You are on page 1of 1

Menu Termo

Apontamentos de
Direito
Make crime pay. Become a Lawyer

Universidade Lusíada
Faculdade de Direito da Universidade Lusíada

Direito do Trabalho

UNIVERSIDADE LUSÍADA

FACULDADE DE DIREITO

APONTAMENTOS DE

DIREITO DO TRABALHO

Faculdade de Direito da Universidade Lusíada

Direito do Trabalho

Titulo I

Noção de Direito do Trabalho e sua razão de


ser

1. Objecto e âmbito do Direito do Trabalho

O Direito do Trabalho não é o Direito de todo o


trabalho, não toma como

objecto de regulação todas as modalidades de


exercício de uma actividade humana

produtiva ou socialmente útil.

Como ramo de Direito, o seu domínio é o dos


fenómenos de relação; excluemse

dele as actividades desenvolvidas pelos


indivíduos para satisfação imediata de

necessidades próprias.

Tratar-se-á apenas de formas de trabalho livre,


voluntariamente prestado;

afastam-se assim as actividades forçadas ou


compelidas, isto é, de um modo geral,

aquelas que não se fundam num compromisso


livremente assumido mas numa

imposição externa. Mas a “liberdade” que está


em causa na definição do objecto

deste ramo de Direito é uma liberdade formal:


consiste na possibilidade abstracta

de aceitar ou recusar um compromisso de


trabalho, de escolher a profissão ou

género de actividade (art. 47º CRP), e de


concretizar tais escolhas mediante

negócios jurídicos específicos. O Direito do


Trabalho desenvolve-se em torno de

um contrato – o contrato de trabalho – que é o


título jurídico típico do exercício

dessa liberdade.

O trabalho livre, em proveito alheio e


remunerado traduz-se sempre na

aplicação de aptidões pessoais, de natureza


física, psíquica e técnica; para a pessoa

que o realiza, trata-se de “fazer render” essas


aptidões, de as concretizar de modo a

obter, em contrapartida, um benefício


económico.

Este objecto pode ser alcançado, desde logo,


mediante a auto-organização do

agente: tendo em vista a obtenção de um


resultado pretendido por outra pessoa, ele

programa a sua actividade no tempo e no


espaço, combina-a com os meios técnicos

necessários, socorre-se, eventualmente, da


colaboração de outras pessoas, e

fornece, enfim, esse resultado. O agente


dispõe da sua aptidão profissional de

acordo com o seu critério, define para si


próprio as condições de tempo, de lugar e

de processo técnico em que aplica esse


potencial: auto-organiza-se, auto determinase,

trabalha com autonomia.

Mas o mesmo indivíduo poderá aplicar as suas


aptidões numa actividade

organizada e dirigida por outrem, isto é, pelo


beneficiário do trabalho – deixando,

com isso, de ser responsável pela obtenção do


resultado desejado. Dentro de certos

limites de tempo e de espaço, caberá então ao


destinatário do trabalho determinar o

“quando”, o “onde” e o “como” da actividade a


realizar pelo trabalhador; pode

dispor, assim, da força de trabalho deste,


mediante uma remuneração. O que

caracteriza este outro esquema é,


visivelmente, o facto de o trabalho ser

dependente: é dirigido por outrem, e o


trabalhador integra-se numa organização

alheia. Trata-se de trabalho juridicamente


subordinado, porque esta relação de

dependência não é, como se verá, meramente


factual: o Direito reconhece-a,

legitima-a e estrutura sobre ela o tratamento


das situações em que ocorre.

São as relações de trabalho subordinado que


delimitam o âmbito do Direito do

Trabalho: as situações caracterizadas pela


autonomia de quem realiza trabalho em

Faculdade de Direito da Universidade Lusíada

Direito do Trabalho

proveito alheio estão fora desse domínio e são


reguladas no âmbito de outros ramos

de Direito. Em suma: o Direito do Trabalho


regula as relações jurídico-privadas de

trabalho livre, remunerado e subordinado.

O Direito do Trabalho não cria este modelo de


relação de trabalho: limita-se a

recolhê-lo da experiência social,


reconhecendo-o e revestindo-o de um certo

tratamento normativo. A dependência ou


subordinação que caracteriza esse modelo

não é imposição legal, é um dado da realidade:


quando alguém transmite a outrem

a disponibilidade da sua aptidão laboral, está


não só a assumir o compromisso de

trabalhar mas também o de se submeter à


vontade alheia quanto às aplicações dessa

aptidão.

O trabalho heterodeterminado ou dependente


como realidade pré-jurídica, que

constitui a chave do processo de aplicação do


Direito do Trabalho.

Fala-se também do trabalho por conta alheia


para caracterizar, como uma

dominante económica ou patrimonial, o


mencionado modelo de relação de

trabalho.

