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Editar Livros Sonho de Livreiros Os Zaha
Editar Livros Sonho de Livreiros Os Zaha
Rio de Janeiro
2018
Fabiano Cataldo de Azevedo
Rio de Janeiro
2018
CATALOGAÇÃO NA FONTE
UERJ / REDE SIRIUS / BIBLIOTECA CCS/A
CDU 002(81)(091)”1940/1970”
Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta tese,
desde que citada a fonte.
___________________________ _________________________
Assinatura Data
Fabiano Cataldo de Azevedo
_________________________________________
Prof. Dr. Thomás Augusto Santoro Haddad
Universidade de São Paulo
_________________________________________
Prof. Dr. Ítalo Moriconi
Instituto de Letras – UERJ
_________________________________________
Profa. Dra. Sandra Lucia Amaral de Assis Reimão
Universidade de São Paulo
_________________________________________
Prof. Dr. Aníbal Bragança
Universidade Federal Fluminense
_________________________________________
Profa. Dra. Lucia Maria Paschoal Guimarães (Suplente)
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas – UERJ
_________________________________________
Profa. Dra Ana Elisa Ferreira Ribeiro (Suplente)
Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais
Rio de Janeiro
2018
DEDICATÓRIA
Na vida acadêmica uma tese de doutorado fecha um importante ciclo de formação. Por
isso, acredito que se tivesse que listar todos que me ajudaram chegar até aqui preencheria um
outro volume com igual número de páginas que este que aqui apresento.
Desde 2013 quando comecei a esboçar o projeto de pesquisa contei com ajudas
valiosas, portanto são quase cinco anos de muito trabalho. Quanta coisa aconteceu ao longo
deste período. Quantos fatos passam por minha cabeça neste momento. Parece que é a parte
mais difícil... meu coração palpita forte. Muita emoção. Aqui não estão apenas o resultado de
anos de investigação, mas uma parte intensa e forte da minha vida.
A Deus! O Xangô! A São Bento! A Oxum!
Assim, gostaria de começar por agradecer a minha família, meus pais, João Carlos
Barros de Azevedo e Sonia Maria Cataldo de Azevedo, meus irmãos, Fabrício Cataldo de
Azevedo, Rodrigo Cataldo de Azevedo e João Carlos Barros de Azevedo, sobrinhos João
Pedro Sizino Cataldo de Azevedo, Eric Pereira de Azevedo e Lara Carmona Cavalcante de
Azevedo, minhas cunhadas Andreia Pereira e Raquel Calvante. Minha madrinha e tia Sheila
Cataldo Moraes, praticamente mestre do meu barco. Minhas tias Dayse e Marta Cataldo pelo
apoio e carinho. Não posso deixar de expressar um agradecimento especial a minha querida
avó Anri Ribeiro Cataldo (in memorian) para quem contei de primeira mão a aprovação no
doutorado. Foi minha inspiração para tornar-me leitor e sempre me apoiou e festejou minhas
vitórias profissionais. Ah vó, como queria que a senhora estivesse neste momento... pelo
menos fisicamente, pois espiritualmente não tenho dúvidas!
Aos meus amigos que pacientemente souberam respeitar e entender minhas ausências
e em vários momentos ouviram com toda generosidade minhas inúmeras angústias e medos.
Amigos que colaboraram de vários modos e em diferentes ocasiões. Citar seus nomes não é só
agradecer, mas um registro formal neste documento tão importante na minha trajetória:
Helena Cardoso, Simone Mesquita, Ozana Hannesch, Lúcia Lino, Eloísa Helena, Maria
Celina, Heloísa Gesteira, Marta Almeida, Moema Vergara, Alda Heizer, Filomena Chiaradia,
Rosa Zamith, Rosângela Soares, Joelma Neri, Cristina Flores (Xuxuzinha), Fabiana Fontana,
Maria Lúcia Beffa, Luciana Napoelone, Brenda Rocco (Abelinha), Sheila Hue, Marcelia
Castro, Raquel Rodrigues, Rita Iabrudi, Ana Paula Correa, Maria Luísa Soares, Elisabeth
Monteiro, Bárbara Alessandra, Márcia Valéria, Rosangela Von Held, Elisangela Silva da
Costa, Maria Cláudia Santiago, Kátia Marina (Phoenix), Patrícia Quaresma, Adriana Ornelas,
Fabiana Vilar, Manoel Thomas, Richard Romancini, Durval Vieira, Stergios Kaprinis, e
Arcênio Filho.
A Deniz Costa por sua serenidade, força e apoio sempre!
As minhas orientadoras na Graduação em Biblioteconomia e no Mestrado em
Memória Sociais, ambos na UNIRIO, as Professoras Simone da Rocha Weitzel e Carmen
Irene Oliveira. Vocês são parte fundamental na minha formação como pesquisador. Obrigado.
Aos colegas do Departamento de Biblioteconomia da UNIRIO, os Professores Nanci
Odone, Gustavo Saldanha, Eduardo Alentejo, Danielle Achilles, Ana Virginia Pinheiro e
Marcos Miranda. Nossa querida Iraci Cândida!
Agradeço aos meus alunos do curso de Biblioteconomia da UNIRIO que me ensinam
a cada dia o meu ofício.
Agradeço as Professoras Lucia Maria Paschoal Guimarães, Lúcia Maria Bastos Pereira
das Neves e Laura Moutinho Nery cujas aulas foram inspiração para meu texto, mas
sobretudo para minha atividade como docente em ensino superior.
Agradeço com respeito, apreço e admiração minha orientadora Professora Tânia Maria
Tavares Bessone da Cruz Ferreira pela confiança, por suas palavras e incentivo e apoio. Meu
inestimável, sincero e incalculável agradecimento ao meu co-orientador Professor Thomás
Augusto Santoro Haddad. A ambos, muito obrigado.
Aos membros da banca que avaliarão este trabalho, os presentes e os suplentes. É um
privilégio poder escolhê-lo não apenas por seus reconhecidos méritos na área que se dedicam,
mas também por admirá-los e respeitá-los como pesquisadores e professores. Gratidão.
Agradeço às minhas orientadoras honorárias/conselheiras/mestras que enxugaram
lágrimas e contribuíram com leituras cuidadosas da minha tese em diferentes momentos. A
generosidade de vocês é incomensurável!! É uma alegria e uma honra mencioná-las: Stefanie
Cavalcanti Freire (minha irmã, você me permitiu chorar e ser fraco), Angélica Ricci (você foi
mais que um guia! Quantas angústias comungamos), Alícia Duhá Lose (suas palavras foram
um bálsamo na reta final) e Walmira Costa (devo a você o capítulo dois!). Este trabalho teria
sido bem difícil sem vocês. Agradeço pela presença constante!
Agradeço o apoio de Ana Cristina Zahar, Marianna Zahar, Clarice Zahar (meu
primeiro contato com a editora. Parabéns pela bela história que fazem parte. Continuem a
editar, força! Agradeço, sem dúvida (!!!!), aos queridos Jorge, Ernesto e Lucien Zahar,
fundamentais para a história dos livros para uso nos cursos superiores do Brasil!
Agradeço a secretaria do Programa de Pós-Graduação em História da UERJ.
Agradeço às Bibliotecas da UERJ, UFRJ, UFMG, USP, UNICAMP, PUC-RJ, PUC-
SP, Universidade Católica de Petrópolis. E aos Arquivos Público do Estado do Rio de Janeiro
e do Estado de São Paulo. Ao Memorial do Livro Moronguêtá (UFPA). E a Fundação
Biblioteca Nacional, pois sem a qualidade da Hemeroteca Digital Brasileira minha pesquisa
teria sido muito mais complexa.
Agradeço aos meus colegas da pós-graduação que veteranos e contemporâneos me
ajudaram em inúmeras ocasiões, Renata Barbatho, Adriana Gomes e Roni César vocês foram
parceiros demais!
Agradeço, por fim, à Biblioteconomia e à UNIRIO que me ajudaram chegar até aqui.
“[...] A rainha do mar anda de mãos dadas comigo,
Me ensina o baile das ondas e canta, canta, canta pra mim.
É do ouro de Oxum que é feita a armadura que cobre meu corpo,
Garante meu sangue, minha garganta.
O veneno do mal não acha passagem.
E em meu coração Maria acende sua luz e me aponta o Caminho.
Me sumo no vento, cavalgo no raio de Iansã, giro o mundo, viro, reviro.
Tô no recôncavo, tô em Fez.
Voo entre as estrelas, brinco de ser uma, traço o cruzeiro do sul com a tocha da fogueira de
João menino, rezo com as três Marias, vou além, me recolho no esplendor das nebulosas,
descanso nos vales, montanhas, durmo na forja de Ogum, mergulho no calor da lava dos
vulcões, corpo vivo de Xangô.[...]
O terço de Fátima e o cordão de Gandhi, cruzam o meu peito.
Sou como a haste fina, que qualquer brisa verga, nenhuma espada corta”
(Maria Bethânia, ‘Cartas de Amor’).
RESUMO
AZEVEDO, Fabiano Cataldo de. Editar livros, sonho de livreiros: os Zahar e o livro no
Brasil (1940-1970), 2018. 401 f. Tese (Doutorado em História) - Instituto de Filosofia e
Ciências Humanas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2018.
Palavras-chave: História do livro no Brasil. Livros para o ensino superior. Editora. Livraria.
Edição. Tradução. Zahar Editores. Livrarias Editoras Reunidas.
ABSTRACT
AZEVEDO, Fabiano Cataldo de. Publishing, a bookseller's dream: the Zahar and the book in
Brazil (1940-1970). 2018. 401 f. Tese (Doutorado em História) - Instituto de Filosofia e
Ciências Humanas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2018.
The hypothesis of this thesis was that the Zahar brothers evolved as editors thanks to their
experience at Livrarias Editoras Reunidas (LER). To this end, the objective was to understand
the formation of a specialized publishing market for university books in the areas of human
and social sciences between the years of 1940 and 1960. The research also analyzed the
trajectory of the Zahar brothers within the book market of Rio de Janeiro; studied the scenario
of circulation of books for university audiences within the context of the creation of the LER
Bookstore and Zahar Publishers; and problematized the structures and editorial design of
Zahar from 1957 to 1970, thus establishing its trajectory as editor. In order to understand the
history of Zahar Editores, the methodology was structured on two pillars: the analysis of the
newspapers of the time and the reconstruction of the catalog of edited books. Our analysis
evidenced the performances and participation of Zahar in two crucial moments for the book
market: the importation of books and the translation. There was a profitable production of
twentytwo collections that gradually became references in several areas.
AZEVEDO, Fabiano Cataldo de. Éditer des livres, le rêve d'un libraire: le Zahar et le livre au
Brésil (1940-1970), 2018. 401f. Tese (Doutorado em História) - Instituto de Filosofia e
Ciências Humanas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2018.
L'hypothèse de cette thèse était que les frères Zahar se sont développés comme des éditeurs
grâce à l'expérience de Livrarias Editoras Reunidas (LER). A cette fin, il s'est établi comme
objectif de comprendre la formation d'une publication spécialisée de livres universitaires en
sciences humaines et sociales, entre les années 1940-1960. La recherche a également analysé
la trajectoire des frères Zahar au sein du marché des libraires de Rio de Janeiro; étudié le
scénario de circulation des livres pour les publics universitaires dans le cadre de la création de
la librairie LER et des Zahar Editores; et les structures conceptualisées et le projet éditorial
Zahar sur 1957-1970. Afin de comprendre l'histoire de Zahar Editores, la méthodologie a été
structurée sur deux piliers: l'analyse des journaux de l'époque et la reconstruction du catalogue
de livres édités. Notre analyse a mis en évidence les performances et la participation des
Zahar dans deux moments cruciaux pour le livre: l'importation de livres et la traduction. Il y
avait une production rentable de vingt des deux collections qui sont progressivement
devenues des références dans plusieurs domaines.
INTRODUÇÃO............................................................................................. 21
1 O LIVRO E SEU CIRCUITO NO RIO DE JANEIRO: 1930 A 1950...... 29
1.1 O negócio do livro: alguns norteadores teóricos......................................... 31
1.2 O livro: produto e objeto de cultura............................................................ 38
1.3 Panorama do mercado editorial: anos 1930 e 1940.................................... 47
1.4 Mercado editorial: algumas disputas e delimitações de posição............... 59
1.5 A Feira de Livro da Cinelândia.................................................................... 85
2 A LIVRARIA LER: O INÍCIO DOS ZAHAR NO MUNDO DO
LIVRO............................................................................................................ 103
2.1 História das Livrarias: breves apontamentos............................................. 104
2.2 Os Zahar no negócio do livro: alguns antecedentes................................... 117
2.3 Os Zahar no negócio do livro: nasce uma livraria..................................... 129
2.4 A livraria LER: expansão e avanços nos negócios..................................... 146
3 EDITAR LIVROS: SONHO DE LIVREIRO............................................. 165
3.1 O livro importado: forma motriz dos negócios da LER............................ 170
3.2 Zahar Editores: a criação da editora........................................................... 186
3.3 Zahar Editores: as traduções, as Ciências Sociais e as Universidades..... 213
3.3.1 Zahar Editores: um breve preâmbulo sobre as traduções................................ 213
3.3.2 Zahar Editores: a conjuntura das Ciências Sociais.......................................... 217
3.3.3 Zahar Editores: a conjuntura das universidades.............................................. 224
4 ZAHAR EDITORES: TRAJETÓRIA DE UM CATÁLOGO, 1957-
1970................................................................................................................. 240
4.1 Zahar Editores: apontamentos gerais…………………………………… 244
4.1.1 Zahar Editores: direitos autorais e idiomas mais representativos no catálogo 252
4.1.2 Zahar Editores: produção, divulgação e distribuição...................................... 257
4.1.3 Zahar Editores: esboços do seu aparelho crítico e dispositivo material.......... 268
4.2 Zahar Editores: perfil editorial, 1957-1963................................................. 281
4.3 Zahar Editores: perfil editorial, 1964-1970................................................. 298
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................ 324
REFERÊNCIAS............................................................................................ 329
APÊNDICE A - Livros publicados pela Zahar Editores de 1957 a 1970...... 367
APÊNDICE B - Reedições e reimpressões, 1957-1970................................. 393
APÊNDICE C - Livros apreendidos no Arquivo Público do Estado do Rio
de Janeiro......................................................................................................... 397
APÊNDICE D - Auto de exibição e apreensão.............................................. 399
APÊNDICE E - Exemplo do Banco de Dados............................................... 400
PRÓLOGO
Ao Benévolo Leitor foi uma das fórmulas que alguns autores ou tipógrafos
empregaram à guisa de introdução ou prólogo durante longo tempo. Normalmente, escreviam
essas linhas após a jornada que percorriam até que o livro saísse do prelo. Ali podiam
apresentar suas escolhas, justificativas e, claro, suas falhas. E assim, gostaríamos de saudar e
pedir a “benevolência” do leitor deste trabalho que passaremos a apresentar.
Ao começarmos esta tese não tínhamos pleno domínio do contexto das décadas do
século XX pelas quais precisamos transitar. Sem dúvida, este constituiu nosso primeiro
desafio, ao lado do segundo que foi a ausência de um arquivo sobre/da editora Zahar.
Mas, por que escrevemos esta tese? Até 2014 nosso interesse orbitava entre os séculos
XVIII e XIX. Então, por que escrever uma tese dentro de uma temporalidade tão distante da
que vínhamos trabalhando em nossa trajetória como pesquisador? Sem dúvida, o ponto de
convergência é a história do livro no Brasil.
Em nossa atividade docente – que no próximo ano completa uma década – no curso de
Biblioteconomia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), havia uma
inquietação para compreender um pouco melhor o cenário do século XX brasileiro, e com isto
deslindar a produção e circulação do livro neste período. A pergunta que poderíamos também
fazer é: como se processa a escolha do tema da tese de um professor universitário? Em nosso
caso, por vislumbrarmos a possibilidade de aprimorar e avançar em nossa formação e, a partir
disso, levar para sala de aula não apenas maior segurança num discurso forjado ao longo
desses anos de pesquisa, mas também ampliar o conteúdo com que temos trabalhado até
então.
Como um grande relatório que de fato é, a introdução de uma tese não deveria expor
apenas o produto final, mas também considerar sua trajetória e possíveis alterações ao longo
do percurso. Não sendo, porém, essa a prática habitual, optamos por este preâmbulo.
****
Em 2014, nosso projeto de pesquisa tinha como título “A Cultura em prol do
‘Progresso Social’: Zahar Editores e a Biblioteca de Ciências Sociais (1950-1970)”, e seu
objetivo era a análise da construção historiográfica da trajetória e da produção da coleção
Biblioteca de Ciências Sociais (BCS) e sua categorização dentro da “missão civilizatória” da
Zahar. Nossas questões seriam: pensar o papel social de Jorge Zahar a partir de sua inserção
no cenário político e cultural brasileiro dentro do recorte cronológico proposto; identificar se
os autores publicados têm alguma relação ideológica com o momento político pelo qual
passava o País; caracterizar a lógica editorial da série Biblioteca de Ciências Sociais; avaliar o
panorama das Ciências Sociais no Brasil nos anos atinentes ao recorte da pesquisa e sua
relação com o que foi publicado pela Editora; deslindar as possíveis relações entre os
intelectuais que trabalharam para Zahar; comparar a relação editores/universidades durante o
regime militar com a de outros países, através dos autores e assuntos publicados.
As perspectivas para necessidade de algumas mudanças começaram a despontar ainda
durante duas disciplinas cursadas no Programa de Pós-Graduação, mormente “História
Política: Novas Perspectivas de Abordagens”, ministrada pela Profa. Lúcia M. Bastos Pereira
das Neves. A professora, em exercícios, destacou pontos fracos do projeto e indicou que os
objetivos específicos estavam amplos demais. De igual maneira, a Profa. Lúcia Guimarães, na
disciplina “Tendências da Historiografia Contemporânea”, evidenciou que a estrutura
precisaria ser revisada. Sem dúvida, às orientações das professoras, somaram-se as leituras e
discussões proporcionadas pelas disciplinas.
Essas reflexões foram importantes para repensar o planejamento inicial, que
verdadeiramente notamos que estava ambicioso e desproporcional ao tempo que teria –
sobretudo a partir do fato que não havia perspectiva alguma para afastamento da UNIRIO – e
também com a base em nossa própria formação acadêmica. Para a mudança, as leituras da
bibliografia e das fontes foram fundamentais. Aos poucos, notamos que a Biblioteca de
Ciências Sociais (BCS) era, na verdade, a ponta de um iceberg muito maior, que a Zahar
Editores havia publicado mais de dez coleções com igual e, em alguns casos, com maior
impacto que esta. Verificamos ainda que havia títulos lançados fora de coleções que foram até
mesmo listados no rol de livros proibidos pelo Dops e que tiveram uma recepção digna de
nota entre os jovens intelectuais.
Outro momento importante foi a confirmação – pois Jorge Zahar já dizia isto – de que
a Livraria LER (Livrarias Editoras Reunidas), empreendimento da família Zahar que operou
entre 1946 e 1973, fora a mola propulsora para a criação da Editora. E, mais do que isso, foi o
período no qual os irmãos Ernesto, Jorge e Lucien passaram a ser reconhecidos como
especializados no público universitário – ou seja, esse reconhecimento não veio, como paira
no senso comum, apenas com a Editora, nem, muito menos, com a BCS. Foi percorrendo o
País como comerciantes de livros, negociando com livreiros e editores latino-americanos, que
se sedimentaram no mercado especializado. As fontes também nos fizeram recuperar poucos,
mas relevantes detalhes de uma história pregressa à Livraria, ou seja, quando ainda
trabalhavam como distribuidores, em negócio criado pelo sogro de Lucien, o espanhol
Antônio Herrera, já no início da década de 1940.
A localização de fontes pouco exploradas na imprensa periódica que permitiu a
constatação da importância de LER levou-nos assim a outra alteração: a inclusão da história
da livraria. Por meio desta ação, deslocamos todo o peso da Editora para também analisar o
papel da Livraria.
Devido a isto, foi necessário um alargamento da temporalidade, recuando de 1950 a
1940, mas mantendo o limite no ano (e não na década) de 1970. A alteração aqui se justifica
porque foi necessário compreender a configuração da Livraria LER e o cenário que propiciou
seu sucesso, assim como é preciso entender de que maneira foram construindo sua rede de
sociabilidade e se inserindo cada vez mais no universo das “gentes do livro”.
Por fim, a redação de um artigo, no primeiro semestre de 2016, confirmou que o
projeto inicial não se sustentaria mais e que uma nova abordagem seria necessária. Assim,
deslocou-se o foco que estava apenas na Editora para olhar também para trajetória que
culminou nela, e de uma coleção para o conjunto de publicações que movimentaram o
mercado entre o final da década de 1950 até o ano de 1970. Ademais, essa mudança
aproximou-nos de terrenos em que estamos mais legitimados pra falar: a história do livro e a
bibliografia material. No projeto inicial, seria sine qua non uma exegese dos livros e autores
publicados em Ciências Sociais, o que constatamos não seria viável neste momento.
Com os devidos respeitos à estrutura formal de uma tese, é importante dizer que
realizar essa pesquisa foi um dos maiores desafios que já enfrentamos como pesquisador.
Passamos por toda sorte de problema ao longo deste período, entretanto, ao chegar a este
ponto final, consideramos que o trabalho trouxe um conhecimento ímpar, não só sobre o tema
e o período com que não tínhamos familiaridade, mas sobre modos e formas de pesquisa que
igualmente pudemos aprender ao longo do processo.
21
INTRODUÇÃO
Já existe um público, embora ainda vacilante, para o “livro universitário”, o que cria
perspectivas novas para as editoras, para os autores e também para os leitores, que
poderão libertar-se, progressivamente, da dependência do livro estrangeiro1.
1
FERNANDES, Florestan. Novos empreendimentos editoriais. O Estado de São. Paulo, 7 de julho de 1962. p.
6.
22
O recorte temporal eleito foi escolhido em razão das histórias da Livraria Editoras
Reunidas e da Zahar Editores. Todavia, cabe dizer que não seguimos uma contextualização
linearmente cronológica. Recorremos ao cenário político e social quando necessário para
compreender nossos objetos. Para isto, seguimos a metodologia utilizada por Robert Darnton
em Censores em ação2.
Desse modo, para analisar a Livraria LER elegemos o recorte de 1930 a 1956.
Justificamos o período inicial por ser necessário compreender os antecedentes da criação da
livraria dos Zahar, desde a fase dos irmãos como distribuidores até a fase em que se tornaram
livreiros. O período final, por sua vez, é importante para refletir sobre o contexto de
surgimento da Zahar Editores. Vale recordar que esse período compreende a intensificação do
processo de substituição de importações e uma mudança de paradigma pelo qual, devido ao
significativo aumento da demanda, mais editores passaram a comprar direitos e traduzir
autores de áreas científicas aqui no Brasil.
Quanto ao segundo pilar desta tese, a Zahar Editores, a periodização vai de 1957 a
1970. O primeiro momento corresponde aos anos da primeira publicação e a apresentação da
base do seu perfil editorial. Já, o segundo momento abrange o Golpe Militar, em 1964, com
suas idiossincrasias associadas à expansão do mercado de produção de livros, mas também
sua repressão que veio, sobretudo, a partir do Ato Institucional n. 5, em 1968. Temos
igualmente o início das atividades da Comissão do Livro Técnico e do Livro Didático
(COLTED), pois acreditamos que essa política do governo pode ter significado maiores
tiragens e capilarização das publicações da editora, motivada pelo sistema de compra e
distribuição de livros. E, por fim, a Reforma Universitária, em 1967.
O título desta tese inspirou-se numa reportagem publicada no periódico O Semanário,
em janeiro de 1959. O texto é um balanço das atividades da editora até aquele momento e traz
um valioso direcionamento do que Jorge Zahar tinha em mente para a editora, além de
vincular as capas dos quatro primeiros livros publicados. Jorge informava que pretendia
intensificar a produção a partir de 1959, para isso, várias traduções já estavam planejadas ou
nas mãos dos tradutores. Sobre este quesito, Jorge contou que a princípio pensavam em
entregar as traduções aos escritores, o que chegaram até a experimentar, mas não deu certo em
razão da demora. Então, ele explica a metodologia que passariam a usar dali em diante:
2
DARNTON, Robert. Censores em ação: como os Estados influenciaram a literatura. Tradução Rubens
Figueiredo – 1ª edição – São Paulo: Companhia das Letras, 2016. Ver resenha: AZEVEDO, Fabiano Cataldo
de. Censores em ação: como os Estados influenciaram a literatura. Revista Marcanan, n. 16, p. 242-246, 2016.
Disponível em: <http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/maracanan/article/view/27136/19601>. Acesso
em: 10 fev. 2018.
23
entregavam os textos a tradutores profissionais, cujo trabalho, em alguns casos era revisto por
algum especialista na área.
Tendo como base a análise de Aníbal Bragança em A constituição do campo
interdisciplinar de estudos do livro e da história editorial no Brasil (1900-2000): um
percurso bibliográfico, é possível notar nos últimos anos uma produção crescente de
trabalhos produzidos no âmbito das mais variadas áreas do livro e da edição. A revisão
historiográfica demonstrou que das academias paulista e carioca saíram pesquisas que
passaram a ser incorporadas como referências para que se pudesse perceber um movimento
editorial para compreender o Brasil. Nessa seara, temos estudos sobre as editoras Companhia
Editora Nacional, José Olympio e Paz e Terra, para citar alguns, como veremos.
Em muitas dessas pesquisas a Zahar Editores é citada, e a Livraria LER escassamente
referenciada. Assim, a escolha do objeto justifica-se também pela absoluta necessidade de
lançar luz sobre dois negócios que contribuiram para a história do livro no Brasil: a livraria e
a editora.
A própria justificativa para esse trabalho causa estranhamento: como até hoje não
houve uma tese sobre a Zahar Editores? Sem dúvida, a importância de Zahar Editores e de
uma das séries criadas por ela, a Biblioteca de Ciências Sociais, contrastam com a falta de
produção sobre ambos os temas. As traduções que advieram desta série – apontadas na citação
acima –, bem como a seleção de autores perpassam interesses intelectuais, acadêmicos e,
igualmente, políticos. Percebemos que Jorge Zahar fez parte de um grupo, ou de uma geração,
que enquadrou o editor em duas funções muito importantes: social e simbólica3.
Isto posto, é importante destacar e esclarecer que esta pesquisa teve dois eixos: a
história de uma livraria e a história de uma editora, e não especificamente história de livreiro e
editor, ou de um livreiro-editor. Deste modo, temos o que se poderia configurar duas
“biografias” ou “trajetórias” – da Livraria LER e da Zahar Editores, dois negócios que
englobam a importação e circulação/distribuição por um lado e produção e
circulação/distribuição por outro, como preconiza o chamado “Circuito da Comunicação”, de
Robert Darton4. Unindo ambos os empreendimentos temos o público-alvo e o tipo de livro,
qual seja, livros técnicos e científicos para aqueles que estavam nas universidades e delas
saiam.
3
DURAND, Pascal; GLINOER, Anthony. Naissance de l’editeur: l’édition à l’âge romantique. Paris; Bruxelles:
Les Impressions Nouvelles, 2005, p. 23
.
4
DARTON, Robert. O beijo de Lamourette: mídia, cultura e revolução. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
24
No caso da editora, nosso ponto de acesso para toda essa história, algumas perguntas
pairavam: por que criar uma editora? Por que a escolha de uma linha voltada para traduções?
Por que livros de ciências sociais? Quais foram as escolhas editoriais?
No que concerne à metodologia5 para a construção deste trabalho, na ausência de
material arquivístico produzido pelas empresas dos Zahar que pudesse subsidiar as análises e
reflexões, foi no paradigma indiciário6 que buscamos elementos que visaram à construção de
fontes.
A falta de documentação – como no caso dos arquivos da própria editora – e a
dificuldade de acesso a outros arquivos – como no caso do Sindicato Nacional de Editores e
Livreiros7 – sem dúvida causou um impacto negativo no processo de investigação. No
entanto, acreditamos que não tenha impedido a realização do trabalho, através essencialmente
de pistas e migalhas, como pondera Ginzburg.
Centramos os esforços nas fontes impressas provenientes de jornais nacionais da
época8. Já o aparato crítico que fornecesse meios para uma leitura analítica é proveniente de
uma formação oriunda do mestrado que teve ênfase na análise do discurso9. Nossa intenção
foi muito mais a de compreender um cenário e buscar indícios do que nos apropriar de
argumentos para imprimir juízo crítico aos conteúdos produzidos pelos jornais.
As bases metodológicas para a escolha e compreensão dos periódicos foram
alicerçadas nas análises e no histórico construído por Richard Romancini e Cláudia Lago, em
História do Jornalismo no Brasil10, sobretudo os capítulos “O controle da imprensa na
primeira fase getulista e o período populista” e “A ditadura militar de 64 e o jornalismo”.
5
Optamos por reservar maior espaço aqui para a metodologia e deixar os marcadores e balizadores teóricos desta
pesquisa dentro dos respectivos capítulos como uma escolha que objetivou a maior clareza dos temas que
tratamos.
6
A compreensão deste método advém a partir de GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes: o cotidiano e as
ideias de um moleiro perseguido pela Inquisição. São Paulo: Cia. das Letras, 1987; GINZBURG, Carlo. Mitos,
emblemas, sinais: Morfologia e história. São Paulo, Companhia das Letras, 1989.
7
Apesar de insistirmos e do apoio das senhoras Ana Cristina Zahar e Clarice Zahar, não tivemos acesso às atas
das reuniões do Sindicato.
8
Nas transcrições diretas respeitamos a grafia de cada época.
9
RAJAGOPALAN, Kanavillil. A construção de identidades e a política de representação. In: FERREIRA, Lucia
M. A.; ORRICO, Evelyn G. D. (Orgs.). Linguagem, identidade e memória social: nas fronteiras, novas
articulações. Rio de Janeiro: DP&A, 2002, p. 77-88. PÊCHEUX, Michel. O discurso: estrutura ou
acontecimento. São Paulo: Pontes, 2008. COURTINE, Jean-Jacques. Análise do discurso político: o discurso
comunista endereçado aos cristãos. São Carlos, SP: EdUFSCAR, 2009.
10
ROMANCINI, Richard; LAGO, Cláudia. História do Jornalismo no Brasil. Florianópolis: Insular, 2007.
25
Nosso objetivo não foi seguir uma coluna específica – o caso mais representativo seria
“Portas da Livraria”, assinada por Antônio Olinto no jornal O Globo, publicada entre, pelo
11
MARTINS, Ana Luiza; LUCA, Tania Regina de (orgs.). História da imprensa no Brasil. 2.ed. São Paulo:
Contexto, 2011. Foram fundamentais os capítulos “Imprensa a serviço do progresso”, assinado por Maria de
Lourdes Eleutério; “A grande imprensa na primeira metade do século XX”, de Tania Regina de Luca;
“Batalhas em letras de forma: Chatô, Wainer e Lacerda”, de Ana Maria de Abreu Laurenza.
12
Para a compreensão dos discursos anteriores ao século XX, há que citar o importante artigo: CARVALHO,
José Murilo de. História intelectual no Brasil: a retórica como chave de leitura. Topoi, Rio de Janeiro, v. 1, n.
1, p. 123-152, dez., 2000. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2237-
101X2000000100123&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 25 fev. 2018.
13
GONÇALVES, Paulo Celso Costa. Políticas públicas de livro didático: elementos para compreensão da
agenda de políticas públicas em educação no Brasil. Tese (Doutorado em Educação). 2017. 244 f.
Universidade Federal de Uberlândia. Uberlândia, 2017, p. 25. Disponível em:
<https://repositorio.ufu.br/bitstream/123456789/19891/1/PoliticasPublicasLivro.pdf>. Acesso: 01 fev. 2018.
26
menos, as décadas e 1950 e 1960. Por meio de palavras chaves, fomos aos poucos
constituindo um mapeamento que nos levou a um volume grande de recortes com os quais
operamos um segundo processo de seleção que priorizou temas mais específicos. Dentre esses
temas, sem dúvida estava tudo o que se relacionava às atividades da Livrarias Editoras
Reunidas e Zahar Editores, e a assuntos que orbitavam suas trajetórias, como as discussões
sobre a importação de livros, bem como seu comércio.
Além dos periódicos, as próprias publicações14 da editora formam o corpus de fontes
para a pesquisa. Como saber tudo o que foi publicado pela Zahar Editores de 1957 a 1970?
Até o momento não foram localizados catálogos, listas, informações sobre tiragens etc. No
processo de construção de fontes foi realizado um cotejamento à beneditino, ou seja, título a
título. Para isso, utilizamos um passo a passo metodológico que podemos aqui resumir em três
principais eixos: pesquisa em listas bibliográficas; notícias nos jornais sobre lançamentos e
reedições e consulta à segunda orelha dos livros publicados pela editora, pois em algumas
delas constam títulos lançados e futuros.
O primeiro passo foi dado no primeiro semestre de 2015, quando iniciamos uma busca
pelos livros publicados pela Zahar Editores nos catálogos on line das principais universidades
brasileiras (UFRJ, UERJ, UFFF, UNB, UFBA, USP, UNICAMP, PUC RIO/SP) e na
Fundação Biblioteca Nacional. A partir disto, cotejamos mais títulos publicados a partir de
um Catálogo de Publicações editado pela Biblioteca Nacional.
No segundo passo fomos a cada biblioteca a fim de coletar os seguintes dados:
tradutor; prefaciador; revisores, capistas; ano de publicação estrangeira; origem do direito
autoral e gráfica em que o livro foi impresso. Essa consulta ao exemplar tinha também o
objetivo de descobrir outros títulos que eventualmente estivessem arrolados na orelha da
contracapa. Desse modo, construíamos um banco de dados numa planilha de MS Excel
(APÊNDICE E) cujas colunas representam os campos bibliográficos coletados. Atividade
profundamente laboriosa, mas igualmente rica, pois as revelações foram muitas, como
coleções, marcas de circulação (etiquetas das livrarias), carimbos de proveniência (como, por
exemplo, livros distribuídos pela COLTED), conhecer os vários formatos, os padrões de capa
etc.
14
Para pensar a Bibliografia Material: ESDAILE, A. J. K. Esdaile's manual of bibliography. 4.ed. London,
1967; REYES, Gómez F. El libro moderno desde la bibliografia material y la biblioteconomia. Ayer: revista de
historia contemporánea, Madrid, v. 58, n. 2, p. 35-56, 2005.
Para as análises foram fundamentais: HOUAISS, Antonio. Elementos de Bibliologia. Rio de Janeiro: INL,
1967. 2v.; GENETTE, Gérard. Paratextos Editoriais. Tradução de Álvaro Faleiros. Cotia, SP: Ateliê Editorial,
2009. (Artes do livro; 7) e ESCOREL, Ana Luisa. Brochura brasileira: objeto sem projeto. Rio de Janeiro:
Livraria José Olympio Editora; Instituto Nacional do Livro, 1974.
27
15
Acesso concedido por Ana Cristina Zahar.
28
o período inicial por ser necessário compreender os antecedentes da livraria dos Zahar, e a
data limite é importante para pensar o contexto de surgimento da editora.
Para a construção deste capítulo, nossas fontes foram fundamentalmente os periódicos,
que além de dados sobre a história dos Zahar também revelaram um material iconográfico
pouco explorado sobre a história da Livraria LER assim como de seus antecedentes. Assim,
literalmente caminhando na trilha de migalhas perquirimos informações que nos ajudaram a
reconstruir o início da trajetória dos Zahar a partir da venda de livros.
O terceiro capítulo, “Editar Livros: Sonho de Livreiro”, constituiu-se como uma ponte
que liga a Livraria LER à Zahar Editores. Nosso objetivo foi problematizar o contexto da
produção do livro nacional entre o final do governo de Getúlio Vargas até o de Juscelino
Kubistchek.
Deste modo, procuramos discutir e analisar a importação de livros estrangeiros e a
tradução e a produção de livros, ambos com foco no público do ensino superior. Por razões
metodológicas, reservamos para esta parte do capítulo uma breve discussão que envolve a
reforma universitária, o acordo MEC/SNEL/USAID e a posterior implantação da Comissão
do Livro Técnico e do Livro Didático (COLTED), pois todas essas “ações” tiveram impacto
considerável nas universidades brasileiras e representam ponto nevrálgico da nossa hipótese,
além de justificar o recorte temporal final desta pesquisa.
Por fim, no quarto e último capítulo, “Zahar Editores: trajetória de um catálogo, 1957
a 1970”, analisamos a editora em dois momentos: de 1957 a 1963 e de 1964 a 1970. Essa
periodização tem um objetivo metodológico, pois não foi possível encontrar elementos para
demonstrar que o golpe militar teve impacto no fluxo de produção da editora. O que temos
são indícios que sugerem que na Zahar Editores houve reverberações desse momento
histórico, como, por exemplo, no caso dos livros da editora que foram arrolados em listas das
polícias políticas.
Envidamos esforços para evidenciar o projeto editorial da Zahar Editores, ou melhor,
seu perfil editorial, pois acreditamos que para chegar ao projeto seriam necessários subsídios
documentais dos quais não dispomos. Todavia, pelos indícios, é possível delinear o perfil.
Para isto, buscamos, alicerçado numa narrativa cronológica, compreender a trajetória da
editora privilegiando os livros mais editados, o projeto gráfico mais importante, os autores e o
corpo de colaboradores. A partir do princípio de que nossa tese é sobre a Editora (e a livraria
que a precedeu), e não sobre uma coleção específica, fizemos um apanhado global a respeito
do que foi publicado.
29
Cada librería condensa el mundo. No es una ruta aérea, sino un pasillo entre
anaqueles lo que une tu país y sus idiomas con regiones extensas en que se hablan
outras lenguas [...].16
16
CARRIÓN, Jorge. Librarías. Buenos Aires: Anagrama, 2013. p. 34.
17
Idem.
18
SORÁ, Gustavo. Brasilianas: a Casa José Olympio e a instituição do livro nacional. 1998. Tese (Doutorado
em Antropologia Social) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1998.
19
Serge Bernstein vai conceber uma definição que compreende um escopo que atinge o campo das
representações, ideologias e símbolos que Rodrigo Patto Sá Motta condensará em “[...] um conjunto de
valores, práticas e representações políticas, partilhado por determinado grupo humano, que expressa uma
identidade coletiva à base de leituras comuns do passado, e inspira projetos políticos direcionados ao
futuro”. BERNSTEIN, Serge; MILZA, Pierre. Conclusão. In: BECKER, J.-J. et al. Questões para a história
do presente. Tradução: Ilka Stern Cohen. Bauru, SP: EDUSC, 1999. p. 127-130.
20
BRAGANÇA, Aníbal. As políticas públicas para o livro e a leitura no Brasil: O Instituto Nacional do Livro
30
veremos que, aqui no país, houve outra força propulsora, qual seja, o ensino superior.
Acreditamos que, em decorrência da demanda gerada pelas universidades entre os anos 1930
e 1960, vivemos o que poderia se chamar de era de “ouro do mercado editorial brasileiro”.
Porque mais do que em outro momento, como veremos adiante, a relação avanço do ensino
com demanda de livros foi muito sensível e reforçou a importância do livro como vetor de
capital e economia.
Este cenário da produção e circulação de livros na cidade do Rio de Janeiro de 1930 a
1950 é composto por uma enorme gama de assuntos ligados diretamente ao livro, ou que o
circundam como as políticas públicas21 e a criação de órgãos patronais, por exemplo. Para
fechar nosso enfoque buscamos problematizar assuntos que orbitam a história dos Zahar,
como a importação de livros, o preço do papel, a feira de livros e formas de divulgação e
circulação, além de pensar um pouco sobre o cenário daquela época. Cremos que esses
elementos podem ser determinantes para explicar algumas das principais características da
editora.
Acerca da cultura política do período não pretendemos uma historiografia detalhada,
pois tal trabalho já foi feito com bastante louvor por outros pesquisadores 22. Vamos nos
limitar a matizar o contexto político apenas para compreensão de alguma ação no universo do
livro.
observou-se o surgimento de novas editoras que almejavam imprimir seus livros aqui no
Brasil. Enquanto isso havia grupos de livreiros especializados em importação de livros que
gozavam do benefício de taxas de moeda estrangeira mais favoráveis. Entretanto, o contexto
começa a mudar a partir da década de 1950, devido às ações cambiais promovidas por
Juscelino Kubitschek – assunto que será melhor abordado adiante.
Há uma lacuna em vários momentos da primeira metade do século XX no que se
refere ao estado da arte para história do livro no Brasil. Pesquisas sobre o campo da edição
literária são constantes, mas ainda carecemos de maior aprofundamento acerca do campo da
edição de livros técnicos e científicos para o ensino superior.
Além de Laurance Hallewell28, Gustavo Sorá29 e Gabriel Lacanca30, são escassos os
trabalhos que buscaram analisar a relação do mercado editorial com o ensino superior. Este
passou por momentos de crescimento e mudança entre os anos de 1930 e 1950, conforme
aponta Otaíza de Oliveira Romanelli31, e viveu outra fase de expansão na década de 1960 –
com a reforma universitária32. Nossa hipótese é de que residiria aí também uma das causas do
chamado boom do mercado editorial conforme apontam Sandra Reimão e outros
pesquisadores33. Por isso, propomos uma aproximação com o que Helena Maria Bousquet
Bomény34 fez para os livros do ensino primário onde estabelece uma análise sobre a formação
do mercado do livro didático do Brasil e o peso econômico desta atividade.
Ora, se guardarmos as devidas, necessárias e óbvias proporções, e fizermos um
exercício de digressão voltando ao passado, notaremos, no caso europeu que o próprio
momento de desenvolvimento da tipografia se dá dentro de um contexto de avanço do ensino
28
HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. 2. ed. São Paulo: EDUSP, 2005.
29
SORÁ, Gustavo Alejandro. Brasilianas: a casa José Olympio e a instituição do livro nacional. 1998. 367 f.
Tese (Programa de Pós-Graduação em Antropologia social) – Museu Nacional, Universidade Federal do Rio
de Janeiro, Rio de Janeiro, 1998.
30
LABANCA, Gabriel. Relações e Edições de Ouro: a Tecnoprint na expansão do mercado editorial brasileiro
durante os primeiros anos da Ditadura Militar. Em Tempo de Histórias, Brasília, n. 14, p. 125-145, jan./jun.
2009. Publicação do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade de Brasília - PPG-HIS.
31
ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. História da educação no Brasil (1930-1973). Petrópolis: Vozes, 1986.
32
Reforma instituída pela Lei n.º 5540, de 28 de novembro de 1968. Ver: CUNHA, Luiz Antônio. A
universidade reformada. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1988.
33
REIMÃO, Sandra. Mercado editorial brasileiro, 1960-1990. São Paulo: Com-arte, 1996.
34
OLIVEIRA, João Batista Araújo; GUIMARÃES, Sonia Dantas Pinto Guimarães e BOMÉNY, Helena Maria
Bousquet. A política do livro didático. São Paulo: Summus; Campinas: Unicamp, 1984.
33
35
A idéia para essa reflexão surgiu a partir da leitura: “Em seu estudo sobre livro, Úrsula Katzenstein analisa o
nível cultural da Europa na Idade Média e os efeitos da criação das universidades sobre ele”. BUFREM,
Leilah Santiago. Editoras Universitárias no Brasil: uma crítica para a reformulação da prática. São Paulo:
EDUSP; Com-Arte; Curitiba: Editora da Universidade, 2001. p. 31.
36
FEBVRE, L., MARTIN, H. J. L 'apparition du livre. Paris: Albin Michel, 1958. FEBVRE, L., MARTIN, H. J.
O aparecimento do livro. São Paulo: Unesp, 1992.
37
EISENSTEIN, Elizabeth. The printing revolution in early modern Europe. Cambridge: Cambridge
University Press, 1983.
38
Cf. DUBY, Georges; MANDROU, Robert. Histoire de la civilization française: Moyne Age-XVI siècle. Paris:
Agora, 1968. VERGER, Jacques. As universidades na Idade Média. Campinas, SP: Unesp, 1990.
Sobretudo este último livro explora muitos aspectos da demanda por livros. Recomenda-se ainda, como
exemplar expressão do contexto o capítulo: MARTIN, Henri-Jean. L’apparition de l’imprimerie. In:____
Histoire et pouvoir l’écrit. Paris: Albin Michel, 1988. p. 178-222.
39
AUDIN, Maurice. Histoire de l’imprimerie: radioscopie d’une ère: de Gutenberg à l’informatique: Préface de
H. J. Martin. Paris: Éditions A. & J. Picard, 1972.
40
Consideramos “consolidação” porque não relativizamos os trâmites financeiros que aconteciam na Idade
Média com os manuscritos.
41
KATZENSTEIN, Úrsula Ephraim. A origem do livro: da Idade da Pedra ao advento da impressão tipográfica
no Ocidente. São Paulo: Hucitec, 1986.
34
42
KATZENSTEIN, op. cit. 1986. p. 99-100.
43
JOHNS, Adrian. The nature of the book: print and knowledge in the making. Chicago: University of Chicago
Press, 1998.
44
JOHNS, Adrian. Piracy: the intellectual property wars from Gutenberg to Gates. Chicago: University of
Chicago Press, 2009. No Brasil do século XIX, por exemplo, gostaríamos de indicar dois estudos que ajudam
a pensar sobre a pirataria intelectual: FERREIRA, Tânia Maria Tavares Bessone da Cruz. A imprensa no
Brasil e os debates sobre propriedade literária no oitocentos. In: D. JOÃO VI e o Oitocentismo. Rio de
Janeiro: Contra Capa/Faperj, 2011. p. 79-90; SCHAPOCHNIK, Nelson. Pirataria e mercado livreiro no Rio de
Janeiro: Desiré-Dujardin e a Livraria Belgo-Francesa, 1843-1851. Revista de História, São Paulo, n. 174, p.
299-325, jan.-jun., 2016. Sobretudo o artigo de Tânia Bessone cabe como mote para analisar o que acontecerá
nos debates entre editores e livreiros portugueses e brasileiros entre as décadas de 1940 e 1950, onde um não
desejava a circulação do outro, justamente por disputas comerciais.
45
Embora não se adapte diretamente ao que pretendemos aqui, não podemos deixar de citar dois trabalhos que
marcaram a historiografia do livro e nos mostram a prática de criar uma demanda em consequência do
contexto do período: DARTON, Robert. Edição e sedição: o universo da literatura clandestina no século
XVIII. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. DARTON, Robert. O iluminismo como negócio: história da
publicação da “Enciclopédia”. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. Certamente há outros, e deve haver
muito mais, mas não é nosso objetivo fazer a historiografia deste período, vale repetir.
46
Inúmeros são os trabalhos sobre o tema, como por exemplo, o próprio Adrian Johns, mas gostaríamos de
referenciar dois em especial por abordarem as dificuldades impostas aos tipógrafos pelos livros científicos,
mormente nas áreas de matemática e astronomia: LEITÃO, Henrique. O livro científico antigo, séculos XV e
XVI: notas sobre a situação portuguesa. In: PORTUGAL. Biblioteca Nacional. O livro científico dos séculos
XV e XVI: ciências físico-matemáticas na Biblioteca Nacional. Lisboa: Biblioteca Nacional, 2004; LEITÃO,
Henrique. Estrelas de papel: livros de astronomia dos séculos XIV a XVIII. In: PORTUGAL. Biblioteca
Nacional. Estrelas de papel: livros de astronomia dos séculos XIV a XVIII. Lisboa: BNP, 2009, p. 19-42.
35
Ainda sobre a economia do livro, o historiador James Raven traz no próprio título de
sua obra o viés mercadológico: The business of books: booksellers and the english book trade,
1450-185047. Apesar da vasta temporalidade, o autor consegue, ao longo de onze capítulos,
sustentar sua hipótese principal: “culture, of course, need not be commercial, but it often is.
Culture, indeed, can be big business”48. Dentro do contexto abordado, Raven afirma que ao
longo dos séculos “the turbulent relationship between politics and the press continues to
fascinate”49. Mutatis mutandis a tensão entre o Estado e os Editores está presente em uma
série de questionamentos na mídia impressa durante a primeira metade do século XX em
nosso país: alto custo da manufatura do papel e a distribuição.
Sobre o século XIX, Jean-Yves Mollier50 é preciso e firme ao tratar do “negócio do
livro” e faz a junção de “Livrarias” e “Editoras” em suas abordagens. Três são os livros do
historiador francês que podem ser citados como aporte teórico para proposta que estamos
buscando desenvolver aqui, qual seja, o mercado editorial atento para atender ao campo
crescente dos cursos universitários.
Seguindo a ordem de publicação no país de origem, em 1988, Mollier lançou L’Argent
et le Lettres: histoire du capitalism d’edition, 1880-192051, cujo título, por si só, impõe a
compreensão do conteúdo: essa obra buscou deslindar a formação e consolidação do
capitalismo editorial, que foi decisivo entre os anos de 1770 a 1920. Além disso, esse autor
destaca a tendência à diversificação dos bens das empresas de edição. Vinte anos depois,
publicou Édition, press et pouvoir en France au XXe siècle52, com base fundamentalmente em
documentação arquivística, obra com a qual reconstrói a história de algumas livrarias e
47
RAVEN, James. The business of books: booksellers and the english book trade: 1450-1850. New Haven;
London: Yale University Press, 2007.
48
RAVEN, op. cit. 2007. p. 2.
49
RAVEN, James. The business of books: booksellers and the english book trade: 1450-1850. New Haven;
London: Yale University Press, 2007. p. 366.
50
MOLLIER, Jean-Yves. lançou L’Argent et le lettres: histoire du capitalism d’edition, 1880-1920. Paris:
Librairie Arthème Fayard, 1988.
51
MOLLIER, 1988. op. cit. No Brasil é lançada em 2010, sob o título “O dinheiro e as letras: história do
capitalismo editorial”, pela EDUSP. Obra excepcional igualmente pela metodologia empregada, tanto na
pesquisa nos arquivos quanto na leitura e uso das fontes na construção historiográfica.
52
MOLLIER, Jean-Yves. Édition, press et pouvoir en France au XX e siècle. Paris: Librairie Arthème Fayard,
2008. Lançado no Brasil como: MOLLIER, Jean-Yves. Edição, imprensa e poder na França no século XX.
São Paulo: Editora Fap-Unifesp; EDUSP, 2015.
36
editoras francesas a partir da década de 1930, já que seus estudos estavam voltados para a
relação impressa e poder.
Para Mollier, a partir da segunda metade do século XX o livro se “desmaterializou”
sob nossos olhos, ficou mais acessível e sua circulação atingiu outros níveis. Mollier também
estudou a maneira como algumas editoras, como a Gallimard, por exemplo, acompanharam o
crescimento de novas áreas do conhecimento, como as “Ciências Sociais” e “Psicanálise” –
ambas nas décadas de 1960. Na conclusão, comenta que, como em qualquer outro setor da
economia, o mercado determina as regras de concorrência e de funcionamento.
No caso brasileiro, acreditamos que isto tenha passado a acontecer justamente a partir
dos anos de 1930, que coincidem com o início do processo de substituição da importação,
pela escassez de produtos básicos em decorrência do pós-guerra.
Em A leitura e o seu público no mundo contemporâneo: ensaios sobre história
cultural53, publicado na França, em 2001, temos também um apoio teórico para a tese que
estamos buscando apresentar aqui, ou seja, a forte associação entre a difusão formal do
conhecimento – no nosso caso via universidades – e a expansão das livrarias e editoras. Logo
no início do livro, Mollier explica que, dentro do contexto francês, antes de 1838,
[...] o livro mantinha-se raro e caro, enquanto que, no início do século XX, passou a
entrar em todos os lares – pelo menos tendencialmente. Em menos de setenta anos,
graças à revolução nas estruturas escolares, à revolução da democracia, que afirmava
a informação do cidadão, e à revolução que despertou o sistema editorial, dividindo
o preço do livro por vinte, uma batalha foi ganha, a da aculturação de massas aos
princípios que regem a galáxia Gutenberg54.
53
MOLLIER, Jean-Yves. A leitura e seu público no mundo contemporâneo: ensaios sobre história cultural.
Belo Horizonte: Autêntica, 2008.
54
MOLLIER, op. cit., 2008. p. 9.
55
Os trabalhos de Marisa Lajolo e Regina Zilberman precisam ser mencionados aqui pela contribuição que
trouxeram, todavia, no que tange ao objetivo da nossa pesquisa ficam mais distantes por duas razões
principais: a temporalidade e por se dedicarem, sobretudo ao campo da literatura e livros didáticos para ensino
primário. Cf. LAJOLO, Marisa; ZILBERMAN, Regina. A formação da leitura no Brasil. 3. ed. São Paulo:
Ática, 1998; LAJOLO, Marisa; ZILBERMAN, Regina. O preço da leitura: leis e números por detrás das
letras. São Paulo: Ática, 2001; LAJOLO, Marisa; ZILBERMAN, Regina. A leitura rarefeita: leitura e livro
no Brasil. São Paulo: Ática, 2002. Há alguns pontos de convergência entre estes três trabalhos que poderiam
nos conduzir a uma aproximação com nosso objetivo: o secular problema do preço do livro; formação de
público e mercado.
37
editora Larousse como exemplo, este autor explica que foi no século XX que “efetivamente,
em pouco tempo, o capital econômico e o capital cultural se converteram em moeda”.56
O capítulo sete desse livro é a chave de compreensão mais importante para pensar o
comportamento de editores e livreiros brasileiros (mesmo que nosso enfoque seja o Rio de
Janeiro) entre os anos de 1930 e 1950. Mollier, no contexto francês, destaca que alguns
editores se mobilizaram para resolver a problemática da difusão do conhecimento e visando à
expansão de mercado, colaboraram e incentivaram a criação de bibliotecas e programas de
alfabetização57, afinal era preciso criar demanda e expandir os negócios para além de uma
elite.
Observa-se aí um sentimento de editar quase como ato civilizatório, como missão. Por
isso, acreditamos que essas “pessoas do ofício do livro”58, no caso, brasileiro, como teremos
ocasião de tratar a seguir, viam-se como partícipes do crescimento do país, tão propagado
pelo Estado. As exigências por melhores taxas, por mais apoio governamental e o
entendimento de que o crescimento do Brasil precisaria passar pela educação e esta, por sua
vez, exigia livros.
Retomando o texto de Mollier – e para concluir nossa aproximação – ainda no mesmo
capítulo, o autor trata da produção e circulação de livros científicos. Ao falar de editores, ele
estabelece uma diferença peculiar: “editores científicos” são definidos por ele como aqueles
que publicaram para universidades ou para seu público diretamente, e “editores escolares” são
os que direcionaram suas atividades para os níveis primário e secundário. Mollier comenta
que os “livros científicos” seguiram como um bom negócio para livreiros e editores,
sobretudo livros para médicos59 e engenheiros. Somaram-se a eles os livros de “vulgarização
técnica”, que se deram com o avanço dos cursos politécnicos. Aqui no Brasil, no entanto, esta
conjuntura se consolidará a partir da terceira década do século XX.
No caso brasileiro, no que concerne ao livro para uso nas universidades e dos
profissionais que saíam delas, como médicos, engenheiros e advogados, o que percebemos foi
56
MOLLIER, op. cit., 2008. p. 112.
57
Sobre a mobilização para erradicar o analfabetismo na França neste período: CHARTIER, Anne-Marie;
HÉBRARD, Jean. Discursos sobre la lectura (1880-1980). Barcelona: Editorial Gedisa, 2005.
58
CHARTIER, Roger. A mão do autor e a mente do editor. São Paulo: Unesp, 2014.
59
Sobre o consumo de livros deste público no Rio de Janeiro entre o final do século XIX e início do XX:
FERREIRA, Tania Maria Tavares Bessone da Cruz. Palácio de destinos cruzados: homens e livros no Rio de
Janeiro, 1870-1920. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1999.
38
A longa e necessária citação, advinda das reflexões de Eliana de Freitas Dutra, nos dá
o esteio que sustentará uma ideia importante para esse subitem que é a institucionalização do
mercado do livro no Brasil62, o que Gilberto Barbosa Salgado chamou de fase do
“Bandeirantismo” do livro63 para ilustrar um período que, para ele, foi de heroísmo e
pioneirismo. Acreditamos ter sido nas décadas de 1930 e 1940 que se forjaram a estrutura e
características da produção e da venda de livros que influenciaram gerações de livreiros e
editores. Uma tradição de mercado formada e estruturada por Francisco Alves, Monteiro
Lobato e José Olympio.
Antes, porém, cabem algumas considerações acerca do mercado editorial brasileiro do
século XIX e a primeira década do século XX. Além do próprio Hallewell, já citado, há
quatro pesquisas que transitaram neste recorte e que analisam relações e aspectos que nos
interessam de perto e que ajudam a sustentar na nossa tese.
60
MICELI, Sérgio. Intelectuais à brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
61
DUTRA, Eliana de Freitas. Cultura. In: GOMES, Ângela de (Coord.). Olhando para dentro: 1930-1964. Rio
de Janeiro: Objetiva, 2013, v. 4. p. 229-230. (grifos nossos).
62
Cf. SORÁ, op. cit. 1998.
63
SALGADO, Gilberto Barbosa. O imaginário em movimento: crescimento expansão da indústria editorial
no Brasil (1960-1994). 1994. 330 f. Dissertação (Mestrado em Sociologia) - Instituto Universitário de
Pesquisas do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1994.
39
64
TORRESINI, Elisabeth Wenhausen Rochadel. Editora Globo: uma aventura editorial nos anos 30 e 40. São
Paulo: Edusp, 1999.
65
TORRESINI, op. cit., 1999. p. 37.
66
MARIZ, Ana Sofia. Editora Civilização Brasileira: o design de um projeto editorial (1959-1970). 2005. 180 f.
Dissertação (Mestrado em Design) - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2005.
67
MARIZ, op. cit., 2005. p. 22.
68
In: DUTRA, Eliana de Freitas; MOLLIER, Jean-Yves (Org.). Política, nação e edição: o lugar dos impressos
40
– que veremos adiante – Bragança dará um enfoque aos livros escolares. Consoante ao
argumento que estamos buscando, considera que a expansão do mercado do livro foi trazida
no bojo da alfabetização. Ao apresentar a categoria de editor escolar, afirma que muitas vezes,
na história do livro, este é marginalizado, bem como os livros populares. Assim como as
autoras citadas aqui, destaca a importância da Imprensa Régia, da Garnier, da Laemmert e de
Francisco Alves na impressão de manuais escolares.
Por fim, a quarta pesquisa a ser aqui mencionada é a de Flávia Maria Zanon Baptistini,
com Livrarias, memória e identidade: a importação de livros no Brasil e a trajetória da
Livraria Leonardo da Vinci no Rio de Janeiro69. Nesta dissertação, de 2017, Baptistini parte
da segunda metade do século XIX e vai até os anos de 1950 para construir uma análise dos
livreiros especializados em importação que em determinado momento também vão se dedicar
ao trabalho de edição. Embora pretenda uma visão do país, o enfoque principal recairá na
cidade do Rio de Janeiro.
Para o século XX, a autora nos trouxe a reflexão sobre livrarias importadoras que se
tornaram editoras e que foram partícipes de um movimento que visou à diminuição da
dependência de importação de livros, como, por exemplo, a Globo (em Porto Alegre) e a
Martins Fontes (em São Paulo). Um movimento que será semelhante ao que acorreu com a
Livrarias Editores Reunidos e depois com a Zahar Editores – como veremos adiante.
Especificamente sobre Francisco Alves, Monteiro Lobato e José Olympio, cabe
destacar outros três trabalhos que contribuem, para a compreensão do contexto de cada um
dos atores.
Pelo ineditismo de ação e desbravamento no mercado editorial, concordamos que
Francisco Alves pode ser considerado como o “Rei do Livro”70. Em 2000, Aníbal Bragança
publicou o artigo Francisco Alves na História Editorial Brasileira e, um ano depois, defendeu
a tese Eros pedagógico, a função editor e a função autor. Em ambos os trabalhos, a história
do editor luso-brasileiro é detalhada a partir de suas inovações no mercado de livro didático e
da preocupação com o direito autoral. Bragança chama atenção para uma prática que mais
tarde Jose Olympio adotará, qual seja, a política de incluir os autores como parceiros,
inclusive nos lucros.
Alice Mitika Koshiyama, com Monteiro Lobato: intelectual, empresário, editor71,
buscou mostrar a atividade empresarial marcante e inovadora de Lobato, pois para ele o livro
era um produto, um objeto que deveria ser atrativo ao consumidor. A partir disso, Koshiyama
pondera que “a produção de livros numa economia de mercado depende da existência de um
público leitor, principalmente de um público comprador suficiente para oferecer lucros
considerados compensadores pelos empresários”72.
Para completar os estudos sobre essa trinca de editores, na tese de doutorado elaborada
na área de Antropologia, Brasilianas: a casa José Olympio e a instituição do livro nacional73,
Gustavo Sorá reforça a figura de um editor como personalidade que se imiscuirá na política e
na cultura nacionais. Ele, o editor, se sentirá partícipe do chamado progresso nacional.
Entenderá, como diz a epígrafe da tese, seu papel de produtor de um objeto cultural. O
trabalho de Sorá nos interessa de perto como ilustração do modus operandi de um editor-
livreiro. José Olypmpio (JO, como frequentemente é citado), assim como Lobato, inova na
divulgação do livro, suas capas tornam-se célebres nas mãos de Santa Rosa74.
71
KOSHIYMA, Alice Mitika. Monteiro Lobato: intelectual, empresário, editor. São Paulo: T. A. Queiroz, 1982.
(Estudos Brasileiros, v. 3).
72
KOSHIYAMA, op. cit., 1982. p. 34.
73
SORÁ, op. cit., 1998.
74
Sobre Santa Rosa, até o momento o trabalho mais completo é: BUENOS, Luís. Capas de Santa Rosa. São
Paulo: Sesc, São Paulo; Ateliê Editorial, 2015.
No que concerne às capas no âmbito das artes gráficas brasileira: CARDOSO, Rafael. O início do design de
livros no Brasil. In: CARDOSO, Rafael (Org.). O design brasileiro antes do design: aspectos da história
gráfica: 1870-1960. São Paulo: Cosac Naify, 2005. p. 160-232. LIMA, Edna Lúcia Cunha; FERREIRA,
Márcia Cristina. Santa Rosa: um designer a serviço da literatura. In: CARDOSO, Rafael (Org.). O design
brasileiro antes do design: aspectos da história gráfica: 1870-1960. São Paulo: Cosac Naify, 2005. p. 197-232.
BUENO, Luís. Capas de Santa Rosa. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2015. CANTARELLI, Ligia Cosmo. A Belle
Époque da Editoração Brasileira: um estudo sobre a estética Art Nouveau nas capas de livros do início do
século XX. Dissertação. (Mestrado em Ciências da Comunicação). Escola de Comunicações e Arte.
Universidade de São Paulo, USP, São Paulo, 2006. 104 f. FONSECA, Sílvia Asam da. A coleção Bibliotheca
do Espírito Moderno: um projeto para alimentar espíritos da Companhia Editora Nacional (1938-1977). Tese.
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo, 2010. 336f. CECHINEL, Ivan Ordonha. As cores
nas capas da Editora Civilização Brasileira da década de 1960. Dissertação (Mestrado em Artes). Instituto de
Artes da Universidade Estadual de Campinas. Unicamp, Campinas, 2010, 152 f. SARETTO, André. Arte e
poética nas ilustrações de Eugênio Hirsch no acervo da Universidade de São Paulo. Relatório final de
iniciação científica, sob orientação da Profa. Dra. Marisa Midori Deaecto. São Paulo, 2013. 61 f. AZEVEDO,
Carolina Noury da Silva. O design de Victor Burton. Dissertação (Mestrado em Design). Escola de Desenho
Industrial. Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014. 186f. SEHN, Thaís Cristina
Martino. A capa do livro como instrumento de escolha para o mundo da leitura. Seminário de História da
Arte, 11., 2012, Pelotas. BARBOSA, Vladimir de Abreu Braga. Capa do livro_o design para o um produto de
valor cultural no contexto nacional. Artigo Trabalho de Conclusão de Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em
Gestão, Design e Marketing. Instituto Federal Fluminense, Campus "Campos-Centro". 2014. FONTANA,
42
Para Olímpio de Souza Andrade “nas décadas de 20 e 30, o livro ainda vivia a sua fase
amadorística, apesar de que antes Monteiro Lobato já estivesse agindo como editor” 75, uma
vez que inovou com um processo de distribuição que tentava colocar o livro realmente na mão
dos leitores. Andrade pondera que com o avançar dos anos de 1940, é possível notar que neste
período editores e livreiros adotaram medidas mais concretas que viam no livro um produto
comercial, “direcionado a um consumo em massa, sendo vendido amplamente e para as mais
diversas camadas sociais”76 – como anos antes Monteiro Lobato já pregava e praticava.
Veremos assim, por exemplo, o estabelecimento de campanhas publicitárias, como a “Livro,
Presente de Amigo” e feiras de livros.
Ao contrário de Andrade, Antonio Cândido77 e Sergio Miceli78 acreditam que os anos
de 1930 foram paradigmáticos para o campo livreiro, pois estavam conjugados com mudanças
na educação, na literatura e nos estudos brasileiros. Cândido sugere que as alterações foram
sentidas desde o projeto gráfico até a distribuição, mas, sobretudo, no conteúdo com
interesses em autores nacionais e nos problemas brasileiros79. De igual modo, a partir do
exemplo dos irmãos Pongetti, Sergio Miceli percebe uma expansão do mercado do livro nesta
época, bem como a sedimentação de um corpo empresarial de bens culturais80.
Além de uma expansão, Miceli chega a chamar de “surto editorial da década de 1930”
por ter sido marcado por inovações como o serviço de reembolso postal, contratação de
representantes e de especialistas, como o capista, por exemplo.
Carla Fernanda. O desenho de letras em capas de livros: Edgard Koetz e a Seção de Desenho da Livraria do
Globo de Porto Alegre. Revista do Núcleo de Estudos do Livro e da Edição. São Paulo: Ateliê Editorial, 2015,
p. 151-160. MORAES, Didier D. C. Dias de. O design das capas: a Biblioteca Pedagógica Brasileira, série II
da Companhia Editora Nacional. Revista do Núcleo de Estudos do Livro e da Edição. São Paulo: Ateliê
Editorial, 2015. p. 181-193.
75
ANDRADE, Olympio de Souza. O livro brasileiro: progressos e problemas, 1920-1970. Rio de Janeiro:
Paralelo; Brasília: INL, 1974. p. 29.
76
LIMA, Guilherme Cunha; MARIZ, Ana Sofia. Editora Civilização Brasileira: novos parâmetros na produção
editorial brasileira. In: BRAGANÇA, Aníbal; ABREU, Márcia (Org.). Impresso no Brasil: dois séculos de
livros brasileiros. São Paulo: Unesp, 2010. p. 258.
77
CANDIDO, Antônio. A revolução de 1930 e a cultura. Novos Estudos CEBRAP, São Paulo, v. 2, n. 4, p. 27-
30, abr. 1984.
78
MICELI op. cit., 2001.
79
CANDIDO op. cit., 1984.
80
MICELI op. cit., 2001.
43
Esses avanços poderiam ser compreendidos no que Thomas Skidmore pontuou como
fase na qual “os defensores da industrialização fizeram tentativas periódicas de conseguir
tarifas de proteção mais altas e crédito mais liberal para a indústria nascente”81.
Apesar de incipiente, Skidmore argumenta que “costuma-se tomar a data de 1930
como marco inicial do processo de substituição das importações de produtos manufaturados
pela produção interna”82. Neste período, o Brasil assumia um papel de uma economia
dependente “permutando produtos de base por produtos manufaturados”83, o que pode ter
refletido em “um vigoroso surto editorial e de uma grande expansão no mercado de livros
[...]”84. Esse tão falado surto foi consequência dessa tentativa de substituição de produtos
manufaturados pela produção nacional, mas, no caso específico da produção de livros, houve
mudanças paradigmáticas nas práticas editoriais, como “o desaparecimento da atividade de
antigos artífices impressores, os quais assinavam por seus trabalhos, dando lugar a uma
impressão anônima, nas empresas comercias de impressão”85.
Além do reforço para produção nacional, substituindo o que vinha de fora, o período
também é compreendido por Daniel Pécaut como uma fase na qual os intelectuais “mostram-
se preocupados, sobretudo com o problema da identidade nacional e das instituições [...]”86.
Eram tempos de buscar compreender e pensar as raízes do Brasil. Como exemplo de reflexo
dessa situação temos a publicação das séries “Brasiliana” e “Documentos Brasileiros”, nos
anos de 1930.
Não devemos esquecer, por fim, que esses anos perpassam pela Semana de Arte de
Moderna, de 1922. Assim, “passou a existir o livro brasileiro, o sacrifício de alguns poucos
empreendedores teve sua recompensa, nossos leitores se identificavam em escritores
nossos”87.
81
SKIDMORE, Thomas E. Brasil: de Getúlio a Castello (1930-1964). Tradução de Berilo Vargas. São Paulo:
Companhia das Letras, 2010. p. 74.
82
FAUSTO, Boris. História do Brasil. Colaboração de Sérgio Fausto. 14. ed. ampl. e atual. São Paulo:
EDUSP, 2013. p. 333.
83
Idem.
84
DUTRA, Eliana de Freitas. A nação em livros: a biblioteca ideal na coleção Brasiliana. In: _____; MOLLIER,
Jean-Yves (Org.). Política, nação e edição: o lugar dos impressos na construção da vida política: Brasil,
Europa e Américas nos séculos XVIII-XX. São Paulo: Annablume, 2006. p. 303.
85
DUTRA, op. cit., 2006. p. 303.
86
PÉCAUT, Daniel. Os intelectuais e a política no Brasil: entre o povo e a nação. Tradução de Maria Júlia
Goldwasser. São Paulo: Ática, 1990. p. 14.
87
SORÁ, op.cit., 1998. p. 254.
44
Esta época conhecida como boom do “mercado nacional”, porém as queixas são tantas
em razão de uma demanda não atendida que cremos ser necessário relativizar esse chamado
boom do mercado editorial francamente comentado na literatura sobre o impresso no Brasil.
Por isso, acreditamos que o boom tenha sido muito menos de produção e mais de
demanda e circulação do que de produção interna, pois, apesar da intenção de substituir
importações88, esse processo seria lento.
Sobre este período, Aníbal Bragança afirma que se inicia timidamente uma política
para o livro no país”89. Em dezembro de 1937, o Decreto Lei n. 93, de 21 de dezembro de
1937, cria o Instituto Nacional do Livro (INL)90 que dentre outras funções deveria: “promover
as medidas necessárias para aumentar, melhorar e baratear a edição de livros no país, bem
como facilitar a importação de livros estrangeiros”91. Os temas mais importantes que
deveriam ser priorizados espelham o que disse Cândido92 – assuntos brasileiros – e, nesse
88
Maria da Conceição Tavares via que este processo, não obstante vir a partir dos anos de 1920, se intensificou
numa fase que foi de 1945 aos anos de 1960, com o fortalecimento das instituições. Ver: TAVARES, Maria
da Conceição. Da substituição de importações ao capitalismo financeiro. 2. ed. Rio de Janeiro: J. ZAHAR,
1973. “Apesar da preponderância das pequenas empresas, o crescimento do setor fabril nos anos trinta, através
do processo de substituições de importações, desenvolvia o mercado interno, diferenciando a economia dos
anos trinta daquela do período anterior, ‘tipicamente exportadora de matérias-primas’. Nos anos seguintes à
crise de 1929 o mercado interno tornou-se fator dinâmico da economia” (KOSHIYAMA, 2006, p. 132).
89
BRAGANÇA, Aníbal. As políticas públicas para o livro e a leitura no Brasil: o Instituto Nacional do Livro
(1937-1967). Matrizes, São Paulo, v. 2, n. 2, p. 221-246, 1. sem. 2009. p. 225.
90
Sobre o INL: OITICICA, Ricardo. O Instituto Nacional do Livro e as Ditaduras: Academia Brasília dos
Rejeitados. Tese (Doutorado em Letras) – Departamento de Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio
de Janeiro, Rio de Janeiro, 1997.
Alicia Mitika Koshiyama inclui a criação do INL dentro de um grupo de mecanismos de controle instituídos
por Getúlio Vargas: “Para o controle dos meios de comunicação foram criados diversos órgãos encarregados
de acompanhar as várias etapas de elaboração e divulgação de mensagens através de meios impressos,
radiofônicos e cinematográficos. No caso específico da produção de livros, mal se instalava o Estado Novo foi
criado o Instituto Nacional do Livro [...]. Ao órgão caberia, além da função de proteger o livro, a de vigiar ‘no
sentido de que ele seja não o instrumento do mal mas sempre um inspirador dos grandes sentimentos e das
nobres causas humanas” (KOSHIYAMA, 2006, p. 147).
Vale também uma análise em dois trabalhos recentes sobre INL: TAVARES, Mariana Rodrigues. Digressões
sobre o gênero enciclopédico: a Enciclopédia Brasileira em meio às transformações do campo científico da
década de 1950. Mosaico, Rio de Janeiro, v. 8, n. 13, p. 319-335, 2017. Disponível em:
<http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/mosaico/article/view/70391>. 28 jan. 2018.
TAVARES, Mariana Rodrigues. Editando a nação e escrevendo sua história: o Instituto Nacional do Livro e
as disputas editoriais. Aedos, Porto Alegre, n. 15, v. 6, p. 164-180, jul./dez. 2014, Disponível em:
<http://www.seer.ufrgs.br/index.php/aedos/article/view/45083>. 28 jan. 2018.
91
Idem, p. 40.
92
Cf. CANDIDO, 1984.
45
caso, o Art. 2, inciso b, previa que o INL deveria “editar toda sorte de obras raras ou
preciosas, que sejam de grande interesse para a cultura nacional”93.
Ao contrário de outras instituições criadas no período como, por exemplo, o Serviço
Nacional de Teatro94, o INL não significou o estabelecimento de orientações, prescrições ou
mesmo apoio ao setor livreiro. Chegou inclusive a receber algumas críticas por isso 95. Ao
longo das décadas de 1940 e 1950, o setor queixa-se dessa ausência de orientação e apoio
estatais, muito embora fossem muito claros os objetivos aos quais o INL se destinava96. É
indispensável pensar o motivo pelo qual o livro não ocupa esse papel oficial de veículo de
difusão cultural, assim como o teatro, por exemplo, que terá um órgão com função de
viabilizar produções. Coube a organismos patronais o estabelecimento de diretrizes
normativas que, aos poucos, profissionalizaram o mercado do livro no Brasil.
