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LINGUAGEM E LÍNGUA

CONCEITOS

Não há consenso na definição desses dois termos, segundo a maioria dos estudiosos
da comunicação e da linguagem, devido à constatação de que a comunicação humana é
um fenômeno extremamente complexo.

Assim, por linguagem, tradicionalmente, entende-se um sistema de sinais empregados


pelo homem para exprimir e transmitir suas ideias e pensamentos. Desde os mais remotos
tempos, o homem procura comunicar-se com os demais, e para tanto foi desenvolvendo
vários sistemas de sinais, como os gestos, os gritos, os olhares e, finalmente, a fala. Há
uma hipótese de que nós, seres humanos, falamos desde o Homo sapiens, cujo surgimento
é estimado entre 120 - 60 mil anos a.C.

Segundo a concepção acima, a linguagem humana é tida ora como representação do


mundo e do pensamento ("espelho"), tendo por função representar o pensamento e o
conhecimento humanos, ora como instrumento de comunicação ("ferramenta"), um
código, tendo como função principal a transmissão de informações.

Uma concepção mais moderna e mais próxima daquilo que a linguagem é para os homens
é aquela que entende a linguagem como atividade, como forma de ação, "como lugar de
interação que possibilita aos membros de uma sociedade a prática dos mais diversos tipos
de atos, que vão exigir dos semelhantes reações e/ou comportamentos, levando ao
estabelecimento de vínculos e compromissos anteriormente inexistentes" (KOCH, I. V.,
1992, p. 9)

Esses sistemas de sinais que o homem foi desenvolvendo constituem o que se chama
de linguagem natural, em oposição à linguagem artificial, da qual podemos citar como
exemplos o alfabeto dos surdos, o código Morse e o Esperanto.

Sendo a linguagem esse conjunto de sinais e suas respectivas regras de combinação, de


que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar seus pensamentos,
sentimentos e ideias, teremos vários tipos de linguagem, de acordo com o conjunto de
sinais utilizados, por exemplo: a linguagem gestual, que se utiliza de gestor; a musical, de
notas musicais; a pictórica, de cores e formas e a linguagem verbal, que se utiliza
de signos verbais (grosso modo, palavras).

Nesta última acepção, linguagem verbal se identifica com língua, isto é, um sistema
especial de sinais articulados, signos linguísticos (significado + significante), formando um
código e e um conjunto de regras de combinações desses sinais, dos quais uma
comunidade linguística compartilha, para comunicar-se.
No entender do sociolinguista D. Preti, "A língua funciona como um elemento de interação
entre o indivíduo e a sociedade em que ele atua. É através dela que a realidade se
transforma em signos, pela associação de significantes sonoros a significados, com os
quais se processa a comunicação linguística". (PRETI, 1974, p. 8)

E Benveniste corrobora esse entendimento, quando afirma: "De fato é dentro da, e pela
língua que indivíduo e sociedade se determinam mutuamente". (BENVENISTE, 1976, p. 27)

Quanto a língua e idioma, há controvérsias em considerá-los sinônimos. Para alguns


linguistas, idioma supõe a língua sem com ela confundir-se, pois sofre influências de uma
determinada cultura, em determinada região. Idioma é a língua concreta, modo de falar
próprio de uma comunidade, como acervo idiomático, segundo a tradição histórica dessa
comunidade.

É inegável o caráter social da língua. Entre sociedade e língua existe uma relação que
ultrapassa a mera casualidade. A vida do homem em sociedade supõe um intercâmbio e
uma comunicação que se realizam fundamentalmente pela língua, o meio mais comum de
que dispomos para tanto. Através da língua o contato com o mundo que nos cerca é
permanentemente atualizado.

As relações profundamente interdependentes entre a sociedade e a língua conduzem à


observação de uma aparente contradição: a da diversidade / uniformidade de uma mesma
língua, condicionada por fatores extralinguísticos.

Vários autores apresentam classificações desses fatores extralinguísticos que influem no


modo de falar, levando em consideração distinções geográficas, econômicas, políticas,
sociológicas e estéticas. Para D. Preti, as variações extralinguísticas geográficas envolvem
as variações regionais; as sociológicas compreendem as variações provenientes da idade,
sexo, profissão, nível de estudo, classe social, localização dentro da mesma região, raça,
etc.; as contextuais consistem em tudo que pode determinar diferenças na linguagem do
locutor por influências alheias a ele, como o assunto, o tipo de ouvinte, o lugar e as
relações que unem os interlocutores.

