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Aula dia 22.02.

2021
2ª Parte

Princípios da Lei
11.101/05 e os Devedores

Prof. Carlos Henrique Passos Mairink


Falência e Recuperação Judicial de Empresas Página 2

AULA

CURSO: Direito
DISCIPLINA: Recuperação e Falência de Empresas
PERÍODO: 8º
PROFESSOR: Carlos Henrique Passos Mairink
AULA REFERÊNCIA - DIA: 22/02/2021
TEMA DA AULA: Princípios da Lei 11.101/05 e os Devedores

Orientações
Em caso de dúvidas sobre a disciplina, favor entrar em contato:

WhatsApp: (31) 98455-3659


E-mail: passosmairink@gmail.com

1 INTRODUÇÃO

Olá!

Continuaremos com o estudo da nossa disciplina.


Trabalharemos nessa unidade com os princípios da Lei
11.101/05 e os devedores a ela sujeitos. Salienta-se que o
escopo é entender os princípios, bem como realizar uma
releitura do conceito de empresário, pois como será visto a Lei
11.101/05, aplica-se, apenas, aos devedores empresários.

Bons estudos!

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2 OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:

• Compreender os princípios norteadores da Lei


11.101/05.
• Realizar uma releitura dos empresários (sujeitos da
Lei 11.101/05).

3 DESAFIO

OBS: O DESAFIO DEVERÁ SER RESPONDIDO NA


ATIVIDADE FÓRUM

Analise a seguinte situação hipotética:

O Juiz de Direito da 3a Vara de Crucilândia/MG suscitou


um conflito positivo de competência com a Vara do Trabalho de
Bonfim/MG.

Alegou que deferiu o processamento da recuperação


judicial da Matuzinhos - Indústria e Comércio de Máquinas e
Implementos Agrícolas Ltda, determinando a suspensão de
todas as ações e execuções, bem como dos respectivos prazos
prescricionais.

Ainda assim, a Juíza do Trabalho de Bonfim/MG, nos autos


de ação cautelar proposta pelo Ministério Público do Trabalho,
deferiu parcialmente liminar que determinou a indisponibilidade

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dos bens móveis e imóveis encontrados em nome da empresa e


de seus sócios, de modo a assegurar o pagamento das verbas
rescisória dos trabalhadores dispensados.

O Juízo Comum Estadual suscitou, então, o conflito de


competência, consignando que “a determinação sobre a
indisponibilidade dos bens da recuperanda, pode inviabilizar a
realização do plano de recuperação”. Quem está certo?
Fundamente.

Analise a questão de acordo com a legislação falimentar


vigente. Favor fazer a análise no Fórum!!!

Resposta

CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. COMERCIAL. LEI


11.101/05.

RECUPERAÇÃO JUDICIAL. PROCESSAMENTO DEFERIDO.

1. A DECISÃO LIMINAR DA JUSTIÇA TRABALHISTA QUE


DETERMINOU A INDISPONIBILIDADE DOS BENS DA
EMPRESA EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL, ASSIM TAMBÉM
DOS SEUS SÓCIOS, NÃO PODE PREVALECER, SOB PENA
DE SE QUEBRAR O PRINCÍPIO NUCLEAR DA
RECUPERAÇÃO, QUE É A POSSIBILIDADE DE

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SOERGUIMENTO DA EMPRESA, FERINDO TAMBÉM O


PRINCÍPIO DA PAR CONDITIO CREDITORUM.

2. É COMPETENTE O JUÍZO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL


PARA DECIDIR ACERCA DO PATRIMÔNIO DA EMPRESA
RECUPERANDA, TAMBÉM DA EVENTUAL EXTENSÃO DOS
EFEITOS E RESPONSABILIDADES AOS SÓCIOS,
ESPECIALMENTE APÓS APROVADO O PLANO DE
RECUPERAÇÃO.

3. OS CRÉDITOS APURADOS DEVERÃO SER SATISFEITOS


NA FORMA ESTABELECIDA PELO PLANO, APROVADO DE
CONFORMIDADE COM O ART. 45 DA LEI 11.101/2005.

4. NÃO SE MOSTRA PLAUSÍVEL A RETOMADA DAS


EXECUÇÕES INDIVIDUAIS APÓS O MERO DECURSO DO
PRAZO LEGAL DE 180 DIAS.

CONFLITO CONHECIDO PARA DECLARAR A


COMPETÊNCIA DO JUÍZO DA 3ª VARA DE MATÃO/SP.

