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MARX a manufatura rica automatica : “1, AMANUFATURAC) G..) 0 mecanismo especifico do periodo manufatureiro € 0 proprio. _trabalhador coletivo — que ¢ a composi¢ao de muitos trabalhadores -parciais. As diferentes operacdes, que o produtor de uma mercadoria -executa alternativamente e que vao se incorporando no conjunto de seu “process de trabalho, dele exigem capacidades diversas. Ele precisa mos- ‘trar as vezes mais forca, as vezes mais habilidade, as vezes mais atencao; suas peculiaridades naturais sao a base sobre a qual vem implantar-se a divisdo do trabalho, desenvolve a ‘manufatura, ao ser introduzida, forgas de trabalho que, por sua nature- Za, 86 sdo capazes de certas fungdes restritas. O trabalhador coletivo i assim todas as capacidades produtivas no mesmo grau de virtuosi- € emprega-as ao mesmo tempo, do modo mais econdmico, pela plicagdo de todos os seus érgaos — individualizados seja em cada um dos trabalhadores, seja em grupos de trabalhadores — em fungdes bem — \ (+) Estes trechos foram extrafdos de O Capital, livro primeiro, IV parte, . XII, § III (trata-se da diltima alfnea) e § V: “O carter capitalista da manufa- 1”. Foi traduzido do texto francés de J. Molitor (edigdo de Costes, Paris, 1927). (1) Por exemplo, desenvolvimento exagerado de certos miisculos, deforma- de certos ossos, etc. 23 fos ata Ry Se hd excegao, € no caso da decomposi¢ao “dos processos de trabalho virem a produzir novas fungGes gerais, que no se encontravam — ou pelo menos no mesmo grau — nos simples of i- cios. i i ‘Ao passo que a coopera¢ao simples nao traz grande mudanga no modo de trabalho do individuo, a manufatura vai alterd-lo completamente e vai atingir a propria raiz da forga de trabalho individual. assim que, nos Estados do Pr: tirarlhe s6 a pele ou a gordurs 6 Teena aoa peo TSG) um traba reial(S), a tal ponto que se vé realizada a fabula absurda de Menenius mates onde ). Inicialmente, o trabalhador vende sua forga de trabalho ao capital, porque lhe faltam os meios materiais necessdrios 4 produgao de uma mercadoria; e, agora, sua forga de trabalho individual recusa qual- quer servigo se ndo estiver vendida ao capital. Ela sé italista. Tornado incapaz, Por sua condigao natural, de fazer algo de independente, o trabalhador (5) Para Dugald Stewart os operirios de manufatura so autématos vivos. . empregados nos pormenores de uma obra, (Lectures on pol. ec., p. 318, Edinburgh, 1855.) (6) Nos corais, cada individuo forma de fato 0 estémago do grupo inteiro. Mas ele the traz alimento em vez. de tirar-lhe esse alimento, como fazia 0 patricio romano, 25 de manufatura nao desenvolve mais atividade produtiva a ndo ‘ser como acessorio da oficina do capitalista, Assim como © povo eleito trazia inscrito na testa que pertencia a Jeov4, a divisio do trabalho imprime no trabalhador de manufatura um cunho que © consagra como proprie- dade do capital. ; Os conhecimentos, a inteligéncia e a vontade que o camponeés ou © trabalhador independente desenvolvem, ainda que em modesta escala, assim ¢Omo 0 selvagem pGe em agdo toda a arte da guerra sob a forma de astticia pessoal, s6 so exigidos agora para o conjunto da oficina. Essas forgas intelectuais da produgdo desenvolvem-se num tinico aspecto, por- que desaparecem de quase todos os outros. Tudo o que os trabalhadores parciais perdem concentra-se no capit divisio manufatureira do trabalho opée ao trabalhador as forgas intelectuais do processo material de produgdo como uma propriedade exterior a ele, uma forga que 0 domina)Esta cisfo comeca na cooperagao simples em que o capitalista