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Cumprimento definitivo da sentença que reconhece a exigibilidade da obrigação de pagar quantia certa

O cumprimento de sentença que tem como objeto condenação de pagar quantia certa é baseado em decisão
transitada em julgado. Esse procedimento será adotado sempre que a quantia for certa, seja como consequência
direta da fase de conhecimento, seja como resultado da fixação em fase de liquidação de sentença.

Procedimento:

1. Requerimento inicial
Art. 513, §1º O cumprimento da sentença que reconhece o dever de pagar quantia, provisório ou definitivo, far-
se-á a requerimento do exequente.

O requerimento tem seus requisitos formais previstos nos incisos do art. 524 NCPC:

Art. 524. O requerimento previsto no art. 523 será instruído com demonstrativo discriminado e
atualizado do crédito, devendo a petição conter:

I - o nome completo, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro


Nacional da Pessoa Jurídica do exequente e do executado, observado o disposto no art. 319, §§ 1º a
3º ;

II - o índice de correção monetária adotado;

III - os juros aplicados e as respectivas taxas;

IV - o termo inicial e o termo final dos juros e da correção monetária utilizados;

V - a periodicidade da capitalização dos juros, se for o caso;

VI - especificação dos eventuais descontos obrigatórios realizados;

VII - indicação dos bens passíveis de penhora, sempre que possível.

O credor, por meio de simples petição deve:


a) indicar o valor já liquidado por arbitramento ou procedimento comum; ou
b) apresentar uma planilha de cálculos (se for apenas uma questão aritmética para o quantum debeatur: art.
786, §único, CPC/2015).

Art. 786, Parágrafo único. A necessidade de simples operações aritméticas para apurar o crédito
exequendo não retira a liquidez da obrigação constante do título.

 Ademais, deve indicar, se possível, os bens penhoráveis do devedor.

IMPORTANTE - Atenção para os dados da planilha de cálculo: i) o índice de correção adotado; ii) os juros
aplicados e as respectivas taxas; iii) o termo inicial e final dos juros e da correção monetária utilizados; iv) a
periodicidade de capitalização dos juros (juros simples, compostos); v) especificação dos eventuais descontos
obrigatórios.

O réu, obviamente, poderá se manifestar sobre esses cálculos.

 Aplica-se, nesse caso, o contraditório.


Naturalmente, para elaborar o memorial de cálculos o exequente deve ter em seu poder todos os dados
necessários para chegar ao valor que será indicado no requerimento inicial. Todavia, nem sempre isso ocorre.

→ É possível que os dados necessários para a elaboração dos cálculos estejam em poder do executado ou de
terceiros. Nesse caso, o §3º do art. 525 do NCPC prevê que o juiz poderá requisitá-los, sob cominação do
crime de desobediência.
§ 3º Quando a elaboração do demonstrativo depender de dados em poder de terceiros ou do executado,
o juiz poderá requisitá-los, sob cominação do crime de desobediência.

→ Ademais, quando a complementação do demonstrativo depender de dados adicionais em poder do


executado ou de terceiros, o credor pode requerer ao juiz a intimação do devedor ou terceiro em 30
dias. (art. 524, §4º, CPC/2015).
§ 4º Quando a complementação do demonstrativo depender de dados adicionais em poder do
executado, o juiz poderá, a requerimento do exequente, requisitá-los, fixando prazo de até 30 (trinta) dias
para o cumprimento da diligência.

OBS: a presente hipótese trata-se de situação distinta da do §3º. Isso, pois, trata da necessidade de
exibição de dados em juízo para a complementação dos cálculos, e não para sua elaboração,
significando dizer que, nesse caso, o exequente possui condições de instruir sua inicial com um
demonstrativo de cálculos, ainda que incompleto ou imperfeito.

Estando os dados em poder do executado, e desde que devidamente provocado pelo exequente, o
juiz fixará prazo de até 30 dias para a exibição dos dados em juízo.

IMPORTANTE: Nesta segunda hipótese, caso não haja a exibição no prazo legal, o §5º do art. 524 prevê
que os cálculos apresentados pelo exequente presumir-se-ão corretos (art. 524, §5º, CPC/ 2015), seguindo-
se a execução pelo valor apontado em sua inicial.
§ 5º Se os dados adicionais a que se refere o § 4º não forem apresentados pelo executado, sem
justificativa, no prazo designado, reputar-se-ão corretos os cálculos apresentados pelo exequente apenas
com base nos dados de que dispõe.