O grande interesse pelo estudo da diversidade da língua deve-se, entre outros, à grande
proliferação dos meios de comunicação de massa e ao desenvolvimento da propaganda,
na sociedade de consumo. Para atingir seu objetivo, buscando uma aproximação mais
eficiente do público consumidor, a publicidade procura na variação da língua uma forma
de identificação com o consumidor-ouvinte. Isto, segundo D. Preti, "tem colaborado para
uma nova compreensão do problema erro na língua, aceitando a comunidade padrões
antes repudiados, o que gerou um verdadeiro um verdadeiro processo de desmistificação
da chamada linguagem-padrão".

Se, por um lado, muitos fatores de variada importância concorrem para tornar a língua um
fenômeno de grande diversidade, a ponto de duas pessoas não falarem exatamente da
mesma maneira a mesma língua, e até uma única pessoa não falar em todos os momentos
de forma igual, por outro lado sabemos que, a partir do instante em que a comunidade
aceita uma língua como seu principal meio de comunicação, toda e qualquer variação lhe
será prejudicial, razão pela qual "a tendência é manter sua unidade, colaborando todos,
consciente e inconscientemente, no sentido de sua nivelação, pois dessa maneira a
compreensão será mais fácil, e a própria integração do indivíduo na cultura comum se
dará com maior facilidade", de acordo com o mesmo autor.

Dessa forma, é essa aparente oposição diversidade / uniformidade que mantém a língua
num contínuo fluxo e refluxo. Assim, de um lado age uma força diversificadora, constituída
pelas falas individuais em sua interação com fatores extralinguísticos; de outro, uma força
uniformizadora, disciplinadora, prescritiva, nivelando os hábitos linguísticos. As duas fazem
concessões mútuas, para se manter, de tal forma que o indivíduo sacrifica sua criatividade
pela necessidade de comunicação, enquadrando-se, inconscientemente, na língua da
coletividade em que atua; a comunidade, por sua vez, admitindo a criação individual,
incorporando hábitos linguísticos originais que atualizam os processos da fala coletiva,
evolui naturalmente, procurando uma melhor forma de comunicação.

É interessante observar que a própria comunidade atua no sentido de conter uma


diversificação exagerada, que é prejudicial à comunicação, por meio da aceitação daquilo
que constitui uso linguístico, aceito pela maioria como norma de comunicação.
Modernamente, entretanto, como observa D. Preti, "fatores alheios à vontade das massas
têm intervindo decisivamente na implantação dos usos linguísticos, como, por exemplo,
elites intelectuais das grandes cidades, profissionais liberais, escritores, linguistas,
profissionais dos meios de comunicação de massa e publicitários".

A norma, segundo o referido autor, "é o ponto de chegada no processo de uniformização e


nivelamento da língua de uma comunidade. É o momento em que o uso é fixado em lei
linguística. A própria sociedade se encarrega de preservar a norma, que ela própria
estabeleceu".

Assim, a norma, no plano teórico, resulta do processo de uniformização, como


consequência dos usos e da estandardização da língua. Isso significa que a comunidade,
de comum acordo, aceita as melhores maneiras de comunicar-se e elege as formas pelas
quais tais comportamentos serão mantidos. A divisão e a subdivisão das normas
(linguagem vulgar, familiar, coloquial, comum, culta, literária, etc) correspondem a graus da
escala linguística da comunidade que, às vezes, pode ter força de verdadeira classificação
social do locutor.

Segundo o referido autor, "três são os principais fatores que agem sobre o uso e,
posteriormente, sobre a norma linguística, numa sociedade: a escola, a literatura e os
meios de comunicação em massa".
Principais Fatores

O primeiro fator é a escola, um organismo tradicional por excelência em termos da língua.


Por meio dos textos dos grandes escritores, busca uma uniformização, segundo os níveis
mais altos da linguagem. Tem como principal objetivo a língua escrita, por meio da qual se
estabelecem padrões linguísticos mais elevados que possam influenciar os hábitos
individuais, à medida que os locutores elevem seu grau de instrução.