(CC 68.173/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,


SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 26/11/2008, DJe 04/12/2008)

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4 LEI GERAL DE FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO DE


EMPRESAS

Consideração inicial

Considerando que a lei 11.101/05 é a norma geral de


insolvência empresarial, o estudo se segue conforme seus
institutos, embora o leitor seja conduzido a comparações e
comentários relativo a outras normas atinentes aos processos
concursais presentes no direito brasileiro. Sendo assim, cabe
tratar dos aspectos gerais da lei 11.101/05.

Princípios norteadores da lei 11.101/05

A lei 11.101/05 foi concebida a partir de diversos princípios


norteadores com fundamento nos quais o legislador elaborou
uma norma que permite a empresa em crise, mas viável,
soerguer-se. Em que pese a gama de princípios suscitados pelo
legislador e pela doutrina pátria, é possível sintetizá-los,
conforme se segue.

Princípio da função social da empresa

O princípio da função social da empresa decorre do


princípio constitucional da função social da propriedade. A lei se
estrutura na ideia de que a empresa não satisfaz interesses

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apenas dos empresários ou dos sócios ou acionistas. Em


verdade, ao assumir papel de destaque na economia, a empresa
congrega interesses supra e metaindividuais. Dado o fato de
possuir uma função social, na medida em que decorre do seu
exercício repercussões positivas para a sociedade de forma
geral, a empresa tem um papel a cumprir no cenário nacional,
pois dela também é exigida uma participação no
desenvolvimento.

Nesse sentido, a função social da empresa consiste na


geração de lucros para o empresário sem, contudo, prejudicar
terceiros. Isto é, a função social da empresa é gerar lucros.
Porém, o lucro não pode ser superior aos interesses que
gravitam em torno da empresa. Nesse sentido, uma empresa
que gera lucro, mas viola direito dos trabalhadores, dos
consumidores, ou provoca danos ambientais, dentre outros, não
cumpre sua função social.

Tal princípio é de suma importância, pois, para que se fale


em recuperação de empresas, necessário se faz analisar se
viável é a manutenção da sua função social.

Princípio da preservação da empresa

Com estreita correlação com o princípio da função social da


empresa está o princípio que orienta sua preservação, pois, a
conservação se fundamenta na função social que da atividade
decorre. O interesse em mantê-la advém da repercussão da
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empresa na sociedade e na economia, e da função social que


ela cumpre.

Em razão de gerar empregos, renda, promover o


desenvolvimento econômico, tecnológico, arrecadar tributos,
dentre outras repercussões sociais, a empresa deve ser
conservada, não significando dizer, entretanto, que se está
preservando o empresário. Exatamente por isso, a preservação
da empresa se concentra na preservação do acervo patrimonial
em conjunto, posto que este aparato é, em regra, o que permite
a continuação da empresa, ainda que por outro empresário que
venha adquiri-lo.

O interesse em se preservar a atividade empresária é


tamanho que, antes mesmo da falência, a legislação falimentar
confere ao devedor a recuperação de empresas. Esse instituto
serve para, por meio de alguns mecanismos de recuperação,
viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira
a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego
dos trabalhadores e dos interesses dos credores. Desse modo,
promove-se a preservação da empresa, sua função social e o
estímulo à atividade econômica.

Princípio da viabilidade da empresa

A concepção de se preservar a empresa está calcada na


viabilidade de tal atividade. De nada vale buscar a preservação
de uma atividade minguante, ou mesmo de uma atividade que
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promova a degradação ambiental, dentre outras violações de


direitos.

A empresa saudável, mas em crise momentânea e


superável, deve sim ser preservada para que cumpra sua função
social.

Nesse sentido, o foco do instituto da recuperação é a


empresa viável, do contrário, o caminho inevitável é o da
falência. Lembre-se que a continuidade de uma empresa
inviável no cenário econômico é, inclusive, prejudicial ao
equilíbrio da ordem econômica e, portanto, de mercado deve ser
retirada.

Princípio da tutela dos interesses dos credores

Ao lado dos interesses em se preservar a empresa para


que ela cumpra sua função social, há os interesses dos
credores, que devem ser tutelados. Tais credores,
costumeiramente, são outros empresários, tais como
fornecedores, parceiros comerciais, agentes, ou mesmo podem
ser trabalhadores, consumidores, dentre outros.

