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Língua Portuguesa - Livro 4
Língua Portuguesa - Livro 4
PRÉ-VESTIBULAR
LÍNGUA
PORTUGUESA
4
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Jardim São Dimas – CEP 12245-030
São José dos Campos – SP
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Coleção PV
Copyright © Editora Poliedro, 2021.
Todos os direitos de edição reservados à Editora Poliedro.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal, Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ISBN 978-65-5613-119-1
Autoria: Edimara Lisboa, Maria Emília Martins, Marina Oliveira Felix de Mello Chaves e
Renato Gomes de Carvalho
19 Acentuação .....................................................................................................................................47
Introdução, 48 Revisando, 52
Fundamentos, 48 Exercícios propostos, 54
A nova reforma ortográfica, 49 Texto complementar, 62
Regras de acentuação, 49 Resumindo, 63
Ritmo e rima, 51 Quer saber mais?, 64
Variantes linguísticas no nível fonético, 51 Exercícios complementares, 64
Frente 2
15 Século XX: novas identidades literárias ...........................................................................................85
Uma nova conjuntura regionalista, 86 Revisando, 102
Guimarães Rosa e a linguagem de múltiplos significados, 87 Exercícios propostos, 104
Guimarães Rosa e a desmedida do seu fabular: o romance- Texto complementar, 124
mundo, Grande sertão: veredas e o olhar para o pequeno Resumindo, 125
em Primeiras estórias, 90 Quer saber mais?, 125
Literatura e experiência em Clarice Lispector, 94 Exercícios complementares, 126
Tendências da literatura contemporânea, 99
Concretismo: atualização da sensibilidade artística em face
do progresso material, 99
Neoconcretismo, 101
16 Literatura contemporânea..............................................................................................................143
A arte engajada dos anos 1960, 144 A opressão e a violência da vida urbana nos contos de
Ferreira Gullar e a poesia participante, 145 Rubem Fonseca, 149
O Tropicalismo, 146 O teatro brasileiro do século XX, 151
Os diversos caminhos da invenção literária A literatura africana de língua portuguesa, 152
no século XX, 147 A prosa poética de Mia Couto, 153
A ficção introspectiva de Lygia Fagundes Telles, 147 Misturando um e outro, os mestiços, 154
A bagagem lírica modernista de Adélia Prado, 148 Revisando, 155
A poesia do chão e as palavras em transe de Manoel de Exercícios propostos, 159
Barros, 148 Texto complementar, 176
A crônica e as tendências neorrealistas no conto brasileiro Resumindo, 177
contemporâneo, 149 Quer saber mais?, 177
A crônica como gênero literário e seu mestre Rubem Exercícios complementares, 178
Braga, 149
Gabarito.............................................................................................................................................193
FRENTE 1
17
tação (a decomposição em partes para criar uma nova palavra). No primeiro quadrinho,
o substantivo próprio “Osmar”, ressegmentado, forma duas palavras: “Os mar”. O artigo
“os” apresenta-se no plural, no entanto o substantivo “mar” está no singular, burlando
uma regra de concordância (artigo e substantivo concordam em gênero e número: “Os
mares”). No segundo quadrinho, em “Dois/berto”, a transgressão também ocorre, se
tomarmos “Berto” como substantivo (teríamos “dois bertos”). Nos exemplos de resseg-
mentação, o enunciador não levou em conta a etimologia de “Osmar” ou “Umberto” (os
dois vocábulos não são compostos). Trata-se, naturalmente, de humor, de brincadeira
com as palavras (ato lúdico – de ludus, jogo), mas que remete ao assunto deste capítulo:
concordância nominal.
Introdução E de tarde nóis cóie deiz ou doze saca de café e depois
nóis joga elas no caminhão.
A concordância nominal estuda as relações estabeleci-
[...] = variante popular
das entre o substantivo e os termos ligados a ele (relações
de gênero e número): Quando a falta de concordância entre o artigo e o
substantivo, a alteração fonética no pronome e a con-
Artigo Adjetivo
jugação verbal revelam um enunciador que não tem
domínio da norma-padrão da língua, temos uma variante
popular. Em um trabalho literário, o estilo em desacordo
com a norma-padrão da língua cria um efeito de vera-
cidade, isto é, faz crer que as personagens pertencem
Substantivo àquela situação. Transpondo o enunciado para a norma-
padrão, teremos:
E à tarde nós colhemos dez ou doze sacas de café e depois
as jogamos no caminhão.
[...] = variante em acordo com a norma padrão
Numeral Pronome
Se o desrespeito à concordância não for proposital, ele
deve ser evitado, pois prejudica a imagem do enunciador
A regra geral diz que o artigo, o pronome, o numeral e o ao dar a impressão de que este não possui competência
adjetivo concordam em gênero e número com o substantivo linguística para se expressar na norma padrão.
ao qual se referem:
Regras especiais
... de Petrópolis datam as minhas velhas reminiscências.
Para uso correto das primeiras regras especiais, leve
art. pronome adjetivo substantivo em conta os dois tipos de concordância:
Manuel Bandeira.
Concordância gramatical
As primeiras flores carregavam o perfume da novidade subst. masc. + subst. masc. = adj. masc. plural
subst. fem. + subst. fem. = adj. fem. plural
art numeral substantivo subst masc + subst fem. = adj masc plural
R.G.C.
adj. masc. subst. subst. fem. O padre encontrou surpreso o homem e as mulheres. = atrativa
sing. masc. sing sing.
pred do obj.
Atenção
substantivo
FRENTE 1
7
Anexo, em anexo
Meus amigos, gravidezes são caras!
Somente o primeiro varia; o segundo permanece como
substantivo está, por ser locução adverbial.
verbo
Eles vieram mesmo.
adjetivo
Atenção
Para facilitar o emprego de meio, use muito. Nos exemplos a seguir,
a palavra só funciona, respectivamente, como advérbio (sinônimo de DEPUTADO, NÃO ESTAVA
INCLUSA A CAIXINHA
apenas) e como adjetivo (sinônimo de sozinho). DO SENHOR?
– Só elas cantavam.
Elas estavam sós
Fig. 5 Lesa e incluso variam.
9
A mania de Alice era colecionar os enfeites de louça mais O médico atendeu o maior número de pacientes possível
grotescos possíveis. As previsões eram as melhores possíveis.
Ledo Ivo. Os resultados eram os piores possíveis
Ele escolhia as tarefas menos penosas possíveis.
Entretanto, quando acompanhado de expressões su Joaquim escolheu a mulher mais bonita possível
perlativas (o mais, a menos, o melhor, a pior), a concordância
do adjetivo “possível” com o artigo que as integra é mais Particípio + substantivo
aceita pela maioria dos gramáticos.
O particípio concorda com o substantivo ao qual faz
Os prédios devem ficar o mais afastados possível referência.
Ele trazia sempre as unhas o mais bem aparadas possível Organizadas as torcidas, cuidaremos da entrada no estádio.
Revisando
Texto 1 3 Analise a falta de concordância em cada texto e expli-
que suas consequências ou efeitos de sentido
Dobrin_Dobrev/Shuttestock.com
Eu só conheço os antigos elementos, que eram quatro,
e hoje andam às dúzias. Diz aqui que eu, se mergulho
numa polpa de azeite não saio incólume [ ]
ASSIS, Machado de. “Diálogo dos astros”. Balas de estalo.
Rio de Janeiro, 1883 Domínio público.
Carregadinho de flor
Aos pé de nosso sinhô
I o sangue de Jesus Cristo
11
Sangui pisado de dô 11 Leia o anúncio a seguir
Nus pé du maracujá
Tingia todas as flor Vai comprar foguete na Compre barato,
concorrência? compre
foguetes brasileiros
NASA
Eis aqui seu moço
A estoria que eu vi contá
A razão proque nasce roxa
A flor do maracujá.
Edson Haruki/Agência
Catulo da Paixão Cearense.
Espacia Brasileira
9 Cite as passagens em que se observa a transgressão
às regras de concordância nominal.
a) Quais os sentidos de pagar caro?
10 Como deve ser vista essa transgressão à luz do b) Em “Compre barato”, o vocábulo barato é invariá-
contexto? vel, pois funciona como advérbio. Crie uma frase
em que ele varie, dê a seguir sua classe gramatical.
Exercícios propostos
1 Cesgranrio “Noites pesadas de cheiros e calores 02 Sou testemunha de que eles falaram bastantes
amontoados ” coisas injustas.
Aponte a opção em que, substituídos os substantivos em 04 É proibida a presença de estranhos.
destaque, ca incorreta a concordância de amontoado: 08 Mandarei fazer os cartõezinhos numa pequena
A nuvens e brisas amontoadas gráfica do interior.
odores e brisas amontoadas. 16 Jânio Quadros proibiu o uso de lanças-perfumes
c nuvens e morros amontoados no Brasil.
d morros e nuvens amontoados. 32 Todos já sabiam o resultado, menas as duas irmãs
E brisas e odores amontoadas. de Rodolfo
Soma:
2 UEL Assinale a letra correspondente à alternativa
que preenche corretamente as lacunas da frase
apresentada 4 Cesgranrio Assinale a opção em que a concordância
Naquela prova só _______ questões muito _______ . nominal indicada entre parênteses não é aceita pela
A havia difícil de resolver. norma culta
havia – difícil de resolverem. A Aprecio a cultura e a história _ (europeia)
c havia – difíceis de resolver. Procure sempre comprar jornais e revistas _.
d haviam difíceis de resolver (brasileiros)
E haviam – difícil de resolverem. c Esses meninos estão com os pés e as mãos _.
(sujas)
3 UFSC Observe as palavras em itálico e assinale as d Encontrei as cadeiras e o sofá. (reformadas)
proposições corretas quanto à flexão E Essa professora contou-nos lendas e contos.
01 Usava camisa e calças verde-limão. (antigos)
13
12 Cesgranrio “Torna-se _, para o povo brasi- o que ela tinha de essencial Depois, chegou-se à posição
leiro, a percepção de que um estudo profundo se faz oposta, procurando-se mostrar que a matéria de uma obra
preciso, haja os índices altos da crimina- é secundária, e que a sua importância deriva das operações
lidade no país.” formais postas em jogo, conferindo-lhe uma peculiaridade
A opção que completa corretamente as lacunas é: que a torna de fato independente de quaisquer condi-
A necessário/vistos cionamentos, sobretudo social, considerado inoperante
como elemento de compreensão Hoje sabemos que a
b necessária/visto
integridade da obra não permite adotar nenhuma dessas
c necessário/visto
visões ; e que só a podemos entender fundindo texto
d necessário/vista
e contexto numa interpretação dialeticamente íntegra, em
E necessária/vista
que tanto o velho ponto de vista que explicava pelos fato-
res externos, quanto o outro, norteado pela convicção de
13 Fatec Assinale a alternativa que preenche correta que a estrutura é virtualmente independente, se combinam
mente as lacunas da frase, na sequência. como momentos necessários do processo interpretativo.
Regina estava indecisa quanto man Sabemos, ainda, que o externo (no caso, o social) impor-
dar faturas notas scais e se ta, não como causa, nem como significado, mas como
folha bastaria para o bilhete. elemento que desempenha certo papel na constituição
A meia; à; as; anexo; às; meia da estrutura, tornando-se, portanto, interno.
b meia; à; as; anexas; as; meia Neste caso, saímos dos aspectos periféricos da so-
c meio; a; às; anexo; às; meio ciologia, ou da história sociologicamente orientada, para
d meia; a; às; anexo; as; meio chegar a uma interpretação estética que assimilou a dimen-
E meio; a; as; anexas; às; meia são social como fator de arte. Quando isto se dá, ocorre o
paradoxo assinalado inicialmente: o externo se torna interno
e a crítica deixa de ser sociológica, para ser apenas crítica.
14 FEI Assinale a alternativa em que haja erro de concor
Segundo esta ordem de ideias, o ângulo sociológico adquire
dância uma validade maior do que tinha. Em ........, não pode mais
A Terminadas as aulas, os alunos viajaram ser imposto como critério único, ou mesmo preferencial,
b Esta maçã está meia podre pois a importância de cada fator depende do caso a ser ana-
c É meio-dia e meia. lisado. Uma crítica que se queira integral deve deixar de ser
d Dinheiro, benefícios pessoais, chantagens, nada unilateralmente sociológica, psicológica ou linguística, para
podia corrompê-lo. utilizar livremente os elementos capazes de conduzirem a
E Ajudaram no trabalho amigos e parentes. uma interpretação coerente.
Adaptado de: CANDIDO, Antônio Literatura e sociedade. 9 ed Rio de
Janeiro: Ouro sobre Azul, 2006.
15 Mackenzie Leia os períodos a seguir.
I. Pseudos-intelectuais são hipócritas e imorais. Considere o trecho abaixo extraído do texto
II. Seguem anexo a esta carta os documentos É o que tem ocorrido com o estudo da relação entre
solicitados. a obra e o seu condicionamento social, que a certa
III. No campeonato de vôlei do colégio, todas as me- altura chegou a ser vista como chave para compreen-
ninas estavam meio desanimadas. dê-la, depois foi rebaixada como falha de visão, e
talvez só agora comece a ser proposta nos devidos
Em relação aos períodos citados, assinale:
termos.
A se apenas I estiver correta.
Se a palavra relação fosse substituída por vínculo,
b se apenas II estiver correta.
quantas outras palavras no trecho teriam de ser modi-
c se apenas III estiver correta.
cadas para ns de correção gramatical?
d se todas estiverem corretas.
A Duas.
E se apenas I e II estiverem corretas
b Três.
c Quatro.
16 UFRGS 2018 Nada mais importante para chamar a aten- d Cinco.
ção sobre uma verdade do que exagerá-la. Mas também, E Seis.
nada mais perigoso, ........ um dia vem a reação indispen-
sável e a relega injustamente para a categoria do erro, até
que se efetue a operação difícil de chegar a um ponto de 17 UEL Assinale a letra correspondente à alternativa
vista objetivo, sem desfigurá la de um lado nem de outro que preenche corretamente as lacunas da frase
É o que tem ocorrido com o estudo da relação entre a apresentada.
obra e o seu condicionamento social, que a certa altu- As bandeiras agitavam-se, na comemoração
ra chegou a ser vista como chave para compreendê-la, pelos conquistados.
depois foi rebaixada como falha de visão, — e talvez só A alviverdes – troféis
agora comece a ser proposta nos devidos termos. b alviverde – troféus
De fato, antes se procurava mostrar que o valor e o c alvis-verdes – troféus
significado de uma obra dependiam de ela exprimir ou não d alviverdes – troféus
certo aspecto da realidade, e que este aspecto constituía E alviverde – troféis
20 IFSC 2017 Assinale a alternativa em que a palavra em 24 UFF Assinale a frase que encerra um erro de concor
destaque está empregada de forma CORRETA na fra- dância nominal
se considerando-se a norma padrão escrita. A Estavam abandonadas a casa, o templo e a vila
A Frederico recebeu uma carta com as fotos anexa. Ela chegou com o rosto e as mãos feridas
Elas mesmas assumiram a culpa e pagaram o prejuízo. Decorrido um ano e alguns meses, lá voltamos
Os alunos mesmo disseram à professora que que- Decorridos um ano e alguns meses, lá voltamos
riam ler mais um livro E Ela comprou dois vestidos cinza
Todos os formandos estavam quite com a mensali
dade da formatura. 25 PUC-Campinas A frase em que a concordância nomi-
E O acidente foi grave O motorista ficou com o braço nal está correta é:
e a perna quebradas. A A vasta plantação e a casa grande caiados há pouco
tempo era o melhor sinal de prosperidade da família.
21 UEL Está adequadamente flexionada a forma em des- Eles, com ar entristecidos, dirigiram se ao salão
taque na frase: onde se encontravam as vítimas do acidente
A Ele não deixou satisfeito nem a crítica, nem o público Não lhe pareciam útil aquelas plantas esquisitas
Todos achamos difíceis, nas provas de Física e Ma- que ele cultivava na sua pacata e linda chácara do
temática, a resolução das questões finais. interior
O sofá e a banqueta ganharam outro aspecto de Quando foi encontrado, ele apresentava feridos a per
pois de consertado. na e o braço direitos, mas estava totalmente lúcido.
A culpa deles aparecia como que inscritas em suas E Esses livros e cadernos não são meus, mas poderão
feições, denunciando-os. ser importante para a pesquisa que estou fazendo
E Ele considerou inúteis, na atual circunstância, as
medidas que ela sugeria. 26 FMIt Em todas as frases a concordância nominal se fez
corretamente, exceto em:
A Os soldados, agora, estão todos alerta.
22 EEAR 2017 Em relação à concordância nominal,
Ela possuía bastante recursos para viajar.
assinale a alternativa que completa, correta e respec
As roupas das moças eram as mais belas possíveis.
tivamente, as lacunas.
Rosa recebeu o livro e disse: “Muito obrigada”.
I. Seguem as faturas do empréstimo imobiliário. E Sairei de São Paulo hoje, ao meio dia e meia.
FRENTE 1
15
Texto complementar
Vícios de linguagem
Ambiguidade (ou anfibologia) Trata-se de uma sequência de sons desagradáveis que remetem a um
outro sentido não desejado:
Afonso Lima/Stock.xchng
clareza:
Meu pai brigou com minha tia por causa da sua posição radical. (posição
do pai ou da tia)
Barbarismo
Junior Gomes/Stock.xchng
Dois adjetivos para um substantivo A palavra “quite” concorda com o sujeito ao qual se refere; “pseudo” é
Quando há dois adjetivos para um substantivo, o critério é o seguinte: invariável.
Livros
y CHAMIE, Mário. Caravana contrária São Paulo: Geração, 1998.
y ALVES, Rubem. Palavras para desatar nós. Campinas: Papirus, 2012.
FRENTE 1
17
Exercícios complementares
1 EEAR 2017 Assinale a alternativa que não apresenta Há concordância nominal INADEQUADA em:
falha na concordância. A É proibida entrada em bueiros.
A Ainda que sobre menas coisas para nós, devemos ir. O menino achou bastantes moedas no bueiro.
As peças não eram bastante para a montagem do Ele escolheu mau lugar e hora para fazer a expedição.
veículo A primeira e a segunda expedições da tarde eram
Os formulários estão, conforme solicitado, anexo à bem-sucedidas.
mensagem.
Neste contexto de provas em que vocês se encon- 3 AFA Em relação à concordância ideológica, analise as
tram, está proibida a tentativa de cola orações a seguir.
I. “Há desenganos que fazem a gente velho.” (Ma-
2 IFSul 2017
chado de Assis)
ACHADO NÃO É ROUBADO II. Os sobreviventes, emocionados, abraçamos os
homens que vinham nos salvar
Fabrício Carpinejar
III. Essa turma é terrível! Como falam da vida alheia!
Não ganhava mesada, nem ajuda de custo na infância. IV. Os brasileiros gostamos de futebol.
Eu me virava como dava Recebia casa, comida e roupa
lavada e não havia como miar, latir e reivindicar mais nada Ocorre silepse de gênero e número, respectivamente,
aos pais, só agradecer. nas orações:
As minhas fontes de renda eram praticamente duas: A I e II apenas.
procurar dinheiro nas bolsas vazias da mãe, torcendo para II e IV apenas
que deixasse alguma nota na pressa da troca dos acessó- I e III apenas
rios, ou catar moedas nas ruas e nos bueiros. III e IV apenas.
A modalidade de caça a dinheiro perdido exigia
disciplina e profissionalismo. Saía de casa pelas 13h e 4 AFA Leia as frases a seguir.
caminhava por duas horas, com a cabeça apontada ao
meio-fio como pedra em estilingue. Varria a poeira com os I. “Paulo pegou o ônibus correndo.”
pés e cortava o mato com canivete Fui voluntário remoto II. “Sim, meu filho, neste momento tens meu consen-
do Departamento Municipal de Limpeza Urbana. timento para o casamento ”
Gastava o meu Kichute em vinte quadras, do bairro III “Nosso hino é o mais belo do mundo ”
Petrópolis ao centro. Voltava quando atingia a entrada do IV. “Há três meses atrás eu já previa o resultado.”
viaduto da Conceição e reiniciava a minha arqueologia Há vício de linguagem nas frases:
monetária no outro lado da rua.
A I, II, III e IV.
Levava um saquinho para colher as moedas. Cada
I, II e III apenas.
tarde rendia o equivalente a três reais. Encontrar corren-
I e III apenas
tinhas, colares e broches salvava o dia Poderia revender
II e IV apenas
no mercado paralelo da escola. As meninas pagavam em
jujubas, bolo inglês e guaraná.
Já o bueiro me socializava Convidava com frequência 5 UFJF O fragmento de texto a seguir, de André Macha-
o Liquinho, vulgo Ricardo. Mais forte do que eu, ajudava do, foi adaptado da seção Informática etc., do jornal
a levantar a pesada e lacrada tampa de metal. Eu ficava O Globo, de 30 de junho de 2003, p. 2.
com a responsabilidade de descer às profundezas do lodo. A vida antes e depois do computador
Tirava toda a roupa a mãe não perdoaria o petróleo
e da internet
do esgoto – e pulava de cueca, apalpando às cegas o
fundo com as mãos. Esquecia a nojeira imaginando as – Nunca usei nenhum software específico para por-
recompensas Repartia os lucros com os colegas que me tadores de deficiência, pois, mesmo com uma lesão num
acompanhavam nas expedições ao submundo de Porto nível muito alto, que me classifica como tetraplégica, tenho
Alegre. Lembro que compramos uma bola de futebol com preservados os movimentos de braços, mãos e dedos –
a arrecadação de duas semanas. explica, por e-mail [ ]
Espantoso o número de itens perdidos. Assim como os
No fragmento “[ ] tenho preservados os movimentos
professores paravam no meu colégio, acreditava na greve
de braços, mãos e dedos [...].”, o ajuste de exões em
dos objetos: moedas e anéis rolavam e cédulas voavam
“preservados” se explica por um processo de:
dos bolsos para protestar por melhores condições.
A concordância nominal com “braços”.
Sofria para me manter estável, pois nunca pedia di
concordância verbal com “movimentos”.
nheiro a ninguém. Desde cedo, descobri que vadiar é
também trabalhar duro. concordância nominal com “movimentos”
Disponível em: <http://carpinejar.blogspot.com.br/2016/06/achado-nao-e-
concordância verbal com “braços, mãos e dedos”.
roubado.html>. Acesso em: 22 jun. 2016. E concordância nominal com “dedos”.
19
mais de salário. Além disso, o estudo também mostrou que O texto a seguir refere-se às questões 12 e 13
quem completou o Ensino Fundamental tem 35% a mais
Minhas mãos, escolhendo um livro que quero levar
de chances de ocupação que um analfabeto. Esse número
sobe para 122% na comparação com alguém que tenha o para a cama ou para a mesa de leitura, para o trem ou para
Ensino Médio e 387% com Ensino Superior dar de presente, examinam a forma [ ]
Diante disso, o direito do acesso à Educação é o
ponto de partida na formação de uma pessoa e, conse- 12 UFJF A forma verbal examinam está subordinada a mi-
quentemente, no desenvolvimento e prosperidade de uma nhas mãos por um princípio de:
nação. Não obstante os avanços alcançados pelo Brasil A regência verbal.
nas duas últimas décadas, ainda há importantes desafios concordância nominal.
a superarmos no que tange esse direito. Se por um lado concordância em número e gênero.
conseguimos universalizar o atendimento escolar no Ensi- colocação pronominal
no Fundamental, temos ainda, por outro lado, 2,8 milhões
E concordância em número e pessoa.
de crianças e jovens de 4 a 17 anos fora da escola. Isso
corresponde a um país do tamanho do Uruguai O desafio,
em termos de acesso, é a universalização da Pré-Escola 13 A forma pronominal minhas está subordinada a mãos
(crianças de 4 e 5 anos) e do Ensino Médio (jovens de 15 por um princípio de:
a 17 anos) A regência verbal
Há outro desafio em jogo: o de como motivar 5,3 concordância em gênero e número.
milhões de jovens de 18 a 25 anos que nem estudam concordância em gênero.
e nem trabalham, a chamada “geração nem-nem”, para colocação pronominal
trazê-los de volta à escola e, posteriormente, incluí-los no E concordância em número e pessoa.
mundo do trabalho. Isso é essencial para um país que pas-
sa por um bônus demográfico que se completará, segundo
14 UFC Analise os termos dos parênteses que acompa-
os especialistas, em 2025 O país, para seu crescimento
econômico e sua sustentabilidade, não poderá abrir mão
nham cada uma das frases da coluna 1 e complete a
de nenhum de seus jovens. coluna 2 e a 3, de acordo com os códigos a seguir.
No Ensino Superior, o desafio não é menor O Brasil Código para coluna 2
tem apenas 17% de jovens de 18 a 24 anos matriculados I se só uma forma completar corretamente a frase
nesse nível de ensino. Em conformidade com o Plano II. se ambas as formas completarem corretamente a
Nacional de Educação (PNE), o país precisará dobrar frase.
esse percentual nos próximos dez anos, ou seja, chegar a Código para coluna 3
33%. Para se ter uma ideia da complexidade dessa meta, (1) sujeito composto de gêneros diferentes leva o
esse era o percentual previsto no PNE que se concluiu predicativo para o masculino plural.
em 2010 Isso exige sem que haja perda de qualidade (2) substantivos sinônimos levam o adjetivo a con-
com essa expansão – que a educação básica melhore
cordar com o substantivo mais próximo.
significativamente, tanto em acesso como em qualidade,
(3) “mesmo/próprio/só” concordam com a palavra a
tomando como referência os atuais índices de aprendi-
que se referem.
zagem escolar.
O acesso à Educação é, portanto, ainda um desafio (4) adjetivo posposto a dois ou mais substantivos de
e, caso seja efetivado com qualidade, poderá contribuir gêneros diferentes vai para o masculino plural ou con-
decisivamente para que o país reduza o enorme hiato corda com o mais próximo.
que separa o seu desenvolvimento econômico, medido (5) adjetivo anteposto a dois ou mais substantivos
pelo seu Produto Interno Bruto – PIB (o Brasil é o 7° PIB concorda com o substantivo mais próximo.
mundial) e o seu desenvolvimento social, medido pelo
seu Índice de Desenvolvimento Humano – IDH (o Brasil Coluna 1 Coluna 2 Coluna 3
ocupa a 75ª posição no ranking mundial). Somente quan-
Alzira tinha crença e fé em seu pai,
do o país alinhar esses índices nas melhores posições do Getúlio Vargas. (exagerada/exagerados)
ranking mundial, teremos de fato um Brasil com menos
desigualdade e menos pobreza. Para que isso aconteça, A Era Vargas foi uma época de atitu-
não se conhece nada melhor do que a Educação. des e comportamentos (novas/novos)
Disponível em: <http://istoe.com.br/o-acesso-educacao-e-o-ponto-de-
partida/>. Acesso em: 20 mar. 2017. Às vésperas daquele 24 de agosto, esta-
vam o presidente e sua segurança
Se a palavra desao (1o período, 4o parágrafo) fosse (desorientados/desorientadas)
exionada no plural, quantas mais alterações seriam
Alzira, ela _, retirou do palácio todos
necessárias na frase para manter a correção sintática? os pertences de seu pai. (mesmo/mesma)
A Uma.
Duas Pessoas se aglomeravam em casa e pré-
Três. dio para ver o esquife do presidente.
(antigo/antigos)
Quatro.
física, mas esse meio de comunicação não é impeditivo de d Seguem anexo os documentos do processo.
falante e ouvinte, a cada passo, trocarem de papéis e até E Todos devem ficar alerta para a questão do
mesmo de falarem ao mesmo tempo, configurando, pois, desmatamento.
21
17 Col. Naval 2016 Assinale a opção INCORRETA com relação ao emprego do gênero do substantivo em destaque.
A Se meus filhos desejarem, farei a musse de maracujá para a sobremesa desta noite.
Assim que o veterinário examinou o pobre cão, sentiu muito dó, comovendo-se bastante.
A próxima eclipse ocorrerá no final deste mês, à noitinha, mas somente no Sudeste.
Como todos sabem, o plasma é fundamental na cura de certas doenças graves.
E Trouxeram o champanhe que eu encomendei, há dias, para o jantar de hoje?
18 Uneb Assinale a alternativa em que, pluralizando-se a frase, as palavras destacadas permanecem invariáveis:
A Este é o meio mais exato para você resolver o problema: estude só.
Meia palavra, meio tom – índice de sua sensatez.
Estava só naquela ocasião; acreditei, pois em sua meia promessa.
Passei muito inverno só.
E Só estudei o elementar, o que me deixa meio apreensivo.
19 IFSP 2016 De acordo com a norma-padrão da Língua Portuguesa e a gramática normativa, com relação às concordâncias
verbal e nominal, observe as placas apresentadas e, em seguida, assinale a alternativa correta.
A
18
o recurso da metonímia, uma realidade que ainda existe no país: a venda de votos. A frase
“vendem-se votos” está correta do ponto de vista da norma culta, pois votos é o sujeito da
oração (voz passiva: “votos são vendidos”) e o verbo está no plural fazendo a concordância.
Mas nem sempre há o acerto; é comum, em ruas e praças principalmente, placas com erro
de concordância: o verbo está no singular e o sujeito no plural (por exemplo, vende-se casas).
Contudo, o erro possui uma explicação:
a) o sujeito, representado por um substantivo, costuma vir à esquerda do verbo – o
substantivo, neste tipo de estrutura, costuma estar à direita;
b) o sujeito costuma ser agente – o substantivo, neste tipo de estrutura, é sujeito paciente.
Introdução b) Distância entre sujeito e verbo
A todo momento, utilizamos a concordância verbal. En- Coloquial
tretanto, a desobediência à norma culta prejudica a imagem A torcida dos clubes paulistas, que estavam em péssima
de quem enuncia. Para formar a concordância, há uma regra colocação no campeonato, quebraram toda a arquibancada.
geral e uma série de normas específicas. A primeira é a mais Culto
cobrada e a mais empregada; segundo a gramática, o verbo A torcida dos clubes paulistas, que estavam em péssima
concorda em número e pessoa com o sujeito Por exemplo: colocação no campeonato, quebrou toda a arquibancada.
[ ] esse teu vestido de pregas te vai muito bem c) Ordem indireta e distância entre sujeito e
núcleo do sujeito verbo verbo
3a pessoa do 3a pessoa do
singular (ele) singular Coloquial
Resta, após um longo debate entre o povo e o governo,
Cecília Meireles.
esperanças de que as coisas melhorem.
Na frase acima, o verbo ir concorda com o núcleo do Culto
sujeito vestido em número (singular) e pessoa (3a). A falta Restam, após um longo debate entre o povo e o governo,
de concordância é comum na linguagem oral e em certos esperanças de que as coisas melhorem.
textos que procuram reproduzir a fala coloquial. veja este
fragmento de As mariposa, música de Adoniran Barbosa: d) Plurais vizinhos ao núcleo do sujeito que
está no singular
As mariposa quando chega o frio
Fica dando vorta em torno das lâmpida prá se esquentá Coloquial
A educação destas pessoas impediram um mal maior
No trecho citado, o erro de concordância verbal (o
verbo ficar no singular) e o de concordância nominal (As Culto
mariposa) revelam uma característica social da persona- A educação destas pessoas impediu um mal maior.
gem. A linguagem empregada é compatível com o falar e) Na voz passiva sintética
popular, e a enunciação faz crer que se trata de gente sim-
ples. Na linguagem culta, por outro lado, teremos: Coloquial
Aceita-se passes.
As mariposas, quando chega o frio, Vende-se churros
Ficam dando volta em torno das lâmpadas.
Regras
Regra geral – sujeito simples Fig. 2 Voz passiva sintética.
Embora a regra seja relativamente fácil – o verbo con-
Culto
corda em número e pessoa com o sujeito –, os exames
Aceitam-se passes.
podem impor algumas dificuldades. Vejamos algumas delas:
Vendem-se churros.
a) Ordem indireta
Sujeito composto
Coloquial
Chegou, ontem à noite, vinte turistas. a) Em ordem direta
Nasceu, no dia 7, duas meninas. Se os sujeitos estiverem na terceira pessoa, o verbo
vai para a terceira do plural
Culto
Chegaram, ontem à noite, vinte turistas. As almofadas e o banco chegaram
Nasceram, no dia 7, duas meninas
© Pavalache Stelian Dreamstime.com
Alanta/Dreamstime.com
Suco de uva, caviar, praia, gente bonita; tudo estava em “que as visitas não foram bem-sucedidas” é sujeito
um só lugar: no livro. (oração subordinada substantiva subjetiva).
Maxim KazmiN/123rf.com
2a 3a 2a pl.
ou
Tu e ele visitaram o hospital
2a 3a 3a pl
ou
A maioria dos marginais saíram.
25
Relativos que e quem b) Fenômeno temporal
O relativo que, na função de sujeito, faz com que O verbo é impessoal, conjugado apenas na terceira
o verbo concorde com o antecedente desse pronome;
do singular.
quanto ao quem, o verbo pode concordar com o antece
dente ou na terceira do singular (concordando com este
ou
Somos nós quem pagou a cerveja. (o verbo “pagar” con-
corda com o pronome “quem”)
economia do país.
Atenção
Em outros sentidos, os verbos “haver” e “fazer” aceitam
plural (há sujeito).
Essa estrutura só é possível com verbos transitivos indi- É comum o verbo no singular no caso de obras literárias, pois os
autores concordam com a ideia de obra, livro Trata-se de silepse
retos, intransitivos e de ligação. Para mais detalhes, consulte
(Os Lusíadas é...)
a aula sobre a partícula se.
27
b) No plural Verbos dar, bater e soar
... hajam vista os dólares que gastaram!
a) Se o termo relógio (torre, igreja etc.)
Verbo parecer seguido de infinitivo é sujeito da oração, verbo no singular
b) Flexiona-se o infinitivo
Os homens parece sofrerem de um mal desconhecido.
(parece = oração principal)
Os homens sofrerem de um mal desconhecido = oração
subordinada substantiva subjetiva (= sujeito oracional; exige
que o verbo da oração principal esteja no singular).
b) No plural
Têm (ter), vêm (vir), veem (ver), detêm (deter), retêm
Fig. 9 “Relógio” é sujeito da oração, e o verbo permanece no singular.
(reter), intervêm (intervir).
Os professores da escola que detêm um patrimônio de
b) Se o sujeito é o número de horas, o verbo
100 mil reais estavam fora da greve.
concorda com o número
Atenção Deram três horas agora na torre.
Não só a criança mas também o adulto sofrem com a h) Indicação de tempo ou espaço
insensibilidade das autoridades. Ao usar horas, datas e distâncias, o verbo ser concorda
com o número.
Concordância com verbo ser
São quatro horas.
É uma hora e vinte.
a) Sujeito representado por pronomes
São vinte de agosto
Ao representar o sujeito utilizando-se tudo, o, isto, isso São vinte metros
ou aquilo, concorda-se com o predicativo no plural.
Na indicação de dia, pode-se utilizar o singular concor
Tudo são ilusões. dando com a palavra dia subentendida
Aquilo são atos desonestos.
É dia seis de março.
b) Sujeito representado por nome próprio É seis de março.
pronome.
O verbo vai para a primeira pessoa do plural, pois
Maria és tu? o enunciador se inclui no todo. Alterou-se apenas a
Os professores sois vós. pessoa.
29
c) Gênero
Na ilustração a seguir, o pronome de tratamento pede feminino; no entanto, concorda-se com a ideia: o presidente
é homem (angustiado). Alterou-se apenas o gênero.
Vossa Excelência
está angustiado?
Com exceção do terceiro exemplo (Vossa Excelência), a silepse só deve ser utilizada em linguagem escrita quando
empregada em textos literários
Revisando
Texto para as questões de 1 a 3. 3 A transgressão à norma no texto visa a um objetivo
Explique.
Chegô a noite. E também o frio. Nóis ia aguentá
por quanto tempo? Veio os policial com pergunta que
nóis nem precisava respondê
Eles não queria “vagabundo” parado ali. Mas nóis
não é vagabundo, só farta um lugar pra dormi. Amanhã
cedinho tem batente.
Então passamo a noite num lugar mais afastado.
Nóis vortô atrás e topô o desconto no salário para dor Texto para as questões 4 e 5.
mi no alojamento do cantero de obra. Haviam, nas eleições, duas forças antagônicas e re-
sistentes; mas a política vive da oposição, afinal, é da
1 Cite passagens em que se nota transgressão às re- oposição que nasce a síntese. Houve guerras mundiais, e
gras de concordância verbal. assim escreveu a história: oposições, sínteses, novas teses
e novas oposições a essas teses que geraram novas teses.
Devem haver outras formas de dialética, mas essa me pa-
rece a mais simples. Ou não?
takahuli.production/Shutterstock.com
6 Veja a placa a seguir.
31
Exercícios propostos
Texto para a questão 1. cultura hip hop costuma ser assimilada como uma fala
histórica essencialmente crítica por uma juventude com
Olhos de ressaca tão escassas vias de fuga ao sempre igual. Quando, por
[ ] Momento houve em que os olhos de Capitu fi- exemplo, jovens de uma favela brasileira incorporam esta
taram o defunto, quais os da viúva, sem o pranto nem linguagem tornada universal, por mais que a sua reali-
palavras desta, mas grandes e abertos, como a vaga do dade seja diferente daquela dos marginalizados do país
mar lá fora, como se quisesse tragar também o nadador de origem, a forma permanece associada a um conteúdo
da manhã crítico – uma visão de mundo subalterna e frequente-
Machado de Assis. Dom Casmurro. mente subversiva.
O rap é hoje uma forma de expressão comunitária,
por meio da qual se comunicam e afirmam sua identidade
1 Faap-SP “Momento houve em que...” habitantes dos morros e comunidades populares. /.../
Com momento no plural, poderíamos escrever corre- O surgimento do movimento hip-hop nos remete ao
tamente assim: contexto no qual estavam inseridos os Estados Unidos dos
A momentos houveram anos 60 e 70, no auge da Guerra Fria. Foram anos de ten-
momentos houve são e muita agitação política. O descontentamento popular
C momentos existiu. com a guerra do Vietnã somava se à pressão das comuni
momentos ia existir. dades negras segregadas, submetidas a leis similares às do
E momentos iam haver. apartheid sul-africano. O clima de revolta e inconformismo
tomava conta dos guetos negros / /
2 UEL Assinale a letra correspondente à alternativa que Na trilha da agitação política ocorriam inovações
culturais. Nos guetos, o que se ouvia era o soul, que foi
preenche corretamente as lacunas da frase apresentada.
importante para a organização e conscientização daquela
As delegações que participar dos jo-
população / ./ No mesmo período surge uma variedade
gos chegarão amanhã.
de outros ritmos, como o funk, marcados por pancadas
A latinas-americanas – veem
poderosas que causavam estranhamento aos brancos, letras
latinas-americanas vem
que invocavam a valorização da cultura negra e denuncia-
C latino americanas vêm vam as condições às quais eram submetidas as populações
latinos-americanas – vêm dos guetos. O soul e o funk foram as bases musicais que
E latinos-americanas – vem permitiram o surgimento do rap, que virá a ser um dos
elementos do movimento hip-hop.
3 UEL Assinale a letra correspondente à alternativa que Por essa época ou um pouco antes, jovens negros já
preenche corretamente as lacunas da frase apresen dançavam [o break] nas ruas ao som do soul e do funk
tada. de uma forma inovadora, executando passos que lembra-
É bom que se ______ os convites ainda hoje, embora vam ao mesmo tempo uma luta e os movimentos de um
______ acrescentar alguns nomes à lista. robô. /.../
A enviem seja preciso Finalmente, além da música e da dança, propagava-se
enviem sejam precisos pelos guetos, ainda, o hábito de desenhar e escrever em
C enviem – sejam preciso muros e paredes. /.../ Nesse contexto de efervescência
envie – seja preciso político-cultural, grafiteiros, breakers e rappers começa
E envie – sejam precisos ram a se reunir para realizar eventos juntos, afinal suas
artes estavam relacionadas a uma experiência comum, a
cultura de rua / ./
4 FGV Frase de referência: “Conheci Marcos Rey há mais Por volta de 1982, o rap chegou ao Brasil, fixando-se,
de vinte anos, quando sonhava tornar me escritor”. sobretudo, em São Paulo. /.../
Transcreva essa frase, mas substitua o verbo haver Nos últimos anos da década de 90, o rap brasileiro
pelo verbo fazer. ultrapassou os limites da periferia dos grandes centros e
chegou à classe média. /.../ O rap de caráter mais comer-
5 EPCar 2019 cial passou então a ser amplamente difundido pelo país, ao
mesmo tempo em que, em sua forma marginal, a lingua
Rap: uma linguagem dos guetos
gem continuava a se desenvolver nos espaços populares.
Entre as vozes que se cruzam na cacofonia urbana Há que se destacar o caráter inovador do rap nacional,
da sociedade globalizada, há uma que se sobressai pela que reelabora, de forma criadora, a partir de tradições
sua radicalidade marginal: o rap. A moderna tradição populares brasileiras, a linguagem dos guetos norte-ame-
negra dos guetos norte-americanos é, hoje, cantada pelos ricanos, mesclando o ritmo do Bronx a gêneros como o
jovens das periferias de todos os quadrantes do globo samba e a embolada / ./
Mas diferentemente das estereotipias produzidas pela Não se trata, no entanto, de idealizar o hip-
nação hegemônica e difundidas em escala planetária, a -hop como forma de conhecimento. O movimento,
do jornal? o céu.
b) Explicite o comentário que está sugerido, neste E Do céu estrelado, em amplexo com a terra, é que
caso específico, pela expressão “Sem comentários”. nascerá todos os seres viventes.
33
14 Fuvest Assinale a alternativa que preenche correta- poucas aprovações, visto que apenas
mente as lacunas da frase apresentada. 1% deles adequadamente.
Dessa forma, _________ estimular as obras do metrô, A haja – preveem-se – deva haver – preparam-se
uma solução não poluente, ecácia supera sejam – prevê-se – hajam – prepararam-se
a de outras modalidades de transporte C haja prevê-se ocorrerão se preparou
A impõem-se – da qual a concorram preveem-se haja se preparou
impõe-se – que a E se tratem – prevê-se – ocorram – se preparou
C impõe-se – cuja
impõe-se a qual a 20 UFRGS (Adapt.) Leia o texto a seguir.
E impõem-se cuja
[...]
Foi no leste do continente africano, precisamente
15 ITA Observe a concordância verbal nas frases a seguir no deserto de Awash, na porção central da Etiópia,
e assinale a alternativa correta. que uma equipe de pesquisadores norte-america-
I. Qual de nós contaremos a verdade? nos e etíopes _________ os fósseis mais antigos do
II. Dois terços dos coveiros receberam aumento salarial. homem moderno (Homo sapiens) São três crânios
III No relógio da escola bateu onze horas, então saí – dois de adultos e um de uma criança de aproxi-
mos para o pátio. madamente 7 anos – e mais alguns dentes de outros
IV. Não devem haver muitas áreas verdes neste bairro. sete indivíduos, encontrados entre ossos de hipopó-
tamos e antílopes e ferramentas de pedra Com cerca
A Somente a frase I está correta. de 160 mil anos, segundo a datação com argônio,
Somente a frase II está correta. os crânios guardam semelhanças com o do homem
C As frases I e II estão corretas. moderno: face mais achatada e caixa craniana em
As frases II e III estão corretas. forma de globo. No entanto, traços mais primitivos,
E As frases III e IV estão corretas como os olhos mais ________ um do outro, leva-
ram os pesquisadores a classificar os crânios como
16 ITA Indique a alternativa em que há erro gramatical. sendo de Homo sapiens idaltu, uma subespécie do
A Os estudantes estamos sempre atentos a reformas. H. sapiens. ________ em conjunto, essas características
Nós fomos o cabeça da revolta. colocam esses hominídeos nas raízes da árvore evoluti-
va humana e são um reforço às evidências genéticas de
C Tu o dissestes, redarguiu ele
que o homem moderno surgiu na África ainda não se
Caro Diretor, sois o timoneiro necessário a esta em-
sabe se em apenas uma ou em mais regiões – e depois
presa.
migrou para os outros continentes, o oposto do que
E Vossa Excelência fique avisado de que o caso é
______ as teorias que sugerem que as primeiras carac-
grave.
terísticas do H sapiens apareceram quase ao mesmo
tempo em diferentes pontos do planeta.
17 UFV “Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimen Os mais antigos homens modernos. Pesquisa Fapesp, n 89, jul 2003
to, até paixão é fácil.” As gramáticas diriam que esta p.28. (Adapt.)
flexão verbal está correta porque o sujeito é: Assinale a alternativa que preenche correta e respec-
A composto de diferentes pessoas gramaticais. tivamente as lacunas do texto
constituído de palavras mais ou menos sinônimas. A descobriram; afastado; Analisadas; prevêm
C posposto ao verbo. descobriu; afastados; Analisadas; preveem
ligado por preposição. C descobriu; afastados; Analisada; preveem
E oracional. descobriu; afastado; Analisada; preveem
E descobriram; afastados; Analisadas; prevêm
18 UEL Assinale a alternativa que preenche corretamente
as lacunas da frase apresentada. 21 PUC-PR Assinale a alternativa em que a frase pode
Peço a V. Exa. que o atraso do encami- ser completada por qualquer das formas verbais
nhamento de ________ pedido, o que só ontem colocadas nos parênteses
________ foi apresentado. A A maior parte do povo o deputado.
A desculpeis vosso vos (aplaudiu/ aplaudiram)
desculpe vosso lhe Nenhum dos alunos ________ no exame. (passou/
C desculpeis – seu – vos passaram)
desculpe – seu – lhe C Os Estados Unidos guerra também ao
E desculpe – vosso – vos Líbano. (declarou/ declararam)
___________ haver umas 200 pessoas na praia.
19 Assinale a opção que preenche correta e respectiva (deveria/ deveriam)
mente as lacunas. E Já o prefeito e seus assessores
Embora muitos candidatos, que (chegou/ chegaram)
35
Muito dinheiro enterrado sumiu-se misteriosamente relações com a mucama de sua predileção, mandou ma
Joaquim Nabuco, criado por sua madrinha na casa-grande tá-lo pelo irmão mais velho.
de Maçangana, morreu sem saber que destino tomara a (In: Silviano Santiago (coord.). Intérpretes do Brasil, 2000.)
ourama para ele reunida pela boa senhora; e provavel-
A forma verbal destacada deve sua exão ao termo
mente enterrada em algum desvão de parede. […] Em
sublinhado em:
várias casas-grandes da Bahia, de Olinda, de Pernambuco
A “eu-me lá alguma cousa para guardar?” (2o pará-
se têm encontrado, em demolições ou escavações, boti-
jas de dinheiro Na que foi dos Pires d’Ávila ou Pires de
grafo)
Carvalho, na Bahia, achou-se, num recanto de parede, “Sucedeu muita dessa gente ficar sem os seus va-
“verdadeira fortuna em moedas de ouro”. Noutras ca- lores e acabar na miséria devido à esperteza ou à
sas-grandes só se têm desencavado do chão ossos de morte súbita do depositário.” (2o parágrafo)
escravos, justiçados pelos senhores e mandados enterrar C “esempenhou outra função importante na econo-
no quintal, ou dentro de casa, à revelia das autoridades mia brasileira: foi também banco.” (1o parágrafo)
Conta-se que o visconde de Suaçuna, na sua casa-grande “os grandes proprietários, nos seus zelos exage-
de Pombal, mandou enterrar no jardim mais de um negro rados de privativismo, enterraram dentro de casa
supliciado por ordem de sua justiça patriarcal. Não é de as joias e o ouro do mesmo modo que os mortos
admirar. Eram senhores, os das casas-grandes, que man- queridos.” (2o parágrafo)
davam matar os próprios filhos Um desses patriarcas, E “Às vezes dinheiro dos outros, de que os senhores
Pedro Vieira, já avô, por descobrir que o filho mantinha ilicitamente se haviam apoderado.” (2o parágrafo)
e
Texto complementar
Vícios de linguagem
Estrangeirismo Colisão
Trata-se de uma sequência desagradável de sons consonantais.
A tia tem tudo, tá? (excesso de “t”)
Arcaísmo
Reprodução
Trata-se da utilização de palavras ou expressões estrangeiras no lugar
de termos correspondentes da própria língua. Exemplos:
buquê: ramalhete
chofer: motorista
gafe: disparate
Solecismo
Trata-se do erro de sintaxe (regência, concordância ou colocação pro-
nominal).
“Haviam cinco homens no café”
em vez de:
“Havia cinco homens no café”.
“Me pega o cigarro!”
em vez de: Trata-se da utilização de palavras atualmente em desuso.
“Pega-me o cigarro!”
“Onde está o guarda-peitos?”
“Assisti o jogo”. em vez de:
em vez de:
“Onde está o sutiã?”
“Assisti ao jogo”
Resumindo
A concordância verbal estuda, principalmente, as relações estabelecidas entre o verbo e o sujeito É importante priorizar, além da regra geral, a concor-
dância do verbo haver, da palavra se, do sujeito composto, do sujeito oracional e do substantivo coletivo.
Sujeito simples
O verbo concorda em número e pessoa com o sujeito.
Pássaros metálicos bombardeiam Bagdá.
d) sujeito composto seguido de aposto recapitulativo: concorda com o aposto (“tudo”, “nada” etc.).
Morte, miséria, caos... nada sensibiliza o equivocado presidente norte-americano.
Sujeito oracional
Quando o sujeito for oracional, o verbo da oração principal deve permanecer na terceira do singular.
Parece que os democratas farão oposição sistemática a Bush, dizem os especialistas.
Observação: o sujeito de parecer tem início a partir da palavra que.
Pronomes de tratamento: Vossa Excelência, Vossa Santidade etc.
O verbo e os pronomes devem estar na terceira pessoa.
Vossa Excelência deseja o seu café na cama?
Substantivo coletivo e expressões partitivas (grande parte, maioria etc.)
Grande parte das vítimas fugia (ou fugiam) da guerra.
Verbos haver e fazer
a) haver – sinônimo de existir, acontecer: é impessoal, empregado na terceira pessoa do singular (oração sem sujeito).
Devia haver outras razões para o ataque americano.
Sim, havia bombas
b) haver e fazer com o sentido de tempo decorrido: impessoais, empregados sempre no singular (oração sem sujeito).
Faz vinte anos que aquele povo não respira a paz.
Há vinte anos que vive o inferno da guerra.
Verbos que denotam tempo, fenômeno da natureza
a) indicação de horas: o verbo concorda com o número de horas
São duas horas em Brasília.
b) fenômeno temporal: o verbo é impessoal, só na terceira pessoa do singular.
Chove na capital federal
A palavra “se”
a) partícula apassivadora: o verbo concorda com o sujeito
Roubam-se os cofres enquanto a rádio prevê bom tempo.
b) índice de indeterminação do sujeito: o verbo permanece no singular.
Precisa-se de livros para a população enxergar
Livros
y CACASO. Lero Lero. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2002.
y JESUS, Carolina Maria de Quarto de despejo: diário de uma favelada 10 ed São Paulo: Ática, 2004
FRENTE 1
y FREYRE, Gilberto. Casa-grande & senzala. 48. ed. São Paulo: Global, 2003.
37
Exercícios complementares
1 UFPR Assinale a alternativa em que a norma de concor Assinale:
dância, verbal e nominal, foi inteiramente respeitada. A se I e II estão corretas.
A A rejeição à ideia de inferioridade ou de submis- se todas estão incorretas.
são leva boa parte das pessoas que se preocupam C se apenas III está correta
com a questão dos empréstimos linguísticos a exi- se I e III estão corretas.
girem um posicionamento das autoridades. E se apenas II está correta.
Se, em um país, existe, realmente, fatores de diferencia-
ção que interfere na língua, existe também elementos 3 UFSC Leia com atenção as frases e assinale as proposi-
de unificação com o objetivo de preservá-la. ções que estão corretas quanto à norma culta da língua.
C O interesse do Brasil, como o de Portugal, é de que 01 As pessoas de que mais precisamos são aquelas
hajam resistências naturais aos modismos e aos de quem mais podemos confiar.
empréstimos linguísticos. 02 O policial que mora à Rua Mariana Delamare tem
Aos termos regionais faltam força para atravessarem um comportamento passível à críticas
as fronteiras dos locais em que são empregados. 04 O chefe dos ladrões atira-se, com algemas e tudo o
E O número de termos regionais cresceram bastan- mais, às águas do rio Itajaí-Açu, preferindo a morte
tes, mas, por não haverem sido bem aceitos, não à prisão.
se incorporaram à língua nacional 08 Não devem haver na escola de samba mais do que
cem homens e mulheres brancos; dez por cento
2 PUC-SP Ethos – ética em grego – designa a morada hu- deles mora no centro da cidade.
mana. O ser humano separa uma parte do mundo para, 16 Maria Celestina, o lar, a sociedade e seus códigos,
moldando-a ao seu jeito, construir um abrigo protetor e nada me importava.
permanente A ética, como morada humana, não é algo 32 Constituindo como parte da classe pensante, não
pronto e construído de uma só vez. O ser humano está importa que o público universitário sejam tão inex-
sempre tornando habitável a casa que construiu para si. perientes, mas são aprendizes.
