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Os grupos na atenção básica de saúde de Porto Alegre:

ARTIGO ARTICLE
usos e modos de intervenção terapêutica

Groups in basic health attention in Porto Alegre:


uses and forms of therapeutic intervention

Rosana Maffacciolli 1
Marta Julia Marques Lopes 2

Abstract This article deals with groups as an as- Resumo Esse artigo trata dos grupos como mo-
sistential modality used by the services of basic dalidade assistencial utilizada pelos serviços de
health attention. Workshops, health education atenção básica de saúde. Oficinas, grupos de edu-
groups, as well as, lectures are different activities cação em saúde e palestras constituem atividades
done in relation to other traditional attendances. diferenciadas em relação aos demais atendimen-
The study that is behind this discussion had as its tos tradicionais. O estudo que subsidia essa dis-
main aim to know the profile of assistance, under cussão teve como objetivo conhecer o perfil da
groups’ organization, offered in the Units which assistência, sob a forma de grupos, prestada nas
make part of the Basic Health Network in Porto unidades que compõem a rede básica de saúde de
Alegre. Within a total of 124 health services, 116 Porto Alegre. Foram abordados 116 profissionais,
professionals were approached, among them, 96 de um total de 124 serviços de saúde, entre os quais
developed groups. We could verify that the groups 96 desenvolviam grupos. Evidenciou-se que os
have therapeutic relevance because they favor the mesmos têm relevância terapêutica por favorece-
sharing of information and the learning about rem a troca de informações e o aprendizado sobre
aspects which are related to the topic health-sick- aspectos relacionados à saúde/doença. Constitu-
ness. They constitute inclusive practices, which em práticas inclusivas, capazes de vincular os usu-
are able to create a link with the users and the ários aos serviços e de reformular o modelo assis-
service, as well as, to reformulate the existing as- tencial vigente. Assim, constatou-se que a com-
sistential model. Therefore, it was verified that preensão dessas práticas remete a sua dimensão
the understanding of these practices reflects on its de qualificação da assistência coletiva e também a
dimension of the group assistance qualification uma dimensão estratégica de compensação de aten-
and also the strategic dimension of compensation dimento às crescentes demandas de saúde.
in the attendance of the increasing demand of Palavras-chave Serviços básicos de saúde, Práti-
1
Faculdade de Enfermagem, health. ca de grupo, Estratégias
Centro Universitário IPA Key words Basic health services, Group prac-
Metodista. Rua Guilherme
tice, Strategies
Alves 715/205, Jardim
Botânico. 90680-001 Porto
Alegre RS.
rosanamaffac@yahoo.com.br
2
Escola de Enfermagem,
Universidade Federal do
Rio Grande do Sul.
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Maffacciolli R, Lopes MJM

Introdução mismo que envolve os grupos, considerando as


teorizações da promoção e educação à saúde,
Observando-se a assistência em saúde prestada pode representar alternativa operacional neces-
no âmbito da atenção básica, constata-se que as sária para a afirmação desses preceitos na práti-
atividades de grupo e ações de saúde, geralmente ca. Acredita-se que são instrumentais metodoló-
organizadas de acordo com demandas progra- gicos eficazes, capazes de viabilizar, por meio do
máticas, são cada vez mais atuais e frequentes. vínculo entre os participantes, e desses com a es-
Assim, as modalidades se diversificam para aten- trutura institucional, a compreensão das situa-
der usuários hipertensos, diabéticos, mulheres, ções de vida, saúde e doença, sendo incorporados
gestantes, idosos, entre outros, no sentido de atu- aspectos importantes que fundamentarão certos
ar na complementaridade terapêutica. comportamentos para a promoção da saúde.
É fato a escassez de elementos indicativos para Dentre as estratégias de educação em saúde,
se conhecer o cenário em que essas atividades se foi possível evidenciar as atividades de grupo como
apresentam, tampouco as condições em que se uma forma de sistematizar a assistência. Já sua
desenvolvem e quanto a sua efetividade. No mu- funcionalidade estaria atrelada, além dos aspectos
nicípio de Porto Alegre, as atividades de grupo de tratamento, a uma forma de manejar o eleva-
estão em franca implementação, representando do número de procura por atendimentos, exclu-
um tipo de assistência em evidência nos serviços indo dos mesmos os chamados agravos externos
básicos de saúde. Este estudo propôs-se, então, a e/ou atendimentos de urgência/emergência.
traçar um perfil da assistência prestada nas uni- De outro modo, as atividades educativas, e
dades de saúde que compõem essa rede, com nesse contexto, os grupos, podem servir para
enfoque específico nessas práticas1. amenizar a dominação exercida pelos serviços de
Um dos pontos que chamou a atenção refere- saúde que, apesar de manterem como meta a
se à falta de fundamentos teóricos e meios admi- difusão de informações que contribuam para a
nistrativos reguladores dessas práticas, que as melhoria da qualidade de vida, limitam-se à trans-
tornam completamente distintas nos locais em ferência de informações para a população sobre
que acontecem. No caso dos grupos na rede bási- determinados procedimentos, com caráter coer-
ca de saúde de Porto Alegre, há uma certa banali- citivo e traços de autoridade e prescrição4.