representa, perante cada trabalhador isolado, a unidade ¢ a vontade do corpo de trabalho social; desenvolve-se na manufatura, que faz do traba- 7 Ihador uma parcela de si mesmo; e completa-se na grande inddstria, que a) | faz de ciéncia uma forca produtivaindependente do trabalho e a coloca a servigo do capital(7). ~~ Na manufatura, o trabalhador coletivo ¢ por conseguinte capital s6 podem enriquecer-se em forga produtiva social se o trabalhador se empobrece em forgas produtivas individuais, “A ignorancia é a mae da industria como da supersti¢do. A reflexdo e a imaginacdo so sujeitas a erro; mas 0 hdbito de mexer o pé ou a mo ndo depende nem de uma nem de outra. Assim, pode-se dizer que, em’relagdo 4s manufaturas, a perfeigao consiste em ndo precisar da inteligéncia, de modo que a oficina possa aa considerada como uma méquina cujas partes seriam ho- mens” De fato, em meados do sfeulo XVII, certs manufatras x) fe brie, treba Soe aie samples, que constituiam segredos % (1) O cientista e 0 opers i . (1 0 perio produtivo esto completamente separados; ¢ ifn, ao invés de aumentar entre as mos do operitio a forgas produtivas des eamcuse od que delas tire proveito, estd, por quase toda parte dirigida eae (W. Thema Jrstrumento que se pode separar do trabalho e até ser- Wealth, Londres, 18246 374 Inquiry into the Principles of the Distribution of (8) A. Fei : 1767, t.11, pp. 134-135, An Essay on the History of Civil Society, Edinburgh, (9) J.D. Tuck Population, Londres, The, ere of the Pat and Present State of the Labouring 26 “A mente da maioria dos homens, diz A. Smi desenvolve-se necessariamente de e por suas ocupagGes costumeiras. Um homem que ‘orna-se em geral tio estupido ¢ tao igno- rante quanto possa tornar-se uma criatura humana.” Depois de ter descrito 0 embrutecimento do trabalhador parcial, Smith continua: “A rece, pois, que ele so adquire habilidade num oficio particular as custas de suas capacidades intelectuais, sociais e guerreiras. Mas em toda sociedade industrial e civilizada, a classe ope- riria — isto é, a grande massa do povo — deve necessariamente chegar a esse estado(10).” ! seu tradutor e comentador francés que, sob o primeiro Império, foi naturalmente senador, ataca com certa légica essa concepeao. A instru- (© nosso sistema social seria ia proscrito”. “Como todas as outras divisoes do trabalho, a que existe entre trabalho mecinico e trabalho intelectual(1 1) vai-se acentuando de modo mais nitido 4 medi- da que a sociedade caminha para um estdgio mais opulento. (E a justo titulo que Garnier aplica esse termo de sociedade 2 ao capital, 4 proprie- dade fundidria e ao estado que é 0 deles.) everia entZo o governo procurar contrariar essa divisdo do trabalho, e atrasar-lhe a marcha natural? Deveria empregar uma parte da (10) A. Smith, A Riqueza das Nagées, livro V, cap. I, art. 2. Como discipu- lo de Ferguson, que havia exposto as conseqiiéncias funestas da divisio do traba- Iho, A. Smith sabia do que se tratava. No inicio de sua obra, onde celebra ex professo a divisto do trabalho, ele a indica, rapidamente, como origem das desi- gualdades sociais, $6 no 5.° livro, onde se trata da receita do Estado, é que ele cita Ferguson, Em Miséria da Filosofia jé discuti bastante a relagdo histérica entre Ferguson, A, Smith, Lementey ¢ Say em sua critica da divisio do trabalho. Foi também af que, pela primeira vez, mostrei que a divisio manufatureira do traba- lho é a forma especifica do modo de produgio capitalista. (11) Ferguson chega a dizer: “A arte de pensar, num perfodo em que tudo estd separado, pode formar em si mesma um offcio & parte”. 