Desse modo, o princípio da relevância dos interesses dos


credores ganha destaque, pois o procedimento falimentar
privilegia a vontade e os interesses deles, inclusive conferindo
papel relevante na tomada de decisões que podem afetá-los.
Sendo assim, o referido princípio informa os procedimentos

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falimentares e de recuperação, e determina que os operadores


do Direito observem os interesses dos credores de forma
igualitária e sem discriminação.

Princípio da “pars conditio creditorum”

Em se tratando de execução coletiva, no qual, não


obrigatoriamente, podem figurar diversos credores, a
necessidade de quantificar e qualificar o crédito de cada um
deles é imperiosa. Contudo, não apenas a quantificação e a
qualificação são as únicas razões do processo concursal, pois a
necessidade de conferir tratamento igualitário aos diversos
credores de um devedor insolvente é que justificam a execução
coletiva. Para que não haja a satisfação total do crédito de
alguns credores, em detrimento a outros em igualdade de
condições, deve-se tratar com os mesmos critérios os credores,
segundo a quantificação e a qualificação dos seus créditos.

Decorrente do princípio constitucional da isonomia, o princípio


da pars condicio creditorum informa ao operador do Direito que
o tratamento dos credores deve ser isonômico, pois credores
com a mesma classificação dos créditos merecem tratamento
isonômico, ao passo que credores com créditos em
classificações distintas devem ser tratados desigualmente.

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Princípio da maximização dos ativos

Como o produto da alienação dos ativos do devedor se


reverte para, dentre outros, o pagamento dos credores, quanto
mais se arrecadar, maior a possibilidade de efetivar o
pagamento do maior número de credores, em maior quantidade.

Além da alienação do ativo, a continuação da atividade da


empresa pode gerar divisas para a massa falida, cujos valores
serão revertidos, direta ou indiretamente, em prol dos credores.
Percebe-se que a tônica do processo falimentar consiste na
maximização dos ativos de modo a preservar os interesses dos
credores que habilitaram seus créditos no juízo falimentar.

Assim, todas as medidas tomadas pelos atores na falência


ou recuperação de empresas devem observar a necessidade de
se preservar ou aumentar os ativos, sob pena de se prejudicar
os interesses relativos ao pleno pagamento dos credores.

Princípio do juízo universal

Diante da possível pluralidade de credores, necessário se


faz reunir todos eles em um mesmo juízo, que faz a apuração
dos haveres e paga a cada credor segundo a ordem de
classificação do seu crédito, nos limites do ativo arrecadado.

A Lei n. 11.101/05 define como juízo competente para


conhecer do pedido e decretar a falência do devedor empresário,
ou sua recuperação, o do local onde este possuir seu principal

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estabelecimento ou, ainda, da filial de empresa que tenha sede


fora do Brasil.

Sendo assim, como regra geral, o art. 76, da Lei n.


11.101/05 determina que o juízo universal é indivisível e
competente para conhecer todas as ações sobre bens,
interesses e negócios do falido. Embora o juízo falimentar seja
uma vis attractiva, a legislação estabelece algumas exceções,
dentre as quais se pode citar as causas trabalhistas, fiscais e
aquelas não reguladas pela Lei n. 11.101/05.

As ações não reguladas pela lei de falência que


correspondem a exceção ao juízo universal são aquelas em que
for parte a União, entidades autárquicas ou empresas públicas,
na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, as ações
relativas a imóveis, cuja competência seja determinada pela
situação do bem, de forma absoluta, ou, ainda, as ações que
demandarem quantias ilíquidas, iniciadas antes da decretação
da falência, nas quais o devedor tenha sido citado anteriormente
à sentença de quebra.

No que toca às ações em que for parte a União, entidades


autárquicas ou empresas públicas, na condição de autoras, rés,
assistentes ou oponentes, o critério de competência é definido
pela Constituição da República, em seu art. 109, inciso I.

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As ações relativas a imóveis, cuja competência seja


determinada pela situação do bem, de forma absoluta,
encontram amparo no art. 47, do Código de Processo Civil.

As ações que demandarem quantias ilíquidas, iniciadas


antes da decretação da falência, nas quais o devedor tenha sido
citado anteriormente à sentença de quebra, como exceção à
regra do juízo universal, estão dispostas no art. 6º, §1º, da Lei n.
11.101/05. Faculta-se ao credor requerer ao juízo universal a
reserva dos valores demandados em ações que demandarem
quantias ilíquidas, além da inclusão do crédito na classe própria.