Apesar desses avanços e progressos, é importante ressaltar que os anos 1930 e 1940
viveram também sob o peso da censura e controle das ideias. Afinal, tão castrador e
problemático como as políticas cambiais, a vida editorial sofreu uma “purificação das
ideias”97, que atingiu todo o país.
Maria Luiza Tucci Carneiro lembra que “ser escritor, intelectual, tipógrafo, professor
ou editor, no período de 1923-83, não era nada interessante [...]”98. Os critérios dos censores
variaram desde “linguagem fraca, ou erotismo no tema ou no tratamento, tanto quanto a
inaceitabilidade pública”99. Como era de se esperar, o controle, cerceamento e destruição em
93
Cf. BRASIL. Câmara dos Deputados. Decreto Lei n. 93, de 21 de dezembro de 1937. Cria o Instituto Nacional
do Livro. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1930-1939/decreto-lei-93-21-dezembro-937-350842-
publicacaooriginal-1-pe.html>. 28 jan. 2018.
94
CAMARGO, Angélica Ricci. Por um serviço nacional de teatro: debates, projetos e o amparo oficial ao teatro
no Brasil (1946-1964). 2017. 398f. Tese (Doutorado em História Social) - Instituto de História, Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017.
95
Cf. LIMA, Felipe Victor. O primeiro congresso brasileiro de escritores: movimento intelectual contra o
Estado Novo (1945). 2010. 229 f. Dissertação (Mestrado em História Social) – Programa de Pós-Graduação
em História Social, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010.
96
Retomaremos o INL mais de perto no Capítulo 2 ao tratarmos as intenções científicas para o ensino superior
desejados pelo plano da Enciclopédia Brasileira.
97
CARNEIRO, Maria Luiza Tucci. O Estado Novo, o Dops e a ideologia da segurança nacional. In:
PANDOLFI, Dulce (Org.). Repensando o Estado Novo. Rio de Janeiro: FGV, 1999. p. 328.
Em trabalho anterior a autora tratou do assunto: CARNEIRO, Maria Luiza Tucci. Livros proibidos, idéias
malditas: o Deops e as minorias silenciadas. São Paulo: Estação Liberdade; Arquivo do Estado, 1997.
98
Idem, p. 337. Ver também: DUTRA, op. cit., 2013. p. 229-274.
99
HALLEWELL, 2005. p. 456.
46
100
Cf. HALLEWELL, 2005. p. 457.
101
DUTRA, op. cit. 2006.
47
[...] aos desbravadores tudo é difícil. Eram poucas as fábricas de papel – menos
ainda as de maquinaria gráfica – e a mão de obra especializada, escassa. Muitas
vezes também não havia originais de autores nacionais. Assim, nos primeiros
tempos, era importar papel, máquinas e traduzir, em muitas áreas, obras estrangeiras.
Imprimir no exterior, especialmente em Portugal e França, foi uma prática usual até
que a Primeira Guerra tornou mais difícil o comércio internacional com a Europa.
Isto estimulou o desenvolvimento de tipografia brasileira e da indústria do papel, o
que nesses tempos heróicos significava, em geral, preços altos e baixa qualidade dos
produtos e serviços103
Além da demanda motivada pela expansão dos três níveis do ensino – primário,
secundário e superior – e da criação dos cursos técnicos, houve também um impacto causado
pela diminuição do fluxo de importação de livros da Europa, conforme contexto apontado na
citação com que abrimos esta subseção. Os efeitos da Primeira e Segunda Guerra seriam
sentidos em nosso mercado. A Primeira, cremos, deu motivação e estimulou o
desenvolvimento da impressão de livros no país. Um caso emblemático seria Monteiro
Lobato, que buscou novos fornecedores fora da Europa. Durante e a partir da Segunda essas
características seriam acentuadas ainda mais e trariam mudanças sensíveis para o campo
editorial brasileiro.
Na década de 1930 o periódico carioca Observador Econômico e Financeiro104
publicou várias matérias sobre o livro, com facetas na economia, divulgação, leitores,
qualidade dos autores e nos problemas cambiais105 que o país vinha enfrentando.
Assuntos que, como veremos, perpassariam também os anos 1940 a 1960, com
algumas poucas variações; e, se buscássemos um estudo retrospectivo, seria possível
evidenciar pontos semelhantes desta pauta. Atinentes, porém, ao recorte proposto,
102
Fernando Paixão classifica os anos de 1930 a 1945 como o terceiro período dentro das fases do livro no país.
Cf. PAIXÃO, Fernando. Momentos do livro no Brasil. São Paulo: Ática, 1997.
Alice Mitika Koshiyama faz uma análise na qual relaciona a contingência política e econômica com o
mercado editorial dos anos 1930 e 1940 no capítulo “O processo de industrialização no Brasil: a produção de
livros e Monteiro Lobato: 1931-1948”. Ver: KOSHIAYAMA, Alice Mitika. Monteiro Lobato: intelectual,
empresário e editor. São Paulo: Edusp: Com-Arte, 2006. (Coleção Memória Editorial, 4).
103
BRAGANÇA, Aníbal. As políticas públicas para o livro e a leitura no Brasil: O Instituto Nacional do Livro
(1937-1967). Matrizes, São Paulo, v. 2, n. 2, p. 223, 1. sem. 2009.
104
Um panorama histórico deste jornal é possível ser lido em: CORRÊA, Maria Letícia. Um estudo sobre o
debate desenvolvimentista nas páginas do O Observador Econômico e Financeiro (1936-1954). In:
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE HISTÓRIA, 26., 2011, São Paulo. Anais... São Paulo, 2011. Disponível em:
<http://www.snh2011. anpuh.org/resources/anais/14/1300846361_ARQUIVO_marialeticiacorrea_anpuh
_2011.pdf>. 28 jan. 2018. O periódico está disponível digitalmente na Hemeroteca Digital da Biblioteca
Nacional. O físico pode ser acessado na BN e também no IHGB.
105
Discutiremos melhor esse assunto adiante.
48
106
BRAGANÇA, op. cit., 2009, p. 223. O autor tece estas considerações remontando o final do século XIX, mas
consideramos absolutamente plausível para pensar o período que estamos aqui abordando.
107
SORÁ, op. cit., 1998. p. 320.
108
SORÁ, op. cit., 1998. p. 321.
109
CALVINO FILHO. O problema do livro no Brasil: como tornar de preço accessivel o livro estrangeiro e
estimular a produção do livro nacional. Observador Econômico e Financeiro, Rio de Janeiro, outubro de
1936.
110
DUTRA, op. cit., 2016. p. 244.
49
A “produção do livro nacional” aqui está mais voltada para estímulo ao autor
brasileiro e a impressão de livros no país, diferentemente do que foi possível notar em textos
dos anos de 1940, onde “livro nacional” também compreendia livros traduzidos e impressos
no Brasil. No campo de produção nacional, Calvino Filho propõe ao governo que esse deveria
promover intercâmbio de publicações didáticas entre os demais países de América Latina,
com trânsito livre sempre à necessidade de tradução de ambas as partes.
No que concerne ao comércio do livro estrangeiro ele propôs
Regulamentando o commercio de livros estrangeiros e isentando-os dos impostos de
importação, o Governo consegue uma reducção mínima de 24,3%, dos preços
actuaes, e não prejudica a economia nacional. Comprando direitos autoraes e os
cedendo gratuitamente aos editores brasileiros, o Governo attinge todos os seus
objectivos immediatos e remotos, materiaes e Moraes, pois fará uma economia, ao
fim de 3 a 5 annos, de milhares de contos de réis, em favor da nossa economia e
facilitará a todos os brasileiros um intimo e directo contacto com as fontes do
progresso scientífico mundial.
Todo e qualquer movimento em favor do livro nacional não pode ser estribado em
protegel-o da concorrência dos estrangeiros. A cultura não pode estar a mercê de
interesses comerciaes de autores ou editores. Aliás, a concorrência do livro
estrangeiro só pode attingir a meia dúzia de livros didacticos superiores. Mesmo
neste caso, a concorrência não pode ser seria, de molde a prejudicar o livro nacional,
pois este tem a defendel-o o preço muitíssimo mais baixo e a indicação do professor.
Prohibir a entrada das optimas Physiologias, Anatomias, Histologias etc, francezas,
allemãs etc., apenas porque possuímos alguns compedios, que nos envergonham sob
todos os aspectos, não é proteger o livro e a cultura nacionaes, mas estimular os
incapazes a copiarem, e mal, o que se encontra perfeito em compêndios estrangeiros,
com o fito único de lucro. [...]
Fiz essas considerações para mostrar que precisamos urgentemente proteger e
estimular o estudioso brasileiro, que se preoccupa com problemas de interesse
publico muito limitado, mas de alto mérito scientífico ou social 111.
Outro fator de dificuldades para o livro tanto nacional quanto estrangeiro era a
distribuição. Um problema recorrente devido às dimensões do Brasil. Calvino declarou que
“em verdade, só o leitor dos maiores centros do paiz, em trez ou quatro, é que, com relativa
facilidade, podem adquirir nos livreiros algumas publicações estrangeiras”. Já em outras
partes do país, os intelectuais não tinham “a menor possibilidade de contacto com a evolução
da sciencia, porque as livrarias locaes são de uma pobreza lamentável, tanto nos nacionaes,
como nos estrangeiros”112.
O papel do governo como provedor do livro é fortemente marcado ao longo dos
discursos. Além de gerar subsídios para compra, será exigido dele também a formação e
manutenção das bibliotecas. A força motriz para o crescimento intelectual que se buscava
naqueles anos de governo de Getúlio Vargas estava condicionada não somente a facilidade de
111
CALVINO FILHO, op. cit., 1936. p. 49.
112
CALVINO FILHO, op. cit., 1936. p. 41-50.
50
comprar livros nas livrarias, mas de acesso a eles em bibliotecas. Interessante pensarmos que
no ano seguinte (1937) o INL seria criado e, em tese, deveria ocupar-se também de prover as
Bibliotecas Públicas do país. No que tange especificamente à importação de livros de ensino
superior, Aníbal Bragança113, ao comentar o decreto lei número 1.006, de 30 de dezembro de
1938114, lembra que por ele o governo estabelecia “condições de produção, importação e
utilização do livro didático”, mediante autorização prévia do Ministério da Educação.
Todavia, os livros de ensino superior ficariam isentos desta permissão, pois compreendia-se
que era dever do professor orientar os alunos na escolha de boas obras.
De volta ao texto de Calvino Filho, ele classifica como “livros didacticos superiores”
aqueles que eram incorporados ao ensino superior e afirma que eram a maior parte dos
procurados para importação. E comenta uma prática que hoje poderíamos comparar com as
“compras coletivas”, muito comum nos colégios de ensinos fundamental e médio. De acordo
com ele, à sua época, o grêmio estudantil da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro havia
criado a Caixa Beneficente Miguel Couto que tinha objetivo de comprar diretamente com
editores e livreiros com descontos que variavam de 20% a 30%. Consequentemente, o grêmio
sugeria que essa prática fosse ampliada de modo que os estudantes pudessem alcançar até
40% de desconto nos livros estrangeiros115.
Desta forma ele ponderava que “o Governo lograria fornecer ao estudante o livro
barato e de forma accessível, sem os preços augmentados, com os juros e outros
inconvenientes das livrarias que vendem a prestações”116.
Sobre o ensino superior naquele período, é relevante trazermos aqui as considerações
sintetizadas de Laurence Hallewell que nos ajudam a compreender e igualmente nos fazem
questionar essa demanda tão comentada
[...] Não havia, de fato, verdadeira educação universitária no Brasil até meados da
década de 1930. Antes da Primeira Guerra Mundial, a educação superior era muito
acanhada em seus objetivos e extremamente limitada em números. [...] A primeira
universidade do Brasil, no sentido geralmente aceito da palavra, foi a criada em São
Paulo, em 1934 [...]. No ano seguinte (1935), Pedro Ernesto Batista, prefeito do Rio
de Janeiro, fundou a Universidade do Distrito Federal, muito semelhante à sua
congênere paulista. [...] A expansão realmente significativa teve início no governo
de Juscelino Kubitschek, quando aumentou o envolvimento direto do Governo
113
BRAGANÇA, op. cit., 2009. p. 230.
114
O decreto na íntegra:
<http://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1930-1939/decreto-lei-1006-30-dezembro- 1938-350741-
publicacaooriginal-1-pe.html>. 28 jan. 2018.
115
CALVINO FILHO, op. cit., 1936. p. 45.
116
Idem.
51
117
HALLEWELL, op. cit., 2005. p. 373-374.
118
HALLEWELL, op. cit., 2005. p. 378.
119
CALVINO FILHO, op. cit., 1936. p. 47.
52
sobretudo àqueles que se dedicavam à importação120, pois julgava que deveriam vender os
livros ao mesmo valor do câmbio negociado e não a partir de uma conversão que encarecia
muito mais o valor final ao comprador. A quarta sugestão chama atenção, pois será
exatamente umas das ações com que o Acordo MEC/USAID se ocupará nos anos de 1960. No
oitavo item sugerido, vemos a preocupação com a distribuição que atingia valores muito altos
devido ao tamanho do país e, no item 9, ficamos com uma dupla percepção, dada a
conjuntura, se era uma referência à ideia de exportação ou, ao contrário, a proposta de
importar livros vindos dos países latinos.
O livro estrangeiro segue como pauta do periódico Observador Econômico e
Financeiro na matéria “A publicidade no Brasil”121. O texto expõe os entraves para a
importação de livros devido desvalorização da moeda nacional122.
Para ele, a consequência disso é a baixa vendagem e, em função dela, a afirmação:
“Ah! O brasileiro não lê!”, que o autor discorda peremptoriamente, pois, não “lêm porque não
tem notícia siquer [sic!] do seu [do livro] apparecimento”123. Por isso, retoma ideia de
Monteiro Lobato para criticar o mercado ao escrever que “o livro devia ser para o editor e
para o livreiro uma mercadoria como outra qualquer e não esperar que este venha
displicentemente percorrer os stocks das livrarias”124. Conclui seu pensamento declarando que
[...] o livro é lançado quase clandestinamente. Um dia ou dois nas vitrines das
livrarias e, depois, o perpetuo silencio das estantes. O editor ou livreiro distribuidor
espera que os consumidores de livros tenham por acaso notícia do novo trabalho ou
que as críticas officiaes da imprensa a elle se refiram. Mais tarde, lamentam-se do
negócio precário que fizeram. [...] Os críticos literários são morosos ou só
encontram guarida nos jornaes quando estes não tem assumptos mais palpitantes 125.
120
Sobre a questão cambial, vale lembrar o chamado “dólar livro”, uma espécie de tabela de conversão cambial
instituída por donos de livrarias.
121
PUBLICIDADE no Brasil. Observador Econômico e Financeiro, Rio de Janeiro, jan. 1937. p. 1-2.
122
Um histórico mais especializado desses e outros contextos econômicos do Brasil do início do século XX aos
anos de 1950 pode ser consultado em: KUPERMAN, Esther. Velha Bossa Nova: a Sumoc e as disputas
políticas no Brasil dos anos 50. Rio de Janeiro: Garamond, 2012.
123
PUBLICIDADE no Brasil. Observador Econômico e Financeiro, Rio de Janeiro, jan. 1937. p. 2.
124
Idem.
125
Idem.
126
O LIVRO na economia. Observador Econômico e Financeiro, Rio de Janeiro, maio 1937. Sobre a
baixa de divulgação do livro nacional, consta que em 1938 o Instituto de Estudos Brasileiro convidou Levi
53
contexto da economia nacional – algo incomum nos jornais do período –, lamentou a carência
de livrarias em pequenas cidades.
Si ha uma phrase que se repita a todos os instantes entre os que se dedicam ás
actividades da intelligencia é esta: no Brasil não se lê. A grande percentagem de
analphabetos impede naturalmente a expansão do livro. [...]
O que se nos afigura essencial na economia do livro brasileiro é a sua mínima
publicidade. Os livros surgem e desaparecem quasi clandestinamente. O seu possível
leitor ignora-lhe a existência127.
O autor chama atenção para o alto índice de analfabetos e, por isso mesmo, também
relativiza a afirmação de que “O Brasil não lê”. Nessa afirmação, que ainda hoje permanece
na memória discursiva do país, o autor da matéria, ao mesmo tempo em que atribui como
causa o baixo índice de alfabetizados, também relativiza os dados. Parece indicar que as
pesquisas precisam levar em consideração o que acontece no interior e nas capitais, com a
ausência de livrarias. A economia do livro, e não apenas o livro na economia, é
minuciosamente analisada nessa matéria. Para o autor, a publicidade é um elemento
fundamental nesse certame.
O problema do livro, ou melhor, da economia do livro nacional é muito complexo
para ser resumido em poucas palavras. Os homens de governo devem encaral-o
energicamente. Por que a Academia Brasileira, que dispõe de ‘saccos e saccos de
dinheiro’, não crêa um departamento cultural para a divulgação dos bons livros de
ficção de jovens autores brasileiros? Nós, livreiros-editores, somos forçados a
recusar muitos moços que batem ás nossas portas. [...]
O livro é, no ponto de vista do commercio, uma mercadoria como outra qualquer.
Tem de ser offerecido com insistência ao consumidor, em regra, esquivo.
Geralmente os nossos livreiros não podem fazer uma publicidade intensa das
mercadorias. Até hoje não conseguiram sequer syndicalizar-se. Appellam para o
Estado. E um appello universisal, cada vez mais intenso por parte, cada vez mais
ardente no Brasil. Em verdade, os poderes públicos muito podem fazer em favor da
maior divulgação do livro brasileiro, o que vale dizer em favor da maior divulgação
da cultura nacional. [...]
Enquanto os livreiros do Brasil, e, sobretudo, as grandes casas editoras nacionaes,
lançarem no mercado seus livros sem a mínima publicidade – nada se consiguirá de
positivo. Os editores precisam annunciar. Cobrem mais caro pelo livro – mas
annunciem. Essa revoltante indifferença com que a maioria da imprensa recebe as
novas edições é, em grande parte, o reflexo indirecto do estado de espírito do leitor
nacional. Os editores jamais resolverão o seu problema sem a chave da
propaganda128.
Carneiro para falar sobre “O Problema do Livro Brasileiro”. Como debatedores estiveram presentes Afrânio
Peixoto, Lourenço Filho, José Leite e Paulo Azevedo. Na ocasião, Peixoto comentou que “o livro brasileiro
não era exposto, não era oferecido” (ANDRADE, Olympio de Souza. O livro brasileiro: progressos e
problemas, 1920-1970. Rio de Janeiro: Paralelo; Brasília: INL, 1974. p. 31.).
127
PUBLICIDADE no Brasil. Observador Econômico e Financeiro, Rio de Janeiro, jan. 1937. p. 2-3.
128
O LIVRO na Economia. Observador Econômico e Financeiro, Rio de Janeiro, maio 1937. p. 28.
54
Pelo comentário, acreditamos que o autor do texto tenha sido livreiro-editor. Ao longo
desta sequência de citação também fica evidenciada a cobrança ao Estado, que, no entender
do autor da matéria, teria papel preponderante. A ideia de “sindicalizar-se” seria concretizada
alguns anos depois e certamente colaborou para unir forças e vozes, como será possível notar
a seguir, bem como suas ações em prol da promoção do livro.
O tom acerca do poder da divulgação é muito mais forte aqui, pois é colocado como
uma forma de valorizar mais a produção nacional. Sobre a crítica que faz à Academia
Brasileira de Letras (ABL), acreditamos que seria no sentido de esta expandir sua política
editorial, pois a Academia iniciou suas atividades publicando obras a partir de 1923 129. Vale
frisar que a abordagem do livro inserido como parte da economia nacional praticamente só
retornará com mais ênfase na imprensa no período JK.
Finalmente, mas não menos importante, as frases “O livro é, no ponto de vista do
commercio, uma mercadoria como outra qualquer” e “Tem de ser offerecido com insistência
ao consumidor, em regra, esquivo” são absolutamente dignas de destaque. Além de notarmos
os pensamentos marcantes de Francisco Alves e Monteiro Lobato, vemos um prenúncio de
uma forma de abordagem que o mercado editorial brasileiro passou a apresentar das décadas
de 1950 em diante, sem contar que é perceptível a forma capitalista de lidar com o produto.
Em julho de 1939, sob o título O livro e o papel nacional130 o Observatório
Econômico e Financeiro trouxe o relato de uma reunião que havia convocado para discussão
do tema. O objetivo era “offerecer ao governo mais completos elementos de convicção, para
instruir eventuais providências”131. Para isso convidaram: Paulo Azevedo, representando a
Livraria Francisco Alves; Claudio de Souza, representando a Academia Brasileira de Letras;
Othales Marcondes Ferreira, representando a Companhia Editora Nacional e Civilização
Brasileira; Nobrega da Cunha, Diretor do Departamento de Ensino Primário do Ministério da
Educação; Moysés Silveira, representando a Casa Publicadora Baptista; Pedro Gouvêa Filho,
representando a Editora Nacional; Virgílio Campello, representando o Instituto de
Tecnologia.
O texto começa exortando a extensão do tema que para o periódico tinha “uma
excepcional transcendencia, justamente porque não há classe, grupo ou pessoa que escape ao
129
Maiores informações: Academia Brasileira de Letras. Publicações. Disponível em:
<http://www.academia.org.br/publicacoes/introducao>. 28 jan. 2018.
130
O LIVRO e o papel nacional. Observador Econômico e Financeiro, Rio de Janeiro, n. 18, jul. 1939.
131
O LIVRO e o papel nacional. Observador Econômico e Financeiro, Rio de Janeiro, n. 18, jul. 1939. p. 79.
55
A seguir, Paulo Azevedo (da Livraria Francisco Alves) entra na discussão e corrige a
declaração ao dizer que aumento da tarifa não havia sido de 300%, mas de 3.000% e havia
passado de 10 réis para 300 réis. O Observador fará críticas severas ao Governo porque
compreendia que este se associava e cedia sem limites às indústrias que monopolizavam o
papel. Paulo Azevedo foi solicitado a esclarecer a razão de ter, certa feita, afirmado que “era
pelas tiragens (custo bruto do livro) que se pode verificar o que representa o papel no custo do
livro”. Azevedo respondeu
Primeiramente eu desajaria declarar que o livro didáctico é a única coisa de que
entendo. Sobre obras de literatura, melhor poderá falar o meu companheiro, sr.
Othales Marcondes Ferreira, que representa a Editora Nacional nesta reunião.
Particularizando o calculo, portanto, ao livro didactico, sahido da machina, eu posso
affirmar que o preço do papel que elle contém vae actualmente até 92%. [...] O custo
total do livro sahido da officina, incluida a encadernação, representa praticamente
1/3 do preço de venda. [...] A materia prima não pode ser assim tão cara, portanto, o
papel jornal, posto no cáes do Rio de Janeiro está custando 7 a 7 e 1/2 libras a
tonelada135.
Por essa razão, o altíssimo preço praticado pelo mercado do papel no Brasil, Othales
Marcondes Ferreira afirmará que o livro estrangeiro estaria mais caro que o produzido aqui, o
que foi seguido de apoio de todos os presentes. Ele esclareceu que pela natureza dos livros
produzidos por ele, sobretudo literatura, o custo com o papel não chegava a 92%, mas algo em
torno de 20%. Azevedo explicou que, no caso de Francisco Alves, o custo era elevado porque
tinha “cartilhas impressas a quatro cores, em que o papel entra com 92%. Apenas os restantes
132
O LIVRO e o papel nacional. Observador Econômico e Financeiro, Rio de Janeiro, n. 18, jul. 1939. p. 80.
133
Alice Mitika Koshiayma lembra que o próprio Monteiro Lobato, em 1937 escreveu ao governo reivindicando
isenção de taxas para importação de papel para livros (Ver: KOSHIAYMA, op. cit., 2006).
134
Idem.
135
O LIVRO e o papel nacional. Observador Econômico e Financeiro, Rio de Janeiro, n. 18, jul. 1939. p. 80-81.
56
8% [eram] do trabalho de officina”136. Para Marcondes Ferreira, não obstante o alto preço do
papel produzido do país, a qualidade era pífia. Assim, ele comenta que tinha que “imprimir
um livro que é uma verdadeira miseria, porque o papel de categoria é o peor possível, apesar
de ser o de typo mais fino. E o é porque a fabrica o faz mais barato possível”. Concluiu a fala
lamentando: “ora, não é assim, evidentemente, que se deve fazer o livro”. Devido a isto, Paulo
Azevedo afirmou que se negava “a fornecer livros para qualquer exposição no exterior”137.
Sobre a forma de fabricar papel no Brasil, Virgílio Campello argumentou que
As machinas que temos para fabricação de papel são antiquadas. A de Pirahy é de
1888. A fábrica de Itú, em São Paulo, foi montada em 1881, com u’a machina que
esteve na exposição de Paris. A fabrica de papel de Mendes possue duas machinas:
uma dellas, cujo fabricante de prompto não sei, foi montada por Villela, presidente
do ‘Club dos Diarios’, e está trabalhando desde 1886. A outra é de 1888. Há ainda
duas outras, velhas também. A Companhia Melhoramentos, da qual todo mundo
fala, tem maquinas de 1891 e de 1900, e apenas agora adquiriu uma nova, com a
qual, aliás, precisou ficar obrigatoriamente. Esta é realmente boa. De sorte que, com
machinas tão antiquadas, sem velocidade nenhuma, perde-se muita celulose138.
136
Idem.
137
Idem.
138
Idem.
139
Não é nossa intenção uma discussão em minúcias dessa temática, por isso cabe mencionar aqui, em nota o
que disse Alice Mitika Koshiyama: “com a guerra, surgiram obstáculos decorrentes da dependência brasileira
aos bens de produção e às matérias primas do exterior. Assim, a expansão do setor gráfico ficava limitada
pela impossibilidade de importação de máquinas para a indústria gráfica no período de 1940-1944, porque os
Estados Unidos, o único fornecedor disponível, não as vendiam, alegando dificuldades de transportá-las. E a
importação de papel para livros ou celulose (matéria prima para fabricação do papel) enfrentava dificuldades
devido à escassez de oferta e aos preços sempre em alta. Assim, a carência de papel adequado para a
impressão de livros era o problema mais geral da indústria gráfica, uma vez que algumas empresas
dispunham de equipamentos modernos. Nelson Palma Travassos chegou a responsabilizar a indústria
nacional do papel pelo estrangulamento da expansão do setor editorial. A reclamação do impressor Travassos
contra a indústria nacional do papel não era episódica, mas indicava uma oposição de interesses entre os
diferentes setores da incipiente indústria no Brasil nos anos trinta e quarenta, reforçando conflitos
perceptíveis já no início da República Velha” (KOSHIYAMA, op. cit., 2006. p. 157).
57
140
MACHADO, Ubiratan. História das livrarias cariocas. São Paulo: Edusp, 2012. p. 229.
141
CALABRE, op. cit., 2009. p. 11.
142
SKIDMORE, op. cit., 2010. p. 104.
143
PAIXÃO, Fernando. Momento do livro no Brasil. São Paulo: Ática, 1997. p. 42.
144
MOTA, Carlos Guilherme da. Ideologia da cultura brasileira (1933-1974). São Paulo: Ática, 1977. p. 84.
58
145
HALLEWELL, op. cit., 2005. p. 491.
146
KOSHIYAMA, op. cit., 2006. p. 157.
147
LABANCA, Gabriel Costa. Dos anos dourados às Edições de Ouro: a Tecnoprint e o livro de bolso no Brasil
(1939-1970). 2009. 202 f. Dissertação (Mestrado em História Política) – Programa de Pós-Graduação em
História, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009.
148
LABANCA, op. cit., 2009.
149
PONTES, Heloísa. Retratos do Brasil: editoras, editores e coleções Brasilianas nas décadas de 30, 40, e 50.
In: MICELI, Sérgio (Org.). História das ciências sociais no Brasil. São Paulo: Vértice/Revista dos Tribunais,
1989. p. 359-409.
150
LABANCA, op. cit., 2009. p. 52.
59
dizer que “o expressivo crescimento dos empreendimentos editoriais das décadas de 1930 e
1940, por certo, não possuía a grandeza que apresentava”151.
No campo da história do livro, os anos de 1940 trouxeram outra situação irreversível, a
influência da cultura norte-americana. O mercado editorial norte-americano “encontrou” o
público brasileiro seja com livros importados, seja com a tentativa de “invasão” dos Pocket-
Books a qual foi totalmente rechaçada pelos editores brasileiros, como veremos a seguir.
Relativamente ao que se passou entre 1940 e 1945, os dados numéricos são raros e
precários. Mas o pesquisador constata um fato novo no período: a eclosão do
interesse cada vez maior pelo assunto ‘livro’, que começa a ser examinado e
reexaminado em publicações diárias e periódicas de maneira objetiva, como antes
não se verificou152.
As mudanças advindas na virada dos anos 1930 e 1940 foram importantes, mas
obviamente não foram bruscas. Muitas querelas entre editores e livreiros com o governo
seriam travadas. Dessa forma, grupos patronais foram criados com objetivo também de fazer
frente às disputas e delimitar o posicionamento dos envolvidos com a produção e circulação
do livro. Percebemos que, além de acompanhar o processo de educação no país, era
indispensável tornar o produto mais acessível, mais visível e praticamente elevar o índice de
necessidade do livro. Rio de Janeiro e São Paulo firmam-se como esse local privilegiado de
disputas e fortalecimento do mercado editorial. Foi um período de “consolidação dos meios
de comunicação de massa [...], alicerçado pelo processo de crescimento da camada média
urbana e de uma classe operária”.153
As palavras de Olímpio de Souza Andrade na epígrafe complementam nossa ideia e
abrem espaço para o que abordaremos a seguir. Com efeito, a quantidade de notícias,
reportagens e artigos que localizamos nos jornais que discutem o cenário do livro, não seu
conteúdo, mas sua produção e circulação é muito grande. Os temas livro barato, escassez de
livrarias entram nas pautas, ao lado de outro bastante recorrente que é a importação de livros.
151
Idem.
152
ANDRADE, op. cit., 1974. p. 32.
153
CALABRE, op., cit., 2009.
60
Um desses artigos é de autoria de Jorge Amado”154 que apresentou uma análise sobre a
indústria editorial naquele início de década.
Em nenhum negócio no Brasil existem tantas e amargas queixas quanto no negócio
do livro. Editores queixam-se dos livreiros e do público, autores queixam-se dos
editores, livreiros lastimam-se da freguesia, todos têm de que e de quem se queixar.
Em relação ao publico, o negócio de livros no Brasil pode ser definido nestas
palavras tristes e verdadeiras: ‘vendem-lhes gêneros quase sempre de qualidade
inferior, por preço altíssimo’. E tanta é a sede de cultura que vae pelo paiz que ainda
assim o público compra, esgota edições e não reclama 155.
A queixa, segundo o autor, não era no singular, mas em vários “plurais” e de todos os
lados. Na primeira seção, “Collecções para moças”, fez críticas contundentes e muito duras a
este gênero que, para Jorge Amado, era “uma das mais nocivas entre quantas existem, a
cultura das jovens brasileiras”156. Acreditava na ação perigosa desse tipo de literatura para
moças do interior que seriam vítimas de ilusões fáceis. Para ele, os editores de pequenas casas
usavam do seguinte estratagema: “encommendam a qualquer escrevinhador apenas
alphabetizado, uns quantos livros pra moças, que publicam como si fossem traducções e aos
quaes attribuem como de autor ou autora, um nome estrangeirado [...]”157. Jorge Amado,
afirmou que tal situação também acontece nos “romances de detectives, pastichados no Brasil
por semi-literatos que os vendem para que saiam com nomes estrangeiros bem soantes”158.
Por fim, faz um alerta de que o perfil danoso desse tipo de literatura poderia produzir
pequenas “Madames Bouvary” pelo país uma vez que, para ele, a moça do interior não teria
discernimento para julgar o que era fantasia. Para ele, essa influência poderia explicar a
aversão dos pais aos romances
Isso explica a aversão de innumeros paes do interior pela leitura, as freqüentes
prohibições ás moças de possuírem e lerem qualquer espécie de livros. A falsa
literatura para moças causa, por vezes, bem difficeis transtornos nas pacatas vidas
que se desenrolam no interior. Além do mais, por viciar o gosto literário dessas
pobres moças, transformam-se em pobres creaturas inteiramente incapazes de sentir
qualquer coisa de melhor, qualquer força intellectual mais poderosa. Maus
literariamente e maus humanamente, porque falsos, esses livros não causam o
mínimo de benefício ás moças brasileiras. Mas como beneficiam elles os editores!
São uma das mais largas fontes de renda dos fabricantes do livro nacional.159
154
Citado por: ANDRADE, op. cit., 1974, p. 31.
155
AMADO, Jorge. Problemas do livro brasileiro. Observador Econômico e Financeiro, n. 49, Rio de Janeiro,
fevereiro de 1940.
156
AMADO, op. cit., 1940. p. 39-40.
157
Idem.
158
Idem.
159
AMADO, op. cit., 1940. p. 42.
61
A última frase da citação corrobora nossa afirmação de que, naquele contexto, “livro
nacional” podia também representar livros produzidos no Brasil, não unicamente livros
produzidos no país e de autores nacionais. Essa ideia é de grande importância para
percebemos algumas discussões que seguem abaixo, sejam em oposição aos livros que eram
traduzidos e impressos em Portugal, sejam aqueles manufaturados nos Estados Unidos da
América.
De volta ao texto de Jorge Amado, na seção seguinte, “As Collecções Populares”, ele
condena uma relação perversa que existia entre editores e escritores e, em sua opinião, “o
editor, por princípio, ressalvadas poucas excepções, despreza o escriptor”160. Questionou
também a viabilidade de se fazer um livro barato com papel tão caro e faz menção ainda ao
crescimento da venda de livros de segunda mão, o que, para ele, seria um “modo subtil de
emprestar vendendo”.
Na sequência do artigo, Jorge Amado mostra sua discordância com ausência e, às
vezes, amadorística forma de publicidade no país, pois com algumas exceções, afirma que o
“editor brasileiro não possue iniciativa”. Afirma que o editor “quer vender livros sem
propaganda, sem empregar dinheiro em tornar conhecidas as suas edições, distribuindo um
mínimo de exemplares á imprensa, e nem de longe pensando em anunciar”161. Para concluir
ponderou que “a publicidade das nossas editoras é feita de camaradagem”.
Jorge Amado também questionou a afirmação de que o brasileiro lê pouco ou não tem
interesse por livros e pela leitura, o que, para ele, tinha clara resposta: a maioria não tinha
dinheiro para comprar livros. Argumenta que o interesse pelos livros não era tão nulo quanto
se afirmava, pois cresciam as práticas de livro emprestado e a venda de livros de segunda
mão.
Ainda dentro da temática “escassez de leitores”, por ocasião de uma mostra organizada
na Associação Brasileira de Imprensa pelo então presidente Herbert Mosés162, o jornal O
Globo publicou um artigo no qual faz uma análise áspera do cenário da época. Tal análise, em
alguns aspectos, tem semelhanças com o texto de Jorge Amado. O texto começa de maneira
irônica: “livro nacional! Ahi está um velho assumpto que entrara no rol das fábulas, a força de
160
Idem.
161
AMADO, op. cit., 1940.
162
Presidente da Academia Brasileira de Imprensa de 1931 a 1964. Ver: Academia Brasileira de Imprensa.
Sobre a exposição. O GLOBO, Rio de Janeiro, 8 de novembro de 1940. p. 3.
Disponível em: <http://www.abi.org.br/institucional/historia/presidentes/>. 28 jan. 2018.
62
expectativa, e de experiencias mais ou menos frustaneas. O livro não era possível sem o leitor.
Durante muitos annos nossas equipes de leituras foram escassas” 163
. O autor destaca quatro
atores muito envolvidos com certame: editor, livreiro, autor e leitor. Ele exorta as boas
iniciativas de José Olympio e da Editora Nacional com seus “Documentos Brasileiros” e
“Brasiliana”, respectivamente164. Comenta que certas traduções são mal feitas, na sequência
questiona o critério de seleção e publicação de clássicos do “Brasil antigo”, que para ele era
“mediocramente commercial”165.
Apesar do tom duro ao longo do texto, as palavras de conclusão são bastante otimistas,
pois, segundo ele, “até poucos annos só tinhamos mercadores de livros. Agora já podemos
falar em industria editora”166, e isto se refletia nos mostruários das livrarias. Ao finalizar o
artigo defende a ideia de que o comercio do livreiro necessita de mais incentivo
governamental e leis que o prestigie167.
Um dos grandes obstáculos que livreiros e editores tinham pela frente a fim de levar o
livro às mãos de interessados era o envio postal, sobretudo por causa do tamanho do país,
como já assinalado.
Aliás, as dimensões do Brasil não seriam um problema, mas uma conjuntura, ao passo
que as taxas práticas pelo serviço postal, por sua vez, representavam e representam uma
barreira.
Em 1948, José Lins do Rego escreveu uma espécie de manifesto no jornal O Globo
contra mais uma das medidas do diretor dos Correios, Carlos Luiz Taveira, que impingia mais
custos postais. O texto combatia duramente os altos preços das taxas postais, destacando as
dificuldades de distribuir livros num país tão grande como o Brasil.
Vem o Sr. Taveira, alto titular dos Correios e Telegrafos, defender a majoração das
tarifas postais impostas aos livros, e acusa os livreiros e editores quase como
tubarões. [...] Para salvar ou para melhorar os serviços que estão péssimos acha o
técnico que o livro é materia capaz de sofrer gravames pesados, como diz o Sr.
Taveira, os livreiros são os verdadeiros inimigos dos livros. E como são inimigos
dos livros, então, que se esfole o livro. A solução do Sr. Taveira é a do médico que
mata o doente para solver um caso clínico que se complicou. 168
163
O GLOBO, Rio de Janeiro, 12 de novembro de 1940.
164
Idem
165
Idem.
166
Idem.
167
Idem.
168
REGO, José Lins do. O sr. Taveira e os Livros. O GLOBO, Rio de Janeiro, 19 de junho de 1948.
63
José Lins do Rego criticou duramente Taveira, pois ele, por ser político, deveria
conhecer mais profundamente o assunto sobre o qual estava a legislar. Para tanto, chama o
livro de “artigo de necessidade básica” que, como tal, deveria ser protegido pela Constituição
Federal, tendo todos os subsídios destinados a ele sendo conferidos à sua produção. Sobre a
questão das tarifas postais o escritor recomendou que:
Para vencer a vastidão do nosso territorio com serviços de primeira ordem, acha o
homem, da alta burocracia, que a tarifa cara é água em fervura. E alta tarifa em
pacotes de livros, que já são, no Brasil, produto de indústria e comercio que não
prosperam que dão tantas fortunas fáceis. 169
O texto termina com duras críticas ao governo que vinha adotando medidas que só
prejudicavam os empresários e o povo, pois ficava penalizado pela dificuldade de acesso ao
conhecimento. Como analisamos anteriormente, não se pode perder de vista que, naquele
momento, o papel do livro com meio de promoção cultural estava a se consolidar no Brasil.
Como podemos ver, o tom de Lins do Rego seria uma constante nos discursos da
época. Nessa mesma ocasião, os movimentos associativos vieram somar corpo às
reivindicações e cobranças feitas ao governo federal.
Na institucionalização e profissionalização do mercado do livro no Brasil, duas ações
foram muito importantes170: a criação da Associação Profissional de Empresas Editoras de
Livros e Publicações Culturais (1940); do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL)
e da Câmara Brasileira do Livro (1946). Para Gustavo Sorá, ações como estas representaram
uma tentativa de “impor o livro como produto de um mercado regulamentando e reconhecido
pelo Estado como unidade econômica compacta, em direitos e obrigações para aqueles que
desse produto desejem participar”171.
Naquele momento, a congregação de grupos formados por “Gentes do Livro” era vista
como uma via de fortalecimento. Para Sorá os editores passariam a se configurar como
“corporação profissional”172. E voltando à questão inicial deste Capítulo, ou seja, a
169
REGO, op. cit., 1948.
170
Além dessas, a Associação Brasileira de Escritores, sobre a qual recomenda-se a tese: LIMA, Felipe Victor
Lima. Literatura e engajamento na trajetória da Associação Brasileira de Escritores. 2015. 380 f. Tese
(Doutorado em História Social) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015. Neste período também houve
grande discussões acerca da Biblioteca Pública, sobre o tema recomenda-se a tese: LEITÃO, Bárbara Júlia
Menezello. A relação entre bibliotecas públicas, bibliotecários e censura na Era Vargas e Regime Militar:
uma reflexão. Tese (Doutorado em Ciência da Comunicação) – Escola de Comunicações e Artes,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010. 230f.
171
SORÁ, op. cit., 1998. p. 318.
172
Idem.
64
importância dos anos de 1930 e 1940, é possível inferir que essas e outras iniciativas, como o
Sindicato de Editores de Livro (SNEL), fundado no Rio de Janeiro, foi o resultado, como
vimos, praticamente de um clamor do mercado do livro no Brasil.
Em 18 de novembro de 1940, foi criada a Associação Profissional de Empresas Editoras
de Livros e Publicações Culturais e, na mesma ocasião, foi solicitado seu reconhecimento ao
então Departamento Nacional do Trabalho, como mandava a legislação.173 A diretoria era
formada por nomes do campo editorial na cidade do Rio de Janeiro da época. Presidente:
Themistocleas Marcondes Ferreira, da Companhia Editora Nacional; vice-presidente: Paulo
Azevedo, da Paulo Azevedo & Cia; 1º secretário: José Freitas Bastos, da Livraria Editora
Freitas Bastos; 2º secretário: José Olympio, da Livraria José Olympio Editora; 1º tesoureiro:
Rogério Pongetti, da Casa Editora Irmãos Pongetti; 2º tesoureiro: Fernando Briguiet, da
Livraria Editora Briguiet Garnier; bibliotecário: João Ribeiro dos Santos, da Livraria Editora
Jacintho; membros do Conselho Fiscal: Antonio Bertrand, da Civilização Brasileira S.A.;
Arturo Vecchi, da Editora Vecchi, e Odir Silva, da Livraria Editora do Globo; suplentes:
Rodolfo Pongetti, do Anuario Brasileiro de Literatura; Joaquim Flores, da Livraria Editora
Moura Fontes; Getúlio M. Costa, do Editor Getúlio M. Costa; A. Coelho Branco Filho, da
Livraria Editora A. Coelho Branco; Oscar Mano, da Editora Minerva; Zelio Valverde;
Napoleão Quaresma; Americo Badeschi, da Casa Editora Americo Badecshi; Galvino Filho,
da Editora Galvino Filho, e Abrahão Koogan, da Livraria Guanabara. Passaria a funcionar na
rua 1º de Março, n. 84, 2º andar, Rio de Janeiro.
Um ano depois, em 22 de novembro de 1941, o ministro Interino do trabalho, Dulfe
Pinheiro Machado174, reconheceu a Associação sob o nome de Sindicato dos Editores de
Livros e Publicações Culturais. Na época, passariam a funcionar à Rua da Alfândega, 21, 2º
andar, Rio de Janeiro e dela deveriam fazer parte “todos os editores e editores-livreiros
(aqueles que editam e têm também livraria) brasileiros”175. Apenas em 6 de julho de 1959, o
173
A NOITE, Rio de Janeiro, 4 de dezembro de 1940, p. 6. Também comentado em JORNAL DO BRASIL,
Rio de Janeiro, 7 de dezembro de 1940, p. 15. Cf. SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVRO.
70 anos SNEL. Rio de Janeiro, 2011.
174
Dulfe Pinheiro Machado foi um político brasileiro. Foi ministro interino do Trabalho, Indústria e Comércio
no governo Getúlio Vargas, de 13 de junho a 29 de dezembro de 1941. Disponível em:
<http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos30-37/PoliticaSocial/MinisterioTrabalho>. Acesso
em: 25 maio 2016.
175
A NOITE, Rio de Janeiro, 8 de dezembro de 1941, p. 5. Cf. SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE
LIVRO. 70 anos SNEL. Rio de Janeiro: SNEL, 2011.
65
nome seria simplificado para Sindicato Nacional dos Editores de Livros 176. Em função do
período, Sorá acredita que, “de forma sincrônica, já deveriam estar em marcha os planos para
a criação de uma Câmara Brasileira do Livro”177.
Alguns anos após o estabelecimento do SNEL, editores de São Paulo se reuniram na
cidade para um congresso. No dia 20 de setembro de 1946, em assembleia na sede da Editora
O Pensamento, em São Paulo, eles fundaram a Câmara Brasileira do Livro (CBL) 178. Dentre
os objetivos da Câmara estavam: procurar unir todos os que trabalham para e com o livro,
pugnando pelo desenvolvimento da indústria editorial brasileira e a cultura em geral179.
Bragança180 chama atenção para a inspiração nos ideais de Monteiro Lobato na CBL,
ou seja, acreditavam que “um país se faz com homens e livros”.
Em 1943, no Rio de Janeiro, foi lançada, com apoio do SNEL, uma campanha pró-
isenção de impostos sobre os livros importados181. Esse assunto ficaria cada vez mais intenso,
somando à voz dos editores e livreiros, estudantes e professores de cursos superiores. Em
1944, o Diário da Noite, apresentou a seguinte declaração do professor da Escola de Medicina
da USP, Antônio Carlos Pacheco:
O estudante brasileiro que necessita de livros científicos para consultas, os quais se
tornam mais necessários quando se aproxima o fim do curso e depois da formatura,
[por isso] será de grande benefício com a abollição dos impostos deste que o livreiro
tenha as suas percentagens diminuidas razoalvemente 182.
O SNEL procurou repercutir em São Paulo a campanha que havia começado no Rio de
Janeiro, exigindo a isenção fiscal do livro importado. O então reitor da Universidade de São
Paulo, Jorge Americano, declarou que:
A abolição dos impostos sobre livros importados é uma necessidade para todos os
professores e estudantes que recorrem aos livros estrangeiros como meio de
formação e desenvolvimento de sua cultura. Trata-se de uma medida que encontrou
desde o início o mais franco apoio das instituições do país que desejam conseguir
176
Cf. SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVRO. 70 anos SNEL. Rio de Janeiro: SNEL, 2011.
177
SORÁ, op. cit., 1998. p. 323.
178
CÂMARA BRASILEIRA DO LIVRO. 50 anos. São Paulo: Prêmio, 1997. p. 22. Ver também: BRAGANÇA,
op. cit., 2006. p. 232.
179
JORNAL DE NOTÍCIAS, São Paulo, 4 de agosto de 1946. p. 7.
180
BRAGANÇA, op. cit., 2006, p. 232.
181
Essa concessão viria apenas pelo presidente Eurico Gaspar Dutra, pelo decreto-lei n. 9.763, de 6 de setembro
de 1946. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/1937-1946/Del9763.htm>.
Acesso em: 06 maio 2017.
182
DIÁRIO DA NOITE, São Paulo, 26 de maio de 1944. p. 4.
66
Essa é uma das chaves de leitura que nos ajudaram a compreender que a demanda não
era apenas para os que estavam dentro das Faculdades e Cursos Superiores. Havia as
necessidades de formação continuada daqueles que saíam dos cursos. Por essa declaração
nota-se a recorrente dificuldade que os estudantes tinham para encontrar literatura própria de
sua área, ou, quando encontravam, que tivesse preços acessíveis.
Havia, porém, outra vertente do problema que era a baixa publicação de livros
técnicos. Esse fato que antes já era comentado, ficaria ainda mais presente nos meios de
comunicação. Em texto publicado no Jornal do Brasil de 22 de abril de 1942, J. Costa Ribeiro
destacou a situação do livro do ensino superior e frisou que, dependendo da área, a única
opção era o livro importado.
Em relação aos assuntos de engenharia, então, mais talvez do que aos que qualquer
outra profissão liberal, pode-se dizer que, praticamente, só se estuda em livros
importados do estrangeiro. [...]
Com raríssimas exceções não se encontra, com efeito, nenhum editor, que se queira
arriscar ao empreendimento da publicação de tais obras, por sua natureza, caras e de
difícil execução material, com a perspectiva de vender apenas umas poucas
centenas, se tanto, de exemplares, cada ano, dado o número relativamente pequeno
de estudantes universitários no Brasil184.
Ribeiro admoestou livreiros e editores que, para ele, só se interessavam por livros dos
ensinos primário e secundário, cuja venda era maior, o que era de se explicar porque em
números absolutos a quantidade de alunos no curso superior era menor185. Ele sugeriu que
houvesse maior produção para o nível superior “por motivos de ordem propriamente cultural,
pois não podemos permanecer indefinidamente na dependência de outros países para a
formação técnica e o preparo intelectual da nossa mocidade”186. Importávamos muito, e
traduzíamos pouco e publicávamos autores nacionais menos ainda.
Além da questão entre o livro nacional e o livro estrangeiro, a fala de Ribeiro é
significativa porque também conduz para endossar o que foi proposto estudar nessa tese – o
mercado de publicação para as universidades. Mais importante ainda é o fato de que ele está
183
DIÁRIO DA NOITE, São Paulo, 29 de maio de 1944. p. 6.
184
JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 22 de abril de 1942.
185
Cf. ROMANELLI, op. cit, 1986.
186
JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 22 de abril de 1942.
67
estimulando justamente a produção nacional, todavia, foi apenas na década seguinte que teve
início uma sistemática tradução de livros para esse público.
A conjunção de altos preços para importar livros, baixa produção nacional e demanda
favoreceu o interesse da empresa norte-americana The Pocket Books Inc, pois sua intenção era
vender livros traduzidos a baixo custo, fato que mexeu com os ânimos nacionais e causou
uma comoção sem precedentes entre os editores brasileiros. Estes se mobilizaram contra “a
introdução de livros em língua portuguesa impressos nos Estados Unidos”187, questão que se
tornou uma querela à qual os jornais deram grande destaque.
Com exceção de alguns poucos editores, foi possível perceber nos discursos dos
jornais que, pelo tom dos debates, existiu pouca preocupação com “a influência da cultura
norte-americana, mas apenas com as conseqüências nefastas que a introdução de brochuras a
preços módicos poderiam causar à economia do livro nacional”188.
Para Alice Mitika Koshiyama, ao analisar o assunto:
O comportamento do empresário editorial brasileiro contra a produção estrangeira
concorrente, na forma de pocket books, e a favor da produção estrangeira quando
essa contribuía para diminuir seus custos de produção (papel importado, preferido
em lugar do nacional) atestava a precariedade da oposição nacional ao produto
estrangeiro quando entravam em questão interesses do capital: na retórica do
empresário industrial as restrições feitas ao capital estrangeiro limitavam-se às
circunstâncias em que o capital estrangeiro assumia a posição de concorrente [...].
Portanto, a luta de um setor industrial nacional contra o estrangeiro era luta contra
concorrentes, incluindo-se, neste caso, a campanha dos editores do Brasil contra a
Pocket Books Inc. [...]189
No primeiro semestre de 1943, depois de passar por outros países da América Latina
com igual propósito, desembarcaram em São Paulo, Burr L. Chase, Robert F. de Graff e
187
ANDRADE, op. cit., 1974. p. 117.
Ver também: LABANCA, op. cit., 2009.
188
LABANCA, op. cit., 2009. p. 77.
Essa incursão da empresa norte-americana The Pocket Books Inc precisaria ser mais analisada a luz de uma
verdadeira política de dominação norte-america. Decidimos não entrar nesse caminho, pois notamos
inúmeras facetas que nos deixariam muito distante dos objetivos desta tese. Cabe lembrar a fala de Moniz
Bandeira: “A II Guerra Mundial, como continuação, pelas armas, da concorrência entre imperialistas,
submeteu as nações mais fracas à hegemonia dos Estados Unidos. Ocorreu, internacionalmente, o fenômeno
da concentração e centralização da riqueza, o processo pelo qual a liberdade de competição, principal mola
do progresso, capitalista, engendrou o sistema de monopólios. A derrota militar da Alemanha, Itália e Japão
completou-se com o debilitamento econômico da Inglaterra e da França. Os Estados Unidos, que entraram no
conflito com o mercado interno em relativo equilíbrio e não sofreram, diretamente, os prejuízos da
destruição, implantaram a sua tutela sobre o mundo capitalista e colonial, igualando, na submissão política,
potências industriais e países atrasados. Apenas a União Soviética e os povos em revolução escaparam ao seu
domínio”. (MONIZ, Bandeira. Presença dos Estados Unidos no Brasil: dois séculos de história. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1973. p. 309).
189
KOSHIYAMA, op. cit., 2006. p. 166-167.
68
190
DIÁRIO DE NOTÍCIAS, Rio de Janeiro, 24 e 29 de julho de 1943, p. 9; JORNAL DO BRASIL, Rio de
Janeiro, 29 de julho de 1943.
191
DIÁRIO DE NOTÍCIAS, Rio de Janeiro, 17 de agosto de 1944, p. 6; JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro,
16 de agosto de 1944. p. 8.
192
A MANHÃ, Rio de Janeiro, 5 de agosto de 1944. p. 3
193
A MANHÃ, Rio de Janeiro, 10 de agosto de 1944. p. 3.
194
BRAGANÇA, op. cit., 2009. p. 232.
195
LABANCA, op. cit., 2009. p. 73.
69
No calor das discussões, os editores clamaram nos jornais “Venham lutar com as
mesmas armas”196, além disto acusaram a The Pocket Books Inc de dumping197. O presidente
do SNEL, Temístocles Marcondes Ferreira foi entrevistado pelo Diário Carioca. Para ele se a
situação se efetivasse “[...] sem dúvida, poria em risco toda a indústria do livro [...], passando
assim o industrial estrangeiro a locupletar-se de um mercado que não criou e para o qual não
concorreu com qualquer esforço”198. Ferreira defendia a concorrência em iguais condições
para ambos, editores nacionais e estrangeiros e comunicava que iriam apresentar uma
representação ao Presidente Getúlio Vargas organizada em dezenove argumentos contrários
ao livro de bolso199.
Já O Careta foi mais moderado em relação aos Pocket Books e criticou editores e
livreiros brasileiros porque a questão era tornar o livro mais acessível. Para a revista, o
empreendimento pensava “em servir aos interesses superiores dos brasileiros que carecem,
dentro do seu ‘slogan’, ler, ler sempre, bem e barato”. Conclui o texto afirmando que “numa
terra como a nossa, onde ainda se lê tão pouco, o livro não póde custar o que custa, neste
instante”200. Ou seja, para O Careta – um dos raros veículos de mídia a dizer isto – a
responsabilidade do alto custo do livro também era dos empresários do meio (editores e
livreiros). Esse pensamento pode ser compreendido a partir de Labanca que comenta que
“persistia ainda no campo cultural a idéia de que os editores obtinham ganhos excessivos na
exploração do comércio livreiro, prejudicando escritores e leitores”201.
Corroborando com essa posição d’O Careta, O Observador Econômico e Financeiro
publicou o editorial “O livro de bolso e a cultura ameaçada”, escrito por Valentim F. Bouças
196
O JORNAL, Rio de Janeiro, 12 agosto de 1944.
197
Bragança (2006, p. 232) lembra que no dia 19 de agosto de 1944, A Gazeta, de São Paulo publicou o
“Memorial de editores e livreiros do Brasil ao Coordenador de Assuntos Interamericanos”. Sobre conceito:
“Considera-se que há prática de dumping quando uma empresa exporta para o Brasil um produto a preço
(preço de exportação) inferior àquele que pratica para o produto similar nas vendas para o seu mercado interno
(valor normal). Desta forma, a diferenciação de preços já é por si só considerada como prática desleal de
comércio.”. Ver: BRASIL. Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. Dumping. Disponível em:
<http://www.mdic.gov.br/comercio-exterior/defesa-comercial/205-o-que-e-defesa-comercial/1768-dumping> .
Acesso em: 12 maio 2017.
198
DIÁRIO CARIOCA, 6 de setembro de 1944. p. 5.
199
DIÁRIO CARIOCA, 17 de setembro de 1944. p. 5.
200
CARETA, Rio de Janeiro, 26 de agosto de 1944.
201
LABANCA, op. cit., 2009. p. 76.
70
para quem dizer que a entrada dos ‘Pocket-books’ ameaçaria a cultura nacional era um
argumento infantil202.
Proibir a entrada dessa ou daquela espécie de livro, sob alegação de que vai destruir
a cultura nacional, é um argumento puramente totalitário. Em que época os Estados
Unidos da América do Norte, a França, a Inglaterra, o México, etc. proibiram a
entrada de livros estrangeiros no seu país? Somente os países totalitários encarceram
medrosamente o seu povo debaixo de sete chaves e se fecham ao contacto cultural
com outros povos. O princípio de existência mesmo da vida cultural dos povos está
precisamente na interação, na inter-comunicação, no choque de culturas formando
outras culturas. A nossa ciência está engatinhando, como engatinhando se acha o
nosso progresso técnico. Se tudo isto – ainda em bases muito modestas – se fechar
ao contacto com outras culturas mais estratificadas, fugindo ao intercâmbio com
outros povos mais adiantados culturalmente, ficará marcando passo no mesmo
terreno e não receberemos outras ideias, outras sugestões, outras descobertas 203.
Bouças estabelece aí sua posição acerca da discussão que num primeiro olhar nos
induz a pensar que se tratava de uma espécie de controle à circulação de ideias e não tanto por
razões econômicas. Ora, em outros textos encontramos igualmente essa abordagem dúbia. A
questão que se apresentava pelos editores, pelo menos o que ficou visível pela imprensa, era a
concorrência desleal, mormente de livros traduzidos, que, como veremos, em alguns casos,
eram traduções feitas em Portugal. Obviamente que a circulação de obras estrangeiras, em seu
idioma natural, no Brasil não estava sendo questionada. Seguindo o editorial
O problema do livro de bolso deve ser encarado sem dúvida com seriedade. Mas não
deve se invocar para o caso imperialismos culturais, porque isto é fantasma... Que o
livro de bolso venha para o Brasil sob o mais desbragado protecionismo é injusto.
Que venha concorrer assim com os nossos livros, realizando um verdadeiro
‘dumping’ é criticável. Mas se o livro de bolso surgir sob fiscalização, e pagando os
mesmos impostos e taxas que pagam o livro nacional, não é nada de mais.
Coloquemos a questão nos seus devidos termos para que surja uma solução justa,
equitativa e sem ranços demasiadamente nacionalistas. O nacionalismo exagerado é
a fase pré-fascista204.
202
BOUÇAS, Valentim F. O Livro de Bolso e a cultura ameaçada. Observador Econômico e Financeiro, Rio de
Janeiro, set., 1944, p. 4.
203
Idem.
204
BOUÇAS, Valentim F. O Livro de Bolso e a cultura ameaçada. Observador Econômico e Financeiro, Rio de
Janeiro, set., 1944, p. 4.
71
Os debates sobre o ‘livro de bolso’ editado nos Estados Unidos para a divulgação no
Brasil vieram focalizar mais uma vez a questão do livro nacional ou do livro editado
em nosso país. Não pretendemos opinar aqui sobre os aspectos culturais e
comerciais do discutido ‘livro de bolso’, aliás, ao que parece, ainda mal
esclarecidos. Aproveitamos a oportunidade para insistir num assunto que por vezes
nos tem inspirado comentários: o da má apresentação material do nosso livro e,
frequentemente, da má tradução a que os nossos editores sujeitam originais
estrangeiros. Não ignoramos as várias explicações dadas para o caso, e muitas delas
inegavelmente justas. Não há papel estrangeiro, e o sucedâneo nacional, amparado
pelo protecionismo alfandegário, muito ainda deixa a desejar205.
Apesar de expor algumas mazelas do livro brasileiro, o texto evoca algumas razões
que justificavam a situação. Além desses motivos, afirmou que “o comércio de livros ainda
não permite aos editores pagarem bem as boas traduções, isto é, pagarem razoavelmente aos
que conhecem o próprio ofício de fazer traduções dos originais estrangeiros”206. Ou seja, o
problema era menos da presença de bons profissionais e mais na condição de bem remunerá-
los.
O assunto seguiu na edição de novembro de 1944 n’O Observatório Econômico e
Financeiro207, sob o título “Mercado de Livros”. O texto constatava que a situação do
mercado de livros era curiosa, pois “nunca se vendeu tanto [livro] no Rio. Contudo há um
grande descontentamento entre editores e livreiros”.
A causa para este aumento de vendas era o crescimento da população, sobretudo dos
grandes centros como Rio de Janeiro e São Paulo. Nessa onda de crescimento, a imprensa, o
rádio e o cinema eram poderosos instrumentos “de cultura popular, [pois] desenvolvem
intelectualmente as massas, criando para a literatura novos apreciadores”208. Assim, via-se o
jornal, o rádio, o cinema e o livro como irmãos que se ajudavam mutuamente. Por si, a análise
de que não havia antagonismo, mas uma espécie de retroalimentação já é digna de nota.
Adiante o autor do artigo voltou ao seu argumento e incluiu “outro grande fator do
desenvolvimento de nosso mercado de livros”, ou seja, a Guerra. Para ele as notícias que eram
geradas “pela imprensa, pelo rádio e pelo cinema criam novos leitores de livros. E o homem
que lê o primeiro livro nunca mais abandona as bibliotecas”209.
205
Idem.
206
Idem.
207
OBSERVADOR ECONÔMICO E FINANCEIRO, Rio de Janeiro, novembro de 1944. p. 41.
208
Idem.
209
Idem.
72
Sobre o livro de bolso, o autor do artigo considerava que residia neste certame outra
inquietação de livreiros e editores. Comenta o documento que o setor havia enviado ao
presidente da república solicitando providências210. O ponto de situação era que naquele
momento, “dadas as dificuldades de transportes decorrentes da guerra, os editores nacionais
não podem mandar vir do estrangeiro maquinismos modernos”. O que também corroborava
para aumento de custos, assim estimava-se “que o livro didático poderia ser vendido por 20%
menos e os de literatura por 30% menos, se o preço do papel nacional descesse ao do similar
estrangeiro”211.
O Diário da Noite, com o título “O papel do livro e da imprensa nas democracias”212,
trouxe partes de um discurso que Getúlio Vargas havia feito no dia 7 de setembro de 1944
cuja tônica foram os avanços na economia. Considerava-se, porém, que a produção do livro
era um “se não” nesse contexto. Atribui-se a isto o fato de que “o Brasil não tinha uma
industria de papel capaz de acompanhar o seu vertiginoso progresso, proporcionando à nossa
imprensa e casas editoras o material indispensável para sua missão cultural”213. O texto seguia
com a ideia de que o livro e a imprensa eram armas da democracia e que sem elas não haveria
“povo consciente dos seus direitos e deveres. E o Brasil, cuja população, espalhada pelo seu
imenso território, precisa ser urgentemente alfabetizada”. Para isso, a produção do papel
nacional deveria atender a demanda. De acordo com o texto, a produção insuficiente de papel,
bem como o alto custo em que era comercializado foram apontadas pelos editores como grave
problema que os colocava em “dificuldades para enfrentar a concorrência do livro de bolso –
pocket-book”214.
O SNEL foi a público para se manifestar acerca desse assunto e afirmou que não eram
os editores “que encarecem o livro, e sim o papel”215. Para o Sindicato o tema era algo de
extremo interesse nacional de “magna importância para o desenvolvimento cultural” do
Brasil.
210
Documento transcrito integralmente na edição do Diário Carioca de 17 de setembro de 1944. p. 3.
211
OBSERVADOR ECONÔMICO E FINANCEIRO, Rio de Janeiro, novembro de 1944. p. 41.
212
Diário da Noite, Rio de Janeiro, 10 de outubro de 1944. p. 7.
213
DIÁRIO DA NOITE, Rio de Janeiro, 10 de outubro de 1944. p. 7.
214
Idem.
215
DIÁRIO CARIOCA, Rio de Janeiro, 17 de agosto de 1944.
73
216
Idem.
217
Idem.
218
Ao contrário do que via o autor da matéria do O OBSERVADOR ECONÔMICO E FINANCEIRO de
novembro de 1944, como apresentamos acima.
219
CORREIO DA MANHÃ, Rio de Janeiro, 14 de agosto de 1942.
220
SOUZA, Fernando Tude de. O preço do livro técnico. O Jornal, Rio de Janeiro, 15 de janeiro de 1945. p.
19.
74
pelo alto preço. As palavras de Souza parecem querer indicar que dificultar a entrada de livros
traduzidos seria um ato contra a livre concorrência, embora o SNEL considerasse a
concorrência desleal em razão das facilidades que os americanos tinham. De fato, a
Associação Brasileira de Escritores não se manifestou publicamente ou oficialmente, mas
alguns de seus membros sim. Sobretudo porque, ao que parece, a empresa americana estava
interessada em publicar literatura de fruição, como romances e não apenas livros técnicos
como diz a seguir:
[...] se aquela gente do “Pocket Book” se lembrasse de fazer livros técnicos em
português, seria um acontecimento maravilhoso para todos nós. Precisamos
muitíssimo do livro técnico. Infelizmente a solução que os poderes públicos têm
buscado – pelos seus técnicos alfandegários – tem sido justamente no sentido
oposto. Ao invés de facilitar, dificultar. Pobre do mortal que receba um livro ou
revista como encomenda, por um avião. Insiste até de retirar. As complicações são
tantas que qualquer mortal desanima221.
A questão que subjaz em tudo o que se disse nos artigos mencionados até aqui é a
forma de baixar o valor do livro. Evidentemente, os norte-americanos não estavam
interessados em auxiliar o Brasil nessa seara, mas em reforçar sua penetração no país que
vinha de décadas antes, mas que emerge com força após a II Guerra Mundial. É nessa época
que aparecem os comics “as histórias em quadrinhos, o Super-Homem e o Capitão América,
símbolos do bem, do way of life, consagrado, com a sua aparente pureza lúdica, fantástica, a
ideologia da violência e da brutalidade, a mitologia do Imperialismo”222. A influência no
mercado editorial brasileiro só estava começando e seria irreversível.
Como já referido, naquele momento havia uma demanda nos setores de educação, bem
incipiente, é verdade. Inclusive, os cursos superiores tornaram-se um meio de demanda e
escoamento dos livros importados. Por isso, acreditamos que Fernando Souza pondera que se
houvesse maior interesse pela publicação de livros técnicos – aqui se referindo aos livros para
o ensino superior – seria a solução para problemas graves que aqueles que dependiam desse
tipo de publicação vinham sofrendo e continuariam a sofrer.
Otaíza de Oliveira Romanelli, analisando a evolução da educação no Brasil 223, escreve
que “entre 1920 e 1940 a taxa de alfabetização cresceu a 0,4% ao ano. Entre 1940 e 1950, o
221
SOUZA, op. cit. 1945. p. 19.
222
BANDEIRA, Moniz. Presença dos Estados Unidos no Brasil: dois séculos de história. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1973. p. 309. Ver também: BLACK, Jan Knippers. A penetração dos Estados Unidos
no Brasil. Tradução de Sérgio de Queiroz Duarte. Recife: Fundação Joaquim Nabuco; Editora Massangana,
2009.
223
Para complementação a análise acerca da educação no Estado Novo, sugere-se: SCHWARTZMAN, Simon
(Org.). Educação. In:______. Estado Novo, um auto-retrato: Arquivo Gustavo Capanema. Brasília:
75
crescimento foi de 0,5% ao ano. Entre 1950 e 1960, foi de 1,2%, e, entre 1960 e 1970, a taxa
cresceu a 0,6% ao ano”224. A tabela 1 apresentada a seguir ilustra o aumento das matrículas
dos cursos superiores e com eles o crescimento da procura de livros para a formação.
Uma conjuntura igualmente revelada por Luiz Antônio Cunha aponta para um
crescimento do ensino superior no final da Era Vargas. Ele aponta para um amento de 31% do
efetivo de alunos entre 1931 e 1945, sobretudo nas áreas de medicina, engenharia, direito e
economia225. Estão nos anos de 1940, segundo o mesmo autor, as raízes do processo
modernizador do ensino superior no Brasil226. Um processo que ganhará impulso com a
política econômica da Juscelino Kubitschek e crescerá com a reforma universitária da década
de 1960227.
Como poucos, Gabriel Labanca também nos ajuda na compreensão dessa relação
mercado editorial e universidades. Na segunda metade dos anos 1940, alguns editores
começaram a perceber a demanda da qual falamos até aqui e por isso buscaram se dedicar ao
campo não apenas da importação, mas da tradução de obras ligadas à medicina, engenharia e
arquitetura228. Além da Editora Gertrum Carneiro – seu objeto de estudo –, Labanca comenta
224
ROMANELLI, op. cit., 1986, p. 63.
225
CUNHA, Luiz Antônio. A universidade temporã. 2. ed. rev., amp. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1986.
226
CUNHA, Luiz Antônio. A universidade crítica: o ensino superior na república populista. 3. ed. São Paulo:
UNESP, 2007. Opinião igualmente compartilhada por FREITAG, Bárbara. Escola, Estado e Sociedade. 6.
ed. São Paulo: Moraes, 1986.
227
CUNHA, Luiz Antônio. A universidade reformada: o golpe de 1964 e a modernização do ensino superior.
Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1988.
228
LABANCA, op. cit., 2009.
76
que a Companhia Editora Nacional, a Labor, O Livro Jurídico e Atlas elevaram seus capitais
de comércio de livros técnicos importados e traduzidos.
Voltada exclusivamente para um limitado público formado por estudantes
universitários e profissionais liberais, a Gertrum Carneiro buscava diversificar sua
produção em finais de 1940. As volumosas obras de referência, traduzidas de
autores estrangeiros e encadernadas em formatos tradicionais, geralmente de 23x16
cm, eram vendidas em média por valores que ultrapassavam os 100 cruzeiros.
Entretanto, a partir de 1949, títulos mais acessíveis começaram a aparecer no
catálogo da editora. Não apenas acessíveis aos bolsos, com preços entre Cr$ 15,00 e
Cr$ 60,00, mas também à capacidade de leitura de um novo público de fora da elite
universitária daquela época229.
229
LABANCA, op. cit., 2009. p. 54.
77
exemplo, continua a ser vendida nessa base enquanto a edição não esgotar-se, aqui
como em qualquer praça do Brasil. Livro em estoque não sobe de preço. Uma vez à
venda e colocado na prateleira das livrarias, o seu custo inicial não sofre alteração e
de nenhum modo está sujeito às oscilações do mercado, que, se influem na cotação
dos gêneros alimentícios e outras mercadorias, como o tecido, os metais etc., não
encarecem nem barateiam a obra editada230.
Essa medida fixava o preço do livro e o estabelecia como mercadoria a ser taxada e
controlada assim como as outras. Apesar de uma perspectiva mercadológica, não se
desconsiderava o livro como bem simbólico. Então, o coordenador do referido programa,
Ernani Fornari declarou que
Sem livros não pode haver cultura capaz de reter os bens presentes, nem civilização
para alcançar um futuro bom; com livros caros, só pode haver privilégio cultural
para poucos e civilização cochichada, de ouvido e boca, males estes que, na época
atual, dado o adiantamento social e espiritual da humanidade, são, em suas
consequências, perigosos e cruéis231.
230
CULTURA POLÍTICA: Revista Mensal de estudos brasileiros, Rio de Janeiro, v. 4, n. 42, p. 64, jul. 1944.
O GLOBO, Rio de Janeiro, 08 de agosto de 1944. p. 10.
231
CULTURA POLÍTICA. Revista Mensal de estudos brasileiros. Rio de Janeiro, ano IV, n. 42, julho de 1944.
p. 66.
232
CÂMARA BRASILEIRA DO LIVRO. 50 anos. São Paulo: Prêmio, 1997. p. 22.
233
CORREIO DA MANHÃ, Rio de Janeiro, 24 de novembro de 1946. p. 9. DIÁRIO DE NOTÍCIAS, Rio de
Janeiro, 29 de dezembro de 1946. Encontramos reverberação da campanha também em outras cidades.
Conforme: DIÁRIO DA TARDE, Curitiba, 4 de outubro de 1946.
234
O GLOBO, Rio de Janeiro, 25 de novembro de 1946. p. 13.
78
Com base nos dados que localizamos em periódicos, bem antes a ideia de associar o
livro em campanhas publicitárias já vinha ocorrendo. A diferença seria a forma sistemática e
conjugada como a que foi coordenada pela CBL e que seria apropriada por todos que
aderiram à campanha. Analisemos alguns exemplos de anúncios que buscaram associar
elementos comuns ao que veremos em 1945.
Em 1935 a Livraria Annunziato (Figura 1) estabeleceu um anúncio que associava uma
ideia próxima ao da campanha lançada dez anos depois. Dizia: “livro é o melhor presente que
v. s. pode dar a uma parente ou amigo”235. Outro exemplo é de 1941 quando a Livraria
Civilização Brasileira, no Rio de Janeiro, vinculou nos jornais um anúncio que dizia “Um
livro é o melhor presente das festas”236 (Figura 2).
235
CORREIO PAULISTANO, São Paulo, 12 de janeiro de 1935. p. 23.
236
REVISTA DA SEMANA, Rio de Janeiro, 20 de dezembro de 1941. p. 20.
79
ótimo investimento. Essas frases de efeito foram evocadas em algumas matérias que
buscavam analisar o baixo índice de leitores no Brasil e consequente baixa aquisição de
livros. Como em anos anteriores, as causas continuariam as mesmas, ou seja, valor do livro e
índice ainda alto de analfabetos237. A resolução da segunda causa estaria implicitamente na
pauta dos próximos congressos de editores e livreiros na medida em que buscariam estimular
o debate da erradicação do analfabetismo no país. Afinal, seria um mercado em potencial.
237
Conforme: JORNAL DE NOTÍCIAS, São Paulo, 15 de dezembro de 1948. p. 6.
83
O publico paulista tem ainda viva na memória a Campanha do Livro levada a efeito
no ano passado, sob o sugestivo ‘slogan’: Livros, presente de amigo. Essa magnífica
campanha, que tantos elogios mereceu dos maiores homens de letras já está sendo
repetida novamente este ano em escala maior. [...] campanha vitoriosa, realizada este
ano mais uma etapa desse grandioso programa que os dias futuros irão transformar
em verdadeira cruzada nacional238.
A Figura 6 exemplifica um discurso que se tornará presente até os dias atuais, o qual
busca mostrar a capitalização futura ao comprarmos livros, bem como a compensação por
esse ato. A campanha buscará também relacionar a proximidade do livro com nosso cotidiano,
e como ele pode ser uma boa companhia, assim como um amigo. Oferecer livro a alguém
passa a ser um ato de generosidade por parte de um amigo.
238
DIÁRIO DE NOTÍCIAS, Rio de Janeiro, 26 de novembro de 1946, p. 5. Também noticiada em: CORREIO
DA MANHÃ, Rio de Janeiro, 24 de novembro de 1946; JORNAL DO COMMERCIO, Rio de Janeiro, 24 de
novembro de 1946; A NOITE, Rio de Janeiro, 25 de novembro de 1946. p. 5.
