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Incidências da Cultura afro na cidade de Imperatriz-MA

Research · June 2015


DOI: 10.13140/RG.2.1.1864.3041

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Veríssima Dilma
Faculdade de Educação Santa Terezinha
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Veríssima Dilma Nunes Clímaco
Milene Vieira Santos Rocha

INCIDÊNCIAS
DA CULTURA
AFRO EM
IMPERATRIZ-
MA
VERÍSSIMA DILMA NUNES CLÍMACO
MILENE VIEIRA SANTOS ROCHA

Clímaco, Veríssima Dilma Nunes

C638 Incidências da cultura Afro em INCIDÊNCIAS DA CULTURA AFRO EM


Imperatriz-MA. / Veríssima Dilma Nunes
Clímaco, Milene Vieira Santos Rocha. –
Imperatriz: Ethos, 2012.
IMPERATRIZ-MA
p.:il

Inclui glossário. Bibliografia.

1. Cultura – Afro-brasileira –
Imperatriz. I. Rocha, Milene
Vieira Santos. II. Título.

1ª Edição

Imperatriz
2012

CDU 008:39(812.1 Imperatriz)


AGRADECIMENTOS Às personalidades negras e militantes do CCNNC
que permitiram registrar um pouco de sua história,
revelando a intimidade das relações sociais que
Agradecemos primeiramente ao nosso criador, pelo propiciaram a construção de sua identidade.
dom da vida, pelas vivências que fortaleceram o olhar À Herli de Sousa Carvalho professora da UFMA,
sobre a diversidade cultural-religiosa e a reconstrução uma fiel precursora das discussões sobre a temática afro,
pessoal frente à essa realidade carregada de preconceitos e que com palavras carregadas de amorosidade e sutileza
discriminação. prefaciou, colaborando com a discussão deste trabalho.
Aos acadêmicos de 8º período do Curso de Aos familiares pela compreensão nos momentos de
Pedagogia da Faculdade de Educação Santa Terezinha – ausências dedicados à produção deste livro, bem como o
FEST em Imperatriz-MA estendemos nossa gratidão pela apoio e incentivo durante todo o tempo de produção.
contribuição nas pesquisas de campo realizadas nos
espaços geográficos onde se vivencia a religiosidade e
manifestações culturais Afro.
Àqueles(as) que cordialmente contribuíram para a
realização deste livro apreciando-o a partir das palavras e
saberes (re)construídos nos diálogos acadêmicos: Inácia
Neta Brilhante de Sousa, Kleber Alberto Lopes de Sousa,
Luciléia Lima Freire, Maria Zélia Bezerra Vale e
Gabrielli Nunes Clímaco.
APRESENTAÇÃO Partindo dessa visão é que se propõe neste ensaio a
socialização de saberes gerados a partir de práticas
educativas realizadas em sala de aula no Curso de
As atividades realizadas em sala de aula são Pedagogia na disciplina História e Cultura Africana e
fazeres que se reafirmam nas Afro-Brasileira e também em espaços de vivências afros
ações dos docentes e discentes na cidade de Imperatriz.
envolvidos no processo de São singularidades e descobertas, criadas e
aprender a aprender. Elas se recriadas ao longo do processo histórico social, que
configuram em saberes ocorrem na dialética de construção e reconstrução do saber
construídos por meio de dos docentes e discentes que se predispuseram a conhecer
Foto: Veríssima Dilma
estudos, planejamentos, e discutir sobre as temáticas que envolvem a história dos
socialização de informações, partilha de experiências que afrodescendentes.
não devem ficar registrados somente nos planos de aula e Para tanto, coligiu-se registros de alguns teóricos
cadernos dos docentes, mas serem exteriorizados em que escrevem sobre a cultura afro, produções textuais que
outras formas de socialização, assim dissipados com revelam resultados de pesquisas realizadas pelos discentes
maior amplitude, para tornarem-se conhecidos e passíveis do Curso de Pedagogia, para apresentar de forma simples
de reutilização por outras pessoas que com certeza o nosso olhar, considerando o entrelaçamento da cultura
poderão vivenciar esse processo de aprendizagem com afro dos diversos Estados do Brasil que marca o
olhares e fazeres diferentes, próprios dos sujeitos surgimento da dança, religiosidade e culinária percebidas
envolvidos no seu contexto. na realidade da cidade de Imperatriz.
Num primeiro momento apresentamos um pequeno oportunizar informações básicas e imprescindíveis para a
resgate da religiosidade africana contemplando o valorização do negro, contribuindo assim com os
candomblé e a umbanda, manifestados aqui no Brasil com docentes, de forma a não tratar superficialmente a questão,
base no catolicismo e espiritismo quando timidamente mesmo que sucintamente, mas com intuito maior de
desvela-se, demonstrada através de manifestações discutir a inclusão do negro e a tomada de consciência
artísticas e percebida a partir das imagens, tambores, secular, a partir das práticas educativas, enaltecendo o
danças, músicas, trajes e adereços e responsáveis pela combate ao preconceito e a discriminação nas relações
construção histórica da religiosidade dos povos afro- pedagógicas e educacionais nas/das escolas. Dessa forma,
brasileiros. destacamos o trabalho realizado pelo Centro de Cultura
Seguidamente, retratamos as danças de origem Negra Negro Cosme, com vistas a valorizar e envolver
africana, como atividade grupal com características ainda mais os docentes de Imperatriz.
comuns que tem no gingado a acentuada unidade entre os Por meio de um glossário ressalta-se a diversidade
membros, marcando a fusão dos ritmos tradicionais com a de povos, bem como a localização dos países dentro do
inovação e contextualização. continente África oportunizando a compreensão de que se
Ressaltamos também a questão da culinária trata de um vasto continente composto por mais de 50
brasileira que, mesmo diante da sua diversificação e países.
peculiaridade das combinações simples e saudáveis de No campo da prática educativa partimos da ideia de
aromas e sabores africanos, fez da cozinha negra, pequena, que se pode ter a oportunidade de ganhar força no estudo
mas forte, a grandiosidade de um cardápio criativo. das questões pertinentes à África no Brasil, na lida
Ao tratarmos da implementação da Lei nº cotidiária de sala de aula, onde as diferenças podem ser
10.639/2003 consideramos como objetivo principal trabalhadas através de vivências de atividades que tragam
à luz alguns conceitos. Nesse sentido, busca-se perceber a SUMÁRIO
África, sugerir atividades didáticas, bem como filmes e
APRESENTAÇÃO
contos africanos, intentando facilitar o planejamento e
aguçar a curiosidade das pessoas envolvidas com a
1 A religiosidade afro-brasileira
educação nas escolas.
1.1 Candomblé
Deixamos esta construção que emergiu a partir da
1.2 Umbanda
sensibilização e consciência da inconclusão do ser e da
1.3 Retalhos da religiosidade afromaranhense
diversidade de informações e vivências que faz parte desta
compilação, exposta à crítica dos docentes e discentes a
2 A dança afro-brasileira na cidade de Imperatriz
fim de que possa render novas discussões, socializações e,
Maranhão
acima disso vislumbre-se, a condição primordial de
2.1 Carimbó
valorização do outro. E a intenção de futuros trabalhos
2.2 Bumba meu boi
desta temática.
2.3 Cacuriá
2.4 Capoeira
2.5 Maculelê
2.6 Lindô
2.7 Lili

3 Culinária afro-brasileira
3.1 Pitadas da Culinária afro maranhense
4 A efetivação da Lei nº 10.639/03 nas práticas
educativas
4.1 A efetivação da Lei nº 10.639/03 nas práticas
educativas em Imperatriz-MA
4.2 O Centro de Cultura Negra Negro Cosme
4.3 Educadores/as e personalidades da cidade de
Imperatriz-MA
4.3.1 Herli de Sousa Carvalho
4.3.2 Jorge Diniz de Oliveira
4.3.3 Maria Luisa Rodrigues de Sousa
4.3.4 Maria Francisca Pereira da Silva
4.3.5 Izaura Silva

5 Glossário dos países afros

6 Sugestões de atividades didáticas


Gosto de ser gente porque, inacabado, sei
6.1 Projetos didáticos
que sou um ser condicionado, mas
6.2 Filmes consciente do inacabamento, sei que
6.3 Contos africanos posso ir mais além dele.

Paulo Freire
7 Referências
PREFÁCIO A “Dança afro-brasileira em Imperatriz” é uma
temática que assegura certo mapeamento dos grupos de
brincantes em seus gingados sensuais e criativos, guiados
As autoras trazem um pela musicalidade conhecida e identificada nas músicas
colorido especial na capa do cantadas em coro pelos expectadores de tamanha
livro como simbologia dos expressão da beleza coletiva.
afros que carregam a força das A “Culinária afro-brasileira” é contemplada em “pitadas”
cores trabalhadas em adereços da culinária afro maranhense que seduz em deliciosas
receitas que dão “água na boca”, no olhar e mais
Foto: Veríssima Dilma para ornarem seus corpos para
fortemente no paladar.
a festa da alegria que emana da interioridade perpassada
Assim, a “Efetivação da Lei nº 10.639/03 nas
pela ancestralidade legada no jeito de ser.
práticas educativas em Imperatriz” são representadas em
Na epígrafe, bem escolhida em Freire, o gosto do
propostas de como são disseminadas nas escolas e de
inacabamento traduz o ser gente na singeleza de seres que
como podem ser vivenciadas em atividades simples, mas
se constroem em práticas educativas carregadas da
ricas de possibilidades de serem experienciadas no
consciência de estar em crescimento.
cotidiário dos espaços educativos.
Ousadas que são, trilham por caminhos prenhes de
Aqui também se insere a fala de militantes do
descobertas como “Religiosidade afro-brasileira na cidade
Centro de Cultura Negra Negro Cosme – CCNNC para
de Imperatriz no Estado do Maranhão”. Explicitam os
relatar que espaço é esse que congrega pessoas ávidas de
“retalhos” do que compreendem como manifestação de fé
realizarem ideais de lutas e resistências em favor dos
da população negra, com coragem de conhecerem e
direitos da população afro de pensar e agir na valorização
tornarem público o resultado desse empreendimento.
do que são e das construções que realizam com afinco e subsídios para ler e aprender sobre si mesma e demais
determinação em busca da liberdade de serem gente. pessoas interessadas. Igualmente agradeço a escolha de
Compõe ainda este livro, um “Glossário dos Países minha pessoa para expressar a riqueza desta iniciativa
Africanos” com informações importantes na compreensão sensível das autoras e que muito nos enriquecerá na
do que significa o continente, e principalmente num olhar militância ora empreitada com entusiasmo. Que os deuses
pela des)construção de “coisas” negativadas como a e deusas africanas e afro-brasileiras evoquem um forte
imagem real. Segue as “Sugestões de atividades didáticas” AXÉ sobre vós leitores e leitoras.
aliadas a “Projetos didáticos” e “Filmes e Contos
africanos” como leituras e recontagem de histórias que Herli de Sousa Carvalho
contribuem para uma visão da realidade com os “pés no
chão” guiada pela visibilidade de parcela da população
negra.
Diante do exposto, ratifico o valor que este
trabalho centrado em ações de pesquisa e extensão, traz
como espaço de inserção da disciplina História e Cultura
Africana e Afro-Brasileira visando à sistematização dos
conhecimentos que foram construídos em valoração das
atividades pedagógicas realizadas nas turmas do Curso de
Pedagogia.
E, por fim, traduzo aqui a alegria que a população
dos afros descendentes sente ao serem contemplados com
Considerada a “terra natal” da humanidade pelos
historiadores, a África1 se constitui como um continente
onde a vida foi relegada a uma
trajetória histórica social
resultante de conflitos, pobreza,
miséria, doenças, fome, revoltas e

1 Fonte: Veríssima Dilma


invasões. Os povos africanos
foram submetidos, por países
colonizadores como
Alemanha, Inglaterra, França entre outros, a situações de
Portugal,

negação da própria identidade para manterem-se vivos


RELIGIOSIDADE AFRO-BRASILEIRA dentro do seu próprio país e sendo obrigados a uma
aculturação que os oprimia e aumentava as segregações
entre eles.

As práticas dos grupos religiosos


passaram a constituir-se em uma
espécie de síntese dos elementos 1
África – O segundo maior entre os seis continentes, com mais de 30
culturais, fossem de fé, fossem de milhões de km². Cortada quase ao centro pela linha do equador.
costumes e rituais dos seus Aspecto físico alterna regiões desérticas; florestas densas; rios de
participantes. águas abundantes e regiões de grande altitude. População não
homogênea com características biológicas diversificadas mas
agrupada em torno de traços culturais específicos. (LOPES, Nei.
Roberto Benjamim Enciclopédia brasileira da diáspora africana. São Paulo: Selo Negro,
2004).
O negro, ser humano de cor da pele preta, durante Pretos/as africanos/as e os afros descendentes2, no
a colonização do Brasil e até os dias de hoje é tratado período colonial, e também atualmente, se configuram
como diferente, ignorante, inábil, preto sujo e indolente gente de persistência e muita coragem, que buscavam e
pela sociedade “branca”. Adjetivos esses incorporados buscam na religião uma forma de manterem-se unidos
também por alguns pretos, que assim se viam e se vêem num sincretismo intenso, surgido a partir da mixagem de
nas situações sociais, sejam pessoais e/ou profissionais. alguns elementos do catolicismo (como o uso de imagens
No Brasil, as situações de submissão dos pretos ao de santos/as em alguns rituais devido a proibição da igreja
poderio dos brancos ainda é realidade, se assim não fosse católica de qualquer outro tipo de expressão religiosa na
seria dispensável a criação de ações afirmativas que época), dos preceitos e rituais indígenas (culto aos
objetivam facilitar a inserção destes na sociedade. As antepassados, uso de ervas nas rezas e crença nas forças da
pesquisas revelam a prevalência do branco sobre o preto, natureza), o espiritismo (comunicação com os mortos) e
nos cargos profissionais de confiança, nas Instituições de do pluralismo cultural dos africanos nativos advindos de
Ensino Superiores públicas e privadas e demais espaços diferentes partes da África que trouxeram consigo na
sociais. Essa realidade já é vista por muitos, incluindo o memória, e no jeito de viver, a sua religiosidade.
Brasil, que apesar de ser garantido o direito de igualdade Esse sincretismo deu vida à cultura religiosa afro-
pela Constituição faz-se necessário a criação de políticas brasileira, que se visualiza hoje no Brasil, como afirma
públicas com o intuito de “reparar” o passado ultrajante Munanga (2006) a definição religiosa negra é forte e
em que os pretos africanos e seus descendentes foram e variada, foram eles, nossos ancestrais africanos, os
continuam sendo submetidos no Brasil.
2
Afrodescendente - Termo modernamente usado no Brasil para
designar o indivíduo descendente de africanos, em qualquer grau de
mestiçagem. (LOPES, Nei. Enciclopédia brasileira da diáspora
africana. São Paulo:Selo Negro, 2004).
responsáveis pelo afloramento de diferentes expressões e cultos de origem”. Os africanos de origem, Banto3, Nagô4
feitios de se comunicar com o mundo mágico e e Jejes5, Hauças6 e Malês7, esses dois últimos de religião
sobrenatural. islâmica, são os prenunciadores da religiosidade afro no
A religiosidade do povo brasileiro, portanto, Brasil.
continua sendo tecida por essa pluralidade de crenças A história conta que o século XVII marca o início da
que, ao se entrelaçarem, revelam o jeito de cada povo manifestação das religiões afro no Brasil, advindas com a
viver sua devoção. Nesse movimento de construção e presença do Calundu, espécie de curandeiro que promovia
reconstrução cultural religiosa, a cultura africana é de rituais de limpeza espiritual. Conforme relata Nei (2008)
certa forma, a mais intensa dentre todas, muito embora, os africanos, em especial os calundus, trouxeram de seu
tenha sido proibida e perseguida nos tempos coloniais, país formas religiosas que aconteciam a partir de rituais
conseguiu se manter viva no toque de seus tambores, nas dedicados à cura física e psíquica, através de práticas
cores intensas das vestimentas, na corporeidade próprias da tradição afro, como adivinhação, limpeza
visualizada na dança, fabricação de medicamentos espiritual, rezas e indicação de medicamentos naturais,
utilizando ervas naturais, nas rezas e no uso de distintos extraídos de ervas e frutos.
adereços. 3
Bantos – designa cada um dos membros da grande família
Foi, nesse contexto, que os africanos se fizeram etnolinguística à qual pertence, entre outros, os escravos do Brasil
chamados de Angolas, Congos, Cabindas, Benguelas, Moçambiques.
construtores da religiosidade afro-brasileira. Segundo 4
Nagôs – negros que vieram da Iorubalândia para o Brasil.
5
Jejes – termo que designa uma nação africana oriunda do antigo
relato de Silva (2008, p. 39), “ao serem trazidos para o Daomé.
6
Brasil, muitos grupos mantiveram suas tradições e, mesmo Hauças- conjuntos de povos de origem e composição distintas,
falantes de hauçá, língua do grupo Chadiano, que hoje constitui uma
na condição de escravos, conseguiram preservar o espécie de língua franca em grande parte da África subsaariana.
7
Malês- conhecido no Brasil como negro islamizados.
candomblé, a umbanda, a quimbanda e a mandinga, seus (LOPES, Nei. Enciclopédia brasileira da diáspora africana. São
Paulo: Selo Negro, 2004)
Assim, os calundus se tornaram conhecidos como garantidos, na forma da lei, a proteção aos locais de culto
curandeiros, líderes religiosos. Mattos (2007) confirma e as suas liturgias”, ainda é de certa forma ignorada ou
que a ação dos calundus era o resultado de uma mesmo ocultado, as questões religiosas afro, muito
combinação de costumes africanos, indígenas e embora já se possa visualizar algumas mudanças nas ações
portugueses que foram o alicerce para que se encorajassem dos órgãos de pesquisa como o Instituto Brasileiro de
e demonstrassem suas práticas religiosas iniciando o Geografia e Estatística – IBGE que, no questionário
resgate cultural, mesmo de forma tímida ao incorporar aplicado anualmente para o censo, já oportuniza a
seus valores na cultura que aqui existia, a qual também era expressão religiosa, pois nele as pessoas são direcionadas
um resultado da junção das culturas dos povos a responderem escrevendo o nome da sua religião ou
colonizadores, os cultos afro-brasileiros com suas culto.
peculiaridades próprias tinham a finalidade de manter viva
6.12 - QUAL É A SUA RELIGIÃO OU CULTO
a tradição africana mesmo em país estrangeiro, onde a (abrir combo de religiões (com 4 caracteres digitados)
religião católica preponderava.
Neste contexto, visualiza-se a persistência de uma (se tem até 10 anos de idade, siga 6.13. Caso contrário, passe ao 6.14)

cultura preconceituosa, disseminada ao longo dos séculos


Fonte: IBGE, 2010.
na sociedade brasileira, ganhando novos ares somente no
século XX com a Constituição da República Federativa do Diante destas situações que representam um
Brasil/88 no Cap. DOS DIREITOS E DEVERES construto histórico social, ocorreu o desejo de discorrer de
INDIVIDUAIS E COLETIVOS, Art. 5º, inciso VI, “é forma simples, mas com muito respeito, o jeito
inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo cultural/religioso de ser do povo negro e sem dispensar, é
assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e claro, a escrita de estudiosos sobre essa temática. Será
apresentado nas páginas seguintes um breve resgate de consideradas altas sacerdotisas que realizam seus cultos
duas religiões trazidas pelos negros para o Brasil. nos terreiros, geralmente localizados em locais ocultos.
a. Candomblé Acredita-se que, devido todo o passado cultural de
Palavra que representa as religiões dos africanos, perseguição, ainda exista esta intimidação social, por parte
das etnias, bantos provenientes da Angola, do Congo e dos afrodescendentes e também pelos brancos que
Moçambique, Nagôs e Jejês vindos da África Ocidental. frequentam esses espaços. O poder da igreja católica
Crença que no século XIX foi trazida para a Bahia e prevaleceu perante a liberdade de culto, dessa forma os
disseminada por vários estados, sendo conhecida por afrodescendentes e africanos foram obrigados a identificar
outras nomenclaturas. os Orixás com nomes de santos católicos para poder
cultuá-los.
Candomblé na Bahia b. Umbanda