27 receita ptiblica para tentar confundir e misturar duas classes de trabalho jue tendem por si mesmas a se separar?” : ‘ ~ Um certo definhamento intelectual e fisico é insepardvel até da divisio do trabalho na sociedade em geral. Mas, como o perfodo manu- fatureiro leva bem mais longe esta cisdo social entre espécies de trabalho e atinge, s6 por meio da divisdo que lhe ¢ propria, a raiz da vida do indi- viduo, € esse perfodo que, em primeiro, fornece a idéia e a matéria da patologia industrial (12), Subdividir um homem é executd-lo, se merece a pena de morte; é assassind-lo se nao a merece.vA"SUbdivisdo:do:trabalhoi:orassassinatordey ummpovot! 3), A cooperacao fundada sobre a divisdo do trabalho, ou manufatura, Mas, desde que toma um pouco de consisténcia e de extensdo, converte-se em forma consciente, metddica € sistematica do modo de produgao capitalista. A histéria da manufatura_ (12) Foi em 1713 que Ramazzini, professor de medicina e i 113 q : m Padua, publi- iu Obra De morbis artificum, traduzida em francés em 1781, reimpressa em 1841 na “Encyclopédie des sciences médicales, 7¢ div. Auteurs classiques”. [EI 1854, a Society of Arts nomeou eal A lista dos documentos reuni: logo do “Twickenham Economie Mi tios oficiais sobre Saiide Piblica) icimeennes fartung der Menschen, Ela ie D. Urquhart, Familiar abalho, Hegel tinha opinides sua Filosofla do Direito, deve-s, tudo 0 que os outros fazem,” © entender em primeiro lugar os que sabem fazer 28 surge, os membros esparsos de que fala o poeta e sé tem que reuni-los (esseyé 0 caso da manufatura de roupas) ou o principio da divisao ¢ de aplicagao evidente, no sentido em que as diversas operagdes da produ- Gio profissional — da encadernacao, por exemplo — sao exclusivamente atribuidas a operdrios especialistas. Uma experiéneia de alguns dias per- mite, nesses casos, encontrar o ntimero relativo de operdrios necessdrios a cada fungaoll 4), Através da andlise da atividade profissional, da especificacao dos instrumentos de trabalho, da formacdo, agrupamento e combinacdo dos trabalhadores parciais num mecanismo de conjunto, ajdivisdo.manufatu- reira do trabalho cria iva e a proporcionalidade quantitativa do processo cial) de | produgac por conseguinte, uma determinada organizacao do trabalho social —“€-desenvolve, a0 mesmo tempo, uma_nova forga produtiva social do trabalho. Enquanto forma @pecificamente capitalista do processo social de oat —e nas bases em que foi, s6 podia tomar essa forma capitalista — ela nao passa de um métode"particular de produzir mais-valia_relativa ou_de aumentar, as do o trabalhador individual. Ela produz novas condigdes da. dominagao do cay capital sobre 0 trabalho. Por um lado, aparece como progresso hist6- Tico e fator necessdrio. de desenyolvimento no proceso de formacao econémica da sociedade; mas, por outro, ela se revela como meio de exploragdo civilizada e refinada. (.. .) 2. A FABRICA(*) (...) Todo trabalho com méquinas exige, do trabalhador, uma i ce, para que ele saiba adaptar seu proprio movimen- (14) A credulidade na capacidade inventiva que cada capitalista demonstra 4 priori, na divisio do trabalho, s6 se encontra em certos professores alemies, co- mo Roscher. Para agradecer ao capitalista por ter feito jorrar, de sua cabega olimpi- Ca, a perfeita divisio do trabalho, Roscher concede-lhe “varios salirios de traba- tho". A maior ou menor aplicagio da divisio do trabalho depende do tamanho da bolsa e nio do talento. (+) Estes trechos foram extraidos de O Capital, livro primeiro, IV parte, cap. XIII, § IV: “A fabrica”, Ed. Costes, Paris, 1927. 