zação dessas atividades, tornando-as mais sujei- Um outro ponto a considerar é o cenário da
tas a situações desfavorecedoras. De fato, não se atenção básica em saúde, tal como se apresenta.
pode considerar qualquer totalidade/coesão de Mesmo com as inovações no que se refere aos
pessoas nesses processos e que, nessa lógica, se- modelos assistenciais, muitas vezes a potenciali-
jam consideradas um grupo. Uma certa horizon- dade de uma atividade assistencial inovadora é
talidade, um ajuste mútuo de ideias e pensamen- revertida em favor de formas clássicas de atendi-
tos é imprescindível e constitui a maneira do gru- mento e suas concepções estagnantes. Essas com-
po expressar-se como um todo, desde que todos preendem, principalmente, ações programáticas
se sintam pertencentes à totalidade grupal2. planejadas em torno do núcleo da assistência
Assim, deparou-se com informações que da- médica, pressupondo um agir centrado em uma
vam conta da real efetividade das atividades de gru- única categoria profissional5.
po como assistência resolutiva, mas também se Pensa-se que as reflexões concernentes aos
pôde visualizar sua utilidade para responder ao dados desta pesquisa historiam as atividades de
elevado número de procura por atendimentos, grupo e suas evidências se tornam válidas para
configurando-se em uma estratégia de demanda. um olhar a médio e longo prazo sobre as práti-
Por outro lado, constata-se que a potenciali- cas assistenciais na atenção básica de saúde. Os
dade terapêutica existe e repousa na possibilidade achados destacados neste artigo são resultantes
de promover saúde e educação em contextos que do empenho em investigar a organização da rede
permitem “a articulação entre saberes técnicos e básica de saúde de Porto Alegre, destacando a
populares e a mobilização de recursos institucio- prática de atividades de grupo, nesses serviços. A
nais e comunitários para o enfrentamento dos partir desses dados e tecendo as análises perti-
problemas de saúde”3, além de resgatar elemen- nentes, tentou-se complementar, por intermédio
tos capazes de implementar a integralidade na do diagnóstico situacional, o conhecimento sin-
assistência, melhorando também as relações en- gularizado acerca dessa temática.
tre profissionais e usuários dos serviços. O dina-
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Objetivos destacou o caráter não obrigatório quanto à par-
ticipação na pesquisa e os procedimentos utiliza-
Teve-se como objetivo geral conhecer o perfil da dos. Também o projeto foi submetido aos Co-
assistência prestada nas unidades que compõem mitês de Ética em Pesquisa pertinentes ao campo
a rede básica de saúde de Porto Alegre, com enfo- (Comitê de Ética da Secretaria Municipal de Saú-
que nas atividades de grupo. Dessa forma, emer- de de Porto Alegre e Comitê de Ética em Pesquisa
giram objetivos específicos da problemática apre- do Grupo Hospitalar Conceição), respeitando os
sentada: mapear as unidades de saúde compo- preceitos da Resolução nº 196/1996 do Conselho
nentes da rede básica de Porto Alegre; identificar Nacional de Saúde.
as unidades que incluem atividades de grupo no As informações geradas foram coletadas en-
processo de trabalho e em que circunstâncias há tre julho e outubro de 2005, por meio de um
implantação dessas práticas; refletir sobre as prá- formulário composto de questões abertas e fe-
ticas adotadas nesses serviços e as abordagens chadas. As entrevistas foram marcadas por tele-
metodológicas que as embasam e analisar aspec- fone e procurou-se traçar um roteiro de visitas
tos relativos à incorporação dessas práticas na em que se poderia abordar as unidades perten-
reconfiguração da proposta assistencial na aten- centes ao entorno das que já haviam sido confir-
ção básica à saúde do município de Porto Alegre. madas, mas que não haviam sido contatadas
previamente. Assim, foi possível otimizar o tem-
po e acessar mais rapidamente a totalidade de
Metodologia unidades alvo do estudo.