Xangô em Pernambuco e Alagoas


IANSÃ – Santa Bárbara
CANDOMBLÉ Tambor de Minas no Maranhão, IBÊJI – São Cosme e São Damião
Amazonas IEMANJÁ – Nossa Senhora da Conceição
NANÃ – Sant’ana
Batuque no Rio Grande do Sul OBÁ – Joana D’arc, Santa Catarina
OBALUAÊ – São Lázaro
OGUM – São Jorge
Nas religiões originárias do candomblé existe o OSSAIM – São Francisco de Assis
OXALÁ – Nosso Sr. Do Bonfim, Espírito Santo
culto às deidades, ou orixás, que representam forças da
OXOSSI – Santo Antônio
natureza, cada um tem uma cor preferida, e os cultos a OXUM – Nossa Senhora das Dores
OXUMARÉ – São Bartolomeu
estes orixás são liderados por guias normalmente XANGÔ – São Jerônimo, São João
conhecidos, como pai de santo, ou mãe de santo,
Fonte: Livro – História e cultura africana e afro-brasileira. Nei qual o sacerdote cura”. Mattos (2007) afirma que é a
Lopes. São Paulo: Barsa Planeta, 2008, p. 107.
crença na existência de forças sobrenaturais que
Religião que combina elementos africanos (orixás);
interferem neste mundo e exige dos membros a
católicos (imagens de santos, devoções a Jesus e a Maria);
participação em rituais e processos de iniciação. Munanga
e espírita (crença na existência de forças sobrenaturais que
(2006) relata que a umbanda é o resultado da junção do
interferem neste mundo); que, segundo Mattos (2007), foi
catolicismo (religião politeísta com adoração a mais de um
conhecida inicialmente como espiritismo de umbanda e se
santo), o espiritismo (diálogo com os espíritos mortos
desenvolveu com maior amplitude na região Sul e
através do transe) e as tradições africana advindas do
Sudeste, merecendo destaque também na cidade de Codó,
candomblé (culto aos orixás).
estado do Maranhão, onde é versada como Terecô. Essa
Diante do exposto, corroboramos que o candomblé
religião realiza trabalhos em duas linhas: as forças do Bem
e a umbanda, são religiões afro brasileiras, criadas por
e do Mal.
africanos escravos no intuito de sentirem-se mais
fortalecidos espiritualmente e, também, uma forma de
Forças do Bem guias de caridade, caboclos e preto-
união social deste povo que, apesar de tanto sofrimento
velhos.
advindo da escravidão, sofreu durante muito tempo, a
Forças do Mal exus-espíritos e pomba giras.
proibição de sua expressão religiosa. Todavia, há registros
que denotam que, com força e coragem, as nações
A palavra Umbanda recebe vários significados,
africanas buscaram e ainda buscam a partir da
para Lopes (2008) é denominada medicina e
religiosidade, manterem-se mais unidas.
genericamente de “macumba”. Silva (2008) conceitua
como “o além, onde moram os espíritos” ou “culto pelo
passado histórico de colonização do estado do Maranhão,
no qual o/a negro/a, não por opção, mas forçosamente aqui
habitou como escravo/a, realizando a mão de obra para os
seus senhores e, mesmo de forma oculta, acanhada, nas
senzalas ou nos quilombos, lutavam para manter viva na
RETALHOS DA RELIGIOSIDADE AFRO lembrança deles e dos afrodescendentes sua cultura
BRASILEIRA EM IMPERATRIZ-MA através de rituais religiosos, danças e comidas.
Dessa forma, disseminou-se no seio da população
8
Imperatriz é a maior cidade do interior do Estado branca, a cultura religiosa afro e, em Imperatriz,
do Maranhão e apresenta um potencial comercial, permanecem esses traços culturais em vários espaços da
atacadista e informal bastante desenvolvido e que se cidade conhecidos como centro, terreiro, tenda ou salão
tornou o arrimo da economia local, além da agricultura e onde se realizam celebrações, que configuram o jeito
indústria. Sua população é de 245.581 habitantes (IBGE, religioso dos afrodescendentes cultuarem suas divindades.
2010). É neste espaço geográfico, com habitantes oriundos Para conhecer um pouco da singularidade da
de diferentes partes do planeta terra, que se agrupa várias religiosidade afro visitamos alguns espaços da cidade de
formas de religiosidade, destacando-se com grande Imperatriz e constatamos que nestes realizam-se variadas
representatividade a cultura religiosa afro, resultante do formas de cultos. A maioria dos
8
Imperatriz – cidade fundada em 16 de Julho de 1852, localizada a
centros/terreiros/tendas/salões se localiza geograficamente
sudoeste do Estado do Maranhão, banhada pelo rio Tocantins e em locais reservados por conta do preconceito percebido
atravessada pela rodovia Belém-Brasília. Possui uma área de 1.538,00
km², e tem como limite os municípios de Cidelândia e São Francisco na sociedade civil. Segundo depoimentos, relacionados a
do Brejão, Davinópolis, Governador Edison Lobão e o estado do
Tocantins. estes locais, dão conta que na década 60 havia 322 salões
de umbanda em Imperatriz, coordenados por pai/mãe de disse que não escolheu essa religião, ela foi escolhida,
santo. Atualmente, segundo relatos dos líderes (pai de tanto ela como sua mãe. Afirma ainda que o terreiro é de
santo ou mãe de santo) entrevistados, esse número foi linha branca, ou seja, realiza trabalhos amorosos, cura de
reduzido, existem cerca de 20 a 30 terreiros em Imperatriz. doenças e não se trabalha com “Pomba Gira”. Todos os
Esses locais só são autorizados a funcionar a partir de um dias ela reza e é muito devota da Santa Nossa Senhora da
Alvará expedido pelo Presidente da Associação dos Cultos Conceição e os rituais são feitos nos dias de terça e quinta-
afro-brasileiros da Região Tocantina, CNPJ – MF feira depois do meio dia.
12089.165/0001-60, organização assegurada pela lei Para uma pessoa participar do centro é preciso que
municipal nº 420/87. seja maior de 18 anos, se menor somente com a
Durante as visitas aos locais de cultos religiosos participação dos pais, não precisa ser negra, mas, que seja
afros de Imperatriz, constatamos que os mesmos, em sua médium9, seja responsável, tenha o dom não pode mentir.
maioria, são identificados pelo nome das santas Bárbara e Caso não seja médium participa, mas não incorpora10. A
Nossa Senhora da Conceição e coordenados por mãe ou entidade se mantém através de gratificações e de
pai de santo. Nas linhas seguintes apresentamos um breve pagamento de consulta que atualmente custa R$ 50,00
e simples relato histórico sobre as singularidades que (cinquenta reais).
envolvem o cotidiário desses espaços, identificando-os por Neste terreiro, são usadas roupas específicas para
nomes de orixás, no intuito de respeitar as peculiaridades os eventos, vestes brancas para rezar, azul para
destes espaços. homenagear os santos, vermelha para homenagear os
IANSÃ - existe a 50 anos, sendo um dos mais 9
Médium – segundo os espíritas, é o intermediário entre os vivos e as
antigos da cidade e foi fundado pela sua atual almas dos mortos. (BUENO, Silveira.Mini dicionário da língua
portuguesa. Ed. Ver. E atual. São Paulo: FTD, 2000).
10
coordenadora aos 14 anos de idade, hoje com 64 anos, Incorpora – processo que as entidades assumem o corpo/matéria da
pessoa médium. (http://pt.wiktionary.org)
negros e índios e é costume usar ervas para fazer banhos como: quebranto12 e arca caída13, e a oração é através da
como: alfavaca, tipi, jardineira, alho, entre outras. Já para força da mente com a ajuda do anjo que acompanha a
os guias são usadas essências mais fortes como jasmim e mediunidade.
alguns perfumes. Os participantes são devotos dos santos, Relata que “a experiência ajuda saber sobre as
São Sebastião e Nossa Senhora da Conceição e as coisas espirituais, pois para quem estuda a teoria está no
entidades que eles recebem são Preto Velho, Maria Conca, livro e, para mim a teoria é a força da mente, a pessoa vem
Cabocla Ita, Rei Sebastião (é o maior). Nesses eventos não me procurar e eu faço a experiência com base na oração,
são servidas comidas, mas em algumas ocasiões servem-se verifico o caso se é espiritual ou doença física para fazer o
bebidas. trabalho”. Explica que, para participar basta precisar e
IEMANJÁ - criado no dia 03 de junho de 1992, querer, uns vêm por doenças, outros por necessidades
começou a funcionar em 04 de dezembro do mesmo ano, financeiras em busca de mais rendimentos. Os dias de
segundo sua fundadora, (hoje com 60 anos de idade) foi reunião são quarta-feira ou qualquer dia da semana
criado pela força da mente e oração. Conta que começou a dependendo da necessidade.
participar da umbanda por motivo de doenças aos 12 anos Os santos cultuados neste terreiro são: São Jorge,
de idade. O primeiro pai de santo que ela conheceu Santa Bárbara, São Francisco, Nossa Senhora da
chamava-se mestre Zé Bruno 11. Mesmo sendo fundadora Conceição e São Raimundo. As roupas específicas são 07
de um terreiro, se considera católica, trabalha no seu
12
Quebranto – quebrantamento; prostração, fraqueza, suposta
terreiro somente com linha branca, com oração, rezas, influência exterior, maléfica, de feitiço; mau-olhado. (BUENO,
benzimentos, chás, garrafadas, banhos para curar doenças Silveira.Mini dicionário da língua portuguesa. Ed. Ver. E atual. São
Paulo: FTD, 2000).
13
Arca caída - Segundo a tradição popular, a arca é um osso pequeno,
flexível, "parecendo um nervo", que se encontra no meio do peito,
entre o coração e o estômago, e que pode envergar para dentro.
11
Zé Bruno - um dos mais velhos pais de santo do Maranhão (http://pt.wikipedia.org/wiki/Espinhela)
e cada uma possui uma cor diferente, cores por corrente, Miguel Arcanjo no dia 29 de setembro. O pai de santo diz
cada santo com suas cores preferidas e cada festa tem sua “vestir roupas específicas por exigência dos espíritos”.
cor, como as cores usadas nas festas da quadrilha e nas Há o costume de só fazer rituais de luto quando o
fitas da festa de bumba-meu-boi. Essa mãe de santo se mestre falece aí, se toca o tambor de choro. Relata ainda
sente vista pela sociedade como mãe e madrinha, ela que 90% das pessoas que procuram o terreiro são
participa das orações de cura que acontecem toda terça- mulheres e o espírito invocado é o pai légua com um
feira na igreja católica de São Francisco, e é querida e cruzamento de magia negra, que é linha branca e
aceita por todos com uma pessoa que cuida do povo. Ela quimbanda, disse que “invoca ou trabalha com umbanda
afirma também que o terreiro de umbanda é conhecido e porque é uma religião composta de elementos divinos
as pessoas sempre procuram. Recorda que quando chegou (orixás e guias); doutrinários (linhas de atuação)”. Ainda
em Imperatriz, já encontrou os terreiros de umbanda. Eles comentou que a umbanda sofreu várias modificações tanto
se mantêm com dinheiro de doações, das pessoas que em seus objetivos como em suas práticas e rituais, quando
precisam de serviços, e também são realizados os festejos se mesclou os cultos afros, com o catolicismo e a filosofia
e nestes as pessoas participam consumindo muito do que é oriental.
vendido, e também há queimas de fogos, orações e OXUMARÉ - fundado em 1972, coordenado por
bastante comes e bebes. uma mãe de santo que, afirma ser católica e trabalha com
XANGÔ - Coordenado por um Pai de Santo, que Linha Branca. O objetivo dela e do grupo que a
em 1969 foi chamado a trabalhar com seu 1º mestre Zé acompanha é fazer oração para a cura de depressão, de
Gomes já falecido. Neste terreiro qualquer pessoa pode problemas conjugais e das famílias que vivem em
participar desde que não esteja bêbado. As reuniões desunião. Há também a reza dos raminhos de planta para a
acontecem toda sexta-feira às 19h00min. Lá se cultua São cura de crianças que estão com quebranto. Não julgam ser
necessária uma vestimenta especial, todos do grupo se velho”, “família de légua” (caboclos índios), “zé pilim”,
vestem normalmente. “pomba gira”, “maria mulambo” e “tranca rua”. Cada
Ela viaja para o sertão de Montes Altos e sertão do entidade tem suas cores, representada por duas correntes:
Tocantins com o grupo de oração de mais ou menos vinte Branca (rosa, amarela, verde, branca e azul, praticam o
pessoas para fazer vigília. Diz ser bastante procurada para bem). Negra (vermelha, preta e roxa, praticam o mal).
fazer oração e se sente muito bem, gosta muito do que faz, Esse pai de santo relatou que, “os trabalhos
que é ajudar as pessoas através da oração e da vigília. Os desenvolvidos na umbanda são chamados de macumba,
santos cultuados neste centro é o Sagrado Coração de cujos rituais são conhecidos como dança do Terecô, rituais
Jesus, santo Expedito e Nossa Senhora de Nazaré. com aves (galinha e pombo), comida (carne de boi,
As reuniões são nas segundas, quartas e sextas- galinha e porco) e bebidas alcoólicas. Nos rituais de
feiras das 07h00min às 11h30min da manhã, nesses dias feitiçaria, alguns são realizados nos despachos em
de orações não são servidas comidas especiais, são encruzilhadas, que obedecem algumas regras como: 7
simples, naturais e água, depois do almoço nada de galinhas pretas, 7 velas pretas, vermelhas e roxas, 7 litros
bebidas alcoólicas, as pessoas participam do trabalho de cachaça. Nas oferendas, às entidades de linha branca,
lendo a bíblia, orando. são utilizadas: 7 galinhas brancas ou pombos, preparados
OSSAIM - coordenado por um pai de santo em casa com todos os temperos, incluindo o azeite de
umbandista, e tem como entidade principal o babalorixá. dendê, e em seguida é deixada na encruzilhada para tirar
Este terreiro funciona em um espaço isolado conhecido feitiço da pessoa.
como salão, onde são realizadas as festas dos santos Após esses rituais, o pai de santo fica muito fraco e
padroeiros e os participantes recebem suas entidades, que não se recorda dos fatos ocorridos. Segundo ele “a
são representadas por nomes como, por exemplo: “preto entidade pomba gira é acompanhada por setenta e sete
espíritos que fazem o mal às pessoas, como separação de determinado”. No seu terreiro existem regras em alguns
casais, prostituição tanto do homem como da mulher, eventos como o festejo de Nossa Senhora Aparecida,
relacionamento entre homossexuais, bissexuais e organizado dessa forma nove dias antes do seu início
lésbicas”. Este terreiro é frequentado por pessoas na existe uma obrigação dos integrantes da casa para não
maioria pertencentes a classe média alta, como políticos, comerem carne vermelha, nem beberem bebida alcoólica e
empresários, pastores e o pagamento às consultas e relacionarem-se sexualmente, para cumprimento dessas
encomendas de trabalhos é o que mantém financeiramente exigências segundo o pai de santo, há um vigia
o terreiro. permanente que é a entidade (rei Sebastião) que irá
OGUM - coordenado por um pai de santo que aos comandar este evento, e quem quebrar essas regras é
15 anos de idade conheceu a entidade Corina no Vale do eliminado das suas obrigações.
Amanhã na Bahia. Depois várias outras entidades Esse festejo de Nossa Senhora Aparecida inicia-se
passaram a fazer parte de sua vida espiritual. Ele estudou no dia 04 de outubro e se finda no dia 12 do mesmo mês.
até o 3º período de medicina e trancou sua matrícula, se Todos os dias há novenas a partir das 18h00min. No dia
formando depois em contabilidade, profissão que deixou 12 de outubro, pela manhã inicia-se a dança, e só acontece
de exercer devida sua mediunidade, que requer muito uma pausa às 16h00min, para os integrantes da dança
dedicação e tempo, pois mesmo não sendo um médico tomar banho e trocarem de roupa, porque as roupas da
profissional, formado pela ciência clínica, se sente um dança são as mesmas usadas na procissão que se inicia às
médico espiritual que cuida da dimensão espiritual dos 17h00min e percorre as principais ruas do bairro com o
médiuns que frequentam o terreiro. encerramento às 19h00min. Em seguida faz–se uma pausa
O pai de santo afirma que “na umbanda existe dois para fumarem, conversar uns com os outros e tomarem
tipos de médium, o de nascença e o por tempo bebida quente como cachaça e cerveja. Mas nesta pausa os
integrantes da dança, não almoçam e nem jantam, só Imperatriz aproximadamente na década de 70, trazida de
podem tomar água de coco, refrigerante, café e bebida São Luís por um Senhor pai da atual representante desta
alcoólica. Às 21h00min retomam as danças com o toque festa na cidade de João Lisboa que recebeu de presente o
dos tambores que só terminam às 06h00min, com o nascer símbolo que representa o Espírito Santo, a imagem de uma
do sol. pomba.
As vestimentas usadas na festa são compradas Os organizadores da festa são em número de quatro
pelos filhos (as) da casa, mas a cor e o modelo são cantadores dois iniciam e dois respondem. Os/As
14
escolhidos pela entidade que está comandando o evento. caixeiros/as também são conhecidos como foliões, que
As comidas e bebidas são feitas em mutirão pelos/as costumam passar o dia de finados homenageando os
filhos/as da casa e são oferecidas a todos os participantes e mortos, por isso visitam os túmulos. As vestes são
familiares visitantes, durante todo dia e noite do dia 12 de vermelhas e os instrumentos usados são: caixa de violão,
outubro. As despesas são pagas pelos empresários bandeira vermelha com símbolo branco da pomba. A festa
visitantes da casa e demais integrantes que a frequentam. dura o dia inteiro, qualquer pessoa pode participar, ela é
Ainda como manifestação religiosa que apresenta tradicionalmente hereditária, ou seja, passada de pai para
traços da cultura afro há, “A FESTA DO DIVINO”, filho, e no local da festa é organizado um altar onde é
realizada pelos católicos, sete semanas depois do domingo colocada uma bandeja de oferta, algumas imagens de
de páscoa, que é o dia de Pentecostes, com a reza do terço, santos, a bandeira, um copo com água e a pomba do
às 12h00min, cantoria e louvores em forma de repente,
14
muita bebida e comida, para comemorar a descida do As caixeiras são, em geral, mulheres negras, com mais de cinquenta
anos e que moram em bairros periféricos da cidade. OGUNBIYI,
Espírito Santo sobre os doze apóstolos. Contam os Adomair O.; JESUS, Ilma Fátima de. Educação das Relações Étnicos-
Raciais. Ensino de história e cultura afro-brasileira e africana, Ensino
organizadores da festa, em João Lisboa, que ela surgiu em Fundamental II. São Paulo: Editora Didática Suplegraf, 2010.
Espírito Santo. É uma festa tipicamente religiosa, mas por autodenominam como praticante apenas da religião afro,
ser cantada e ter como instrumento o tambor, sofre algum em sua maioria frequentam igrejas cristãs por medo de
preconceito sendo associado ao terreiro de umbanda. assumirem-se com nesta religião. A visão cristã ainda
No dia da festa as pessoas que realizam novenas coage, na percepção deles, a não assumir sua própria
em agradecimento convidam os foliões para visitar suas religiosidade, muito embora se tenha a seguridade legal
casas com a Pomba do Divino Espírito Santo. para liberdade de crença ainda assim, são visíveis, os
A religiosidade afro-brasileira é, portanto, revelada traumas da colonização, é perceptível na localização dos
neste sincretismo religioso, construída na história dos espaços geográficos de cultos ainda exclusos, geralmente
povos colonizadores, propiciando aos colonizados no em bairros distantes ou afastados da rua.
Brasil e, em Imperatriz a reprodução dessa história. O
catolicismo, o espiritismo, o candomblé e a umbanda
desvendam com rituais, uso de imagens, tambores, danças,
cantorias, indumentárias e folguedos, a religiosidade dos
afro descendentes.
Assim, os relatos deste artigo sobre as incidências
da religiosidade afro em Imperatriz tratam de algumas
peculiaridades reais dos terreiros-tendas-salões-centros
retratadas no candomblé e umbanda. Ressalta-se também
que esses espaços são vistos com discriminação, há o olhar
preconceituoso em relação às práticas religiosas deste
segmento. As pessoas normalmente não se
Kabengele Munanga

