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6 ! LETRA DE CAMBIO: NOGOES GERAIS A letra de cambio, embora esteja em franco desuso, € um dos titulas mais impor- tantes, pois nela podemos vislumbrat os principais institutos do direito cambistio. Em. razio disso, desenvolveremos o estudo da matéria a partir desse titulo de crédito, 1 Historico A origem da letra de cimbio remonta ao contrat de cambio, que inicialmente re- Presentava qualquer troca, passando a identificar posteriormente a troca de moeda Diante dessa origem, ha quem reconhega a existéncia da letra de cimbio desde a mais remota Antiguidade, Todavia, o histérico da letra de cambio nio se confunde com 0 historieo do préprio contrato de cambio, uma vez que a letra 86 surgiu tempos depois para instrumentalizar esse contrato. A letra de cimbio primitiva deve ser entendida como “o titulo revestido de forma especial que continha uma delegacio de pagamento de certa soma de dinheito, em pra- 62 diversa, 20 credor ow a pessoa por este autorizada, e que produzia efeitos juridicos Pecullares, pelo menos o da responsabildade do emitente pela garantia do futuro paga mento, facultado a0 credor o exercicio da ago tegressiva". Tal conceito efetivamente Indo existiu na Antiguidade, embora nao se negue a existéncia dos contratos de cambio, desde entio, entre gregos ou romanos. Asletras de cimbio slo institutos mais recentes, sendo sua historia dividida em trés fases: 0 periodo italiano, o periodo francés eo periodo germanieo” Ha quem actescente © perfodo uniforme como um quarto periodo da evolucao historica®, 0 que a nosso ver io & necessirio, 1.1 Periodo italiano As cidades italianas (Genova, Veneza,.) realizavam entre si um grande intercin bio comercial vale dizer, mercadorias de uma cidade eram vendidas a outras cidades SARAIVA, José A.A cambial. Rio defanito José Konfino, 1947, ,p. 2 WHITAKER, ose Maria. Leta dec i. So Paulo: Saraiva, 1928, p. 7-16, 3. _BONFANTL Mario Alberto; GARRONE, Jost Alberto, De fos itulos de crédito. 2. ed. Buenos Aires: Abeledo-Petvot, 1976, p. 172-173, 196 {CURSO DE DIREITO EMPRESARIAL ce vice-versa, Todavia, tais cidades tinham moedas proPrias de modo que a moeda de “ima eidade nao tinha valor na outra. Assim sendo, sé um ‘comerciante de Veneza re ‘ebia a moeda de Génova, iio poderia usi-lana sua proP! cidade, ou um comprador ge Genova que ia a Veneza para fazer compras ndo podia ust! 18 propria moeda Havia, portanto, a necessidade da troca de uma especie de moeda por outta moeda para que esse intercambio se desenvalvesse, Essa tres da moeda era feita pelos primi- tivos bances, por meio do contrato de cambio. ‘principio, os bancos s6 rallzavarn.aperacdes na PES da parte, vale dizer, realizavam apenas atroca imediata da moeda: quem apreseisy4 ® moeda de ura cida {de podia tocé-ta pela moeda da outta cidade, Esse e'8 0 chamado cambio manual. Todavia, com o ineremento do intercambio mercantil quantidade de dinheiro trocado aumentava e, consequentemente 0 risco de pera desse dinheiro. As viagens team longas 0 isco de um assalto era muito grande, Por 0, 9S ccomerciantes, que precisavam dos seus recursos em locas diversas da su residéncia, nao queriam trans Portar o dinheiro pessoalmente. Em razso dese interest surge a letra de cambio, a partir da [dade Média, coincidindo com a propria origeh) do diceito comercial regava, em moeda local, 0 valor {Um comerciante procurava um bangueito ¢ he e equivalente ao que cle desejava da moeds estrangeita, OF banqueiros recebiam o dinket toc prometiam entregat seu euivalente em outra cidade na moeda estrangeira’ {© banqueiro, 0 receber 0 dinheito, entregava ao comerciante dois documentos: 0 reconhecimento da divida (cautio) ea ordem de pagamento em moeda (lettera di page seo) Em outras palavras, banquero reconkecla a sua divide (6 aie deu origem & rhta promisséria)efazia uma delegacao de pagamento 20 56% correspondente da outra Cidade (dava uma ordem de pagamento a ser cumprica €m our cidade), originando @ Tetra de cambio, Com o passar do tempo, houve una fusio Entre % dois documentos, ar lo nascer a letra de cambio, 9 pati dacattaenviada peloPandusito due recebeu a moeda vAvsim, a emissto da letra estava ligada ao deslocamento de um mereador € a0 chamado contrato de cimbio trajecticio(troca de moeda pressnks Pol moeda estran. ger a serentregue em outra cidade). A distancia or essencial para afastar esse con se Fado simples contrat de miituo® Sem essa distancia, o negOCio considerado um sto usuratio, condenado pelo direito canonico”. Fssa dstincia or necesséria a inter vencio de outras pessoas diversas daquetas que haviam contratado, inicialmentey @ troca de moeda. FT ASQUINE Alberto. tito credo, Padova: Cedam 1966 p45 RON, Gustavo, Cambie Mino: Cast Etc Dore Francesco Var, 1299 23. © PAVONELA ROSA, Antonio Lata d cambio. Traduca de Ono | Math tes Abeledo: en Ons p17 ASQUINL Abert il rit, os Cen 1965 0-148 BONELLI, Gustavo, Centitde Milo: Casa Editece Dottore Francesco Vallar 1930.3. 7. BONTLLL Gustavo. Cambile. Milano: C2 Eres Dottore Francesco Vallar, 1990 p. 3. Lerma 0€ cAwpio: nogoes cenass | 97 A principio, havia quatro partes na letra «+ obanqueiro que recebia 0 dinheiro ¢ emitia a letra (sacador)s «+ a pessoa que dava o dinheiro e recebia a letra (tomador)s lo) normalmente ligada ao sacadors + a pessoa encarregada de pagar (saci «a pessoa encarregada de recebet, normalmente mandatiria do tomador. [Nesse periodo, a letra era um instrumento de troca de moeda, um instrument de transporte de dinheiro”. 