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Explicar o Comportamento Criminoso
Explicar o Comportamento Criminoso
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Explicar o comportamento
criminoso: o contributo da
Psicologia
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Rui Abrunhosa Gonçalves*
Licenciado, Mestre e Doutorado em Psicologia. Professor Associado na Escola de Psicologia da Universidade
do Minho, Portugal
A Psicologia Criminal é uma disciplina que está englobada no vasto campo de inter-
secção entre a ciência psicológica e a Justiça, ocupando-se em grande parte na produção
de elementos teóricos que ajudem a explicar e compreender o comportamento crimi-
noso e os criminosos. O presente artigo aborda as concepções tipológica e desenvolvi-
mental, procurando evidenciar os contributos de ambas na explicação da conduta cri-
minal, salientando as principais variáveis cognitivas, emocionais e comportamentais
que devem ser consideradas na avaliação e intervenção de sujeitos antisociais.
No quadro das várias disciplinas que dentro da Psicologia estabelecem a ligação com
a Lei e a Justiça, a Psicologia Criminal ocupou sempre lugar de destaque, quer no
âmbito internacional como no nacional. De facto, desde os escritos de Lombroso
(1895) que ela é referida, mas encontramo-la a nível nacional, logo em 1890, nos Essais
de Psychologie Criminelle da autoria de Ferreira Deusdado1. A relevância de Ferreira
Deusdado advém da importância que este autor dá à educação e às variáveis sociais e
individuais, como motores da transformação dos criminosos, ao arrepio da corrente
bio-antropológica então dominante.
Contudo, por causa da importância que a corrente sociológica teve na explicação da
delinquência e do crime, a partir dos anos trinta do século passado, só muito poste-
riormente (anos oitenta/noventa) é que aparecem na literatura da especialidade títu-
los que assacam à Psicologia um estatuto maior como ciência útil e imprescindível
neste domínio. Algumas dessas obras revestem mesmo o estatuto de manuais gerais
do amplo domínio em que a Psicologia e as questões da Lei e da Justiça se intersec-
tam (e.g., Bull & Carson, 1995) ou de um domínio específico dessa intersecção como
é o caso da Psicologia Forense (e.g., Weiner & Hess, 1987). Em 1989, Clive Hollin
publica Psychology and crime: An introduction to criminological psychology, cujo índice
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Para além deste autor, é de salientar a importância de outros investigadores portugueses, como Mendes Corrêa e Luiz
de Pina (cf., Gonçalves, 1996), que fazem ampla referência à utilização da Psicologia no estudo da conduta criminosa.
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12 reflecte as várias áreas onde a Psicologia tem vindo a revelar-se como motor de co-
nhecimento neste campo de saber.
Em 1993 e 1994 são publicados dois livros, praticamente com o mesmo nome, am-
bos de conceituados autores. Assim, na Inglaterra surge The psychology of criminal
conduct: Theory, research and practice (Blackburn, 1993), enquanto nos EUA é publi-
cado The psychology of criminal conduct (Andrews & Bonta, 1994)2. Nos dois casos,
são referenciadas, cada vez mais, investigações em que a Psicologia tem vindo a con-
tribuir para um melhor e mais aprofundado conhecimento da etiologia do crime e das
formas de o prevenir. Por outro lado, são também enunciados procedimentos e téc-
nicas de intervenção com criminosos jovens e adultos com vista a diminuir as proba-
bilidades de reincidência no crime ou a dotar estes sujeitos das competências que se
crêem adequadas para a sua reinserção na sociedade. E finalmente, enumeram-se os
factores de risco e factores protectivos que poderão contribuir ou obstar, respectiva-
mente, em termos individuais, sociais ou situacionais, à ocorrência de crimes.
A panóplia de variáveis investigadas neste domínio, a sua operacionalização e men-
suração, permitem à Psicologia Criminal afirmar-se como disciplina pujante que hoje
aparece retratada em várias publicações da especialidade que se reclamam não só do
campo da Psicologia da Justiça mas também da Criminologia e da Justiça Criminal.