As informações geradas a partir dos dados
Com o objetivo de explorar para conhecer a or- demográficos e quantitativos foram apresenta-
ganização das atividades de grupo nos seus locais das sob a forma descritiva através de frequência
de implantação, utilizaram-se métodos e técnicas simples e percentuais em tabelas e gráficos. Do
de estudo que contemplaram amplamente as nu- total de entrevistas, 22 foram gravadas e trans-
ances intervenientes neste tipo de investigação. critas, procurando-se contemplar profissionais
Portanto, a configuração é a de um estudo explo- de diferentes áreas.
ratório que descreve e analisa o objeto em suas
dimensões quantiqualitativas, no sentido de in-
vestigar seu perfil e, principalmente, as formas de Resultados
compreensão estabelecidas pelos atores respon-
sáveis pela implementação das atividades de gru- O perfil dos serviços e dos trabalhadores
po. A abordagem quantitativa forneceu indícios
numéricos, servindo como suporte para as refle- Nas diretrizes da lei pela qual é regulamenta-
xões sobre o perfil dessa atividade assistencial, da a Saúde no Brasil – Sistema Único de Saúde
constituindo-se de dados como distribuição, di- (SUS) – encontra-se, em uma de suas instâncias,
versidade da clientela atendida, de trabalhadores a operacionalização do sistema de saúde de for-
envolvidos e heterogeneidade das práticas. ma regionalizada e hierarquizada, buscando,
O campo de estudo foi composto pelas 124 com isso, uma descentralização político-admi-
unidades básicas de saúde de Porto Alegre, até nistrativa no que se refere a esse sistema6. Nesse
então, em funcionamento. As características va- âmbito, a atenção básica representa o principal
riam conforme a tipologia das unidades, com a meio pelo qual a população em geral acessa o
vigência do Programa de Saúde da Família até sistema de saúde, sendo composta por unidades
Centros de Saúde, onde se dá, entre outros aten- básicas de saúde. Essas são espaços alocados de
dimentos, a realização de procedimentos cirúr- maneira a cobrir todo o território de uma esfera
gicos de menor complexidade. política municipal, conforme os conceitos da des-
Como sujeitos participantes, teve-se a con- centralização/municipalização da saúde ocorri-
tribuição de 116 profissionais de diferentes áreas da nos anos noventa no Brasil7.
da saúde, correspondendo a um profissional en- Nessa perspectiva, o que se contatou foram
trevistado por serviço. A inclusão dos mesmos serviços de saúde que se apresentavam organiza-
como participantes obedecia ao critério de atua- dos territorialmente, de modo a cobrir toda a
rem nas atividades de grupo e de conhecerem a área do município e atender os usuários por meio
sistemática desse atendimento. A todos foi apre- do critério da adscrição, o que confere o acesso
sentado um termo de consentimento informa- restringido conforme local de moradia. Também,
do, o qual seria assinado, momento em que se como se poderia inferir, a tendência é a oferta de
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unidades de pequeno porte e com atendimentos sendo, inicialmente, classificado como tratamento
de menor complexidade. A Estratégia de Saúde ou instrução em massa, aula e terapia coletiva10.
da Família aparece de maneira substancial, cor- Associando-os à realidade encontrada nos
roborando a ideologia governamental de estra- serviços de saúde, o movimento dessa modalida-
tégia para reorganização da atenção básica no de de tratamento expandiu e tende a prosperar
Brasil, de acordo com a legislação do SUS8. para além do atendimento de pacientes psiquiá-
A distribuição das equipes varia, principal- tricos, internados e não internados, no setor pú-
mente, conforme o tipo de atendimento oferta- blico e privado. A relevância também está na as-
do. Verificou-se a tendência da organização do sistência a doentes de diversas condições de saú-
trabalho de maneira multidisciplinar, tanto nas de, atendidos em âmbito ambulatorial ou hospi-
equipes ditas básicas, compostas de enfermeiras, talar, assim como à população em geral, assistida
médicos, auxiliares de enfermagem e agentes co- por organizações comunitárias de autoajuda10.
munitários de saúde (ACS), como nas equipes Avançando nessa análise, é válido resgatar
“especializadas”, compostas também por médi- duas classificações gerais, encontradas em litera-
cos especialistas, cirurgiões-dentistas (e assisten- tura específica: grupos operativos e grupos psico-
tes de nível médio), nutricionistas, psicólogos, terápicos. Nesse caso, a técnica de grupo operati-
assistentes sociais e terapeutas ocupacionais. vo centraliza-se em uma tarefa proposta em nível
consciente, ou seja, “somente nas situações em
As atividades de grupo: modos e usos que fatores inconscientes inter-relacionais amea-
çarem a integração ou evolução exitosa do grupo,
Ao acessar essas unidades, um ponto con- é que caberão eventuais intervenções de ordem
troverso da abordagem foi a denominação a ser interpretativa”. Quanto às finalidades, esse tipo
utilizada para explanar o que seriam esses gru- de grupo cobre quatro diferentes campos de atu-
pos, já que tratava justamente desse tipo de aten- ação que podem, por vezes, interpor suas carac-
dimento. terísticas: ensino-aprendizagem (treinamento, re-
No panorama da saúde, pode-se dizer que a flexão); institucionais (escolas, associações de clas-
composição atual das estratégias de grupos, uti- se, sindicatos, igrejas); comunitários (grupos de
lizadas pelos serviços de saúde, foi influenciada gestantes, crianças, pais, líderes comunitários) e
por intervenções psicoterapêuticas grupais, a terapêuticos (situações patológicas orgânicas)11.