0 documento aqui ainda nao era um titulo de crédito, mas um ecarismo que facilitava e muito o exercicio de atividades que depensdiam de roca de moeda, 1.2. Periodo francés z,o.uso da letra de cambio foi aumentando, estendendo-se inclusive es, Diante dessa proliferagio, aos poucos foram se impondo al- mas mudanas no seu regime original para atender as necesskdades de que™ utilizas- aera Tocumento, A letra de cimbio passou de instrumento de transporte de dinheiro um instrumento de pagamento” Por vezes, 0 sacado (correspondente do banco) ado honrava o pagamento da letra de cimbio, isto ndo entregava a moeda ao mercador ow a seus representantes. Nesses aos nada podia ser feito, uma vez que 0 sacado no havia assinado o titulo e, consé- “quentemente,ndotinhaassumido obrigago alguma. Portanto, ele no poderia ser com: pelido a cumprir a ordem. Para dar maior seguranga as pessoas que usavam o titulo, iou-se uma forma de responsablidade do sacado:0 aceite. A concordanca do sacad isto & da pessoa 3 Qe radirigida a delegagao, dava mais seguranca ao credor, na medica em que ele poder!s git dessesacado o cumprimento da letra, Aoassinar, cle se tornava devedor do Wale ¢, por isso, paderia ser compelido a pagar” Com o surgimento do aceite, resolvia-se um primeiro problema, Todavia, ainda hhavia outros. Caso 0 sacadio estivesse ausente da cidade na época em que o comerciante chegasse com titulo, ele ndo teria como trocar a moeda,restando frustrada sua Viagem Pare solucionar e35a questo, passa-se a admitir que o titulo seja transferido, ou sear 4. BONELLL, Gustavo, Gambia. Milano: Casa Edie Dottore Francesco Vallard, 1930, p 5 9. JUGLART, Michel de; IPPOLITO, Benin. Droit commercial. 2. ed, Paris: Monthresten, 197,» © F 2 CoS Wille Duate itulos de crt. Belo Horizonte: Dt Rey, 2008, p10; KUNTZE. I: ENDEMANN, ae etal ai dive commerciale, martino,cembiaro, Trad, Catlo Betoccive Alberto Vigh Napel: J ven, 1999, 8.5, p13 WO. ASQUINL Alberto told credit. Padova: Cedar, 1966, p. 48:]UGLART, Michel de IPPOLITO, Benjamin. Droit commercial, 2. Pais Monthresten, 1977.1. p. 32 11, WHITAKER, Jost Maria, Letra ce cba. Sto Pauly Saraiva, 1928p. 11 98 | CURSO DE DIRETO EMPRESARIAL ‘credor nao precisava mais encontrar o sacado, ele podia pasar o titulo para outa pessoa ‘© essa outra pessoa encontraria 0 sacado, para receber o valor ali estipulado. Quem trans- feria 0 documento também garantia o pagamento do titulo. Nesse periodo, o titulo passa a ser um instrumento de pagamento”, substituindo a propria moeda em algumas situagoes, Esse periodo & chamado de periodo francés, na medida em que suas principais ino vvagoes foram consagradas pela Ordenanga de 1673”, No Brasil, tal orientagio chegou com 0 Cadigo Comercial de 1850. 1.3 Periodo aleméo As transformagdes ocorridas no periodo francés ja demonstravam a evolugio da letra de cambio para atender aos anseios dos seus usuarios. Ocorre que a intensidade da vvida moderna aumentou as exigéncias de seguranga na circulagao da letra de cambio, bem como ampliow 0 seu uso. Em razao disso, havia necessidade de novas evolucies. Essa nova fase da evolucio surgiti no direito alemao, a partir de meados do século XIX, tornando a letra de cambio um instrumento de exédito" Sao consagrados os principios vigentes no direito cambial, representando a letra de cambio um valor em si mesma, Protegem-se sobremaneira os terceiros de boa-fé que adquirem o titulo, vale dizer, a posse de boa-té vale 0 titulo” Com 0 desenvolvimento maior ainda das atividades econémicas, era fundamental que a letra de cimbio garantisse o maximo de seguranca possivel. Tal seguranca s6 se ‘obtém reconhecendo a abstragao do titulo e a autonomia das diversas obrigagoes ali asstimidas. Nao havia mais motivo para usar a letra de cambio apenas nos contratos de ‘cambio trajecticio, dat a necessidade de sua abstracao em relacao ao negocio que Ihe deu orige 2 Cones Pata José A. Saraiva, a letra de cimbio “é um titulo de crédito formal, auténomo e completo, que contém a obrigagao de fazer pagar determinada soma de dinheito, no 12, COSTA, Wille Duarte. Titulos de crédito, Belo Horizonte: Del Rey, 2008. 11 13. WHITAKER, José Maria. Letra de cimbio, Sto Par Saraiva, 1928, p. 12. 14. JUGLART, Michal de PPOLITO, Benjamin, Droit commercial. 2 ed Paris: Monthrestien,1977,¥. Lp 34; KUNTZE. tn: ENDEMANN, G. Manuale di diritto commerciale, marttimo, eambiare, Trad. Carlo Betocch¢ Alberto Vighi NapolJovene, 189%, ¥ 5, p. 13 15, PAVONELA ROSA, Antonio. La eta de cambio, Tradugio de Onvalda Maffia, Buenos Aires: Abeledo Pert, 1988, . 25; BONFANTI, Mario Alberto; GARKONE, Jase Alberto. De los ttulas de credit. 2. ed. Buenos Aires: Abeledo: Perrot, 1976, p. 172. Lerma de cAaio: nogoes cenals | 99 tempo e no lugar designados”, Bonfanti afirma que a letra de cambio ¢“o documen to de uma declatagio constitutiva, com relagio ao terceiro possuidor do mesmo, de tum crédito abstrato destinado a circular em conformidade com a lei de cireulagao de bens moveis”’. Em primeiro lugar: vale a pena ressaltar que estamos diante de um titulo de crédito, isto é, um documento necessario para 0 exercicio de um direito, no caso especificamen- teo de receber determinada quantia em dinkeiro. Trata-se de um titulo de crédito formal, nna medida em que o documento sé vale como titulo de crédito, se obedecer a todos os requisitos legais. Alm disso, & um titulo auténomo e abstrato, na medida em que nao deriva de nenhum negécio juridico especifico, sendo as varias obtigagoes do titulo, in- dependentes entee si Também é um titulo completo na medida em que nao precisa ser completado por nenhum outro documento. Por fim, vale ressaltar que, nas letras de cambio, temos ordens dle pagamento, uma vez que quem cra o titulo assume a obrigngao de fazer pagar deter rminada quantia, na data e no local combinados, vale dizer, quem cria o titulo promete mento, ‘que outra pessoa efetuard esse p 3 Partes Na letra de cambio, podemos ter trés pessoas envolvidas. As partes da letra de cam- bio sio 0 sacador, o sacado e o tomador ou beneficidrio, os quais nao precisam necessa riamente ser pessoas diferentes, 0 sacador ou emitente € aquele que emite a letra, aque Je que dé a ordem de pagamento para o sacado e responde pelo no cumprimento por parte deste, 0 sacado, por sua vez, é aquele a quem é dirigida a ordem de pagamento, ‘mas 86 se torna obrigado a cumprir essa ordem se assumir a obrigagio assinando o titu Io! Por derradeiro, temos o tomadlor ou beneficidrio que é 0 credor originario do titulo, isto €, aquele que vai receber o valor constante do titulo, Em sintese: 0 sacador 4 uma ordem ao sacado para que ele pague determinada quantia ao benefictario. sacagon ——» SACADO | BENEFICIARIO (OU TOMADOR 16. SARAIVA, José A.A cambial, Riad aneior Jose Konfino, 1947, ¥. 