O Direito do Trabalho é, pois, o ramo de Direito


que regula o trabalho

subordinado, heterodeterminado ou não-


autónomo. À prestação de trabalho com

esta característica corresponde um título


jurídico próprio: o contrato de trabalho. É

através dele que “uma pessoa se obriga,


mediante retribuição, a prestar a sua

actividade intelectual ou manual a outra


pessoa sob a autoridade e direcção desta”

(art. 10º CT).

O ordenamento legal do trabalho surgiu e


desenvolveu-se como uma reacção

ou “resposta” às consequências da debilidade


contratual de uma das partes (o

trabalhador), perante um esquema negocial


originariamente paritário como

qualquer contrato jurídico-privado. Essa


disparidade originária entre os contraentes

deve-se não só à diferente natureza das


necessidades que levam cada um a

contratar, mas também às condições do


mercado de trabalho.

O Direito do Trabalho apresenta-se, assim, ao


mesmo tempo, sob o signo da

protecção ao trabalhador e como um conjunto


de limitações à autonomia privada

individual. O contrato de trabalho é


enquadrado por uma constelação de normas

que vão desde as condições pré-contratuais,


passam pelos direitos e deveres

recíprocos das partes, atendem com particular


intensidade aos termos em que o

vínculo pode cessar, e vão até aspectos pós-


contratuais.

Não obstante a tipicidade da relação de


trabalho subordinado como esquema

polarizador e delimitador do Direito do


Trabalho, é preciso notar que nela se não

esgota o objecto deste ramo de Direito.


Incluem-se nele, e com grande saliência, as

relações colectivas que se estabelecem entre


organizações de trabalhadores (as

associações sindicais) e empregadores,


organizados ou não. Essas relações

apresentam, entre outras, a peculiaridade de,


em simultâneo, serem objecto de

regulamentação – porque exprimem a


actuação de conflitos de interesses – e de

terem, elas próprias, um importante potencial


normativo, visto tenderem para o

estabelecimento de regras aplicáveis às


relações de trabalho em certo âmbito. As

formas de acção colectiva laboral – a


negociação, os meios conflituais – são

reguladas pelo ordenamento do trabalho, na


dupla perspectiva da “normalização”

social e da “formalização” jurídica: as normas


do chamado direito colectivo do

trabalho visam oferecer meios de


racionalização e disciplina dos conflitos de

Faculdade de Direito da Universidade Lusíada

Direito do Trabalho

interesses colectivos profissionais e definir as


condições da recepção, na ordem

jurídica, das determinações que eles venham a


produzir. Esse sector do Direito do

Trabalho fundamenta-se no reconhecimento


da autonomia e da autotutela

colectivas.

2. As funções do Direito do Trabalho

A função mais correntemente atribuída ao


Direito do Trabalho é, justamente,

essa: a de “compensar” a debilidade contratual


originária do trabalhador, no plano

individual.

No Direito do Trabalho, o padrão de referência


é marcado pela desigualdade

originária dos sujeitos, ou seja, pela diferença


de oportunidades e capacidade

objectivas de realização de interesses


próprios, e daí que a finalidade

“compensadora” seja assumida como um


pressuposto da intervenção normativa.

Este objectivo é prosseguido, antes do mais,


pela limitação da autonomia

privada individual, isto é, pelo condicionamento


da liberdade de estipulação no

contrato de trabalho. Uma parte do espaço


originário dessa liberdade é barrada pela

definição normativa de condições mínimas de


trabalho: a vontade do legislador

supre o défice de um dos contraentes.

Depois, e tendo em conta que a subordinação


e a dependência económica do

trabalhador são susceptíveis de limitar ou


eliminar a sua capacidade de exigir e

fazer valer os seus direitos na pendência da


relação de trabalho, o ordenamento

laboral estrutura e delimita os poderes de


direcção e organização do empregador,

submetendo-os a controlo externo. Legitima-


se, assim, a “a autoridade patronal”,

mas, ao mesmo passo, são contidos os


poderes fácticos do dono da empresa e do

dirigente da organização dentro dos limites de


faculdades juridicamente

configuradas e reguladas.

Em terceiro lugar, o ordenamento laboral


organiza e promove a transferência

do momento contratual fundamental do plano


individual para o colectivo. O

reconhecimento da liberdade sindical e da


autonomia colectiva e o favorecimento

da regulamentação do trabalho por via da


contratação colectiva tendem a

reconduzir o contrato individual a um papel


restrito.

Em quarto lugar, o Direito do Trabalho


estrutura um complexo sistema de

tutela dos direitos dos trabalhadores que tende


a suprir a sua diminuída capacidade

individual de exigir e reclamar. A arquitectura


desse sistema integra meios e

processos administrativos (em particular, os


que respeitam à actuação da inspecção

do trabalho), meios jurisdicionais (Tribunais


especializados que seguem regras

processuais especiais) e meios de autotutela


colectiva (acção sindical na empresa,

meios de luta laboral).