partir dos anos vinte. Há registros dessa modali- Os grupos operativos contribuem com um
dade assistencial em literatura científica, ultra- importante aporte conceitual teórico, a partir das
passando cem anos atrás, podendo-se identifi- ideias do seu maior mentor - Enrique Pichón-
car alguns marcos importantes, como o surgi- Rivière. Esse psicanalista argentino elaborou um
mento de organizações que se tornaram muito conceito de grupo a partir de suas observações
conhecidas com o uso de técnicas grupais, dentre com pacientes hospitalizados. Nesse contexto,
elas, a dos “Alcoólicos Anônimos”, iniciando sua identificou as características do processo grupal,
atuação a partir de 1935. Desde então, a maioria delimitando três momentos da tarefa ou do ob-
das publicações científicas sobre grupos advém jetivo grupal: a pré-tarefa, a tarefa e o projeto
desse período e reúne uma série de estudiosos, são momentos que se apresentam em uma su-
em grande parte psicanalistas, como Jacob L. cessão evolutiva e sua aparição e interjogo cons-
Moreno, Kurt Lewin (psicólogo), Foulkes, Pi- tante podem situar-se diante de cada situação ou
chón-Rivière e Bion9. tarefa que envolva modificações no sujeito12.
Estudando a evolução histórica quanto ao Outras concepções indicam ainda que o gru-
surgimento dos grupos psicoterápicos, afirma- po é construído em meio a um movimento que
se que “diversas técnicas desta modalidade de tra- vai da serialidade à grupalidade. Na serialidade
tamento têm sido desenvolvidas para atendimen- (série de pessoas), há objetivos em comum; po-
to de populações específicas de pacientes, com as rém, cada um está centrado em suas próprias
mais diversas condições médicas e psicossoci- necessidades. Avança-se para a grupalidade, quan-
ais”10. Joseph H. Pratt e Jacob Levy Moreno, ten- do as necessidades tornam-se comuns a todos e
do como foco a psiquiatria, foram os precurso- as pessoas se articulam para concretizar esses
res da psicoterapia de grupo, tendo se dedicado objetivos. Os autores referem ainda que essa pas-
aos estudos e participado do enriquecimento sagem ocorre em torno da noção de “tarefa” (res-
dessas técnicas. O crescimento do emprego desse gatada dos conceitos de Pichón-Rivière); o grupo
método em psiquiatria decorreu na década de desenvolve em conjunto e implica vínculos de in-
vinte, particularmente em pacientes internados, tensa reciprocidade entre seus integrantes13.
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Perpassando esses pressupostos, considera- nominações particulares que expressassem essa
se que o uso da expressão grupos é carregado de participação. Dessa forma, como já menciona-
um aporte teórico que deve ser levado em consi- do, em muitos dos serviços onde eram realiza-
deração quando da sua menção nas ações tera- das atividades de grupo, constava a participação
pêuticas. Portanto, no âmbito desta pesquisa, um de equipes multiprofissionais. Poder-se-ia depre-
dado esboçava-se interessante para uma análise ender que todos os trabalhadores de saúde do
inicial: qual a denominação que os profissionais serviço em questão atuariam junto aos grupos.
de saúde utilizam ao se referir a essas atividades? Contudo, cabe ressaltar, para fins de sistemati-
Prontamente, 98% mencionaram que se tratava zação, que ao serem consideradas as falas dos
de grupos. Somente em dois locais foram menci- participantes, explorou-se quem participaria nes-
onadas nomenclaturas diferentes, sendo consi- ta categoria de classificação. Assim, equipe mul-
deradas oficinas e encontros. Contudo, é comum tiprofissional designa todos ou a maioria dos
a menção de outros termos para se referir a essas profissionais de saúde do serviço, atuando nos
atividades, como consulta coletiva, aulas, pales- grupos, direta ou indiretamente, incluindo os
tras, cursos, o que denota, de certa forma, suas profissionais de nível médio e os agentes comu-
diversas finalidades. nitários de saúde.