1p. 152 17, BONFANT!, Mario Alberto; GARRONE, José Alberto. De fs titufos de crédito, 2, ed. Buenos Alte [Abeledo, Perrot, 1976, p. 218 ada livre de “el documento de una declaracién constitutiva, con relacion ular de conformidad alley de circu al terceto poseedor del mismo, de un credit abstractodestinado ac Tacidin de las hienes muebes” Ih MARTORANO, Federico, told credit, Napo: Morano, 1970, p- 346, 1100 { cuns0 0€ DIREITO EMPRESARIAL Diante da abstracio da letra de cimbio, as rlagbes jurdicas que Ihe deram orige™ do tem maior importancia, Nesse documento, o que interessa é que osacador romcie que o sacado vai pagar o beneficiéto. “Apenas para ilustrar, pademos imaginar alguns exemplos de use da letra de cam- bio, com as seguintes pessoas: ROMARIO (SACADOR), EDMUNDO (SACADO) € RONALDO (BENEFICIARIO). ROMARIO é credor de EDMUNDO por determinada obrigicio , antes do pagamento dessa obrigacio, ROMARIO compra mercadorias de RONALDO pata pag las no mesmo dia em que tera que receber de EDMUNDO. Afim dd simplficaro seu procedimento, ROMARIO emite uma letra de cambio, na qual ela «ies EDMUNDO uma ordem para que ele paguc RONALDO no vencimento, Ness? st tuagio, RONALDO poders procurar EDMUNDO pata tentarreceber dele o seu crédito, Em outro exemplo, JOHN BONHAM e ROBERT PLANT sio comerciantes € amigos que moram em cidades diferentes, o primero em Brasilia ¢ segundo em Sio Pauls, JOHN BONHAM comprou mercadotias em Sao Paulo de JIMMY PAGE, mas 6 vai pagi-las em 90 dias, quando estaré de volta a Brasilia, Nesse €as0, em Ve deter {que tetornara Sao Paulo, eleemite wana letra de chmbio, nos seguintes rer mos JOHN BONHAM (sacador) d uma ordem para que ROBERT PLANT (sacado) page Pare JIMMY PAGE (beneficiério) 0 valor da divida, De outro lado, ROBERT PLANT, 29 comprar mercadorias em Brasilia, fara a. mesma coisa 96 que nesse eas cle seré 0 seeador e JOHN BONHAM ers o sacado, Posteriormente, os dois amigos se encontrar ¢ fazem um ajuste de contas. 4 Legislagao aplicavel _Aletra de cambio € utilizada em muitos negscios , por isso, precisa de uma discip- wna bem detalhada, a qual 6 usada como referencia para outros ttulos de crédito” que re produzem boa parte das regras da letra de rem referer as regres, Assim, é fundamental definir qual éa legislagao aplicivel As letras de cambio. nbio ou simplesmente fi 41 Oprocesso de uniformizagao internacional da legislagao “A atividade comercial, que sempre existiu, foi se desenvolvendo cada vez mals, 8 snhando importancia fundamental tanto economicamente como politcamente gerando lima grande mudanga na sociedade mundial, Como os pases sto diferentes, vale dizer, tém condigoes distints de realizacio da atividade comercial, € natural ue o comérclo ae fesenvelva entre diverss paises, de acordo com as melhores condigbes de cada um. F certo também que hi vantagens inerents a especializagao de cada pats em determina: Jo. BULGARELLI, Waldiio Tituas de crédito, 1, ed. Sto Paulo: Aas, 1998, p10 Lerma 0€ CAMBIO: NOGOES ceRAS | 107 do ramo da produgio", o que se explica pela chamada teoria das vantagens ccomparativas. oe acordo com essa teoria, 0 comércio internacional permite a utiizagso mos cficiente ates recursos economicos, visto que possbiita a importagio de bens e services» de sata forma, s6 poderiam ser produzidos internamente a um custo suPeror, vale dizer aaa cio inernacional permite 20s consuimdores oacessoa produtos a melhor pres Tm fungio de tudo isso, € certo que ocomércio internacional se desenvolveu forte- mente no mundo, gerando uma série de efeitos sobre as economias nacionsis, dit mrenaram cada vee mais abertas, amentando 0 fluxo de producto de ym pais a outro. esse eomércio internacional, as letras de cimbio possuiar um papel primordial, na medida em que possibiitavam e ampliavam a circulacdo de riquezas ‘Considerando a grande importaneia ds letras de cimbio para o comércio intern cional, percebeu-se a necessidade de uma uniformizagio no tratament dos ttulos, 6 pecialmente na letra de cambio. Tl uniformizagio era necessiria para facilitar as trocas feconémicas tealizadas entre varios paises". 'A primeia tentativa de unifiar a legisagio fo a conferéncia de Fate de 1910, que contoucom 89 paises, Nessa convencio, chegou-se a elaborar uma le unifrme (com 88 dluponitivos) eum projeto de conven (com 26 dispositive) que foram subscr0s POP 31 pales, Tas rerasseguiam o sistema continental e por sso, foram fas reseo° Pt pai aata Common Laem especial os Estados Unidos ea Inglatera, Em razio da importin- ia desses paises para o comércio internacional, as regras ali emanadas no Prospersiinh Tn 1912; foi reatizada a segunda conferéncia de Haia, com a participagdo de 32 paises. Mais uma vez elaborou-se uma convencio (com 31 dispositivos) e uma lei uni- perme (com 80 dispositivos) sobre as letras de cambio € notas promissorias, com WTA rales de 27 paises, Nessa convencdo,desenvolveu-se ainda um projeto sobre os cheaues Ge trabalhos de intsodugSo dessa legislagao nos diversos patses signatrios foram prehs- dicados pela Primeira Guerra Mundial”. ‘Novos projetos foram conecbidos, chegando-e finalmente & convocagao de una terceira comvengao a se realizada em