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Fake news: como proteger a liberdade de
expressao e inibir noticias falsas?
al TSR Gate)
Mar 19, 2018-7 min read
Por Chiara Spadaccini de Teffé*
A divulgacao de informagées falsas nao é um problema novo, mas a disseminagao em
massa desse contetido através da Internet e seu forte impacto na politica vem.
chamando atengao. Apés 2016, com as diversas noticias falsas divulgadas durante as
eleigées norte-americanas ¢ as discussées sobre o referendo que decidiu pela saida da
Grd-Bretanha da Unido Europeia, as quais teriam prejudicado a qualidade dos debates,
verificou-se a emergéncia de se entender o que seriam as chamadas fake news e como
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elas poderiam ser combatidas sem se prejudicar as liberdades fundamentais e a
diversidade de opiniées.
Fake news podem ser compreendidas, numa primeira interpretagdo, como contetdos
inveridicos, distorcidos ou fora de contexto que sao espalhados como se noticias reais
fossem para promover propositalmente desinforma
A claboragao de tal contetido sao diversas ¢ envolvem varios atores. Mas 0 que se
afirma com frequéncia é que elas se encontram ligadas a questdes econdmicas — pelos
valores recebidos em virtude do grande numero de acessos a noticias falsas e da
publicidade inserida de forma proxima a elas — , e/ou politicas — em razao do desejo
(0 ao ptiblico. As razées que levam
de algum sujeito de influenciar pensamentos ou prejudicar certo candidato, por
exemplo.
Sentimentos e crengas pessoais vém se mostrando relevantes na tomada de decisées.
Nesse contexto, as fake news com manchetes sensacionalistas e contetidos falsos
acabam, por vezes, seduzindo e ajudando a confirmar percepcées pré-existentes de
algumas pessoas, o que as leva tanto a acreditar em informac6es inveridicas quanto a
compartilhar esse contetido em suas redes.
Diante desse cendrio, para conter fake news € necessario envolver uma variada gama de
sujeitos como empresas de tecnologia, governos, mercado e sociedade civil. Cabe atuar
em diversas frentes e com instrumentos variados, sendo um dos mais potentes a
educacdo digital, para que as pessoas aprendam a identificar e a diferenciar contetidos
falsos ou maliciosos de contetidos checados ou com elevada chance de veracidade bem
como auxiliem no processo de dentincia de fake news.
O ponto é: qualquer aco para inibir as fake news deve passar por mais informacao e
ndo menos. Assim, propostas que permitam a remogéo sem ordem judicial de
contetidos ou censura prévia bem como que prejudiquem a midia alternativa e
criminalizem todo aquele que publicar contetido falso deverdo ser evitadas a qualquer
custo, por nao se alinharem com a Constituigao e a protecio das liberdades
fundamentais.
Ainda que, em alguns casos, possa ser necessario aplicar uma tutela nao apenas civel, 0
recurso ao Direito Penal deve ser sempre o ultimo caminho e, inclusive, ndo parece
uma solugdo realmente efetiva para inibir a criacio e a disseminacdo desse tipo de
contetido. Pelas razes que movem seus autores, néo parece que uma tipificacdo penal
seja capaz de conté-los. Inclusive, até hoje, em pouquissimos casos foi possivel, de fato,
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descobrir e responsabilizar aqueles que criaram e divulgaram informacées falsas. Em
sentido contrario, porém, vem atuando o Legislativo. Foram elaborados alguns
projetos de lei, como o PL 9533/18, o PL 9554/18 e o PLS 473/17, que tratam
especificamente de fake news sob uma 6tica penal.
No infcio de margo, como divul;
que visava conter as fake news. Ele foi intensamente discutido em uma reuniao no
Conselho de Comunicaciio Social do Congresso Nacional. Entretanto, diante das
diversas criticas ao texto, o Conselho decidiu analisar o estudo apresentado e os outros
projetos de lei para, posteriormente, dar um parecer sobre 0 assunto. No criticado
ado pela imprensa, foi elaborado anteprojeto de lei
anteprojeto, propunha-se a alteragao de trés leis: 0 Cédigo Penal, 0 Cédigo Eleitoral e 0
Marco Civil da Internet (Lei n° 12.965/14). O texto atacava especialmente o regime de
remocio de contetido da rede e a responsabilizagao civil do provedor de aplicacées de
internet (p. ex. Facebook, Twitter, YouTube, Snapchat e WhatsApp) por contetido de
terceiro.
Seu artigo 18-A, §2°, I, afirmava que o provedor de aplicagées de internet que
disponibilizasse contetido gerado por terceiros teria que adotar medidas efetivas e
transparentes para combater a publicacao e a disseminagao de noticias e perfis falsos,
cabendo ao provedor remover ou bloquear, no prazo de até vinte e quatro horas do
recebimento da reclamagio, contetido que no atendesse a politica de privacidade e
aos termos de uso da aplicagao. O provedor que violasse 0 disposto neste artigo
responderia civilmente pelos danos decorrentes da publicago da noticia falsa e ficaria
sujeito 4 multa.