Na procura de explicação para o comportamento antisocial e criminoso encontramos
na literatura da especialidade duas grandes abordagens. Uma mais clássica – identifi-
cada como tipológica ou categorial – que procura explicar esse comportamento atra-
vés da presença no indivíduo de um conjunto de características cuja associação é mais
frequente e estável, por oposto aos que não cometem crimes. A outra abordagem, re-
ferida como desenvolvimental, procura identificar quais os factores de risco que estão
presentes nas etapas da vida do sujeito que podem ter contribuído para o cometi-
mento de actos antisociais e/ou criminosos e, também, os factores protectivos que
poderão ter contrariado essas intenções. Aparentemente, estas abordagens explicati-
vas ocupam planos diametralmente opostos e, historicamente, a primeira foi marcada
pelo saber sociológico enquanto a segunda beneficiou sobretudo da investigação psi-
cológica. Relembre-se também que o próprio articulado legal (e.g., Código Penal), ao
dividir os crimes em categorias segundo critérios de gravidade e proporcionalidade,
é ele também um sistema classificatório/categorial.
2
Este livro vai já na quinta edição (Andrews & Bonta, 2010).
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A abordagem tipológica 13
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De acordo com Pinatel (1975), essas características são o egocentrismo, a labilidade, a agressividade e a indiferença
afectiva.
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A abordagem desenvolvimental
conflitos. As mães das crianças que se tornaram antisociais tinham atitudes autoritá- 17
rias acerca da educação dos filhos, tinham dificuldades de leitura, estavam em desa-
cordo com os maridos sobre a disciplina dos filhos e eram avaliadas pelos observado-
res como tendo um relacionamento pouco saudável com os seus filhos de três anos.
A generalidade dos resultados são consistentes com outros estudos longitudinais e re-
visões sobre a matéria (e.g., Fonseca, 2002, 2004), parecendo haver evidência sufi-
ciente para afirmar que as crianças vítimas de violência familiar, abuso ou maus tra-
tos, tendem a revelar-se, mais tarde, como jovens e adultos antisociais ou mesmo
psicopatas (e.g., Emery, 1989; Marshall & Cooke, 1996).
Para resumir a importância dos factores familiares na eclosão da delinquência e do
comportamento antisocial, Meyer (1992) refere três estilos de educação parental que
parecem co-existir em muitas histórias de vida das personalidades antisociais. Um pri-
meiro estilo caracteriza-se pela frieza e/ou distanciamento, que inculca nos filhos uma
incapacidade para empatizar com os seus semelhantes e os impossibilita de com-
preenderem a complexidade do relacionamento humano. O segundo estilo tem a ver
com os pais que são negligentes, não fornecendo nem amor nem supervisão. Por úl-
timo, o terceiro estilo caracteriza os pais que administram recompensas e punições de
forma inconsistente, o que torna a criança incapaz de desenvolver expectativas claras
acerca da forma como se deve comportar, desenvolvendo apenas competências de res-
posta para directivas parentais muito concretas e imediatas, não havendo um padrão
uniforme e coerente de aprendizagem para comportamentos tais como agressões,
alcoolismo, conduta sexual ou manipulação de sentimentos. A única regra que parece
prevalecer é “olha para o que eu digo e não para o que eu faço”.
Os indivíduos assim criados começam por ser incapazes de desenvolver sentimentos
de confiança para com os outros, utilizando a mentira e o subterfúgio como estraté-
gias interpessoais preferidas. Ainda de acordo com Meyer (1992), é previsível que
ocorra a sequência seguinte: 1) as pessoas que são sujeitas aos referidos padrões de
educação familiar não aprendem a responder aos estímulos interpessoais típicos, pelo
que podem vir a sentir-se “ávidos” de estimulação significativa; 2) a confiança básica,
que está na origem de qualquer comprometimento e/ou envolvimento interpessoais
está ausente ou foi drasticamente suprimida; 3) a psicopatia está directamente asso-
ciada a comportamentos violentos e essa associação será tanto maior quanto houver
um padrão de interacção familiar com esse tipo de características e onde a agressivi-
dade é recompensada; 4) o psicopata responde a estímulos que não têm o mesmo va-
lor para os sujeitos normais e por isso é referido como impulsivo. Em suma, há um
crescendo qualitativo e quantitativo de factores em interacção que determinam, atra-
vés de aprendizagens sucessivas, a cristalização da psicopatia.