Genebra, a qual conch flizmente os seus aba Thc em ? de junho de 1930, com a adogio de trés convengoes por parte de 27 paises. seo aryc Brasil A primeita convengio abrange o texto-padrao da Let Uniforme de sarees (LUG) ¢ a possibilidade de adogao de reservas 20 texto da lei. A segunda con caneao disciplina os conflits de legislago entre os dversos pases. Por fi & tree Convengio obriga os pases a nio condicionat a validade da letra de cambio’ regularida- de fiscal”. Bo. KRUGMAN, Paul Rethinking international rade, Massachussets: The MIT Pres, 1990.2 BL TININIERS,Luviane avacet Desafosnterpretatvs da Li Unorme de Genchra. Porto Nee ‘aria do Advogado, 2003p. se ASQUINI, Alberto. zl di eredto. Padova: Cedam, 1966, p, 182: BONEANT, Maria Alberto ZARRONE, José Alberto, De fos sos deed. 2. ed, Buenos Aires: Abeledo-Perot 1976p. 173 Ba. PAVONELAROSA, Antonio Leu de cambio. Tiadicio de Osvako J. Mafia Buens ies Abed Portes 1988, p 20 ASQUINL Alberto 1 itolt di credit, Padova: Cedam, 1966, p52 102 | cunso 0€ oineiTO EMPRESARIAL 4.2. ALei Uniforme de Genebra esse processo de uniformizacio internacional chegou-se inalmente & elaboragio da Lei Uniforme de Genebra (LUG) sobre a letras de cimbio e notas promissoriss, re presentando a tentativa de uma legislacio comum entre varios atores do comércio inter- eaerepa Dada difculdade natural de um consenso sobre todos os pontos da legis lagioy hhouve por bem distinguir dois tipos de normas na LUG, quats sejam: as necessints € iimprescindiveis 2 uniformizagao, isto é de aceitacio obrigat6ria pelos signatirios, € a5 aarrvexiias, em relagto 3s quats poderiam ser fits reservas. Em summa, nem todo 0 texto da LUG precisa ser seguido pelos patses signatarios ‘Assim, a uniformizacao se du em relagao &s regras consideradas necessarias, na medida em que no tocante as demais regras havia 2 possibilidade de adogao de eservas Fata representam, em tina analise, uma manifestagao unilateral de wontade no sent do de excluir ou modificar os efeitos juridicos de certas regras", ou sa, a5 regras NAO sao introduidas no ordenamento local ou sto introduridas de forma diferente, Vale (ca para o legislador nacional, ressaltar quea reserva representa a mera possibilidadejur fe nan a obrigacao de modificar 0 regime imposto pela LUG. Aldi das reservas, que tepresentam a possibilidade de derrogacio de normas da LUG, é certo que se previu também o reenvio, isto & em alguns casos se adimite a re- mesea 00 legtslador nacional da tarefa de regular diretamente determinado assunto independentemente da derroga¢io das normas da LUG. Também é considerado reen vio quando se faz referencia & legislagoestrangelra que se encontra no direito indice td pea regra de conflto de foro. Assim. ali do Estado a que pertence 0 subserior do titeloe considerada a le aplicdvel para regular capactdade daquete que praticou o ato* Seriam casos de reenvio as hipdteses previstas Nos arts. 6, 15, 16¢ 17 do Anexo Ile nas fa Convengio destinada a regular certos confit de leis em matérias de arts. letra de cimbio e notas promisséria 4.3 Alegislacao aplicével no Brasil [Asletras de cambio foram regidasinicialmente no Brasil pelo Codigo Comercial de 1850, novarte-364.a 424, Nesse diploma normativo, «orientagao que prevalecia era ado periodo francés da evolugio dos titulos, ainda sem o reconhecimento dos principios da eetonomia e da abstra¢io, Postriotmente, tal parte do Cédigo Comercial foi revogada Fe ROSA JUNIOR, Laie Emygaio da, Tiewlos de crédito 4. ed Rio de Janeiro: Removar 2006, p16 OB. FARIA, WerterR, Cheque: As convengdes de Genebra eo dceto brasileiro, Porto Alegre Fabri 1978 pa, 6, idem, p. 153-154 7. ROSAJUNIOR, Luiz Emygtio da. Tuas de crédito. 4. ed. Rio de Janeiro: Renova, 2006, p 19-20 Lerma be cAwao: nogbes cena | 103 pelo Decreto n. 2.044/1908, no qual sio incomporadas as evolucoes do periodo alemao, Feconhecendo-se especialmente a autonomia das obrigacoes cambidrias. Durante o periodo de vigencia do Decreto n. .044/1908, foi realizada a Convengao dde Genebra, na qual se buscava uma uniformidade mundial no tratamento da letra de ‘Cambio, da nota promissbria, O Brasil, embora tenha sido signatario da convencio, $6 teri formalmente a cla em 1942 por nota da Legugio Brasileira em Berna ao Secretério “Geral da Liga das Nagoes®, Apesar da adesio, tais convengdes s6 se incorporaram 20 Grdenamento juridico brasileiro por meio do Decreto n. 57.663/66, tendo 0 anexo I ta arse texto da LUG eo ane Il as reservas que poderiam ser feitas a esse texto. E bom ressaltar que o texto adotado no Brasil é uma cépia, com pequenas diferencas, da tradi {ao portuguesa, a qual objeto de grandes critieas também em Portugal, pea imprecisio da terminologia utilizada. "A LUG sobre letras de cambio e notas promissérias fol incorporada ao ordenamen- to juridico brasileiro, com as reservas permnitidas pelos arts, 2~ 356-7 ~ 9 10 ID 15 16 17 ~ 19 e 20 do anexo II. O Brasil ndo adotou integralmente a LUG, tendo feito 13 das 23 reservas permitidas. Em razdo da inexisténcia de uma lei posterior disciplinando a matéria objeto das reservas, chegou-sea discutirse a LUG vaeriaefeti- vamente no Brasil e se teria revogado o Decreto n. 2.044/1908. COSTE resolveu a questao decidindo que tem eficicia imediata no Pais a Convencio Internacional aprovada pelo Congresso em Decreto Legislative e promulgada por decte- todo Presidente da Repiiblica®. Além disso, decidiu-se pela manutencio da vigencia do Decreto n, 2.044/1908™, em relagao as reservas e omissdes da LUG Luiz Emygdio da Rosa Kinior afirma que continuam em vigor os seguintes disposi- tivos do Decreto n. 2044/1908: art. 1, V, arts. 38 ¢ 54, § 48, art. 8, § 15 art. 8% al. 25 art 10, art, 11, alineas Ie 2, art. 14, art, 19, art. 20, att. 20, § 18, art. 20, § 2% art. 28, art, 36, art, 39,5 1, art. 42, art. 43, primeira parte, art, 48, att. 51, art. 54, e at, 54, § 28 ‘Assim, temos como legislagio priméria a LUG naquilo em que nao foi objeto de reserva e também 0s dispositivos citados do Decreto n, 2.044/1908 em relagao ds reser- vas e omissdes da LUG. Além disso, ¢ certo que 0 Cédigo Civil (art. 903) de 2002 se aplicara supletivamente, ou seja, na auséncia de regra da legislacao especial Luiz Emygdio F. da Rosa Junior nos apresenta um quadro comparativo usando 0s principios gerais de aplicacao das normas juridicas para as letras de cimbio™, ao qual 28 MARTINS, Fran. Titulo de crédito. 