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UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DO PARÁ

INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO


PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM LETRAS
DISCIPLINA: LÍNGUA, GRAMÁTICA E VARIAÇÃO

SOBRE GRAMÁTICA

PERGUNTAS AUTORES
MARCOS BAGNO ATALIBA DE CASTILHO MARIA HELENA DE M. NEVES
A gramática de uma “A gramática é o sistema Gramática é um sistema
língua é sempre emergente, linguístico constituído de parcialmente autônomo e
nunca está pronta e acabada, estruturas cristalizadas ou em parcialmente adaptável, uma vez
porque seus elementos processo de cristalização, que suscetível às pressões de uso,
(fonéticos, morfológicos, dispostas em três subsistemas: (I) por constituir uma estrutura
sintáticos, semânticos, lexicais) a fonologia, que trata do quadro cognitiva. De acordo com o
sofrem constantes e de vogais e consoantes, sua pensamento da autora, a
ininterruptos processamentos distribuição na estrutura silábica, gramática é um sistema de
cognitivos da parte dos falantes. além da prosódia; (II) a princípios que organiza os
Essas operações cognitivos- morfologia, que trata da enunciados e é através desse
sociais (abdução, reanálise, estrutura da palavra, e (III) a sistema que os falantes de uma
O que é gramática metaforização, metonimização, sintaxe, que trata das estruturas determinada língua se
generalizações, restrições etc.) sintagmática e funcional da comunicam nas diversas
combinadas aos processos sócio- sentença”. (p.138) situações de uso.
cognitivos, também “A gramática de uma língua
ininterruptos, de variação, “abriga regras categóricas, e
mudança e contato linguístico regras variáveis, em que se pode
impedem a descrição definitiva escolher mais de uma
da gramática de uma língua. alternativa”. Como exemplo de
Assim sendo, toda descrição é regras categóricas, temos, no
sempre provisória. As categorias, português, a obrigatoriedade de
as unidades descritivas, as antepor o artigo ao substantivo.
classes gramaticais etc. não são Nas regras variáveis, a
estáveis e passam o tempo todo anteposição ou a posposição do
por processos de sujeito e do objeto direto em
gramaticalização (p. 76- 77). relação ao verbo” (CASTILHO,
2010. p.46),
→ [...], a gramática não é*, a
gramática está – está se
desfazendo e se refazendo a
todo momento. Por isso, o
estudo e o eventual ensino da
gramática têm de ser feitos com
a consciência desse dinamismo
da língua, da provisoriedade –
sempre válida – de qualquer
tentativa de apreendê-la e
analisá-la (p. 504).
→ O escasso e precioso tempo “Ensinar gramática é, na Ensinar gramática está
que se passa na escola não pode perspectiva de Castilho (2010), relacionado a conduzir o aluno à
ser desperdiçado com tanta coisa mostrar ao aluno como as reflexão do funcionamento da
inútil, irrelevante e, como se não palavras se estruturam em uma língua. Consoante indica a
bastasse, repleta de frase, em um texto, em uma autora, o falante ao produzir seu
inconsistências teóricas, de erros conversação. Perpassa o simples discurso, o qual contém
puros e simples, de absurdos decorar de regras gramaticais, gramática, produz,
metodológicos (p. 23). para levar o aluno à reflexão, a concomitantemente a ele, um
→ *[...]. A educação em língua compreender os sentidos, os sentido ligado ao contexto em
materna não é sinônimo de um usos, o fazer-se da língua que está circunscrito. Sendo
O que é ensinar gramática ensino exclusivo de uma única naturalmente, na interação assim, para a autora, ensinar
modalidade de emprego da espontânea com o outro”. gramática é fazer o aluno refletir
língua, muito menos de uma sobre o que ela chama de
modalidade obsoleta e anti- Ensinar gramática, segundo “cálculo de sentido”, ou seja,
intuitiva. Educar em língua Castilho, é demonstrar um leque consiste numa relação
materna é permitir o acesso dos de possibilidades linguísticas, é pragmática para saber se o
aprendizes ao maior número mostrar as variedades que uma enunciado escolhido pelo falante
possível de modalidades faladas língua apresenta, o quanto ela surtirá o efeito desejado dentro
e escritas de sua língua, diverge, seja pelo tempo daquela situação de interação, a
modalidades que só se realizam percorrido, seja pelas fim de que ele faça isto de forma
empiricamente, concretamente, particularidades de seus consciente.
na forma de gêneros textuais (p. usuários”.
31).
→ É um crime pedagógico “Documentar, descrever e
esconder a realidade da língua historiar a variedade brasileira do
aos que procuram a escola português”, segundo o autor, são
precisamente para conhecer as condições mínimas para um
essa realidade! (p. 32). ensino atual e renovado”.
(CASTILHO, 2010, p.105)
Um ensino honesto deve
esclarecer o aluno sobre os usos
reais da língua, e não confundir
esse aluno com inverdades
baseadas exclusivamente no
respeito (irracional) aos dogmas
(p.569).
→ [...], numa sociedade como a Para Ataliba Teixeira de Castilho Para o aluno conhecer e
brasileira, tradicionalmente (2010, p.32) “o objetivo das boas reconhecer que a gramática é a
excludente e discriminadora, é gramáticas é desvelar o responsável pelo entrelaçamento
fundamental que a escola conhecimento linguístico discursivo-textual nas relações