Ético significa, portanto, tudo aquilo que ajuda a
tornar melhor o ambiente para que seja uma morada
Soma: JJ
saudável: materialmente sustentável, psicologicamente
integrada e espiritualmente fecunda. 4 Fatec Assinale a alternativa em que, mesmo posta no
Na ética há o permanente e o mutável. O permanente plural a expressão em itálico, mantém-se o verbo no
é a necessidade do ser humano de ter uma moradia: uma singular
maloca indígena, uma casa no campo e um apartamento A Este caso insignificante [ ] talvez haja desviado
na cidade Todos estão envolvidos com a ética, porque o curso dela.
todos buscam uma morada permanente. Escapava-me a significação da réplica.
O mutável é o estilo com que cada grupo constrói sua C O meu protagonista enleara-se nesta obsessão.
morada. É sempre diferente: rústico, colonial, moderno, Devia existir uma razão econômica...
de palha, de pedra... Embora diferente e mutável, o estilo E ... que na acusação houvesse algum fundamento.
está a serviço do permanente: a necessidade de ter casa A
casa, nos seus mais diferentes estilos, deverá ser habitável.
5 Faap-SP Observe:
Leonardo Boff A águia e a galinha Petrópolis:
Vozes, 1997. p. 90 1. Cada pessoa que chegava, se punha na ponta dos
pés Estavam curiosos
Observando aspectos de pontuação, concordância e Este desvio de concordância que se assinala, chama-
colocação pronominal, podemos armar que: -se silepse:
I na oração “A ética, como morada humana, não é A de pessoa apenas de número e gênero
algo pronto e construído de uma só vez”, há um de número apenas. E de pessoa e gênero.
uso inadequado no que diz respeito à pontuação, C de gênero apenas.
uma vez que se usou a vírgula entre o sujeito A
ética e o verbo ser (é). 6 UEL Assinale a letra correspondente à alternativa que
II. na oração “Na ética há o permanente e o mutá- preenche corretamente as lacunas da frase apresentada.
vel”, há um erro de concordância, uma vez que o Vossa Senhoria me ______ a submissão ou a demis-
sujeito “o permanente e o mutável” é composto, são; co com ______ , para servir à minha dignidade,
logo o verbo haver (há) deveria estar na terceira e não ao autoritarismo
pessoa do plural A propusestes aquela seu
III na oração “moldando-a ao seu jeito”, o pronome propusestes esta vosso
pessoal do caso oblíquo átono “a” está enclítico C propôs aquela vosso
ao verbo no gerúndio, em início de oração, de propôs esta seu
acordo com a norma culta. E propusestes aquela vosso
39
12 Faap-SP Leia o verso de Vinicius de Moraes. por si só da contradição entre as classes), sendo uma fer-
ramenta fundamental para a ação com fins de intervenção
De repente da calma fez-se o vento
e mudança dessa estrutura.
Que dos olhos desfez a última chama
Dessa forma, para além das instituições democrá
Com a palavra vento no plural, escreveríamos obriga- ticas como os partidos, as eleições e o parlamento, a
toriamente assim: existência dos movimentos sociais é (5) de fundamental
A De repente da calma fez-se os ventos/Que dos importância para a sociedade civil enquanto meio de
olhos desfizeram a última chama manifestação e reivindicação. Podemos citar como al-
De repente da calma fizeram-se os ventos/Que dos guns exemplos de movimentos: o da causa operária, o
olhos desfez a última chama movimento negro (contra racismo e segregação racial), o
C De repente da calma fizeram-se os ventos/Que dos movimento estudantil, o movimento de trabalhadores do
olhos desfizeram a última chama campo, o movimento feminista, os movimentos ambien
De repente da calma fez-se os ventos/Que dos talistas, os da luta contra a homofobia, os separatistas, os
movimentos marxista, socialista, comunista, entre outros.
olhos desfez a última chama
Alguns desses movimentos possuem atuação centraliza-
E De repente da calma fazem-se os ventos/Que dos
da em algumas regiões (como no caso de movimentos
olhos desfaz a última chama
separatistas na Europa) Outros, porém, com a expansão
do processo de globalização (tanto do ponto de vista
13 UFSCar Reescreva o texto a seguir, corrigindo o no econômico como cultural) e a disseminação de meios
que for necessário, levando em consideração as nor de comunicação e veiculação da informação, rompem
mas do padrão culto da linguagem. fronteiras geográficas em razão da natureza de suas cau-
Entregou-se ao professor os relatórios de estágio que sas, ganhando adeptos por todo o mundo, a exemplo do
precisávamos para a obtenção dos créditos nais e, Greenpeace, movimento ambientalista de forte atuação
agora, caremos a espera dos resultados cujos os nú internacional.
meros serão divulgados em breve pela secretaria. A existência de um movimento social requer uma
organização muito bem desenvolvida, o que demanda a
14 IFPE 2019 mobilização de recursos e pessoas muito engajadas (4).
Os movimentos sociais não se limitam a manifestações
Movimentos sociais: breve definição públicas esporádicas, mas trata-se de organizações que
Em linhas gerais, o conceito de movimento social sistematicamente atuam para alcançar seus objetivos po-
se refere à ação coletiva de um grupo organizado que líticos, o que significa haver uma luta constante e de longo
objetiva alcançar mudanças sociais por meio do embate prazo, dependendo da natureza da causa. Em outras pala-
político, conforme seus valores e ideologias, dentro de vras, os movimentos sociais possuem uma ação organizada
uma determinada sociedade e de um contexto específi- de caráter permanente por uma determinada bandeira (7).
cos, permeados por tensões sociais (2) Os movimentos RIBEIRO, Paulo Silvino. Movimentos sociais: breve definição. Brasil Escola
Disponível em: <https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/movimentos
sociais podem objetivar a mudança, a transição ou mes- sociais-breve-definicao.htm> Acesso em: 22 set. 2018 (adaptado)
mo a revolução de uma realidade hostil a certo grupo ou
classe social. Constroem uma identidade para a defesa de Analise alguns fragmentos do texto e marque a alter-
seus interesses, sejam eles a luta por um algum ideal ou nativa que contém uma armação verdadeira sobre
o questionamento de uma realidade que se caracterize o fenômeno da concordância verbo-nominal presente
como impeditivo à realização de seus anseios Tornam se em cada um deles.
porta-vozes de um grupo de pessoas que se encontra numa A No trecho “Cada sociedade ou estrutura social te-
mesma situação, seja social, econômica, política, religiosa, riam como cenário um contexto histórico” (ref. 6
entre outras. Gianfranco Pasquino, em sua contribuição ao – segundo parágrafo), o verbo sublinhado poderia
Dicionário de Política (2004), organizado por ele, Norberto ser flexionado no singular, já que a conjunção “ou”
Bobbio e Nicolau Mateucci, afirma (3) que os movimentos implica na ideia de exclusão de um dos núcleos no-
sociais constituem tentativas – pautadas em valores co- minais do sujeito.
muns àqueles que compõem o grupo – de definir formas No trecho “afirma que os movimentos sociais cons-
de ação social para se alcançar determinados resultados.
tituem tentativas” (ref 3 primeiro parágrafo), o
Por outro lado, conforme aponta Alain Touraine,
verbo sublinhado concorda com um sujeito elíptico.
na obra Em defesa da Sociologia (1976), para se com-
C No trecho “o que demanda a mobilização de re-
preender os movimentos sociais, mais do que pensar em
cursos e pessoas muito engajadas” (ref. 4 – quarto
valores e crenças comuns para a ação social coletiva, seria
necessário considerar as estruturas sociais nas quais os parágrafo), o adjetivo sublinhado vai para o femini-
movimentos se manifestam. Cada sociedade ou estrutura no plural, concordando com os núcleos nominais
social teriam (6) como cenário um contexto histórico (ou “mobilização” e “pessoas”.
historicidades) no qual (1), assim como também apontava No trecho “a existência dos movimentos sociais é
Karl Marx, estaria posto um conflito entre classes, terreno de fundamental importância para a sociedade civil”
das relações sociais, a depender dos modelos culturais, (ref. 5 terceiro parágrafo), o verbo admite o plural,
políticos e sociais Assim, os movimentos sociais fariam ex concordando com o adjunto adnominal “dos movi-
plodir os conflitos já postos pela estrutura social (geradora mentos sociais”.
15 PUC Campinas A frase em que a concordância está cor 18 Fuvest A única frase que não apresenta desvio em
reta é: relação à concordância verbal recomendada pela
A O Grupo Ornitorrinco, em sua última montagem – norma culta é:
aliás, excepcionalmente bem-cuidada , ilustram a A A lista brasileira de sítios arqueológicos, uma vez
tendência à mistura de linguagens, sobre a qual a crí aceita pela Unesco, aumenta as chances de pre-
tica especializada tanto tem chamado a atenção. servação e sustentação por meio do ecoturismo
b O pessoal do “Fora do Sério”, grupo teatral de Ri- b Nenhum dos parlamentares que vinham defenden-
beirão Preto, promove seu último espetáculo, e do o colega nos últimos dias inscreveram-se para
está dando de presente dez ingressos aos leitores falar durante os trabalhos de ontem.
de um jornal paulistano que primeiro entrarem em C Segundo a assessoria, o problema do atraso foi re-
contato com a redação. solvido em pouco mais de uma hora, e quem faria
C O último censo mostrou que a classe social menos conexão para outros estados foram alojados em
privilegiada economicamente tiveram significativa hotéis de Campinas.
piora na qualidade de vida nos dois últimos anos d Eles aprendem a andar com a bengala longa, o
d A criançada veio para conhecer a exposição de equipamento que os auxilia a ir e vir de onde esti-
animais recém-chegados ao zoológico, mas acaba- ver para onde entender.
ram por visitar todas as instalações. E Mas foram nas montagens do Kirov que ele con-
E A família urbana parece ter mudado, nos últimos quistou fama, especialmente na cena “Reino das
tempos, seus hábitos de lazer, pois são vistos Sombras”, o ponto alto desse trabalho.
constantemente participando de passeios ciclísti-
cos pela cidade ou de caminhadas por parques e 19 ITA Leia o texto a seguir e responda às perguntas se-
regiões especialmente arborizadas. guintes.
O sol ainda nascendo, dou a volta pela Lagoa Rodrigo de
16 UFSCar Leia o excerto a seguir. Freitas (7.450 metros e 22 centímetros). Deslumbrante.
Tecnologia Paro diante de uma placa da Prefeitura, feita com os maio-
res cuidados técnicos, em bela tipografia, em português
Hackers invadem a rede de computadores e inglês, naturalmente escrita por altos professores e, no
da Microsoft
longo período com que trabalham as burocracias, vista e
Direção da maior empresa de softwares do mundo revista por engenheiros, psicólogos, enfim, por toda espé-
descobriram que invasores tiveram acesso aos códigos cie e gênero de PhDs Certo disso, leio, cheio do desejo
produzidos pela companhia e chamam o FBI para ajudar de aprender, a história da lagoa e seus d’intorni, environs,
nas investigações. neighbourhood.
Veja online. 27 out. 2000, Notícias Diárias. Lá está escrito: “beleza cênica integrada aos contor-
nos dos morros que a cerca (!)”. Berro, no português mais
No trecho reproduzido, incorre-se num erro gramati- castiço do manual do [jornal] Globo: HELP!
cal, por conta: E, como isso não tem a menor importância, o sol
A da concordância do verbo “descobriram”. continua nascendo no horizonte. Um luxo!
b do emprego de artigo em “aos códigos”. Millôr Fernandes O Estado de S Paulo, 4 jul 1999 Caderno 2
C da apassivação do verbo “produzidos”.
d da regência do verbo “chamam”. a) Explique por que Millôr Fernandes se assusta
E do complemento do verbo “tiveram” com a placa da Prefeitura
) Localize no texto um trecho que indica a ironia
do autor. Explique como é produzido o efeito de
17 Fuvest A única frase inteiramente de acordo com as
ironia nesse trecho.
normas gramaticais do padrão culto é:
A A secretária pretende evitar que novos mandados
de segurança ou liminares contra o decreto sejam 20 ITA Atente ao excerto a seguir para assinalar a alter
expedidas. nativa correta
“[...] e as aldeias são a alheia vigilância.”
b O Contru interditou várias dependências do prédio,
Guimarães Rosa. Desenredo.
inclusive o Salão Azul, cujo o madeiramento do for-
FRENTE 1
41
O termo a alheia vigilância, cujo núcleo é alheia, modo à esfera institucional política, e o espaço onde
exerce função sintática de predicativo do sujeito se realizam, também são políticos Um comício é uma
C O enunciado que o constitui, pelos aspectos gra reunião política e um partido é uma associação política,
maticais que apresenta, pode ser considerado um um indivíduo que questiona a ordem institucional pode
período. ser um preso político; as ações do governo, o discurso
A palavra vigilância, no texto, é transitiva; pede, de um vereador, o voto de um eleitor são políticos
pois, o complemento nominal alheia. Mas há um outro conjunto em que a mesma palavra
manifesta-se claramente de um modo diverso Quando
21 UFSCar Leia o texto a seguir. se fala da política da Igreja, isto não se refere apenas às
relações entre a Igreja e as instituições políticas, mas à
[...] Como não ter Deus?! Com Deus existindo, tudo existência de uma política que se expressa na Igreja em
dá esperança: sempre um milagre é possível, o mundo relação a certas questões como a miséria, a violência,
se resolve. etc Do mesmo modo, a política dos sindicatos não se
Mas, se não tem Deus, há-de a gente perdidos no refere unicamente à política sindical, desenvolvida pelo
vaivém, e a vida é burra. É o aberto perigo das grandes e governo para os sindicatos, mas às questões que dizem
pequenas horas, não se podendo facilitar é todos contra respeito à própria atividade do sindicato em relação
os acasos Tendo Deus, é menos grave se descuidar um aos seus filiados e ao restante da sociedade A política
pouquinho, pois, no fim dá certo Mas, se não tem Deus, feminista não se refere apenas ao Estado, mas aos ho-
então, a gente não tem licença de coisa nenhuma! Porque mens e às mulheres em geral. As empresas têm políticas
existe dor. E a vida do homem está presa encantoada – para realizarem determinadas metas no relacionamento
erra rumo, dá em aleijões como esses, dos meninos sem com outras empresas, ou com os seus empregados. As
pernas e braços. [...] pessoas, no seu relacionamento cotidiano, desenvolvem
Guimarães Rosa. Grande sertão: veredas. políticas para alcançar seus objetivos nas relações de
Uma das principais características da obra de Guimarães trabalho, de amor, ou de lazer; dizer “Você precisa ser
Rosa é sua linguagem articiosamente inventada, barro- mais político” é completamente distinto de dizer “Você
ca até certo ponto, mas instrumento adequado para sua precisa se politizar mais”, isto é, “precisa ocupar-se mais
narração, na qual o sertão acaba universalizado. da esfera política institucional”.
a) Transcreva um trecho do texto apresentado, em [...] Não resta dúvida, porém, de que este segundo
que esse tipo de “invenção” ocorre. significado é muito mais vago e impreciso do que o
b) Transcreva um trecho em que a sintaxe utilizada primeiro. A evolução histórica em relação ao gigantis-
por Rosa configura uma variação linguística que mo das Instituições Políticas – o Estado onipresente – é
contraria o registro prescrito pela língua padrão. acompanhada de uma politização geral da sociedade
em seus mínimos detalhes, por exigir um posiciona-
mento diário frente ao Poder. Mas ao mesmo tempo
22 UFRGS Leia o texto a seguir.
traz consigo a imposição de normas com que balizar a
Os mais antigos homens modernos própria aplicação da palavra política, procurando de-
terminar o que é e o que não é “política”.
Agora, parece que foi mesmo na África que a espécie
Desta forma, oculta-se ao eleitor o seu ser político,
humana, assim como a conhecemos, surgiu e dali se
espalhou para o restante do mundo. [...] atribuindo-se esta qualidade apenas ao eleito. Ou então
Pesquisa Fapesp, n 89, jul 2003 p 28. (Adapt.)
atribui-se à pessoa um espaço e um tempo determi-
nado para que exerça uma atividade política, na hora
Se a expressão a espécie humana fosse substituída das eleições, quando está na tribuna da Câmara dos
por os seres humanos, quantas outras alterações se- Deputados depois de ter sido eleita, quando senta no
riam necessárias na frase em questão? palácio para despachar com seus secretários mesmo sem
A Uma ter sido eleita. A própria delimitação rígida da política
Duas constitui, portanto, um produto da história; e este é, sem
C Três dúvida, o principal motivo pelo qual não basta ater-se a
Quatro um significado geral da política, que apagaria todas as
E Cinco. figuras com que se apresentou em sua gênese.
Esta delimitação operada pelo nível institucional
23 IFSul 2019 (Adapt.) traz consigo alterações profundas na esfera de valores
associados à política. Uma conjuntura institucional in-
A política e as políticas
satisfatória, pela corrupção ou pela violência, jamais
Apesar da multiplicidade de facetas a que se aplica dissociadas, reflete-se numa desmoralização da ativida-
a palavra “política” ___ uma delas goza de indiscutível de política – politicagem – que pode reverter em apatia
unanimidade ___ a referência ao poder político ___ à es- e na procura de alternativas extrainstitucionais como
fera da política institucional. Um deputado ou um órgão a luta armada. Ao mesmo tempo, processa-se uma in-
de administração pública são políticos para a totalidade versão na valorização da atividade política na própria
das pessoas. Todas as atividades associadas de algum esfera institucional, em que ela deixa de ser um direito,
C Todas as frases contêm verbos que não concor- ela se infiltra, como um veneno, nas pequenas frestas de
dam com os respectivos sujeitos. seu espírito. Mas, nele instalada pelo ato da leitura, que
Apenas as frases I e IV estão incorretas. escândalos, que estragos, mas também que descobertas
43
e que surpresas ela pode deflagrar Não é preciso ser um b Em nível formal, a expressão “vão haver” deveria
especialista para ler uma ficção. ser “haverá”.
Não é preciso ostentar títulos, apresentar currículos, C O uso da expressão “evidente que” e da palavra
ou credenciais. A literatura é para todos. Dizendo melhor: “eventualmente” revela aproximação com a oralidade
é para os corajosos ou, pelo menos, para aqueles que d Também é correto inferir que, num nível de formali-
ainda valorizam a coragem.
dade, deve-se evitar a utilização dupla de conector
(...)
“porque” num mesmo período.
(http://blogs.oglobo.globo.com/jose castello/post/o-poder-da-
literatura444909.html Acesso em: 21 fev 2017) E A norma-padrão da linguagem seria mantida se a
expressão “vão haver” fosse substituída por “vai
Assinale a alternativa que apresenta uma explicação
haver”, como é usual atualmente.
INCORRETA.
A Em “Tanto quando é vista como distração, quanto
quando é vista como objeto de estudos ”, os ter 28 Ifal 2018 Deda, meu amigo, estou aqui Podes me ouvir?
mos em destaque estabelecem uma relação de Já faz algum tempo que não conversamos Poderíamos
comparação entre as duas situações relacionadas arrancar a malvada saudade de nosso peito, o que achas
b Os dois pontos foram utilizados no excerto “ .a li então? Teu rosto está envelhecido. Tua carne, envileci-
teratura perde o principal: seu poder de interrogar, da. Teu corpo treme. Tuas débeis mãos fremem. O que
terá acontecido contigo, meu velho? Ah, já não és mais
interferir e desestabilizar ” para introduzir ideias
bravo e guerreiro, moço e vigoroso: és, sim, pó espec-
que foram resumidas em um termo anterior
tral. Logo te ajuntarás ao barro da terra. Logo a terra
C A vírgula presente em “...a literatura é um ato solitá
abrirá a fecunda e profunda boa para te tragar Oleiro
rio, nos aprisiona na introspecção.” foi utilizada para
Logo, meu velho Logo. Lembras-te que eras tão bom
marcar a elipse de um termo.
na pontaria, que não erravas uma formiga na mira da
d No período “...mas também que descobertas e que
tua espingarda, que ficavas a escorar-te em qualquer
surpresas ela pode deflagrar.”, se o sujeito fosse
pilastra por onde pousavas e passavas, em varandas de
para o plural, a locução verbal ficaria: pode defla-
casebres e casas grandes? Lembras-te, meu velho, que
grarem.
eras tão bom na composição de versos, nos improvisos
de belos repentes? Tuas pernas já não suportam o peso
26 FMP 2018 A concordância da forma verbal em desta- de teu corpo, mesmo que tu queiras: magro, seco feito
que está de acordo com a norma-padrão da Língua imbaúba Triste é sofrer O tempo passou devagar, vo-
Portuguesa em: raz, amigo O tempo não espera que o acompanhemos
A Acredita-se que a profusão de informações e a Segue sozinho os caminhos da vida e vai a todos os
amplitude de acesso a elas está forjando uma ge- lugares e direções: atalhos.
ração mais inteligente (LOURENÇO, Rosival. Pelos engenhos. Maceió: Edufal, 2011, p. 12)
b Consta da programação da Feira Literária Inter
nacional de Paraty vários títulos a serem lançados Considerando as relações de coerência e coesão,
sobre o escritor Lima Barreto bem como as relações sintáticas de concordância do
C Contriuíram para o aumento da expectativa de português, assinale a alternativa que apresenta uma
vida da humanidade o crescimento das pesquisas armação errada quanto ao trecho a que se refere.
científicas e tecnológicas A “Já faz algum tempo que não conversamos” / se o
d Crescem continuamente, de acordo com as es sujeito do primeiro verbo fosse plural, a forma ver-
tatísticas, os percentuais de comércio nacional e bal deveria permanecer no singular, de acordo com
internacional por meio da rede. o português culto.
E Não asta, na opinião das autoridades, oportunida- b “Tuas débeis mãos fremem” / as concordâncias
des de trabalho para o jovem se desenvolver, mas nominal e verbal obedecem à norma padrão do
é preciso oferecer escolaridade a todos. português escrito.
C “eras tão bom na composição de versos, nos impro-
27 PUC-PR Assinale a alternativa incorreta a respeito das visos de belos repentes” / os adjetivos concordam
estruturas do texto. adequadamente com os nomes a que se ligam, ob-
Quando falei sobre o caso do jogador que está fora servando-se o padrão da língua portuguesa
do país e não está jogando, é evidente que vão surgir ex- d “Segue sozinho os caminhos da vida e vai a todos
ceções. Deverão ser poucas, mas vão haver porque não os lugares e direções” / os dois verbos não estão
se pode abrir mão de um bom jogador porque ele even- adequados na sua flexão número-pessoal, pois de-
tualmente não esteja jogando. veriam flexionar-se na segunda pessoa do singular.
O Globo, 22 out. 2000.
E “Tuas pernas já não suportam o peso de teu corpo,
A O uso coloquial da linguagem permite o emprego mesmo que tu queiras” / no português padrão, o
de “vão surgir” ou “deverão ser”, mas, para um ní- último verbo não deve ser flexionado na terceira
vel mais formal, o emprego seria, respectivamente, pessoa do singular, embora isso seja aceito em si-
“surgirão” ou “serão”. tuação de coloquialidade.
alcalinos, com propriedades adstringentes, usado na fabricação de guri; hoje em dia, o que mais se vê é crianças
de corantes, papel, porcelana, na purificação de água, na clari- trancadas em casa brincando de videogame, aces-
ficação de açúcar etc. sando smartphone ou vendo TV.
45
33 Col. Naval 2017 No que se refere à concordância verbal, observe as frases abaixo.
I Espera-se muitas novidades no campo da informática educacional este ano
II Em todos os países, faz-se muitas promessas aos fabricantes de mídias digitais.
III Choveram reclamações sobre o novo celular disponibilizado nas lojas do ramo
IV Houveram-se muito bem os expositores da Feira de Tecnologia no Anhembi
Assinale a opção correta.
A Apenas as afirmativas I, II e IV são verdadeiras.
Apenas as afirmativas II, III e IV são verdadeiras.
C Apenas as afirmativas I, III e IV são verdadeiras.
Apenas as afirmativas I e II são verdadeiras.
E Apenas as afirmativas III e IV são verdadeiras.
FRENTE 1
CAPÍTULO Acentuação
19
A charge acima aponta, com humor e criatividade, a queda do trema, que foi
suprimido com a nova reforma ortográca.
Essa reforma é um assunto importante para a língua portuguesa, já que por causa
dela algumas regras relativas ao emprego do hífen e ao do acento gráco foram
alteradas
A mudança foi pouca, mas deve ser assimilada por todos nós, visto que somos
usuários da língua escrita.
Introdução Mudança de significado na alteração
Neste capítulo, estudaremos as regras de acentuação. da sílaba tônica
Os vocábulos de nossa língua podem ser classificados A mudança de sílaba tônica pode, em alguns casos,
como monossílabos, dissílabos, trissílabos ou polissílabos gerar mudança de sentido.
(mais de três sílabas). Em uma das sílabas do vocábulo, Ja-ca = fruta
incide um acento de intensidade: trata-se da sílaba tônica.
Embora o acento recaia sobre esta sílaba, nem sempre as
Paroxítona
palavras são acentuadas. Por isso, é preciso observar as
terminações e os demais critérios.
Para se determinar uma sílaba tônica, usa-se o critério Ja-cá = cesto
fonético (vale ressaltar que fonema é a unidade sonora;
Oxítona
letra é a representação gráfica).
Os sinais utilizados para indicar a pronúncia correta são
chamados de diacríticos e apresentam-se da seguinte forma: Cá-qui = cor
y o acento agudo ( ´ ), empregado para assinalar as vo-
Paroxítona
gais a, e, u e para indicar as vogais tônicas e abertas
e, o, como em má, pé, açúcar, herói.
y o acento circunflexo ( ^ ), empregado para indicar o Ca-qui = fruta
timbre fechado das vogais tônicas e e o, assim como
Oxítona
o timbre do a seguido de m ou n, como em mês, robô,
tâmara, cânhamo.
y o acento grave ( ` ), empregado para indicar a crase Mudança de classe gramatical na
(fusão) da preposição a com os artigos definidos a, as, alteração da sílaba tônica
com o a inicial dos demonstrativos aquela(s), aque- A alteração da posição da sílaba tônica também pode
le(s) e aquilo (à, às, àquele, àquela, àquilo) e o com o alterar a classe gramatical
a inicial dos relativos a qual, as quais. y in-tér-pre-te = substantivo
y o til ( ~ ), empregado para indicar a nasalização da y in-ter-pre-te = verbo
vogal, como em mãozinha, órfã.
Monossílabos
Fundamentos São palavras com uma única sílaba (palavras pronun-
ciadas com um só impulso de voz). O monossílabo pode
Posição da sílaba tônica ser átono ou tônico. Observe as seguintes características.
A sílaba tônica é a mais forte (pronunciada com mais
intensidade). De acordo com a posição, classifica se da a. Monossílabo átono
seguinte forma: O monossílabo átono é pronunciado de forma mais
a. Última: oxítona fraca; a duração de sua pronúncia é mais breve que a do
Bra-sil tônico e, semanticamente, possui significado gramatical.
Preposições, conjunções e certos pronomes, por exemplo,
b. Penúltima: paroxítona são monossílabos átonos.
Fa-ve-la Nordeste todo em paz.
Orlandel
É o encontro de uma vogal e de uma semivogal (ou
vice-versa) na mesma sílaba. A vogal é som vocálico que,
no ditongo, se ouve mais distintamente.
Ditongo oral: o ar sai pela via oral: dis tân-cia
Ditongo nasal: o ar sai pela via oral e pela via nasal: põe
Ditongo decrescente: trata-se de uma vogal (forte) +
uma semivogal (fraca): vei-a Fig 2 Reforma ortográfica
Ditongo crescente: trata-se de uma semivogal (fraca)
+ uma vogal (forte): his-tó-ria Regras de acentuação
Monossílabos tônicos
Atenção
Acentuam-se os monossílabos tônicos terminados em:
As semivogais assumem, ao serem pronunciadas, o som de / i / ou de -a(s), -e(s) e -o(s):
/ u /, mesmo que não sejam representadas por essas vogais (o com y já, é, só, pás, pés, dó
som de / u / ou e com som de /i /). Os finais átonos ia, ie, -io, ua,
-ue e -uo podem ser pronunciados como ditongo (em São Paulo: Oxítonas
his-tó-ria) ou como hiato (em Pernambuco: his-tó-ri-a).
Acentuam-se as oxítonas terminadas em: -a(s), -e(s),
-o(s) e -em(s):
y axé, orixá, amém, axoxô, cafés, amapá, parabéns
Tritongo
Encontro de uma vogal entre duas semivogais numa Paroxítonas
mesma sílaba Acentuam-se as paroxítonas terminadas em: -ps, um(s),
Governo quer impedir contrabando que vem do -x, -u(s), r, i(s), n, ão(s), -l, ã(s), ditongo oral e ons:
Paraguai. y bíceps, álbum, tórax, vênus, cadáver, clitóris, hífen,
Há tritongo em: sa-guão, i-guais, u-ru-guai-o. órfão,
y agradável, ímã, tendência, íons
Fonema
Letra é a representação gráfica, e fonema é o som, a “ima- Proparoxítonas
gem” acústica. Em carro, assalto, alho, ganho, chato, querida Todas as proparoxítonas são acentuadas:
e guerra, por exemplo, rr-, ss , lh-, nh-, ch-, qu- e gu são dígra y ímpeto, lâmpada, número, alíquotas, âmago
fos consonantais, duas letras que correspondem a um fonema.
Em canta, a sequência an também se constitui num dí- Ditongos abertos
grafo (no caso, dígrafo vocálico), pois temos um só fonema: Acentuam-se os ditongos abertos tônicos -éu(s), -éi(s)
/c/, /ã/, /t/, /a/. Há letras que não correspondem a fonema e -ói(s) em palavras oxítonas:
algum: é o caso de hoje, em que o h não é pronunciado. Já y réu, véu, céu, dodói, pastéis, troféu, troféus
em táxi, a letra x corresponde a dois fonemas: /ks/
Em função da nova reforma ortográfica, as regras de Mas os ditongos éi e ói deixam de ser acentuados nas
acentuação passam a valer da seguinte forma: palavras paroxítonas:
y asteróide asteroide
y heróico heroico
A nova reforma ortográfica y bóia boia
y celulóide celuloide
vôos w, k, y y clarabóia claraboia
voos y (ele) apóia (verbo apoiar) apoia
ü
y (eu) apóio (verbo apoiar) apoio
assembléia y estréia estreia
y estréio (verbo estrear) estreio
assembleia y geléia geleia
y idéia ideia
Fig. 1 Algumas das novas regras de ortografia.
y jibóia jiboia
A nova reforma ortográfica foi assinada em Lisboa, y jóia joia
em 16 de dezembro de 1990, por Brasil, Portugal, Angola,
Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Moçam- Atenção
bique e, posteriormente, Timor Leste; no Brasil, o acordo
FRENTE 1
49
Acento no i e no u tônico y verbo enxaguar: enxaguo, enxaguas, enxagua, enxa-
guam; enxague, enxagues, enxaguem
y verbo delinquir: delinquo, delinques, delinque, delin-
O acento agudo desaparece do "i"
Orlandel
e do "u'' tônicos de palavras quem; delinqua, delinquas, delinquam
paroxítonas, quando essas letras
vierem depois de ditongo.
No Brasil, a pronúncia mais corrente é deixar tônicos
o a e o i (primeiro caso)
U tônico
Fig. 3 Mudanças no uso de acento agudo.
Cai o acento agudo no u tônico das formas verbais
Acentuam-se o i e o u quando: do presente do indicativo dos verbos arguir e redarguir.
a forem tônicos; Tu argúis bem, ele argúi muito bem, eles argúem mal.
b. fizerem hiato com a vogal anterior;
c. estiverem sozinhos na sílaba ou com s; Tu arguis bem, ele argui muito bem, eles arguem mal.
d não seguidos de nh;
e não antecedidos de ditongo decrescente em palavras Palavras terminadas em eem e oo
paroxítonas: Não se usa mais o acento das palavras terminadas em
y saída, faísca, Anhangabaú, conteúdo, distribuí-lo, baú, eem e oo(s).
contraí-la
CIRCUNFLEXO
Orlandel
Não será mais usado
nas palavras termina-
Mas, nas palavras paroxítonas, não se usa mais o acen- das em hiato.
Exemplo: "vôo" passa a
to no i e no u tônicos quando vierem depois de um ditongo ser "voo".
decrescente
y bocaiúva bocaiuva
y cauíla cauila (avarento)
y feiúra feiura
Fig. 4 Mudanças no uso de acento circunflexo.
Porquê
Como substantivo, precedido de artigo:
Só há um porquê
Pronúncia his-tó-ria
Por quê predominante
Como pronome interrogativo, no final da frase: no Nordeste
Por quê? Fig. 5 Diferenças regionais nas pronúncias.
Não sei por quê.
No primeiro caso, a palavra é proparoxítona; no segun-
Ritmo e rima do, paroxítona (ambas as classificações são aceitas).
A língua também varia conforme o grupo social e o
Ritmo grau de escolaridade; nas variantes mais populares e em
situação de oralidade, é comum a omissão, o acréscimo ou
O ritmo pode ser definido como a alternância de sílabas
mesmo a substituição de fonemas:
átonas e tônicas; a tônica deve repetir-se em intervalos
FRENTE 1
regulares, recaindo em determinadas sílabas y – Nóis fala errado purque nóis aprendeu assim, né?
Observe os exemplos a seguir. Ou meió, num aprendeu!
51
Revisando
Texto para as questões 1 e 2. 4 No texto a seguir, há uma palavra que teve a acentuação
alterada pela reforma; identifique-a e faça a correção.
Frank
DiVUlgação
1 A reforma ortográfica tem seus efeitos na linguagem oral?
9 O ritmo consiste em uma regularidade na alternância de silabas átonas e tônicas. Descubra a que tipo de decassílabo
associam-se os versos citados.
53
Exercícios propostos
1 UFRGS (Adapt.) A grafia dos nomes próprios nem que os fâmulos lhe ouviam muita vez: – “Anda, bem feito,
sempre segue as regras ortográficas da língua por- quem te mandou consentir na viagem de Cesária? Baju-
tuguesa. O nome Livia, de acordo com a pronúncia lador, torpe bajulador! Só para adular ao Dr. Bacamarte.
com que ocorre usualmente, deveria receber acento Pois agora aguenta-te; anda; aguenta-te, alma de lacaio,
gráfico. A regra que determina o uso do acento neste fracalhão, vil, miserável Dizes amém a tudo, não é? Aí
caso é a mesma responsável pelo acento gráfico em: tens o lucro, biltre!”. – E muitos outros nomes feios, que
A episódios. um homem não deve dizer aos outros, quanto mais a si
mesmo Daqui a imaginar o efeito do recado é um nada
b aí.
Tão depressa ele o recebeu como abriu mão das drogas
C reúne
e voou à Casa Verde. Simão Bacamarte recebeu-o com
D lâmpada
a alegria própria de um sábio, uma alegria abotoada de
E nós.
circunspeção até o pescoço
– Estou muito contente, disse ele.
2 IME 2020 A primeira publicação do conto O Alienista, – Notícias do nosso povo?, perguntou o boticário com
de Machado de Assis, ocorreu como folhetim na a voz trêmula
revista carioca A Estação, entre os anos de 1881 e O alienista fez um gesto magnífico, e respondeu:
1882 Nessa mesma época, aconteceu no Brasil uma – Trata-se de coisa mais alta, trata-se de uma experiên-
grande reforma educacional, criando, dentre outras, cia científica Digo experiência, porque não me atrevo a
a cadeira de Clínica Psiquiátrica. É nesse contexto assegurar desde já a minha ideia; nem a ciência é outra
de uma psiquiatria ainda embrionária que Machado coisa, Sr. Soares, senão uma investigação constante. Tra-
propõe sua crítica ácida, reveladora da escassez de ta-se, pois, de uma experiência, mas uma experiência que
conhecimento científico e da abundância de vaida- vai mudar a face da terra. A loucura, objeto dos meus es-
des, concomitantemente. A obra deixa ver as relações tudos, era até agora uma ilha perdida no oceano da razão;
promíscuas entre o poder médico que se pretendia começo a suspeitar que é um continente
baluarte da ciência e o poder político tal como era Disse isto, e calou-se, para ruminar o pasmo do bo-
exercido em Itaguaí, então uma vila, distante apenas ticário. Depois explicou compridamente a sua ideia. No
alguns quilômetros da capital Rio de Janeiro. O con- conceito dele a insânia abrangia uma vasta superfície de
to se desenvolve em treze breves capítulos, ao longo cérebros; e desenvolveu isto com grande cópia de racio-
dos quais o alienista vai fazendo suas experimenta cínios, de textos, de exemplos. Os exemplos achou-os na
história e em Itaguaí, mas, como um raro espírito que era,
ções cientificistas até que ele mesmo conclua pela
reconheceu o perigo de citar todos os casos de Itaguaí e
necessidade de seu isolamento, visto que reconhece
refugiou-se na história. Assim, apontou com especialidade
em si mesmo a única pessoa cujas faculdades men-
alguns célebres, Sócrates, que tinha um demônio familiar,
tais encontram-se equilibradas, sendo ele, portanto,
Pascal, que via um abismo à esquerda, Maomé, Caracala,
aquele que destoa dos demais, devendo, por isso,
Domiciano, Calígula etc., uma enfiada de casos e pessoas,
alienar-se. em que de mistura vinham entidades odiosas, e entidades
Capítulo IV
ridículas E porque o boticário se admirasse de uma tal
promiscuidade, o alienista disse-lhe que era tudo a mesma
UMA TEORIA NOVA
coisa, e até acrescentou sentenciosamente:
Ao passo que D. Evarista, em lágrimas, vinha bus- A ferocidade, Sr Soares, é o grotesco a sério
cando o Rio de Janeiro, Simão Bacamarte estudava por – Gracioso, muito gracioso!, exclamou Crispim Soares
todos os lados uma certa ideia arrojada e nova, própria levantando as mãos ao céu.
a alargar as bases da psicologia. Todo o tempo que lhe Quanto à ideia de ampliar o território da loucura,
sobrava dos cuidados da Casa Verde era pouco para andar achou-a o boticário extravagante; mas a modéstia, princi-
na rua, ou de casa em casa, conversando as gentes, sobre pal adorno de seu espírito, não lhe sofreu confessar outra
trinta mil assuntos, e virgulando as falas de um olhar que coisa além de um nobre entusiasmo; declarou-a sublime
metia medo aos mais heroicos. Um dia de manhã, – eram e verdadeira, e acrescentou que era “caso de matraca”
passadas três semanas, estando Crispim Soares ocupado Esta expressão não tem equivalente no estilo moderno.
em temperar um medicamento, vieram dizer-lhe que o Naquele tempo, Itaguaí, que como as demais vilas, arraiais
alienista o mandava chamar. e povoações da colônia, não dispunha de imprensa, tinha
– Tratava-se de negócio importante, segundo ele me dois modos de divulgar uma notícia: ou por meio de car-
disse, acrescentou o portador. tazes manuscritos e pregados na porta da Câmara, e da
Crispim empalideceu Que negócio importante podia matriz; ou por meio de matraca Eis em que consistia este
ser, se não alguma notícia da comitiva, e especialmente da segundo uso. Contratava-se um homem, por um ou mais
mulher? Porque este tópico deve ficar claramente definido, dias, para andar as ruas do povoado, com uma matraca
visto insistirem nele os cronistas: Crispim amava a mulher, na mão De quando em quando tocava a matraca, reu-
e, desde trinta anos, nunca estiveram separados um só nia-se gente, e ele anunciava o que lhe incumbiam, – um
dia. Assim se explicam os monólogos que fazia agora, e remédio para sezões, umas terras lavradias, um soneto, um
55
pela segunda vez, “pedindo ajuda para fugir dos maus Ele apresenta se de duas formas A simples (Ex :
-tratos dos pais”. Chegando a hora da largada, a luz verde acendeu) e a
Na primeira tentativa, foi devolvido à Venezuela e en- composta (Ex.: Tendo chegado ao fim da corrida, o carro
caminhado ao Conselho Tutelar da cidade de Santa Elena, foi recolhido ao boxe)
após os conselheiros venezuelanos garantirem às autorida O gerúndio expressa uma ação que está em curso
des brasileiras que ele seria encaminhado para um abrigo. ou que ocorre simultaneamente ou, ainda, que remete a
Pelo visto, foi devolvido aos pais e à vida na rua. uma ideia de progressão Sua forma nominal é derivada
“Observa-se inúmeras marcas no corpo da criança e do radical do verbo acrescida da vogal temática e da de-
ele afirma que são todas causadas pelas agressões físicas sinência -ndo. Exemplos: comendo; partindo.
cometidas por seus pais”, diz o relatório do comitê de Veja, a seguir, o uso do gerúndio na prática:
triagem a que a BBC News Brasil teve acesso. E a lama desceu pelo morro, destruindo tudo que
Para impedir que o menino fosse entregue novamen encontrava pela frente.
te aos pais, os defensores federais o encaminharam para Rindo, ele se lembrava com saudades dos dias felizes
uma casa de acolhimento de crianças e adolescentes na que tivera.
capital de Roraima, “para que seja cuidado pela legislação Abrindo o laptop, começou a escrever.
brasileira”. “Caminhando sozinho aquela noite pela praia deserta,
Juan é uma das 1.896 crianças e adolescentes que, fiz algumas reflexões sobre a morte” (Erico Veríssimo, Solo
para fugir da violência e da miséria na Venezuela, cruza- de Clarineta, p. 12).
ram a fronteira até o Brasil sozinhos ou acompanhados de Como vimos nos exemplos, o gerúndio pode ser em-
pessoas que não são seus responsáveis legais, entre agosto pregado de diferentes maneiras em nossa língua sem que
de 2018 e junho deste ano. tenhamos praticado nenhuma heresia. Já com o gerundis-
Quase 400 deles chegaram à cidade de Pacaraima mo é outra história Nesse caso, trata-se do uso inadequado
totalmente desacompanhados, segundo dados inéditos do gerúndio. Um vício de linguagem que se alastrou de
obtidos pela BBC News Brasil junto à Defensoria Pública modo tão corriqueiro e insistente que até já virou piada.
da União [ ] Então, se você usa expressões como: “Vou estar
Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-49566807. pesquisando seu caso” ou “Vou estar completando sua li-
Acesso em: 13 de setembro de 2019. (Texto adaptado) gação”, mude imediatamente sua fala para: “Vou pesquisar
Em relação às palavras sublinhadas no texto, assinale seu caso” e “Vou completar sua ligação” Note que, nos
dois casos, você passa a usar somente duas formas verbais
aalternativaCORRETAquantoàacentuaçãográca:
(“vou” + “pesquisar” ou “vou” + “completar”) no lugar de
I. Duas palavras acentuadas atendem à regra das
três Além disso, a ideia temporal a ser transmitida é a de
palavras monossílabas tônicas.
futuro e não de presente em curso.
II Três palavras acentuadas atendem à regra das
O gerundismo, portanto, é uma mania que peca pelo
palavras paroxítonas
excesso, pela inadequação do verbo, que ocorre ao trans-
III. Três palavras acentuadas atendem à regra das formarmos, desnecessariamente, um verbo conjugado em
palavras oxítonas. um gerúndio.
IV. Duas palavras acentuadas atendem à regra das (Fonte: UOL. Adaptado. Disponível em: https://educacao.uol.com.br/
palavras proparoxítonas. disciplinas/portugues/gerundismo-evite esse-vicio-de-linguagem.htm. Acesso
em: 20 jan 2019)
V Uma palavra acentuada atende à regra das palavras
com hiato.
A II e III estão corretas. 7 IFMT 2020 Ao analisarmos a acentuação gráfica das
b Todas estão corretas. palavras “prática”, “gramáticas” e “temática”, presen-
C II, IV e V estão corretas. tes no texto, podemos afirmar que:
D Somente a I está correta. A “Prática”, “gramáticas” e “temática” estão corretamen-
E III e V estão corretas. te acentuadas, pois são proparoxítonas e todas as
proparoxítonas devem ser acentuadas graficamente
Texto para as questões 7 e 8. b “Prática”, “gramáticas” e “temática” estão com erro
Gerundismo - evite esse vício de linguagem de acentuação gráfica, pois nenhuma proparoxítona
deve ser acentuada.
Tanto se tem falado a respeito de gerundismo, que já
C “Prática” está incorretamente acentuada, pois tem
há quem tenha prática sobre o uso do gerúndio. Há até
três sílabas.
quem pergunte se o gerúndio não é mais usado ou se é
D “Temática” está incorretamente acentuada, pois é
errado o seu emprego. Então, antes que se comece a tomar
paroxítona.
o certo pelo duvidoso e o errado pelo certo, vamos nos
lembrar de algumas regras gramaticais.
E Das três palavras, apenas “gramática” deve ser
Comecemos pelo significado da palavra “gerúndio” acentuada.
Se procurarmos as definições nas gramáticas em uso,
encontraremos, geralmente, a seguinte explicação: “Ge- 8 IFMT 2020 Levando em conta a norma culta da língua
rúndio é uma das formas nominais do verbo que apresenta portuguesa, assinale a alternativa em que todas as pa-
o processo verbal em curso e que desempenha a função lavras são acentuadas graficamente devido à mesma
de adjetivo ou advérbio”. regra de acentuação gráfica:
Desde 2007, quando foi criado o Ministério das Ci- pelos estagiários são inaceitáveis.
dades, identificam-se avanços importantes na busca de E As audiências públicas são realizadas em caráter
diminuir o déficit já crônico em saneamento e pode-se extraordinário.
57
11 IFSC 2019 Ser indefeso, indefinido, que só se vê na minha cidade.
Amo e canto com ternura
Passamos a vida em só 25 lugares todo o errado da minha terra
30
Já teve vontade de explorar novos ares e, quando deu Becos da minha terra,
por si, estava no mesmo boteco de sempre? Esses “horizon discriminados e humildes,
tes limitados” são universais, de acordo com matemáticos lembrando passadas eras.
da Universidade e Londres Não importa se você é um Beco do Cisco.
jovem executivo ou um jogador de futevôlei aposentado 35 Beco do Cotovelo.
– segundo cientistas, qualquer pessoa é capaz de frequen- Beco do Antônio Gomes
tar, no máximo 25 lugares. Entram nessa conta todos os Beco das Taquaras.
locais visitados duas vezes por semana, por pelo menos 10 Beco do Seminário
minutos O ponto de ônibus, portanto, já desconta dos 25 Bequinho da Escola.
totais. Isso para quem é popular: 25 é o recorde alcançado 40 Beco do Ouro Fino.
por aqueles que mantêm uma rede grande de amigos Para Beco da Cachoeira Grande
os introvertidos, os horizontes são ainda mais fechados. Beco da Calabrote.
(Ana Carolina Leonardi Superinteressante, Beco do Mingu.
edição 392, agosto de 2018, p.10.) Beco da Vila Rica...
Quanto às regras de acentuação, assinale a alternativa 45 Conto a estória dos becos,
CORRETA. dos becos da minha terra,
suspeitos... mal afamados
A A palavra “mantêm” recebe acento circunflexo por
onde família de conceito não passava.
estar no plural, demonstrando-se o acento diferencial.
“Lugar de gentinha” – diziam, virando a cara.
b Em “recorde” temos um erro de acentuação gráfi-
50 De gente do pote d’água.
ca, em virtude de a palavra ser uma proparoxítona.
De gente de pé no chão
C As palavras “futevôlei” e “ônibus” se acentuam pela
Becos de mulher perdida.
mesma regra. Becos de mulheres da vida.
D Segundo a nova ortografia, o uso de trema em “fre- Renegadas, confinadas
quentar” é facultativo. 55 na sombra triste do beco.
E O vocábulo “você” deve ser acentuado por ser oxí Quarto de porta e janela
tona terminada em ditongo aberto Prostituta anemiada,
solitária, hética, engalicada,
12 IME 2019 tossindo, escarrando sangue
60 na umidade suja do beco.
BECOS DE GOIÁS
Becos mal assombrados.
Beco da minha terra... Becos de assombração...
Amo tua paisagem triste, ausente e suja Altas horas, mortas horas...
Teu ar sombrio. Tua velha umidade andrajosa. Capitão mor alma penada,
Teu lodo negro, esverdeado, escorregadio 65 terror dos soldados, castigado nas armas.
5 E a réstia de sol que ao meio-dia desce, fugidia, Capitão-mor, alma penada,
e semeia polmes dourados no teu lixo pobre, num cavalo ferrado,
calçando de ouro a sandália velha, chispando fogo,
jogada no teu monturo. descendo e subindo o beco,
Amo a prantina silenciosa do teu fio de água, 70 comandando o quadrado – feixe de varas...
10 descendo de quintais escusos Arrastando espada, tinindo esporas...
sem pressa, Mulher-dama Mulheres da vida,
e se sumindo depressa na brecha de um velho cano. perdidas,
Amo a avenca delicada que renasce começavam em boas casas, depois,
na frincha de teus muros empenados, 75 baixavam pra o beco.
15 e a plantinha desvalida, de caule mole Queriam alegria. Faziam bailaricos. –
que se defende, viceja e floresce Baile Sifilítico era ele assim chamado.
no agasalho de tua sombra úmida e calada. O delegado-chefe de Polícia – brabeza –
Amo esses burros-de-lenha dava em cima
que passam pelos becos antigos. Burrinhos dos morros, 80 Mandava sem dó, na peia.
20 secos, lanzudos, malzelados, cansados, pisados. No dia seguinte, coitadas,
Arrochados na sua carga, sabidos, procurando a sombra, cabeça raspada a navalha,
no range-range das cangalhas. obrigadas a capinar o Largo do Chafariz,
E aquele menino, lenheiro ele, salvo seja na frente da Cadeia.
Sem infância, sem idade. 85 Becos da minha terra...
25 Franzino, maltrapilho, Becos de assombração.
pequeno para ser homem, Românticos, pecaminosos
forte para ser criança. Têm poesia e têm drama.
59
Assinale a alternativa em que os vocábulos são Temos grandes dívidas com as pesquisas genéticas:
acentuados de acordo com as mesmas regras de nosso DNA ainda há de revelar segredos sobre a linha-
acentuação gráca das palavras abaixo transcritas, gem de cada um. Um dia saberemos mais sobre isso e
respectivamente: qual o verdadeiro valor dessas heranças Por hora, de
sandália (verso 7, texto 1); úmida (verso 17, texto 1); só nada serve tirar conclusões apressadas sobre sinas fa-
(verso 28, texto 1); sensível (verso 55, texto 2); conteú- miliares, fardos hereditários. Prefiro, para olhar nossas
do (verso 95, texto 2). Macondos, a benesse da graça literária. Mais importante
A réstia, sifilítico, vê, grátis, baú do que as heranças é o que conseguimos fazer da nossa
b água, família, há, revólver, frágil vida a partir delas.
Publicado em Vida Simples, Edição 198, agosto de 2018, p 52
C infância, matéria, à, móveis, saúva
estória, poético, têm, viúva, maiúscula Sobre a oração: Tememos o peso da herança de pais,
E solitária, fáceis, deixá-lo, médio, carícia avós e tios, observando os termos grifados, é correto
armarque
13 IFSul 2019 A se inserirmos acento agudo no primeiro termo,
ocorrerá uma mudança de classe gramatical.
Cada um com sua Macondo
b caso subtraíssemos o acento do segundo termo,
Diana Corso teríamos uma palavra diferente em termos de sig-
Entender melhor nossa família, a casa de onde viemos, nificado, mas igual em relação à classe gramatical
é também mergulhar um pouco mais dentro de nós C a inserção de acento grave, agudo ou circunflexo
O avô plantava vegetais monstruosos, a avó era alie- não muda a semântica de nenhum dos três termos.
nígena, o pai um cientista maluco, a mãe uma feiticeira, a subtração de acento agudo ou circunflexo não
o tio era um pirata. Essa família bizarra foi inventada por mudaria a semântica de nenhum dos três termos
uma das autoras prediletas da infância das minhas filhas:
a inglesa Babette Cole. A coleção de vários volumes tem 14 IFSul 2018 Em relação às regras de acentuação, em
por títulos Minha Mãe É um Problema, Meu Avô É um qual alternativa as palavras obedecem à mesma regra?
Problema, e assim por diante A Silêncio – paraíso – médico.