Pensar a nação brasileira no aspecto de sua


diversidade remete sempre à reconstrução de memórias
por integrar, um grande mosaico com recortes das grandes
manifestações culturais. O resgate dos elementos que
retratam a ancestralidade do povo negro, sua herança
social através da arte, música e danças, bem como suas

2 crenças demonstra uma forma de perpetuar o rico legado


da história africana no Brasil.
Dentre as expressões que revelam a autenticidade
A DANÇA AFRO-BRASILEIRA da vivência deste povo estão as músicas e danças. A
utilização do corpo perpetuou-se como forma de traduzir
sentimentos em alguns momentos de revolta, outros de
Os africanos escravizados introduziam uma
vigorosa identidade corporal e musical nas alegria e ainda como construção de identidade. A dança,
terras por onde passaram. Por isso, para o
de maneira geral, acentuou a unidade entre os membros
negro africano deportado para as Américas,
os maracatus, os afoxés, o soul, o jazz, o dos grupos sociais aos quais se inseriram, possibilitando
reggae, o mambo, o samba, o funk, o hip-hop
assim a participação de homens, mulheres e crianças.
e, outras expressões, a capoeira, podem ser
consideradas como as linguagens que Diante de trabalho duro, forçado pela necessidade de
mantêm viva a transgressão herdada dos
sobrevivência, nos corpos ativos e de grande utilidade para
nossos ancestrais da África Negra.
produção e trabalhos forçados, os africanos passaram pelo intervenções estéticas no corpo e, sobretudo, nos cabelos,
processo degradante da coisificação. nos quais os negros recriaram tradições, reinventaram
O povo africano é conhecido naturalmente por ser símbolos, guardaram a memória ancestral e as ensinaram
alegre, costuma comemorar com música e especialmente às novas gerações. Influenciaram, também, a educação [...]
com a dança, situações como a fertilidade, o nascimento, o Introduziram novos hábitos ao universo cultural dos
plantio ou a colheita e a saúde. Estas são marcas de um senhores e das senhoras. Realizaram trocas estéticas,
tempo não muito distante, em que dançar significava culinárias, linguísticas e de resistência com os povos
expressão de libertação, guerra, comunicação, indígenas. Nesse processo, a tradição gestual e oral
entretenimento, num misto religioso e cultural, mostrando destacou-se como um dos principais elementos”.
que na dança eram senhores do próprio corpo, do que mais As danças afro no Brasil surgiram a partir do século
poderiam ser, se não o de ter o sentimento de XIX, e são originadas mais propriamente na áfrica
pertencimento daquilo que lhe é próprio em meio à ocidental (centro oeste africano), e deram origem a muitos
situação de escravidão. ritmos musicais no Brasil, como o samba, o maxixe, a
A dança tinha, na coletividade, no gingado do corpo rumba entre outros. A partir de 1950, começam a aparecer
e no movimento, demonstrações de extrema relevância, o no cenário musical brasileiro alguns grupos que
corpo como expressão que atravessou gerações foi trabalhavam especialmente com dança afro, logo se
principal veículo de resistência e transgressão. organizaram como parte essencial da vida nas aldeias
Confirma-se dessa forma, esta manifestação quilombolas. Nei (2004) registra o primeiro grupo de
Segundo Munanga (2006, p.153) “por meio dos jogos, das dança afro no Brasil no Rio de Janeiro, na década de 40,
festas, da dança, das cerimônias religiosas de iniciação, denominado “Grupo dos Novos” liderado e formado pelos
das ervas ingeridas, da transformação dos alimentos, das irmãos Láudio José e Waldomiro Machado por artistas
egressos do Teatro Experimental do Negro entre os quais origem rítmica do Estado do Pará, porém, os instrumentos
Haroldo Costa, Solano Trindade e outros. Em 1951 o utilizados são originários da África.
grupo passou a chamar-se “Teatro Folclórico Brasileiro”. Na cidade de Imperatriz, pode-se perceber que o
Curiosamente os primeiros estudos de legado cultural afro se faz perceptível no jeito do povo
etnomusicologia descritos por Lopes (2008) associavam os maranhense se divertir e fazer cultura. Dentre essas se
instrumentos de origem africana aos usados na música destacam grupos que desenvolvem atividades culturais. A
popular brasileira que são: o atabaque, adufe, berimbau, dança carimbó, está inserida dentro do Projeto Escola que
carimbó, caxambu, cucumbi, fungador, ganzá, gongon, tem o objetivo de divulgar a cultura Protege e o outro na
mulungu, marimba, puíta, piano de cuia, quissanje, Casa Sotaque - Instituto de Cultura e Artes Sotaque.
roncador, pererenga, socador, tambu, ubatá, vuvu, vu, Os grupos são coordenados por um professor. A faixa
xequerê (xeguedê) e o conhecido triângulo. Também a etária dos participantes varia entre 15 e 19 anos, são
cuíca, versão contemporânea da puíta angolana; o reco- jovens que estudam em escolas públicas de Imperatriz e
reco e os vários tipos de chocalhos; os ilus do xangô nos momentos vagos buscam alternativas para desenvolver
pernambucano, as zabumbas e matracas usadas nas uma profissão e também envolvimento com a cultura. O
apresentações do bumba-meu-boi, entre outros. grupo é composto atualmente de 8 a 10 pessoas. Para
Vale destacar também outras danças de origem participar é necessário primeiramente fazer parte do
africanas que se distinguem por sua originalidade nos Projeto Escola que Protege do Governo Federal e que
ritmos e expressões corporais, outras se caracteriza como goste de dançar, o mesmo inclui no módulo esta parte
tal por utilizarem instrumentos musicais de origem cultural.
africana que foram inseridos para compor os arranjos As roupas e acessórios utilizados que fazem parte
diferenciados, nesse caso tem-se o CARIMBÓ, sua desta dança sensual são saias longas, blusas de renda,
brincos e colares e também maquiagem. As roupas são pajés que ressuscitam o boi e salvam Pai Francisco e este
adquiridas através de doações, ou empréstimos feitos pela grande milagre foi comemorado com enorme festa.
Casa Sotaque, ou ainda fazem “vaquinha” para conseguir O enredo desta história se confirma com Ogunbiyi
comprar. O grupo ainda não se apresentou publicamente, e Jesus (2010), típica do período colonial, na situação de
pois tem apenas 2 meses de existência, se mantém pelo escravidão marcada também pela monocultura e criação
Projeto em parceria com a Prefeitura que paga o professor. extensiva de gado. É pouco contado na sua originalidade,
A dança na cidade é bem aceita, mas ainda enfrenta vários grupos apresentam partes desta história com
o preconceito por ser uma dança que envolve a mesclas de roupas, instrumentos e personagens diferentes,
sensualidade. conhecidos como grupos sotaques, existem,
Dentre as festas maranhenses tem-se o BUMBA principalmente na Capital do Maranhão grupos diversos
MEU BOI que tem suas origens no século XVIII e que representam esta diversidade de representações.
acontece nos meses de junho e julho gira em torno de Sotaque de
personagens que representam a história de Mãe Catirina, Baixada15, de Costa de Mão16, de Matraca17, de
escrava negra, grávida que deseja comer a língua de um Orquestra18 e de Zabumba19. Em Imperatriz essa dança
boi bonito e gordo da fazenda. Seu esposo Pai Francisco,
mata o boi para atender ao pedido da amada, seu dono ao
descobrir fica furioso com o sumiço do animal preferido, 15
Sotaque de Baixada- embalado por matracas e pandeiros pequenos,
tem como destaque o personagem Cazumbá, uma mistura de homem e
investiga e descobre o autor de tal façanha, obrigando-o a bicho que, veste uma bata comprida, máscara de madeira e chocalho
trazer o boi de volta, este, por sua vez é condenado à na mão
16
Sotaque Costa de Mão – típico da região de Cururupu, ganhou este
morte no tronco. Mãe Catirina recorre a curandeiros e nome devido a uns pequenos pandeiros tocados com as costas da mão.
17
Sotaque de Matraca - surgiu em São Luís é o preferido de seus
habitantes. O instrumento que dá nome ao sotaque é composto por
dois pequenos pedaços de madeira, as matracas.
pode ser observada nas festas juninas escolares e, há repetida da música cantada) é estimulado pelos tocadores e
também grupos que se apresentam em outros momentos seguido pelos participantes.
culturais, dentre eles pode-se destacar o grupo de No mesmo ritmo do conhecido carimbó maranhense.
dançantes do Conjunto Nova Vitória em Imperatriz-MA. A partir do Cacuriá outros instrumentos foram sendo
Assim, Imperatriz é palco de várias manifestações inserido nas danças afro como o violão, a flauta, tambores
culturais afro-descendentes, uma delas é o CACURIÁ. maiores, o banjo e também clarinete. Atualmente é uma
Surgiu, conforme relata Ogunbiyi e Jesus (2010), como dança típica do maranhão, que surgiu há mais de quarenta
parte da festa religiosa do Divino Espírito Santo, gerando anos, é apresentada durante a festa do Divino Espírito
uma dança popular afromaranhense. Diferentemente de Santo, considerada uma das mais importantes
outras danças, esta se dá em pares, formando círculo ao manifestações culturais do Maranhão.
som de pequenos tambores ou instrumentos conhecidos Em Imperatriz, ela surgiu através do grupo Kizomba
como “Caixas do Divino”. Esta percussão instiga outra no ano de 2001 coordenado por um senhor. Marcada por
conhecida dança peculiarmente profana, sensual, religiosa, sensualidade é ritmada por instrumento de corda, violão,
assim como o Tambor de Crioula nela o coro (parte cavaco harmonia de som, flauta e clarinete, as
características marcantes desta dança é a brincadeira de
roda, com suas interpretações, os dançarinos utilizam
18
Sotaque de Orquestra – neste sotaque há o acompanhamento de
diversos instrumentos de sopro e cordas, como o saxofone, o principalmente o rebolado do quadril, que tem a interação
clarinete e o banjo.
19
Sotaque de Zabumba – este sotaque marca a forte presença africana
com o público. Tem como objetivo, o pagamento de
na festa do Bumba meu boi, adota o mais antigo estilo de boi. promessas, momento em que as pessoas dançam para
OGUNBIYI, Adomair O.; JESUS, Ilma Fátima de. Educação das
Relações Étnicos-Raciais. Ensino de história e cultura afro-brasileira e cumpri-las. Para dançar o cacuriá não é necessário
africana, Ensino Fundamental II. São Paulo: Editora Didática
Suplegraf, 2010. nenhum critério, quem quiser participar pode ser inserido,
não tem distinção de gênero e idade, suas vestimentas, capões ou capus, usados para colocar mercadorias às
confeccionadas por uma costureira do próprio grupo. As vezes instrumento utilizado pelos escravos “capoeiros”,
femininas são: saia comprida com bastante estampa, um carregadores. Apesar das divergências sobre sua origem,
top, uma tiara na cabeça em forma de coroa, sapatilha; o sobretudo, trata-se de uma invenção dos escravos e no seu
masculino são: bermudas ou calças, colete ou blusa, a histórico percebe-se a trajetória de luta marcial à atenuada
critério, ambos podem dançar descalços. Os grupos são manifestação da cultura africana.
formados por doze pares para realizar a dança em forma Conhecida também como jogo foi criada no Brasil
de roda que é considerada muito sensual. pelos escravos dos grupos Bantu, Angoleses e Gangoleses.
O cachê por apresentação da dança do Cacuriá de Foi desenvolvida como luta de revide, resposta aos
Imperatriz é em torno de mil a mil e quinhentos reais, e desmandos, ameaças e surras do feitor. Na Capoeira
fora da cidade três mil reais dinheiro que é dividido com tinham-se mais do que uma dança. Na época da
todos os componentes do grupo. Também se apresenta em escravidão, o negro participava de uma guerra brutal e
festas juninas, na Beira Rio e em muitas cidades do desigual com os servos dos fazendeiros mais conhecidos
maranhão. Esta dança é considerada a filha mais nova do como capatazes e, por isso desenvolveu a capoeira como
carimbó, e é mais valorizado no período de festas juninas. forma de defesa pessoal para combater a agressividade
Outra dança é a CAPOEIRA cuja origem tem praticada contra eles.
muitas versões. Uma delas relaciona seu significado O negro utilizava a força e a capacidade física dos
segundo Soares (apud Munanga 2006) ao mato, origina-se braços, e pernas; mão, pé, cabeça, cotovelo, joelhos e os
da palavra capueira em que se usava a expressão “meteu- ombros como armas, e observava a natureza assimilando o
se na capueira”, dando entonação de fuga e quilombos. modo de sobrevivência dos animais, como resistiam às
Segundo o autor outra versão relaciona a palavra à cestos presas através de seus sistemas de defesas, inspirando-se
neles. Munanga (2006) descreve que associavam a estas Em Imperatriz, a dança iniciou por volta de 1985 e
estratégias as manifestações culturais trazidas da África hoje acontece nos espaços escolares com o objetivo de
Negra em forma de competições, diversão e em momentos educar e desenvolver uma boa atividade física. Ela é
de solenidades e cerimoniais religiosos usando o corpo ambígua, como afirmam alguns historiadores é uma
como arma de ataque e defesa. negociação dos jogadores, através de movimentos no qual
O aspecto da dança veio como disfarce ao incorporar um atraca o outro, defende-se e contra-ataca novamente. A
os instrumentos musicais como o berimbau 20. O ritmo característica da capoeira pontua-se na ginga, canto, toque
guardava o segredo também escondido pelas “ladainhas” e e música fundamentada em movimentação acrobática e
o clamor aos “deuses” que chamava à existência o instrumentada, como também as vestimentas usadas para
fortalecimento para o enfrentamento das dificuldades as apresentações: abada, calça e camiseta branca.
cotidianas, assim a capoeira fazia-se, ao mesmo tempo, Os participantes da capoeira devem ter boa
modo de sobrevivência, cultura e espiritualidade. educação, ética, desempenhar bem as atividades e não
Atualmente trata-se de manifestação cultural, faltar às aulas. Ressalta ainda que as pessoas que fazem
dissociada, por vezes, de sua origem marcial, mas tratada parte da capoeira são crianças carentes, que vivem
pelo viés da arte e do esporte sem a pretensão de abandonadas e em situações de risco, e muitas vezes até
prejudicar outras pessoas. envolvidas no mundo das drogas, é como um resgate
social.
20
Usado para dar o toque de aviso da chegada do inimigo, de pessoas
estranhas ou do feitor quando praticavam a capoeira às escondidas, No entanto, as dificuldades enfrentadas para a
Também marcava o tempo, o ritmo e o andamento da dança, realização desta dança são diversas como: falta de
representada pela ginga do corpo e servia para disfarçar o caráter de
luta, dando-lhe uma expressão lúdica e inofensiva. MUNANGA, recursos, e de espaço adequado para ministrar as aulas. Os
Kebengele. O negro no Brasil de hoje. São Paulo: Global, 2006,
p.155) instrumentos utilizados hoje são os mesmos de sua origem
berimbau, o pandeiro, o atabaque, o caxixi, o agogô e o Em Imperatriz, o grupo de danças “KIZOMBA”
reco-reco. que dança o Maculelê surgiu em agosto de 1997, a partir
Nas danças afro em Imperatriz, pode-se destacar da ideia de apresentar em uma feira de Ciências na Escola
também o MACULELÊ, folguedo21 popular do Jonas Ribeiro, um espetáculo cultural diferente. A
Recôncavo Baiano, de origem africana, é um misto de proposta, encabeçada pelos professores Amparo Oliveira e
dança guerreira e jogo de bastões e deriva do termo Wilson Chagas, era de fazer um trabalho quel resgatasse
quicongo makélelé, “barulho”, “algazarra”, “vozearia”, as tradições culturais da região, principalmente ligadas às
“tumulto”. Lopes (2004) explica a tradição do maculelê raízes africanas. No mesmo período, a Fundação Cultural
derivada dos canaviais na Bahia sua existência, em Santo de Imperatriz, promoveu e desenvolveu o projeto de
Amaro, desde 1757, ano de inauguração da igreja da Danças Típicas, o que contribuiu de maneira decisiva para
Purificação. a formação e o aprendizado dos alunos/brincantes.
Caracteriza-se pelo ritual da “marcha de Angola”, No ano de 2004, através de oficinas musicais, o
na qual os participantes percorrem as ruas e praças em grupo deixou de se apresentar com som mecânico para
marcha. Tipo de dança-luta, os brincantes batem os enfim, fazer apresentações ao vivo e criar suas
bastões compassadamente uns contra os outros e composições. Diante do empenho da equipe e aceitação da
concomitantemente dançam samba e/ou capoeira, ritmados comunidade, o grupo passou a estudar e ensaiar novas
também por canções que expressam a história do povo danças. Atualmente seu repertório, além do cacuriá, está
negro, geralmente com os temas: escravidão, dificuldades, inserido o Lili, o Maculelê, o Lundu, a Ciranda, o Divino,
religiosidades. a Dança dos Orixás e o Coco.
A dança em destaque, o Maculelê é tipicamente
21
Folguedo: ato ou efeito de folgar ou de se divertir; divertimento; guerreira, praticada por negros guerreiros que dançam
brincadeira; folia.
entrechocando as armas. Sugere muita agilidade, e trata-se vestimentas, bem como, para pagamento dos músicos que
de uma mistura de matizes indígenas e africanas e surgiu tem como meio de sobrevivência, a música. Com isso,
baseada nos movimentos de corte de cana-de-açúcar na surge uma das maiores dificuldades do referido grupo,
festa de Nossa Senhora da Conceição, na cidade de pois não há apoio financeiro mensal ou constante.
Salvador e em outros pontos da Bahia e geralmente as No entanto, as dificuldades são superadas com
roupas dos brincantes são confeccionadas em palhas, com empolgação dos integrantes, que buscam fortalecer a
matérias da natureza, tais como, sementes de diversos existência do grupo com participação e alegria. Afinal, é
tipos e pintura no rosto. uma diversão quando todos estão juntos. Este trabalho
Os componentes do grupo dividem-se entre o motivou convites para apresentações em inúmeras
trabalho e o estudo, sendo doze pares de bailarinos, sete localidades e cidades do Maranhão: Sitio Novo, João
músicos e três vocais, sob a coordenação da professora Lisboa, Pé de Galinha, São João do Paraíso, Porto Franco,
Amparo Oliveira, uma vez que a mesma demonstra a capital São Luís, entre outras. Fora do estado, o grupo
imensa satisfação em realizar um trabalho de tamanha esteve em Brasília por duas vezes consecutivas.
importância para a comunidade, visando principalmente Em Imperatriz, a marca da cultura africana pode
distanciar esses jovens das adversidades da vida. Em ser conhecida também na DANÇA DO LINDÔ, pois há
relação à ajuda financeira, o grupo já conseguiu apoio para na cidade um grupo de dança que retira da ociosidade
montagem e realização de espetáculos, por meio de meninos e meninas da rua, ensina um divertimento
projetos. diferente, atenta para questões primordiais como respeitar
O Kizomba ainda conta com os cachês das a dança e a cultura dos mais velhos, busca aprofundar seus
apresentações que são destinados à compra de conhecimentos possibilitando conhecerem outras danças e
instrumentos musicais, materiais para confecção de pessoas e também ajudá-los com os problemas familiares.
A dança acontece aos pares, alguns passos do Imperatriz, a DANÇA DO LILI que segundo relatos
Lindô lembram a quadrilha da festa junina. Os versos em históricos, surgiu em 03 de maio de 1985, originado a
geral são de improviso e o refrão é repetido pelo coro de partir de brincadeiras da semana santa na zona rural do
dançarinos. As roupas das mulheres são saias coloridas, município de Caxias – Maranhão (região dos cocais), onde
bem floridas e rodadas para dar movimento como uma as pessoas se reuniam em frente as suas casas, dançando e
característica comum em outras danças de origem cantando cantigas em versos sem o uso de instrumentos.
africana. Ao chegar à cidade assumiu características
Assim, essa dança é uma maneira encontrada para peculiares, sofrendo mudanças e incorporando novos
preservar uma brincadeira muito antiga e bonita, segundo elementos, a começar pelo uso de instrumentos musicais,
sua atual coordenadora Maria Francisca Pereira da Silva, dentre os quais: percussão, solo, violão, sanfona,
já idosa, as apresentações costumam ser frequentes no bandolim, pandeiro e violino. Pode ser dançada de várias
período junino, pois nessa época são convidados pela maneiras, inclusive em filas ou em círculos. Os passos são
prefeitura, universidades, quartel, pontos de cultura e semelhantes ao do baião, no qual a batida do pé acontece
outras instituições para fazer parte da programação das no primeiro tempo, forte.
festas. Geralmente o Lindô, assim como o Cacuriá e o Boi Possui traços característicos comuns da nossa
se apresentam antes da tradicional dança da quadrilha e região ressaltando a importância do modo de vida e dos
servem como atrativo para abrilhantar as festas juninas. costumes do homem e da mulher do campo, tais como o
Observa-se no povo maranhense certa valorização lavrador, a lavadeira, a quebradeira de coco, etc., além de
no divertimento, com participação nas festividades, ainda exigir muito preparo físico e ter em seu gingado,
que tímidas desta cultura, ainda com olhar de valoração há expressões corporais e vestuários incrementados com
também, sob coordenação de Amparo de Oliveira, em roupas leves e/ou estampadas, geralmente confeccionadas
por costureiras locais e alguns dos integrantes que
auxiliam na confecção.
O Lili (uma forma abreviada), como é conhecido
em muitos locais, brincando ao som de ritmos, tem como
autor musical, Raimundo Nonato da Silva, popular e
grandioso divulgador da cultura caxiense, apelidado de
3
Pelé, também responsável por divulgar a esta dançam para
o grupo Kizomba na cidade de Imperatriz-MA.
Nesse contexto cultural pode-se perceber a A CULINÁRIA AFRO-BRASILEIRA
grande contribuição para a formação do sujeito e,
sobretudo no sentido de resgatar e perpetuar as danças afro
brasileiras presentes na cultura popular, um legado que
O espaço reservado à cozinha da casa-
ganhou, aqui no Brasil novos significados e novas grande patriarcal agrupou o encontro de
simbologias. raças, combinando emoções com
temperos, sentimentos com receitas
culinárias, saudades com cheiro e gosto
de condimentos.