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18 Terrie Moffitt é uma das autoras mais influentes nesta área. Partindo da idade, Moffitt
(1993) traçou dois percursos criminais distintos em função da idade em que se inicia
a actividade delinquente. Assim e tomando como padrão de análise a distribuição dos
crimes em função da idade nos EUA, a autora verifica uma subida em flecha do seu
número desde o início da adolescência até aos 17 anos, assistindo-se a seguir a uma
queda abrupta dos mesmos (cf., Moffitt, 1993, p. 675). Esta configuração é sensivel-
mente idêntica à encontrada em vários partes do mundo (cf., Hirshi & Gottfredson,
1983; Newburn, 2007). Por outro lado e baseando-se também nos estudos que co-
lheram dados através de auto-relatos ou que se reportam às características da agressi-
vidade em crianças, Moffitt (1993) pôde provar que a curva da distribuição da de-
linquência era semelhante à reportada pelas estatísticas oficiais e, sobretudo, que esta
começava a manifestar-se de forma estável a partir dos 7 anos, quer em rapazes quer
em raparigas (cf., Moffitt & Caspi, 2000).
Curiosamente, Moffitt (1993) partiu de abordagem desenvolvimental para criar pos-
teriormente uma tipologia. Assim, teríamos os delinquentes ao longo da vida (early
starters), que começam as suas carreiras criminais muito precocemente (ainda na in-
fância), prolongando-a durante a adolescência e na idade adulta. Traduzem-se em 5
a 7% dos criminosos mas são responsáveis por cerca de 50% a 60% da criminalidade
cometida. Outro grupo, bastante mais numeroso, apenas inicia a sua actividade an-
tisocial no início da adolescência e durante a mesma tende a envolver-se num nú-
mero desproporcionado de crimes que atinge o pico por volta dos 17 anos, decaindo
depois drasticamente. São os “late starters” ou delinquentes limitados à adolescência
(Moffitt, 1993). Além disso, é ainda possível estabelecer quais as variáveis associadas
a esses dois estilos (cf., Moffitt & Caspi, 2000). No caso dos primeiros, identifica-se
uma combinação entre disfunções familiares (estilos parentais inadequados, desagre-
gação familiar) com défices neuropsicológicos herdados ou adquiridos (hiperactivi-
dade, dificuldades de raciocínio, verbais e de aprendizagem, impulsividade) e ainda
pobreza económica. Quanto aos segundos, é visível um desfasamento da maturidade,
por vezes referido como pseudo-maturidade, que ocorre no período da adolescência
onde o sujeito ainda não tem o seu papel social bem definido e que o impele para uma
imitação ou mesmo mimetização dos comportamentos delinquentes de alguns dos
seus pares — os “early starters” — procurando, deste modo, “demonstrar autonomia em
relação aos pais, conseguir a aceitação dos colegas e acelerar a sua maturação” (Moffitt &
Caspi, 2000, p. 67). O consumo de drogas é, usualmente, o comportamento desviante
típico destes jovens, mas os furtos podem também ocorrer com frequência. Resolvi-
dos os problemas de maturidade e na ausência de outros comportamentos ou condi-
cionantes problemáticas, a antisocialidade destes jovens cessa à medida que entram na
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idade adulta (18 anos). Contudo e de acordo com o postulado por Moffitt (1993), é 19
a junção destes dois estilos numa determinada etapa da vida (16-17 anos) que pro-
duz os elevados índices de criminalidade juvenil que as estatísticas evidenciam, um
pouco por todo o lado, ainda que com alguma diferenciação em função do tipo de
crime (e.g., Newburn, 2007; Smith, 2007).
Contudo, uma boa parte dos criminosos não apresenta nenhum destes dois percur-
sos. Assim Moffitt (1993, 1994) sugeriu outros dois tipos: o “Delinquente Limitado
à Idade Adulta” (adult starter)4 e o “delinquente discontínuo”. A investigação dispo-
nível (e.g. Kratzer & Hodgins, 1999; Smith, 2007) limita o primeiro grupo a não
mais de 4% de sujeitos mas assinala que o facto de só tardiamente serem objecto de
condenações não elimina, na maioria dos casos, o cometimento de outros crimes que
não foram, no entanto, oficialmente registados. Por último, a investigação desenvol-
vimental sobre o crime identifica ainda um quarto tipo — o delinquente descontínuo
— isto é, aquele indivíduo adulto que se envolve em comportamentos antisociais se-
gundo um padrão intermitente, mas que aparece relacionado com o envolvimento
em brigas e lutas durante a infância. De todos, este tipo parece ser aquele sobre o qual
menos informação existe. De qualquer forma, um estudo envolvendo uma coorte de
7101 homens e 6751 mulheres (Kratzer & Hodgins, 1999) verificou a existência de
6.2% de homens e 0.4% de mulheres referenciados como “early starters”, enquanto
que os “late starters” eram 9,9% homens e 2.2% mulheres. Por seu turno, na catego-
ria dos “adult starters” é aquela que regista maior prevalência (55% dos homens e 78%
das mulheres) e, finalmente os delinquentes descontínuos aparecem representados em
17.9% dos casos no sexo masculino e 12,7% nas mulheres. Estes resultados confir-
maram parcialmente a teoria de Moffitt (1993) quanto aos delinquentes ao longo da
vida e aos delinquentes limitados à adolescência, mas são contraditórios ao evidenciar
que a maior faixa de crimes surge assacada aos “adult starters” que assim parecem ter
a facilidade ou o poder para mascararem os seus delitos iniciais e aparecerem, a par-
tir já da idade adulta, com alto pendor para a criminalidade. São apontadas algumas
questões metodológicas que diferenciariam os procedimentos de recolha de dados nos
dois estudos e ainda o facto de no estudo mais recente haver acesso aos registos cri-
minais dos sujeitos em idades significativamente mais tardias do que os do estudo de
Moffitt.