29 to ao movimento uniforme e continuo do autémato. Enquanto © con. junto da maquinaria constituir por si s6 um sistema de-mdquinas dife. rentes, combinadas e funcionando ao mesmo tempo, a cooperacdo a qual ele serve de base exige que os diferentes grupos de trabalhadores sejam distribuidos pelas diversas méquinas( Mas jd ndo ha mais necess- Be) dade, como na manufatura, de dar forma definitiva a essa dist da maquina, 0 | pessoal pode mudar constantemente sem que haja inter- tupgao do processo de trabalho. Prova evidente disso 6 o sistema de turnos aplicado na Inglaterra durante a grande crise de 1848-1850. En: fim, a rapidez com a qual as criangas aprendem a trabalhar com as ma- quinas suprime’a necessidade de formar especialmente classes de operd- tios para esse trabalho(16), Quanto aos Servigos executados pelos ‘rabalhadores manuais, podem ser feitos, parcialmente, por méquinas(17) (1S) Ure admite isso. Diz que, se necessitio, o diretor pode Passar, & yonta- de, 0 operdrio de uma para outra maquina, e afirma em tom triunfal: “Essa mu- danga estd em evidente contradi¢ao com a velha rotina que divide o trabalho e faz com que um fabrique a cabeca e, 0 outro, a ponta de um alfinete”. Ele deveria era ter perguntado por que, na fabrica automitica, sé se abandona essa velha rotina em caso de necessidade. (16) Em caso de necessidade, como acontecen durante a guerra de Seces- sdo, o burgués no hesita em empregar, a titulo excepcional, 0 operirio de fabrica nos trabalhos mais grosseiros, como construgdo de estradas, etc. Entre as oficinas nacionais inglesas de 1862, reservadas aos desempregados da industria algodoeira, © as oficinas nacionais francesas de 1848, havia uma grande diferenga: nestas, 0 tabalhador executava, a expensas do Estado, trabalhos improdutivos, ao passo que, naquelas, executava, em proveito do burgués, trabalho municipais produti- Yos, e até a melhor preco do que o trabalhador comum, com 0 qual o faziam assim entrar em concorréncia. “A aparéncia fisica dos operdtios dos cotonificios melho- fou evidentemente. A causa, pelo menos para os homens, « » 6 que eles esto ao ar livre, nos trabalhos piiblicos.” (Trata-se dos opera: foram usados no saneamento dos pantanos da cidade.) (Reports of the Inspectory of Factories for Oct. 1865, p.59,) (17) Exem iscais ¢ condenaram-ni 108 por infracdes desse tipo, mas sem conseguir 30 ou entio, visto sua extrema simplicidade, pode-se mudar continuamente a qualquer momento o pessoal encarregado dessa tarefa enfadonha. Porém, ainda que do ponto de vista técnico a maquinaria tenha alterado substancialmente o antigo sistema da divisdo do trabalho, este continua, por forca do costume, a mater-se como dolorosa tradigao da manufatura; o capital o reproduz e-consolida, sob a forma mais repug- nante, como meio de exploragao da forga de trabalho. Em vez de ficar especializado no uso de uma maquina parcial, H4 um abuso de maqui- : naria para tornar o operdrio, desde pequeno,(elemento de uma maquina |’ parcial(18), JAssim ficam bem diminuidas as despesas necessdrias para a reprodugao do operdrio; além de tudo, ele torna-se completamente dependente do conjunto da fabrica, isto é, do capitalista. Aqui, mais uma vez, é preciso distinguir o acréscimo de produtividade devido ao desenvolvimento do processo social de produgdo e 0 acréscimo prove- niente da exploracao capitalista. —) Na manufatura e nos off to; na fabrica, ele © meio de trabalho; no s mento, Na manufatura, os trabalhadores sfo membros de um mecanis-, \ mo vivo; na fabrica, sao apenas os complementos vivos de um mecanismo | morto que existe independente deles. “A deplordvel rotina de um labor~ _.intermindvel, em que 0 mesmo processo mecanico se renova sem parar, € parecido com o trabalho de Sisifo; como 0 rochedo, o peso do trabalho volta sempre a cair sobre o operdrio esgotado(19).” Ao mesmo tempo em que o trabalhador mecanico cansa-ao méximo o sistema nervoso, Suprime o jogo variado dos musculos e impede toda atividade livre fisica mudanga efetiva. Se os construtores inventassem uma vassoura automitica que evitasse essa tarefa perigosa as criancas, estariam contribuindo de modo significa- tivo para as medidas de protegdo (Reports ete. for 315t Oct-1866, p. 63.) (18) Isso permite julgar a assombrosa idéia de Proudhoh que considera a luina ndo como sintese dos meios de trabalho, mas como'sintese, em beneficio dos préprios operdrios, de tarefas parciais. , (19) F. Engels, Situagdo das classes trabathadoras na Inglaterra, p. 217. — Até © Sr. Molinari, um livre-cambista bastante otimista, escreveu: “E maior 0 despaste de um homem que fiscaliza, quinze horas por dia, a evolugdo uniforme de uM mecanismo do que o de quem, no mesmo espaco de tempo, usa a forga fisi Esse trabalho de fiscalizagdo que, se nifo fosse longe demais talvez pudesse servir de exercicio para a inteligéncia, destr6i, com a continuagio e pelo excesso, tanto a mee como o préprio corpo”. (G. de Molinari, Etudes économiques, Paris, 31 e intelectual(20), Até a maior facilidade do trabalho torna-se instrumen- to de tortura, j4 que a maquina nao dispensa 0 operario do trabalho, mas faz com que o trabalho perca 0 interesse. Toda produgao capitalista, como geradora nao sé do valor, mas também da mais-valia, tem esta caracteristica: em vez de dominar as condigdes de trabalho, o trabalha- dor & dominado por elas; mas essa inversio de papéis s6 se tornareal e efetiva, do ponto de vis nico, com o emprego das rigs © meio de ° A cic ergue-se, durante 0 proces i ari trabalho morto, trabalho, diante do operirio sob a forma de capital; de que domina e explora a forga de trabalho viva. A separagao entre forgas x {sent pn ans e trabalho manual, ¢ a transform: giao delas em pelos quais o capital sujeita o trabalho, torna: - efetivas, como ja vimos acima, na grande industria baseada no maquin n habilidade particular, individual, do trabalhador assim despojado ‘no passa de infimo acess6rio e desaparece diante da ciéncia, das enor- mes forgas naturais e da massa de trabalho social que, incorporadas a0 sistema mecinico, constituem o poder do “Mestre e Senhor”. Esse mes- tre, cujo pensamento une indissoluvelmente a maquinaria e seu proprio monopélio, pode portanto, em caso de conflito, dizer-lhes em termos arrogantes: “Os operdrios de fabrica nfo devem esquecer que seu traba- Iho € de fato de espécie inferior; que nenhum outro se aprende com tanta facilidade nem é to bem pago, levando-se em conta a baixa quali- ; que bast que lhe sejam incorporadas, num minimo de tempo, multidées de novas forcas. Na produgdo, as méquinas do patraodesempenham um papel bem mais importante que © trabalho e a habilidade do operdrio — aprendizagem de_se icessivel ao mais simples lavrador’(2!). A subordinagdo técnica do operdrio 4 marcha uniforme do meio de trabalho e a composigao particular do corpo de trabalho, formado por individuos de idade ¢ sexo diferentes, criam umé disciplina_bem militar, que se torna o regime absoluto das fabricas e desenvolve, ampla- mente, o jé mencionado trabalho dos supervisores ¢ a distingdio dos ope- rérios em_trabalhadores e supervisores, em soldados e suboficiais 44 ‘A-principal dificuldade, na fibrica automitica, consistia ms els, le, elt. p. 216. Master Spinner's and Manufacturer's Defence Fund. Report of the Committee, Manchester, 1854, p. 17, Percebe-se mais tarde que 0 "Mestre & ees vai mudar de cantiga quando se sentir ameagado de perder seus automates . 