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Almeida Garrett, na nota Lao I Acto do drama Frei Lufs de Sousa afiema que «9 nosso povo é 0 mais poético «esprituoso povo da Europa>. Depois de uma longa divagacio sobre a sua infinca ¢ influéncias sive nea exerceram 4 natureza (camp) ¢ a historia contadas por uma erinda idosa, conch: poesia sesadeira & esta, 60.que sai destas suas fortes primeiras e genuinas; (..) A fiteratura ¢fitha de terra como veritas da fabula, e a sua terra se deve deitar para ganhar forcas novas quando se sente exausia.» ‘Tinha compreendido como ninguém 0 valor do «Grande livro nacional que é 0 povo ¢ as suas tradigdes». ‘A poesia brotou do coragio do povo como a gua duma fontelimpida. Os cantares ce amigo sio as smanifestagbes primeiras desse jorrar postico, Estudi-los ¢ reencontrarmo-nos com as nossas origensy @ nossa identidade cultural ¢ poética. © fragmento chamado Arte de Trovar, apenso ao Cancioneiro da Biblioteca Nacional, a propésito das cantigas dialogadas, sugere uma definiga« ‘eB, porque algizas cantigas i ha que fatam elles ¢ ellas outrosi, por en he bem de entenderdes se som d’amor, se d'amigo: porque sabede que, se elles falam na prima cobra ¢ ellas na outra (he can- tiga @’)amor, porque se move a razom delle, como vos antes dissemos; ¢ se ellas falam na primeira cobra, he outrosi d’amigo; e se ambos falam em ta cobra, outrosi he segundo qual d'elles fala na cobra mein.» m CBN, Arte de Trovar, Tit, 111, cap. IV |A frase «como vos antes dissemos» deixa entender que nos capitulos anteriores, que se perderam, 0 ‘autor teria definido claramente cada género de cantigas, ‘Costa Pimpao afirma que a expressio «cantigas de amigo aplica-se a um grande miimero de composi qdes da maior variedade formal e psicoldgica, mas que tém isto em comum: 0 serem postas na boca de uma siuther — ndo da mulher jé subordinada as suas obrigacées matrimoniais, mas da donzela, da menina «em cabelo». Histria da Litera Portuguesa, 1p. 105 Por sua vez, Segismundo Spina diz. que os cantares qamigo «exprimem (...) estes pequeninos dramas € situagbes da vida amorosa das donzelas, em que a vida do campo (com todas as sugestbes da naturezn) vida urguesa e o ambiente doméstco (..) formam a moldura desses singelos quadros sentimentais ¢ impregnam de original encanto e doce realismo essa poesia feminina». presen da Literatura Portsguesa— Fra Medival, pi. 18 No mesmo sentido se pronunciou Jodo Mendes: «Sdo as mais ingénuas e naturais, mais préximas da sincondade ¢ desatentas da umestrian provencal Tratacse de poesia de homens, apesar de se supor que quem Jute éa mulher E portant, wma espécie de poesia de heteénimos, em que a pscologia vir deiva falar o seu “arquétio profando de animal, segundo as clebres categorias de Jung». ier Fo. 59 ‘Apanhando o essencial de todas estas definigGes ~ e muitas mais se poderiam apresentar ~ poderemos concluir que as cantigas de amigo siio poemas em que o trovador coloca na boca da donzela ingénua ¢ hu- ilde do campo os sentimentos que Ihe vo no intimo por ser amada ou abandonada, tempordria ou def nitivamente, por causa da guerra ou de outra mulher. Como diz Massaud Moisés, «as eantigas surpreender ‘amomentos» do namoro, desde as primeiras horas da corte até as dores do abandono, ou da auséncia, pel ay Jacto de o bem-amado estar no fossado ou no bafordo, isto 6, mo serviga militar ox no exercicio das armas. A Literatura Portugues, p27 , as aS + AMBIENTE » POETAS » CANTORES + ACOMPANHAMENTO MUSICAL «O ambiente 6 frequentemente a romaria a uma capela local, rodeada de arvoredo - ou a beira do mar sobre uma rocha. A moca vai ali, acompanhada da mie e das amigas, ndo por devogdo ao santo, diz ea, mas para ver o amigo, ou para queimar cirios para que 0 santo tho traga vivo e sao. ‘Nem todos os dias hd romarias e a moca procura outros locais para namorar: muito propicia é a fonte afastada, onde os bichos do monte vido beber; at se demora a rapariga mais que 0 razodvel. A mée, no regresso, pergunta-the porque se demorou; ela arranja uma desculpa: os veados do monte revolveram a dgua «isso obrigou-a a esperar. Ou entio, a pretexto de ter de lavar os cabelos, a rapariga levanta-se de manhézi- nha e vai a uma ribeira, onde ja sabe que 0 amigo vai passar, a caca. Quando o amigo regressa de alguma cesxpedigiao por mar, la acorre é praia, a othar as ondas por onde hé-de vir 0 barco. [..] Depois de ouvir a histéria do santo da festa e dos seus milagres, contada pelos pregadores, 0 camponés das romarias ou das peregrinagées escutava muitas vezes ao ar livre