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Já parcialmente referenciado noutras tipologias desenvolvidas a partir da variável idade, como delinquente tardio
(“late bloomer”) (DiLalla & DiLalla, 2004) ou ocasional (e.g., Sinclair & Chapman, 1973), onde o cometimento de
um crime — que é geralmente grave — representa todavia um acto isolado na vida do sujeito. Contudo, e tendo em
atenção que o enquadramento teórico de que nos ocupamos aqui defende uma perspectiva desenvolvimental, este tipo
que agora referimos seria caracterizado por um início tardio da actividade delinquente e continuidade da mesma,
e não uma identificação através da presença de um simples acto isolado.
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20 Para Loeber (1990), as carreiras criminais também podem conhecer diferentes cami-
nhos, consoante a sua diferente especialização. Assim, pode-se considerar um percurso
de conflito com a autoridade (authority conflict pathway), que começa em idades bas-
tante precoces (menos de 12 anos) com comportamentos de teimosia que conduzem
posteriormente ao desafio e à desobediência e, finalmente, se cristaliza em torno do
evitamento e confronto com a autoridade, através da tendência invariável para ficar
até muito tarde fora de casa, faltar à escola e fugas frequentes do domicílio. Um se-
gundo caminho, a começar já na adolescência, é referido por estes autores como per-
curso encoberto (covert pathway), caracterizando-se pelo uso frequente de mentiras,
pelo envolvimento em pequenos delitos dos quais o mais frequente são os furtos de
objectos em lojas, que tendem a alastrar para crimes mais danosos (atear fogos, des-
truição da propriedade) e que depois frequentemente evoluem para formas mais sé-
rias de criminalidade (furtos qualificados, falsificação de cheques, furto e uso indevido
de cartões de crédito, tráfico de drogas, assaltos,...). Finalmente, o percurso aberto
(overt pathway), identifica aqueles sujeitos que, começando também na adolescência,
envolvem-se desde logo, em comportamentos antisociais mais graves, tais como agres-
sões, bullying e roubos. De acordo com os autores, qualquer um destes percursos é sus-
ceptível de concorrer para uma carreira criminal consistente, mas tudo se torna mais
preocupante quando os vários percursos se combinam, já que se aumenta a probabi-
lidade de produzir uma carreira criminal mais persistente e mais grave. Esta situação,
produziria aquela categoria de sujeitos que tendem igualmente a ser conhecidos por
ofensores crónicos (chronic offenders), que correspondem a cerca de 5% da população
criminosa mas são todavia responsáveis por mais de metade dos delitos que ocorrem.
Estes ofensores crónicos corresponderiam assim aos “delinquentes ao longo da vida”
de Moffitt.
A discussão sobre a validade da tipologia de Moffitt (1993, 1994) foi particularmente
enriquecida pela análise das trajectórias delinquentes (Laub & Sampson, 2003; Samp-
son & Laub, 1993). Assim, pôde-se constatar a existência de duas explicações com-
plementares: de um lado o processo através do qual se vai estruturando o comporta-
mento antisocial na vida de uma pessoa através do potencial de risco que esta possui
e, do outro, os altos e baixos desse mesmo percurso por força das influências am-
bientais, que podem contribuir para o reforço e continuidade da carreira criminal ou
para o seu término precoce (cf., Smith, 2007).