Independentemente da nomenclatura, o que Identificaram-se especificidades quanto à
se pôde constatar é que essa sistemática de aten- questão da coordenação das atividades, princi-
dimento é largamente utilizada pelas unidades palmente no que se refere à organização do tra-
de saúde. Das 124 unidades que compõem a rede balho e às competências profissionais, como está
de atenção básica de Porto Alegre, 116 foram alvo sendo explicitado nesta fala: “Toda a equipe de
desta pesquisa e constatou-se a existência de ati- saúde participa, mas tem um coordenador, né. Por
vidades dessa natureza em 96 unidades, o que exemplo, no grupo de hipertensos, quando tem que
corresponde a 83% do total de unidades pesqui- falar de saúde da mulher, então se convida um pro-
sadas. Outra constatação é que não houve dis- fissional mais próximo da saúde da mulher, daí
tinção significativa quanto à realização de ativi- (neste mesmo grupo) a gente sempre faz um en-
dades de grupo nos serviços componentes da contro sobre saúde bucal, daí a gente chama o pes-
rede, podendo-se observar que eram atividades soal da odonto e aí a gente faz com essa composi-
presentes em diferentes arranjos institucionais. ção, mas sempre tem um profissional que coorde-
Em relação aos profissionais que atuavam com na.” (E-1)
os grupos, a informação referida era de que mui- Quanto à participação dos ACS, consideran-
tos já haviam tido algum tempo de experiência do que esse trabalhador foi integrado recente-
em áreas fechadas de assistência, como em hospi- mente às equipes de saúde com o advento da
tais. Isso remete a pensar como acontece a adequa- Estratégia de Saúde da Família, são necessários
ção/qualificação para se envolverem com os dife- alguns esclarecimentos. Para fins de contratação,
rentes processos e práticas na saúde coletiva. Tor- a esses trabalhadores não foram feitas exigências
na-se interessante, então, tentar entender como quanto à formação específica na área da saúde,
esses profissionais se organizam para esse traba- mas sim de serem moradores da área adscrita da
lho, em função das suas condutas particulares, unidade, além de outros requisitos mínimos.
dos processos e relações de trabalho. Um dos acha- Mesmo assim, pôde-se encontrar, em uma uni-
dos desta pesquisa refere-se novamente à discus- dade, ACS atuantes nas atividades de grupo sem
são sobre a organização multidisciplinar da assis- apoio de outros profissionais. O que habitual-
tência, na medida em que quase 50% dos entre- mente acontece, pode ser evidenciado na fala que
vistados referiram o desenvolvimento de ativida- segue: “O responsável por todos os grupos é a dou-
des de grupo com participação multiprofissional. tora. [P: e quem são as pessoas que estão sempre
No entanto, se fazia necessário o questiona- presentes?] . É os agentes comunitários de saúde.
mento sobre quais profissionais eram coorde- Somos nós que formulamos, buscamos todas as in-
nadores ou responsáveis pelas atividades de gru- formações pra esse grupo, do hipertenso, geralmente
po nas unidades pesquisadas. Diante da variabi- é sempre a doutora que faz a palestra, que é mais
lidade de respostas e das incertezas dos entrevis- ligado à área dela. A enfermeira participa do de
tados sobre o que poderia corresponder a uma gestante e nem sempre ela pode participar, fica um
coordenação dessas atividades, resolveu-se ques- tempo e sai.” (E-2)
tionar qual o envolvimento dos profissionais de Fica clara a condição de poder-saber, legiti-
saúde e sua definição como coordenadores, pa- mada, muitas vezes, pela hierarquia existente en-
lestrantes, idealizadores, ajudantes ou outras de- tre os profissionais de nível superior, confirman-
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do sua autoridade no que se refere às condutas forma de inserção dos mesmos na rotina dos
assistenciais. Porém, ao se tratar de atividades de serviços. Emerge, em primeiro lugar, a discussão
grupo, aos ACS é concedida a responsabilidade dos grupos como uma tática das unidades para
de “fazê-las”, quando as outras demandas do tra- atender coletivamente às demandas individuais
balho técnico – consultorias individuais, traba- de saúde; porém, isso pode estar velado ou, ao
lhos burocráticos – ocupam, indispensavelmen- contrário, pode ser constatado explicitamente,
te, esse tempo. como acontece, nestas falas: “Agora que eu come-
Outra face do trabalho, das diferentes cate- cei a coordenar, eu inverti um pouco. Antes eles
gorias profissionais, aponta para um juízo de obrigavam as pessoas a ficarem até o final do grupo
valor que é dado a determinadas práticas em saú- e faziam a distribuição da medicação, renovação
de em detrimento de outras. Nesse caso, os gru- das receitas e viam os exames. Agora é feito o con-
pos são considerados atividades secundárias, trário, pra não ter esse caráter obrigatório, as pes-
proporcionalmente sem importância diante das soas que não querem ficar, elas não ficam, porque a
ações individuais ou burocráticas dos serviços. A gente faz primeiro a verificação de sinais e a distri-
lógica que se impõe é a de um sistema atrelado às buição da medicação”. (E 3)
ações curativas, à atenção individualizada e frag- “Sim, os grupos de diabéticos e hipertensos, a
mentada aos usuários e ao enfoque direcionado gente verifica a glicose a TA (tensão arterial). Aí,
para a doença. tu acaba discutindo no grupo também e isso é um
Essas distorções quanto aos papeis exercidos incentivo pra eles, eles ficam se controlando entre