o jogral, que tocava, cantava e bailava, mostrava 0 macaco dancarino, facia malabarismos com facas ou macas e por vezes recitava poemas ou con- ava noticias de longinguas ¢ extraordindrias terras. Nao é facil estabelecer limites sociais & profissao jogralesca. Como o saltimbanco de hoje, ela animava 4s folgas da plebe, mas também era elemento, e até ornamento indispensével, das festas dos paldcios. Num caso ou noutro, porém, a jogratia era uma profissao propria de vilées e 0 jogral, quer nas romarias populares, ‘quer nos palécios, era, pela sua origem, um homem do povo. A transformacio dos costumes trazida pelo desenvolvimento comercial da Kuropa desde o século XI, a prosperidade pacifica em que entravam certas regides fizeram aparecer ao lado do jogral o trovador, cultor das musas, que ndo se envergonhava de viajar para levar os seus versos através dos castelos. [..] 0 jograt, vildo, recebia remuneragéo pelo seu trabatho, do qual vivia; o trovador, nobre ou principe, ‘exercitava a poesia e a misica por puro desporto ou desenfado. Havia outras diferencas: 0 trovador compu nha as composicdes que o jogral se limitaria a executar. Mas esta distineao nao é essencial, porque vérios Jograis sito também autores, ¢ muitos trovadores sao também executantes. No essencial, 0 jogral & um profis- sional que ndo tem outra fonte de rendimento sendo o seu trabatho de artista; portanto um homem que ndo pertence i:classe nobre.» ANTONIO JOSE SARAIVA, Histria da Cultura em Portugal (Vol. 1) <« eNao vis A missa que eu vé>, porque ambos, embebidos em contemplacio mitua, inevitavelmente deixariam A 4 ag de prestar atenedo ao oficio religioso.» al [MARIA ARMINDA ZALMAR NUNES, 0 Cancioneiro Popular em Portugal. pot 40 HORIZONTE CULTURAL ‘«A bailia on bailada versa, como o préprio nome indica, sobre danca, baile. Na reatidade nada mais é do que a letra que acompanhava a melodia da danca. Dai a importancia que nelas assume 0 aspecto musical Tanto na balada do Norte e do Sul da Franca como na bailia galego-portuguesa era indispensével o estribilho ‘ou refrdo, sucedendo que nesta 0 cardcter musical ainda se realga pelo paralelismo ¢ ligacdo das estrofes, ¢ também pelo sistema assonante das rimas. De regra, o tema cantado é a alegria de viver ¢ de amar, no que ‘contrasta com o tom triste de outras variedades de cantigas de amigo.» Diciontio de Litera “cA descoberta das carjas, em 1948, veio revelar no teritério espanhol uma primitiva poesia feminina de extracgio romanica que se insere no lrismo drabe-andaluz. Quer a cangio de mulher mocdrabe quer a antiga de amigo galego-portuguesa radicam num velho subsiratolrico da Europa ocidental, que subentende ‘um ndcleo sagrado em que & mulher cabe wma relevante funcito sacerdotal. &.talver desses velhos rites afro- disiacos, circunsertos ao culto maternal da fertilidade, que derivam as choreas psallentium mulierum que se ‘testacam de entre as manifestacées festivas que acothem Afonso VIL, quando da sua entrada em Compostela gm IL17. Seja como for, & no Ocidente peninsular que 0 tema areaico da cancéo feminina, comum a uma jemota rradigao da Romania, subsiste com maior vigor efidelidade a um esquema coreogréfico que tem como Fandamento a danca ritual. Nao é outra a origem das nossas bailadas, nas quaisaliés perdura o vestigio da ‘arvore ritual, como exemplifica a famosa “bailada das avelaneiras.”» NATALIA CORREIA, 0p. O ENCONTRO NA FONTE [Levou-s" a lougana’,} levou-s’ a velida’; vai lavar cahelos’ na fontanat fia, leda’ dos amores, dos amotes leds. [Natural ds Galiza, pouco se sabe sobre a sua vide. Sepundo Nata Corel, pazece confimirse 2 ideniticago de Pro Meogo com um cérigo que ‘iva ew Banga (Galira, Se for verdade est hip [Levou-s’ a velida,] levou-s* a lougana; (Gai, Se fr ‘vai lavar cabelos na fria fontana, eda dos amores, dos amores leda. autor de nove cantigas de amigo. Tats de poemas de gril delindez, com a nos peculiar da Dresenga constant dos «(erves), que Vio beber 8 Fate onde a donzela lava o sus eabelos. prio tamnigoe gue por elt se apaixonod, € compara 30 wcervo ferdafde moni de ELReiy ‘Vai lavar cabelos na fontana fria; passa seu amigo, que Ihi ben queria, leda dos amores, dos amotes leda. Vai lavar cabelos na fiia fontana; passd seu amigo, que a muito amava, Teda dos amores, dos amores leda. eet As suas canis cervéticassurgem-n08 como tum alo ente o fundo pagio dx primitive cango de mulher ea sa exratiesgio arstie xa na can figade amigo» Passa seu amigo que thi ben queria; ‘ cervo' do monte a fugua volvia, Teda dos amores, dos amores leda. Nata