As meninas sabiam dar uma aura fantasiosa às famí- b Só – você – pedirá.
lias, digamos, peculiares, como a nossa e provavelmente
C Só até atrás.
a sua. Benditos recursos poéticos da infância. Crianças
Últimas décadas século.
costumam achar graça das bizarrices dos seus adultos,
é mais ou menos como dar gargalhada quando alguém
solta um pum. Depois viramos sérios, trágicos, conside- 15 IFSul 2018 A única palavra que, ao perder o acento,
rando ingênua a condescendência infantil com gente tão NÃO gera outra palavra existente na língua é
estranha e condenável. Vocacionados para a vitimização, A prática C pedirá
tornamo-nos convictos de isso ter nos prejudicado. b ninguém até
A maior parte das pessoas considera sua família anor-
mal, fora do padrão. Idealizamos e invejamos as “famílias 16 Ifal 2018
margarina”. Família boa, feliz, seria a que não rende casos
para contar, Tolstoi disse algo do gênero. Tememos o peso Um futuro singular
da herança de pais, avós e tios que tiveram tribulações Ivan Jaf
amorosas, fizeram trapalhadas financeiras, foram fracos
ou covardes. Longe de nós a Babel dos rompimentos, dos Senhor diretor, estou escrevendo esta carta porque
mal-entendidos. Livrai-nos dos familiares perdidos, tam- temo pela minha saúde mental, e se algo acontecer co-
pouco servem os que se encontraram em soluções pouco migo quero que todos saibam o motivo, principalmente o
convencionais. senhor, do qual eu esperava toda a compreensão, já que
A inquietação sobrevive até que — na literatura ou partilha comigo a crença de que só com um profundo res-
nos consultórios — esses causos familiares comecem a ser peito à gramática da língua portuguesa construiremos uma
contados com curiosidade ou graça Costumo brincar com nação desenvolvida O caso, senhor, é que o Grande Pajé
meus pacientes que “cada um tem sua própria Macondo”. está me perseguindo, e tenho certeza de que neste exato
Refiro-me aos personagens fantásticos, moradores da cida momento ele está ali, do outro lado da janela, escondido
de com esse nome, da obra Cem anos de solidão. García entre as folhas da amendoeira e não resistirei a mais
Márquez lançou mão do realismo mágico para criar sua um ataque... Minhas força... forças!... estão se esgotando!
versão adulta e igualmente encantadora dos parentes-pro- Sempre fui um dedicado professor de português, o
blema. É uma galeria de gerações de doidos alegóricos, senhor me conhece bem, tantas vezes me elogiou Traba-
quase todos da família dos Buendía. lho no ensino fundamental de sua escola há mais de vinte
Em Macondo, as estranhezas não configuram uma anos! Desde quando ainda se dizia “1º grau”! Sempre tive
repetição em série: cada personagem lida com os desafios devoção pela língua portuguesa! É uma verdadeira religião
da vida ao seu modo, e eles são muito inventivos. Sei que, para mim! Luto contra as gírias, os estrangeirismos e os er-
com indesejável frequência, há pais e parentes abusadores, ros gramaticais como um cristão contra os hereges! Minha
insensíveis, violentos, não é a esses que me refiro. luta pelo emprego do português correto é uma verdadeira
61
Texto complementar
A origem do alfabeto latino
A palavra “alfabeto” é formada pelas duas primeiras letras do alfabeto grego: alfa e beta. A origem do alfabeto latino liga-se à antiga escritura
hierática, forma cursiva dos hieróglifos usados pelos sacerdotes egípcios.
Aoineko/Wikipedia
Escrita hierática.
Foi provavelmente com esse povo que os fenícios aprenderam a arte de escrever. O alfabeto fenício não possuía vogais, o que constituía um sério
entrave à compreensão do texto Cientes dessas dificuldades, os gregos introduziram-nas Outra inovação foi o fato de se passar a escrever da
esquerda para a direita Em solo grego, todavia, começaram a surgir as divergências locais no modo de representar os sons (em função da diversi-
dade de povos). Isso fez com que aparecessem muitos alfabetos, entre os quais o jônico e o calcídico.
Entre os romanos, prevaleceu o segundo. Da mesma maneira que os gregos, os romanos fizeram suas adaptações. Esse novo alfabeto foi introduzido nas
regiões conquistadas. Excetuando o j e o v, que eles não conheciam, pode se afirmar que hoje usamos o mesmo alfabeto que os romanos nos deixaram.
Z W H D G B Pausa N
Zayin Waw He Daleth Gimel Beth Aleph Nun
M L K Y T H T Sh
Mem Lamech Kaph Yooh Teeth Heih Taw Shin
R Q S P Pausa S
Resh Qoph Sadhe Peh Ayin Samekh
y es-pé-ci-me, mu-ní-ci-pe, noc-tí-va-go Atenção: Para (verbo parar), pelo (substantivo), pera (substantivo), polo
y ê xo-do, an-tí-do-to (substantivo).
63
Quer saber mais?
Livros
y ANDRADE, Carlos Drummond de O elefante 9. ed. São Paulo: Record, 1983
y ASSIS, Machado de. O alienista. Com questões comentadas de vestibular. São Paulo: Ciranda Cultural, 2018.
y CORALINA, Cora. Poemas dos becos de Goiás e estórias mais. 21. ed. São Paulo: Global Editora, 2006.
Exercícios complementares
1 FGV (Adapt.) Assinale a alternativa verdadeira. 4 Vunesp A questão seguinte toma por base um frag-
A Nas palavras história, enquanto e tranquilo, encon mento do conto “Uma história de mil anos”, do escritor,
tramos ditongos crescentes. editor e polemista Monteiro Lobato (1882-1948).
b É correta a separação silábica de ba-lei a, ex-cur
Uma história de mil anos
são, trans a-ma-zô-ni-ca.
C As palavras pseudônimo e fotografia têm, respecti
HU... HU...
vamente, dígrafo e encontro consonantal.
D As palavras enigma e sublingual são polissílabas. É como nos ínvios da mata soluça a juriti.
E As palavras chapeuzinho e cristãmente são propa Dois HUS – um que sobe, outro que desce.
roxítonas.
O destino do u! Veludo verde negro transmutado
em som – voz das tristezas sombrias. Os aborígenes, ma-
2 UFSCar Marque as proposições corretas e some os
ravilhosos denominadores das coisas, possuíam o senso
valores correspondentes.
impressionista da onomatopéia URUTÁU, URÚ, URUTÚ,
01 As palavras progresso, cachorro, conquista e or-
INAMBÚ – que sons definirão melhor essas criaturinhas
gulho têm dígrafo. Isso significa que o número de solitárias, amigas da penumbra e dos recessos?
letras é maior do que o número de fonemas.
02 Na palavra balaústre temos um hiato e quatro síla- A juriti, pombinha eternamente magoada, é toda US.
bas. Não canta, geme em U geme um gemido aveludado,
04 Em “Era a primeira vez que os filhos saíam de casa; lilás, sonorização dolente da saudade.
eles não estavam acostumados”, há duas palavras O caçador passarinheiro sabe como ela morre sem
trissílabas e duas polissílabas. luta ao mínimo ferimento. Morre em U...
08 As palavras há, até, dê (verbo), pés, picolé, só,
Já o sanhaço é todo AS. Ferido, debate-se, desfere
bebês, forrós levam acento gráfico porque são oxí-
bicadas, pia lancinante.
tonas terminadas em a, e, o, seguidos ou não de s.
Soma: JJ A juriti apaga-se como chama de algodão. Frágil
torrão de vida, extingue se como se extingue a vida do
torrão de açúcar ao simples contacto da água Um U
3 UFSM Assinale verdadeira (V) ou falsa (F) em cada uma
que se funde.
das afirmações relacionadas à análise fonológica e
Monteiro Lobato Negrinha. 9 ed. São Paulo: Brasiliense, 1959. p. 135
gráfica do segmento a seguir.
“Ele é especialmente sensível sobre seu excesso de No conto “Uma história de mil anos”, Monteiro Lobato
peso.” interpreta os valores expressivos dos sons com que
J O fonema /s/ está representado pelas letras (s), (c) representamos o canto dos pássaros, bem como de
e dois dígrafos, ao passo que o fonema /z/ está vocábulos onomatopaicos que a língua portuguesa
representado apenas pela letra (s). herdou do tupi Com base nesse comentário, responda:
J A letra (n) junta-se ao (e) formando um dígrafo para a) para exprimir relações entre som e sentido, os
representar a vogal nasal. escritores muitas vezes se servem da sineste-
J As palavras “sobre” e “seu” apresentam, respecti- sia, ou seja, da mescla de diferentes impressões
vamente, um encontro consonantal e um ditongo sensoriais, como o sintagma “ruído áspero e frio”,
decrescente. em que se misturam sensações auditivas (“ruí-
A sequência correta é: do”) e tácteis (“áspero e frio”). Localize, no quinto
A V; F; F. parágrafo do conto, um sintagma em que ocorre
b F; V; V. procedimento semelhante e identifique as im-
C F; F; F. pressões sensoriais evocadas.
D V; V; V. ) Monteiro Lobato não concordava com as regras
E V; F; V. de acentuação do Sistema Ortográfico vigente,
Virgilia era a perfeição mesma, um conjunto de Sociólogo, também, só, até, inútil.
qualidades sólidas e finas, amorável, elegante, aus- Igarapé, trás, Pensilvânia, má, juí.
tera, um modêlo. d Francês, pá, própria, dó, límpido.
65
10 IFSC 2018 A indústria tecnológica se desenvolveu Se omitido o acento gráco, que palavra, quanto à
muito nos últimos anos. Com isso, a quantidade e a classe gramatical, torna-se um substantivo?
qualidade dos produtos eletrônicos supreendem A Pés.
cada dia mais os consumidores. b Número.
Sabendo-se que as palavras em destaque receberam C Saía.
acentos grácos por serem proparoxítonas, em qual D É.
alternativa há somente palavras cujos acentos foram
empregados com base na mesma regra de acentuação? 12 IFSul 2017
Assinale a alternativa CORRETA.
A bêbado, pública, cáqui, trânsito
b mínimo, chapéu, cândida, biquíni
C abadá, tricô, flácido, avô
D máxima, música, alfândega, obstáculo
E tráfego, ímpeto, sábado, fênix
11 IFSul 2017
ACHADO NÃO É ROUBADO As palavras “saudável e petrolífera” são acentuadas
seguindo as mesmas regras que os vocábulos
Fabrício Carpinejar
A numérico e atômicas.
Não ganhava mesada, nem ajuda de custo na infância. b agradável e vulnerável
Eu me virava como dava. Recebia casa, comida e roupa C risível e gráfico.
lavada e não havia como miar, latir e reivindicar mais nada D família e álbum.
aos pais, só agradecer.
As minhas fontes de renda eram praticamente duas:
13 UFG Leia o texto a seguir.
procurar dinheiro nas bolsas vazias da mãe, torcendo para
que deixasse alguma nota na pressa da troca dos acessó- Maracatu acelerado na Veneza brasileira
rios, ou catar moedas nas ruas e nos bueiros.
Troca troca na ponta da corrida eleitoral da Veneza
A modalidade de caça a dinheiro perdido exigia
brasileira. Pela primeira vez o atual prefeito da cidade e
disciplina e profissionalismo. Saía de casa pelas 13h e
candidato à reeleição [...] assume a liderança da disputa.
caminhava por duas horas, com a cabeça apontada ao
IstoÉ. São Paulo, 28 set. 2004. p. 8. Suplemento Eleições.
meio-fio como pedra em estilingue. Varria a poeira com os
pés e cortava o mato com canivete. Fui voluntário remoto O enunciado que dá título ao trecho da reportagem
do Departamento Municipal de Limpeza Urbana. apresentada refere-se aos rumos das eleições muni-
Gastava o meu Kichute em vinte quadras, do bairro cipais de 2004 em uma capital brasileira. Ao utilizar
Petrópolis ao centro. Voltava quando atingia a entrada do a expressão “Maracatu acelerado” para descrever o
viaduto da Conceição e reiniciava a minha arqueologia cenário eleitoral, o jornalista recorreu a imagens que
monetária no outro lado da rua. relacionam:
Levava um saquinho para colher as moedas. Cada A estratégias de reeleição e expressão folclórica.
tarde rendia o equivalente a três reais. Encontrar corren-
b equilíbrio na disputa e identidade regional.
tinhas, colares e broches salvava o dia. Poderia revender
C definição do quadro eleitoral e movimento cultural.
no mercado paralelo da escola. As meninas pagavam em
D torcida popular e manifestação artística.
jujubas, bolo inglês e guaraná.
E alteração nas pesquisas eleitorais e cadência rítmica.
Já o bueiro me socializava. Convidava com frequência
o Liquinho, vulgo Ricardo. Mais forte do que eu, ajudava a
levantar a pesada e lacrada tampa de metal. Eu ficava com 14 UEM Sobre os fonemas vocálicos da língua portugue-
a responsabilidade de descer às profundezas do lodo. Tirava sa, expressos por letras na grafia da norma-padrão
toda a roupa – a mãe não perdoaria o petróleo do esgoto – e culta, assinale a(s) alternativa(s) adequada(s).
pulava de cueca, apalpando às cegas o fundo com as mãos. 01 Em “biotEcnologia”, a letra destacada corresponde
Esquecia a nojeira imaginando as recompensas. Repartia os ao fonema /e/, assim como a letra destacada em
lucros com os colegas que me acompanhavam nas expedi- “genÉticos”
ções ao submundo de Porto Alegre. Lembro que compramos 02 Em “contrário”, “próprio”, “Índia” e “ciência”, as vo-
uma bola de futebol com a arrecadação de duas semanas. gais finais dos vocábulos representam, na escrita,
Espantoso o número de itens perdidos. Assim como os os ditongos crescentes /yo/, nos dois primeiros, e
professores paravam no meu colégio, acreditava na greve /ya/, nos dois últimos.
dos objetos: moedas e anéis rolavam e cédulas voavam
04 Em “dOUtor”, “lavOUra”, “pAUlatinamente” e “AU-
dos bolsos para protestar por melhores condições.
mento”, as letras destacadas nos dois primeiros
Sofria para me manter estável, pois nunca pedia di-
vocábulos correspondem aos fonemas /ow/ e, nas
nheiro a ninguém. Desde cedo, descobri que vadiar é
também trabalhar duro.
duas últimas, aos fonemas /aw/, que, segundo a
Disponível em: < http://carpinejar.blogspot com.br/2016/06/achado-nao e-
regra da gramática da língua, denominam-se di-
roubado.html > Acesso em: 22 jun. 2016. tongos decrescentes.
66 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 19 Acentuação
08 Encontram-se fonemas vocálicos nasais em “simples”, “Isabel, chame o canalizador para reparar o autoclismo
“medo”, “têm”, “fazendo”, “noturna”, “humanidade” da retrete.” E só então o belo rosto de Isabel se iluminou.
16 Em “cegUeira”, “peqUenos” e “qUestão”, as letras Ruy Castro. Folha de S Paulo
destacadas correspondem ao fonema /u/. a) Em São Paulo, entende-se por “encanador” o que
Soma: JJ no Rio de Janeiro se entende por “bombeiro” e,
em Lisboa, por “canalizador” Isso permitiria afir
15 UFSM Leia os quadrinhos a seguir. mar que, em algum desses lugares, ocorre um
uso equivocado da língua portuguesa? Justifique
sua resposta
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Syndicate/Ipress
67
19 Leia a tira a seguir
Amor de Parceria
Nova ortografia da língua portuguesa
Saibam primeiro
Que fulana é minha amiga
¨
E comigo ela não briga,
21 Interprete a imagem à direita e seu respectivo balão. 23 Procure no texto uma palavra que se enquadra na
mesma regra de “Há” Explique a regra
22 Imagine a seguinte manchete:
discussão para greve
a) Antes da reforma, qual seria a interpretação da frase? 24 Identifique no texto de Noel um exemplo de rima mas-
b) Levando em conta a reforma, qual é significado frase? culina e outro de rima feminina.
20
Determinados conectivos e partículas possuem um signicado que escapa à
classicação tradicional; por exemplo, na charge acima, de Bessinha, o conectivo e é
empregado como palavra denotativa de assunto ou situação; retoma-se um assunto
no caso, a chuva por meio desse conectivo. Observe que o e não está coordenando
duas palavras ou duas orações, como costuma ocorrer por ocasião das coordenadas.
Sua função é outra, mas também frequente (principalmente na linguagem oral)
A palavra que Conjunção subordinativa
a. Integrante (nas orações subordinadas substantivas,
Substantivo permutável por isto)
É precedido de artigo e recebe acento circunflexo. Eu quero que você venha comigo. (Eu quero isto)
Há um quê de mistério nesse caso
b. Adverbial consecutiva (nas orações subordinadas ad-
Pronome relativo verbiais consecutivas, normalmente precedida de tal,
tamanho, tanto)
Recupera o antecedente e pode ser permutável por o
Foi tão emocionante que o astronauta ficou sem
qual, a qual, os quais, as quais.
palavras!
Primavera que durou um momento...
Todd Arena/123rf.com
Camilo Pessanha
Advérbio de intensidade
Intensifica o adjetivo ou o advérbio.
Fernando Gonsales
Fig. 1 Advérbio.
Pronome adjetivo
Acompanha o substantivo
Que prova você fez? (pronome adjetivo interrogativo)
Que guerra idiota, senhores! (pronome adjetivo
exclamativo)
Fig. 2 Conjunção subordinativa que como locução adverbial consecutiva.
Pronome substantivo
c Adverbial concessiva (nas orações subordinadas ad-
Substitui o substantivo.
verbiais concessivas)
Que ocorreu, meu filho? (pronome substantivo interrogativo)
Trabalhava muito, cansado que estivesse (que = ainda
Ouviram não sei o quê (pronome substantivo indefinido)
que)
Caco Galhardo
crianças vivem o lúdico intensamente)
Alguns autores registram a flexão do verbo ser quando
os termos dessa locução estão separados.
São as crianças que vivem o lúdico intensamente
Preposição
Permutável pela preposição de:
Tenho que parar com isso! (que = de)
Primeiro que tudo, sou honesto! (que = de)
O primeiro caso não é consenso entre os autores.
Senão/se não
Senão
a. com o sentido de caso contrário:
Não chore, senão todos acordarão!
b. com o sentido de a não ser:
O governo não faz outra coisa, senão discursar.
c com o sentido de exceto:
Nunca namorou firme, senão com o primo
d. com o sentido de mas sim, mas, porém:
Não era ouro nem prata, senão latão.
e. com o sentido de defeito:
Havia um senão naquele homem: sua ambição des
mesurada.
Se não
a. com o sentido de caso não:
Se não providenciarem, como faremos?
b. com o sentido de ou:
Bill Gates é poderoso, se não poderosíssimo.
Palavras denotativas
Situação: afinal, agora, então, mas Fig. 3 A palavra só, no sentido de limitação.
Mas o professor cometeu esse erro?
Afinal, quem é o criminoso? Só você fez a lição?
Então, como foi a prova? Apenas o Brasil possui tão vasta floresta?
Agora, isso não está certo Somente um deputado votou contra
FRENTE 1
71
Inclusão: inclusive, também, até, além Exclusão: exceto, menos, salvo, fora,
disso, ademais, ainda
tirante
Caco Galhardo
Seu corpo era monstruoso, tirante a boca que era pe-
quena
Salvo o presidente, todos estavam envolvidos.
Todos saíram, exceto a irmã.
Todos colaboraram, menos o diretor
Fora os anarquistas, estavam presentes todos os grupos.
Revisando
Texto para as questões 1 e 2. 2 Qual é a função morfológica da palavra que em “um
nariz que não está ruim”? Qual é sua função coesiva?
© 201 King Features Syndicate/Ipress
73
b) Desloque a palavra só na frase em questão, obtendo mais duas versões diferentes para a frase Indique o valor
semântico de só nas duas ocorrências
Exercícios propostos
1 Em “Você é que me deu o calote”, temos: d O vocábulo só, se posicionado depois de “Mon-
A um pronome relativo. drian”, limitaria o fazer do pintor.
uma conjunção integrante. E O demonstrativo isso exerce função anafórica, re-
c um que preposição. cupera um termo da própria frase.
d uma locução de realce.
E uma conjunção adverbial consecutiva. 5 “Que bom! O Brasil acordou!”
A palavra que exerce morfologicamente a função:
2 Correu muito, com dor que estivesse. A de substantivo.
O conectivo em destaque estabelece uma ideia de: de adjetivo.
A causa. d condição. c de advérbio.
consequência. E finalidade. d de pronome indefinido.
c concessão. E de conjunção coordenativa.
causa E consequência
c probabilidade
75
Em julho passado, Grandin, hoje com 71 anos, veio ao 14 EN 2017
Brasil pela sexta vez. Na fazenda Orvalho das Flores, lo-
calizada em Barra do Garças (MT), ela testemunhou como O dono do livro
a equipe de Perez conduz suas 2 980 cabeças de Nelore, Li outro dia um fato real narrado pelo escritor mo-
raça predominante no país. Os vaqueiros massageiam os çambicano Mia Couto. Ele disse que certa vez chegou em
bezerros, não gritam com os bois, tampouco deixam capas casa no fim do dia, já havia anoitecido, quando um garoto
de chuva, correntes ou chapéus no caminho dos animais. humilde de 16 anos o esperava sentado no muro. O garoto
A engenheira agrônoma Maria Lucia Pereira Lima foi estava com um dos braços para trás, o que perturbou o
aluna de pós-doutorado de Grandin na Universidade do escritor, que imaginou que pudesse ser assaltado.
Estado do Colorado, em Fort Collins, em 2013 Viajara aos Mas logo o menino mostrou o que tinha em mãos:
Estados Unidos para aprender como medir o bem-estar um livro do próprio Mia Couto. Esse livro é seu? pergun-
dos bovinos e se inteirar de inovações que pudessem ser tou o menino. Sim, respondeu o escritor. Vim devolver. O
implantadas em currais brasileiros. Uma delas, por exem- garoto explicou que horas antes estava na rua quando viu
plo, tranquiliza o animal conduzido à vacinação: o gado uma moça com aquele livro nas mãos, cuja capa trazia
em geral se via obrigado a passar espremido por espaços a foto do autor.
afunilados. Grandin projetou um acesso em curva, sem O garoto reconheceu Mia Couto pelas fotos que já
cantos, que dá à rês a ilusão de que voltará ao ponto de havia visto em jornais. Então perguntou para a moça: Esse
partida. Outra: uma lâmpada acesa na entrada do tronco livro é do Mia Couto? Ela respondeu: É. E o garoto mais
de contenção o equipamento que permite o manejo que ligeiro tirou o livro das mãos dela e correu para a casa
individual do boi – a indicar o trajeto reduziu em até 90% do escritor para fazer a boa ação de devolver a obra ao
o uso de choque elétrico durante o processo. verdadeiro dono.
[...] Uma história assim pode acontecer em qualquer país
No auditório da universidade, outros pesquisadores habitado por pessoas que ainda não estejam familiarizadas
se revezavam no palco discutindo aspectos econômicos e com os livros – aqui no Brasil, inclusive. De quem é o
sociais relacionados ao bem-estar animal. O tempo de ma- livro? A resposta não é a mesma de quando se pergunta:
nejo cai pela metade nos estabelecimentos agropecuários “Quem escreveu o livro?”.
que seguem os manuais de Grandin. De ovos transporta- O autor é quem escreve, mas o livro é de quem lê,
dos com cuidado nascem pintinhos sadios. Sem falar na e isso de uma forma muito mais abrangente do que o
melhor qualidade de vida de quem lida com esses bichos. conceito de propriedade privada – comprei, é meu. O
Vaqueiros bem treinados sofrem menos acidentes no tra- livro é de quem lê mesmo quando foi retirado de uma
balho e desenvolvem uma relação mais harmoniosa nos biblioteca, mesmo que seja emprestado, mesmo que tenha
casamentos. “A melhoria do bem-estar animal melhora o sido encontrado num banco de praça.
bem estar humano”, afirmou o zootecnista Mateus Para O livro é de quem tem acesso às suas páginas e através
nhos da Costa, da Universidade Estadual Paulista. delas consegue imaginar os personagens, os cenários, a
Monica Manin. Acesso em: 12.10.2018. Adaptado voz e o jeito com que se movimentam. São do leitor as
sensações provocadas, a tristeza, a euforia, o medo, o
Observe os elementos destacados na passagem:
espanto, tudo o que é transmitido pelo autor, mas que
“Sempre passo no curral antes do manejo, observo reflete em quem lê de uma forma muito pessoal. É do
tudo, dizem que tenho olho biônico, e ela notou uma leitor o prazer. É do leitor a identificação. É do leitor o
coisa que eu não tinha visto”, presente no primeiro aprendizado. É do leitor o livro.
parágrafo. As palavras destacadas exercem Dias atrás gravei um comercial de rádio em prol do
A funções diferentes, pois o primeiro “que” é conjun- Instituto Estadual do Livro em que falo aos leitores exa-
ção integrante e introduz uma oração coordenada, tamente isso: os meus livros são os seus livros. E são, de
enquanto o segundo “que” é pronome relativo e fato. Não existe livro sem leitor. Não existe. É um objeto
introduz uma oração explicativa fantasma que não serve pra nada.
funções diferentes, pois o primeiro “que” é uma Aquele garoto de Moçambique não vê assim. Para ele,
conjunção subordinativa, enquanto o segundo é o livro é de quem traz o nome estampado na capa, como
um pronome relativo, tendo como antecedente o se isso sinalizasse o direito de posse. Não tem ideia de
termo “coisa”. como se dá o processo todo, possivelmente nunca entrou
mesma função, pois ambos são conjunções su numa livraria, nem sabe o que é tiragem.
bordinativas, sendo que o primeiro introduz uma Mas, em seu desengano, teve a gentileza de tentar
oração substantiva, enquanto o segundo, uma ora- colocar as coisas em seu devido lugar, mesmo que para
ção adverbial restritiva. isso tenha roubado o livro de uma garota sem perceber.
mesma função, pois ambos os pronomes “que” Ela era a dona do livro. E deve ter ficado estupefata.
Um fã do Mia Couto afanou seu exemplar. Não levou
retomam vocábulos anteriores, sendo o verbo “di-
o celular, a carteira, só quis o livro. Um danado de um
zem” e o substantivo “coisa” seus antecedentes
amante da literatura, deve ter pensado ela. Assim são as
respectivamente.
histórias escritas também pela vida, interpretadas a seu
E mesma função, pois ambos são conjunções, porém
modo por cada dono.
o primeiro “que” é uma conjunção subordinativa, (Martha Medeiros JORNAL ZERO HORA 06/11/11 /
enquanto o segundo, uma conjunção coordenativa. Revista O Globo, 25 de novembro de 2012.)
77
18 Em “Eis a calamidade em que nos encontramos”, o ter 21 Leia a charge a seguir
mo eis denota:
A afetividade. d designação.
b inclusão. E realce.
Claude Monet
E a pergunta que não quer alar: omo poe,
atualmente, om tanto esenvolvimento e teno-
logia, milhares e pessoas morrerem e fome?
Texto complementar
Um “mas” romanesco
O emprego do mas que vamos considerar agora está Contudo entraram. Cinco ou seis grupos de homens,
vinculado à técnica narrativa. Aqui, o valor argumentativo conversando em voz muito alta e gesticulando, obstinavam-
é colocado a serviço das convenções do romance realista. se no meio dos encontrões; os outros caminhavam em filas,
(Um jornalista, Fauchery, leva um jovem provincial, La girando sobre seus calcanhares que batiam no parquete
Faloise, para visitar um teatro parisiense durante o intervalo.) encerado. À direita e à esquerda, entre colunas de mármo
No alto, no saguão, três lustres de cristal ardiam com re jaspeado, mulheres sentadas em banquetes de veludo
uma luz viva. Os dois primos hesitaram por um instante: a vermelho contemplavam a torrente passar com um ar abor-
porta de vidro, fechada, revelava, de um lado ao outro da recido, como enlanguescidas pelo calor; e, atrás delas, nos
galeria, uma onda de cabeças que duas correntes transpor- espelhos altos, viam se seus coques. No fundo, diante do
tavam num redemoinho contínuo. bufê, um homem barrigudo bebia um copo de xarope.
Parquete: assoalho feito de peças de madeira nobre, de tamanhos, cores e formatos diversos, que formam desenhos geométricos variados
Jaspeado: de coloração vermelha, amarela ou variada.
Enlanguescidas: abatidas, sem forças.
79
Resumindo
O estudo da palavra que possibilita rever os valores semânticos das con- 6. Porque
junções coordenativas e subordinativas. Quanto ao estudo das palavras nas respostas e justificativas (= pois)
denotativas de exclusão, inclusão etc., trata-se de matéria importante para
Cante, porque está frio e perigoso
os exames modernos; a semântica dessas partículas tem sido objeto de
investigação por parte dos linguistas. Não se esqueça de que o importante
não é decorar, mas interpretar. Observe a síntese a seguir. 7 Por que
a) nas interrogativas em início de frase
1. Situação: afinal, então, mas Por que você me olha assim?
Afinal, a guerra acabou?
Então, o verdão está na final? b) introduzindo substantivas (interrogativas indiretas)
Mas o governo, cederá? Não sei por que a cobiça existe.
2. Realce: cá, lá, só, mesmo c) introduzindo adjetivas (= pelo qual, pela qual...)
Só eu sei as esquinas por que passei.
Eu cá me viro, Maria!
Veja só!
8. Por quê
É isso mesmo, beija a moça!
a) antes da interrogação
Eu sei lá!
Por quê? Por que você insiste?
Livros
y DAMASCENO, Darcy (Org) Cecília Meireles: poesia Rio de Janeiro: Agir, 1974
y PESSOA, Fernando. Obra Poética. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2016.
y QUINTANA, Mário. Antologia Poética. Porto alegre: L&PM, 2003.
tituída, sem que haja alteração de sentido, por: O que diz o menino que dorme na praia? Talvez fale
A mas sim. dos perigos do mar, da displicência dos pais. Ou de um
de outro modo. assassinato a ser esclarecido.
81
Mas é só um menino. Não deveria nos dar esta sen escala se tornam virtuais, pois aderem a relacionamentos
sação de naufrágio da humanidade. Há dias, não adianta íntimos, de amizade e de competições virtuais transfor-
acusar governos, etnias, religiões, porque a falta de ar mando o próprio organismo num organismo virtual.
não cessa. A dependência digital provoca compulsão, depressão,
É lágrima que não pinga, não seca nem escorre. É TOC (transtorno obsessivo-compulsivo), agitação, irritabi-
mais que um cadáver, é um assombro, uma dor insepulta lidade, perda de sentimentos e perturbação A perturbação
de que tentamos nos livrar. está ligada às preocupações com a rede, com o tempo em
E ainda suspeitamos de nós mesmos. que está on-line, com a percepção de sua necessidade de
Em nome dos deuses fazemos coisas que até o diabo permanecer na internet, o distanciamento de amigos e fa-
duvida. Duvida e se defende, dizendo que não chegaria miliares e ainda com o refúgio que a rede lhe proporciona
a tanto, embora comemore o resultado. diante de problemas.
Queríamos não ter visto nem sabido maldito fo Do ponto de vista psicológico, a dependência digital é
tógrafo, maldita web e maldita imagem que, mesmo uma patologia e ocorre em alguns casos, não acometendo
escorraçada da memória, dorme no tapete da sala e à todos os usuários. Quando se transforma em patologia,
noite repousa no nosso travesseiro, naquela pose mesmo deve ser percebida e encaminhada para um profissional
que o mar beijava competente para que esse auxilie o indivíduo na busca
Fica-nos a sensação de que Alá deu de ombros, Jeová do autocontrole
lavou as mãos e, embriagados na bacanal do Olimpo, os Fonte: DANTAS, Gabriela Cabral da Silva. "Dependência Digital"; Brasil
outros também ignoraram o presente de grego numa praia Escola. Disponível em <https://brasilescola.uol.com.br/psicologia/
dependencia-digital.htm>. Acesso em 28 de julho de 2018.
do Mediterrâneo
Enquanto isso, no Hades, dançando e atualizando Assinale a alternativa em que o referente da palavra
Castro Alves com outras infâmias no mar, ri-se Satanás. que, em destaque, está corretamente indicado
http://www.cronicadodia.com.br/2015/09/ A “A dependência digital é a busca incessante pela
acorda-menino-albir-jose-inacio-da-silva.html
utilização da internet que age de forma semelhante
Assinale a alternativa cujo “que” em destaque funcione à dependência química” (que = internet).
como conjunção integrante, ou seja, tem a função de “A dopamina é um neurotransmissor que antece-
introduzir oração subordinada substantiva. de naturalmente a adrenalina e a noradrenalina
A “É lágrima que não pinga.” que atuam no organismo como estimulantes do
“É mais que um cadáver.” sistema nervoso central” (que = a adrenalina e a
“Duvida e se defende, dizendo que não chegaria noradrenalina).
a tanto.” “Tal prazer está relacionado a fatos e reações
“... maldita imagem que, mesmo escorraçada da simples como downloads, interatividades, e-mails,
memória, dorme no tapete da sala.” que em contato direto com o organismo originam
E “... naquela pose mesmo que o mar beijava.” descargas elétricas entre os neurônios através da
dopamina” (que = e mails)
13 UFVJM 2017 “Em pesquisa realizada no ano de 1997, pela pes-
quisadora Diane Wieland, dos Estados Unidos, foi
Dependência Digital afirmado que o uso prolongado desta ferramenta
Por Gabriela Cabral facilitadora de buscas e pesquisas promove além
do estado vicioso de dependência, relacionamen-
A dependência digital é a busca incessante pela
tos interpessoais baseados em fatores supérfluos e
utilização da internet que age de forma semelhante à de-
pendência química, pois ocorre como consequência do
sem envolvimentos” (que = o uso).
uso prolongado da internet que, por sua vez, proporciona
prazer físico à pessoa Tal prazer está relacionado a fatos e 14 IFPR 2017
reações simples como downloads, interatividades, e-mails,
Deuses e Demônios
que em contato direto com o organismo originam des
cargas elétricas entre os neurônios através da dopamina. A possessão constituía um fenômeno familiar no mun-
A dopamina é um neurotransmissor que antecede na- do grego. Gente de todas as camadas sociais consultava o
turalmente a adrenalina e a noradrenalina que atuam no oráculo de Apolo, em Delfos, onde a pitonisa, em transe,
organismo como estimulantes do sistema nervoso central oferecia respostas – por vezes enigmáticas e ambíguas – às
A dependência digital estimula a produção da dopamina questões apresentadas O domínio dos corpos pela divin-
e provoca uma grande sensação de prazer resultando na dade era habitual nos rituais sagrados, como o de Dionísio,
busca por tais momentos. (a) que deu origem ao teatro Por sua vez, Platão chegou
Em pesquisa realizada no ano de 1997, pela pesquisa- a afirmar (b) que muitos poetas criavam sob o domínio
dora Diane Wieland, dos Estados Unidos, foi afirmado que das Musas e de outras deidades, sem controle sobre as
o uso prolongado desta ferramenta facilitadora de buscas palavras proferidas.
e pesquisas promove além do estado vicioso de depen- Milênios depois, os principais estudiosos do psi-
dência, relacionamentos interpessoais baseados em fatores quismo empreenderam o exame da possessão. Jung, por
supérfluos e sem envolvimentos Na pesquisa, foi com exemplo, abordou o fenômeno já na sua tese de douto-
provado que pessoas que utilizam a internet em grande ramento, focalizando o caso de uma adolescente (c) que
83
18 Interprete as duas outras ocorrências da palavra só
Texto para as questões 19 e 20.
Oh que saudade que eu tenho da vida boa
Jogando botão
Chutando pedra
Soltando bombinha
Na casa da minha tia.
Oh que saudade que eu tenho de não ser adulto!
R. Onada.
21 UFRJ “... comprimem-se um milhão e meio de brasileiros, provenientes de quase todas as unidades da Federação.”
Transforme o adjetivo provenientes em oração adjetiva, utilizando-se de verbo do mesmo radical e do relativo que.
15
formas poéticas tradicionais, sobretudo do soneto. Apesar de os poetas desse momento
terem retornado também à métrica, não a consideraram obrigatória, sendo utilizado ainda o
verso livre, embora mais trabalhado ritmicamente e com certo rigor e zelo artesanal.
Surge uma geração de escritores preocupados principalmente com o domínio da pró-
pria linguagem, visto que o contexto político estava relativamente tranquilo em relação
às gerações anteriores, fazendo com que esses escritores fossem menos exigidos social
e politicamente, podendo, assim, potencializar seus trabalhos nos âmbitos estéticos e lin-
guísticos, explorando com maior anco a forma literária, tanto na prosa quanto na poesia.
Uma nova conjuntura regionalista
Mundialmente, o ano de 1945 marcou o fim da Segunda
Guerra Mundial e, no Brasil, do Estado Novo (1937-1945),
implementado pela presidência de Getúlio Vargas. O Brasil
passou a viver um período democrático e desenvolvimentis-
ta, cujo ápice ocorreu nos anos de governo do presidente
Juscelino Kubitschek.
A literatura brasileira, assim como o cenário sociopolítico,
também passava por transformações: a prosa modernista da
terceira geração, de início, mostra-se conservadora, intimista
e reflexiva Ao mesmo tempo, o regionalismo renova-se a
partir da perspectiva de Guimarães Rosa e de sua recriação
dos costumes e da fala sertaneja, adentrando a psicologia
do jagunço do Brasil central
O termo “regionalismo” é bastante amplo e sofreu
variações no decorrer do tempo. Porém, seu conceito,
ainda que sob diferentes matizes, está presente desde o
projeto romântico de José de Alencar ao retratar nossas
paisagens, tipos e costumes diversos, passando pelo ainda
muito marcado determinismo que se observa em Os ser-
tões, de Euclides da Cunha. Além disso, o regionalismo é
encontrado nas histórias “caipiras” de Monteiro Lobato e na
obra, já modernista, Macunaíma, de Mário de Andrade, a
qual retrata uma viagem fantástica, com toques surrealistas,
por todo o Brasil. Ao se desenvolver, o conceito de regio-
nalismo revelou-se, quase sempre, associado ao espírito
nacionalista e voltado à valorização da nossa cultura
Como já estudamos, o regionalismo ganhou mais força
na década de 1930, garantindo prestígio literário para os es-
critores que valorizavam, ainda que de modos diferentes, a
abordagem temática de problemas ligados às suas regiões.
Em um cenário de profundas mudanças políticas devido
ao fim das oligarquias, ao desenvolvimento da indústria e
à nova fase centralizadora, surgia, no Brasil, o sentimento
geral de unidade da nação baseado no conhecimento de
suas diversidades regionais, com o desejo por uma estética
literária que pudesse aproximar e colocar lado a lado as
diferenças: o Brasil queria reconhecer sua totalidade de
maneira mais integrada e ampliar a consciência quanto às
suas imensas disparidades regionais
A literatura do período marcou-se pelo tom de denúncia
e de conscientização dos problemas e das características
regionais, ainda que acompanhada, principalmente nas obras
de Graciliano Ramos, por uma densa sondagem psicológica.
A partir de 1945, essa conjuntura literária se modificou
novamente, adquirindo uma nova dimensão com Guimarães
Rosa, cuja obra não trazia mais o tom da denúncia, embora
mantivesse certa preocupação social e contato íntimo com
a matéria regional, no seu caso, o sertão mineiro. O foco do
trabalho do escritor era construir uma forma de expressão
que garantisse um mergulho mais fundo na humanidade
comum das diversas experiências de vida do homem bra
sileiro, ainda que a partir da observação de uma região
específica. Houve, assim, uma enorme transformação do
conceito de regionalismo, que, se não levou à impossibili-
dade de usá lo, modificou radicalmente, de modo a originar
uma literatura calcada em princípios mais universalistas.
Um fato curioso sobre o autor é que ele foi eleito para lecimento da presença do divino na vida humana Por essa razão,
certa perspectiva religiosa e alguns temas da tradição cristã, como
a Academia Brasileira de Letras em 1963, porém adiou sua
salvação, pecado, transcendência e redenção, aparecem trabalhados
cerimônia de posse por quatro anos, pois temia que seu em suas produções literárias.
coração não aguentasse a emoção. No dia 16 de novembro
de 1967, em seu discurso de posse, disse “… a gente morre
é para provar que viveu”, falecendo, três dias depois, em Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa.
virtude de um infarto. ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas 1958.
87
A obra de Guimarães Rosa combina, de maneira muito Entre as obras de Guimarães Rosa, podemos destacar
peculiar, a abordagem regionalista às conquistas estéticas o volume de contos Sagarana (1946), sua estreia literária, o
da primeira fase do Modernismo Da linguagem escrita ciclo de novelas e romances Corpo de baile (publicado em
tradicional em direção às linguagens inovadoras típicas 1956 e, mais tarde, desmembrado em três livros, que também
do sertão –, Guimarães transpôs a nossa língua para uma reuniam textos diversos: Manuelzão e Miguilim, No urubu-
dimensão nunca antes atingida, distante tanto das con- quaquá, no pinhém e Noites do sertão), a obra-prima do
venções da abordagem realista quanto das idealizações romance moderno brasileiro Grande sertão: veredas (1956)
românticas, tornando-a própria a enredar os leitores em e os livros de contos Primeiras estórias (1962) e Tutaméia
uma experiência mais imersiva e sensorial do que tudo o (1967), além do volume póstumo Estas estórias (1969).
que a literatura brasileira conhecia até então O modo de
escrever do autor era capaz de seduzir, propondo novas Atenção
coordenadas, neologismos, raras associações linguísticas,
É muito importante destacar que, nessa proposta de inovar a lingua-
aliterações, onomatopeias, desligamentos sintáticos e voca- gem e utilizar as palavras com mais liberdade e autonomia, uma das
bulário inédito, de modo a proporcionar à sua linguagem a características mais marcantes da obra de Guimarães Rosa, além
musicalidade da fala sertaneja e inúmeras faixas de ondas da sintaxe pouco convencional, é o uso de neologismos, ou seja, o
semânticas. emprego de palavras novas, derivadas ou criadas a partir de outras
Assim, ganha forma na obra do escritor uma literatura já existentes e que geralmente entram com naturalidade na língua
distinta, rica e transgressora quanto a fórmulas, apta a fa oficial em que se escreve, além da atribuição de sentidos novos a
palavras já existentes na língua.
zer uma síntese extraordinária entre matéria e espírito sem
antecedentes em nossa tradição literária. O regional e o
espiritual se encontram e se interpenetram em seus textos
em um só lugar o sertão , trabalhado ao mesmo tem Sagarana (1946): “Felicidade se acha é
po pelo escritor como paisagem ou conceito geográfico e em horinhas de descuido”
como campo de provas da subjetividade de cada indivíduo. Em Sagarana, primeiro livro em prosa publicado por Gui-
Contrapondo entidades como o bem e o mal, a graça marães Rosa, a paisagem rural e as personagens claramente
e o pecado e o divino e o terreno, Guimarães Rosa se identificadas ao sertão mineiro são exuberantemente narra-
aprofunda em uma misteriosa e experiencial sondagem das e nomeadas por meio de uma linguagem muito criativa,
das entranhas do desconhecido do homem, inerentemente que se apresenta nem inteiramente popular – embora com
um ser fragmentário. Para o autor, essa noção quanto à algumas marcas do falar regional mimetizadas – nem pro-
pluralidade das faces e dos vazios humanos corresponde priamente erudita, mas muito elevada do ponto de vista da
à função das palavras, que também carregam significados criação literária. De acordo com o crítico Antonio Candido,
e formas capazes tanto de reproduzir o mundo em sua “Sagarana transcende a região e constrói um certo sabor
grandeza e impenetrabilidade racional quanto de recriá-lo regional”. Com essa forma de construção, que oferece uma
à luz da experiência subjetiva dos que o habitam. configuração estética complexa ao simples e primitivo, a obra
Dessa maneira, Guimarães Rosa diferencia-se dos se distancia do regionalismo tal como havia sido praticado
demais escritores de sua época, visto que seu “regiona- até então, mas talvez seja a única obra do autor à qual, de
lismo”, que talvez devesse vir sempre grafado entre aspas, um modo ou de outro, ainda possamos estender essa no-
é bastante característico. Enquanto os outros regionalis- menclatura, visto que alguns dos enredos dos contos se
tas delimitavam geograficamente sua área e abordavam assemelham aos “causos” da tradição oral e boa parte de
questões locais com realismo e olhar crítico, o sertão de suas personagens apresentam uma caracterização anedótica
Guimarães, além de não ter limites geográficos especí que as aproxima das fabulações regionalistas
ficos, desenvolve um “regionalismo universal”: pode-se A palavra que dá título ao volume de contos, “saga-
perceber o sertão do mesmo modo que se nota o cosmo. rana”, é um hibridismo composto por “saga”, palavra de
Embora o texto do autor tenha um ponto de partida, sua origem germânica que significa “canto heroico, lenda”, e
imagem sempre se desdobra em sentidos maiores. É o o sufixo “rana”, de origem tupi, que significa “semelhante,
que podemos entender a partir de alguns de seus mais feito à maneira de” Esse nome já revela a força e o teor das
felizes achados expressivos, como: “o sertão é o mundo”, nove histórias que compõem o livro: “O burrinho pedrês”,
“o sertão é dentro da gente” ou “o sertão é quando menos “A volta do marido pródigo”, “Sarapalha”, “Duelo”, “Minha
se espera”, ou seja, universaliza se o sertão à proporção gente”, “São Marcos”, “Corpo fechado”, “Conversa de bois”
que o autor tematiza suas questões, como o amor, a vio- e “A hora e vez de Augusto Matraga”.
lência, a traição e o medo. Nessas histórias, as falas, os saberes populares e as
formas literárias cultas atuam juntos e com a mesma força,
Sagarana não é um livro regional como os outros, porque e a memória e a experiência locais estão condensadas e
não existe região alguma igual à sua, criada livremente pelo se misturam a fabulações típicas da tradição literária culta.
autor com elementos caçados analiticamente e, depois, sinte-
Assim, o rústico convive sem confronto com o sofisticado
tizados na ecologia belíssima de suas histórias.
no mesmo ambiente. Nessa convivência entre imprevistos,
CANDIDO, Antonio. “Sagarana” In: ROSA, João Guimarães; COUTINHO,
Eduardo (Org.). Ficção completa. 2 ed. Rio de Janeiro: o genial efeito literário: o leitor tende a perder-se no mundo
Nova Aguilar, 2009. p. CXI. v. 1. narrado entre a noção do que é real e do que é ficção.
FRENTE 2
89
Corpo de baile: o rodar das personagens mesmos gêneros em Corpo de baile, surge um enorme
e surpreendente romance, Grande sertão: veredas, ao
e das formas literárias qual se seguirá um retorno ao conto, agora mais apurado
Dez anos depois da publicação de Sagarana que, a quanto à precisão concisa de seus efeitos literários, em
par da novidade de sua linguagem, ainda manteve a forma Primeiras estórias
convencional de um livro de contos –, surgia o enorme
Poty Lazzarotto
volume que contém o ciclo de novelas Corpo de baile.
Aliás, como em Sagarana, o nome do livro não é o nome
de nenhum dos textos: trata se do conjunto de sete tex
tos de estruturas formais muito livres e diferentes entre si,
possivelmente a razão pela qual o autor os denominou
“Os poemas” no índice que abre o volume. Certamente,
este é o motivo de o próprio Guimarães e os críticos literá-
rios aplicarem a eles o conceito de “novelas” termo que
designa textos literários de maneira indefinida, ora mais
próximos do conto, ora semelhantes a romances, mas sem
que isso diga respeito apenas às suas extensões, e sim à
diversidade dos seus recursos narrativos. Uma das novelas,
inclusive, “Cara-de-bronze”, tem a peculiaridade de apre
sentar, entremeados à narrativa, longos trechos na forma
de um roteiro cinematográfico que traz esquematizados na
página as falas das personagens, as indicações de cenas,
os cenários, os planos e os enquadramentos. Outra novela,
“Dão-lalalão” – título onomatopaico a evocar o badalar de
um sino , ainda que longa, tem a típica estrutura do con
to, no qual uma única situação um sertanejo que rumina
pensamentos enquanto volta para casa a cavalo conduz
a um tenso desfecho.
É na abertura desse livro que está um dos mais famo-
sos textos roseanos, “Campo geral”, que traz a delicada e
emocionante história de um menino, Miguilim, às voltas com
a sua descoberta do mundo e os percalços vividos junto à
sua família, em um ermo dos gerais. Essa novela, no poste-
rior desmembramento do volume, foi posta pelo autor junto
a “Uma estória de amor”, a história do já velho fazendeiro
Manuelzão e de seus questionamentos quanto ao sentido
da vida e à aproximação da morte Ambas compõem o livro
Manuelzão e Miguilim
É interessante o fato de que a personagem que abre o
ciclo, o pequeno Miguilim, volta já homem feito (Miguel) na
última novela do volume Corpo de baile, “Buriti”, a mais lon-
ga das sete e cuja estrutura literária claramente se aproxima
da de um romance Algumas outras personagens do ciclo
também aparecem em diferentes novelas, fortalecendo a
ideia de um corpo de baile, a rodar e dançar pelo sertão.
91
[ ] Todo caminho da gente é resvaloso Mas; também, em tempo de paz, que seus homens saíssem fossem, para es-
cair não prejudica demais – a gente levanta, a gente sobe, a tropelias, prática da vida Ser ruim, sempre, às vezes é custoso,
gente volta! Deus resvala? Mire e veja. Tenho medo? Não. Estou carece de perversos exercícios de experiência. Mas, com o
dando batalha É preciso negar que o “Que-Diga” existe. Que tempo, todo o mundo envenenava do juízo Eu tinha receio
é que diz o farfal das folhas? Estes gerais enormes, em ventos, de que me achassem de coração mole, soubessem que eu não
danando em raios, e fúria, o armar do trovão, as feias onças era feito para aquela influição, que tinha pena de toda cria de
O sertão tem medo de tudo. Mas eu hoje em dia acho que Jesus. — “E Deus, Diadorim?” – uma hora eu perguntei. Ele
Deus é alegria e coragem – que Ele é bondade adiante, quero me olhou, com silenciozinho todo natural, daí disse, em res-
dizer O senhor escute o buritizal E meu coração vem comigo posta: — “Joca Ramiro deu cinco contos de réis para o padre
ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. In: ROSA, João Guimarães; vigário de Espinosa ”
COUTINHO, Eduardo (Org.). Ficção completa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. In: ROSA, João Guimarães;
Aguilar, 2009. p. 203-4. v. 2. COUTINHO, Eduardo (Org.). Ficção completa. 2. ed. Rio de Janeiro:
Nova Aguilar, 2009 p 112 v 2
Também por sua peculiar opção narrativa, o romance é
todo pautado por uma dimensão enigmática, lacunar e miste- A obra-prima de Rosa, sem dúvida um dos romances
riosa. O elemento principal desse plano reticente é Diadorim, mais complexos e potentes de nossa literatura, eleva esse
que assume a tarefa de vingar a morte do pai, o grande chefe gênero literário a um patamar raro entre os brasileiros, que
jagunço Joca Ramiro. A personagem representa a coragem dificilmente encontrará par. Livro-mundo que tudo resume
em relação à natureza e aos homens e marca e favorece a e abre, ele se dispõe a nós como a terra vasta do sertão:
entrada de Riobaldo para o mundo lírico da beleza gratuita assustadora e eventualmente difícil de transpor, mas ca-
e da poesia Porém, se por um lado, Diadorim o ensina a ver paz de revelar belezas extremas se o leitor se dispuser a
a beleza do sertão, por outro oculta um segredo e revela adentrar suas veredas.
que tudo está sujeito à inversão das posições, às misturas
e às reversibilidades que podem ocorrer em vários planos. Primeiras estórias: revelações no
Embaraçar a disposição de gêneros representa, tam escorregar do tempo
bém, uma questão importante para o autor, visto a relação
que podemos ter com uma alteridade radical e com o
tratamento que dedicamos ao outro, o qual nunca conhe-
ceremos inteiramente.
As diferenças entre plebe e oligarquia e entre jagunços
e chefes introduzem, ainda, outra dimensão de disparidade:
Riobaldo transita entre as classes e sempre se pergunta
“quem sou eu?”. Assim, a busca do sentido da vida por esse
herói problemático confere à narrativa uma característica
típica do romance de formação.
Na história contada, a lei civil e o poder nacional centra-
lizador se contrapõem aos costumes locais, como a tradição
patriarcal ou o modo arcaico de produção. Isso porque,
para os jagunços, a comunidade dá as diretrizes, ou seja,
o coletivo se resolve No entanto, Riobaldo, embora pas
se a fazer parte do grupo de jagunços, vive com dúvidas
complexas, questiona seus valores, seus princípios e suas
ações: esse é o lado contemplativo do herói, que mostra
sua interioridade contraditória.