84
cidade de São Paulo239. Na mesma ocasião, houve uma exposição de livros nacionais 240. A
sessão inaugural aconteceu às 17h no auditório da Biblioteca Pública Municipal. Estiverem
presentes o governador Adhemar de Barros e o ministro da Educação, Clemente Mariani,
dentre outros241. No discurso de abertura, o então presidente da Câmara, Jorge Saraiva,
declarou que
O produtor de livros é agente de conhecimento e da sensibilidade. Seu trabalho, sem
dúvida um negócio, não pode, entretanto, ser encarado apenas como tal. É ele, mais
do que um comerciante, um fator ponderável na evolução da cultura, na divulgação
do pensamento científico, um disseminador das coisas do espírito e da técnica em
geral242.
Há aqui uma constante dualidade entre aquele que produz um instrumento de cultura,
mas que igualmente é um comerciante. Jorge Saraiva parece escusar-se do caráter
mercantilista, o que é uma contradição, visto que louvam e evocam tanto a figura de Lobato,
que afinal, tão bem soube lidar com essa característica. Para Saraiva, livreiros e editores são
negociantes, mas não devem perder de vista os efeitos do produto que produzem e
comercializam. O livro é um catalisador de conhecimento científico, avanço intelectual e
espiritual243.
O livro é um instrumento de liberdade e, portanto, de amor e construção, de
progresso e de democracia. Porém, por força de inúmeras causas e circunstâncias,
não é ele difundido com necessária prodigalidade. Nenhuma democracia poderá
subsistir ou desenvolver-se enquanto a cultura não for colocada ao serviço de
todos. Povo emancipado é o que sabe discernir e escolher, trabalhar por si mesmo,
construir o seu destino e somente através de informações exatas e bem
distribuídas, valendo-se da soma de conhecimentos acumulados pelos séculos e
pelas suas gerações, é que tal coisa se plenifica244.
239
JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 7 de novembro de 1948.
Sobre o Congresso e algumas discussões ver: KOSHIYAMA, Alice Mitika. Monteiro Lobato: intelectual,
empresário, editor. São Paulo: T. A. Queiroz, 1982. (Estudos Brasileiros, v. 3); MEDEIROS, Nuno Miguel
Ribeiro de. Edição de livros em Portugal e no Brasil: influência e contra-influência na inversão do poder
tipográfico. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História. ANPUH, São Paulo, Julho de 2011. O
OBSERVADOR ECONÔMICO E FINANCEIRO, de outubro de 1947, comunicou os planos para o
Congresso e listou como planejamento de pauta: direitos autorais, impostos e taxas sobre livros e papel;
verbas oficiais para bibliotecas e correios, livros escolares, livro de texto único, programas escolares,
barateamento de livros, publicidade. Revista da Semana, Rio de Janeiro, 11 de dezembro de 1948.
240
JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 12 de dezembro de 1947. p. 2.
241
JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 21 de novembro de 1948. p. 4.
242
JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 7 de novembro de 1948. p. 2.
243
JORNAL DE NOTÍCIAS, São Paulo, 21 de novembro de 1948. p. 5.
244
JORNAL DE NOTÍCIAS, São Paulo, 22 de novembro de 1948. p. 5.
85
A Feira torna-se uma tradição carioca, como a feijoada, as rodas ou tardes de futebol
no Maracanã246.
Para concluir este Capítulo analisaremos a Feira de Livros na Cinelândia que repercute
ainda hoje como importante espaço de difusão, circulação e divulgação do livro. Nosso
objetivo não é uma análise exaustiva da Feira. Justificamos a presença deste assunto aqui
porque a Feira se tornaria um espaço de venda dos Zahar – primeiro com a Livraria e depois
com a editora – e por ela representar um exemplo da conjuntura do livro e sua circulação entre
os anos 1940 e 1950.
Salvo algum engano grave, a única fonte que localizamos que analisa a Feira de Livros
é Ubiratan Machado247. Para ele, esse evento proporcionou muitas vantagens aos
245
O OBSERVADOR ECONÔMICO, v. 16, n. 189, outubro de 1951. p. 19.
246
MACHADO, op. cit., 2012. p. 295.
86
comerciantes com um evidenciado aumento nas vendas da produção. Machado menciona que
a primeira feira ocorreu em 19 de abril em 1955 porque considera a iniciativa do vereador
Edgar Carvalho com o apoio do prefeito Alim Pedro248. Esse autor, destaca que a intenção era
colocar o livro mais acessível com a intenção de, sobretudo, dessacralizá-lo.
No entanto, se consideramos a organização feita pelo Pen Club do Brasil249, a primeira
Feira de Livros na Cinelândia foi inaugurada em 4 de setembro de 1943250 (Figura 7), com
duração até o final de outubro. Os planos iniciais para criação da feira já eram comentados em
junho daquele ano em alguns jornais, mas o local ainda era desconhecido. A ideia foi louvada
como uma forma de se venderem livros mais baratos. E, de fato, os livros eram vendidos em
onze barracas com descontos de até 10%. Antes desta, porém, o Pen Clube do Brasil havia
organizado em 1942 uma feira-exposição de livros – como chamaram – na Avenida Atlântica,
n. 284, em Copacabana, que funcionava das 16h às 22h251.
A figura abaixo (Figura 8) segue como valioso registro histórico porque mostra o
design de uma das barracas (pavilhão), no caso da Civilização Brasileira, assim como a
247
MACHADO, op. cit., 2012. p. 293.
248
Sobre Pedro Alim: http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/pedro-alim
249
“Fundado em 2 de abril de 1936, no Rio de Janeiro, por iniciativa do escritor Cláudio de Sousa, destina-se a
congregar escritores do País, estimular a criação literária e a concepção universalista dos bens da cultura, da
liberdade e da paz, propugnando os sentimentos que animam o P.E.N. Internacional, bem como a UNESCO,
sob cujos auspícios se encontra.” Cf.: História do Pen Club do Brasil:
http://www.penclubedobrasil.org.br/historia.html.
250
A NOITE, Rio de Janeiro, 3 de setembro de 1943. p. 4.
251
O GLOBO, Rio de Janeiro, 20 de novembro de 1941. p. 6.
87
252
O GLOBO, Rio de Janeiro, 17 de julho de 1943. p. 7.
253
DOM CASMURRO, 12 de junho de 1943. p. 6.
88
Em abril de 1955, o vereador Edgard Carvalho apresentou uma proposta que instituía
18 de abril como Dia do Livro na cidade do Rio de Janeiro, data escolhida por ser o natalício
de Monteiro Lobato254. O projeto foi acolhido pelo prefeito Pedro Alim que apoiou o
movimento com a assinatura de uma resolução que recomendava que os professores lotados
no sistema escolar da prefeitura falassem aos alunos sobre Lobato. Nesse contexto, editores,
livreiros e escritores propuseram a realização de uma feira de livro na Praça Floriano Peixoto,
ou como mais comumente conhecida, Praça da Cinelândia. Sob essa conjuntura, dava-se
início a primeira Feira de Livros da Cinelândia, que obviamente não nasceria com este nome.
254
Sobre o Dia do Livro. GAZETA DE NOTICIAS, Rio de Janeiro, 19 de abril de 1955. p. 4; DIÁRIO DA
NOITE, Rio de Janeiro, 12 de abril de 1955. p. 7; A NOITE, Rio de Janeiro, 05 de abril de 1955. p. 5.
89
A Feira foi inaugurada com a presença do prefeito Pedro Alim, no dia 18 abril de
1955, às 19h. Foi composta por 42 livrarias que ofereciam preços diferenciados, com
descontos de 10% a 20%. A previsão era durar quinze dias após os quais percorreria
Copacabana, Méier e Praça Saenz Peña255.
O Diário Noite noticiou o assunto da seguinte maneira:
Iniciativa das mais louváveis esta do vereador Edgard Carvalho, apresentando e
lutando pela aprovação do projeto que instituiu o ‘Dia do Livro’. O primeiro ‘Dia do
Livro’ acaba de celebrar-se, a 18 deste mês, data natalícia de Monteiro Lobato, que
muito lutou pelo livro em nossa terra. Armaram-se barracas públicas para venda de
livros a preços populares, no sentido de torná-los acessíveis, durante certo período
do ano dos menos favorecidos da bolsa.
Somente este aspecto econômico bastaria para consagrar a iniciativa daquele
vereador. Mas não será este o aspecto único que ressalta de sua realização. Deve
considerar-se o que significa como estímulo do interesse pelo livro as exposições,
vendas, palestras e conferências, organizadas todos os anos, num país como o nosso,
praticamente infenso ao livro e em, geral, ao interesse da cultura.
Trazer o livro à praça pública, colocá-lo nas mãos do povo, elevá-lo aos olhos das
crianças nas escolas, é o que de melhor se poderia fazer [...]256
255
O GLOBO, Rio de Janeiro, 26 de outubro de 1955.
256
DIÁRIO DA NOITE, Rio de Janeiro, 30 de abril de 1955. p. 8
90
A citação destaca um ponto importante de a Feira ser vista como a solução para
atender leitores que sofriam com os altos preços dos livros. A oferta de preços mais baixos foi
o mote dos anúncios. A estratégia de tornar o livro mais próximo do público foi representada
no slogan “Se o povo não vai às livrarias que essas se aproximem do povo”. Outro elemento
importante do feito era aproximar de fato os livros de compradores potenciais que não
circulavam em livrarias. “O público não está habituado a entrar em livrarias. Sendo assim,
para sanar a deficiência de falta de livrarias e sua péssima localização, devido o preço dos
alugueres, a solução ideal é a feira” – disse um livreiro ao Última Hora257. Além dos leitores,
alguns livreiros também viam na Feira uma solução para voltar ao Centro da cidade, pois
devido ao preço de aluguéis foram obrigados a deixar as tradicionais Ruas do Ouvidor e
Gonçalves Dias258.
Os jornais noticiavam que durante o dia via-se “muita gente apinhada ao redor das
barraquinhas improvisadas”259. Havia muita curiosidade dos passantes, que não resistiam à
tentação de parar, olhar... e comprar livros. As notícias apontam para sucesso de vendas, a tal
ponto que o prefeito atendeu ao pedido de estender a Feira até 8 de maio, dia das mães.
Em ambas as edições do primeiro semestre de 1955 o êxito foi tão grande que
pesquisas foram feitas sobre o interesse da feira torna-se permanente. O entusiasmo pela Feira
foi muito grande. Esta passava a ser chamada “do povo” e “popular”, afinal estava numa
praça pública. A ideia era que a localização facilitava o acesso e tornava os preços mais
acessíveis. Editores e livreiros comemoraram a alta taxa de vendas durante o período. Os
jornais não pouparam espaço para incluir imagens nas quais as barraquinhas eram exibidas
cercadas de grande público. Várias imagens da Feira que foram publicadas nos jornais
mostram as barracas cheias, com pessoas com livros nas mãos, examinando, ou simplesmente
paradas ao redor, mas sempre com grande movimento (Figuras 11 e 12). Além de venda de
livros, a partir de maio nota-se divulgações de sessões de autógrafos260.
257
ÚLTIMA HORA, Rio de Janeiro, 30 de abril de 1955. p. 4
258
Idem.
259
Idem.
260
Como exemplo, ver: DIÁRIO DE NOTÍCIAS, Rio de Janeiro, 6 de maio de 1955, p. 2; CORREIO DA
MANHÃ, Rio de Janeiro, 10 de maio de 1955. p. 8.
91
261
Sobre Carlos Ribeiro, ver: HALLEWELL, op. cit., 2005. p. 275-276; 541; 576; 764.
92
De acordo com Ribeiro, a intenção era “levar literatura ao público potencial que,
devido à agitada vida moderna, não pode freqüentar livrarias”262. O nome de Carlos Ribeiro
aparece como o “entusiasta do livro, foi entre nós o paladino dessa iniciativa e encontrou
imediatamente apoio das autoridades, das editoras e do Sindicato dos Livreiros” 263. Para
Enio Silveira, presidente do SNEL na época, o evento era “uma maneira democrática e
vantajosa de por o público em contato com o livro brasileiro, visto que muitas pessoas que
não frequentam livrarias terão, com a Feira, o ensejo de conhecer um pouco mais da
literatura nacional”264.
A Feira contou com 42 barracas representadas por editores, livreiros, bibliotecas e
instituições como o Instituto Nacional do Livro. Ao contrário da edição do primeiro semestre,
262
CORREIO DA MANHÃ, Rio de Janeiro, 26 de outubro de 1955. p. 3.
263
CORREIO DA MANHÃ, Rio de Janeiro, 26 de outubro de 1955. p. 3.
Carlos Ribeiro continuará a frente até 1960, mas desde 1957, como presidente da Associação Brasileira do
Livro (ABL). Sobre esta associação O Jornal do Brasil de 5 de junho de 1957 noticiou “Associação
Brasileira do Livro para melhorar a vida editorial. Programa reivindicatório com objetivo de defender o livro
por todos os meios”. O patrono da ABL seria Monteiro Lobato e a Semana Nacional do Livro (que começa a
21 de junho de cada ano, instituída pelo INL) terá pleno apoio da ABL. Previa-se ainda a associação faria
comemorações anuais no dia 18 de abril, Dia do Livro. A diretoria teria mandado até 1ª de junho de 1960 e
era composta por Carlos Ribeiro (presidente), Antonio Severo Saraiva (vice-presidente), Alcides Fernandes
Vaz (secretário).
264
CORREIO DA MANHÃ, Rio de Janeiro, 26 de outubro de 1955. p. 3.
93
parece que desta vez ela passou por Copacabana e Tijuca, depois voltou para a Cinelândia
(Figura 14)265.
265
IMPRENSA POPULAR, Rio de Janeiro, 15 de dezembro de 1955. p. 2.
266
DIÁRIO DE NOTÍCIAS, Rio de Janeiro, 2 de novembro de 1955. p. 4. Imprensa Popular, Rio de Janeiro, 2
de novembro de 1955. p. 3.
94
A relevância desse relato é imensa, pois dentre os jornais que perquirimos na pesquisa
sobre este assunto foi a primeira vez que aparece “Feira de Livros na Cinelândia”. Ademais o
texto ainda nos mostra dados estatísticos – que mesmo não sendo precisos – dão um
interessante cenário do que vinha acontecendo naqueles dias. Por fim, há algo simbólico na
adesão ao movimento da Feira que a tornará um lugar de representação importante da
Cinelândia, mas também do Rio de Janeiro, como comentou Ubiratan Machado na epígrafe
que abriu esta última seção.
O sucesso da Feira de Livros na Cinelândia influenciou ou talvez tenha estimulado os
colegas editores e livreiros do Rio Grande do Sul, como narram Paulo Betancur e Joaquim da
Fonseca. Ambos contam que Say Marques, na época diretor do Diário de Notícias, havia
chegado entusiasmado com o que viu no Rio de Janeiro no primeiro semestre de 1955 267.
Assim, Marques reunira um grupo de amigos ligados ao livro, como Maurício Rosenblatt
(gerente da filial da José Olympio), Mario de Almeida Lima e Henrique D’Avila Bertaso
(ambos da Editora Globo). De acordo com Betancur e Fonseca, “em poucos dias, os mais
tradicionais livreiros atendiam às pressas à convocação extraordinária”268. Assim, no dia 17
de novembro de 1955, às 18 horas269, inaugurava-se a I Feira de Livros do Rio Grande do Sul,
na Praça da Alfândega270.
Voltando ao Rio de Janeiro, de 18 de abril a 8 de maio de 1956 aconteceu a III Feira
do Livro na Cinelândia271. Apesar da tentativa, desta vez não foi possível estender para mais
alguns dias272. O sucesso de vendas – os 20% de desconto continuavam a ser oferecidos – foi
comentado por alguns editores que seguiam acreditando que aquela poderia ser uma saída
extra para a expansão do mercado.
Durante a Feira, aconteciam sessões de autógrafos, palestras (neste caso na Biblioteca
Municipal) e outros tipos de eventos. No dia 5 de maio de 1956, às 17h, houve uma
267
BENTANCUR, Paul; FONSECA, Joaquim. A Feira do Livro de Porto Alegre: 40 anos de história. Porto
Alegre: Câmara Rio-Grandense do Livro, 1994.
268
BENTANCUR; FONSECA, op. cit., 1994. p. 19.
269
GALVANI, Walter. A Feira da gente: a Feira do Livro de Porto Alegre, 50 anos. Porto Alegre: Câmara Rio-
Grandense do Livro, 2004. p. 15.
270
DIÁRIO DE NOTÍCIAS, Porto Alegre, 15 de novembro de 1955. Capa; Jornal do Dia, Porto Alegre, 18 de
novembro de 1955. p. 6. Walter Galvani afirma ter sido no dia 16 de novembro. Ver: A FEIRA DA GENTE:
a Feira do Livro de Porto Alegre, 50 anos. Porto Alegre: Câmara Rio-Grandense do Livro, 2004. p. 15.
271
IMPRENSA POPULAR, Rio de Janeiro, 26 de abril de 1956.
272
O GLOBO, Rio de Janeiro, 14 de maio de 1956.
95
273
DIÁRIO CARIOCA, Rio de Janeiro, 4 de maio de 1956. p. 2; A NOITE, Rio de Janeiro, 4 de maio de 1956;
A NOITE, Rio de Janeiro, 9 de maio de 1956. p. 7; CARETA, Rio de Janeiro, 26 de maio de 1956. p. 6.
274
O GLOBO, Rio de Janeiro, 14 de julho de 1956.
275
TRIBUNA DA IMPRENSA, Rio de Janeiro, 27-28 de abril de 1957; LUTA DEMOCRÁTICA, Rio de
Janeiro, 28 de abril de 1957.
276
REVISTA DA SEMANA, ano 57, n. 19, Rio de Janeiro, 11 de maio de 1957.
277
Idem.
96
278
LABANCA, 2009, op.cit.
279
O GLOBO, Rio de Janeiro, 21 de junho de 1957, Matutina, Geral, p. 5.
280
Disponível em: http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=170638. Acesso em:
Cf. O GLOBO, Rio de Janeiro, 06 de junho de 1958, Matutina, Geral. p. 3.
97
Desse modo, como Capital Federal, o Rio de Janeiro passou a ter duas Feiras de Livro
oficiais por ano, ambas na Cinelândia. A primeira a partir de 18 de abril, em decorrência do
“Dia do Livro”, capitaneada pelo SNEL e a segunda, a partir de 21 de junho, por ocasião da
Semana Nacional do Livro, esta promovida pelo MEC. É interessante notar que a primeira é
referida como Feira de Livros na Cinelândia, enquanto a segunda como Feira de Livros da
Cinelândia, uma construção discursiva que formou a identidade da feira itinerante que até
hoje conhecemos e esperamos.
A Feira de Livro de 1958 começou debaixo de chuva. O dia 18 de abril caiu numa
sexta-feira e, não obstante o tempo, o público prestigiou (Figuras 16 e 17). Foi inaugurada, às
16 horas com a presença do prefeito Negrão de Lima, Carlos Ribeiro, presidente da
Associação Brasileira do Livro, Maciel Pinheiro, diretor da Biblioteca Municipal, vereadores,
livreiros e intelectuais. Alguns jornais indicam ser esta a III Feira do Livro, o que significa
que não consideraram a edição de 1943 feita pelo Pen Club do Brasil, passando a contar as
edições a partir da de 1955 organizada pelo SNEL. A edição contou com 87 barracas – 45 a
mais que em 1955 – com livrarias e editoras do Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do
Sul. A partir desta Feira de abril de 1958 passamos a ver slogans como “O livro encontra o
leitor” ou “A Cinelândia é do livro”. 282
282
O GLOBO, Rio de Janeiro, 8 de maio de 1958.
99
283
O GLOBO, Rio de Janeiro, 26 de abril de 1958.
284
JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 20 de junho de 1958.
100
do público infantil, seja acompanhado dos próprios pais, seja dos professores, pois as escolas
da rede pública já incluíam a visita à Feira como parte da programação pedagógica.
Em paralelo a Feira aconteceu o II Festival do Livro da América (o primeiro ocorreu
na Venezuela em 1957), com sede na Biblioteca Nacional, promovido pela Universidade do
Brasil e sob os auspícios da Organização dos Estados Americanos. O festival foi dividido em
três partes: Exposição Internacional do Livro, no Museu Nacional, com cerca de 25 mil
volumes doados por 30 países285; Feira Internacional de Livros, na Praça Floriano Peixoto,
com livreiros brasileiros e estrangeiros, em sessenta barraquinhas286; e Ciclo de Mesas-
redondas, com debates sobre a política editorial e a difusão do livro.
A comissão organizadora do Festival foi composta por Pedro Calmon, então reitor da
Universidade do Brasil, Eremildo Viana, diretor da Faculdade Nacional de Filosofia, e Celso
Cunha, catedrático de português da mesma Faculdade, e diretor da Biblioteca Nacional. A
secretaria ficou a cargo de Antônio Houaiss. Houve uma “Comissão de Patrocínio” – cuja
finalidade não conseguimos definir – com cerca de cem membros. Para a Feira Internacional
do Livro houve apoio do SNEL que contava com Ênio Silveira como presidente287. Dentre os
países representados estiveram: Portugal, França, Alemanha, Tchecoslováquia, Estados
Unidos, Polônia, Argentina, Venezuela, México e Japão.
Segundo alguns jornais da época, os livros expostos no Museu Nacional de Belas
Artes seriam posteriormente doados à Biblioteca da Universidade do Brasil. Chegaram a falar
de números girando entre 25 a 30 mil livros, mas infelizmente não pudemos apurar esses
dados. Acreditamos que vale uma pesquisa futura nos arquivos das bibliotecas da UFRJ. Os
EUA foram os maiores doadores, ao lado da Polônia e Itália, mas também houve doações da
Índia, Tchecoslováquia. Para Antonio Houaiss, o número seria muito maior, não fossem as
burocracias, que acreditamos alfandegárias288.
No dia 16 de abril de 1959, a Cinelândia recebeu a IV Feira, organizada pela
Associação Brasileira do Livro, com participação do SNEL, procurando destacar que
objetivava chegar a “todas as camadas sociais”289. Desta vez contou com 86 barracas e com as
285
JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 20 de junho de 1958. p. 4.
286
CORREIO DA MANHÃ, Rio de Janeiro, 5 e 10 de julho de 1958.
287
REVISTA DA SEMANA, Rio de Janeiro, 7 de junho de 1958. CORREIO DA MANHÃ, Seção Ilustrada,
Rio de Janeiro, 20 a 26 de junho de 1958. p. 3.
288
JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 26 de junho de 1958. p. 12; DIÁRIO DE NOTÍCIAS, Rio de Janeiro,
26 de junho de 1958.
289
DIÁRIO DE NOTÍCIAS, Rio de Janeiro, 9 de abril de 1959.
101
mesmas ofertas de livros mais baratos e com a enorme vantagem de um evento assim: ter tudo
de interesse num só lugar.
O sucesso e prestígio da Feira só aumentavam. Consolidava-se a prática dos
autógrafos, pois notaram que os autores atraiam um público diverso. Na edição de 1959 a
presença de Jorge Amado, Adonias Filho e Eneida (Figura 18) ganharam destaque na
imprensa.
A Feira seguiu ao longo da década de 1960, mas não pretendemos fazer uma história
de sua trajetória. Voltaremos a ela adiante, apenas quando houver envolvimento do seu diretor
com os Zahar. Nossa intenção aqui foi apresentar informações que são inéditas, mas,
sobretudo trazer elementos para problematizar questões atinentes à circulação do livro, assim
como de ações para sua capilarização e divulgação.
Ao concluir este Capítulo, gostaríamos de retomar à proposta inicial cujo objetivo foi
compreender o cenário da produção e circulação de livros na cidade do Rio de Janeiro de
1930 a 1950.
Algumas notícias que pudemos analisar até aqui não mostram um grupo apenas em
crise, mas um grupo formado por editores e livreiros que estavam buscando se organizar e se
102
fortalecer. Com isso, estavam igualmente se estabelecendo. Obviamente que algumas dessas
questões como preço de papel, importação etc. não apareceram no início do século XX, mas
se acentuaram nele, pois havia mais profissionais no mercado e maior demanda. Notaremos
no próximo capítulo um acirramento desta conjuntura.
O estudo da História do Livro na primeira metade do século XX necessita de um olhar
não dicotomizado, ou seja, um olhar que se evite buscar lados no campo da produção,
distribuição e circulação de livros. Trata-se de uma conjuntura muito mais complexa do que
uma vista d’olhos pode supor. Esses atores, livreiros, editores e até os consumidores estão a se
estabelecer e se manter frente a décadas de absolutas transformações sociais e políticas e,
consequentemente, econômicas no Brasil e fora dele.
Por fim, vemos na Feira de Livro e nos incentivos que passaram a existir na década de
1940 para ampliação das bibliotecas públicas, uma forma de expansão de público e também
de colocação do livro nas mãos dos leitores.
O panorama aqui apresentado será fundamental para as análises que faremos nos
próximos capítulos, que representam a circulação (Capítulo 2) e a produção (Capítulos 3 e 4)
do empreendimento dos irmãos Jorge, Lucien e Ernesto Zahar, mantendo, todavia, a linha
mestra que rege esta tese: a relação com avanço do ensino universitário no país.
103
Todos os homens são intelectuais, poder-se-ia dizer então; mas nem todos os
homens desempenham na sociedade a função de intelectuais.290
290
GRAMSCI, Antonio. Os intelectuais e a organização da Cultura. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1968. p. 7.
104
Como ámbito erótico, toda librería es por excelencia un lugar de encuentros; entre
libreros y libros, entre lectores y libros, entre lectores y libreros, entre lectores
viajeros. El carácter de familiaridad que comparten todas las librerías del mundo, su
natureza de refugio o de burbuja, hace que en ellas sea más probable que en otros
espacios el acercamiento.293
A ideia de que “toda librería es por excelência un lugar de encuentro”294 nos ajuda a
entender esses espaços na cidade do Rio de Janeiro na primeira metade do século XX.
291
No decorrer da escrita, utilizaremos algumas imagens como exemplos e dialogaremos com elas, mas não será
nosso objetivo qualquer tipo de análise iconográfica – que demandaria outras direções.
292
Nossa base metodológica está em Sobre a micro-história, de Giovanni Levi (1992); Microanálise e
construção do social, de Jacques Revel (1998) e Sinais: raízes de um paradigma indiciário, de Carlo
Ginzburg (1990). Os dois primeiros textos fazem uma historiografia do campo da micro História e destacam
o seu aparecimento e como ganhou espaço dentro da História como método e como forma de abordagem.
Levi e Revel discutiram muito o tema da escrita da história, mas, sobretudo a narrativa como forma de
construção discursiva. Ginzburg abordará a construção do campo epistemológico do paradigma indiciário e
como foi se configurando como recursos metodológico do historiador. Em razão da natureza da pesquisa que
iremos desenvolvemos neste programa e em particular pelos problemas que já encontramos com as fontes,
esses textos nos ajudaram a repensar a metodologia de trabalho. Outro aspecto foi a forma de indagar as
fontes e a construção de textos de um tema que ocupa o tempo presente.
293
CARRIÓN, Jorge. Librerías. Barcelona: Editorial Anagrama, 2013. p. 162. Seria necessário outro trabalho
para um levantamento bibliográfico na produção internacional que trata do tema “Livrarias”. Recentemente
foram lançados: MONNIER, Adrienne. Rua do Odeon. São Paulo: Autêntica, 2017. A autora faz um relato
das atividades da sua livraria “La Maison des Amis des Livres” que funcionou de 1915 a 1951 na Rua do
Odeon, em Paris. HERZ, Pedro. O livreiro: como uma família que começou alugando 10 livros numa sala de
casa construiu uma das principais livrarias do Brasil. São Paulo: Planeta do Brasil, 2017. Neste livro, escrito
por um dos herdeiros, abordagem é afetiva mas compõem importante relato da trajetória da Livraria Cultura.
294
CARRIÓN, op. cit., 2013. p. 162.
105
Advindas de uma tradição que remonta ao século XIX, as livrarias cariocas 295 poderiam ser
compreendidas como importantes espaços de sociabilidade por onde circulavam grupos
distintos. Acreditamos que seria fundamental aliar à cartografia de nossas livrarias uma
análise sobre sua relação com, por exemplo, a cultura política da conjuntura em que estiveram
inseridas, a exemplo também do que fez Jorge Carrión em Librerías.
No Brasil há uma sensível carência de trabalhos especificamente sobre a história das
livrarias no século XX. Um dos primeiros pode ter sido Laurence Hallewell 296 com O livro no
Brasil, que analisou algumas livrarias, mas com destaque àquelas que eram diretamente
ligadas aos editores, ou seja, livreiros editores e editores livreiros297. Hallewell ao apresentar
tabelas com os endereços e dados estatísticos sobre as livrarias, prioriza pouco o século vinte.
Em 1999, Aníbal Bragança publicou Livraria Ideal298 a partir da trajetória do
imigrante Silvestre Mônico, inicialmente vendedor de cordel e depois livreiro, estabelece
conexões entre a história da livraria com o cenário da indústria editorial. Bragança também
perpassa pela história da leitura e do ensino no Brasil. Por ser fruto de sua dissertação de
mestrado, pela estrutura e rigor metodológico, a publicação representou igualmente um
relevante alicerce para pesquisas dentro do campo.
A contribuição de Ubiratan Machado é também meritória nesse campo. Primeiro, em
A etiqueta de livros no Brasil: subsídios para uma história das livrarias brasileiras299, em
seguida com Pequeno guia histórico das livrarias brasileiras300 e, por último, com o trabalho
direcionado ao Rio de Janeiro História das livrarias cariocas301. O que as três obras desse
295
Há dois trabalhos que são referência: SILVA, Maria Beatriz Nizza da Silva. Produção, distribuição e
consumo de livros e folhetos no Brasil Colonial. Rev. IHGB, Rio de Janeiro, v. 314, p. 78-97, 1977;
FERREIRA, Tânia Maria Tavares Bessone da Cruz. O que liam os cariocas no século XIX? In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 28., 2005, Rio de Janeiro. Anais...
São Paulo: Intercom, 2005. Disponível em:
<http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2005/resumos/R2053-1.pdf>. Acesso em: 21 ago. 2010.
296
HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. 3. ed. São Paulo: EDUSP, 2012. Vale lembrar que a
primeira edição é de 1985.
297
Para o século XIX Aníbal Bragança discute esses conceitos e aponta alguns exemplos. Cf. BRAGANÇA,
Aníbal. Uma introdução à história editorial brasileira. Cultura, Revista de História e Teoria das Ideias,
Lisboa, Pt, v. 14, n. 2, p. 57-83, 2002.
298
BRAGANÇA, Aníbal. Livraria Ideal. Niterói, RJ: Edições Pasárgada; EdUFF, 1999.
299
MACHADO, Ubiratan. A etiqueta de livros no Brasil: subsídios para uma história das livrarias brasileiras.
São Paulo: EDUSP, 2003.
300
MACHADO, Ubiratan. Pequeno guia histórico das livrarias brasileiras. São Paulo: Ateliê Editorial, 2008.
301
MACHADO, Ubiratan. História das livrarias cariocas. São Paulo: EDUSP, 2012.
106
autor têm em comum é o fato de abarcarem um panorama histórico que retrata um pouco da
história das livrarias no século XX. A última resgata a memória desses estabelecimentos no
Rio de Janeiro, além de ser, junto com a segunda, parte de um corpus escasso de informações
sobre a Livraria LER.
No relatório Cartografia das livrarias do Centro de São Paulo (1930-1970)302 Martin
Fernando de Araújo Gonçalves e Marisa Midori Deaecto inventariaram os estabelecimentos
comerciais voltados para o livro. Os pesquisadores perceberam que se concentravam em
determinadas áreas da cidade e apresentaram um estudo da relação do momento econômico e
cultural com os deslocamentos espaciais e comerciais das livrarias. Igualmente sugeriram a
relação do avanço do ensino com a expansão dos empreendimentos.
No artigo Livrarias-editoras em Belo Horizonte-MG: breve história, cenário
contemporâneo e perspectivas, de Ana Elisa Ribeiro e Paulo Araújo Guimarães303 estudam a
história das Livrarias Crisálida, Quixote e Scriptum, todas no século XX. Os autores traçam
um perfil histórico da circulação de livros no país e destacam que os livreiros e as livrarias são
importantes atores sociais na etapa de circulação do livro.
Ainda em Minas Gerais, Diná Araújo304 com um estudo das marcas da circulação –
notadamente etiquetas – presentes nos livros na biblioteca do intelectual mineiro Arduíno
Bolívar reconstrói a história de algumas livrarias em Belo Horizonte da primeira metade do
século XX. Tomando por base o paradigma indiciário, este trabalho, inclusive, é um excelente
exemplo como metodologia da pesquisa.
Sobre a história da Livraria LER, as principais fontes são o depoimento do próprio
Jorge Zahar em 1998, na série Editando o Editor305. Em 2004, Ana Cristina Zahar apresentou
a comunicação “Jorge Zahar: editor pioneiro”306 na qual recupera a fala do pai na entrevista.
302
Trata-se de um trabalho apresentado ao Programa de Iniciação Científica da Pró-Reitoria da USP, feito com
apoio do PIBIC/CNPq, entre agosto de 2011 a julho de 2012.
303
RIBEIRO, Ana Elisa; GUIMARÃES, Pablo Araújo. Livrarias-editoras em Belo Horizonte-MG: breve
história, cenário contemporâneo e perspectivas. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA
COMUNICAÇÃO, 37., Foz do Iguaçu. 2014. Anais... São Paulo: Intercom, 2014.
304
ARAÚJO, Diná M. P. A biblioteca do mestre: dos livros de Arduíno Bolivar, marcas de circulação de uma
coleção especial. In: SCHAPOCHNICK, Nelson; VENANCIO, Giselle (Org.). Escrita, edição e leitura na
América Latina. Niterói, RJ: PPG História-UFF, 2016. p. 88-100.
305
ZAHAR, Jorge; FERREIRA, Jerusa Pires. Editando o editor: Jorge Zahar. São Paulo: EDUSP, 2001.
306
ZAHAR, Ana Cristina. Jorge Zahar: editor pioneiro. In: SEMINÁRIO BRASILEIRO SOBRE LIVRO E
HISTÓRIA EDITORIAL, 1., 2004, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: Casa de Rui Barbosa, 2004.
107
Além do livro já citado de Ubiratam Machado307. O mais novo trabalho sobre a LER foi a
dissertação de Danielle Rosa Paul, “História em catálogos: um estudo da política editorial
Zahar de 2001 a 2014”308. A pesquisadora analisa a história recente da editora, mas recorre à
história da LER num recorte de 1946 a 1956, todavia, como não era o foco da investigação de
Paul, ela não aprofunda a abordagem histórica. Por último, o livro do jornalista Paulo Roberto
Pires, A marca do Z: a vida e os tempos do editor Jorge Zahar309. A publicação tem um
caráter mais comemorativo e memorialístico, por isso, como fonte biografia o livro atende às
expectativas.
No que concerne à cidade do Rio de Janeiro, essa produção acadêmica revela algo
desconcertante: considerando seu histórico como capital federal e de circulação de
intelectuais, o número de trabalhos produzidos sobre suas livrarias é um contraste.
Acreditamos que a pesquisa sobre trajetórias das livrarias, não apenas daqueles que foram
também editoras, é fundamental para a compreensão da história da circulação de saberes.
Um panorama das livrarias na cidade do Rio de Janeiro nas décadas de 1930 e 1940,
mais especificamente no Centro, é necessário para compreender a conjuntura em que nossos
atores se inserem. Para esse cotejamento elegemos a seção de anúncios do Almanaque
Laemmert disponível na Hemeroteca Digital da Fundação Biblioteca Nacional. Nossa
intenção não foi ser exaustivo, mas sim tentar recuperar alguns exemplos de anúncios que
chegaram a ser publicados.
A busca obteve ocorrências nos anos de 1930, 1931, 1934, 1935, 1936, 1937 e
1938310. Em negrito estão àquelas também localizadas em Machado311 que teve o Almanaque
como fonte de informação também. Não foi possível saber a especialidade de cada uma dessas
livrarias (a não ser em alguns casos), mas pelo que percebemos de seus nomes, é possível
inferir que se dedicavam também à importação de livros estrangeiros, como, por exemplo, a
Star Press Agency; Boffoni; Allemã; Deutsch Buchhandlung Kosmos; Samuel Nunez Lopez,
Libreria Espanola; Crashey & Cia, English Store etc. Obviamente que apenas o nome não
307
MACHADO, Ubiratan. História das livrarias cariocas. São Paulo: EDUSP, 2012.
308
PAUL, Danielle Rosa. História em catálogos: um estudo da política editorial Zahar de 2001 a 2014. 2015.
121f. Dissertação (Mestrado Profissional em Bens Culturais e Projetos Sociais) – Fundação Getúlio Vargas,
Rio de Janeiro, 2015.
309
PIRES, Paulo Roberto. A marca do Z: a vida e os tempos do editor Jorge Zahar. Rio de Janeiro: J. Zahar,
2017.
310
O Almanaque descreve o nome comercial e o nome fantasia da livraria.
311
MACHADO, Ubiratan. História das livrarias cariocas. São Paulo: EDUSP, 2012.
108
pode ser considerado como único indício. De acordo com Sérgio Miceli312, nessa década
muitos estrangeiros vieram morar no país – o que no âmbito das Livrarias era um fenômeno
que já vinha do século XIX – e especializavam-se no negócio de importar livros de seus
países de origem. Ainda segundo Miceli, a partir da década de 1940, com a Segunda Guerra
Mundial, mais estrangeiros vieram para o Brasil e abriram livrarias que atendiam também a
uma demanda de publicações técnicas e científicas, como para áreas de medicina, direito e
engenharia.
O quadro 1313 reflete o que foi possível recuperar para ano de 1930: constam 43
livrarias localizadas principalmente no Centro da cidade do Rio de Janeiro.
312
Sobre a situação em São Paulo, Cf. MICELI, Sérgio. Intelectuais à brasileira. São Paulo: Companhia das
Letras, 2001.
313
Foi necessário dividir em duas partes para facilitar a diagramação e leitura.
109
Para o ano de 1931, todas se repetem com exceção a J. Pallut & Cia, na Rua da
Passagem, 20, no bairro de Botafogo. O quadro 2 representa uma amostragem para o ano de
1934. Além das que apareceram no quadro 1, constam mais 41 estabelecimentos, ainda com
supremacia geográfica do Centro do Rio de Janeiro. Nesse bojo, aparecem livrarias
notadamente especializadas como Livraria Educadora, Livraria Alemã e Sociedade Bíblica
Americana, que se dedicavam à venda de livros técnicos, livros em alemão e teologia,
respectivamente.
Livraria Endereço
1. A. Bedeshi & Cia. Ltda Livraria Americana Rua da República do Perú, 92
2. A. Coelho Branco Filho Rua da Quitanda, 9
3. Ariel Editora Limitada Praça Mauá, 7
4. Braga & Valverde, Livraria Educadora Rua São José, 17
5. C. Figueiredo & Cia. Rua Visconde de Santa Cruz, 69
6. Casa Editora Francisco Vallardi Rua da Quitanda, 7
7. Civilização Brasileira, Editora Rua 7 de Setembro, 162
8. Companhia Brasil Editora Rua da Quitanda, 66
9. Correia Dias & Cia Rua da Alfandega, 107
10. Duarte Sande & Cia. Ltda Rua do Rosário, 138
11. Francisco Villardi Rua Aristides Loba, 148
12. Frederico Will, Livraria Alemã Rua da Alfandega, 69
13. Getúlio M. Costa Rua do Lavradio, 160
14. Ghignone M. Costa, Livraria Carioca Rua São José, 45
15. H. A. Cunha & Cia Ltda Rua São José, 68
16. H. Antunes Rua Buenos Aires, 133
17. Heitor Coup & Cia., Pap. Botelho Rua do Ouvidor, 65
18. J. Leite & Cia. Rua São José, 70
19. José Bernarde Rua da Alfandega, 84
20. José Fernandes Rua da Alfandega, 84
21. José Gregório de Lima Rua Visconde de Maranguape, 12
22. Livraria Editora Marisa Rua São Pedro, 218
23. Livraria Francisco Alves Rua do Ouvidor, 166
24. Livraria Jacintho Rua São José, 37
25. Livraria e Papelaria Passos Rua da Quitanda, 43
26. Luiz Gabriel Monteiro & Cia Rua da Constituição, 84
27. Luiz Nunes Coval, Rua General Camara, 241
28. Maia & Schmidt Ltda Travessa do Ouvidor
29. Patricio Gama Rua do Carmo, 71
30. Pimenta de Mello & Cia Travessa do Ouvidor, 34
31. Piquer & Cia, Papelaria Guanabara Frei Caneca, 43
32. Quaresma & Cia, Livraria Quaresma Rua São José, 71 e 73
33. Renato & Travassos Rua Uruguayana, 104
34. Rodrigo de Albergaria Junior Rua Archias Cordeiro, 226
35. Santos & Maia Rua Rodrigo Silva, 11
36. Sociedade Bíblica Americana Av. Erasmo Braga, 12
37. Waissman, Koogan Ltda Rua do Ourives, 95
Fonte: Almanaque Lammaert. (Adaptado)
Acervo: Hemeroteca Digital Brasileira. FBN.
112
Os anos de 1935, 1936, 1937 e 1938 trazem novas indicações de livrarias, todavia, é
notório também a decadência do próprio Almanaque. Nos quadros 3 a 6 incluímos apenas as
primeiras ocorrências, o que não significa dizer que eram novos estabelecimentos, mas
unicamente que aparecem citadas pela primeira vez. O ano de 1935 chama à atenção a citação
do nome da José Olympio e no ano de 1936, de mais uma livraria especializada em alemão, e
a presença de mais três em edições de linha espanhola.
Livraria Endereço
Livraria Endereço
Livraria Endereço
Livraria Endereço
Livraria Endereço
1. Livraria Castelo Av. Erasmo Braga, 227. Sala 215
2. Livraria Ao Livro Técnico Av. Rio Branco, 120, Loja 16
3. Livraria-Editora da Casa do Estudante do Largo da Carioca, 11, 2º andar
Brasil
4. Livraria Incahuasi Largo da Carioca, 45, 2º andar
5. Livraria Excelsior Rua 13 de Maio, 44
6. Livraria Rex Rua Álvaro Alvim, 31C
7. Livraria Século XX Rua da Assembléia, 7
8. Livraria Martins Editora Rua da Constituição, 16
9. Livraria Castro Rua do Carmo, 3
10. Livraria Geral Franco-Brasileira Rua do Ouvidor, 164, 4º andar
11. Livraria Lisboa Rua do Ouvidor, 55
12. Livraria Zélio Valverde Rua do Rosário, 85
13. Livros de Portugal Rua Gonçalves Dias, 62
14. Livraria Romeu Favilla Rua Mayrink Veiga, 30
15. Livraria do Globo Rua México, 128
16. Livraria Editora Agir Rua México, 98B
17. Intercontinental Livros Rua São José, 49
18. Casa do Livro LTDA Rua São José, 61
19. Livraria Vozes Rua Senador Dantas, 118, Loja 1
20. Livraria Askanasy Rua Senador Dantas, 55
21. Livraria Suissa Travessa do Ouvidor, 12, 1º andar
Fonte: MACHADO, op. cit., 2012. p. 229-259.
314
MACHADO, Ubiratan. História das livrarias cariocas. São Paulo: EDUSP, 2012.
315
Não consideramos todas que já haviam sido citadas anteriormente nos quadros 1 a 6.
316
MACHADO, op. cit., 2012.
116
da administração pública, como as duas primeiras, por exemplo. Além de lojas que vendiam
livros novos, o rol também contempla aqueles que comercializavam livros usados, como a
Livraria Machado, de propriedade de Felicíssimo José Fernandes Machado, na Avenida
Passos317.
Sobre a área de cada uma dessas livrarias, destacamos àquelas que se dedicavam ao
público universitário como, por exemplo, A Casa do Estudante (que encerra suas atividades
em 1950), assim como Ao Livro Técnico, fundada em 1944, por Reinaldo Bluhum. Nesse
mesmo grupo, houve também a Acadêmica, que começa a funcionar em outubro de 1944
especializando-se em obras para os cursos de Letras, negociando livros importados em sua
maioria318. A Intercontinental buscou as áreas de medicina, direito, pedagogia, psicologia e
veterinária. Por fim, houve a Livraria Castro, de José Cândido de Castro Pereira que se
dedicou à medicina, literatura, ciências, artes e ao direito.
A conjunção de proprietário estrangeiro e livros importados tiveram como
representantes A Casa do Livro, do argentino Alfredo Delvaux, que se especializou em livros
de medicina. A Livraria Castelo vendia livros alemães em geral, inclusive didáticos319. A
Livraria Suíssa foi fundada por Walter Roth no início da década de 1940. Com o advento da
Segunda Guerra Mundial, essa livraria passou a importar também do México, Cuba, Chile e
Argentina. Nessa mesma linha, houve também a Livraria Askanasy, cuja produção esteve
direcionada para o leste europeu. Com as dificuldades de importar da França, o livro francês
ficou escasso no mercado brasileiro, sendo que algumas livrarias passaram a importar do
Canadá e da Suíça, como foi o caso da Livraria Geral Franco-Brasil320
317
Cf. MACHADO, op. cit., 2012.
318
MACHADO, Ubiratan. História das livrarias cariocas. São Paulo: EDUSP, 2012.
319
Idem.
320
MACHADO, op. cit., 2012.
117
Las librarías casi siempre son una apuesta segura a ese respecto: su estructura nos
tranquiliza, porque nos resulta siempre familiar; entendemos intuitivamente su
orden, su disposición, lo que pueden llegar a ofrecernos. 322
Pode-se considerar que a década de 1930 marca o início de uma dinastia323 de livreiros
e editores, pois começa, então, a atuação de Lucien, Ernesto e Jorge Zahar324 no mercado dos
livros pelas mãos do espanhol Antonio Herrera, sogro de Ernesto325, e dono de uma
distribuidora-importadora na Rua Rodrigo Silva (Centro do Rio de Janeiro) que se ocupava de
importação de livros técnicos, além de outros negócios voltados para os impressos 326. Apesar
de ser a figura de maior destaque, ainda hoje, Jorge não é uma figura isolada nesta história,
em total absoluto. Sobretudo nos primeiros anos da Livraria Editoras Reunidas (cujos detalhes
de criação veremos a seguir), o nome dele, a propósito, é o que menos aparece na mídia
321
Uma análise parcial do que consta nesta subseção foi apresentada na conferência de abertura que realizamos
no Seminário “Caminhos do Livro e da Leitura: a trajetória histórica do livro desde os tempos medievais até
a criação das modernas bibliotecas universitárias”. Na Universidade Federal do Oeste da Bahia, em 30 de
agosto de 2016. No final do mesmo ano, foi publicado o artigo: AZEVEDO, Fabiano Cataldo de. A Zahar
Editores e seu Projeto Editorial (1957-1970). Livro: Revista do Núcleo de Estudos do Livro e da Edição, v.
6, p. 231-245, 2017. No dia 16 de agosto de 2017 realizamos a palestra “E os livreiros se tornam editores: os
Zahar no negócio do livro”, na Livraria Leonardo da Vinci, na cidade do Rio de Janeiro. Sobretudo neste
evento a discussão que perpassará aqui neste capítulo foi bastante analisada.
Disponível em: <https://www.facebook.com/events/120364185277749/>. Com maior ênfase na metodologia
empregada, proferimos novamente a palestra “E os livreiros se tornam editores: os Zahar no negócio do
livro”, desta vez no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação, na disciplina “Comunicação
escrita e Comunicação Audiovisual”, coordenada pela Profa. Sandra Reimão. Universidade de São Paulo, 6
de novembro de 2017.
322
CARRIÓN, Jorge. Libarías. Buenos Aires: Anagrama, 2013. p. 132.
323
Concordamos com o uso desta palavra feita por Ana Cristina Zahar no texto “ZAHAR, uma dinastia editorial
brasileira” em comunicação apresentada na Fundação Biblioteca Nacional no dia 13 de agosto de 2012.
324
Como dissemos na Introdução, desde nosso projeto inicial para este doutorado nossa intenção nunca foi traçar
uma ttrajetória desses indivíduos, mas sim da editora. Por isso, sobre eles nos reservamos apenas dizer que:
nasceram em Campos dos Goitacazes, no Rio de Janeiro. Filhos de pai libanês e mãe francesa. A família
chega do Rio de Janeiro em 1936.
325
Sobre este início, notamos que não há certezas, mas algumas imprecisões discursivas pautadas na célebre
disputa “Memória e História”, comum nos estudos do Tempo Presente. Certos fatos são escritos e narrados
por Cristina Zahar, filha de Jorge, a partir do que ouvira dele. Todavia, como apontaremos adiante, há
lacunas e divergências com alguns dados que localizamos nos periódicos da época. A falta de um arquivo
institucional, bem como ausência de dados na Associação Comercial do Rio de Janeiro foram situações que
somaram as dúvidas. Por isso, trabalhamos aqui no campo dos indícios e gostaríamos de apresentar o máximo
deles possível para, quem sabe, colaborar com pesquisas futuras.
326
Consta que também eram representantes comerciais do jornal O DIA, de Curitiba, 24 de fevereiro de 1934;
Também vendiam e distribuíam o BRASIL AÇUCAREIRO REVISTA QUINZENAL. Ver o mesmo
periódico de setembro de 1934.
118
impressa. Ficando, em evidência o nome de Ernesto. O de Lucien, por sua vez, raramente
aparece.
A fim de conhecer ou pelo menos tentar encontrar informações sobre os antecedentes
de Herrera buscamos seu nome na seção “Livrarias” do Almanaque Laemmert327 para os anos
de 1930, 1931, 1934, 1935, 1936, 1937, 1938 e 1940, mas não encontramos ocorrência.
Todavia, no mesmo periódico, na seção “Anúncios” das edições de 1934 e 1936 constam o
nome de Antonio Herrera indicando o endereço: Rua Teófilo Ottoni, 113, 1º, s. 4. Já nas
edições de 1936 e 1937328 consta o endereço da Rua Rodrigo Silva 11, 1º, s. 8, o que nos faz
inferir tratar-se da mesma pessoa e a data provável do início de seus negócios.
Tanto a origem dos negócios quanto a figura do espanhol Antônio Herrera estão
cobertas de imprecisões. Os pontos de convergência são sempre o tipo de negócio, ou seja, o
livro e o endereço na Rua Rodrigo Silva, 11, 1º andar e sala 8. Sobre os Herrera, a notícia
mais antiga que localizamos foi um anúncio publicado no jornal carioca Imparcial em 30 de
outubro de 1930 (Figura 19)329, graças ao qual descobrimos que Antônio tinha um filho que
também foi seu sócio.
Trata-se de informação sobre a publicação de uma revista mensal chamada Novidades,
de propriedade do filho de Antonio Herrera330. O anúncio mostra uma distribuição vultuosa
para o período e a capilaridade que alcançavam com o envio do mensário.
327
ALMANAK LAEMMERT: guia geral do Brasil. Rio de Janeiro: Empreza Almanak Laemmert, 1930-1940.
Acervo: Hemeroteca Digital Brasileiro.
328
Essas datas são aproximas de anúncios de aluguel no primeiro andar da Rua Rodrigo Silva, 11. Ver: JORNAL
DO COMMERCIO, Rio de Janeiro, 26 de março de 1932. p. 18, por exemplo.
329
O mesmo anúncio, sem variações de dados, foi localizado em: O Imparcial, Rio de Janeiro, 31 de outubro
de 1935, p.7; 29 de outubro de 1935. p. 10; 04 de janeiro de 1936, p. 7. Importante ressaltar que esta imagem
e as outras foram analisadas em palestra que realizamos na Livraria Leonardo Da Vinci, no dia 16 de agosto
de 2017, além de constar no relatório de qualificação que ocorrera em outubro de 2017.
330
Sobre filho de Herrera conta seus nomes na Seção 1 do Diário Oficial da União de 15 de fevereiro de 1944.
Cf.:
<https://www.jusbrasil.com.br/diarios/2195898/pg-31-secao-1-diario-oficial-da-uniao-dou-de-15-02-1944>.
119
331
Parece que o trabalho dele seguiu à diante. Localizamos no Jornal do Brasil a notícia de uma nova edição de
“Rebelião das Massas”, de Ortega y Gasset, feita por Antonio Herrera Filho e publicada pela editora Livro
Ibérico-Americano. JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 12 de outubro de 1958. p. 8.
120
Figura 20 - Os fantasmas
332
Lavoura e Comercio, Uberaba, 31 de outubro de 1934. Embora fosse absolutamente tentador aprofundar essa
pesquisa, sem dúvida nos faria distanciar demais do foco aqui estipulado. Nosso objetivo nesse momento é
apenas mostras traços antecedentes das atividades do homem que foi o responsável pelo início dos Zahar no
mercado livreiro.
121
A empresa é citada em alguns jornais como “A. Herrera”; “A. Herrera & Companhia”;
“A. Herrera & Com.”; “A. Herrera & Cia” e “A. Herrera & Cia LTDA”, a depender da “A.
Herrera & Com.”; “A. Herrera & Cia” e “A. Herrera & Cia LTDA”, a depender da época.
Outro negócio de Herrera era a de publicidade, como se pode ver no exemplo da figura 22.
122
333
O IMPARCIAL, Maranhão 22 de novembro de 1936. p. 6. O CARIOCA de 27 de fevereiro de 1937. p. 50
também noticiou a venda deste livro.
334
Cf. exemplos em: CORREIO DA MANHÃ, Rio de Janeiro, 4 e 6 de março de 1941. p. 10; JORNAL DO
COMMERCIO, 29 de março de 1941. p. 3.
123
335
A BATALHA, Rio de Janeiro, 03 de agosto de 1939. p. 2.
336
O JORNAL, Rio de Janeiro, 08 de abril de 1938. p. 12.
337
O JORNAL, Rio de Janeiro, 27 de julho de 1939. p. 18.
338
DIÁRIO CARIOCA, Rio de Janeiro, 11 de agosto de 1941. p. 4.
339
CORREIO DA MANHÃ, Rio de Janeiro, 22 de junho de 1938. p. 6.
declara que A. Herrera & Cia LTDA era sucessora de A. Herrera. Além de somar indícios
para os negócios que se dedicavam.
342
ZAHAR, Ana Cristina. Jorge Zahar: editor pioneiro. In: SEMINÁRIO BRASILEIRO SOBRE LIVRO E
HISTÓRIA EDITORIAL, 1., 2004, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: Casa de Rui Barbosa, 2004. p. 20.
343
ZAHAR, op. cit., 2004. p. 19.
344
HOBBY, n. 67, fev. 1942 apud SILVA, Catarina Capella. Ciência atraente e recreativa: revistas populares de
divulgação científica, Argentina e Brasil (1928-1960). 2013. 240f. Tese (Doutorado em Educação) –
125
Chama atenção a menção da visita a Buenos Aires em 1941, pois, de acordo com o
relato da Revista Hobby mencionado acima, a passagem pela capital portenha deve ter sido
entre o final daquele ano de 1942. O texto igualmente apresenta outros tipos de assuntos, além
dos tradicionais livros sobre rádio, como normalmente são citados/rememorados, como já
comentamos anteriormente e veremos adiante.
Voltando ao texto d’O Liberal:
Em 1945, já tínhamos em catálogo 7.500 livros importados, recorda o livreiro
[Ernesto Zahar]. Buenos Aires servia como escoadouro para a América Latina de
toda a fabulosa produção editorial da Espanha, país que tinha seus contatos
comerciais limitados pela ascensão de Franco. Em 46, Antônio Herrera desistiu do
negócio com livros e Ernane [i.e. Ernesto] partiu com seus irmãos, Jorge (hoje
diretor da Jorge Zahar Editor) e Lucien, que trabalhavam com ele, para uma
aventura independente, materializada no dia 2 de janeiro de 1947 quando dos três
Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2013. p. 49.
345
Faustina Herrera de Oliveira, filha de Antônio Herrera, casada com Belford de Oliveira, diretor da sucursal do
Diário de Notícias de Porto Alegre. A BATALHA, Rio de Janeiro, 23 de dezembro de 1930. p. 6. O
casal virá morar no Rio de Janeiro, sob circunstâncias desconhecidas, em 1937.
346
Seção 1 do Diário Oficial da União de 15 de fevereiro de 1944.
Ver: <https://www.jusbrasil.com.br/diarios/2195898/pg-31-secao-1-diario-oficial-da-uniao-dou-de-15-02-
1944>.
347
O LIBERAL, Belém, Caderno Dois, 28 de janeiro de 1989, p. 2.
126
348
Idem.
349
HALLEWELL, op. cit., 2005. p. 491.
350
Ver texto integral em:
<https://www.jusbrasil.com.br/diarios/3254895/pg-21-secao-1-diario-oficial-da-uniao-dou-de-04-05-
1946?ref=next_button>.
351
ZAHAR, Ana Cristina. Jorge Zahar: editor pioneiro. In: SEMINÁRIO BRASILEIRO SOBRE LIVRO E
HISTÓRIA EDITORIAL, 1., 2004, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: Casa de Rui Barbosa, 2004. p. 31.
352
O JORNAL, Rio de Janeiro, 15 de fevereiro de 1948. p. 5.
353
GAZETA DE NOTÍCIAS, Rio de Janeiro, 9 de março de 1948. p. 9.
127
Limitada. Acreditamos que esta tenha acontecido pouco tempo depois uma vez que as notícias
e anúncios da empresa não foram mais localizados.
De acordo com a memória de Jorge Zahar, no dia 12 de novembro de 1946354
começam oficialmente as atividades da Livraria Editoras Reunidas (LER)355. É o início de
uma nova fase, pois deixariam de ter apenas uma distribuidora e passariam a ter uma livraria,
a receber os clientes num espaço próprio para isto.
354
ZAHAR, Jorge; FERREIRA, Jerusa Pires. Editando o editor: Jorge Zahar. São Paulo: EDUSP, 2001.
355
De acordo com o site “Empresas RJ.com”, o CNPJ, número 33.272.147/0001-90, foi aberto no dia 13 de
novembro de 1946. Ver: < http://www.empresasrj.com/s/empresa/livraria-ler/33272147000190>. Acesso em:
25 abr. 2017. Ver também: < https://www.quadrosocietario.com/nome/ernesto-herrera-zahar/>. Acesso em
25 abr. 2017.
128
Em 1951 quando Zahar Editores abriram a livraria ‘Ler’, o homem que precisavam
era mesmo o Nilo. ‘Nosso forte - diz ele - era e é Sociologia, Economia, Política,
Teatro e Cinema. E, me lembro bem, muita gente não acreditou que a livraria
aguentasse nessa especialidade. Ela aí está!356
Em 1961, o Correio da Manhã fez uma pesquisa sobre os livros mais procurados nas
livrarias da cidade do Rio de Janeiro357. O texto foi assinado por Arnaud Pierre, segundo o
qual notava-se nos últimos tempos um “interesse incomum agora por Ciências Sociais e
Economia”. As palavras acima, na epígrafe, são de Nilo Mendes, ou como era conhecido
“Nilo da Ler”, reputado como o vendedor mais conhecido da livrari. Há dois aspectos de
extrema relevância na reportagem citada: primeiro a menção a um funcionário cujo nome só
foi localizado nesta fonte e, segundo, a importância atribuída a Livraria LER como a que
melhor oferecia livros de Ciências Sociais na cidade.
Nilo “começou a mexer com livros em 1932, ao lado do velho Castilho (Antônio
Joaquim Castilho358, famoso livreiro da Rua São José). Era quem distribuía os livros de Delly
e Ardel no Brasil, quem mandava no comercio de livros para moças”. Por essa época passou a
se familiarizar com a literatura de ficção. Algum tempo depois, foi trabalhar com Vicente
Boffoni359 e passou a lidar com livros de ciências em geral, particularmente de Política e
Economia, gêneros que, em sua opinião, começaram a ganhar público no Brasil durante a
Segunda Grande Guerra360. Em 1951, quando a Livraria LER – como veremos – mudou de
endereço, e com necessidade de expansão, Nilo foi contratado em função de sua experiência
prévia.
Em 1996, Jorge Zahar diria que a LER “foi muito importante para a criação da editora.
Foi fundamental. Certamente não haveria editora, se esta não tivesse sido precedida pela
356
PIERRE, Arnaud. O que se vende nas livrarias do Rio. CORREIO DA MANHÃ, Rio de Janeiro, 17 de junho
de 1961. p. 4.
357
PIERRE, op. cit.
358
Sobre o livreiro Antônio Joaquim Castilho, ver: HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. 2.
ed. São Paulo: EDUSP, 2005 e MACHADO, Ubiratan. História das livrarias cariocas. São Paulo: Edusp,
2012.
359
Sobre o livreiro Vicente Boffoni ver: HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. 2.ed. São
Paulo: EDUSP, 2005 e MACHADO, Ubiratan. História das livrarias cariocas. São Paulo: Edusp, 2012.
CORREIO DA MANHÃ, Rio de Janeiro, 24 de julho de 1949. p. 10.
360
PIERRE, Arnaud. O que se vende nas livrarias do Rio. CORREIO DA MANHÃ, Rio de Janeiro, 17 de junho
de 1961. p. 4.
130
livraria”. Chegou a ponderar que “enquanto era apenas distribuidor, tinha pouco contato com
o professorado. O contato me foi dado pela livraria que era o meu único canal de vendas
[...].361 Essas palavras ditas 56 anos depois da criação da LER são a base para pensarmos a sua
trajetória como editor, bem como da própria editora. Recorda que no tempo em que
trabalhava com Herrera não tinha contato com o público, uma vez que a empresa era
intermediária entre fornecedores estrangeiros e brasileiros. Para Jorge, o contato com o
público foi fundamental para a fase seguinte, ou seja, a edição de livros. Sobre isto,
acreditamos na tese de Ubiratan Machado que diz que com a editora publicaram as traduções
dos “títulos mais procurados pela clientela”362 da Livraria – o que adiante analisaremos
melhor.
Além de Jorge Zahar, outra figura que precisa ser evocada e lembrada dentro deste
contexto é Ernesto Zahar. Como exposto na seção anterior, Herrera entra na vida dos Zahar a
partir de Ernesto e foi com ele que seus irmãos foram trabalhar. A atuação dele é muito
marcada como um livreiro ativo, que negociava e transitava no circuito editorial dentro e fora
do Brasil, era visto mais como o vendedor e negociador de livros363. Já Lucien Zahar era tido
como figura discreta, seu nome aparece poucas vezes nos periódicos que consultamos.
Com a criação da LER, em novembro de 1946, continuaram no ramo do mercado do
livro estrangeiro. Nesse campo tinham conhecimento e boas relações com fornecedores
internacionais. Os irmãos Zahar traziam da experiência anterior a prática com a distribuição,
basta lembrar o trabalho feito pelo Herrera Filho com seu mensário Novidades que
praticamente alcançava todo o país nos anos de 1930.
No primeiro anúncio364 que encontramos da LER consta o endereço da livraria (Figura
25) – mesma de Herrera –, bem como os nomes dos livros que estavam à venda naquele
momento. Cabe observar que todos os títulos estavam escritos em castelhano e em seções de
Direito, Economia, Sociologia, Filosofia, Pedagogia, História e Ciências, o que constrói um
361
ZAHAR, Jorge; FERREIRA, Jerusa Pires. Editando o editor: Jorge Zahar. São Paulo: EDUSP, 2001. p. 48.
362
MACHADO, Ubiratan. História das livrarias cariocas. São Paulo: EDUSP, 2012. p. 241.
363
“Um apóstolo do livro. Não há livreiro, neste imenso país, que não conheça ou não tenh o ouvido referências
elogiosas a Ernesto Zahar, um dos diretores da Livraria Ler, do Rio de Janeiro. Sentindo e vivendo
diariamente o problema da cultura entre nós, vai animando e estimulando os livreiros de norte a sul do Brasil
a acreditarem em sua profissão e, consequentemente, a manterem estoques maiores, mais ricos e variados.
Não para aí, entretanto, a sua atividade. De há muitos anos a esta data, não há governador de Estado ou
prefeito de cidade importante que não tenha sido abordado por ele, em sua ânsia de difundir o livro, de
eliminar os entraves burocráticos à sua circulação. Ernesto Zahar merece, portanto, o respeito e a admiração
de todos aqueles que se dedicam à industria e ao comércio do livro no Brasil” (BOLETIM
BIBLIOGRÁFICO BRASILEIRO, n. 5, v. 3, set./out., 1955, capa).
364
DIÁRIO DE NOTÍCIAS, Rio de Janeiro, 1 de janeiro de 1947.
131
perfil essencialmente voltado para as Ciências Sociais e Humanas, muito embora depois
venham a se dedicar a livros técnicos, de eletrônica e sobre rádios, por exemplo. Nota-se
também a continuidade das atividades que começam com Herrera, ou seja, de importação e
distribuição.
Dado o início da empresa no final de 1946 acreditamos ser um dos primeiros materiais
de divulgação vinculado na mídia impressa. Além disto, evidencia títulos de livros em
espanhol, uma característica que continuaria, e indica que haviam ainda seções de Direito,
Economia, Sociologia, Filosofia, Pedagogia, História e Técnica e Ciência. A localização e
telefones de contato continuam os mesmos da A. Herrera & Cia LTDA, assim como o
direcionamento para importação e distribuição.
132
A figura 26 é uma raridade porque foi a única localizada que retrata o interior da
Livraria LER. Nota-se que há um espaço agradável de circulação com pé direito alto, cujo
ambiente está recheado de estantes contendo uma grande quantidade de brochuras.365
Aos poucos a LER foi se configurando como um espaço de circulação de livros de
várias partes do mundo, entretanto, entre o final dos anos de 1940 e a primeira metade dos
anos de 1950 houve um fluxo muito grande de publicações vindas do México e Argentina.
Nesse período Jorge realizou viagens frequentes à Buenos Aires para negociar e comprar
livros.
Ainda no campo de assuntos, no mês de abril anunciariam livros de Teatro (Figura
27), um tema que passará a ser frequente no catálogo da LER, mas cuja presença era escassa
em outros anúncios que buscamos perquirir nos periódicos do período.
365
Sob o contexto internacional: “O livro tem sofrido transformações também no sentido material. Uma
verdadeira revolução editorial estava se processando nos anos imediatamente anteriores à II Guerra Mundial,
mas ganhou ímpeto principalmente a partir de 1950, afetando técnicas de produção e métodos de distribuição,
manifestando-se mais especialmente com o aparecimento da chamada brochura, que é produzida em grandes
quantidades, vendida a preço condizente com o poder aquisitivo das massas e distribuída por uma rede de
agentes que, sem excluir as livrarias, conta com muitos canais que pouco têm em comum com a livraria
tradicional”. BARKER, Ronald E; ESCARPIT, Robert. A fome de ler. Tradução de J. J. Veiga. Rio de Janeiro:
FGV; MEC, 1975. p. 4.
134
366
Fabiana Fontana é pesquisadora, documentalista e professora. Atua no campo da história e memória das artes
cênicas. De forma mais específica, vem, nos últimos dez anos, se dedicando às questões que envolvem a
preservação do patrimônio documental relativo ao teatro, no Brasil. Em 2016, lançou o livro, editado pela
Funarte: O Teatro do Estudante do Brasil de Paschoal Carlos Magno – resultado das pesquisas desenvolvidas
durante o seu mestrado e doutorado sobre o processo de modernização do teatro brasileiro, ambos realizados
no interior do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas, da Unirio. No mesmo ano, também colaborou
para a publicação de Arquivos e Coleções Privados Cedoc/Funarte: guia geral. Atualmente, trabalha como
professora substituta na Universidade Federal de São João Del’Rei, no Curso de Teatro. Na mesma
instituição, coordena a organização dos acervos Clube Teatral Artur Azevedo e Antônio Guerra, custodiados
pelo Grupo de Pesquisas em Artes Cênicas da UFSJ.
135
mesmo do nosso teatro moderno. Este processo tem início no final dos anos trinta,
no âmbito do amadorismo. Num primeiro momento deste movimento (que se
estende por décadas no Brasil), buscou-se por uma equiparação (no sentido de
atualização) entre o que se fazia aqui e o que se via, de mais novo, nos Estados
Unidos e, principalmente, na Europa. Neste sentido, tanto as peças modernas de
autores estrangeiros (como Ibsen ou Strindberg) como cânones da dramaturgia
universal (Shakespeare, por exemplo) eram procuradas pelos artistas diletantes para
dar suporte a um teatro que tinha por fim ser um teatro de Arte; opondo-se, assim, a
dinâmicas estabelecidas até então no setor em torno do teatro ligeiro, de cunho
popular (dominado por gêneros como as comédias e as revistas). Mas não só peças
eram requeridas pela intelectualidade, associada à classe estudantil e nela
distribuída, ansiosa para fazer parte deste movimento que se colocava, muitas vezes,
em termos de soerguimento do teatro e elevação cultural da nação. Nos arquivos
com que trabalhei no Cedoc/Funarte (em especial no arquivo de Paschoal Carlos
Magno), eu encontrei indícios que apontam para o fato de um crescente interesse por
material bibliográfico de outras espécies que tinham o “teatro” como tema, já em
meados de 1940, no Brasil. O fato talvez se explique em razão do estudo do teatro
ganhar uma dimensão outra no interior do teatro brasileiro moderno. Uma arte que
antes era entendida pela sua práxis, ou seja, por ser ela transmitida ou dominada,
essencialmente, pela prática do palco (salvo algumas exceções), passou a ser
almejada como campo de conhecimento a ser desbravado. A arte do ator,
principalmente ela, começa a ser vislumbrada como técnicas a serem adquiridas pelo
aspirante amador. Cursos que surgem em escolas subvencionadas ou criadas pelo
Estado adotam programas que refletem alguns aspectos dos anúncios por você
enviados, como os volumes acerca da história do teatro em diversos países. Pode-se
entender como um dos resultados deste processo de modernização do teatro, no
Brasil, a abertura dos primeiros cursos universitários de teatro no nosso país.
Infelizmente, o mercado editorial é ainda uma questão pouco tratada, ou quase não
tomada como objeto de investigação específico, no âmbito dos estudos teatrais, no
Brasil, e, mais seriamente, no que tange à nossa historiografia teatral [...].367
367
Informação recebida por e-mail a partir da consulta.
368
Ver também: CORREIO DA MANHÃ, Rio de Janeiro, 7 de dezembro de 1947. p. 8.
136
369
DIÁRIO DE NOTÍCIAS, Rio de Janeiro, 29 de fevereiro de 1948, p. 2.
370
DIÁRIO DE NOTÍCIAS, Rio de Janeiro, 13 de março de 1949, p. 2.
137
Assuntos Citações
Arte 2
Ciências Agronômicas 1
Cinema 1
Direito 2
Divulgação 1
Economia 2
Filologia 1
Filosofia 3
História 3
Linguística 1
Música 1
Pedagogia 2
Poesia 2
Política 1
Psicologia 1
Religião 1
Sociologia 3
Teatro 3
Técnica e Ciência 2
Fonte: DIÁRIO DE NOTÍCIAS DO RIO DE JANEIRO, 1, 12 de janeiro; 2 de fevereiro; 6, 13, 27 de
abril; 31 de agosto; 7; 14; 21, 28 de setembro; 5 de outubro; 30 de novembro e 7 de dezembro.
Acervo: Hemeroteca Digital Brasileira. FBN.
Otaíza de Oliveira Romanelli comenta que, nessa década de 1940, houve uma
complementação das reformas do ensino profissional e ainda a criação do Serviço Nacional de
Aprendizagem Industrial (SENAI) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial
(SENAC)372. Acreditamos que isto refletiu no mercado livreiro, o que poderia explicar as
ofertas de livros sobre mecânica e rádio que a própria LER fará eventualmente.
A partir de 1942 as “Leis Orgânicas que estruturavam o ensino-técnico profissional
durante o período começaram a ser promulgadas”373. O decreto-lei nº 4.073 de 30 de janeiro
de 1942 organizava o ensino industrial, a Lei Orgânica do Ensino Comercial foi promulgada
pelo decreto-lei n. 6.141 de 28 de dezembro de 1943 e a chamada Lei Orgânica do Ensino
371
DIÁRIO DE NOTÍCIAS, Rio de Janeiro, 13 de março de 1949, p. 2.
372
ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. História da educação no Brasil (1930-1973). Petrópolis, RJ: Vozes, 1986.
Ver também o capítulo “Expansão e integração” em: CUNHA, Luiz Antônio. A universidade crítica: o ensino
superior na república populista. 3. ed. São Paulo: UNESP, 2007.
373
ROMANELLI, op. cit., 1986, p. 154.
138
374
ROMANELLI, op. cit., 1986. p. 155.
375
CUNHA, Luiz Antônio Cunha. A Universidade temporã. 2. ed. rev. amp. Rio de Janeiro: Livraria Francisco
Alves, 1986.
376
Sobre este conceito: VERGARA, Moema Resende. Ensaio sobre o termo “vulgarização científica” no Brasil
do século XIX. Revista Brasileira de História da Ciência, Rio de Janeiro, v. 1, n. 2, p. 137-145, jul./dez.
2008.
139
Apesar de serem dados relativos, os números das citações nas listas dos anúncios são
representativos daquilo que circulava na LER. Percebe-se que alguns desses temas
apareceram nas séries que a editora lançará mais tarde. Para o ano de 1948 os assuntos mais
citados foram Psicologia (10); História (9); Filosofia (8) e Teatro (8). Chama atenção o tema
“Divulgação Científica”, pois será uma linha editorial que a ser seguida no futuro pela
Editora.
140
Assunto Citações
Administração 1
Agropecuária 1
Arte 3
Ciência 1
Cinema 4
Clássicos Religiosos 2
Crítica de Arte 1
Crítica Literária 2
Dança 3
Direito 5
Diversos 1
Divulgação Científica 6
Economia 7
Engenharia 1
Ensaios 4
Filologia 4
Filosofia 8
Finanças 1
Folclore 1
História 9
Linguística 2
Matemática 3
Música 6
Novelas 3
Pedagogia 4
Poesia 4
Política 4
Psicologia 10
Psiquiatria 1
Sociologia 7
Teatro 8
Fonte: DIÁRIO DE NOTÍCIAS, Rio de Janeiro, 1, 29 de fevereiro; 4 de abril; 8, 10 de maio; 13 de junho; 8, 15,
22 de agosto; 5 de setembro; 3 de outubro; 28 de novembro.
Acervo: Hemeroteca Digital Brasileira. FBN.