Cone, in op. cit. 153 Passa seu amigo que a muit” ama o cervo do monte volvia « fugua’, Teda dos amores, dos amores leda. so Meogo (CBN IIS8/CV 793) 1 -levanow se a bea flere, content) 2 ~ bela, rato; 3~tavaro cable, variate do banko rita prota (de notvad) ¢ soon ri eect a aia Rect) 4 oa fie pos i deter amr) $e 21016 veodo aimbot da potnca vr inboo também do amigo) +7 ~ elle a epasou eu amiga» que a deixa perturba na i tpl senvaidede ae * rato e al ft fo H A nate or ve TENCAO' . — Digades, filha, mba filha velida’: ‘porque tardastes na fontana fria? - (-Os amores ei.) 2 ~ Digades,ftha, mha fila lougana porque tardastes na fria fontana? : (05 amores ei.) ‘Tardei, mba madre, na fontana fia, cervos“ do monte a sugua volviam, 0s amores ei.) 7 cat toga ofr pia 8; Fui eu, madre, lavar meus cabelos ala fonte e paguei-m'eu' d'elos ede mi, lougaa. ui ev, madre, lavar mins garcetas? ala fonte e paguci-m'eu d’elas ede mi, lougta, Ala fonte (e) paguei-m’eu d'eles, ali, achei, madr’, o senhor d'eles? ede mi, lougta, Ante que m(e) eu dali patisse, fui pagada* do que m(e) el disse ede mi, lougda. ‘0am Soares Coelho (B 689/V 291) 1. agradeb-me: 2. trangas cabelas; 3.0 mew amigo: 4. figuel felis, ra fonte ~ formosa; 3 — tenho; 4 ~ veados: 5 ~ equivate a mentes; 8 ~ alto mar (rio) refi entre paréness nas coplas anteriores pade interpretrse como una espécie de apart, sugerindo qu aia recusa dizer a Yerdade ‘mae, Assim, auséncia do paréntess net tio reo poder radirwrevelagdo da meoma verdade ~ Tardei, mha madre, na fria fontana, cervos do monte volviam a éugua. (0s amores ei.) ~Mentir’, mha filha, mentir por amigo! ‘Nunca vi cervo que volves 0 tio. (COs amores ei.) = Mentir, ma filha, mentir por amadot Nunea vi cervo que volvess’ o alto* = Os amores ei.” tro Meogo (CV 797/CBN 1192) Descendente de Egus Moniz, acompanhow D. Afonso III na conguista do Algarve. Carolina Michatis Ivana a hipose de que tia emigrado ‘de Portal no reinada de D, Saneho Tl, Durante © exilio volunttio conheces 0 élebre trovador de ‘Mint, Sordello, poota de ate provengtl, que o te infueneiado, Em) 1230, enconra-e a0 servigo de D. ‘Afonso I Autr de 1S cantgns de amigo, 22 de smor It de esedrnio e maldizer, foi um dos poetas mais fecandas Go nosso lilo tovadorosco, E conside- aco um dos mess da siti model 1. Alguns alunos contam as és histbrias de amor tratadas poeticamente nos textos que referem o encontro 2. Outros mostram como estes textos sdo sineréticos, misturando elementos lricos, draméticos e narrativ. 3, Ainda outros analisam a tonicidade e a qualidade da rima. 4. Finalmente, a turma comenta 0 HORIZONTE CULTURAL ‘As cantigas de amigo dio-nos a impressio de terem flor: a natureza. Esta intervém como confidente ou intermedisria no drama I por vezes nao correspondida. lo a0 ar livre numm convivio eimplice com :0 da rapariga apaixonada e _ OO ————————————————————— A natureza tem muitos recantos convidativos ao encontro amoroso. As flores perfumadas, as aves ale- res e buligosas, os cérregos murmurantes, as fontes frescas e mpidas, todo este mundo incita ao amor. Por isso, nio 6 de admirar que muitas cantigas narrem encontros nas fontes. Os namorados «refresca~ var» o seu amor, ouvindo o suave murmiirio da ‘gua que thes despertava sonho de um futuro sorridente etranquilo. Ainda hoje na poesia popular sio frequentes as referéncias as fontes: Fuia fonte beber gua, Fui A fonte beber égua Bebi, tomei a beber: Debaixo da flor de murta; ‘Stava o meu amor defronte, Foi s6 p'ra ver os teus olhos, Regalei-me de 0 ver! Que a sede nfo era muita. XE de salientar a auséncia do pai que se encontra quase sempre no fossado com elrel. Ame 6, entio, 0 tinico juiz das acgées da filha enamorada Por vezes ela descobre a mentira da filha que demorado na fonte por causa dos veados que Ii estavam a beber. A FONTE ¢ 0 simbolo de maternidade, simbolizando a origem da vida, do génio, do poder, da graga e da felicidade. As fontes jorram dgua ¢ esta fol sempre considerada como s{mbolo da vida, béngio do Céu, de purificagio, Basta atentarmos no uso litirgico da agua. © CERVO € comparado com a drvore da vida por causa das suas hastes que se renovam peri mente, Por isso, 0 CERVO simboliza a fecundidade, os ritinos de crescimento e o renascimento. Para alguns povos, ele ¢ também o anunciador da luz do dia, o sfmbolo da velocidade, da longevidade e do amor impetuoso, 2.5, O ENCONTRO NO C Mandad’ei comigo ca vem meu amigo: B irei, mad’, a Vigo! 7 Comigu’et mandado = scavem meu amado: : E irei, adr", a Vigo! Cavem meu amigo Eirei, madi’, a Vigo! " Cavem meu amado