Além disso, no mencionado anteprojeto, tentou-se promover uma alteracao substancial
ao artigo 19 do Marco Civil, o qual passaria a ter a seguinte redagdo: “O provedor de
aplicagées de internet poderd ser responsabilizado civilmente por danos decorrentes
de contetido gerado por terceiros se, apés ordem judicial especifica, nado tomar as
providéncias para, no Ambito e nos limites técnicos do seu servigo e dentro do prazo
assinalado, tornar indispontvel o contetido apontado como infringente, ressalvadas as
disposigées legais em contrério.” Seriam suprimidas, aqui, duas expressées de extrema
relevanci: io ea vedacao a
a parte inicial do artigo referente a liberdade de expres:
responsabilizacio civil do provedor antes de ordem judicial.
O regime proposto no Marco Civil da Internet significa uma vitéria para a sociedade
brasileira. Ele exige, como regra, a avaliacdo judicial do contetido para, s6 entao, fazer
nascer o dever de sua retirada. Estabelece assim a responsabilidade civil subjetiva do
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provedor apenas se ele nao cumprir a decisdo especifica de remogao. Parte-se da ideia
de que somente uma adequada ponderacao judicial dos interesses constitucionalmente
tutelados — estando a liberdade de expressdio sempre em um dos lados da balanga —
poderd assegurar uma Internet livre, plural e democratica.
Nao parece adequado deixar a
ou nao falso. O perigo dessa possibilidade reside no empoderamento dos provedores
para decidir 0 que deve ou néo ser exibido, mediante critérios criados de forma
unilateral, subjetiva e que nao necessariamente estardo plenamente alinhados coma
Constituigao. Em diversas decisées, os tribunais j4 mostraram preocupacao com uma
go do provedor a decisao se 0 contetido contestado é
ampla delegacdo para atores privados das formas de controle do discurso na rede, jé
que isso poderia prejudicar a diversidade, a liberdade de expressao ea inovacdo na
Internet.
Aretirada de contetido do ar mediante mera notificacao extrajudicial (gerando, caso 0
contetido seja mantido, a responsabilizagao do provedor) pode implicar sério entrave
para o desenvolvimento de novas alternativas de exploracao e comunicagao na rede
que, muito razoavelmente, poderiam nao ser desenvolvidas em razao do receio de
futuras ages indenizatérias. Além disso, se por receio da responsabilizacéio os
provedores retirassem em massa contetidos da rede, o resultado imediato disso seria a
reduciio do ntimero de casos em que 0 Judicidrio poderia atuar para tracar os limites
da liberdade de expressio na Internet e reforcar a relevancia desse direito
fundamental.
O regime em vigor no Marco Civil garante que, uma vez notificado, 0 provedor possa
remover o contetido caso entenda que ele realmente ofende seus termos de uso. Nao
cabe ao provedor decidir sobre a licitude ou ilicitude de um contetido. O papel do
provedor deve ficar restrito as regras que ele tragou para si mesmo em seus termos €
politicas de uso. Sendo assim, ja existe no regime criado pelo Marco Civila
possibilidade de exclusao de contetido, como, por exemplo, fotos, videos ou textos, que
corporifique noticias falsas. O que o Marco Civil nao faz é criar a obrigacao de remogao
desse contetido com base nos jutzos de quem notifica algo e do provedor que recebe a
demincia privada. E nesse ponto a legislagao andou bem.
O Poder Judicidrio, em detrimento de empresas privadas que regulam tais plataformas,
parece ser a melhor opgdo para analisar contetidos e determinar quais informagées
devem permanecer na rede & luz da legislagao nacional. Imagine, por exemplo, que
fosse instituida a responsabilidade dos provedores de aplicacées de internet quando
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nao removessem contetido apés uma notificagao extrajudicial. Haveria, muito
possivelmente, o incentivo a uma censura privada, uma vez que, para evitar o risco de
uma responsabilizagao futura, os provedores provavelmente removeriam boa parte dos
contetidos denunciados. No cendrio atual, a elaboracao de excegdes ao artigo 19 bem
como de alteragdes ao regime ja proposto podem fragilizar a tutela desenvolvida pelo
Marco Civil para as liberdades fundamentais na Internet.
Quanto ao prazo para a remocio, no artigo 18-A, §2°, I, foi estabelecido 0 prazo de até
vinte e quatro horas, apés o recebimento da notificacdo extrajudicial, para que 0
provedor promovesse a remogao ou 0 bloqueio do contetido que nao atendesse &
politica de privacidade e aos termos de uso da aplicagao. Na redacao original do Marco
Civil da Internet prevaleceu a ideia de que nao seria possivel estabelecer um prazo
objetivo para a remogao de contetido, uma vez que o tempo para a execugao de tal
medida estaria sempre atrelado ao poderio econémico, a realidade fatica e 4
capacidade técnica do provedor bem como a quantidade e ao tipo de contetido
denunciado no caso concreto. O estabelecimento de um prazo fechado na lei pode
acabar, inclusive, gerando uma limitagao a liberdade de expressao, visto que 0
provedor poderé analisar de forma parcial ou equivocada 0 contetido ou, ainda, caso
tenha dificuldade de cumprir o prazo, podera simplesmente deleté-lo sem realizar uma
andlise adequada.
‘Tentativas para reduzir a divulgacio de contetidos falsos devem salvaguardar a
diversidade e a pluralidade de opiniées. A alteracdo proposta para o Marco Civil, além
de antidemocratica, prejudicaria a liberdade e a seguranga das relagdes na rede.
* Doutoranda e mestre em Direito Civil pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(Uerj). Foi professora substituta de Direito Civil na UFRJ. E pesquisadora do Instituto
de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS Rio).
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