Em seguida, a literatura que acompanha os padrões estéticos da linguagem vigentes nas


várias épocas, cuja tendência é a função uniformizadora da língua escrita, afastando, em
virtude de suas limitações ortográficas, as liberdades e os abusos da língua falada, que
podem impedir a compreensão do leitor. No plano literário, a escrita moderna tem
procurado aproximar a língua literária da língua falada, com o objetivo de descobrir-lhe
valores expressivos e originais. Geralmente, essa fórmula tem sido bem recebida pelo
leitor moderno. "Apesar disso, porém, a literatura é ainda um fator tradicionalizante na
linguagem, agindo sobre o uso a e a norma, no sentido unificador e nivelador".

O terceiro fator determinante que atua sobre o uso e a norma, criando um verdadeiro
condicionamento linguístico e até social, são os meios de comunicação de massa.
Contando com uma tecnologia moderna, dirigem-se a uma grande audiência heterogênea
e anônima. Eles atuam, positivamente, divulgando a língua comum, a norma geral das
comunidades ocultas, contribuindo para a nivelação das estruturas e do léxico, mas
também, de forma negativa, sobre o próprio locutor, restringindo-lhe as maneiras de dizer,
diminuindo-lhe as possibilidades criativas na linguagem, enfim, automatizando-o, fazendo-
o pensar, falar e, consequentemente, agir dentro de padrões predeterminados.

Pode-se constatar, portanto, a existência de uma "variedade na uniformidade linguística". É


uma entidade geral, denominada norma culta - língua culta -, linguagem culta padrão, a
responsável pela coesão linguística e representante do uso ideal da comunidade. Ela não
apenas é o veículo da comunicação falada, mas também de todo um complexo cultural,
científico e artístico, realizado pela forma escrita.

Essa norma ou padrão linguístico ideal é a ensinada pela escola e percebida, ao menos
pela maioria, como a melhor forma, a mais correta, sendo por isso também a mais
prestigiada socialmente.
NÍVEIS DE LINGUAGEM

Ao lado da norma culta, podemos colocar as normas regionais ou línguas regionais, que
representam usos específicos de comunidades menores, afastadas dos grandes centros
civilizados, o que não as impede de ter também suas entidades tidas por ideais, dentro dos
limites geográficos em que são faladas, apesar de também não chegarem a negar o
comportamento linguístico geral, a norma culta.

Chama-se "dialetação" esse processo de variação, que pode ocorrer horizontalmente, isto
é, em regiões que falam a mesma língua, fazendo aparecer os dialetos regionais ou falares
regionais.

A dialetação pode-se dar também verticalmente, isto é, ocorrem os níveis sociolinguísticos


resultantes das diferenças entre as acamadas socioculturais, criando, assim, dialetos que
podem coexistir no mesmo espaço geográfico, levando em conta as profissões, a classe
social, a cultura, o grau de escolaridade, entre outros fatores. (PRETI, 1974, p. 36)

Podemos, pois, resumir, os vários níveis de linguagem: língua culta padrão, língua coloquial
ou comum, língua grupal.

Língua Culta Padrão

Escolhida, por várias razões, como a língua que deve ser usada em todos os documentos
oficiais, na imprensa, etc.

Procura seguir todas as redes da gramática normativa e é empregada primordialmente na


forma escrita

Língua Coloquial ou Comum

É aquela usada no cotidiano, com a finalidade de comunicação e interação; usada


sobretudo oralmente, apresenta subníveis:

1. Língua popular - usada pelas pessoas de baixa escolaridade, marcada pelo


desconhecimento gramatical, pelo emprego de gírias e palavras de baixo calão;
1. Língua familiar - de caráter afetivo; faz uso de diminutivos, de palavras que
denotam sentimentos, de apelidos carinhosos.

Língua Grupal

Característica de pequenos grupos, classifica-se em subníveis, de acordo com o tipo de


grupo que a utiliza; assim:

1. normas regionais ou regionalismos - decorrentes da dialetação horizontal;


representam usos específicos de comunidades menores afastadas dos grandes
centros urbanos;

1. as gírias - que variam conforme os grupos que as usam, por exemplo, as gírias dos
jovens, dos marinheiros, dos malandros, etc.

1. línguas técnicas - das várias profissões, como linguagem médica, da informática,


linguagem jurídica, etc.

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