O encontro da personagem principal com a jagunça-
gem, por exemplo, é narrado, ao mesmo tempo, como uma
aparição tenebrosa e fascinante. Essas encruzilhadas vivi-
das pelo sertanejo configuram sempre uma aproximação
seguida de um distanciamento para reflexão
A bronzes. O ódio pousa na gente, por umas criaturas.
Já vai que o Hermógenes era ruim, ruim Eu não queria ter
medo dele. Digo ao senhor que aquele povo era jagunços; eu
queria bondade neles? Desminto Eu não era criança Nunca
bobo fui. Entendi o estado de jagunço, mesmo assim sendo
eu marinheiro de primeira viagem. Um dia, agarraram um
homem, que tinha vindo à traição, espreitar a gente por conta
dos bebelos. Assassinaram. Me entristeceu, aquilo, até ao vago
do ar. O senhor vigie esses: comem o crú de cobras. Carecem.
Só por isso, para o pessoal não se abrandar nem esmorecer, até
Sô Candelário, que se prezava de bondoso, mandava mesmo
“Os cimos”, respectivamente). A presença significativa de Nos trechos dos contos apresentados, as personagens,
crianças nos contos reforça a ideia do olhar curioso para o incluindo o narrador-personagem do conto “O espelho”,
mundo, o olhar ávido por descobertas proposto pela obra, vivem algo extraordinário e surpreendente. Uma mudança
já que, naturalmente, a infância remete à experimentação sempre pode ocorrer e, quando menos se espera, o des-
Assim, permeado pelo ato de brincar, o jogo com palavras tino – algo em que o sertanejo crê absolutamente – pode
adotado recobra a energia primitiva sobre o entendimento provocar alguma transformação
das coisas, de maneira que a palavra renova o idioma e Dessa maneira, no auge das descobertas, Guimarães
revitaliza o próprio mundo representado. Rosa narra momentos de epifania – súbitas revelações –
vividos pelas personagens. Essas experiências, que relatam
Atenção a aparição de estados de graça e de aberturas da sensi
Perceba que a noção de algo inesperado, novo e misterioso que as bilidade para eventos que a transcendem, relacionam-se
narrativas de Primeiras estórias trazem está relacionada ao universo à outra questão sempre presente na obra do autor: o apa-
místico sempre presente nas obras de Guimarães Rosa. recimento e a finitude das percepções e dos sentimentos
do homem. A alegria e a beleza não são duradouras e
eternamente plenas: a luz, após se acender, apaga-se; a
Leia atentamente os trechos reproduzidos a seguir: própria vida também se abre e se fecha Por meio dessas
Em geral, porém, Nhinhinha, com seus nem quatro anos, relações de transitoriedade, o escritor fala sobre o cará-
não incomodava ninguém, e não se fazia notada, a não ser pela ter provisório da vida de modo simples, como quem quer
perfeita calma, imobilidade e silêncios. Nem parecia gostar ou apenas mostrar que as coisas podem ir e vir, mas que a
desgostar especialmente de coisa ou pessoa nenhuma. Botavam vivência plena desses momentos amplia a intensidade do
para ela a comida, ela continuava sentada, o prato de folha no nosso estar no mundo.
colo, comia logo a carne ou o ovo, os torresmos, o do que fosse Superando a desilusão que acompanha a dor de certos
mais gostoso e atraente, e ia consumindo depois o resto, feijão, aprendizados de vida, os contos de Guimarães destacam a
angu, ou arroz, abóbora, com artística lentidão De vê-la tão beleza do exercício de conhecer e experimentar sensações
perpétua e imperturbada, a gente se assustava de repente. — novas. O conto “Soroco, sua mãe, sua filha”, por exemplo,
“Nhinhinha, que é que você está fazendo?” — perguntava-se. E faz suceder à tristeza da personagem Soroco que leva
ela respondia, alongada, sorrida, moduladamente: — “Eu… to-
mãe e filha, acometidas de loucura, a caminho do embarque
u… fa-a-zendo”. Fazia vácuos. Seria mesmo seu tanto tolinha?
para o hospício – a inesperada beleza e solidariedade do
ROSA, João Guimarães. “A menina de lá”. In: ROSA, João Guimarães;
COUTINHO, Eduardo (Org.). Ficção completa. 2. ed. Rio de Janeiro: canto do povo do lugarejo, que, arremedando o “canto
Nova Aguilar, 2009. p. 412. v. 2. sem razão” das duas mulheres, acompanha Soroco, agora
FRENTE 2
Se quer seguir-me, narro-lhe; não uma aventura, mas sozinho, de volta à casa.
experiência, a que me induziram, alternadamente, séries de As narrativas focam experiências de continuidade e
raciocínios e intuições. Tomou-me tempo, desânimos, esforços descontinuidade que dão forma aos ciclos naturais exerci-
Dela me prezo, sem vangloriar-me. Surpreendo-me, porém, dos sobre todas as coisas. Assim, a partir das experiências
um tanto à-parte de todos, penetrando conhecimento que os singulares narradas, Guimarães apresenta ao leitor outras
outros ainda ignoram O senhor, por exemplo, que sabe e es possibilidades concretas de vida, que, na verdade, são
tuda, suponho nem tenha ideia do que seja na verdade — um universais, ou seja, dizem respeito a qualquer ser humano.
93
Literatura e experiência em sua estreia literária tenha sido com um romance intitulado
Perto do coração selvagem (1943), escrito quando a autora
Clarice Lispector tinha 20 anos
Ainda que o ato de escrever fosse condição fundamen
tal para que Clarice se mantivesse viva, ela não aceitava ser
classificada como uma escritora profissional, uma vez que
a obrigação outorgada pelo rótulo da profissão tolheria o
ato de escrever livremente, sem compromisso, algo de que
tanto precisava, como respirar ou se alimentar.
E nasci para escrever. Minha liberdade é escrever. A pala-
vra é o meu domínio sobre o mundo. Eu tive desde a infância
várias vocações que me chamavam ardentemente Uma das
vocações era escrever. E não sei por que foi essa que segui.
Talvez porque para as outras vocações eu precisaria de um
longo aprendizado, enquanto que para escrever o aprendizado
é a própria vida se vivendo em nós e ao redor de nós.
LISPECTOR, Clarice. Apud: WALDMAN, Berta. Clarice Lispector. São Paulo:
Escuta, 1993 p 17-8
narrar a história do seu confronto com os insetos, mas, LISPECTOR, Clarice “O ovo e a galinha” In: A legião estrangeira Rio de
Janeiro: Rocco, 1999.
logo em seguida, recomeça a mesma narrativa, ampliando
suas implicações. Mesmo após a tentativa de escrita de É necessário, portanto, que o leitor dos textos de Cla-
cinco histórias sobre o mesmo fato, resta, para a narrado rice Lispector esteja preparado para um contato visceral e
ra e para os leitores do conto, uma enorme perplexidade direto com a vida mais íntima que pulsa nas coisas e nos
quanto às reações e aos sentimentos surgidos no embate seres do mundo, como se tudo pudesse ser visto sempre
com as baratas. como se o fizéssemos pela primeira vez.
95
Os romances e a transgressão filosófica, literária e linguística também passam a ser ques-
tões sociais, pois misturam planos que convergem para o
das formas narrativas constante desencontro entre a palavra literária e o universo
Se o conto, por sua brevidade e tendência a cons- social que ela almeja retratar.
truir efeitos surpreendentes, foi o veículo literário exemplar Macabéa, personagem tão singela e complexa, apa-
para que Clarice testasse e conquistasse seus leitores, suas rece no texto sempre mediada pelo foco do narrador,
experimentações com a forma do romance não deixam a que procura traduzi la pelas reações aos estímulos ex
desejar em inovação e ousadia literárias. ternos que nela adivinha. No trecho reproduzido a seguir,
Em um de seus mais cultuados romances, A paixão se-
o narrador flagra a percepção de mundo de Macabéa
gundo G.H (1964), o que estamos acostumados a chamar
em confronto com a retórica convencional de seu (quase)
de “enredo” limita se ao fato de a narradora (nomeada por
namorado, Olímpico. A imagem da nordestina que resulta
tais iniciais) encontrar uma barata na porta de um armário,
daí é a de um ser especial e sensível, mas deslocado, in-
em um quarto recém desocupado por uma empregada O
consciente de si e incompreensível para os outros; quase
que seguirá a esse evento, ao longo de todo o romance,
um não ser.
é a tentativa que a narradora empreende para traduzir
em palavras nem sempre “coerentes” segundo a lógica Ele falava coisas grandes mas ela prestava atenção nas
vigente ao fluxo de sensações e pensamentos desen coisas insignificantes como ela própria Assim registrou um
cadeados pelo desestabilizador encontro com a barata. A portão enferrujado, retorcido, rangente e descascado que abria
“paixão” a que o título da obra se refere é a vivência desse o caminho para uma série de casinhas iguais de vila. Vira isso
turbilhão de experiências interiores, tão viscerais como do ônibus. A vila além do número 106 tinha uma plaqueta
abstratas, que o evento viabilizou. O romance dá bem a onde estava escrito o nome das casas. Chamava-se “Nascer
medida da ousadia e da novidade perturbadoras que os do Sol” Bonito o nome que também augurava coisas boas
textos de Lispector trouxeram para a literatura brasileira, [...]
ou seja, a ideia de que um romance pode construir sua Maca, porém, jamais disse frases, em primeiro lugar por
força junto ao leitor não pelo enredo que desenvolve – a ser de parca palavra. E acontece que não tinha consciência
“história” que conta –, mas pela densidade no trato com de si e não reclamava nada, até pensava que era feliz Não se
as palavras, forçando-as a dar corpo a experiências, por tratava de uma idiota mas tinha a felicidade pura dos idiotas.
princípio, pouco narráveis. E também não prestava atenção em si mesma: ela não sabia.
A vocação metafísica e existencial da literatura de Cla LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
rice pressupõe que não faz sentido procurarmos em suas
As principais obras de Clarice Lispector são:
obras tematizações explícitas de questões sociais Porém, o
interessante é que o seu último romance, A hora da estrela y Perto do coração selvagem (1943)
(1977), gira justamente em torno do desejo mas também y Laços de família (1960)
da dificuldade de um narrador, Rodrigo S M , falar da
vida de uma nordestina simples cujo olhar e “sentimento y A paixão segundo G.H. (1964)
de perdição” pegara “no ar, de relance, em uma rua do y A legião estrangeira (1964)
Rio de Janeiro”.
y Felicidade clandestina (1971)
Em vez de naturalizar a possibilidade de um narrador
poder falar de uma personagem tão recolhida em sua y Água viva (1973)
existência miúda e desvalida – e, justamente por isso, tão y A imitação da rosa (1973)
questionadora de nossas misérias sociais –, Clarice opta
y A via crucis do corpo (1974)
por expor fragmentos da história da personagem Macabéa
sempre por meio da tensão e dos questionamentos que y A hora da estrela (1977)
descrever tal personagem traz ao narrador inventado por
ela. Assim, essa opção desloca um tipo de abordagem das A “geração de 45” e a poesia de
questões sociais que se tornou clássico na literatura brasilei-
ra (como em Vidas secas, de Graciliano Ramos), trazendo-o
João Cabral de Melo Neto
para o interior do próprio processo de escrever: por que A geração de 45, como visto anteriormente, apresenta
se escolhe escrever sobre certa personagem? Como fa uma grande diversidade de procedimentos artísticos, tanto
zê-lo? Que tipo de poder passamos a ter sobre alguém na prosa quanto na poesia. Os seus mais renomados escri-
sobre quem decidimos escrever? Que consequências e tores não se articularam em torno de manifestos – embora
questionamentos isso traz para um narrador? Escrever so- também os tenham conhecido , ou seja, não cultivaram
bre alguém desamparado muda o mundo que forjou esse uma postura de grupo ou de gerações literárias como fa-
desamparo? Se não, por que escrevemos? Na obra de ziam os artistas em torno da Semana de 22 na primeira
Clarice, essas questões são tão importantes e carregadas geração modernista ou os autores do novo romance re-
de implicação social quanto a existência objetiva de Maca gionalista na geração de 30. A despeito disso, João Cabral
béa. Dessa maneira, não podemos entender a personagem de Melo Neto manifestou simpatia pelos concretistas em
apenas pelo viés social, que reflete a opressão contra a mais de uma oportunidade, porém deixou claro que não
nordestina. No romance, diversas dimensões – existencial, seguia ninguém.
y Quaderna (1960)
Em forte sintonia com a tradição da poesia lírica moderna, y A educação pela pedra (1966)
que, remontando aos simbolistas franceses, encontrou nas
y Museu de tudo (1975)
obras de Mallarmé e Valéry suas realizações mais ousadas, a
y A escola das facas (1980)
poesia de Cabral buscou eliminar todos os resíduos de sen-
timentalismo e de culto ao pitoresco que marcaram o lirismo y Poesia crítica (1982)
mais convencional e mergulhar na potente nudez das próprias y Agrestes (1985)
coisas e dos objetos do mundo oferecidos à nossa percepção. y Andando em Sevilha (1989)
97
Morte e vida severina e a poesia ela, a vida, a respondeu
com sua presença viva
participante
Morte e vida severina é um longo poema também co- E não há melhor resposta
nhecido como “Auto de Natal pernambucano”, por destacar, que o espetáculo da vida:
em certo ponto, um nascimento e por estar ambientado em vê la desfiar seu fio,
Pernambuco. É a obra mais popular do autor, ainda que que também se chama vida,
represente apenas uma das facetas de sua produção poé- ver a fábrica que ela mesma,
tica. Em versos ritmados, o poema conta a história de um teimosamente, se fabrica,
retirante chamado Severino, que parte do sertão e chega vê la brotar como há pouco
em nova vida explodida;
a Recife, revelando aspectos da migração no Brasil. Assim,
mesmo quando é assim pequena
além de denunciar os problemas sociais do Nordeste, os
a explosão, como a ocorrida;
encontros e as descrições da vida dura que a narrativa mesmo quando é uma explosão
poética de Severino vai acumulando no seu desenrolar como a de há pouco, franzina;
propõem densas reflexões sobre a condição humana mesmo quando é a explosão
Em seu âmbito formal, além de resgatar a tradição dos de uma vida severina.
autos medievais, o poema é rico em ritmos e musicalidade, MELO NETO, João Cabral de. “Morte e vida severina”.
o que demonstra o rigor estético do autor Vários trechos In: Morte e vida Severina e outros poemas em voz alta. Rio de Janeiro: José
Olympio, 1978. p. 115-6. © by herdeiros de João Cabral de Melo Neto.
da obra foram musicados por Chico Buarque de Holanda
para um importante espetáculo teatral de mesmo nome. Na última parada de sua viagem ao litoral, fugindo da
morte trazida pela seca, Severino assiste ao nascimento de
— Severino, retirante,
um menino, a marcar a imagem da vida que resiste diante
deixe agora que lhe diga:
da constante negação à existência trazida pelas condições
eu não sei bem a resposta
adversas. Ficam claros, dessa maneira, tanto o “salto partici-
da pergunta que fazia,
pante” na direção de uma poesia de cunho social quanto o
se não vale mais saltar
compromisso ético e existencial da poesia de João Cabral
fora da ponte e da vida;
de Melo Neto.
nem conheço essa resposta,
se quer mesmo que lhe diga
é difícil defender, Saiba mais
só com palavras, a vida,
ainda mais quando ela é
esta que vê, severina
mas se responder não pude
à pergunta que fazia,
99
Assim, o Concretismo se apresentou programatica [...] o poeta concreto não volta a face às palavras, não lhes
mente inclusive a partir da divulgação de manifestos e lança olhares oblíquos: vai direto ao seu centro, para viver e
de obras teóricas – como uma estética que negava tanto vivificar a sua facticidade.
a ideia de poesia como expressão da subjetividade quan CAMPOS, Augusto de “poesia concreta (manifesto)” In: CAMPOS,
Augusto de; CAMPOS, Haroldo de; PIGNATARI, Décio. Teoria da poesia
to a forma frásica e versificada comumente associada a concreta: textos críticos e manifestos 1950-1960. São Paulo:
qualquer poema. Ele privilegiava o caráter técnico do ato Ateliê Editorial, 2006. p. 71.
101
Revisando
As referências à literatura de Guimarães Rosa perpassam vários campos artísticos Como escritor, ele representou um
marco na nossa história cultural, pois inventou palavras e estórias que descrevem mais do que o nosso jeito, o nosso
povo e as nossas paisagens. Suas obras ultrapassam questões regionais e nacionais, chegando ao universo da arte,
do espírito e do admirável Guimarães conta mais do que aquilo que vemos: suas letras, vivas, caminham livremente
pelo reino dos signos e, assim, colocam o leitor em um contato íntimo e súbito com a grandeza do mundo.
2 A afirmação “O sertão está em toda parte” confere a esse cenário um caráter universal?
4 Clarice Lispector e João Cabral de Melo Neto são considerados autores de grande maturidade literária por terem
seus estilos muito bem definidos. A partir dos trechos apresentados, comente sobre o estilo que se pode depreender
de cada um desses autores.
Alguidar: recipiente de barro, metal ou material plástico, usado para tarefas domésticas.
O fragmento do texto a seguir pertence a Alfredo Bosi e aborda a literatura contemporânea, cujos pontos fortes são
o seu poder de renovação e a multiplicidade de estilos decorrentes das transformações da modernidade. Leia o ex-
certo a seguir atentamente para responder às questões de 6 a 8.
Renovar a linguagem está no cerne das preocupações e dos projetos de todos. Mas subsistem divergências sensíveis sobre
o modo de entender as fronteiras entre poesia e não poesia, sobre o tipo de mediação que se deve propor entre o ato estético
e os demais atos humanos (éticos, políticos, religiosos, vitais), ou ainda sobre as relações que se podem estabelecer entre o
poema e o objeto de consumo, a imagem da propaganda, o slogan político, a canção popular e outras manifestações de uma
cultura plural veiculada cada vez mais intensamente pelos meios de comunicação de massa Nessa atmosfera saturada de
FRENTE 2
consciência crítica e polêmica, assumem papel de extremo relevo conceitos de origem filosófica (alienação, práxis, superação,
dialética), que cruzam armas com noções de cibernética e da Teoria da Informação (entropia, redundância, emissor, receptor,
código, mensagem). Ao mesmo tempo, o discurso sobre a arte se afasta do vocabulário existencial (angústia, autenticidade,
opção, imaginário...) corrente nos anos do imediato pós-guerra. [...]
Este é o universo mental onde estamos inseridos; e não parece de todo insensato, se descermos às razões da aridez que
nos cerca, esperar das poéticas da dureza e da agressividade algo mais que a fátua complacência na dureza e na agressividade:
a denúncia do que aí está e a procura de uma comunicação mais livre e inteligente com o semelhante
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 41. ed. São Paulo: Cultrix, 1994. p. 439.
103
6 Em que medida as transformações histórico-sociais podem influenciar a produção literária?
Exercícios propostos
1 PUC-Rio 2015 Mais em paz, comigo mais, Diadorim foi b) Guimarães Rosa é, sem dúvida nenhuma, um dos
me desinfluindo Ao que eu ainda não tinha prazo para mais importantes escritores da Literatura brasilei-
entender o uso, que eu desconfiava de minha boca e da ra. Considerado a sua obra-prima, Grande sertão:
água e do copo, e que não sei em que mundo-de-lua eu veredas, romance publicado em 1956, representa
entrava minhas ideias. O Hermógenes tinha seus defei- uma profunda inovação em termos de narrativa,
tos, mas puxava por Joca Ramiro, fiel – punia e terçava. sendo até hoje referência para a nossa literatura.
Que, eu mais uns dias esperasse, e ia ver o ganho do sol A partir da leitura do texto, destaque e comente
nascer. Que eu não entendia de amizades, no sistema de dois aspectos que reiteram o que foi afirmado
jagunços Amigo era o braço, e o aço!
anteriormente.
Amigo? Aí foi isso que eu entendi? Ah, não; amigo,
para mim, é diferente. Não é um ajuste de um dar serviço
a outro, e receber, e saírem por este mundo, barganhando 2 IFPE 2020 O Modernismo brasileiro costuma ser dividi-
ajudas, ainda que sendo com o fazer a injustiça aos de- do em três fases: a Geração de 22, a de 30 e a de 45
mais. Amigo, para mim, é só isto: é a pessoa com quem a Essas Gerações têm como um de seus representan-
gente gosta de conversar, do igual o igual, desarmado. O tes, respectivamente,
de que um tira prazer de estar próximo Só isto, quase; e A Mário de Andrade, Aluísio de Azevedo e Euclides
os todos sacrifícios Ou amigo é que a gente seja, mas da Cunha
sem precisar de saber o por quê é que é Amigo meu era Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade e
Diadorim; era o Fafafa, o Alaripe, Sesfrêdo. Ele não quis Vinícius de Moraes.
me escutar. Voltei da raiva. José de Alencar, Machado de Assis e João Cabral
ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: de Melo Neto.
José Olympio, 1979 p. 138 9
d Oswald de Andrade, Cecília Meireles e Guimarães
a) Determine os distintos conceitos de “amigo” que Rosa
podem ser identificados no texto. E Vinícius de Moraes, Ariano Suassuna e Olavo Bilac.
tempo, uma coisa depois da outra, na ordem certa, sendo o agente de um crime contra seu compadre e ami-
essa conexão que lhe dá sentido, meio e fim, mas como go, Cassiano Gomes, por desavenças de traição
um álbum de retratos, cada um completo em si mesmo, amorosa.
cada um contendo o sentido inteiro. Talvez esse seja o jeito d cenas de adultério praticadas por dona Silivânia, no
de escrever sobre a alma em cuja memória se encontram mais doce, dado e descuidoso dos idílios fraudu-
as coisas eternas, que permanecem... lentos, com o amante Turíbio Todo, o que provoca
ROSA, Guimarães. Grande sertão: veredas tragédia entre seus pretendentes.
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Texto para a questão 7 A sucessora de Ricardo Lewandowski concluiu o dis-
curso citando um terceiro escritor mineiro: Paulo Mendes
De Caetano a Guimarães Rosa, veja as referências Campos. “O Judiciário brasileiro sabe dos seus compro-
de Cármen Lúcia em seu discurso de posse missos e de suas responsabilidades. Em tempo de dores
Por Luma Poletti | 13/09/2016 10:00 multiplicadas, há que se multiplicarem também as espe-
ranças, à maneira da lição de Paulo Mendes Campos”,
Ao longo de seu discurso de posse, a ministra Cármen disse Cármen Lúcia, em referência ao “Poema didático”,
Lúcia, que assumiu a presidência do Supremo Tribunal Fe- de Paulo Mendes Campos.
deral nesta segunda-feira (12), citou trechos de canções de Disponível em: <http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/ de-caetano-
Caetano Veloso, Titãs, além de versos de Cecília Meirelles, a-guimaraes rosa-vejaas-referencias-de-carmen-lucia-em seu-discurso-de-
Carlos Drummond de Andrade, Paulo Mendes Campos e posse/>. Acesso em: 26 set. 2016. (Adapt.).
fez menção a Riobaldo, personagem de Grande sertão:
veredas, clássico de Guimarães Rosa e uma das mais im- 7 PUC SP 2017 “Riobaldo afirmava que ‘natureza da gente
portantes obras primas da literatura brasileira A escolha não cabe em nenhuma certeza’. Mas parece-me que a
das referências musicais da ministra dá pistas sobre sua natureza da gente não se aguenta em tantas incertezas.
visão acerca do atual momento sociopolítico. Citando o Especialmente quando o incerto é a Justiça que se pede e
cantor e compositor Caetano Veloso, presente na sessão que se espera do Estado.”
que interpretou em voz e violão o hino nacional –, Cármen
Lúcia concordou que “alguma coisa está fora da ordem”. Nesse trecho do terceiro parágrafo da parte Versos,
“Caetanos e não caetanos deste Brasil tão plural con- Luma Poletti emprega as aspas simples dentro das as-
cluem em uníssono: alguma coisa está fora de ordem, fora da pas duplas para
nova ordem mundial”, disse a ministra. “O que nos cumpre, A identificar com as simples o texto de Guimarães
a nós servidores públicos em especial, é questionar e achar Rosa e as duplas a fala de Riobaldo.
resposta: de qual ordem está tudo fora...”, acrescentou. evidenciar com as simples o discurso de Cármen
O cantor já se posicionou contra o governo do pre-
Lúcia e com as duplas o pensamento de Riobaldo.
sidente Michel Temer, nos bastidores da cerimônia de
assinalar com as simples o dizer de Riobaldo e com
abertura das Olimpíadas de 2016.
A nova presidente do STF também citou a música “Co- as duplas o discurso da ministra.
mida”, da banda Titãs “Cumpre-nos dedicar-nos de forma d indicar com as simples a natureza da gente e com
intransigente e integral a dar cobro ao que nos é determina as duplas o discurso de Cármen Lúcia.
do pela Constituição da República e que de nós é esperado
pelo cidadão brasileiro, o qual quer saúde, educação, tra- 8 UFRGS 2016 Leia o trecho do romance Grande sertão:
balho, sossego para andar em paz por ruas, estradas do país veredas, de João Guimarães Rosa, a seguir
e trilhas livres para poder sonhar além do mais. Que, como
na fala do poeta da música popular brasileira, ninguém quer Essas coisas todas se passaram tempos depois. Talhei
só comida, quer também diversão e arte”. de avanço, em minha história O senhor tolere minhas más
Um dos compositores da canção citada é Arnaldo An- devassas no contar É ignorância Eu não converso com
tunes, que também se posicionou contra o impeachment ninguém de fora, quase Não sei contar direito. Aprendi
de Dilma Rousseff nas redes sociais. um pouco foi com o compadre meu Quelemém; mas ele
quer saber tudo diverso: quer não é o caso inteirado em
Versos si, mas a sobre-coisa, a outra-coisa. Agora, neste dia nos-
Cármen Lúcia também citou versos da escritora Ce so, com o senhor mesmo – me escutando com devoção
cília Meireles, ao dizer que “liberdade é um sonho que o assim – é que aos poucos vou indo aprendendo a contar
mundo inteiro alimenta” – da obra Romanceiro da incon- corrigido. E para o dito volto. Como eu estava, com o
fidência, lançada em 1953. senhor, no meio dos hermógenes.
“Se, no verso de Cecília Meireles, a liberdade é um Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes
sonho, que o mundo inteiro alimenta, parece-me ser a Jus- armações sobre o trecho.
tiça um sentimento, que a humanidade inteira acalenta”,
discursou a ministra. J Riobaldo, narrador da história, tem consciência de
Mais adiante em seu discurso, Cármen Lúcia fez men- que sua narrativa obedece ao fluxo da memória, e
ção a uma personagem do livro Grande sertão: veredas, não à cronologia dos fatos.
do escritor mineiro (tal como a ministra) Guimarães Rosa. J A ignorância de Riobaldo é expressa pelos erros
“Riobaldo afirmava que ‘natureza da gente não cabe em gramaticais e pela inabilidade em contar sua histó-
nenhuma certeza’. Mas parece-me que a natureza da gente ria, que carece de ordenação.
não se aguenta em tantas incertezas. Especialmente quan- J “A sobre-coisa, a outra-coisa”, que o compadre Que-
do o incerto é a Justiça que se pede e que se espera do lemém quer, é a interpretação da própria vivência,
Estado”, disse a nova presidente do STF.
e não o simples relato dos acontecimentos.
Em seguida, outro escritor mineiro foi lembrado por
Cármen Lúcia “Em tempos cujo nome é tumulto escrito
J O ouvinte exerce um papel importante, pois obriga
em pedra, como diria Drummond, os desafios são maiores. Riobaldo a organizar a narrativa e a dar significado
Ser difícil não significa ser impossível. De resto, não acho ao narrado
que para o ser humano exista, na vida, o impossível”, disse A F V V F d F F V F
a ministra, em referência ao poema “Nosso tempo”, do V V F V E F V F V
escritor mineiro. V F V V
107
d representa o misticismo e a atmosfera de feitiça A questão 13 refere-se ao conto “A terceira margem do
ria que envolve o preto velho João Mangalô e sua rio”, do livro Primeiras estórias, de João Guimarães Rosa
desavença com o narrador personagem José, em
“São Marcos” 13 Uerj 2018 Guimarães Rosa afirmou, em uma entrevista,
E constitui uma das cantigas de “O burrinho Pedrês”, que somente renovando a língua é que se pode re-
em que a sagacidade da boiada se sobressai à novar o mundo. Visando a essa renovação, recorria a
ignorância do burrinho. neologismos e inversões pouco usuais de termos, ex-
plorando novos sentidos em seus textos Um exemplo
12 Enem 2018 dessas inversões encontra-se em:
A Nossa mãe era quem regia,
Nossa mãe muito não se demonstrava.
Nossa mãe terminou indo também, de uma vez,
d Nossa mãe, vergonhosa, se portou com muita cordura;
Augusto Matraga”, cujo estilo destoa do conjunto A reúne contos de vários tipos, entre eles o psicológi-
das outras que compõem o livro. co, o anedótico, o fantástico e o satírico.
confere destaque à voz do narrador culto, que
17 PUC-SP 2017 O sol cresce, amadurece. Mas eles estão permanece distanciado das personagens e preo-
esperando é a febre, mais o tremor. Primo Ribeiro parece cupado em desvendar a lógica subjacente à ação
um defunto sarro de amarelo na cara chupada, olhos das crianças, loucos e seres rústicos que povoam
sujos, desbrilhados, e as mãos pendulando, compondo os contos.
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demonstra a preocupação do autor em recriar a lingua- Escrevendo o roteiro
gem, através de deslocamentos sintáticos e do uso de
Escrever um roteiro é um fenômeno espantoso, quase
arcaísmos e neologismos, entre outros recursos.
misterioso. Num dia você está com as coisas sob controle,
d não se trata, apesar do título, do livro de estreia do
no dia seguinte sob o controle delas, perdido em confusão
autor, mas apenas de seu primeiro livro composto
e incerteza. Num dia tudo funciona, no outro não; nin-
unicamente por narrativas curtas.
E ultrapassa, frequentemente, as fronteiras entre a guém sabe como ou por quê. É o processo criativo; que
narrativa e a poesia lírica, através do destaque dado desafia análises; é mágica e maravilha.
aos aspectos sonoros e melódicos da linguagem. Tudo o que foi dito ou registrado sobre a experiência
de escrever desde o início dos tempos resume-se a uma
20 Unicamp 2019 “Um cego me levou ao pior de mim mes- coisa — escrever é sua experiência particular, pessoal.
ma, pensou espantada Sentia se banida porque nenhum De ninguém mais.
pobre beberia água nas suas mãos ardentes. Ah! era mais Muita gente contribui para a feitura de um filme, mas
fácil ser um santo que uma pessoa! Por Deus, pois não fora o roteirista é a única pessoa que se senta e encara a folha
verdadeira a piedade que sondara no seu coração as águas de papel em branco.
mais profundas? Mas era uma piedade de leão.” Escrever é trabalho duro, uma tarefa cotidiana, de sen-
(Clarice Lispector, “Amor”, em Laços de família. 20a ed. Rio de Janeiro: tar-se diariamente diante de seu bloco de notas, máquina
Francisco Alves, 1990, p 39.)
de escrever ou computador, colocando palavras no papel
Ao caracterizar a personagem Ana, a expressão “pie- Você tem que investir tempo.
dade de leão” reúne valores opostos, remetendo Antes de começar a escrever, você tem que achar
simultaneamente à compaixão e à ferocidade. É cor- tempo para escrever.
reto armar que, no conto “Amor”, essa formulação Quantas horas por dia você precisa dedicar-se a
A revela um embate de natureza social, já que a po- escrever?
breza do cego causa náuseas na personagem Depende de você Eu trabalho cerca de quatro ho-
expressa o dilema cristão da alma pecadora diante ras por dia, cinco dias por semana. John Millius escreve
de sua incapacidade de fazer o bem uma hora por dia, sete dias por semana, entre 5 e 6 da
indica um conflito psicológico, uma vez que a per tarde. Stirling Silliphant, que escreveu The towering in-
sonagem não se sente capaz de amar
ferno (Inferno na torre), às vezes escreve 12 horas por
d alude a um contraste moral e existencial que pro
dia. Paul Schrader trabalha com a história na cabeça por
voca na personagem um sentimento de angústia.
meses, contando-a para as pessoas até que ele a conheça
Leia os textos para responder às questões de 21 a 23. completamente; então ele “pula na máquina” e a escreve
Tome por base uma crônica de Clarice Lispector (1920- em cerca de duas semanas. Depois ele gastará semanas
1977) e uma passagem do Manual do roteiro, do professor polindo e consertando a história
de técnica do roteiro, consultor e conferencista Syd Field Você precisa de duas a três horas por dia para escrever
um roteiro
Escrever
Olhe para a sua agenda diária. Examine o seu tempo.
Eu disse uma vez que escrever é uma maldição. Não Se você trabalha em horário integral, ou cuidando da casa
me lembro por que exatamente eu o disse, e com since- e da família, seu tempo é limitado. Você terá que achar
ridade. Hoje repito: é uma maldição, mas uma maldição o melhor horário para escrever Você é o tipo de pessoa
que salva.
que trabalha melhor pela manhã? Ou só vai acordar e ficar
Não estou me referindo muito a escrever para jornal
alerta no final da tarde? Tarde da noite pode ser um bom
Mas escrever aquilo que eventualmente pode se transfor-
mar num conto ou num romance. É uma maldição porque horário. Descubra.
FIELD, Syd. Manual do roteiro, 1995.
obriga e arrasta como um vício penoso do qual é quase im-
possível se livrar, pois nada o substitui E é uma salvação
Salva a alma presa, salva a pessoa que se sente 21 Unesp 2013 Clarice Lispector coloca inicialmente o
inútil, salva o dia que se vive e que nunca se entende processo da criação literária como uma “maldição”.
a menos que se escreva. Escrever é procurar entender, Em seguida, ressalva que é também uma “salvação”.
é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o
último fim o sentimento que permaneceria apenas vago Com base no texto da crônica, explique como a au-
e sufocador. Escrever é também abençoar uma vida que tora resolve essa diferença de conceitos sobre a
não foi abençoada criação literária.
Que pena que só sei escrever quando espontanea-
mente a “coisa” vem Fico assim à mercê do tempo E, 22 Unesp 2013 “Que pena que só sei escrever quando es-
entre um verdadeiro escrever e outro, podem-se passar pontaneamente a ‘coisa’ vem.”
anos
Lembro-me agora com saudade da dor de escrever Explique, com base no primeiro parágrafo do texto
livros. “Escrevendo o roteiro”, se Syd Field concorda com
LISPECTOR, Clarice. A descoberta do mundo, 1999. essa armação de Clarice Lispector.
111
Para responder às questões 26 e 27, considere o que
está reproduzido a seguir, A, , e d da obra Clarice
fotobiograa
A O desejo de criar uma Fotobiografia de Clarice
Lispector, como a que aqui se propõe, é projeto antigo.
Uma primeira organização de imagens que reuni para-
lelamente à leitura de seus textos, enquanto preparava
cursos para estudantes universitários (eram imagens
xerografadas, coletadas a partir de reproduções encon-
tradas em jornais e revistas, e, depois, em arquivos de
tais periódicos) e enquanto conhecia o acervo fotográ-
fico de Clarice, ganhou registro no livro Clarice, uma
vida que se conta. A mostra visual constitui o caderno
de imagens que integra o livro, elaborado como tese de
livre-docência defendida na Universidade de São Paulo
em 1993 e publicado em 1995.
Nele, procurava registrar momentos mais signifi-
Dois amigos de Clarice: Fernando Sabino e Paulo Mendes Campos, em
cativos da vida e da produção literária e jornalística agosto de 1950. Paulo Mendes Campos entrevista Clarice Lispector no
de Clarice, no sentido de construir uma “biografia da apartamento da escritora, no Rio de Janeiro, à rua Marques de Abrantes,
escritora”, mediante leitura de textos da própria autora n. 126, ap. 1004. A matéria sai publicada sem assinatura no suplemento
do Diario Carioca em 1950 com o título de “ltinerário de Romancista”.
e de outros a seu respeito, que resultou num produto
alerta à construção de uma imagem de Clarice, no seu Agora só tenho feito colaborações para jornais e
sentido mais amplo. revistas. Não tenho ideia de nenhum romance.
Por isso mantenho neste livro, que ora se publica, LISPECTOR, Clarice. Entrevista a Paulo Mendes Campos, 1950. p. 282.
com matéria ampliada, o mesmo critério de organização
dos capítulos adotados no livro anterior, com distribui- d
ção da matéria em sequência cronológica e em função
dos espaços habitados ou percorridos pela escritora.
GOTLIB, Nádia Battella Clarice Fotobiografia 3 ed Atual São
Paulo: Edusp, 2014. p. II. (Adapt.).
Texto manuscrito de Clarice que, com alteração,
integra o volume A hora da estrela. (p. 447)
Então ela viu: o cego mascava chicles... Um homem de uma grande delicadeza.
cego mascava chicles LISPECTOR, Clarice. In: SANTOS, Joaquim Ferreira dos (Organização e
introdução) As cem melhores crônicas brasileiras Rio de Janeiro: Objetiva,
Ana ainda teve tempo de pensar por um segundo que os 2007 p 186 7
irmãos viriam jantar – o coração batia-lhe violento, espaçado.
Inclinada, olhava o cego profundamente, como se olha o Nos estudos sobre a obra de Clarice Lispector, fala-se
que não nos vê. Ele mastigava goma na escuridão. Sem so- da epifania (ou revelação) que se dá com a personagem.
frimento, com os olhos abertos O movimento de mastigação Em determinado momento do texto, a personagem pas-
fazia-o parecer sorrir e de repente deixar de sorrir, sorrir e dei- sa a entender algo que, para ela, estava escondido ou
xar de sorrir – como se ele a tivesse insultado, Ana olhava-o. obscuro.
E quem a visse teria a impressão de uma mulher com ódio.
LISPECTOR, Clarice Laços de família Rio de Janeiro: Rocco, Assinale a opção cujo trecho transcrito indica esse
2009. p. 21 2. momento na crônica.
a) Em textos de Clarice Lispector, é comum que um A “Até que fui obrigada a chegar à conclusão de que
acontecimento banal se transforme em um mo- sou daqueles que rolam pedras durante séculos...”
mento perturbador na vida das personagens. (Ref. 1)
Considerando o contexto do conto “Amor”, indique “Um dia uma folha me bateu nos cílios. Achei Deus
FRENTE 2
113
31 UFT 2014 Leia o poema “Ovos da páscoa”, de Adélia Não esqueci de nada , recomeçou a mãe, quando
Prado, e o fragmento do conto “O ovo e a galinha”, de uma freada súbita do carro lançou-as uma contra a outra e
Clarice Lispector. fez despencarem as malas. — Ah! ah! – exclamou a mãe
como a um desastre irremediável, ah! dizia balançando
Ovos da páscoa a cabeça em surpresa, de repente envelhecida e pobre.
O ovo não cabe em si, túrgido de promessa, E Catarina?
a natureza morta palpitante. Catarina olhava a mãe, e a mãe olhava a filha, e
Branco tão frágil guarda um sol ocluso, também a Catarina acontecera um desastre? seus olhos
o que vai viver, espera piscaram surpreendidos, ela ajeitava depressa as malas, a
PRADO, Adélia “Bagagem” In: Poesia reunida São Paulo: bolsa, procurando o mais rapidamente possível remediar
Siciliano, 1991. p. 28. a catástrofe. Porque de fato sucedera alguma coisa, seria
O ovo e a galinha inútil esconder: Catarina fora lançada contra Severina,
numa intimidade de corpo há muito esquecida, vinda do
O ovo é uma exteriorização. Ter uma casca é dar-se. tempo em que se tem pai e mãe. Apesar de que nunca
O ovo desnuda a cozinha Faz da mesa um plano incli se haviam realmente abraçado ou beijado. Do pai, sim.
nado. O ovo expõe – quem se aprofunda num ovo, quem Catarina sempre fora mais amiga Quando a mãe enchia-
vê mais do que a superfície do ovo, está querendo outra -lhes os pratos obrigando-os a comer demais, os dois se
coisa: está com fome. O ovo é a alma da galinha. A galinha olhavam piscando em cumplicidade e a mãe nem notava.
desajeitada O ovo certo. A galinha assustada O ovo certo Mas depois do choque no táxi e depois de se ajeitarem,
[...]. O ovo nunca lutou. Ele é um dom. – O ovo é invisível não tinham o que falar – por que não chegavam logo à
a olho nu De ovo a ovo chega-se a Deus, que é invisível a Estação?
olho nu. [...]. Ovo é coisa que precisa tomar cuidado. Por LISPECTOR, Clarice “Os laços de família” Rio de Janeiro: Rocco, 1998
isso a galinha é o disfarce do ovo. Para que o ovo atravesse
os tempos a galinha existe. O texto reproduz um trecho do conto “Os laços de
LISPECTOR, Clarice. “O ovo e a galinha” In: Felicidade clandestina família”, de Clarice Lispector, retratando um momento
Rio de Janeiro: Rocco, 1998. p. 63 4. peculiar que se repete na obra da autora A peculiari-
Considerando-se o poema e o fragmento do conto dade da passagem se justica porque
apresentados, marque a alternativa correta A ocorre um posicionamento feminista, representado
A Tanto no poema de Adélia Prado quanto no conto no trecho anterior pela comparação entre a mãe e
de Clarice Lispector, o ovo se mostra como algo sem o pai de Catarina.
valor, revelado em sua realidade prática de alimento. o número de personagens é reduzido, permitin-
No poema de Adélia Prado, o ovo da páscoa é me- do que as características psicológicas de Catarina
táfora do nascimento de Cristo, enquanto no conto e Severina, por exemplo, sejam minuciosamente
de Clarice Lispector é símbolo da insignificância descritas.
das galinhas. há reflexão metalinguística, o que, no conto “Laços
No poema de Adélia Prado e no conto de Clarice de família”, é representado pela repetição insis-
Lispector, o ovo não é mero objeto, pois, revestido tente do autoquestionamento de Severina: “Não
de um caráter poético, é caminho para reflexões esqueci de nada?”
sobre o mistério da existência. d ocorre a epifania, momento de revelação, Catarina
d Adélia Prado e Clarice Lispector revelam os mes- se redescobre e redescobre a mãe quando o táxi
mos aspectos que fazem do ovo uma realidade freia e elas se chocam.
estranha e banal: a casca frágil, a cor, a condição E a narrativa se dá em primeira pessoa, o que per-
de alimento. mite amplo espaço para o fluxo de consciência, de
E Apesar de recorrente, a imagem do ovo não é cen- Catarina
tral nos textos apresentados, pois o que se destaca
no poema de Adélia Prado é a reflexão sobre a 33 FMP 2017 Em suas obras, Clarice Lispector abor-
morte e, no conto de Clarice Lispector, a reflexão da com frequência o lado psicológico do indivíduo,
sobre a utilidade da galinha. analisando os dramas existenciais, as angústias das
personagens, os questionamentos que se fazem, em
32 IFPE 2017 resumo, sua intimidade. O fato interessa menos, pois
mais importante é a repercussão que esse fato causa
Os laços de família
no indivíduo. Para explorar esses aspectos, usa o flu-
A mulher e a mãe acomodaram-se finalmente no táxi xo de consciência (mescla de raciocínio lógico com
que as levaria à Estação. A mãe contava e recontava as impressões pessoais momentâneas), o que se traduz
duas malas tentando convencer-se de que ambas esta- por uma não linearidade da narrativa.
vam no carro. A filha, com seus olhos escuros, a que um
ligeiro estrabismo dava um contínuo brilho de zombaria O trecho em que essas características podem ser ob-
e frieza assistia. servadas com maior clareza é:
Não esqueci de nada? perguntava pela terceira A “Inclino-me sobre a carne, perdido. Quando finalmen-
vez a mãe. te consigo encará-la do fundo do meu rosto pálido,
são possuídos pelo que vem, mas pelo que volta. No fragmento adaptado do conto “A galinha”, de Cla-
Às vezes a vida volta. Se em mim tudo se quebrava rice Lispector, o elemento gurativo “ovo” torna-se
à passagem da força, não é porque a função des marco importante na narrativa, pois
ta era a de quebrar: ela só precisava enfim passar, A traz para aquele grupo familiar o valor dessa ave
pois já se tornara caudalosa demais para poder se doméstica, uma vez que ela viva poderia continuar
conter ou contornar – ao passar ela cobria tudo. E dando alimento para todos.
depois, como após um dilúvio, sobrenadavam um é um momento de epifania para a menina, que perce-
armário, uma pessoa, uma janela solta, três male be o quanto o animal poderia transformar a realidade
tas. E isso me parecia o inferno, essa destruição de sua vida, atribuindo-lhe outro significado.
de camadas e camadas arqueológicas humanas”. se caracteriza como a simbologia de uma nova
LISPECTOR, Clarice. A paixão segundo G.H. Rio de existência, contribuindo para tornar o viver de sua
Janeiro: Rocco, 2014. p. 70. espécie ainda mais insignificante.
E “Nessa época encontrávamo-nos de noite em d se constitui como um elemento fundamental para
FRENTE 2
casa, exaustos e animados: contávamos as faça a mudança da percepção da galinha pela família,
nhas do dia, planejávamos os ataques seguintes. passando aquela a ter, por algum tempo, uma nova
Não aprofundávamos muito o que estava suce- condição existencial.
dendo, bastava que tudo isso tivesse o cunho da E se transforma no acontecimento revelador para a
amizade. Pensei compreender por que os noivos própria ovípara, que nota a sua incapacidade de
se presenteiam, por que o marido faz questão de reagir, mediante a crença de que nasceu para ali-
dar conforto à esposa, e esta prepara-lhe afanada mentar o ser humano.
115
Texto para a questão 35. Mas ele foi mais forte que ela Nem uma só vez olhou
para trás.
Tentação LISPECTOR, Clarice. A legião estrangeira. Rio de Janeiro:
Editora do Autor, 1964. p. 67-9.
Ela estava com soluço. E como se não bastasse a cla-
ridade das duas horas, ela era ruiva.
Na rua vazia as pedras vibravam de calor − a cabeça 35 PUC-Rio 2017
da menina flamejava Sentada nos degraus de sua casa, a) Um dos procedimentos críticos necessários à
ela suportava. Ninguém na rua, só uma pessoa esperando análise da obra literária é o entendimento da re-
inutilmente no ponto do bonde. E como se não bastasse lação entre o narrador, as personagens e o leitor
seu olhar submisso e paciente, o soluço a interrompia de no desenvolvimento da trama. Determine o foco
momento a momento, abalando o queixo que se apoiava narrativo utilizado por Clarice Lispector no conto
conformado na mão Que fazer de uma menina ruiva com “Tentação”, caracterizando-o.
soluço? Olhamo-nos sem palavras, desalento contra desa- b) Em todo o conto, percebe-se a presença de sig-
lento. Na rua deserta nenhum sinal de bonde. Numa terra nos visuais e cromáticos que reforçam o sentido
de morenos, ser ruivo era uma revolta involuntária Que do título. Comente a afirmação, destacando dois
importava se num dia futuro sua marca ia fazê-la erguer
termos do conto “Tentação” que confirmam a sua
insolente uma cabeça de mulher? Por enquanto ela estava
argumentação.
sentada num degrau faiscante da porta, às duas horas. O
que a salvava era uma bolsa velha de senhora, com alça
partida Segurava-a com um amor conjugal já habituado, 36 Enem 2016
apertando-a contra os joelhos. A partida de trem
Foi quando se aproximou a sua outra metade neste
mundo, um irmão em Grajaú. A possibilidade de comuni- Marcava seis horas da manhã. Angela Pralini pagou
cação surgiu no ângulo quente da esquina, acompanhando o táxi e pegou sua pequena valise Dona Maria Rita de
uma senhora, e encarnada na figura de um cão. Era um Alvarenga Chagas Souza Melo desceu do Opala da filha
basset lindo e miserável, doce sob a sua fatalidade. Era e encaminharam se para os trilhos A velha bem-vestida e
um basset ruivo. com joias. Das rugas que a disfarçavam saía a forma pura
Lá vinha ele trotando, à frente de sua dona, arrastando de um nariz perdido na idade, e de uma boca que outrora
seu comprimento. Desprevenido, acostumado, cachorro. devia ter sido cheia e sensível. Mas que importa? Chega-se
A menina abriu os olhos pasmada Suavemente avi a um certo ponto e o que foi não importa Começa uma
sado, o cachorro estacou diante dela. Sua língua vibrava. nova raça. Uma velha não pode comunicar-se. Recebeu
Ambos se olhavam. o beijo gelado de sua filha que foi embora antes do trem
Entre tantos seres que estão prontos para se tornarem partir. Ajudara-a antes a subir no vagão. Sem que neste
donos de outro ser, lá estava a menina que viera ao mundo houvesse um centro, ela se colocara do lado Quando
para ter aquele cachorro Ele fremia suavemente, sem latir a locomotiva se pôs em movimento, surpreendeu-se um
Ela olhava-o sob os cabelos, fascinada, séria. Quanto tem- pouco: não esperava que o trem seguisse nessa direção e
po se passava? Um grande soluço sacudiu-a desafinado. sentara-se de costas para o caminho.
Ele nem sequer tremeu Também ela passou por cima do Angela Pralini percebeu lhe o movimento e perguntou:
soluço e continuou a fitá-lo. — A senhora deseja trocar de lugar comigo?
Os pelos de ambos eram curtos, vermelhos. Dona Maria Rita se espantou com a delicadeza, disse
Que foi que se disseram? Não se sabe. Sabe-se apenas que não, obrigada, para ela dava no mesmo. Mas parecia
que se comunicaram rapidamente, pois não havia tempo. ter-se perturbado Passou a mão sobre o camafeu filigrana
Sabe-se também que sem falar eles se pediam Pediam se do de ouro, espetado no peito, passou a mão pelo broche.
com urgência, com encabulamento, surpreendidos. Seca Ofendida? Perguntou afinal a Angela Pralini:
No meio de tanta vaga impossibilidade e de tanto sol, — É por causa de mim que a senhorita deseja trocar
ali estava a solução para a criança vermelha. E no meio de lugar?
de tantas ruas a serem trotadas, de tantos cães maiores, de LISPECTOR, C. Onde estivestes de noite. Rio de Janeiro:
tantos esgotos secos lá estava uma menina, como se fora Nova Fronteira, 1980. (fragmento).
carne de sua ruiva carne. Eles se fitavam profundos, entre- A descoberta de experiências emocionais com base
gues, ausentes de Grajaú. Mais um instante e o suspenso
no cotidiano é recorrente na obra de Clarice Lispector.
sonho se quebraria, cedendo talvez à gravidade com que
No fragmento, o narrador enfatiza o(a)
se pediam.
A comportamento vaidoso de mulheres de condição
Mas ambos eram comprometidos
social privilegiada.
Ela com sua infância impossível, o centro da inocên-
cia que só se abriria quando ela fosse uma mulher. Ele, anulação das diferenças sociais no espaço público
com sua natureza aprisionada A dona esperava impacien- de uma estação.
te sob o guarda-sol. O basset ruivo afinal despregou-se incompatibilidade psicológica entre mulheres de
da menina e saiu sonâmbulo Ela ficou espantada, com gerações diferentes.
o acontecimento nas mãos, numa mudez que nem pai d constrangimento da aproximação formal de pes-
nem mãe compreenderiam. Acompanhou-o com olhos soas desconhecidas.
pretos que mal acreditavam, debruçada sobre a bolsa e E sentimento de solidão alimentado pelo processo
os joelhos, até vê-lo dobrar a outra esquina. de envelhecimento.
117
42 UPE 2015 É uma vida cercada pela morte, que, se não lhes
rouba os dias pela doença, rouba pela violência.
O RETIRANTE EXPLICA AO LEITOR
III “A gente não nascida” é uma referência às crian-
QUEM É E A QUE VAI
ças não nascidas, por causa da doença da mãe,
– O meu nome é Severino, cujas vidas são similares à de Severino, pois es-
como não tenho outro de pia. sas mulheres também são vítimas da fome, da
Como há muitos Severinos, seca, do desemprego e da violência humana.
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Está cORRETO o que se arma, apenas, em
Severino de Maria; A I e II.
como há muitos Severinos b I e III.
com mães chamadas Maria, c II e III.
fiquei sendo o da Maria d I.
do finado Zacarias E II.
Mais isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia, 43 UFPE 2014
por causa de um coronel
Texto 1
que se chamou Zacarias
— Essa cova em que estás,
e que foi o mais antigo
Com palmos medida,
senhor desta sesmaria
É a conta menor
Como então dizer quem falo
Que tiraste em vida.
ora a Vossas Senhorias?