Ora, para além dessa função de protecção, o


Direito do Trabalho tem também

a de promover a específica realização, no


domínio das relações laborais, de valores

e interesses reconhecidos como fundamentais


na ordem jurídica global.

O ordenamento laboral liga-se muito


estreitamente à esfera dos direitos

fundamentais consagrados pela Constituição.

Uma terceira função do Direito do Trabalho diz


respeito ao funcionamento da

economia: é a de garantir uma certa


padronização das condições de uso da força
de

trabalho. Essa padronização tem um duplo


efeito regulador: condiciona a

Faculdade de Direito da Universidade Lusíada

Direito do Trabalho

concorrência entre as empresas, ao nível dos


custos do factor de trabalho; e limita a

concorrência entre trabalhadores, na procura


de emprego e no desenvolvimento das

relações de trabalho.

3. Características do Direito do Trabalho

a) Importância

Reflecte-se na vida de cerca de 90% da


população.

b) Instabilidade

Decorre da sua importância. O Direito Civil, o


Direito Comercial, o Direito Penal

regulam relações mais ou menos estáveis e


mais ou menos imutáveis às evoluções

políticas. Verifica-se isso pelo período de


tempo que os códigos desses ramos de

direito estão em vigor — o Código Civil de


1867, por exemplo, esteve em vigor

100 anos, o Código Penal de 1886 esteve em


vigor também quase 100 anos e o

Código Comercial actual está em vigor desde


1888.

Como o Direito do Trabalho se reflecte na vida


das pessoas, na sua situação

económica, este, reflecte a posição ideológica


do grupo dominante. Sendo esse

grupo dominante socialista, liberal, comunista,


ou outro, a cada um irá

corresponder uma respectiva lei laboral. Este


fenómeno deve-se a alternância

democrática típica dos Estados de direito


democráticos.

Esta instabilidade do Direito do Trabalho deve-


se, portanto, à sua alteração

conforme as concepções político-filosóficas


dominantes.

c) Imperfeição

se lermos o número 1 da Lei do Contrato


Individual de Trabalho, ou o Artigo

1152.º do Código Civil verificamos que a


actividade intelectual ou manual objecto

do direito do trabalho é:

– retribuída;

– subordinada juridicamente, porque quem


aceita trabalhar para o patrão, aceita o

poder de disciplina.

O Direito do Trabalho é vocacionado para


abranger todas as formas de trabalho

subordinado, mas é imperfeito no sentido em


que não as abrange todas. Os

funcionários públicos, por exemplo, são


trabalhadores subordinados submetidos ao

Direito Administrativo e não ao Direito do


Trabalho.

O segundo aspecto da imperfeição do Direito


do Trabalho está no facto dele se

destinar a prevenir e a resolver os litígios com


justiça e equidade e nem sempre o

conseguir. Quando este não consegue


harmonizar os litígios emergentes da relação

laboral, concebe-se um meio de resolução de


litígios — a greve.

A greve é uma recusa concertada ao trabalho


por um grupo de empregados, no

sentido de alcançarem objectivos económicos


ou outros. É a principal arma do

trabalho organizado. As primeiras recusas ao


trabalho nos Estados Unidos da

América datam da época colonial, mas a


primeira greve a uma escala nacional (por

ferroviários) ocorreu em 1877. As greves


tornaram-se mais frequentes em fins do

século XIX, com o desenvolvimento de fortes


organizações laborais tais como os

Knights of Labor. O uso pelo patronato de


guardas armados e de polícias tanto para

dispersar piquetes, como para proteger «fura-


greves», muitas vezes resultou em

Faculdade de Direito da Universidade Lusíada

Direito do Trabalho

violência. Nos anos 60 e 70 assistiu-se a um


número crescente de greves de

funcionários públicos, nomeadamente


professores, trabalhadores municipais,

polícias e bombeiros.

A greve traduz-se num meio injusto de


resolução de litígios porque é regulada por

aquilo que se pode chamar a «lei do mais


forte»: a posição (algumas vezes dos

trabalhadores, outras do patronato) a resistir


com as suas reivindicações durante

mais tempo é a vencedora e a primeira a ceder


é a perdedora. Apesar disso o

Direito do Trabalho não encontrou uma


maneira mais justa para a resolução de

litígios. Podemos considerar o direito à greve


como uma forma imperfeita mas até

agora sem alternativa para a defesa dos


direitos dos trabalhadores. A nossa lei

fundamental, para além de garantir o direito à


greve no seu número 1 do Artigo

57.º, proíbe inclusive, no número 3 do mesmo


Artigo, o chamado lock-out que é o

contrapeso utilizado pelo patronato para fazer


face à greve. O lock-out traduz-se

em impedir que os empregados trabalhem e no


encerramento da empresa pelo

empregador durante uma disputa laboral.

You might also like