vem viv’e sano: E nei, madi’, a Vigo! Ca-vem san'e vivo ¢ d’el-rei amigo: 5 E irei, mad’, a Vigo! Ca vem viv'e sano e d’el-rei privado: E irei, made’, a Vigo! é “Martin Codax (B 1279/V 885) View as ba Foie! 5 asbay Enon x folqu e Enon coque e Nano F Marin —————ee ~~ ltttttCSstsSS Lisboa tem as suas barcas __‘Nelas mandaram meter ‘os homens com sua guerra En Lixboa, sobre lo mar Darquas novas mandei lavrar, ‘agora lavradas de armas ai, mha senhor velida"! Lev Lisboa tem barcas novas ‘Ao mar mandaram as barcas lev: En Lixboa, sobre lo le,” ‘agora lavradas de homens» novas lavradas de armas ea 45 barquas novas mandei fazer, aig mba senhor vetida! Bareas novas levam guerra Em Lisboa sobre o mar fasarmas ndo lavram terra——_armas novas sto mandadas, | arquas novas mandei favrar Le | no mar as mandeideitar, Sao de guerra as barcas novas lev: : ai, ma senor veda! no mar deitadas com homens 1 i 10 Baarquas novas mandi fazer eee | eno mar as mandei meter, Banecs nova sto manies : ai, mha senhor veda! Soe ; fl [Néo lavram tevvas com elas Fama Hasse Pais Brando leve esto Zon (CV 754 ‘os homens com sua guerra _Atologia de Poesia Universita (19) ov 1 =r baa: 2 graciosa; 3 ~ praia ow { 1. Transcrever em cada poema que trata 0 encontro no cais os versos que'ndo se repetem e apresentam tn sentido novo. 2. Fazer o levantamento dos elementos que sao essenciais ao paralelismo perfeito. (Ler 0 texto da pag. 22) 3. Completar uma cantiga distribuida pelo professor, da qual apenas sdo conhecidos os versos da primeira 2 i: copla, o segundo da terceira e da quinta coplas 4. Comparar as cantigas barcarolas medievais com os poemas insertos no at ' HORIZONTE CULTURAL 1 ov 1 © cais é o lugar de partida ou de chegada do amigo. Ali se derramam Kigrimas de tristeza, contem- tee plando.o mar e, neste, o barco que leva 0 amado e se afasta até nfo mais se ver, defxando um oceano de Le Saudade no coracao da donzela; ali se derramam lagrimas de alegria por motivo da chegada daquele que ; | durante a auséncia alimentou de inquietacio um amor fel q ‘Como escreveu Segismundo Spina, op. cit., «criagdes nacionais, sem correspondentes em outras lite- raturas, as barcarolas exprimem com todo 0 encanto a experiéncia de um povo eriado A beiracmar> Br | "A poesia popular nio podia deixar de cantar, emt versos saudosos, 0 sentimento da saudade igudo a } estas eircunstncias, como se pode verificar nos dois poema : Onde vais, 6 Luisinha, ‘Onde vais, 6 Luisinha, Para a vida militar I 4 Com o te cabeio & fai? Com tua vor de revota? Para aque triste vida eee Vou vero meu amor, Nio sei do meu amor; Lavai ocomboio, vai Mur Que anda nas ondas da praia ‘Andava ao mar, én volt. Leva pressana partida, —¢—. Segundo Alfredo Jeanroy, in La Poésie Lyrique des Troubadours, vol. IT, p. 292, este género apresen- fava na Provenga 0 seguinte esquema: «Acordados, 20 amanhecer, pelo grito do vigia, dois amantes que acabam de passar a noite juntos separam-se, amaldigoando o dia que vem cedo de mais», ‘AS nossas cantigas quase no relatam encontros nocturnos ¢ o vigia ¢ totalmente ignorado. Resta ape- nas 0 elemento temporal - a referéncia ao amanhecer ~ que nao ¢ suficiente para classificar uma cantiga como alba em sentido rigoroso. Os nossos costumes nao eram tio permissives como os da Provenga. AS raparigas eram constantemente vigiadas pelas maes que delas teriam de prestar contas quando © pal vol- tasse. Tal nao implica, todavia, que os nossos trovadores ndo tenham habilmente insinuado experiéncias sexuais de donzelas. O erotismo, suprema forca genesinca, povoa muitas das nossas cantigas. Para explicar a origem do género, foram levantadas varias hipéteses. Celso Cunha afirma: «Cremos mais préximos da verdade os que Ihe buscam a génese num tema religioso, numa «poesia antiquissima, diffeil de determinar, hoje em dia, pelo conhecimento pouco seguro que temos do lirismo dos velhos povos»; mas, nota Rodrigues Lapa, a sua forma, o proprio misterioso do seu sentido, a sua filtraglo atra- vés do Cristianismo, que a purificou, dizem-nos que a sua esséncia deveria ter sido originariamente, como foi nos sécs, XII e XIHI e como ¢ ainda hoje, profundamente ritual, litérgica, (Dieindrio de Literatura, Ia, Lisimo) «Um grupo numeroso de cantigas inspira-se na vida popular rural. Tem como personagem pi rapariga que vai & fonte, onde se encontra com 0 namorado; que vai lavar ao rio a roupa ou os cabelos; {que na romaria espera o amigo, ou oferece promessas aos santos pelo seu regresso. Este género de cantar apresenta-nos geralmente uma situagio cujos elementos