Fátima Quintas
A culinária brasileira é mesclada por diversas uma boa alimentação através das sementes, folhas, raízes e
culturas principalmente a africana que chegou ao Brasil frutos colaborando com sabores distintos dos existentes no
com os negros que para cá foram trazidos, se expandindo Brasil. Percebe-se, portanto, a relevância da culinária
com muita ênfase em vários estados brasileiros como africana na degustação brasileira por meio dos pratos
Maranhão, Bahia, Salvador e Rio de Janeiro. apimentados, adocicados, uso das bananas, feijão verde
Independentemente da variedade presente na misturado com arroz, quiabo e maxixe no feijão.
culinária brasileira, muito da culinária africana ainda é Partindo deste contexto, pode-se dizer que a
apreciada pela população brasileira exemplo disso é o culinária afro-brasileira é resultado da influência da
quibebe, acarajé, abará, bobó, caruru, cuscuz, mungunzá e culinária indígena, britânica, africana e portuguesa desde o
o vatapá entre outros. Benjamin (2004) relata que mesmo período da colonização. Fruto do trabalho das negras
com a migração dos povos africanos de uma região para escravas cozinheiras da casa grande, que foram coagidas a
outra os costumes que caracterizavam a sua cultura, como obedecer às ordens das patroas em relação à preparação
os sabores foram levados no pensamento, aproximando os dos pratos, o que não era obedecido na sua integralidade,
seus gostos aos tradicionais alimentos. aos poucos elas foram acrescentando a esses pratos
Nessa visão, a emigração dos povos africanos para temperos de sua culinária como a pimenta, maxixe,
terras distantes não fizeram com que se perdessem por inhame, quiabo, capote e a feijoada que foram sendo
completo o sabor das delícias apreciadas em seu país, pois apreciados pelos senhores e senhoras da casa grande,
nas pequenas oportunidades que surgiam nas cozinhas da induzidos pelo cheiro temperado e apimentado e o
casa grande eram acrescentados os gostos africanos. colorido dos pratos que demonstravam o gosto no olhar.
Assim, a marca africana, ao longo de sua historia Assim, a culinária africana se expandiu com grande êxito,
obteve êxitos, trazendo até aos dias de hoje os prazeres de
do cuscuz ao vatapá, fazendo do uso de folhas, raízes, Pitadas da Culinária afro maranhense
massas e sementes, como elementos da alimentação.
Atualmente a comida africana combina aromas e
Na culinária imperatrizense, também é perceptível
sabores, e é apreciada nacionalmente com os doces
a presença da culinária afro, devido a diversidade cultural
açucarados, como a rapadura e o pé de moleque preparado
que há entre seus habitantes,
pelos escravos no período colonial para demonstrar a
dentre os alimentos que se
opulência dos seus senhores valorizando, assim, as festas
assemelham aos pratos africanos
nos engenhos, esses são degustados até os dias de hoje
vale destacar o BOBÓ DE
especialmente nas datas comemorativas.
Foto: Veríssima Dilma CARNE SECA, iguaria da
Dessa forma, as iguarias africanas permanecem na
cozinha brasileira por seus méritos como a galinha com culinária afro-brasileira, espécie de purê de aipim ou
quiabo, jiló, cafezinho quente. Benjamin (2004) ressalta inhame. A origem do vocábulo está em mbombo,
que na mesa brasileira todos os dias os estrangeiros são “mandioca amolecida”, ou ainda prato à base de feijão–
encantados com a comida composta com a colaboração mulatinho, banana-da-terra ou fruta-pão, azeite-de-dendê e
dos africanos, destacando a preparação com métodos pimenta. O resgate histórico trata da culinária afro é
manuais ainda relevantes na atualidade, como o cuscuz retratada através das comidas típicas como tacacá, vatapá,
cozido ao vapor, o torresmo no feijão com pitadas de bobó e o caruru, vendidos em feiras, barracas ou em
pimenta, o mungunzá preparado com milho, leite de coco pequenos espaços na porta da própria casa. Em Imperatriz
ou de vaca podendo ser salgado ou adoçado que deixam a o bobó é mais procurado nas feiras de artesanato e no final
cozinha dos brasileiros com um toque sustentável e do ano na Praça de Fátima.
saudável.
Outro alimento de origem africana, oriundo mais alimento matinal presente na mesa das famílias de todas as
precisamente de Maghreb (região norte da África) é o classes sociais maranhense.
CUSCUZ prato que foi sendo Outro prato bastante
inovado pelas “mãos” das degustado por brasileiros é a
talentosas escravas no Brasil, FEIJOADA que segundo relata
visto que em sua origem os os historiadores foi inventado

Foto: Veríssima Dilma pelas escravas devido a


ingredientes básicos eram
cereais e sêmola. Historicamente se registra também, que Foto: Veríssima Dilma necessidade de melhorar a
em torno de 1945 a 1521 esta comida chegou a Portugal e alimentação destinada aos escravos das senzalas
de lá foi trazida pela família real, os escravos então eram brasileiras e que com criatividade e necessidade de
obrigados a trabalhar seguindo este cardápio, dando nova comida, nos tachos de ferro, onde cozinhavam o feijão,
forma ao cuscuz, diariamente presente na mesa de muitos acrescentaram os pedaços de porco considerados
brasileiros. Seu consumo pela população imperatrizense é impróprios para o preparo dos pratos da casa grande
notável, na cidade há vários pontos de venda. Geralmente como: orelha, pescoço, costela, rabo, pés, toucinho. Ao
as cuscuzeiras, mulheres simples, simpáticas e atenciosas longo do tempo, a feijoada foi se expandindo para todo
com seus clientes, vêem na sua profissão não só uma fonte Brasil, tornando-se um alimento apreciado na mesa por
de renda, mas um modo alegre de viver. brasileiros e estrangeiros. Em Imperatriz – MA ela
Alguns locais vendem diariamente vinte “pratos” também é vendida e consumida em vários ambientes,
de cuscuz comum, servidos em fatias, mas especialmente acompanhada de farofa, arroz branco, couve e laranja
pode ser cozido na brasa e feito com arroz “catete” (mais fatiada, dessa forma sendo conhecida como prato da
rico em nutrientes do que outro tipo de arroz). É um cultura brasileira.
Ainda merece destaque o MUNGUZÁ conhecido água e sal e frito em azeite de dendê e vem recheado com
como “chá de burro”, canjica, ou curau se caracteriza pelo complementos: vatapá, caruru, salada, pimenta e camarão.
tempero diversificado, é uma Trata-se de um dos mais importantes símbolos da cultura
espécie de papa de milho, do Estado da Bahia.
temperado com leite de vaca,
Abará - Bolinho de origem afro-brasileira feito com
leite condensado ou de coco e
massa de feijão-fradinho temperada com pimenta, sal,
canela, no entanto se a
Foto: Veríssima Dilma cebola e azeite-de-dendê, algumas vezes com camarão
preferência for salgada usa-se
seco, inteiro ou moído e misturado à massa, que é
milho, feijão ou fava, tocinho, pé, orelha de porco e
embrulhada em folha de bananeira e cozida em água.
linguiça, apreciado por nordestinos, especialmente os
pernambucanos. Na África era servido em funerais
Acaçá - Bolinho da culinária afro-brasileira, feito de
angolanos.
milho macerado em água fria e depois moído, cozido e
Além dos alimentos apresentados acima, a
envolvido, ainda morno, em folhas verdes de bananeira.
culinária afro-brasileira, é percebida e degustada no Brasil
(Acompanha o vatapá ou caruru. Preparado com leite de
também a partir dos alimentos como:
coco e açúcar, é chamado acaçá de leite).

Acarajé - Bolinho de origem africana (África Ocidental-


Caruru. Prato da culinária afro-baiana, um guisado feito
Togo, Benim, Nigéria e Camarões) inspirou a culinária
basicamente com quiabos e camarões secos, azeite de
brasileira e nesse país era chamado de àkàrà que significa
dendê e temperos.
bola de fogo devido ao modo de preparo. Feito de feijão
fradinho moído, batido posteriormente com cebola ralada,
Cocada. De origem africana, é um dos doces mais mandioca cozida, picada, refogada e servida com muito ou
conhecidos e tradicionais, vendidos em bares e pouco caldo, pode ser temperado com azeite de dendê e
restaurantes. cheiro verde.

Quindim. Como a maioria dos doces portugueses tem


Cuxá. Molho da culinária afro-maranhense, feito com
como base a utilização do ovo, e os africanos o côco, esse
folhas de vinagreira.
doce juntou ingredientes de culturas diferentes e
incorporou o gosto que desde a escravidão no Brasil até os
Farofa. Mistura de farinha com gordura e às vezes com
dias atuais vem sendo apreciado. É feito, basicamente,
outros alimentos, da tradição culinária africana no Brasil.
com gema de ovo, coco e açúcar. Agradando assim a
muitos paladares.
Pé-de-moleque. Guloseima da culinária afro-brasileira,
feita de rapadura e amendoim torrado.
Rapadura. Calda de açúcar mascavo endurecido em
forma de tabletes ou tijolos. Ingrediente básico na
Pimenta. Condimento da culinária afro-brasileira,
alimentação dos escravos dos engenhos nos século XVI.
primeiramente originou-se nas Américas e a partir do
“Descobrimento do Brasil” foi sendo introduzida no resto
Vatapá. Originado na culinária afro-baiano, é um pirão
do mundo, em suas múltiplas variedades.
(miolo de pão, leite de coco e azeite de dendê) acrescido
Quibebe. Prato típico do Nordeste, de origem africana. de camarão seco/fresco, tomates.
Quisado de gerimum acrescido de carne-de-sol ou com A culinária brasileira dessa forma, é um pouco dos
charque refogado; papa de abóbora, preparada de várias costumes de cada povo, e está sempre incorporando
formas e acompanhamento diversos; prato feito com
sabores e cores diferentes graças à criatividade daqueles
que se identificam com a gastronomia.

4
A EFETIVAÇÃO DA LEI Nº 10.639/03 NAS
PRÁTICAS EDUCATIVAS

Os desafios da qualidade e da
equidade na educação só serão
superados se a escola for um
ambiente acolhedor, que
reconheça e valorize as
diferenças e não as transforme
em fatores de desigualdade.

