade. Em contraparte, mesmo se estes estão bem instalados o seu
funcionamento ainda continua fluido, os seus membros funcionam mais como
informantes das decisões e acções de escola do que de monitoria dupla tanto das
comunidades e famílias assim como da administração da escola. Esta constatação não é
nova, por exemplo um estudo muito recente do CEP (Cidadania e Participação,
Educação e Saúde de Qualidade) e do Centro de Aprendizagem e Capacitação da
Sociedade Civil (CESC) (CEP & CESC, 2017) aponta que apesar de em todas escolas
existirem Conselhos de Escola a operacionalidade e funcionalidade destes continua
muito fraca. O seu papel para melhoria da gestão escolar muito reduzido.
Este trabalho não foi mais profundo no estudo dos Conselhos de Escola, mas entende
que os elementos como a natureza da sua constituição, em muitos casos baseado na
indicação não democrática de personalidades mais influentes em termos económico,
cultural e outras, é apontada como uma das limitações para maior inclusão da
comunidade; outro elemento apresentado é a falta de diálogo permanente entre os
membros da comunidade e os seus representantes nos Conselhos de Escola. Um estudo
mais aprofundado que avalie desde a formação, o funcionamento, os resultados da
intervenção das comunidades via Conselhos Escolares daria, nestes termos, uma maior
visão sobre as boas práticas e os empecilhos a ser reconsiderados nos projectos
posteriores. Obviamente que existem algumas melhorias em contextos específicos
sobretudo resultado da instauração de Cartões de Pontuação Comunitária (CPC) — um
instrumento de monitoria e avaliação participativa baseada na comunidade e que
permite os cidadãos avaliar a qualidade dos serviços das escolas e intervir na
providência.

Breve, o limitado funcionamento dos Conselhos de Escola não é de per si causa para
abandono escolar, mas podia participar na limitação de muitos factores de ordem
comunitário e sobretudo familiar.

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6. CONCLUSÃO: DESISTÊNCIA ESCOLAR UM FENÓMENO DE PARTILHA
DE RESPONSABILIDADE
Não era objectivo deste trabalho captar toda complexidade relativa ao fenómeno de
abandono escolar. A pesquisa cingiu-se na análise de factores de ordem individual,
familiar, comunitários que permitem apreender as razões fundamentais de desistência. A
análise recai sobre narrativas dos principais actores concernidos: alunos desistentes e os
que frequentam a escola, pais e encarregados de educação, professores e as respectivas
direcções das escolas. O estudo levantou, na base de uma metodologia de estudo das
raízes das causas de abandono escolar, elementos que sirvam de base de reflexão
conjunta entre a gestão da escola, a comunidade e as famílias dos alunos para futuras
acções que evitem a desistência escolar e garantam a retenção dos alunos.
O pressuposto básico que conduziu a pesquisa foi de considerar a escola e o serviço de
educação de forma mais precisa como uma coprodução de múltiplos actores. Por isso
mesmo a desistência escolar devia ser entendida como resultado de uma partilha de
responsabilidade tanto da família, da comunidade bem como da escola e do próprio
alunos. A condução deste pressuposto levantava, portanto, a questão de procurar
entender como transformar a escola em lugar de atractividade do aluno, de valorização
pela comunidade e de inspiração das famílias. Considerou, nisso a ideia de que o
abandono escolar do aluno resultava de uma análise de custo/benefício sobre as normas
escolares e familiares, portanto da subjectivação dos constrangimentos pelo último
visado, o aluno.
Uma das constatações gerais do estudo, é que o abandono escolar resulta sobretudo do
hiato de comunicação entre as famílias e escola, entanto que dois espaços de
socialização dos alunos. Resultante da dificuldade de comunicação destes dois espaços,
o aluno encontra zonas de manobras para desenvolver práticas (faltas, indisciplina,
desinteresse, etc.) que lhe levam ao abandono escolar. A isso se agrega o
funcionamento deficitário dos Conselhos de Escola que serviriam de elos de ligação e
de participação das comunidades no funcionamento quotidiano da Escola e vice-versa.
Por isso mesmo a Escola muitas vezes funciona de forma isolada das famílias e, por
consequência, pouco valorizada como espaço de imaginação do futuro das crianças.
Em segundo lugar, existe um consenso generalizado de que a estrutura familiar é uma
das condições indispensáveis para aplicação dos alunos na escola. No entanto,
constatou-se que uma grande parte das crianças desistentes vivem em condições
familiares desfavoráveis a retenção escolar. Com especificidades resultantes dos
contextos, os alunos desistentes inquerido no estudo não vivem com os seus parentes
(pai e mãe): ou em resultado de divórcio ou em resultado de emigração. Esta condição
de separações recai sobre a presença do aluno na escola por várias formas, seja mudança
de domicílio sem pré-aviso a escola e por isso mesmo sem documentos referentes às
transferências. Seja por falta de recursos em resultado das desavenças entre os pais.
Em terceiro lugar, apesar de não haver registo de grandes dificuldades de ordem de
administração da escola, a falta de elementos de atractividade dos alunos, sobretudo os
mais novos, faz da escola um ―calvário‖ no qual o aluno quer a todo custo abandonar.
Aliás, a aplicação estrita das normas como o controlo de uso de uniforme, pagamento de
propinas e outros bens, provoca nos alunos e seus encarregados um pré-julgamento de

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incapacidade de suportar os custos de educação. Ao mesmo tempo que despertar a
necessidade de emprego para aricar com os custos de escola.
Ademais, a crença na dificuldade de suportar os custos de escola sobretudo para as
classes subsequentes, desenvolve nos alunos assim como suas famílias o pensamento da
―impossibilidade do futuro via escola‖. A isso se alia a dificuldade de mobilização de
referências locais bem-sucedidas pela aplicação na escola.