— É de bom tamanho,
Vejamos: é o Severino
Nem largo nem fundo,
da Maria do Zacarias,
É a parte que te cabe
lá da serra da Costela,
Deste latifúndio
limites da Paraíba — Não é cova grande,
(...) É cova medida,
[continuação...] é a terra que querias
Somos muitos Severinos ver dividida
iguais em tudo na vida: — É uma cova grande
na mesma cabeça grande para teu pouco defunto,
que a custo é que se equilibra, mas estarás mais ancho
no mesmo ventre crescido que estavas no mundo
sobre as mesmas pernas finas — É uma cova grande
e iguais também porque o sangue, para teu defunto parco,
que usamos tem pouca tinta porém mais que no mundo
E se somos Severinos te sentirás largo.
iguais em tudo na vida, — É uma cova grande
morremos de morte igual, para tua carne pouca,
mesma morte severina: mas à terra dada
que é a morte de que se morre não se abre a boca. [...]
de velhice antes dos trinta, MELO NETO, João Cabral de. Morte e vida severina.
de emboscada antes dos vinte
de fome um pouco por dia Texto 2
(de fraqueza e de doença Somem canivetes
é que a morte Severina
ataca em qualquer idade, Fica proibido o canivete
e até gente não nascida) em aula, no recreio, em qualquer parte
João Cabral de Melo Neto
pois em um país civilizado
entre estudantes civilizadíssimos,
Analise as armativas a seguir: a nata do Brasil,
I. No início do trecho, Severino se apresenta e, para o canivete é mesmo indesculpável.
se diferenciar dos demais Severinos existentes
na ‘freguesia’, revela informações acerca dos pais Recolham-se, pois, os canivetes
e da região onde vive. Mas o lavrador tem dificul- sob a guarda do irmão da Portaria.
dades em sua apresentação, pois Severinos no
Fica permitido o canivete
norte são “iguais em tudo na vida”
nos passeios à chácara
II. À medida que apresenta, Severino faz revelações
para cortar cipó
sobre ele e os demais sujeitos que estão em condi- descascar laranja
ções de sobrevida tão ou mais precárias que a sua. e outros fins de rural necessidade.
119
J Severino, retirante chegado ao Recife, questiona a Os versos de João Cabral de Melo Neto revelam um
vida miserável de Mestre Carpina eu poético
J Mestre Carpina defende a necessidade de viver A angustiado, diante da constatação de que a poesia
mesmo que em condição precária não é necessária nem útil para qualquer leitor, até
J Mestre Carpina nega-se a ouvir os infundados ques mesmo para ele, na condição de artista
tionamentos de Severino. pessimista, refletindo sobre o seu verdadeiro desejo
J Severino, em sua última interrogação, aponta uma de comunicar algo que ele mesmo considera inútil
hesitação entre viver e morrer para um leitor ávido por informações importantes
A sequência correta de preenchimento, de cima para paradoxal, ao abordar, metalinguisticamente, sua
baixo, é incapacidade de comunicar algo, considerado inú-
A V-V-F-V V-F-V-V E F-V-V-F til, embora acabe expressando suas convicções
V-F-F-F d F-V-F-V sobre o discurso poético, que é difícil para um leitor
que não existe ou que não é receptivo à sua arte.
46 UPF 2017 Sobre a chamada Geração de 45, que al d centrado no código linguístico, na medida em que
guns críticos denominam de pós modernista, apenas analisa a sua própria produção artística e a sua
é incorreto afirmar que: incapacidade de se fazer entender diante de um
A Apresenta um primeiro balanço de sua produção interlocutor presente e sensível a novas formas de
por meio da publicação, em 1951, da antologia Pa- expressão.
norama da nova poesia brasileira, organizada por E incapaz de confessar seus sentimentos e de tradu
Fernando Ferreira de Loanda zir em palavras concretas e significativas o desdém
Encontra em João Cabral de Melo Neto o seu que sente em relação à dificuldade que o leitor en-
expoente maior, em que pese o fato de o poeta per contra para interpretar seu ofício
nambucano situar se no grupo mais por circunstância
cronológica do que por afinidades programáticas. 48 Imed 2016 Analise o texto a seguir:
Regride plenamente a concepções e procedimentos
poéticos parnasiano-simbolistas, desconsiderando
toda a poesia existencial europeia de entreguerras,
de filiação surrealista, que poderia insuflar algum so-
pro de modernidade à produção do grupo.
d Reúne, basicamente, poetas amadurecidos duran
te a II Guerra Mundial, como Hélio Pelegrino, Ledo
Ivo, Geir Campos, Fernando Ferreira de Loanda e
José Paulo Paes, entre vários outros.
E Rejeita o verso livre e o coloquialismo dos mo-
dernistas de 22, operando um retorno ao verso O texto acima, de ,é
metrificado e à dicção nobre em seus poemas um dos exemplos mais famosos da .
Assinale a alternativa que preenche, correta e respec-
47 EBMSP 2016 tivamente, as lacunas do trecho acima
A Ferreira Gullar poesia concreta
O artista inconfessável Décio Pignatari – poesia concreta
Fazer o que seja é inútil. Ronaldo Azevedo – poesia surrealista
Não fazer nada é inútil. d Ferreira Gullar poesia surrealista
Mas entre fazer e não fazer E Décio Pignatari – poesia surrealista
mais vale o inútil do fazer.
Mas não, fazer para esquecer
que é inútil: nunca o esquecer
49 UFJF 2012 Leia o poema concreto a seguir, de Décio
Mas fazer o inútil sabendo Pignatari, para responder à questão.
que ele é inútil, e bem sabendo
que é inútil e que seu sentido
não será sequer pressentido,
fazer: porque ele é mais difícil
do que não fazer, e difícil
mente se poderá dizer
com mais desdém, ou então dizer
mais direto ao leitor Ninguém
que o feito o foi para ninguém
MELO NETO, João Cabral de. “O artista inconfessável”. SECCHIN, Antônio
Carlos (Org). João Cabral de Melo Neto (seleções). São Paulo: Global Editora.
Disponível em: <http://culturanavegante blogspot com.br/ 2010/11/o-artista- PIGNATARI, Décio. “Contribuição a um alfabeto duplo”. In: Poesia, Pois é,
inconfessavel-joao-cabral-de.html>. Acesso em: 8 fev. 2018. Poesia./ Poetc. São Paulo: Brasiliense, 1986. p. 184.
Texto 2
O mapa
Olho o mapa da cidade
Como quem examinasse
CAMPOS, Augusto de. In: Poesia concreta. São Paulo: Abril Educação, 1982. A anatomia de um corpo...
121
Invisível, delicioso Estão ORRETAS:
Que faz com que o teu ar A I, II e IV, apenas.
Pareça mais um olhar, I, II, III e IV.
Suave mistério amoroso, II e III, apenas
Cidade de meu andar d II, III e IV, apenas.
(Deste já tão longo andar!) E III e IV, apenas.
Texto 4
Esse texto
I. explora a organização visual das palavras sobre
a página.
II põe ênfase apenas na forma, e não no conteúdo
da mensagem.
(Décio Pignatari)
III. pode ser lido não apenas na sequência horizontal
das linhas.
IV não apresenta preocupação social
52 UPE 2017 Considerando os Textos 1, 2, 3 e 4 bem como
os autores e seus respectivos contextos históricos e Estão corretas
literários, analise as proposições a seguir. A I e II.
I, II e III.
I. O Texto 1 apresenta um eu lírico ligado ao cotidiano,
I e III
pois Ferreira Gullar, poeta também neoconcretista,
d II e IV.
tem como um de seus temas a realidade social.
E todas.
II. No Texto 2, encontra-se um eu lírico que temati-
za o cotidiano, situações corriqueiras, com uma
percepção aguda das coisas simples da vida; no 54 UPE 2018 Paulo Leminski, Décio Pignatari e os irmãos
entanto, há um certo pessimismo em relação à Campos, Haroldo e Augusto, conseguiram desenvol-
cidade que o faz evadir-se, criando, em sonho, ver poemas visuais, que associam o lirismo a um tom
plurissignificativo e, às vezes, crítico leve. Observe os
outra cidade.
poemas a seguir:
III Adélia Prado é dona de uma linguagem simples, e
preocupada com uma temática feminina, ligada à fa- Poema 1
mília e à religiosidade No Texto 3, percebe-se um
eu lírico que se mostra incompatível com o clima da
imagem da casa desejada, a ponto de não se sentir
bem com a cor alaranjada de suas paredes
IV. Pignatari possui uma linguagem que valoriza os
esquemas e diagramas, fazendo de seus versos
um projeto de designer. No poema, há um texto
duplo, uma fusão de imagens, cujos significados
se revelam por essa duplicidade, como um espe-
lho que projeta uma imagem invertida. Décio Pignatari
Texto 1
Texto 2
Nasce o poema
Não vou discutir se o que escrevo, como poeta, é bom
ou ruim. Uma coisa, porém, é verdade: parto sempre de algo,
para mim inesperado, a que chamo de espanto. E é isso que
me dá prazer, me faz criar o poema.
E, por isso mesmo, também, copiar não tem graça Um
dos poemas mais inesperados que escrevi foi O formigueiro,
no comecinho do movimento da poesia concreta.
É que, após os últimos poemas de A luta corporal (1953),
entrei num impasse, porque, inadvertidamente, implodira mi-
nha linguagem poética Não podia voltar atrás nem seguir
em frente.
Foi quando, instigado por três jovens poetas paulistas,
tentei reconstruir o poema Havíamos optado por trocar o
discurso pela sintaxe visual.
Já em alguns poemas de A luta corporal, havia explorado a
materialidade da palavra escrita, percebendo o branco da pági-
na como parte da linguagem, como o seu contrário, o silêncio.
Por isso, diferentemente dos paulistas que exploravam
o grafismo dos vocábulos, desintegrando-os em letras –, eu
desejava expor o “cerne claro” da palavra, materializado no
branco da página.
Daí por que, nesse poema, busquei um modo de grafar as
palavras, não mais como uma sucessão de letras, e sim como
Analise as armativas a seguir e coloque V nas verda construção aberta, deixando à mostra seu núcleo de silêncio.
deiras e F nas falsas Mas não podia grafá-las pondo as letras numa ordem
arbitrária. Por isso, tive de descobrir um meio de superar o
J No poema 1, a linguagem visual e a verbal criam um arbitrário, de criar uma determinação necessária.
todo inseparável, uma vez que as próprias palavras Ocorre, porém, que essas eram questões latentes em mim,
formam o símbolo de infinito, sendo possível realizar mas era necessário surgir a motivação poética para pô-las em
a leitura em, pelo menos, duas direções prática.
J Há duas possibilidades de leitura no poema 1, o que E isso surgiu das próprias letras, que, de repente, me pa-
caracteriza a plurissignificação da poesia concreta. receram formigas, o que me levou a uma lembrança mágica,
de minha infância, em nossa casa, em São Luís do Maranhão.
J Trata-se de dois poemas concretos em que, no
A casa tinha um amplo quintal, em que surgiu, certa manhã,
primeiro, predomina a linguagem verbal e, no se- um formigueiro: eram formigas ruivas que brotavam de dentro
gundo, a linguagem visual. da terra
J No poema 2, o título repete o primeiro verso, razão Eu ouvira dizer que “onde tem formiga tem dinheiro en-
pela qual se deduz tratar-se de prática exclusiva- terrado” e convenci minhas irmãs a cavarem comigo o chão
mente do Concretismo. do quintal de onde brotavam as formigas. E cavamos a tarde
J Há certa ironia no tema do poema 2, quando o eu inteira à procura do tesouro que não aparecia, até que caiu
uma tempestade e pôs fim à nossa busca Foi essa lembrança
lírico admite, no último dístico, que, só aos setenta,
que abriu o caminho para o poema, mas não sabia como
FRENTE 2
vai chegar à consciência plena. realizá-lo. Basicamente, eu tinha as letras, que me lembravam
Assinale a alternativa que indica a sequência ORRETA. formigas, mas isso era apenas o pretexto-tema para explorar a
linguagem em sua ambiguidade de som e silêncio, matéria e
A V F F F F
significado Que fazer então?
V V V V F Como encontrei a solução, não me lembro, mas sei que
F F F V V não surgiu pronta, e sim como possibilidades a explorar.
d V–F–V–F–F Tinha a palavra formiga, que era o elemento cerne. Expe-
E V–V–F–F–V rimentei desintegrá-la numa explosão que dispersou as letras
123
até o limite da página e depois a reconstruí numa nova ordem: acentuar a expressão vocabular. O livro-poema é que me le-
já não era a palavra formiga, e sim um signo inventado. Foi vou a fazer os poemas espaciais, manuseáveis, e finalmente
então que pensei em grafar as palavras numa ordem outra e o poema-enterrado, de que o leitor participa, corporalmente,
que nos permitisse lê-las. entrando no poema.
Em seguida, surgiu a ideia mais importante para a inven GULLAR, Ferreira. Folha de S.Paulo, São Paulo, 29 jan. 2012.
ção do poema: constituir um núcleo, formado por uma série p. E10. Ilustrada.
de frases dispostas de tal modo que as letras de certas palavras
servissem para formar outras. Nasceu o núcleo do poema, a
55 UFG 2012 A que movimento literário o poeta se refere
metáfora gráfica de um formigueiro. Ele surgiu da conjugação
das seguintes frases: “A formiga trabalha na treva a terra cega ao dizer “Havíamos optado por trocar o discurso pela
traça o mapa do ouro maldita urbe” sintaxe visual”? Explique como o autor caracteriza
Construído esse núcleo, o poema nasceu dele, palavra esse movimento.
por palavra, sendo que cada palavra ocupava uma página
inteira e suas letras obedeciam à posição que ocupavam no
56 UFG 2012 Segundo Ferreira Gullar, o processo de criação
núcleo Desse modo, a forma das palavras nada tinha da escrita
comum. Não era arbitrária porque determinada pela posição de suas palavras não foi arbitrário. Explique como surgiu
que cada letra ocupava no núcleo. a motivação poética para a criação de O formigueiro.
O formigueiro foi, na verdade, o primeiro livro-poema
que inventei, muito embora, ao fazê lo, não tivesse consciên 57 UFG 2012 A disposição gráfica do Texto 1 remete à ar-
cia disso.
quitetura de um formigueiro, e, como tal, esse texto foi
Chamaria de livro-poema um tipo de criação poética em
que a integração do poema no livro é de tal ordem que se elaborado a partir de um núcleo. Segundo a descrição
torna impossível dissociá los Nos livros-poemas posteriores, feita por Ferreira Gullar no Texto 2, qual é a base des-
essa integração é maior, porque as páginas são cortadas para se núcleo e como ele se constitui?
Texto complementar
Em relação à natureza do romance Grande sertão: veredas, o sertão pode ser dividido em três planos, conforme explicação da crítica literária
Walnice Nogueira Galvão, descritos a seguir:
Geográfico
Diferentemente do sertão nordestino, mais conhecido pelo público em geral, o sertão mineiro é caracterizado pelos campos gerais, que têm
espaços férteis para pastagens e rios. As veredas são calmos caminhos de água, cercados por buritis e outras plantas. No romance de Guimarães
Rosa, há uma mistura entre a topografia real e a imaginária.
E seguimos o corgo que tira da Lagoa Suçuarana, e que recebe o do Jenipapo e a Vereda do Vitorino, e que verte no
Rio Pandeiros esse tem cachoeiras que cantam, e é d’água tão tinto, que papagaio voa por cima e gritam, sem acordo:
É verde! É azul! É verde! É verde! E longe pedra velha remeleja, vi Santas águas, de vizinhas E era bonito, no correr
do baixo campo, as flores do capitão da sala todas vermelhas e alaranjadas, rebrilhando estremecidas, de reflexo.
ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. In: ROSA, João Guimarães; COUTINHO, Eduardo (Org.). Ficção completa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova
Aguilar, 2009. p. 37-8. v. 2.
Mítico
Os jagunços são tratados como cavaleiros andantes, ao estilo das aventuras romanescas ou das novelas de cavalaria, e, muitas vezes comparados
com heróis, recebem funções de salvação.
Duma banda, então, o Fafafa recruzou, seus cavaleiros: que estavam muito juntos, embolados, do modo por que
um bando de cavaleiros ou cavalos dá ar de ser muito maior do que no real é. Todos cavalos ruços ou baios – cor clara
também aumenta muito a visão do tamanho deles.
ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. In: ROSA, João Guimarães; COUTINHO, Eduardo (Org.). Ficção completa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova
Aguilar, 2009. p. 63. v. 2.
Metafísico
Os homens do sertão são avaliados o tempo todo por Deus ou pelo diabo. Trata-se da arena de embate entre forças puras do bem e do mal.
Como não ter Deus?! Com Deus existindo, tudo dá esperança: sempre um milagre é possível, o mundo se resolve
Mas, se não tem Deus, há-de a gente perdidos no vaivém, e a vida é burra É o aberto perigo das grandes e pequenas
horas, não se podendo facilitar é todos contra os acasos Tendo Deus, é menos grave se descuidar um pouquinho, pois
no fim dá certo Mas, se não tem Deus, então, a gente não tem licença de coisa nenhuma! Porque existe dor E a vida do
homem está presa encantoada erra rumo, dá em aleijões como esses, dos meninos sem pernas e braços
ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. In: ROSA, João Guimarães; COUTINHO, Eduardo (Org.). Ficção completa. 2. ed.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2009. p. 40-1. v. 2.
125
y A hora da estrela. Direção: Suzana Amaral, 1985. preservando o texto original e, assim, dando vida às personagens
O filme baseia-se no último livro lançado por Clarice Lispector em vida, do auto de Natal pernambucano. Lançado em 2010. Disponível em:
em 1977. Oito anos depois, sua história é levada ao cinema e se consa- <https://youtu be/clKnAG2Ygyw> Acesso em: 8 fev 2018.
gra ao ser premiada nos importantes festivais de Berlim e de Brasília
Disponível em: <http://p.p4ed.com/TCFIQ>. Acesso em: 8 fev. 2018.
Site
y Morte e vida Severina Produção: TV Escola/OZI/FUNDAJ Fundação
Joaquim Nabuco, 2009. y Site oficial do poeta Augusto de Campos
A adaptação para os quadrinhos da obra-prima de João Cabral Na página, é possível conhecer a vida e obra do escritor, além de
de Melo Neto, pelo cartunista Miguel Falcão, é retratada em 3D, interagir com seus poemas. Disponível em: <http://www.augustode
campos.com.br/home.htm>. Acesso em: 8 fev. 2018.
Exercícios complementares
1 Enem 2014 O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: c combatem-se a maior parte do tempo, saindo vi-
esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois torioso o sentimento cristão que a tudo consegue
desinquieta O que ela quer da gente é coragem harmonizar
ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: d alternam-se um tanto arbitrariamente, constituindo
Nova Fronteira, 1986.
isso a única fragilidade do romance.
No romance Grande sertão: veredas, o protagonista E dão ao conjunto um aspecto nebuloso, entre farsa
Riobaldo narra sua trajetória de jagunço A leitura do e tragédia, que se oferece ao leitor como enigma
trecho permite identicar que o desabafo de Riobaldo insolúvel.
se aproxima de um(a)
A diário, por trazer lembranças pessoais. 3 Ufal 2013 Grande sertão: veredas, do escritor minei-
b fábula, por apresentar uma lição de moral. ro João Guimarães Rosa, é considerado um romance
c notícia, por informar sobre um acontecimento que renova a narrativa brasileira, em especial, a nar
d aforismo, por expor uma máxima em poucas palavras. rativa de caráter regionalista que tinha como espaço
E crônica, por tratar de fatos do cotidiano. de suas ações o sertão. Leia atentamente o trecho
transcrito. Dadas, em seguida, as afirmações acerca
desse romance.
2 PUC-Campinas 2013 Na ficção de Guimarães Rosa, cuja
primeira virtude é chamar o leitor para uma espécie de O senhor... Mire veja: o mais importante e bonito, do
gramática de uma nova língua, o cenário privilegiado é mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais,
o de um amplo sertão brasileiro, entendido ainda como ainda não foram terminadas mas que elas vão sempre
espaço simbólico E o autor teve olhos também para o mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que
nascimento de Brasília, num conto de Primeiras estó- a vida me ensinou. Isso que me alegra, montão.
ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: Nova
rias. Entre o tempo arcaico e o tempo do futuro, entre “a Fronteira, 1986. p 15
roça e o elevador”, para lembrar uma imagem de Carlos
Drummond de Andrade, Rosa escolheu a ambos: lingua- I. Em Grande sertão: veredas, a narrativa se pauta
gem de novíssima arquitetura, temas que remontam ao na transformação, tudo está em contínua mudan-
regionalismo primitivo, povoado de coronéis e jagunços. ça, as personagens, a paisagem, as relações
Valerim, Aristides. Inédito. pessoais e profissionais
II. Grande sertão: veredas é marcado, principalmen-
As disputas violentas entre bandos de jagunços for te, pela linguagem bastante inovadora, no que
necem ao romance Grande sertão: veredas uma linha concerne à sintaxe e à seleção vocabular, com
narrativa básica, pontuada pela presença intensa de muitos arcaísmos e neologismos.
um amor culposo, de sofridas indagações acerca III. O romance de Guimarães Rosa tem como princi-
do que é o bem e o que é o mal. Por conta disso, pal tema a seca, que assola o sertão, provocando
nesse romance de Guimarães Rosa as tonalidades da mudanças na paisagem e muitos sofrimentos para
épica, da lírica e da reexão metafísica ou moral as personagens centrais, os camponeses Riobal-
A excluem-se reciprocamente, razão pela qual o ro- do e Diadorim
mance apresenta-se dividido em três partes. IV Este é o único romance da obra de Guimarães
b integram-se de modo admirável, costuradas Rosa, autor que escreveu principalmente contos,
pela linguagem nova e surpreendente criada reunidos, entre outros, nos livros Primeiras estó-
pelo artista. rias e Tutameia: terceiras estórias.
o dia e a noite, mas depois os relógios solares foram olímpicos em busca de recordes.
seguidos de outros que vieram a utilizar o escoamento Nos relógios primitivos, nos cronômetros sofisticados,
de líquidos, de areia, ou a queima de fluidos, até chegar nos sinos das velhas igrejas, no pulsar do coração e da
aos dispositivos mecânicos que originaram as pêndulas. pressão das artérias, a expressão do tempo se confunde
5Com a eletrônica, surgiram os relógios de quartzo e de com a evidência mesma do que é vivo. No tic-tac da
césio, aposentando os chamados “relógios de corda” O pêndula de um relógio de sala, na casa da avó, os neti-
mostrador digital que está no seu pulso ou no seu celular nhos ouvem inconscientemente o tempo passar. O Big Ben
127
londrino marcou horas terríveis sob o bombardeio nazista que procuravam representar o mundo real, sobretudo em
Na passagem de um ano para outro, contamos os últimos seus lances mais dramáticos, como os das batalhas.
dez segundos cantando e festejando, na esperança de um A arte cristã primitiva e medieval teve altos momentos,
novo tempo, de um ano melhor desde os consagrados à figuração religiosa nas paredes dos
ALCÂNTARA, Péricles, inédito. templos, como as imagens da Virgem e do Menino, até
as ilustrações de exemplares do Evangelho, as chamadas
“iluminuras” artesanais. Na altura do século XII, o estilo
5 PUC-Campinas 2016 Por vezes, a literatura pode se gótico se impôs, tanto na arquitetura como na pintura.
pautar por diferentes tempos: há o tempo da história Nesta, o fascínio dos artistas estava em criar efeitos de
narrada, de sua sequência cronológica, e há o tempo perspectiva e a ilusão de espaços que parecem reais. Mas
da linguagem que processa essa história A linguagem é na Renascença, sobretudo na italiana, que a pintura
experimental do irlandês James Joyce reinterpreta, atinge certa emancipação artística, graças a obras de gê-
em pleno século XX, a história mítica de Ulisses. No nios como Leonardo, Michelangelo, Rafael. É o império
Brasil, há uma ocorrência similar, se pensamos em da “perspectiva”, considerada por muitos artistas como
Grande sertão: veredas, romance no qual Guimarães mais importante do que a própria luz. Para além das re-
Rosa articula magistralmente dois planos temporais: presentações de caráter religioso, as paisagens rurais e
A a história do passado colonial e o registro das ve- retratos de pessoas, sobretudo das diferentes aristocracias,
lhas crônicas medievais. apresentam-se num auge de realismo.
o ritmo cantante da lírica e a urgente denúncia Em passos assim instrutivos, o livro da irmã Wendy
política. vai nos conduzindo por um roteiro histórico da arte da
pintura e dos sucessivos feitos humanos. Desde um jogo
o universo arcaico do sertão e a expressão linguís
de boliche numa estalagem até figuras femininas em ativi
tica ousada e inventiva.
dades domésticas, de um ateliê de ourives até um campo
d a corrosão nostálgica da memória e a busca de
de batalha, 1tudo vai se oferecendo a novas técnicas, como
uma nova mitologia.
a da “câmara escura”, explorada pelo holandês Vermeer,
E o desapego às crenças do passado e a obsessão pela qual se obtinha melhor controle da luminosidade
pelo experimentalismo estético adequada e do ângulo de visão Entram em cena as no-
vas criações da tecnologia humana: os navios a vapor, os
Leia atentamente o texto a seguir para responder à trens, as máquinas e as indústrias podem estar no centro
questão 6. das telas, falando do progresso. Nem faltam, obviamente,
História da pintura, história do mundo os motivos violentos da história: a Revolução Francesa, a
sanguinária invasão napoleônica da Espanha (num qua
O homem nunca se contentou em apenas ocupar dro inesquecível de Goya), escaramuças entre árabes. Em
os espaços do mundo; sentiu logo a necessidade de re- contraste, paisagens bucólicas e jardins harmoniosos des-
presentá los, reproduzi los em imagens, formas, cores, filam ainda pelo desejo de realismo e fidedignidade na
desenhá-los e pintá-los na parede de uma caverna, nos representação da natureza.
muros, numa peça de pano, de papel, numa tela de mo- 2Mas sobrevém uma crise do 3realismo, da 4submissão
nitor Acompanhar a história da pintura é acompanhar um da pintura às formas dadas do mundo natural. Artistas
pouco a história da humanidade. É, ainda, descortinar o como Manet, Degas, Monet e Renoir aplicam-se a um
espaço íntimo, o espaço da imaginação, onde podemos novo modo de ver, pelo qual a imagem externa se sub-
criar as formas que mais nos interessam, nem sempre dis- mete à visão íntima do artista, que a tudo projeta agora
poníveis no mundo natural. Um guia notável para aprender de modo sugestivo, numa luz mais ou menos difusa, apa-
a ler o mundo por meio das formas com que os artistas o nhando uma realidade moldada mais pela impressão da
conceberam é o livro História da Pintura, de uma arguta imaginação criativa do que pelas formas nítidas naturais.
irmã religiosa, da ordem de Notre Dame, chamada Wendy No Impressionismo, 5uma catedral pode ser pouco mais
Beckett. Ensina-nos a ver em profundidade tudo o que os que 6uma grande massa luminosa, 7cujas formas arquite-
pintores criaram, e a reconhecer personagens, objetos, tônicas mais se 8adivinham do que se traçam Associada
fatos e ideias do período que testemunharam à Belle Époque, a arte do final do século XIX e início do
A autora começa pela Pré-História, pela caverna sub- XX guardará ainda certa inocência da vida provinciana,
terrânea de Altamira, em cujas paredes, entre 15 000 e no campo, ou na vida mundana dos cafés, na cidade
12 000 a.C , toscos pincéis de caniços ou cerdas e pó de Desfazendo-se quase inteiramente dos traços dos
ocre e carvão deixaram imagens de bisões e outros ani- impressionistas, artistas como Van Gogh e Cézanne, explo-
mais. E dá um salto para o antigo Egito, para artistas que rando novas liberdades, fazem a arte ganhar novas técnicas
já obedeciam à chamada “regra de proporção”, pela qual e aproximar-se da abstração. A dimensão psicológica do
se garantia que as figuras retratadas − como caçadores de artista transparece em seus quadros: o quarto modestíssimo
aves e mulheres lamentosas no funeral de um faraó − se de Van Gogh sugere um cotidiano angustiado, seus campos
enquadrassem numa perfeita escala de medidas. Já na Gré- de trigo parecem um dourado a saltar da tela. A Primeira
cia, a pintura de vasos costuma ter uma função narrativa: Grande Guerra eliminará compreensões mais inocentes
em alguns notam-se cenas da Ilíada e da Odisseia. A maior do mundo, e o século XX em marcha acentuará as cores
preocupação dos artistas helenísticos era a fidelidade com dramáticas, convulsionadas, as formas quase irreconhecíveis
129
dá direito Vai, Mas parou Em tanto que se esquisitou, parecia que ia
Vem, volta, vem na vara, vai não volta, perder o de si, parar de ser Assim num excesso de espírito,
vai varando fora de sentido E foi o que não se podia prevenir: quem
“Todo passarinh’ do mato ia fazer siso naquilo? Num rompido ele começou a can-
Tem seu pio diferente. tar, alterando, forte, mas sozinho para si-e era a cantiga,
Cantiga de amor doído mesma de desatino, que as duas tanto tinham cantado
Não carece ter rompante...” Cantava continuando
ROSA, João Guimarães. “Sorôco, sua mãe, sua filha”. Primeiras estórias.
O trecho integra o conto “O burrinho pedrês”, da obra 4. ed. Rio de Janeiro: José Olyimpio. s.d. p. 16-8.
Sagarana, escrita por João Guimarães Rosa Dele é
correto armar que Guimarães Rosa, escritor inserido na chamada Ge-
A descreve o movimento agitado dos bois por meio ração de 1945 Modernismo brasileiro , apresenta
de uma linguagem construída apenas pelo empre- uma obra de cunho universalista.
go abusivo de frases nominais e de gerúndios. O texto comprova isso porque
apresenta um jogo entre a forma poética e a pro A se trata de uma prosa poética.
saica e, em ambos os gêneros, é possível constatar revela o pitoresco de uma cidade interiorana
a presença de um ritmo marcado pelo uso de é escrito numa linguagem rica em neologismos.
redondilhas. d enfoca um tema de caráter intimista e ligado à con-
há presença significativa de figuras sonoras, como dição humana.
as aliterações, que emprestam ao texto ritmo duro E evidencia um problema de ordem social que atinge
e pesado, impedindo a musicalidade e o lirismo os mais pobres.
próprios da arte popular
d há uma mistura de textos narrativos e textos poé- 11 UEM 2017 Assinale o que for correto sobre Manuelzão
ticos que quebra a sequência do conto e oferece e Miguilim, de Guimarães Rosa.
ao leitor um texto de duvidosa qualidade estética. 01 Nas duas narrativas que compõem o volume Ma-
nuelzão e Miguilim, encontramos uma linguagem
10 Uneb 2014 [ ] Vinham vindo, com o trazer de comitiva literária inovadora, com a utilização de neologismos
Aí, paravam A filha a moça tinha pegado a can e com a recuperação (e a revitalização) de vocá-
tar, levantando os braços, a cantiga não vigorava certa, bulos já pertencentes à língua portuguesa, em um
nem no tom nem no se-dizer das palavras – o nenhum. procedimento que é uma das marcas registradas
A moça punha os olhos no alto, que nem os santos e os
de Guimarães Rosa.
espantados, vinha enfeitada de disparates, num aspec-
02 Em Manuelzão e Miguilim há utilização de ele-
to de admiração. Assim com panos e papéis, de diversas
mentos naturais (tais como a fauna e a flora) que,
cores, uma carapuça em cima dos espantados cabelos, e
embora tragam consigo muito da cor local do espa-
enfunada em tantas roupas ainda de mais misturas, tiras
ço das narrativas, abrem-se para uma interpretação
e faixas, dependuradas – virundangas: matéria de maluco.
A velha só estava de preto, com um fichu preto, ela batia universalizante capaz de ultrapassar as fronteiras
com a cabeça, nos docementes. Sem tanto que diferentes, brasileiras em termos de significado e de capaci-
elas se assemelhavam dade de representação.
Soroco estava dando o braço a elas, uma de cada 04 Dito, irmão mais velho do protagonista de “Uma
lado. Em mentira, parecia entrada em igreja, num casório história de amor”, representa o homem em estado
Era uma tristeza. Parecia enterro. Todos ficavam de parte, de natureza, praticamente selvagem, sendo um
a chusma de gente não querendo afirmar as vistas, por dos marcos do neoindianismo que é atribuído a
causa daqueles trasmodos e despropósitos, de fazer risos, Guimarães Rosa em sua fase que antecede seus
e por conta de Soroco – para não parecer pouco caso. Ele grandes romances urbanos.
hoje estava calçado de botinas, e de paletó, com chapéu 08 Em uma relação repleta de reviravoltas, Tio Terêz
grande, botara sua roupa melhor, os maltrapos. E estava inicialmente desperta a antipatia da personagem
reportado e atalhado, humildoso. Todos diziam a ele seus Miguilim, situação esta que se transforma em de-
respeitos, de dó. Ele respondia: — “Deus vos pague essa finitivo apenas ao fim da narrativa, quando, ao
despesa ” presentear o menino com um par de óculos, abre
O que os outros diziam: que Soroco tinha tido muita para ele as perspectivas da educação e da cultura.
paciência Sendo que não ia sentir falta dessas transtorna 16 Manuelzão, de presença marcante também no en-
das pobrezinhas, era até um alívio [ ] redo de “Campo geral”, contrasta com os demais
Tomara aquilo acabasse. O trem chegando, a máquina
personagens ao se caracterizar como o intelectual
manobrando sozinha para vir pegar o carro. O trem apitou,
por excelência, sendo a representação do filósofo
e passou, se foi, o de sempre. [...]
humanista, inclusive distinguindo-se pelo fato de
Ele se sacudiu, de um jeito arrebentado, desaconte-
possuir educação formal avançada
cido, e virou, pra ir-s’embora. Estava voltando para casa,
como se estivesse indo para longe, fora de conta. Soma: JJ
131
A partir do fragmento, assinale a alternativa que ex nasce, ou seja, só chega a ter consciência de si
pressa a visão de Matraga relativa às provações mesma, na hora da sua morte
A A tentação é incorporada pelas mulheres que, se- III. Da leitura da obra infere-se que o fato de a autora
gundo a perspectiva da personagem, são a origem ter criado um personagem-narrador foi para que
de todos os tormentos. ele relatasse a história com sentimentalismo, des-
As dificuldades parecem positivas na concepção crevesse Macabéa com ternura e desse a ela um
de Nhô Augusto, pois valorizam ainda mais a sua final feliz
capacidade de resistência IV Toda a narrativa é entrecortada pela metalinguagem:
A visão da personagem demonstra a sua admira é o narrador, Rodrigo S. M., tecendo ponderações
ção pelo Mal, elemento que se sobrepõe ao Bem em relação à posição e ao papel que o escritor ocu-
d As tentações, de acordo com o pensamento de pa na sociedade e, principalmente, sobre o ato de
Matraga, devem ser evitadas a todo custo, já que escrever.
aproximam o homem da danação V Infere-se da leitura da obra que os apelos do
E Segundo o pensamento de Matraga, deve-se, mundo midiático afastavam os pensamentos de
eventualmente, ceder à tentação para lembrar que Macabéa sobre a sua triste condição de sobrevi-
somos apenas humanos. vente no mundo. Era por meio da Rádio Relógio
que ela contava as horas, os minutos, os segun-
15 UFRGS 2015 Considere os segmentos a seguir, retira- dos, sem música para nutrir seus impossíveis
dos de Água viva, de Clarice Lispector. sonhos
Sei que depois de me leres é difícil reproduzir de Assinale a alternativa correta.
ouvido a minha música, não é possível cantá-la sem tê-la A Somente as afirmativas II e IV são verdadeiras.
decorado. E corno decorar uma coisa que não tem história? Somente as afirmativas I, III e V são verdadeiras.
[...] Somente as afirmativas II e III são verdadeiras.
Isto tudo que estou escrevendo é tão quente como um d Somente as afirmativas I, II, IV e V são verdadeiras.
ovo quente que a gente passa depressa de uma mão para E Somente as afirmativas I, IV e V são verdadeiras.
a outra e de novo da outra para a primeira a fim de não
se queimar – já pintei um ovo. E agora como ria pintura
A questão 17 refere-se ao romance A hora da estrela,
só digo: ovo e basta.
de Clarice Lispector.
Leia as seguintes armações sobre os segmentos e
a autora. 17 UFRGS 2017 Assinale a alternativa correta sobre a obra.
I Clarice Lispector é a grande representante da A Um dos aspectos mais marcantes de A hora da es-
narrativa intimista brasileira, com sua prosa que trela é o caráter metaficcional da narrativa.
explora a subjetividade, a partir do eu que absor Rodrigo S. M sente-se à vontade para narrar a his-
ve os temas do mundo. tória de Macabéa.
II. O enredo, na narrativa, está a serviço das reflexões Macabéa tem laços fortes de amizade e compa-
e dos sentimentos, motivo pelo qual é possível nheirismo com todos que a cercam.
chamá la de prosa poética. d Macabéa é a típica moradora da zona sul do Rio
III. A narradora tem consciência da limitação da pala de Janeiro, com seu jeito indolente e descontraído
vra para representar a complexidade da vida e do E Macabéa transforma-se em uma cantora promisso-
mundo, por isso se contenta com a palavra míni ra, que se apresenta na Rádio Minuto.
ma/a palavra básica.
Qual(is) está(ão) correta(s)? 18 UFSC 2014 Nascera inteiramente raquítica, herança do
sertão – os maus antecedentes de que falei. Com dois
A Apenas I
anos de idade lhe haviam morrido os pais de febres
Apenas II
ruins no sertão de Alagoas, lá onde o diabo perdera as
Apenas I e II
botas. Muito depois fora para Maceió com a tia beata,
d Apenas I e III
única parenta sua no mundo Uma outra vez se lem
E I, II e III
brava de coisa esquecida. Por exemplo a tia lhe dando
cascudos no alto da cabeça porque o cocoruto de uma
16 Udesc 2014 Analise as proposições em relação à obra cabeça devia ser, imaginava a tia, um ponto vital Dava-
A hora da estrela, Clarice Lispector. -lhe sempre com os nós dos dedos na cabeça de ossos
I. O tempo na obra é o psicológico, pois há uma fracos por falta de cálcio. Batia mas não era somente
análise mais aprofundada das personagens que porque ao bater gozava de grande prazer sensual a tia
revela, por meio da narrativa interior, o fluxo da que não se casara por nojo – é que também considerava
consciência. de dever seu evitar que a menina viesse um dia a ser
II. A leitura da obra leva o leitor a inferir que, ao ser uma dessas moças que em Maceió ficavam nas ruas de
atropelada, Macabéa descobre a sua essência, cigarro aceso esperando homem. Embora a menina não
desvelando a situação paradoxal de que ela só tivesse dado mostras de no futuro vir a ser vagabunda
32 O título da obra revela forte ironia, tendo em vista 01 Os fragmentos são de obras representantes,
que é algo que nunca se concretiza: a hora da respectivamente, do Modernismo e do Realismo
estrela, quando finalmente Macabéa brilharia tal brasileiro.
qual suas artistas de cinema preferidas, não ocorre, 02 A descrição da personagem de Clarice Lispector é
devido ao acidente fatal sofrido pela protagonista. tipicamente modernista e a de Machado de Assis
Soma: JJ é inteiramente romântica.
133
04 Deduz-se dos fragmentos “com sua cara tola, rosto alegria que se dá é tão grande que se tem que a re-
que pedia tapa” (do texto de Clarice Lispector) e partir antes que se transforme em drama. Implora-se
“o olhar, cuja expressão de curiosidade sonsa também que venha, implora-se com a humildade da
e suspeitosa” (do texto de Machado), que ambas alegria-sem-motivo¹.
as personagens eram astutas e se faziam passar Em troca oferece-se também uma casa com
por ingênuas. todas as luzes acesas como numa festa de bailarinos.
08 “Disséreis”, na referência 1 do texto de Machado, Dá-se o direito de dispor da copa e da cozinha, e da
é o verbo “dizer”, conjugado na 2a pessoa do plu- sala de estar. P.S. Não se precisa de prática. E se pede
ral do pretérito mais-que-perfeito do indicativo. desculpa por estar num anúncio a dilacerar os outros.
O narrador se refere à voz de um anjo; se fosse Mas juro que há em meu rosto sério uma alegria até
um ser humano comum, o referido verbo seria mesmo divina para dar.
“disseram” LISPECTOR, Clarice. Disponível em: <http://pensador.uol.com.br/frase>.
Acesso em: 30 maio 2012.
16 Na referência 2 do texto de Machado, o narrador
compara a beleza de Helena à de um anjo quan
do afirma “[...] se os próprios olhos alcançassem 21 EPCar 2013 Releia atentamente a frase a seguir:
as pupilas ao céu, disséreis um daqueles anjos Essa pessoa que atenda ao anúncio só tem folga de-
adolescentes que traziam a Israel as mensagens pois que passa o horror do domingo que fere.
do Senhor”.
32 Na referência 3 do texto de Machado, a concordân- De acordo com o texto, essa frase aponta para a/os
cia de “longes cor-de-rosa” embora esteja correta, A solidão que o anunciante sente.
admitiria também “longes cores-de-rosa”. intransigência de quem coloca o anúncio no jornal.
deveres e os direitos de quem atender ao anúncio.
Soma: JJ d violência nas cidades nos finais de semana.
20 EsPCEx 2013 Leia o trecho a seguir: 22 EPCar 2013 A leitura global do texto permite inferir que
Não tenho uma palavra a dizer. Por que não me calo, A a busca de um homem ou uma mulher é puramen-
então? Mas se eu não forçar a palavra a mudez me engol- te de caráter solidário, pois deseja-se compartilhar
fará para sempre em ondas. A palavra e a forma serão a um bom sentimento.
tábua onde boiarei sobre vagalhões de mudez é necessário encontrar o que se procura rapida-
O fragmento, extraído da obra de Clarice Lispector, mente, uma vez que sair à noite, aos domingos,
apresenta pode ser perigoso.
A uma reflexão sobre o processo de criação literária. a expressão “... implora-se com a humildade da
uma postura racional, antissentimental, triste e re- alegria-sem-motivo” (ref. 1) revela sentimentos
corrente na literatura dessa fase da pessoa que precisa da ajuda de um homem
traços visíveis da sensibilidade, característica pre- ou de uma mulher
sente na 2a fase modernista. d perpassa pelo texto um único tom: imperativo, ale-
d a visão da autora, sempre preocupada com o valor gre e feliz.
da mulher na sociedade.
E exemplos de neologismo, característica comum na 23 Enem 2017
3a fase modernista. Declaração de amor
Leia o texto a seguir para responder às questões 21 Esta é uma confissão de amor: amo a língua portuguesa
e 22. Ela não é fácil. Não é maleável. [...] A língua por-
tuguesa é um verdadeiro desafio para quem escreve.
Sendo este um jornal por excelência, e por
Sobretudo para quem escreve tirando das coisas e das
excelência dos precisa-se e oferece-se, vou pôr um
pessoas a primeira capa de superficialismo.
anúncio em negrito: precisa-se de alguém homem ou
Às vezes ela reage diante de um pensamento mais
mulher que ajude uma pessoa a ficar contente porque
complicado Às vezes se assusta com o imprevisível de
esta está tão contente que não pode ficar sozinha uma frase. Eu gosto de manejá-la – como gostava de estar
com a alegria, e precisa reparti-la. Paga-se montada num cavalo e guiá-lo pelas rédeas, às vezes a
extraordinariamente bem: minuto por minuto paga-se galope Eu queria que a língua portuguesa chegasse ao
com a própria alegria. É urgente, pois a alegria dessa máximo em minhas mãos. E este desejo todos os que es-
pessoa é fugaz como estrelas cadentes, que até parece crevem têm. Um Camões e outros iguais não bastaram
que só se as viu depois que tombaram; precisa-se para nos dar para sempre uma herança de língua já feita
urgente antes da noite cair porque a noite é muito Todos nós que escrevemos estamos fazendo do túmulo do
perigosa e nenhuma ajuda é possível e fica tarde pensamento alguma coisa que lhe dê vida.
demais. Essa pessoa que atenda ao anúncio só tem Essas dificuldades, nós as temos. Mas não falei do
folga depois que passa o horror do domingo que fere. encantamento de lidar com uma língua que não foi apro-
Não faz mal que venha uma pessoa triste porque a fundada. O que recebi de herança não me chega.
futura que madama Carlota, a cartomante, lhe aca- pelas ruas ricas do espaço urbano, percebe a desi-
bara de fazer gualdade social de Recife, o que autoriza e legitima
E A narrativa de Lispector estabelece um diálogo o ato de roubar
intertextual com o conto “A cartomante”, de Macha- d metonímia do mal que se manifesta, de forma ino-
do de Assis, no qual também há uma personagem fensiva, nas crianças, por meio do roubo de rosas e
que, logo após visitar uma cartomante e receber de pitangas, mas que na vida adulta se manifestará
dela vaticínios auspiciosos, encontra a morte. em atos e atitudes que prejudicarão a sociedade.
135
27 PUC-PR 2015 No conto “Felicidade clandestina”, de o elefante e as outras espécies visitadas também
Clarice Lispector, a protagonista termina a narrativa não demonstram insatisfação com suas existências
com a seguinte frase: Frente ao búfalo, porém, a identificação torna-se
possível e o instinto de morte apodera se dela:
Não era mais uma menina com um livro: era uma
“Presa como se sua mão se tivesse grudado para
mulher com o seu amante.
LISPECTOR, Clarice. “Felicidade clandestina”. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
sempre ao punhal que ela mesma cravara. Presa,
enquanto escorregava enfeitiçada ao longo das
Com base nessa frase, assinale a alternativa correta. grades. Em tão lenta vertigem que antes do corpo
A A autora expressa que a menina cresceu e não se humano baquear macio a mulher viu o céu inteiro
interessou mais pelo livro porque tem um amante. e um búfalo” (p.135).
Clarice Lispector expressa que a menina já não se 16 As personagens de Clarice Lispector, na obra em
interessa mais pelo livro, e que a felicidade clandes foco, mostram-se em constante processo de au-
tina se realizou no momento em que o conseguiu toanálise e reconstrução do próprio “eu”, aspecto
Clarice Lispector expressa a relação entre a infân que impossibilita o reconhecimento do ambiente
cia e a vida adulta da protagonista. histórico-social brasileiro na estrutura das narrati-
d Clarice Lispector expressa a troca do livro por um vas. A concentração das preocupações da autora
amante. nas emoções interiores das personagens impede
E A autora define com uma metáfora o que é feli- o afloramento, nos contos, de questões como o
cidade clandestina, já que uma mulher ao ter um papel da mulher, o racismo, o preconceito, a vio-
amante vive situações de perigo, mas que lhe pro- lência social, entre outras Trata-se, portanto, de
porcionam felicidade uma literatura alienada e alienante
Soma: JJ
28 UEM 2015 Assinale o que for correto em relação aos
contos de Laços de família, de Clarice Lispector:
29 UPF 2015 Nos contos de Laços de família, de Clari-
01 Os contos têm em comum, além dos sentimentos ce Lispector, o foco narrativo ajusta-se
de ódio e desesperança que desfazem relações perfeitamente à representação dos conflitos internos
familiares, provocando conflitos interiores nas per das personagens, quase sempre desencadeados por
sonagens, uma voz narradora em primeira pessoa,
o que comprova o caráter autobiográfico da obra,
Assinale a alternativa que preenche corretamente as
a aproximação dos fatos relatados à vida pessoal
lacunas da armação anterior.
da escritora.
A do narrador-protagonista / casos de infidelidade
02 O conto “Uma galinha”, embora seja indicado a
conjugal.
leitores adultos, traz elementos que o caracterizam
da onisciência seletiva / pequenos incidentes do
como conto de fadas: inicia-se com a expressão
cotidiano.
própria dessa modalidade narrativa “Era uma
do “eu” como testemunha / disputas fratricidas pela
galinha de domingo” ; é marcado pela presença
herança paterna.
do maravilhoso, pois, ao botar um ovo, a galinha é
d do narrador-protagonista / pequenos incidentes do
poupada de ser morta; e apresenta um final feliz –
cotidiano.
“A galinha tornara-se a rainha da casa. Todos, me-
E do “eu” como testemunha / casos de infidelidade
nos ela, o sabiam”.
conjugal.
04 Em “Amor”, a personagem Ana, mulher tranquila e
realizada em seu cotidiano familiar, depara-se com
um cego mascando chicletes em uma parada de
30 UPF 2014 Leia as seguintes afirmações sobre a obra
Laços de família de Clarice Lispector
ônibus. Trata-se do momento máximo de tensão
narrativa, o clímax, uma vez que essa visão provoca I. O ponto de partida do conto “Amor” é a presen-
a ruptura entre a personagem e a sua realidade ça de uma personagem que não quer, de modo
estável (“Ela apaziguara tão bem a vida, cuidara algum, escapar da sua mediocridade confortável.
tanto para que esta não explodisse. [...]. E um cego, II No conto “A galinha”, o animal está prestes a ser
mascando goma, despedaçava tudo isso?” [p. 27]). devorado em um almoço de domingo, quando,
Esse momento, ainda que seja o clímax da nar- de súbito, retoma o seu gosto selvagem de luta
rativa, não é o seu desfecho, pois, ao retornar à e foge
casa, Ana reencontra a estabilidade nos braços III O narrador, no conto “Feliz aniversário”, relata a
do marido imensa e sincera alegria dos parentes da velha
08 O conto “O búfalo” narra uma situação de amor aniversariante durante a comemoração dos seus
e ódio. No zoológico, a personagem busca uma 89 anos.
identificação com os animais, que não se realiza: IV. No conto “A imitação da rosa”, a personagem
diante do leão, sente-se impotente, uma vez que procura com toda minúcia tornar à posição de es-
ele demonstra felicidade; a girafa, o hipopótamo, posa exemplar.
narrativas apresentam observações profundas do Essa crise, que transforma a relação da personagem
comportamento humano Sobre esse tema, coloque V com o mundo e com a família,
nas afirmativas verdadeiras e F nas falsas. A nasce do colapso da vontade de viver da perso-
nagem, em razão do doloroso prazer com que
J Em Dom Casmurro, conto da primeira fase da obra
passou a ver as coisas
machadiana, há uma análise minuciosa do compor-
revela o conflito vivido pela personagem entre o
tamento da mulher pertencente à classe burguesa,
tipo de vida que havia escolhido e as coisas que
pois Capitu se apresenta como personagem am-
passou a desejar.
bígua e interesseira, que não mede esforços para
constitui, para a personagem, uma alteração no
dilapidar o patrimônio do marido, tal como acontece modo de vida que antes a fazia sofrer e do qual
no capítulo Libras esterlinas. agora havia se libertado.
J Laços de família é uma coletânea de Clarice Lis d remete à excitação da personagem por ter con-
pector, composta por 13 contos que, na maioria, seguido harmonizar sua antiga vida com os novos
possuem como protagonistas personagens femi- desejos e sensações.
ninas, tomando se como exemplo Ana, no conto
Amor, e Dona Anita, em Feliz aniversário. Nas duas Leia o poema para responder às questões de 33 a 35.
narrativas, elas são idosas e lamentam só terem
O nada que é
descoberto a si mesmas em idade avançada.
J Primeiras histórias, de Guimarães Rosa e Laços Um canavial tem a extensão
de família, de Clarice Lispector demonstram a ante a qual todo metro é vão.
preocupação de seus autores com a linguagem,
Tem o escancarado do mar
característica peculiar à produção literária tanto do
que existe para desafiar
escritor mineiro quanto da autora brasileira, assim
considerada, apesar de ter nascido na Ucrânia que números e seus afins
J Dom Casmurro, de Machado de Assis, Famigera- possam prendê-lo nos seus sins
do, de Guimarães Rosa, e Uma galinha, de Clarice
Lispector são três narrativas que têm por narra Ante um canavial a medida
dores-personagens Dom Casmurro, a galinha e métrica é de todo esquecida,
Famigerado. Por essa razão, os três relatos são
protagonizados por figuras ambíguas, resultantes porque embora todo povoado
do comprometimento dos personagens-narradores. povoa-o o pleno anonimato
J Em Dom Casmurro, são narrados acontecimen
que dá esse efeito singular:
tos que se passam no Rio de Janeiro; o mesmo
de um nada prenhe como o mar.
fato ocorre no conto Amor, cuja personagem Ana
MELO NETO, João Cabral. Museu de tudo e depois. 1988.