Obs.: É natural em virtude da imprecisão que os cálculos apresentarão nesse caso, a presunção de correção
dos cálculos apresentados só possa ser entendida como relativa, cabendo ao demandado, no momento em
que se defender - por meio de embargos ou de impugnação -, demonstrar a incorreção do valor
apresentado no cálculo apresentado pelo exequente. O interessante aqui é que, alegando excesso de
execução e sagrando-se vitorioso, o executado ainda assim será condenado a pagar os honorários
advocatícios decorrentes dos embargos ou da impugnação, na medida em que foi ele que forçou o
demandante a cobrar mais do que o devido, aplicando-se ao caso o princípio da causalidade.

O ônus financeiro com utilização de perito para a elaboração da planilha de cálculos é do credor: REsp
1.274.466/2014 (não é a mesma lógica da liquidação, na qual os honorários periciais são do devedor).

RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA. PROCESSUAL CIVIL. TELEFONIA. CONTRATO DE


PARTICIPAÇÃO FINANCEIRA. COMPLEMENTAÇÃO DE AÇÕES. LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA. HONORÁRIOS
PERICIAIS. ENCARGO DO VENCIDO. 1. Para fins do art. 543-C do CPC: (1.1) "Na liquidação por cálculos do
credor, descabe transferir do exequente para o executado o ônus do pagamento de honorários devidos
ao perito que elabora a memória de cálculos". (1.2) "Se o credor for beneficiário da gratuidade da justiça,
pode-se determinar a elaboração dos cálculos pela contadoria judicial". (1.3) "Na fase autônoma de
liquidação de sentença (por arbitramento ou por artigos), incumbe ao devedor a antecipação dos
honorários periciais". 2. Aplicação da tese 1.3 ao caso concreto. 3. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO.

(STJ - REsp: 1274466 SC 2011/0206089-7, Relator: Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, Data de
Julgamento: 14/05/2014, S2 - SEGUNDA SEÇÃO, Data de Publicação: DJe 21/05/2014)
Atenção: se o credor estiver beneficiado pela justiça gratuita, o art. 98, §1º, VII indica que os cálculos serão feitos
pela contadoria judicial.

Art. 98, § 1º A gratuidade da justiça compreende: VII - o custo com a elaboração de memória de cálculo, quando
exigida para instauração da execução;

APARENTE EXCESSO DE CÁLCULOS:

ART. 524, § 1º Quando o valor apontado no demonstrativo aparentemente exceder os limites da condenação, a
execução será iniciada pelo valor pretendido, mas a penhora terá por base a importância que o juiz entender
adequada.

Caso o juiz entenda que o valor apontado no demonstrativo de cálculos aparentemente excede os limites da
condenação, a execução seguirá pelo valor pretendido, mas a penhora terá por base o valor que o juiz entender
adequado. Para chegar a tal valor, o §2º do mesmo dispositivo permite que o juiz se valha de contabilista do juízo,
cabendo ao juiz fixar-lhe prazo para a realização do trabalho, sendo de 30 dias o prazo caso o juiz se omita em tal
indicação:

§ 2º Para a verificação dos cálculos, o juiz poderá valer-se de contabilista do juízo, que terá o prazo máximo
de 30 (trinta) dias para efetuá-la, exceto se outro lhe for determinado.

 É evidente que não se cobra do juiz uma análise minuciosa do cálculo apresentado, bastando que a
desconfiança surja de uma análise sumária, superficial. Não é exigida nesse momento uma atividade
técnica profunda do juiz a respeito das contas, mas um simples passar de olhos que se revele suficiente
para gerar desconfiança de alguma irregularidade. São, portanto, casos de erros perceptíveis prima facie,
por meio de superficial análise.

 Apesar da omissão legal, o exequente poderá concordar com o valor indicado pelo juiz como sendo o
correto, hipótese em que poderá emendar sua inicial com adequação do valor. Nesse caso, a penhora e a
execução terão o mesmo valor, não havendo qualquer especialidade procedimental.

2. Intimação do executado

 Obs.1: a intimação rege-se pelas disposições do art. 513, §2º, §3º e §4º CPC/2015.

A partir das providências iniciais do exequente, ocorre a intimação do devedor para pagar voluntariamente em 15
dias (art. 523, caput, CPC/2015).

→ Em regra, a intimação, é feita na pessoa do advogado (Súmula 517 do STJ), sendo essa regra preferencial
consagrada no §2º, I do art. 513.

Art. 513, § 2º O devedor será intimado para cumprir a sentença: I - pelo Diário da Justiça, na pessoa de
seu advogado constituído nos autos;

Súmula 517 STJ: "São devidos honorários advocatícios no cumprimento de sentença, haja ou não
impugnação, depois de escoado o prazo para pagamento voluntário, que se inicia após a intimação do
advogado da parte executada.”