141
Nas ocorrências para o ano de 1949 (Tabela 5), Belas Artes e Fotografia apareceram
pela primeira vez. Incorporamos História Literária à Literatura. A maior incidência de
citações continuou com Filosofia (6) e Psicologia (5).
Acreditamos ter sido neste ano de 1949 que os Zahar passaram a usar como chamada
de marketing o nome da livraria com o famoso: “Gosta de LER?”377 (Figura 29). Nos anos
1950, a partir da criação da editora (em 1957) adotaram o “Você precisa LER” – como
veremos no próximo capítulo.
377
A NOITE, Rio de Janeiro, 4 de Janeiro de 1949. p. 9.
378
JORNAL DE NOTÍCIAS, Rio de Janeiro, 23 de novembro de 1948. p. 4.
379
JORNAL DE NOTÍCIAS, Rio de Janeiro, 27 de novembro de 1949. p. 5. JORNAL DO COMMERCIO, Rio
142
Assuntos Citações
Arte 2
Belas Artes 1
Ciência 1
Crítica 2
Dança 1
Desenho 1
Direito 3
Divulgação 3
Economia 3
Filosofia 6
Fotografia 1
Geografia 1
História 2
Literatura 2
Matemática 4
Música 2
Novela 2
Pedagogia 2
Pintura 1
Poesia 2
Política 3
Psicologia 5
Religião 1
Sociologia 1
Teatro 2
Fonte: Diário de Notícias, Rio de Janeiro, 4 de janeiro; 6, 13 de março; 13, 31 de julho; 4 de
setembro e 18 de dezembro.
Acervo: Hemeroteca Digital Brasileira. FBN.
Em 1949, os irmãos Zahar decidem expandir os negócios para São Paulo380 (Figura
30), capital brasileira que naquele momento era a mais importante para o livro e também a
que tinha um público muito maior. A escolha pela famosa região da República, Rua 7 de
Abril, 264, sala 1 é significativa porque esse era um local de grande fluxo de estudantes,
professores e público em geral.
Os anúncios que localizamos referentes as três primeiras décadas dos anos de 1950
trazem seis assuntos novos: Antropologia, Arte Culinária, Decoração de Interiores, Finanças,
Publicidade e Sports. A partir deste ano a LER passa a anunciar também livros do “Fondo de
Cultura Econômica”, do México381.
Na tabela 6, os assuntos que mais sobressaíram foram: Filosofia (22); História (19);
Psicologia (19); Sociologia (14); Teatro (13). A representatividade dessas três áreas foi
bastante reveladora, bem como a diversidade que os proprietários buscaram atender.
Já a tabela 7 representa um cenário aproximado e ilustrativo. Dos 1882 títulos, 1800
não se repetem. Desse total, 1682 estão em espanhol, 118 em francês, esses últimos
sobressaem em Filosofia e Artes. Dados que não causam espanto por se tratar do período de
pós-guerra, onde houve uma franca diminuição de livros de países como França e Inglaterra.
381
Diário de Notícias, Rio de Janeiro, 17 de fevereiro de 1952. Sobre o Fondo de Cultura, recomenda-se o
trabalho: SORÁ, Gustavo. Traducir la nación: Gregorio Weinberg y el racionalismo de pasado argentino.
Estudios Interdisciplinares de América Latina y el Caribe, Tel Aviv, v. 21, p. 77-99, 2010.
144
Assuntos Citações
Antropologia 1
Arte 1
Arte Culinária 1
Ciência 1
Cinema 2
Crítica 1
Dança 2
Decoração de interiores 1
Direito 1
Economia 4
Ensaio 1
Filologia 1
Filosofia 5
Finanças 1
História 5
Literatura 2
Música 2
Novela 1
Pedagogia 2
Política 3
Psicologia 3
Publicidade 1
Religião 1
Sociologia 3
Sports 1
Teatro 2
Fonte: DIÁRIO DE NOTÍCIAS, Rio de Janeiro, 2 de abril, 4 de junho de 1950; 2 de
julho e 2 de dezembro de 1951; 17 de fevereiro de 1952.
Acervo: Hemeroteca Digital Brasileira. FBN.
145
Tabela 7 - Síntese
A análise dos títulos dos anúncios, mas, sobretudo dos assuntos nos conduze a
inferências sobre a base sobre a qual os Zahar foram se sedimentando até a criação de uma
editora própria. Embora não tenhamos encontrado nos anúncios da LER obras de nenhum
autor que seria futuramente publicado pela Zahar Editores, os assuntos e as traduções
ofertadas são a chave para compreensão das escolhas da editora, pois há, de fato,
preeminência na área das ciências sociais. O final dos anos de 1940 foi proveitoso para a
LER, pois os planos de importar e distribuir títulos de interesse daqueles que estavam nas
Universidades foram seguidos. Percebemos que os irmãos Zahar elegeram como seu principal
público-alvo leitores graduandos, recém-graduados ou estudantes de cursos técnicos.
146
A década de 1950 chegou com avanços para a LER, não obstante as complicações
advindas do cenário político, como vimos no Capítulo 1, ao que parece os negócios dos Zahar
caminhavam em bons trilhos. A fala de Ernesto Zahar, na citação acima, evidencia as
intenções dos sócios para a livraria que pretendiam abrir, bem como o perfil de buscar atender
as demandas e planos de expansão pelo país.
Em 1951, a loja passou para Rua México, número 31, ainda no centro da cidade do
Rio de Janeiro (Figuras 31 e 32). Ficando, a partir de então, mais perto de embaixadas e da
Faculdade de Filosofia e, claro, da Cinelândia, região nevrálgica da cidade. Assim, a livraria
passou a ocupar uma loja na beira da rua e não mais salas no primeiro pavimento de um
prédio, o que possibilitou, deste modo, maior visibilidade e acesso ao público. Quatro anos
depois, em 1955 a filial de São Paulo passou a ocupar uma espaçosa loja na Praça da
República383 – ponto importante do comércio da cidade e local de concentração de livrarias.
382
ZAHAR, Ernesto. O problema do livro no Brasil. Diário de Notícias, Rio de Janeiro, 4 de dezembro de 1952.
p. 8.
383
O ESTADO DE SÃO PAULO, 16 de janeiro de 1955. p. 5.
147
384
Com pagamento à vista ou pelo “sistema credi-cheque”, que conferia 20% de desconto ao consumidor. Cf.
ÚLTIMA HORA, Rio de Janeiro, 27 de novembro de 1956, p. 9.
385
SORÁ, Gustavo Alejandro. A casa José Olympio e a instituição do livro nacional. 1998. 367 f. Tese
(Doutorado em Antropologia Social) - Programa de Pós-Graduação em Antropologia social, Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1998. p. 219.
386
SORÁ, op. cit., 1998. p. 219.
387
HALLEWELL, op. cit., 2005. p. 595.
388
HALLEWELL, op. cit., 2005. p. 595.
389
Sobre formas de vendas adotadas pelas livrarias, ver HALLEWELL, op. cit., 2005.
149
Fonte: PARA TODOS: quinzenário da cultura brasileira. RJ; SP, n. 4, julho de 1956. p. 15.
Acervo: Hemeroteca Digital Brasileira. FBN.
Outra forma de venda e distribuição de livros que a LER utilizava foi a chamada
Exposição de Livros390 em algumas capitais brasileiras. Em dezembro de 1952, o Diário de
Notícias promoveu uma discussão acerca do “Problema do livro no Brasil”391 na qual
abordava o que chamou de “Decadência e desaparecimento de livrarias nas cidades e
capitais”392. Para a matéria, o Diário entrevistou profissionais do livro em São Paulo e no Rio
de Janeiro, onde procurou Ernesto Zahar identificado como “um livreiro que viaja pelo país”
(Figura 35). Uma vez que a matéria tinha o objetivo de buscar um panorama nacional, ouvi-lo
foi importante devido à experiência em viagens de negócios pelos estados. O texto é valioso,
pois se trata de um dos poucos registros de uma forma que a LER utilizava para vender seus
livros.
De acordo com Ernesto393, a Exposição de Livros feita pela LER era um negócio
inteiramente novo no Brasil
Não somos caixeiros-viajantes procurando vender livros aos interessados, mas sim
pessoas preocupadas em desenvolver o país, o comércio livreiro. Todos os ramos de
todas as indústrias têm uma rede ativa, enquanto que nós, os livreiros, ficamos
isolados, uns dos outros, mais preocupados em ganhar dinheiro do que propriamente
difundir os livros, levá-los a todas as camadas sociais.394
390
A guisa de registro, este assunto foi discutido com o público presente na palestra que realizamos na Livraria
Leonardo da Vinci, no dia 16 de agosto de 2017.
391
DIÁRIO DE NOTÍCIAS, Rio de Janeiro, 14 de dezembro de 1952. p. 1.
392
Segundo o qual havia uma lógica negativa. Os livros poucos chegavam, e os que conseguiam chegar eram
muito caros.
393
Ernesto Zahar retomará esse assunto em outras três reportagens feitas pelo Jornal “O Globo”. A saber:
CUNHA, Andrea. Ernesto Zahar: um livreiro na ativa. O GLOBO, caderno Tijuca, 27 de fevereiro de 1990, p.
33; As letras na vida de Ernesto Zahar. O GLOBO, caderno Tijuca, 19 de março de 1990, p. 31; Zahar: um
pioneiro nos livros úteis. O GLOBO, caderno Ilha, 12 de maio de 1991. p. 63.
394
DIÁRIO DE NOTÍCIAS, Rio de Janeiro, 14 de dezembro de 1952, p. 1.
395
Idem.
151
Na parte superior pode-se ver um homem não identificado, Eneida e Ernesto Zahar. Na parte inferior
Ernesto Zahar novamente seguido de Jorge Zahar e um terceiro não identificado.
Fonte: DIÁRIO DE NOTÍCIAS, Rio de Janeiro, 4 de dezembro de 1952. p. 1.
Acervo: Hemeroteca Digital Brasileira. FBN.
Na foto: Acima, da esquerda para direita: Cláudio Nogueira, uma representante do Diário de Notícias
não identificada e Ernesto. Abaixo, em suas mesas de trabalho: Ernesto, Jorge e Lucien Zahar.
Fonte: Diário de Notícias, Rio de Janeiro, 4 de dezembro de 1952, p. 1.
Acervo: Hemeroteca Digital Brasileira. FBN.
A queixa sobre o alto preço do livro era uma constante e será até hoje. Nesse período,
porém, acrescem-se as dificuldades impostas pelo tamanho do país e pelo analfabetismo. É
preciso notar que as capitais citadas por ele possuíam um público muito especial que
demandava livro: estudantes. E ainda, atentemos para o fato de que Salvador e Recife já eram
capitais livrescas consolidadas há mais de um século.
Paradoxalmente, Ernesto Zahar considerava que o Reembolso Postal era um dos
fatores que vinha causando o fechamento das pequenas livrarias, pois estas não podiam
concorrer com os livreiros das grandes cidades que ofereciam o mesmo serviço aos leitores de
outras cidades. Entretanto, ele concorda que em âmbito mais amplo havia crônica escassez de
livrarias no país. O prejudicado em tudo isso era o público que ficava sem oportunidade de
152
“onde ver, tomar conhecimento dos últimos livros editados aqui e em outras partes do
mundo”396.
Perguntado se havia “crise de leitores”, respondeu:
Vamos fazer uma análise pessimista: o Brasil tem 50 milhões de habitantes, não é?
Nesses, há seguramente 2% de leitores, logo, um milhão de pessoas têm hábito de
leitura e lêem revistas, jornais etc. Por que não lêem livros? Em Vitória, no Espírito
Santo, onde há 57 mil habitantes, há mil leitores e isso posso afirmar com a
exposição que ali realizei agora. Em Aracajú, Sergipe, o comércio é ótimo, mas não
há uma livraria, isto é, uma casa que realmente possa ser chamada de livraria. Em
Belém do Pará, uma das casas mais antigas, que serviu à (sic) várias gerações, a
Agência Martins, está em liquidação; pois bem, mas encomendas que recebemos
nessa cidade atingiram duzentos mil cruzeiros. Em Campina Grande, na Paraíba,
tivemos mais de 300 pedidos; mais ou menos 4 mil livros foram comprados. João
Pessoa não possui comércio livreiro e as pessoas interessadas, para comprarem
livros, tem que ir a Recife ou a Campina Grande. 397
A opinião dele não fica clara sobre a pergunta, mas com base nos dados que apresenta
podemos levantar outra questão: como pensar em “crise de leitores” num país com tantos
analfabetos? Não seriam relativos os números que pudessem supor “crise de leitores”? Como
discutimos no Capítulo 1, além do analfabetismo havia o alto preço dos livros que impediam
o acesso a muito leitores, tanto assim que o comércio de livros usados era crescente398.
É interessante pensarmos também que a partir do III Congresso de Editores
Livreiros399, em 1956, o setor passou a pleitear não apenas apoio do Estado, mas a expansão
de bibliotecas públicas e escolares pelo país, e que houvesse uma política de aquisição
constante diretamente feita de editores e livreiros – o que significava expansão de mercado.
Ainda na entrevista citada, Ernesto comentou que em Manaus, “onde as livrarias
rareiam, sendo mesmo hoje mais papelarias e bazares do que outra coisa, a afluência do
público para tomar conhecimento dessa exposição foi enorme”400.
396
DIÁRIO DE NOTÍCIAS, Rio de Janeiro, 14 de dezembro de 1952. p. 2.
397
Idem.
398
Tratamos deste assunto no Capítulo 1 a partir de um artigo escrito por Jorge Amado em 1936 no qual o autor
questionava que a afirmação “O Brasil não lê”.
399
Cf. CÂMARA BRASILEIRA DO LIVRO. Terceiro Congresso de Editores e Livreiros do Brasil. Rio de
Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, 1956.
400
DIÁRIO DE NOTÍCIAS, Rio de Janeiro, 14 de dezembro de 1952. p. 2. O DIÁRIO DO PARANÁ, Paraná,
SC, de 6 de março de 1959 (capa), traz uma entrevista com Ernesto Zahar na qual ele comenta o
desaparecimento das livrarias de algumas cidades, incluindo o Rio de Janeiro e critica duramente a política
cambial.
153
À indagação feita pelo entrevistador – “mas esse seu trabalho serve mais às elites; e o
povo?”401, Ernesto respondeu com clareza, apontando para a influência do perfil profissional
sobre essa questão
Está claro que as elites são as mais beneficiadas e que o povo está em triste situação
econômica, mas as exposições contam com o comparecimento de todas as camadas
sociais, sendo inegável que a procura maior é a do livro jurídico-administrativo.
Professores, médicos, advogados etc vêm pressurosos às nossas exposições e as
encomendas são surpreendentes.402
A venda de livros nas cidades brasileiras era feita pela LER sob a responsabilidade de
Ernesto Zahar. Segundo ele próprio, eram realizadas “exposição de capas” em livrarias locais.
Obviamente, ele não poderia viajar pelo Brasil carregado de livros, e devem ter percebido que
enviar os catálogos não era suficiente. Assim, decidiram expor as capas das publicações com
a presença de um representante da Livraria LER que poderia conversar e negociar com os
interessados. A prática de expor as capas dos livros tinha objetivo de atrair ainda mais o
público, embora acreditemos que muitos sequer necessitavam desta estratégia, pois a carência
de publicações era tão grande que as exposições deviam ser muito esperadas.
A partir das encomendas feitas durante o período das Exposições, ficava acordado
entre as partes que o pagamento poderia ser feito a prazo403 ou à vista. A presença de um dos
donos do negócio permitia maior flexibilização das negociações. Segundo Ernesto, a
modalidade de venda dependia do comprador. Todas as facilidades eram concedidas, mesmo
porque o responsável, o livreiro que sedia o espaço, tinha 30% sobre o lucro, o que estabelecia
um crédito para futuras remessas.
Sobre os números de vendas mencionados por Ernesto Zahar na entrevista não foi
possível confrontar esses dados com outras fontes. Todavia, sobre a Exposição de Livros
localizamos algumas fontes que nos mostraram que esta atividade pode ter começado no final
da década de 1940. A amostragem que conseguimos nos jornais também exemplifica a
amplitude de atuação que os Zahar conseguiram com este tipo de atividade. No que concerne
ao funcionamento, normalmente eram anunciadas alguns dias antes em jornais de grande
circulação “Exposição de Livros Estrangeiros”. A chamada da matéria vinha associada com
informações sobre o local onde aconteceria e qual seria a sua duração.
401
Idem.
402
DIÁRIO DE NOTÍCIAS, Rio de Janeiro, 14 de dezembro de 1952. p. 2.
403
A venda em prestações é brevemente contextualizada por Hallewell (2005, p. 528-530).
154
404
Além das três que seguem não localizamos maiores informações sobre a história desta livraria.
Ela é mencionada por: PARAISO, Rostand. Livros, livreiros, livraria. Recife: Bagaço, 2006; GASPAR,
Lúcia. Sebastião Vila Nova. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em:
http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/ e BARBOSA, Virgínia; GASPAR, Lúcia (Org.). Sebastião Vila
Nova: o homem e a obra. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2008. Disponível em:
http://www.fundaj.gov.br/images/meca/pdfs/sebastiao.pdf; PARAISO, Rostand. Livros, livreiros, livraria.
Recife: Bagaço, 2006. 317p.
155
nos fins de tarde”405. De Recife, Ernesto Zahar foi para Campina Grande, na Paraíba. Lá a
Exposição aconteceu na Livraria Modelo406, de propriedade de Pedro d’Aragão e, novamente,
houve afluência de grande número de intelectuais407.
Ernesto Zahar mencionou na entrevista ao Diário de Notícias que havia realizado uma
Exposição em Manaus em 1956. Sobre essa viagem, localizamos mais duas atividades na
mesma cidade, uma em 1957408 e outra em 1959409, também na Livraria Acadêmica, referida
como a mais importante à época, para onde convergiam acadêmicos e intelectuais410.
O próximo anúncio (Figura 37) refere-se à Exposição de abril de 1956, nele é possível
perceber parte do texto semelhante ao usado em Recife anos antes, com destaque para frase
no último parágrafo: “[...] promover maior venda de livros, num país como o nosso, é tarefa
meritória, que deve receber o maior estímulo possível”. É possível concordar com ela uma
vez que era isso que os Zahar estavam fazendo, de fato estavam proporcionando a circulação
de livros especializados por regiões mais afastadas dos grandes centros, embora não menos
desenvolvidas. Um elemento novo aparece neste anúncio: os assuntos dos livros que estariam
à venda na Exposição. Assim, durante três dias Ernesto Zahar esteve à disposição do público
para atendê-lo. Mais uma vez, a LER convoca professores, engenheiros, advogados,
magistrados, médicos, mas também as Faculdades, Escolas Técnicas e Bibliotecas. Dois anos
depois, em outubro de 1959, a LER retornou a Manaus para nova Exposição e, apesar de
405
BARBOSA; GASPAR, op. cit., 2008. p. 4.
406
Sobre esta livraria, a única fonte que localizamos menciona que “A Livraria Modelo foi o primeiro, e durante
vários anos, o único estabelecimento de Campina Grande a vender instrumentos musicais: acordeons,
instrumentos de cordas, como violões, cavaquinhos, banjos etc.; pianos novos, fabricados no Brasil, e usados,
principalmente de fabricantes alemães; órgãos de fabricação nacional, inclusive aqueles popularmente
conhecidos como serafinas; instrumentos de sopro e de metal e tambores para bandas marciais, sendo Pedro
d’Aragão o primeiro comerciante a financiar a venda de instrumentos musicais na cidade. Dezenas de
colégios e igrejas, sobretudo evangélicas, tiveram suas bandas de música adquiridas através da Livraria
Modelo”. Disponível em: http://aplm.xpg.uol.com.br/pedrodaragao.htm.A informação corrobora ao que foi
dito por Ernesto Zahar na entrevista ao Diário de Notícias de que algumas livrarias que realizavam a
exposição não vendiam apenas livros.
407
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 26 de setembro de 1953. p. 2.
408
JORNAL DO COMMERCIO, Manaus, 7 de abril de 1957. p. 2.
409
JORNAL DO COMMERCIO, Manaus, 13 de outubro de 1959. p. 4.
410
Sobre a Livraria Acadêmica só foi possível localizar um excelente documentário produzido pela Amazon Sat
no qual é narrada toda sua história de 1912 a 2009.
Ver: https://www.youtube.com/watch?v=o1jRPLXCRaw. Acesso em: 20 mar. 2017.
156
No ano de 1957, após três dias de Exposição em Manaus, Ernesto Zahar seguiu
viagem para São Luiz do Maranhão e depois para Natal (Rio Grande do Norte). O jornal
Pacotilha (Figura 38) informou que o evento seria na segunda quinzena de abril, mas a
livraria ainda não havia sido acordada. No anúncio chama atenção a informação de que
haveria um “vasto mostruário de capas de livros recentes”. Este apelo ao visual era uma
estratégia da LER, pois ao expor as capas deveriam despertar ainda mais interesse dos
compradores. Os catálogos da LER eram enviados gratuitamente para todo país, mas
acreditamos que o efeito das capas, na maioria em língua estrangeira e com linguagem gráfica
bem mais avançada do que a que tínhamos aqui no momento – salvo poucas exceções, como a
José Olympio, por exemplo – deveria causar um impacto muito grande.
411
JORNAL DO COMMERCIO, Manaus, 13 de outubro de 1959. p. 4.
157
412
DIÁRIO DE NATAL, 1 de abril de 1957, p. 3; O POTI, Natal, 27 de abril de 1957. Capa.
413
Sobre a Loja de Livros Ltda: GALVÃO, Claudio. Livros à mancheia!: De Fortunato Aranha a Luís
Damasceno. Substantivo Plural, s.d.
Disponível em: <http://www.substantivoplural.com.br/viva-luis-damasceno-uma-amostra/>. Acesso em: 21
mar. 2017.
158
Em 1990, aos 74 anos, Ernesto Zahar foi entrevistado pelo O Globo cuja pauta da
matéria girou em torno da sua experiência com os livros ao longo de cinquenta anos de
carreira. Dentre os assuntos rememorados, as exposições foi um deles. A partir do que foi
visto até o presente momento, a memória parece não o ter traído.
Na Livraria Regina, em Aracajú, fez a primeira exposição das capas do mostruário.
Advogados, juristas, professores, estudantes de curso superior e profissionais
liberais compareceram em massa durante os três dias em que as capas estiveram
expostas, para fazer as encomendas. Estava, pois, montado o esquema de trabalho
que ira se repetir a partir de Manaus, alterando fundamentalmente o método
tradicional de se comercializar o livro. [...]. Foi um trabalho duro. O Brasil daquele
159
As distâncias continentais do país parecem ter sido um dos problemas para o trabalho
do então jovem livreiro. Ele reforça aqui o perfil do público que ia às livrarias em busca de
novidades e, obviamente, com o objetivo de cobrir a carência de livros técnicos.
A partir dos relatos de Ernesto Zahar e dos anúncios localizados nos periódicos, foi
possível sintetizar as exposições desta maneira:
Fonte: o autor.
Acreditamos que a opção por realizar suas atividades numa livraria local tenha se
justificado pela intenção de estabelecer e fortalecer laços comerciais. Afinal, não obstante a
regularidade das visitas, os Zahar poderiam ainda manter os negócios com livreiros locais.
Outra característica dentro deste campo foi a escolha das livrarias pois, segundo foi possível
aferir, todas eram referência nas cidades além de serem também locais de sociabilidade de
intelectuais. Além, é claro, de que a livraria selecionada conferia um canal de acesso a
potenciais compradores.
Acerca do público das Exposições, notamos que, em Pernambuco, convocaram
“Engenheiros, advogados, professores, legisladores, das Faculdades, Escolas Técnicas e
Bibliotecas das Repartições Públicas; de todo o setor administrativo do Estado, e dos Leitores
em geral”. Já em Manaus, acrescentaram ao chamado: “Médicos, estudantes das escolas
superiores, dos estudiosos”. Poder-se-ia conjecturar que a LER buscava atender a uma
414
O GLOBO, Rio de Janeiro, 27 de fevereiro de 1990. p. 28. No ano seguinte, ele deu outra entrevista e repetiu
a mesma narrativa (O GLOBO, Rio de Janeiro, 12 de maio de 1991. p. 63).
160
demanda de livros importados de áreas que apresentavam enorme carência de oferta no país,
como medicina e engenharia, por exemplo. Verificamos também que nas cidades atendidas
pela Exposição havia faculdades e cursos técnicos.
Sobre os assuntos dos livros comercializados pela LER durante as Exposições, não
diferiam tanto daqueles apontamos nas tabelas anteriores, ou seja, Filosofia, Psicologia,
Sociologia, Economia, História, Religião, Arte, Direito, Medicina, Engenharia, Literatura,
Filologia, Pedagogia, Geografia, Matemática, Arquitetura, Economia. Todos os livros
ofertados eram nos idiomas espanhol, francês e inglês.
A figura 40 foi publicada na capa do Boletim Bibliográfico Brasileiro de 1955, junto a
ela o texto exortava Ernesto Zahar como um “apóstolo do livro” e mencionava sua influência
como livreiro não só no Rio de Janeiro, mas em grande parte do país, bem como sua
reconhecida aguerrida atuação. O periódico mencionou que “de há muitos anos a esta data,
não há governador de Estado ou prefeito de cidade importante que não tenha sido abordado
por ele, em sua ânsia de difundir o livro, de eliminar entraves burocráticos à sua
circulação”415.
415
BOLETIM BIBLIOGRÁFICO BRASILEIRO, Rio de Janeiro, n. 5, v. 3, set./out., 1955, capa.
161
A década de 1970 marcou o final da sociedade entre os irmãos Zahar, que causaria
uma ruptura em ambos os negócios, livraria e editora. Mas, no momento nos concentremos na
primeira.
416
O GLOBO, Rio de Janeiro, 22 de dezembro de 1972. p. 13.
417
Sobra a história desta livraria recomenda-se um trabalho muito recente: BAPTISTINI, Flávia Maria Zanon
Livrarias, memória e identidade: a importação de livros no Brasil e a trajetória da livraria Leonardo da
Vinci no Rio de Janeiro. Dissertação (Programa de Mestrado Profissional em Bens Culturais e Projetos
Sociais). 178f. Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, 2017. Uma outra lista publicada no mesmo jornal
em 20 de setembro 1975, p. 31, não constam nem a LER nem a Galáxia, mas aparece a livraria do Mestre
Jou, especializada em livros da Argentina, México e Espanha.
163
418
Não localizamos maiores informações sobre a trajetória da Galáxia e as tentativas de contato com os
funcionários não logrou sucesso.
419
ZAHAR, Cristina. Entrevista. Apud PAUL, Danielle Rosa. História em catálogos: um estudo da política
editorial Zahar de 2001 a 2014. 2015, p. 37. Dissertação (Mestrado Profissional em Bens Culturais e Projetos
Sociais) - Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, 2015. Disponível em: <
http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/14213>. Acesso em: 08 nov. 2016.
420
JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro: 22 de setembro de 1973, p. 8; 3 de novembro de 1973, p. 2; 17 de
novembro de 1973. p. 2; 26 de novembro de 1974, p. 2; 3 de setembro de 1975, p. 4; 18 de dezembro de
1978. JORNAL DOS SPORTS, Rio de Janeiro: 15 de maio de 1977, p. 4; 23 de abril de 1978, p. 4.
OPINIÃO, Rio de Janeiro, 6 de junho de 1975, p. 22. LUTA DEMOCRÁTICA, 12 de abril de 1976, p. 9.
421
O GLOBO, Rio de Janeiro, 12 de agosto de 2001, p. 26; JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 9 de junho
de 2001. p. 21.
164
422
O LIBERAL, Belém, 28 de janeiro de 1986. p. 2.
423
Cf. ZAHAR, Jorge; FERREIRA, Jerusa Pires. Editando o editor: Jorge Zahar. São Paulo: EDUSP, 2001.
165
Ressalve-se, porém, que neste período não se tratada mais de “arrancada”, mas de
reorientação do desenvolvimento econômico. Observe-se, igualmente, que na
perspectiva teórica mais ampla aqui adotada, a relação desenvolvimento econômico
e estabilidade política surge como a mais frequente e coerente. [...] que houve um
alto índice de desenvolvimento econômico no Governo Kubistchek não resta a
menor dúvida. [...] os anos 55-60 aparecem como um caso ‘atípico’ de estabilidade
na História Política Contemporânea. O principal argumento para caracterizar essa
estabilidade é de comprovação imediata: apesar das crises profundas no começo e no
fim do período, Kubistchek foi o único presidente civil, que entre 1930 e 1964,
conseguiu manter-se até o fim do seu mantado presidencial por meios
constitucionais424.
Este capítulo é uma ponte que liga a Livraria LER a Zahar Editores. Nosso objetivo
aqui não será um mergulho profundo entre o final do governo de Getúlio Vargas até Juscelino
Kubistchek – isso seria um desvio imenso no foco desta tese e inúmeras outras pesquisas já
existem sobre essa temática, como já manifestamos. Desse modo, pretendemos circunstanciar
alguns fatos que acreditamos servirem como pano de fundo para compreender o desenrolar da
Livraria LER e a intenção de criar uma editora. Ou seja, buscaremos inserir nossos
personagens nesse contexto. Vemos neste capítulo um interregno entre as atividades da LER e
o início da Zahar Editores, uma vez que os Zahar atenderiam dois segmentos importantes: a
importação de livros estrangeiros e a tradução e a produção de livros, ambos com foco no
público do ensino superior.
De acordo com Alice Mitika Koshiyama425, Gustavo Sorá426 e Gabriel Labanca427 a
oscilação cambial para importar papel e livros estrangeiros e as taxas postais estavam no rol
das dificuldades que muitos livreiros e editores encontravam para seguirem com seus ofícios
entre as décadas de 1930 e 1950. Todavia, sob uma perspectiva da longa duração, Laurence
424
BENEVIDES, Maria Victoria de Mesquita. O governo Kubitschek: desenvolvimento econômico e
estabilidade política. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976. p. 22-23.
425
KOSHIYAMA, Alice Mitika. Monteiro Lobato: intelectual, empresário, editor. São Paulo: T. A. Queiroz,
1982.
426
SORÁ, Gustavo Alejandro. Brasilianas: a Casa José Olympio e a instituição do livro nacional. 1998. 367 f.
Tese (Doutorado em Antropologia Social) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1998.
427
LABANCA, Gabriel Costa. Dos anos dourados às Edições de Ouro: a Tecnoprint e o livro de bolso no Brasil
(1939-1970). 2009. 202 f. Dissertação (Mestrado em História Política) – Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, 2009.
166
428
HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. 2. ed. São Paulo: EDUSP, 2005.
429
PAIXÃO, Fernando. Momentos do livro no Brasil. São Paulo: Ática, 1997.
430
GALÚCIO, Andréa Lemos Xavier. Civilização Brasileira e Brasiliense: trajetórias editoriais, empresários e
militância política. 2009. 316 f. Tese (Doutorado em História Social) – Universidade Federal Fluminense,
Niterói, RJ, 2009. p. 73.
431
CAMARGO, Angélica Ricci. Por um Serviço Nacional de Teatro: debates, projetos e o amparo oficial ao
teatro no Brasil (1946-1964). 2017, 396 f. Tese (Doutorado em História Social) – Universidade Federal do
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017. A pesquisadora faz uma revisão historiográfica e analisa a relação entre
o Estado e a Cultura, e lembra que “O relacionamento entre Estado e cultura se apresenta como uma área de
estudo recente, que vem despertando interesse entre pesquisadores de diversas disciplinas, o que pode ser
medido pelo aumento das pesquisas acadêmicas, da realização de seminários e da publicação de livros e
periódicos no país” (p. 3). Sobre a relação Estado e Livro, acredito que o único trabalho até o momento que
tenha feito um estudo neste campo foi o já citado artigo: BRAGANÇA, Aníbal. As políticas públicas para o
livro e a leitura no Brasil: O Instituto Nacional do Livro (1937-1967). Matrizes, São Paulo, v. 2, n. 2, p. 221-
246, 1. sem. 2009. Até mesmo trabalhos recentes que buscaram estudar o INL não chegam ao nível de análise
de Bragança e Camargo.
432
FAUSTO, Boris (Direção). História Geral da Civilização Brasileira: o Brasil Republicano. Economia e
Cultura (1930-1964). Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.
433
GALÚCIO, Andréa Lemos Xavier. Civilização Brasileira e Brasiliense: trajetórias editoriais, empresários e
militância política. 2009. 316 f. Tese (Doutorado em História Social) – Universidade Federal Fluminense,
Niterói, Rio de Janeiro, 2009. p. 76.
434
HALLEWELL, op. cit., p. 533.
167
Além desta medida, as tarifas postais também sofreram redução com objetivo de dar
“subsídios ao produto brasileiro para permitir sua competição com o importado”435.
Os anos 1950 foram impactantes para livro porque se até Vargas436 vivemos um
período de maiores incentivos para importação e circulação do livro estrangeiro. A partir de
Juscelino Kubitschek, com um incremento do processo de industrialização que visava
intensificar o processo de substituição das importações437, foi “o momento” dos editores.
Estes passaram a pensar na importação de maquinários para a diminuição do valor para
impressão de livros e não apenas destinado aos jornais, como antes. Somou-se a isso, o
estímulo às traduções.
No Brasil, para Maria da Conceição Tavares “durante as primeiras etapas de
industrialização substitutiva, entre o final da Segunda Guerra e meados dos anos 50, havia,
grandes ilusões sobre a homogeneização global, sobretudo dada a possível magnitude dos
impactos da urbanização”438. O movimento de substituição das importações439 – iniciado
ainda nos anos 1930 – entrou numa nova fase, “com maior ênfase na criação de indústrias de
bens de capital”440, mas isto certamente teria um custo: a inflação. Assim, não obstante o
visível ponto de aceleração de um processo de modernização que havia começado igualmente
435
Idem.
436
A complexidade deste período pode ser melhor compreendida em: FAUSTO, Boris. A vida política. In:
GOMES, Ângela de (Coord.). Olhando para dentro: 1930-1964. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013. p. 179-227.
(História do Brasil Nação: 1808-2010, v. 4); GOMES, Ângela de Castro. O populismo e as ciências sociais
no Brasil: notas sobre a trajetória de um conceito. Tempo, Rio de Janeiro, v. 1, n. 2, p. 31-58, 1996.
FAUSTO, Boris (Dir.). História Geral da Civilização Brasileira: o Brasil Republicano. Economia e Cultura
(1930-1964). Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005; SKIDMORE, Thomas E. Brasil: de Getúlio a Castello
(1930-1964). Tradução de Berilo Vargas. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
437
Abordaremos esses conceito adiante, dentro de um contexto mais específico.
438
TAVARES, Maria da Conceição. Da substituição de importações do capitalismo financeiro: ensaios sobre
economia brasileira. 4. ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1975. p. 192.
439
Compreendemos este conceito a partir de: “o termo ‘substituição das importações’, adotado para designar o
novo processo de desenvolvimento dos países subdesenvolvidos, é pouco feliz porque dá a impressão de que
consiste em uma operação simples e limitada de retirar ou diminuir componentes da pauta de importações para
substituí-los por produtos nacionais. Uma extensão deste critério simplista poderia levar a crer que o objetivo
‘natural’ seria eliminar todas as importações, isto é, alcançar a autarquia”. TAVARES, Maria da Conceição.
Da substituição de importações do capitalismo financeiro: ensaios sobre economia brasileira. 4. ed. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1975. p. 39.
440
SKIDMORE, Thomas E. Brasil: de Getúlio a Castello (1930-1964). Tradução de Berilo Vargas. São Paulo:
Companhia das Letras, 2010. p. 203.
168
na década de 1930, este período, mais tarde, ficou conhecido como “década perdida” – como
lembrou Ângela de Castro Gomes441.
Feita essa explanação acima, precisamos ser mais precisos e nos restringir ao campo
especificamente do livro técnico e do livro para uso nos cursos superiores. E começamos nos
perguntando: o que é essa categoria?.
Entre os anos de 1940 e até, pelo menos a primeira metade da década de 1960, a
pesquisa nos jornais da época nos revelou termos como: livros didáticos para universidades,
livros didáticos para ensino superior; livros técnicos, livros para universidades, edição
acadêmica, edição de tipo universitário e livros técnicos (quando queriam se referir aos livros
para os cursos de exatas)442. Dentro do contexto editorial, a primeira menção que encontramos
de “livro universitário” foi em 1962, por Florestan Fernandes, no artigo “Novos
empreendimentos editorias”443 no qual comenta o movimento de publicação do país dos
últimos 15 anos.
Nessa seara dos livros para público universitário, mas não apenas de ciências sociais,
não se pode esquecer – para citar alguns exemplos – que nos anos de 1938 a Companhia
Editora Nacional lançou uma coleção destinada a esse público. A “Biblioteca do Espírito
Moderno”, compreendia os assuntos de Filosofia, Literatura, Ciências, História (de maior
sucesso) e Biografia444.
A diferença que observamos em relação a editoras que vieram a seguir como Paz e
Terra e Zahar Editores, por exemplo, é o fato de não se dedicarem exclusivamente ao mercado
441
GOMES, Ângela de Castro. População e sociedade. In: SCHWARCZ, Lilia Moritz (Dir.). História do Brasil
Nação: 1808-2010. São Paulo: Objetiva, 2013. (Olhar para dentro, 1930-1964, v. 4), p. 41-89.
442
Ficamos surpresos com falta de trabalhos sobre a história do livro universitário no Brasil que se dedicassem a
primeira metade do século XX, período no qual ainda não havia as editoras universidades. O termo “edição de
tipo universitário” é usado por Nuno Medeiros para diferenciar “edição na universidade” e “edição da
universidade”. Ele estabelece essas categorias para problematizar os livros que eram produzidos dentro
e/ou/para as universidades. Acredito que necessitamos de um estudo desta natureza no país.
Cf. MEDEIROS, Nuno Miguel Ribeiro de. Circunstâncias globais e tendências recentes no espaço editorial do
livro universitário português. Análise Social, Lisboa, v. 3, n. 216, p. 582-603, 2016. Este autor discute o perfil
do livro universitário e das editoras universitárias, mas dentro do um contexto temporal que foge do nosso
aqui proposto. Sobre a relação do livro com as universidades no Brasil, bem como da edição universitária, há
três livros que foram importantes para compreendermos algumas distinções e buscar um contexto de
produção. Todavia, fazem parte do conjunto que discute a imprensa da universidade. BUFREM, Leilah
Santiago. Editoras universitárias no Brasil: uma crítica para a reformulação da prática. São Paulo: Edusp;
Com-Arte; Curitiba: Editora da Universidade, 2001; MENDES, João Carlos Canossa; RESTREPO, Juan
Felipe Córdoba (Org.). Édicion universitária en América Latina: debates, retos, experiências. Bogotá:
Editorial Universidad del Rosario, 2011; DAECTO, Marisa Midori; MARTINS FILHO, Plinio. Livros e
universidades. São Paulo: Com-Arte, 2017.
443
O ESTADO DE SÃO PAULO, 7 de julho de 1962. p. 4.
444
HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. 3. ed. São Paulo: EDUSP, 2012.
169
de livros técnicos e científicos traduzidos. É importante citar também dentro desse conjunto
especializado, a Fundo de Cultura445 que, a partir da década de 1960, passará a ser
mencionada com frequência ao lado da Zahar, ambas como responsáveis por prover o
mercado de livros que faziam “falta à formação cultural do homem médio de hoje e a publicar
manuais indispensáveis ao aprendizado de que o Brasil necessita neste momento”446.
Fernando Paixão é um dos poucos autores que localizamos que trata do “livro para a
universidade”, ou seja, livros editados por editoras fora da estrutura universitária, mas que a
alimentam com publicações necessárias e fundamentais para o ensino. Paixão estabelece uma
interessante prosopografia de um trio que será fundamental para fornecer livros para o público
universitário – a Paz e Terra e Perspectiva e a Zahar Editores – como veremos melhor no
próximo capítulo.
Gustavo Sorá comenta que, sobretudo a partir da década de 1940, “o reconhecimento
das editoras como especializadas em certos gêneros foi estendido à identificação das
principais cidades como centros de edição de espécies particulares de gêneros”447. Esta
característica avança e se consolida nas décadas de 1950 e 1960 como uma necessária ação
mercadológica que permitiu à indústria e ao comércio do livro avançarem. No entanto, o
problema mais grave que se apresentava continuaria a ser a importação de livros e de papel,
mas a produção nacional seria francamente incentivada, como já apontaram Hallewell 448 e
Labanca449.
A força corporativa advinda dos anos 1940 com as criações do Sindicato Nacional de
Editores e Livreiros e Câmara Brasileira do Livro representou uma etapa na História do Livro
no Brasil com a oportunidade do estabelecimento de novas ações, como os primeiros
445
Em 1959 Franklin de Oliveira escreveu o artigo “Política Editorial” na coluna “Livros na mesa” do Correio
da Manhã. Sua motivação foi os vinte e cinco anos de atividade editorial do Fundo de Cultura do México
sobre o qual dizia que o Brasil deveria ser grato pela contribuição que vinha dando na divulgação do
pensamento brasileiro. Oliveira afirmava que a editora mexicana poderia ser considerada um modelo de
empresa editorial porque funcionava de fato como uma indústria. Para ele, editar era um “empreendimento
industrial, um comércio”, mas não era uma “indústria ou comércio igual aos outros”, pois consistia numa
atividade que envolvia “um compromisso ao qual os técnicos em sociologia literária dão, em França, o nome
de responsabilidade cultural”. Para concluir seu texto, Oliveira compara as atividades da Zahar Editores com o
Fundo de Cultura na proposta editorial de circulação de textos científicos. CORREIO DA MANHÃ, Rio de
Janeiro, 7 de novembro de 1959, p. 5.
446
O GLOBO, Rio de Janeiro, 18 de outubro de 1961. p. 4.
447
SORÁ, Gustavo. Brasilianas: a Casa José Olympio e a instituição do livro nacional. 1998. 367 f. Tese
(Doutorado em Antropologia Social) – Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 1998. p. 283.
448
HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. 3. ed. São Paulo: EDUSP, 2012
449
LABANCA, op. cit., 2009 (a).
170
Esse texto citado acima é parte de um artigo publicado no Jornal do Brasil, em 1942,
intitulado “A publicação de obras técnico-científicas no Brasil”, e assinado por J. Costa
Ribeiro. Apesar do ano, o conteúdo confere margem para estabelecer conexão com as décadas
seguintes, cujas dificuldades, apontadas na citação, não cessariam de fazer parte do cotidiano
daqueles que estavam em cursos superiores no país. Costa Ribeiro salienta que “aqueles que
passaram pelos Institutos de Ensino Superior conheciam “por experiência própria, as
dificuldades em que se encontram os estudantes brasileiros no que se refere à bibliografia
técnico-científica”452.
450
SORÁ, Gustavo Alejandro. Brasilianas: a Casa José Olympio e a instituição do livro nacional. 1998. 367 f.
Tese (Doutorado em Antropologia Social) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1998.
451
RIBEIRO, J. Costa. A publicação de obras técnico-científicas no Brasil. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 22
de abril de 1942, p. 19.
452
RIBEIRO, op. cit., p. 19.
171
Para Costa Ribeiro a maior parte do interesse dos livreiros e editores voltava-se “para
a publicação de livros e ensino secundário e primário, para os quais, com muito menor
trabalho e muito menos despesa, está certamente assegurada a venda de, pelo menos, alguns
milhares de volumes, cada ano, em todo o país”453. Isso acontecia por duas razões principais:
primeiro porque existiam mais alunos nos dois primeiros níveis do ensino, logo as tiragens
eram maiores e, em segundo lugar, pela prática de troca de livros anualmente454.
Associado à questão da escassez de livros, Olympio de Sousa Andrade pondera que
“no centro do problema, àquela época, se encontrava a questão do preço, pois, sobre o livro
estrangeiro pesavam taxas aduaneiras, nada modestas”455. Apesar disto, Andrade afirma que
“a importação de livros em 1953 e 1954 ainda se fazia no Brasil com a presença acentuada do
livro francês”. Uma situação que mudará, dentro do seu ponto de vista, a partir de 1954
quando houve o que chama de a “virada” do livro americano, ou seja, quando vivemos uma
invasão dessas publicações. Contudo, ainda no âmbito da importação de livros, Andrade
destaca os livros didáticos para o ensino superior e considera que os preços eram além do
poder aquisitivo de muitos, e baixa produção de traduções no país só distanciava o aluno
universitário do livro.
O Correio da Manhã, de 14 de agosto de 1952, publicou um editorial com teor muito
severo sobre o que classificou como as supostas boas intenções do governo de Getúlio Vargas
em prol do livro, pois julgava que não havia vontade concreta em colaborar com o mercado
editorial do país. O jornal afirmou que “ele [o livro] está quase sempre em agonia...”, uma vez
que, de acordo com o texto, havia três vilões que atuavam contra o livro nacional: o livro
estrangeiro que era o mais barato, e por isso o mais procurado; a novela radiofônica e a
televisão456. Além, é claro, do próprio Estado que não apresentava nenhuma proposta
consistente para reverter o cenário. Por fim, o editorial considerava que seriam necessárias
reformas para redução de alguns impostos que insidiam sobre o papel, tarifas postais e aéreas
453
RIBEIRO, J. Costa. A publicação de obras técnico-científicas no Brasil. JORNAL DO BRASIL, Rio de
Janeiro, 22 de abril de 1942, p. 19.
454
Durante vários momentos entre os anos 1940 e 1950 houve tentativas de mudar essas práticas de adoção de
livros anual. Confere: ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. História da educação no Brasil (1930-1973).
Petrópolis: Vozes, 1986. GONÇALVES, Paulo Celso Costa. Políticas públicas de livro didático: elementos
para compreensão da agenda de políticas públicas em educação no Brasil. 2017. 244 f. Tese (Doutorado em
Educação) - Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2017.
455
ANDRADE, Olímpio de Souza. O livro brasileiro: progressos e problemas. Rio de Janeiro: Paralelo; Brasília,
INL, 1974. p. 76.
456
Sobre o medo do mercado editorial com a competição com rádio e televisão ver BARKER, Ronald E.;
ESCARPIT, Robert. A fome de ler. Tradução de J. J. Veiga. Rio de Janeiro: FGV; INL, 1975.
172
e propôs que o Ministério do Exterior deveria auxiliar de forma mais eficaz as práticas de
intercâmbio cultural.
O editor Rogério Pongetti457 apresentou alguns argumentos distintos acerca do preço
do livro que buscam relativizar a ideia – que estamos notando recorrente – sobre o assunto.
Várias são as razões alegadas para essa indiferença ante o ‘pão do espírito’, das
quais as principais é alto preço do livro. Mas esse argumento não resiste a uma
análise pois o livro é uma das utilidades que menos subiu em confronto com todas as
demais. E ninguém reclama contra o preço das entradas dos cinemas (sempre
repletos), nem os dos ingressos do futebol), onde uma partida importante chega a
render milhões de cruzeiros. Outros alegam falta de tempo, uma vez que as
dificuldades da vida moderna obrigam o indivíduo a maiores atividades, inclusive as
mulheres, que antigamente constituíam o maior núcleo de leitores das obras de
ficção. Esta razão nos parece a mais lógica. [...]. De qualquer modo, urge que se faça
qualquer coisa em favor do livro antes que desapareçam os últimos editores que
ainda lutam pela sobrevivência do livro nacional 458.
A esse respeito, pouco tempo depois a escritora Raquel de Queiroz manifestou sua
crítica com as queixas sobre o alto do preço do livro na revista O Cruzeiro, comparando os
valores de peças de assessórios do vestuário masculino e feminino com os preços dos livros.
Para ela, assim como para Rogério Pongetti, a questão era mais o estabelecimento de
prioridades459. Tanto nas palavras na escritora cearense quanto nas do editor Pongetti, nota-se
a ideia de que os livros também deveriam chegar ao público, via biblioteca.
O momento de expansão dos negócios da Livraria LER era também de tensão entre os
profissionais do livro, mormente no setor da importação, com medidas cambiais que vieram
causar estremecimento no setor livreiro. Um exemplo foi a Instrução número 70460 da
Superintendência da Moeda e do Crédito (SUMOC)461, de 9 de outubro de 1953, que
457
Sobre Rogério Pongetti: <http://www.snel.org.br/institucional/galeria-de-ex-presidentes/>. E ainda:
HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. 2.ed. São Paulo: EDUSP, 2005.
458
A NOITE, Rio de Janeiro, 18 de agosto de 1952. p. 10
459
O CRUZEIRO, Rio de Janeiro, 11 de janeiro de 1956. p. 10.
460
Um detalhamento sobre o funcionamento burocrático e econômico da Instrução 70 da SUMOC: “Instrução
70.
CPDOC. Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil”. Disponível em:
<https://www.bcb.gov.br/pre/Historia/Sumoc/historiaSumoc.asp>. Acesso em 21 nov. 2017. BRASIL. Banco
do Brasil. Superintendência da Moeda e do Crédito. Instrução n. 70, de 9 de outubro de 1953. Disponível em:
<http://www.bcb.gov.br/pre/Historia/Sumoc/Instrucoes/instrucao070.pdf>. Acesso em: 21 nov. 2017.
461
A Superintendência da Moeda e do Crédito (Sumoc) foi criada no final do primeiro período de Getúlio
Vargas
como Presidente da República, pelo Decreto-Lei nº. 7.293, de 2 de fevereiro de 1945, que instituiu a
autoridade monetária brasileira, com a missão de preparar a organização de um banco central no país. Ver
também: KUPERMAN, Esher. Velha Bossa Nova: a SUMOC e as disputas políticas no Brasil dos anos 50.
Rio de Janeiro: Garamond, 2012.
173
462
CAPUTO; MELO, op. cit. 2009, p. 516.
463
Sobre Armando Fontes, ver: LITERATURA SERGIPANA. Disponível em:
<http://literaturasergipana.blogspot.com.br/2013/09/amando-fontes-um-mestre-nos-romances.html>. Acesso
em: 25 fev. 2017.
464
CORREIO DA MANHÃ, Rio de Janeiro, 20 de julho de 1952. p. 4.
465
CORREIO DA MANHÃ, Rio de Janeiro, 20 de julho de 1952. p. 4.
466
Idem.
174
alguns outros) são insubstituíveis por qualquer produto nacional. Esta é a verdade. O
encarecimento insuportável desses livros seria um atentado à nossa cultura. Seria
sinal de supremo desprezo da inteligência. Há no Brasil quem queira assumir essa
responsabilidade?467
467
CORREIO DA MANHÃ, Rio de Janeiro, 25 de outubro de 1953. p. 4. Ver também JORNAL DO BRASIL,
20 de novembro de 1953. p. 5.
468
Sobre Osvaldo Aranha.
FGV/CPDOC: <http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/osvaldo-euclides-de-sousa-
aranha>.
469
GAZETA DE NOTÍCIAS, Rio de Janeiro, 07 de janeiro de 1954, p. 2.
Cf. PEREIRA, Dulcídio A. Compêndios. JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 1 de outubro de 1954, p, 5.
A partir da demanda de um leitor sobre as dificuldades de seu filho acompanhar um curso de engenharia em
razão do alto preço dos livros comenta sobre o uso de compêndios, de livros-texto em sala de aula.
470
MENEZES, Fernando Cardoso de. A importação do livro estrangeiro atinge a 150 milhões de cruzeiros por
ano o seu montante. CORREIO PAULISTANO, São Paulo, 1 de agosto de 1954.
175
Até o ano de 1954, ainda segundo Menezes, as 74 firmas importadoras movimentaram a cifra
de 80 milhões de cruzeiros cada uma.
Havia um grande interesse do público brasileiro que atingia naquele momento “a fase
de melhor orientação cultural e não encontrando nas fontes internas o necessário para o seu
consumo, exige o mercado estrangeiro para melhor completar essa orientação [...]”471.
Menezes considerava que os brasileiros faziam isto para cobrir “falhas e buracos” na indústria
editorial e chega a elogiar o interesse do leitor brasileiro que para buscar outros autores
precisa aprender novos idiomas “quase sempre adquiridos através de mil sacrifícios em cursos
noturnos, ou nas folgas do estafante trabalho que a vida de nossos dias impõe a cada um de
nós”472.
No dia 17 de outubro de 1954, a cidade de São Paulo, recebeu o II Congresso de
Editores e Livreiros do Brasil473, organizado pela Câmara Brasileira do Livro (CBL).
Estiveram presentes 75 empresas, dentre livrarias e editoras, incluindo a Livraria LER. Na
ocasião, foram apresentadas 55 teses e analisadas pelas comissões de Relações Públicas e
Direitos Autorais; Produção do Livro; Circulação e Distribuição do Livro; Exportação e
Importação474. Dentro do tema “Importação” foi muito discutido o certame do câmbio e a
imperiosa necessidade desse tipo de livro para o país. O assunto “Exportação” fora incluído
em razão do início de um debate que se estenderia nos anos seguintes sobre a reciprocidade
para envio para Portugal de livros produzidos no Brasil 475. Os editores eram
determinantemente contra a entrada de livros traduzidos em Portugal, pois viam nisto uma
471
MENEZES, op. cit., 1954.
472
MENEZES, Fernando Cardoso de. A importação do livro estrangeiro atinge a 150 milhões de cruzeiros por
ano o seu montante. Correio Paulistano, São Paulo, 1 de agosto de 1954.
473
O I Congresso de Editores e Livreiros do Brasil aconteceu na cidade de São Paulo em 1948. Ele não foi
inserido na discussão desta tese por não ter pontos que nos interessavam de perto. Sobre este congresso ver:
MEDEIROS, Nuno Miguel Ribeiro de. Edição de livros em Portugal e no Brasil: influência e contra-
influência na inversão do poder tipográfico. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 26., 2011. Anais...
ANPUH, São Paulo, Julho de 2011. Disponível em:
http://www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/1312635152_ARQUIVO_EdicaodelivrosemPortugalenoBra
silinfluenciaecontra-influenciatipografica.pdf. Acesso em: 06 maio 2017.
474
ÚLTIMA HORA, Rio de Janeiro, 13 de outubro de 1954. p. 5; IMPRENSA POPULAR, Rio de Janeiro, 13 de
outubro de 1954. p. 3. DIÁRIO DE NOTÍCIAS, São Paulo, 27 de outubro de 1954. p. 1.
Ambos os temas voltariam no III Congresso de Editores e Livreiros do Brasil, em 1956, no Rio de Janeiro. Cf.
CÂMARA BRASILEIRA DO LIVRO. Terceiro Congresso de Editores e Livreiros do Brasil. Rio de
Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, 1956.
475
Em 1955 alguns jornais apresentaram debates sobre o tema. IMPRENSA POPULAR, Rio de Janeiro, 14 de
maio de 1955. p. 4; CORREIO DA MANHÃ, 7 de junho de 1955. p. 9; JORNAL DO BRASIL, 10 de junho
de 1955. p. 5.
176
O cenário descrito por Lima Sobrinho parece ter sido ocasionado pela Instrução
número 113 da SUMOC de 17 de janeiro de 1955480, instituída pelo ministro da Fazenda,
Eugênio Gudin481. Com objetivo de conter o déficit do governo, buscou-se criar condições
"favoráveis à realização de investimento estrangeiro no país, por meio da concessão de
476
Cf. JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 10 de junho de 1955. p. 5.
477
CORREIO PAULISTANO: PENSAMENTO E ARTE. São Paulo, 31 de outubro de 1954, p. 2. Sobre Edgard
Cavalheiro ver: D’ONOFRIO, Silvio Cesar Tamaso. Fontes para uma biografia intelectual de Edgard
Cavalheiro (1911-1958). 2012. Dissertação (Mestrado em Culturas e Identidades Brasileiras) – Instituto de
Estudos Brasileiros, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012. Disponível em:
<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/31/31131/tde-30012013-215356/es.php>. Acesso em: 25 fev.
2018. E também: CAMARA BRASILEIRA DO LIVRO. Galeria de presidentes. Disponível em:
<http://cbl.org.br/a-cbl/a-associacao/presidentes>. Acesso em: 25 fev. 2018.
478
LIMA SOBRINHO, Barbosa. Os ágios e os livros estrangeiros. JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 3 de
abril de 1955, p. 5. Sobre Barbosa Lima Sobrinho: FGV/CPDOC:
<http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/alexandre-jose-barbosa-lima-sobrinho>.
479
LIMA SOBRINHO, op. cit., 1955.
480
BRASIL. Banco Central do Brasil. Instruções SUMOC. Instrução número 113, de 17 de janeiro de 1955.
Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/pre/Historia/Sumoc/Instrucoes/instrucao113.pdf>. Acesso em: 19
jan. 2018. Comentários sobre esta instrução também podem ser encontrados em: HALLEWELL, Laurence. O
livro no Brasil: sua história. 3.ed. São Paulo: EDUSP, 2012.
481
Sobre Eugênio Gudin: FGV/CPDOC:
<http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas2/biografias/eugenio_gudin>.
177
licença, sem cobertura cambial, para a importação de maquinaria para empresas estrangeiras
associadas a empresas nacionais”482. Neste mesmo contexto, a Imprensa Popular afirmou que
o alto preço, devido ao ágio, da importação de livros estrangeiros viria a “facilitar a venda do
livro nacional e permitir à indústria editorial traduzir e publicar, com vantagens, livros
técnicos e científicos estrangeiros e estimular os autores nacionais”483, o que retoma a
discussão do II Congresso de Editores e Livreiros do Brasil. Essa mudança de cenário –
maior possibilidade de competição para o livro nacional – viria sobretudo a partir de 1956.
Voltando ao texto de Lima Sobrinho, ele passará a explicar de que maneira o ágio
atuou sobre os livros estrangeiros e chama gravemente a atenção de Gudin para o fato de que
o livro não pode ser tratado como um produto qualquer. Aqueles que importam livros o fazem
porque precisam, porque lhes é vital. Por essa razão, o dólar diferenciado para essa compra
não poderia deixar de acontecer. Sobrinho comenta ainda que a proporção de livros que
poderiam ser traduzidos era muito menor em relação aos lançamentos, ou seja, não era
possível dificultar a chegada desses livros no país. Além das dificuldades para tradução, Lima
Sobrinho também lembra o exorbitante preço do papel. Por estas razões, segundo ele
Temos, pois que contar com o livro divulgado em idioma estrangeiro. E é contra
esse produto que se encarniça a política dos ágios do Sr. Gudin. Os 7 cruzeiros do
Sr. Osvaldo Aranha já passaram, no governo atual, a 35 cruzeiros, o que representa
um ágio de 15 cruzeiros. Sabe-se que o Sr. Gudin achou pouco. O novo ágio será,
agora, de 25 cruzeiros, o que vale dizer que se triplicou o ágio do Sr. Aranha. Isso
deve fazer parte de uma política de proibição do livro estrangeiro. Pode haver
intenção diferente, mas o resultado não será outro484.
482
D’ARAÚJO, Maria Celina. Política Cambial e indústria. E ele voltou... o Brasil no segundo governo
Vargas. FGV/CPDOC. http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas2/. E especificamente sobre a
Instrução 113: CAPUTO, Ana Cláudia; MELO, Hildete Pereira de. A industrialização brasileira nos anos
1950: uma análise da Instrução 113 da SUMOC. Estud. Econ., São Paulo, v. 39, n. 3, p. 513-538, set. 2009.
483
IMPRENSA POPULAR, Rio de Janeiro, 14 de maio de 1955, p. 4. Nesta mesma edição do periódico há uma
discussão sobre um acordo ortográfico firmado entre Brasil e Portugal que editores julgavam que agravaria
ainda mais a crise entre os mercados editoriais de ambos os países, pois acreditavam que o governo brasileiro
estava tendendo a colaborar com o governo português em detrimento dos interesses nacionais.
484
LIMA SOBRINHO, Barbosa. Os ágios e os livros estrangeiros. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 3 de abril de
1955. p. 5.
485
Idem.
178
segundo ele – teriam “sempre a possibilidade de estabelecer percentagens sobre o preço dos
livros vendidos”486. Já os intelectuais e estudantes não teriam a quem recorrer.
O artigo de Lima Sobrinho virou uma espécie de manifesto entre alguns editores e
intelectuais, tendo sido, inclusive, reproduzido em outros jornais. Dias depois, o Jornal do
Brasil falava em “Guerra declarada à importação de livros estrangeiros”. O jornal buscou a
palavra do um representante da Confederação Nacional do Comércio, Antônio Osmar
Gomes487 que, além de endossar as palavras de Lima Sobrinho, acusou o governo do que
chamou de discriminação cambial e disse que o país estava se fechando à entrada de cultura
estrangeira. Em tom enfático e bastante alarmista Osmar Gomes afirmou que poucos
interessados poderiam arcar com o aumento que o livro importando vinha sofrendo. Assim,
afirmará que “os milionários não costumam interessar-se pela leitura [...]. E quando adquirem
livros mais caros, é sob medida, em luxuosas encadernações [...]”488. Portanto, os mais
afetados seriam os membros da classe média. Gomes ainda chamou atenção para o fato de que
os livreiros poderiam parar de ter interesse de importar livros caros, afinal eram homens de
negócios também.
Na mesma ocasião, porém, Henrique Pongetti, na sua coluna “O show da cidade”
vinculada no jornal O Globo manifestou sua opinião afirmando que o governo parecia estar
francamente lutando contra o livro nacional. Ele afirmava que “uma das mais rendosas e
despoliciadas fraudes de cambio é feita por alguns importadores de livros estrangeiros”.
Recomendava que “bastaria para desmascara-las, que bibliófilos idoneos nomeados pelo
ministro da Fazenda confrontassem o preço das obras faturado no estrangeiro com o preço
real das mesmas”. E continua recomendando que “contassem os livros que entram,
confrontando-lhes a soma com a dos que o livreiro diz haver importado...”. E ainda sugere
que
um modesto bibliotecário explicaria ao Sr. Eugênio Gudin e aos nossos editores
como se zomba de uma concessão aparentemente destinada a garantir o afluxo de
cultura, e na realidade usada por certos livreiros para amontoar divisas no exterior e
para estrangular o livro brasileiro489.
486
Idem.
487
JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 13 de abril de 1954. p. 6; CORREIO DA MANHÃ, 14 de abril de
1955. p. 7.
488
JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 13 de abril de 1954. p. 6.
489
PONGETTI, Henrique. Contra do livro nacional. O GLOBO, Rio de Janeiro, 22 de dezembro de 1954, p. 3.
Acompanhamos a coluna de forma retroativa até março daquele ano e também adiante até abril de 1955 e
não localizamos outros comentários sobre o assunto.
179
490
CORREIO DA MANHÃ, 7 de junho de 1955, p. 9. Não foi nosso interesse acompanhar este assunto nos
jornais, pois a quantidade de notícias é imensa, o que demandaria um aprofundamento que nos deixaria
distantes do nosso foco. A intenção aqui foi apenas trazer alguns exemplos. Confere também: A IMPRENSA
POPULAR de 28 de junho de 1955 também que ocupou do pleito: “Mais uma vez volta-se diretamente contra
os interesses da cultura nacional o governo do sr. Café Filho. Desta vez o golpe é desferido através da
pretendida modificação da redação do inciso n. 7 da lei 2.145, de 29 de dezembro de 1953, tornando extensiva
às traduções feitas e publicadas em Portugal as facilidades de importação para o mercado brasileiro: livre de
licença de importação e taxas alfandegárias. O sr. Café Filho na mensagem presidencial sobre o assunto
enviada ao Congresso Nacional (tomou o número 197-55) invoca, em defesa da medida pleiteada, o critério de
reciprocidade”.
491
HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. 2. ed. São Paulo: EDUSP, 2005, p. 523.
180
Com esse pensamento, Hallewell comenta uma conjuntura que igualmente estava no
bojo daquele contexto que era o custo das atividades de tradução no país e a inclusão de
Portugal neste circuito, o que suscitará discussões e fortes disputas entre o mercado editorial
brasileiro e português. Naturalmente que tal cenário não agradava em nada os editores
brasileiros. Todavia, essa situação atingia muito os editores, posto que a importação de livros,
não obstante o aumento cambial parece que estava mais viável que a produção no país. No
entanto, o cenário mudará, mesmo que por pouco tempo, como veremos adiante, com ações
do Estado para garantir taxas cambiais menores.
Naquele momento, houve ações diretas do poder público “por meio dos investimentos
diretos do Estado ou de empresas estatais e, de maneira menos ostensiva pelo capital
internacional”492. O campo editorial que passava por uma organização e firmação493,
igualmente buscou sua posição dentro deste contexto. Havia um grupo de editores e livreiros
contrários à entrada do livro estrangeiro, mas existiam outros que exigiram do governo federal
melhores taxas de importação a fim de manter seus negócios e atender uma parcela do público
que só crescia, ou seja, os alunos dos cursos superiores.
Dentro deste assunto, por ocasião do III Congresso de Editores e Livreiros do Brasil, o
jornal a Última Hora publicou um editorial no qual expressava a desaprovação com a
importação de livros portugueses e evocava a legislação brasileira sobre a ortografia para
buscar justificar o seu ponto de vista:
Também foi tese importante no recente Congresso de Editores e Livreiros do Brasil,
aquela que se refere à importação de livros escritos em ortografia diferente da
adotada oficialmente no Brasil. Dado que é adotada no país a ortografia do acordo
ortográfico de 1943, que a imprensa, os órgãos oficiais, as leis e decretos, os livros e
dicionários brasileiros são impressos em tal ortografia, e que ainda mais um decreto
de 1945 proíbe o uso, nas escolas do país, dos livros que não adotem a ortografia
oficial, é estranho, senão absurdo, a importação de obras não escritas na ortografia
oficial, pois que contribuiu para a confusão no aprendizado da língua, gerando, por
outro lado, controvérsias, muitas vezes no seio da família e das escolas, havendo até
casos em que alunos foram reprovados por terem, em exame de português, em que a
literatura é matéria obrigatória, gravado palavras de acordo com os livros que leram,
mas em flagrante contradição com o preceituário ortográfico. Ora, está claro que os
livros escritos em ortografia não oficial são aqueles importados de Portugal, e que
ninguém sabe por que cargas d’água muitos são de caráter didático. Portanto, o que
recomenda a tese aprovada pelo Congresso de Editores e Livreiros é mais do que
justo. Pleiteia, imediatamente entre as condições necessárias para que os livros
escritos em português possam ser importados, a de que estejam escritos na ortografia
oficial do Brasil. Porque, da mesma maneira que os editores portugueses conseguem
492
CAPUTO, Ana Cláudia; MELO, Hildete Pereira de. A industrialização brasileira nos anos 1950: uma análise
da Instrução 113 da SUMOC. Estud. Econ., São Paulo, v. 39, n. 3, p. 513-538, set. 2009.
493
SORÁ, Gustavo Alejandro. Brasilianas: a Casa José Olympio e a instituição do livro nacional. 1998. Tese
(Doutorado em Antropologia Social) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1998.
181
O jornal quinzenal Para Todos, dirigido por Jorge Amado, fez uma vasta reportagem
sobre o Congresso. Ganhou destaque, porém, a resposta irônica de José Olympio sobre a
importação de livros traduzidos em Portugal, o que considera quase um atentado contra a
cultura nacional:
Estou certo de que nem Jesus Cristo – que em várias ocasiões me tem feito aceitar e
compreender muitas coisas – seria capaz de me convencer de que a importação de
livros estrangeiros traduzidos em Portugal não representa prejuízo, sob todos os
aspectos, para os nossos escritores, tradutores, impressores, editores, distribuidores,
e para a cultura nacional!495
Alguns meses antes, porém, por ocasião da divulgação prévia do programa do III
Congresso de Editores e Livreiros do Brasil, Ernesto Zahar foi ouvido e expressou uma
opinião muito crítica ao Diário de Notícias:
494
ÚLTIMA HORA, Rio de Janeiro, 24 de novembro de 1956. p. 1.
495
PARA TODOS: quinzenário da cultura brasileira, ano 1, n. 12, Rio de Janeiro, 1° quinzena de novembro de
1956. p. 1.
496
DIÁRIO DE NOTÍCIAS, Rio de Janeiro, 4 de novembro de 1956. p. 4.
497
Idem.
182
498
Obviamente não estamos afirmando que essas relações com o livro surgiram nos anos 1950, mas é parte de
um recorte que elegemos para cotejar amostras de discurso. Dentro do contexto dos anos 1930, vale
recordar a “[...] conferência proferida pelo escritor e advogado Levi Carneiro, membro da Academia
Brasileira de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Nela, um interessante debate é
suscitado, permitindo uma melhor compreensão da equação leitura/cultura/civilização, e dando a medida
das controvérsias e engajamentos em torno desse tripé, do qual não ficaram ausentes as relações do livro com
rádio e o cinema”.
DUTRA, Eliana de Freitas. Cultura. In: GOMES, Ângela de (Coord.). Olhando para dentro: 1930-1964. Rio
de Janeiro: Objetiva, 2013, p. 232. (História do Brasil Nação: 1808-2010, v. 4). No mesmo artigo, Eliana
Dutra afirmou que: no contexto entre 1940 e 1950 “[...] o livro. Reconhecido como instrumento fundamental
da cultura, seu destino se identificaria com o a da civilização brasileira, como índice, produto e objeto de
cultura”. Sugere-se também a análise feita por: BENEVIDES, Maria Victória de Mesquita. O governo de
Kubitschek: desenvolvimento econômico e estabilidade política. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976. Ver
também: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Centro de Pesquisa e Documentação de História
Contemporânea do Brasil. O Governo de Juscelino Kubitschek. Disponível em:
<http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/JK/artigos>.
499
CÂMARA BRASILEIRA DO LIVRO. Terceiro Congresso de Editores e Livreiros do Brasil. Rio de Janeiro:
Ministério da Educação e Cultura, 1956. p. 45.
500
CÂMARA BRASILEIRA DO LIVRO. Terceiro Congresso de Editores e Livreiros do Brasil. Rio de Janeiro:
Ministério da Educação e Cultura, 1956, p. 47. Ver também os comentários em: BRAGANÇA, Aníbal. As
políticas públicas para o livro e a leitura no Brasil: O Instituto Nacional do Livro (1937-1967). Matrizes, São
Paulo, v. 2, n. 2, p. 221-246, 1. sem. 2009.
183
Fonte: O OBSERVADOR ECONÔMICO, Rio de Janeiro, ano XXI, n. 251, janeiro de 1957, p. 14.
Acervo: Hemeroteca Digital. FBN
501
O tema “livros estrangeiros” ou “importação de livros” não havia figurado na pauta dos dois primeiros
congressos. O I Congresso de Editores e Livreiros do Brasil, organizado pela Câmara Brasileira do Livro,
aconteceu em São Paulo, nos dias 22 e 26 de novembro de 1948, e o II Congresso de Editores e Livreiros do
Brasil, também em São Paulo, em outubro de 1954. Alguns autores comentam que naquele momento houve
aumento da participação do governo nos investimentos, o que acreditamos em poder justificar o clamor do
setor editorial. Cf. CARONE, Edgard. O centro industrial do Rio de Janeiro e sua importante participação na
economia nacional (1827-1977). Rio de Janeiro: Cátedra, 1978. JAGUARIBE, Hélio. Desenvolvimentismo
econômico e desenvolvimentismo político: uma abordagem teórica e um estudo do caso brasileiro. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1969. Cf. CÂMARA BRASILEIRA DO LIVRO. Terceiro Congresso de Editores e
Livreiros do Brasil. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, 1956. Consultamos este exemplar na
Fundação Biblioteca Nacional.
502
DIÁRIO DE NOTÍCIAS, Rio de Janeiro, 2 de novembro 1956, p. 3; IMPRENSA POPULAR, Rio de Janeiro,
7 de novembro de 1956; O GLOBO, Rio de Janeiro, 08 de novembro de 1956, p. 12.
184
503
CORREIO DA MANHÃ, Rio de Janeiro, 9 de novembro de 1956, p. 2.
504
Outra pauta importante foi a reciprocidade com os livreiros e editores portugueses. (A NOITE, Rio de
Janeiro, 10 de novembro de 1956, p. 5). Essa discussão começou pelo menos um ano antes. Ver: IMPRENSA
POPULAR, Rio de Janeiro, 14 de maio de 1955, p. 4; CORREIO DA MANHÃ, Rio de Janeiro, 7 de junho de
1955, p. 9; JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 10 de junho de 1955, p. 5; IMPRENSA POPULAR, 28 de
junho de 1955, p. 4.
185
505
A NOITE, Rio de Janeiro, 23 de outubro de 1956, p. 2. No caso de importação dos livros portugueses a
questão era outra e mais séria, pois pleiteavam a proibição.
506
Há uma discussão que relaciona também a literatura e os livros didáticos em: GOMES FILHO, Luiz Peixoto;
MEDEIROS, Amaury S. A reforma cambial não pode prejudicar o mercado editorial: entrevista concedida por
Luiz Peixoto (Editora Brand) e Amaury S. Medeiros. JORNAL DO BRASIL, Domingo, 4, e Segunda-feira, 5
de agosto de 1957. (Suplemento Dominical).
507
“Com efeito, o que se passa com os nossos dois casos, o luso e o brasileiro, é que a ‘produção’ nacional não
pode satisfazer as necessidades culturais do país. Não é por falta de patriotismo que as nossas bibliotecas estão
cheias de livros estrangeiros, mas porque sem eles a nossa cultura estaria parada, porque, sem eles, o nosso
espírito não teria o alimento de que precisa.”. MONTEIRO, Adolfo Casais. Cultura e Espírito Nacional. Jornal
do Brasil, Suplemento Dominical, 8 de dezembro de 1957. p. 6.
508
ÚLTIMA HORA, Rio de Janeiro, 22 de novembro de 1956. Capa.
186
A fala510 de Jorge Zahar que abre este subcapítulo é a expressão do cenário no qual a
editora foi criada – os anos Juscelino Kubitschek que, se comparados aos meses que se
seguiriam ao suicídio de Getúlio Vargas, podiam ser considerados de estabilidade política,
como destacou Maria Victoria de Mesquita Benevides no texto que abriu este capítulo511. Para
Thomas Skidmore512 foi o tempo da confiança no qual o “Brasil registrou notável crescimento
econômico real. A base desse crescimento foi uma extraordinária ampliação da produção
industrial”513. Camargo lembra que o governo de JK “não realizou uma transformação
significativa na administração federal da cultura”, mas procurou manter “a estrutura existente,
que foi acrescida de mecanismos mais ágeis, como as campanhas, e abriu espaço para as
discussões de caráter industrial, notadamente em relação ao livro e ao cinema”514.