Brasil
A promulgação da Lei 10.639/2003 revela as discussão mais arraigada, sincera e real a respeito
ações governamentais atuando na conjuntura de dos comportamentos que a humanidade, ao longo
discriminação, desigualdade social e preconceito de sua trajetória social tem legado aos
aos quais estão sujeitos os afrodescendentes no afrodescendentes. No que diz respeito às decisões
Brasil. Busca valorizar todo o trabalho realizado governamentais em relação à educação escolar
pelos negros africanos na construção civil e na merece destaque a Lei Nº 10.639 de 09 de janeiro
cultura no período de colonização até os dias de de 2003 que institui o Ensino de História e Cultura
hoje no território brasileiro. Africana e Afro-Brasileira, nos currículos escolares
A politização dessas ações que asseguram do sistema educacional brasileiro.
qualidade de vida aos cidadãos devem também ir Para tanto, alterou a atual Lei de Diretrizes e
além dos documentos e proporcionar, aos Bases da Educação Brasileira – LDB de Nº 9.394 de
afrodescendentes, as mesmas condições de 20 de dezembro de 1996, acrescendo os artigos 26A
igualdade na sociedade, com direitos respeitados que afirma: “Nos estabelecimentos de ensino
conforme instituiu a Constituição Brasileira de 1988, fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se
Art. 5 “Todos são iguais perante a lei, sem distinção obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-
de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros Brasileira”. No § 1º enfatiza-se que:
e aos estrangeiros residentes no País a
O conteúdo programático a que se refere o
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à caput deste artigo incluirá o estudo da
História da África e dos Africanos, a luta
igualdade, à segurança e à propriedade”. dos negros no Brasil, a cultura negra
No âmbito educacional, percebe-se que as brasileira e o negro na formação da
sociedade nacional, resgatando a
determinações atuais estão provocando uma contribuição do povo negro nas áreas
social, econômica e política pertinente à
História do Brasil. § 2º Os conteúdos negra e indígena brasileira e o negro
referentes à História e Cultura Afro- e o índio na formação da sociedade
Brasileira serão ministrados no âmbito de nacional, resgatando as suas
todo o currículo escolar, em especial nas contribuições nas áreas social,
áreas de Educação Artística e de econômica e política, pertinentes à
Literatura e História Brasileira. Há ainda o história do Brasil.
artigo 79B: O calendário escolar incluirá o
dia 20 de novembro como “Dia Nacional
da Consciência Negra”.
Com a elaboração dessa Lei, veio o auxílio
Referente às leis que buscam essa equidade para a inclusão dos estudos afros nas práticas
vale ressaltar também que com a Lei 11.645/08 o educativas, restando às escolas incluírem nos seus
Artigo 26A foi novamente alterado e a redação ficou currículos a prática de estudo de temas transversais
dessa forma: para que os assuntos referentes à população negra
sejam discutidos com maior freqüência e seriedade
em sala de aula.
Art. 26A. Nos estabelecimentos de
ensino fundamental e de ensino
médio, públicos e privados, torna-se
obrigatório o estudo da história e
cultura afro-brasileira e indígena. 4.1 A efetivação da Lei nº 10.639/03 nas práticas
(Redação segundo a Lei nº 11.645,
de 2008). § 1º O conteúdo educativas da cidade de Imperatriz-MA
programático a que se refere este
artigo incluirá diversos aspectos da
história e da cultura que
caracterizam a formação da
população brasileira, a partir Na cidade de Imperatriz pode-se registrar
desses dois grupos étnicos, tais
como o estudo da história da África e trabalhos acadêmicos de pesquisa referente à
dos africanos, a luta dos negros e dos
povos indígenas no Brasil, a cultura temática afro nas escolas de Ensino Fundamental e
Médio como apresentações teatrais, desenhos afros,
leitura de para didáticos e poesias e nas IES, os 4.2 Histórico do Centro de Cultura Negra Negro

trabalhos de conclusão de curso – TCC como a Cosme de Imperatriz-MA


monografia do pedagogo Ricardo Costa de Sousa
(Texto cedido pelo CCNNC)
sobre A Aplicabilidade da Lei Nº 10.639/2003 nas
Práticas Pedagógicas do Centro de Ensino de
Jovens e Adultos – CEJA em Imperatriz – MA, da Em Imperatriz, algumas atividades já foram

pedagoga Patrícia Ferreira da Silva, abordando realizadas na intenção da efetivação da Lei

sobre Os Contos e Lendas Africanas na Práxis das 10.639/2003 nas escolas.

Educadoras do Ensino Fundamental 1° ao 3° Ano na Os primeiros passos para a criação do Centro

Rede Pública Municipal do Pólo Bacuri em de Cultura Negra Negro Cosme aconteceram ainda

Imperatriz – MA, e destaca-se também a tese de na década de 1990, quando um pequeno grupo de

doutorado de Herlí de Sousa Carvalho com o tema pessoas, incluindo alguns professores e

A Efetivação da Lei Nº. 10.639/2003 nas Práticas universitários da UEMA (Universidade Estadual do

Educativas como Res)significação da História e Maranhão) – sensíveis à problemática da exclusão

Cultura Afro-Brasileira em Imperatriz – Maranhão – social e discriminação racial do negro começaram a

Brasil. Dentre as instituições que colaboram para se reunir e discutir a temática. Dentre estes,

implementação da Lei nº 10.639/2003 destaca-se o encontravam-se presentes: Maria Luísa Rodrigues

Centro de Cultura Negra Negro Cosme de Imperatriz de Sousa (presidente da segunda e terceira diretoria

e os Núcleo de Estudos Afro-brasileiros das da entidade), Izaura Silva (presidente da terceira

Instituições de Ensino Superior. diretoria), Luiz Maia da Silva (professor historiador


da UEMA), dentre outros. Como fruto das referidas homenageia Cosme Bento das Chagas, um dos
discussões, foi instituído por meio da Lei Municipal heróis da revolta Balaiada no Maranhão (1838-1841)
nº 973/2001, cujo projeto foi de autoria do então e líder dos negros fugidos que fundaram o quilombo
vereador Mariano Dias, hoje membro do CCN, o Dia Lagoa Amarela. Como primeiro presidente da
Municipal da Consciência Negra em Imperatriz. Por entidade, foi eleito Mariano Dias.
conseguinte, já em novembro do mesmo ano foi A Semana Municipal de Consciência Negra
realizada a Primeira versão da Semana Municipal da passou a ser organizada, anualmente, pelo Centro
Consciência Negra. de Cultura Negra Negro Cosme em parceria com
A Semana Municipal da Consciência Negra escolas e outros setores da sociedade organizada,
surgiu com a finalidade básica de promover a constando de um calendário de atividades culturais,
conscientização da comunidade imperatrizense, a partir de um tema envolvendo o negro. Ao longo
sobre as dificuldades vividas historicamente pelo dos anos tornou-se um acontecimento de grandes
negro e a importância do seu papel na sociedade do repercussões em Imperatriz e região, tendo como
terceiro milênio e estabelecer as bases para a objetivo principal a valorização dos/as negros e
fundação de uma entidade representativa dos negras e o combate ao preconceito e discriminação
negros na cidade de Imperatriz/MA. raciais, a partir de discussões de temas voltados à
Por esta ocasião, formou-se uma comissão temática racial, palestras com estudiosos e
para estudar e viabilizar a criação de uma instituição pesquisadores de renome nacional e internacional,
representativa dos negros nesta cidade, o que além de apresentações artístico-culturais. O quadro
culminou na fundação, em 27/03/2002, do Centro de abaixo demonstra um resumo das edições da
Cultura Negra Negro Cosme, denominação que Semana Municipal de Consciência Negra:
I Semana Municipal de Consciência Negra (2001) – III Semana Municipal de Consciência Negra ( de 20
aconteceu antes mesmo da fundação do Centro de a 22/11 de 2003). Tema – Negro/a e Educação.
Cultura Negro Cosme, mas já fruto do movimento Incluiu uma vasta programação como apresentação
negro em Imperatriz. Culminou com vasta de mística, palestras nas escolas e apresentações
programação no dia 20 de novembro, quando se culturais como: capoeira, maculelê, hip hop, dança
instalou uma Tribuna Popular na Câmara Municipal afro e declamação de poema.
de Imperatriz, onde além dos discursos, houve
apresentações cênicas e de capoeira e Ato político- IV Semana Municipal de Consciência Negra (de 16 a
cultural, na Praça da Cultura, com a participação de 20/11 de 2004). Tema: Ações Afirmativas. Contou
grupos folclóricos, teatrais, de cantores populares e com palestras e mesa redonda, tendo entre os/as
repentistas. palestrantes a historiadora Maria do Carmo
(Caxias/MA); Conceição Amorin, do movimento de
II Semana Municipal de Consciência Negra (2002). mulheres e a historiadora Marinalda Pereira,
Tema- Negro: Consciência e Resistência. Constou militante do CCN Negro Cosme; além de
de intenso calendário de atividades, incluindo programação cultural na Praça de Fátima, com
exibições do filme “A Doméstica” no centro e nos apresentações musicais e danças.
bairros de Imperatriz, apresentações de grupos
artísticos, tribuna popular, debate sobre o tema V Semana Municipal de Consciência Negra (de 07 a
“Consciência Negra”, ato ecumênico e desfile da 12/11 de 2005). Tema: Fortalecimento da identidade
beleza negra. étnica afro e ações “educativas”. A abertura
aconteceu na UEMA, com mesa redonda e palestras
com (Historiadores(as) - Marinalda Pereira, (Raimundo Soares da Cunha, Jonas Ribeiro,
Adonilson Lima, geógrafa (Gildete Dutra) e Geovanni Zanni, Santa Laura, CEEFM Edison
coquetel. Palestras em escolas públicas municipais Lobão, CEEFM Nascimento de Moraes). O
(Escola municipal Santa Laura, Escola encerramento das atividades da semana ocorreu na
municipalizada Giovanni Zanni) e escolas estaduais Praça de Fátima, com participação cultural de todas
(Amaral Raposo e Pedro Ferreira de Alencar). as escolas públicas e grupos artísticos locais
Evento Cultural com apresentação de exposições (Kizomba; Senzala; grupo da ADAE; banda DP-RAP;
dos trabalhos das escolas; Show de música e dança MC Alcemir; banda BNNG e B Boys; Missionários
(Flor de Cactus, Kizomba, Senzala). MC’s).