por coordenadores e/ou executores dos grupos eles. Todos têm que estar bem controlados no dia
remete a pensar sobre a capacitação do profissi- do grupo”. (E 4)
onal para efetivar o trabalho grupal. Assim, os A primeira fala demonstra a preocupação do
entrevistados foram questionados se já haviam profissional em dissociar das atividades de gru-
participado de algum curso de capacitação e/ou po as condutas assistenciais individuais, preten-
treinamento para o trabalho com grupos. Como dendo, com isso, valorizar as particularidades
resultado, 50% citaram essas atividades realiza- do encontro em si – as orientações, esclarecimen-
das tanto por iniciativas individuais como insti- tos de dúvidas, troca de experiências, entre ou-
tucionais. Deste percentual, observa-se que mui- tros. Essa preocupação foi verificada nas falas
tas dessas capacitações (67,5%) tiveram como de outros entrevistados, podendo-se inferir que
foco temáticas específicas. Isso acontece com vá- o entendimento dos grupos, para alguns profis-
rios tipos de demandas, podendo-se salientar as sionais, é de que os mesmos constituem uma fer-
com foco no atendimento ao tabagismo ou no ramenta de trabalho à parte dos outros tipos de
planejamento familiar, sendo que, dentre esses atendimentos. Entretanto, mesmo que os parti-
assuntos, o curso de capacitação referido desen- cipantes optem por não permanecer nas reuni-
volvia técnicas grupais como meio de implemen- ões, o fato de marcarem os encontros associa-
tar ações programáticas nas diferentes institui- dos à distribuição da medicação serve à unidade
ções a que pertencessem os capacitandos. Em de saúde para atender coletivamente à demanda
outros exemplos relativos à capacitação, os en- para o recebimento de medicações e realização
trevistados mencionaram cursos de formação de procedimentos (sinais vitais).
geral que tratavam da temática de grupo, como A fala subsequente demonstra a valorização
cursos de especialização, residência em saúde, das atividades de grupo como ocasiões a serem
graduação, eventos científicos e, menos preva- aproveitadas de duas maneiras: verificação de
lentes, cursos de capacitação profissional para sinais e explanação sobre o significado dos mes-
atuação em grupos operativos, concernentes à mos aos participantes. A intenção, nesse caso, é
metodologia de Enrique Pichón-Rivière. incutir a percepção da estabilidade sintomatoló-
A atividade grupal atrelada à conformação gica no comportamento dos participantes e, con-
programática da saúde pôde também ser eviden- sequentemente, perpetuar esse aspecto ao longo
ciada em um dos achados de pesquisa. Inseridas dos encontros, fazendo com que todos estejam
em programas de saúde, as demandas tem o aces- sempre “controlados” quanto aos sintomas das
so mais facilmente garantido a determinados doenças que os afetam.
procedimentos, condutas e até mesmo a medica- A questão dos atendimentos coletivos de de-
mentos. Foi constatado que aproximadamente mandas individuais, em se tratando da prática de
85% das unidades pesquisadas combinavam os grupos, foi uma constatação preponderante neste
grupos a outras condutas assistenciais. Isso de- estudo. Portanto, a indagação pertinente a se fazer
flagra algumas reflexões sobre a conveniência e a é de quais demandas individuais está se falando?
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Seria importante situar para quais finalida- desprovidos de qualquer regularidade, ou seja,
des ou para qual população as atividades de gru- são dependentes dos microambientes, da postu-
po são dirigidas. Eis que, preferentemente, as ra e das relações profissionais e gerenciais/gesto-
demandas incluídas em programas de saúde são ras. Considera-se que, dentre esses elementos, o
alvo particular para o planejamento e implemen- posicionamento profissional tem decisiva in-
tação dessas ações. fluência. Os espaços físicos podem ser desfavo-
Nesse sentido, nas 96 unidades em que se cons- recedores, mas o empenho de determinados tra-
tatou a realização de atividades de grupo, soma- balhadores, mesmo em condições impróprias,
ram-se, ao todo, 387 dessas atividades distribu- tenta fixar na rotina assistencial as atividades de
ídas entre as mesmas. Ou seja, cada uma realiza, grupo, tornando-as legítimas e uma atividade
em média, 4,03 atividades dessa natureza com digna de atenção por parte da equipe, da comu-
diferentes enfoques. No que tange aos objetivos nidade e da esfera organizacional.
ou populações-alvo, pôde-se constatar que ati- Por isso, cabia o seguinte questionamento aos
vidades de grupo, no âmbito das unidades bási- entrevistados: “Porque se realiza esse tipo de ati-
cas de saúde de Porto Alegre, têm uma clara men- vidade no serviço?” Em um primeiro momento,
ção às práticas programáticas oficiais. As mes- pretendia-se não considerar as justificativas pes-
mas são instituídas pelos níveis centrais de ges- soais dos entrevistados, mas isso foi ocorrendo
tão a fim de organizar o atendimento à popula- naturalmente, o que remeteu a uma certa res-
ção, condicionadas pela situação de risco presen- ponsabilização dos mesmos sobre as atividades.
te em determinadas frações populacionais (ges- Sendo assim, pode-se identificar, a partir das res-
tantes, crianças) ou, especificamente, a determi- postas, que tais abordagens inscrevem-se “empi-
nadas condições patológicas (tuberculose, asma, ricamente” na reconfiguração da proposta assis-
hipertensão, diabetes). tencial em atenção básica à saúde.