paisagisticos, muito simples ¢ padronizados, se carregam do simbolismo de velhos ritos pagios, ¢ coloca-nos perante uma ou mais personagens, sob a forma de didlogo, quer de monélogo, quer até (caso raro mas muito significative) de breve narrativa, como se fosse um fragmento de um «rimance»: a rapariga que vai ao rio lavar camisas, o corpo «velido» que baila na romaria, Nao se trata, no sentido actual da palavra, de poesia lirica, mas de um género si crético primitive em que se confundem o lirico, 0 dramstico ¢ o narrativo. Esta matéria corresponde &s de estrutura mais simples, construidas dentro do chamado «paralelismo perfeito», [ALJ SARAIVA e OSCAR LOPES in Missa da Literatura Portuguess, 6p. 48 ‘Oa pastor bem tathada -RFIL BIOGRAFICO, ccuidava em seu amigo tm do arin rvadores cao dados bio ec estava, bem vos digo, _xficos slo conecidos por ex sido rei de Por. per quant’eu vi, mui coitada Fitho de D. Afonso I, subiv ao tano ex) 1279, 5 ediss': «Oimais nom é nada Alm de muitos sets imporanes em varios seetores fe far per namorado 4a vida nacional cbe-the a pléria deter undo 8 de far per na Universidade qe, sedieda em Lisboa em 129, fo. ‘nunca mother namorada,' ee pois que mio meu é errado». 1308 para Coimbra. Teve também & Incava de decretar que a lingua portuguesa passase «sr ueada nos documentos jaca, Ela tragia na mao wo um papagai mui fremoso ‘cantando mui saboroso, cca entrava 0 veriio;? diss’: «Amigo lougiio, {que faria per amores, 1s pois m’errastes tam em vlo?»* PERFILPOETICO Autor de 138 cantigas qu incluem os us géne- ros, €o mais fecundo rovado prtugus. «Rete, na $a pessos © no ambiente itertio de que ele 6 0 rincipal animador a eranga de ts cea Tiago conés (a corte do Norte de Fran, a de Leto e caeu antr'ias flores. ‘¢Cistela © 2 de Aragio) marcados pela presenga do ‘ troubadourse pel infléncin dasa sete pow Da gram pega do dia sa» Elsa Goagalves, op. et, p58 {Jouv'ali que nom falava, “cApesar de admizador da possa provencale de tom eonecedar da sun cna, devese a D. Dinis a ea veres acordava ‘aloizagz da posi ingen, poi fi cle qu co 2 ea vezes esmorecia, emai nme de canis de aniga> Ema Ts e diss’: «Ai Santa Maria! Fach Fev Aoloia itera comemndo, dade aque sera de mim agora?» Mt, At eda. 2. © 0 papagai dizia «Bem, por quant’eu sei, senhora» 2s «Se me queres dar guarida’», diss'a pastor, «di verdade, ‘Papagai, por caridade, cea morte m’é esta vida; diss’el: «Senhor comprida 20 de bem, e nom vos queixedes, ca 0 que vos & servida, cerged'otho e vee-lo-edes». Do Dinis (CBN S34/CV137) T= dagul em diante nenhuma mulher enamorada deve flar-se no amigo; 2— mui saboroso: de modo muito agraddvel; 3 — verdo: Pri imavera: 4 pois me enganastes do sem mative: 5 ~conforte UGESTAO DE ACTIVIDADE:! 1. Desenhar, com os elementos descritivos da cantiga «Peto souto de Crexente», um cendrio colorido, 2. Fazer o levantamento dos aspecios liricos, dramticas e narrativos dessa mesma canta. 3. Fazer uma recotha de histrias ou lendas regionais, quer em verso, quer em prosa 3.1. Expasigdo desta recolha na Escola. 4. Completaro estudo das pastorelas com a leitura do HORIZONTE CULTURAL A pastorela 6 um géner6 A parte, apresentando caracteristicas das cantigas de amigo ¢ caractert das cantigas de amor. Por isso, afirmou Ema Tarracha: «Ei discutivel a inclusio das pastorelas entre as cantigas de amigo: embora o ambiente seja rdstico, nota-se, em algumas composicbes, uma evidente inten- 41 cere que denunciam a origem , caracteristicas pastora, No ca, bem como a influgneia da tematea trovadores ia a cantiga, declarando 0 seu amor & cdo artis fe nga falda, geraeente 0 cavaeio ave Broveneal [genera fundi-se entre ns com ceias Smo re éetones — comunihao com a nAtUret » Simplicidade e reeato da raparign solteiray ‘tengo a realidad objectiva-, op-cit.p-104 ae Pois ne © primitivisme de m precisamente a sua principal atraccio para Meus ¢ snuitns tors de hoje Aigo se ferece alas de mite ese “da mentalidade do homem actual, permi- ean rms diverestados de eonselenca acaleas due nen) POF sido suplantados por aquisigoes posterio- res deixaram de subsistir na personalidade moderna, sempre prontos 2 despertar. Hi, por exemplo, em Poi alguns cantares ‘de amigo uma intimidade ‘espontanea com a@ matureZa que é muito diferente do gosto non ey abun ya paisagem (como quadro ou reflexo dos ent 00 humamos},e que deve antes relacionar-se — com o animismo tipico de certa ‘mentalidade primitiva. Dir-se-ia existir uma afin jidade ica entre as - lias © ppessoas e tudo o que parece mover-se Ou transformar-se por uma forga interna: a Agua, ‘da fonte € do rio, enon ee ‘da alva, a dos ollos. Todas estas coisas Pero Go ae paipavam ainda detantas assocages male, 26 9 “ielgnagdes evocavam tantas eorrespondéncias porsiinempulag amoror c 0 gracer da vere, c8 cts 8 acimais, os movimentos das coisas mal Gresentes, que o-esquers Feptitivo era com? 0 Troporceptvel « pequcno desenvolvimento de unm ema O ancl presenter Mages que sugerem 0 cus ineagoraeis mesos Tts> perdi« A. JSARAIVA ¢ OSCAR LOPES. op. cHt-P 50-5). ee ane Avindi a cliias perdi- neiaedeorvda ierpeasio 318) ec ‘ Perdi- (RF ¢ por er . Perdi- olif r* por et . Pe ‘ cae U Ike ; I i 1 2.