Notoriamente, as ações trabalhistas são processadas e


julgadas nos juízos da Justiça do Trabalho e o crédito apurado
no juízo trabalhista deve ser habilitado no juízo universal da
falência. É, também, facultado ao credor obreiro requerer ao
juízo universal a reserva dos valores demandados em ações
trabalhistas, além da inclusão do crédito na respectiva classe.

Quanto aos créditos fiscais, as execuções que visam a


cobrá-los prosseguem nos juízos de execuções fiscais, e não
são atraídas para o juízo falimentar, permanecendo no juízo da
execução fiscal.

Por fim, há que se ressaltar que, independentemente da


verificação periódica perante os cartórios de distribuição, as
ações que venham a ser propostas contra o devedor deverão
ser comunicadas ao juízo da falência ou da recuperação judicial,
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quer seja pelo juiz competente, quando do recebimento da


petição inicial, quer seja pelo devedor, imediatamente após a
citação.

Princípio da celeridade ou da razoável duração do processo

Embora seja um assunto recorrente, a celeridade


processual no cenário nacional é questionável diante da
sobrecarga de serviço do Poder Judiciário, fato notório e
lastimável.

Erigida a princípio, a celeridade é observada na elaboração


de diversas leis em nosso ordenamento jurídico, como também
ocasionou a alteração do texto constitucional pela Emenda
Constitucional n. 45, estabelecendo em seu art. 5º, inciso
LXXVIII, que, a todos, no âmbito judicial e administrativo, são
assegurados a razoável duração do processo e os meios que
garantam a celeridade de sua tramitação.

Nesse sentido, a lei 11.101/05, em seu art. 76, parágrafo


único, determina que o processo de falência atenda aos
princípios da celeridade e da economia processual. Sabe-se,
entretanto, que tal norma demanda para sua observância muito
mais uma reforma do Poder Judiciário e das leis processuais, do
que propriamente sua aplicação pelos magistrados nos foros.

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5 DEVEDOR EMPRESÁRIO SUJEITO À LEI 11.101/05

A Lei 11.101/05 disciplina a recuperação judicial, a


recuperação extrajudicial e a falência do empresário e da
sociedade empresária. Sendo assim, tem-se que todo devedor
empresário está sujeito aos institutos da referida lei, salvo
algumas exceções.

Inicialmente, cabe destacar que aqueles que não são


considerados empresários não estão sujeitos aos ditames da lei
11.101/05. Assim, as sociedades simples, os agricultores que
não se tornarem empresários, as cooperativas, dentre outros
sujeitos que não se enquadrarem no conceito do art. 966, do
Código Civil, não estão sujeitos à recuperação ou à falência.

No mesmo sentido, a sociedade irregular, ou seja, aquela


que não possui ou cujos atos constitutivos não estiverem
arquivados perante o registro público de empresas mercantis
não poderão obter a recuperação de empresas, mas poderão ter
a sua falência decretada.

Como a lei 11.101/05 é lei geral, aplicam-se a aguns


sujeitos de direitos leis especiais sobre concurso de credores.
Nesse sentido, o art, 2º da LFRE elenca aqueles que a ela não
se submetem.

A primeira exceção expressa no art. 2º da lei 11.101/05 se


refere à empresa pública. Ao excluir tal agente econômico de

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sua aplicação, a lei 11.101/05 retira a possibilidade de se


decretar a falência da empresa pública. A concepção de uma
empresa que atua nos setores de interesse público é
incompatível com sua falência, haja vista o fato de que seu
capital está nas mãos do Estado. Isso significa dizer que sua
existência está calcada na primazia do interesse público.

Ademais, a criação da empresa pública se dá por ato


normativo, devendo sua extinção ocorrer com paridade de
forma, ou seja, também por um ato normativo.

No mesmo sentido, a sociedade de economia mista não se


submete aos ditames da lei 11.101/05, por disposição expressa
desse diploma. Considerando que a sociedade de economia
mista possui capital público e privado, sua situação perante o
ordenamento é peculiar em relação à aplicação ou não da lei
11.101/05.

Em verdade, tanto a empresa pública quanto a sociedade


de economia mista representam uma obediência do legislador
ao art. 173, da Constituição Federal, ao observar que a
exploração da empresa pelo Estado ocorre se for necessário em
razão dos imperativos da segurança nacional ou por relevante
interesse coletivo. Assim, o Estado, ao se tornar agente
econômico, intervindo na economia como se empresário fosse,
pode se utilizar da empresa pública ou da sociedade de
economia mista.