De fato, as atividades de grupo entraram no No entendimento dos entrevistados, a partir
esquema ritualístico da rotina dos serviços. Exis- do pouco que se mencionou acerca da manipu-
te uma necessidade dos mesmos trabalharem lação de demandas, pode-se concluir que, ao
com a previsibilidade das circunstâncias e, por menos na consciência desses trabalhadores, os
isso, até mesmo ações inovadoras acabam sendo grupos são instrumentos educativos, reconhe-
influenciadas por essa antecipação, praticando, cendo neles o papel terapêutico potencial e de
por exemplo, o esquema de atendimento de pa- educação em saúde. Assim sendo, houve signifi-
cientes hipertensos em grupos, onde se distribui cativa referência à motivação do próprio profis-
a medicação e se verifica a pressão. Nesse caso, o sional ou da equipe como justificativa para a
objeto das atividades não é o usuário e sim a implementação dos grupos nos seus locais de
doença, que se centra na racionalidade das ações trabalho. Outra referência, nesse sentido, foi
e no conhecimento científico dos profissionais quanto à valorização da equipe de saúde por
de saúde. Estabelecer “como objeto do trabalho parte da população, que remete à otimização do
em saúde o usuário, significa conceber os aspec- vínculo da mesma ao serviço. Esses aspectos ins-
tos subjetivos, e não somente os objetivos, que o crevem-se nas falas destas duas enfermeiras: “Eu
caracterizam como sujeito social portador de acho que tem muito a ver com as pessoas que tra-
aspirações, desejos e histórias de vida”14. Toman- balham aqui dentro. A gente entende que o grupo é
do essas noções como referenciais, tem-se um a solução para muitos problemas, mas tem muito a
componente aliado para que se possa compre- ver com essa unidade, com o profissional mesmo.
ender melhor a complexidade dos sujeitos e dos Todas as pessoas envolvidas com o grupo acredi-
coletivos aos quais são dirigidas as intervenções tam no atendimento em grupo”. (E 5)
profissionais15. “Eu, como enfermeira, sou a que mais puxo
essa atividade. Se dependesse de outros técnicos, eu
Os grupos como espaços assistenciais: não sei se isso teria permanecido. Eu acho que o
razões e reações dos atores perfil do enfermeiro tem essa característica”. (E 6)
A questão da valorização da equipe refere-se à
Os espaços assistenciais gerados pela pers- possibilidade da população, inserida ativamente no
pectiva do trabalho com essas atividades podem processo assistencial, passar a valorizar esse mo-
ser tanto mais responsivos quanto mais promo- mento, internalizar o que está sendo discutido, as-
toras forem as condições que norteiam sua im- similar as orientações e ser multiplicadora desses
plementação. Tais aspectos, pelo que foi possível conhecimentos. Em um ambiente em que o profis-
inferir a partir dos dados desta pesquisa, são sional de saúde senta-se ao seu lado, ouve suas
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Maffacciolli R, Lopes MJM

dificuldades e constrói junto soluções simples para tipo de procedimento se faz presente no cenário
os seus problemas, as relações se horizontalizam e proposto como foco deste estudo.
a equipe de saúde é vista como parceira. Em relação ao perfil dos serviços em que as
Essas noções corroboram o princípio político atividades de grupo estão acontecendo, é repre-
ideológico da integralidade do cuidado, que é evi- sentativo o número de Unidades de Saúde da
denciado em vários níveis de discussões e das prá- Família. Isso remete aos esforços das políticas
ticas na área de saúde e alicerçado em um novo públicas em saúde para reorientar o modelo as-
paradigma, no qual se está preparado para ouvir, sistencial e demonstra que há manifestação clara
entender e, a partir daí, atender às demandas e para deflagrar tal reorientação. Ainda que haja
necessidades das pessoas, grupos e coletividades16. críticas em relação a esse formato operacional da
A referência ao papel do enfermeiro nas ati- assistência básica de saúde, trata-se de uma for-
vidades de grupo faz resgatar algumas conside- ma de aproximar e horizontalizar as práticas de
rações que evidenciam a estreita relação da atua- saúde e os seus trabalhadores da população. Iden-
ção desse profissional com a educação em saúde. tificam-se tais intenções com os potenciais resul-
Para alguns autores, o enfermeiro é um educa- tados das atividades de grupo nesse âmbito.