¢ : t HO i ow i é ads se har qu ‘ougamos ‘gem 1. No reza, 104 para ermi- gosto arse re as olsas nclas tema sot 3, AS OFERTAS DE NAMORADOS Par Deus, coitada vivo, Pero me] eu leda semeth pois non ven meu amigo. non me si dar conselho; Pois non ven, que farei? amigas, que farei? Meus cabelos, com sirgo' En v6s, ai meu espelho, 5 eu non vos liaei* 15 eunon me veerei. Estas doas mui belas el mi-as deu, ai donzelas: Pois non ven de Castela, non é vivofo} ~ ai mesela!” ‘ou mio-o detém el-ei non vo-las negarei. Mias toucas de Estela, ‘Mias cintas das fivelas, 0 eu non vos tragere’®. 20 ew non vos cingerei”. Pro Gongalves de Portcarezo (CY S05/CBN 918) (© anel* do meu amigo PERFIL BIOGRAFICO eee a rea eae Pouco se sabe accrca da vide deste trovador. ‘chor eu, bala da nage dos de Porto Corio, possivalmente © feator da terra dese nome, Ter feito pare da cone O anel do meu amado de D. Afonso Hl esteve em Casel,talver na cote 5 perdi-o 80 lo verde ramo fe D, Afonso X, eonfarme se reere nx catia «Par ce choro eu, bela! Deus, cotads vivo, Perdi-o s6 lo verde pino, PERFIL POETICO por en" choro eu, dona virgo,” ‘echoro eu, bela Apenas aos deizou quatro cantigas de amigo. Segundo Natiia Cora (op. ct. 143) stodas elas ‘cahades por uma senibiidade e bom gosto post os que notabiizam o autor entre os liieos mais Imateantes do period trovadaresco.» 10 Perdi-o s6 lo verde ramo, por en choro eu, dona d’algo," ce choro eu, bela! Pero Gangalves de Portoareio (CV SBT/CBN 920) 7 fade sede; 2 are; 3~inflis;4~ cidade navarra, famosa pelo seu comércio:S~ rarei:6~ pareg 7~apertare: 8-0 anel ra uma oferta (dba) eta pelo ago dnamorada; 9 ~ 30: sob, debaixo de; 10~pinelro 1] ~ por iso; 12—mulhersoltira, dontla: 13 ~ Fialga SUGESTAO DE ACTIVIDADES 1, Levantamento de situagdes em que hoje se oferecem presentes como sinal de amor. 1.1. Diilogo horizontal sobre o valor dos mesmos. 1.2. Comparagdo entre as tradicdes actuais ¢ as que sao referidas nos poemas subordinados ao ttulo «As ofertas dos namorados». 2. Comentar as afirmagdes contidas no HORIZONTE CULTURAL (© amor é um sentimento que earece de ser materializado em gestos, em atitudes ¢ em actos. Os namo- rados sentem necessidade de demonstrar ou ver demonstrado o que Ihes vai na alma, Nao é, pois, de estra- nhar que as cantigas de amigo refiram, muitas delas, as ofertas dos dois apaixonados. A esse respeito, ‘ougamos as palavras de Maria Arminda Zaluar Nunes, op. cit., p. 41-42: ~ «Quando 0 namoro persiste, ee ecessidade de troca de prendas, manifestagio gentil de bem-querer Seguindo anti- parece uma natural ne incl. Esses presentes celebram-nos muitas quadras, das tradigdes, sio elas, sobrettdo, as flores, 0 lego, 9 Sioumnas de real Beleza, outras singelas, mas cheias de freseura como as proprias flores: Fost ‘cToma li que te dou eu/Um ramo de rosmaninho» «Toma Ki este raminho/De quantas rosiss achein. f cua das prendas marcantes € aque em que ao Ingo se assclam as HOPE! bordadas. Trata-se do 7 aangurieses exemplares no Museu Etnolépico do Dr. Lite de Vas. chamado lengo de namorados de qu concelas, no Museu do ‘Trajo ¢ no Museu de Arte Popular de Lisboa. Além do bordado das flores, veem-se Fos. igeralmente nestes lengos dois coragbes igados e alguns ingénuos versos a enquadré-los: ero | ene ym ners Quo amos, Tanbén verso cnt Noss coe us : coralina, de prata, de ouro, assim como aos tradicionais ide «sete pedrinhas». Censura éspera merece © En ascend ido romaria do Senhor da Serve s esquece de rae’ 0 nel a namorada que the que os euros da Mouraae/Faziam o gue zest» amb hans Ge VO pela sua fra- Tldade, nao pode simbolizar a desejadn felidade da pisio sore Por isso, certa namoradia langa . frada praga ao seu cortejador, devido a comprovada ‘ineonstancia assinalada pelo anel que se quebrou: ‘ Er “cTanto dure a tua vida, /Como o anel me durou!» sec antigas de amigo fazer referéncin a msltiplas ofertas: fitas de sea pate © cabelo, cintas, toucas, que