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Importa dizer que os critérios da DPA foram mantidos em relação à anterior versão (DSM-IV-TR: APA, 2002),
ainda que os autores sugiram algumas especificações alternativas da desordem, em grande parte motivadas pela
questão da inclusão da psicopatia enquanto variante da DPA (APA, 2013, pp. 764-765).
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22 Parece-nos pois útil que avaliação dos agressores possua um carácter mais abrangente
na qual, mais do que a preocupação em “encaixar” o sujeito numa determinada cate-
goria, se identifiquem os problemas e défices (factores de risco) que o sujeito apresenta,
mas também os seus recursos (factores protectivos), permitindo assim apresentar uma
análise integrada que inclusive oriente no sentido de uma intervenção em sentido lato
– dando indicações quanto ao tipo de sanção a aplicar e as condições em que a mesma
deve ser cumprida – mas também no sentido restrito, através da individualização da
intervenção e a inserção do indivíduo em contextos e programas terapêuticos pré-de-
finidos e apropriados aos seus problemas. Neste sentido, se considerarmos os agres-
sores segundo quatro dimensões (biológica, cognitiva, emocional-afectiva e compor-
tamental), poderemos chegar a uma compreensão mais abrangente do seu
funcionamento que vá para além da visão estereotipada e estática que as diversas clas-
sificações nosológicas (DSM, CID) nos propõem. Do mesmo modo, poderemos lo-
grar melhor compreensão dos actos criminosos, pois sendo verdade que existem afi-
nidades entre as características do criminoso e do crime que comete, existem
simultaneamente características comuns a vários tipos de criminosos e outras especí-
ficas só de alguns. Em concreto, vejamos o que se passa com as dimensões cognitiva,
emocional-afectiva e comportamental, todas elas associadas à explicação psicológica
do crime.
Dimensão cognitiva
Neste apartado poderemos considerar vários elementos caracterizadores dos sujeitos
antisociais. Uma grande variedade de estudos longitudinais assinala a importância de
um nível de inteligência baixo como um factor de risco para a delinquência (e.g., Far-
rington, 2007). Várias revisões de estudos sobre este assunto assinalam que a preva-
lência do diagnóstico de atraso mental (isto é, QI < 70) em populações forenses va-
ria entre 2,5 % e 9,5 %, contra 3% na população geral (cf., Andrews & Bonta, 2010).
Lynam, Moffitt & Stouthamer-Loeber (1993), conduziram uma investigação bem
controlada do ponto de vista dos efeitos da raça e da classe social numa amostra de
411 rapazes de 12 e 13 anos, provenientes do Estudo Longitudinal de Pittsburgh e ve-
rificaram que estes rapazes pontuavam de forma significativamente mais baixa (10 a
11 pontos na escala total e 8 na escala verbal) do que os não-delinquentes, não havendo
diferenças significativas na escala de realização. Também no estudo de Cambridge,
um terço dos rapazes que pontuou abaixo de 90 no teste das matrizes progressivas de
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A teoria do desenvolvimento moral de Kohlberg (1976) aplicada à explicação da delinquência sustenta que os
delinquentes não atingem o estádio convencional, ficando limitados na sua aprendizagem ao raciocínio concreto,
que depende unicamente da acção, das consequências desta e do poder detido por quem a executa.
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Raven na idade de 8-10 anos, foram condenados na adolescência, duas vezes mais 23
que os restantes (Farrington, 2007).
A utilização de processos de raciocínio mais concretos do que abstractos (e.g., Farrington,
2007; Garrido, 1993), ou seja, a tendência a privilegiar a acção em detrimento da re-
flexão e da planificação, é assim um apanágio dos sujeitos antisociais, dificultando a
resolução de problemas, nomeadamente nas interacções sociais. As pessoas que utili-
zam sobretudo o raciocínio concreto têm dificuldades em organizar a informação ou
avaliar correctamente os “prós e contras” das tomadas de decisão, já que tal envolve
pensar sobre vários aspectos ou elementos que podem ainda não estar disponíveis
nesse momento8. Uma das capacidades do raciocínio abstracto é a de fantasiar, ima-
ginar situações e criar cenários para o futuro. Deste modo, os delinquentes surgem li-
mitados na sua capacidade de estabelecer metas e objectivos a longo-prazo, privile-
giando soluções imediatas do tipo “aqui e agora”. No contexto das relações
interpessoais, é frequente que tais indivíduos sejam incapazes de perceber as caracte-
rísticas menos visíveis das pessoas, tais como os seus sentimentos ou emoções e por
isso possam agir com um aparente desprezo por tais aspectos.