é identificada por um substantivo que, ao sofrer
inversão, mantém-se inalterado, pois nada se lhe
modifica. Já em A menina de lá, o espaço é um 33 Unifesp 2014 Ao comparar o canavial ao mar, a imagem
lugar que “ficava para trás da Serra do Mim, quase construída pelo eu lírico formaliza-se em
no meio de um brejo de água limpa, lugar chamado A um eufemismo entre a ideia de metro e a de me-
o Temor-de-Deus”. dida.
um paradoxo entre a ideia de nada e a de imensi-
FRENTE 2
137
34 Unifesp 2014 Nos versos iniciais do poema – Um cana- 02 o verbo “jazer” no poema remete ao significado de
vial tem a extensão / ante a qual todo metro é vão. –, “estar sepultado” Tal sentido é negado pelo poeta
“metro” é concebido como ao afirmar que “Nesta terra ninguém jaz” (ref. 1),
A forma de se medir corretamente um canavial. pois a terra não envolve o corpo, tal qual mortalha,
meio de se medir a extensão de um canavial com como o mar não envolve o rio; ambos misturam-se,
precisão. integram-se, passam a fazer parte um do outro.
tradução subjetiva da extensão de um canavial. 04 as formas verbais “vem” (ref 2a) e “vêm” (ref 3a)
d meio de se dizer mais de um canavial do que só são variantes da 3a pessoa do plural do presente
sua extensão. do indicativo do verbo “ver”.
E forma ineficaz de se medir a extensão de um canavial. 08 o tema principal do poema “Cemitério pernambu-
cano”, a reforma agrária, contrasta com o de Morte
35 Unifesp 2014 O poema está organizado em versos de e vida severina: auto de Natal pernambucano, cujo
A oito sílabas poéticas que traduzem a visão de uma foco é denunciar a falta de cemitérios e de mater
poesia de expressão emocional contida. nidades públicas para acolher as vidas ceifadas
sete sílabas poéticas que traduzem a visão de uma pela morte e as que chegavam unicamente pelas
poesia de equilíbrio entre razão e sentimentalismo. mãos das parteiras sertanejas.
dez sílabas poéticas que traduzem a visão de uma 16 ao longo do poema, percebe-se o uso de con-
poesia descaracterizada pela falta de emoção. junções e locuções conjuntivas É o que ocorre
d doze sílabas poéticas que traduzem a visão de nas referências 4, 5, 6 e 7, em que elas denotam,
uma poesia que prima pela razão, mas sem abrir respectivamente, explicação, adição, conclusão e
mão da emoção. consequência.
E cinco sílabas poéticas que traduzem a visão de 32 em Paisagens com figuras, coletânea na qual o
uma poesia de expressão sentimental exagerada. poema “Cemitério pernambucano” foi publicado
pela primeira vez, há poemas que aludem à seca,
36 UFSC 2015 à pobreza e ao vazio, permitindo que o poeta esta-
Cemitério pernambucano beleça paralelos com a Espanha, local onde João
Cabral de Melo Neto atuou como diplomata.
(Nossa Senhora da Luz)
1Nesta terra ninguém jaz, Soma: JJ
4pois também não jaz um rio,
Com base na variedade-padrão escrita da língua por- O poema de João Cabral de Melo Neto estabelece
tuguesa, na leitura do texto, lançado inicialmente em uma comparação que se fundamenta:
Paisagens com guras (1955), nos demais poemas de A na personificação da bola para aproximá-la da ima-
João Cabral de Melo Neto presentes em Melhores gem de um ser vivo.
poemas e no contexto de sua publicação, é correto na relação entre o uso do touro em esportes na
armar que: Europa e a bola como utensílio doméstico.
01 embora tenha sido escrito em meados do século XX, na representação da figura feminina, que é iguala-
o poema “Cemitério pernambucano”, de João da a um objeto ou um bicho.
Cabral de Melo Neto, é um soneto e, como tal, traz d na diferença entre o estilo do futebol europeu e o
consigo algumas características que remontam ao do brasileiro.
Classicismo, como a presença de versos livres e E na ideia de que o futebol é um esporte sedutor
brancos. através da referência à malícia e à mulher.
139
Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes Trabalhando com recursos formais inspirados no Con-
armações sobre o poema cretismo, o poema atinge uma expressividade que se
caracteriza pela
J O eu lírico do poema é o próprio sertanejo que
A interrupção da fluência verbal, para testar os limites
reflete sobre sua forma de falar
da lógica racional.
J A ideia dos quatro primeiros versos da primeira es
reestruturação formal da palavra, para provocar o
trofe é retomada nos quatro últimos da segunda;
estranhamento no leitor.
neles, é descrita a melodia aparentemente doce
dispersão das unidades verbais, para questionar o
da fala do sertanejo.
sentido das lembranças
J Os quatro últimos versos da primeira estrofe estão
d fragmentação da palavra, para representar o estrei-
relacionados aos quatro primeiros da segunda; ne-
tamento das lembranças.
les, é descrita a essência rude do falar sertanejo.
E renovação das formas tradicionais, para propor
J O sertanejo falando opõe-se aos demais poemas
uma nova vanguarda poética.
de A educação pela pedra; nele, João Cabral de
Melo Neto apresenta um rigor formal, uma preo-
cupação com a estrutura do poema, ausente no 44 Unifesp Leia os textos e analise as afirmações.
restante do livro Texto 1
A sequência correta de preenchimento, de cima para
baixo, é
A V V V F V F V V E F V V F
F V F V d F F F V
46 Enem 2014
hugo PONTES
Poços de Caldas-MG, Brasil
PONTES, Hugo. Disponível em: <www.germinaliteratura.com.br>.
Acesso em: 24 mar. 2015.
141
da sintaxe tradicional Na prosa, uma das características 08 Em função de sua preocupação com a organização
mais marcantes é a pluralidade de estilos, consequência do texto, com a precisão e a concisão da lingua-
de diferentes tratamentos conferidos à linguagem gem, João Cabral de Melo Neto é considerado
01 O Concretismo, no âmbito da poesia, impulsiona precursor da poesia concreta e visual Sua obra
do pelos avanços tecnológicos da época e pelos poética abarca desde os poemas surrealistas de
meios de comunicação de massa, abandona o
“A pedra do sono”, passando pelos poemas me-
discurso poético tradicional em prol dos recursos
talinguísticos de “Psicologia da composição”, até
gráficos das palavras Decorrem daí a abolição do
a ênfase social de “Morte e vida severina”, poema
verso tradicional, o aproveitamento do espaço em
que relata a trajetória de Severino, retirante nor-
branco, a exploração da palavra como “coisa”, a
destino que ruma para o Recife.
ausência de lirismo, a rejeição do tema (o poema
não significa, ele é), a possibilidade de leituras múl 16 Os textos em prosa contemporâneos – contrarian-
tiplas Essa estética teve em Haroldo de Campos, do a tendência da poesia do mesmo período, que
Augusto de Campos e Décio Pignatari seus prin intensifica e diversifica procedimentos técnicos da
cipais poetas. terceira geração do Modernismo – retomam um
02 No âmbito da ficção, a temática política, para es modo tradicional de narrar A fragmentação que
capar à censura aos meios de comunicação de dava o tom da ficção de Clarice Lispector e de João
massa, valeu se de subterfúgios De um lado, o Guimarães Rosa cede lugar a narrativas construí-
romance reportagem, por meio de uma linguagem das segundo os moldes tradicionais, com começo,
jornalística e baseado em fatos reais, denuncia e meio e fim, normalmente narradas a partir de
protesta contra a violência social e política De um ponto de vista onisciente, imbuído da missão
outro lado, o realismo mágico denuncia o mesmo de trazer ordem ao caos da realidade extraliterária.
estado de coisas por meio de situações conside- Soma: JJ
radas irreais, absurdas e/ou insólitas
04 A prosa memorialista ou autobiográfica, gênero
bastante difundido durante o período simbolista, é
retomada na segunda metade do século XX pela
pena de grandes escritores, como Dalton Trevisan
e Rubem Fonseca Por meio de uma linguagem
introspectiva, o escritor faz emergir seu universo
pessoal como reação velada às intempéries da
vida anônima e massificada nos grandes centros
urbanos
16
Vargas, em 1945, e se desenvolve até meados da década de 1950, quando as denominadas
tendências literárias contemporâneas começam a aparecer, como o Concretismo, a poesia-
-práxis e a poesia “marginal”. A partir de então, surgem experimentações com a palavra em
si e a poesia visual, que permitem leituras diversas, fora do verso, ousando com as livres as-
sociações semântico-fonéticas. Além disso, toda a experimentação é feita em épocas muito
duras para o país: a ditadura militar, um regime de exceção que cassou liberdades e garan-
tias individuais, resultando em tempos difíceis para os artistas em geral.
A arte engajada dos anos 1960 O CPC organizou e realizou produções culturais impor
tantes para o período, como a coleção Violão de rua, que
O processo de modernização e desenvolvimento da
reunia poemas orientados pelo engajamento político que
nação brasileira a partir dos anos 1950 foi acompanhado
por uma série de propostas de renovação e atualização do configuravam a ideia de uma poesia participante da realida-
legado dos modernistas no campo da cultura. A literatura de social Formas de arte popular como a poesia de cordel
brasileira procurou dar forma às tensões ideológicas com as e o teatro de rua passaram a ser praticadas e valorizadas
quais convivia naquele período, oriundas do sempre contra- na medida em que se adequavam a uma concepção de
ditório e ambíguo processo histórico do desenvolvimento arte que priorizava a mensagem e a comunicação imediata
do país. Tais tensões atingiram seu ápice com a instauração de conteúdos acessíveis e assimiláveis pelo “povo”, noção
da ditadura a partir de um golpe militar em 1964. Assim, muito problemática, já que tendia a uma uniformização bas-
era inevitável que alguns artistas daquele período buscas- tante diferente do observável na realidade
sem a aproximação entre questões políticas e estéticas, Embora o CPC tenha atuado durante um curto período,
fazendo aparecer em suas obras questionamentos acerca ele representa um bom ponto de partida para muitas refle-
da realidade social e promovendo, de modo mais acirrado xões e impasses que afetaram nossa cultura na segunda
e explícito do que até então, certa politização da cultura. metade do século XX: as diferenças entre as classes sociais
Muitos intelectuais, especialmente os mais próximos aos e a diversidade das suas formas de expressão artística e
círculos estudantis e universitários, passaram a buscar uma dos interesses culturais a elas ligados; a possibilidade ou
expressão artística que pudesse contribuir para o processo não de a arte se integrar a práticas revolucionárias; a via-
de conscientização do povo a respeito de nossas mazelas bilidade ou inviabilidade de produzir material artístico de
sociais. Além disso, eles começaram a participar ativamente qualidade que fosse, ao mesmo tempo, mobilizador em
das passeatas, das reivindicações e dos movimentos de termos políticos, acessível às largas camadas da população
massa, que se tornaram constantes no período.
e fizesse jus às complexidades de pensamento próprias à
Nessa perspectiva, surgiu, em 1961, o Centro Popular
interpretação da realidade; além da discussão quanto às di-
de Cultura (CPC), ligado à União Nacional dos Estudantes.
versas e não necessariamente direcionáveis possibilidades
Seus integrantes deveriam atuar simultaneamente como
de engajamento político das nossas artes populares mais
artistas, membros do povo e revolucionários, o que nem
tradicionais, como o cordel ou a canção popular
sempre se verificou, principalmente no tocante à dese-
jada elaboração artística. Entre esses integrantes, estão A produção cultural dos anos 1960 se viu predominan-
artistas que posteriormente se tornaram importantes para temente orientada pelo pensamento de esquerda, ainda
a cultura brasileira, como os cineastas Eduardo Coutinho, que as ideias socialistas e comunistas tenham sofrido
Cacá Diegues e Leon Hirszman, o poeta Ferreira Gullar e mudanças e reformulações significativas, especialmente
os dramaturgos Gianfrancesco Guarnieri, João das Neves a partir do final dos anos 1950, a partir das dúvidas sobre
e Oduvaldo Vianna Filho. os rumos da Revolução Russa após o desmascaramento
de Stalin e das constantes denúncias no Ocidente de suas
Saiba mais práticas repressivas e ditatoriais No Brasil, depois do golpe
militar de 1964, as diferentes organizações de esquerda os-
O Centro Popular de Cultura (CPC) era uma organização de artistas cilaram entre a clandestinidade e a luta armada e a adesão
que defendia o engajamento da arte nas questões nacionais. As parcial a novas concepções ideológicas, mais orientadas e
potencialidades pedagógicas artísticas eram usadas para a formação
adaptáveis às propostas de desenvolvimento econômico
e a mobilização política da sociedade, apresentando um modelo de
arte popular revolucionária. próprias, ainda que não inteiramente obrigatórias, a um país
capitalista emergente.
© Robert Adrian Hillman Dreamstime.com
145
contornado: “fala-se dela o tempo todo, mas de um modo A poesia marginal
absolutamente implícito, sua presença é como a de um
tabu, suspenso entre os versos” Era exatamente a sensa e a “geração mimeógrafo”
ção de todos que viviam tanto no Brasil quanto fora dele, A poesia marginal pode ser vista como um dos des-
sob a censura e a onipresente repressão da ditadura militar dobramentos do movimento tropicalista. Surgida ao longo
da década de 1970, recebeu esse nome por representar
O Tropicalismo uma ruptura com o tipo de arte sancionada por uma elite
intelectual, propondo opções novas e diferentes em relação
O efervescente ambiente cultural de resistência à ditadu-
à grandiloquência do cânone literário estabelecido.
ra propiciou o encontro de artistas que estavam dispostos a
Paulo Leminski, Torquato Neto, Cacaso, Charles, José
evidenciar alguns aspectos sobre o Brasil omitidos ou mesmo
Agrippino de Paula, Waly Salomão, Francisco Alvim, Ana Cris-
reprimidos pelo sistema político e pelas elites detentoras do
tina Cesar e Chacal são alguns dos autores que integraram
poder. Por isso, certa produção cultural da época, menos
a chamada “geração mimeógrafo”, nome que aludia à busca
afeita ao engajamento direto quanto à “conscientização” do
de recursos fáceis e baratos de reproduzir e divulgar poesia
“povo”, passou a buscar, antes, o ato anárquico de trazer à
à margem do viciado mercado editorial. Essa procura incluía
luz as contradições do desenvolvimentismo brasileiro, pro
a distribuição gratuita ou a venda direta das publicações
pagandeado pelo governo, e desmascarar determinadas
aos interessados e o barateamento dos custos a partir do
realidades sociais e culturais encobertas pelas falsas aparên-
aproveitamento de todos os formatos e tipos de papel e de
cias expressas na visão oficial do país. Dessa forma, efeitos
modalidades de publicação caseira. Além disso, valorizava
corrosivos ligados ao choque advindo de diferentes imagens
até mesmo os muros das cidades como suporte para a picha-
de Brasil justapostas ao humor e à ironia eram preferidos em
ção de textos poéticos. Até a simples leitura oral de poemas
relação às “palavras de ordem” e à assertividade didática e
em locais públicos foi reconhecida na medida em que dava
militante da arte engajada.
destaque à performatividade lúdica e teatral dos poetas:
O Tropicalismo, ou Tropicália, surgiu no final da década
denominados happenings, tais eventos cênicos públicos
de 1960 como um movimento cultural de ruptura e inovação.
e improvisados mesclavam literatura, artes visuais e teatro.
As letras, o comportamento e até mesmo o modo de se vestir
Ainda que alguns poetas dessa geração tenham publi-
de seus integrantes refletiam as aspirações dos jovens, que
cado suas obras posteriormente no formato de livros, não
buscavam novos modelos para expressar a modernidade. As
havia originalmente nenhuma preocupação quanto à pe-
conquistas dos modernistas de 1922 foram revisitadas com
renidade da poesia que a publicação mais formal garantia.
novas abordagens, influenciadas pela cultura pop tanto
A ideia era transmitir o recado poético naquele momento
nacional quanto estrangeira e pela contracultura.
presente nas mais variadas circunstâncias.
A maior repercussão do movimento tropicalista se deu
Também é importante mencionar a aliança com a música
na música popular brasileira, tendo como representantes
popular. Naquela fase, começou-se a recuperar a noção –
mais conhecidos Caetano Veloso, Gilberto Gil, Torquato
antiga na história das formas populares da literatura e hoje
Neto, Os Mutantes e Tom Zé.
largamente aceita – de que as letras de música pouco ou
O movimento foi, como era de se esperar, rejeitado pela
nada se diferenciam dos poemas publicados em livro quanto
parcela da classe média que aderira ao engajamento artísti-
à sua natureza e ao seu valor. Uma das mais importantes
co mais direto: o uso da guitarra elétrica pelos tropicalistas,
canções tropicalistas, “Geleia geral”, por exemplo, resultou da
por exemplo, foi considerado uma ofensa aos elementos tra-
parceria entre o poeta Torquato Neto e o músico Gilberto Gil.
dicionais, como o violão da MPB, e os compositores foram
A ideia de denominar tais poetas como pertencentes à
acusados de “alienação”. Apesar disso, o fortíssimo teor da
“geração mimeógrafo” cabe perfeitamente no contexto dessa
crítica tropicalista acabou por fortalecer o caráter de resistên-
poesia, já que, ao contrário da forçada tendência didatizante
cia que esses artistas queriam alcançar. O espírito tropicalista
que tem como preferência dividir arbitrariamente escritores
animou e anima até hoje grande diversidade de manifestações
em “gerações”, o objetivo desse grupo era justamente relatar
culturais importantes da música ao cinema e ao teatro.
poeticamente a experiência da sua geração, bem como seu
posicionamento crítico e conflituoso em relação às anteriores.
A produção desses poetas era marcada pela forte irreve-
rência, pelo humor, pela coloquialidade e por um intencional
não acabamento das formas poéticas, o qual previa, inclusive,
a possibilidade de não dar título aos poemas ou de fazê-los
acompanhar de desenhos, como se os aproximassem a um
caderno de rascunhos. Além disso, seu trabalho era marcado
pela exploração de elementos recuperados do primeiro Mo-
dernismo – como o “poema-piada” – e pelo apelo à síntese
e à visualidade da poesia, ainda que longe do rigor das com-
posições concretistas. Ainda, era importante a preocupação
com a expressão poética mais espontânea e circunstanciada,
feita a partir de fatos triviais, de sentimentos comuns e de si-
Fig. 1 Caetano Veloso e Gilberto Gil, representantes da Tropicália. tuações diretamente observáveis no cotidiano da vida social.
147
A bagagem lírica (“vai carregar bandeira”, a qual pode ser também relacio-
nada ao tom “menor” de outro poeta modernista, Manuel
modernista de Adélia Prado Bandeira)
A extensa obra subsequente de Adélia, que inclui livros
de poesia e de uma prosa solta, à maneira de um “diário
disperso”, como a caracterizou o crítico Manuel da Costa
Pinto, confirma seus procedimentos e temas, marcados por
detalhes e gestos do cotidiano mais simples, característicos
de mulher casada e apegada à miúda rotina familiar e aos
ritos da igreja católica e da comunidade; ilumina-se em
seus poemas a presença mística da beleza e graça divinas
pelo olhar que Adélia registra em tudo. Temas hoje trata-
dos de maneira genérica como “questões sociais”, como
a condição da mulher em uma sociedade machista, são
abordados pela poetisa a partir do seu recolhimento íntimo,
que não denuncia a resignação cristã como “reacionária”,
mas a vê como ponto de vista privilegiado para descobrir
possíveis brechas de vida plena e nelas investir a força de
seus desejos, inclusive, e surpreendentemente, os íntimos,
como os sexuais.
Em 1974, a escritora mineira da provinciana Divinópolis
cidade centro e chave de sua obra poética Adélia Prado
(1935-) estreava na literatura com a obra Bagagem O livro A poesia do chão e as palavras
trazia, como primeiro poema, “Com licença poética”, uma
inventiva e intensa paródia feminina do famosíssimo “Poe-
em transe de Manoel de Barros
ma de sete faces” de Carlos Drummond de Andrade (aliás,
poema de abertura de seu primeiro livro). O próprio poeta
reverenciou, em um artigo de jornal, o talento incomum
da escritora que vinha a público de modo tão desabrido.
grandes centros, como nas ficções de Rubem Fonseca e Como se percebe no texto, o cronista é um artista
Dalton Trevisan. atento às menores coisas do cotidiano, que se oferecem
Ambas as tendências refletem o caos da vida moder fugazmente aos sentidos, e sabe extrair delas a beleza
na em sociedade, ora forjando a resistência lírica, a qual simples e a essencial inutilidade contemplativa que elas
preserva instantes e brechas de vida mais leve, como inspiram para alguém ávido por fugir à sanha consumista
na crônica de Rubem Braga, ora fazendo registros secos de “acontecimentos” que as notícias de jornal alimentam.
e brutais, como nos desconcertantes contos curtos do Os iluminados instantâneos, ou os “quase nada” da crônica,
paranaense Dalton Trevisan, autor que parece cutucar a podem resgatar nossa embrutecida sensibilidade moderna.
ferida do capitalismo selvagem e das suas sempre reno-
vadas opressões, interiorizadas até mesmo na vida afetiva
e conjugal.
A opressão e a violência da vida
urbana nos contos de Rubem Fonseca
A crônica como gênero Na contramão do lirismo da crônica, os contos e ro-
mances de Rubem Fonseca parecem valorizar justamente
literário e seu mestre Rubem Braga o estado de choque que os seus retratos hiper-realistas
O sentido mais genérico da palavra “crônica”, ou seja, do caos e da violência da vida urbana causam ao leitor.
a ideia de registro do tempo tanto na forma de sua fixação Assim, potencializar a brutalidade do relato surge como um
em instantes privilegiados quanto no ato de captar sua su possível recurso catalizador do nosso olhar crítico para os
cessão vertiginosa, inspirou um gênero moderno de escrita males da vida social segregadora e esvaziada de valores
tributário do jornalismo, mas que encontrou autores entre humanos das grandes cidades.
nós que o elevaram à arte literária. O trecho inicial de “Feliz Ano Novo”, um dos contos
Quase todos os grandes ficcionistas e poetas brasilei- mais famosos do autor, coloca-nos em choque – pelo re-
ros a partir do Realismo, como Machado de Assis e Carlos corte bruto, ainda que muito trabalhado literariamente, da
Drummond de Andrade, escreveram crônicas em jornal. fala popular dentro do momento em que um grupo se
Na maior parte das vezes, esses textos eram um tanto di- prepara para um assalto
ferenciados em relação ao tom mais elaborado de suas Vi na televisão que as lojas bacanas estavam vendendo
incursões pela poesia, pelo conto ou pelo romance: traziam
FRENTE 2
149
cima dela Ô Pereba! Você pensa que eu sou algum babaquara no entanto, não deixavam de estabelecer pontos efetivos
para ter coisa estarrada no meu cafofo? de retorno e relação com a mais prosaica das realidades.
[ ] O efeito é, ao mesmo tempo, revelador de aspectos pouco
FONSECA, Rubem. “Feliz ano novo”. MORICONI, Ítalo (Org.).
Os cem melhores contos brasileiros do século.
observados da vida social e perturbador aos sentidos, como
Rio de Janeiro: Objetiva, 2000 p 334 é possível notar no trecho inicial do conto “O ex-mágico da
Taberna Minhota”.
Pela leitura do fragmento, podemos imaginar o impacto
que o livro – de mesmo título do conto – acarretou em 1975,
[...]
auge da ditadura militar. Após a venda de 30 mil exempla-
Hoje sou funcionário público e este não é o meu descon-
res, a obra foi proibida pela censura por “atentado contra
solo maior.
a moral e os bons costumes”; nunca antes na literatura
Na verdade, eu não estava preparado para o sofrimen-
brasileira a linguagem e o modo de vida dos excluídos da
to. Todo homem, ao atingir certa idade, pode perfeitamente
sociedade pelo sistema econômico e político tinham apa-
enfrentar a avalanche do tédio e da amargura, pois desde a
recido tão cruamente, tão depurados dos dispensáveis e
meninice acostumou-se às vicissitudes, através de um processo
falsos disfarces linguísticos da “boa literatura”.
lento e gradativo de dissabores.
[...]
O conto contemporâneo RUBIÃO, Murilo. “O ex-mágico da taberna minhota”. Obra completa.
Ainda que sua origem possa ser rastreada nas várias São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 21.
formas de narrativa doméstica (como a fábula, a anedota, o
Observe que a caracterização desencantada que o
caso ou os diversos tipos de “historinhas” populares todas
narrador faz de si mesmo se alia a um simples registro
“formas simples”, como as denominou o teórico André Jolles),
de eventos inexplicáveis para compor uma perturbadora
o conto tornou-se o gênero literário mais adequado às carac-
terísticas, às exigências e aos hábitos sociais da era moderna. alegoria da vida esvaziada de sentido que pode suceder a
A sua leitura rápida, o tom concentrado da narrativa – qualquer um. O “mágico enfastiado do ofício” não consegue
com todos os elementos articulados visando ao mais forte evitar a sucessão incontrolável de eventos e metamorfoses
impacto final – e a necessidade de depuração de uma espantosas que emanam de seus dedos e o conduzem a
escrita literária que se adequasse à economia de meios uma dolorosa crise existencial.
que marcava o conto foram as características que tornaram Também na obra do romancista e contista goiano José
esse gênero literário tão apropriado às experimentações J. Veiga (1915-1999), tipos humanos, animais e elementos
que identificam a literatura moderna. Na expressivíssima insólitos surgem sem explicação e abalam o cotidiano de
analogia forjada pelo contista argentino Julio Cortázar, en- pequenas cidades interioranas. É o caso de uma máquina
quanto o romance vence ou conquista o leitor por pontos, enorme, estranha e aparentemente sem função identificável
o conto o faz por nocaute. O escritor computa tal força trazida e largada na pracinha da cidade, no conto “A máqui-
do gênero à sua “esfericidade”, ou seja, ao seu caráter na extraviada”, do livro de mesmo nome O conto parece
concentrado e “redondo”, no qual, antes que percebamos alegorizar a inquietante e descabida intrusão de aparatos
mais conscientemente a sucessão dos elementos narrativos “modernos” em vidas que não pediram por eles
responsáveis pelo nosso envolvimento na leitura, o conto O conto urbano intimista e de sondagem psicológica,
já nos “arrastou” até um surpreendente final. a propósito da obra de Lygia Fagundes Telles, foi outra
Na literatura brasileira do século XX, o conto constitui-se vertente importante da literatura do século XX. Entre os
a forma ficcional mais moldável à diversidade de propostas que o praticaram, estão Autran Dourado, Luiz Vilela, João
literárias inovadoras que caracteriza os rumos do nosso mo- Gilberto Noll, Edla van Steen, Antônio Torres, Caio Fer-
dernismo literário. Não por acaso, verificou-se, nas décadas nando Abreu e Sérgio Sant’Anna.
de 1960 e 1970, um verdadeiro boom – ou explosão – do
Entre os contistas que refletem a violência e o caos
conto no país, o que atesta sua crescente popularidade.
da vida urbana – como os já mencionados anteriormen-
Na impossibilidade de percorrermos detidamente todas
te, Rubem Fonseca e Dalton Trevisan , há alguns que
as tendências, as possibilidades narrativas e os autores que
buscaram incorporar a esse gênero a perspectiva de vida
marcaram e marcam o conto brasileiro contemporâneo,
de representantes de classes sociais que até então não
indicaremos sucintamente a seguir alguns pontos cardeais
e incontornáveis destaques entre os nossos contistas mais frequentavam a literatura: são as marginalizadas persona-
importantes. gens que se destacam nos contos comoventes de João
Um dos destaques obrigatórios é a incursão pelo cha- Antônio ou os operários das belas narrativas de Domin-
mado “realismo maravilhoso” ou “realismo mágico” que um gos Pellegrini
notável contista mineiro, Murilo Rubião (1916-1991), praticou Por meio do conto, é possível investigar o modo como
em inúmeros livros de contos, os quais atingiram notorieda- a literatura brasileira buscou novos caminhos artísticos e
de pelo desvio muito criativo que propunham em relação representações da vida social. Como afirma o crítico Alfredo
ao predomínio do realismo psicológico ou existencial, mais Bosi, “Em face da História, rio sem fim que vai arrastando tudo
comum em nossa literatura ao longo do século XX. Eram e todos no seu curso, o contista é um pescador de momentos
narrativas em que elementos fantásticos se inseriam sutil- singulares cheios de significação [ ] O contista explora no
mente em um quadro progressivo de estranhamentos que, discurso ficcional uma hora intensa e aguda da percepção”.
ro inglês comprei café na porta das fazendas desesperadas. fundamento psicológico das personagens.
De posse de segredos governamentais, joguei duro e certo O também jornalista e romancista Nelson Rodrigues disse-
no café-papel! Amontoei ruínas de um lado e ouro do outro!
cou em suas peças os conflitos, as neuroses e as obsessões
Mas, há o trabalho construtivo, a indústria Calculei ante a
das classes média e média baixa urbana brasileira – especial-
regressão parcial que a crise provocou.... Descobri e incentivei
mente a dos subúrbios cariocas –, fazendo um teatro que se
a regressão, à volta a vela sob o signo do capital americano.
[...]
destacava pela força trágica das histórias familiares, sempre
ANDRADE, Oswald de. O rei da vela. São Paulo:
materializadas por meio de uma linguagem coloquial, viva
Globo, 1991 p 53 4 e plena de expressividade, tanto cômica quanto dramática
151
Suas peças mais famosas, como Álbum de família encenava um estupro na cela de uma prisão Sua obra-pri-
(1945), A falecida (1953), Os sete gatinhos (1958) e O beijo ma é Dois perdidos numa noite suja (1966), na qual, em
no asfalto (1960), trazem à tona o ressentido fundo psico- uma linguagem extremamente concisa e fiel aos modos de
lógico que se esconde por trás das intrigas familiares, mas fala populares incluindo as gírias e os palavrões que só
que podem explodir a qualquer momento, em confrontos alguém que conheceu de perto o submundo dos grandes
ao mesmo tempo trágicos e cômicos centros urbanos poderia reproduzir sem artificialismo ,
Suas personagens são desenhadas com o traço ca encenava uma briga entre dois moradores de rua por um
ricatural e as fortes cores do expressionismo (uma das par de sapatos O teatro brasileiro não conhecia até então
vanguardas do início do século), mas, graças ao talento do uma obra que pudesse unir tão depurado realismo cênico
escritor, igualmente plenas de humanidade e capazes de a ressonâncias literárias tão universais
provocar uma identificação imediata. Apesar disso, talvez por Nesse contexto de um teatro de marcada intervenção
seu poder incomum de sintetizar elementos contraditórios social, é importante citar os dramaturgos Gianfrancesco Guar-
entre o lírico e o grotesco da alma humana e da sociedade, nieri e Augusto Boal, que se filiaram ao Teatro de Arena,
suas peças também causaram escândalo e rejeição em um fundado em 1953 em São Paulo e de destacado papel na
panorama teatral ainda bastante conservador e marcado, criação de novas temáticas e modelos de encenação teatral,
como talvez seja até hoje, por peças de fácil digestão e bem como na resistência à ditadura militar Guarnieri estreou
com apelo comercial. Nelson e seu teatro intencionalmente no Arena, em 1958, Eles não usam black-tie, que tematizava o
desagradável foram e serão sempre desestabilizadores das meio operário e as terríveis consequências humanas da pre
convenções sociais e dramáticas. datória industrialização nas grandes cidades brasileiras Outro
dramaturgo que se notabilizou por levar ao palco os dramas
Atenção das classes menos favorecidas foi Dias Gomes, como fez em
sua peça de estreia, O pagador de promessas.
O teatro revolucionário de Nelson Rodrigues obedece à seguinte Nesse pequeno panorama sobre a literatura dra-
divisão, feita pelo crítico teatral Sábato Magaldi: peças psicoló- mática, cabe também uma referência à obra teatral do
gicas (Vestido de noiva, A mulher sem pecado, Viúva, porém honesta); escritor e pensador da cultura paraibano Ariano Suassuna
peças míticas (Anjo negro, Álbum de família, Senhora dos afogados
(1927 2014). Em Pernambuco, Ariano fundou o Movimen
e Doroteia); e tragédias cariocas (A serpente, O beijo no asfalto, A
falecida, Perdoa-me por me traíres, Tragédias cariocas I e II) to Armorial, o qual procurava investigar e renovar a força
das raízes medievais ibéricas da cultura popular brasileira
Nessa perspectiva, Ariano escreveu, entre outras peças,
em 1965, uma obra-prima do teatro brasileiro, O auto da
Os novos parâmetros do teatro Compadecida, auto sacro de inspiração medieval embe-
bido na cultura popular nordestina, que consagrou uma
nacional a partir dos anos 1950 e 1960 carismática dupla de personagens cômicas, Chicó e João
Dada a largada para a renovação do teatro nacional com Grilo, e suas peripécias em busca de justiça social e de
a obra potente de Nelson Rodrigues, é importante mencionar combate ao preconceito racial e à mundanidade da igreja,
alguns dramaturgos individualizados ou inseridos em uma sempre a serviço dos poderosos
cena teatral específica que forjaram novos rumos para as
artes cênicas a partir da segunda metade do século XX A literatura africana de língua
Ainda nos anos 1950, avultou a figura do dramaturgo
paulista Jorge Andrade (1922 1984), com seu teatro de forte
portuguesa
empenho social e apurada caracterização psicológica. Filho O continente africano foi duramente afetado ao lon-
de fazendeiros tradicionais, tematizou em peças como O go do processo expansionista europeu e, por extensão,
telescópio (1954), A moratória (1955) e Os ossos do barão português quando, visando ao caminho das índias, Por-
(1963) a decadência social da aristocracia rural que fundava tugal aportou as suas caravelas na África e estabeleceu
seu poder nas plantações de café. Em Pedreira das almas contato com variadas culturas. No entanto, por séculos, a
(1958), Andrade recuou no tempo histórico e situou a ação visão eurocêntrica deturpou os traços que conferiam aos
cênica nas Minas Gerais do século XIX para tematizar o povos africanos as complexidades das suas organizações
processo de criação dos latifúndios a partir do esgotamento sociais, culturais, políticas, econômicas e religiosas, redu-
da exploração de ouro e dos metais preciosos. Findado o zindo-os a estereótipos simplistas.
ciclo dos patrões, o dramaturgo voltou os olhos para os O aparecimento das literaturas africanas foi um grande
oprimidos, tematizando teatralmente, em Vereda da salva- mecanismo de luta de libertação, um longo processo his-
ção (1964), um episódio verídico de explosão de fanatismo tórico e de conscientização que se iniciou nos anos 1940
religioso em uma comunidade rural de Minas Gerais opri- e 1950 vinculado ao desenvolvimento cultural nas ex-colô-
mida pela fome e pelo desespero. nias e ao surgimento de um jornalismo mais ativo, que se
O olhar para os deserdados da sociedade ganhou desconectava do cenário geral.
um parâmetro definitivo na notável obra dramatúrgica do Do estabelecimento das colônias portuguesas – Guiné-
santista Plínio Marcos (1935-1999). Homem simples que -Bissau, Moçambique, Angola, Cabo Verde e São Tomé e
chegou ao teatro por meio do circo, Plínio estreou como Príncipe –, engendrou-se, a exemplo do que aconteceu
autor teatral em 1959, com Barrela, violentíssima peça que no Brasil, uma literatura potente, expressa tanto em verso
<http://www.dreamstime.com/stock-illustration-brazil-map-
© Abdurahman Dreamstime.com Disponíve em
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Saiba mais
ranças r
do noss
FRENTE 2
153
Podemos dizer, então, que houve uma miscigenação noção se apoiava na falsa dualidade do europeu como
entre os costumes e valores dos europeus principalmen homem civilizado versus o não europeu como “selvagem”.
te dos portugueses e os dos ameríndios e africanos na
constituição sociocultural do país, resultando no que hoje O elemento africano na cultura brasileira
conhecemos como cultura brasileira A partir do início do século XX, formou-se uma incipien-
Essa multiculturalidade pode ser percebida em nos te indústria cultural no Brasil Nesse contexto, surgiu, entre
so folclore e em vários outros pontos, por exemplo, na muitos outros aspectos culturais, um novo gênero musical
culinária, em festas e costumes populares, na literatura, no país o samba , que teve a capacidade de misturar
na variedade de fisionomias, nos diferentes ritmos e até realidades até então muito distantes, como as danças de
mesmo na variedade da língua Assim, múltiplas culturas salão dos senhores de escravos e os elementos festivos
compõem uma só: a cultura brasileira de tradição africana
Esse sincretismo que caracteriza o samba combina
Atenção
muito bem com o caráter mestiço da população brasileira,
O povo e a cultura brasileira, além de serem compostos da mistura e o sucesso do novo gênero florescente consagrou se em
entre as culturas indígenas, africanas e portuguesas, foram – e con- nossa vida cultural
tinuam a ser – influenciados pelo contato com os demais imigrantes Assim, elementos de outras tradições e culturas, acres-
que vieram para o país, como os alemães, franceses, holandeses, cidos de características do país, deram origem à nossa
japoneses, italianos, entre outros que se estabeleceram por aqui cultura, cuja configuração no seu conjunto folclórico ganhou
novos contornos na música, na culinária e nas mais diversas
A cultura brasileira e as contradições expressões artísticas, como se nota no samba, na feijoada,
na capoeira, entre outros
Uma grande parte da riqueza da cultura brasileira se
deve à presença de elementos africanos no contexto das Atenção
produções e expressões artísticas. A nossa diversidade é
histórica, explica-se por muitos fatos políticos e está longe Desde o período da escravidão no Brasil Colônia até hoje, os negros
de ter sido um processo natural e tranquilo como sugerem sofrem muito preconceito – uma das heranças do nosso passa-
algumas imagens oficiais. do colonial. Diante disso, a literatura do período do Romantismo
preocupou se em proporcionar a eles um lugar de destaque e de
Assim, ao mesmo tempo que são fundamentais para a
valorização A chamada terceira geração romântica e os seus autores
composição de nossa sociedade e cultura, contraditoria
de importância, como o aclamado Castro Alves – o Poeta dos escra-
mente os negros são alvo constante de discriminação, ou vos –, abordaram os problemas da escravidão sob uma perspectiva
seja, há um grande contrassenso social. Uma de suas obras representativas de grande repercussão foi
Tal disparidade pode ser explicada pela história da so- Os escravos (1883), da qual se destacou o poema “Navio negreiro”
ciedade brasileira, a qual vive sob heranças de um passado
colonial e escravocrata Em outras palavras, a estrutura social
do Brasil tem bases fincadas na era da colonização, cujos O negro na literatura brasileira
traços foram determinantes para desenhar a realidade que Nos primeiros momentos da literatura brasileira, a figura
molda nosso país até os dias atuais; a economia baseada na do negro foi muito pouco mencionada; afinal, ele era escra-
exportação de gêneros agrícolas e a concentração fundiária vizado, e a ideologia disparatada do colonialismo indicava
constituem exemplos de problemas que o Brasil enfrenta até que o escravizado não deveria ser retratado como um ser
hoje e que são originários da formação colonial humano legítimo
Os negros foram escravizados e trazidos para o Brasil sob Assim, o negro foi conquistando espaço aos poucos
condições desumanas. Os escravizados eram vistos como Posteriormente, ele foi representado por importantes escri-
mercadorias, sendo considerados propriedades de outros tores, como Castro Alves, Luiz Gama, Lima Barreto e Jorge
homens que detinham o poder, marginalizados e deixados Amado, que não buscavam necessariamente dar visibilidade
inteiramente à parte das decisões, com sua voz silenciada às culturas tradicionais africanas, mas sim ao negro brasileiro
No entanto, assim como os indígenas, os negros têm Ainda assim, embora os negros tenham ganhado mais
culturas muito diversas da cultura europeia e detêm ele destaque na literatura, nem sempre os textos eram de-
mentos importantes, essenciais para a formação do quadro senvolvidos sob a perspectiva deles, sendo comum que
brasileiro; porém, foram calados, ignorados ou meramente o discurso estivesse relacionado ao ponto de vista dos
eliminados. Assim, a cultura eurocêntrica se posicionou aci senhores Isso se deve, entre outros aspectos, ao fato de
ma das outras e apagou as em algum grau, engendrando a abolição da escravidão no Brasil não ter resultado em
a ideia de que não existia entre aqueles povos diferentes profundas transformações sociais, limitando-se a interesses
dos europeus material cultural digno de valorização. Essa políticos e econômicos.
2 UFBA 2011
Emergência
Mário Quintana
FRENTE 2
155
3 Enem A à expansão de novas tecnologias de informação,
entre as quais, a internet, o que facilitou imensa-
O açúcar
mente a sua divulgação mundo afora
O branco açúcar que adoçará meu café B ao advento da indústria cultural em associação com
nesta manhã de Ipanema um conjunto de reivindicações estéticas e políticas
não foi produzido por mim durante os anos 1960.
nem surgiu dentro do açucareiro por milagre C à parceria com a Jovem Guarda, também conside-
rada um movimento nacionalista e de crítica política
Vejo-o puro ao regime militar brasileiro
e afável ao paladar D ao crescimento do movimento estudantil nos anos
como beijo de moça, água 1970, do qual os tropicalistas foram aliados na críti-
na pele, flor ca ao tradicionalismo dos costumes da sociedade
que se dissolve na boca. Mas este açúcar
brasileira.
não foi feito por mim
E à identificação estética com a Bossa Nova, pois am-
bos os movimentos tinham raízes na incorporação
Este açúcar veio
de ritmos norte-americanos, como o blues
da mercearia da esquina e tampouco o fez o Oliveira,
[dono da mercearia.
Este açúcar veio 5 UEPG
de uma usina de açúcar em Pernambuco E com vocês a modernidade
ou no Estado do Rio
e tampouco o fez o dono da usina. Meu verso é profundamente romântico.
Choram cavaquinhos luares se desenterram e vai
Este açúcar era cana por aí a longa sombra de rumores e ciganos.
e veio dos canaviais extensos Ai que saudade que tenho dos meus negros verdes anos!
que não nascem por acaso CACASO
no regaço do vale.
Meus oito anos
[...]
Em usinas escuras, Oh! Que saudades que tenho
homens de vida amarga Da aurora da minha vida,
e dura Da minha infância querida
produziram este açúcar Que os anos não trazem mais!
branco e puro ABREU, Casimiro de
com que adoço meu café esta manhã em Ipanema.
GULLAR, Ferreira Toda poesia Rio de Janeiro: Em relação aos poemas de Cacaso e Casimiro de
Civilização Brasileira, 1980. p. 227 8. Abreu, assinale o que for correto.
01 O poema de Cacaso retoma o romantismo mais
A antítese que congura uma imagem da divisão social
especialmente desenvolvido por Casimiro de Abreu;
do trabalho na sociedade brasileira é expressa poetica
a paródia denota um tom meio cruel ao referenciar
mente na oposição entre a doçura do branco açúcar e:
os “negros verdes anos”, ou seja, os anos 70.
A o trabalho do dono da mercearia de onde veio o
02 Os dois poemas pertencem à estética romântica,
açúcar.
cuja característica principal é a busca pela perfeição
B o beijo de moça, a água na pele e a flor que se
formal
dissolve na boca.
04 Os poetas pertencem, respectivamente, aos mo-
C o trabalho do dono do engenho em Pernambuco,
vimentos literários modernista e simbolista
onde se produz o açúcar.
08 A evasão no tempo marca os poemas; em Caca-
D a beleza dos extensos canaviais que nascem no
so como forma de crítica e em Casimiro de Abreu
regaço do vale.
corresponde à nostalgia do passado
E o trabalho dos homens de vida amarga em usinas
escuras Soma:
4 Enem 2a aplicação Eu não tenho hoje em dia muito or- 6 Enem 2015 Tudo era harmonioso, sólido, verdadeiro No
gulho do Tropicalismo. Foi sem dúvida um modo de princípio. As mulheres, principalmente as mortas do álbum,
arrombar a festa, mas arrombar a festa no Brasil é fácil. eram maravilhosas Os homens, mais maravilhosos ainda,
O Brasil é uma pequena sociedade colonial, muito mes- ah, difícil encontrar família mais perfeita. A nossa família,
quinha, muito fraca. dizia a bela voz de contralto da minha avó Na nossa fa-
VELOSO, Caetano. In: HOLLANDA, H. B.; GONÇALVES, M. A. Cultura e mília, frisava, lançando em redor olhares complacentes,
participação nos anos 60 São Paulo: Brasiliense, 1995 (Adapt ) lamentando os que não faziam parte do nosso clã [ ]
O movimento tropicalista, consagrador de diversos Quando Margarida resolveu contar os podres todos que
que sabia naquela noite negra da rebelião, fiquei furiosa [ ]
músicos brasileiros, está relacionado historicamente
156 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 16 Literatura contemporânea
É mentira, é mentira!, gritei tapando os ouvidos Mas B “A única nobreza do plebeu está em não querer
Margarida seguia em frente: tio Maximiliano se casou com esconder a sua condição”.
a inglesa de cachos só por causa do dinheiro, não passava C “Só poderíeis ter encontrado essa senhoria nas ru-
de um pilantra, a loirinha feiosa era riquíssima. Tia Con- gas de minha testa”.
suelo? Ora, tia Consuelo chorava porque sentia falta de D “O território onde eu mando é no país do tempo
homem, ela queria homem e não Deus, ou o convento ou que foi”
o sanatório O dote era tão bom que o convento abriu-lhe E “Não é de muito, eu juro, que acontece essa triste-
as portas com loucura e tudo. “E tem mais uma coisa ain
za; mas também não era a vez primeira”
da, minha queridinha”, anunciou Margarida fazendo um
agrado no meu queixo. Reagi com violência: uma agre- Para responder à questão 8, leia o trecho do conto
gada, uma cria e, ainda por cima, mestiça. Como ousava “Linda, uma história horrível”, de Caio Fernando Abreu.
desmoralizar meus heróis?
(...) – Então quer dizer que o senhor veio me visitar?
TELLES, L F. A estrutura da bolha de sabão. Rio de Janeiro: Rocco, 1999
Muito bem.
Representante da cção contemporânea, a prosa Ele fechou o isqueiro na palma da mão. Quente da
de Lygia Fagundes Telles congura e desconstrói mão manchada dela
modelos sociais. – Vim, mãe. Deu saudade.
No trecho, a percepção do núcleo familiar descortina Riso rouco:
– Saudade? Sabe que a Elzinha não aparece aqui faz
um(a):
mais de mês? Eu podia morrer aqui dentro. Sozinha. Deus
A convivência frágil ligando pessoas financeiramente
me livre. Ela nem ia ficar sabendo, só se fosse pelo jornal.
dependentes
Se desse no jornal. Quem se importa com um caco velho?
B tensa hierarquia familiar equilibrada graças à pre Ele acendeu um cigarro Tossiu forte na primeira tragada:
sença da matriarca. – Também moro só, mãe. Se morresse, ninguém ia
C pacto de atitudes e valores mantidos à custa de ficar sabendo E não ia dar no jornal ( )
ocultações e hipocrisias. – Deixa eu te ver melhor – pediu (ela).
D tradicional conflito de gerações protagonizado Ajeitou os óculos Ele baixou os olhos No silêncio,
pela narradora e seus tios ficou ouvindo o tic-tac do relógio da sala. Uma barata
E velada discriminação racial refletida na procura de miúda riscou o branco dos azulejos atrás dela.
casamentos com europeus. – Tu estás mais magro – ela observou. Parecia preocupada.
– Muito mais magro.
– É o cabelo – ele disse Passou a mão pela cabeça
7 Enem 2012
quase raspada. – E a barba, três dias.
O senhor Perdeu cabelo, meu filho ( )
Levantou os olhos, pela primeira vez olhou direto nos
Carta a uma jovem que, estando em uma roda em olhos dela Ela também olhava direto nos olhos dele Verde
que dava aos presentes o tratamento de você, se dirigiu desmaiado por trás das lentes dos óculos, subitamente
ao autor chamando-o “o senhor”: muito atentos. Ele pensou: é agora, nesta contramão. Qua-
Senhora: se falou. Mas ela piscou primeiro. (...)
Aquele a quem chamastes senhor aqui está, de peito – Mas vai tudo bem? (...) Saúde? Diz que tem umas
magoado e cara triste, para vos dizer que senhor ele não doenças novas aí, vi na tevê Umas pestes
é, de nada, nem de ninguém – Graças a Deus – ele cortou. (...)
Bem o sabeis, por certo, que a única nobreza do plebeu Vou dormir que amanhã cedo tem feira Tem lençol
está em não querer esconder sua condição, e esta nobreza limpo no armário do banheiro.
tenho eu Assim, se entre tantos senhores ricos e nobres Então fez uma coisa que não faria, antigamente
a quem chamáveis você escolhestes a mim para tratar de Segurou-o pelas duas orelhas para beijá-lo não na testa,
senhor, é bem de ver que só poderíeis ter encontrado essa mas nas duas faces. Quase demorada. Aquele cheiro –
senhoria nas rugas de minha testa e na prata de meus ca- cigarro, cebola, cachorro, sabonete, cansaço, velhice.
belos. Senhor de muitos anos, eis aí; o território onde eu Mais qualquer coisa úmida que parecia piedade, fadiga
mando é no país do tempo que foi. Essa palavra “senhor”, no de ver Ou amor Uma espécie de amor ( )
meio de uma frase, ergueu entre nós um muro frio e triste. (Ele) Começou a desabotoar a camisa manchada de
Vi o muro e calei: não é de muito, eu juro, que me suor e uísque Um por um, foi abrindo os botões. Acendeu
acontece essa tristeza; mas também não era a vez primeira. a luz do abajur, para que a sala ficasse mais clara quando,
BRAGA, R. A borboleta amarela. Rio de Janeiro: Record, 1991. sem camisa, começou a acariciar as manchas púrpuras
(...) espalhadas embaixo dos pelos do peito. Na ponta
FRENTE 2
157
8 PUC-RS 2013 Todas as afirmativas estão corretamente Podemos, tio? Não há problema?
associadas ao excerto e seu contexto, exceto: – Problema é deixar este escuro entrar na cabeça da
A Embora a distância que mantêm um do outro, os gente. Não podemos dançar nem rir. Então vamos para
dois personagens conseguem finalmente compar- dentro desses cadernos Lá podemos cantar, divertir
tilhar todos os seus segredos. COUTO, Mia. Terra sonâmbula. Rio de Janeiro:
Record, 1993 p 10 e 152
b Perda de peso, queda de cabelos, manchas rosa
das, caroço no pescoço são indícios de que o filho a) No primeiro excerto, descreve-se a relação da per
está doente. sonagem com o espaço narrativo. Considerando
As comparações com a cadela quase cega e com o o conjunto do romance, caracterize a identidade
tapete gasto reforçam o estado de fragilidade do filho. narrativa de Muidinga em relação a esse espaço e
d A precariedade do espaço narrativo, acentuada explique por que o território era “despido de brilho”.
por elementos sensoriais (cheiros, cores, sons), é
igualmente metáfora da relação entre mãe e filho
E O autor do excerto também escreveu O ovo apu-
nhalado e Morangos mofados, entre outras obras.
Texto 2
Ah, isso é o que eu não digo. Queria saber, hein? Está
bem, saia. Afinal de contas, já o revistei todo. Fora daqui!
E que Santo Antônio lhe cegue os olhos e lhe dê paralisia
nos dois braços e nas duas pernas duma vez.
SUASSUNA, Ariano. O santo e a porca 22 ed Rio de Janeiro:
José Olympio, 2010. p. 106.
Os fragmentos trazem cenas que apresentam ) No segundo excerto, o diálogo das duas perso-
A um tom anticlerical em virtude de as entidades nagens principais do romance aborda a questão
sagradas serem representadas como seres de ca- da leitura e sua função para a situação existencial
ráter vingativo. dos protagonistas Explique o que seriam os “es-
b um tom cômico em decorrência da forma como as critos” e “cadernos” mencionados e por que neles
entidades sagradas são tratadas os protagonistas poderiam “cantar e divertir”.
uma situação irônica, visto que o mal que as perso-
nagens desejam aos outros também as acometerá.
d uma situação humorística, uma vez que as persona-
gens sabiam que seus desejos não seriam atendidos.
[...]
– Sabe, miúdo, o que vamos fazer? Você me vai ler
mais desses escritos.
Mas ler agora, com esse escuro?
– Acendes o fogo lá fora.
– Mas, com a chuva, a lenha toda se molhou
– Então vamos acender o fogo dentro do machimbombo.
Juntamos coisa de arder lá mesmo.
159
O Haiti é aqui 5 Enem 2015
O Haiti não é aqui
(Disponível em http://www.caetanoveloso.com.br/ Aquarela
Acessado em 12/10/2019.)