Ora, a segunda metade da década de 1950 foi marcada pelo avanço no processo de
industrialização, o que para Lucia Lippi estava no cerne da instauração no Brasil de um
processo de modernização após a Segunda Guerra Mundial515. Nesse cenário, de 1950 a 1960
a indústria gráfica cresceu cerca de 143,3 %, configurando “a quinta maior taxa de
crescimento entre as indústrias do país”516. Porém, cabe destacar que esse crescimento era na
509
PIRES, Jerusa (Org.). Jorge Zahar. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo/Com-Arte, 2001.
p. 33. v. 5 (Editando o editor).
510
Com o todo o cuidado que uma análise assim merece para não caminharmos para uma visão teleológica.
511
Confere: BENEVIDES, Maria Victoria de Mesquita. O governo Kubitschek: desenvolvimento econômico e
estabilidade política. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976, p. 22-23. Ver também: FAUSTO, Boris. História do
Brasil. Colaboração de Sérgio Fausto. 14. ed. ampl. e atual. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo,
2013.
512
SKIDMORE, Thomas E. Brasil: de Getúlio a Castello (1930-1964). Tradução de Berilo Vargas. São Paulo:
Companhia das Letras, 2010.
513
SKIDMORE, op. cit., p. 203.
514
CAMARGO, op. cit., p. 158.
515
OLIVEIRA, Lucia Lippi. A redescoberta do Brasil nos anos 50: entre o projeto político e o rigor acadêmico.
In: MADEIRA, Angélico; VELOSO, Mariza (Org.). Descobertas do Brasil. Brasília: UnB, 2001. p. 139-161.
516
HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. 2. ed. São Paulo: EDUSP, 2005. p. 532.
187
517
Cf. FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Centro de Estudos e Treinamento em Recursos Humanos. Produção
de livros no Brasil. Rio de Janeiro: FGV, 1971. (Pesquisa realizada mediante convênio entre MEC/GEIL,
BNDE e FGV)
518
HALLEWELL, op. cit., p. 532.
519
LABANCA, Gabriel. Relações e Edições de Ouro: a Tecnoprint na expansão do mercado editorial brasileiro
durante os primeiros anos da Ditadura Militar. Em Tempo de Histórias – Publicação do Programa de Pós-
Graduação em História da Universidade de Brasília – PPG-HIS, Brasília, n. 14, p. 126, jan./jun. 2009 (b).
Disponível em: <http://periodicos.unb.br/index.php/emtempos/article/view/2730>. Acesso: 05 jan. 2017.
520
LABANCA, Gabriel Costa. Dos anos dourados às Edições de Ouro: a Tecnoprint e o livro de bolso no Brasil
(1939-1970). 2009. Dissertação (Mestrado em História Política) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, 2009 (a). p. 130.
521
LABANCA, op. cit., 2009 (a).
522
HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. 3. ed. São Paulo: EDUSP, 2012. p. 586.
523
Idem.
188
Conjuntamente com a redução dos preços do papel, o cenário ficou mais favorável à
publicação de traduções brasileiras e seu valor de venda “mais competitivos com os originais
importados. Em dois anos, as traduções brasileiras já eram vendidas por um terço do preço da
venda, no Brasil, de um livro americano [...]”524. Para André Carlos Furtado os avanços na
produção do livro no governo do Juscelino Kubitschek “se deram mais em virtude de uma
legislação favorável economicamente, devido às rigorosas taxas lançadas sobre a importação
de livros”525.
Entre 1958 e 1959526 o debate sobre a importação de livros ficou ainda mais intenso,
acima de tudo porque houve uma mudança brusca no status quo do dólar-livro527, um tipo de
taxa de câmbio especial para importação de livros528. Acompanhamos alguns jornais do Rio
de Janeiro e São Paulo para este período e verificamos que embora o assunto venha, pelo
menos, deste a década de 1940, em 58 a questão foi se acirrando, o que talvez possa ser
compreendido porque o SNEL e a CBL estavam cada vez mais fortes como órgãos de classe e
representação. As vozes mais presentes, porém, eram dos livreiros que frequentemente
anunciavam que diminuiriam ou suspenderiam a importação de livros estrangeiros 529 e
buscavam mobilizar intelectuais para a causa530, pressionando o governo.
524
Idem.
525
FURTADO, André Carlos. As edições do cânone: da fase buarqueana na coleção História Geral da
Civilização Brasileira (1960-1972). Niterói, RJ: EdUFF, 2016. p. 123.
526
Cf. CORREIO DA MANHÃ, Rio de Janeiro, 8 de fevereiro, p. 4, 24 de fevereiro, p. 16, 19 de agosto, p. 3, 20
de agosto, p. 4, 24 de setembro, p. 5, 6 de dezembro, p. 3, 12 de dezembro, p. 15. GALÚCIO, Andréa Lemos
Xavier. Civilização Brasileira e Brasiliense: trajetórias editoriais, empresários e militância política. 2009. 316
f. Tese (Doutorado em História Social) – Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ, 2009 comentou que
esses assuntos foram muito frequentes nas reuniões do SNEL entre 1954/1960, sob as presidências de Ênio
Silveira e Cândido Guinle de Paula Machado.
527
“O livro importado tinha câmbio especial, o dólar-livro cotado a 25 cruzeiros em 1946, enquanto o dólar
oficial custava vinte cruzeiros. Os livreiros ganhavam também com a manipulação cambial.”
KOSHIAYAMA, Alice Mitika. Monteiro Lobato: intelectual, empresário e editor. São Paulo: Edusp: Com-
Arte, 2006. p. 201. (Coleção Memória Editorial, 4)
528
HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. 3. ed. São Paulo: EDUSP, 2012. p. 533.
529
Cf. CORREIO DA MANHÃ, Rio de Janeiro, 12 de outubro de 1958, p. 6. Nesta matéria consta uma
declaração de Jorge Zahar, como um dos sócios da Livraria LER. Ele disse que: “Se continuar essa tarifa alta,
seremos compelidos a não mais importar. Se apesar dos preços elevados um pequeno grupo de fregueses
quiser adquirir determinados livros (como ocorre com os científicos) mandarei vir do exterior somente a
quantidade necessária para atendê-los”.
530
Cf. ÚLTIMA HORA, Rio de Janeiro, 20 de outubro de 1958, p. 5. Ênio Silveira declarou que: “Pretendemos
entrevistar-nos, coletivamente, com o Presidente da República em conjunto com representantes da UNE, da
Academia Brasileira de Letras, da Associação Brasileira de Escritores, a fim de expor, de viva voz, a situação
aflitiva do comércio do livro no País e alertando sobre as consequências diretas da mesma sobre a nossa
cultura. Esta visita será seguida de um movimento de opinião pública com a finalidade de chamar a atenção
189
A bem da verdade, o SNEL também foi muito dinâmico em ações para pressionar o
governo contra as medidas que estavam desfavorecendo o setor editorial 531. No entanto, há
que se questionar sobre possíveis tensões dentro do próprio sindicato, pois algumas medidas
dificultavam ou, pelo menos, tiravam alguns privilégios de livreiros importadores. Vale
lembrar que existiam editores que também eram livreiros dentro do sindicato e possivelmente
ficavam numa dicotomia de interesses.
O argumento mais forte dos editores, desde o III Congresso de Editores e Livreiros do
Brasil, era que sem livro não haveria progresso, pois ele era peça fundamental na formação de
indivíduos que passariam a colaborar com o crescimento do país. Sem o livro impresso no
país, não haveria meios de atender ao Programa de Metas, por exemplo.
Em julho de 1956 o periódico A Noite, seguindo uma série de reportagens sobre as
livrarias cariocas e seu mercado, procurou Jorge Zahar na livraria LER para saber sua opinião
a respeito do preço do livro importando. Na ocasião da entrevista, o então ministro José Maria
Alkmin estava presente no estabelecimento e, ao ser abordado sobre o assunto, declarou que
“inúmeras obras importadas, de pura recreação, não podem ser consideradas como de
primeira necessidade”. Jorge argumentou dizendo que “um livro sobre artes plásticas, poderia
ser obra de recreação para ambos, mas seria um livro técnico, de primeira necessidade, para
Portinari ou Santa Rosa”532.
Contudo, o mais importante dessa reportagem não foi o debate entre Zahar e Alkmin,
mas sim o que se configura – até o momento – como a primeira notícia sobre os planos de
Jorge para a criação da editora. No texto, ele comenta que a editora se dedicaria a publicar em
“grandes coleções de obras contemporâneas de ciências sociais, história e econômicas”. Por
sua fala, acreditamos que o planejamento para a criação da editora deveria ser antigo.
Alguns jornais, como A Semana533, por exemplo, ficaram surpresos com o
aparecimento de uma editora dentro de um contexto supostamente inviável para um negócio
desta natureza. O cenário econômico, como apresentamos, vinha se tornando complexo deste
dos meios intelectuais da necessidade de facilitar o comércio do livro”. Ver também a mobilização do
Grêmio dos Livreiros de Minas Gerais em O Globo, Rio de Janeiro, 26 de dezembro de 1958, p. 12.
531
GALÚCIO, Andréa Lemos Xavier. Civilização Brasileira e Brasiliense: trajetórias editoriais, empresários e
militância política. 2009. 316 f. Tese (Doutorado em História Social) – Universidade Federal Fluminense,
Niterói, RJ, 2009. Cabe mencionar novamente que a pesquisadora gozou de uma oportunidade que não
tivemos, ou seja, acesso às Atas do SNEL. Não obstante inúmeros e-mails não tivemos resposta para uso do
arquivo, mesmo com o apoio da família Zahar.
532
A NOITE, Rio de Janeiro, 2 de julho de 1956, p. 8.
533
A SEMANA, Rio de Janeiro, 20 a 26 de junho de 1959, p. 20.
190
o início dos anos 1950, ainda com Getúlio Vargas, e se intensifica com Juscelino
Kubschitek534, porque mesmo com algumas medidas que buscaram favorecer o setor de
produção do livro, certamente os seus efeitos não foram imediatos.
Há que lembrarmos que os Zahar não eram novos no ramo do livro, que há pelo menos
vinte anos acompanhavam as demandas para traduções de livros técnicos que pudessem ser
usados nos cursos superiores e, a partir de suas participações em movimentos associativos e
nos congressos de editores e livreiros, certamente devem ter notado a necessidade de
diversificação dos negócios frente a um impulso que as traduções teriam no país. Para o livro,
é considerado um novo momento na política editorial. Se para a importação de livros, como
vimos, o contexto trouxe alguns entraves, para a produção houve “aumento de concessão de
licenças para a importação de equipamento gráfico; isenção de impostos para indústria
editorial, exceto o Imposto de Renda; e subsídio para papel importado”535.
Além de relatos orais, memórias, não foram localizados documentos que confirmem
que a editora passou a existir juridicamente a partir de 1956, mas dois indícios apontam para
essa direção. O primeiro é a notícia d’A Noite que tratamos anteriormente. O segundo, consta
no Livro de Registro de Publicações da Zahar Editores, conforme já explicamos. Neste livro,
ele listava ano a ano tudo que publicava de novidades e reedições. Para o ano de 1966 ele
colocou a observação indicando “Ano X” (Figura 44).
Acreditamos também que a Zahar Editores tenha surgido como um braço da LER,
visto que naquele momento só consta apenas um CNPJ e este consta com o nome da livraria.
534
Cf. FAUSTO, Boris. História do Brasil. Colaboração de Sérgio Fausto. 14. ed. ampl. e atual. São Paulo:
Edusp, 2013. VENANCIO, Giselle Martins. Brasiliana segunda fase: percurso editorial de uma coleção que
sintetiza o Brasil (1956-1993). In: DUTRA, Eliana de Freitas (Org.). O Brasil em dois tempos: história,
pensamento social e tempo presente. Belo Horizonte: Autêntica, 2013. p. 109-126. Ver também: ABREU,
Marcelo de Paiva. O processo econômico. In: GOMES, Ângela de (Coord.). Olhando para dentro: 1930-
1964. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013. p. 179-227. (História do Brasil Nação: 1808-2010, v. 4). Para Abreu “o
divisor de águas do período entre 1943 e 1964 é o ano de 1956, durante o qual a economia praticamente
estagnou. Em seguida, houve o grande boom do governo Kubitschek, revertido na recessão do pós-1962, que
acabou por culminar no golpe militar de 1964”, p. 200.
535
GALUCIO, Andréa Lemos Xavier. Ênio Silveira: o empresário militante. In: LIVROS vermelhos: literatura,
trabalhadores e militância no Brasil. Rio de Janeiro: Bom Texto; FAPERJ, 2010. p. 234.
191
Começava, então, a história de uma das mais importantes editoras de Ciências Sociais
do país, uma editora que “inundou” as universidades com livros. Todavia, Jorge, por ter sido
praticamente um autodidata, sabia do valor da educação536, assim se dedicaram também a
edição de livros de divulgação científica. O nome escolhido, “Zahar Editores” remetia a ideia
de que “Os Zahar”, os livreiros de longa data, dali em diante também atuariam na edição. Para
Gustavo Sorá essas escolhas podem ser compreendidas assim:
Civilização Brasileira, José Olympio, Brasiliense, Martins, Paz e Terra, Jorge
Zahar carregam nos nomes a nação ou o editor carismático, histórias de
compromissos e projetos de intervenção nos destinos do Brasil. Em quase todos
estes casos, seus catálogos materializaram uma grande quantidade de traduções
“pioneiras” de autores não traduzidos no Brasil e de outras descobertas, muitas
vezes vividas pelo editor como revelações tidas pessoalmente em viagens ao
exterior537.
536
Cristina Zahar em depoimento no dia 6 de agosto de 2015, na sede da Jorge Zahar Editores,comenta que o pai
tinha essa preocupação. O que naturalmente é facilmente comprovado pelas coleções e títulos voltados para
divulgação científica, e também voltados para iniciantes, como os “Textos Básicos” e “Bibliotecas Básicas”.
537
SORÁ, Gustavo. Tempo e distâncias na produção editorial de literatura. Mana, Rio de Janeiro, v. 3, n. 2, p.
172, 1997. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/mana/v3n2/2443.pdf>. (grifos nossos).
538
RUMNEY, Jay. Manual de sociologia. Tradução Octávio Alves Velho. Introdução Djacir Menezes. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1957. (Biblioteca de Ciências Sociais). Outros dados: Impresso pela Edipe Artes
Gráficas. Título original: Sociology: the science of Society e traduzido da edição publicada em 1953 por
Henry Schuman Inc., Nova York, e na Inglaterra por Gerald Duckworth & Co. Ltd., Londres.
539
Ver: CORREIO DA MANHÃ, Rio de Janeiro, 7 de julho de 1957, p. 1; O GLOBO, Rio de Janeiro, 8 de julho
de 1957; ESTADO DE SÃO PAULO, São Paulo, 28 set. 1957, p. 40.
192
e sociólogo Octavio Alves Velho (Figuras 45 e 46)540. A introdução contou com as palavras
do professor Djacir Menezes que destacou que tinha “razões para supor que a iniciativa de
Zahar Editores [seria] recebida com entusiasmo e louvor, não somente pelos estudiosos de
Sociologia, bem como por todos os que desejam compreender melhor [...].”541 O texto de
Djacir é datado de 1 de março de 1957, o que nos confere um parâmetro para pensar que as
atividades na editora já estavam em andamento pelo menos desde o final do primeiro semestre
de 1956, posto que adquirir direitos de tradução, traduzir, produzir livro não são etapas
simples.
540
No próximo Capítulo, dentro do conjunto das demais publicações, trataremos dos aspectos editoriais.
Tivemos o prazer e grata alegria de presentear a filha de Jorge Zahar, Ana Cristina Zahar com um exemplar
desta primeira edição, pois não possuíam no acervo da editora. Os elementos gráficos da edição foram usados
na capa da excelente publicação recente de Paulo Roberto Pires, já citado aqui. Além deste livro oferecemos
também um exemplar do História da Riqueza do Homem, de Leo Hubermam, também em primeira edição e
ausente na coleção da editora.
541
MENEZES, Djacir. Introdução. In: RUMNEY, Jay; MAIER, Joseph. Manual de Sociologia. Tradução de
Octávio Alves Velho. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1957, p. 3.
193
Para Sergio Miceli, a partir de 1957 Zahar Editores passaria a constituir uma
“bibliografia de ponta no campo das Ciências Sociais”542. Fato é que não só o de Rummey e
Meier, mas o início da editora repercutiu muito. Os periódicos daquele mês deram bastante
espaço para divulgação do novo empreendimento, destacando a seriedade de proposta a partir
da experiência que já possuíam como livreiros, bem como a importante contribuição que as
traduções trariam para o público acadêmico. Como escreveu O Estado de São Paulo sobre o
lançamento do Manual:
A falta de bons textos didáticos constitui uma das maiores dificuldades com que se
defrontam os professores de ciências sociais no Brasil. Por isso, é sempre oportuna e
causa interesse a tradução e a edição, em português, de livros que podem ser
utilizados em cursos de iniciação científicas dessas matérias, pois elas sempre
concorrem para criar ou para aumentar os hábitos de leitura dos principiantes543.
542
MICELI, Sérgio. Jorge Zahar, editor pioneiro. In: ZAHAR, Jorge; FERREIRA, Jerusa Pires. Editando o
editor: Jorge
comentou a iniciativa de Augusto Frederico Schmidt546 que voltaria ao mercado editorial com
um projeto inicial de reunir um grupo de tradutores. A reportagem também exortou para as
necessidades de traduções por causa da ampliação do mercado oriundas da criação das
Faculdades de Filosofia, chegando a dizer que textos precisavam ser traduzidos com
“urgência urgentíssima”. Para isto, o então Serviço de Documentação do Ministério da
Educação e Cultura se declarava empenhado na campanha com uma proposta de criar um
convênio com as universidades públicas.
No dia seguinte, 28 de julho de 1957, foi anunciado que a publicação em língua
portuguesa do Manual de Sociologia como a “primeira vitória do Suplemento Dominical do
Jornal do Brasil”. Dizia o periódico que na edição anterior haviam “sintetizado nas palavras
traduzir e reeditar os objetivos de uma campanha547” que pretendia “sensibilizar o
movimento editorial brasileiro”. Declaravam que tinham louvado “os planos do poeta
Augusto Frederico Schmidt, e temos agora que aplaudir os dos irmãos Zahar, empenhados
também no lançamento de obras capitais do pensamento moderno [...]”548. Na sequência do
texto era sugerido um movimento mais amplo para as traduções no país, para isto
recomendava-se um convênio entre ao MEC e das universidades.
Por ocasião da abertura da sessão legislativa de 1958, o presidente Juscelino
Kubschitek dirigiu uma mensagem ao Congresso Nacional e fez diretas referências ao papel
do editores e livreiros nos processos culturais do país, exaltando-lhes as atividades e
prometendo o estímulo governamental ao trabalho que desenvolviam:
Apesar do recente desenvolvimento de novos processos de difusão cultural – o
rádio, a televisão e o cinema, dotados de enorme capacidade de penetração – o livro
continua a ser o veículo básico de transmissão de conhecimento. Através de livros e
periódicos é que se criam, perpetuam e difundem todas as formas de saber, desde as
de conteúdo mais erudito e requintado, até as mais instrumentais, ligadas à difusão
das técnicas. A produção de livros e periódicos, em quantidade que a população
possa absorver, e com a diversificação que reclamam o desenvolvimento equilibrado
da cultura nacional, é matéria relevante que exige dos Poderes Públicos a mais
zelosa assistência e estímulo.
O crescimento da indústria editorial brasileira, nos últimos anos, é um dos índices
mais expressivos do nosso avanço cultural. Tal incremento se deve, essencialmente,
à iniciativa privada que se revelou capaz de prover o país de algumas casas editoras
cuja produção de livros e folhetos já se conta por milhões.
O estímulo governamental a esta atividade se vem fazendo principalmente através de
medidas destinadas a reduzir o preço do papel, e, desse modo, baixar o custo da
produção livreira. O desenvolvimento a que o País aspira está a exigir nesse campo,
ação mais enérgica, que não confie apenas na capacidade de crescimento
espontâneo, da indústria livreira, mas venha provê-la dos meios de que carece para
546
Sobre a atuação de Augusto Frederico Schmidt ver: HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história.
3. ed. São Paulo: EDUSP, 2012.
547
Acompanhamos as notícias no Jornal do Brasil e não encontramos mais traços dessa campanha.
548
JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 28 de julho de 1957, Suplemento dominical, p. 7.
195
549
KUBITSCHEK, Juscelino. Mensagem ao Congresso Nacional remetida pelo presidente da República por
ocasião da abertura da sessão legislativa de 1958. In: Boletim Bibliográfico Brasileiro, v. 6, n. 2, março de
1958, p. 134. Também é possível consultar o discurso em: CENTER FOR RESEARCH LIBRARIES.
Global Resorces Network. Brazilian Government Documents. Presidential Messages. Disponível em:
<http://www-apps.crl.edu/brazil/presidential>. Acesso em: 26 jan. 2018.
550
Cf. BOLETIM BIBLIOGRÁFICO BRASILEIRO, v. 6, n. 2, março de 1958, p. 134. GALÚCIO, op. cit.
551
GALUCIO, op. cit., 2009.
552
CÂMARA BRASILEIRA DO LIVRO. Terceiro Congresso de Editores e Livreiros do Brasil. Rio de Janeiro:
Ministério da Educação e Cultura, 1956.
553
BRASIL. Banco Central do Brasil. Instruções SUMOC. Instrução número 160, de 4 de outubro de 1958.
Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/pre/Historia/Sumoc/Instrucoes/instrucao166.pdf>. Acesso em: 19
jan. 2018.
554
BRASIL. Banco Central do Brasil. Instruções SUMOC. Instrução número 167, de 4 de outubro de 1958.
Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/pre/Historia/Sumoc/Instrucoes/instrucao167.pdf>. Acesso em: 19
jan. 2018.
555
Cf.: BOLETIM BIBLIOGRÁFICO BRASILEIRO, vol. VI, n.7, agosto de 1958 no editorial; BOLETIM
BIBLIOGRÁFICO BRASILEIRO, vol. VI, n. 8, setembro de 1958, p. 444. Sem dúvida que uma discussão
sobre esta temática é absolutamente necessária no âmbito do contexto do livro brasileiro nos anos 1950.
Todavia, as especificidades do campo da Economia, o que certamente fugiria muito do foco desta
investigação.
196
produzido aqui. Obviamente que nesse bojo do valor do livro há que considerar a tiragem, que
no Brasil era menor, sobretudo para os livros técnicos e especializados.
Com o objetivo de explicar melhor a questão das mudanças previstas para o dólar para
a importação de livros, o Jornal do Brasil trouxe o quadro abaixo (Figura 47) que tentava
exemplificar as mudanças que adviriam como a Instrução n. 166, no qual evidenciou o
aumento da sobretaxa sobre a moeda americana que seria tão criticada pelos livreiros.
De acordo com a Instrução número 166 havia áreas e produtos cujos subsídios para
importação passariam a ser “considerados essenciais ao processo de desenvolvimento
econômico do país”. Dentre esses previa-se a “importação de papel de imprensa e de papel
pelas empresas editoras ou impressoras de livros, destinado à confecção destes [...]”. Ainda
nesse campo, no mesmo grupo de equipamentos para a agricultura e ao petróleo, por exemplo,
também estava a “importação de equipamentos, peças e sobressalentes, sem similar nacional
registrado, destinado às empresas editoras de livros”. Vale ressaltar que não se estava
retirando a concessão para importar livros; apenas houve um aumento do ágio de importação
de livros. A alínea “g” prescrevia “importação de mapas, livros, jornais, revistas e publicações
similares, que tratem de matéria técnica, científica, didática ou literária, redigidos em língua
estrangeira”. A despeito dos editores, a entrada de livros traduzidos ainda estava prevista,
“assim como obras impressas em Portugal, em português, e livros religiosos escritos em
qualquer idioma e de qualquer procedência”556. No entanto, com a subida do ágio e com os
incentivos à produção nacional, os editores portugueses e os livreiros que importavam destes
passaram a sentir a desvantagem crescer.557
Essas eram reivindicações antigas de editores brasileiros, pelo menos ao longo da
década de 1950, alguns deles saíram a público para declarar que a indústria editorial vinha
sendo prejudicada pelas dificuldades não apenas do papel, mas do próprio maquinário
deficitário558. Além disso, os editores também argumentavam sobre a necessidade do fim do
dólar livro, uma vez que poria o preço do livro estrangeiro em igualdade de competição com o
produzido no país559.
Ainda no que concerne aos estímulos governamentais, um ano antes, o Jornal do
Brasil ouviu em entrevista o livreiro Carlos Ribeiro, da Livraria São José. Ele comentou uma
proposta do III Congresso que solicitava a criação de uma espécie de carteira de
financiamento para produção de livros no Brasil. Para ele esta teria sido a tese mais
importante, que já havia figurado também no II Congresso, e expressou sua opinião
declarando que:
556
BRASIL. Banco Central do Brasil. Instruções SUMOC. Instrução número 160, de 4 de outubro de 1958.
Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/pre/Historia/Sumoc/Instrucoes/instrucao166.pdf>. Acesso em: 19
jan. 2018.
557
Confere: JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 26 de outubro de 1958, p. 6.
558
JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 31 de março de 1957, p. 3.
559
Idem.
198
[...] se o governo financia arroz, café, algodão, mate, pinho e até zebu, por que não
ajuda a indústria Editora? O crescimento dessa indústria exige cada vez mais
grandes investimentos. A recuperação, agora, é demorada em virtude da necessidade
de usar as vendas à longo prazo para incentivar o escoamento de maior produção.
Aliás, a Carteira já existe no Banco do Brasil. É a Carteira de “Credito Industrial”.
Basta, neste órgão, o governo tirar uma percentagem, digamos cem milhões de
cruzeiros, por ano, e destinar à indústria editora560.
560
JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 21 de abril de 1957, p. 3
561
BRASIL. Banco Central do Brasil. Instruções SUMOC. Instrução número 156, de 10 de junho de 1958.
Disponível: <http://www.bcb.gov.br/pre/Historia/Sumoc/Instrucoes/instrucao156.pdf>. Acesso em: 19 jan.
2018.
562
CHAVES, J. C. Muller. Estamos lendo menos e pagando mais. Diário de Notícias, Rio de Janeiro, 19 de abril
de 1959, p. 6
199
O efeito final dos impostos alfandegários e da taxa do dólar foi tornar mais barato,
durante a maior parte da década de 1950, importar livros do que importar papel para
imprimi-los.563
Estes esclarecimentos de Hallewell, sobretudo a última parte referente aos efeitos dos
impostos alfandegários, é valiosa para compreendermos os discursos e disputas que
acompanhamos nos jornais. Percebemos o SNEL a frente de dois grupos fortes, livreiros e
editores. No entanto, a partir da citação acima é possível ponderar que os mais afetados
seriam livreiros especializados em importação, que não tiveram suas concessões cortadas, mas
reduzidas a um ponto que o governo achava justo (como veremos a seguir). Já os editores que
imprimiam seus livros aqui e sofriam com os altos custos do papel, talvez passassem a se
sentir menos prejudicados ou pelo menos dentro de uma competição menos desleal. As vozes
dos editores pouco aparecem nos jornais dentro desse contexto, ficando evidenciado as
reivindicações dos livreiros-importadores. Nesse cenário, a tradução será ainda mais
estimulada como forma de expandir o público leitor dos necessários livros técnicos para além
daqueles que sabiam um idioma564. Na imprensa lia-se muito algo que poderíamos reduzir
em: “não ajudar o livro, era não ajudar a cultura nacional”.
Gustavo Corção565 abordou a importação do livro estrangeiro. Para ele, as disposições
governamentais vinham aumentando as dificuldades com os importados. Corção afirma “que
além do governo, os comerciantes também costumam dificultar, já não a entrada, mas o
consumo do livro estrangeiro”. Para explicar seu ponto de vista, indagou aos leitores: “quando
o dólar de importação para os livreiros era de 40 cruzeiros quem comprou aqui no Rio – e faz
pouco tempo – um livro estrangeiro por 60 ou mesmo 70 cruzeiros o dólar?”. Deste modo,
“um livro de $1.95 era vendido àquela época por 150 cruzeiros, quando sairia, para o livreiro,
563
HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. 3. ed. São Paulo: EDUSP, 2012. p. 572-573.
564
Dentre outros casos, como exemplo: “Um livro inglês, qualquer que seja, sofre, portanto, um ágio de cerca de
80 cruzeiros, o que eleva astronomicamente o seu preço. Isto vem facilitar a venda do livro nacional e
permitir à indústria editorial traduzir e publicar, com vantagens, livros técnicos e científicos estrangeiros e
estimular os autores nacionais. No entanto, o golpe contra a importação do papel vem impedir esse
desenvolvimento”. IMPRENSA POPULAR, Rio de Janeiro, 14 de maio de 1955, p. 4. O CARETA, Rio de
Janeiro, 14 e 31 de outubro de 1959; DIÁRIO DA TARDE, Curitiba, 11 de maio de 1959, p. 5; CORREIO
DA MANHÃ, Rio de Janeiro, 9 de abril de 1959, p. 3. Ver também: ANDRADE, Olympio de Souza. O livro
brasileiro: progressos e problemas, 1920-1970. Rio de Janeiro: Paralelo; Brasília: INL, 1974. BAPTISTINI,
Flávia Marin Zanon. Livrarias, memória e identidade: a importação de livros no Brasil e a trajetória da
Livraria Leonardo da Vinci no Rio de Janeiro. 2017. 178 f. Dissertação (Mestrado em História, Política e
Bens Culturais) – Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, 2017.
565
Sobre Gustavo Corção, ver: http://permanencia.org.br/drupal/node/42
200
A fala do acadêmico de medicina não é isolada, mas exemplifica o que livreiros que
estavam no setor vinham dizendo, bem como professores que eram recorrentemente ouvidos
pelos repórteres. No pano de fundo, fica uma tensão entre livreiros importadores e editores
brasileiros, não obstante mostrarem-se militando juntos.
Ernesto e Jorge Zahar também foram ouvidos a respeito do assunto, e a Livraria LER
foi reputada como “uma das maiores importadoras de livros estrangeiros do Rio”. Ambos
foram categóricos em afirmar que o aumento das taxas cambias iria provocar uma “retração
inédita no mercado livreiro, com perigosas conseqüências para a cultura nacional,
particularmente para os técnicos (médicos, engenheiros e cientistas) que não podem
absolutamente prescindir de publicações estrangeiras”568. Neste ponto é importante
sintetizarmos que os irmãos Zahar consideravam como “livros técnicos” também àqueles
destinados aos cursos superiores. Ernesto, em tom parcimonioso, disse que “não chega a ser
uma tragédia, mas é sem dúvida um problema sério para o País”. Na primeira parte do
depoimento, ele se deteve na questão do papel. Para ele, “cultura não se separa e a cultura
nacional não poderá existir se isolada da cultura de outros países. A retração no consumo do
livro estrangeiro [...] produzirá o seu reflexo indireto na produção nacional”569. Ernesto tinha
razão, pois pensemos como seria hoje, por exemplo, se não tivéssemos contato com a
566
JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 12 de julho de 1958, p. 2.
567
JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 19 de outubro de 1958, 2º Caderno, p. 1.
568
JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 19 de outubro de 1958, 2º Caderno, p. 1.
569
JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 19 de outubro de 1958, 2º Caderno, p. 1.
Em resposta a um documento redigido pela Associação Brasileira de Educação, pelo qual solicitava ações
urgentes para melhoria a importação de livros técnicos estrangeiros, o presidente Juscelino Kubitschek
determinou ao ministro da Fazenda a criação de um grupo de trabalho que se dedicaria a estudar o problema
da importação de livros. A solução, porém, estava bem longe de aparecer, pois ainda assim houve
descontentamento por parte de alguns setores que consideraram uma ação lenta e com pedidos difusos.
Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 19 de dezembro de 1958, p. 8.
201
os quais Jorge e Ernesto Zahar. A reportagem foi motivada pela medida do governo de
aumentar em 40% o ágio para importação “das chamadas mercadorias de câmbio favorável
onde se inclui, entre outras, o trigo e o livro estrangeiro”. Diante disto, imediatamente,
editores e livreiros foram a público manifestar seu descontentamento com tal medida do
governo, pois acreditavam que a mesma iria “provocar quase a completa paralisação das
importações de livros técnicos e científicos”.
Para Ênio Silveira esses aumentos abusivos se tratavam de um problema que atingia
não só o livro estrangeiro, mas nacional, uma vez que fracas ações de políticas cambiais se
refletiam em ambos os setores, livreiro e editorial. De acordo com sua opinião seriam “quase
impraticáveis” as traduções de obras técnicas publicadas no estrangeiro. Silveira acreditava
que o mercado brasileiro não absorveria tudo o que seria produzido. Em outra parte, lamenta
que livreiros e editores não têm crédito no setor bancário.
A seguir Jacques Visnevki, na época diretor da Livraria Freiras Bastos, declarou que
com o câmbio desfavorável haveria “um impacto grave sobre a cultura técnica e científica do
brasileiro”. A Freitas Bastos era identificada como uma das poucas livrarias especializadas em
obras de Direito e fazia parte de um grupo que comercializava livros estrangeiros. Para
Visnevki, o Governo deveria perceber que a falta de livros científicos e técnicos poderia
causar baixa formação dos estudantes. Afirmou que a indústria editorial poderia ter
dificuldades para “acompanhar a evolução de seu ramo de conhecimento, sem estudar os
novos métodos que aparecem nos centros especializados estrangeiros”. Sua crítica continua
bem mais contundente, pois, para ele, este seria um ponto tão óbvio que não era difícil
compreender como o governo “tão cheio de metas” não tenha avaliado o impacto que
produziria no desenvolvimento econômico e industrial “o quase fechamento de nossas portas
aos livros estrangeiros”. A falta dessa noção, ou seja, que sem livros para formação o
crescimento do país não ser possível, é observada também por outros entrevistados como já
mencionado anteriormente.
A reportagem segue com um comentário de Visnevki acerca dos países que mais
exportavam livros para o Brasil naquele momento. Conforme vimos no Capítulo 2, é
interessante observar um deslocamento aqui, pois se até os anos de 1940, a maior parte dos
livros vinham da França e durante a Guerra e no pós-Guerra de países da América Latina. Um
cenário que mudará a partir de 1954, como apontou Andrade, anteriormente.
Os Estados Unidos, Inglaterra e França são os países dos quais importamos mais
livros, predominando sempre as importações de livros em inglês. Do primeiro país,
compramos 90% de nossos livros técnicos, especialmente sobre Química, Física,
Medicina, Engenharia, Petróleo, Técnicas Industriais, pintura e arte decorativa, sem
203
573
JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 19 de outubro de 1958, 2º Caderno, p. 1.
574
JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 26 de outubro de 1958, p. 6. No Capítulo 2 comentamos a primeira
matéria sobre a Marcha.
204
diretamente ao desenvolvimento industrial e econômico do País [...]”. A resposta foi que “não
daria certo porque os livreiros iam depender de um censor ou selecionador oficial cujo critério
seria difícil de avaliar ou imaginar”575.
A seguir a reportagem apresenta a entrevista com José Garrido Torres 576, na época
diretor executivo da SUMOC. Ele explicou que “desde quando o Governo reconheceu a
irrealidade da taxa de 18 cruzeiros por dólar que se aplicava as às importações, em 1953, que
se levanta um clamor contra o reajustamento cambial para níveis mais realistas”. Torres
considera que seria “ilusão pensar que se vai baratear as importações com o subsídio cambial”
e que para que houvesse barateamento das importações seria necessário aumentar as
exportações. Para ele “a medida de exceção para os importadores de livros (que já têm certo
privilégio) com dólar especial, não se justifica nem mesmo sob a alegação de ‘essencialidade’
do livro estrangeiro”577.
Por fim, Garrido Torres lança uma questão que também aparece em outros jornais, ou
seja, o impacto do subsídio cambial na atividade editorial do país. Conclui seu raciocínio da
seguinte forma:
Se nós damos ao livro importado a possibilidade de ser vendido a um preço
demasiadamente baixo em relação ao do escrito e editado no país, estaremos
efetivamente desestimulando o autor e editor nacionais em proveito do estrangeiro.
Seria acertado tal modo de proceder? Não é também prejudicial à cultura brasileira
impedir que os livros importados sejam traduzidos para alcançar um público maior
que o atingido atualmente? Como fazê-lo se na situação atual o custo de uma boa
tradução, acrescido das despesas de edição, mais que triplica o preço do livro
importado a câmbio favorecido?
Muitas vezes nos perguntamos por que não ocorre no Brasil o que acontece no
México, onde as obras de maior divulgação encontram mercado bastante amplo
quando traduzidas. Veja-se o caso da coleção do ‘Fundo de Cultura Econômica’,
onde se encontram traduzidos, os grandes livros de economia publicados na
Inglaterra e nos Estados Unidos [...]
Não queremos com isso expulsar o livro importado do mercado brasileiro. Nem é o
caso de importa-se uma tarifa para proteger autores e editores nacionais contra a
concorrência estrangeira. Isto sim, seria desservir a causa da cultura. [...]. 578
Deste modo, para ele, a tradução seria uma forma de tornar os textos mais acessíveis e
incentivar o mercado dos editores nacionais. Traduções feitas no Brasil e não as que vinham
de Portugal de onde editores se manifestaram absolutamente preocupados e contrários ao
575
JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 26 de outubro de 1958, p. 6.
576
Sobre José Guarrido Torres: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Centro de Pesquisa e Documentação de
História Contemporânea do Brasil. José Guarrido Torres.
Disponível em: <http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/torres-jose-garrido>. Acesso
em 10 jan. 2018.
577
JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 26 de outubro de 1958, p. 6
578
JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 26 de outubro de 1958, p. 6.
205
novo cenário brasileiro, como já expusemos. O Diário de Lisboa chegou a afirmar que “a
cultura portuguesa sofre deste modo um rude golpe” e questionava que os acordos não eram
mais bilaterais579.
Como Hallewell comentou, no Brasil “os direitos de tradução deviam ser pagos pela
taxa cambial plena, também era muito mais barato importar um livro estrangeiro em tradução
publicada em Lisboa [...]”. A instabilidade entre os dois países foi apontada por Luís Borges
de Castro, diretor da Grande Enciclopédia Portuguesa Brasileira, quando este em reunião na
Câmara Brasileira do Livro, em 1958, além de propor a realização de um Congresso de
Editores Brasileiros e Portugueses propôs a criação de uma “Câmara Luso-Brasileira do
Livro”, como forma de dirimir as dificuldades comerciais do campo editorial entre os dois
países580.
Seja como for, de acordo com os jornais, no calor dos fatos, o contexto era retratado
com de instabilidade para as editoras, a não ser que se especializassem num segmento, como
foi o caso da Zahar Editores. Com base no que pesquisamos até o momento, dentro do cenário
que apresentamos, percebemos que os irmãos Zahar, com o surgimento de editora, passaram a
transitar em dois universos nevrálgicos para época: importação de livros técnicos e tradução
para público das universidades. O quanto cada negócio era lucrativo e como funcionavam, só
a localização futura dos livros de contabilidade e/ou demais documentos administrativos
poderiam revelar com maior propriedade581.
A situação do câmbio para compra de livros se arrastava. Em dezembro de 1958,
Barbosa Lima Sobrinho voltou a se manifestar sobre essa situação. Disse que “o câmbio para
compra de livros nunca foi muito favorável, sempre esteve acima do câmbio da compra do
trigo.” Criticou duramente a relativização dada ao livro, pois, para ele, este produto deveria
ser percebido como algo de necessidade básica. Sobrinho informou que o câmbio para os
livros subiu na razão de 40 para 140 dólares, por isso questionou: “Como o comprador de
livro, na regra geral, é um assalariado. Quem foi que obteve, nesse espaço de tempo, um
579
JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 26 de outubro de 1958, p. 6.
580
JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 19 de setembro de 1958, p. 4. Ora, essas querelas com os editores
portugueses praticamente vêm do século XIX, no caso do século XX, como já comentado no capítulo
anterior, as disputas eram constantes porque resultava mais barato imprimir livros traduzidos em Portugal e
importa-los ao Brasil do que a produção aqui no país, em razão do preço do papel. Vimos também que a
própria empresa Pocket Book Inc. via como mais vantajosa a produção em Lisboa do que no Rio de Janeiro.
581
Esperávamos que houvesse mais informação no recente trabalho: PIRES, Paulo Roberto. A marca do Z: a
vida e os tempos do editor Jorge Zahar. Rio de Janeiro: Zahar, 2017.
206
aumento de 350% nos salários recebidos?”. Assim, acusou o país de uma danosa “política de
incultura” e lamenta a situação penosa imposta a estudantes e professores582.
Em 1959, até onde foi nosso objetivo acompanhar o assunto, os queixumes e
reivindicações continuaram – e a bem da verdade continuam até hoje no que tange ao preço
do livro. Acrescentam-se aí as comparações dos preços dos livros com preços de cinema,
teatro, bebida alcoólica e restaurante.
“Estamos lendo menos e pagando mais” foi o título de um artigo assinado por J. C.
Muller Chaves e publicado n’O Metropolitano, suplemento estudantil do Diário de
Notícias583. De acordo com Chaves, a atual política do governo vinha tornando cada vez mais
difícil a aquisição “de compêndios técnicos ou de literatura”. A reportagem explicava que
[...] até 1953, o livro era importado pela taxa oficial do dólar, pouco menos de Cr$
20,00. Neste ano, ao invés de reajustar esta taxa que não mais correspondia a
realidade, o governo adotou o sistema de sobretaxa, ou ágio, reservando para artigos
como livro, papel para imprensa e outros, um dólar especial, chamado de custo,
correspondente ao preço de custo médio do dólar para o governo. Devido a
aumentos sucessivos, este ágio atinge hoje o total de Cr$ 80,00 que, somado ao
câmbio oficial (20,00), despacho aduaneiro, armazenagem, despachante, taxa de
renovação da Marinha Mercante, taxa de melhoramentos dos Postos etc. perfaz o
total de Cr$ 113,00 para o dólar importado584.
Chaves acreditava que, devido a esta situação, algumas livrarias estariam fechando.
Ele refuta a deia de que o livro nacional estava sendo prejudicado pela “importação mais
barata”, pois acreditava que havia mercado para ambos.
Num país em expansão, como é o Brasil, que pretende conseguir um lugar entre as
nações líderes do globo, acelerando sua industrialização, é absurdo que se esteja
lendo menos de ano para ano. A importação de livros técnicos permitiria a
especialização dos profissionais de diversos setores e a formação de muitos outros.
Os serviços que, através dos conhecimentos adquiridos nos livros, poderiam eles
prestar, seria uma compensação elevadíssima para o pouco que o governo
despendesse com a sua importação. O livro é, por assim dizer, o trampolim do
desenvolvimento da nação, por ser um instrumento da técnica, por excelência 585.
Vale observar que, na conclusão, Chaves retoma uma ideia já discutida aqui, ou seja, a
de que o livro seria um instrumento para o desenvolvimento do país. Desse modo, sua
582
JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 26 de outubro de 1958, p. 3.
583
CHAVES, J. C. Muller. Estamos lendo menos e pagando mais. DIÁRIO DE NOTÍCIAS. (Suplemento O
Metropolitano: órgão oficial da União Metropolitana dos Estudantes). 19 de abril de 1959, p. 6
584
CHAVES, op. cit., 1959.
585
CHAVES, op. cit., 1959.
207
produção e circulação deveriam ser facilitadas pelo Estado. É interessante pensarmos também
que alguns textos que analisamos nesta subseção sobre a importação de livros comentam a
incoerência que seria a restrição à entrada de livros publicados no exterior, uma vez que
também cercearia o contato com o pensamento de outros países. Poderíamos ponderar esse
cenário sob a perspectiva da teoria de “circulação internacional de ideias” de Pierre Bourdieu
segundo a qual a presença de textos estrangeiros, seja do original, seja traduzido, contribui
para transferência de ideias de um campo nacional para outro586.
O que realmente estava acontecendo nos bastidores políticos naquele momento, talvez
futuras pesquisas possam nos revelar. Será que o governo estava agindo sozinho ou estava sob
pressão de setores editoriais mais fortes cujo maior foco era atingir o mercado dos livros
nacionais? Ou ainda, seria todo este alarde um exagero dos empresários cujo negócio
fundamental era o livro importado porque deixariam de lucrar mais?
Chaves explica, de forma objetiva, que editar livros técnicos em determinadas áreas
seria um prejuízo muito grande.
Tem-se dito que o barateamento do livro importado poderia prejudicar a indústria
brasileira de livros. Nada mais falso. Pelo contrário, o aumento de livros importados
só viria beneficiar nossa indústria e possibilitar sua expansão. Por exemplo, é
impraticável editar, no Brasil, um livro técnico sobre arquitetura, dado o
limitadíssimo número de profissionais que operam neste setor, ou seja, de possível
compradores. Uma tiragem pequena, como é o caso, sairia por um preço
elevadíssimo, o que o torna inexeqüível. Facilitando a entrada de livros estrangeiros
sobre a matéria, seria possível a formação de perfeitos conhecedores do assunto que,
transformados em professores, poderão formar novos técnicos. Assim, aos poucos, o
número de profissionais irá aumentando, até possibilitar uma edição técnica
nacional587.
O último argumento apresentado por Chaves possui uma lógica que nos fornece mais
uma linha para compreender as razões que levaram os Zahar a expandir mais uma vez os
negócios tornando-se editores. Seriam mais um para o grupo de livreiros-editores para o rol
daqueles dedicados à tradução de obras técnicas, como, por exemplo, a Editora Gertum
Carneiro, Labor, O Livro Jurídico e Atlas588.
586
BORDIEU, Pierre. Intelectuales, política y poder. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Eudeba, 2014.
Aprofundaremos melhor este conceito de Bordieu no Capítulo 4.
587
CHAVES, op. cit., 1959.
588
LABANCA, Gabriel Costa. Dos anos dourados às Edições de Ouro: a Tecnoprint e o livro de bolso no Brasil
(1939-1970). 2009. 202 f. Dissertação (Mestrado em História Política) – Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, 2009.
208
O Diário Carioca publicou um editorial que corrobora com mais elementos para o
panorama editorial da segunda metade da década de 1950 e início do ano de 1960589. O tom
do texto oscila ora em parabenizar os irmãos pela coragem de abrir uma editora, ora em
criticar o momento desfavorável à importação de livros devido ao aumento das taxas de
câmbio. A matéria segue explicando que
A previdência da praça foi naturalmente reduzir de muito as encomendas
estrangeiras, centralizando as vendas em alguns títulos nacionais de boa saída e em
traduções de sucesso. Financeiramente, as livrarias agüentaram-se. Mas o Jorge não
estava satisfeito, porque os melhores fregueses procuravam as novidades culturais e
não as encontravam – livros dispendiosos, de vendagem problemática, não eram
mais encomendados, a não ser em número reduzido590.
Diante desse cenário, ao que parece, os irmãos Zahar devem ter chegado a conclusão
que frente às constantes oscilações do mercado de importação, não poderiam ficar apenas
nesse nicho. Afinal, conheciam o público e estavam inseridos em discussões fundamentais
sobre o livro naquele período. Por isso, não vemos como uma contradição o surgimento da
editora num momento tão nebuloso, mas sim como um ato de risco de empreendedores. Como
bons empresários, souberam arriscar, pois medidas tomadas por Kubitschek em meados de
1957, tais como redução do preço do papel, acabaram “possibilitando a publicação de
traduções brasileiras a preços competitivos com os dos originais importados.”591 Ação que
permitiu, a partir dos anos 1960, um “aumento considerável do número de obras
especializadas em português”592.
O contexto do ensino superior, com suas demandas para traduções de livros técnicos e
importações, bem como uma conjuntura que indicava que o campo das Ciências Sociais
estava no rol dos interesses entre acadêmicos. Como dissemos anteriormente, nosso objetivo
segue em circunscrever nosso objeto de pesquisa, ou seja, os irmãos Zahar no universo do
livro técnico para uso nos cursos superiores no Brasil. O ponto de ligação entre a Livraria
LER e a Zahar Editores poderia ser identificado com o livro técnico e científico para o
público universitário, seja importando, seja traduzindo. Havia ali uma continuidade do
trabalho dos irmãos dentro do setor e expansão das atividades com a criação da editora. De
modo que acreditamos não ser possível dissociar uma da outra, atuavam juntos, como disse
Jorge Zahar sobre a editora: “meus irmãos cuidavam da parte comercial referente as vendas.
589
DIÁRIO CARIOCA, Rio de Janeiro, 2 de abril de 1960, p. 1.
590
Idem.
591
HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. 3. ed. São Paulo: EDUSP, 2012, p. 586.
592
Idem.
209
593
PIRES, Jerusa (Org.). Jorge Zahar. São Paulo: Edusp; Com-Arte, 2001. p. 40. v. 5 (Editando o editor).
594
Idem.
595
PIRES, Jerusa (Org.). Jorge Zahar. São Paulo: Edusp ; Com-Arte, 2001. p. 33. v. 5 (Editando o editor).
596
Como não há fonte documental no arquivo da editora sobre as formas desta atividade, esta inferência é feita a
partir do modus operandi adotado pela Livraria Leonardo Da Vinci. Ver: BAPTISTINI, Flávia Maria Zanon.
Livrarias, memória e identidade: a importação de livros no Brasil e a trajetória da livraria Leonardo da Vinci
no Rio de Janeiro. 2017. 178 f. Dissertação (Programa de Mestrado Profissional em Bens Culturais e Projetos
Sociais) – Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, 2017.
597
Cf. BRAGANÇA, Aníbal. Eros pedagógico: a função editor e a função autor. 2001. Tese (Doutorado) –
Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo. São Paulo, 2001.
598
BRAGANÇA, op. cit.
210
599
DIÁRIO CARIOCA, Rio de Janeiro, 17 de março de 1951, p. 1.
Ver discurso em: GETÚLIO VARGAS. Mensagem ao Congresso Nacional. Apresentada pelo presidente da
República por ocasião da abertura da sessão legislativa de 1951. Rio de Janeiro, 1951. Disponível em:
<http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u1330/000002.html>.
600
Crítico de cinema. Sobre sua atuação, ver:
<http://www.portcom.intercom.org.br/pdfs/91155036046309745290379819898147912274.pdf>.
601
O CRUZEIRO, Rio de Janeiro, 30 de julho de 1955, p. 12.
602
Sobre Gilberto Martinho, ver: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Centro de Pesquisa e Documentação de
História Contemporânea do Brasil. Gilberto Marinho.
Disponível em: <http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/marinho-gilberto>.
603
JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 22 de abril de 1955, p. 9.
A ideia de que “a compreensão cada vez mais crescente de parte dos países economicamente atrasados de
que seu progresso social, cultural e econômico está grandemente condicionado a uma revisão das relações de
troca no plano internacional, leva-nos ao justo termo da apreensão do problema da cooperação
internacional.”
211
Foram dez anos, entre 1954, mais ou menos, até 1964, fim de 64, quando saí da
Difusão. Então você tem, neste momento, como antecessoras a Editora Globo, a
Editora José Olympio; subseqüentemente o início da Civilização Brasileira, entrando
no campo geral, de um lado e a Zahar e a Difusão, de outro, no caminho do livro
universitário. Por quê? Porque a Editora Nacional, naquele momento, quando devia
ter efetuado a passagem para o livro universitário, não o fez. [...] E a Difusão e a
Zahar lançaram [coleções]. Quer dizer então que estas duas editoras mais a
Civilização apareceram naquele momento com propostas que as colocam na ponta
do movimento editorial do período. Uma delas é a do livro universitário [...] 612.
Com essas palavras o editor, responsável pela Editora Perspectiva, Jacó Guinburg
comentou a conjuntara do campo de edições de livros universitários entre a segunda metade
da década de 1950 e início da primeira década de 1960. Ele exemplifica como testemunha
ocular e absolutamente envolvido com os fatos algo que foi possível observar a partir das
análises dos jornais que compulsamos na Hemeroteca Digital, bem como pela revisão
historiográfica. Isto é, embora os cursos superiores no Brasil já estivessem num movimento
de mudanças, gerando uma demanda de livros científicos, como vimos anteriormente, será
nesse período apontado por Guinburg que houve transformações mais significativas que
culminariam na Reforma Universitária em 1967.
No âmbito do movimento editorial para o livro universitário, além da própria reforma,
temos a questão das traduções e do interesse para a área de Ciências Sociais. Ainda orbitando
em torno do assunto “universidades”, temos as políticas públicas que viriam na sequência de
1967, bem como antes dele, o próprio golpe de 1964.
Sobre o segmento escolhido pela Zahar Editores, ou seja, traduções, Andréa Lemos
Xavier Galucio, na tese Civilização Brasileira e Brasiliense613 observou que poucas editoras
realmente se dedicavam à tradução de livros técnicos, ficando maior número voltado aos
textos literários. Como vimos, o negócio de tradução de livros para as universidades seria de
alto custo e pouco lucrativo, pois a tiragem normalmente era bem menor que, por exemplo, a
tradução de uma Madame Bovary. Além do número escasso de tradutores para livros
612
AMORIM, Sônia Maria de; TREMEL, Vera Helena F. J. Guinsburg. São Paulo: COM-ARTE, 1989. p. 42-
43.
613
GALÚCIO, Andréa Lemos Xavier. Civilização Brasileira e Brasiliense: trajetórias editoriais, empresários e
militância política. 2009. 316 f. Tese (Doutorado em História Social) – Universidade Federal Fluminense,
Niterói, RJ, 2009.
214
científicos, os jornais apontam para o baixo retorno devido a tiragens menores. Um cenário
que foi comentado também por Jorge Zahar em 1958614. Stanley Unwin considera que “o
benefício financeiro que se tira dos direitos de tradução varia de país para país e muitas vezes
pouco diz a respeito da importância do aparecimento de uma tradução [...]”615.
Complementando o assunto, John Milton em A importância de fatores econômicos na
publicação de traduções616esclareceu que as traduções de obras literárias de sucesso eram, em
geral, um investimento mais sólido, sobretudo quando estavam em domínio público. O que
não acontecia com aquelas ainda sob a égide do copyright, mormente livros científicos,
manuais e obras técnicas. Seja como for, tanto Milton, quanto a tradutora Lia Wyler617
concordam que a necessidade de consecução do programa de metas de Juscelino Kubitschek
favoreceu o mercado de traduções de livros de referência, manuais e catálogos que tornassem
legíveis um conteúdo para formação de profissionais até então inexistentes no país.
Edgard Cavalheiro, na sua coluna “A Semana e os livros”, no Estado de São Paulo,
anunciou o início da Zahar Editores. Para ele, a nova empresa era formada por “homens
conhecedores do ‘metier’, antigos livreiros familiarizados com todos os problemas do oficio”.
Por isso, acreditava que não seria “arriscado prognosticar-lhe o mais belo futuro”. Informou
aos leitores que “os Livreiros Zahar, agora transformados em Editores Zahar” apresentavam
“um programa sério, de obras destinadas a um público especializado – o universitário”618.
No mês seguinte, o mesmo jornal619 apresentou ideias que se alinham com nossa
hipótese, pois segundo o periódico a falta de textos didáticos traduzidos constituía uma das
grandes dificuldades com que se confrontavam os professores de ciências sociais no país. O
autor do texto contra argumenta a ponderação daqueles que julgavam que traduções não eram
necessárias aos cursos superiores afirmando, com bastante bom senso, que a circulação de
livros traduzidos nesse nível do ensino poderia ser como estímulos para aumentar o hábito de
614
A SEMANA, Rio de Janeiro, 22 a 27 de janeiro de 1959, p. 14.
615
UNWIN, Stanley. O que é uma editora. 6. ed. Tradução de José Francisco dos Santos. Rio de Janeiro; São
Paulo: Record, 1960. p. 137.
616
MILTON, John. A importância de fatores econômicos na publicação de traduções: um exemplo do Brasil.
TRADTERM, São Paulo, v. 17, p. 85-100, 2010. Disponível em:
<https://www.revistas.usp.br/tradterm/article/view/40284>. Acesso: 10 fev. 2017.
617
WYLER, Lia. Línguas, poetas e bacharéis: uma crônica da tradução no Brasil. Rio de Janeiro: Rocco, 2003.
618
ESTADO DE SÃO PAULO, 3 de agosto de 1957, A SEMANA E OS LIVROS, p. 4. Ver também: DIÁRIO
DE NOTÍCIAS, Porto Alegre, 4 de agosto de 1957.
619
ESTADO DE SÃO PAULO, São Paulo, 28 de setembro de 1957. p. 40.
215
leitura de principiantes, além de permitir que fossem usados também em cursos de iniciação
científica.
Três perguntas surgem dentro desse assunto: por que fundar uma editora? Por que uma
editora especializada em traduções? Por que Ciências Sociais? E, como indagam Durand e
Glinoer dentro o contexto francês: “Quelles idées et quelles ambitions le guident dans la
constitution de son catalogue?”620.
Nossa hipótese encontra resposta em dois pontos uníssonos: a experiência dos irmãos
Zahar e o contexto da expansão do ensino superior, que começa muito antes da reforma
universitária em 1967.
No que concerne à tradução, característica fundamental da Zahar Editores, podemos
compreender o modus operendi a partir do conceito de trânsito internacional de ideias de
Pierre Bourdieu – como analisaremos mais detidamente a seguir. Como Jorge explicou na
entrevista, haviam um tradutor e um revisor técnico. Como veremos na análise da próxima
seção, o revisor normalmente era um especialista da área. Além deste aparato, a editora
também se cercou de prefaciadores ou autores de notas de rodapé e orelhas que tinham
notoriedade do Brasil, e que buscavam legitimar autores pouco ou nada conhecidos no país.
No capítulo Las condiciones sociales de la circulación de las ideias Pierrre Bourdieu
propõe uma importante reflexão sobre as condições sociais para a circulação internacional de
ideias, ou como ele considera um import-export intectual. Ele analisa a internacionalização da
vida intelectual que pode ser feita com a circulação de livros importados, mas também via
traduções. Para ele
la vida intelectual es el lugar, como todos los otros espacios sociales, de
nacionalismos y imperialismos, y los intelectuales vehiculizan, casi tanto como los
otros, prejuicios, esteriotipos, ideias recebidas, representaciones muy sumarias, muy
elementales, que se nutren de los acidentes de la vida cotidiana, de las
incomprensiones, de los malentendidos, de las heridas (aquellas, por ejemplo, que
puenden infligir al narcisismo, como el hecho de ser desconocido en un pais
extranjeiro)621.
620
DURAND, Pascal; GLINOER, Anthony. Naissance de l’editeur: l’édition à l’âge romantique. Préface de
Hubert Nyssen. Paris; Bruxelles: Les Impressions Nouvelles, 2005. p. 9.
621
BOURDIEU, Pierre. Intelectuales, política y poder. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Eudeba, 2014. p.
161.
216
isto porque “el sentido y la función en el campo originário son, con frecuencia,
completamente ignorados”622. Para evitar equívocos na transferência de uma obra de um
campo nacional para outro, Bourdieu acredita que são necessárias uma série de operações
sociais que colaboram para a atuação do campo de recepção. Um dos mecanismos apontados
por ele é a escolha que os editores que transitam em traduções devem optar. Para ele, para a
introdução de uma ideia e/ou de um autor em outro país, o editor pode lançar mão da
estratégia de selecionar um revisor ou prefaciador reconhecido no país onde se pretende
publicar o livro. Assim, estes atores operariam para facilitar o processo de transferência de
origem para o destino promovendo a recepção do texto da melhor maneira possível. Para
Bourdieu, não há nada de mal nessa estratégia, pois ele acredita ser esta uma condição para
recepção de um texto produzido no contexto de outro país. Gilberto Barbosa Salgado
percebeu essa estratégia de Jorge Zahar ao comentar que, para aproximar o conteúdo destas
obras ao exame da ordem social brasileira, a Zahar confiou a introdução e a organização das
coletâneas trazidas a professores especialistas nacionais”623.
De tal sorte que, “al término de todo esto, el texto importado recibe una nueva marca.
Está marcado por la cubierta: ustedes tienen una instituición de las cubiertas de los diferentes
editores e incluso de las diferentes colecciones de cada editor [...]”624. A marca imposta pela
tradução promovida por cada editora pode mudar a recepção da obra, seja o revisor, seja quem
fez o prefácio ou as notas explicativas conjugam para acionar os mecanismos que despertam
os leitores.
O processo de escolha sobre o que será publicado está cercado por riscos, no entanto,
acreditamos que o risco da Zahar Editores poderia ser menor porque na transposição de um
autor de um país para o outro, conforme as ideias de Bourdieu, se daria a partir um
conhecimento do impacto do livro na sua língua original. Os editores, em tese, sabiam que o
livro era vendável, cabia, então, a partir da tradução, aliado ao aparato das autoridades de
tradutores, revisores etc. tornar o livro uma publicação interessante também aqui. E isto,
cremos também que, no caso em questão, poderia ser amenizado visto que os Zahar estavam
inseridos no contexto do ensino universitário pelo contato com professores, alunos e ex-
alunos.
622
BOURDIEU, op. cit., p. 162.
623
SALGADO, Gilberto Barbosa. O imaginário em Movimento. Crescimento e Expansão da Indústria Editorial
no Brasil (1960-1994). 1994. 312f. Dissertação (Mestrado em Sociologia) – Instituto Universitário de
Pesquisas do Rio de Janeiro, 1994.
624
BOURDIEU, op. cit, p. 164.
217
Para explicar o contexto das Ciências Sociais, Villas Bôas recua ao ano de 1945 e
aponta que até 1966 o crescimento da área foi motivado pelas transformações econômicas,
sociais e políticas. A produção nacional se dava com o contato com autores estrangeiros
viabilizados pela compra de livros importados, com isto o mercado expandia também para as
traduções. Para Sérgio Miceli, entre 1930 e 1964:
[...] o desenvolvimento institucional e intelectual das ciências sociais no Brasil
esteve estreitamente associado, de um lado, ao impulso alcançado pela organização
universitária e, de outro, à concessão de recursos governamentais para a montagem
de centros de debate e investigação que não estavam sujeitos à chancela do ensino
superior. Esses dois padrões de consolidação institucional acabaram subsistindo até
hoje porque atendem a demandas diferenciadas de grupos sociais emergentes e aos
projetos formulados ou encampados pelos setores políticos dirigentes. Os projetos
de reforma e expansão do ensino superior condicionaram o espaço concedido à
pesquisa e à produção acadêmica em ciências sociais ao desempenho de encargos
docentes no contexto de uma política mais ampla de profissionalização cujos
primeiros frutos foram os professores secundários 625.
O recuo à década de 1940 feitos por Miceli e Villas Bôas nos conduz ao exemplo da
Livraria Martins que diante da necessidade de nutrir o mercado de textos de sociologia, sob a
direção de Donald Pierson626, lançou uma “Biblioteca de Ciências Sociais” com traduções a
partir de textos de sociólogos representantes da Escola de Chicago, um projeto específico que
visou traduções de ciências sociais. De 1943 a 1949 Pierson publicou onze livros em doze
volumes, em quinhentos exemplares627, listados abaixo:
Volume I. O homem: uma introdução à Antropologia, de Ralph Linton, da
Columbia University, traduzido por Lavínia Costa Villela, 1943; Volume II.
Introdução à história econômica, de N.S.B. Gras, traduzido por Lavínia Costa
Villela, 1943; Volume III. O sentido da nova Lógica, de Willard Van Orman Quine,
da Universidade de Harvard (aulas dele apresentadas na Escola), com auxílio quanto
a rever o português de Vicente Ferreira da Silva, 1944; Volume IV. Noções básicas
de Estatística, de L.L. Thurstone da Universidade de Chicago, traduzido por Maria
Aparecida Madeira Kerbeg, 1945; Volume V. O Estado, de R. M. MacIver, da
Columbia University, traduzido por Mauro Brandão Lopes e Asdrubal Mendes
625
MICELI, Sérgio. Condicionantes do desenvolvimento das Ciências Sociais no Brasil, 1930-1964. Disponível
em:
<http://www.anpocs.org.br/portal/publicacoes/rbcs_00_05/rbcs05_01.htm>. Acesso em: 10 out. 2016.
626
Sobre a importante de Pierson no Brasil ver: ORTIZ, Renato. Ciências Sociais e trabalho intelectual. São
Paulo: Olho d’Água, 2002. Em especial do capítulo “Notas sobre as Ciências Sociais no Brasil”.
627
GUIMARÃES, Rafael Estevão Marão. A Escola de Chicago e a Sociologia no Brasil: a passagem de Donald
Pierson pela Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo. 2011. Dissertação (Mestrado em Sociologia)
– Programa de Pós-Graduação em Sociologia, Universidade Estadual Paulista, São Paulo, 2011. p. 77.
Sobre a coleção “Biblioteca de Ciências Sociais” publicada pela Martins: Cf. A NOTÍCIA, Joinville, 26 de
julho de 1940, capa; DIÁRIO DA NOITE, Rio de Janeiro, 29 de março de 1944, p. 2; VAMOS LER!, Rio de
Janeiro, 25 de fevereiro de 1943, p. 20.
218
Gonçalves, 1945; Volume VI. Estudos de ecologia humana, org. por Donald
Pierson, v. I das apostilas traduzidas por vários alunos, 1948; Volume VII. O homem
marginal, Everest V Stonequist, da Universidade de Virgínia, traduzido por
Asdrubal Mendes Gonçalves, 1948; Volumes VIII e IX. Folkways, de William
Graham Sumner da Yale University (em 2 vs.), traduzido por Lavínia Costa Villela,
1950; Volume X. Princípios de criminologia, de Edwin H. Sutherland, da Indiana
University, traduzido por Asdrubal Mendes Gonçalves, 1949; Volume XI. Estudos
de organização social, org. por Donald Pierson, v. II das apostilas, traduzido por
vários alunos, 1949; Volume XII. Civilização e “cultura de folk”, de Robert
Redfield, da Universidade de Chicago, traduzido por Asdrubal Mendes Gonçalves,
1949628.
Esses livros foram distribuídos pelo país a estudiosos com apoio do Departamento de
Estado dos Estados Unidos. O predomínio de autores norte-americanos também pode ser
compreendido pelo contexto da época – como já abordamos nos capítulos anteriores – em
razão da guerra e da diminuição do fluxo comercial com a Europa. Além do próprio destaque
da Escola de Chicago que naquele momento era considerada a mais avançada629.
O interesse na área é evidenciado por Glaucia Villas Bôas em A Vocação das Ciências
Sociais no Brasil630, embora o foco da pesquisa tenha sido nos trabalhos produzidos por
brasileiros, consubstancia a necessidade de compreender o campo. No prefácio da obra, José
Murilo de Carvalho comenta o aumento de produção nos anos de JK que, para ele, foi “um
momento de explosão de criatividade”631, que pode ter sido reflexo da efervescência nos
estudos sociais no país. Nessa linha, destacaram Carlos Guilherme da Mota632 e Ângela de
Castro Gomes633 que “a academia vivia a juventude de seus vinte e poucos anos e era muito
628
GUIMARÃES, op. cit., 2011, p. 78.
629
Sobre a Escola de Chicago e sua relação com a sociologia no Rio de Janeiro, ver: BECKER, Howard. A
escola de Chicago. Mana, Rio de Janeiro, v. 2, n. 2, p. 177-188, out. 1996; MENDOZA, Edgar S. G. Donald
Pierson e a escola sociológica de Chicago no Brasil: os estudos urbanos na cidade de São Paulo (1935-1950).
Sociologias, Porto Alegre, v. 7, n. 14, p. 440-470, jun./dez. 2005. Disponível em:
<file:///C:/Users/User/Downloads/5554-17707-1-PB.pdf>.
630
VILLAS BÔAS, Glaucia. A vocação das Ciências Sociais no Brasil: um estudo da sua produção em livros do
acervo da Biblioteca Nacional, 1945-1966. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2007.
631
CARVALHO, José Murilo. Prefácio. In: VILLAS BÔAS, Glaucia. A vocação das Ciências Sociais no Brasil:
um estudo da sua produção em livros do acervo da Biblioteca Nacional, 1945-1966. Rio de Janeiro:
Fundação Biblioteca Nacional, 2007. p. 17.
632
MOTA, Carlos Guilherme. Ideologia da cultura brasileira, 1933-1974. 3. ed. São Paulo: Ática, 1977. Neste
mesmo livro, ele comenta entre 1964 e 1969 houve uma grande abertura para as Ciências Sociais.
633
GOMES, Ângela de Castro. Política: História, Ciência e Cultura etc. Revista Estudos Históricos, Rio de
Janeiro, v. 9, n. 17, p. 59-84, 1996. Disponível em: <http://cpdoc.fgv.br/producao_intelectual/arq/542.pdf>.
Acesso: 05 mar. 2017.
219
recente o interesse dos cientistas sociais em construir análises sobre a estrutura do poder
nacional.”634
As considerações de Lúcia Lippi635 e de Segatto e Bariani636 nos conduzem à
percepção de que entre os anos 1950 e 1960637 havia um processo de cientificidade das
“Ciências Sociais” no Brasil no qual se procedia a formação de um corpus que buscava
legitimar a área. Assim, poderíamos considerar que os livros publicados por Zahar Editores
contribuíram para a inserção do pensamento de diferentes escolas sociológicas no país, como,
por exemplo, a Escola de Chicago. Esses livros formavam uma bibliografia. Florestan
Fernandes638 indica três épocas de desenvolvimento da reflexão social no Brasil, sendo que a
terceira e mais importante teve o cerne nos anos 1950.
Dentro do contexto das Ciências Sociais, e, principalmente no Rio de Janeiro, não há
que deixar de considerar o Instituto Superior para Estudos Brasileiros (ISEB) criado pelo
Decreto nº 37.608, de 14 de julho de 1955639, como órgão do Ministério da Educação e
Cultura. Instituído ainda no governo Café Filho, iniciou suas atividades com Juscelino
Kubitschek “quando o país acelerava a sua industrialização, com a ampliação dos
investimentos privados nacionais e estrangeiros, além do investimento estatal”640.
634
GOMES, Ângela de Castro. O populismo e as ciências sociais no Brasil: notas sobre a trajetória de um
conceito. Tempo, Rio de Janeiro, v. 1, n. 2, p. 32, 1996. Disponível em:
<http://www.historia.uff.br/tempo/artigos_dossie/artg2-2.pdf>. Acesso: 05 mar. 2017.
635
OLIVEIRA, Lúcia Lippi de. As Ciências Sociais no Rio de Janeiro. In:______. (Org.). História das Ciências
Sociais no Brasil. São Paulo: Sumaré; FAPESP, 1995. P. 234-307. v. 2 (Ciências Sociais no Brasil).
636
SEGATOO, op. cit.
637
Sobre a Ciências Sociais neste período ver também: FIGUEIREDO, Marcus Faria. O financiamento das
Ciências Sociais. A estratégia de Fomento da Fundação Ford e da Finep: 1966-1985. BIB, Rio de Janeiro, n.
26, p. 38-55, 2. Sem. 1988. O artigo também cita (também usada por outros) uma fonte: José Murilo de
Carvalho e Maria Soares. ‘O Financiamento das Sociais’, Relatório da Comissão de Pós-Graduação da
Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais – Anpocs, outubro de 1986.
Infelizmente não localizamos o texto nem mesmo com o professor José Murilo e na secretaria da Anpocs.
638
FERNANDES, Florestan. A Etnologia e a Sociologia no Brasil: ensaios sobre aspectos da formação e do
desenvolvimento das ciências sociais na sociedade brasileira. São Paulo: Anhambi, 1958.
639
BRASIL. Decreto n. 37.608, de 14 de julho de 1955. Institui no Ministério da Educação e Cultura um curso
de altos estudos sociais e políticos, denominado Instituto Superior de Estudos Brasileiros, dispõe sobre o seu
funcionamento e dá outras providências. Diário Oficial da República dos Estados Unidos do Brasil. Poder
Executivo, Rio de Janeiro, 15 jul. 1955. Seção 1, p. 13641-13642.
640
ABREU, Alzira Alves de. O ISEB e o desenvolvimentismo. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, s.d.
Disponível em: http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/JK/artigos/Economia/ISEB. Sobre o ISEB não caberia
uma discussão pormenorizada aqui, pois além já ter sido feito, não teríamos nada além a acrescentar. Os
trabalhos a seguir foram importantes para nossa compreensão do tema: MARTINI, Renato Ramos. Os
intelectuais do ISEB, Cultura e Educação nos anos cinquenta e sessenta. Aurora, São Paulo, v. 3, n. 5, p. 56-
220
644
Confere: MAIO, Marcos Chor. O Projeto UNESCO e a agenda das Ciências Sociais no Brasil dos anos 40 e
50. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 14, n. 41, p. 141-158, out. 1999. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-69091999000300009>. Acesso: 27 fev.
2017. PEREIRA, Cláudio Luiz; SANSONE, Livio (Org.). Projeto UNESCO no Brasil: textos críticos.
Salvador: EDUFBA, 2007. Disponível em: <http://biblioteca.clacso.edu.ar/Brasil/ceao-
ufba/20130403104247/projeto.pdf>. Acesso em: 27 fev. 2018.
645
O GLOBO, Rio de Janeiro, 11 de novembro de 1957. p. 11. Ver também O GLOBO, Rio de Janeiro, 19 de
julho de 1957, p. 5.
221
646
O GLOBO, Rio de Janeiro, 11 de novembro de 1957. p. 11.
647
ALMEIDA, Maria Hermínia Tavares de. Castelos de Areia: dilemas da institucionalização das Ciências
Sociais no Rio de Janeiro (1930-1964). BIB, Rio de Janeiro, n. 24. p. 41-60, 2. Sem. 1987. Disponível em:
<https://www.anpocs.com/index.php/universo/acervo/biblioteca/periodicos/bib/bib-24/393-castelos-na-areia-
dilemas-da-institucionalizacao-das-ciencias-sociais-no-rio-de-janeiro-1930-1964/file>. Acesso em: 01 jul.
2015.
648
SEGATOO, José; BARIANI, Edison. As Ciências Sociais no Brasil: trajetória, história e institucionalização.
Revista da Faculdade de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,
volume 7, n. 25, Julho de 2010, p. 201-213.
649
FERNANDES, Florestan. Novos empreendimentos editoriais. Estado de São Paulo, São Paulo, 7 de julho de
1962, p. 8, suplemento literário.
222
Em nosso comércio livreiro, nos últimos anos, a posição de alguns gêneros outrora
considerados ‘ingratos’ se alterou bastante. A ampliação do público ledor de
Ciências Sociais e Economia, por exemplo, ultrapassou a toda expectativa. Os livros
sobre Psicologia se firmaram nos últimos cinco anos, e hoje têm público certo. E é
apenas de 1951 o aparecimento de seções especializadas em Teatro e Cinema numa
de nossas livrarias, agora encontradiças em quase todas elas 650.