VI Semana Municipal de Consciência Negra (de 13 a VII Semana Municipal de Consciência Negra ( 22 e
20/ 11 de 2006) - Tema: Ações Afirmativas para a 23/11 de 2007) - I Seminário da Região Tocantina:
Promoção da Igualdade Racial. Abertura oficial no Identidade Étnica, Políticas Afirmativas, Preconceito
CE Dorgival Pinheiro de Souza e UNISULMA. Mesa Racial e Social. Contou com a participação de
redonda com Professora Msc. Herli de Sousa conferencistas ilustres como o Prof. Dr. José Jorge
Carvalho, profº Adonilson Lima da Silva e profª Msc. Carvalho (UnB), Prof. Dr. Carlos Benedito Rodrigues
Izaura Silva. Prosseguiu com palestras nas escolas, da Silva (UFMA) e da escritora e pesquisadora
ministradas pelos militantes do CCNNC e Equipe Mundinha Araújo (Arquivo Público do Maranhão,
Coordenação de Educação da Igualdade Racial de autora do livro “Em busca de Dom Cosme Bento das
Imperatriz CEIRI/UREI), onde foram contempladas Chagas – Negro Cosme: Tutor e Imperador das
as escolas públicas municipais e estaduais Liberdades”). Além da participação dos militantes do
Movimento negro de Imperatriz em palestras, em Você”. A programação iniciou-se na UEMA, com
místicas, coordenação de debates, a exemplo da o lançamento do livro “Em busca de Dom Cosme
palestra ministrada pela professora Msc. Maristane Bento das Chagas – Negro Cosme: Tutor e
de Sousa Rosa sobre a temática “Novo objeto da Imperador das Liberdades”, da escritora Mundinha
história: O hino do reggae no Maranhão. Houve Araújo. Em parceria com a UNISSULMA
ainda lançamento dos livros: (Universidade Sul do Maranhão) prosseguiram dois
1 – Ritmos da Identidade Mestiçagem e dias de programação no Auditório da UNISSULMA
Sincretismos na Cultura do Maranhão - Profº Dr. sendo no primeiro, uma mesa redonda “Os 120 anos
Carlos Benedito Rodrigues da Silva – UFMA. de abolição da escravatura” com militantes do CCN
2 – Inclusão Étnica e Racial no Brasil: a questão das Negro Cosme de Imperatriz (professora Msc Izaura
Cotas no Ensino Superior - Profº Dr. José Jorge Silva, o Bacharel em Direito Carlos André Morais
Carvalho (UnB). Anchieta) e a escritora e pesquisadora Mundinha
3 – Insurreição de Escravos – Pesquisadora Araújo. No segundo dia na UNISSULMA
Mundinha Araújo (Arquivo Público do Maranhão). aconteceram duas palestras: Saúde Afro (com
A semana foi concluída com a “Festa África Belezas Elizabeth Teixeira) e Educação Afro (com Mariléia
e Riquezas” – Concurso da Beleza Afro: Desfile para Cruz). No último dia da programação da semana,
escolha da garota afro. durante a manhã aconteceu, na Praça de Fátima, a
“I Exposição Afro-Brasileira” com amostragem de
VIII Semana Municipal de Consciência Negra (de 17 trabalhos feitos por estudantes das escolas públicas
a 20 de 2008) – Tema: O Despertar da Identidade de Imperatriz. A programação foi finalizada com uma
em Imperatriz – “Desperte o(a) Negro(a) que Existe
Noite Cultural, na Praça de Fátima, com realizada a Festa África Belezas e Riquezas II com
apresentações de grupos culturais afros. repertório musical afro-brasileiro, comidas típicas e
Concurso da Beleza Afro: Desfile para escolha do/a
IX Semana Municipal de Consciência Negra (de 16 Garoto/a Afro-Estudantil (Ensino Médio) e do/a
a 21/11 de 2009) – Tema: Do Reino de Daomé a Garoto/a Afro-Universitário/a. A semana foi
Imperatriz: Os encantos da África Ocidental. concluída com um ato público, onde foi feito uma
Constou de palestras ministradas por militantes do panfletagem na Praça de Fátima e ruas próximas.
CCN Negro Cosme de Imperatriz nas escolas e
universidades: Escola Municipal Santa Maria, Escola X Semana Municipal de Consciência Negra (de 16 a
Municipal João Silva; na Faculdade Atenas 20/11 de 2010) – Tema: Negros(as): Resistência
Maranhense (FAMA). Além de apresentação cultural Sim! Para Fortalecer a Existência!. A abertura oficial
do Grupo de dança “Quilombagem” de Açailândia da semana aconteceu em dois momentos, no turno
(na UNISSULMA) e palestra sobre “O trabalho matutino, iniciaram-se as atividades da semana na
escravo” ministrada por representantes do Centro de Escola Municipal Paulo Freire com a palestra
Defesa da Vida e dos Direitos Humanos (na “Negros(as): Resistência Sim! Para Fortalecer a
UNISSULMA). No dia da Consciência Negra pela Existência!.”ministrada pelos membros do CCN
manhã aconteceu a “II Exposição Afro-Brasileira” Negro Cosme e Coordenação da Igualdade Racial
com amostragem de trabalhos feitos por estudantes de Imperatriz - CEIRI ( Antônia Gisêuda Pereira da
das escolas públicas de Imperatriz, onde houve Costa e Doralice de Assunção Mota) e no turno
também um desfile afro para a escolha do/a noturno na UNISSULMA, com mesa redonda (com o
Garoto/a Afro-Estudantil Mirim, sendo que à noite foi doutor Carlos Benedito Rodrigues (UFMA),
professora Msc. Izaura Silva (UEMA/IFMA), e o feitos por estudantes das escolas públicas de
advogado Lula Almeida (UNISSULMA). No dia Imperatriz. No dia do encerramento desta semana,
seguinte, a programação constou duas palestras: à realizou-se uma panfletagem na Praça de Fátima e
tarde, integrantes do CCN e da CEIRI (Antônia ruas próximas.
Gisêuda Pereira da Costa e Doralice de Assunção
Mota, Eronilde dos Santos Cunha, Maria Luísa XI Semana Municipal de Consciência Negra (de 14 a
Rodrigues de Sousa) ministraram palestra no 19/11 de 2010) – Tema: Ano Internacional dos
auditório do IFMA e à noite, no auditório da UEMA, o Afrodescendentes: Lutas, Conquistas e Desafios do
professor geógrafo Vodunsi Neto de Azile discutiu o Povo Negro Brasileiro. A programação foi vasta e
tema “Direitos de quem é de axé: Contra a diversificada: Festival de Cinema “Curta Imagem
intolerância e pela liberdade religiosa”. No dia Negra” no Teatro Ferreira Gullar, com exibição de
seguinte aconteceu o “Dia D da Consciência Negra curta metragem criado por estudantes da escola
na UFMA”, coordenado pela professora Dra. Herli de estadual CE Edson Lobão; palestra no IFMA, sobre
Sousa Carvalho, juntamente com o Programa a temática da semana, ministrada por militantes do
Conexões de Saberes e o Projeto Alma, momento CCN e integrantes da CEIRI; palestra na UEMA,
em que houve vasta programação: apresentações com o professor Dr. Dernival Venâncio Ramos
artístico-culturais, palestras, debates, oficinas e (UFT); I Seminário de Ações Afirmativas da UFMA,
apresentação de trabalhos de pesquisa. No onde houve a palestra sobre “O Ano Internacional
penúltimo dia da programação aconteceu a “III dos Afrodescendentes: Um olhar sobre o
Exposição Afro-Brasileira” , na Praça da Cultura preconceito, a discriminação racial e os direitos
(manhã e tarde), com amostragem de trabalhos humanos do povo negro”, ministrada por Policarpo
Tchangai (de Togo/África); “IV Exposição Afro- do Vale. A programação constou de palestra,
Brasileira”, na Praça da Cultura (manhã e tarde), exibição de vídeo documentário sobre João do Vale,
com amostragem de trabalhos feitos por estudantes em diversas escolas e universidades, cujos
das escolas públicas de Imperatriz. No último dia, palestrantes foram: Paulo Roberto Riva Rodrigues
encerrou-se a programação com duas palestras Vale (filho de João do Vale) e sua esposa, a
simultâneas, à noite, nas escolas estaduais CE jornalista Maria Benedita Freire, além de
Dorgival Pinheiro de Sousa (com Doralice de apresentação musical com artistas locais com
Assunção Mota e Eronilde dos Santos Cunha – CCN repertório musical de João do Vale. Em cada noite
e CEIRI) e CE Estado de Goiás (com Antonia apresentava-se um cantor/intérprete diferente, sendo
Gisêuda Pereira da Costa, do CCN e CEIRI, e que na última houve também a apresentação do
professora Msc. Maristane de Sousa Rosa, do CCN grupo de dança Kizomba, com danças a partir do
e do NEAI/UEMA). repertório João do Vale.
Todas essas ações tornaram-se mais
Na semana de 13 de maio de 2009, de 11 a consistentes a partir da Lei 10.639/2003, que tornou
14 foi realizada a “Semana João do Vale: uma voz obrigatório o ensino de História e Cultua Afro-
que não pode calar”, quando foi homenageado o Brasileira e Africana no currículo escolar, o Centro
ilustre e saudoso poeta popular, cantor e compositor de Cultura Negra Negro Cosme passou a ser
maranhense João do Vale. A finalidade do evento foi referência regional ao dar suporte aos educadores,
promover a reflexão e o fortalecimento da identidade estudantes e Secretarias de Educação, bem como
negra em Imperatriz, através da reflexão e difusão reivindicando do poder público o comprometimento
da vida e obra do artista popular maranhense João com a implementação da lei. Nesse sentido, o
acervo bibliográfico da entidade, voltado à temática participação, como formador, Professor Doutor
afro-brasileira, foi disponibilizado à comunidade. O Paulino de Jesus Francisco Cardoso da
Centro de Cultura Negra, através de parcerias Universidade do Estado de Santa Catarina
realizou várias formações continuadas para (UDESC).
professores/as da rede pública, tanto municipal - Em 2009, o CCN Negro Cosme foi parceiro
quanto estadual, visando a implementação da da CEIRI (Coordenação da Educação da Igualdade
referida lei, como por exemplo,: Racial de Imperatriz) em uma formação continuada
- Em 2007, em parceria com a Faculdade de sobre História e Cultura Afro-Brasileira e Africana,
Educação Santa Terezinha (FEST), através da ministrada pelas integrantes desta coordenação
professora Herli de Sousa Carvalho, foi realizada (Antonia Gisêuda Pereira da Costa, Doralice de
uma formação continuada, que contemplou 60 Assunção Mota, Eronilde dos Santos Cunha e Maria
(sessenta) professores/as da rede estadual em Luísa Rodrigues de Sousa), da qual participaram
Imperatriz, onde a temática afro-brasileira foi 196 (cento e noventa e seis) professores/as da rede
trabalhada por meio de palestras, discussões, estadual de Imperatriz e região.
oficinas de dança e de máscaras, dentre outras - Em 2010, em parceria com a Secretaria
metodologias. Municipal de Educação de Imperatriz, foi realizada
- Em 2007, em parceria com a Secretaria uma formação continuada para os/as professores de
Municipal de Educação de Imperatriz, foi realizada História e Geografia da rede municipal de educação,
uma formação continuada dentro da referida a qual aconteceu inserida na semana pedagógica.
temática, da qual participaram 90 (noventa) O Centro de Cultura Negra Negro Cosme
professores/as da rede municipal, tendo a ilustre estimulou e reivindicou a criação de outros
organismos voltados para a temática étnico-racial. É Amadou, da Universidade Cheikh Anta Diop (Dakar,
o caso do NEAB/FEST (Núcleo de Estudos Afro- no Senegal), o qual ministrou palestra no auditório
Brasileiros da Faculdade de Educação Santa da UFMA, no dia 06 de setembro de 2011, foi
Teresinha); do NEAI/UEMA (Núcleo de Estudos abordada a temática “Um olhar imperdível sobre a
Afro-Indígenas da UEMA) e da CEIRI (Coordenação literatura africana”. O escritor internacional, com seu
da Educação da Igualdade Racial de Imperatriz). jeito simples, encantou a todos/as que tiveram
Ressalta-se que a CEIRI tem uma ação que visa à contato com ele, mas também ficou maravilhado
implementação da Lei 10.639/03 (Ensino de História com a receptividade e com a cultura do Maranhão e
e Cultura Afro-Brasileira e Africana) nas escolas da prometeu voltar outras vezes.
rede estadual de ensino, tanto de Imperatriz, quanto Uma das ações fundamentais do CCN Negro
dos municípios da UREI (Unidade Regional de Cosme são as palestras nas escolas e comunidade.
Educação de Imperatriz). Após anos de As mesmas abordam temas direcionados à
reivindicação por parte desta entidade, a Secretaria valorização e respeito aos afrodescendentes e ao
Municipal de Educação de Imperatriz também criou, combate ao preconceito e discriminação racial.
no ano de 2012, uma coordenação voltada para a Inicialmente, apenas as escolas solicitavam
implementação da Lei 10.639/03. palestras, até mesmo em função da Lei 10.639/03.
Articulado internacionalmente, sobretudo Atualmente, essas palestras se estenderam a outros
através da militante e professora Msc. Maristane de setores da sociedade, como associações de bairros,
Sousa Rosa (UEMA), o CCN Negro Cosme, numa igrejas e até mesmo empresas privadas. Tudo isso é
espécie de intercâmbio, trouxe a Imperatriz, o fruto de um árduo trabalho desta entidade que
renomado professor de literatura, Dr. Ndoye El Hadji tornou visível a existência do preconceito e
discriminação raciais em Imperatriz e região, bem Mandela: “A educação é a arma mais poderosa que
como a necessidade de combatê-los. você pode usar para mudar o mundo”
O Centro de Cultura Negra Negro Cosme de
Imperatriz, dentro das suas possibilidades tem 4.3 Educadores/as e personalidades da cidade de
apoiado grandes eventos relacionados à educação Imperatriz-MA
das relações etnicorraciais, a exemplo das ações
promovidas pela CEIRI (Coordenação da Educação Dentre os educadores imperatrizenses já é
da Igualdade Racial de Imperatriz) que já fazem perceptível práticas pedagógicas que revelam a
parte do calendário escolar anual das escolas necessidade de envolvimento da educação em
públicas, como por exemplo o Concurso de ações que primam o combate ao preconceito, à
Desenhos Afros, o Festival de Interpretação da discriminação, ao racismo e, a convivência
Música Negra, o Festival de Interpretação da harmônica entre os povos de diferentes culturas.
Literatura Negra (Poesia, conto e crônica) – Essa práticas já estão sendo difundidas nos
FESTIAFRO e a Exposição Afro-Brasileira na projetos didáticos e de pesquisa, exposições,
Semana Municipal de Consciência Negra. desfiles, que aos poucos estão sendo realizadas nas
Como se pode perceber, o Centro de Cultura escolas, praças e ruas da cidade de Imperatriz-MA,
Negra Negro Cosme tem suas ações mais voltadas divulgando e valorizando a cultura afrodescendente,
para o campo educacional, até mesmo pelo fato da afim de revelar a contribuição deste povo para a
maioria dos/as militantes ser composta por ascensão do Brasil, bem como gerar ações que
educadores/as, universitários e estudantes. Além do culminem em inclusão destes que desde a
mais, acredita-se na célebre frase de Nelson colonização foram colocados à margem da
sociedade e, continuam na luta pela igualdade e 4.3.1 HERLI DE SOUSA CARVALHO
representatividade da sua identidade.
Lopes (2008) descreve que em 1930 a luta Mulher, negra, livre e incentivadora das
contra o racismo começa a tomar corpo, quando na manifestações culturais de
cidade de São Paulo, identidades negras lutam pela raízes negras, nascida aos
valorização da multiculturalidade. E, buscando esta 13 de maio de 1964, na
valorização é que apresentamos alguns educadores
que abraçam esta luta e, se prontificaram a Foto: Veríssima Dilma cidade de Governador
socializar vivências pessoais e pedagógicas. Archer - MA, filha de família pobre, mãe lavandeira
Na pessoa destes educadores aqui citados de características indígenas e negras e pai agricultor
queremos homenagear a todos que praticam uma de cor clara e cabelo bastante ondulado. Viúva e
educação mais democrática na cidade de Imperatriz- mãe de dois filhos, desde pequena carrega na cor
MA. da pele e no tipo de cabelo os traços do povo negro.
Dos recortes de cenas de sua infância relata que
“pentear o cabelo era um desafio”, momento que
preanunciava os preconceitos e discriminações que
a sociedade lhe reservava e que a fariam olhar de
forma diferenciada para estas questões.
Na adolescência a discriminação surge com
maior intensidade relacionada à cor e condição
financeira “preta velha”, “negra do cabelo duro”,
“nossa, como você é cheirosa”, devido esta situação de Juventude na cidade de Imperatriz-MA. Casou-se
formulou para si algumas metas e comportamentos em 1988, teve dois filhos e separou-se em 1998.
como meio de sobrevivência social: andar sempre É pedagoga pela Universidade Federal do
com o cabelo amarrado ou com um lenço na cabeça. Maranhão, mestre em História Social pela
Estudar muito, ler muito, pois, já percebia que o Universidade Severino Sombra em Vassouras/RJ,
estudo seria o viés para a superioridade de sua trazendo reflexões sobre a “Construção da
auto-estima. Desde os nove anos de idade trabalhou Identidade Étnica Afro em Vassouras/RJ”, doutora
como faxineira em casa de família e, também lavava em Ciências da Educação pela Universidad Del
e passava roupas. Precisou morar em casas alheias Norte/UNINORTE em Assunção/PY abordando
durante dois anos para concluir os estudos e seus sobre a “Efetivação da Lei Nº 10.639/2003 nas
pais viam essa saída para outra família como Práticas Educativas em Imperatriz/MA” e doutoranda
possibilidade para aprender mais coisas, porque o em Saúde Pública pela Universidad Americana/PY
que sabiam já havia ensinado. pesquisando sobre “A Saúde das Mulheres
Durante seus estudos, sempre em escola Quilombolas das Comunidades de Cajueiro e
pública era destacada como a melhor aluna da sala, Itamatatiua em Alcântara – MA”.
melhor nota. Como não tinha condição financeira No ano de 1981 na cidade de Imperatriz,
para comprar os livros, pedia-os emprestado às inicia sua carreira de profissional, trabalhando como
amigas e, durante o fim de semana estudava em auxiliar de professora na rede privada. No ano
casa para entender os conteúdos que iam ser seguinte foi morar no Convento das Irmãs
trabalhados na semana. Na adolescência foi Beneditinas da Divina Providência na cidade de
vocacionada, catequista e jovem atuante na Pastoral Carolina - MA na condição de aspirante. No ano de
1983 retorna a Imperatriz e conclui o Magistério no para a implementação da Lei de Nº 10.639/2003, e,
Centro de Ensino Graça Aranha enquanto ministra a disciplina Educação e Diversidade
trabalhava na Escola Dom Marcelino. Sua vida de Cultural, e Educação das Relações Étnicas na
professora percorre todos os níveis da educação, UFMA.
desde o maternal ao mestrado, somando vinte e Como militante do Centro de Cultura Negra
nove anos dedicados à educação, trabalhando Negro Cosme - CCNNC, atua como secretária de
durante dezesseis anos na rede estadual como formação desde 2002. Já participou, de palestras
concursada na função de técnica pedagógica e na com pessoas de Senegal, Togo, Cabo Verde e
rede municipal como supervisora. Nigéria. Atualmente participa como avaliadora na
Durante este período foi coordenadora do Comissão de Validação de Cotas para pessoas
Núcleo de Educação, Pesquisa e Extensão (NEPE) negras. Coordenadora do Grupo de Pesquisa
de uma faculdade em Imperatriz, realizou Memórias, Diversidades e Identidades Culturais com
capacitação de professores com temáticas dos atividades de pesquisa e extensão no Projeto ALMA:
afrodescendentes, e, orientação de trabalhos Re)escrevendo as Histórias das Comunidades
científicos na área. Quilombolas em Alcântara - MA e pesquisadora da
Em 2009, foi aprovada no concurso para Comunidade Afrodescendente Kamba Cuá em
professores na Universidade Federal do Maranhão - Fernando de La Mora - PY.
UFMA. Na sua trajetória profissional participou de Suas experiências pessoais cultivadas nas
vários eventos que discutiam a temática afro, dentre relações intra e interpessoais, assim como as
eles cita-se aqui o 2º, 3º e 4º Congresso de profissionais, ratificam as informações que geram
Pesquisadores Negros, Capacitação de professores
conhecimentos e colaboram com o processo de 4.3.2 JORGE DINIZ DE OLIVEIRA
libertação pessoal e coletiva da população negra.
Professor, nasceu em Santa Rita povoado de
Alcântara-MA, logo após o
seu nascimento a sua mãe
mudou-se para o Bairro da
Madre de Deus em São