O corpo no cavalete
y Havaí é uma ilha do Pacífico, um Estado norte-a é um pássaro que agoniza
mericano conhecido pelo turismo e por suas praias exausto do próprio grito.
paradisíacas que atraem surfistas do mundo inteiro. As vísceras vasculhadas
y Haiti é uma ilha do Caribe, atualmente sob inter principiam a contagem
venção da ONU; é o país mais pobre das Américas, regressiva
com mais de 60% da população subnutrida. No assoalho o sangue
se decompõe em matizes
3 Unicamp 2020 que a brisa beija e balança:
o verde – de nossas matas
a) O verso “O Havaí, seja aqui” (texto I), de Caetano
o amarelo – de nosso ouro
Veloso, e o verso “O Haiti é aqui” (texto II), de Cae- o azul – de nosso céu
tano e Gilberto Gil, refletem diferentes posições o branco o negro o negro
em relação aos lugares a que se referem. Expli- CACASO. In: HOLLANDA, H. B (Org.). 26 poetas hoje.
que como o uso do verbo “ser” define cada uma Rio de Janeiro: Aeroplano, 2007
dessas posições.
Situado na vigência do Regime Militar que governou o
b) Explicite as duas visões dos compositores ao dize-
Brasil na década de 1970, o poema de Cacaso edica
rem: “O Haiti é aqui” / “O Haiti não é aqui” (texto II).
uma forma de resistência e protesto a esse período,
metaforizando
4 Enem 2017 A as artes plásticas, deturpadas pela repressão e
censura.
Contranarciso B a natureza brasileira, agonizante como um pássaro
em mim enjaulado.
eu vejo o outro C o nacionalismo romântico, silenciado pela perplexi-
e outro dade com a Ditadura
e outro D o emblema nacional, transfigurado pelas marcas do
enfim dezenas medo e da violência.
trens passando E as riquezas da terra, espoliadas durante o apare-
vagões cheios de gente lhamento do poder armado.
centenas
6 Enem 2012
o outro
que há em mim
Logia e mitologia
é você
você Meu coração
e você de mil e novecentos e setenta e dois
já não palpita fagueiro
assim como sabe que há morcegos de pesadas olheiras
eu estou em você que há cabras malignas que há
eu estou nele cardumes de hienas infiltradas
em nós no vão da unha na alma
e só quando um porco belicoso de radar
estamos em nós e que sangra e ri
estamos em paz e que sangra e ri
mesmo que estejamos a sós a vida anoitece provisória
LEMINSKI, P. Toda poesia. São Paulo: Cia. das Letras, 2013. centuriões sentinelas
do Oiapoque ao Chuí.
A busca pela identidade constitui uma faceta da
CACASO. Lero-lero Rio de Janeiro: 7Letras; São Paulo: Cosac & Naify, 2002
tradição literária, redimensionada pelo olhar contem
porâneo No poema, essa nova dimensão revela a O título do poema explora a expressividade de termos
A ausência de traços identitários que representam o conito do momento histórico vivi-
B angústia com a solidão em público do pelo poeta na década de 1970. Nesse contexto, é
C valorização da descoberta do “eu” autêntico. correto armar que
D percepção da empatia como fator de autoconhe- A o poeta utiliza uma série de metáforas zoológicas
cimento. com significado impreciso.
E impossibilidade de vivenciar experiências de per- B “morcegos”, “cabras” e “hienas” metaforizam as ví-
tencimento. timas do regime militar vigente.
Billy the Kid versus Drácula. car num avião a jato para a China Escalas? Dacar, Paris,
Drácula versus Billy the Kid Praga, Omsk, Irkutsck e finalmente Pequim. Quer dizer,
Muito sentimental. atravessarei quatro continentes: América, África, Europa
Agora pouco sentimental. e Ásia. É continente demais, hein! Melhor tomar antes
Pensa no seu amor de hoje que sempre dura menos um chope duplo ali no bar do Lucas, defronte ao mar de
que o seu Copacabana, ficar ouvindo a voz espumejante das ondas
amor de ontem. e esquecer que passarei horas e horas “naquela coisa”
161
que às vezes a gente ouve cortar o céu tão rapidamente e 13 UFPE 2013 Somente no século XX a produção literá-
com um silvo tão desesperado que quando se olha para ria feminina passou a ser socialmente valorizada no
as nuvens não se vê mais nada Nada Brasil e reconhecida pela nossa história da literatura
oficial. Considerando a participação das mulheres nas
10 PUC-RS 2016 Com base no texto selecionado e na letras nacionais e a leitura do texto a seguir, analise as
obra de Lygia Fagundes Teles, analise as seguintes proposições que se seguem.
afirmativas:
Com licença poética
I A narradora enfrenta a ideia de voar com ex
pectativa, pois, além do país asiático, conhecerá Quando nasci um anjo esbelto,
outras cinco cidades desses que tocam trombeta, anunciou:
II O texto expressa os sentimentos de uma via vai carregar bandeira.
jante momentos antes da partida, enfrentando Cargo muito pesado pra mulher,
o pânico de cruzar o planeta para conhecer um esta espécie ainda envergonhada.
país distante. Aceito os subterfúgios que me cabem,
III O emprego reiterado de aliterações no último pa sem precisar mentir.
PRADO, Adélia
rágrafo sugere a ideia da velocidade que provoca
temor na viajante supersticiosa A Academia Brasileira de Letras teve como primei-
A(s) armativa(s) correta(s) é/são: ra mulher a ocupar um lugar de honra, apenas na
A I, apenas. D II e III, apenas. segunda metade do século XX, a escritora Rachel
B II, apenas. E I, II e III. de Queiroz.
C I e III, apenas. Lygia Fagundes Telles, Clarice Lispector, Adélia Pra-
do, Cecília Meireles, entre outras, são nomes que
As questões 11 e 12 referem-se à obra Bagagem, de se destacam na produção literária nacional, pela
Adélia Prado. qualidade estética de suas obras.
Como se constata na leitura do poema em apre-
11 UFRGS 2020 Leia as seguintes afirmações sobre o ço, Adélia Prado faz opção por uma estética que
poema “Ensinamento” privilegia uma linguagem simples, sem pretensões
acadêmicas, mais próxima do falar cotidiano.
I. O sujeito lírico mostra que o sentimento é revela- O poema em questão expressa a condição da mu-
do pelas ações das pessoas. lher em nossa sociedade e dialoga com o poema
II. A cena recuperada mostra o gesto de amor da de Carlos Drummond de Andrade, como se lê:
mãe para com o pai. “Quando nasci, um anjo torto/ desses que vivem
na sombra/ disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.”.
III O ensinamento do poema é que o amor é mais
importante do que a instrução.
No poema, fica claro que a representação da
mulher em nossa sociedade está associada a po-
Quais estão corretas? tência, dignidade e soberania nas atividades sociais
A Apenas I. D Apenas I e III. e políticas, ao contrário do que acontece com as
B Apenas II. E I, II e III. mulheres em outros contextos mundiais.
C Apenas III.
Texto para a questão 14
12 UFRGS 2020 Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) A mão no ombro
as seguintes afirmações sobre poemas da obra.
Fragmento 1
“Com licença poética” apresenta intertextualidade
E se cheguei até aqui é porque vou morrer. Já?, hor-
com a obra de Carlos Drummond de Andrade.
rorizou-se olhando para os lados mas evitando olhar para
“Sedução” trata do homem amado, prometido para
trás. A vertigem o fez fechar de novo os olhos. Equili-
o casamento.
brou-se tentando se agarrar ao banco, Não quero!, gritou.
“Antes do nome” caracteriza-se como reflexão so-
Agora não, meu Deus, espera um pouco, ainda não estou
bre o fazer poético.
preparado! Calou-se, ouvindo os passos que desciam tran-
“Páscoa” caracteriza a velhice.
quilamente a escada. Mais tênue que a brisa, um sopro
A sequência correta de preenchimento dos parênte- pareceu reavivar a alameda. Agora está nas minhas costas,
ses, de cima para baixo, é ele pensou, e sentiu o braço se estender na direção do seu
A F V F F ombro. Sentiu a mão ir baixando numa crispação de quem
B V V F V (familiar e contudo cerimonioso) dá um sinal, Sou eu. O
C V F V V toque manso. Preciso acordar, ordenou se contraindo in-
D F V V V teiro, isso é apenas um sonho! Preciso acordar!, acordar.
E V F V F Acordar, ficou repetindo e abriu os olhos. (p. 149)
163
Me criei no Pantanal de Corumbá entre bichos do chão, Texto para a questão 18
[aves, pessoas humildes, árvores e rios.
I
Aprecio viver em lugares decadentes por gosto de estar
[entre pedras e lagartos. (...)
Já publiquei 10 livros de poesia: ao publicá-los me sinto O menino tinha no olhar um silêncio de chão
e na sua voz uma candura de Fontes.
[meio desonrado e fujo para o Pantanal onde sou
O Pai achava que a gente queria desver o mundo
[abençoado a garças.
para encontrar nas palavras novas coisas de ver
Me procurei a vida inteira e não me achei pelo que assim: eu via a manhã pousada sobre as margens do
[fui salvo. rio do mesmo modo que uma garça aberta na solidão
Não estou na sarjeta porque herdei uma fazenda de gado. de uma pedra.
Os bois me recriam. ( )
Agora eu sou tão ocaso! BARROS, Manoel de. Menino do mato. Rio de Janeiro:
Editora Objetiva, 2015. p.13
Estou na categoria de sofrer do moral porque só faço
coisas inúteis.
No meu morrer tem uma dor de árvore 18 UFU 2016 Em Menino do mato, um eu lírico menino
BARROS, Manoel de. O livro das ignorãças. 4. ed.
tem o desejo de apreender, sem se preocupar com
Rio de Janeiro: Record, 1997 p 103 explicações, as coisas do mundo, criar novidades
por meio das palavras e de sua inocência pueril.
I Os versos de “Auto retrato falado” apontam para Essa mesma ideia perpassa o fragmento:
uma identificação profunda entre o eu lírico e a
A “Paulo tinha fama de mentiroso. Um dia chegou em
natureza.
casa dizendo que vira no campo dois dragões da
II. Nos versos apresentados, observa-se a reelabo- independência cuspindo fogo e lendo fotonovelas.
ração do espaço regional como um espaço de [...] Quando o menino voltou falando que todas as
memória afetiva borboletas da Terra passaram pela chácara de Siá
III. Pode-se dizer que a voz que se manifesta em Elpídia e queriam formar um tapete voador para
“Auto-retrato falado” é de um sujeito que faz uma transportá-lo ao sétimo céu, a mãe decidiu levá-lo
espécie de balanço do que viveu. ao médico. Após o exame, o Dr. Epaminondas aba-
nou a cabeça: Não há nada a fazer, Dona Coló Este
Assinale a alternativa correta. menino é mesmo um caso de poesia. ANDRADE,
A Somente as afirmativas I e II estão corretas. Carlos Drummond de. Contos plausíveis. Rio de Ja-
B Somente as afirmativas II e III estão corretas neiro: José Olympio, 1985 p 24.
C Somente as afirmativas I e III estão corretas. B “Vai embora gato/ De cima do telhado/ Senão o papai-
zinho/ Te faz desintegrado/ Dorme, filhinho, / Que esta
D Nenhuma afirmativa está correta.
vida é cômica, / Estrôncio 90/ Mentalidade atômica/ So-
E Todas as afirmativas estão corretas.
nha querido/ Enquanto sobe o jato/ Vamos pairando/
Com nosso pé-de-pato/ Bicho-papão, bicho-papão, /
17 UFSM 2014 Os versos destacados a seguir fazem Me multa esse Poláris/ Que parou na contramão/ Boi-
parte de “Uma didática da invenção” (1993), poema boi-boi, / boi da cara preta/ Liquida o homem verde/
de Manoel de Barros. Que caiu doutro planeta. ” FERNANDES, Millôr. Papá-
verum Millôr. Rio de Janeiro: Nórdica, 1974. p. 142.
No tratado das grandezas do ínfimo estava escrito: C “[...] Em meus tempos de criança, era aquela en-
Poesia é quando a tarde está competente para dálias. cantação Lia-se continuamente e avidamente um
É quando mundaréu de histórias (e não estórias) principalmen-
Ao lado de um pardal o dia dorme antes te as do Tico-Tico. Mas lia-se corrido, isto é, frase
[...] após frase, do princípio ao fim. Ora, as crianças de
Poesia é voar fora da asa. hoje não se acostumam a ler correntemente, por-
que apenas olham as figuras dessas histórias em
A partir do último verso, pode se concluir que a poesia quadrinhos, cujo ‘texto’ se limita a simples frases in-
A aliena o leitor, ensina-o a fugir do real. terjetivas e assim mesmo muita vez incorretas No
B está relacionada à grandiosidade, ao inatingível, o que fundo, uma fraseologia de guinchos e uivos, uma
revela a impossibilidade de o leitor compreendê-la. subliteratura de homem das cavernas. ” QUINTANA,
C fornece ao leitor lições de resistência, ideia refor Mário 80 anos de poesia São Paulo: Globo, 2002
çada pela imagem do pardal. D “Em meio a um cristal de ecos/ O poeta vai pela rua/
Seus olhos verdes de éter/ Abrem cavernas na lua. /
D revela ao leitor a grandiosidade, uma dimensão
A lua volta de flanco/ Eriçada de luxúria/ O poeta, alou-
que transborda o cotidiano. cado e branco/ Palpa as nádegas da lua. / [ ]/ O poeta
E está ligada ao sentimento de impotência, se for todo se lava/ De palidez e doçura. / Ardente e deses-
considerada a impossibilidade de a palavra poética perada/ A lua vira em decúbito.” MORAES, Vinicius.
direcionar o leitor para além do cotidiano. Antologia poética. Rio de Janeiro: José Olympio, 1975.
50 não sabe aonde ir, nem o que fazer Façamos uma política de milênios de sonho para se obter esse desenho delicado
de imigração sábia, perfeita, materialista; mas deixemos e firme. Depois os ombros são subitamente fortes, para
uma pequena margem aos inúteis e aos vagabundos, às suster os braços longos; mas os seios são pequenos, e o
aventureiras e aos tontos porque dentro de algum deles, corpo esgalgo foge para a cintura breve; logo as ancas
como sorte grande da fantástica loteria humana, pode vir a readquirem o direito de ser graves, e as coxas são lon-
55 nossa redenção e a nossa glória. gas, as pernas desse escorço de corça, os tornozelos de
BRAGA, Rubem. “Imigração”. In: A borboleta amarela. raça, os pés repetindo em outro ritmo a exata melodia
Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1963. das mãos.
165
Ela e o mar entardeciam, mas, a um leve movimento A aborda, ironicamente, a transitoriedade das coisas.
que fez, seus olhos tomaram o brilho doce da adolescên- b trata, metaforicamente, do envelhecimento da mulher.
cia, sua voz era um pouco rouca Não teve filhos Talvez c remete, liricamente, ao passado romântico das mu-
pense na filha que não teve... A forma do vaso sagrado não lheres.
se repetirá nestas gerações turbulentas e talvez desapareça d recorre, hiperbolicamente, ao poder do tempo so-
bre as pessoas.
para sempre no crepúsculo que avança. Que fizemos desse
sonho de deusa? De tudo o que lhe fizemos só lhe ficou o
24 UCS 2014 Assinale a alternativa correta a respeito de
olhar triste, como diria o pobre Antônio, poeta português.
Ai de ti, Copacabana, de Rubem Braga
O desejo de alguns a seguiu e a possuiu; outros ainda se
erguerão como torvas chamas rubras, e virão crestá-la, A As crônicas versam tanto sobre lembranças de in-
eis ali um homem que avança na eterna marcha banal. fância do escritor quanto sobre suas vivências em
grandes cidades, como Paris e Nova Iorque.
b Os temas das crônicas estão organizados de
Contemplo-a... Não, Deus não tem facilidade para
maneira cronológica, de modo que há uma con-
desenhar Ele faz e refaz sem cessar Suas figuras, porque tinuidade nos textos que acompanha a linearidade
o erro e a desídia dos homens entorpecem Sua mão: de da vida do escritor.
geração em geração, que longa paciência Ele não teve c Os textos de Ai de ti, Copacabana possuem um
para juntar a essa linha do queixo essa orelha breve, para tom humorístico que se revela inclusive na crônica
firmar bem a polpa da panturrilha Sim, foi a própria mão que dá título ao livro
divina em um momento difícil e feliz. Depois Ele disse: d O cronista Rubem Braga é essencialmente ligado
anda E ela começou a andar entre os humanos Agora à cidade do Rio de Janeiro; por isso, é lá que ele
está aqui entardecendo; a brisa em seus cabelos pensa
escreve todos os seus textos
E O livro Ai de ti, Copacabana de Rubem Braga inau-
melancolias. As unhas são rubras; os cabelos também ela
gura o gênero crônica no Brasil.
os pintou; é uma mulher de nosso tempo; mas neste mo-
mento, perto do mar, é menos uma pessoa que um sonho Para responder à questão 25, leia o texto a seguir.
de onda, fantasia de luz entre nuvens, avideusa trêmula, De ficção e realidade: diálogo possível
evanescente e eterna.
– Literatura é fuga do real, cara! Veja o Brasil que te-
mos: propina, tráfico de influência, delações, politicalha,
Mas para que despetalar palavras tolas sobre sua ca- trapaças...
beça? Na verdade não há o que dizer; apenas olhar, olhar Quem disse que a Literatura não tem os pés fincados
como quem reza, e depois, antes que a noite desça de na realidade? Para o momento brasileiro, valem os versos:
uma vez, partir “Começa o mundo enfim pela ignorância,/ e tem qualquer
dos bens por natureza”.
(Rubem Braga. A traição das elegantes. R.J.: Editora Sabiá, 1967, pp. 61-63.)
Que bens? A rifa das licitações? O propinoduto?
– É isso mesmo, cara! Diferente do fantasma român-
22 FCMMG 2018 A crônica de Rubem Braga, ao abordar tico, parece que o dinheiro virou uma “febre que nunca
o corpo feminino, demonstra: descansa,/ O delírio que te há de matar!...”.
O que nós temos é uma safra de corruptos e cor-
A atitude compassiva em relação às diferentes fases rompidos.
da vida. – Verdade! Sujeito assim safado mereceria “ser das
b visão crítica no confronto entre privilégios masculi gentes o espectro execrado”. O tal “Ouro branco! Ouro
nos e femininos. preto! Ouro podre” corrompeu muito político “De cada
ribeirão trepidante e de cada recosto/ de montanha, o
c perspectiva lírica na contemplação de um ser ex
metal rolou na cascalhada/ Para o fausto d’El-Rei”. Que
posto à ação do tempo. vergonha!
d viés sociológico mesclado ao lirismo na fixação de É! Mas, certamente, esse não é o “Ouro nativo que
um episódio do cotidiano. na ganga impura/ A bruta mina entre os cascalhos vela ”
– Sei lá! O que mais nos reserva a Lava-Jato?
– Veja só, cara! Ouvindo os noticiários, tenho a im-
23 FCMMG 2018 O cronista faz alusão ao poeta portu-
pressão que o assalto do vampiro tem mais equidade:
guês António Nobre (1867-1900), que escreveu os “ Cê vem com a gente É uma loja Nós roubamos e
seguintes versos: dividimos o dinheiro. Em partes iguais”.
– Então, ainda há o que cantar neste país?
“Ó grandes olhos outonais! Místicas luzes!
– Claro! Vai o legado das Olimpíadas e das Para-
Mais tristes do que o amor, solenes como as cruzes!”
limpíadas: “Entre o laboratório de erros/ e o labirinto de
O adjetivo “outonais” corresponde, na crônica, ao ter- surpresas,/ canta o conhecimento do limite,/ a madura
mo “crepúsculo” porque experiência a brotar da rota esperança”.
167
30 UFRGS 2015 No bloco superior a seguir, estão listados
os títulos de alguns contos de Murilo Rubião; no in-
ferior, aspectos e/ou temas relacionados aos contos.
Associe adequadamente o bloco inferior ao superior.
1. “O ex-mágico da Taberna Minhota”
2. “Bárbara”
3. “A cidade”
4. “A flor de vidro”
5. “O lodo”
J O conto está disposto de trás para a frente, apre
Trevisan, Dalton 111 ais Ilustração de Ivan Pinheiro Machado. sentando a história de Eronides e Marialice.
Porto Alegre: L&PM, 2001. p. 39. J O conto narra a viagem de Cariba, único passagei-
ro de um trem que para na penúltima estação do
27 UFJF/Pism 3 2016 Os textos I e II, ainda que muito dis- destino final.
tantes entre si do ponto de vista cronológico, tratam J Um suicida narra sua trajetória de fracassos, até
basicamente do mesmo tema, evidenciando alguns tornar-se funcionário público.
dos aspectos atemporais da existência humana. En- J O conto narra a relação de Galateu com seu médico,
quanto em Camões (texto I) a Senhora é apreciada doutor Pink da Silva, apresentado, ambiguamente,
em cada detalhe de sua composição, formando um como assustador e cômico.
todo perfeito e divino, Seu João de Dalton Trevisan
(texto II): A sequência correta de preenchimento dos parênte-
A resigna-se em apreciar sua Senhora apenas de ses, de cima para baixo, é
longe A 4 3 1 5
b idealiza platonicamente a imagem da mulher amada b 2 4 5 3
c foge ao julgamento da beleza exterior de nhá Biela c 4–3–2–5
d lamenta a cegueira que o impede de ver sua musa. d 5 2 3 1
E contenta-se com a indistinção da figura de nhá Biela. E 3–5–1–2
28 UFJF/Pism 3 2016 As referências à Senhora de Camões 31 UFG 2013 Leia o trecho apresentado a seguir.
(texto I) e à nhá Biela de Dalton Trevisan (texto II) têm A impassibilidade com que o grupo vencido recebeu
em comum: a derrota desconcertou o velho: estavam tramando alguma
A as antíteses reiteradas. coisa. Mas não o pegariam desprevenido. Conhecia de perto
b a comparação aos deuses. a astúcia dos que viviam do outro lado da montanha. […]
c a metáfora celeste. Após um mês de ausência, para desapontamento ge-
d a aliteração sibilante. ral, Roque Diadema regressou. Fazia-se acompanhar de
E a hipérbole da beleza. numerosa comitiva, onde predominavam os mecânicos
[…].
29 UFRGS 2016 Leia as seguintes afirmações sobre os […] Enquanto isso, na aldeia, o clima era de mal-estar
contos de Murilo Rubião e desconfiança. […] Pressentiam que chegara a hora de
I O conto “O edifício” é narrado em primeira pes se livrarem dos forasteiros. […]
soa pelo próprio engenheiro, João Gaspar, que é Não encontraram resistência [ ] Contudo, exigiram
contratado para a construção de um arranha-céu a imediata demolição das construções
II. O conto “O convidado”, narrado em terceira pes O ultimato não perturbou Roque Diadema Buscou a
soa, conta a história de José Alferes, que, embora pasta e dela retirou diversas escrituras
tenha recebido um convite estranho para uma Aproveitei minha viagem para adquirir os terrenos
festa à fantasia, decide ir mesmo assim. Sou hoje proprietário de dois terços da área urbana do
III. O conto “O homem do boné cinzento” é nar- povoado.
rado em primeira pessoa por Roderico, que RUBIÃO, Murilo. “A diáspora”. Obra completa. São Paulo:
responsabiliza o homem do boné cinzento pela Companhia das Letras, 2010. p. 146-8.
intranquilidade que se estabelece desde que se A relação entre o enredo do conto “A diáspora”, de Mu-
mudou para a vizinhança. rilo Rubião, e o processo brasileiro de modernização,
Qual(is) está(ão) correta(s)? impulsionado a partir do século XIX, se expressa na
A Apenas I. A localização geográfica do povoado, que determina
b Apenas II. um processo de urbanização calcado na segregação
c Apenas III. b questão da especulação imobiliária, que é visível
d Apenas II e III. na organização social do povoado antes da chega-
E I, II e III. da de Diadema e seu grupo de construtores.
VEIGA, José J “Fronteira” In: Melhores contos J J Veiga Seleção de J muitos lugares Ele tinha um jeito de quem também tinha
Aderaldo Castello. 4. ed. São Paulo: Global, 2000. p. 37.
andado por muitos lugares. Num desses lugares, quem
No conto “Fronteira”, há a inversão dos papéis sabe. Aqui, ali. Mas não lembraríamos antes de falar, talvez
comumente atribuídos ao adulto e à criança. Nessa in- também nem depois Só que não havia palavras Havia
versão, a imagem da criança é construída por meio da o movimento, a dança, o suor, os corpos meu e dele se
A metáfora de um saber excepcional, manifesto no po- aproximando mornos, sem querer mais nada além daquele
der de ajudar os adultos a realizar suas travessias. chegar cada vez mais perto
169
Na minha frente, ficamos nos olhando Eu também C modismo
dançava agora, acompanhando o movimento dele. Assim: D preconceito.
quadris, coxas, pés, onda que desce, olhar para baixo, E conformismo.
voltando pela cintura até os ombros, onda que sobe, então
sacudir os cabelos molhados, levantar a cabeça e encarar Leia o texto a seguir para responder à questão 37.
sorrindo Ele encostou o peito suado no meu Tínhamos
Beijo sem
pelos, os dois. Os pelos molhados se misturavam. Ele es-
tendeu a mão aberta, passou no meu rosto, falou qualquer Eu não sou mais quem
coisa. O que, perguntei. Você é gostoso, ele disse. [...] Você deixou, amor
Entreaberta, a boca dele veio se aproximando da mi- Vou à Lapa
nha Parecia um figo maduro quando a gente faz com a Decotada
ponta da faca uma cruz na extremidade mais redonda e Viro todas
rasga devagar a polpa, revelando o interior rosado cheio de Beijo bem
grãos. Você sabia, eu falei, que o figo não é uma fruta, mas Madrugada
uma flor que abre para dentro. O que, ele gritou. O figo, Sou da lira
repeti, o figo é uma flor Mas não tinha importância [ ] Manhãzinha
Veados, a gente ainda ouviu, recebendo na cara o De ninguém
vento frio do mar A música era só um tumtumtum de pés Noite alta é meu dia
e tambores batendo. Eu olhei para cima e mostrei olha lá E a orgia é meu bem
as Plêiades, só o que eu sabia ver, que nem raquete de
tênis suspensa no céu. Você vai pegar um resfriado, ele Eu não sou mais quem
falou com a mão no meu ombro. Foi então que percebi Você deixou de ver
que não usávamos máscara Lembrei que tinha lido em Vou à Lapa
algum lugar que a dor é a única emoção que não usa Perfumada
máscara. Não sentíamos dor, mas aquela emoção daquela Viro outras
hora ali sobre nós, e eu nem sei se era alegria, também não Beijo sem
usava máscara. Então pensei devagar que era proibido ou Madrugada
perigoso não usar máscara, ainda mais no Carnaval [ ] Sou da lira
Mas vieram vindo, então, e eram muitos. Foge, gritei, Manhãzinha
estendendo o braço. Minha mão agarrou um espaço vazio De ninguém
O pontapé nas costas fez com que me levantasse. Ele ficou Noite alta é meu dia
no chão. Estavam todos em volta. Ai-ai, gritavam, olha as E a orgia é meu bem
loucas Olhando para baixo, vi os olhos dele muito abertos [ ]
e sem nenhuma culpa entre as outras caras dos homens. CALCANHOTO, Adriana “Beijo sem” In: O micróbio do samba
Sony Music, 2011.
A boca molhada afundando no meio duma massa escura,
o brilho de um dente caído na areia. Quis tomá-lo pela
mão, protegê-lo com meu corpo, mas sem querer estava 37 UFJF/Pism 1 2016 No poema de Adriana Calcanhoto, a
sozinho e nu correndo pela areia molhada, os outros todos personagem em primeira pessoa se compraz em re-
em volta, muito próximos. lações
Fechando os olhos então, como um filme contra as A permanentes.
pálpebras, eu conseguia ver três imagens se sobrepondo. B modelares.
Primeiro o corpo suado dele, sambando, vindo em minha C míticas.
direção. Depois as Plêiades, feito uma raquete de tênis D inventadas.
suspensa no céu lá em cima. E finalmente a queda lenta E fortuitas.
de um figo muito maduro, até esborrachar-se contra o chão
em mil pedaços sangrentos. 38 UFSC 2016 Mas chovia ainda, 1meus olhos 2ardiam de
ABREU, Caio Fernando. Morangos mofados 12 ed Rio de Janeiro: frio, o nariz começava a 3escorrer, eu limpava com as
Nova Fronteira, 2015. p. 73 8.
costas das mãos e o líquido do nariz 4endurecia logo
sobre os pelos, 5eu enfiava as mãos 6avermelhadas no
35 UFJF/Pism 1 2016 No conto de Caio Fernando Abreu, fundo dos bolsos e ia indo, eu ia indo e pulando as poças
as personagens centrais são d’água com as pernas 7geladas. Tão geladas as pernas e
os braços que pensei em abrir a garrafa para beber um
A aplaudidas. D ovacionadas.
gole, 8não queria que ele pensasse que eu andava be-
B consagradas. E manipuladas.
bendo, e eu andava, todo dia um bom pretexto, e fui
C agredidas.
pensando também que ele ia pensar que eu andava sem
dinheiro, chegando a pé naquela chuva toda, e eu anda
36 UFJF/Pism 1 2016 O desfecho do conto de Caio Fer va, estômago dolorido de fome, e eu não queria que ele
nando Abreu apresenta uma ação, por parte da pensasse que eu andava 9insone, e eu andava, 10roxas
maioria das personagens, que se caracteriza por olheiras, teria que cuidar com o lábio inferior ao sorrir,
A compreensão. se sorrisse, e quase certamente sim, quando o encontras-
B indiferença. se, para que não visse o dente quebrado e pensasse que
02 Algumas características da primeira fase do Mo bem. Não era preciso barulho não. Se havia dito pala-
dernismo brasileiro também estão presentes em vra à toa, pedia desculpa. Era bruto, não fora ensinado.
O rei da vela. Com uma linguagem cênica seca e Atrevimento não tinha, conhecia o seu lugar. Um cabra.
incisiva, Oswald de Andrade continua o processo Ia lá puxar questão com gente rica? Bruto, sim senhor,
iniciado em 1922 e inova a dramaturgia brasilei- mas sabia respeitar os homens. Devia ser ignorância da
ra. Faz uso de técnicas vanguardistas e denuncia mulher, provavelmente devia ser ignorância da mulher
principalmente: os problemas enfrentados pelos Até estranhara as contas dela. Enfim, como não sabia ler
171
(um bruto, sim senhor), acreditara na sua velha Mas pedia Higienópolis ações, automóveis Duas filhas viciadas,
desculpa e jurava não cair noutra. dois filhos tarados... Ficou morando na nossa casinha da
O amo abrandou, e Fabiano saiu de costas, o chapéu Penha e indo à missa pedir a Deus a solução que os go-
varrendo o tijolo Na porta, virando-se, enganchou as ro vernos não deram...
setas das esporas, afastou-se tropeçando, os sapatões de Abelardo I Que não deram aos que não podem viver
couro cru batendo no chão como cascos. sem empréstimos.
Foi até a esquina, parou, tomou fôlego. Não deviam Heloísa – Meus pais... meus tios... meus primos...
tratá-lo assim. Dirigiu-se ao quadro lentamente. Diante da Abelardo I Os velhos senhores da terra que tinham
bodega de seu Inácio virou o rosto e fez uma curva larga que dar lugar aos novos senhores da terra!
Depois que acontecera aquela miséria, temia passar ali. Heloísa – No entanto, todos dizem que acabou a épo-
Sentou-se numa calçada, tirou do bolso o dinheiro, exa- ca dos senhores e dos latifúndios...
minou-o, procurando adivinhar quanto lhe tinham furtado Abelardo I Você sabe que o meu caso prova o con-
Não podia dizer em voz alta que aquilo era um furto, mas trário. Ainda não tenho o número de fazendas que seu pai
era. Tomavam-lhe o gado quase de graça e ainda inventa- tinha, mas já possuo uma área cultivada maior que a que
vam juro. Que juro! O que havia era safadeza. ele teve no apogeu.
— Ladroeira. Heloísa Há dez anos A saca de café a duzentos
Nem lhe permitiam queixas Porque reclamara, achara mil-réis!
a coisa uma exorbitância, o branco se levantara furioso, Abelardo I – Estamos de fato num ponto crítico em
com quatro pedras na mão. Para que tanto espalhafato? que podem predominar, aparentemente e em número, as
Hum! hum! pequenas lavouras. Mas nunca como potência financeira.
RAMOS, Graciliano. Vidas secas. Rio de Janeiro: Record, 1986. p. 92 4. Dentro do capitalismo, a pequena propriedade seguirá
o destino da ação isolada nas sociedades anônimas. O
Texto 2 possuidor de uma é um mito econômico. Senhora minha
Heloísa – Dizem tanta coisa de você, Abelardo... noiva, a concentração do capital é um fenômeno que eu
Abelardo I – Já sei... Os degraus do crime... que desci apalpo com as minhas mãos. Sob a lei da concorrência,
corajosamente. Sob o silêncio comprado dos jornais e os fortes comerão sempre os fracos. Desse modo é que
a cegueira da justiça de minha classe! Os espectros do desde já os latifúndios paulistas se reconstituem sob novos
passado... Os homens que traí e assassinei. As mulheres proprietários.
que deixei. Os suicidados... O contrabando e a pilhagem... ANDRADE, Oswald de O rei da vela. São Paulo:
Todo o arsenal do teatro moralista dos nossos avós. Nada Abril, 1976. p. 46-9.
disso me impressiona nem impressiona mais o público...
A chave milagrosa da fortuna, uma chave Yale... Jogo com
a) Compare a visão que as personagens Fabiano e
ela! Abelardo I têm em relação ao seu lugar na socie-
Heloísa – O pânico... dade, e retire dos textos 1 e 2 uma passagem que
Abelardo I Por que não? O pânico do café Com comprove a sua resposta.
dinheiro inglês comprei café na porta das fazendas de- b) Indique o gênero literário predominante no texto
sesperadas. De posse de segredos governamentais, joguei 2, justificando com aspectos que o caracterizam.
duro e certo no café-papel! Amontoei ruínas de um lado e
ouro do outro! Mas, há o trabalho construtivo, a indústria... 41 Unicamp 2018
Calculei ante a regressão parcial que a crise provocou...
Descobri e incentivei a regressão, a volta à vela sob o ODORICO
signo do capital americano.
Heloísa – Ficaste o Rei da Vela! Eu sei É um movimento subversivo procurando me
Abelardo I – Com muita honra! O Rei da Vela mise- intrigar com a opinião pública e criar problemas à minha
rável dos agonizantes. O Rei da Vela de sebo. E da vela administração. Sei, sim. É uma conspiração. Eles não que-
feudal que nos fez adormecer em criança pensando nas riam o cemitério. Desde o princípio foram contra. E agora
histórias das negras velhas... Da vela pequeno-burguesa que o cemitério está pronto caem de pau em cima de mim,
dos oratórios e das escritas em casa... As empresas elétri- me chamam de demagogo, de tudo.
cas fecharam com a crise Ninguém mais pode pagar o [...]
preço da luz... A vela voltou ao mercado pela minha mão ODORICO
previdente. Veja como eu produzo de todos os tamanhos Pois eu quero que depois o senhor soletre esta gazeta
e cores. (Indica o mostruário). Para o Mês de Maria das de ponta a ponta. Neco Pedreira o senhor conhece?
cidades caipiras, para os armazéns do interior onde se ZECA
vende e se joga à noite, para a hora de estudo das crianças, Conheço não sinhô
para os contrabandistas no mar, mas a grande vela é a vela ODORICO
da agonia, aquela pequena velinha de sebo que espalhei É o dono do jornal. Elemento perigoso. Sua primeira
pelo Brasil inteiro Num país medieval como o nosso, missão como delegado é dar uma batida na redação dessa
quem se atreve a passar os umbrais da eternidade sem uma gazeta subversiva e sacudir a marreta em nome da lei e
vela na mão? Herdo um tostão de cada morto nacional! da democracia...
Heloísa (Sonhando) – Meu pai era o Coronel Belar- GOMES, Dias O bem amado. 12 ed. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2014. p. 40; 68.
mino que tinha sete fazendas, aquela casa suntuosa de
173
MANUEL Sim, é Manuel, o Leão de Judá, o Filho de gorda”, e tais comparações gastronômicas davam jus
Davi. Levantem-se todos pois vão ser julgados. ta ideia de certo encanto sensual e caseiro de dona
JOÃO GRILO – Apesar de ser um sertanejo pobre e Flor a esconder-se sob uma natureza tranquila e dócil
amarelo, sinto que estou diante de uma grande figura. Não Vadinho conhecia lhe as fraquezas e as expunha ao
quero faltar com o respeito a uma pessoa tão importante, sol, aquela ânsia controlada de tímida, aquele recatado
mas, se não me engano, aquele sujeito acaba de chamar desejo fazendo-se violência e mesmo incontinência ao
o senhor de Manuel. libertar-se na cama
MANUEL Foi isso mesmo, João. Esse é um dos meus AMADO, Jorge. Dona Flor e seus dois maridos.
nomes, mas você pode me chamar também de Jesus, de São Paulo: Martins, 1966.
Senhor, de Deus Ele gosta de me chamar de Manuel
ou Emanuel, porque assim quer se persuadir de que sou Texto II
somente homem Mas você, se quiser, pode me chamar As suas mãos trabalham na braguilha das calças do
de Jesus. falecido Dulcineusa me confessou mais tarde: era assim
JOÃO GRILO – Jesus? que o marido gostava de começar as intimidades Um
MANUEL – Sim. fazer de conta que era outra coisa, a exemplo do gato que
JOÃO GRILO – Mas espere, o senhor é que é Jesus? distrai o olhar enquanto segura a presa nas patas Esse o
MANUEL Sou acordo silencioso que tinham: ele chegava em casa e se
JOÃO GRILO – Aquele a quem chamavam Cristo? queixava que tinha um botão a cair Calada, Dulcineusa
JESUS A quem chamavam, não, que era Cristo Sou, se armava dos apetrechos da costura e se posicionava a
por quê? jeito dos prazeres e dos afazeres.
JOÃO GRILO – Porque... não é lhe faltando com o COUTO, Mia. Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra.
respeito não, mas eu pensava que o senhor era muito me- São Paulo: Cia. das Letras, 2002.
nos queimado. [...] A cor pode não ser das melhores, mas
o senhor fala bem que faz gosto. [...] Tema recorrente na obra de Jorge Amado, a gura
MANUEL – Muito obrigado, João, mas agora é sua feminina aparece, no fragmento, retratada de forma se-
vez Você é cheio de preconceito de raça Vim hoje assim melhante à que se vê no texto do moçambicano Mia
de propósito, porque sabia que ia despertar comentários. Couto. Nesses dois textos, com relação ao universo
Que vergonha! Eu, Jesus, nasci branco e quis nascer ju feminino em seu contexto doméstico, observa-se que
deu, como podia ter nascido preto. Para mim tanto faz um A o desejo sexual é entendido como uma fraqueza
branco ou um preto. Você pensa que sou americano para moral, incompatível com a mulher casada.
ter preconceito de raça? B a mulher tem um comportamento marcado por con-
venções de papéis sexuais.
45 PUC-RS 2015 Com base no diálogo e na obra literária C à mulher cabe o poder da sedução, expresso pelos
de Ariano Suassuna, analise as armativas. gestos, olhares e silêncios que ensaia.
I. João Grilo mostra-se desrespeitoso diante de um D a mulher incorpora o sentimento de culpa e age
Jesus negro, que não corresponde às suas ex- com apatia, como no mito bíblico da serpente.
pectativas. E a dissimulação e a malícia fazem parte do repertó-
II Na sua fala, Manuel demonstra que o valor das rio feminino nos espaços público e íntimo.
pessoas independe da cor da pele
III O companheiro inseparável de João Grilo, Chi Leia o trecho extraído do romance Terra Sonâmbula,
có, é um contador de estórias que se caracteriza de Mia Couto, e responda à questão 47.
como uma espécie de mentiroso ingênuo.
De imediato, centenas de pessoas se lançaram em
IV. A obra dramática de Ariano Suassuna mostra-se
todo tipo de embarcações, das pequenas às mais míni
alinhada a uma tradição literária ibérica que apre-
mas, para assaltarem o navio malfragado, a fim de se
senta obras fundacionais, como o Auto da barca
servirem das ditas xicalamidades. [...] Desde então, a
do Inferno, de Gil Vicente.
situação só piorou pois, consoante o secretário do ad-
Estão corretas as armativas ministrador, a população não se comporta civilmente na
A I e II, apenas presença da fome. Muita gente insistia agora em voltar
B III e IV, apenas. ao tal navio pois lá sobrava comida que daria para sal-
C I, II e III, apenas. var filhos, mães e uma africanidade de parentes. [...]
D II, III e IV, apenas. Assame foi preso, sujado por mil bocas. Na prisão lhe
E I, II, III e IV. bateram, chambocado nas costas até que as pernas se
exilaram daquele sofrimento que lhe era infligido. Perdeu
46 Enem PPL 2015 o sentimento da cintura para baixo. Assane passou as
palmas das mãos pelas desempregadas coxas. Tinha sido
Texto I apenas há dias que lhe abriram a porta da prisão. Ainda
Quem sabe, devido às atividades culinárias da es- nem sabia bem se arrastar de mão pelo chão. Por isso as
posa, nesses idílios Vadinho dizia lhe “Meu manuê de sacudia, limpando essas mãos que ele sempre aplicara
milho verde, meu acarajé cheiroso, minha franguinha nos documentos.
num outro mundo inexplicável. 11Os mais velhos faziam serei um falhado camo tu.
a ponte entre esses dois mundos. [...] Pepetela, Mayombe Adaptado.
COUTO, Mia Terra sonâmbula São Paulo: Cia das Letras, 2007
Texto II
48 Uerj 2014 A escrita literária de Mia Couto explora — Peço-te perdão, Sem Medo. Não te compreendi,
diversas camadas da linguagem: vocabulário, constru- fui um imbecil E quis igualar o inigualável
ções sintáticas, sonoridade. Pepetela, Mayombe.
175
52 Fuvest 2021 Esses excertos de Mayombe referem-se ) As “makas” e os “rancores” dos angolanos repercu-
a conversas entre as personagens Comissário e Sem tem no modo como o romance é narrado? Explique
Medo em momentos distintos do romance. Em I e II, as
falas do Comissário revelam, respectivamente, 54 Fuvest 2017 Leia o excerto de Mayombe, de Pepetela,
A incompatibilidade étnica entre ele e Sem Medo, por no qual as personagens “dirigente” e Comandante
pertencerem a linhagens diferentes, e superação Sem Medo discutem o comportamento do combatente
de sua hostilidade tribal. chamado Mundo Novo. As indicações [d] e [C] identi-
cam, respectivamente, as falas iniciais do “dirigente” e
b decepção, por Sem Medo não ter intercedido a seu
do Comandante Sem Medo, que se alternam, no diálogo
favor na conversa com Ondina, e desespero diante
do companheiro baleado. [d] (...) A propósito do Mundo Novo: a que chamas
c suspeita de traição de Ondina e tomada de cons tu ser dogmático?
ciência de que isso não passara de uma crise de [C] Ser dogmático? Sabes tão bem como eu.
ciúme dele. Depende, as palavras são relativas. Sem Medo sorriu.
d forte tensão homoafetiva entre ele e Sem Medo, e Tens razão, as palavras são relativas. Ele é demasiado
aceitação da verdadeira orientação sexual do com- rígido na sua conceção da disciplina, não vê as condições
panheiro. existentes, quer aplicar o esquema tal qual o aprendeu.
E ira, diante do anticatolicismo de Sem Medo, e culpa A isso eu chamo dogmático, penso que é a verdadeira
aceção da palavra. A sua verdade é absoluta e toda feita,
que o atinge ao perceber que sua demonstração
recusa-se a pô-la em dúvida, mesmo que fosse para a
de coragem colocara o companheiro em risco.
discutir e a reforçar em seguida, com os dados da prática.
Como os católicos que recusam pôr em dúvida a existência
53 Fuvest 2018 Leia o texto e responda ao que se pede. de Deus, porque isso poderia perturbá-los.
É por isso que faço confiança nos angolanos São E tu, Sem Medo? As tuas ideias não são absolutas?
uns confusionistas, mas todos esquecem as makas e os Todo o homem tende para isso, sobretudo se teve uma
rancores para salvar um companheiro em perigo. É esse educação religiosa. Muitas vezes tenho de fazer um esfor-
o mérito do Movimento, ter conseguido o milagre de co ço para evitar de engolir como verdade universal qualquer
meçar a transformar os homens. Mais uma geração e o constatação particular.
angolano será um homem novo. O que é preciso é ação. a) Que relação se estabelece, no excerto, entre a
PEPETELA. Mayombe. forma dialogal e as ideias expressas pelo Coman-
dante Sem Medo?
Makas: questões, conflitos. ) No plano da narração de Mayombe, isto é, no seu
modo de organizar e distribuir o discurso narra-
a) A fala de Comandante Sem Medo alude a uma tivo, emprega-se algum recurso para evitar que
questão central do romance Mayombe: um ob- o próprio romance, considerado no seu conjunto,
jetivo político a ser conquistado por meio do recaia no dogmatismo criticado no excerto? Expli-
Movimento. Qual é esse objetivo? que resumidamente.
Texto complementar
Marco do teatro brasileiro, a peça do poeta modernista Oswald de An- O intervalo entre o lançamento da obra de Oswald e a
drade segue atual nos palcos devido ao vigor, perspicácia e irreverência estreia da peça é parte do segredo da montagem que foi o
das sucessivas montagens do Teatro Oficina. Leia a seguir a resenha berço da Tropicália. Em 1937, quando o texto foi publicado,
sobre a reestreia da peça O Rei da Vela, em 2017 o Modernismo já tinha desembarcado na literatura, nas artes
plásticas e na música brasileira. Mas no teatro, o movimento
Após 50 anos, Oficina volta com o ‘Rei da Vela’,
que só chegou nos anos 1940, ainda correspondia à estética
marco do teatro brasileiro
europeia de 1890. Até então, os atores em São Paulo só
Zé Celso e Renato Borghi recordam da obra de Oswald tinham duas linhas para seguir: o teatro burguês do Teatro
de Andrade que transformou o palco no berço da Tropicália Brasileiro de Comédia ou o realismo do Teatro de Arena
NUNES, Leandro. “Após 50 anos, Oficina volta com o ‘Rei da Vela’, marco No entanto, quando o ator Renato Borghi trouxe o texto
do teatro brasileiro”. O Estado de S. Paulo, 20 out. 2017.
oswaldiano a um dos ensaios do Oficina, ao lado de nomes
Para quem não viveu o fim dos anos 1960, imaginar como Etty Fraser, Dina Sfat e Othon Bastos, fez-se um novo
o teatro brasileiro como o catalisador de um movimento caminho. “Ele chegou e leu um trecho. No final, aquilo foi
artístico e estético que foi capaz de inspirar artistas como a confirmação de que seria nosso próximo trabalho e de que
Caetano Veloso, Hélio Oiticica e Glauber Rocha e ainda ele viveria o Abelardo I, com toda a ironia e intensidade”,
enfrentar a censura, é um pensamento inédito. Neste 2017, recorda Zé Celso.
a montagem do espetáculo O Rei da Vela, de Oswald de Disponível em: <http://cultura.estadao.com.br/noticias/teatro-e-
Andrade, completa 50 anos com a força e rebeldia do Teatro danca,apos 50 anos-oficina-volta-com o-rei-da vela-marco do teatro-
Oficina, neste sábado, 21, no Sesc Pinheiros. brasileiro,70002053057>. Acesso em: 27 abr. 2018.
Livro
y BARROS, Manoel de. O fazedor de amanhecer. Ziraldo (Ilust.). São Paulo: Salamandra, 2001.
O poeta conta como descobriu o amor e revela seus inventos (a manivela para pegar no sono, por exemplo), apresentando uma poesia atrelada
à inventividade do traços e desenhos de Ziraldo.
Vídeos
y Entrevista com a historiadora Marina de Mello e Souza (USP) sobre o ensino de História da África nas escolas brasileiras.
Disponível em: <https://youtu.be/q_Y_mCFvA-4>. Acesso em: 30 mar. 2021.
y Roda Viva com entrevista de Ferreira Gullar. Disponível em: <https://youtu.be/JOZIS-_Pwxo>. Acesso em: 9 abr. 2021.
y Café Filosófico CPFL especial Fronteiras do Pensamento, com Mia Couto.
Disponível em: <https://youtu.be/3BbruWdNhf8>. Acesso em: 30 mar. 2021.
Filme
FRENTE 2
y Só dez por cento é mentira. Direção: Pedro Cézar, 2009. O documentário transpõe para as telas os versos inventivos e a “biografia inventada”,
de Manoel de Barros.
177
Exercícios complementares
1 Enem Ferreira Gullar, um dos grandes poetas brasilei um tumulto de vozes sem permitir, porém,
ros da atualidade, é autor de “Bicho urbano”, poema de gozos, de espasmos, que perca a transparência
sobre a sua relação com as pequenas e grandes ci já que a coisa é fechada
vertiginoso e pleno
dades. à humana consciência.
como são os orgasmos
Bicho urbano O que o poeta faz
Se disser que prefiro morar em Pirapemas mais do que mencioná-la
No entanto, o poeta
ou em outra qualquer pequena cidade do país é torná la aparência
desafia o impossível pura – e iluminá-la.
estou mentindo
ainda que lá se possa de manhã e tenta no poema
lavar o rosto no orvalho dizer o indizível: Toda coisa tem peso:
e o pão preserve aquele branco uma noite em seu centro.
sabor de alvorada. O poema é uma coisa
subverte a sintaxe que não tem nada dentro,
A natureza me assusta. implode a fala, ousa
Com seus matos sombrios suas águas a não ser o ressoar
incutir na linguagem
suas aves que são como aparições de uma imprecisa voz
densidade de coisa que não quer se apagar
me assusta quase tanto quanto
esse abismo – essa voz somos nós.
de gases e de estrelas A Esse poema se debruça sobre um tema muito re-
aberto sob minha cabeça. corrente na poética de autor, que é a reflexão com
GULLAR, Ferreira Toda poesia Rio de Janeiro:
José Olympio, 1991.
o fazer poético.
B Esse é um dos poemas neoconcretos de Ferreira
Embora não opte por viver numa pequena cidade, Gullar, sobretudo por questionar a condição de ob-
o poeta reconhece elementos de valor no cotidiano jeto do poema.
das pequenas comunidades Para expressar a relação C Este poema, assim como os demais presentes
do homem com alguns desses elementos, ele recor nesse livro, assinala uma inflexão na poesia de
re à sinestesia, construção de linguagem em que se Gullar: um retorno às formas fixas e rejeição das
mesclam impressões sensoriais diversas. Assinale a experimentações poéticas, sobretudo de sua fase
opção em que se observa esse recurso. concreta-neoconcreta.
A “e o pão preserve aquele branco/sabor de alvorada.” D Este poema é um típico exemplo da estética da
B “ainda que lá se possa de manhã/lavar o rosto no Geração de 45, com seu apuro formal e certo viés
orvalho” neoparnasiano.
C “A natureza me assusta./Com seus matos sombrios E Nesse poema, Ferreira Gullar dialoga com as for-
suas águas” mas tradicionais da literatura de cordel para fazer
D “suas aves que são como aparições/me assusta uma reflexão metalinguística.
quase tanto quanto”
E “me assusta quase tanto quanto/esse abismo/de 3 PUC-PR 2016 Considere o seguinte fragmento do poema
gases e de estrelas” que dá nome ao livro Muitas vozes, de Ferreira Gullar:
Meu poema que nele fala
2 FPP – Medicina 2016 Leia o poema “Não-coisa”, do livro
é um tumulto: outras vozes
Muitas vozes, de Ferreira Gullar, e assinale a alternati-
a fala arrasta em alarido.
va correta a seguir.
O que o poeta quer dizer A linguagem dispõe Com base nesse excerto, pode-se armar que:
no discurso não cabe de conceitos, de nomes A com esses versos, Ferreira Gullar afirma a dimen-
e se o diz é pra saber mas o gosto da fruta são modernista de sua poética, pois seu poema,
o que ainda não sabe. só o sabes se a comes sendo um “tumulto”, afasta-se do formato organiza-
do dos poemas anteriores ao Modernismo.
Uma fruta uma flor só o sabes no corpo B o poeta é o porta-voz autorizado de uma pluralidade
um odor que relume... o sabor que assimilas de vozes
Como dizer o sabor, e que na boca é festa C sua poesia tem a capacidade de interpretar um
seu clarão seu perfume? de saliva e papilas sem-número de outras vozes
invadindo-te inteiro D esses versos estão reforçando que a poesia de
Como enfim traduzir tal do mar o marulho Ferreira Gullar é feita, sobretudo, para ser dita em
na lógica do ouvido e que a fala submerge voz alta.
o que na coisa é coisa e reduz a um barulho, E o poeta alude ao fato de que sua produção poética
e que não tem sentido? traz em seu bojo uma série de outros discursos.