5. ed, Rio de laneio: Forens, 1995, v1.56 29. STR, Pleno, RE7LASA/PR, Rel. Min. Oswaldo Trigueiro,j 4-8-1971 30. REQUIAO, Rubens. Curso dedieito comercial, 21. ed. Sio Paulo: Saraiva, 1998.2. p. 343: MARTINS, Fran. Titdes de rite ed io de Janeiro: Forense, 1995,v- 1. p.60, MERCADO JUNIOR, Antnio. Nove Tei cambial nove lei do cheque. 38, Sio Paulo: Satava, 1971, p78, SL. ROSA JUNIOR, Luis Emygdio da, Teulos de crédito. 4. Rio de Janeiro: Renovat, 2008p. 22-28 32, em, p.21. 104 | cunso D€ DIREITO EMPRESARIAL acrescentamos a aplicabilidade do Codigo Civil, reconhecida pelo proprio autor do quadro. 5 Requisitos intrinsecos Como declaragao de vontade que é, uma letra de cambio deve atender a certos re- {quisitos intrinsecos estabelecicios pelo Cédigo Civil para toda declaragao de vontade (art. 104). Sao requisitos intrinsecos das letras os mesmos de todos os neg6cios juridicos, isto 6,2 capacidade do agente, 0 objeto lito, possivel, determinado ou determinavel, € a forma prescrita ou nao defesa em lei. De imediato, ¢ oportuno destacar que a legislagao ‘cambiiria dé um tratamento diferente i falta desses requisitos intrinsecos, em razio do principio da autonomi e da protegao da aparéncia © primeiro requisito intrinseco pode ser resumido com a ideia da manifestagio vilida de vontade. Para tanto, exige-se que o agente possua capacidade, Além disso, & certo que a vontade nao pode possuir viclos que contaminem a sua regular manifestasao. Luiz Emygdio da Rosa Jinior e Gladston Mamede” afirmam que os absoluta e rela- tivamente incapazes nao podem se obrigar em um titulo de crédito, tendo em vista 0 disposto no art. 42 do Decreto n. 2.044/1908, aplicavel no Brasil pela omissio da LUG 33. MARTINS, Fran. Titulos de rio 5. ed. Rio de ancio: Forense, 1995, ¥. Lp. 72 34, ROSA JUNIOR, Luiz Emygdio da. Titulos de crédito, 4 ed. Rio de Janeiro: Renovat, 2006, p. 155: MAMEDE, Gladston. Dirt empresarialbrasieir: iulos de crédito. 2 e, 580 Palo: Atlas, 2008, v3, p. 62 =] Len oe chai: wogoes cena | 105 sobre o assunto. Exige-se mio 6 a ¢ apacidade normal, mas & capacidade de assumir prigagbes de cardter patrimonial que vata ao empresério fade. Em todo caso 9 ofestaydo da vontade poder ser feta de POPS punk ou por meio de representantes Gotado de poderes especias ‘Os representantes ever indicat SSB qualidade, sob pena de assumit & obrigagio pessoalmente, tendo em vista 2 protesae dda aparencia nos tiulos de crédito. Alem disso, rete a necessidade especifica de possult O§ oreres necessirios para se obTiEAE pelo Fepresentado, sob pena também de assumir Peaponsabilidade pessoal pelo pagsment do titulo (LUG - art. 89". A auséneia desse primero requisito m0 invalida o prépri titulo, endo em vista principio da autonomia dos obrigashes Havendo assinaturas de ineapazes ow MEST vyaas,o titulo no é nao, sendo vidas 2 brigagBes dos demais que langaram sua °8 daaarea no titulo (LUG ~ at. 72) Aulidade om ‘Wexisténcia atinge apenas aquela ODT gagio e nfo o titulo como um todo ‘O objeto do titulo de crédito deve se icitoy possive,determinado ou deter rninavel que naletta de cambio € ormalmente peed, uma ver que se tata de pestagio de oa ro Ademais exige-se wma forma expecta DAW titulos, isto é para um docu ‘onto valer como titulo de crédito, cle deve spediecer aos requisitoslegalmente imPostos § _ Requisitos legais da letra de cambio Ostitulos de evéditos sao documentos de legimagi 2 possuem toca uma pre tego especial. Em razao disso, nem todo oe mento pode ser considerado um titulo de reat. Nesca materia, vige o formalism pelo tual um documento s6 sera considera’ titulo de crédito seatender os requisitos IMPOSIOS pula ei Desse modo, um documento eed considerado uma Teta de cdmbio s¢ possilt requisitos determinados pela le- pistagdo (LUG ~ arts. © € 22) A falta dos ‘eqquisitos essenciais torn o tuo arn mere Bia ato probatrio,¢ nao waa Letra de cimbio? ‘entre esses requisitos impostos por lei podemes diferenciar os requisites essencials aque no podem estar ausentes de forms lguma, e 08 Fequisitos nao essencias 4 ae saver melhor chamados como supiveis” relagao aos quais ha uma opc20. isto tLe requisito pode estar ausente desde que se suprido por outra indicagio. 36. MESSINEO, Francesco, Manualed “gra lee commercial 9, <8: Milano: Gia 2 5 P 36. MAMEDE, Gladston, Diet empresarial mse: iaos de edlto. 2, So Paul Alas 2005 ¥ 3p6 37, SARAIVA, fost A.A cambial Rio de Janet os Koning, 1947, ¥. Lp. 197 Me MARTINS en. Titads decry 5.8 Rlo de rio. oFae 1995, sp 126 wo. ROSA JUNIOR, Lz Emygdo da, Tiulas deed 4. ed, Ro de Janeiro: Renovar, 206, p. 141 3 RUS t jn Ucn, Caso dedi comeral 8. S10 M0 ve, 2008, 1, p35: MARTINELLT, cor dao on Manual dos us de crt. ndiak URES 2000, p. 43. 106 { cunso 0€ piReITO EMPRESARIAL 6.1 Requisitos essenciais Inicialmente, vale a pena tratar dos requisitos essenciais, aqueles que nao podem. faltar em nenhuma hipétese, sob pena de nao estarmos diante de uma letra de cambio, mas de um documento qualquer sem tal forex. 