Foto: Veríssima Dilma Luís-MA. “Sou quilombola,


nasci nas terras de Quilombo”. Doutor em Química
pela Universidade Estadual de São Paulo - UNESP,
professor Adjuntos III da Universidade Estadual do
Maranhão/Centro de Estudos Superiores de
Imperatriz-CESI. Casado, de religião espírita, filho
de pais separados, família pobre e negra. Sua mãe
professora, sabiamente cuidou para que a sua auto
estima como também de suas irmãs não fossem
acometida pelo preconceito e discriminação,
alimentou cuidadosamente a construção de sua
identidade, nas ruas do Bairro Madre Deus em São
Luís-MA, onde a maioria da população era negra e
pobre. Gosta de reggae, bumba meu boi e gostar negritude, não experimentou constrangimentos, por
destas manifestações na sua concepção, a que cultivou em si consciência de que é capaz.
sociedade maranhense apregoa como coisa de Na juventude conheceu Magno Cruz, também
negro, coisa de pobre. Mas, na periferia essa negro e pobre que tinha idéias parecidas com as
integração cultural, festiva com pessoas que suas, que o levou a militar no Centro de Cultura
possuem vivências em comum fortalece a própria Negra (CCN) em São Luís. Na época as reuniões
identidade. eram momentos de calorosas discussões e reflexões
Nas lembranças da infância prepondera a sobre as questões que envolvem o afrodescendente.
figura da mãe que o arrumava e repetia Para entender a descriminação e preconceitos que o
carinhosamente todos os dias “Meu filho, você é o negro sofre “Você precisa viver pelo menos um dia
garoto mais bonito do bairro”, essa atitude fortaleceu de negro para experimentar o que realmente é ser
sua identidade e com o passar dos anos foi negro nesse país”. É questão também de conviver
percebendo o preconceito como algo que permeia a para entender o que é ser negro.
sociedade onde “O branco, o preto, todo mundo tem Na trajetória profissional, iniciou trabalhando
certo histórico de preconceito”. em indústria, mas seu olhar estava voltado para a
Nas falas de sua mãe, para ele quase uma educação, como a mãe e as irmãs. “Sou professor,
psicóloga, ouvia os ensinamentos que lhe serviriam porque gosto de ser professor”. No ensino médio
de suporte para sua afirmação como cidadão “O trabalhou na Escola Amaral Raposo na cidade de
estudo é que faz a diferença, você é negro e pobre Imperatriz. E atuando como professor, leva a sua
tem que estudar”. Assim, cresceu consciente da sua experiência de vida como exemplo, acredita que o
professor precisa através da sua atuação discutir
com seus alunos sobre políticas públicas “abstratas” gerou discussão e entendimento da situação do
para negros e pobres que são difundidas no Brasil. É negro no Brasil.
a favor das cotas para negros e pobres, é uma Quanto à efetivação da disciplina História e
oportunidade e, não é porque o negro adentra na Cultura Africana na educação brasileira, revela uma
universidade por meio de cotas que ele não tenha preocupação acerca do perfil do professor que vai
qualidade, o ensino é para todos, é chegada a hora trabalhar a disciplina. Quem é este professor? Ele é
e já de forma tardia da criação de mecanismos que preconceituoso? Esta observação é relevante
não só “reparem” a situação do negro e do pobre, quando se reporta a algumas posturas profissionais
mas que modifiquem esta realidade de preconceitos, de professores que na disciplina de religião
discriminação e desigualdades sociais. O negro tem costumam doutrinar seus alunos. Portanto, afirma
contribuição em qualquer rincão desse país, mas que é preciso conhecer a história do negro, não é
ainda perdura a triste realidade “o negro pobre vive preciso se apaixonar pela causa negra, mas
na periferia como escravo”. respeitar a pessoa, o cidadão que tem direito e
Em Imperatriz, também participou do Centro contribuições como qualquer outro.
de Cultura Negra Negro Cosme-CCNNC, no início
de sua implantação e, ressalta como ação
importante deste centro o desfile da beleza negra,
evento esse que não priorizou a beleza corporal e
sim a beleza da raça no seu aspecto cultural e
étnico, percebendo neste evento, passos
importantes para mudança de consciência, porque
4.3.3 MARIA LUISA RODRIGUES DE SOUSA econômica. Mesmo pequena, encarou exame para
poder estudar em escola particular, morando ainda
Negra, católica, professora graduada em na casa de parentes, recebia hospedagem e comida,
Letras, pesquisadora, mas tinha que pagar a mensalidade da escola.
nasceu em Colinas-MA na Em 1980 foi morar na casa de uma professora
década de 60. De realidade que a acolheu, fez então o magistério que terminou
familiar pobre, da roça, mãe em 1986. Em contato com esta família se sentiu
apoiada, “Até as cores das roupas eu mudei porque
Foto: Veríssima Dilma
lavradora e quebradeira de antes não usava cores amarela e vermelha porque
coco, pais separados, 3 irmãos e mais um adotivo. diziam que não combinava com minha cor negra”.
Cursou o primário em escola pública, começou a Seu envolvimento com questões étnico-raciais
estudar com 10 anos de idade, e o término do deu-se quando pequena nas brincadeiras na escola,
primário só foi possível com idade de 18 anos. Não falou, discutiu e defendeu sua cor. Assumiu sua
queria quebrar coco, queria ser professora, negritude e percebeu que as pessoas receavam
acreditava ser esta a oportunidade de ajudar a falar mal de algum aspecto referente ao negro
família. quando estava perto dela.
Após os 10 anos de idade, foi morar na casa Sua experiência de vida denota o sentimento
de parentes para estudar. Estudava pela manhã e a de rejeição “As pessoas me rejeitavam. Nas festas
tarde quebrava coco e apanhava arroz para comprar juninas escolares nunca participei porque não era
seu próprio material escolar. Sentiu de forma latente convidada para dançar. “Fui apelidada de onça preta
a dificuldade familiar e o peso da realidade e bola preta”. Neste sentido, sente-se discriminada
quando alguém negro é discriminado, em sua palestras na própria UEMA, o que fortalecia ainda
percepção coloca que a mulher negra é vista como mais a questão do movimento.
símbolo sexual. Em 2001, na Semana da consciência negra
Em Imperatriz, no ano 1987, começou a encarou o desafio de panfletar nas ruas de
trabalhar e assumir mais incisivamente a questão do Imperatriz informações de conscientização. Em
negro, “Todos me tinham como brigona, nesta época 2002, na ocasião da fundação do Centro de Cultura
trabalhei como Supervisora da Fundação Educar”. Negra Negro Cosme (CCNNC), foi eleita presidente
Em 1988 ingressou no mercado de trabalho como no segundo e terceiro mandatos.
auxiliar de enfermagem. Em 1989 como professora No período de 2004 a 2007 exerceu a
na Escola Beira Rio com a 1ª série e, em 1992 na presidência do CCNNC, fez parceria com o
Escola Tocantins como concursada. Em 1995 SIMPROESSEMA nos anos de 2004 a 2006, com a
conquistou também, como professora concursada, OAB (2007 ano início de 2008), logo após com o
uma vaga no Estado do Tocantins. Centro de Ensino Dorgival Pinheiro de Sousa
No Movimento Negro juntou-se a professora permanecendo até os dias atuais.
Izaura Silva nas dependências da Universidade Ainda na sua gestão no ano de 2007 foi criado
Estadual do Maranhão - UEMA com intuito de a Coordenação da Igualdade Racial de Imperatriz na
discutir sobre as datas comemorativas relativas ao qual é coordenadora geral juntamente com 03
negro, as questões raciais do dia 13 de maio e 20 de professores da rede Estadual de ensino. Em outubro
novembro. Deste grupo faziam parte acadêmicos e deste mesmo ano realizaram um Seminário de
professores que participavam calorosamente destas grande porte com a temática Ético Racial tendo
discussões, havia na época oportunidades de como público alvo professores e estudantes e
sociedade em geral, com a participação em torno de Com vistas a amadurecer a experiência com a
300 pessoas. Para realizar as palestras neste questão afrodescendente, participou como ouvinte
seminário veio o Dr. José de Carvalho – UNB, Dr. em congressos nacionais de pesquisadores negros,
Carlos Benedito Rodrigues da UFMA-MA do campus de formação de professores do Município e Estado
de São Luís e Mundinha Araújo, escritora da capital com coordenadores e gestores das escolas em que
São Luís-MA. trabalha e atua, pautando a questão da
Militante do CCNNC, retrata na sua trajetória implementação da lei 10.639/03 e 11.645/03.
de vida vivências em situações de preconceito, Participa atualmente do Projeto ALMA, no eixo das
discriminação principalmente na área profissional. manifestações culturais e religiosas.
Percebe na mídia as ocasiões em que são Declara que sua atuação profissional influi para
apresentadas pessoas negras: “o negro não está no a inclusão dos afrodescentes na sociedade, pois
mercado de trabalho, nos cartazes”. além desta busca em fomentar uma nova
Atualmente é secretária de Comunicação do mentalidade, percebe em si mesma a mudança
CCNNC e atua como Coordenadora de Educação de pessoal, a partir da interpessoal, “me tornei mais
Igualdade Racial de Imperatriz (CEIRI) desde a flexível, maleável. Hoje trabalho chamando o aluno a
fundação em 2007, organização esta formada por se identificar com as questões de igualdade, falo
professores do Estado do Maranhão que visam sobre a riqueza da África e proporciono
implementar a Lei 10.639/03, orientar e formar oportunidade deles associarem o que temos hoje”.
juntamente com professores um apoio pedagógico Aproveita a proposta do festival que acontece
às escolas e festivais na cidade. anualmente de desenhos afro, de músicas e
exposição em praça pública para incentivar a 4.3.4 MARIA FRANCISCA PEREIRA DA SILVA
pesquisa na área.
Nasceu em Água Fria município da cidade de
Caxias, no dia 01 de abril do ano de 1944,
atualmente reside no bairro
Santa Inês na cidade de
Imperatriz, conhecida como
Dona Francisca do Lindô,
hoje com 68 anos, viúva,
Foto: Veríssima Dilma mãe de oito filhos, avó,
bisavó, cantora, compositora e dançarina, coordena
e mantém viva a tradição da dança do Lindô.
Frequentou a escola só até a segunda série,
aprendeu a dançar o Lindô aos 05 anos de idade
com seus pais que aprenderam com dois irmãos
portugueses na época da colonização, que
chegaram em Caxias no ano de 1722.
Seus pais contavam que 02 irmãos levaram a
dança para Caxias do Maranhão formando um grupo
de dança com o “pessoal“ que era chamado de
lindo.
Assim, a dança foi preservada por sua família, cantar, dizer verso, poesia, ai tinha as moças que
porque seu pai registra na memória e perpetua a tinham namorados e queriam ficar junto e ficavam
história de que sua mãe foi criada no meio dos com cerimônia, ai me chamavam para as
escravos, ela não era escrava, mais foi criada por brincadeiras de roda, para aproveitar e ir todo
eles e aprendeu com os negros que dançavam o mundo dançar e dizer verso dançava mais o baião e
Lindô e também a Mangaba e o Baião. Sua avó dizia a mangaba”.
que o Lindô é a dança do Boi trocado. Há 61 anos Ao chegar a Imperatriz no ano de 1984,
ela se dedica á dança do Lindô e da Mangaba e diz apresentou a dança do Lindô a seus vizinhos na sua
que enquanto viver dará continuidade a essas festa de aniversário de 26 anos, no dia 1° de abril do
tradições. Relembra um fato que “quando criança mesmo ano, quando foi apreciada por todos que ali
chorava para ir às festas com suas irmãs mais estavam reunidos. Daí em diante não parou mais,
velhas e seu pai”. na época o grupo iniciou com 4 casais, seus
Em certa ocasião suas irmãs foram para uma vizinhos. Mas um dos motivos que levou o sucesso
festa e, seu pai ficou para ir depois, na sua saída ela do Lindô na cidade é que as moças de família da
chorou tanto que ele resolveu levá-la, mas como ia a época não podiam dançar, entretanto na época da
cavalo temia que ela não conseguisse segurar-se na quaresma era permitido, pois o balanço desta dança
cela do animal, então pegou um jaca de palha, a era visto sem maldade.
colocou dentro e no outro lado para equilibrar o peso Há mais de vinte anos, lidera o grupo
colocou pedras, sempre fui invocada para brincar de Batalhão Real, organizado com 32 componentes,
roda em terreiros no tempo da quaresma, juntava divididos entre grupo infantil (com crianças a partir
meninos para brincar e eu era a da frente, sabia de cinco anos) e o grupo de jovens e adultos, a partir
dos 13 anos, destes participantes a maioria são seus ensinando a arte de dançar o Lindô por muitas
familiares; filhos, noras, genros, netos e bisnetos. gerações.
A maior dificuldade para desenvolver a dança Nesta experiência, compreendeu a
é a falta de espaço para ensaiar, pois ensaiam em brincadeira trazida para o Brasil e desenvolve seu
um quintal bem pequeno na sua casa, devido a falta trabalho envolvendo a participação de crianças e
de apoio do poder público, e dinheiro para comprar adolescentes em atividades que vem contribuindo
as roupas e os instrumentos, portanto os desafios com a diversidade cultural da cidade de Imperatriz.
são muitos para manter viva essa tradição, e
principalmente o interesse dos jovens.
Mesmo com dificuldades ainda resiste, em
2004, gravou um CD com músicas de autoria
própria, apoiada pela prefeitura de Imperatriz,
infelizmente não teve condições de lançar o produto,
e nem de distribuí-lo no circuito comercial, por isso,
guarda o seu trabalho em caixas embaladas em sua
casa no bairro Santa Inês, mas vende os CDs
Batalhão Real com ajuda de amigos, quando alguém
procura ou nas apresentações da dança pela cidade.
O que motivou esse grupo a continuar se
apresentando foi essa mulher forte e decidida, que
nunca desanimou e garante que vai continuar
4.3.5 IZAURA SILVA Em sua trajetória de vida, relembra que aos
07 anos foi morar em casa de família. Tinha uma tia
Apaixonada desde criança pelo estudo. que era professora e ensinava seus irmãos. Foi
Nasceu em terras quilombolas maranhense alfabetizada, nesse meio, “Eu era pequena, mas fui
(Mutambal) e ainda criança morar lá pra ficar junto com meus irmãos no meio da
foi morar no município de fuzaca”. Na convivência com as pessoas estudando,
São Luiz Gonzaga em casa “ai criei interesse enorme em estudar”.
de família. Filha caçula de 08 Relembra que seu pai arrumou uma casa de
família para ela estudar, na cidade de Bacabal-MA,
Foto: Veríssima Dilma irmãos, na sua infância ouvia nessa época era comum o negro morar na casa de
seu pai dizer: “somos negros, somos honestos e brancos para fazer mandado quando pequeno,
precisamos ter orgulho de ser negro”. quando cresciam se tornavam empregadas
Cresceu na beira de um terreiro chamado domésticas. Relata que ouvia muito a expressão
antigamente terecô, em que o pai não me permitia “procura o teu lugar”, era sempre tratada como
dançar, cresceu respeitando, mas nunca dançou. O alguém à parte, mas não entendia bem o que esta
pai reafirmava não gostar de envolvimento porque expressão significava. Porém não percebia
alguma entidade poderia se “engraçar”, da pessoa e preconceito entre negros e “cablocos” (gente clara),
querer baixarem nela. Negra, casada há 16 anos ambos se respeitavam, sua memória não registra
com negro, católica participante do Movimento de nenhum um tipo de incidente preconceituoso.
casais Encontro Cristão de Vivência Conjugal - Ainda em Bacabal-MA, na casa de parentes
ECVC em Imperatriz-MA. estudou até o 5º ano. Coloca a experiência de que
quando chegaram à escola, nessa cidade, os alunos Na cidade as festas eram separadas. Havia
gritaram vaiando: “ei escureceu!”, o pai ficou muito festa de “primeira” e de “segunda”, na festa de
triste e disse: “Minha filha não quero que você fique primeira só os brancos entravam, se um negro
aqui nesta escola os meninos vão humilhar você, entrasse era expulso porta a fora, na de segunda só
isso é porque nós somos negros”. Queria levá-la de os negros, mas quando os brancos queriam agarrar
volta, mas a vontade de estudar era tão grande que uma negra eles participavam da festa de segunda.
convenceu o pai que poderia enfrentar a situação. Relembra que os negros eram todos
Mudou-se na adolescência para Pedreiras-MA empregados, e houve um médico negro que foi
onde foi morar com outra família “casa de branco” trabalhar em Pedreiras-MA e sofreu muita
que descendia de Sr. de Escravo, para cursar o discriminação, não era chamado de doutor, mas de
ginásio. Tratavam-na muito bem, mas ela percebeu preto. Ela também vivenciou muitos momentos de
que lá o negro tinha o seu lugar. Nesta casa exigia- marcantes, um deles foi quando uma pessoa do
se que se chamassem até os bebês de “Senhor”, sexo feminino, que se achava extremamente bela
como seres mais elevados que qualquer negro lhe disse “mulher negra pode ter todo o corpo bem
adulto. Expressa que: “Esta cidade deixou a marca estruturado, mas de nada adianta”. Essas falas eram
mais cruel na minha história”. Estudava a noite, corriqueiras e ela foi percebendo a forma como os
porque trabalhava durante o dia. Conta o episódio negros eram tratados e escutava sempre, no diálogo
em que uma prima foi impedida de colar grau. Não dos brancos e nos seus comportamentos, ecoar a
colocaram o nome dela no convite e escolheram ordem direcionada aos negros “Procura o teu lugar!”.
uma roupa vermelha para ridicularizá-la, porque Morou nessa cidade até cursar o magistério, e
negro de vermelho era o cão.
trabalhou como professora, apesar de toda a fizemos um resgate da história do negro. Em Caxias
discriminação. já professora concursada, divulguei e também vivi
Na década de 70 passou em 10º lugar no situações de discriminação, questionaram-me sobre
vestibular na Universidade Federal do Maranhão - minha competência.
UFMA em São Luís (1978), no curso de Pedagogia. Sempre fui professora exigente, os alunos
Foi um escândalo para a população da cidade porque sou negra queriam deitar e rolar cantava
(Pedreiras-MA), naquela época só passavam os fazendo “chacota”: Leid Izaura (música de Roberto
filhos dos ricos, “Aquela negra empregada do Sr. Carlos). Diante desse episódio decidiu ir de sala em
Arnaldo passou no vestibular, isso só pode ser sala, repetindo essa fala “Quem quiser me ofender,
engano!”. Escutou que pobre e negra na faculdade ofenda a professora, agora se vocês pensarem que
normalmente se torna prostituta. Afirma: “Na minha vão me atingir com minha negritude, digo sou negra
turma só tinha eu de negra”. e me amo se quiserem atingir, podem atingir a
Lá pode reafirmar sua identidade. “Sou mulher”.
militante. Meu nariz é chato e empinado. Nunca me Em 1990, veio para Imperatriz, como
desgostei, passamos esta mensagem às outras concursada do Instituto Federal do Maranhão- IFMA,
gerações. Minha militância começou na infância, e já conta trinta e três anos de trabalho na
mas a universidade foi a minha injeção de ânimo. Lá Universidade Estadual do Maranhão-MA em
cantei no coral, e senti-me livre, era um local de Imperatriz-MA. Começou no IFMA como Orientadora
gente assumida”. Educacional, narra que nesse trabalho tinha uma
Quando sai da UFMA foi fundado no aluna com problemas de aprendizagem, contactou a
Maranhão o Centro de Cultura Negra-CCN, ali família por telefone, quando o pai compareceu na
escola ele confessou que tinha feito outra imagem e outros que assumiram sua identidade e
de sua pessoa, e não esperava que fosse uma desenvolvem uma boa atuação na educação.
negra.
Fez Mestrado em Educação na Universidade
Federal do Ceará-UFC. Tem experiência na área de
Educação, com ênfase em História da Educação,
atuando principalmente nos seguintes temas: ensino
técnico, educação, reforma curricular e projeto
pedagógico diretrizes do ensino e escola. Participa
da Associação dos Pesquisadores Negros - CBPN.
Fundadora do Centro de Cultura Negra Negro
Cosme - CCNNC, e, afirma “Somos precursoras eu
e Maria Luisa”.
Declara que sua contribuição foi provocar a
reflexão sobre ser negro, enquanto trabalha nas
escolas, percebe que na atualidade as escolas estão
abertas, e que estas antigamente não recebiam
informações para divulgação da Semana do Negro
nisso, percebe em alguns espaços o envolvimento
em movimento negro de alguns ex-alunos seus que
criaram como, por exemplo, o NEAB da UNISULMA,
DADOS GERAIS

África é um vasto continente basicamente agrário,


cerca de 63% da população habita no meio rural, e
somente 37% mora em cidades. Composto por 56 países
independentes, sendo: 48 continentais (África do Sul,