Para compreender a questão, Pierre convidou Nilo Mendes, da Livraria LER, e Carlos
Ribeiro, da Livraria São José, o primeiro para falar dos livros científicos e o segundo sobre os
de ficção. Com uma experiência de mais de vinte anos como livreiro, Nilo atribui o interesse
por Economia e Ciências Sociais ao desenvolvimento geral do País. Ele próprio se dizia um
entusiasta do progresso e afirmou que “livros desenvolvimentistas” têm a sua promoção
espontânea. Em sua opinião
[...] a criação dos cursos do DASP, na Fundação Getúlio Vargas, no Conselho
Nacional de Economia, em tantos outros órgãos fomentou muito o estudo das
Ciências Sociais. O aparecimento das universidades, por outro lado desenvolveu
bastante o ensino superior, consumidor seguro de livros especializados. Por fim, a
sindicalização crescente no Brasil fez surgir um interesse novo pelo estudo de
Direito, principalmente do ramo ligado à Previdência Social e à Justiça do Trabalho.
A tudo isso se junte o desenvolvimento da técnica entre nós, com a industrialização
acelerada do País. Técnicos necessitam de livros técnicos. Onde, que há 20 anos
atrás, havia dessa necessidade no Brasil?651
Sobre o interesse por livros de Economia citado por Nilo Mendes, é necessário aduzir
que dentro deste contexto, no ano de 1959, foi publicada a tradução de Teoria Econômica, de
Alfred William Stonier e Douglas Chalmers652. O lançamento deste livro foi muito comentado
como um marco entre as publicações da área de economia da Zahar Editores, e a repercussão
dele na impressa foi muito grande, com inúmeras menções ao longo de suas seis edições até
1970. Nesse ínterim a obra havia entrado para o rol de literatura básica da economia nos
cursos universitários, passando a ser mencionado como “um manual clássico de economia,
adotado na quase totalidade das Faculdades de Ciências Econômicas do País”653.
Em junho de 1960 a Zahar Editores lançou uma nova coleção, os “Manuais de
Economia Cambridge”654 (Cambridge Economic Handbooks655) que já gozavam de sucesso
650
CORREIO DA MANHÃ, Rio de Janeiro, 30 de junho de 1960. p. 2.
651
CORREIO DA MANHÃ, Rio de Janeiro, 30 de junho de 1960, p. 2.
652
STONIER, Alfred William; HAGUE, Douglas Chalmers. Teoria econômica. Tradução Cássio Fonseca e
Otávio Golveia de Bulhões. Prefácio Cássio Fonseca. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1959. (Biblioteca de
Ciências Sociais).
653
JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 28 de abril de 1965, p. 2; JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 4
de julho de 1965, p. 6; JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 17 de junho de 1967, p. 12
654
CORREIO DA MANHÃ, Rio de Janeiro, 30 de junho de 1960, p. 2.
223
entre os economistas na Europa e nos Estados Unidos, pois eram considerados uma
introdução objetiva ao pensamento econômico moderno656, destinado a professores e
estudantes. O primeiro volume foi A moeda657, de Dennis Holme Robertson. Lançada na
Inglaterra um ano antes, a obra logrou consagração porque apresentava uma proposta de
“exposição em termos didáticos sobre o significado e posição da moeda na economia dos
povos, apreciados os diversos aspectos da política financeira antiga e moderna”658. Além de
marcar o início da uma coleção, também foi o princípio da parceria de Jorge Zahar com o
tradutor carioca Waltensir Dutra que viria a se tornar o mais profícuo do grupo de
profissionais desta categoria, chegando a traduzir três livros por mês.
Para Daniel Pécaut foi justamente na década de 1960 que acredita que a “politização
invade a maioria das universidades, e mesmo a sua vida cotidiana. Os estudantes,
principalmente os de ciências sociais, mas também os de outras disciplinas, insurgem-se
contra tudo que se relacione à ciência burguesa”659, talvez por isso os jornais da época
comentavam frequentemente o interesse cada vez maior para livros de Economia e Ciências
Sociais.
A partir do que localizamos também nos periódicos entre 1959 e 1960 houve muita
ênfase às publicações de livros de economia que estavam saindo dos prelos. Por exemplo, o
economista Omer Mont’Alegre660 fez uma análise chamada “Editores e livros de Economia”,
655
Em razão da expansão do mercado de livro universitário, naquele momento havia uma discussão acerca do
“textbooks”. Questão que parecia mais nevrálgica gira em torno do livro como instrumento de ensino, ou de
manuais elaborados a partir de seleções arbitrárias. Infelizmente a literatura sobre este assunto sob o viés do
ensino universitário. Apesar de pertencer a uma linha ideológica, vale a leitura crítica do documento:
BARNETT, Stanley A.; PIGGFORD, Roland R. Manual on Book and Library Activities in Developing
Countries. Washington, D. C., 1969.
656
DIÁRIO DE NOTÍCIAS, Rio de Janeiro, 17 de julho de 1960, p. 3. Ver também: DIÁRIO DO PARANÁ, 2
de julho de 1960, p. 20; DIÁRIO DE NATAL, 3 de agosto de 1960, p. 2.
657
ROBERTSON, Dennis Holme. Moeda. Tradução Waltensir Dutra e Ferreira de Castro. Revisão Cássio
Fonseca. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1960. (Manuais de Economia Cambridge). Outros dados: Impresso
pela Edipe Artes Gráficas. Título original: Money e traduzido da edição publicada em 1959 por James Nisbet
& Co. Ltd., Cambridge, 1959.
658
O OBSERVADOR ECONÔMICO E FINANCEIRO, Rio de Janeiro, n. 295, setembro de 1960, p. 45.
659
PÉCAUT, Daniel. Os intelectuais e a política no Brasil: entre o povo e a nação. Tradução de Maria Júlia
Goldwasser. São Paulo: Ática, 1990. p. 249.
660
É possível encontrar referências sobre o economista em: LUCA, Tania Regina de. O jornal literário Dom
Casmurro e a condição do Intelectual. In: ENGEL, Magali Gouveia; SOUZA, Flavia Fernandes;
GUERELLUS, Natália de Santana (Org.). Os intelectuais e a imprensa. Rio de Janeiro: Mauad X; Faperj,
2015. p. 159-185.
224
publicada no Jornal do Brasil de 12 de agosto de 1960661. No texto ele asseverou que “até
pouco tempo os livros de economia no mercado nacional alinhavam-se paralelamente aos de
poesia: somente eram editados e distribuídos graças ao empenho pessoal dos autores”. Com
isso, restavam os livros estrangeiros cujo acesso “era privilégio dos que estavam em
condições de ler num outro idioma que não o português”. Todavia, aos poucos, segundo
Mont’Alegre, o cenário foi mudando, pois passou a haver um maior interesse do público pelos
problemas econômicos e, com a “melhora do ensino de nível universitário, os editores
reconheceram que os livros de economia haviam entrado na faixa comercial”. Graças a isso,
de acordo com o economista, “surgiram várias iniciativas de séries sistemáticas, sejam de
estudos, ensaios ou mesmo de vulgarização. É rara a semana em que, entrando numa livraria,
não encontremos um título novo, em volume de boa apresentação gráfica”. Nesse rol, ele cita
como a “iniciativa mais importante” o lançamento dos Manuais de Economia Cambridge, da
Zahar. Por fim, menciona que “foi a AGIR, praticamente, quem realizou o trabalho de
balizamento do mercado, sendo hoje seguida por várias empresas, das quais merecem especial
destaque [...] Zahar Editores e Fundo de Cultura”662.
Três matérias publicadas pel’O Globo entre os meses de outubro e novembro
igualmente indicam um “surto de edições de livros especializados em assuntos econômicos
havido no Brasil nos últimos três anos”663. Assim como o texto de Mont’Alegre, o jornal
ainda mencionou que as traduções promovidas pelas duas editoras “democratizaram a cultura
econômica entre nós”664.
Como já expusemos aqui, não obstante desde os anos 1930 fossem sensíveis algumas
mudanças com meta na expansão no ensino superior, a conjuntura que buscamos compreender
situa-se a partir de 1964 pelas relações que houve com a produção do livro no Brasil.
Objetivamente podemos inferir sobre como algumas ações do Estado que visavam as
universidades impactaram a Zahar Editores. Porém, há casos em que localizamos dados mais
concretos – como, por exemplo, livros da editora com carimbos da Comissão do Livro
661
MONT’ALEGRE, Omer. Editores e livros de economia. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 12 de agosto de
1960, p. 3.
662
MONT’ALEGRE, op. cit.
663
O GLOBO, Rio de Janeiro, 30 de outubro de 1961, p. 8.
664
O GLOBO, Rio de Janeiro, 8 de novembro de outubro de 1961, p. 8.
225
Técnico e do Livro Didático (COLTED)665 – por causa dos quais nos perguntamos: que
contexto foi esse dos anos 1960? Quais os imbricamentos que surgiram, ao menos
oficialmente, entre o MEC e SNEL? Não será necessário um aprofundamento nesses assuntos,
pois há pesquisas bastante consistentes666 sobre os temas que circundam as universidades no
período. Por essa razão, vamos perpassar apenas por questões pontuais.
Para além de dados estatísticos sobre o aumento e/ou aparecimento de cursos de nível
superior – já tão debatido por outros autores667 – o que nos interessa diretamente no escopo
desta tese são dois pontos: primeiro, a evidencia de que, devido à expansão do ensino
superior, nos anos 1960 houve um aumento do número de compradores potenciais do tipo de
livro publicado pela Zahar Editores e, segundo, que atrelados a esse movimento houve
políticas públicas em âmbito federal que buscaram facilitar e financiar produção e distribuição
de livros para as bibliotecas universitárias. Por essa razão, afirmar algo além disto seria abusar
do exercício da inferência sobre nosso objeto de pesquisa. Ademais, faltam dados específicos
sobre a publicação de livros técnicos e científicos neste período668.
Hallewell fez uma relação (Tabela 8) que buscou demonstrar, através do número de
matriculados na graduação e pós-graduação, uma justificativa para o aparecimento de
algumas editoras, mas, sobretudo, para o crescimento de outras nos anos 1960. Ele ponderou
que, no início do governo de Juscelino Kubitschek, houve um aumento significativo de
estudantes matriculados. As universidades federais passariam de uma única, em 1945, “para
toda uma rede de instituições financiadas pelo poder central; até mesmo a universidade
665
Afim de conjugar com o fluxo das publicações da Zahar Editores, optamos por voltar ao tema no Capítulo 4.
666
Como exemplo, cabe citar os trabalhos de BRAGANÇA, Aníbal. As políticas públicas para o livro e a leitura
no Brasil: O Instituto Nacional do Livro (1937-1967). Matrizes, São Paulo, v. 2, n. 2, p. 221-246, 1. sem.
2009. Disponível em: <http://www.scielo.org.ar/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1851-
17402015000100006>. Acesso em: 20 out. 2015. LABANCA, Gabriel Costa. Dos anos dourados às Edições
de Ouro: a Tecnoprint e o livro de bolso no Brasil (1939-1970). 2009. 202 f. Dissertação (Mestrado em
História Política) - Programa de Pós-Graduação em História, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio
de Janeiro, 2009. GALUCIO, Andréa Lemos Xavier. Civilização brasileira e brasiliense: trajetórias
editoriais, empresários e militância política. 2009. 316f. Tese (Doutorado em História Social). Universidade
Federal Fluminense, 2009. Disponível em: < http://www.historia.uff.br/stricto/td/930.pdf>. Acesso em: 06
jul. 2015.
667
CUNHA, Luiz Antônio. A universidade reformada. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1988. CUNHA, Luiz
Antônio. A universidade crítica: o ensino superior na república populista. 3. ed. São Paulo: UNESP, 2007.
ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. História da educação no Brasil (1930-1973). Petrópolis, RJ: Vozes,
1986.
668
De modo geral alguns livros, teses e artigos que pesquisados analisam tabelas com dados estatísticos a partir
daqueles que foram publicadas por Laurence Hallewell.
226
estadual da pequena Paraíba foi federalizada”669. No entanto, sem indicar regiões e cursos,
Hallewell apresenta a tabela abaixo:
669
HALLEWELL, op. cit., 2012, p. 373.
670
GOMES, Ângela de Castro. Política: História, Ciência e Cultura etc. Revista Estudos Históricos, Rio de
Janeiro, v. 9, n. 17, p. 60, 1996. Disponível em: <http://cpdoc.fgv.br/producao_intelectual/arq/542.pdf>.
Acesso: 05 mar. 2017.
227
matrículas era de 65%”671. As universidades, “no sentido estrito, passaram de cinco, em 1945,
para 37, em 1964. O número de estabelecimentos isolados subiu de 293 para 564, nesse
período”672, ou seja, já havia uma expansão do ensino superior bem antes da reforma
universitária. O quadro abaixo (Quadro 11) foi organizada a partir de Cunha com o objetivo
evidenciar sua fala. Em destaque estão as instituições no Rio de Janeiro. Esses dados nos
ajudam a pensar que pelo menos nos dez anos da Zahar Editores foram vividos no bojo do
crescimento das universidades no Brasil, como veremos adiante.
novas tendências, mas eram instituições atrasadas, planejadas para outra época quando a
demanda era por pequenos magotes de bacharéis”673.
Para as áreas que seriam alvo da Zahar Editores, Otaíza de Oliveira Romanelli também
sinaliza para aumento de número de matriculados a partir de 1960, o que, ainda segundo a
autora, começou a demandar ações governamentais para estudar planos do ensino superior e
resolver um problema que, na ocasião, incomodava que era o número de excedentes 674. Nesse
sentido, em 1960675, último ano do governo do presidente Juscelino Kubitschek, “foi criado
um Grupo de Trabalho para tratar da indústria do livro no interior do Conselho de
Desenvolvimento”. Dentre as funções deste grupo estava “estudar medidas econômico-
financeiras de ordem comercial, cambial, fiscal e creditícia no sentido de desenvolver um
programa de incentivo à publicação de “obras de caráter científico, didático, técnico e
artístico”676. Todavia, essa medida foi “tomada muito no final do mandato presidencial. Sua
continuidade dependeria do interesse do grupo político sucessor. Apesar disso, o grupo de
trabalho ainda se reuniu pelo menos duas vezes durante o ano de 1960”677.
No ano seguinte seria decretada a Lei nº 4024, de 20 de dezembro de 1961678, mas
conhecida como “Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional”. Essa lei foi prevista pela
Constituição de 1946679, mas sua promulgação só aconteceu 15 anos depois para fixar as
diretrizes e bases para a educação nacional, que apesar de ser mais analisa pelo viés das
mudanças que operou nos níveis primário e médio, contemplava também o nível superior.
673
SÁ MOTTA, Rodrigo Patto. As universidades e o Regime Militar: cultura política brasileira e modernização
autoritária. Rio de Janeiro: Zahar, 2014. p. 66.
674
ROMANELLI, op. cit.
675
Como mencionamos na Introdução desta tese, optamos por razões metodológicas reservar para este parte do
capítulo uma breve discussão que envolve a reforma universitária, Acordo MEC/SNEL/USAID e a posterior
implantação da Comissão do Livro Técnico e do Livro Didático (COLTED), pois todas as essas “ações”
tiveram impacto considerável nas Universidades Brasileiras e representam ponto nevrálgico da nossa
hipótese principal, além de justificar o recorte temporal final desta pesquisa.
676
GONÇALVES, Paulo Celso Costa. Políticas públicas de livro didático: elementos para compreensão da
agenda de políticas públicas em educação no Brasil. Tese (Doutorado em Educação). 2017. 244f.
Universidade Federal de Uberlândia. Uberlândia, 2017. p. 182. O autor cita: Grupo do Livro organiza um
programa de estímulo à nossa indústria editorial. JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro. 9 out 1960, p. 11.
677
Idem.
678
BRASIL. Lei n. 4.024, de 20 de dezembro de 1961. Fixa as Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/leis/L4024.htm>. Sobre os efeitos desta lei ver
também: ROMANALLI, op. cit.
679
CUNHA, Luiz Antônio. Qual universidade? São Paulo: Cortez; Autores Associados, 1989. p. 22. (Coleção
polêmicas do nosso tempo; v. 31). p. 22.
229
680
Idem.
681
Sobre o impacto entre editores que publicavam para os níveis primário e médio: “O reflexo disso no mercado
editorial foi o lançamento de novos livros – ajustados ao novo ordenamento legal. As novas edições,
efetivamente, foram lançadas no início do ano escolar de 1963. Novamente, houve protestos contra a
substituição de livros antigos por livros novos e que teriam preço superior aos dos primeiros. Os editores por
sua vez, se defendiam alegando que apenas ofereciam livros que eram necessários de acordo com o que
regiam as normas da educação. Além disso, afirmavam que o preço do papel, entre outros, seria o
responsável pelo aumento do preço dos livros”. GONÇALVES, Paulo Celso Costa. Políticas públicas de
livro didático: elementos para compreensão da agenda de políticas públicas em educação no Brasil. Tese
(Doutorado em Educação). 2017. 244f. Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2017. p. 183. Ver
também: BRASIL. Decreto n. 50.489, de 25 de abril de 1961. Dispõe sobre o financiamento e a redução de
custo de obras didáticas e dá outras providências. Disponível:
<http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1960-1969/decreto-50489-25-abril-1961-390121-
publicacaooriginal-1-pe.html>. Acesso em: 21 dez. 2017. Este documento contempla apenas os níveis
primário e médio. BRASIL. Decreto-Lei n. 1006, de 30 de dezembro de 1938. Estabelece as condições de
produção, importação e utilização do livro didático. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1930-1939/decreto-lei-1006-30-dezembro-1938-350741-
publicacaooriginal-1-pe.html>. Acesso em: 21 dez. 2017. BRASIL. Decreto lei n. 2359, de 3 de julho de
1940.
Dispõe sobre o regime do livro didático e sobre o funcionamento da Comissão Nacional de Livro Didático no
ano de 1940. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1940-1949/decreto-lei-2359-3-
julho-1940-412294-publicacaooriginal-1-pe.html>. Acesso em: 21 dez. 2017. Não desconsideramos a
existência destes decretos, todavia, não obstante constar o livro para o nível superior, inúmeros autores da
história da educação no Brasil comentam que a atenção maior seria dada aos níveis primário e secundário,
bem como o ensino técnico. O que é compreensível diante do contexto do ensino superior entre os anos 1930
e 1940 e uma vez que sua real expansão viria entre as décadas de 1950 e 1960. Confere: ROMANELLI,
Otaíza de Oliveira. História da educação no Brasil (1930-1973). Petrópolis, RJ: Vozes, 1986. CUNHA, Luiz
Antônio. A universidade reformada. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1988. CUNHA, Luiz Antônio. A
universidade crítica: o ensino superior na república populista. 3. ed. São Paulo: UNESP, 2007;
GONÇALVES, Paulo Celso Costa. Políticas públicas de livro didático: elementos para compreensão da
agenda de políticas públicas em educação no Brasil. Tese (Doutorado em Educação). 2017. 244f.
Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2017.
682
KRAFZIK, Maria Luiza de Alcântara. Acordo MEC/ USAID – A Comissão do Livro Técnico e do Livro
Didático – COLTED (1966/1971). Dissertação (Mestrado em Educação). 151f. Universidade do Estado do
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006, p. 20.
683
CUNHA, Luiz Antônio. Qual universidade? São Paulo: Cortez; Autores Associados, 1989. (Coleção
polêmicas do nosso tempo; v. 31). ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. História da educação no Brasil (1930-
1973). Petrópolis: Vozes, 1986. Ver também: FÁVERO, Maria de Lourdes de Albuquerque. A Universidade
230
no Brasil: das origens à Reforma Universitária de 1968. Educar. Curitiba, n. 28, p. 17-36, 2006, Editora
UFPR. Disponível em:< http://www.scielo.br/pdf/er/n28/a03n28.pdf>. e FILGUEIRAS, Juliana Miranda. Os
processos de avaliação de livros didáticos no Brasil (1938-1984). 2011. 263 f. Tese (Doutorado em
educação: história, política e sociedade) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo, 2011.
Disponível em: <https://tede2.pucsp.br/bitstream/handle/10290/1/Juliana%20Miranda%20Filgueiras.pdf>.
684
“Às vésperas de 1964, a modernização estava na ordem do dia, mas que rumo deveria tomar? Os debates
sobre reformas no Brasil dos anos 1960 eram permeadas pela circulação de conceitos das ciências sociais,
sobretudo de desenvolvimento e modernização. Alguns dos modelos mais influentes vinham da academia e
das agências estatais norte-americanas, cujas teorias se pautavam pelos imperativos da Guerra Fria. Na
acepção das teorias da modernização elaboradas por cientistas sociais americanos e encampadas pelo
governo dos Estados Unidos, principalmente na gestão de Kennedy, a melhor maneira de vencer o desafio
revolucionário era modernizar os países ‘atrasados’, considerados presas fácies do inimigo comunista. E a
educação era um dos setores prioritários da pauta modernizadora, por seus efeitos multiplicadores e por
incutir valores nos jovens”. SÁ MOTTA, Rodrigo Patto. As universidades e o Regime Militar: cultura
política brasileira e modernização autoritária. Rio de Janeiro: Zahar, 2014. p. 10.
685
Confere: ALVES, Márcio Moreira. Beabá dos MEC/USAID. Rio de Janeiro: Edições Gernasa, 1968. No
prefácio Lauro de Oliveira Lima comenta que o primeiro acordo, de 23 de junho de 1965 foi assinado, mas
“as primeiras informações oficiais só vieram a furo em novembro de 1966, assim mesmo de forma
fragmentária e imprecisa. Tudo muito de acordo com o cacoete norte-americano de ‘ultraconfidencial’ que
tem dado pano para milhões de quilômetros de filmes de espionagem”.
686
ROMANELLI, op. cit.
231
Para Rodrigo Patto Sá Motta, “a fragilidade do MEC nos anos iniciais do regime
militar é inquestionável, assim como a indefinição e a falta de clareza quanto às políticas a
adotar para o ensino superior”. Ele observou que “o período entre 1964 e 1967, no que toca às
universidades, foi a fase de espera e ansiedade em relação aos rumos que o regime militar iria
adotar, se haveria ou não reforma, que natureza teria”. Já o ano de 1968 foi “o momento da
decisão, quando, em meio ao aguçamento da crise política, o comendo militar decidiu-se por
implantar definitivamente uma reforma, levando as autoridades educacionais a reboque”688.
Em 20 de junho de 1966 O Globo comentava que o Programa Aliança para o
Progresso iria destinar recursos financeiros da ordem de 35 bilhões de cruzeiros para que o
Conselho do Livro Técnico e Didático – que seria extinto meses depois para a criação da
Comissão do Livro Técnico e Didático – pudesse realizar programas e projetos de expansão
do livro escolar e do livro técnico. De acordo com um porta-voz do Gabinete do Ministro da
Educação o financiamento e outras modalidades de auxílio visavam a estimular as grandes
687
FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Acordos MEC-USAID. Disponível em:
<http://www.fgv.br/CPDOC/BUSCA/dicionarios/verbete-tematico/acordo-mec-usaid>. Acesso em: 24 maio
2016. Ver também: SÁ MOTTA, Rodrigo Patto. As universidades e o Regime Militar: cultura política
brasileira e modernização autoritária. Rio de Janeiro: Zahar, 2014. p. 113, segundo o qual: “[...] a presença da
Usaid gerou celeuma porque implicava envolvimento oficial do governo de outro país na educação brasileira,
evidentemente movido por interesses próprios, e não por filantropia”,
688
SÁ MOTTA, Rodrigo Patto. As universidades e o Regime Militar: cultura política brasileira e modernização
autoritária. Rio de Janeiro: Zahar, 2014. p. 75.
232
Estas palavras de Ted Goertzel no calor dos fatos são relevantes para
compreendermos, por exemplo, como o SNEL passaria a atuar frente aos acordos entre o
MEC e a USAID – como bem destacou Galúcio692 – e, posteriormente, na Reforma
Universitária. Cabe lembrar, como já expusemos anteriormente, a partir dos discursos
produzidos no bojo do Programa de Metas de Juscelino Kubitscheck notou-se uma constante
689
O GLOBO, Rio de Janeiro, 20 de junho de 1966. p. 6.
690
SALGADO, Gilberto Barbosa. O imaginário em Movimento. Crescimento e Expansão da Indústria Editorial
no Brasil (1960-1994). 312f. Dissertação (Mestrado em Sociologia). Instituto Universitário de Pesquisas do
Rio de Janeiro, 1994.
691
GOERTZEL, Ted. MEC-USAID: ideologia de desenvolvimento americano aplicado à educação superior
brasileira. Revista Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, v. 8, n. 14, p. 123-137, jul., 1967.
692
GALÚCIO, op. cit., 2009.
233
693
BRASIL. Decreto n. 59.355, de 4 de outubro de 1966. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1960-1969/decreto-59355-4-outubro-1966-400010-
publicacaooriginal-1-pe.html> Acesso em: 28 fev. 2018.
694
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Acordos, contratos e convênios. Brasília, 1967, p. 578.
Disponível em: <http://dominiopublico.mec.gov.br/download/texto/me000642.pdf>. Acesso em: 28 fev.
2018. Ver Também: BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Órgãos do MEC e Universidades.
<http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me001570.pdf>. Acesso em:28 fev. 2018.
695
SALGADO, Gilberto Barbosa. O imaginário em movimento: crescimento expansão da Indústria Editorial no
Brasil (1960-1994). 1994. 312f. Dissertação (Mestrado em Sociologia) – Instituto Universitário de Pesquisas
do Rio de Janeiro, 1994.
696
SALGADO, op. cit.
234
abrangente até então não instituída no país”697. Krafzik ainda observou que “os acordos como
os estabelecidos entre MEC e USAID poderiam viabilizar programas com dimensões em que
se deu a COLTED”698. Para isto também seria necessário fomentar a indústria editorial
brasileira. A COLTED beneficiou o lado industrial, pois significava que perto de nove
milhões de dólares estavam sendo investidos no setor livreiro apenas seis meses após o início
do programa. Em junho de 1967, um porta-voz da COLTED fez uma declaração dando
notícias do início da fase de distribuição às bibliotecas dos cursos superiores. Informavam que
o objetivo era dar cumprimento ao decreto que criou o órgão e seria uma ação integrada do
acordo MEC-SNEL-USAID. Assim, a partir daquele momento passariam a enviar 300 a 350
volumes para cada biblioteca de ensino superior699. Esses acordos previam a tradução e
publicação de livros-texto a serem utilizados nos cursos universitários, cujos originais eram
americanos, naturalmente.700
No entanto, não há que esquecer, estávamos sob uma ditadura militar, logo havia
monitoramento pesado e controle, muito embora, nos seus primeiros anos, tentáculos censores
não estariam tão organizados no âmbito nacional e muito menos estavam tão sistematizados
como ficariam a partir de 1969701.
Como lembrou Paulo Cesar Costa Gonçalves, no decreto de criação da COLTED
haviam desaparecido as referências à USAID e ao Programa Aliança para o Progresso. No seu
lugar mencionava-se que os recursos colocados à disposição da COLTED702 seriam “a
qualquer título por particulares ou por entidades ou agências nacionais, estrangeiras ou
internacionais”. Todavia, o mesmo autor sintetiza um cenário que observamos também pelos
jornais da época, ou seja, que esse desaparecimento da menção à USAID era simbólico e que
“havia uma desconfiança em relação da possível ingerência da agência americana nos
assuntos nacionais703.
697
KRAFZIK, Maria Luiza de Alcântara. Acordo MEC/ USAID – A Comissão do Livro Técnico e do Livro
Didático – COLTED (1966/1971). Dissertação (Mestrado em Educação). 2006. 151f. Universidade do Estado
do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006. p. 60.
698
KRAFZIK, op. cit., p. 61
699
O GLOBO, Rio de Janeiro, 26 de junho de 1967, p. 3. Ver também um panorama em DIÁRIO DE
NOTÍCIAS, Rio de Janeiro, 7 de maio de 1967, p. 9; JORNAL DO BRASIL, 25 de junho de 1967, p. 28.
(Neste há interessante comentário sobre a forma de seleção).
700
SÁ MOTTA, Rodrigo Patto. As universidades e o Regime Militar: cultura política brasileira e modernização
autoritária. Rio de Janeiro: Zahar, 2014. p. 120.
701
Confere: REIMÃO, Sandra. Censura a livros na ditadura militar brasileira: 1964-1985. Palestra realizada no
VI Encontro de Pesquisa na Graduação em Filosofia da UFSCar pela professora Profa. Dra. Sandra Reimão
(USP-EACH). Maio de 2015. 52:52. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=baeag5t54cc>.
Acesso em: 18 jan. 2018.
702
Neste mesmo período também funcionou a Fundação Nacional de Material Escolar.
703
GONÇALVES, Paulo Celso Costa. Políticas públicas de livro didático: elementos para compreensão da
agenda de políticas públicas em educação no Brasil. Tese (Doutorado em Educação). 2017. 244f.
235
Universidade Federal de Uberlândia. Uberlândia, 2017, p. 185. Também com o foco no livro didático para o
ensino primário, ver: FILGUEIRAS, Juliana Miranda. A política do livro didático na Ditadura Militar: a
avaliação da COLTED. In: SEMINÁRIO BRASILEIRO LIVRO E HISTÓRIA EDITORIAL, 2., 2009.
Anais... 2009. Disponível em:
<http://www.livroehistoriaeditorial.pro.br/ii_pdf/Juliana_Miranda_Filgueiras.pdf>. Acesso em: 25 fev. 2015.
704
CORREIO DA MANHÃ, Rio de Janeiro, 6 de outubro de 1966, p. 3. Ver também: O GLOBO, Rio de
Janeiro, 18 de julho de 1966, p. 3.
solucionar também a crise pela qual passava a universidade. O Acordo passou assim a ser chamado em razão
da série de convênios assinados entre o Ministério da Educação (MEC) e a United States Agency for
International Development (USAID) a partir do Golpe Militar de 1964. O Acordo objetivou uma reforma em
todos os níveis de ensino brasileiros, adotando-se para tanto, o modelo norte americano, especialmente no
ensino superior. Pelo papel estratégico deste nível, a reforma visava uma formação técnica mais ajustada ao
plano desenvolvimentista e econômico brasileiro, em consonância com a política norte-americana para o
país”. ARAPIRACA, José Oliveira. A USAID e a educação brasileira: um estudo a partir de uma abordagem
crítica da teoria do capital humano. 1979. Dissertação (Mestrado em Educação) – Instituto de Estudos
Avançados em Educação, Fundação Getúlio Vargas, 1979. p. 50.
706
Confere HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. 3. ed. São Paulo: EDUSP, 2012. Sobre a
sistemática de funcionamento ver também: KRAFZIK, Maria Luiza de Alcântara. Acordo MEC/ USAID: a
Comissão do Livro Técnico e do Livro Didático – COLTED (1966/1971). Dissertação (Mestrado em
Educação). 151f. Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006. Ainda sobre a realçao com
o SNEL, embora sem nada especificar sobre o ensino superior ver: GALÚCIO, Andréa Lemos Xavier.
Civilização Brasileira e Brasiliense: trajetórias editoriais, empresários e militância política. 2009. 316 f. Tese
(Doutorado em História Social) – Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ, 2009.
236
707
ALVES, Márcio Moreira. Beabá dos MEC/USAID. Prefácio Lauro de Oliveira Lima. Rio de Janeiro: Edições
Gernasa, 1968. ARAPIRACA, José Oliveira. A USAID e a educação brasileira: um estudo a partir de uma
abordagem crítica da teoria do capital humano. Mestrado em Educação. Rio de Janeiro: Instituto de Estudos
Avançados em Educação. Fundação Getúlio Vargas, 1979; JACOBS, Camila Campos. A participação da
United States Agency for International Development (USAID) na reforma da universidade brasileira na
década de 1960. Dissertação (Mestrado em Relações Internacionais). 2004. 152f. Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, 2004; SANTOMAURO, Fernando. A United States Information Agency e sua ação no
Brasil de 1963 a 1964. 2015. 334 f. Tese (Doutorado em Relações Internacionais) UNESP/UNICAMP/PUC-
SP, Programa San Tiago Dantas de Pós-Graduação em Relações Internacionais, 2015. FRANZON, Sadi. Os
acordos MEC-USAID e a reforma universitária de 1968: as garras da águia na legislação de ensino
brasileira. In: Congresso Nacional de Educação, 12., 2015. Anais... Paraná: PUCPR, 2015. p. 406-432. A
USAID foi criada pelos Estados Unidos, no quadro da Aliança para o Progresso, no contexto da Guerra Fria,
para prover assistência ao desenvolvimento no Terceiro Mundo".
708
KRAFZIK, Maria Luiza de Alcântara. Acordo MEC/ USAID: – A Comissão do Livro Técnico e do Livro
Didático – COLTED (1966/1971). Dissertação (Mestrado em Educação). 151f. Universidade do Estado do
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006, p. 64.
709
HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. 3.ed. São Paulo: EDUSP, 2012, p. 558. (Também
mencionado por Krafzik dentro do mesmo contexto).
710
HALLEWELL, op. cit., p. 558.
711
Idem.
237
mostra o quadro abaixo com dados referentes ao ano de 1967, englobando duas etapas de
distribuição712.
Além deste programa de compra de livros da COLTED, havia o de traduções
viabilizado pelos escritórios da USAID em algumas capitais do Brasil, como no Rio de
Janeiro, por exemplo713. Assim, “entre 1950 a 1963, foram traduzidos ao português livros que
contavam o progresso americano em temas como eletrônica, eletricidade, energia atômica,
desenvolvimento econômico”714. Seja como for, ainda de acordo com o mesmo autor, a
literatura é muito escassa em nosso país acerca dessa classe de livros, talvez por ser muito
mais áridos que os livros de literatura. Sem dúvida que em números absolutos e como negócio
o livro para os ensinos anteriores à graduação era muito mais vantajoso. No entanto, o
mercado para universitários não atingia apenas aqueles que estavam em curso, mas também
àqueles que concluíam os cursos e precisariam de literatura científica seja para
aprimoramento continuado, seja para aqueles que seguiam como docentes. Ademais, era o
nicho que igualmente interessaria diletantes e intelectuais715.
Sobre as traduções, o Manual de Instrução e Propaganda da UNESCO dizia que:
Enquanto em países como os Estados Unidos da América do Norte, a União
Soviética, a Grã-Bretanha, o Japão, e China Continental ou a Republica Federal da
Alemanha o número de livros lançados anualmente varia de vinte mil a oitenta mil
novos títulos, no Brasil esse número não chega a atingir quatro mil. Enquanto os
Estados Unidos e o Canadá consomem 57 por cento da produção de papel para
impressão de livros, jornais e revistas, a percentagem desse consumo, para toda a
América Latina, não chega a três por cento. Os especialistas da UNESCO
verificaram também que, em traduções de livros, o Brasil figura no grupo de paises
que menos publicam traduções. Finalmente, enquanto no Brasil são raras as edições
de livros superiores a cinco mil ou dez mil exemplares, nos Estados Unidos da
América do Norte os editores de livros em brochuras fazem edições sempre
superiores a cem mil exemplares. Os brasileiros precisam ler muito mais do que
lêem presentemente. Para tanto, é necessário que formem o hábito de ler durante a
712
Sobre todo o sistema de seleção e distribuição, ver ALVES, Márcio Moreira. Beabá dos MEC/USAID.
Prefácio Lauro de Oliveira Lima. Rio de Janeiro: Edições Gernasa, 1968. ARAPIRACA, José Oliveira. A
USAID e a educação brasileira: um estudo a partir de uma abordagem crítica da teoria do capital
humano.1979. Dissertação (Mestrado em Educação) – Instituto de Estudos Avançados em Educação,
Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, 1979; KRAFZIK, Maria Luiza de Alcântara. Acordo MEC/
USAID: a Comissão do Livro Técnico e do Livro Didático – COLTED (1966/1971). Dissertação (Mestrado
em Educação). 2006. 151 f. Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006.
713
Ver: OLIVEIRA, Laura. Publicar ou perecer: a Edição GRD, a política da tragédia e a campanha
anticomunista no Brasil (1956-1968). 330f. Tese (Doutorado em História). Universidade Federal de Goiás.
Faculdade de História, Goiânia, 2013. Foi publicado em livro, sob o título: OLIVEIRA, Laura de. Guerra
fria e política editorial: a trajetória da Edições GRD e a campanha anticomunista os Estados Unidos do
Brasil (1956-1968). Maringá: Eduem, 2015.
714
SANTOMAURO, op. cit., p. 244.
715
FILGUEIRAS, Juliana Miranda. As políticas para o livro didático durante a Ditadura Militar: a COLTED e a
FENAME. Hist. Educ, Porto Alegre, v. 19, n. 45, p. 85-102, jan./abr., 2015. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2236-34592015000100085&lng=pt&tlng=pt>.
238
Essa longa citação ilustra uma conjuntura importante que retrata que o momento era
muito favorável para a manutenção, expansão e sobrevivência de algumas editoras que
buscaram o nicho “público universitário”. É uma situação que vivem ainda hoje as editoras
que publicam para ensino médio e fundamental e que mantêm convênio com o governo
federal. Elas conseguem altíssimas tiragens e com escoamento certo. Ao que parece, isto seria
uma solução para muitos empresários se manterem no mercado.
Os emaranhados discursivos das tessituras que compõe este assunto são complexos.
Sobre eles nos reservamos esses simples comentários que objetivam, não uma análise, em
absoluto, mas apresentar esse contexto cujos indícios, conforme veremos adiante, apontam
para algum impacto na produção da Zahar Editores. Sem dúvida, deve ter havido um boom de
produção para livros paras universidades.
Não afirmamos categoricamente porque ainda há poucos dados específicos sobre tudo
que foi comprado pela COLTED, que foi subsidiado pela USAID e, sobretudo, distribuído
para as bibliotecas universitárias717. No próximo capítulo veremos evidências de que alguns
livros da Zahar Editores podem ter tido subsídios da USAID para publicação e da COLTED
para distribuição718.
Como foi possível perceber por nossa pesquisa e pela narrativa trazida até este
momento, após tantas décadas de disputas e reivindicações, pelo menos desde o início do XX,
foi justamente no auge de um período antidemocrático, castrador de ideias que os editores
tiverem melhores condições técnicas e subsídios. Poderíamos supor como uma contradição
que uma editora que recebeu apoio da USAID para publicar e alguns de seus livros foram
igualmente patrocinados e destruídos pela COLTED, anos mais tarde tivesse publicações
arroladas pelos militares como obras que não deveriam circular. Todavia, nossa observação
sobre isto nos conduz primeiro a ver algo absolutamente dentro do que o próprio Jorge Zahar
716
MANUAL DE INSTRUÇÃO PROGRAMADA DA COLTED. Como Utilizar o Livro Didático, v, l1, 1969.
p. 168 apud KRAFZIK, Maria Luiza de Alcântara Acordo MEC/USAID: a Comissão do Livro Técnico e do
Livro Didático – COLTED (1966/1971). Dissertação (Mestrado em Educação). 2006. 151 f. Universidade do
Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006. p. 61.
717
Há pouquíssimo tempo descobrimos um possível conjunto documental no INEP em Brasília produzido a
partir das listas que formaram as universidades públicas. Todavia, já hão havia mais tempo de recorrer a eles,
mas é importante ficar o registro.
718
Foi extremamente necessário deslocamos para o próximo Capítulo pois nosso objetivo é aproximar o tema ao
fluxo de publicações e ao perfil da Zahar Editores.
239
disse sobre a editora: “publicamos sobre tudo”, livros sobre o marxismo e antimarxistas. Em
segundo lugar, acreditamos na visão pragmática de industrial de Jorge Zahar e outros editores,
seus contemporâneos.
Como disse Franklin de Oliveira, numa matéria sobre “Política Editorial” no âmbito
da qual exortou a qualidade da Zahar Editores e da Fundo de Cultua, “editar é um
empreendimento industrial, um comércio. Mas não é indústria ou comercio igual aos outros. É
atividade que envolve [...] responsabilidade social”719. Ou seja, a Zahar Editores precisava
funcionar. Era um compromisso que continuasse, uma responsabilidade em manter a filosofia
que girava em torno de publicar livros de Ciências Sociais, alicerçado no lema “A Cultura a
Serviço do Progresso Social”.
719
OLIVEIRA, Franklin. Política editorial. Correio da Manhã, 7 nov. 1959, p. 6.
240
É sempre uma alegria o aparecimento de uma editora. Há poucos dias falei da volta
de Schmidt ao campo editorial. Hoje é a notícia da estréia de “Zahar Editores”, que
surgem com um programa bem definido. O primeiro livro que lançam é ‘Manual
de Sociologia’, de Jay Rummey e Joseph Maier, como abertura de uma ‘Biblioteca
de Ciências Sociais’. A editora dos irmãos Zahar abre sendas num caminho que
tem muitos leitores. Essa “Biblioteca de Ciências Sociais” vai lançar mais os
seguintes livros: “A Constituição Norte-Americana e seu significado atual”, de E. S.
Corwin; “Democracia e Direito”, de Jerome Hall; ‘História das Idéias Políticas’, de
G. Mosca; “Compêndio de Economia”, de A. W. Stonier e Douglas C. Hague. A
parte material do primeiro livro da coleção faz lembrar as edições da ‘Grove Press’,
de Nova York, o que já constitui fato digno de atenção numa editora nova 720.
Neste capítulo, nossa intenção é analisar a editora a partir de dois momentos: de 1957
a 1963 e de 1964 a 1970. O primeiro momento corresponde aos anos da primeira publicação e
a apresentação da base do seu perfil editorial. Já, o segundo momento abrange o Golpe
Militar, em 1964, com suas idiossincrasias associadas à expansão do mercado de produção de
livros, mas também de intensificação da repressão que veio, sobretudo, a partir do Ato
Institucional n. 5, em 1968, mesmo ano da implantação da Reforma Universitária. Os
mecanismos de controle dos militares passaram de uma censura regional e/ou local para uma
censura sistemática721, um aparelho do Estado. Foi neste contexto que encontramos livros da
Zahar Editores vítimas do aparelho censor. Neste conjunto, temos também o início das
atividades da COLTED (como vimos no capítulo anterior). Acreditamos que essa política do
governo pode ter significado maiores tiragens e capilarização das publicações da editora,
motivada pelo sistema compra e distribuição de livros.
Essa periodização tem um objetivo apenas metodológico, pois não foi possível
encontrar elementos para comprovar a hipótese de que houve um real impacto no fluxo de
produção da editora. O que temos são indícios que apontam para evidências de que na Zahar
Editores houve reverberações desses momentos históricos, como, por exemplo, no caso dos
livros da editora que foram arrolados em listas das Polícias Políticas.
Não obstante abrirmos alguns desses assuntos no Capítulo anterior optamos por
continuar aqui porque é necessário perceber que esses episódios, normalmente mais
valorizados, são a ponta de um iceberg. Friamente falando, tenha recebido verba da USAID
ou não, tenha publicado autores de pensamento anticomunista ou não, tenha lucrado muito ou
720
O GLOBO, Rio de Janeiro, 8 de julho de 1957, p. 7. (grifos nossos).
721
REIMÃO, Sandra. Censura a livros na ditadura militar brasileira: 1964-1985. Palestra realizada no VI
Encontro de Pesquisa na Graduação em Filosofia da UFSCar pela professora Profa. Dra. Sandra Reimão
(USP-EACH). Maio de 2015. 52:52. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=baeag5t54cc>.
Acesso em: 18 jan. 2018.
241
não, o fato é que a Zahar Editores faz parte de um conjunto de outras editoras partícipes de
mudanças importantes do pensamento nos anos 1960. E, com base no que analisamos nos
periódicos da época, poderíamos afirmar que os livros da Zahar Editores deram subsídios aos
intelectuais brasileiros a escrever livros que ajudaram o “Brasil a se pensar”.
Nesse capítulo, recuperaremos brevemente alguns conceitos sobre editores e editoras,
e traremos às discussões de pesquisadores que em algum momento incluíram Jorge Zahar
num conjunto prosopográfico, afinal ele faz parte de uma geração de editores que surgiram no
final dos anos 1950 e se consagram em 1960 e, especificamente, de um grupo que se imbuiu
da missão de imprimir para o público universitário. Nosso objetivo é consolidar alguns pontos
e, sobretudo estabelecer um elo para compreensão da Zahar Editores no rol de editoras
coetâneas.
No conjunto de casas publicadoras que visavam o público universitário Gustavo Sorá
considera que Caio Prado Jr., Ênio Silveira, Gasparian, Zahar, Jacob Guinsburg, Flávio
Aderaldo e outros editores “de 1955 a 1975 foram elementos fundamentais para a
especialização nas áreas sociais e para as primeiras gerações de sociólogos científicos e
brasileiros”722. Esse verdadeiro grupo de editores engajados com “suas publicações
procuraram contemplar as demandas do público inserido no ensino superior e dos leitores
preocupados com as tensões do presente no país e no mundo”723. Um grupo que Hallewell
caracterizou como responsáveis por “editoras progressistas na república populista”724;725
muito em razão de suas orientações políticas.
722
SORÁ, Gustavo. Tempo e distâncias na produção editorial de literatura. Mana, Rio de Janeiro, v. 3, n. 2, p.
170, 1997. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/mana/v3n2/2443.pdf>.
723
CARRIJO, Maicon Vinícius da Silva. Cientistas sociais e historiadores no mercado editorial do Brasil: a
Coleção Estudos Brasileiros da editora Paz e Terra (1974-1987). 2013. 287 f. Tese (Doutorado em História) –
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013. p. 20.
724
HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. 3. ed. São Paulo: EDUSP, 2012.
725
Flamarion Maués inclui a Zahar, Civilização Brasileira, Vozes, Brasiliense, Paz e Terra etc. no grupo que ele
considera como “editoras de oposição” porque “seu perfil e sua linha editorial claramente oposicionista, sem
que isso implicasse que suas empresas tivessem necessariamente vinculações políticas explícitas”. Todavia,
optamos por não incluir esta abordagem no texto uma vez que o autor está analisando a fase entre 1974 e
1984, um período que foge nosso foco e, sobretudo, por ser um período com características distintas no
Regime Militar. Confere: MAUÉS, Flamarion. Livros contra a ditadura: editoras de oposição no Brasil,
1974-1984. São Paulo: Publisher, 2013. Sobre as várias fases da censura aos livros, bem como sua
característica ver: REIMÃO, Sandra. Censura a livros na ditadura militar brasileira: 1964-1985. Palestra
realizada no VI Encontro de Pesquisa na Graduação em Filosofia da UFSCar pela professora Profa. Dra.
Sandra Reimão (USP-EACH). Maio de 2015. 52:52. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=baeag5t54cc>. Acesso em: 18 jan. 2018.
242
Não podemos esquecer que se somando a esse grupo, e anterior a eles, havia a
Brasiliense726; esses editores que se viam como “agentes engajados, às vezes como agitadores
culturais, com posições intelectuais e políticas declaradas” que representam uma vanguarda já
consagrada pelos meios intelectuais727. Para Gustavo Sorá, Brasiliense, Civilização Brasileira,
Paz e Terra e Zahar “representam uma vanguarda já consagrada pelos meios intelectuais como
publicadoras das linhas de pensamento dominantes” e que “nos tempos da ditadura, foram
apêndices importantes para consolidar uma autonomia relativa do campo intelectual”728.
Em 1966, no Rio de Janeiro, Enio Silveira, fundou com Moacyr Félix, a Paz e Terra e,
em 1968, sob direção de Jacó Guinsburg729, a Perspectiva, um grupo, em conjunto com Jorge
Zahar, Maicon Vinícius da Silva Carrijo considera que colaborou para uma “legitimação do
saber universitário e mobilizaram linhas especializadas dentro de uma tendência de oposição
política”730. Para Carrijo, os três são membros de uma “genealogia da história editorial
brasileira”, sucessores de Monteiro Lobato, Octalles Marcondes, José Olympio e Martins731.
Luciana Lombardo comenta que esses editores foram personagens fundamentais na
organização da cultura no Rio de Janeiro. Para ela, “a maneira como os livros são produzidos
e circulam nos anos 1960 e 1970 é organizada e mediada por editoras como a Vitória, Zahar,
Paz e Terra e Civilização Brasileira”732. Entretanto, Lombardo considera que “o lugar de
empresários como Ênio Silveira, Fernando Gasparian e Jorge Zahar [foi] um lugar
desconfortável, pois apesar das vendas altas, [arriscaram-se e sofreram] represálias que
[ameaçaram] a função que [desempenharam]”. Sobre esses três cabe lembrar também que
726
Sobre a criação dessas editoras, inexoravelmente a referência é: HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil:
sua história. 2. ed. São Paulo: EDUSP, 2005.
727
SORÁ, Gustavo. Tempo e distâncias na produção editorial de literatura. Mana, Rio de Janeiro, v. 3, n. 2, p.
170, 1997. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/mana/v3n2/2443.pdf>.
728
SORÁ, op. cit., p. 171.
729
Sobre Jacó Guinsburg: AMORIM, Sonia M.; TREMEL, Vera H. F. J. Guinsburg. São Paulo: Com-Arte,
1989. (Editando o Editor, v. 1).
730
CARRIJO, Maicon Vinícius da Silva. Cientistas sociais e historiadores no mercado editorial do Brasil: a
Coleção Estudos Brasileiros da editora Paz e Terra (1974-1987). 2013. 286 f. Tese (Doutorado em História) –
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013. p. 55.
731
CARRIJO, op. cit.
732
PEREIRA, Luciana Lombardo Costa. A lista negra dos livros vermelhos: uma análise etnográfica dos livros
apreendidos pela polícia política no Rio de Janeiro. Tese (Doutorado em Antropologia Social) – Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro, Museu Nacional, 2010. Disponível em:
<http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=174115>.
Acesso em: 14 maio 2015. Sob o viés do Estado Novo, ver também: CARNEIRO, Maria Luiza Tucci. Livros
proibidos, idéias malditas: o Deops e as minorias silenciadas. São Paulo: Estação Liberdade; Arquivo do
Estado, 1997.
243
tiveram papel significativo na divulgação de pesquisas na área das ciências humanas durante o
regime militar”733.
Por fim, à guisa de exemplo, mormente para quem vive no Rio de Janeiro, dentro
desse perfil de editoras, no momento importante para as universidades no país, com os
movimentos para a reforma universitária, Sandra Reimão nos recorda da criação em outubro
de 1967 da Livraria e Editora Diálogo, que se volta para áreas das Ciências Humanas,
igualmente com traduções. Seu objetivo era “contribuir para a transformação cultural de
Niterói e para a luta que se travava contra o regime autoritário”734. A mesma editora lançará
em 1968735, a Biblioteca Universitária Diálogo (BUD), que, de acordo com Bragança, teve
nome inspirado na Biblioteca Universal Popular, criada por Ênio Silveira, na Civilização
Brasileira.
O catálogo deste grupo representa lugar de memória736 porque configuram-se de
representações de escolhas de uma época, juntas elas estavam imbuídas de um ideário de
transformar a política e construir a nação. A seleção de autores, títulos, bem como todos
aqueles que colaboraram com a edição devem ser considerados dentro do momento de
atuação.
Esse Capítulo é muito importante porque pretendemos tentar evidenciar o projeto
editorial da Zahar Editores, ou melhor, seu perfil editorial. Entendemos que para chegar ao
projeto seriam necessários subsídios documentais dos quais não dispomos. Todavia, pelos
indícios encontrados, é possível delinear o perfil. Assim, buscaremos aqui, a partir de uma
narrativa cronológica, falar da trajetória da editora privilegiando os livros mais editados, o
projeto gráfico mais importante, os autores e o corpo de colaboradores. Nossa tese é sobre a
Editora e não sobre uma coleção específica por isso, como dissemos na introdução, faremos
uma narrativa global, buscando também compreender como o catálogo foi formado. Na
733
GOMES, Ângela de Castro. O populismo e as ciências sociais no Brasil: notas sobre a trajetória de um
conceito. Tempo, Rio de Janeiro, v. 1, n. 2, p. 6, 1996. (nota de rodapé). Disponível em:
<http://www.historia.uff.br/tempo/artigos_dossie/artg2-2.pdf>. Acesso em: 25 mar. 2017.
734
Aníbal Bragança em depoimento à Sandra Reimão. Cf. REIMÃO, Sandra; MAUÉS, Flamarion; NERY, João
Elias. Uma edição perigosa: a publicação de O Estado e a Revolução, de Lenin, às vésperas do AI-5. In:
REIMÃO, Sandra (Org.). Livros e subversão: seis estudos. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2016. p. 129.
735
Cf. JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 20 de setembro de 1968, p. 2; TRIBUNA DA IMPRENSA,
Rio de Janeiro, 23 de setembro de 1968, p. 2; CORREIO DA MANHÃ, Rio de Janeiro, 2 de novembro de
1968, p. 3; CORREIO BRAZILIENSE, Brasília, 22 de novembro de 1968, p. 24; O JORNAL, Rio de Janeiro,
30 de outubro de 1968, p. 2.
736
Consideramos o catálogo de uma editora como lugar de memória a partir da perspectiva de Gerard Namer ao
tratar o catálogo de uma biblioteca. Para o autor, as escolhas são recortes dos interesses e práticas de
gerações passadas, cristalizam no tempo e no espaço determinado pensamento, viram marcos históricos do
pensamento. Cf. NAMER, Gérard. Mémoire et société. Paris: Méridiens Klincksieck, 1987.
244
epígrafe, Antônio Olinto chama atenção para o fato de que o programa editorial era bem
definido, característica que confirmaremos adiante.
Neste subcapítulo nossa proposta é dialogar com autores que perpassaram o tema
“editor” com abordagens que se aproximam dos objetivos desta tese. Para isto, nossa
metodologia será traçar um panorama com algumas características da Zahar Editores. Esses
pesquisadores já realizaram análises em seus trabalhos e por isso não iremos nos repetir em
trilhar o caminho já percorrido com louvor.
Mas quem foi o editor Jorge Zahar e a Zahar Editora? Quais seus perfis? Quais suas
características? Assim como as demais empresas e empresários do período, com base no que
foi possível pesquisar até aqui, e diante de um contexto tão variado, não acreditamos em
identidades monolíticas, ou seja, custa-nos concordar com classificações que enquadram
editoras em grupos totalmente de esquerda ou de direita, por exemplo.
Como conceito de editora pode-se considerar o atribuído formalmente por Moacir
Lopes:
Considerando que uma empresa editora é simultaneamente um veículo de
informação, comunicação e documentação, e uma empresa de transformação
industrial, e obviamente com fins lucrativos pelo simples fato de ser uma empresa,
representa ainda uma importância social e histórica pelo tipo de informação que
transmite, contribuindo direta ou indiretamente para a manutenção do status quo da
sociedade em que atua e do momento histórico, ou alterando-o, podendo ser
responsável em maior ou menor escala pela evolução da cultura do seu país, e até, de
toda cultura do homem.738
737
BOURDIEU, Pierre. Intelectuales, política y poder. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Eudeba, 2014. p.
223.
738
LOPES, Moacir C. A situação do escritor e do livro no Brasil. Rio de Janeiro: Livraria Editora Cátedra, 1978.
p. 32. Ver também: UNWIN, Stanley. O que é uma editora. 6. ed. Tradução de José Francisco dos Santos. Rio
de Janeiro; São Paulo: Record, 1960.
245
pessoal, juízo próprio ou formação e por força do seu programa editorial, as informações que
recebem, transmitindo aquelas que julgam importantes”739. Características que mostram o
poder que editores e editoras possuem, e por isso ao longo da história os levaram a
perseguições, censuras e demais sanções cerceadoras.
Retornando às nossas considerações sobre os editores, para Nuno Medeiros, que
dialoga com as perspectivas de Bourdieu, “o editor procura [...] ter ao seu alcance formas
diversas de levar o livro ao leitor, de seduzi-lo, de lhe despertar avidez”740, ou seja, lança mão
de estratégias para vender e se manter nesse ofício carregado de aportes simbólicos, em
função do objeto do que produz, ou seja, o livro.
Entretanto, sobre a figura do editor a maior referência aqui no Brasil, sem dúvida, é a
tese Eros Pedagógico: uma história cultural do editor de livros741, de Aníbal Bragança. Neste
trabalho ele realiza uma revisão historiográfica da função do editor no Brasil desde 1808 até o
século XX e estabelece uma tipologia histórica da função editor, a saber: “impressor-editor”;
“livreiro-editor”; “empresário-editor” e “executivo-editor”. Com exceção da última categoria,
as demais chamam nossa atenção, pois convergem para algumas características que Jorge
Zahar assumiu ao longo de 1957 a 1970. Não é possível escolher apenas uma, pois a figura de
um impressor também é percebida se pensarmos a multiplicidade de atuação que teve dentro
dos três processos mais impotentes de produção do livro, ou seja: escolher, fabricar e
distribuir742.
Pascal Durant e Anthony Glinoer, em Naissance de l’editeur: l’édition à l’âge
romantique743 incluem a escolha como parte da fabricação, na sequência consideram a edição
e difusão. Veremos adiante que durante um bom tempo Jorge Zahar esteve a frente mormente
739
KNAPP, Wolfgang. O que é editora. São Paulo: Brasiliense, 1986. p. 13.
740
MEDEIROS, Nuno Miguel Ribeiro de. Acções prescritivas e estratégicas: a edição como espaço social.
Revista Crítica de Ciências Sociais, Coimbra, n. 85, p. 138, jun. 2009.
741
BRAGANÇA, Aníbal. Eros pedagógico: a função editor e a função autor. 2001. 225 f. Tese (Doutorado) –
Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2001.
Do mesmo autor, ver: BRAGANÇA, Aníbal. Sobre o editor: notas para sua história. Em Questão, Porto
Alegre, v. 11, n. 2, p. 219-237; jul./dez. 2005. Não desconsidero o já citado trabalho: SORÁ, Gustavo
Alejandro. A casa José Olympio e a instituição do livro nacional. Tese em Antropologia Social. Rio de
Janeiro. 1998. Todavia, a abordagem de Sorá já fora discutida aqui e será em outros pontos desta tese.
742
Nossa base para compreensão dessas fases foram: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Centro de Estudos e
Treinamento em Recursos Humanos. Produção de livros no Brasil. Rio de Janeiro: FGV, 1971. (Pesquisa
realizada mediante convênio entre MEC/GEIL, BNDE e FGV); KNAPP, Wolfgang. O que é editora. São
Paulo: Editora Brasiliense, 1986. p. 51. (Coleções Primeiros Passos, 176).
743
DURAND, Pascal; GLINOER, Anthony. Naissance de l’editeur: l’édition à l’âge romantique. Préface de
Hubert Nyssen. Paris; Bruxelles: Les Impressions Nouvelles, 2005.
246
das duas primeiras etapas: escolha e fabricação. Porém, ele não abandonou a figura do
“livreiro-editor”744, pois ela seria vital para as atividades editoriais. E por fim, a categoria
“empresário-editor”745 é necessária para compreender seu tirocínio nas decisões que tomou.
Acreditamos que para tornar os negócios (é sempre bom lembrar que apesar do bem
simbólico, falamos de negócios) viáveis, viu nos programas dos governos meios para garantir
sua linha editorial. Não vemos nesse ato uma opção ideológica, mas estratégica.
Neste horizonte de análise, que considera os estudos de Bourdieu, a introdução do
livro Mercadores de cultura: o mercado editorial no século XXI de John B. Thompson746
apresenta uma aproximação que nos confere mais elementos à chave de compreensão do
campo editorial. Não obstante a publicação como um todo estar dedicada ao nosso século, a
primeira seção é um preâmbulo que comenta a teoria de “campo editorial’ de Bourdieu.
Thompson pondera que há quatro razões pelas quais o conceito de campo nos ajuda a
compreender o mundo editorial, mas vamos nos deter apenas em dois:
Primeiro, ele nos permite entender imediatamente que o mundo editorial não é
único, mas uma pluralidade de mundos – ou, como direi, uma pluralidade de
campos, cada qual com suas características distintas. Assim, há o campo de
publicações comerciais, o campo de monografias acadêmicas, o campo de
publicações para o ensino superior, o campo de publicações profissionais [...]. A
segunda razão pela qual a noção de campo é útil é que nos obriga a olhar além de
firmas e organizações específicas e, em vez disso, nos faz pensar em termos
relacionais[...]747.
744
BRAGANÇA, op. cit., 2001.
745
Idem.
746
THOMPSON, John B. Introdução. In:______. Mercadores de cultura: o mercado editorial no século XXI.
Tradução: Alzira Allegro. São Paulo: Ed. Unesp, 2013. p. 7-31.
747
THOMPSON, op. cit., p. 10.
748
Sobre prosopografia nos baseamos em: STONE, Lawrence. Prosopografia. Rev. Sociol. Polit., Curitiba, v.
19, n. 39, p. 115-137, jun. 2011.Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-44782011000200009&lng=en&nrm=iso>.
247
relativamente aos principais recursos das editoras: capital econômico; capital humano; capital
social; capital intelectual e capital simbólico. Destacamos o capital humano que para o autor
“consiste do pessoal empregado pela firma e seu conhecimento, habilidades e know-how
acumulados”749. Nesse cenário pode-se considerar o aparato que Jorge Zahar construiu com o
staff de tradutores, revisores, prefaciadores, bem como a rede de livrarias parceiras que
atuaram como distribuidores, um conhecimento que trouxeram da LER. Já o capital simbólico
é o “prestígio acumulado e o status associado à editora”750. Para Thompson uma editora pode
ter sua reputação estabelecida pela qualidade e confiabilidade de seus lançamentos, ou seja, de
seu catálogo.
O catálogo será forjado pelas escolhas e decisões do editor. Este processo está repleto
de influências culturais, políticas e econômicas... e, sem dúvidas, ideológica, por mais que
alguns editores se dissessem isentos, como o próprio Jorge Zahar. Afinal, desejar publicar
sobre tudo, também pode ser interpretado como ideologia. Acreditamos que não é possível
compreender um o editor apenas como empresário, mas também como uma figura que
funciona como um mediador cultural e que “actua no campo do governo das idéias
formalizando um mundo feito de inclusão e exclusão”751, é o terreno das escolhas, dos
critérios no qual não há absolutas certezas. Ambos, editor e casa editorial, forjam um espaço
de construção de um panteão cultural, como considera Medeiros752.
Essa falta de certeza do editor no momento da escolha pode ser mitigada a partir de
sua experiência prévia, que pode contribuir para o sucesso de seu trabalho, por isso, o editor
britânico Stanley Unwin considera que a vivência anterior vendendo livros, como livreiro, é
indispensável ao editor, pois sem ela teria “grande dificuldade em avaliar tanto as
necessidades do comércio como o valor comercial dos originais que lhe venham ter às
mãos”753. Conjuga-se assim algo que poderia ser considerado a experiência em duas áreas do
Ver também a discussão feita na introdução de: FERREIRA, Tania Maria Tavares Bessone da Cruz. Palácio
de destinos cruzados: homens e livros no Rio de Janeiro, 1870-1920. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1999.
749
THOMPSON, John B. Introdução. In:______. Mercadores de cultura: o mercado editorial no século XXI.
Tradução: Alzira Allegro. São Paulo: Editora Unesp, 2013. p. 11.
750
THOMPSON, op. cit., p. 12.
751
MEDEIROS, Nuno Miguel Ribeiro de. A Edição de livros como formulação do mundo: Ideias e Casos.
Revista Brasileira de História da Mídia, Pinheiros, São Paulo, v. 4, n. 2, p. 31-42, jul./dez. 2015.
752
MEDEIROS, Nuno Miguel Ribeiro de. Notas sobre o mundo social do livro: a construção do editor e da
edição. Revista Angolana de Sociologia, Luanda, Angola, p. 37, jun. 2012.
753
UNWIN, Stanley. O que é uma editora. Tradução José Francisco dos Santos. 6. ed. Rio de Janeiro; São
Paulo: Record, 1960. p. 218.
248
circuito do livro, produção e circulação. No âmbito dessas escolhas e incertezas apontadas por
Unwin, Robert Escarpit assevera que “l’acte de publication comporte donc de grands risques.
Celui qui publie un livre ne peut prévoir avec certitude quel degré d’attention lui prêteront les
lecteurs éventuels”754.
Para Aníbal Bragança755 o risco do editor existe de fato e passa por compreender os
interesses e exigência do público. Ele recorda duas perguntas apresentadas por Escarpit: o
livro é bom? O livro é vendável?756.
A longa tradição dos Zahar conferia a eles uma compreensão do mercado, desse modo
a editora cobriria a área de livros especializados, traduzidos e direcionados para o público
acadêmico, um segmento cuja demanda só aumentava. A dinâmica com a Livraria LER pode
ter também favorecido a editora, pois com ela os Zahar estavam bem perto dos interesses de
um público que ia a livraria frequentemente em busca de livros importados e também podiam
ouvir alunos e professores em feiras de livro, por exemplo.
Conforme a epígrafe com que abrimos este capítulo, em 1957 a editora começou suas
atividades anunciando os próximos títulos que viriam a compor a Biblioteca de Ciências
Sociais (BCS). De 1957 a 1970 foram 416 títulos em 22 coleções e 54 títulos avulsos (Tabela
9), fazendo um total de 470 livros (APÊNDICE A), entre autores estrangeiros e brasileiros,
sem contar aqui as reedições e reimpressões, sobre as quais falaremos adiante.
754
ESCARPIT, Robert. La révolution du livre. 2. ed. Paris: UNESCO, 1967. p. 129.
755
BRAGANÇA, Aníbal. Eros pedagógico: a função editor e a função autor. 2001. Tese (Doutorado) - Escola de
Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2001. p. 25.
756
ESCARPIT, Robert. Sociologia da literatura. Trad. de Anabela Monteiro e Carlos Alberto Nunes. Lisboa
(Portugal): Arcádia, 1969, APUD BRAGANÇA, op. cit., 2001. p. 25.
249
757
TOLEDO, Maria Rita de Almeida. Coleção Atualidades Pedagógicas: do projeto político ao projeto editorial
(1931-1981). 2001. 338 f. Tese (Doutorado em Educação) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
São Paulo, 2001. Disponível em: <https://sapientia.pucsp.br/handle/handle/10558#preview-link0>. Acesso: 02
set. 2015. CARVALHO, Marta Maria Chagas de; TOLEDO, Maria Rita de Almeida. A coleção como
estratégia editorial de difusão de modelos pedagógicos: o caso da Biblioteca de Educação, organizada por
Lourenço Filho. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO, 3., 2003, Curitiba.
Anais... Curitiba: SBHE, 2003. Ver também: CARVALHO, Marta Maria Chagas de. Estratégias editoriais e
territorialização do campo pedagógico: um livro de Sampaio Dória sob a pena do editor da Biblioteca de
Educação. Hist. Educ., Santa Maria, RS, v. 17, n. 39, p. 39-56, jan./abr. 2013.
Não há que esquecer que Heloísa Pontes também vai analisar a ideia de coleções. Todavia, as ideias de
Oliveiro e Carvalho se afinam mais com nossos propósitos. Confere: PONTES, Heloísa. Retratos do Brasil:
Um estudo dos editores, das editoras e das “Coleções Brasilianas”, nas décadas de 1930, 40 e 50. BIB, Rio de
Janeiro, n. 26, p. 56-89, 2. sem. 1988.
758
OLIVERO, Isabelle. L’invention de la collection. Paris: L’IMEC/Maison des Sciences de L’Homme, 1999.
Ver também a apropriação que é feita a partir da pesquisa de Olivero em: GIGUÈRE, Nicholas. La collection
comme vivier: réseaxu réels et virtuels au sein de la collection ‘les poètes du jour’ (1963-1975) des éditions du
jour. 216p. Maîtrise ès arts. Univesité de Sherbooke. Départament des lettres et communications. Faculté des
lettres et sciences humaines. Sherbrooke, 2010. Disponível em:
<http://savoirs.usherbrooke.ca/handle/11143/2623>. Acesso em: 13 jan. 2017.
250
com maior acuidade o livro em mãos, ou seja, as publicações da Zahar Editores, que tivemos
a chance de averiguar individualmente forjaram nossa percepção do conjunto. A partir da
análise Olivero, Marta Maria Chagas de Carvalho e Maria Rita de Almeita Toledo chamam de
“dispositivos editoriais/tipográficos” aquilo que produz a identidade da própria coleção, ou
seja:
[...] padronização de capas, contracapas, páginas de espelho (o que chamamos aqui
de falsa página de rosto) e lombadas; uniformização da estrutura interna dos
volumes e dos mecanimos de divulgação; seleção dos textos e autores, adequada a
públicos diferenciados; configuração do ‘aparelho crítico’ (prefácios, notas, índices
remissos e onomásticos, excercícios, sumários, temários etc) que adpatam o texto,
integrando-o ao padrão da coleção. Reunidos tais dispositivos de uniformização
podruzem o seu destinatário, funcionando também como mecanismo de
classificação dos livros reunidos como coleção759.
Desse modo, Carvalho e Toledo afirmam que “uma coleção de livros é sempre produto
de uma estratégia editorial dotada de características que lhes são específicas”. Por fim, as
autoras acreditam que o conceito de estratégia de Michel de Certeau pode ser retomado ao
propor que a “edição de coleções é sempre produto de uma dupla inserção em um lugar de
poder: de um lado, a de um interesse econômico de uma casa de edição, marcada por uma
lógica que visa à ampliação do mercado editorial”760. Por outro lado, configure “uma política
cultural que deposita no livro uma missão, variável segundo os objetivos que lhe são
atribuídos por seus promotores, em situações históricas específicas”761.
Foi esse modelo de análise proposto do Olivero e apropriado por Carvalho e Toledo
que nos permitiu observar o fluxo das publicações da Zahar Editores, bem como traçar um
perfil amplo, sem nos deter especificamente numa coleção. Na falta de arquivo
administrativo, os fundamentos do paradigma indiciário nos deram subsídio para estabelecer
alguns critérios, tais como: as coleções mais citadas nos jornais, os títulos de maior
repercussão e, por fim, aqueles títulos de livros arrolados em relatórios do DOPS, pois
configuram autores que de algum modo impactaram no campo social da época.
Das 22 coleções arroladas na tabela 9, com base na produção discursiva que
localizamos em alguns jornais da época, acreditamos que algumas delas tiveram diretores e/ou
coordenadores. Todavia, não foi possível localizar seus nomes. A exceção fica para coleções
759
CARVALHO, Marta Maria Chagas de; TOLEDO, Maria Rita de Almeida. A coleção como estratégia
editorial de difusão de modelos pedagógicos: o caso da Biblioteca de Educação, organizada por Lourenço
Filho. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO, 3., 2003, Curitiba. Anais...
Curitiba: SBHE, 2003. p. 2
760
CARVALHO; TOLEDO, op. cit., p. 1.
761
Idem.
251
Teatro, dirigida por Paulo Francis, e Textos Básicos de Ciências Sociais, com seleção de
Sulamita Brito, que também assinou a introdução dos quatro únicos volumes.
A pesquisa nos periódicos mostrou que cada uma dessas coleções foi saudada e
elogiada pela impressa. As que receberam maior destaque, porém, foram a Biblioteca de
Ciências Sociais, Divulgação Cultural, Psyche e Teatro. Isto aconteceu especialmente a partir
da repercussão que alguns títulos inseridos na coleção tiveram, o que mostra que nem sempre
é a coleção a legitimar um título, mas este legitimar a coleção.
As coleções (APÊNDICE A) com maior número de publicações foram as Biblioteca
de Ciências Sociais (139) e Atualidade (55), seguidas da Divulgação Cultural (35) e Psyche
(31). Verificam-se também lançamentos de coleções anualmente, sendo que 1964 foi o mais
profícuo com três coleções. Algumas coleções, como a Biblioteca de Cultura Histórica e
Teatro, por exemplo, já eram anunciadas como compostas por um número específico de
livros. Sobre os usos das categorias “Coleção”, “Biblioteca”, “Curso”, “Iniciação” não foi
possível determinar uma lógica, a não ser para os dois últimos casos, pois neles havia a
intenção de direcionamento para auto-formação.
A tabela 10 sintetiza títulos publicados por ano, a partir do levantamento que fizemos
e as reedições e reimpressões, a partir do Livro de Registro de Publicações da Zahar Editores.
Pelos dados é possível perceber que em 1967 houve o pico de livros publicados (63),
seguidos de 1965 e 1968 (ambos com 58), períodos especialmente influenciados pelas
políticas de Estado que envolveram também a educação superior, como vimos no capítulo
anterior. Verificamos também o aumento de reimpressões entre os anos de 1967 e 1968,
períodos que, como vimos anteriormente, foram muito marcantes pelas ações da COLTED.
Maicon Carrijo lembra que foi nesse contexto “ao longo dos anos 60, especialmente a partir
da Reforma Universitária em 1968, que ampliou a atenção para pesquisa acadêmica no
Brasil”. Isto trouxe “mudanças significativas na estrutura organizacional do ensino superior”,
o que fez com que algumas editoras entrassem “na disputa pelos cada vez mais numerosos
leitores [...] universitários”762.
762
CARRIJO, Maicon Vinícius da Silva. Cientistas sociais e historiadores no mercado editorial do Brasil: a
Coleção Estudos Brasileiros da editora Paz e Terra (1974-1987). 2013. 287 f. Tese (Doutorado em História) –
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013. p. 136.
763
Aqui estão todos os livros, mesmo autores que foram publicados mais de uma vez.
253
Com objetivo de evidenciar essa distribuição entre as coleções, propomos a tabela 12.
Para otimizar retiramos dela aqueles casos de único volume; só com um país ou com apenas
três ocorrências. Por exemplo, todos os volumes de Manuais de Economia Cambridge vieram
da Inglaterra; dos Estados Unidos da América vieram seis coleções: Curso de Antropologia
Moderna; Curso de Psicologia Moderna; Curso Moderno de Filosofia; Iniciação aos Estudos
Sociais e Biblioteca de Cultura Religiosa. Já os únicos títulos de Teatro Hoje, tiveram direito
adquirido na Alemanha, e da Coleção de Etnologia Brasileira, do Brasil. Todos os títulos da
coleção Homens que fizeram época foram adquiridos na Inglaterra. Já Cinema, teve livros da
Rússia e da França. A coleção Teatro, teve 5 títulos dos Estados Unidos e 1 da Inglaterra.
254
Coleção Países
UK: 4
A Terra e o Homem EUA: 1
ND: 1
BR: 4
UK: 9
Atualidade FR: 7
EUA: 34
Alemanha: 1
BR: 1
Biblioteca de Ciências da
UK: 8
Administração
EUA: 7
FR: 2
Biblioteca de Ciências da Educação UK: 2
EUA: 2
BR: 9
UK: 50
FR: 9
EUA: 62
Alemanha: 3
Biblioteca de Ciências Sociais
Canadá: 1
Itália: 1
Espanha: 1
Rússia: 1
ND: 2
UK: 4
EUA: 6
Biblioteca de Cultura Científica
FR: 1
Rússia: 1
Fonte: o autor.