Apesar de a regra ser que a intimação será feita na pessoa do advogado, o §4º prevê um prazo de 1 ano do trânsito
em julgado para que o exequente requeira o início do cumprimento de sentença, devendo ser realizada a intimação
pessoal do devedor, por meio de carta com aviso de recebimento, se a provocação ocorrer depois desse prazo.
§ 4º Se o requerimento a que alude o § 1º for formulado após 1 (um) ano do trânsito em julgado da sentença, a
intimação será feita na pessoa do devedor, por meio de carta com aviso de recebimento encaminhada ao
endereço constante dos autos, observado o disposto no parágrafo único do art. 274 e no § 3º deste artigo.

Se o devedor não possuir advogado constituído, a intimação será pessoal. Se estiver assistido pela DP, a intimação
também será pessoal (Em regra, DP não recebe intimação para o cumprimento de sentença de seus assistidos).

→ Segundo o inciso II do §2º do art. 513, a intimação será pessoal, por carta com AR, na hipótese de o
executado não ter advogado constituído nos autos, ou ter sido apresentado pela Defensoria Pública.

§ 2º O devedor será intimado para cumprir a sentença:

II - por carta com aviso de recebimento, quando representado pela Defensoria Pública ou
quando não tiver procurador constituído nos autos, ressalvada a hipótese do inciso IV;

Obs.: intimação da PJ (Pessoa Jurídica): pode ser na pessoa do advogado ou na forma do art. 246, §1º, se não houver
advogado constituído (ônus de cadastramento de PJs (com exceção de ME e EPP no PJe.): Lei no 11.419/2006.

→ Portanto, a ausência de advogado não acarreta, necessariamente, a intimação por carta com AR, e pode
ser realizada, nos termos do inc. II do art. 513, por meio eletrônico, segundo o art. 246, §1º do NCPC.

§ 2º O devedor será intimado para cumprir a sentença:

III - por meio eletrônico, quando, no caso do § 1º do art. 246 , não tiver procurador
constituído nos autos

Art. 246, § 1º As empresas públicas e privadas são obrigadas a manter cadastro nos sistemas de
processo em autos eletrônicos, para efeito de recebimento de citações e intimações, as quais serão
efetuadas preferencialmente por esse meio

Importante: como cabe ao executado manter nos autos seu endereço atualizado, considera-se intimado sempre que
não informar a mudança de endereço (art. 513, § 3°, CPC).

§ 3º Na hipótese do § 2º, incisos II e III, considera-se realizada a intimação quando o


devedor houver mudado de endereço sem prévia comunicação ao juízo, observado o disposto
no parágrafo único do art. 274.

A intimação será feita por edital se o réu foi citado por edital na fase de conhecimento e não apresentou defesa.
Atente-se que o réu está assistido pela curadoria especial (art. 72, II, CPC/2015). O curador especial será intimado
para o exercício do contraditório.

§ 2º O devedor será intimado para cumprir a sentença: IV - por edital, quando, citado na
forma do art. 256 , tiver sido revel na fase de conhecimento.

→ Portanto, o presente dispositivo prevê que a intimação será feita por edital quando o executado tiver sido
citado por edital na fase de conhecimento, e não apresenta defesa. Aqui, o réu e assistido pela curadoria
especial, o qual deverá ser intimado para exercer o contraditório.
3. Cumprimento da obrigação (execução invertida)
A intimação tratada acima é realizada para fins do pagamento voluntário no prazo de 15 dias.

Art. 523. No caso de condenação em quantia certa, ou já fixada em liquidação, e no caso de decisão sobre parcela
incontroversa, o cumprimento definitivo da sentença far-se-á a requerimento do exequente, sendo o executado
intimado para pagar o débito, no prazo de 15 (quinze) dias, acrescido de custas, se houver.

→ Obs.: REsp 1.708.348/RJ (há prazo para pagamento em dobro se o réu é assistido pela DP ou se são
litisconsortes com procuradores diferentes (art. 229, CPC/2015).
Art. 229. Os litisconsortes que tiverem diferentes procuradores, de escritórios de advocacia distintos,
terão prazos contados em dobro para todas as suas manifestações, em qualquer juízo ou tribunal,
independentemente de requerimento.

Todavia, mesmo antes de ser intimado para o pagamento em 15 dias, o devedor pode satisfazer espontaneamente a
obrigação de pagar quantia certa.