Uma menor ou pouco frequente utilização do raciocínio abstracto conduz a um pen-
samento alternativo deficitário e a um pensamento consequente deficitário. De facto, a in-
capacidade para raciocinar em termos antecipatórios não permite ao sujeito visuali-
zar diferentes soluções para os problemas e também prever quais as consequências
que derivam dos diferentes cursos de acção que pode ensaiar. Assim, a tendência será
para repetir estratégias anteriores ainda que as mesmas possam não ter dado sempre
os melhores resultados ou até sejam eventualmente inadequadas para a resolução do
problema actual. Esta situação, levou certos autores a falar de “rigidez cognitiva” dos
delinquentes (e.g., Garrido, 1993; Kipper, 1977) ou, no caso dos psicopatas, em “per-
severação da resposta” (e.g., Hiatt & Newman, 2007; Newman, Patterson & Kosson,
1987).
O “locus de controle” (Rotter, 1966) é uma das variáveis mais estudadas no quadro da
psicologia, existindo inúmeras investigações que atestam que as pessoas se dividem
quanto ao grau de controlo que atribuem aos acontecimentos da sua vida, sendo que
umas acreditam que nada ou muito pouco do que lhes acontece é passível de ser con-
trolado por si (locus de controle externo) enquanto outras referem que uma boa parte
do que lhes acontece está dependente do seu próprio controlo (locus de controle in-
terno). De uma forma geral, os sujeitos antisociais quando interrogados sobre as cau-
sas dos seus comportamentos e os respectivos desfechos, tendem a atribuir a terceiros
ou a elementos externos essa responsabilidade, colocando-se assim à mercê da sorte
ou do azar. Ao assumir um locus de controle externo, os delinquentes proclamam-se
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24 como incapazes de governar as suas acções e o seu destino, assumindo que os seus
comportamentos e atitudes antisociais são uma fatalidade imutável.
O locus de controlo externo, presente na generalidade dos sujeitos antisociais é, por
sua vez, responsável pelo aparecimento de distorções cognitivas. Estas mais não são que
formas de pensar e interpretar a realidade de acordo com crenças erróneas ou envie-
sadas mas convenientes aos propósitos dos sujeitos e que, de alguma forma, preten-
dem ilibá-los de responsabilidades. Em geral, tais distorções constituem asserções sim-
ples (e.g., “fui provocado e reagi”; “as coisas simplesmente aconteceram”) mas nalguns
casos, como nos abusadores sexuais de menores, procedem de cognições bastante mais
elaboradas (e.g., “há teorias psicológicas que defendem que as crianças têm uma se-
xualidade muito parecida com a dos adultos”) e daí a importância do seu escrutínio
para programar a intervenção (Coutinho-Pereira & Gonçalves, 2009; Maruna &
Mann, 2006; Ward, 2000). Em qualquer um dos casos, é notório que após o acto
existe tendência para produzir uma explicação para o sucedido (que pode até ser bi-
zarra: “foi o diabo que tomou conta de mim”) mas que servirá para dar algum sentido
ao que sucedeu e colocar a culpa e a responsabilidade em elementos externos ao su-
jeito. Por outro lado, é importante distinguir a mentira (forma deliberada e inten-
cional de descrever os factos igualmente muito presente no discurso dos sujeitos an-
tisociais), das distorções cognitivas (formas individuais ou próprias de ver a realidade),
que procedem geralmente da interiorização de crenças ou mitos que, por sua vez, são
aceites e partilhadas por grupos mais alargados de pessoas (Coutinho-Pereira & Gon-
çalves, 2009; Marshall, Anderson & Fernandez, 2003). Algumas distorções poderão
ser identificadas como mais gerais – talvez por procederem da crenças – ou mais idios-
sincráticas, consoante as capacidades de elaboração do agressor e a sua forma peculiar
de encarar a realidade e as relações interpessoais. As crenças irão funcionar como ma-
pas cognitivos que representam aspectos fulcrais do mundo enquanto as distorções
cognitivas se reportam a alegações que envolvem julgamentos do ofensor, expressando
aquilo que o mesmo considera ser verdadeiro digno, valioso ou desejável para expli-
car a conduta ilícita.
anomalia física ou mental. Nos psicopatas são comuns as descrições meramente fac- 25
tuais e desprovidas de qualquer afectividade em relação às vítimas, consubstanciadas
em comentários do tipo “foi uma pena”, “tiveram o que mereciam”, “não posso preocu-
par-me com isso; já tenho problemas que cheguem” ou a confissão frequente que “na rea-
lidade nunca pensaram muito nisso”.