255
Coleção Países
BR: 4
Textos Básicos de Ciências Sociais
EUA: 14
BR: 2
EUA: 14
FR: 1
Psyche
Suíça: 1
Alemanha: 1
ND: 2
BR: 1
UK: 10
EUA: 12
Biblioteca de Cultura Histórica FR: 2
Itália: 2
Alemanha: 2
ND: 1
BR: 2
EUA: 19
Divulgação Cultural FR: 2
UK: 6
ND: 6
Fonte: o autor.
As tabelas anteriores (11 e 12) nos ajudam a compreender a distribuição numérica das
coleções. Por essas terem sido a maior representatividade numérica na produção da editora,
optamos por não incluir aqui os livros que foram publicados avulsos.
Ao analisarmos esses dados, a pergunta que fazemos a seguir é: quais eram as casas
publicadoras estrangeiras com que a Zahar Editores fazia negócio? A falta de informações do
arquivo atual da editora e a falta de dados nos próprios livros publicados entre 1957 e 1970
resultaram em muitas lacunas. Por essa razão decidimos apresentar a seguir, no quadro 12,
apenas uma lista com os nomes das editoras estrangeiras, sem quantificações. Se
relacionarmos este quadro (12) com a tabela 12 é possível sentir a ausência de alguns países.
Isso aconteceu porque, embora indicando no verso da folha de rosto a origem do direito
autoral, não há menção à empresa que o detinha. Entretanto, é preciso frisar que foram poucos
casos onde faltaram dados.
256
País Editora
Alfred A. Knopf
Atheneum
Beacon Press
Brookings Institution
C. E. Merrill Books
Dodd, Mead & Company
Garden City
EUA
George Allen & Unwin
Harper & Row Publishers
Mc Graw-Hill Book Company
Monthly Review Press
Prentice-Hall, Englewood Cliffs
Quadrangle Books
University of Nebraska Press
Allen and Unwin
Anthony Blond LTD
Bowes & Bowes
Cambridge University Press
English Universities Press
Faber and Faber
Heinemann
Hutchinson Educational
UK
Kegan Paul Ltd
Laurence & Wishart
London School of Economics and Political Science
Longmans Green
Methuen
Oxford University Press
Thames & Hudson
Weidenfeld & Nicolson
Librairie François Maspero S. A
Éditions de Seuil
Libraire Armand Colin
Au Petit Luxembourg
FR
Editions Scientifiques.
Delachaux et Niestlé
Payot
Editions du progrés
Fonte: o autor.
257
O quadro 12 revela a preponderância de três países que mais estão representados nos
livros editados pela Zahar: Estados Unidos da América, Inglaterra e França. Algumas editoras
tinham seus originais comercializados pela Livraria LER, como, por exemplo, a Monthly
Review Press e a ́ditions de Seuil, o que acreditamos poder indicar mais um indício da
proximidade dos Zahar com o circuito internacional do que vendiam na livraria e/ou editavam
na editora.
Wolfgang Knapp salienta que “poucos editores têm gráfica própria. As exceções que
confirmam a regra são algumas editoras com publicações periódicas e que não podem
depender da disponibilidade de gráficas de terceiros”764. Por isso, “muitas vezes com gráficas
alheias, através de contratos de longo prazo. Uma editora geralmente trabalha com várias
gráficas, com tipos de máquinas diferentes e adequadas para os diversos tipos de livros”765.
Nesse sentido, nossa pesquisa com a análise de cada um dos 470 títulos evidenciou
que a Zahar Editores estava no rol de editores que não tinham parque gráfico, mas contratava
serviços. Apesar de não constar em todos os livros, os nomes das gráficas normalmente
vinham no verso da última página ou numa folha única, e por isso, foi possível compulsá-los e
apresentar aqui766:
Edipe Artes Gráficas. Rua Conselheiro Furtado, 516, SP.
Gráfica Urupês767. Rua Cadiriri, 1161, SP.
São Paulo Editora S.A. Rua Barão de Ladário, 226, SP.
Editora Pensamento S/A. Rua Domingos Paiva, 60, SP.
Impress. SP.
Empresa Gráfica da “Revista dos Tribunais” S. A. Rua Conde de Sarzedas, 38, SP.
764
KNAPP, Wolfgang. O que é editora. São Paulo: Brasiliense, 1986. p. 63.
765
Idem.
766
Acreditamos que só uma pesquisa futura poderá dar conta de traçar relações entre essas gráficas com as
demais editoras do período e até mesmo dos seus perfis de impressão e ideológico.
767
Sobre Gráfica Urupês: “Após o golpe militar de 1964, Caio Prado afasta-se da linha de frente da Brasiliense,
passando suas atribuições ao filho, Caio Graco. Ainda assim, não tardou para que as atividades da editora
fossem duramente cerceadas: a Gráfica Urupês é invadida e fechada em abril de 1964, e os responsáveis pela
editora presos. As detenções se deram em virtude da publicação da coleção A Nova História do Brasil,
organizada pelo general reformado e historiador petebista Nelson Werneck Sodré. O alvo da invasão à gráfica
foi a composição em andamento da Revista Brasiliense, destruída e inutilizada”. PRADO JUNIOR, Caio. A
editora na ditadura: prisão e repressão. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2008. Disponível em:
<http://bndigital.bn.gov.br/projetos/expo/caioprado/pubeditadura.htm>. Acesso em: 10 mar. 2018.
258
768
Ver HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. 3. ed. São Paulo: EDUSP, 2012.
769
Ver HALLEWELL op. cit.
770
Muitas publicações que localizamos em algumas bibliotecas não tinham mais a última folha do livro o que
inviabilizou o cotejamento. Por essa razão, optamos por dados gerais para não dar uma ideia falsa do universo
a que tivemos acesso.
771
KNAPP, Wolfgang. O que é editora. São Paulo: Brasiliense, 1986. p. 79.
772
Idem.
259
Ao que tudo indica, houve um grande investimento dos Zahar para divulgação no ano
de 1966, pois encontramos três tipos de abordagens. No primeiro semestre daquele ano
começou a circular um dos primeiros anúncios que vinculariam mais fortemente a Zahar
Editores com as universidades. Todavia, o texto induz a pensarmos também que além do
público universitário propriamente dito havia a intenção de denotar que qualquer um poderia
ter a “universidade” em sua casa, bastava comprar os livros da editora, pois estes circulavam
entre aqueles que estavam nos cursos superiores (Figura 51).
Naquele mesmo primeiro semestre de 1966 seria a vez de uma campanha publicitária
que marcaria a história da livraria: “Você precisa LER” (Figura 52) foi vinculado, sobretudo
quando se tratava da venda de livros da Zahar Editores. Em ambos os casos, há que se notar a
proporção que a chamada para a editora é tomada em relação à livraria.
Em 1968 seria a vez da campanha que anunciava “Você não pode entender o mundo
moderno se não LER os autores que ZAHAR edita” (Figura 53). Uma ideia que estava
presente em inúmeros comentários nos jornais sobre qualidade e atualidade das publicações
260
que a editora vinha colocando no mercado nacional. Este anúncio também ficaria marcado
pela vinculação do slogan da editora.
Desde o início dos anos 1950 a Livraria LER já possuía uma filial em São Paulo,
Capital, conforme tratamos no capítulo 2. Talvez pelo potencial de negócios, e na
concentração do parque gráfico – não conseguimos dados para inferir sobre as razões –
262
tenham decidido por mais uma loja na cidade. Assim, em 1965 abrem uma central de
distribuição na Rua Marquês de Itu, número 298 que será o endereço para onde “livreiros e
cooperativas universitárias” deveriam mandar seus pedidos de credenciamento a fim de se
tornarem também um ponto de venda da editora773.
A Folha de São Paulo, de 30 de maio de 1968 (Quadro 11), publicou um quadro
intitulado “Festival do Livro Zahar Editores”. A editora arrolava uma lista de postos
permanentes onde mantinham exposição de sua “linha editorial”. O destaque ficava para
Livraria LER, classificada como “Distribuidores Exclusivos para todo o Brasil”. A maior
parte dos estabelecimentos era no estado de São Paulo. Transcrevemos, respeitando a forma
do periódico e organizamos a tabela a seguir para nos ajudar a compreender essa rede.
São 72 estabelecimentos, nos estados de São Paulo (59)774, Rio de Janeiro (1), Paraná
(3), Rio Grande do Sul (1), Bahia (1), Mato Grosso do Sul (1), Brasília (1), Santa Catarina
(2), Minas Gerais (4). Entre eles, estão livrarias de universidades. Esses espaços localizados
em instituições de ensino podem ter vendido livros a preços mais baixos, pois, como vimos no
capítulo 3, era uma política de COLTED para as universidades, comprar com descontos nos
editores e distribuir também pelas livrarias universitárias.
773
FOLHA DE SÃO PAULO, 30 de maio de 1968, p. 11.
774
Não seria possível tratar de cada espaço de distribuição, por isso elegemos como destaque sobretudo àquelas
ligadas à academia e na cidade de São Paulo por ser um local antigo de venda de livros da LER.
263
Como se nota, a primeira parte do quadro (Quadro 13, parte 1) lista 34 pontos de
venda só na cidade de São Paulo, três deles dentro da Cidade Universitária da USP, ligados à
universidade, mas fora do campus havia outras, como as quatro localizadas na Rua Maria
Antônia, tradicional endereço de grêmios e associações estudantis, além de ser o endereço da
Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais até, pelo menos, 1969. Um lugar absolutamente
264
favorável para venda de livros da Zahar Editores. Há que destacar a presença desta rua775,
pois ela foi um movimentado espaço de circulação de estudantes universitários na década de
1960, mas, sobretudo, um local de manifestações e disputas durante a ditadura militar.
Outro endereço arrolado na primeira parte da tabela é o Centro Acadêmico XI de
Agosto776, uma entidade estudantil da Faculdade de Direito, também da USP. Ainda ligada à
USP constam a Livraria Roca, na Faculdade de Medicina.
No rol de livrarias universitárias que também esteve envolvida com movimentação
política, além de configurar um importante espaço de circulação de universitários, está a
Livraria do Grêmio do Serviço Social que, na época, estava ligado à Faculdade Paulista de
Serviço Social, hoje um curso da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)777.
Para finalizar os exemplos, na lista, sob o número 34 consta uma unidade da Fundação
para o Livro Escolar. A Fundação para o Livro Escolar foi criada no Estado de São Paulo,
através da Lei nº 7.251, de 24 de outubro de 1962778. De acordo com o terceiro parágrafo do
artigo 2º: caberia a “venda, a preço módico, de livros de sua edição ou adquiridos, por
775
Além da Faculdade de Filosofia, Ciências Sociais e Letras da USP, também estava na mesma rua a
Universidade Presbiteriana Mackenzie. No dia 2 de outubro aconteceu o que ficou conhecida como “Batalha
da Maria Antônia”, com um enfrentamento entre estudantes de ambas as instituições, motivada por razões
políticas. Confere: HEBMULLER, Paulo. A Maria Antonia revisitada. Jornal USP, São Paulo, v. 23, n. 847,
6-12 out. 2008. Disponível: <http://www.usp.br/jorusp/arquivo/2008/jusp847/pag10.htm>. Acesso em: 17
fev. 2018; HEBMULLER, Paulo. O endereço da agitação estudantil. Jornal USP, São Paulo, v.23, n. 833, 16-
22 jun., 2008. Disponível: <http://www.usp.br/jorusp/arquivo/2008/jusp833/pag12.htm>. Acesso em: 17 fev.
2018. FOLHA DE SÃO PAULO. Batalha da Maria Antonia resultou na morte de um estudante secundarista.
30 abril 2008. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2008/04/397429-batalha-da-maria-
antonia- resultou-na-morte-de-um-estudante-secundarista.shtml>. Acesso em: 17 fev. 2018; CARVALHO,
Bruna. Batalha da Maria Antônia não é um passado que acabou. Carta Capital, 14 dez. 2013. Disponível em:
<https://www.cartacapital.com.br/cultura/batalha-da-rua-maria-antonia-nao-e-um-passado-que-acabou-
7141.html>.
Acesso em: 17 fev. 2018. PACHEDO, Deniz. Tusp expõe cicatrizes da ditadura em Maria Antonia, 45 anos da
batalha. Universidade de São Paulo, 30 set. 2013. Disponível em: http://www5.usp.br/33726/tusp- expoe-
cicatrizes-da-ditadura-em-rua-maria-antonia-45-anos-da-batalha/. Acesso em: 17 fev. 2018. TAPAJÓS, Renato
Carvalho. A Batalha da Maria Antônia. Documentário. 76 min. 2014.
776
“O Centro Acadêmico XI de Agosto é a entidade estudantil mais antiga e tradicional do País. Fundado em
1903, o XI, como é carinhosamente chamado, tem superado os limites de ser apenas um órgão representativo
dos alunos da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco: sempre foi, e ainda é, um agente ativo nas
transformações político-sociais do Brasil, agindo em prol dos interesses democráticos e dos direitos
humanos”. Disponível em: http://www.xideagosto.org.br/. Acesso em: 17 fev. 2018.
777
Confere: ABRAMIDES, Maria Beatriz Costa. Memória: 80 anos do Serviço Social no Brasil: O III CBAS,
‘O Congresso da Virada”, 1979. Serv. Soc. São Paulo, n. 128, p. 181-186, jan./abr. 2017, p. 181-186.
Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/sssoc/n128/0101-6628-sssoc-128-0181.pdf. Acesso em: 17 fev.
2018.
778
BRASIL. Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo. Lei nº 7.251, de 24 de outubro de 1962. Autoriza
o Poder Executivo a instituir a “Fundação para o Livro Escolar”, e dá outras providências. Disponível em:
https://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/1962/lei-7251-24.10.1962.html. Acesso em: 17 fev. 2018.
265
intermédio dos órgãos da Secretaria da Educação, por instituições auxiliares da escola ou pela
própria Fundação.
O quadro 13, parte 2, apresenta agrupa locais no interior do Estado de São Paulo. Seis
desses postos de venda são ligados ao Fundo do Livro Escolar. Além do Fundo, que também
vendia livros para os cursos superiores, havia a Liga Universitária Bragantina779 e
Associação Universitária de Santo Andre. Cabe observar também que cidades como Ribeirão
Preto, Sorocaba, Rio Claro, Campinas etc. também eram centros universitários importantes
naquele período. Além do ensino superior, nos casos abaixo se destacaram igualmente os
chamados Ginásios Vocacionais780 – que também aparecem no quadro 13, parte 1, sob o
número 4 – que eram espaços de formação técnica para trabalhadores desempregados.
779
BRASIL. Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo. Lei nº 8.215, de 8 de julho de 1964. Declara de
utilidade pública a Liga Universitária Bragantina, com sede em Bragança Paulista. Disponível e:m:
<https://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/1964/lei-8215-08.07.1964.html>. Acesso em: 17 fev.
2018.
780
FERREIRA, Daniela Gomes de Albuquerque. Ginásios Vocacionais do Estado de São Paulo: um lugar de
memória?. Disponível em:
<http://www2.faced.ufu.br/colubhe06/anais/arquivos/181DanielaGomes_Maurilane.pdf>. Acesso em: 17 fev.
2018. Neste trabalho a autora analisa os Ginásios Vocacionais Raul Fernandes, João XXIII, Cândido Portinari
e Embaixador Macedo Soares. Há uma bibliografia em: <http://gvive.org.br/wp-
content/uploads/2014/10/Bibliografia_Gin%C3%A1sios_Vocacionais.pdf>. Acesso em: 17 fev. 2018.
266
781
Confere: FOLHA DE SÃO PAULO, 05 de março de 1968, p. 11; 14 de março de 1968, p. 8; 19 de março de
1968, p. 11; 26 de setembro de 1969, p. 2.
268
Diálogo; Ivo Alonso Nunes Comércio de Livros, LTDA; Livraria X Arcadia Ltda e Editora
Civilização Brasileira, S. A.: Rua 7 de setembro, 97.
Maria Rita de Almeida Toledo, com uma abordagem baseada em Isabelle Olivero782,
examinou a Coleção Atualidades Pedagógicas, da Companhia Editora Nacional, no período
de 1931 a 1981783. Para isso, tomou o conceito que chamou (também a partir de Olivero) de
“aparelho crítico” de um livro, ou seja, tradutores, notas, prefácios, introdução etc. Já o
“dispositivo material” é caracterizado pelo formato, título, diagramação, capas etc.
Ao trazer essa perspectiva de análise para uma coleção, a abordagem fica mais precisa
e mais simples. Porém, nossa intenção aqui é fazer esse estudo nos pontos comuns a todas as
22 coleções da Zahar Editores, no período de 1957 a 1970. Estabelecemos recortes a partir do
amplo escopo que analisamos. Sob a perspectiva também da bibliografia material 784, ao
analisarmos cada um dos 470 livros editados, foi possível depreendermos certas
características comuns a todos eles.
A formação do catálogo da Zahar Editores deve ser analisada sob o prisma de um
período absolutamente complexo, pois se, aparentemente, os planos do que se pretendia
publicar nasceu na década de 1950, foi nos anos 1960 que se consolidaram785.
782
OLIVERO, Isabelle. L’invention de la collection. Paris: L’IMEC/Maison des Sciences de L’Homme, 1999.
783
TOLEDO, Maria Rita de Almeida. Coleção Atualidades Pedagógicas: do projeto político ao projeto editorial
(1931-1981). 2001. 338 f. Tese (Doutorado em Educação) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
São Paulo, 2001. Disponível em: <https://sapientia.pucsp.br/handle/handle/10558#preview-link0>. Acesso:
02 set. 2015;
784
Tomamos como base metodológica: BOWERS, F. T. Principles of bibliographical description. 2. ed. New
York: 1962; ESDAILE, A. J. K.. Esdaile's manual of bibliography. 4. ed. rev. London: 1967. GALBRAITH,
S.K.; SMITH, G. D. Rare book librarianship: a introduction and guide. Santa Barbara: Libraries Unlimited,
2012; ABAD, Julián Martín; GONZÁLEZ, Margarita Becedas; FRANCA, Óscar Lilao. La descripción de
impressos antiguos: análisis y aplicación de la ISBD(A). Madrid: Arco/Libros, 2008. GARCÍA AGUILAR,
Idalia Secretos del estante: elementos para la descripción bibliográfica del libro antiguo. México: UNAM,
Centro Universitario de Investigaciones Bibliotecológicas, 2011. Disponível em:
<http://132.248.242.3/~publica/archivos/libros/secretos_del_estante.pdf>. Acesso em: 15 set. 2015;
GASKELL, Philip. A New Introduction to Bibliography. New Castle, Del.: Oak Knoll, 1977.
785
“Se os anos 40 e 50 podem ser considerados como momentos de incipiência de uma sociedade de consumo,
as décadas de 60 e 70 se definem pela consolidação de um mercado de bens culturais. Existe, é claro, um
desenvolvimento diferenciado dos diversos setores ao longo desse período [...]”. ORTIZ, Renato. A moderna
tradição brasileira: cultura brasileira e indústria cultural. São Paulo: Brasiliense, 2001. p. 113.
269
Durante todo o ano de 1960 vários periódicos passariam a se ocupar com elogiosas
palavras ao perfil editorial da Zahar Editores que percebiam estar se formando.
Algumas foram emblemáticas justamente por destacarem a atuação dos irmãos, como
podemos ver na matéria intitulada Três irmãos publicada no Diário Carioca, de 2 de abril de
1960. O texto começa por comparar Lucien, Ernesto e Jorge aos personagens Nicomedes,
Nicodemos e Nicobar, porém o destaque ficará em Jorge considerado um adido cultural da
“sociedade fraterna”. O texto comenta as dificuldades que os livreiros vinham passando com
uma sazonalidade econômica muito perversa e afirma que, não obstante, os três tiveram um
ato heroico de criar uma editora. Assim lembrou que
Há pouco mais de um ano, as coisas pareciam que se tornariam pretas para os
livreiros: os preços de obras importadas e o preço do papel, para as obras feitas aqui,
poderiam provocar uma crise. A previdência da praça foi naturalmente reduzir em
muito as encomendas estrangeiras, centralizando as vendas em alguns títulos
nacionais de boa saída e em traduções de sucesso. Financeiramente, as livrarias
aguentaram-se. Mas o Jorge não estava satisfeito, porque os melhores fregueses
procuravam as novidades culturais e não as encontravam [...] 786.
786
DIÁRIO CARIOCA, Rio de Janeiro, 2 de abril de 1960, p. 6.
787
Idem.
788
Idem.
270
789
JORNAL DO DIA, Porto Alegre, 12 de julho de 1960, p. 4
790
GENETTE, Gérard. Paratextos editorias. Tradução de Álvaro Faleiros. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2009. p.
26. (Artes do Livro, 7).
791
Para uma análise mais aprofundada do histórico da construção desta logomarca, ver: PIRES, Paulo Roberto.
A marca do Z: a vida e os tempos do editor Jorge Zahar. Rio de Janeiro: Zahar, 2017.
792
Vale lembrar aqui algo que já foi mencionado na Introdução. Não é nossa intenção analisar cada variação
gráfica das coleções. Isto poderá ser feito num trabalho futuro com enfoque em uma ou mais coleções ou
avulsos. Para essa tese, tratamos de características gerais.
271
793
Esses conceitos advém: GENETTE, op. cit., 2009.
794
GENETTE, op. cit., 2009.
795
TOLEDO, op. cit., 2001, p. 151.
796
Confere: FOLHA DE SÃO PAULO, 5 de março de 1968, p. 11.
272
A outra exceção foi O Egito Antigo797 (Figura 57) de Jon Manchip White, publicado
em 1966, com formato de 24,5cm x 18,6cm, ricamente ilustrado e numa diagramação muito
diferente de todos os outros.
797
WHITE, Jon Manchip. O Egito antigo. Tradução Fernando de Castro Ferro. Rio de Janeiro: Zahar Editores,
1966. Outros dados: Impresso pela Edipe Artes Gráficas. Título original: Everyday life in ancient Egypt e
traduzido da edição publicada em 1963 por B. T. Batsford Ltd., Londres, Inglaterra.
274
No que tange à estrutura dos livros, seja nas coleções ou livros avulsos, a Zahar seguia
normalmente a mesma composição na parte externa: capa, contracapa, primeira e segunda
orelhas. Já o miolo era composto por uma falsa página de rosto799, seguido de um frontispício
que, se fosse de uma coleção, indicava seu nome. Já a página de rosto 800, em geral, era
798
Tipo de material de revestimento em substituição ao couro.
799
“Folha que precede a folha de rosto e na qual figura apenas o título abreviado da obra [...]”. FARIA, Maria
Isabel; PERICÃO, Maria da Graça. Dicionário do livro: da escrita ao livro eletrônico. São Paulo: EDUSP,
2008. p. 326.
800
“[…] nela figuram habitualmente o título da obra, o nome do autor e do editor”. FARIA; PERICÃO, op. cit.,
p. 542. Ver também: SMITH, Margaret M. The title Page: its early development, 1460-1510. London: Britsh
Library; New Castle: Oak Knoll Press, 2000.
275
monocromática, em raros casos foi usado preto e vermelho (Figura 59), sem inclusão da data
de publicação no pé de imprenta801. Os nomes do tradutor, prefaciador e demais colaboradores
constavam nesse espaço também. Segundo Toledo, a colocação institucional dos autores e
tradutores confere legitimidade e é uma estratégia de “fortalecimento do espaço [de uma
coleção] como lugar de produção e difusão dos saberes produzidos [...]”802. Essas
informações, padronizadas, além de conferirem autoridade, guiam a leitura.
Fonte: GAMOW, George. Um, dois, três... Infinito. Tradução Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 1962. (Biblioteca de Cultura Histórica).
Acervo: Fundação Biblioteca Nacional.
Outro padrão que foi adotado é o que traz as informações no verso da página de rosto
(Figura 60). Nele constava a indicação do copyright de origem, ano, a edição da qual produziu
a tradução, ano da publicação do Brasil, seus direitos originais etc. Nos primeiros números
801
“Conjunto de indicações de lugar de publicação ou de produção, nome do editor ou do reprodutor e data de
publicação ou reprodução, eventualmente do lugar de impressão e nome do impressor [...]”. FARIA;
PERICÃO, op. cit., p. 566.
802
TOLEDO, op. cit., 2001, p. 159.
276
não constam a data de edição. Apenas a partir de 1958 passaram a indicá-la abaixo dos dados
da editora, bem como no nome do capista. Este é um espaço privilegiado que ajuda a construir
a memória das edições. Existem casos no conjunto de livros publicados pela Zahar em que há
um verdadeiro memorial pelo qual é possível reconstruir sua trajetória.
Além de Erico Monte Rosa, assinaram capas dos livros da Zahar Editores, Raoul
Dufy803, em Uma nova história da música804; Santa Rosa805, em A fantasia exata: ensaios de
803
Encontramos poucas referências sobre seus trabalhos no Brasil, não temos indícios sobre a maneira como esse
trabalho aconteceu. Há uma citação a ele na tese: SANT’ANNA, Patrícia. Coleção Rhodia: arte e design de
moda nos anos sessenta no Brasil. 282f. Tese (Doutorado em História da Arte). Instituto de Filosofia e
Ciências Humanas, Universidade de Campinas, Campinas, São Paulo, 2010.
804
CARPEAUX, Otto Maria. Uma nova história da música. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1958.
277
805
Ver: BUENOS, Luís. Capas de Santa Rosa. São Paulo: Sesc, São Paulo; Ateliê Editorial, 2015.
806
OLIVEIRA, Franklin. A fantasia exata: ensaios de literatura e música. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1959.
807
Ver: HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. 3. ed. São Paulo: EDUSP, 2012
808
STERNBERG, Fritz. A revolução militar e industrial do nosso tempo. Tradução Waltensir Dutra. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1959.
809
A REVOLUÇÃO DAS CAPAS. Realidade, São Paulo, v. 2, n. 13, abr. 1967.
278
que entrava na livraria sabendo o que queria. E de fato parece ser se partimos do princípio de
que a Zahar Editores, naqueles anos, vinha editando traduções preponderantemente sob
demanda. Todavia, não há como discordar de que a capa pode sim atrair outros interessados.
Desse modo, uma editora não atenderia apenas seu público certo, mas “fisgaria” a outros
também.
Essa matéria é um interessante ponto de reflexão para pensarmos sobre os
deslocamentos de objetivos da página de rosto para as capas, sobretudo sua função como
elemento de marketing e de identidade. No que concerne à página de rosto, Margaret M.
Smith, em The title page: its early development, 1460-1510810, considera que a página de
rosto, que se insere no campo da história do design de livros, é um produto em resposta a uma
produção em massa, e com finalidade de atrair, de marketing e de distinção entre os
tipógrafos. Segundo Smith a página de rosto deixa de ser um mero elemento decorativo para
ser uma identificação de promoção do livro, na qual o seu conteúdo era sintetizado – como a
matéria aponta acima. Antes de Smith, porém, Lucien Febvre e Henri-Jean Martin, no O
aparecimento do livro811, já haviam caracterizado a página de rosto como um importante
elemento de identificação e de uso comercial. Se pensarmos na função e finalidade, ao
contrário do que Richard Hendel – dentre outros autores – dirá em O designe do livro812, que
as capas de hoje são as herdeiras em função no livro do que um dia foi a página de rosto.
O argumento que Jorge Zahar usa na matéria – de que seus livros tinham público certo
e por isso não via necessidade de variar tanto nas capas – poderia ser visto à luz das
considerações de Olivero813 acerca de uma das estratégias que os editores adotam ao optar por
publicar coleções. De acordo com a autora, as coleções permitem aos editores o uso
padronizado da arte gráfica e os leitores ficam presos aos títulos advir. Eles ficam conectados
e à espera de novos lançamentos. O argumento pode ser válido, como dissemos acima, para a
manutenção do público, mas pode dificultar a inserção de novos leitores, sobretudo se
810
SMITH, Margaret. The title page: its early development, 1460-1510. London: The British Library, 2000. Ver
também: EMMONS, Paul; TECH, Virginia. Architectural Encounters between Idea and Material
The 1547 Frontispiece of Walther Hermann Ryff. Association of collegiate shools of architecture. 2005.
Disponível em:
<http://apps.acsaarch.org/resources/proceedings/indexsearch.aspx?txtKeyword1=%22Emmons%2C+Paul%22
&ddField1=1&sort=1>. Acesso: 12 dez. 2017.
811
FEBVRE, Lucien; MARTIN, Henri-Jean. O aparecimento do livro. São Paulo: Edusp, 2017.
812
HENDEL, Richard. O design do livro. Tradução Geraldo Gerson de Souza e Lúcio Manfredi. São Paulo:
Ateliê Editorial, 2003. (Artes do Livro; 1)
813
OLIVERO, Isabelle. L’invention de la collection. Paris: L’IMEC/Maison des Sciences de L’Homme, 1999.
279
814
Não estão nela aqueles que só traduziram um ou duas obras, mas seus nomes poderão ser visualizados na lista
em Anexo. Poucos foram aqueles em que localizamos alguma informação biográfica, o que nos leva a
constatar a
necessidade urgente de pesquisas sobre esses atores sociais que tanto quanto autores e editores contribuíram
para a circulação de ideias no país. Seguem informações daqueles que conseguimos localizar alguma fonte:
sobre Waltensir Dutra e Octávio Alves Velho, ver: PIRES, Paulo Roberto. A Marca do Z: a vida e os tempos
do editor Jorge Zahar. Rio de Janeiro: Zahar, 2017. Sobre Álvaro Cabral, ver: DICIONÁRIO DE
TRADUTORES LITERÁRIOS DO BRASIL. Disponível em:
<http://www.dicionariodetradutores.ufsc.br/pt/AlvaroCabral.htm>. Acesso em: 17 fev. 2018. Sobre a Bárbara
Heliodora: ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL. Disponível em:
<http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa8215/barbara-heliodora>. Acesso em: 17 fev. 2018. Sobre Geir
Campos: CAMPOS, Geir. Carta aos livreiros do Brasil. [Publicado originalmente na revista Estudos Sociais, v.
3, n. 9, p. 12-40, out. 1969]. In: BRAGANÇA, Aníbal; SANTOS, Maria Lizete dos. A profissão do poeta: 13
ensaios e depoimentos em homenagem a Geir Campos & Cartas aos livreiros do Brasil, poemas e outros textos
inéditos de Geir Campos. Niterói, RJ: Imprensa Oficial do Estado do Rio de Janeiro, 2002. Sobre Helio
Pólvora: ACADEMIA DE LETRAS DA BAHIA. Disponível em:
<https://academiadeletrasdabahia.wordpress.com/2007/04/28/helio-polvora/>. Acesso em: 17 fev. 2018.
815
CORREIO DA MANHÃ, Rio de Janeiro, 4 de julho de 1964, p. 8.
816
STONIER, Alfred William. Teoria da economia. Tradução Cássio Fonseca. Prefácio Cássio Fonseca. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1959. (Biblioteca de Ciências Sociais).
280
Waltensir Dutra 84
Álvaro Cabral 58
Afonso Blacheyre 20
Octavio Alves Velho 16
Edmond Jorge 14
Luciano Miral 13
Giasone Rebuá 12
Christiano Monteiro Oiticica 8
Fernando de Castro Ferro 8
Jorge Enéas Fortes 5
Vera Borda 5
Leonidas Hegenberg e Octanny Silveira da Mota 4
Sergio Goes de Paula 4
Adolfo José da Silva 3
Bárbara Heliodora 3
Carlos Nayfeld 3
Constantino Paleólogo 3
Geir Campos 3
Helio Pólvora 3
José Carlos Teixeira Rocha 3
José Ricardo Brandão Azevedo 3
Luiz Corção 3
Meton Porto Gadelha 3
Ruy Jungmann 3
Fonte: o autor.
817
CORWIN, Edward S. A constituição norte-americana e seu significado atual. Tradução Leda Boecht
Rodrigues. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1959 . (Biblioteca de Ciências Sociais)
818
PEACOCK, Ronald. Formas da literatura dramática. Tradução Bárbara Heliodora. Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 1968. (Teatro).
281
Talvez não haja ainda avaliado devidamente a importância do trabalho que vem
desenvolvendo a Editora Zahar [sic!] no sentido da difusão de obras selecionadas,
dentre as que, de autores nacionais e estrangeiros, possam contribuir para uma
compressão melhor e mais atualizada dos principais problemas da vida
contemporânea. É com essas obras que a editora está formando a ‘Biblioteca de
Ciências Sociais’, destinada evidentemente a firmar-se no conceito do nosso público
de livraria821.
Como vimos, Jorge Zahar – e, sobretudo, a Zahar Editores – faz parte de uma geração
de editores que se viam imbuídos como partícipes da construção da Nação, pois forneciam ao
mercado intelectual um dos seus mais importantes pilares de sustentação: o livro. O editor tem
um papel, e aquela geração sabia disto. Cabia a eles uma articulação no mercado de produção
cultural, seu compromisso político é imenso ainda hoje, contudo, era mais forte ainda numa
época onde a formação era essencialmente forjada pela leitura822.
Entre junho e agosto de 1957 foi lançado o segundo volume da coleção Biblioteca de
Ciências Sociais. Tratava-se da obra Democracia e Direito823, de Jerome Hall, com tradução
819
BOURDIEU, Pierre. Intelectuales, política y poder. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Eudeba, 2014.
820
Sobre a importância de Bárbara Heliodora e Paulo Francis para o teatro brasileiro, confere: CAMARGO,
Angélica Ricci. Por um Serviço Nacional de Teatro: debates, projetos e o amparo oficial ao teatro no Brasil
(1946-1964). 2017. 396 f. Tese (Doutorado em História Social) - Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, 2017.
821
CAVALCANTI, Valdemar. Marxismo e Capitalismo. O Observador Economia e Financeiro, Rio de Janeiro,
abril de 1960. p. 23.
822
“A geração de 68 talvez tenha sido a última geração literária do Brasil – pelo menos no sentido em que seu
aprendizado intelectual e sua percepção estética foram forjados pela leitura. Foi criada lendo, pode-se dizer,
mais do que vendo”. VENTURA, Zuenir. 1968: o ano que não terminou. Aventura de uma geração. 15. ed.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988. p. 51.
823
HALL, Jerome. Democracia e direito. Tradução Arnoldo Wald e Carly Silva. Introdução Paulo Dourado
Gusmão. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1957. (Biblioteca de Ciências Sociais). Outros dados: Impresso
pela Edipe Artes Gráficas. Título original: Living Law of Democratic Society, e traduzido da edição
publicada em 1949 por The Bobbs-Merrill Co, Indianápolis. Consta um exemplar na Coleção Barbosa Lima
Sobrinho, na UERJ.
282
Arnold Wald e Carly Silva824, cuja introdução ficou sob responsabilidade do professor de
filosofia do Direito da Faculdade Nacional de Direito, Paulo Dourado Gusmão que também –
assim como Djacir Menenzes – louvou o nome do empreendimento exortando que “oxalá
prossigam os editores no caminho que se traçaram: por ao alcance do leitor brasileiro obras
fundamentais do vasto campo das Ciências Humanas”825. Já em setembro de 1957 o periódico
O Dia, de Curitiba, informava que este livro estava entre os seis estrangeiros mais procurados
da semana826.
Como é possível notar pela figura 61, sobre o formato e composição não houve
nenhuma alteração em relação ao primeiro volume da coleção. Naquele primeiro ano foram
apenas dois lançamentos. Em julho de 1958 foi lançado História das Doutrinas Políticas827,
de Gaetano Mosca e Gaston Bouthoul. A tradução ficou sob responsabilidade de Marco
Aurélio de Moura Matos e o prefácio foi de Milton Campos828. O livro havia sido publicado
em Paris, pela Payot, três anos antes e, apesar de ter tido poucas reedições, sua apropriação foi
considerável, pois com frequência era citado em textos críticos nos jornais do Rio de Janeiro e
São Paulo.
824
O ESTADO DE SÃO PAULO, São Paulo, 14 de dezembro de 1957, p. 4 (Suplemento Literário).
825
GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução. In: HALL, Jerome. Democracia e direito. Tradução de Arnold
Wald e Carly Silva. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1957, p. XI.
826
O DIA, Curitiba, 29 de setembro de 1957, p. 13. Ver também DIÁRIO DO PARANÁ, 29 de setembro de
1957, p. 1.
827
O GLOBO, Rio de Janeiro, Porta da Livraria, 5 jul. 1958, p. 9; ESTADO DE SÃO PAULO, São Paulo, 2
ago. 1958, p. 10.
828
Sobre Milton Campos, ver: DICIONÁRIO HISTÓRICO BIOGRÁFICO BRASILEIRO pós 1930. 2. ed. Rio
de Janeiro: Ed. FGV, 2001. Disponível em:
<http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/biografias/milton_campos>. Acesso em: 17 fev. 2018.
283
No prefácio, Milton Campos explica que a primeira edição, “Storia delle Dottrine
Politiche” saiu em Roma no ano de 1936. Para ele a iniciativa da tradução brasileira colocava
ao alcance de um público mais amplo uma obra que buscava analisar o histórico das idéias e
das instituições políticas.829
Os custos que envolvem a publicação de um livro normalmente são muito altos e
podem aumentar ainda mais quando se trata de uma tradução. Unwin enfatizava que o editor
deveria ponderar com bastante cautela o valor dos direitos autorais, mas também da tradução,
sobretudo quando se tratava de um livro científico, dado as especificidades do vocabulário830.
Já Wolgang Knapp revela uma lista de outros gastos, divididos em fixos e flutuantes, com
produção e destruição. Dentre os elementos mais caros, cita direitos autores e distribuição.
Sobre a remuneração de tradutores, ao falar da edição de Ulisses, publicada pelo Ênio
Silveira, em 1966, Hallewell comentou que “a dificuldade de remunerar de maneira adequada
os tradutores, nas condições brasileiras, é bem ilustrada pelo fato de Houaiss ter recebido
“uma importância menor que o salário mínimo mensal legal então em vigor para operários
não qualificados”831. Ao tratar dos custos do livro, Hallewell afirma que “a remuneração a
tradutores – e conseqüentemente a qualidade da tradução – pode ser fixada em nível mais alto,
ou mais baixo. Até mesmo as condições de comercialização e os direitos”832.
Sobre a edição da História das Doutrinas Políticas foi possível obter o único registro
de gastos para impressão (Figura 62). Trata-se de um documento que consta no arquivo da
atual editora que nos indica que havia uma contabilidade para cada livro lançado, mas
lamentavelmente só existe essa ficha. Observando os custos, nota-se que o valor pago ao
tradutor foi maior que o direito autoral833. O nome do revisor da tradução não consta da
publicação – que mudará nos anos 1960 – mas seu pagamento está descrito. Outro dado
importante nessa espécie de planilha são os três tipos de tiragens, pois havia a tiragem total, a
829
MOSCA, Gaetano. História das doutrinas políticas desde a antiguidade, completada por Gaston Bouthoul
“as doutrinas políticas desde 1914”. Tradução Marco Aurélio de Moura Matos. Prefácio Milton Campos.
Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1958. (Biblioteca de Ciências Sociais).
830
UNWIN, Stanley. O que é uma editora. 6. ed. Tradução de José Francisco dos Santos. Rio de Janeiro; São
Paulo: Record, 1960.
831
HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. 2. ed. São Paulo: EDUSP, 2005. p. 538.
832
HALLEWELL, op. cit., p. 570.
833
Sobre a estimativa de gastos de uma editora recomenda-se: KNAPP, Wolfgang. O que é editora. São Paulo:
Brasiliense, 1986. (Primeiros Passos, 176).
284
tiragem que cobriria os custos e um conjunto só para os direitos autores. Essas informações
também poderiam ser indicadores do número médio de exemplares que a editora produzia.
A prática de lançar livros avulsos se repetiria, mas não foi possível compreender a
lógica que a Zahar Editores utilizava para essas escolhas, pois alguns títulos poderiam
perfeitamente ser classificados dentro de uma série.
Em agosto de 1958834, lançaram O Átomo em ação, de Henry H. Dunlap e Hans N.
Tuch835, o primeiro livro avulso, ou seja, que não fazia parte de nenhuma coleção. O livro
estava aliado às discussões acaloradas sobre o tema dos usos da energia atômica nos mais
variados setores, desde armas de guerra a exames de diagnóstico. Nota-se aqui mais uma vez
a celeridade com que Zahar trazia ao Brasil lançamentos estrangeiros, o que poderia também
834
Ver DIÁRIO DE NOTÍCIAS, Rio de Janeiro, 26 de agosto de 1958, p. 10; DIÁRIO DO PARANÁ, 7 de
setembro de 1958, p. 1; TRIBUNA DA IMPRENSA, Rio de Janeiro, 6-7 de setembro de 1958, p. 4; O
GLOBO, Rio de Janeiro, 10 de outubro de 1958, p. 5.
835
DUNLAP, Henry H.; TUCH, Hans N. Átomo em ação. Tradução Giasone Rebuá. Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 1958. Outros dados: Impresso pela Edipe Artes Gráficas. Título original: Atoms at your Service, e
traduzido da edição publicada em 1957 por Harper & Brothers, Nova York.
285
representar a formação de sua estrutura de tradutores, apesar das dificuldades que ele mesmo
mencionava em várias entrevistas.
Entre setembro e outubro daquele ano, O Globo informou que O Átomo em ação
estava entre os best-sellers da quinzena836. Importante também ressaltar que alguns livros
lançados assim alcançaram um sucesso muito grande e causaram impacto político, como
veremos ainda dentro deste Capítulo.
Nessa publicação, além dos custos já comuns, acreditamos que o valor foi acrescido
pelas ilustrações, pois foi o primeiro com estas características executado pela editora. As
imagens vêm intercaladas com texto e em um caderno de 16 páginas (não numeradas) em
papel couchê no interior do livro – característica que se repetiria no livro O Egito Antigo. O
padrão de capa (Figura 63) também seria outro, com um apelo que deveria chamar a atenção
do público, visto que era um assunto de interesse naquele contexto.
A primeira edição do O Átomo em ação só veio a se esgotar em 1961. A venda desses
exemplares finais foi muito motivada por uma série de eventos da área de física nuclear que
aconteceram no Rio de Janeiro, como por exemplo, exposição “Átomo em Ação” organizada
pela Comissão de Energia Nuclear do Brasil e a Comissão de Energia Atômica dos
Estados837.
Figura 63 - O Átomo em ação
836
O GLOBO, Rio de Janeiro: 17 de setembro de 1958, p. 8; 17 de outubro de 1958, p. 9; 1 de outubro de 1958,
p. 7; 31 de outubro de 1958, p. 9.
837
Na ocasião, seminários também foram promovidos por ambos os países na cidade. A atividade se deu até o
dia 6 de junho na Glória, era gratuita e aberta de domingo a domingo, das 10h às 22h, pois objetiva atingir
um número amplo de público. A exposição gerou muita curiosidade, a começar pelas instalações. Segundo a
Tribuna da Imprensa, foi num “pavilhão inflável, único no mundo, o chamado ‘Minhocão’”. De acordo com
as descrições, “era um completo laboratório portátil, com instalações técnicas e todo o equipamento
necessário para apresentação o átomo em ação em diversos ramos da atividade humana”. Sem dúvida, um
assunto que estava a circular em inúmeros jornais do país. DIÁRIO DE NOTÍCIAS, Rio de Janeiro, 26 de
abril de 1961, p. 2; 3 de maio de 1961, p. 2. TRIBUNA DA IMPRENSA, Rio de Janeiro, 27 de abril 1961, p.
7.
286
Para fechar o ano de 1958 foi publicado o primeiro livro de autor nacional, Uma nova
história da música, de Otto Maria Carpeaux, a quem os jornais saudavam como “um escritor
tão brasileiro quanto qualquer um que aqui tenha nascido”838. A publicação, mencionada
como uma obra de referência que já nascia clássica saiu também avulsa, sem pertencer a
nenhuma coleção, e recebeu uma capa, também feita por Erico Monte Rosa, que foi muito
elogiada na imprensa839.
No conjunto das publicações do ano de 1959, gostaríamos de destacar o primeiro livro
do psicanalista alemão Erich Fromm840, Psicanálise da sociedade contemporânea841. Fromm
seria um dos autores de maior sucesso da editora, tendo, inclusive, seu nome praticamente
associado à Zahar Editores. Até 1970 onze de seus livros foram traduzidos diversos livros de
Fromm, alguns publicados dentro da "Biblioteca de Ciências Sociais", outros na coleção
"Psyché e Atualidades" – duas coleções que abordaremos a seguir –, e outros avulso, cada um
deles tendo, pelo menos, três novas edições. Os direitos autorais da maioria de seus livros
pertenciam à Rinehart and Winson, de Nova Iorque, e alguns outros à Doubleday & Co., Inc.,
da mesma cidade americana. Os adjetivos para reputar o autor foram vários, críticos alguns,
porém sempre elogiosos, como por exemplo, “um dos autores de ‘non-ficton’ [sic!] de público
certo do Brasil”842. No bojo das discussões de mudança para parlamentarismo no país, o
articulista da Jamil Almansur Haddad afirmava que Medo à liberdade843 seria um valioso
instrumento para reflexão844.
A partir do levantamento que realizamos – já detalhado na introdução – que resultou
num inventário, chega-se a tabela 15 apresentada abaixo que destaca o que foi editado de
Fromm pela Zahar. Ela evidencia os livros que obtiveram maior procura, não necessariamente
838
O GLOBO, Rio de Janeiro, 26 de dezembro de 1958. p. 7. Ver também: CORREIO DA MANHÃ, Rio de
Janeiro, 23 de dezembro de 1958. p. 18.
839
O GLOBO, Rio de Janeiro, 19 de dezembro de 1958. p. 5.
840
Ver também: CORREIO DA MANHÃ, Rio de Janeiro, 5 de junho de 1959; O GLOBO, Rio de Janeiro, 18 de
dezembro de 1961; O ESTADO DE SÃO PAULO, 4 de agosto de 1963; O GLOBO, Rio de Janeiro, 8 de
agosto de 1963; O GLOBO, Rio de Janeiro, 16 de novembro de 1964; O MUNDO ILUSTRADO, Rio de
Janeiro, 16 de fevereiro de 1966.
841
FROMM, Erich. Psicanálise da sociedade contemporânea. Tradução Giasone Rebuá e L. A. Bahia. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1959. (Biblioteca de Ciências Sociais).
842
O GLOBO, Rio de Janeiro, 22 de julho de 1964. p. 12.
843
FROMM, Erich. Medo à liberdade. Tradução Octávio Alves Velho. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1960.
(Biblioteca de Ciências Sociais).
844
FOLHA DE SÃO PAULO, 6 de agosto de 1960. p. 4.
287
refletindo no número total de edições. Por exemplo, enquanto os demais livros tiveram
edições ao longo dos anos, A análise do homem teve duas dentro do mesmo ano de 1961. Os
dados igualmente documentam outro profícuo tradutor da Zahar Editores, Octávio Alves
Velho, que nos anos de 1965 também passou a colaborar como diretor de algumas coleções,
mas sem dúvida, nada que superasse Waltensir Dutra.
As obras (Tabela 15) de Fromm figuraram por anos consecutivos nas listas das mais
vendidas e seus textos, por vezes criticados como psicologizantes demais, apareciam por
vezes como apanágios para explicar determinado momento pelo qual o país passava. Essa
situação foi muito presente entre os anos de 1960 e 1963, devido a própria instabilidade
política oriundas das tensões internas – como foi o caso do período entre Juscelino
Kubitschek e Jânio Quadros – e externa – com a efervescência em Cuba845.
845
Cf. CLEMENTE, José Eduardo Ferraz. Perseguições, espionagem e resistência: o Instituto de Física da
Universidade Federal da Bahia durante a ditadura militar (1964 a 1979). Revista da SBHC, Rio de Janeiro, v.
4, n. 2, p. 129-145, jul; dez 2006. FAUSTO, Boris. História do Brasil. Colaboração de Sérgio Fausto. 14. ed.
ampl. e atual. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2013. SKIDMORE, Thomas E. Brasil: de
Getúlio a Castello (1930-1964). Tradução de Berilo Vargas. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
288
846
Forma as segundas edições de: A análise do Homem e Psicanálise da sociedade contemporânea.
847
Forma as segundas edições de: Conceito marxista do homem e O medo à liberdade.
848
Análise do Homem (3.ed.) e Psicanálise da sociedade contemporânea (3.ed.).
849
1964: A Linguagem esquecida (2.ed.); A sobrevivência da humanidade (2.ed.); Meu encontro com Marx e
Freud (2.ed.); O medo à liberdade (3.ed.). 1965: A Linguagem esquecida (3.ed.); Análise do Homem (4.ed.);
O medo à liberdade (4.ed.).
289
O ano de 1959, vale lembrar que foi marcante para América Latina com a vitória da
Revolução Cubana850. Na tentativa de compreender os fatos mais de perto, Paul M. Sweezy e
Leo Hubermann estiveram na ilha por um tempo e na sequência publicaram, em 1960, pela
Monthly Review Press, de Nova Iorque, Cuba: anatomy of a revolution. Em novembro do
mesmo ano – algo que não acontecerá novamente com outros livros – Zahar Editores, com
trabalho de Waltensir Dutra, trouxe a tradução para Brasil851. A publicação tinha 209 páginas
e foi comercializada a Cr$ 220,00. A primeira edição esgotou-se em novembro, no mês
seguinte lançaram a segunda que teve o mesmo destino, no outro ano, em 1961, publicaram
terceira e quarta edições.
Além desses lançamentos, o ano seira marcante também porque pela a primeira vez os
livros da Zahar Editores estariam à venda na barraca da Livraria LER na Feira de Livros da
Cinelândia, em abril. De acordo com o Globo, os livros mais procurados foram Teoria
Econômica, de Stonier (Figura 66)852 e Hague e Socialismo, de Paul Marlor Sweezy (Figura
67)853, ambos lançados em 1959 na Biblioteca de Ciências Sociais.
Sobre ambos os livros, é imprescindível traçar algumas considerações. De acordo com
o levantamento que fizemos no livro de registros de publicações da Zahar Editores, o primeiro
foi uma das obras com maior número de edições. A segunda edição saiu em 1961, a terceira
em 1963, a quarta e quinta, em 1964 e 1967, respectivamente. Em 1968 houve uma
reimpressão a partir da quinta edição. Em 1970 saiu a sexta edição e no mesmo ano uma
reimpressão desta.
Além disso, inúmeras vezes Teoria Econômica foi reputado como um marco nos
livros de economia publicados pela Zahar Editores, tendo uma repercussão muito grande e
recebendo inúmeras menções de que havia entrado para o rol de literatura básica para
economia nos cursos universitários, passando a ser indicado como “um manual clássico de
850
Sobre o tema ver: REIS, Daniel Aarão. Ditadura e democracia no Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 2014.
851
FOLHA DE SÃO PAULO, 6 de novembro de 1960, p. 5; FOLHA DE SÃO PAULO, 12 de novembro de
1960, p. 5; O GLOBO, Rio de Janeiro, 25 de novembro de 1960; O GLOBO, Rio de Janeiro, 26 de dezembro
de 1960, p. 9.
852
STONIER, Alfred William. Teoria da economia. Tradução Cássio Fonseca. Prefácio Cássio Fonseca. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1959. (Biblioteca de Ciências Sociais). Sobre Afred William Stonier, ver:
<http://economia.unipv.it/harrod/edition/editionstuff/rfh.52c.htm>. Acesso em 12 maio 2017.
853
SWEEZY, Paul Marlor. Socialismo. Tradução Giasone Rebuá e Maurício Caminha de Lacerda. Prefácio
Wilson Sidney Lobato. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1959. (Biblioteca de Ciências Sociais). Sobre Paul
Marlor Sweezy, ver: <https://www.marxists.org/portugues/sweezy/index.htm>. Acesso em: 12 maio de 2017.
290
economia, adotado na quase totalidade das Faculdades de Ciências Econômicas do País” 854 ao
longo de suas seis edições feitas até 1970.
854
JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 28 de abril de 1965, p. 2; JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 4
de julho de 1965, p. 6; JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 17 de junho de 1967, p. 12
855
PEREIRA, Luciana Lombardo Costa. A lista negra dos livros vermelhos: uma análise etnográfica dos livros
apreendidos pela polícia política no Rio de Janeiro. Tese (Doutorado em Antropologia Social). Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Museu Nacional, 2010.
856
O GLOBO, Rio de Janeiro, 13 de junho de 1960, p. 18. Buscamos informações sobre as participações da
livraria e da editora em outros periódicos, mas localizamos apenas menções aos seus nomes.
291
Na Feira de 1962, houve uma situação grave: uma bomba explodiu na barraca da
Livraria LER na noite de 9 de maio, e pela proximidade com a barraca da Zahar Editores
acreditamos que esta tenha também sofrido os efeitos. Ernesto Zahar emitiu o comunicado:
A LIVRARIA LER cumpre o dever de comunicar a sua clientela o atentado
praticado contra a sua barraca de livros instalada na Cinelândia. A sua direção, ao
longo de anos de trabalho fecundo, procurou brindar o País com uma das suas
melhores livrarias e serviço. Nas feiras sempre com a melhor apresentação e os seus
melhores livros. Se a orientação da livraria desagrada a indivíduos, ou grupos, isto é
com a direção. Atentados a bens pacíficos, às riquezas produzidas pelo homem para
bem do homem, não contribuem para nenhuma solução. E se porventura alguma
outra divergência restar, é a pessoa do seu diretor que deve ser o alvo. Nunca atentar
contra um patrimônio raro com é uma livraria em nosso país. Se o objetivo era
causar dano material, foi mínimo. Se foi moral, feriu fundamente, porque cada um
857
O GLOBO, Rio de Janeiro, 5 de junho de 1961, p. 12.
858
ROSTOW, Walt Whitman. Etapas do desenvolvimento econômico: um manifesto não comunista. Tradução
Octávio Alves Velho. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1961. (Biblioteca de Ciências Sociais).
859
O GLOBO, Rio de Janeiro, 5 de junho de 1961, p. 12.
292
daqueles livros, globos, corpo humano, plástico etc., ali destroçados, eram como se
fossem vidas pacíficas atingidas. E o que é mais lamentável, é que isto tenha
acontecido na capital da cultura brasileira. Ernesto Zahar. Diretor860.
860
O GLOBO, Rio de Janeiro, 10 de maio de 1962. p. 17. Não localizamos o mesmo comunicado em outros
periódicos do período.
861
O GLOBO, Rio de Janeiro, 4 de janeiro de 1962. p. 14.
862
BRASIL. Banco Central do Brasil. Instruções SUMOC. Instrução número 204, de 13 de março de 1961.
Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/pre/Historia/Sumoc/Instrucoes/instrucao204.pdf>. Acesso em: 17
fev. 2018
863
BRASIL. Banco Central do Brasil. Instruções SUMOC. Instrução número 208, de 13 de março de 1961.
Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/pre/Historia/Sumoc/Instrucoes/instrucao208.pdf>. Acesso em: 17
fev. 2018.
864
O GLOBO, Rio de Janeiro, 30 de junho de 1962. p. 9.
293
“Gumercindo Rocha Dórea também pode, até intensificar seus planos, porque não precisa
manter funcionários e trabalha sozinho. No mais, o livro tornou-se difícil”865.
Dentro do contexto de produção de livros naquele ano, Florestan Fernandes fez um
balanço, mas sobre os perfis das editoras. Sua análise concluía que o movimento editorial
brasileiro havia “sofrido amplas modificações nos últimos anos. Surgiram novos
empreendimentos editoriais, como os do Fundo Universal de Cultura, Zahar Editores, Livraria
Pioneira Editora, Ibrasa, Edart etc. e as antigas editoras criaram novas coleções”866.
Entre editoras novas e antigas, Fernandes comentou que, no campo das publicações
em Ciências Sociais o movimento no Rio de Janeiro estava a passos largos, mas a partir da
iniciativa da Pioneira Editora acreditava que “as editoras paulistas resolveram sair do casulo,
no que concerne ao livro universitário, ainda que revelem certo temor e tateiem o mercado,
ampliam a área de sua participação na produção editorial, dentro desse setor”867.
A seguir, Florestan Fernandes faz uma avaliação das edições voltadas para o público
universitário. Primeiro retoma uma ideia que já analisamos no capítulo anterior, de que para
algumas editoras esse seguimento ainda representava um risco. Para ele, essa ideia era um
erro, pois significava “rejeitar a edição de uma obra que constitui um serviço genuíno de alta
monta, prestado aos educadores, aos estudiosos da educação e principalmente, a
democratização da cultura”. Não publicar, na sua perspectiva, seria um erro editorial também,
pois, como há muito tempo, não via um cenário de vitalidade de experiências universitárias,
com modificações radiais e aumento de interesses e de padrões de consumo de livro.
Florestan via que o momento era muito favorável ao livro para ensino superior. Ao
analisar as publicações dos últimos dois anos comentou que, no passado, o editor fugiria até
das primeiras edições de tais obras. Assim, considerava que o fato de o editor não relutar em
reeditá-las poderia evidenciar duas coisas: “o florescimento do mercado do livro e a
ampliação da rede de contribuições intelectuais nitidamente construtivas, das editoras ao
crescimento cultural do país”868. Todavia, Florestan acreditava que apesar
[...] audácia crescente dos editores e de uma melhor compreensão generalizada das
funções positivas da empresa editorial para o ‘progresso’ e a ‘democratização’ da
cultura” prevalece o pavor diante do circulo vicioso, engendrado por edições
cronicamente diminutas e parcamente distribuídas. [...] mas os editores detém as
malhas do poder na organização do mundo do livro. Se eles não inovarem com
865
Idem.
866
FERNANDES, Florestan. Novos empreendimentos editoriais, Estado de São Paulo, 7 de julho de 1962.
867
Idem.
868
Idem.
294
869
Idem.
870
GUERREIRO RAMOS. A crise do poder no Brasil. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1963. (Biblioteca de
Ciências Sociais). Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1961. O GLOBO, Rio de Janeiro, 18 de setembro de 1961,
p. 10. Sobre Alberto Guerreiro Ramos, ver:
<http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas2/biografias/guerreiro_ramos>. Acesso em: 18 fev. 2015.
871
PEREIRA, Luciana Lombardo Costa. A lista negra dos livros vermelhos: uma análise etnográfica dos livros
apreendidos pela polícia política no Rio de Janeiro. Tese (Doutorado em Antropologia Social). Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Museu Nacional, 2010.
872
Dedicatória: “Ao deputado Barbosa Lima com admiração e apreço, Guerreiro Ramos. Brasília, 8/9/1961”.
295
Cabe dizer que para alguns sociólogos o livro mais relevante de Ramos foi Mito e
verdade da revolução brasileira873, pois consideram como um importante cenário dos
diálogos no período pré 1964, especificamente no contexto de João Goulart874. Compreendido
também como um dos expoentes da sociologia crítica no Brasil.
Acervo: APERJ
Acervo: UERJ.
873
GUERREIRO RAMOS. Mito e verdade da revolução brasileira. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1963.
(Atualidade).
874
OURIQUES, Nildo. Lançamento do livro de Guerreiro Ramos. 29:44 min. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=leO1FPqo41w>. Acesso em: 17 fev. 2018. Ver também: MOTTA,
Luiz Eduardo. A política do Guerreiro: nacionalismo, revolução e socialismo no debate brasileiro dos anos
1960. O&S, Salvador, v. 17, n. 52, p. 85-101, jan./mar., 2010. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/osoc/v17n52/05.pdf>. Acesso em: 17 fev. 2018. VILLA, Marcos Antonio. Mito e
Verdade da Revolução Brasileira. Folha de São Paulo, 3 ago. 2008. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs0308200803.htm>. Acesso em: 17 fev. 2018.
875
Em 1963, a coluna “Livros”, de Esdras do Nascimento, na Tribuna da Imprensa informou que “Zahar vai
editar autores nacionais”. Na realidade a ideia era um concurso organizado pela editora e pelo periódico, com
o objetivo de “selecionar originais para as diversas coleções de estudos mantidas pela Editora Zahar. Se
aparecerem vinte livros bons, os vinte serão editados”. Todavia, era necessário que “esses originais, além da
boa categoria de texto e exatidão científica nas informações, tenham um número mínimo de páginas, que
permita a edição de um volume”. Os originais deveriam se enquadras nas seguintes áreas: Antropologia,
Sociologia, Economia, Política, História e Psicologia, com número de páginas entre 150 e 250. Os materiais
296
Ângelo Dourado876, com três livros877; Djacir Menezes e Felipe Augusto de Miranda Rosa878,
ambos com dois livros879.
O quadro mostra que autores brasileiros880 foram publicados praticamente anualmente,
com exceção para o ano de 1962. De 1958 a 1970 foram publicações praticamente anuais. Os
anos de maiores incidências foram 1963, 1966, 1968 e 1970, todos com quatro livros.
Veremos também que alguns deles entrariam para o grupo de “indesejáveis” pela Polícia
Política nos anos do Regime Militar.
“seriam examinados por especialistas de nível universitário” e ao candidato não escrever bem não era
suficiente; mas era preciso que soubesse o que estava dizendo e demonstrasse idoneidade intelectual.
Confere: TRIBUNA DA IMPRENSA, Rio de Janeiro, 18 de fevereiro de 1962, p. 8. Acompanhamos o
periódico ao longo de 1962 e o primeiro semestre de 1963, pois o prazo final era 30 de março, mas
infelizmente não localizamos nenhuma outra informação.
876
Além de verificar que o psicanalista é muito citado ainda hoje como especialista em psicologia criminal,
infelizmente não localizamos outros dados sobre sua biografia.
877
DOURADO, Luiz Angelo. Homossexualismo (masculino e feminino) e delinquência. Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 1963; DOURADO, Luiz Angelo. Raízes neuróticas do crime. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1965.
(Psyche); DOURADO, Luiz Angelo. Ensaio de psicologia criminal: o teste da arvore e a criminalidade. Rio
de Janeiro: Zahar Editores, 1969. (Psyche).
878
Sobre Felipe Augusto de Miranda Rosa ver: <http://www.tjrj.jus.br/documents/10136/1028833/felipe-
augusto-de-miranda-rosa.pdf>. Acesso em: 17 fev. 2018.
879
MENEZES, Djacir. Hegel e a filosofia soviética. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1959. (Biblioteca de
Ciências Sociais); MENEZES, Djacir. Proudhon, Hegel e a dialetica. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1966.
(Biblioteca de Ciências Sociais); ROSA, Felipe Augusto de Miranda. Patologia social: uma introdução ao
estudo da desorganização social. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1966. (Biblioteca de Ciências Sociais).
ROSA, Felipe Augusto de Miranda. Sociologia do direito, o fenômeno jurídico como fato social. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1970. (Biblioteca de Ciências Sociais). MENEZES, Djacir. Proudhon, Hegel e a
dialetica. Tradução Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1966. (Biblioteca de Ciências Sociais).
Sobre Djacir Menezes, ver: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Centro de Pesquisa e Documentação de
História Contemporânea do Brasil. Disponível em: <http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-
biografico/djacir-lima-meneses>. Acesso em 17 fev. 2018.
880
Naturalizado brasileiro, porém, nascido em Viena, na Áustria, em 9 de março de 1900.
297
1968 A Dimensão injusta: bases para a revolução igualitária BAHIA, Luiz Alberto
1968 Desenvolvimento e crise no Brasil entre 1930 e 1967 PEREIRA, Luiz Carlos Bresser
1969 Marketing: uma ferramenta para o desenvolvimento MANZO, José Maria Campos
Após o Golpe de 1964, o problema do livro didático foi incluído na agenda das
políticas públicas dentro de uma abordagem que considerava os fatores econômicos
e o contexto mais amplo da indústria editorial. De certo modo, prevaleceu a ideia de
que o problema do preço do livro estava relacionado ao fato de as tiragens serem
muito pequenas. Ou seja, afirmou-se como um problema de escassez. Logo, a
solução seria o aumento das tiragens e, daí a consequente redução dos preços. Isso
demandava investimentos e alguma garantia de que haveria retorno desse
investimento. A garantia de que os negócios com o livro didático seriam lucrativos
era a taxa de crescimento populacional e a expectativa de ampliação do acesso da
população à escola, ou seja, a previsão de um potencial mercado consumidor. O
investimento, por sua vez, exigia uma ação política. Era necessário colocar em
evidência o mercado editorial. Para tanto, era preciso divulgar a sua importância e
criar uma imagem positiva junto à sociedade e ao Estado. Com isso seria possível se
fazer presente no campo político, estabelecer relações com agentes que poderiam
facilitar o acesso a recursos públicos e, obter, assim, vantagens no campo
econômico881.
Com essas palavras Paulo Celso Costa Gonçalves sintetiza muito bem o que
aconteceria com as políticas públicas para o livro didático nos três níveis de ensino a partir de
1964. Percebe-se nisto uma ação dos militares também como prática de controle, afinal
detinham o poder para selecionar os títulos, promover (em alguns casos) a produção e a
distribuição.
Nosso objetivo aqui, neste último subcapítulo também será compreender o
desenvolvimento da Zahar Editores nos conhecidos dois momentos da ditadura militar, antes
e depois do AI-5. Notaremos que a editora seguiu sua expansão e continuou crescendo,
mesmo num cenário econômico, como vimos anteriormente, de algumas dificuldades para o
mercado. Todavia, como bem disse Florestan Fernandes882, citado acima, era um momento
absolutamente favorável para a edição para o público universitário, principalmente de
traduções. Além do próprio poder de compra, como expusemos no capítulo anterior, e
retomado aqui por Gonçalves, houve políticas públicas que incentivavam a produção de livros
e compravam as publicações diretamente dos editores a fim de distribuir ou revender a preços
mais baixos.
Esses anos estão inseridos dentro do que Fernando Paixão chamou de “quinto período”
do livro do Brasil, que para ele compreende de 1964 a 1985. Foi “uma das mais importantes
fases da consolidação do mercado livreiro”. Houve, naquele contexto, um paradoxo, pois
881
GONÇALVES, Paulo Celso Costa. Políticas públicas de livro didático: elementos para compreensão da
agenda de políticas públicas em educação no Brasil. 2017. 244 f. Tese (Doutorado em Educação).
Universidade Federal de Uberlândia. Uberlândia, 2017. p. 185.
882
FERNANDES, Florestan. Novos empreendimentos editoriais. Estado de São Paulo, 7 de julho de 1962.
299
foram momentos “de proibições de um lado e apoios de outro”883. Nas listas dos mais
vendidos estavam “ídolos da esquerda estudantil: Karl Marx, Che Guevara, György Lukács”.
Outro constante foi Hebert Marcuse que “teve duas obras, Eros e Civilização e Ideologia da
Sociedade Industrial, no ranking dos sucessos editoriais durante meses, ainda uma terceira,
Materialismo histórico e existência, cuja primeira edição se esgotou rapidamente.”884
Nesse sentido, temos a conjuntura de que uma série de medidas e ações viriam a
favorecer a produção e a distribuição do livro no Brasil. Sandra Reimão nos ajuda a
compreender essas contradições dos militares ao afirmar que “entre 1964 e 1968, isto é, entre
o golpe militar de 1964 a decretação do AI-5, a censura a livros no Brasil foi marcada por
uma atuação confusa e multifacetada e pela ausência de critérios, mesclando batidas policiais,
apreensões, confiscos e coerção física”885. A autora afirma ainda que
A censura a livros durante a ditadura militar, portanto, teve uma atuação mais forte
não nos chamados Anos de Chumbo (1968-1972), mas durante o governo Geisel
(março de 1974 a março de 1979), e especialmente no final desse governo – que
apesar dos momentos de retrocesso, foi aquele que iniciou o processo de abertura
política lenta e gradativa. A censura de livros por parte do Departamento de Censura
de Diversões Públicas aumentou quando a maioria dos jornais e revistas estava
sendo liberada da presença da censura prévia nas redações 886.
Ainda inserido neste cenário, Luiz Renato Vieira chama atenção para o fato de que
“durante o governo Castelo Branco, a censura ocorre de maneira pontual e assistemática, mas
aos poucos vão sendo elaborados os instrumentos legais e institucionais para minar as
manifestações”887. Roberto Schwarz comenta que entre 1964 e 1969 ainda era possível ver as
livrarias de São Paulo e Rio de Janeiro com livros de marxismo888. Carlos Fico explica que “a
partir de dezembro de 1968, com a edição do AI-5, houve uma intensificação da censura da
883
PAIXÃO, Fernando. Momentos do livro no Brasil. São Paulo: Editora Ática, 1997. p. 142.
884
PAIXÃO, Fernando. Momentos do livro no Brasil. São Paulo: Editora Ática, 1997. p. 143.
885
REIMÃO, Sandra. Repressão e Resistência: censura a livros na Ditadura Militar. São Paulo: EDUSP;
FAPESP, 2011. p. 20. Ver também: LABANCA, Gabriel Costa. Relações e Edições de Ouro: a Tecnoprint
na expansão do mercado editorial brasileiro durante os principais anos da Ditadura Militar. Em Tempo de
Histórias: publicação do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade de Brasília, Brasília,
jan./jun., 2009, p. 125-145. Disponível em:
<http://periodicos.unb.br/index.php/emtempos/article/view/2730/2286>. Acesso em 17 fev. 2018.
886
REIMÃO, op. cit., p. 56.
887
VIEIRA, Luiz Renato. Consagrados e malditos: os intelectuais e a Editora Civilização Brasileira. Brasília:
Editora Thesaurus, 1998. p. 94.
888
SCHWARZ, Roberto. Cultura e política, 1964-1969: alguns esquemas. In: ______. O pai de família e outros
estudos. São Paulo, 2008. p. 70-111.
300
imprensa, pois o decretum terrible permitia praticamente tudo”889. A partir daí, então, “a
censura da imprensa sistematizou-se tornou-se rotineira e passou a obedecer a instruções
especificamente emanadas dos altos escalões do poder”890, desse modo, “quando o estudante e
o público de melhores filmes, do melhor teatro, da melhor música e dos melhores livros já
constituem massa politicamente perigosa, será necessário trocar ou censurar os
professores”891. E ainda censurar e perseguir “os livros, os editores – noutras palavras, será
necessário liquidar a própria cultura viva do momento”892.
Nesse contexto, Fernando Paixão considera que o AI-5 mudaria o perfil do mercado
livreiro, com livros marxistas sendo proibidos, por exemplo, mas não impediu, contudo, o
desenvolvimento do setor livreiro [...]”893.
O perfil do mercado editorial dos anos 1960 pode ser lido a partir da análise feita por
Sandra Reimão em Mercado Editorial Brasileiro894. A autora considera que foi nesta década
que a “indústria cultural no Brasil veio a se desenvolver em termos quantitativos realmente
significativos [...]”895. Em números relativos, na década de 1960 “foram publicados no Brasil
36 322 827 exemplares de livros. Uma vez que a população brasileira era de 65 743 000
habitantes, teremos uma média de 0,55 livros por habitante ao ano (a tiragem total estava
dividida entre 3 953 títulos)”896. Como conclusão de sua análise, Reimão assevera que a
“explosão” do mercado editorial daquela década “não se deve ao fato de, tal como nos
gêneros públicos, terem surgido movimentos literários polêmicos e relevantes”897. Para ela,
“essa ‘explosão’ foi uma explosão qualitativa que se deu num esforço mútuo entre o público
leitor e editores [...]”898.“Os anos 1960 marcam um importante momento na indústria editorial
de livros no Brasil, caracterizado pelo crescimento e pela modernização técnica do setor,
889
FICO, Carlos. Além do golpe: versões e controvérsias sobre 1964 e a Ditadura Militar. 3. ed. Rio de Janeiro;
São Paulo: Record, 2014. p. 87.
890
Idem.
891
SCHWARZ, op. cit., p. 72.
892
Idem.
893
PAIXÃO, Fernando. Momentos do livro no Brasil. São Paulo: Editora Ática, 1997. p. 144.
894
REIMÃO, Sandra. Mercado Editorial Brasileiro, 1960-1990. São Paulo: Com-arte, 1996.
895
REIMÃO, Sandra. Mercado Editorial Brasileiro, 1960-1990. São Paulo: Com-arte, 1996. p. 15.
896
REIMÃO, op. cit., p. 40.
897
REIMÃO, op. cit., p. 50.
898
Idem.
301
proporcionados por programas oficiais de apoio ao setor gráfico e pelo aumento dos
programas governamentais de compras de livros técnicos e didáticos, que irão se consolidar
nos anos 1970”.899
No conjunto das publicações da Zahar, em maio de 1964 O Globo comentou que “uma
nova coleção de livros populares baratos vem a ser lançada por Zahar Editores”. Trata-se da
‘DC’, isto é, Divulgação Cultural. A coleção (Quadro 13) incluiria assuntos, como economia,
política, psicologia, história e teatro. Os primeiros volumes já estavam à venda “em brochuras
muito elegantes e cômodas, em bom papel, com capa de Érico, as gravuras envernizadas, o
que muito embeleza os volumes”900. A reportagem ainda apresentou uma lista comentada com
os oito primeiros volumes, transcrita no quadro abaixo.
899
MAUÉS, Flamarion. Livros contra a ditadura: editoras de oposição no Brasil, 1974-1984. São Paulo:
Publisher, 2013. p. 239.
900
O GLOBO, Rio de Janeiro, 15 de maio de 1964, p. 6.
302
901
ROSTOW, Walt Whitman. Etapas do desenvolvimento econômico: um manifesto não comunista. Tradução
Octávio Alves Velho. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1961. (Biblioteca de Ciências Sociais).
902
O GLOBO, Rio de Janeiro, 11 de setembro de 1964, p. 4.
303
Na fala de Jorge verifica-se não apenas a razão de suas escolhas, mas, no seu ponto de
vista, os motivos do sucesso de alguns títulos e o destaque que ele deu ao seu público –
“jovem, que se encontra nas Universidades”. Sobre a Monthly Review, é importante assinalar
que a Livraria LER passou a ser sua principal distribuidora no Brasil a partir de 1966.
Uma das formas que a Zahar usava para levar o livro ao leitor eram as feiras de livro,
pois se configuravam em locais privilegiados de divulgação e venda. Algumas eram
organizadas por estudantes ou seus grêmios, já outras pela própria editora. Dentre os
exemplos, poderíamos destacar que, em 1966, eles estiveram em Piracicaba (SP) a convite do
Centro Acadêmico Luís de Queirós. Junto também estiveram Companhia Editoria Nacional,
Brasiliense, Agir, IBRASA904. Em junho do mesmo ano, o DCE da Universidade Mackenzie
(SP)905 promoveu a I Feira de Livros. O evento aconteceu dentro o campus e contou com a
presença da Zahar Editores, Martins, José Olympio, Editora das Américas, Fundo de Cultura e
das Livraras Pioneira e LER. A presença da editora nesse circuito pode ser também um
indício importante da sua inserção no mercado e sobretudo entre o público formado por
universitários.