dor por excelência e sua função na promoção de Um outro aspecto que indica essas mudan-
saúde e na prevenção de doenças é essencial17. ças corresponde aos ajustes no processo de tra-
Outros ainda reconhecem o potencial do profis- balho em saúde, de maneira que vem se consti-
sional enfermeiro como coordenador de ativi- tuindo inter ou, mais comumente, multidiscipli-
dades de grupo e destacam as exigências meto- narmente. Condizente com essas tendências, os
dológicas desses profissionais competentes para profissionais envolvidos com as atividades de
esse tipo de abordagem18,19. grupo se organizam para exercer essa atividade
Em suma, as práticas do profissional de saú- também de maneira inter/multidisciplinar. Ou
de e da equipe que ele molda e pela qual é molda- seja, a predominância, neste estudo, foi de que
do determinam diferentes formas de visualizar todos, ou a maioria dos integrantes das equipes
as atividades de grupo e exercer esse tipo de as- de saúde, desenvolviam as atividades de grupo
sistência. Permitir a participação popular é tam- conjuntamente ou como coordenadores locais.
bém uma forma de reorientar a proposta assis- A partir desses achados e do fato de que 83%
tencial, na medida em que reconduz a globalida- das unidades pesquisadas praticavam atividades
de das práticas ali exercidas, contribuindo para a de grupo, poder-se-ia dimensionar o potencial
superação do biologicismo, autoritarismo do desse tipo de assistência no contexto analisado.
doutor, desprezo pelas iniciativas dos usuários do Alguns dados, contudo, acrescentam questiona-
sistema de saúde e enquadramento com soluções mentos quanto à utilidade expressa pelos servi-
técnicas limitadas para problemas sociais globais20. ços e quanto à efetividade no que se refere ao
caráter terapêutico. Tinha-se uma ideia prévia de
que as atividades de grupo poderiam represen-
Considerações finais tar uma forma dos serviços para manejar a clien-
tela excedente. Ou ainda, que essas práticas fos-
Chega-se ao final das análises com a consciência sem deliberadas para determinados atendimen-
do quão é relevante analisar determinados deli- tos em saúde. Isso pôde ser visualizado no caso
neamentos da prática assistencial de modo que das atividades atreladas a outras que compreen-
possam ser entendidos e ressignificados. diam, por exemplo, medida de sinais vitais, en-
Desse modo, tentou-se responder a uma per- trega de medicações, avaliações individuais de
gunta, que, devido à prática não problematiza- saúde. Sabe-se que, por si só, não se tem elemen-
da, não suscitava interesse para que fosse afinal tos subsidiários para julgar negativamente essas
desvelada: em que consistem as atividades de gru- práticas. O que se sabe é que, diante do cenário
po na prática assistencial da rede básica de saú- que se apresenta e que se quer transformar, a
de? Ou melhor, em que consiste um dado proce- chance de implantar atividades ditas de educa-
dimento, no qual o atendimento se processa por ção em saúde com pretensões à modificação dos
meio de um coletivo de pessoas reunidas, em um modelos assistenciais é discutível.
mesmo espaço de tempo e local, sob a responsa- O próprio fato de haver a adoção significati-
bilidade de um profissional, ou trabalhador de va dessas atividades por parte dos serviços e dos
saúde? Essa pergunta necessitava ser respondida profissionais ali atuantes já pode ser estimado
de maneira sistematizada, pois a casuística desse como um acontecimento renovador da tipicida-
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Ciência & Saúde Coletiva, 16(Supl. 1):973-982, 2011


de dos atos. Outros argumentos estão nas pala-
vras dos entrevistados, os quais manifestaram
interesse em promover e arranjar operacional-
mente as disposições necessárias nos seus locais
de trabalho para desenvolver atividades de gru-
po. Somam-se outras manifestações que reme-
tem à questão da conveniência das atividades de
grupo como momentos de excelência para exer-
cer educação em saúde. Considera-se que é dessa
forma que se reflete, também, um outro foco de
atenção, o que privilegia a promoção, a terapêu-
tica, considerando os aspectos comunicacionais
e relacionais (plural), que dão chances para o
paciente se manifestar, explicitar suas vontades e
intercambiar soluções que considera apropria-
das conforme o seu próprio entendimento.
Dessa forma, a educação em saúde aparece
como um direcionamento para consubstanciar
a prática assistencial e a promoção da saúde. Esta
pesquisa constatou que os grupos podem ser
oportunos para o esclarecimento de informa-
ções sobre as doenças, para a troca de conheci-
mentos e experiências. A terapêutica é executada
por meios não intervencionais e refere-se ao au-
tocuidado e à proposta preventiva em relação às
situações e agravos à saúde. Articulam-se o am-
biente educativo proveniente do saber técnico e a
informalidade do saber popular e tem-se em fun-
cionamento atividades que reelaboram as rela-
ções de trabalho, relação paciente-terapeuta e,
com isso, reorientam, mesmo que pontualmen-
te, o modelo assistencial vigente em saúde.

Colaboradores

R Maffacciolli contribuiu para a produção dos


dados contidos no artigo e na elaboração do tex-
to. MJM Lopes contribuiu para a redação, orien-
tação e revisão final do texto.
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Maffacciolli R, Lopes MJM

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