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Porém, nos termos do art. 173, em seu §1º, inciso II, ao se


lançar no mercado como se empresário fosse, o Estado se
submete ao regime jurídico próprio das empresas privadas,
especialmente no que diz respeito às obrigações civis,
empresariais, trabalhistas e tributárias.

Sendo assim, em razão do regime de concorrência leal,


deveria a lei 11.101/05 se aplicar à empresas públicas e às
sociedades de economia mista, uma vez que a constituição
determina a submissão do Estado ao regime jurídico próprio das
empresas privadas quando ele atuar diretamente no domínio
econômico de forma empresarial. Mas não é o que se verifica,
pois o art. 2º, inciso I, da LREF exclui de sua aplicação as
empresas públicas e às sociedades de economia mista.

É, também, excluída da submissão à lei 11.101/05, a


instituição financeira, seja ela pública ou privada. A instituição
pública segue a regra das empresas públicas ou das sociedades
de economia mistas. Quanto às instituições financeiras privadas,
seu regime de insolvência é disciplinado pela lei 6.024/74, que
dispõe sobre a intervenção e a liquidação extrajudicial de
instituições financeiras, e dá outras providências.

Isso significa dizer que um credor não pode pedir a falência


de uma instituição financeira. Contudo, pode a instituição
financeira falir, se constatada alguma das hipóteses previstas na
lei 6.024/74, desde que o pedido judicial seja formulado pelo

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interventor nomeado pelo Banco Central do Brasil, mediante a


autorização da autoridade monetária.

As hipóteses para o pedido de falência e aplicação da lei


11.101/05 às instituições financeiras estão na lei 6.024/74, em
seus artigos 12, “d” e 21, “b”. Assim, pode o Bacen autorizar o
interventor a requerer a falência da instituição financeira quando
o seu ativo não for suficiente para cobrir sequer metade do valor
dos créditos quirografários, ou quando julgada inconveniente a
liquidação extrajudicial, ou, ainda, quando a complexidade dos
negócios da instituição ou a gravidade dos fatos apurados
aconselharem a medida.

No mesmo sentido, a vista do relatório produzido pelo


interventor, o BCB pode autorizar o liquidante a requerer a
falência da entidade, quando o seu ativo não for suficiente para
cobrir pelo menos a metade do valor dos créditos quirografários,
ou quando houver fundados indícios de crimes falimentares,
previstos na lei 11.101/05.

Aplica-se a lei 6.024/74 às cooperativas de crédito, que


também são excluídas da aplicação direta da lei 11.101/05,
apenas podendo falir se constatadas as hipóteses da lei
6.024/74, em seus artigos 12, “d” e 21, “b”.

A lei 11.101/05 exclui do seu âmbito de aplicação o


consórcio, sendo este entendido como o consórico de consumo
de bens e serviços. Disicplinada pela Lei 11.791/2008, as
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administradoras de consórcios são submetidas, conforme art.


39, aos ditames da Lei 6.024/74, além do Decreto-Lei no
2.321/87, e da Lei no 9.447/97.

Assim sendo, a falência das administradoras do consórcio,


e não do consórcio em si, pode ser decretada se o interventor
ou liquidante assim o requerer, desde que autorizado pela
autoridade monetária.

A entidade de previdência complementar e a sociedade


operadora de plano de assistência à saúde também não estão
submetidas diretamente aos institutos da lei 11.101/05. Assim,
de acordo com a lei 9.656/98, tais sujeitos de direitos sujeitar-se-
ão ao regime de falência quando, no curso da liquidação
extrajudicial promovida pela Agência Nacional de Saúde, forem
verificadas uma das seguintes hipóteses: a) o ativo da massa
liquidanda não for suficiente para o pagamento de pelo menos a
metade dos créditos quirografários; b) o ativo realizável da
massa liquidanda não for suficiente, sequer, para o pagamento
das despesas administrativas e operacionais inerentes ao
regular processamento da liquidação extrajudicial; c) nas
hipóteses de fundados indícios de crimes falimentares.