6.1.1 Clausula cambial O primeiro requisito essencial, comum a todo titulo, éa identificagao do nome do titulo, chamada de clausula cambial. Diante da variedade de titulos de crédito, é funda: mental verificar qual ¢ 0 titulo que esta representado naquele documento e nada mais logico do que caracterizé-lo pelo proprio nome, escrito na mesma lingua em que sera redigido o titulo, nio se admitindo o uso de expressdes equivalentes"’.O texto do art. 12 da LUG afirma que 0 primeiro requisito é a palavra letra, seguindo literalmente o texto da traducao portuguesa”. Na Argentina, admite-se a substituigdo do nome do titulo pela indicagéo da cldusula a ordem®, Nesse ponto, jd surge um problema decorrente da inadequada tradugao do texto da LUG. A expresso letra efetivamente designa o titulo em Portugal, mas nao é tradigio do Brasil. Aqui sempre se usou a expressio letra de cémbio, e nao simplesmente a expres- sto letra, Em razao disso, Joo Eundpio Borges entende ser imprescindivel a mengio completa letra de cdmbio". No mesmo sentido, para Fran Martins® a tradugio portu- jguesa vale para aquele pais, e nao para o Brasil 40, PAVONELA ROSA, Antonio. La letta de cambio, Traduyiv de Osvaldo}. Maia. Buenos Altes: Abeledo- Poert, 1988, p 105. 41, ASQUINI, Alberto. itl di credito. Padova: Cedar, 1966, p. 179. Em sentido conteir MESSINEO, Francesco. Manuate di dirto civil e commerciale 9. ed, Miso: Gillie, 1972,¥. 5, p- 343, 42, PITAO, José Antonio de Franga. Letras ¢lvrancas. 3. ed. Coimbra: Almedina, 2006, p. 25; FURTADO, Jorge Henrique da Cruz Pinto, Tituls de ert. Coimbra: Almedina, 2000 p. 128 43, BONFANT, Mario Alberto; GARRONE, José Alberto, De los ttulos de ent, 2. ed, Buenos Altes Abeledo- Prvot, 1976p. 229. 44. BORGES, Joto Eundpio. Taos de edit, 2. ed, Rio de Janeio:Forense, 1977, p54 45. MARTINS, Fran, Titulo de ert. 5. ed, Rio de Jancto:Forense, 1995.1, p. 79. No mesmo sentido: MERCADO JUNIOR, Antonio, Nova lei cambiale nove li do cheque 3, ed, Sko Paul: Saraiva, 1971, p. COSTA, Wille Duarte. Titulos de crédito. Belo Horizonte: Del Rey, 2008, p. M7; ROQUE, Sebastio José Titlos de crit, Sao Paulo: [eone, 1997, p. 8; FREITAS, Ca Feitosa, Tialos de crédito, Goitna: AB, 2000, 117: PIRES, José Paulo Leal Ferrera, Titus deena 2.e, So Paulo: Malheitos, 2001, p. 4; GONGALVES, Victor Eduardo Rios. Titulos de crédito e contratos mercantis, 3. ed. Sto Paull: Saraiva, 2007, p. 27: MARTINELLI Jodo Carlos José. Manual dos ttuls de erélito. und: Literart, 2000, p. 40 BULGARELLI. Waldo, Titlos de crédito. Led, Sao Paulo: Atlas, 1998, p. 145: NEGRAO, Rican. Manual de dretoco- ‘mercial e de empresa. So Pal: Saraiva, 2010, x2. 60. Levan 0¢ chwevo: nogoes cénas | 107 ‘A nosso vera razio esti com Fabio Ulhoa Coelho, Gladston Mamede e Luiz mya da Rosa fnior que entendem que Dalavra Tetra deve ser considerada suficien- ryeire, esse 0 texto da let incorporado 20 Brasil Nao se pode exigit mais do que we tc aapressamente no texto da fel. Be quae Forms, ¢ aconselhavel para evitar problemas 0 uso da expressio letra de cambio. 6.1.2 Aordem de pagamento Naletra de cémbio, seu criador (sacador) dé uma orcdem para que o sacado efetue « pagamento a0 beneficirio. Assim sendo,¢ “gbvio que essa ordem de pagamento deve aaa do teor literal do documento, O texto do at. IF da LUG afirma que 0 requisite seria "o mandato puro e simples de pagar wma quanttt determinadda’, 0 que representa sey um eqivoco de traducao. Nao ha que falar er rmandato, uma vez.que nao se est cogitando de uma representagio, massim de imandado, de ordem incondicional de pagar determinada quantia™ vatém do aspecto imperative que deve constar do titulo, é fundamental que se indique a quantia a ser paga, por extenso ou em algarismos, na medida em que nao txiste qualquer determinacao legal. Havendo wna ddivergéncia entre 0 valor numérico co valor por extenso, prevalece o valor por extenso, Havendo divergéncia entre dois «a ares excritos por extenso ou entre dois valores escritos € algarismos, valerd 0 menor valor. ‘A principio valor de uma letra de cambio brasileira deverd ser expresso em reals, tendo em vistaa proibicao genérica de obrigayoes assumidas em moeda estrangeita NO Feng ein, 10-192/2001 ~ art 1 CC ~ art 318) Todaviae pelo uso que a letra de cam- trattem no coméecio internacional, é importante destacar qe tal vedagio possui uma eal excegdes, prevstas especialmente no Decreto-ei 857/69 ¢ no art, 62 da Lei. 8.880194. Portanto, as letras de cimbio poderdo, excepefonalmente, $6! cemitidas em moeda cestrangita, por exemplo, quando for sacada por devesor ‘credor que resida fora do Taal adver de obrigacio assumida no exterior for seferenié® ‘contratos de exportagio ou importagao", contratos de cambio ou envolver obrigagdo decorrente de arrendamen anereantl com base em captacio de recursos M0 eXteHoE esses casos, contudo, 0 Je. COELHO, Fabio Ulhoa Curso de direito comercial 8b 50 Paulo: Saraiva, 2008 v1. p. 3% 46 CTUNIOR, Lair Emygio ds ituls de crédte&ed Rio de Woe Renova, 2006. 123; BOITEUX aoe, Titus de crit Sao Pau: Dake, 2002p 61 NU AMEDE, Gladston, Direitoempresaral rie de edo? el, 0 Paulo: Alas, 2005135. 1 ve FURTADO. Jorge Henrique da Cruz Pint, Tiuls deere. Combes Almedina, 2000, . 131: COSTA, ‘Zine Duarte. Tita de crit. Belo Horizonte: De Rey, 2003 P18 8, REQUIAO, Rubens. Curso de direito comercial. 2 St Paulo: Saraiva, 1998, v.25 Ps 353: ees ain. Plor de iit V4.0 Sto Paul: Aas 1998 PM 18. 