5 Angola, Argélia, Benin, Botsuana, Burquina Faso,


Burundi, Camarões, Congo República, Costa do Marfim,
Djibuti, Egito, Eritreia, Etiópia, Gabão, Gâmbia, Chade,
GLOSSÁRIO DOS PAÍSES AFROS
Congo ex Zaire, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Lesoto,
Libéria, Líbia, Malauí, Mali, Marrocos, Mauritânia,
Moçambique, Gana, Guiné, Níger, Nigéria, Quênia,
É preciso entender que
a África é um República Centro-Africana, Ruanda, Saara Ocidental,
continente, não um
Senegal, Serra Leoa, Somália, Suazilândia, Namíbia,
país.
Tanzânia, Togo, Tunísia), e 6 insulares (Ilha de
Jesus;Ogunbiyi
Madagascar, Ilhas de Cabo Verde, Ilhas de Comores, Ilhas
Maurício, Ilhas São Tomé e Príncipe, Ilhas Seychelles).
“A colonização do continente pelas potências ocidentais
originou um mapa geopolítico totalmente diferente do
mapa da África anterior ao século XVI” (MUNANGA,
2009, p. 13). Após essa divisão ficou assim organizados os Botsuana (República do Botsuana)
países, da África como podemos observar a localização e LOCALIZAÇÃO: sul do continente africano
os habitantes de cada um. GRUPOS ÉTNICOS: xonas e ndebeles
Burkina (República do Burkina)
LOCALIZAÇÃO: centro da África ocidental
A GRUPOS ÉTNICOS: mossis e bobos
África do Sul (República da África do Sul) Burundi (República do Burundi)
LOCALIZAÇÃO: extremo sul do continente africano LOCALIZAÇÃO: centro leste africano
GRUPOS ÉTNICOS: Xosa e Zulu GRUPOS ÉTNICOS: hutus e tútsis
Angola (República popular de Angola)
LOCALIZAÇÃO: sudoeste do continente africano, C
GRUPOS ÉTNICOS: ovimbundos, ambundos e bacongos
Camarões (República dos Camarões)
Argélia (República Democrática Popular da Argélia)
LOCALIZAÇÃO: costa oeste africana
LOCALIZAÇÃO: África do Norte
GRUPOS ÉTNICOS: sudaneses e bantos
GRUPOS ÉTNICOS: berberes e cabilas
Cabo Verde (Ilhas de Cabo Verde)
LOCALIZAÇÃO: país da África ocidental, localizado
B num arquipélago do oceano Atlântico
Benin (República do Benim) GRUPOS ÉTNICOS: mestiços de africanos e portugueses
LOCALIZAÇÃO: país da África ocidental Chade (República do Chade)
GRUPOS ÉTNICOS: fons, iorubas, adjás, baribas, aizos e LOCALIZAÇÃO: centro do continente africano
péules
GRUPOS ÉTNICOS: saras e toubous LOCALIZAÇÃO: nordeste africano
Comores (Ilhas de Comores) GRUPOS ÉTNICOS: Biher-Tigrinha e Tigre
LOCALIZAÇÃO: África oriental, canal de Moçambique, Etiópia (República Democrática Popular da Etiópia)
entre Madagáscar e o continente LOCALIZAÇÃO: nordeste do continente africano
GRUPOS ÉTNICOS: bantos GRUPOS ÉTNICOS: etíopes, Oromo e Amhara
Costa do Marfim (República da Costa do Marfim)
LOCALIZAÇÃO: oeste africano
GRUPOS ÉTNICOS: axanti, agni e baúle G
Gabão (República Gabonesa)
LOCALIZAÇÃO: centro-oeste africano
GRUPOS ÉTNICOS: fangs, kweles, punus e nzabis
D
Gâmbia (República da Gâmbia)
Djibuti (República do Djibuti)
LOCALIZAÇÃO: extremo oeste africano
LOCALIZAÇÃO: nordeste do continente africano
GRUPOS ÉTNICOS: mandinga, seguidos pelos fulani, os
GRUPOS ÉTNICOS: afar e issa
uolof, os iola e os soninque.
Gana (República de Gana)
E LOCALIZAÇÃO: África ocidental
Egito (República Árabe do Egito) GRUPOS ÉTNICOS: axanti, fanti
LOCALIZAÇÃO: norte da África Guiné (República da Guiné)
GRUPOS ÉTNICOS: coptas LOCALIZAÇÃO: África ocidental
Eritreia(Estado da Eritreia) GRUPOS ÉTNICOS: fulas, mandingas, bussoros, quissis
Guiné Equatorial (República da Guiné Equatorial) Madagascar ( Ilha de Madagascar)
LOCALIZAÇÃO: centro-oeste africano LOCALIZAÇÃO: ocupa toda a ilha de Madagáscar, é
GRUPOS ÉTNICOS: fangs e bubis uma das maiores do mundo, e banhada pelo canal de
Guiné-Bissau (República da Guiné-Bissau) Moçambique a oeste e pelo oceano Índico
LOCALIZAÇÃO: África ocidental GRUPOS ÉTNICOS: malgaxe, merina e betsileo
GRUPOS ÉTNICOS: balantas, fulas, mandingas, Malauí (República do Maluí)
manjacos, papeis LOCALIZAÇÃO: leste africano
GRUPOS ÉTNICOS: nianjas, iaôs, angonis
Mali (República do Mali)
L LOCALIZAÇÃO: África ocidental
Lesoto (Reino do Lesoto) GRUPOS ÉTNICOS: bambaras, peúles, senufos
LOCALIZAÇÃO: centro-oeste da África do Sul Marrocos (Reino de Marrocos)
GRUPOS ÉTNICOS: basutos, Ngunis LOCALIZAÇÃO: noroeste da África
Libéria (República da Libéria) GRUPOS ÉTNICOS: árabe-berbere e judeus
LOCALIZAÇÃO: África ocidental Maurício (Ilhas Maurício)
GRUPOS ÉTNICOS: kpeles, bassas, krus, vais LOCALIZAÇÃO: ilha no Oceano Índico, no sudeste da
Líbia (República Popular Árabe da Líbia) África
LOCALIZAÇÃO: norte da África GRUPOS ÉTNICOS: bhojpuri, tâmil e creoles
GRUPOS ÉTNICOS: berberes Mauritânia (República Islâmica da Mauritânia)
LOCALIZAÇÃO: África ocidental

M
GRUPOS ÉTNICOS: uolofes, tucolores,
soninqueses,peúles
Moçambique (República de Moçambique) Q
LOCALIZAÇÃO: África oriental Quênia (República do Quênia)
GRUPOS ÉTNICOS: xonas, xanganes, senas, LOCALIZAÇÃO: África oriental
nianjas,macuas, macondes GRUPOS ÉTNICOS: kikuyu , luhya e luo
Mayotte (Dzaydzi)

R
N República Centro-Africana (Bangui)
LOCALIZAÇÃO: centro da África
Namíbia (República da Namíbia)
GRUPOS ÉTNICOS: bayas, bandas, bumbakas, azandes
LOCALIZAÇÃO: sudoeste africano
República Democrática do Congo (Kinshara)
GRUPOS ÉTNICOS: bosquímanos, hotentotes, namas,
LOCALIZAÇÃO: centro-oeste africano
banto
GRUPOS ÉTNICOS: bacongos, bateques, mbochis e
Nigéria (República Federal da Nigéria)
sangas, pigmeus e bosquímanos
LOCALIZAÇÃO: África ocidental
República do Congo (Brazzaville)
GRUPOS ÉTNICOS: hauçás, iorubas, ibos, peúles,
Ruanda (República Ruandesa)
ibibios, canuris, edos, twis
LOCALIZAÇÃO: centro-leste da África
Níger (República do Níger)
GRUPOS ÉTNICOS: hutus, tutsis, pigmeus tuas
LOCALIZAÇÃO: centro-oeste africano
GRUPOS ÉTNICOS: hauçás, songais, peúles
LOCALIZAÇÃO: sul da África
GRUPOS ÉTNICOS: suazis, zulus
S Sudão (República democrática do Sudão)
Saara Ocidental LOCALIZAÇÃO: centro-leste da África
LOCALIZAÇÃO: África Setentrional GRUPOS ÉTNICOS: dincas, nubsa, nuers, zandes
GRUPOS ÉTNICOS: Marroquinos e Sahrawis São Tomé e Príncipe (Ilhas de São Tomé e Príncipe)
Senegal (República do Senegal) LOCALIZAÇÃO: duas ilhas no golfo do Guiné
LOCALIZAÇÃO: África ocidental GRUPOS ÉTNICOS: angolares
GRUPOS ÉTNICOS: uolofes, peúles, sereres, mandingas,
diolas, tucolores
Serra Leoa (República da Serra Leoa) T
LOCALIZAÇÃO: África ocidental Tanzânia (República Unida da Tanzânia)
GRUPOS ÉTNICOS: Mendes, temnés LOCALIZAÇÃO: África oriental
Seychelles GRUPOS ÉTNICOS: sucumas, chagas, macondes, haias,
LOCALIZAÇÃO: oceano índico ocidental massais
GRUPOS ÉTNICOS: Africano, francesa, indiana, chinesa Togo (República Togolesa)
Somália (República Somaliana) LOCALIZAÇÃO: África ocidental
LOCALIZAÇÃO: chifre da África, nordeste do continente GRUPOS ÉTNICOS: euês, cabiês, uatis, cotocolis, lambas
africano Tunísia (República Tunísia)
GRUPOS ÉTNICOS: somalis LOCALIZAÇÃO: beira do Mar Mediterrâneo
Suazilândia (Reino da Suazilândia) GRUPOS ÉTNICOS: Árabe-berbere e europeu
U
Uganda (República do Uganda)
LOCALIZAÇÃO: África oriental
GRUPOS ÉTNICOS: gandas, tesos, sogas, niancoles,
acholis, nioros, ruandas
6
Z SUGESTÕES DE ATIVIDADES DIDÁTICAS

Zâmbia (República da Zâmbia)


A didática precisa incorporar as
LOCALIZAÇÃO: África austral investigações mais recentes sobre
GRUPOS ÉTNICOS: Os Bemba, Tonga e Chewa, modos de aprender e ensinar e sobre
o papel mediador do professor na
Zimbábue (República do Zimbábue) preparação dos alunos para o pensar.
LOCALIZAÇÃO: sudeste africano
GRUPOS ÉTNICOS: xonas, ndebeles José Carlos Libâneo
METODOLOGIA:
6.1 Projetos didáticos
 Dividir a sala em 05 equipes, sortear os conteúdos,
sendo que cada equipe irá estudar o conteúdo que
Projeto 1
representa uma disciplina.

TEMA: África  Pesquisa sobre o continente africano no Site:


www.luventicus.org/mapaspt/africa.html.

TÍTULO: Conhecendo a cultura afro  Leitura de textos informativos que falem sobre o
conteúdo selecionado para cada equipe.

DISCIPLINAS: Geografia; Ciências; História; Língua  Recorte de gravuras ou desenhos que retratem o

Portuguesa; Artes. assunto em estudo.


 Montagem de um painel com os resultados da
ANO/SÉRIE: 4º ano/3ª série pesquisa que será socializado em sala de aula e
depois exposto no mural da escola.
CONTEÚDO: Localização geográfica do continente
africano; Alimentação; As revoltas; Literatura- contos e RECURSOS: Revistas, jornais, sites de busca, livros
lendas; A dança. didáticos, papel, tesoura, lápis, cola, fita adesiva.

OBJETIVOS: Desenvolver o hábito de leitura, escrita e AVALIAÇÃO: Exposição oral do resultado da pesquisa.
pesquisa. Conhecer a cultura afro brasileira. Organização do painel com os dados da pesquisa.
Projeto 2  Manuseio dos livros paradidáticos dos contos
selecionados
TEMA: África  Leitura coletiva e dramatizada dos contos.
 Recorte de gravuras ou desenhos que reportam o
TÍTULO: A literatura infantil nos contos e lendas assunto em estudo.
africanas  Montagem de um painel com os personagens dos
contos lidos que será exposto no mural da escola.
DISCIPLINAS: Língua Portuguesa; Artes  Desenhar cenas dos contos e escrever frases sobre
os personagens principais
ANO/SÉRIE: 1º ano/ Alfabetização

RECURSOS: Revistas, jornais, livros paradidáticos,


CONTEÚDO: Os contos e lendas africanas: A menina papel, tesoura, lápis, cola, fita adesiva.
bonita do laço de fita e A serpente de sete línguas

AVALIAÇÃO: Socialização oral dos contos lidos.


OBJETIVOS: Desenvolver o hábito de leitura, escuta e Organização do painel com os personagens dos contos
arguição. Conhecer a literatura afro presente nos contos afro.
infantis.Valorizar as diferenças que há entre as pessoas.

METODOLOGIA:
 Apresentar os contos selecionados a partir de
gravuras
Projeto 3
MATEMÁTICA
Sistema
Monetário
TEMA: África LÍNGUA
GEOGRAFIA
PORTUGUESA
Localização Idiomas
TÍTULO: A história da cultura africana

CULTURA CIÊNCIAS
DISCIPLINAS: Matemática, Literatura, Educação HISTÓRIA
DA
Artística, História, Ciências, Geografia, Língua Origem e Alimentação
ÁFRICA
tradições
Portuguesa, Ética

ANO/SÉRIE: 4º e 5º ano ED. ÉTICA


ARTÍSTICA Valores
LITERATURA
CONTEÚDO: A cultura africana Pintura
Contos

OBJETIVOS: Conhecer a cultura africana a partir do


estudo interdisciplinar. RECURSOS:
Livros didáticos, enciclopédias, cartolina, pinceis, fita
METODOLOGIA: Cada professor irá estudar em sua durex, cola.
disciplina uma temática referente à cultura africana AVALIAÇÃO:
conforme esquema abaixo. Criar desenhos que revelem a cultura afro para montar um
mural.
Projeto 4 Brasil. Buscar personalidades negras “anônimas” no
contexto atual da cidade.
TEMA: África
METODOLOGIA:
TÍTULO: Biografias e Personalidades negras do Brasil Organizar os alunos em pequenos grupos.
Propor leitura sobre as personalidades negras.
DISCIPLINAS: Língua Portuguesa/Literatura, Arte e Trabalhar o conceito de: valorização, respeito, trabalho
História. Socialização da leitura proposta.
Representação artística da experiência de vida da
ANO/SÉRIE: 5º ano/ 4ª série personalidade
Pesquisa através de levantamento de dados sobre as
CONTEÚDO: Histórias de Zumbi dos Palmares, Lima personalidades negras da cidade.
Barreto, Luís Gonzaga, Pixinguinha, Construção de painel com os resultados da pesquisa
Tim Maia, Machado de Assis, Mário de Andrade, Cruz e
Sousa, Chica da Silva, Aleijadinho e Mané Garrincha, RECURSOS: Artigos de Livros, revistas e jornais, papel,
entre outros. cartolinas, pincéis,

OBJETIVOS: Conhecer a história dos personagens AVALIAÇÃO: Organização grupal para as atividades
negros no Brasil. Resgatar a memória e formação cultural. Exposição oral do resultado da pesquisa.
Perceber as contribuições histórico-sociais dos negros no Organização da apresentação artística
Projeto 5 O professor de cada disciplina trabalhará a temática
referente à cultura africana buscando convergir
TEMA: África interdisciplinarmente as atividades conforme sugestões
abaixo, podendo ser desenvolvidas através de aulas
TÍTULO: Vivenciando a Cultura africana expositivas, estudos, pesquisas, debates, passeios,
dinâmicas, filmes, músicas, palestras e exposições.
DISCIPLINAS: Interdisciplinar
DISCIPLINA
Artes Manifestações culturais (moda, adereços,
ANO/SÉRIE: 1º ao 5º ano/ alfabetização à 4ª série música, máscaras, jogos, pinturas).
Danças de origem africana
Produção de vídeos
Pinturas em telas.
CONTEÚDO: Conhecimentos relativos à matriz de Símbolos africanos
cultura africana. Ciências A beleza do afro descendente
A pele negra
Cuidado com a saúde negra (propensão às
doenças associadas)
OBJETIVOS: Promover o diálogo entre educador e Educação Física Atletas negros
educandos. Compreender as diferenças entre os indivíduos Filosofia Racismo, Preconceito e Discriminação
Promover a construção de conhecimentos, habilidades e Mitos da cultura africana
Geografia Continente africano através dos mapas
competências com Incentivar as práticas das relações O fenômeno social preconceito
Contribuições histórico-sociais dos negros
interpessoais não discriminatórias e éticas. História Diáspora negra
Identidade e auto estima
Cenário econômico, social e político do
negro
METODOLOGIA:
Inglês Idiomas e dialetos dos países africanos
Músicas como Reggae, Hip-Hop,
Língua Leitura de livros, poemas e biografias. 6.2 Filmes
Portuguesa/Literatura Produções textuais literárias

Matemática Pesquisa e divulgação dos percentuais na


escola (negros, pardos e brancos)  A cor do amor. Ano 1991. Direção: Mellissa
Pesquisa e divulgação dos percentuais de
Pearson
profissões dos negros (pais, mães, tios...dos
alunos)  A história de Ruby Bridges. Ano 1997. Direção:
Matemática oriunda dos africanos
Religião Manifestações religiosas da cultura africana. Euzhan Palcy
 A lenda da lápide de esmeralda. Ano 2006.

RECURSOS: Filmes, livros didáticos e paradidáticos, Direção: Russell Mulcahy

papel, cartolinas, aparelho de TV e DVD, Computadores  A massai branca. Ano 2005. Direção: Hermine

com acesso à Internet, Huntgeburth


 Aqui favela, o rap. Ano 2003. Direção: Sérgio

AVALIAÇÃO: A avaliação deverá ser processual, Bianchi

considerando o envolvimento, mudanças de posturas em  As montanhas da lua. Ano 1989. Direção: Bob

relação às temáticas trabalhadas. Rafaelson


 Cafundó. Ano 2005. Direção: Paulo Betti e Clóvis
Bueno
 Chico Rei. Ano 1985. Direção: Walter Lima
Júnior
 Conexão Jamaica. Ano 2002. Direção Cess
Silveira
 Em minha terra. Ano 2004. Diretor: John 6.3 Contos africanos
Boorman
 Escritores da liberdade. Ano 2007. Direção:  A lua feiticeira e a filha que não sabia pilar.
Richard LaGravenese Autor:Eduardo Medeiros (org.)
 Espanta Tubarões. Ano 2003. Diretor: Bibo  A cor do preconceito. Autoras: Carmen Lúcia
Bergeron, Vicky Jenson Campos; Sueli Carneiro e Vera Vilhena
 Estrada para glória. Ano 2006. Direção: James  A menina e o tambor. Autora: Sônia Junqueira
Gartner  A semente que veio da África. Autora:Heloisa
 Meu nome é rádio. Ano 2003. Diretor: Michael Pires
Tollin  A serpente de sete línguas. Autor: Roberto
 Narciso rap. Ano 2004. Direção: Renata Moura Benjamin
 O jardineiro fiel. Ano 2005. Direção: Fernando  As tranças de Bintou. Autora: Sylviane Diouf
Meirelles  Bruna e a galinha d’Angola. Autora: Gercilga de
 Poeira urbana. Ano 2001. Direção: Maussa Touré Almeida
 Quanto vale ou é por quilo? Ano 2005. Direção:  Chuva de manga. Autor: James Rumford
Sérgio Bianchi  Contos africanos para crianças brasileiras.
 Ray Charles. Ano 2004. Diretor: Taylor Hackford Autor: Rogério Andrade Barbosa
 Sarafina. Ano 1992. Direção: Darrel James Roodt  Duas mulheres. Autor: Eduardo Medeiros (org.)
 Vista minha pele. Ano 2004. Direção: Joel Zito  Luana, a menina que viu o Brasil crescer
Araújo autores: Aroldo Macedo e Oswaldo Faustino.
 Menina bonita do laço de fita. Autora: Ana Maria
Machado
 Meus contos africanos. Autor: Nelson Mandela
 Nenhum grão de areia. Autor: Rogério Andrade
Barbosa
 O amigo do rei. Autora:Ruth Rocha
 O casamento da princesa. Autor: Celso Sisto
 O menino marrom. Autor: Ziraldo
 O papagaio que não gostava de mentiras. Autor;
Adilson Martins
 Odisséia. Autor: Ruth Rocha
 Outros contos africanos. Autor: Rogério Andrade
Barbosa
 Para sempre no meu coração. Autora: Annete
Aubrey
 Que cor é a minha cor? Autor: Martha Rodrigues
 Safari na Tanzânia. Autor: Laurie Krebs
 Sundjata o leão do Mali. Autor: Will Eisner
 Seis pequenos contos africanos sobre a criação
do mundo e do homem. Autores: Raul Lody
 Terra Sonâmbula. Autora: Mia Couto
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abril, 2012
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