32 to: era preciso, pelo estabelecimento de um disciplina indispensével, ) fazer com que 0s operdrios perdessem os habit ares e chegassem \ 4 regularidade imutavel do p feito a . Mas, a elaboragao e apli- cacao de tal codigo de disciplina, adequado as necessidades e a velocida- de stema automdtico, era uma empreitada digna de Hércules. Foi A an quem realizou essa nobre tarefa, Mesmo na época atual, em que-o-sistema chegou a seu pleno desenvolvimento, nao se encontra, entre os trabalhadores(22) que passaram da puberdade, quem possa auxiliar, de forma util, o sistema automético.” Esse cédigo, no qual o capital — sem nele introduzir a divisao dos poderes, t4o cara aos burgue- ses, nem o sistema representativo que lhe é ainda mais caro — formulou de modo autoritério e arbitrdrio seu poder absoluto sobre os trabalha- dores, é apenas a caricatura capitalista da regulamentagao social do pro- cesso de trabalho que se torna necesséria desde que hd cooperagao numa vyasta escala e que se empregam meios comuns de trabalho, principalmente méquinas, O cédigo de punigdes do fiscal substituiu o chicote do antigo (x feitor de escravos. Todas as punigGes revertem-se em multas ou descon- tos ii0 salario, e a sagacidade legislativa dos Licurgos da fabrica torna-lhes a violagdo de sua leis bem mais rentavel do que a observagdo dessas mes- mas leis(23), (22) Ure, The Philosophy of Manufacturers, pp. 22-23. Quem conhecer bem a vida de Arkwright no conseguiré atribuir 0 termo “nobre” a esse astucioso barbeiro, De todos os grandes inventores do século XVIII, foi sem diivida o mais descarado ¢ 0 que mais conseguiu roubar as invengdes alheias. (23) “A escravidio a que a burguesia reduziu o proletariado manifesta-se ‘com a méxima clareza no sistema de fabricas. Nele acaba toda a liberdade — de diteito e de fato, E preciso que 0 operario esteja na fabrica as 6 horas da manha; se chegar alguns minutos atrasado, ser descontado; se 0 atraso for de dez minutos, recusamthe a entrada até a hora do almogo e cle perde um quarto do saldrio. £ obrigado a comer, a beber, a dormir de acordo com as ordens. O sino despotico vai forgélo a deixar a cama, 0 almogo, 0 jantar. E na fibrica? Nela o fabricante é 0 legislador absoluto, Dita regulamentos a seu bél-prazer; aumenta ou modifica, a Vontade, seu eddigo, Mesmo que ele af inclua os maiores absurdos, os tribunais iro a0 operdrio: Vocé aceitou esse contrato livremente; tem portanto que se Submeter a ele. E os operdrios sio condenados a viver dos nove anos atéamorte, —~ sob a palmatéria, tanto fisica quanto intelectualmente.” (F. Engels, 1. ¢., p. 216 & ‘seguintes.) Através de dois exemplos vou mostrar 0 que dizem os tribunais. O Primeiro caso passa-se em Sheffield, em fins de 1866. Um operirio havia-se empre- £2do por dois anos numa usina metaliirgica, Por causa de um desentendimento Com 0 patrdo, deixou a fébrica dizendo que de modo algum voltaria para esse fabricante. Acusado de ruptura de contrato, foi condenado a dois meses de pri (Se o fabricante rompesse o contrato, s6 poderia ser citado diante de tribunais civis 33 Estamos apenas indicando as condigdes materiais em que se realiza © trabalho na fabrica, Todos os drgdos dos sentidos sdo perturbados ao mesmo tempo pela elevacao artificial da temperatura, pelo ar saturado 8 com detritos de matéria-prima, pelo barulho ensurdecedor, etc., sem ¢ 0 maximo que poderia levar era uma multa.) Quando a pena terminou, 0 operd- tio