108 | cunso DE oIREITO EMPRESARIAL pagamento devera ser feito em moeda nacional pelo cambio do dia do vencimento ou do dia do pagamento (LUG — art, 41, primeira parte) Em moeda nacional ou moeda estrangeira, eventualmente 0 valor da letra de cambio. pode ser objeto de alguma indexacio, especialmente em periodos de grande inflacio®, Para Wille Duarte Costa, tal indexagdo nao seria possivel", diante da obrigatoriedade da indicagio do valor exato em dinheiro. Ousamos discordar dessa orientagao. A nosso ver, cexigit @ indicagdo apenas do valor exato em dinheiro é ser formalista demais, se pela indexagao é possivel chegar claramente ao valor a ser pago, nao se podem vislumbrar quaisquer problemas. Os titulos devem ter liquide ¢ ¢ssa liquidez nao ¢ afetada pela ia de um indexador, uma ver que 0 valor do titulo poderi ser obtido por simples célculos aritméticos, Por fim, é certo que no valor a ser pago é admitida a pactuagao de juros remunera- trios ou compensatérios (LUG ~ art. 5*) apenas nas letras com vencimento indetermi- nado (a vista ou a certo termo da vista). Em todo caso, a cliusula devers ser inserida pelo sacador e deverd identificar a taxa cobrada, sob pena de se considerar néo escrita, Além disso, 0 titulo pode definir o termo inicial da ineidéncia dos juros que, no siléncio, ser considerado o dia da emissio do titulo. Vale ressaltar que nos cheques (Lei n. 7.357/85 ~ art. 10) nos titulos atipicos (CC — art, 890) considera-se nio escrita a cliusula de juros. 6.1.3 Nome do sacado Por ser a letra de cambio uma ordem de pagamento, é claro que o titulo deve iden- tificar a quem a ordem ¢ ditigida, isto 6, 0 titulo deve identificar 0 sacado. O que se exige € a simples indicagao da pessoa do sacado, que deveri ser reconhecido pelo RG, CPF, CTPS, ou titulo de eleitor (Lei n. 6268/75)", nao sendo requisito a sua assinatura. Essa designagio do sacado nao Ihe traz qualquer responsabilidade, a qual decorrerd do ever: tual aceite firmado no titulo. Assim, a principio o sacado tem a liberdade de efetuar ou ‘no 0 pagamento. E, portanto, dever do sacador indicar alguém para efetuar esse pagamento. Essa indicagao pode recair em uma ou mais pessoas. Nesse caso, pode haver uma indicagio 49, ROSA JUNIOR, Luiz Emygiio da. Titulo de crit 4, ed. Rio de Janeiro: Renova, 2006p. 129. 50, FAZZIO JUNIOR, Waldo. Manual de dirito comercial So Paulo: Atlas, 2000, p. 396: ROSA JUNIOR, Liz Emygtio da Titulos de crédito, 4 ed. Rio de Janeiro: Renovar, 200, p. 125. 51. COSTA, Wille Duarte. Tau de crédito, Belo Horizonte: Del Rey, 2003, p. 48 52 ‘Tal norma exge a idntificagio do devedor, isto ¢, do acetante ou do emsitente da nota promiséria,¢ ‘io dos demais que langam sua assnatura (MARTINS, Fran, Titus de crita S64. Rio de Janeieo:Forenc 195, v. 1, p- 133). Letra ne camaro: nogoes cenas | 109 cumulativa (Romario, Edmundo ¢ Ronaldo), sucessiva (Romario € sucessivamente Edmundo) ou alternativa (Romério ou Edmundo), com a escolha ‘cabendo ao beneficisrio®. 6.1.4 Nome do beneficidrio As letras de cémbio nio podem ser titulos a0 portador e, por isso, € fundamental + paga (tomnador ou beneficivio). Deve-se apontar indicar o nome da pessoa que deve s Gquem tera lgitimidade para receber a prestacio al consignada, Tl legitimidade pode sor posteriormentetranslerida, mas no titulo deve constar necessariamente ese benef ciério original da prestagao. 6.1.5 Data de emissio ‘Também deve constar de uma letra de cambio a data na qual ela fol sacad Tal marco temporal € importante para afert, por exemplo a capacidade de 0 sacador se Tprigar no momento em que emia titulo. Am disso, tal data pode servis de refe- réncia para o vencimento do titulo, ou mesmo como marco da contagem de certos prazos referentes letra, como o prazo de um ano para apresentagao 20 sacado da letra cemitida vista 6.1.6 Assinatura do sacador Nos titulos de crédito, como a letra de cimbio, a fonte da obrigacdo cambiaria ¢ uma declaragio unilateral de vontade, a qual, obviamente, deve constar do documento. Nos, é requisito essencial da letra de cimbio a assinatura do sacador, vale dizer 3 declaragao unilateral de vontade aptaa fazer nascero titulo. Tal declaragio da vontade ddo sacador & chamada de saque ¢ representa a dectaracdo cambria necesséria para * Jetra de cambio. saque 6, portanto, a vontade necesséria e suficiente para fazer surgit a letra de cambio. ‘A representagio material dessa declaragio de vontade se di. com a assinatia do sacalor na corpo do titulo de crédito. A assinatura pode ser feta de proprio punho ou por meio de mandatério dotado de poderesespecins, em funco da reserva constanis a art 2 do Anexo Il da Lei Uniforme, mantendo-se em vigor os arts 1s, V, 8% segunda Fa. BONTANTI, Masi Alberto; GARRONE, Jost Alberto. De ls tituls de crédito 2. 68 Buenos Mee Soe 10%6: p 234; MARTINS, Fran, Titlas de criio 5. e, Rio de Janeiro: Frense, 1995, ¥.1P us. 110 # cunso v« oncITO EMPRESARIAL alinea, 11 ¢ 14 do Decreto n, 2.014/1908%, Nesse caso, deve-se mencionar que se trata de mandato®. Por meio desse saque, o sacador gatante a aceitagao e 0 pagamento do titulo (LUG ~ art. %), ou seja, seo sacado nao aceitar ou nio pagar a letra, o sacador tem o dever de cefetuar 0 pagamento. 6.2 Requisitos supriveis Além dos requisitos essenciais mencionados supra, a LUG indica outros trés cuja auséncia nao afasta necessatiamente a validade do documento como letra de cambio. Nesses casos, sta auséncia pode ser suprida por outros elementos da letra ou pela prépria Jei, Ha uma alternativa na lei, e ndo uma dispensa total do requisito, dai ser melhor falar em requisites supriveis 6.2.1 Local de emissao primeito requisito suprivel é o local de emissao, que serve especialmente para identificar a legislagio aplicével aquele titulo™. Tal requisito nao é essencial, na medida em que pode ser suprido pelo local préximo ao nome do sacador (normalmente o sew proprio enderego). Exige-se um (local de emissio) ou outro (local préximo ao nome do sacador). Nao havendo nenhuma indicacao, a letra é nula”, ou melhor, nao goza de efi- cécia cambial®, 6.2.2 Local de pagamento Também € considerado um requisito suprivel a indicacao do local do pagamento, {que serve para revelar ao beneficiario onde deve se apresentar com o titulo para recebé. -lo, Caso nao se mencione o lugar de pagamento, a letra deve ser paga no local ao lado do nome do sacado e que também seté considerado o seu domicilio. Nao havendo ne- nhuma das duas indicages, 0 documento nao vale como letra de cambio”. 