cespethos, fivelas para os sapatos, ans, ete. Chegaram a comeler-se ‘exageros de tal ordem que o Rei se vit obrigado a proibir as prendas mais caras. ee aaive de oferecer presentes exist (¢ existe) por toda a parte, «nits costumes de boda li hispano-judaieos de Marrocos existe am que ¢ allamente revelador # ee ‘respeito, Na quinta-feira ante- fe wiser anho ritual da noiva, 0 noivo manda para casa dela diversas prentas! Ce, améndoas, velas, saat fita para 0 cabelo.,. A festa da noite «gira alrededor de la cevemon de destejer el trenzado de sus ean ne Pasge pases... simbolo‘de dulzara, ts almendras, que lo som de Pur, repartidas entre cap tavitados. Luego las mujeres se retiraban con la novia, destrenzaban 5 ‘eabellos, los rodeaban con La aera epols, na propria noite do banho, essa fta é devolvida ao noivo, abe ‘em de , sreanii toge simbolicamente ado por ela, ao ser-the entregue com as plays «atado quedatisr. See nals uma ver da érea cultural ibériea, encontramos numa cansso popular grega a sintese quase programatica do sentido oculto da troca de prendas de amor: 7 f “eGinviei-Ihe uma mag; ele a mim deu-me uma fia: 2 7 Sle comeu 2 mag, mas a fit eu guards ‘enlacei-a no cabelo e fui logo passear. ma i Desci mesmo até & praia, mesmo até ‘ao areal: a 7 ai dangavam meres, e arastram-me aribém. \ : ee M ; La de cima da jana, a mie dele me espreiton: * : : Em hora se a boda! Em ma hora wa alert Q ; Teubom filho, a teu pesar, hei-de t€-o por marido: ‘ ‘manda fazer as cadeias de prata prd encadear. + 7 qa ‘mas se el'vier encontrar-me, tanto melhor para mim!» ° ae os Stephen Reckon ¢ Helder Macedo ~Do Cancionir de Amigo, p, 206217 1a ode = 0s meus olhos e 0 meu coragom Que coit’ouv’ora el-tei de me levar 0 meu lume foi-se com el-reit quanto bem avia, nem ci d'aver! ~ Quem est’, ai filha, se Deus vos perdom? = Nom vas tem prol, filha, de mi o negar, Que mio digades gracir-vo-lo-ci. ante vo-lo ferré de mi o dizer. — Direi-vo-leu e, pois que o disser, —Direi-vo-I'eu e, pois que o disser, ‘nom vos pés, madre, quand" aqui veer. nom vos pés, madre, quand’aqui veer, eam Zorro (CBN 1149)CV 752) SUGESTAO E 1. Num clima de verdadeiro didlogo, levar a cabo uma troca de opinides sobre o relacionamento familiar referenciado nas cantigas de amigo, comparando-o com 0 que se passa nos nossos dias a este respeito. 2. Elaboragdo da acta desta actividade. 3, Elaboracdo de um pequeno cédigo dos direitos da mulher. 4, Encontrar correspondéncias entre os poemas medievais ¢ 0 HORIZONTE CULTURAL Os condicionalismos hist6ricos ditaram a ida dos homens para o fossado, para a guerra contra 0s mouros, Era um dever sagrado acompankar el-rei no combate contra o inimigo. Ora, na auséncia do marido, 6 a mulher que assume todas as responsabilidades da casa: pode vender e comprar, tem de vigiar 08 comportamentos das filhas, ete. Quando o marido voltar, cumpre-Ihe prestar contas de tudo. Por isso, a mulher assume, na época do lirismo trovadoresco, direitos e deveres da maior importincia. ‘O seu papel em relagio as filhas, e é este que agora nos interessa, 6 antes de mais o de uma vi activa, dadas os perigos que rodeavam as filhas. Geram-se, por vezes, conflitos entre mies e filhas, quer porque © namorado nio agrada & mie, quer porque esta gostaria de escolher 0 mamorado. Assiste-se, fentio, a um jogo interessante de ticticas, quer da parte da mae para desviar a filha, quer da parte da filha para iludir a mie. ‘Noutros casos, a mae condescendente e mesmo medianeira dos amores das filhas. Aceita © namoro, mas tem o cuidado de advertir a filba: esta corre perigos, no pode ir muito Tonge. Quando o pai voltar, quer saber o que se passox. Mas, como era de esperar, por vezes, os consethos maternals nao impediam as filhas de se entregarem aos namorados, Af a mie ralha, aflita, com a filha e mostra-se zangada, F, se no houver nada a fazer, entio aconsetha a filha a nfo deixar o amigo e a procuré-lo nos lugares habituais. ‘Noutras cireunstincias, a mie é a confidente das filhas. Quem melhor do que a mie compreende 0 {que vai no coragao da filha? Quem melhor do que a mie sabe 0 que € a coita de amor? uando a filha nao confia na sua mie, tem & mao outras hipéteses: a irmé mais nova que Ihe deve obediéncla, a amiga ou a vizinha, A missio da confidente € levar ¢ trazer recados (mandados), coneiliar namorados desavindos, aconselhar a tomada de decisées e justificar atitudes. Nao faltam também casos em que a confidente acaba por querer roubar o namorado. ; ‘Enfim, é todo o universo femninino que palpita nas cantigas de amigo, nos seus episédios alegres ¢ nos pequenos dramas da vicissitude humana, & um universo feminino que nos mostra toda a escala amorosa, rnos seus variados cambiantes. E é este encanto de realismo feminino que fascina o leitor actual, Al poesia popular ainda conserva esses mesmos comportamentas, como se pode ver nestas quadrast 1 2 Nao me deixa namorar, ‘também namorou. ‘Minha mie ji se no letnbra Do tempo que ja passou. 