Uma outra característica é a superficialidade afectiva que consiste na incapacidade para
experienciar emoções e afectos a um certo nível de profundidade. A exteriorização das
emoções é feita, em muitos casos, de forma dramática, desarticulada e rapidamente vi-
vida. Por via disso, aquilo que dizem estar a sentir pode não ter nenhuma consistência
em relação aos comportamentos que expressam. A superficialidade afectiva dificulta o
estabelecimento de relacionamentos duradouros e, por isso, muitos delinquentes têm
no seu historial várias relações conjugais e extraconjugais e uma descendência alargada
da qual geralmente pouco sabem e a que não prestam deveres nem obrigações.
O egocentrismo é pois correlativo deste modo de sentir, e é observável em atitudes e
comportamentos que manifestam uma profunda falta de empatia pelos outros e uma
fria despreocupação pelos seus direitos, sentimentos ou bem-estar. Estudos longitu-
dinais sobre a delinquência (e.g., Farrington, 2007; Luengo et al., 1994) e relaciona-
dos com a intervenção sobre agressores juvenis (e.g., Ttofi & Farrington, 2010) e se-
xuais (e.g., Marshall, Anderson & Fernandez, 2003) atestam a importância da
contribuição desta variável para a explicação do comportamento antisocial e crimi-
noso. Consequentemente, os sujeitos antisociais desenvolvem relacionamentos impes-
soais, abordando as pessoas como se de objectos se tratasse, sendo incapazes de pôr em
marcha estratégias adequadas de relacionamento interpessoal e usando antes a mani-
pulação em função das suas conveniências, pouco se importando com as consequên-
cias dos seus actos.
Uma boa parte deste funcionamento emocional pode provir de um estilo de vinculação
evitante (e.g., Ainsworth, Blehar, Waters & Wall, 1978) presente no passado familiar
da generalidade destes sujeitos, em que os pais foram frios ou distantes afectivamente,
reduzindo ao máximo o contacto com os seus filhos e não lhes proporcionando um
mínimo de afecto. Assim, as crianças criadas neste tipo de relacionamento, tendem a
desconfiar dos outros e evitam a todo o custo o relacionamento interpessoal. Adicio-
nalmente, a sua autoconfiança e a sua autoestima são baixas e dispõem de poucos
recursos (porque não os ensinaram) para lidar adequadamente com os problemas ge-
rados pelo contacto com outras pessoas. Preferem pois ignorá-las enquanto tal ou agem
de forma impulsiva, desabrida ou esquiva, aumentando assim a probabilidade de
cometerem actos antisociais ou criminosos. Um estudo de Trzesniewski et al., (2006)
evidenciou que os adolescente com baixa autoestima apresentavam uma saúde física
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26 e mental mais debilitada, piores perspectivas económicas e níveis mais altos de com-
portamentos criminosos na sua vida adulta. Estes resultados sugerem que a baixa au-
toestima é assim responsável por consequências negativas na vida real adulta. A baixa
autoestima associa-se em muitos casos ao locus de controlo externo, uma vez que aque-
les que julgam ter pouco controlo sobre as suas acções tendem a ter uma imagem de
si mais negativa. Deste modo os delinquentes vêem os delitos que cometem como
formas de reparar as sua baixa autoestima já que através deles poderão obter uma sen-
sação (ilusória) de controlo sobre o mundo que os rodeia (e.g., Garrido, 1993).