51, MERCADO JUNIOR, Antonio. Nova lei cambiale nova tei do cheque. 3. ed. Sio Paulo: Saraiva, 1971, p.78-79. 55. SARAIVA, José A.A eambial. Rio de Janeiro: José Konfino, 1947, 1, p. 195, 56, ASQUINE Albert. tot di cedito, Padova: Cedatn, 196, p, 190 57. REQUIAO, Rubens, Curso de dirito comercial, 21. ed Sio Paul: Sativa, 1998, 2, p. 355: MARTINS, Fran, Tituas de enédita 5.4. Ro de lneio: Farense, 1905, 1 p. 129 58. ROSA JUNIOR, Laiz Emygdio da, Titulos de crédito. ed Rio de Janetu: Renova 2006, p. 145. 59. MARTINS, Fran. Titlos de crédito 5. ed. Rio de Janeiro: Forense,1995,¥. 1p. 128 Lerma ve chwaio: wagoes cenars | 111 6.2.3 Vencimento © tinico requisito apontado em lei que realmente ¢dispensivel éo vencimento, A principio, deve-se indicarem que momento aobrigagdo se tornardexigivel Todavia, caso Pretea nao informe quando o pagamento deve ser feito, a letra serd pagavel vista (LUG anit 22,2). Assim, independentemente da indicacao de um vencimento, o titulo er Sficdca cambial, pois se presume que o titulo vence contra apresentacio 20 sacado. MODELO DE LETRA DE CAMBIO | T wove ‘Vencimento em 25 de MABGO de 2018. | | RS 10.000,00 /AVINTE E cinco DIAS 00 MES DE MARGO DO ANO DE DOIS MUL E | [DEZOITO pagard por esta tinica via de LETRA DE ‘CAMBIO a JOHN BONHAM CPF/CNPJ 999.999,999-99 ou & sua ‘ordem, a quantia de | na praga de BRASILIA a: tn 25 oe gut de 2008 82 #2 | Jimmy Page (assinatura do sacador) _ __ ROBERT PLANT __ JIMMY PAGE _ Sacado Sacado _-888.886.888-88 Luin _ cPF/oNPy cer/enry fw Black Dog 1974 fun ck’ Rl 1980 lis Enderego Enderego 6.3. Titulo em branco [A presenca dos requisitos impostos por lei é necessiria em razao do formalismo que rege os titulos de crédito. Um documento s6 sera considerado um titulo de crédito se atender a todos os requisitos impostos em lei, Todavia, a verificagio da obediéncia a esses requisitos nio € necessaria desde a emissio do titulo. Os requisitos devem estar 112 £ curso 0€ oimeiTo EMPRESARIAL presente no momento da apresentaco do titulo para pagamento® 0 &"s completude aoevambial 6 condicao essencial para fazer valer crédito cambiério, nao fi para o nas- scamyo da obrigagao™: Portanto, € pereitamente possvel a emissio de um titulo em branco. Emitido o itlo em branco, isto é, sem todos os elementos exigidos pela legislacao, é certo que pode haver o preenchimento do titulo ao longo da sua vida, mas anies do cei do dreito, Esse preenchimento das lacunas da letra emitida em branco pode ter feito pelo proprio credor do titulo, que possui uma espécie de mandato (CC art S01) pata preencher o documento. Em todo eas, presume-se que 0s requisites foram lungados na época da criagdo do titulo (Decreto n, 2044/1908 ~ art. 3) ‘esse preenchimento,o credor deve agit dentro das condligses combinadas exPres- sa ou tacitamente com o devedor (Simula 387 ~ STF). Ha uma espécie de convencio, express ou técita, ue dé o poder de preencher os elementos faltantes, mas também irita os poderes do credor nesse preenchimento®. Caso o devedor emita o titulo em bronco, compete a ele, eventualmente, demonstrat que o preenchimento pelo credos [ot abusive. A principio, presume-se que o credor obedeceu a essa conven¢a0. isto é presume: ope a boa-fé do credor, competindo ao devedor a prova da mé-fé*. Demonstrada essa ia-fé, qualquer obrigagio presente no titulo se tornard inexigivel” OST ]afirmou que “Os riscos da emissio de cheque com claros recai particularmen te sobre seu emitente, considerando que inoponibilidade de excegio de abuso no preen- Chimento do cheque quando ele ¢ feito por terceiro portador de boa-fe", No caso em {clara nica alegagao de mé-fé fia utlizacio de data posterior a contraordem do cheques {que nto fot eonsiderado pelo ST] suficiente para caracterizar a mé-fé do portador que o preencheu. 7 Declaragoes cambiarias ‘Uma letra de cambio representa, em ditima anise, uma dectaragto de vontade do sacador (saque), no sentido de ordenar a0 sacado o pagamento de determinada quanta gm proveito do beneficléio. A par dessa decaracio, que sempre exist, poser surgit _ Go. ASQUINL, Albert. itll di credit. Padova: Cedam, 1966, p. 196 G1, BONELLI, Gustavo. Cambiale, Milano: Casa Faltsice Dottre Francesco Vall, 1930. 181.182 or jute ivr de"La completezza dla cambiale€esenzale er fr valee if eeito cambiario, non Per Ta nasita dellebbligazone G2. MARTORANO, Federico sol di credit, Napoli: Morano, 1970, p. 42 63. CALLEGARL Mia etal. Trattato di dirt commercials | ol di redito, Padova: Cedar, 2006.7 P $15; SARAIVA, Jose A.A cambial, Ri de Janeiro: José Konfino, 1947, v1. 201 ‘eh ST) 9 Tarma, REsp $98.891/G0, Rel Min, Cals Alberto Menezes Ditto, Re. p/ Acido Minto Humberto Gomes de Barros |. 184-200, DJ 12-6-2006, p. 473 66,_ ST) REsp 1647871/MT, Re. Min. Nancy Andrighi, 3*Turma, 23-10-2018 Dfe 26-10-2018 LeTRA be cAweio: nocoes cenass | 113, outras declaragoes de vontade na letra de cambio, com a intengdo de assumira obrigagao pelo pagamento do titulo (aceite), de transfert o titulo (endosso), ou de garantir o paga- ‘mento desse titulo (aval). Todas essas declaragdes de vontade que se fazem no titulo sio chamadas de declaragoes cambiais, saque € declaragao originéria e necesséria porque 0 titulo surge gragas a cle. O aceite, 0 endosso ¢ 0 aval sio declaragdes cambisrias eventuais ou sucessivas, na medida em que nao precisam existir em um titulo, As declaracdes secundirias nao sio requisitos de validade ou de eficécia da obrigacao cambial, Em todas elas é essencial a assinatura do declarante. As varias declaragdes que eventualmente sejam feitas na letra de cambio sio inde- pendentes entre si isto é, vicios ou problemas de uma das declaragdes no afetam as demais. Cada declaragao de vontade € auténoma e se mantém imune a problemas nas ‘outras declaragoes,

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