foi convidado pelo patrdo a voltar ao seu posto na fdbrica, em cumprimento do contrato, Recusa do operirio, que invocou o fato de j4 haver pago pela ruptura do contrato, Nova queixa do patrio, nova condenagdo do tribunal, embora um dos juizes, o Sr. Shee, tenha publicamente estigmatizado essa monstruosidade juridica, segundo a qual um homem, para o resto da vida, poderia ser periodica- mente punido pelo mesmo delito. Julgamento que foi proferido ndo pelos “Great Unpaid” da provincia ou do campo, mas em Londres, por uma das mais altas Cortes de Justiga. O segundo caso passa-se em Wilshire, em fim de novembro de 1863. Cerca de 30 tecels, trabalhando no tear a vapor na fabrica de um certo Harrupp, fabricante téxtil em Leower’s Mill, Westbury Leigh, entraram em greve porque esse Sr. Harrupp fazia a graca de descontar os saldrios de acordo com cada atraso da manha: 6 pence por 2 minutos, 1 xelin por 3 minutos, 1 xelim 9 pence por 10 minutos. Isso daria, a 9 xelins por hora, 4 libras esterlinas e 10 xelins por dia, enquanto 0 saldrio minimo delas nunca ultrapassou os 12 xelins por semana. Harrupp também tinha incumbido uma crianga de tocar a hora da entrada. As vezes ele proprio tocava antes das 6 horas da manha. Se os operdrios nao estivessem 1d quando a campainha parava, fechavam-se as portas e os retardatérios eram mul- tados. E como a fabrica nao tinha relégio, os operdrios dependiam do garoto co- mandado por Harrupp. As operdrias grevistas, mogas e maes de familia, declararam que voltariam ao trabalho quando o guarda fosse substituido por um reldgio ¢ a tabela de penalidades fosse convenientemente modificada. Harrupp citou 19 ope- rérias em juizo, por ruptura de contrat. Em meio aos protestos piiblicos, cada uma foi condenada a 6 pence de multa e a 2 xelins e 6 pence de despesas. Harrupp voltou para casa sob as vaias da multidao. Uma das praticas preferidas dos patrées consiste em fazer descontos no salério dos operarios, para puni-los dos defeitos apresentados pelo material que Ihes foi entregue. Esse costume provocou em 1866 uma greve geral nas cerémicas inglesas. Os relatérios da “Ch. Empl. Com.” (1863- -1866) citam casos em que o operdrio, em vez de receber o saldrio correspondent 20 seu trabalho, acabou ficando — gracas ao sistema de multas — devedor do set nobre patrio. A iiltima crise do algodio serve também para mostrar a astticia dos Patrdes autocratas quando decidem fazer descontos no saldrio. “Ha tempos, dizia © Inspetor R. Baker, fui forcado a abrir um processo judicidrio contra um fabri cante de algodio pelo seguinte: no momento da crise, ele forgou alguns jovens operdrios, com mais de 13 anos de idade, a pagar-lhe 10 pence em troca do atestado médico que certificava a idade, a0 passo que ele mesmo sé havia pago 6 pence, 1° 4 lei s6 permite um desconto de 3 pence ¢ que o costume é de nao descontar N° da, . . Um outro fabricante, a fim de chegar ao mesmo resultado sem ter problem? com a lei, cobra de cada uma dessas pobres criangas que trabalham para ele 2 = de 1 xelim como pagamento da aprendizagem da arte e do segredo da fabricas=” assim que © atestado médico os declara em idade de executar essa operagio (@ f 34 falar do risco de morte decorrente das m4quinas demasiado juntas umas das outras que, com a regularidade das estagdes, publicam os boletins de perdas nas batalhas industriais(24). A economia dos meios sociais de produgo, amadurecida como numa estufa quente no sistema de fabrica, torna-se entre as maos do capital um roubo sistematico praticado contra as condig6es vitais do operdrio durante o trabalho — roubo de espaco, de ar, de