6 Laurinda, 6 Lautindinha, ‘Tua mie ‘sté-te a chamat. — Fu bem sei o que ela quer: Nao me deixa namorar ——eVV~~Kx Dizia la fremosinha: eRe BioGRSFICO 1. Afonso Sanches nasceu em 1289 € more ai, Deus, val!" CComstoudamor frida! 1899 bs Se. is ai, Deus, val! star. 0ET1¢0 Dizia la bem tathada; "ERFIL POETIC ai, Deus, val Catv oh ts eros nde ve ma de omestou amor citaa! uma pies os ‘papi D. Dini nb por ele grande 1, Deus, o Com’estou d’amor ferida! ai, Deus, val! Nom yem o que bem queria! ai, Deus, val! Com’estou d’amor coitada! ai, Deus, val! = Nom vem que muit’amavat ai, Deus, val! 1. Afonso Sanches (CBN 7B4/CV 368) T= valeome J. Construir 0 campo lexical da saudade com termos presentes nos textos subordinadas a este tema 2. © mar foi um factor importante para a modelacdo da nossa personalidade, DL. Procurar neste manual textos que se refiram ao mar 2.2. Procurar outros textos sobre o mar 3. Fazer uma exposicdo desies textos na Escola. 244. Publicagdo dos methores no jornal da Escola ou da locatidade morfossintéctica e semiintica do poema «Ai flores, ai flores de verde pino» 3. Fazer a anélise fénica, 4. Analisar, em pequenos grupos, 0 HORIZONTE CULTURAL ‘Como jf se afirmou, os condicionalismos politicos determinaram namorados, provocando uma imensa saudade no coragio das amigas que por eles esperavam cheias de inquietagio, Maria Arminda Zatuar Nunes, in op. ct, p. 89, afirma: «As saudades provocadas pela ausén~ cia trazem consigo grande inquietacio e desejo ardente de um breve regresso do bem-amado, Dessa inquietagio a apaixonada faz confidéncia & mie, as amigns e & propria natureza. Em bem conhecidas e lin- das cantigas de amigo da autoria de D. Dinis ¢ de outros trovadores, as enamoradas dialogam acerca dos jino», «um papagaio mui fremoso», ou dirigem-se as «ondas do mar ‘da popular da nossa época, ouvem-se recomendagoes dirigidas branca» e as «flores», pedindo-thes intervencio em colhidas como discretas confidentes de magoados a auséncia mais ou menos longa dos seus amores com as «flores do verde de Vigo». Nas cantigas entoadas pela cama‘ 0 «Papagaio louro, / De bico dourade>, a ‘pundfocs Amorots Tp. 224 Almeida Garrett (1799-1854) inicia o seu famoso poema Camdes (1825) desta mane «Saudade! gosto amargo de infelizes, Delicioso pungir de acerbo espinho, Que me estds repassando o intimo peito Com dor que os seios d’alma dilacera, = Mas dor que tem prazcres ~ Saudade! “Misterioso mimen que aviventas Coragées que estalaram, € gotejam ‘Nilo j sangue de vida, mas delgado Soro de estanques légrimas ~ Saudade!» ‘Teixeira de Pascoaes (1879/1952) propée o renascimento nacional na base da revelagao da identidade profunda da alma portuguesa com a saudade, Afirma que «A Saudade é 0 proprio sangue espiritual da raga; o seu estigma divino, 0 seu perfil eterno.» in Revista «A Aguia» ‘Além da ausénela e do amor, cremos poder acrescentar que o mar ter contribuido poderosamente para moldar a alma portuguesa. Espaco através do qual os portugueses demandaram novos mundos, voz permanente que os chama para a aventura e para o sonho, 0 mar af esta, inquieto, infinito, pai de alegrias ¢ tristezas, Fernando Pessoa (1888-1935) acentuou 0 lado saudoso do mar no extraordinério poema Mar Portugués: «O mat salgado, quanto do teu sal ‘So kigrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mies choraram, Quantos filhos em vao rezaram! Quantas noivas ficaram por casar ara que fosses nosso, 6 mar!» Reportando-nos as cantigas de amigo, podemos, para concluir, apresentar as palavras de Segismando Spina in op. cit.: «Um suave saudosismo, com aquelas notas psicolégicas que caracterizam a saudade ‘galego-portuguesa, impregna os cantares d’amigo de calor humano, eonfirmando-Ihes uma autenti {que nos cantares damor € menos evidente. (...) Cringdes nacionais, sem correspondentes em outras turas, as barcarolas exprimem todo 0 encanto, a experiéncia de um povo criado & beira-mar», st ar % 1.2. classificar as cantigas quanto d forma e quanto a temética; 1.3, encontrar nas cantigas de amigo palavras efou expressdes que traduzem os sentimentos da amiga 'E CULTURAL, «

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