Não obstante a todos esses lançamentos e circularidade editorial, os efeitos do Golpe
de abril de 1964 já começavam a se fazer sentir dentro do setor do livro. Em setembro de
1966, a Zahar Editores estava promovendo uma feria de livros no Centro Acadêmico Osvaldo
Cruz, da Faculdade de Medicina. A partir de denúncias, o Exército e o DOPS invadiram o
local e apreenderam os livros. Jorge teve que dar explicações à polícia para informar que os
livros eram “somente didáticos e até anti-marxistas, a fim de serem distribuídos a preços
903
DIÁRIO CARIOCA, Rio de Janeiro, 23 e 24 de maio de 1965. p. 11.
904
FOLHA DE SÃO PAULO, 27 de abril de 1965. p. 12.
905
FOLHA DE SÃO PAULO, 8 de junho de 1965. p. 5.
304
módicos aos estudantes”906. O jornal mencionou que o delegado Alcides Cintra Buenos,
depois de examinar os livros apreendidos, liberou-os.
O fato de Jorge mencionar que vendia também livros anti-marxistas não deixa de ser
verdade. Poderia, porém, estar oferecendo estes na ocasião, pois no seu catálogo havia um
grupo de livros marxistas. Seja na feira, no caso em questão, seja no fluxo de seu lançamento,
inferimos que a Zahar Editores pode ter usado de “lançamentos nuvens de fumaça” para
despistar os censores. Todavia, só pesquisas futuras dedicadas a uma análise qualitativa dos
autores e títulos publicados pela editora poderão confirmar. Luciana Lombardo, porém, na
investigação que empreendeu sobre livros apreendidos pelas polícias políticas, afirmou que
Ainda que predominassem os autores marxistas, a linha editorial não se definia pela
orientação política de seus editores, mas pelo foco no público da área de ciências
sociais, um nicho de mercado em expansão nos anos 1950 e 1960, acertadamente
identificado pela Zahar. Desde o primeiro livro do catálogo [...] a especialização nas
ciências sociais foi demarcada907.
Ao longo deste ano de 1964, as traduções908 de livros técnicos que vinham sendo
publicadas no mercado editorial voltaram a ser destaque. Os nomes mais citados,
normalmente eram da Zahar Editores e Fundo de Cultura e, a partir de 1966, entraria no
circuito também a Paz e Terra. Um exemplo que é bastante significativo foi o artigo intitulado
“Traduções sem traição”, de Sebastião Uchôa Leite, na coluna “Livros na mesa” do Correio
da Manhã. No texto, Leite comentou que o mercado editorial na Argentina estava muito mais
sistematizado no campo das traduções do que o nosso, que, apesar disto, vinha registrando um
aumento exponencial do público consumidor. Sua percepção era de que se traduzia muito no
Brasil, “mas só umas poucas casas editoras procuram criar um sistema racional de
distribuição da matéria traduzível, como é o dos Zahar Editores, exemplo de disciplina com as
suas coleções de História e Ciências Sociais”. Uchôa Leite afirmava que ambos os assuntos –
História e Ciências Sociais – pareciam estar ganhando “a preferência do público leitor
brasileiro, principalmente se as obras trazem qualquer implicação política. Por motivos
óbvios, o nosso público parece ávido de conhecer as doutrinas e teses político-sociais mais
influentes”. Dentre essas ele destaca o caso do Socialismo909.
906
CORREIO DA MANHÃ, Rio de Janeiro, 11 de setembro de 1964. p. 6.
907
PEREIRA, Luciana Lombardo Costa. A lista negra dos livros vermelhos: uma análise etnográfica dos livros
apreendidos pela polícia política no Rio de Janeiro. 2010. 180 f. Tese (Doutorado em Antropologia Social).
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Museu Nacional, 2010.
908
Ver também: ESTADO DE SÃO PAULO, 05 de junho de 1965. p. 45.
909
LEITE, Sebastião Uchôa. Traduções sem traição. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 10 de outubro de 1964.
p. 6.
305
910
O GLOBO, Rio de Janeiro, 24 de dezembro de 1965, p. 15.
911
Idem.
912
Idem.
913
ZAID, Gabriel. Livros demais!: sobre ler, escrever e publicar. São Paulo: Summus Editora, 2004.
306
Ora, poderíamos transportar essa ideia para livros planejados e não lançados por uma
editora, pois normalmente damos maior relevo ao que saiu do prelo, principalmente porque
nem sempre se têm notícias do que havia em planejamento. Localizamos nos periódicos
alguns casos da Zahar Editores que podem ser compreendidos como “intenções de
lançamentos”. Houve intenção, por exemplo, de adquirir os direitos de tradução de grande
parte dos livros lançados na coleção suíça Meditations, de que constavam, entre outros, os
livros La théorie du roman, de George Lukacs, e La function du cinema, de Elfie Faure.
Todavia, a ideia não logrou sucesso914.
Em 1965, a editora chegou a declarar que estava estudando lançar uma coleção
dedicada à literatura, especificamente com grandes romances do século XX915. Como livro de
estreia anunciaram Doutor Fausto, de Thomas Mann. Além de autores estrangeiros, também
houve situação análoga com três casos de autores nacionais. Em 1964, houve comentários de
que Maria Ieda Linhares lançaria pela editora um livro chamado Vargas e a Revolução de
30916. Em 1966, o Correio da Manhã noticiou que “o sociólogo Costa Pinto entregou à Zahar
os originais do livro de textos sobre sociologia do desenvolvimento, constando de famosos e
inacessíveis trabalhos, sobre a matéria, de cientistas sociais de todo mundo”917. Por fim, outro
livro que desconhecemos a razão de não ter sido publicado foi “um livro sobre Kafka, de
autoria de Leandro Konder”918.
Entre 1966 e 1968 algumas mudanças mais sensíveis começariam a ser evidenciadas
nas universidades, mas que também seriam sentidas a partir do AI-5, como ocorreu em outros
setores com circulação de ideias.
No contexto das universidades, como disse Rodrigo Patto Sá Motta
[...] Sob o influxo da cultura política brasileira, os governos militares estabeleceram
políticas ambíguas, conciliatórias, em que os paradoxos beiravam a contradição:
demitir professores que depois eram convidados a voltar, para em seguida afastá-los
novamente; invadir e ocupar universidades que ao mesmo tempo recebiam mais
recursos; apreender livros subversivos, mas também permitir que fossem publicados
e que circulassem. Como explicar o paradoxo de uma ditadura anticomunista que
914
O GLOBO, Rio de Janeiro, 27 de junho de 1964. p. 9. Ver também: O GLOBO, Rio de Janeiro, 9 de março
de 1965. p. 4.
915
O GLOBO, Rio de Janeiro, 01 de dezembro de 1965. p. 4.
916
O GLOBO, Rio de Janeiro, 28 de julho de 1964. p. 8.
917
CORREIO DA MANHÃ, Rio de Janeiro, 4 de dezembro de 1966. p. 8
918
O GLOBO, Rio de Janeiro, 16 de maio de 1966. p. 4.
307
919
SÁ MOTTA, Rodrigo Patto. As universidades e o Regime Militar: cultura política brasileira e modernização
autoritária. Rio de Janeiro: Zahar, 2014. p. 16.
920
VELHO, Otávio Guilherme. Processos Sociais no Brasil pós-64: as Ciências Sociais. In: SORJ, Bernardo;
ALMEIDA, Maria Hermínia Tavares de (Org.). Sociedade e política no Brasil pós-64. São Paulo:
Brasiliense, 1963, p. 242.
921
SÁ MOTTA, op. cit., p. 75.
922
Idem.
923
SÁ MOTTA, op. cit., p. 120
924
SALGADO, Gilberto Barbosa. O imaginário em Movimento. Crescimento e Expansão da Indústria Editorial
no Brasil (1960-1994). 312f. Dissertação (Mestrado em Sociologia). Instituto Universitário de Pesquisas do
Rio de Janeiro, 1994, p. 59.
308
Fonte: LIPSET, Seymour Martin. O homem político. Tradução Álvaro Cabral e Moacir Palmeira. Rio
de Janeiro: Zahar Editores, 1967. (Biblioteca de Ciências Sociais).
Acervo: UERJ/Biblioteca CCS/A
925
Isto só foi possível porque, como explicado na Introdução, procedemos a análise dos livros pessoalmente nas
bibliotecas consultadas.
926
Isto só foi possível porque não abrimos mão de pesquisa in loco. Em 24 de setembro de 2012, em entrevista
ao programa da TV Cultura, Roda Viva, o historiador Robert Darnton comentou a importância desta prática,
pois ela permite encontrar aquilo também aquilo que não se procurava. Ver:
https://www.youtube.com/watch?v=Eo3wTUimklU.
927
Trata-se da Biblioteca de Arqueologia, Ciências Sociais, Filosofia, História, Relações Internacionais, Religião
e Serviço Social, no nono andar do prédio no campus Maracanã.
928
No oitavo andar do prédio no campus Maracanã.
309
Fonte: HELLER, Walter W. Novas dimensões da economia política. Tradução Waltensir Dutra.
Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967. (Biblioteca de Ciências Sociais).
Acervo: Universidade Católica de Petrópolis.
310
929
KRAFZIK, Maria Luiza de Alcântara. Acordo MEC/ USAID: a Comissão do Livro Técnico e do Livro
Didático – COLTED (1966/1971). 2006. 151 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade do
Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006.
930
Sobre as Bibliotecas Universitárias no contexto de ações da USAID a partir de 1965 e da Reforma
Universitária em 1968 ver: TARAPANOFF, Kira. Planejamento de e para bibliotecas universitárias no
Brasil: sua posição sócio-econômica e estrutural. In: SEMINÁRIO NACIONAL DE BIBLIOTECAS
UNIVERSITÁRIAS, 2., 1981. Brasília. Anais... Brasília: CAPES, 1981. p. 9-35. Disponível:
<https://www.bu.ufmg.br/snbu2014/anais_anterior/II-SNBU.pdf>. Acesso: 07 mar. 2018.
SILVA, Ângela Maria Moreira. Bibliotecas Universitárias da Amazônia: desbravando fronteiras,
administrando improvisos. 2009. 174f. Dissertação (Mestrado em Políticas Públicas) - Universidade Federal
do Maranhão, São Luís, MA, 2009. Disponível em:
<http://bdtd.ibict.br/vufind/Record/UFMA_2e800b02b8bebe27e3c80273dd2d4535>. Acesso: 07 mar. 2018.
CUNHA, Murilo Bastos da. A trajetória da biblioteca univesitária no Brasil no período de 1901 a 2010.
Encontros Bibli, Santa Catarina, v. 21, n. 47, p. 100-123, 2016. Disponível em:
<https://periodicos.ufsc.br/index.php/eb/article/view/1518-2924.2016v21n47p100>. Acesso em: 07 março
2018.
311
931
MEDNICK, Sarnoff A. Aprendizagem. Tradução Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967.
(Curso de Psicologia Moderna).
932
MUSSEN, Paul Henry. O desenvolvimento psicológico da criança. Tradução Álvaro Cabral. Rio de Janeiro:
Zahar Editores, 1966. (Curso de Psicologia Moderna).
313
Há que salientar que estávamos no meio da Ditadura Militar. Uma série de medidas e
ações viriam a favorecer a produção e a distribuição do livro no Brasil. Como disse, Rodrigo
Patto Sá Motta, eram as contradições do Regime Militar, que apreendia livros subversivos,
mas também permitia que fossem publicados e que circulassem933. Daniel Aarão registra que
“a produção de livros entre 1966 e 1980 passa de 43,6 para 245,4 milhões de exemplares para
500 milhões de exemplares. [...]”934 e explica que “a produção dos bens culturais não se
encontra articulada a uma ideologia de contenção, mas de expansão do mercado”. Desse
modo, verificou que “em todos os setores da área cultural – televisão, editoras, empresas
jornalísticas – o que se vê nesse período é o avanço da racionalidade empresarial”935.
Em 1968 a Zahar Editora publicaria mais um livro de autor brasileiro e que mais tarde,
como veremos, também entraria para o rol de livros suspeitos de subversão, como foi o caso
de Guerreiro Ramos.
933
SÁ MOTTA, Rodrigo Patto. As universidades e o Regime Militar: cultura política brasileira e modernização
autoritária. Rio de Janeiro: Zahar, 2014.
934
REIS, Daniel Aarão. A ditadura faz cinquenta anos: história e cultura política nacional-estatista. In: REIS,
Daniel Aarão; RIDENTI, Marcelo; SÁ MOTTA, Rodrigo Patto (Org.). A ditadura que mudou o Brasil: 50
anos do golpe de 1964. Rio de Janeiro: Zahar, 2014. p. 119.
935
REIS, op. cit., p. 121.
315
936
BAHIA, Luiz Alberto. A Dimensão injusta: bases para a revolução igualitária. Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 1968. (Atualidade). Sobre Luiz Alberto Bahia, ver: CONY, Carlos Heitor. Luiz Alberto Bahia.
Academia Brasileira de Letras. Disponível em: <http://www.academia.org.br/artigos/luiz-alberto-bahia>.
Acesso em: 17 fev. 2018.
937
CORREIO DA MANHÃ, Rio de Janeiro, 10 e 12 dez. 1968.
938
CORREIO DA MANHÃ, Rio de Janeiro, 19 de maio de 1968, p. 3; ESTADO DE SÃO PAULO, 02 de maio
de 1968, p. 38; CORREIO DA MANHÃ, Rio de Janeiro, 14 de agosto de 1969.
939
REIMÃO, Sandra. Censura a livros na ditadura militar brasileira: 1964-1985. Palestra realizada no VI
Encontro de Pesquisa na Graduação em Filosofia da UFSCar pela professora Profa. Dra. Sandra Reimão
(USP-EACH). Maio de 2015. 52:52. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=baeag5t54cc>.
Acesso em: 18 jan. 2018.
940
O GLOBO, Rio de Janeiro, 11 de março de 1969, p. 14.
941
Sobre a “Operação Limpeza” e seu contexto, ver: FICO, Carlos. “Prezada Censura”: cartas ao Regime
Militar. Topoi, Rio de Janeiro, v..3 n.5, p. 251-286, jul./dez. 2002. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/topoi/v3n5/2237-101X-topoi-3-05-00251.pdf>. Acesso em: 17 fev. 2018.
316
942
SÁ MOTTA, Rodrigo Patto. As universidades e o Regime Militar: cultura política brasileira e modernização
autoritária. Rio de Janeiro: Zahar, 2014. p. 25.
943
Sobre o AESI: SÁ MOTTA, Rodrigo Patto. Os olhos do regime militar brasileiro nos campi. As assessorias
de segurança e informações das universidades. Topoi, Rio de Janeiro, v. 9, n. 16, p. 30-67, jan.-jun. 2008a.
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2237-101X2008000100030>.
Acesso em: 25 maio 2015. SÁ MOTTA, Rodrigo Patto. Incômoda memória: os arquivos das ASI
universitárias. Acervo, Rio de Janeiro, v. 21, n. 2, p. 43-66, jul./dez. 2008b. Disponível em:
<http://revista.arquivonacional.gov.br/index.php/revistaacervo/article/view/29>. Acesso em: 25 maio 2015.
CLEMENTE, José Eduardo Ferraz. Perseguições, espionagem e resistência: O Instituto de Física da
Universidade Federal da Bahia durante a ditadura militar (1964-1979). REVISTA DA SBHC, Rio de Janeiro,
v. 4, n. 2, p. 129-145, jul./dez. 2006. Disponível em:
<http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67252014000400015>. Acesso: 25
maio 2015. MOREIRA, Ildeu de Castro. A Ciência, a ditadura e os físicos. Cienc. Cult., São Paulo, v. 66, n.
4, ouc./Dec. 2014. Disponível em: <http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-
67252014000400015>. Acesso em: 25 maio 2017.
944
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Divisão de Segurança e Informações. Considerações sobre
editoras brasileiras. Minas Gerais: UFMG, 1971. Acervo: Divisão de Coleções Especiais da Biblioteca
Universitária da Universidade Federal de Minas Gerais. Caixa 17/21. Maço 01. Folhas 01 a 05. Sem ter o
foco na Zahar Editores, esse documento foi publicado e comentado em: SÁ MOTTA, Rodrigo Patto. As
universidades e o Regime Militar: cultura política brasileira e modernização autoritária. Rio de Janeiro:
Zahar, 2014.
317
“[...] progresso social [era] entendido de modo diverso por aqueles realmente democratas”945
(Figura 78). O censor ainda chega a justificar a atenção para os livros da Zahar Editores que,
para ele, eram as edições “mais procuradas pelos estudantes (de modo especial,
universitários), pois as mesmas procuram se enquadrar em matérias como Sociologia,
Ciências Sociais, História, Economia, Administração, Psicologia, etc”. Não deixa de ser
curioso e irônico pensar justamente na relevância deste documento como evidência de que,
quinze anos após sua criação, a Zahar Editores tinha alcançando seu objetivo de ser uma
editora eminentemente para o público universitário.
O documento tem cinco folhas datilografadas. O texto comenta e classifica alguns
títulos e começa por afirmar que em “Ciência Política, a Zahar também se preocupou em
difundir o socialismo”946 e arrola os livros947:
MACKENZIE, Norman Ian. Breve história do socialismo. Tradução Vera Borda.
Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967. (Biblioteca de Ciências Sociais).
HAN, Suyin. China no ano 2001. Tradução Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 1968.
BAHIA, Luiz Alberto. A Dimensão injusta: bases para a revolução igualitária. Rio
de Janeiro: Zahar Editores, 1968. (Atualidade).
945
Idem.
946
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Divisão de Segurança e Informações, op. cit.
947
Na lista só constam autor e título, para citação aqui optamos pelo formato em referência bibliográfica para
facilitar a compreensão da informação.
948
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Divisão de Segurança e Informações, op. cit.
318
FROOM, Erich. Meu encontro com Marx e Freud. Tradução Waltensir Dutra. Rio
de Janeiro: Zahar Editores, 1963. (Atualidade).
GARAUDY, Roger. Karl Marx. Tradução Moacir G. Soares Palmeira. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1967. (Atualidade).
Sobre esses dois livros e o período em que estavam circulando no país, de acordo com
Zuenir Ventura953, incluíam-se no grupo chamado “3M de 68”. Junto com Marx e Mao, foi
949
RADICE, Giles. Socialismo democrático. Tradução Marcus C. de Vicent. Rio de Janeiro: Zahar Editores,
1967. (Atualidades)
950
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Divisão de Segurança e Informações, op. cit.
951
HOROWITZ, David. Revolução e repressão. Tradução Genésio Silveira da Costa. Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 1969. (Atualidade).
952
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Divisão de Segurança e Informações, op. cit.
953
VENTURA, Zuenir. 1968: o ano que não terminou. Aventura de uma geração. 15. ed. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1988. Apesar de mencionar e comentar os livros editados pela Zahar, em nenhum momento,
infelizmente, o autor cita o nome da editora. No livro ele conta, dentre tantos, casos que Paulo Francis
escreveu em sua coluna no Correio da Manhã que “O sr. Gustavo Corção foi visto destruindo um cartaz que
anunciava uma conferência sobre Herbert Marcuse. Antes, vociferou contra a dominação do país pelos
comunistas. Disse até palavrão, o que é pecado. O jornalzinho de um dos principais colégios do Rio traz, na
primeira página, editorial justificando a invasão da Tchcoslováquia. Dentro, um artigo atacando Marcuse, a
quem classificava de financiado pela Fundação Rockefeller. É improvável que Corção e os anônimos
redatores estudantis tenham lido uma palavra de Marcuse, mas eles ilustram à perfeição a tese do autor sobre
319
uma espécie de coquetel molotov que causou inquietação no estado repressor brasileiro, pois
já vinham provocando reações em países europeus e aqui em outras regiões da América
Latina por onde passava. Esses dois livros invadiram a imaginação dos jovens brasileiros e
estiveram entre os dez mais vendidos como foi evidenciado por Sandra Reimão a partir do
cotejamento que realizou com catorze listagens semanais da revista Veja, entre 11 de
setembro a 11 de dezembro de 1968954.
Voltando para o relatório955, a linha segue para uma análise sobre a moral. Nesse
sentindo, o censor escreve que a publicação de Revolução sexual956 acompanhava “uma linha
revolucionária [que pretendia] atingir os seus objetivos de conquista [de leitores] através da
dissolução de costumes”957.
De acordo com o documento, com o objetivo e conquistar a juventude para o
socialismo, foram publicados especificamente quatro volumes dentro da coleção Textos
Básicos de Ciências Sociais958:
BRITTO, Sulamita de (org. ). Sociologia da juventude, 4v. ( Da Europa de Marx à
América Latina de hoje. V.2 – Para uma sociologia diferencial. V.3 – A vida
coletiva juvenil. V.4 – Os movimentos juvenis). Rio de Janeiro: Zahar Editores,
1968. (Textos Básicos de Ciências Sociais)
Por fim, depois dessa lista negativa, afirmou que “de vez em quando, porém, a Zahar
edita livros isentos de propaganda filo-comunista (talvez forçada pelas circunstâncias políticas
do Brasil atual), caso em que está a excelente obra de dois professores e pesquisadores”959.
Para aquela AESI o livro A opinião pública960 era de leitura recomendada para todos, mas
principalmente aos que militam no campo das comunicações de massa, sejam profissionais,
estudantes ou professores, e ainda, aos que trabalham em órgãos de informações”961.
Não temos subsídios para afirmar que esses acontecimentos impactaram os perfis da
editora, mas apenas alguns indícios que apontam que em alguns casos ela seria afetada de
alguma maneira. Seja com seus livros circulando com carimbos da COLTED, seja com títulos
arroladas em relatório da Assessoria Especial de Serviço de Informação.
No contexto de livros da Zahar Editores que foram considerados subversivos, a
pesquisa de Luciana Lombardo no Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro (APERJ)
sobre livros apreendidos após o Golpe de 1964 verificou que “as editoras mais encontradas na
documentação são as que se caracterizam por uma linha editorial de esquerda”. A
pesquisadora também observou que havia casas editoriais tradicionais no rol dos livros
recolhidos. O gráfico abaixo, feito por Lombardo, representa as quinze editoras nacionais que,
no período de 1960 e 1970, foram “responsáveis pela publicação do maior número de obras
apreendidas”962. Desse grupo, ela classifica como “Editoras de Livros Vermelhos” e de
“Editoras Nacionais de Oposição”, sobretudo a Editorial Vitória, Civilização Brasileira, Paz
e Terra e Zahar Editores963.
Esse trabalho de Pereira constitui uma das mais importantes contribuições sobre o
perfil da Zahar Editores entre 1960 e 1970. A autora dedica um subcapítulo especialmente
para analisar a editora que igualmente afirma ser “pioneira na publicação de numerosos títulos
de ciências sociais no Brasil”.
Lombardo seguiu uma linha que buscou analisar as obras de viés marxista964. Sua
conclusão foi que “a Zahar se tornou uma das maiores responsáveis pela edição de autores
marxistas e nesse aspecto a comparação com a editora Civilização Brasileira, é inevitável” 965.
A autora verificou que as afinidades entre ambos [Zahar e Ênio] eram, além de pessoais,
também políticas966.
Ao analisar o gráfico 1, Pereira observou “a distância entre o número de livros da
Civilização Brasileira, Paz e Terra, Zahar e Vitória e os demais”. E constatou que “algumas
editoras menores com maior ou menor tradição na publicação de livros de esquerda como
Saga, Vozes, Alba, Calvino e Calvino Filho, Fulgor e Pongetti” também figuravam no rol do
962
PEREIRA, op. cit.
963
Para detalhamentos das escolhas e classificação sugere-se a leitura de PEREIRA, op. cit.
964
Retomaremos esse trabalho adiante, optamos por isso para que os livros listados como apreendidos possam
ser compreendidos dentro de um contexto.
965
PEREIRA, op. cit., p. 181.
966
PEREIRA, op. cit., p. 181.
321
que fora recolhido para análise da Polícia Política967. Ficou evidente que Ênio Silveira, Jorge
Zahar e Fernando Gasparin estavam na mira cerrada dos policiais. Vale destacar aqui a
inserção que os três tinham entre o público universitário, que passaria a ser mais visado a
partir de 1969.
Fonte: PEREIRA, Luciana Lombardo Costa. A lista negra dos livros vermelhos: uma análise
etnográfica dos livros apreendidos pela polícia política no Rio de Janeiro. 2010. Tese
(Doutorado em Antropologia Social) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Museu
Nacional, 2010. p. 133.
Na lista geral arrolada por Luciana Lombardo constam apenas autor e títulos. A partir
dela, buscamos isolar só aqueles editas pela Zahar Editores. Para isto, complementamos
informações na consulta ao Catálogo de Livros Apreendidos pelas Polícias Políticas968 e
verificação in loco de cada item. Nela constam 23 livros apreendidos da Zahar Editores para
verificação do DOPS/RJ a partir de 1964 (APÊNDICE C).
Assim como Pereira, tentamos localizar os prontuários de entrada destes livros, mas
não foi possível, constando como o mais importante o fato de que em algum momento esses
títulos foram recolhidos. Acreditamos, porém, que a alegação principal que justificou as
967
PEREIRA, Luciana Lombardo Costa. A lista negra dos livros vermelhos: uma análise etnográfica dos livros
apreendidos pela polícia política no Rio de Janeiro. 2010. Tese (Doutorado em Antropologia Social) -
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Museu Nacional, 2010. p. 137.
968
CATÁLOGO DE LIVROS apreendidos pelas Polícias Políticas, 1933-1983. Rio de Janeiro: Arquivo Público
do Estado do Rio de Janeiro, 2012.
322
apreensões tenha sido o conteúdo marxista, como já havia apontado Luciano Lombardo da
Costa Pereira. Deve-se ressaltar que essa recolha, bem como lista do AESI comentada
anteriormente são posteriores ao Decreto-Lei n. 1077, de 26 de janeiro de 1970969 que
instituía a censura prévia.
No conjunto documental da APERJ, encontramos um Boletim970, datado de 7 de
agosto de 1969 no qual o DOPS recomenda atenção ao livro Problemas e Perspectivas do
Socialismo971. O texto do livro era uma coletânea e “autores internacionais acerca da
problemática do socialismo no mundo moderno”
No ano seguinte a polícia política de São Paulo fez uma apreensão no dia 19 de
fevereiro de 1970. Nela foram recolhidos livros da casa de um cidadão residente na Vila
Clementino, dentre os quais Estruturalismo e Marxismo.972
Esses exemplos são importantes para evidenciar algumas das contradições destes
períodos difusos. Nesse sentido, compreendemos melhor a ponderação da Flamarion Maués
ao usar a categoria de editoras de oposição para aquelas com as seguintes características:
1) o papel político que a obra desempenhou no período estudado; 2) o conteúdo do
livro; 3) as condições em que a obra foi criada; 4) o percurso do original ao livro
publicado; 5) o perfil do autor e da editora; 6) as ligações políticas do autor e da
editora; 7) a difusão da obra; 8) a repercussão nos meios políticos e na imprensa; 9)
a análise da obra como produto editorial e comercial973.
A partir do que analisamos até aqui, nota-se que a Zahar Editores se enquadra em
várias características, com as exceções para os itens seis e sete sobre os quais não temos como
afirmar nada com consistência. Quanto aos demais, são absolutamente verificáveis.
Diferentemente do outro exemplo, citado por Maués, que é a Paz e Terra e Perspectiva974.
969
BRASIL. Decreto-Lei n. 1077, de 26 de janeiro de 1970. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/1965-1988/Del1077.htm>. Acesso em: 17 fev. 2018. Sobre
os efeitos desta lei, ver: REIMÃO, Sandra. Proíbo a publicação e circulação...”: censura a livros na ditadura
militar. Estudos Avançados, São Paulo, v. 28, n. 80, jan./abr., 2014. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/ea/v28n80/08.pdf>. Acesso em: 17 fev. 2018.
970
Estado da Guanabara. Secretaria de Segurança Pública. Secretaria de Segurança Pública. Departamento de
Ordem Política e Social. Informes. BRRJAPERJ.POL.0.0.BRV-04. Agradecemos muito toda a ajuda
prestada pelas funcionárias e estagiárias do Arquivo.
971
PROBLEMAS E PERSPECTIVAS DO SOCIALISMO. Tradução Marco Aurélio de Moura Matos e Sergio
Santeiro. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1969. (Atualidade).
972
Confere: AZEVEDO, Fabiano Cataldo de. A Zahar Editores e seu Projeto Editorial (1957-1970). Livro:
Revista do Núcleo de Estudos do Livro e da Edição, São Paulo, v. 6, p. 231-245, 2017.
973
MAUÉS, Flamarion. Livros contra a ditadura: editoras de oposição no Brasil, 1974-1984. São Paulo:
Publisher, 2013. p. 31.
974
Ver lista completa e critérios classificatórios em: MAUÉS, op. cit.
323
Por fim, retomando a citação que abriu este capítulo, vale recordar a frase “a editora
dos irmãos Zahar abre sendas num caminho que tem muitos leitores” 975
. Ela se insere no
contexto das publicações para o público universitário que, como foi possível verificar, foi o
mais importante para a editora. Notamos que, dentro do recorte temporal que estabelecemos,
no último momento, ou seja, de 1964 a 1970, se não foi perceptível uma mudança brusca,
ficou notário a continuidade de um “programa bem definido” como se referiu a matéria do O
Globo. Optamos, porém, por chamar de perfil editorial, pois passamos a conhecê-lo a partir da
busca e averiguação de cada título e não a partir de uma documentação produzida pela editora
ou sobre alguma informação mais concreta fornecida por Jorge Zahar.
Indícios do perfil da editora podem ser verificados a partir das citações que trouxemos
ao diálogo neste capítulo e também no anterior que, além de reforçar a contribuição que a
Zahar Editores passou a dar com as traduções, comentava seu impacto, como se vê no Correio
da Manhã:
Com traduções do nível obtido pelo seu último lançamento os Editores Zahar estão
realmente prestando um alto serviço à cultura brasileira, no seu afan de dominar,
em benefício ao próprio país, o repertório das idéias econômicas modernas,
sobretudo as relacionadas com a aguda questão do desenvolvimento e da justiça
nacional976.
Esse perfil editorial mencionado em 1960 seria a marca da Zahar Editores, traduções
para o público do ensino superior. Nos anos 1990, quando da morte de Jorge, vários
intelectuais mencionariam essa característica da editora977.
Como dissemos em artigo publicado em 2017, “percebemos que Jorge Zahar é o que
Maurece Halwachs978 considerava de último lastro de memória, uma linha genética que
identificamos em Monteiro Lobato – se quisermos nos manter no século XX brasileiro”. Um
grupo formado por Ênio Silveira, Caio Prado Jr., Fernando Gasparian, Jacob Guinsburg,
Flávio Aderaldo, cuja contribuição para o campo das edições universitária no Brasil 979 seria
absolutamente decisiva e valiosa.
975
O GLOBO, Rio de Janeiro, 8 de julho de 1957, p. 7. (grifos nossos).
976
CORREIO DA MANHÃ, Rio de Janeiro, 24 de julho de 1960, p. 8.
977
Confere: AZEVEDO, Fabiano Cataldo de. A Zahar Editores e seu Projeto Editorial (1957-1970). Livro:
Revista do Núcleo de Estudos do Livro e da Edição, São Paulo, v. 6, p. 231-245, 2017.
978
HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Centauro, 2006.
979
MIDORI, Marisa. Jorge Zahar e sua importância para as edições universitárias no Brasil. Bibliomania. Jornal
da USP, São Paulo, 16 de dezembro de 2016. Disponível em: <http://jornal.usp.br/atualidades/jorge-zahar-e-
sua-importancia-para-as-edicoes-universitarias-no-brasil/>. Acesso em: 18 fev. 2017.
324
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Jorge Zahar foi um editor que fez história através dos livros que escolheu publicar.
[...] por duas vezes, o editor viveu a experiência de formar e consolidar um fundo
editorial. [...] A experiência da antiga Zahar Editores permitiu traçar uma
continuidade bem como a manutenção do slogan “A cultura serviço do progresso
social”. [...] uma história feita de livros escolhidos para durar 980.
980
PAUL, Danielle Rosa. História em catálogos: um estudo da política editorial Zahar de 2001 a 2014. 2015.
121f. Dissertação (Mestrado Profissional em Bens Culturais e Projetos Sociais) - Fundação Getúlio Vargas, Rio
de Janeiro, 2015. Disponível em: < http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/14213>. Acesso em: 08
nov. 2016. p. 113.
325
Os anos de 1940, quando começam a trabalhar com Antonio Herrera, são um período
importante, que poderíamos considerar como de início da expansão dos cursos superiores e
técnicos. Entre os anos de 1940 e 1950 haverá o incremento do movimento de substituição
das importações que fundamentalmente favorecerá o crescimento da produção de livros no
País, justamente quando os cursos superiores apresentam mais um impulso. Nessa seara,
podemos perceber várias queixas de ambos, docentes e discentes, lamentando a ausência de
publicações. Uma transformação era urgente.
Ainda nos anos 1950, o III Congresso de Editores e Livreiros surge como um
momento-chave de reivindicações de editores contra toda sorte de incentivo à produção e
entrada de livros estrangeiros no País. Entendiam que as condições governamentais para a
produção de livros no Brasil deveriam estar dentro do Programa de Metas que Juscelino
Kubistchek preconizava. O SNEL questionava: como poderia haver formação para o
crescimento sem a força motriz para isto, ou seja, o livro. Deste modo, vemos aí medidas para
importação de máquinas, produção e barateamento do papel, e desta vez não apenas para o
jornal, mas para o livro também.
Mas e a tradução? Imbuídos do espírito de suprir essa necessidade e conhecendo a
demanda de um público que conheciam bem, os Zahar decidem no final de 1956 criar uma
editora especializada em traduções de livros na área de Ciências Sociais. Surgiu um momento
de traduções, muito mais organizado por intelectuais e editores do que como uma forma de
programa governamental em si. Seja como for, começava aí a trajetória de uma editora de
tamanho sucesso no campo editorial de publicações de traduções para o público de ensino
superior que até hoje é assim reconhecida.
Apesar de não adentrarmos em minúcias biográficas dos Zahar, seus perfis como
livreiros e editores puderam ser percebidos pelas ações e atividades de seus negócios.
Nossa análise evidenciou as atuações e participações dos Zahar em dois momentos
cruciais para o livro no Brasil. No que concerne ao livro técnico para uso nos cursos
superiores, pelo menos até a década de 1950, notam-se investimentos muito voltados à
importação, o que favoreceu aos livreiros importadores. A partir desta década, todavia,
impulsionado pela expansão do ensino superior, notamos um outro movimento: um aporte
público que proporcionou a produção nacional. Foi interessante notar que naquele momento
“livro nacional” não significava apenas livros de autores brasileiros, mas livro produzido no
Brasil.
Sobre a epígrafe deste capítulo, escrita por Danielle Paul, é uma evidência cuja ideia
compartilhamos. Embora tenha se dedicado ao período de 2001 a 2014, a autora buscou
326
também a fase em que Jorge Zahar termina a sociedade com os irmãos, ou seja, o ano de
1973. Ernesto ficará com a loja da LER de São Paulo, e a sobreloja na Rua México, mantendo
o mesmo nome, e Lucien muda o nome da loja no primeiro andar (de entrada para rua) da Rua
México para Livraria Galáxia. Já Jorge Zahar fica com o catálogo e se associa à editora
Guanabara Koogan, uma parceria que dura até 1985, quando ele decidiu terminar o negócio e
criar a Jorge Zahar Editores, ou seja, a J.Z.E, desta vez com seus filhos Ana Cristina Zahar e
Jorge Zahar Junior981.
Ainda tratando da epígrafe, ao começarmos esta tese não havia outro trabalho
acadêmico sobre nenhuma das fases da Zahar Editores. O percurso foi solitário até 2015,
quando o trabalho de Danielle Paul, que compreende os anos de 2001 a 2014, sem, contudo,
deixar de retroagir até 1973, apareceu. O recorte do nosso trabalho compreende até o ano de
1970. Além de consideramos que ambas as pesquisas se complementam na intenção de
analisar e dar a conhecer a trajetória de uma editora, para a presente tese, a dissertação de Paul
foi importante para que no final pudéssemos perceber o quanto Jorge Zahar imprimiu sua
imagem na editora e o quanto a editora logrou êxito.
Assim, se considerarmos o período da atividade editorial de Jorge Zahar de 1957 a
1985, e posteriormente a sua morte, até 2014 – recorte usado por Paul –, poderíamos
concordar com afirmação de que “Jorge Zahar foi um editor que fez história através dos livros
que escolheu publicar”. No futuro, porém, outras pesquisas poderão confirmar ou não a
segunda afirmação, que por hora, julgamos verdadeira, qual seja a de que essa é “uma história
feita de livros escolhidos para durar”982.
A hipótese que norteou esta pesquisa foi que os Zahar se constroem e se forjam como
editores que produziram livros para as universidades a partir da experiência da Livraria LER.
Os indícios apontam que acompanharam o movimento cultural e educacional do país e
buscaram oferecer livros para um mercado cuja demanda só crescia.
Assim, ao concluir essa tese, a partir dos indícios que apresentamos e analisamos,
acreditamos que a hipótese foi verificada e confirmada. Os capítulos precedentes
evidenciaram, partir dos dados que trouxemos, que a Zahar Editores pode ser considerada
981
Confere: HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. 3. ed. São Paulo: EDUSP, 2012; PAUL,
Danielle Rosa. História em catálogos: um estudo da política editorial Zahar de 2001 a 2014. 2015. 121f.
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2017.
982
PAUL, op. cit., 2015. p. 113.
327
983
BRAGANÇA, Aníbal. Eros pedagógico: uma história cultural do editor de livros. 2004. 151f. Tese
(Doutorado em Ciências da Comunicação). Universidade de São Paulo, 2004.
984
BRAGANÇA, op. cit., 2004, p. 137.
328
preferimos nos referir aos irmãos. Não obstante, as fontes evidenciaram que Ernesto Zahar
está para a Livraria LER assim como Jorge está para a Zahar Editores. Lucien, porém, paira
muito discreto. Talvez pesquisas futuras possam deslindar melhor a participação de cada um.
Como ponderou Geir Campos, o livro jamais deve configurar-se um “problema para
Estado” 985, antes deve um motivo de absoluta atenção. Para ele “o amparo à cultura é dever
do Estado”. Não pode haver ‘amparo à cultura’ sem cuidados especiais com a instrução e com
a formação da personalidade dos cidadãos. Desse modo, “compete ao Estado fundar e manter
escolas públicas, bibliotecas, museus, conservatórios, cinematecas, instituições culturais as
mais variadas”. Nesse sentido, inquieta-nos pensar que ainda hoje notam-se as dificuldades de
livreiros e editores em manter seus negócios frente às grandes corporações que se avolumam
no país, ou com as mesmas dificuldades pelas quais vimos nossos atores passarem, ou seja,
alto preço do papel e entraves na distribuição.
Sem qualquer pretensão de encerrar o assunto, é preciso lembrar que, por ser a
primeira tese que se dedica a este período da história da Zahar Editores, por razões
metodológicas elegemos não privilegiar uma coleção, mas dar uma visão mais ampla da
editora. Trabalhos futuros poderão lançar olhares sobre cada uma das coleções ou até mesmo
encontrar mais elementos que serão as chaves de compreensão das lacunas que ficaram nesta
pesquisa. Gostaríamos de poder crer que minimamente este trabalho possa contribuir de
alguma maneira para o campo da história do livro para os cursos superiores no Brasil, e
especialmente que possamos ter lançado luz sobre as trajetórias dos irmãos Zahar.
985
CAMPOS, Geir. Carta aos livreiros do Brasil. [Publicado originalmente na revista Estudos Sociais, v. 3, n. 9,
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ZAID, Gabriel. Livros demais!: sobre ler, escrever e publicar. São Paulo: Summus Editora,
2004.
367
APÊNDICE A – Livros publicados pela Zahar Editores de 1957 a 1970 ordenado pelas
coleções.
A terra e o homem
Atualidade
11. COOPER, David (Org.). Dialética da libertação. Tradução Edmond Jorge. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1968. (Atualidade).
12. DAVIS, Kinsley. Cidades: a urbanização da humanidade. Tradução Jose Reznik.
Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1970. (Atualidade).
13. DEUTSCHER, Isaac. Problemas e perspectivas do socialismo. Tradução Marco
Aurélio de Moura Matos e Sergio Santeiro. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1969.
(Atualidade).
14. DOUGLAS, William Orville. Anatomia da liberdade: os direitos do homem sem a
força. Tradução Geir Campos. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1965. (Atualidade).
15. EHRENZWEIG, Anton. A ordem oculta da arte. Tradução Luiz Corção. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1969. (Atualidade).
16. EISENSTADT, S. N. Modernização: protesto e mudança: modernização de
sociedades tradicionais. Tradução Jose Gurjão Neto. Rio de Janeiro: Zahar Editores,
1969. (Atualidade).
17. EKIRCH, Arthur Alphonse. A democracia americana: teoria e prática. Tradução
Álvaro Cabral e Constantino Paleologo. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1965.
(Atualidade).
18. EVANS, Richard Isadore. Diálogo com Erich Fromm. Tradução Octávio Alves
Velho. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967. (Atualidade).
19. FARRINGTON, Benjamin. A Doutrina de Epicuro. Tradução Edmond Jorge. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1968. (Atualidade).
20. FROMM, Erich. A revolução da esperança: por uma tecnologia humanizada.
Tradução Edmond Jorge. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1969. (Atualidade).
21. FROMM, Erich. A sobrevivência da humanidade. Tradução Waltensir Dutra. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1962. (Atualidade).
22. FROMM, Erich. Meu encontro com Marx e Freud. Tradução Waltensir Dutra. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1963. (Atualidade).
23. FROMM, Erich. O coração do homem: seu gênio para o bem e para o mal. Tradução
Octávio Alves Velho. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1965. (Atualidade).
24. FROMM, Erich. O espírito de liberdade interpretação radical do velho testamento e
de sua tradição. Tradução Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967.
(Atualidade).
25. GARAUDY, Roger. Karl Marx. Tradução Moacir G. Soares Palmeira. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1967. (Atualidade).
26. GARAUDY, Roger. O problema chinês. Tradução Álvaro Cabral. Rio de Janeiro:
Zahar Editores, 1968. (Atualidade).
27. GILES RADICE. O socialismo difícil. Tradução Marcus C. de Vicenzi. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1968. (Atualidade).
28. GORZ, André. Estratégia operária e neocapitalismo. Tradução Jacqueline Castro.
Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1968. (Atualidade).
29. GUERREIRO RAMOS. Mito e verdade da revolução brasileira. Rio de Janeiro:
Zahar Editores, 1963. (Atualidade).
30. HAROLD, J. Laski; SCHUMPETE, Joseph A. O manifesto comunista de 1848 / A
significação do manifesto comunista na sociologia e na economia. Tradução Regina
Lucia F de Moraes. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967. (Atualidade).
31. HOROWITZ, David. Revolução e repressão. Tradução Genésio Silveira da Costa.
Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1969. (Atualidade).
369
53. TOYNBEE, Arnold Joseph. O desafio de nosso tempo. Tradução Edmond Jorge. Rio
de Janeiro: Zahar Editores, 1968. (Atualidade).
54. TROTSKY, Leon. Literatura e revolução. Tradução Moniz Bandeira. Rio de Janeiro:
Zahar Editores, 1969. (Atualidade).
55. TSURU, Shigeto. Aonde vai o capitalismo ?. Tradução Maria Celina Whately. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1968. (Atualidade).
14. ROSKILL, Stephen Wentworth. A Arte de liderança. Tradução Hélio Livi Ilha. Rio
de Janeiro: Zahar Editores, 1967. (Biblioteca de Ciências da Administração).
15. SOLOMON, Ezra. Teoria da administração financeira. Tradução José Ricardo
Brandão Azevedo. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1969. (Biblioteca de Ciências da
Administração).
16. TREDGOLD, Roger. Relações humanas na indústria moderna. Tradução Fernando
de Castro Ferro. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1965. (Biblioteca de Ciências da
Administração).
44. FROMM, Erich. A análise do Homem. Tradução Octávio Alves Velho. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1961. (Biblioteca de Ciências Sociais)
45. FROMM, Erich. Conceito marxista do homem (Em apêndice: Manuscritos
economicos e filosóficos). Tradução Octávio Alves Velho. Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 1962. (Biblioteca de Ciências Sociais).
46. FROMM, Erich. Medo à liberdade. Tradução Octávio Alves Velho. Rio de Janeiro:
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47. FROMM, Erich. Psicanálise da sociedade contemporânea. Tradução Giasone Rebuá
e L. A. Bahia. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1959. (Biblioteca de Ciências Sociais).
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Tradução Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1963. (Biblioteca de
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51. GREAVES, H. R. G. Fundamentos da teoria política. Tradução Ruy Jungmann. Rio
de Janeiro: Zahar Editores, 1969. (Biblioteca de Ciências Sociais).
52. HADFIELD, James. Manual de Política. Tradução Vera Borda. Rio de Janeiro:
Zahar Editores, 1967. (Biblioteca de Ciências Sociais).
53. HALL, Jerome. Democracia e direito. Tradução Arnoldo Wald e Carly Silva.
Introdução Paulo Dourado Gusmão. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1957. (Biblioteca
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55. HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Textos dialéticos. Tradução Djacir Menezes.
Introdução Djacir Menezes. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1969. (Biblioteca de
Ciências Sociais).
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Barroso. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1964. (Biblioteca de Ciências Sociais).
57. HEILBRONER, Robert Louis. A luta pelo desenvolvimento. Tradução Carlos
Nayfeld. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1964. (Biblioteca de Ciências Sociais).
58. HEILBRONER, Robert Louis. Elementos de macroeconomia. Tradução Waltensir
Dutra. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1966. (Biblioteca de Ciências Sociais).
59. HEILBRONER, Robert Louis. Grandes economistas. Tradução Waltensir Dutra. Rio
de Janeiro: Zahar Editores, 1959. (Biblioteca de Ciências Sociais).
60. HEILBRONER, Robert Louis. Introdução à história das ideias econômicas: grandes
economistas. Tradução Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 0.
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61. HEILBRONER, Robert Louis. Introdução à microeconomia. Tradução Sergio Goes
de Paula. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1970. (Biblioteca de Ciências Sociais).
62. HEIMANN, Eduard. História das doutrinas econômicas: uma introdução à teoria
econômica. Tradução Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1965.
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63. HELLER, Walter W. Novas dimensões da economia política. Tradução Waltensir
Dutra. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1969. (Biblioteca de Ciências Sociais).
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83. MAIR, Lucy Philip. Introdução à antropologia social. Tradução Edmond Jorge. Rio
de Janeiro: Zahar Editores, 1969. (Biblioteca de Ciências Sociais).
84. MALINOWSKY, Bronislaw. Uma teoria científica da cultura. Tradução José Auto e
Rosa Maria Ribeiro da Silva. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1962. (Biblioteca de
Ciências Sociais).
85. MANDEL, Ernest. A formação do pensamento economico de Karl Marx: de 1843 até
a redação de O Capital. Tradução Carlos Henrique de Escobar. Rio de Janeiro:
Zahar Editores, 1968. (Biblioteca de Ciências Sociais).
86. MANN, Peter H. Métodos de investigação sociológica. Tradução Octávio Alves
Velho. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1970. (Biblioteca de Ciências Sociais).
87. MANNHEIM, Karl. Diagnóstico do nosso tempo. Tradução Octavio Alves Velho.
Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1961. (Biblioteca de Ciências Sociais).
88. MANNHEIM, Karl. O homem e a sociedade : estudos sobre a estrutura social
moderna. Tradução Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1962.
(Biblioteca de Ciências Sociais).
89. MANNHEIN, Karl. Ideologia e utopia. Tradução Sergio Magalhães Santeiro. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1968. (Biblioteca de Ciências Sociais).
90. MARSHALL, T. H. Política social. Tradução Meton Porto Gadelha. Rio de Janeiro:
Zahar Editores, 1967. (Biblioteca de Ciências Sociais).
91. MARSHALL, T. H.; Schmitter, Philippe C. (pref.). Cidadania, Classe Social e Status.
Tradução Meton Porto Gadelha. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967. (Biblioteca de
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92. MARX, Karl; Robert Freedeman (seleção e prefácio); Harry Schwartz (introdução).
Escritos econômicos de Marx. Tradução Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 1966. (Biblioteca de Ciências Sociais).
93. MARX, Karl; resumo dos três volumes por Julian Borchardt. O Capital: edição
resumida. Tradução Ronaldo Alves Schmidt. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967.
(Biblioteca de Ciências Sociais).
94. MAYNARD, Geoffrey. Desenvolvimento, inflação e preços. Tradução Luciano Miral.
Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1963. (Biblioteca de Ciências Sociais).
95. MEADE, J. E. Curso superior de economia politícia, v. 1: a economia estacionaria.
Tradução Maria Jose Cyhlar Monteiro. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1969.
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Tradução Patrick Davos. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1969. (Biblioteca de
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97. MENEZES, Djacir. Hegel e a filosofia soviética. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1959.
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98. MENEZES, Djacir. Proudhon, Hegel e a dialetica. Tradução Álvaro Cabral. Rio de
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99. MILLS, Charles Wright. A imaginação sociológica. Tradução Waltensir Dutra. Rio
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100. MILLS, Charles Wright. A nova classe média. Tradução Vera Borda. Rio de
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101. MILLS, Charles Wright. Imaginação sociológica. Tradução Waltensir Dutra. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1965. (Biblioteca de Ciências Sociais).
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102. Mills, Charles Wright. Os marxistas. Tradução Waltensir Dutra. Rio de Janeiro:
Zahar Editores, 1968. (Biblioteca de Ciências Sociais).
103. MILLS, Charles Wright; Tradução Otavio Guilherme Velho. A elite do poder.
Tradução Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1962. (Biblioteca de
Ciências Sociais).
104. Mosca, Gaetano. História das doutrinas políticas desde a antiguidade, completada por
Gaston Bouthoul “as doutrinas políticas desde 1914”. Tradução Marco Aurélio de
Moura Matos. Prefácio Milton Campos. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1958.
(Biblioteca de Ciências Sociais, v. 3).
105. MYRDAL, Gunnar P. Aspectos políticos da teoria econômica (em Apendice:
Controversias recentes de Paul Streeten). Tradução José Auto. Rio de Janeiro:
Zahar Editores, 1962. (Biblioteca de Ciências Sociais).
106. MYRDAL, Gunnar P. O Estado do futuro. Tradução Afonso Blacheyre. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1962. (Biblioteca de Ciências Sociais).
107. NEUMANN, Franz Leopold. Estado democrático e estado autoritário. Tradução
Luiz Corção. Hebert Marcuse (organização e prefácio). Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 1969. (Biblioteca de Ciências Sociais).
108. NOVE, Alec. A economia soviética. Tradução Afonso Blacheyre. Rio de Janeiro:
Zahar Editores, 1963. (Biblioteca de Ciências Sociais).
109. OSSOWSKI, Stanislaw. Estrutura de classes na consciência social. Tradução
Afonso Blacheyre. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1964. (Biblioteca de Ciências
Sociais).
110. PELTO, Pertti J.; SPINDLER, George D. (consultor). Iniciação ao estudo da
antropologia com um capítulo sôbre Sugestões de métodos para professores por
Raymond H. Muessig e Vincent R. Rogers. Tradução Waltensir Dutra. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1967. (Biblioteca de Ciências Sociais).
111. PIETTRE, André. Marxismo. Tradução Paulo Mendes Campos; Waltensir Dutra.
Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1960. (Biblioteca de Ciências Sociais).
112. PINTO, Luis de Aguiar Costa; Bazzanella, Waldemiro. Teoria do desenvolvimento.
Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967. (Biblioteca de Ciências Sociais).
113. POUND, Roscoe, Introdução à filosofia do direito. Tradução Álvaro Cabral. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1965. (Biblioteca de Ciências Sociais).
114. RICHARDSON, George Barclay. Introdução à teoria econômica. Tradução Luciano
Miral. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1966. (Biblioteca de Ciências Sociais).
115. ROSA, Felipe Augusto de Miranda. Patologia social: uma introdução ao estudo da
desorganização social. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1966. (Biblioteca de Ciências
Sociais).
116. ROSA, Felipe Augusto de Miranda. Sociologia do direito, o fenômeno jurídico como
fato social. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1970. (Biblioteca de Ciências Sociais).
117. ROSTOW, Walt Whitman. Etapas do desenvolvimento economico: um manifesto
não comunista. Tradução Octávio Alves Velho. Rio de Janeiro: Zahar Editores,
1961. (Biblioteca de Ciências Sociais).
118. RUMNEY, Jay. Manual de sociologia. Tradução Octávio Alves Velho. Introdução
Djacir Menezes. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1957. (Biblioteca de Ciências
Sociais).
119. RUNCIMAN, Walter Garrison. Ciência Social e Teoria Política. Tradução Waltensir
Dutra. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1966. (Biblioteca de Ciências Sociais).
378
2. BARK, William Carroll. Origens da Idade Média. Tradução Waltensir Dutra. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1962. (Biblioteca de Cultura Histórica).
3. BARRACLOUGH, Geoffrey. Europa: uma revisão histórica. Tradução Afonso
Blacheyre. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1965. (Biblioteca de Cultura Histórica).
4. BARRACLOUGH, Geoffrey. Introdução à História Contemporânea. Tradução
Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1966. (Biblioteca de Cultura
Histórica).
5. BEEK, Martinus Adrianus. História de Israel. Tradução Jorge Enéas Fortes. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1967. (Biblioteca de Cultura Histórica).
6. BURCKHARDT, Jacob. Reflexões sobre a História. Tradução Leo Gilson Ribeiro.
Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1961. (Biblioteca de Cultura Histórica).
7. CHILDE, Vere Gordon. A evolução cultural do homem. Tradução Waltensir Dutra.
Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1966. (Biblioteca de Cultura Histórica).
8. CHILDE, Vere Gordon. O que aconteceu na história. Tradução Waltensir Dutra. Rio
de Janeiro: Zahar Editores, 0. (Biblioteca de Cultura Histórica).
9. CLARK, Grahame. A pré-história. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1962. (Biblioteca
de Cultura Histórica).
10. CROCE, Benedetto. A história: pensamento e ação. Tradução Darcy Damasceno.
Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1962. (Biblioteca de Cultura Histórica).
11. CROCE, Benedetto. História, pensamento e ação. Tradução Darcy Damasceno. Rio
de Janeiro: Zahar Editores, 1962. (Biblioteca de Cultura Histórica).
12. GAMOW, George. Um, dois, três... Infinito. Tradução Waltensir Dutra. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1962. (Biblioteca de Cultura Histórica).
13. HEILBRONER, Robert Louis. O futuro como história. Tradução Waltensir Dutra.
Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1963. (Biblioteca de Cultura Histórica).
14. HOOK, Sidney. O herói na história. Tradução Iracilda M. Damaceno. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1962. (Biblioteca de Cultura Histórica).
15. JEANS, James. O universo em que vivemos. Tradução Waltensir Dutra. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1962. (Biblioteca de Cultura Histórica).
16. KIRK, George Eden. História do Oriente Médio: desde a ascensão do Islã até a época
contemporânea. Tradução Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967.
(Biblioteca de Cultura Histórica).
17. LINK, Arthur Stanley; com a colab. de William B. Catton. História moderna dos
Estados Unidos, 3v.. Tradução Waltensir Dutra; Alvaro Cabral e Fernando de Castro
Ferro. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1965. (Biblioteca de Cultura Histórica).
18. LLOYD-JONES, Hugh (coord.). O mundo grego. Tradução Waltensir Dutra. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1965. (Biblioteca de Cultura Histórica).
19. LOBO, Eulália Maria Lahmeyer. America Latina contemporânea: modenização -
desenvolvimento - dependência. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1970. (Biblioteca de
Cultura Histórica).
20. RIBARD, André. A prodigiosa história da humanidade, 2v.. Tradução Darcy
Damasceno e Iracilda M. Damasceno. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1964.
(Biblioteca de Cultura Histórica).
21. ROSTOVTZEFF, Michael Ivanovich. História de Roma, 2v.. Tradução Waltensir
Dutra. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1961. (Biblioteca de Cultura Histórica).
22. RUNCIMAN, Steven. A civilização bizantina. Tradução Waltensir Dutra. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1961. (Biblioteca de Cultura Histórica).
381
Cinema
12. MURRAY, Edward J. Motivação e emoção. Tradução Álvaro Cabral. Rio de Janeiro:
Zahar Editores, 1967. (Curso de Psicologia Moderna).
13. MUSSEN, Paul Henry. O desenvolvimento psicológico da criança. Tradução Álvaro
Cabral. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1966. (Curso de Psicologia Moderna).
14. ROTTER, Julian. Psicologia clinica. Tradução Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 1967. (Curso de Psicologia Moderna).
15. TEITELBAUM, Philip. Psicologia fisiológica. Tradução Álvaro Cabral. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1969. (Curso de Psicologia Moderna).
16. TYLER, Leona Elizabeth. Testes e medidas. Tradução Álvaro Cabral. Rio de Janeiro:
Zahar Editores, 1966. (Curso de Psicologia Moderna).
Divulgação Cultural
26. ROBINSON, Joan. Filosofia econômica. Tradução Fernando de Castro Ferro. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1964. (Divulgação Cultural).
27. RÓNAI, Paulo. Homens contra Babel: passado, presente e futuro das linguas
artificiais. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1964. (Divulgação Cultural).
28. ROSTOW, Walt Whitman. A estratégia americana. Tradução Luciano Miral. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1965. (Divulgação Cultural).
29. SARTRE, Jean-Paul. Esboço de uma teoria das emoções. Tradução Fernando de
Castro Ferro. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1965. (Divulgação Cultural).
30. SCHAFF, Adam. Marxismo e o existencialismo. Tradução Waltensir Dutra. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1965. (Divulgação Cultural).
31. SHAPLEY, Harlow. O futuro do homem no universo. Tradução Luiz Costa Lima.
Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1965. (Divulgação Cultural).
32. SIDNEY Hook. Educação para o homem moderno. Rio de Janeiro: Zahar Editores,
1965. (Divulgação Cultural.).
33. SILVA, Gastão Pereira da. O ateísmo em Freud. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1966.
(Divulgação Cultural).
34. SWEEZY, Paul Marlor. Teóricos e teorias da economia. Tradução Afonso Blacheyre.
Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1965. (Divulgação Cultural).
35. WALSTON, Henry David Leonard George. Problemas agrícolas dos países
socialistas. Tradução Waldir da Costa Godolphim. Rio de Janeiro: Zahar Editores,
1964. (Divulgação Cultural).
10. WHEARE, Kenneth Clinton. Lincoln e os Estados Unidos. Tradução Waltensir Dutra.
Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1963. (Homens que fizeram época).
11. WOODS, John A.. Roosevelt e a América moderna. Tradução Afonso Blacheyre. Rio
de Janeiro: Zahar Editores, 1963. (Homens que fizeram época).
12. WRIGHT, Esmond. Washington e a revolução americana. Tradução Waltensir Dutra.
Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1963. (Homens que fizeram época).
13.
Iniciação aos Estudos Sociais
1. BROEK, Jan Otto Marius. Iniciação ao estudo da geografia com um capitulo sobre
sugestões de métodos para professores por Raymon H. Muessig e Vincent R. Rogers.
Tradução Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967. (Iniciação aos
Estudos Sociais).
2. COMMAGER, Henry Steele. Iniciação ao estudo da história. Tradução Waltensir
Dutra. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967. (Iniciação aos Estudos Sociais).
3. MARTIN, Richard S., e Miller, Reuben G.Iniciação ao estudo da economia com um
capítulo sôbre sugestões de métodos para professores por Raymond H. Muessig e
Vincent R. Rogers. Tradução Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967.
(Iniciação aos Estudos Sociais).
4. ROSE, Caroline Baer. Iniciação ao estudo da sociologia com um capítulo sôbre
sugestões de métodos para professores por Raymond H. Muessig e Vincent R. Rogers.
Tradução Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967. (Iniciação aos
Estudos Sociais).
5. SORAUF, Francis Joseph. Iniciação ao estudo da Ciência Política. Tradução
Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967. (Iniciação aos Estudos
Sociais).
1. HAGENBUCH, Walter. Economia social. Tradução José Auto. Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 1961. (Manuais de Economia Cambridge).
2. HARROD, Sir Roy Forbes. Comércio internacional. Tradução Afonso Blacheyre.
Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1964. (Manuais de Economia Cambridge).
3. HENDERSON, Hubert. A oferta e a procura. Tradução Carlos Nayfeld. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1961. (Manuais de Economia Cambridge).
4. HICKS, Ursula K. Finanças públicas. Tradução Leopoldo C. Fontenele. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1961. (Manuais de Economia Cambridge).
5. MATTHEWS, Robert Charles Oliver. O ciclo econômico. Tradução Afonso
Blacheyre. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1964. (Manuais de Economia Cambridge).
6. ROBERTSON, Dennis Holme. Moeda. Tradução Waltensir Dutra. Rio de Janeiro:
Zahar Editores, 1960. (Manuais de Economia Cambridge).
7. ROBINSON, Edward Austin Gossage. A indústria em regime de concorrência.
Tradução Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1961. (Manuais de
Economia Cambridge).
387
Psyche
21. MILLER, George Armitage. Psicologia: a ciência da vida mental. Tradução Álvaro
Cabral. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1964. (Psyche).
22. MULHAHY, Patrick; Fromm, Erich (introdução). Édipo, mito e complexo: uma
critica da teoria psicanalitica. Tradução Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 1965. (Psyche).
23. OSBORN, Reuben. Psicanálise e Marxismo. Tradução Waltensir Dutra. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1966. (Psyche).
24. PIERON, Henri. Psicologia experimental. Tradução Marcello A. Corção. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1969. (Psyche).
25. Reich, Wilhelm. Revolução sexual. Tradução Ary Blaustein. Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 1969. (Psyche).
26. ROSENFELD, Herbert A. Os estados psicóticos. Tradução Jaime Salomão; Paulo
Dias Correia. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1968. (Psyche).
27. SANDSTRÖM, Carl Ivar. A psicologia da infância e da adolescência. Tradução
Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967. (Psyche).
28. STORR, Anthony. A agressão humana. Tradução Edmond Jorge. Rio de Janeiro:
Zahar Editores, 1970. (Psyche).
29. STORR, Anthony. Desvios sexuais. Tradução Vera Borda. Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 1967. (Psyche).
30. THOMPSON, Clara. Evolução da psicanálise. Tradução Álvaro Cabral. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1965. (Psyche).
31. WINNICOTT, Donald Woods. A criança e o seu mundo. Tradução Álvaro Cabral.
Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1966. (Psyche).
Teatro
1. ABEL, Lionel. Metateatro: uma visão nova da forma dramática. Tradução Bárbara
Heliodora. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1968. (Teatro).
2. BENTLEY, Eric. A experiência viva do teatro. Tradução Álvaro Cabral. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1967. (Teatro).
3. BENTLEY, Eric. O teatro engajado. Tradução Yan Michalski. Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 1969. (Teatro).
4. BRUSTEIN, Robert Sanford. O teatro de protesto. Tradução Álvaro Cabral. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1967. (Teatro).
5. PEACOCK, Ronald. Formas da literatura dramática. Tradução Bárbara Heliodora.
Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1968. (Teatro).
6. WILLETT, John. O teatro de Brecht visto de oito aspectos. Tradução Álvaro Cabral.
Prefácio Paulo Francis. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967. (Teatro).
Teatro hoje
1. PISCATOR, Erwin. Teatro político. Tradução Aldo Della Nina. Rio de Janeiro:
Zahar Editores, 1968. (Teatro hoje).
389
15. PEREIRA, Luiz (org.); Duarte Lago Pacheco; E. Soares Pinto; Luiz Pereira.
Urbanização e subdesenvolvimento. Tradução Duarte Lago Pacheco. Rio de Janeiro:
Zahar Editores, 1969. (Textos Básicos de Ciências Sociais).
16. PERROUX, François et alii. Sociologia do desenvolvimento. Introdução José Carlos
Garcia Durand. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967. (Textos Básicos de Ciências
Sociais).
17. READ, Herbert; FRANCASTEL, Pierre; BRECHT, Bertold. Sociologia da arte, III.
Tradução Dora Rocha; Yvonne Costa Ribeiro e Heitor O'Dwyer. Rio de Janeiro:
Zahar Editores, 1967. (Textos Básicos de Ciências Sociais).
18. SELIGMAN, Edwin R. A. [et al.]. Economia e ciências sociais. Introdução Fabio
Lucas. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1969. (Textos Básicos de Ciências Sociais).
Publicações avulsas
2. BEAL, George M. Liderança e dinâmica de grupo. Tradução Waltensir Dutra. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1963.
3. BELL, John Fred. História do pensamento econômico. Rio de Janeiro: Zahar Editores,
1962.
4. BROWN, James Alexander Campbell. Técnicas de persuasão: da propaganda à
lavagem cerebral. Tradução Octávio Alves Velho. Rio de Janeiro: Zahar Editores,
1965.
5. CARPEAUX, Otto Maria. Uma nova história da música. Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 1958.
6. CARPENTER, Edmund; MCLUHAN, Marshall (orgs). Revolução na comunicação.
Tradução Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1968.
7. DERRIMAN, James Parkyns. Relações públicas para gerentes. Tradução Jorge
Arnaldo Fortes; José Soares de Almeida. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1968.
8. DOURADO, Luiz Angelo. Homossexualismo (masculino e feminino) e delinquência.
Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1963.
9. DRACHKOVICH, Milorad M (Org.). Ensaios de: Raymond Aron; Arthur A. Cohen;
Theodore Draper; Merle Fainsod; Richard Lowenthal; Boris Souvarine; Adam B.
Ulam; Bertram D. Wolfe. O marxismo no mundo moderno. Tradução Waltensir
Dutra. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1966.
10. DUNLAP, Henry H; Tuch, Hans N.. Átomo em ação. Tradução Giasone Rebuá. Rio
de Janeiro: Zahar Editores, 1958.
11. ESSLIN, Martin. O teatro do absurdo. Tradução Bárbara Heliodora. Rio de Janeiro:
Zahar Editores, 1968.
12. FERGUSON, John. Fundamentos da civilização ocidental. Tradução Fernando de
Castro Ferro.. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1964.
13. FISCHER, Ernst. A necessidade da arte: uma interpretacao marxista. Tradução
Leandro Konder. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1966.
14. FROMM, Erich. O dogma de Cristo e outros ensaios sobre religião, psicologia e
cultura. Tradução Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1964.
15. FUKUI, Lia Freitas Garcia. Classes urbanas e classes rurais. Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 1969.
16. HAN, Suyin. China no ano 2001. Tradução Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 1968.
391
17. HOOK, Sidney. Política e liberdade. Tradução Luciano Miral. Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 1966.
18. HUBERMAN, Leo. Cuba: anotomia de uma revolução. Tradução Waltensir Dutra.
Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1960.
19. LEITE, Antonio Dias. Caminhos do desenvolvimento: contribuição para um projeto
brasileiro. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1966.
20. LEITE, Celso Barroso. A previdência Social. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1963.
21. Lindsay, Alexandre Dunlop. O estado democrático moderno. Tradução Waltensir
Dutra. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1964.
22. LIPSET, Seymour Martin. A sociedade americana: uma analise histórica e
comparada. Tradução Mário Salviano. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1966.
23. LUCAKS, Gyorgy et alii. Estrutura de classes e estratificação social. Tradução
Antônio Roberto Bertelli; Moacir G. Soares Palmeira; Otávio Guilherme C. A. Velho..
Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1966.
24. MALIK, Charles. A luta pela paz. Tradução Christiano Monteiro Oiticica. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1965.
25. MANGABEIRA, Francisco. Imperialismo, petróleo, Petrobrás. Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 1964.
26. MENDRAS, Henri. Queiroz, Maria Isaura Pereira de (org). A cidade e o campo. Rio
de Janeiro: Zahar Editores, 1969.
27. MENDRAS, Henri. Queiroz, Maria Isaura Pereira de (org).. A influência dos fatores
socioculturais na direção de pequenas empresas agrárias.. Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 1969.
28. MILLS, Charles Wright. A verdade sobre Cuba. Tradução Waltensir Dutra. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1961.
29. MILLS, Charles Wright. As causas da próxima guerra mundial. Tradução Waltensir
Dutra. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1961.
30. MILLS, Charles Wright. O papel social do intelectual [ informação sobre esse título
só foi localizada no Correio da Manhã de 4 de maio de 1965 ]. Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 1965.
31. NUSSBAUM, Arthur. Uma história do dólar. Tradução Fernando A. Moreira. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1967.
32. O'CONNOR, Harvey. O império do petróleo. Tradução Luiz Cláudio de Castro.
Prefácio Janary Nunes. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1959.
33. O'CONNOR, Harvey. O Petróleo em crise. Tradução Waltensir Dutra. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1962.
34. ODELL, Peter R. Geografia econômica do petróleo. Tradução Jairo José Farias. Rio
de Janeiro: Zahar Editores, 1966.
35. OLIVEIRA, Franklin. A fantasia exata: ensaios de literatura e música. Rio de Janeiro:
Zahar Editores, 1959.
36. OSBORN, Fairfield. As pressões da população. Tradução Jairo José Farias. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1965.
37. RAMOS, Alberto Guerreiro. A crise no poder no Brasil: problemas da revolução
nacional brasileira. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1961.
38. READ, Herber Edward. Arte e alienação.. Tradução Edmond Jorge. Rio de Janeiro:
Zahar Editores, 1968.
392
39. SALZMAN, Eric. Introdução à música no século XX. Rio de Janeiro: Zahar Editores,
1970.
40. SANTOS, Paulo de Tarso. Os cristãos e a revolução social. Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 1963.
41. SCHAAR, John H. O mundo de Erich Fromm. Tradução Waltensir Dutra. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1965.
42. SCHULTZ, Theodore William. A transformação da agricultura tradicional..
Tradução José Carlos Teixeira Rocha. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1966.
43. SINGH, V. B. e outros. Da economia política. Tradução Waltensir Dutra. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1966.
44. STERNBERG , Fritz. A revolução militar e industrial do nosso tempo. Tradução
Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1962.
45. STOKLEY, James. Novo mundo do átomo. Tradução Octavio Alves Velho. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1959.
46. STONIER, Alfred William. Teoria da economia. Tradução Cássio Fonseca. Prefácio
Cássio Fonseca. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1959.
47. SUDRE, René. Tratado de parapsicologia. Tradução Constantino Paleólogo. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1966.
48. SWEEZY, Paul Marlor. Perspectivas da América Latina. Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 1964.
49. SWEEZY, Paul Marlor. Reflexões sobre a Revolução Cubana. Tradução Waltensir
Dutra. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1962.
50. VILAS Boas, Orlando; Vilas Boas, Cláudio. Xingu: os índios, seus mitos.. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1970.
51. WALTER, W. Grey. A Mecânica do cérebro. Tradução Afonso Blacheyre. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1962.
52. WENDT, Gerald. Horizontes do poder atômico. Tradução Giasone Rebuá. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1959.
53. WHITE, Jon Manchip. O Egito antigo. Tradução Fernando de Castro Ferro. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1966.
54. WODDIS, Jack. África : as raízes da revolta. Tradução Waltensir Dutra. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1961.
393
986
Localizados a partir da tese de PEREIRA, Luciana Lombardo Costa. A lista negra dos livros vermelhos:
uma análise etnográfica dos livros apreendidos pela polícia política no Rio de Janeiro. Tese (Doutorado em
Antropologia Social). Universidade Federal do Rio de Janeiro, Museu Nacional, 2010. Disponível em:
<http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=174115>. Acesso
em: 18 mar. 2015. Após a leitura desta tese empreendemos pesquisa no próprio arquivo a fim de analisar item
por item in loco.
398
13. MANDEL, Ernest. A formação do pensamento economico de Karl Marx: de 1843 até
a redação de O Capital. Tradução Carlos Henrique de Escobar. Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 1968. (Biblioteca de Ciências Sociais).
14. MANNHEIM, Karl. Diagnóstico do nosso tempo. Tradução Octávio Alves Velho. Rio
de Janeiro: Zahar Editores, 1961. (Biblioteca de Ciências Sociais).
15. MARCUSE, Herbert. Eros e civilização: uma critica filosofica no pensamento de
Freud. Tradução Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1968. (Atualidade).
16. MILLS, Charles Wright. As causas da próxima guerra mundial. Tradução Waltensir
Dutra. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1961.
17. MOORE, Stanley. Três táticas marxistas. Tradução Waltensir Dutra. Rio de Janeiro:
Zahar Editores, 1964. (Divulgação Cultural).
18. NOVE, Alec. A economia soviética. Tradução Afonso Blacheyre. Rio de Janeiro:
Zahar Editores, 1963. (Biblioteca de Ciências Sociais).
19. GUERREIRO RAMOS. A crise do poder no Brasil. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1963. (Biblioteca
de Ciências Sociais). Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1961.
20. SWEEZY, Paul Marlor. Ensaios sobre o capitalismo e o socialismo. Tradução Afonso Blacheyre. Rio
de Janeiro: Zahar Editores, 1965. (Biblioteca de Ciências Sociais).
21. SWEEZY, Paul Marlor. Teoria do desenvolvimento capitalista: principios de economia politica
marxista. Tradução Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1962. (Biblioteca de Ciências
Sociais).
22. SWEEZY, Paul Marlor. Socialismo. Tradução Giasone Rebuá e Maurício Caminha de Lacerda.
Prefácio Wilson Sidney Lobato. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1959. (Biblioteca de Ciências Sociais).
23. TROTSKY, Leon. Literatura e revolução. Tradução Moniz Bandeira. Rio de Janeiro: Zahar Editores,
1969. (Atualidade).
399
987
Localizamos este documento do Arquivo Público de São Paulo, no fundo DEOPS/SP, DOPS/Santos e DCS.
Além de citar nesta tese, o documento foi melhor analisado em: AZEVEDO, Fabiano Cataldo de. A Zahar
Editores e seu Projeto Editorial (1957-1970). Livro: Revista do Núcleo de Estudos do Livro e da Edição, v. 6, p.
231-245, 2017.
988
Grifo nosso.
400
APÊNDICE E – Exemplo do Banco de Dados que criamos em Excel, com seus campos, para o inventário e identificação individual de
cada livro. Parte 1.
401
APÊNDICE E – Exemplo do Banco de Dados que criamos em Excel, com seus campos, para o inventário e identificação individual de
cada livro. Parte 2.
402
APÊNDICE E – Exemplo do Banco de Dados que criamos em Excel, com seus campos, para o inventário e identificação individual de
cada livro. Parte 3.