7. RECOMENDAÇÕES
No final desta análise, e em função das dinâmicas de funcionamento das escolas, sua
relação com a comunidade e famílias, existe algumas recomendações que podem ser
objecto de intervenção para ganhos imediatos para reduzir ou evitar o abandono escolar:

7.1. AO NÍVEL DA ESCOLA


 Reforçar as relações entre famílias e a escola. Os encontros permanentes com os
pais, sobretudo dos alunos sensíveis — definidos como os vivendo com pais
separados, mãe solteira, outros membros de família — pode ser uma saída para
evitar que o aluno desenvolva discursos diferentes, seja para os professores e
outro para o encarregado. Não se pode esperar pelos baixos resultados para a
reunião com os pais.
 Desenvolver programas de férias que não retirem os alunos de contacto com a
aprendizagem escolar. Por exemplo actividades culturais locais, desportivas, etc.
Podiam garantir que o aluno não tenha longos períodos de intervalo de
socialização com a escola. E por consequência, evitar de desenvolvimento de
tácticas de contorno à instituição escolar.
 Adoptar calendários escolares flexíveis, como por exemplo no inverno. Uma
simples alteração da hora de entrada pela manhã ou de saída no final do dia
podia adaptar a necessidade de sono das crianças sobretudo as mais novas e os
horários de ida a escola e evitar atrasos ou absenteísmo que leva ao abandono.
 Formar ―grupos de interesses escolar‖ que sejam integrados por alunos e
professores que sirvam de ponto de alerta de problemas de alunos sensíveis e elo
de comunicação imediata com a direcção da escola e Conselhos de Escola. Um
grupo de interesse definido nestes termos serviria também como ponto de apoio
psicológico dos alunos em situação sensível de abandono escolar.
 Usar e disseminar as histórias de vida dos professores como experiências de
sucesso de aplicação nos estudos. Por exemplo criar cartazes e pequenos vídeos
partilháveis na escola com história de vida de professores. A vantagem deste
tipo de acção é a visibilidade e contacto que os alunos têm e experiência que os
professores tiveram para conseguir terminar os estudos e aceder a um emprego
digno.
 Desenvolver sistema de lanches básicos a partir de cultivos de machambas de
escolas. Este tipo de lanche teria a vantagem de sustentabilidade. Aliado a isso
seria a criação de sistema de parques escolares que permitiria atrair as crianças
para o ambiente escolar.

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 Em alguns casos tolerar o uso restritivo do uniforme como forma de garantir que
alunos sem condições de aquisição não veja a falta do uniforme como o fim dos
seus estudos. Isso vai de si com motivação de alunas grávidas a continuarem os
estudos mesmo em tal situação.

7.2. AO NÍVEL DA FAMÍLIA


 Expandir a alfabetização de adultos como forma de valorização do ensino e da
escola. A alfabetização de adultos não seria neste caso o fim em si, mas uma
estratégia para dar exemplo aos alunos do valor da escola ainda criança.
 Incentivar para maior contacto da comunidade com membros de Conselhos de
Escola para monitoria de situações de famílias favoráveis ao abandono escolar
das crianças, como em caso de separação, falecimento de algum membro de
família, mudanças de domicílio, migração a África do Sul.
 Desenvolver mecanismo para garantir a participação das famílias nas reuniões
da escola e da comunidade. Isso asseguraria uma troca de experiência com
outras famílias em situações de sensibilidade para abandono escolar dos seus
educandos.
 Promover mecanismo de troca de informação e comunicação mesmo via
telemóveis entre os professores e os encarregados de educação. A comunicação
por exemplo com os ―grupos de interesses de escola‖ acima referido podia ser
mais informal que incluiria a criação de um grupo de troca de mensagens, etc.

7.3. AO NÍVEL DA COMUNIDADE


 Motivar e capacitar os membros de Conselhos de Escolas para um maior
activismo e intervencionismo ao nível das famílias e da escola. Com Conselhos
de Escola funcionais a monitoria de alunos suspcetível ao abandono seria mais
maleável, pois que o elo de ligação entre as famílias, alunos e os gestores
escolares seria garantida.
 Garantir que os membros dos Conselhos de Escola sejam actores legítimos ao
nível das comunidades. A aceitação destes ao nível de base das comunidades é
importante para ter confiança elemento fundamental para partilha de algumas
situações confidenciais, mas que conta sobremaneira no abandono escolar dos
alunos.
 Desenvolver projecto de exploração de casos de sucessos de naturais ou
indivíduos que tenham estudado nas escolas locais para explorar experiência de
vida e de integração no mercado de trabalho. Estes casos podem não ser de
indivíduos residentes no bairro, mas também de conhecidos que possam
facilmente partilhar suas histórias de vida com alunos locais.

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