possibilite a seus aprendizes o armazenado na mente dos sociocomunicativas.
acesso ao espectro mais amplo falantes, desde o cidadão
possível de modos de expressão, analfabeto até o escritor
a começar pelo domínio da laureado”, e isso em si já
escrita e da leitura, direito responde porque precisamos
inalienável de qualquer pessoa ensinar gramática para um
que viva num país republicano e falante nativo de uma língua.
democrático. A leitura e a escrita,
o letramento enfim, abrem as “Alfabetização assegura o
portas de incontáveis mundos domínio do código escrito, e a
discursivos, aos quais os leitura permite o aproveitamento
Para que ensinar gramática aprendizes só vão ter acesso por do que a sociedade produz nesse
meio da escolarização código” (CASTILHO, 2010, p.101).
institucionalizada.
De acordo Castilho (2010, p.102),
Por conseguinte, não basta ter o “Parece evidente que os cidadãos
que dizer. É preciso saber dizer o ainda não foram suficientemente
que se tem a dizer: saber usar os expostos a um novo modo de
múltiplos recursos que a língua refletir sobre a língua”, devido à
oferece para a interação social. E tradição gramatical ainda ser
isso é função imprescindível da muito presente no ensino.
escola: ensinar a dizer (p. 76). Segundo o autor, “enquanto não
conhecermos em profundidade
→ [...] o objetivo primordial da nossa língua, continuaremos a
escola é levar os aprendizes a se
apoderar daquilo que não repetir lições que refletem usos
conhecem – essencialmente a já desaparecidos, provenientes
leitura e a escrita e, mais de outros momentos históricos
especificamente, as convenções da sociedade brasileira”.
que governam a produção dos (CASTILHO, 2010, p.105).
GTM.
[...] o objetivo da educação
linguística não é formar grandes
escritores, mas sim cidadãos
usuários competentes da língua
escrita para fins sociais, culturais,
profissionais (p. 499)
→ Além da leitura e da escrita, “Em 1999, o Governo Federal A partir do uso e, partindo dele,
também tem espaço em sala de editou os Parâmetros levar o aluno à reflexão sobre a
aula para a reflexão sobre a Curriculares Nacionais, que língua e, por sua vez, sobre a
língua e a linguagem. Essa representaram um grande gramática. A autora defende que
reflexão deve ser feita avanço na política linguística, é necessária uma constante
primordialmente através das com sua ênfase nos usos da reflexão sobre a língua, a fim de
chamadas atividades linguagem e na valorização da que o aluno perceba as relações
epilinguísticas, aquelas que não língua falada”, (CASTILHO, 2010, dispostas no uso da linguagem,
recorrem à nomenclatura técnica p.99) através de atividades de análise
(a metalinguagem), de modo a linguística e de explicitação da
permitir o percurso É necessário associar os alunos ao gramática. É através da reflexão,
uso→reflexão→uso ... (p. 19- processo de ensino- para ela, sempre partindo do
20). aprendizagem, via uso, que o aluno começa a
→ Ler, escrever e refletir sobre a desenvolvimento de projetinhos identificar o entrelaçar que existe
língua. Essas três tarefas [...] em sala de aula, transformando a entre o discurso e o texto, que
constituem toda a missão da escola e as aulas de Português ele percebe que a gramática os
escola no que diz respeito à num lugar de debates” (Castilho, estrutura e que está imbricada às
educação em língua materna (p. 2010, p.102) escolhas dos falantes o alcance
29). semântico.
Como ensinar gramática → A frase só existe num
arcabouço maior e mais
complexo que chamamos de
texto (falado e escrito). A análise
fonético-fonológica (que cuida
dos sons da língua), a análise
morfológica (da palavra) e a
análise sintática (da frase)
continuam tendo, é claro, seu
valor para a ciência da
linguagem. No entanto, é
imprescindível ir além, ampliar o
foco de análise para englobar
nela o sujeito que fala/escreve e
o(s) interlocutor(es) real(is) ou
virtual(is) com quem ele interage
socialmente – somente assim a
compreensão do evento verbal
será possível em sua
complexidade (p. 423).
→ A observação da língua real e
contemporânea é o único
método capaz de levar um
aprendiz a se conscientizar do
que é de fato a gramática de sua
língua – uma observação que
deve ser empreendida de modo
sereno, sem preconceitos contra
o que a tradição prescritiva
insiste em chamar de “erro”.
Como repetirei diversas vezes
nessa gramática, essa observação
só pode ser feita em textos
autênticos, falados e escritos,
nos múltiplos gêneros
discursivos que circulam na
sociedade (p. 542).
Referências

BARROSO. Adriane Gomes. O ensino de gramática na perpectiva da Nova Gramática do Português Brasileiro de Ataliba Teixeira de Castilho.
Dissertação. Programa de Pós-graduação em Educação. Ufopa, Santarém-PA, 2020.

GOMES, Marlison Soares. A gramática pedagógica do português brasileiro (BAGNO, 2012) e o ensino de gramática. Dissertação. Programa de
Pós-graduação em Educação. Ufopa, Santarém-PA, 2019.

SILVA, Thaiza Oliveira da. A concepção de gramática e de ensino de gramática que emerge da obra “A Gramática do Português revelada em
textos”, Neves (2018). Dissertação. Programa de Pós-graduação em Educação. Ufopa, Santarém-PA, 2021.

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