Também excluídas da aplicação direta da lei 11.101/05, as


sociedades seguradoras apenas poderão ter sua falência pedida
liquidante ou interventor após a decretação da sua liquidação
extrajudicial, constatando-se que o ativo não é suficiente para o

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pagamento de pelo menos a metade dos credores


quirografários, ou, ainda, quando houver fundados indícios da
ocorrência de crime falimentar. O procedimento de liquidação
extrajudicial corre perante a Superintendência de Seguros
Privados – Susep, nos termos art. 26, do Decreto-Lei 73/66.

Por fim, à sociedade de capitalização não se aplica


diretamente a lei 11.101/05, em razão do art. 2º, inciso II. Tais
sociedades são reguladas pelo Decreto-Lei 261/67, que em seu
artigo 4º determina a aplicabilidade do Decreto-Lei 73/66 no que
toca à insolvência. Assim, uma vez decretada pela Susep a
liquidação extrajudicial e se constatado que o ativo não é
suficiente para o pagamento de pelo menos da metade dos
credores quirografários, ou, ainda, quando houver fundados
indícios da ocorrência de crime falimentar, pode o interventor ou
liquidante pedir a falência da sociedade de capitalização.

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6 INFOGRÁFICO

7 DICA DO PROFESSOR

A Lei 11.101/05 disciplina a recuperação judicial, a recuperação


extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade
empresária. Sendo assim, tem-se que todo devedor empresário
está sujeito aos institutos da referida lei, salvo algumas
exceções.

Inicialmente, cabe destacar que aqueles que não são


considerados empresários não estão sujeitos aos ditames da lei
11.101/05. Assim, as sociedades simples, os agricultores que
não se tornarem empresários, as cooperativas, dentre outros

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sujeitos que não se enquadrarem no conceito do art. 966, do


Código Civil, não estão sujeitos à recuperação ou à falência.

8 EXERCÍCIOS

1. O que é o princípio da função social da empresa?


2. O que é o princípio da preservação da empresa?
3. O que é o princípio da viabilidade da empresa?
4. O que é o princípio da tutela dos interesses dos credores?
5. O que é o princípio da “pars conditio creditorum”?
6. O que é o princípio da maximização dos ativos?
7. O que é o princípio do juízo universal?
8. O que é o princípio da celeridade ou da razoável duração
do processo?
9. A quais devedores aplica-se a Lei 11.101/05?

9 PRATICANDO

Comente o seguinte artigo da Lei 11.101/05:

Art. 1º Esta Lei disciplina a recuperação judicial, a


recuperação extrajudicial e a falência do empresário e
da sociedade empresária, doravante referidos
simplesmente como devedor.

10 LIVE DA AULA - AULA REMOTA

Aqui você terá a oportunidade de assistir a nossa


aula remota:

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• Aula do dia 18.08.2020 – turno da manhã.

https://youtu.be/XzXruIJYbhA

• Aula do dia 18.08.2020 – turno da noite.

Durante o percurso, estarei sempre a sua disposição para


auxílio. De todo modo, é útil lembrar que a caminhada é de cada
um e, por vezes, você poderá sentir-se solitário. É assim mesmo.
A essa altura da vida, você já deve saber que a aprendizagem é
um processo solitário e doloroso; isso porque faz pensar e afasta
certezas, para a construção de um novo conhecimento. É assim
que a gente aprende. Temos várias formas de comunicação,
individualizada ou coletiva, que poderão ser utilizadas à vontade.

Tenho a certeza de que, uma vez seguidas as orientações


constantes no cronograma apresentado, tudo terminará bem.

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Mas não se esqueça de que você será o construtor da sua obra.


Estaremos, porém, sempre a seu lado para garantir a solidez da
aprendizagem.

Vamos trilhar paralelamente os desafios que virão, e espero


que, no final, o trabalho seja gratificante.

Carlos Henrique Passos Mairink

BRASIL, Código Civil. (2002). Código Civil: lei 10.406, de 10 de


janeiro de 2002. Brasília: Senado, 2002. Disponível
em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>.
Acesso em: 31 jul. 2019.
BRASIL, Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Brasília:
Senado, 1976. Disponível em:<
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6404consol.htm>.
Acesso em: 31 jul. 2019.
BRASIL, Lei nº 11.101, de 09 de fevereiro de 2005. (2005).
Brasília: Senado, 2005. Disponível em:<
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-
2006/2005/Lei/L11101.htm>. Acesso em: 31 jul. 2019.
TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: Falência
e recuperação de empresas, v. 3 – 5. ed. rev. e atual. – São
Paulo: Atlas, 2017.

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