Dimensão comportamental
Esta dimensão é a que, pelas suas características directamente observáveis, ajuda me-
lhor a definir os sujeitos antisociais. Por isso é a que está mais presente nas classifica-
ções das perturbações mentais (DSM; CID), mas igualmente nos articulados legais
para distinguir a gravidade dos delitos. Como elementos desta dimensão destaca-se em
primeiro lugar a agressividade, que surge como resposta típica dos delinquentes na re-
solução da generalidade dos seus problemas e como estilo de interacção preferido. A
agressividade tem vários componentes (cólera, hostilidade, raiva, ira,...) e formas de
expressão (verbal, física, emocional). Além disso, é comum distinguir-se uma agres-
sividade reactiva ou colérica – a que nasce de uma frustração intensa ou é fruto de uma
provocação directa – da agressividade instrumental – que é fruto de um planeamento
prévio e é previsível que surja independentemente de qualquer provocação ou estado
emocional alterado – sendo esta distinção muito importante na qualificação dos cri-
mes9. Os sujeitos antisociais e os psicopatas tendem para uma violência de carácter ins-
trumental, que pode surgir associada ao planeamento prévio da sua actividade crimi-
nosa (o intuito era o furto mas pode ser necessário ameaçar, manietar ou agredir a
vítima) ou constituir-se apenas como um fim em si – agride-se pelo prazer intrínseco
que daí advém ou por um motivo fútil ou pouco compreensível (“dei-lhe um tiro por
que estava a olhar para mim”; “não gostei da cara dele, estava a gozar comigo”). Por isso
alguns autores referem-se também a este estilo de agressividade como “predatório”
(e.g., Raine & Yang, 2007).
A impulsividade e o baixo autocontrole são igualmente características comportamentais
da generalidade dos agressores sendo referidas em várias teorias criminológicas como
elemento explicativo de muitos comportamentos antisociais, não raro associadas à
7
Por exemplo, o homicídio privilegiado é, entre outros aspectos classificado como tal se se provar que no momento
do crime o seu autor foi “dominado por compreensível emoção violenta, compaixão, desespero ...” (Artº. 133º. do
código penal).
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Conclusão
A compreensão do crime e dos criminosos passa em larga medida pela análise das suas
trajectórias desviantes e das características pessoais, familiares e sociais que consti-
tuem os factores de risco e de protecção de cada indivíduo. Todavia, o estabeleci-
mento de tipologias ou categorias para os agressores sempre atraiu os investigadores
nesta área, mas o aparecimento de taxonomias suficientemente inclusivas e simulta-
neamente diferenciadoras de toda a actividade criminal não tem sido possível. Tal
ocorre pela própria natureza do comportamento criminoso, que é multifacetado e de-
pende de elevado conjunto de variáveis presentes no sujeito e no meio. Ainda assim, al-
guns sistemas tipológicos apresentam maior poder heurístico pois são desenvolvidos
a partir de bases conceptuais sólidas e têm sido replicados através da investigação e da
observação empírica. Nessas condições é possível desenhar intervenções com maior
probabilidade de êxito. Em boa verdade, os trabalhos de Moffitt e Loeber vieram pro-
var que se pode chegar a uma classificação taxonómica a partir de elementos colhidos
em investigações desenvolvimentais.
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28 Não obstante as críticas e limitações sobre a utilização das tipologias, (e.g., parentesco
com noção de personalidade criminal; imutabilidade e unicidade dos traços psicoló-
gicos; determinismo pessoal e irrelevância dos factores situacionais e subjectivos do in-
divíduo; etiquetagem social) (cf. Garrido, 1993; Manita, 1999), o seu poder atractivo
permanece, talvez porque, como já dissemos, elas propiciam formas de organização
coerente e simples dos dados provenientes da investigação e estão hoje em muitos ca-
sos suportadas por cálculos estatísticos robustos (e.g., Cunha & Gonçalves, 2013).
Por outro lado, os estudos desenvolvimentais sobre a delinquência vieram pôr a nu um
conjunto de factores de risco presentes no indivíduo e no meio que o rodeia que po-
dem contribuir para o envolvimento precoce em comportamentos antisociais que
criam condições para o estabelecimento de carreiras criminais e de ofensores crónicos.
Além disso permitiram também identificar factores protectivos que podem eventual-
mente anular o peso dos factores de risco e que operam em várias fases da vida do su-
jeito (Laub & Sampson, 2003; Sampson & Laub, 1993). Deste modo, a intervenção
pode ser planeada a um nível preventivo reforçando o peso dos factores protectivos e
tentando eliminar ao máximo o peso dos factores de risco. Já a abordagem tipológica
só permite uma intervenção remediativa.
A Psicologia Criminal representa na actualidade um domínio de conhecimento di-
versificado e abrangente para a explicação da conduta criminal. O presente artigo re-
viu as duas principais concepções (tipológica e desenvolvimental) de abordagem dessa
realidade e evidenciou as variáveis que devem ser consideradas na avaliação dos sujeitos
antisociais, de modo a conceber programas e planos de intervenção atinentes a essas
realidades, quer numa perspectiva preventiva quer numa perspectiva remediativa.
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