luz e de meios de protecdo pessoal contra as condigdes perigo- ao). Hi portanto correntes ocultas que se devem conhecer para compreender fenémenos tio extraordindrios como as greves atuais (trata-se de uma greve dos tecelées de Darwen em junho de 1863).” Rep. etc. for 30th April 1863. (Esses relatorios sempre se estendem além da data.) ; (24) As leis relativas a protegdo contra maquinas perigosas tiveram resulta- | 2 hd atualmente novas fontes de acidentes, inexistentés hd 0: maior velocidade das mdquinas. Rodas, cilindros, fusos e teares so acionados por uma forga sempre maior; é preciso que os dedos puxem o fio com mais rapidez e seguranca — a minima hesitagio, a minima imprudéncia Ihes é perigosa. Um grande nimero de acidentes é provocado pelo empenho que 0s operdrios tém em realizar depressa sua tarefa. E sabido que os patrdes tém inte- resse em fazer as maquinas funcionarem sem interrup¢do, isto é, produzirem fios ¢ tecidos. Uma simples parada de um minuto ¢ perda de forca e de produgao. E por isso que supervisores, ganhando por quantidade produzida, so encarregados de evar os operdrios a fazerem funcionar as maquinas sem parar. E isso também é muito importante para os operdrios que trabalham por peso ou por peca. Apesar de ser proibido, na maioria das fébricas, limpar as maquinas enquanto esto em movimento, esse é 0 costume. S6 esse motivo produziu nos tiltimos 6 meses 906 acidentes. .. Apesar de haver limpeza diariamente, é no sibado de tarde que se costuma fazer uma limpeza a fundo nas méquinas que nao sio paradas para isso. . . Esse trabalho ndo & pago; por isso os operarios procuram fazé-lo 0 mais depressa Possivel. E 0 néimero de acidentes é bem maior na sexta-feira e no sibado do que Nos outros dias da semana. Na sexta-feira o excedente é de cerca de 12%, no sba- do, de 25%. Mas se considerarmos que no sibado a jornada de trabalho é de apenas Thoras e meiaem vez de 10 horas e meia, o excedente sobe a mais de 65%.” (Rep. ete, 318¢ Oct. 1866, pp. 9, 15, 16, 17.) (25) No capitulo I do livro III, falarei de uma campanha bem recente dos fabricantes ingleses contra os artigos através dos quais a lei sobre as fabricas tenta Proteger os membros dos operirios contra as méquinas perigosas. Eis apenas um trecho de um relatério oficial do inspetor L. Horner: “Certos fabricantes me fala- tam com leviandade imperdodvel de certos acidentes — como a perda de um dedo ~ que consideram uma bagatela. A vida e o futuro de um operdrio dependem tan- to de seus dedos que uma tal perda constitui para cle acontecimento de muita importéncia. Quando ougo essas palavras absurdas, pergunto: Suponha que vocé Precise de um operério suplementar e que aparecam dois, de igual capacidade, mas um deles sem o polegar ou sem o indicador; qual vocé escolheria? Sem um momen- 35 aspectos referentes 4 comodidade do operdrio. Estaria Foun errado, portanto, ao chamar ‘as fabricas ¢ de presidios mitigados(26)? z _ Os senhores fabricantes scudofilantropict Fetoa que apoisra” to de hesitagdo, escolhem 0 que tem todos os dedos. . tém falsos preconceitos contra o que chamam de legislaga0 (Reports etc. for 315t Oct. 1855.) $40 senhores arguto a revolta dos escravocratas. dat (26) Nas fabricas onde foi implantada hi mais tempo a lei sobre 3° fates a limitagdo obrigatéria do tempo de trabalho, bem como as outras regulamen' a Ses, muitos abusos desaparecem. Atingido um certo ponto, © proprio aperten mento da maquinaria exige melhores construgdes na fiibrica, ave redundam beneficio dos operirios. (Reports etc, for 315 Oct. 1863, P- 109.) 36

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