178 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 16 Literatura contemporânea
4 ITA 2018 O poema a seguir retoma, por seu turno, ima- 6 UEL 2017 A respeito das correlações entre a poesia de
gens presentes nos dois anteriores. Leminski e os poemas de outras tendências poéticas,
períodos e estilos de época, considere as afirmativas
Passeio no bosque
a seguir.
canivete na mão não deixa I. Como o Concretismo, Leminski perseguiu a re-
marcas no tronco da goiabeira presentação e a exaltação da vida material em
cicatrizes não se transferem detrimento da exposição da subjetividade.
CACASO. Beijo na boca Rio de Janeiro: 7 Letras, 2000 II. Como o Simbolismo, Leminski adotou desenhos
e experiências gráficas para representar a satura-
Algumas pessoas, ao gravarem nomes, datas etc., nos
ção de significados e significantes na linguagem
troncos das árvores, buscam externar afetos ou senti
poética verbal.
mentos Esse texto, contudo, registra uma experiência
III. Com a primeira fase modernista, Leminski aderiu ao
particular de alguém que, fazendo isso,
poema-piada e aos jogos de palavras, em contraste
A se liberta das dores amorosas, pois as exterioriza
com o rigor de outras manifestações poéticas.
de alguma forma.
IV. Com a poesia marginal, Leminski compartilhou a
B percebe que provocará danos irreversíveis à inte-
espontaneidade e a irreverência como aproxima-
gridade da árvore.
ções entre a expressão poética e a vida cotidiana.
C busca refúgio na solidão do espaço natural
D se dá conta de que é impossível livrar se dos senti Assinale a alternativa correta.
mentos que o afligem A Somente as afirmativas I e II são corretas.
E encontra dificuldade em gravar o tronco com um B Somente as afirmativas I e IV são corretas.
simples canivete. C Somente as afirmativas III e IV são corretas.
D Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
5 Insper 2012 E Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
contra os problemas sociais e a falta de liberdade visão conservadora da política e das relações humanas.
no país. D O verso como quem conta carneiros e amansa
D No poema, o eu lírico tem consciência dos proble (verso 06) revela a influência da vanguarda surrea-
mas, mas se norteia pela certeza da validade da lista na poesia de Ana Cristina Cesar.
vida. E “Contagem regressiva” apresenta importantes carac-
E O poeta tem convicção da validade da vida, mas he terísticas da Poesia Marginal, ou Geração Mimeógrafo,
sita diante da projeção de um ideal a ser alcançado. tais como a coloquialidade e a temática cotidiana.
179
O texto a seguir faz parte do conto “Verde Lagarto informações, considere o fragmento a seguir, retirado
Amarelo”, de Lygia Fagundes Telles O episódio a se- do conto “A estrutura da bolha de sabão” (1978), de
guir reproduz o diálogo entre dois irmãos, Rodolfo e Lygia Fagundes Telles, narrativa cujo ponto de partida
Eduardo. Leia-o, com atenção, a m de responder à é um triângulo amoroso:
questão 8
Convidaram-me e sentei, os joelhos de ambos en-
Ele entrou no seu passo macio, sem ruído, não chega- costados nos meus, a mesa pequena enfeixando copos
va a ser felino: apenas um andar discreto. Polido. e hálitos. Me refugiei nos cubos de gelo amontoados no
Rodolfo! Onde está você?... Dormindo? — pergun- fundo do copo, ele podia estudar a estrutura do gelo, não
tou quando me viu levantar da poltrona e vestir a camisa. era mais fácil? Mas ela queria fazer perguntas. Uma antiga
Baixou o tom de voz. – Está sozinho? amizade? Uma antiga amizade. Ah. Fomos colegas? Não,
Ele sabe muito bem que estou sozinho, ele sabe que
nos conhecemos numa praia, onde? Por aí, numa praia.
sempre estou sozinho.
Ah. Aos poucos o ciúme foi tomando forma e transbordan-
― Estava lendo.
do espesso como um licor azul-verde, do tom da pintura
― Dostoiévski?
dos seus olhos Escorreu pelas nossas roupas, empapou a
Fechei o livro e não pude deixar de sorrir. Nada lhe
escapava. toalha de mesa, pingou gota a gota
― Queria lembrar uma certa passagem... Só que está
quente demais, acho que este é o dia mais quente desde A partir do fragmento, pode-se dizer que, no conto, a es-
que começou o verão. tratégia utilizada para desanar o coro dos contentes é
Ele deixou a pasta na cadeira e abriu o pacote de A a exposição crítica do abismo entre as classes so-
uvas roxas. ciais, já que a narradora questiona como o amigo,
― Estavam tão maduras, olha só que beleza – disse um físico que estudava a estrutura das bolhas, podia
tirando um cacho e balançando-o no ar como um pêndulo. amar uma mulher como a rival.
– Prova! Uma delícia. b o destaque dado à rivalidade entre as mulheres, já
( )
que, de acordo com o pensamento da época, elas
― Vou fazer um café – anunciei.
deveriam se unir para combater os abusos de uma
Só se for para você, tomei há pouco na esquina Era
mentira. O bar da esquina era imundo e para ele o café
sociedade machista e excludente.
fazia parte de um ritual nobre, limpo [ ] c a ênfase dada à irrelevância da pesquisa científica
TELLES, Lygia Fagundes Melhores contos de Lygia Fagundes no âmbito social, já que a personagem masculina
Telles/Seleção de Eduardo Portella. 12. ed. Coleção estuda a estrutura da bolha de sabão.
melhores contos São Paulo: Global, 2003
d o destaque dado no conto à emergência de uma
nova masculinidade, já que a personagem masculi-
8 Uema 2015 No fragmento a seguir, há ocorrência de um
na se mostra dócil e despreocupada.
recurso linguístico que aproxima sensações de planos
E a exploração dos conflitos e das fragilidades das
sensoriais diferentes, conhecido como sinestesia.
personagens, abordagem que, ao dar relevo à vul-
Ele entrou no seu passo macio, sem ruído, não chega- nerabilidade dos sujeitos, contraria o comodismo
va a ser felino: apenas um andar discreto Polido. característico de parte da sociedade da época.
— Rodolfo! Onde está você?... Dormindo? — pergun-
tou quando me viu levantar da poltrona e vestir a camisa
Baixou o tom de voz. – Está sozinho? 10 Enem 2a aplicação 2016
O trecho que apresenta recurso sinestésico, a exem- Casamento
plo do fragmento anterior, é
A “A vaia amarela dos papagaios / rompe o silêncio Há mulheres que dizem:
da despedida ” (Carlos Drummond de Andrade). Meu marido, se quiser pescar, pesque,
b “Duro é o pão que nós comemos Dura é a cama mas que limpe os peixes.
que dormimos ” (Carolina Maria de Jesus) Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
c “O cabelo louro, a pele bronzeada de sol, as mãos
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de estátua ” (Lygia Fagundes Telles)
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
d “ Eu durmi E tive um sonho maravilhoso. Sonhei
ele fala coisas como “este foi difícil”
que eu era um anjo.” (Carolina Maria de Jesus).
“prateou no ar dando rabanadas”
E “No meio do caminho tinha uma pedra...” (Carlos
e faz o gesto com a mão.
Drummond de Andrade). O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
9 UFSM 2014 De acordo com Ítalo Moriconi, diante do Por fim, os peixes na travessa,
consumismo e da internacionalização em que mer- vamos dormir.
gulha a classe média, a arte do conto busca trazer Coisas prateadas espocam:
o outro lado [...]. O contista brasileiro dos anos 1970 somos noivo e noiva.
quer desafinar o coro dos contentes. A partir de tais PRADO, Adélia. Poesia reunida. São Paulo: Siciliano, 1991.
Vira e mexe eu penso é numa toada só. O texto de Adélia Prado apresenta uma mulher cuja
Fiz curso de filosofia pra escovar o pensamento, vida se “resume”. Sua expressão poética revela
não valeu. O mais universal que eu chego A contradições do universo feminino infeliz.
é a recepção de Nossa Senhora de Fátima b frustração relativa às obrigações cotidianas.
em Santo Antônio do Monte
c busca de identidade no universo familiar.
Duas mil pessoas com velas louvando a Maria
d subterfúgios de uma existência complexa.
num oco de escuro, pedindo bom parto,
moço de bom gênio pra casar, E resignação diante da condição social imposta
boa hora pra nascer e morrer.
O cheiro do povo espiritado, Leia o texto para responder às questões de 13 a 16
isso eu entendo sem desatino.
Canção do ver
Porque, mercê de Deus, o poder que eu tenho
é de fazer poesia, quando ela insiste feito Fomos rever o poste.
água no fundo da mina, levantando morrinho de areia. O mesmo poste de quando a gente brincava de pique
É quando clareia e refresca, abre sol, chove, e de esconder.
conforme necessidades. 1Agora ele estava tão verdinho!
Às vezes dá até de escurecer de repente O corpo recoberto de limo e borboletas
com trovoada e raio Não desaponta nunca
Eu quis filmar o abandono do poste.
É feito sol
O seu estar parado.
Feito amor divino.
O seu não ter voz.
Considere as seguintes armações sobre esse poema. O seu não ter sequer mãos para se pronunciar com
I. O curso de filosofia tentaria organizar/escovar o as mãos
pensamento, mas a poeta reconhece que sua ca Penso que a natureza o adotara em árvore
pacidade de alcançar o “universal” é limitada: ela Porque eu bem cheguei de ouvir arrulos de passarinhos
é capaz, sim, de entender uma cena de fé coleti- que um dia teriam cantado entre as suas folhas.
va, com suas solicitações práticas e emocionadas Tentei transcrever para flauta a ternura dos arrulos.
II. O uso do registro oral e popular (“vira e mexe”, Mas o mato era mudo.
“escovar o pensamento”, “o mais universal que Agora o poste se inclina para o chão como alguém
eu chego”) revela a perspectiva despretensiosa que procurasse o chão para repouso.
e informal da poeta, que contrasta com os versos Tivemos saudades de nós.
metrificados do poema, os quais mantêm, em sua BARROS, Manoel de. Poesia completa. São Paulo: Leya, 2010.
maioria, o mesmo número de sílabas.
III A capacidade de escrever poesia associa se a fe Arrulos: canto ou gemido de rolas e pombas.
nômenos naturais, como água caindo sobre areia,
variação de temperatura, sol e raio, dos quais
derivam as dúvidas sobre a existência de Deus 13 Uerj 2015 Agora ele estava tão verdinho! (ref. 1)
enunciadas no poema. De modo diferente do que ocorre em passarinhos, o
FRENTE 2
181
14 Uerj 2015 O título “Canção do ver” reúne duas esfe- É orreto o que se arma
ras diferentes dos sentidos humanos: audição e visão. A apenas em I.
No entanto, no decorrer do poema, a visão predomina b apenas em I e II.
sobre a audição. c apenas em I e III.
Os dois elementos que conrmam isso são: d apenas em II e III.
A o imobilismo do poste e a saudade dos tempos E em I, II e III.
passados.
b a inclinação do poste e sua adoção pela paisagem Leia o texto para responder às questões de 18 a 22.
natural.
c a aparência do poste e a suposição do arrulo dos A palavra
passarinhos Tanto que tenho falado, tanto que tenho escrito −
d o silêncio do poste e a impossibilidade de transcri como não imaginar que, sem querer, 4feri alguém? Às
ção musical vezes sinto, numa pessoa que acabo de conhecer, uma
hostilidade surda, ou uma reticência de mágoas. 1Impru-
15 Uerj 2015 A memória expressa pelo enunciador do dente 5ofício é este, de viver em voz alta
texto não pertence somente a ele. 11Às vezes, também a gente tem o 6consolo de saber
Na construção do poema, essa ideia é reforçada pelo que alguma coisa que se disse por acaso ajudou alguém
emprego de: a se 9reconciliar consigo mesmo ou com a sua vida de
A tempo passado e presente. cada dia; a sonhar um pouco, a sentir uma vontade de
b linguagem visual e musical. fazer alguma coisa boa
c descrição objetiva e subjetiva. Agora sei que outro dia eu disse uma palavra que fez
d primeira pessoa do singular e do plural. bem a alguém. Nunca saberei que palavra foi; deve ter
sido alguma frase 7espontânea e distraída que eu disse com
16 Uerj 2015 No poema, o poste é associado à própria naturalidade porque senti no momento − e depois 3esqueci.
vida do eu poético Tenho uma amiga que certa vez ganhou um canário,
Nessa associação, a imagem do poste se constrói e o canário não cantava. Deram-lhe receitas para fazer o
pelo seguinte recurso da linguagem: canário cantar; que falasse com ele, cantarolasse, batesse
A Anáfora alguma coisa ao piano; que pusesse a gaiola perto quando
b Metáfora trabalhasse em sua máquina de costura; que arranjasse
c Sinonímia. para lhe fazer companhia, algum tempo, outro canário
d Hipérbole. cantador; até mesmo que ligasse o rádio um pouco alto
Texto para a questão 17. durante uma transmissão de jogo de futebol... mas o ca-
nário não cantava
Infantil Um dia a minha amiga estava sozinha em casa,
O menino ia no mato distraída, e assobiou uma pequena frase melódica de
e a onça comeu ele. Beethoven – e o canário começou a cantar alegremente.
Depois o caminhão passou por dentro do corpo do Haveria alguma 8secreta ligação entre a alma do velho
menino artista morto e o pequeno pássaro cor de ouro?
e ele foi contar para a mãe 2Alguma coisa que eu disse distraído – talvez palavras
A mãe disse: mas se a onça comeu você, como é que de algum poeta antigo – foi 10despertar melodias esque-
o caminhão passou por dentro do seu corpo? cidas dentro da alma de alguém. Foi como se a gente
É que o caminhão só passou renteando meu corpo soubesse que de repente, num reino muito distante, uma
e eu desviei depressa.
princesa muito triste tivesse sorrido E isso fizesse bem ao
Olha, mãe, eu só queria inventar uma poesia.
coração do povo; iluminasse um pouco as suas pobres
Eu não preciso de fazer razão.
choupanas e as suas remotas esperanças.
BARROS, Manoel de.
BRAGA, Rubem In: PROENÇA FILHO, Domício (Org ) Pequena antologia
do Braga. Rio de Janeiro: Record, 1997.
17 Insper 2013 Considere as seguintes afirmações sobre
o poema:
18 Uerj 2012 O final do texto expressa uma reflexão do
I Nos quatro primeiros versos, apresenta-se uma
escritor acerca do poder da sua escrita, a partir da
situação que remete ao universo de fantasia da
menção a uma princesa e a um povo Essa menção
criança
II No diálogo entre o menino e sua mãe, é flagrante sugere, principalmente, que o escritor deseja que
o contraste entre a lógica do adulto e a capacida suas palavras tenham o poder de:
de imaginativa da criança. A desfazer as ilusões antigas.
III. A fala final do menino permite associar o poder de b permear as classes sociais.
livre criação comum às crianças à liberdade criati- c ajudar as pessoas discriminadas.
va própria do discurso poético. d abolir as hierarquias tradicionais.
183
“Faço o que prometo, amorzinho Mandei meu pes Todos apresentam uma epígrafe bíblica que está
soal pegar o menino quando ele ia para o colégio e levar relacionada às temáticas dos contos.
para a Cidade de Deus. De madrugada quebraram os bra- Todos podem ser considerados fantásticos e não
ços e as pernas do moleque, estrangularam, cortaram ele têm relação com a realidade brasileira
todo e depois jogaram na porta da casa da mãe. Esquece Cariba, o protagonista do conto “A cidade”, é preso
essa merda, não quero mais ouvir falar nesse assunto”, por ser a única pessoa que faz perguntas na cidade
disse Zinho. Zinho virou as costas para Soraia e dormiu. O título do conto “O lodo” pode ser interpretado
Zinho tinha um sono pesado Soraia ficou acordada ouvin metaforicamente, já que é a forma como o psicana-
do Zinho roncar. Depois levantou-se e pegou um retrato lista descreve o inconsciente de Galateu
de Rodrigo que mantinha escondido num lugar que Zinho
nunca descobriria. Sempre que Soraia olhava o retrato do A sequência correta de preenchimento dos parênte-
antigo namorado, durante aqueles anos todos, seus olhos ses, de cima para baixo, é
se enchiam de lágrimas Mas nesse dia as lágrimas foram A F–V–V–F
mais abundantes. B V–F–V–V
“Amor da minha vida”, ela disse, apertando o retrato C F–F–F–V
de Rodrigo de encontro ao seu coração sobressaltado. D F–V–F–V
E V–V–V–F
24 PUC-RS 2013
1 O nome “Cidade de Deus” e os atos praticados 27 UFRGS 2014 Considere as seguintes afirmações sobre
nessa comunidade constituem um paradoxo. os contos de Murilo Rubião.
2 O pedido de Soraia baseia-se em uma vingança I. Nos contos “O pirotécnico Zacarias” e “O ex-
de cunho passional, relacionada a um amor do -mágico da Taberna Minhota”, a narrativa está
passado não esquecido em primeira pessoa. Os narradores relatam
3. A suavidade dos diálogos de Soraia e Zinho faz acontecimentos fantásticos – ou seja, inexplicá-
contraponto com a crueldade das ações deste. veis racionalmente – com a maior naturalidade:
4. Zinho frequenta dois mundos: o paraíso confor- Zacarias é um cadáver falante que descreve o
tável e seguro da Barra e o inferno violento e atropelamento que resultou na sua morte; o ex-
marginal da Cidade de Deus. -mágico tenta suicidar-se, mas é boicotado pela
própria magia.
Estão corretas as armativas
II. Nos contos “Os dragões” e “Teleco, o coelhi-
A 1 e 2, apenas.
nho”, os animais têm comportamentos de seres
B 1 e 3, apenas.
humanos. Os dragões bebem em botequins, en-
C 3 e 4, apenas.
volvem-se com mulheres e assistem a aulas de um
D 2, 3 e 4, apenas.
professor; Teleco fala, fuma e barbeia-se.
E 1, 2, 3 e 4.
III. Nos contos “Bárbara” e “Ofélia, meu cachimbo e o
mar”, as personagens femininas citadas nos títulos
25 UFRGS 2012 Em “Intestino grosso”, de Rubem Fonse- são, respectivamente, uma mulher que, após ca-
ca, a personagem denominada Autor sar-se, começa a emagrecer assustadoramente e
A argumenta que sua literatura tem por assunto a uma menina que só se interessa por histórias de
vida urbana e a violência, embora ele mesmo se marinheiro.
considere um seguidor de Guimarães Rosa
B alega que gostaria de escrever como Machado de Qual(is) está(ão) correta(s)?
Assis, para conquistar leitores. A Apenas I.
C sustenta que, apesar de os autores brasileiros re- B Apenas II.
velarem os detalhes da vida dos poderosos, os C Apenas I e II.
aspectos mais abstratos sobre finanças e proprie- D Apenas II e III.
dade não aparecem. E I, II e III.
D comenta a importância da literatura brasileira e sua
capacidade de diálogo com as obras da literatura 28 UFG 2014 O fato de as histórias de Melhores contos
latino-americana de tema rural. J. J. Veiga serem livremente inspiradas na realidade
E discute em que termos sua literatura pode ser con- espacial e econômica do interior de Goiás, nas déca-
siderada pornográfica, argumentando longamente das de 1960 e 1970, contribui para a naturalização dos
sobre a pornografia na arte. eventos insólitos de tais narrativas. Essa afirmativa se
comprova no conto
As questões 26 e 27 referem-se aos contos de Murilo A “A usina atrás do morro”, que aponta a construção
Rubião. de usinas na zona rural como responsável pelas
mudanças na vida dos moradores do vilarejo.
26 UFRGS 2014 Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) B “A espingarda do Rei da Síria”, que indica a presen-
as seguintes afirmações sobre os contos de Murilo ça de imigrantes na zona rural como explicação
Rubião para a capacidade imaginativa do protagonista.
184 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 16 Literatura contemporânea
C “Na estrada do Amanhece”, que associa a chegada Continuariam até um se cansar e tapar os ouvidos
do automóvel no campo às transformações cultu para ficar com a última palavra se Diana não tivesse a
rais vividas pelos trabalhadores da fazenda. habilidade de se retirar logo que percebeu a dízima. Com
D “A viagem de dez léguas”, que apresenta o alto ín pedacinho final do marmelo entre os dedos, ela chegou-se
dice de mortalidade entre as mulheres do campo mais perto do irmão e disse:
Gi! Matando louva-deus! Olhe o castigo!
como justificativa para a tristeza das personagens.
– Eu estou matando, estou?
E “A máquina extraviada”, que relaciona a imple
– Está judiando. Ele morre.
mentação de novidades tecnológicas no campo à
Eu estou judiando?
rejeição do progresso por parte dos moradores do – Amolar um bicho tão pequenininho é o mesmo que
sertão. judiar
Doril não disse mais nada, qualquer coisa que ele
Leia o Texto 1 para responder às questões de 29 a 34.
dissesse ela aproveitaria para outra acusação. Era difícil
Texto 1 tapar a boca de Diana, ô menina renitente Ele preferiu
continuar olhando o louva-deus. Soprou-o de leve, ele
Diálogo da relativa grandeza
encolheu-se e vergou o corpo para o lado do sopro, como
Sentado no monte de lenha, as pernas abertas, os faz uma pessoa na ventania. O louva-deus estava no meio
cotovelos nos joelhos, Doril examinava um louva-deus de uma tempestade de vento, dessas que derrubam árvores
pousado nas costas da mão. Ele queria que o bichinho e arrancam telhados e podem até levantar uma pessoa do
voasse, ou pulasse, mas o bichinho estava muito à vonta- chão. Doril era a força que mandava a tempestade e que
de, vai ver que dormindo – ou pensando? Doril tocava-o podia pará-la quando quisesse. Então ele era Deus? Será
com a unha do dedo menor e ele nem nada, não dava que as nossas tempestades também são brincadeira?
confiança, parece que nem sentia; se Doril não visse o Será que quem manda elas olha para nós como Doril
leve pulsar de fole do pescoço – e só olhando bem é que estava olhando para o louva-deus? Será que somos peque-
se via – era capaz de dizer que o pobrezinho estava morto, nos para ele como um gafanhoto é pequeno para nós, ou
ou então que era um grilo de brinquedo, desses que as menores ainda? De que tamanho, comparando – do de
moças pregam no vestido para enfeitar. formiga? De piolho de galinha? Qual será o nosso tamanho
Entretido com o louva-deus Doril não viu Diana che- mesmo, verdadeiro?
gar comendo um marmelo, fruta azeda e enjoada que só Doril pensou, comparando as coisas em volta Seria
serve para ranger os dentes Ela parou perto do monte de engraçado se as pessoas fossem criaturinhas miudinhas,
lenha e ficou descascando o marmelo com os dentes mas vivendo num mundo miudinho, alumiado por um sol do
sem jogar a casca fora, não queria perder nada. Quando tamanho de uma rodela de confete.
ela já tinha comido um bom pedaço da parte de cima e Diana lambendo os dedos e enxugando no vestido.
Qual seria o tamanho certo dela? Um palmo de cabeça,
nada de Doril ligar, ela cuspiu fora um pedaço de miolo
um palmo de peito, palmo e meio de barriga, palmo e
com semente e falou:
meio até o joelho, palmo e meio até o pé... uns seis palmos
– Está direitinho um macaco em galho de pau.
e meio. Palmo de quem? Gafanhoto pode ter seis palmos
Doril olhou só com os olhos e revidou:
e meio também – mas de gafanhoto. Formiga pode ter seis
– Macaco é quem fala Está até comendo banana
palmos e meio de formiga E os bichinhos que existem
Marmelo é banana, besta?
mas a gente não vê, de tão pequenos? Se tem bichos que
Não é mais serve
a gente não vê, não pode ter bichos que esses que a gen-
Ficaram calados, cada um pensando por seu lado.
te não vê não veem? Onde é que o tamanho dos bichos
Diana cuspiu mais um caroço.
começa, e onde acaba? Qual é o maior, e qual o menor?
– Sabe aquele livro de história que o Mirto ganhou?
Bonito se nós também somos invisíveis para outros bichos
– Que Mirto, seu. É Milllton. Mania! muito grandes, tão grandes que os nossos olhos não abar-
– Mas sabe? Eu vou ganhar um igual. Tia Jura vai mindar. cam? E se a Terra é um bicho grandegrandegrandegrande
– Não é mindar É me-dar Mas não é vantagem e nós somos pulgas dele? Mas não pode! Como é que
Não é vantagem? É muita vantagem vamos ser invisíveis, se qualquer pessoa tem mais de um
Você já não leu o de Milton? metro de tamanho?
– Li mas quero ter. Pra guardar e ler de novo. Doril olhou o muro, os cafezeiros, as bananeiras, tudo
– Vantagem é ganhar outro. Diferente. bem maior do que ele, uma bananeira deve ter mais de
– Deferente eu não quero. Pode não ser bom. dois metros.
– Como foi que você disse? Diz de novo? Aí ele notou que o louva-deus não estava mais na
– Já disse uma vez, chega. mão. Procurou por perto e achou-o pousado num pau de
FRENTE 2
– Você disse deferente. lenha, numa ponta coberta de musgo. Doril levantou o
Foi não pau devagarinho, olhou-o de perto e achou que a camada
Foi Eu ouvi de musgo lembrava um matinho fechado, com certeza
– Foi não. cheio de
– Foi. – Quando é que você vai deixar esse bichinho sos-
– Foi não. segado?
– Foooi. Tamanho homem!
185
Doril largou o pau devagarinho no monte, limpou as Coqueiro é pé de salsa
mãos na roupa – E eu?
Você não sabe qual é o meu tamanho – Você é formiga de dois pés.
Ela olhou-o desconfiada, com medo de dizer uma Se eu sou formiga como é que eu pulo rego d’água?
coisa e cair em alguma armadilha Doril estava sempre – Que rego d’água?
arranjando novidades para atrapalhá-la – Esse nosso aí.
Você nem sabe qual é o seu tamanho insistiu ele Doril sacudiu a cabeça, sorrindo.
Então não sei? Já medi e marquei com um carvão – Aquilo não é rego d’água. É risquinho no chão, da
atrás da porta da sala Pode olhar lá, se quiser grossura de um fio de linha
Ele sorriu da esperada ingenuidade – E... E aquele morro lá longe?
Isso não quer dizer nada Você não sabe o tamanho – Não é morro. Você pensa que é morro porque você
da marca é formiga
Sei Mamãe mediu com a fita de costura Diz que Aquilo é um montinho de terra que cabe num carri-
tem um metro e vinte e tantos
nho de mão.
– Em metro de anão Ou metro invisível
Diana olhou-se de alto a baixo, achou-se grande para
Ela olhou-o assustada, desconfiada; e não achando o
ser formiga.
que responder, desconversou:
– Onde você aprendeu isso?
– Ih, Doril! Você está bobo hoje!
Ela precisava da garantia de uma autoridade para
– Boba é você, que não sabe de nada.
aceitar a nova ideia.
Ela esperou, ele explicou:
– Em parte nenhuma. Eu descobri.
– Você não sabe que nós somos invisíveis, de tão pe-
Diana deu um riso de zombaria, como quem começa
quenos?
a entender. Tudo aquilo era invenção dele, coisa sem pé
– Sei disso não. Invisível é micuim, que a gente sente
mas não vê. nem cabeça Como a história de recado por pensamento.
– Pois é. Nós somos como micuins. A mãe chamou da janela. Doril desceu do monte
Diana olhou depressa para ela mesma, depois para de lenha, um pau resvalou e feriu-o no tornozelo. Ele ia
Doril. xingar mas lembrou que pau de fósforo não machuca A
– Como é que eu vejo eu, vejo você, vejo minha mãe? mãe chamou de novo, ele saiu correndo e gritou para trás:
– E você pensa que micuim não vê micuim? – Quem chegar por último é filho de lesma.
Diana franziu a testa, pensando. Doril tinha cada Diana correu também, mais para não ficar sozinha
ideia. [...] do que para competir. Pularam uma bacia velha, simples
– Não pode, Doril. A gente é grande. Olha aí, você é tampa de cerveja emborcada no chão. Pularam o fio de
quase da altura desse monte de lenha. linha que Diana tinha pensado que era um rego d’água
– Está vendo como você não sabe nada? Isso não é Doril tropeçou num balde furado (isto é, um dedal com
um monte de lenha. É um monte de pauzinhos menores alça), subiu de um fôlego os dentes do pente que servia
do que pau de fósforo. de escada para a varanda, e entrou no caixotinho de giz
– Ora sebo, Doril. Pau de fósforo é deste tamanho onde eles moravam. A mãe uma formiguinha severa de
– ela mostrou dois dedinhos separados, dando tamanho pano amarrado na cabeça estava esperando na porta com
que ela imaginava. uma colher e um vidro de xarope nas mãos, a colher uma
– Isso que você está mostrando não é tamanho de simples casquinha de arroz. Doril abriu a boca, fechou os
pau de fósforo. Pau de fósforo é quase do seu tamanho. olhos e engoliu, o borrifo de xarope desceu queimando a
Diana ficou pensativa, triste por ter diminuído de ta- garganta de formiga.
manho de repente. Doril aproveitou para ensinar mais. VEIGA, J. J. Melhores contos J. J. Veiga. Seleção de J. Aderaldo
– Como você é tapada, Diana. Tudo no mundo é mui- Castello. 4. ed. São Paulo: Global, 2000. p. 97-102.
to pequeno.
O mundo é muito pequeno. – Olhou em volta pro- 29 UFG 2014 Quanto ao plano da narrativa, os elementos
curando uma ilustração. – Está vendo aquela jaca? Sabe do texto demonstram que
o tamanho dela? A os limites de compreensão das personagens im-
– Sei sim. Regula com uma melancia. pedem as divagações acerca dos elementos da
– Pronto. Não sabe. É do tamanho de cajá.
natureza.
Diana olhou a jaca já madura em ponto de cair, qual-
B a mistura das vozes aproxima o narrador das expe-
quer dia caía.
riências vividas pelas personagens.
– Ah, não pode, Doril. Comparar jaca com cajá?
– Mas é porque você não sabe que cajá não é cajá. C a predominância do tempo linear confere um cará-
– O que é então? ter melancólico ao enredo.
– É bago de arroz. D os conceitos categóricos de Diana afastam o leitor
Diana olhou em volta aflita, procurando uma prova das relações estabelecidas por Doril.
de que Doril estava errado. E as personagens se desviam da trama, revelando
– E coqueiro o que é? uma visão equivocada dos acontecimentos.
187
apaixona até pelos assuntos mais infantis, é de admirar Aplausos, aos quais se incorporam as personagens
que ninguém tenha brigado ainda por causa dela, a não em cena.
ser os políticos. [...] ODORICO – (Continuando o discurso:) Botando de
Já existe aqui um movimento para declarar a máquina lado os entretantos e partindo pros finalmente, é uma ale-
monumento municipal [ ] Dizem que a máquina já tem gria poder anunciar que prafrentemente vocês já poderão
feito até milagre, mas isso — aqui para nós — eu acho que morrer descansados, tranquilos e desconstrangidos, na
é exagero de gente supersticiosa, e prefiro não ficar falando certeza de que vão ser sepultados aqui mesmo, nesta terra
no assunto. Eu — e creio que também a grande maioria morna e cheirosa de Sucupira. E quem votou em mim,
dos munícipes não espero dela nada em particular; basta dizer isso ao padre na hora da extrema-unção, que
para mim basta que ela fique onde está, nos alegrando, tem enterro e cova de graça, conforme o prometido
nos inspirando, nos consolando. GOMES, D. O bem amado. Rio de Janeiro: Ediouro, 2012.
VEIGA, J J A máquina extraviada: contos Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1974. O gênero peça teatral tem o entretenimento como
uma de suas funções. Outra função relevante do gê-
Qual procedimento composicional caracteriza a cons- nero, explícita nesse trecho de O bem amado, é
trução do texto? A criticar satiricamente o comportamento de pessoas
A As intervenções explicativas do narrador. públicas
B A descrição de uma situação hipotética. B denunciar a escassez de recursos públicos nas
C As referências à crendice popular. prefeituras do interior.
D A objetividade irônica do relato C censurar a falta de domínio da língua-padrão em
E As marcas de interlocução. eventos sociais.
D despertar a preocupação da plateia com a expec-
36 Cefet-MG 2013 Leia o texto a seguir. tativa de vida dos cidadãos.
Abelardo I (Sentado em conversa com o Cliente
E questionar o apoio irrestrito de agentes públicos
Aperta um botão, ouve-se um forte ba- aos gestores governamentais.
rulho de campainha.) — Vamos ver...
Abelardo II (Veste botas e um completo domador de 38 UFPE 2013 Considerando os primórdios da moderni-
feras Usa pastinha e enormes bigodes dade da arte teatral no Brasil, leia os textos 1, 2 e 3 e
retorcidos. Monóculo. Um revólver à analise as proposições a seguir.
cinta.) — Pronto Seu Abelardo.
Texto 1
Abelardo I — Traga o dossier desse homem.
Abelardo II Pois não! O seu nome? Primeiro ato
Cliente (Embaraçado, o chapéu na mão, uma
(Cenário dividido em três planos – primeiro plano:
gravata de corda no pescoço magro.) —
alucinação; segundo plano: memória; terceiro plano: rea
Manoel Pitanga de Moraes.
lidade. Quatro arcos no plano da memória; duas escadas
ANDRADE, Oswald de. O rei da vela São Paulo: Globo, 1994 p. 39
laterais. Trevas.)
O fragmento organiza-se segundo o modelo do gêne- RODRIGUES, Nelson. Vestido de Noiva.
ro literário que se dene por
A ser produzido para a encenação pública. Texto 2
B narrar os fatos notáveis da história de um povo.
C expressar as emoções e estados de alma do autor.
D ridicularizar os vícios e atitudes reprováveis dos se-
res humanos.
37 Enem 2017
Segundo quadro
Uma sala da prefeitura O ambiente é modesto Du-
rante a mutação, ouve-se um dobrado e vivas a Odorico,
“viva o prefeito” etc. Estão em cena Dorotéa, Juju, Dir-
ceu, Dulcinéa, o vigário e Odorico. Este último, à janela, Vestido de noiva Encenação de Ziembinski, 1943.
discursa
ODORICO Povo sucupirano! Agoramente já in
Texto 3
vestido no cargo de Prefeito, aqui estou para receber a
confirmação, a ratificação, a autenticação e por que não Ao abrir o pano, entram todos os atores, com exceção
dizer a sagração do povo que me elegeu. do que vai representar Manuel, como se tratasse de uma tro-
Aplausos vêm de fora pa de saltimbancos, correndo, com gestos largos, exibindo-se
ODORICO – Eu prometi que o meu primeiro ato ao público. Se houver algum ator que saiba caminhar sobre
como prefeito seria ordenar a construção do cemitério. as mãos, deverá entrar assim. Outro trará uma corneta, na
primeiro ato)
direto das uniões matrimoniais, ao final da peça
C “Em cima, de costas para a plateia, Virgínia, a espo-
32 a personagem Euricão Engole-Cobra acaba soli-
sa branca, muito alva; veste luto fechado.” (Primeiro
tária e pobre ao final da peça porque essa seria a
quadro do primeiro ato)
justiça poética do destino contra a presença dos
D “Elias, meigo como nunca A cama atual de Virgínia
imigrantes árabes na região Nordeste
está revolvida, como a de solteira; um travesseiro no
chão; metade do lençol para fora.” (Segundo ato) Soma:
189
42 Fatec 2015 O escritor, dramaturgo e poeta Ariano pessoa, vergonha de dizer o que minha filha fez co-
Suassuna morreu em 2014, aos 87 anos. Membro da migo?, ou da minha raiva, do meu próprio egoísmo?,
Academia Brasileira de Letras (ABL), esse autor tradu- é egoísmo querer ter minha própria vida? Diga me,
ziu em suas obras a tradição popular do Nordeste. Barbie, você que nasceu pra ser vestida e despida,
Assinale a alternativa que apresenta um trecho da manipulada, sentada, levantada, embalada, deitada
obra Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna e abandonada à vontade pelos outros, você é feliz
A “SEVERINO assim?, você não tem vergonha?, eu tenho vergo-
Não pode ser, João. Eu matei o bispo, o padre, o nha de ter cedido, estou lhe dizendo, vergonha.
sacristão, o padeiro e a mulher e eles morreram espe As personagens principais de seus contos são
rando por você. Se eu não o matar, vêm-me perseguir quase sempre femininas. Velhas, moças, crianças.
de noite, porque será uma injustiça com eles. [...]” Negras, quase todas e quase todos. Ex-prostitutas,
Disponível em: <http://tinyurl.com/lelivros> domésticas, pedreiros, traficantes. E outros e outras.
Acesso em: 24 mar. 2018. (Adapt.).
Pobres todas e todos
B “Chamava-se João Teodoro, só. O mais pacato e mo- O enredo da peça é um trabalho de montagem e
desto dos homens. Honestíssimo e lealíssimo, com um moldagem baseado em uma tradição antiquíssima,
defeito apenas: não dar o mínimo valor a si próprio que remonta aos autos medievais de Gil Vicente e
Para João Teodoro, a coisa de menos importância no mais diretamente a inúmeros autores populares que
mundo era João Teodoro. [...]” se dedicaram ao gênero do cordel.
Disponível em: <http://tinyurl.com/leitura-encantada>.
Acesso em: 24 mar. 2018. (Adapt.).
Os meninos foram crescendo, fisicamente eram
idênticos, porém suas opiniões e modo de pensar
C “Havia muito que João Romão vivia exclusivamente divergiam muito. Isso afligia Natividade, que era
para essa ideia; sonhava com ela todas as noites; com- toda dada aos filhos, esses por muitas vezes bri-
parecia a todos os leilões de materiais de construção; gavam por nada, afligindo a mãe ainda mais. Um
arrematava madeiramentos já servidos; comprava te dos motivos de tanta discórdia eram as opiniões
lha em segunda mão; fazia pechinchas de cal e tijolos; políticas que tinham
acumulados (...)” A 2 1 3 5 4
Disponível em: <http://tinyurl com/dominiopub-1>
Acesso em: 24 mar. 2018. (Adapt.). B 1-4-5-2-3
C 4-2-1-3-5
D “Aplica esta prova a todos os órgãos e compreendes D 3-5-4-1-2
o meu princípio. Enquanto a inteligência e a felici-
dade que dela se tira pela incansável acumulação de
44 UFBA 2012 Entende agora por que viemos aqui? Para
noções, só te peço que compares Renan e o Grillo...”
você ver que em Tizangara não há dois mundos.
Disponível em: <http://tinyurl.com/dominiopub-2>.
Acesso em: 24 mar 2018. (Adapt ) Ele que visse, por si, os vivos e os mortos partilharem
da mesma casa Como Hortência e seu sobrinho E pen
E “Nhá Tolentina estava ficando rica de vender no arraial sasse nisso quando procurasse os seus mortos.
pastéis de carne mexida com ossos de mão de anji- — Por isso eu lhe pergunto, Massimo: qual vila o
nho; dos vinténs enterrados juntamente com mechas senhor está visitando?
de cabelo, em frente das casas; e do João Mangolô — Como assim, qual vila?
velho de guerra, voluntário do mato nos tempos do — É porque aqui temos três vilas com seus respectivos
Paraguai ( )” nomes Tizangara-terra, Tizangara céu, Tizangara-água
Disponível em: <http://tinyurl.com/literaturapoeta-1>.
Acesso em: 24 mar 2018. (Adapt )
Eu conheço as três. E só eu amo todas elas.
Sorri. Agora, quem carecia de tradução era eu. Nun-
ca escutara Temporina tão acrescida de belezas. Ou ela
43 Acafe 2017 Associe os autores aos trechos. se enfeitava, especial, para o visitante? Desconfiado, me
1 Ariano Suassuna retirei, pé-ante-pé, escadas afora. Deixei os dois na va-
2. Machado de Assis randa e fiquei no pátio, a respeitosa distância De longe,
3. Carlos Henrique Schoereder ainda vi como Temporina se sentava no colo do italiano e
4. Conceição Evaristo como seus corpos se enleavam. De súbito, o rosto dela se
5. Maria Valéria Rezende colocou em luz e eu me espantei: em flagrante de amor
Temporina juvenescia. Toda ela era sem ruga, sem cica-
Renê, um recepcionista noturno de hotel, tenta re- triz do tempo. E recuei meus olhos, recolhi meu enleio.
construir sua vida e encontra na amizade de Copi, O italiano havia de descer e eu retomaria meus serviços
um travesti obcecado por fotografias, uma alterna- Agora, por certo, ele não carecia de tradutor.
tiva para sua vida destruída. Renê lerá o que Copi Na espera, adormeci. No dia seguinte, quando des-
escreve e será o único que terá acesso a suas fotos pertei já o italiano se passeava pelo quintal Temporina
de surpreendente beleza falava para ele:
[...] Vou me acalmando desse jeito. Foi bom botar — Andei olhando você. Desculpa, Massimo, mas você
pra fora essa coisa toda, dizer claramente pra mim não sabe andar
mesma o que tinha vergonha de dizer a qualquer — Como não sei andar?
negros: os melhores poemas. São Paulo: Quilombhoje, 1998. p. 104. cessariamente, haver uma interseção entre elas
Tendo em vista a temática da obra Cadernos Negros – C Segundo a personagem Kindzu, a sua terra, so-
os melhores poemas, pode-se armar que, nesse texto, nâmbula como ele, seria um lugar da sobreposição
o sujeito poético entre sonho e realidade, tal como ocorre na nar
01 deixa evidenciada a ideia de que fronteiras étnicas rativa que registra em seus cadernos, em que é
e linguísticas dificultam o intercâmbio cultural entre impossível o estabelecimento de uma delimitação
africanos e afrodescendentes. entre o onírico e o real.
191
d O sonho, sugerido pelo termo “sonâmbulo”, contra 47 Fuvest 2017 Considerando-se o excerto no contexto
põe-se à realidade da guerra, sugerida pela palavra de Mayombe, os paralelos que nele são estabele-
“fogo”; terra sonâmbula seria, pois, um lugar em cidos entre aspectos da natureza e da vida humana
que os limites entre realidade e sonho aparecem podem ser interpretados como uma
bem delimitados e no qual as personagens estão A reflexão relacionada ao próprio Comandante Sem
condenadas definitivamente à miséria da guerra. Medo e a seu dilema característico entre a valoriza-
ção do indivíduo e o engajamento em um projeto
Observe a imagem e leia o texto, para responder às
eminentemente coletivo.
questões 47 e 48
b caracterização flagrante da dificuldade de aceder
ao plano do raciocínio abstrato, típica da atitude
pragmática do militante revolucionário.
c figuração da harmonia que reina no mundo natural,
em contraste com as dissensões que caracterizam
as relações humanas, notadamente nas zonas ur
banizadas.
d representação do juízo do Comissário a respeito
da manifesta incapacidade que tem o Coman-
dante Sem Medo de ultrapassar o dogmatismo
doutrinário.
E crítica esclarecida à mentalidade animista que
tende a personificar os elementos da natureza e
ao tribalismo, ainda muito difundidos entre os guer
rilheiros do Movimento Popular de Libertação de
Amoreira Africana. Angola (MPLA).
193
3. A para a obtenção dos créditos finais e, ser linguagem oral, mas o autor o faz
desde então, ficamos à espera dos re- para criar o efeito de humor).
4. “Conheci Marcos Rey faz mais de vinte
sultados que serão divulgados em breve
anos, quando sonhava tornar-me escritor.” 3. Pode-se pensar na ação de parar (para,
pela secretaria.”
5. D verbo) ou na ideia de finalidade
14. E (para, preposição)
6
15. B 4. Trata-se do verbo ler, na terceira pessoa
a) Os responsáveis somos nós Nós somos
a equipe de futebol da escola. 16. A do plural não há mais o acento: “Os que
leem [ ]”
b) Agora são seis horas da manhã. 17. D
18. A 5. Todas as proparoxítonas são acentuadas.
c) Hoje é dia 24 de agosto
7. 19. 6 Rima esdrúxula, com palavras proparo-
xítonas.
a) Quantos sonhos havia naquela ingênua a) Millôr Fernandes depara com um erro de
cabecinha... (haver = sentido de existir) concordância em “...contornos dos mor- 7 Bocaiuva
ros que a cerca”. O verbo “cercar” tem
b) Cheguei há dois dias e voltarei daqui 8. Quando o “u” tônico estiver precedido
como sujeito sintático o pronome relati-
a quatro meses. (há dois dias: verbo/a de ditongo decrescente, não se empre-
vo “que”; quando isso ocorre, o verbo da
quatro meses: preposição) ga o acento agudo
oração adjetiva deve concordar com o an-
8 tecedente do relativo, no caso, “morros” 9. Decassílabo heroico.
a) Há erro de concordância em “Os convê- (“...contornos dos morros que a cercam”).
10. So / nha / va-em / ser / he / roi / da / e po / pe / ia
nios assinados traduz”. b) O texto apresenta vários trechos irônicos, Po / é / ti / ca / no / ver / so de / cas / sí / la /bo
b) Está sugerido que um representante do porém o que mais chama a atenção é o A / go / ra / tra / go pre / sos / na / i / de / ia
Ministério da Educação não poderia co- último período do penúltimo parágrafo: Os / tem / pos des / sas / sí / la / bas / do / ri / t / mo
meter um deslize desses “Berro, no português mais castiço do ma-
nual do [jornal] Globo: HELP!” O termo Exercícios propostos
9. D
“português mais castiço” não pode ser in-
10. D terpretado literalmente, pois o enunciado 1. A
utiliza o inglês: HELP.
11. B 2 E
20. A
12 C 3. A
21.
13. E 4. C
a) “Mas, se não tem Deus, há-de a gente
14. C perdidos no vaivém, e a vida é burra”. 5 A
15. B b) “ a gente perdidos ”; “ é todos contra 6. A
16. C o acaso”
7. A
17. B 22. C
8 C
18. D 23. D
9. D
19. C 24. C
10. A
20. B 25 D
11. A
21. E 26. D
12. A
22. C 27 C
28. D 13. B
23. C
24. D 29. 14. D
5 D 32. A 21. C
33. E
6. D 22 D
7 D 23. Por que é que você disse isso?
8. C
Capítulo 19 – Acentuação Não sei bem por quê
Vou dizer-lhe a razão por que o disse.
9 A Revisando
24. D
10. D 1. Não, a reforma envolve apenas a lingua-
gem escrita Exercícios complementares
11 A
2. O implícito de que o homem estaria bur- 1. A
12. C lando a reforma por usar palavras como
2 Soma: 01 + 02 = 03
13 “Entregaram-se ao professor os relató ideia, heroica e jiboia com acento (na
rios de estágio de que precisávamos realidade, ele não cometeria o erro por 3. D
195
2. 3. Sim. Pelo trecho, é possível perceber o 2. D
a) quê quanto Guimarães foi inovador em vá- 3. B
rios aspectos, como na oralidade e no
b) Quê 4. C
léxico; por isso, sua obra diferenciada
c) Está correta. muito se destaca de qualquer outro mo- 5. B
3. C vimento de seu período. 6. A
197
22. C quanto o leitor respiram, libertando-se de Exercícios propostos
23. B um cotidiano opressor. Assim, a poesia é
1 D
concebida como libertação, representada
24. D 2. A
pela imagem da cela abafada (sentimentos
25 C e fatos da vida que aprisionam o indivíduo) 3.
26 B e da janela (meio que possibilita a entrada
a) O verbo “ser”, no texto I, expressa
27. E do elemento salvador: o ar, ou seja, a poe-
ideia de desejo/vontade de que as ex-
sia). No poema “Agosto 1964”, defende-se
28. Soma: 04 + 08 = 12 periências vividas na ilha do Pacífico
que a poesia deve estar articulada com os
29. B – referência em turismo – sejam tam-
problemas do seu tempo, denunciando- bém experiências vividas por aqueles
30. E -os. Por isso, a poesia não pode ficar alheia que visitarem o Rio de Janeiro No texto
31. B à realidade contemporânea do poeta, mar- II, o verbo “ser” indica certeza/convicção
cada pela violência social e política. Em tal de que a realidade do Haiti (país cuja
32. B
contexto, a poesia se torna “arma de com- população é predominantemente preta
33. B bate” pela transformação da realidade. e pobre e 60% dela é subnutrida) está
34. E Nesse poema, encontram-se passagens também presente aqui no Brasil
35. A como “a poesia agora responde a inqué-
b) Quando os compositores afirmam “o
rito policial-militar” (a arte como vítima da
36. Soma: 02 + 16 + 32 = 50 Haiti é aqui”, eles comparam as reali-
censura) e “construímos um artefato” (a dades disfóricas presentes em ambos
37 A arte como instrumento de luta) Além dis- os países (Haiti e Brasil) sob o ponto de
38. E so, o poema é apresentado como “uma vista étnico, da fome, da pobreza e da
39. A bandeira”, ou seja, o estandarte que pode desigualdade. Em “o Haiti não é aqui”,
liderar a luta por uma causa social. Caetano e Gilberto Gil deixam claro que
40. E
3. E assumem uma posição de protesto e
41. E
combate às mazelas vividas no Brasil,
42. B 4 B além de literalmente afirmarem que são
43. D 5. Soma: 01 + 08 = 09 localizações distintas.
44. C 6. C 4. D
45. A 5. D
7. A
46. A 6. D
8 A
47. B 7. Soma: 01 + 02 + 08 + 32 = 43
9. B 8. B
48. O autor substitui as vogais “e” e “o” por
uma estrela e um círculo, respectivamente, 10. 9. C
aproveitando, assim, a temática espacial a) Muidinga, personagem que faz parte de 10. D
do “pulsar” Essa analogia se complementa um dos eixos da narrativa, contada em 11. E
com a variação do tamanho dos sinais, re- terceira pessoa, está em busca de sua
forçando a imagem visual do poema. 12. C
identidade pessoal após ter sido acome
49. Soma: 01 + 02 + 08 = 11 tido por uma enfermidade. O percurso 13. V; V; V; V; F
da personagem no espaço narrativo do 14. Soma: 01 + 04 = 05
romance remete à situação histórica de
15 B
Moçambique, destruída pela guerra e pas-
Capítulo 16 – Literatura sando por problemas de identidade social 16 E
contemporânea e cultural, devendo recuperar seu passa- 17 D
do na perspectiva da construção de um 18. A
Revisando futuro. A causa de o território ser “despido
19. D
1 Os dois primeiros versos do poema “Man- de brilho” seria justamente a situação de
dei a palavra rimar,/ela não me obedeceu.” violência e pobreza decorrentes da guer- 20 E
mostram o eu lírico em seu processo de ra civil Isso se manifesta, por exemplo, no 21. D
criação, revelando a expectativa de que local (machimbondo) onde se desenrola 22. C
a palavra rime, seguida da constatação parte desse eixo narrativo.
23. B
de que ela desobedece a essa ordem. b) Os cadernos mencionados no segun-
Ao longo do poema, quanto à forma, 24. A
do trecho haviam sido encontrados
encontram-se rimas externas (rosa/pro por Muidinga próximos do cadáver de 25. E
sa) e internas (sinto/extinto), sonoridade Kindzu e continham o relato de sua 26. Soma: 02 + 04 + 16 = 22
(“sílaba silenciosa”) e jogos de palavras, vida. Trata-se do segundo eixo narrati- 27. E
embora o eu lírico afirme que a palavra vo do romance, que aborda os anos da
não obedeceu a ele No que diz respei 28. C
Guerra Civil e as questões da tradição
to aos sentidos, o poema mantém o tom 29. D
cultural moçambicana. A descoberta
conflituoso, e até mesmo paradoxal, que
dos cadernos de Kindzu e a sua leitu- 30. A
descreve esse embate entre poeta e pala-
ra pelo protagonista sugerem o poder 31. C
vra. A ideia de liberdade e desobediência,
da ficção em reconfigurar, por meio da
exposta nos versos iniciais, confirma-se ao 32
imaginação, as identidades vulneráveis
longo do poema, em versos como “parecia
das personagens em trânsito por um a) O protagonista está machucado, com
fora de si” ou “se foi num labirinto”.
país devastado pela guerra, propiciando problemas no pé, no entanto seu avô
2. Em “Emergência”, o poema é a janela da a evasão da realidade imediata e uma lhe promete um cavalinho caso o meni-
alma, e, por meio dele, tanto o sujeito lírico breve celebração da vida. no permita que seu pé seja lancetado. O
199
Anotações