→ O tratamento legal do cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de pagar


certa encontra-se previsto no art. 526 do Novo CPC, que prevê a forma procedimental para a remição da
dívida exequenda:

Art. 526. É lícito ao réu, antes de ser intimado para o cumprimento da sentença, comparecer em
juízo e oferecer em pagamento o valor que entender devido, apresentando memória discriminada do
cálculo.

§ 1º O autor será ouvido no prazo de 5 (cinco) dias, podendo impugnar o valor depositado,
sem prejuízo do levantamento do depósito a título de parcela incontroversa.

§ 2º Concluindo o juiz pela insuficiência do depósito, sobre a diferença incidirão multa de dez
por cento e honorários advocatícios, também fixados em dez por cento, seguindo-se a
execução com penhora e atos subsequentes.

§ 3º Se o autor não se opuser, o juiz declarará satisfeita a obrigação e extinguirá o processo.

Aqui a gente fala que esse pagamento (caput do artigo 526) não é o voluntário, mas sim o espontâneo
(que, por incrível que pareça, é diferente do voluntário). O pagamento voluntário se dá dentro dos quinze dias
depois que o executado foi intimado. Enquanto isso, o pagamento espontâneo é aquele em que o executado,
prolatada a decisão, ainda sem intimação (uma vez que a outra parte ainda nem iniciou o cumprimento de
sentença), comparece em juízo com a sua planilha de cálculos – a planilha de cálculos é feita pelo executado
(atualização do tempo da prolação e do pagamento) que, por sua vez, comparece em juízo e fala “estou
depositando esse valor”, que é o valor para finalizar a execução. Essa é a chamada execução invertida.

Houve só uma decisão líquida (o Código fala sentença, mas basta a decisão, porque a gente sabe que
decisão interlocutória também é cumprida). Entretanto o executado, se adiantando, comparece em juízo com a
sua memória de cálculo (a sua planilha) e faz o pagamento atualizado um mês depois, por exemplo, ainda que
não esteja iniciado o cumprimento de sentença. Nesse caso aqui a gente fala que houve pagamento
espontâneo. Conforme dito não houve, ainda, o início do cumprimento do cumprimento de sentença (pode
até já ter havido o requerimento, mas ainda não houve intimação). O devedor (ainda nem é executado) ainda
não foi intimado e, portanto, o prazo para o pagamento voluntário ainda não está correndo.
LEVANTAMENTO DO VALOR INCONTROVERSO E IMPUGNAÇÃO DO RESIDUAL NO PAGAMENTO
ESPONTÂNEO:

 Apresentação da memória de cálculo, pelo executado, com o pagamento, ainda que sem o
cumprimento de sentença -> levantamento do valor incontroverso e uma impugnação referente ao
valor residual -> cabe ao juiz decidir.

O autor pode simplesmente aceitar tal pagamento espontâneo e, assim, é finda aquela demanda.
Contudo, ele (o autor) também pode levantar o pagamento incontroverso (porque o valor dado em sede
de pagamento espontâneo é incontroverso) e impugnar pelo residual – mas lembrando que aqui não se fala
de cumprimento, mas sim que o autor apresentou uma petição impugnou que aquele pagamento não está
correto (não começou o cumprimento ainda). Ou seja, o autor impugnou o valor depositado, sem prejuízo
do levantamento do depósito a título de parcela incontroversa.

A partir dessa impugnação o juiz vai ter que decidir, até porque se formou um contraditório.

Se a decisão do juiz for de procedência ao credor (aqui não está se usando a nomeação exequente porque ele
não é exequente ainda, uma vez que não começou o cumprimento de sentença), isto é, concluindo o juiz sobre a
insuficiência do depósito, sobre a diferença incidirão multa de 10% e honorários advocatícios, também fixados em
10%, seguindo-se a execução com penhora e atos subsequentes.

Sem cumprimento de sentença (porque não existe essa fase ainda), o devedor chegou e pagou, apresentando sua
memória de cálculo. O credor, por sua vez, levantou grande parte do principal e, além disso, impugnou pelo residual.
O juiz, então, decidiu que esse residual realmente existe. A partir do momento que esse residual vale, vai ser aplicada
a multa do artigo 523, §1º do CPC (isso segundo o artigo 526, §2º).

Tem razão de ser a aplicação da multa do artigo 523, §1º, sem ter cumprimento de sentença? Está nítido que o
executado apareceu, espontaneamente, para pagar o débito, com a sua memória de cálculo. O valor, contudo, foi
impugnado e, assim, o juiz decidiu a favor do credor. A partir disso, o juiz já aplica a multa do artigo 523, §1º? Como
regra, entendemos que o artigo 523, §1º, teria que ser aplicado só depois do escoamento do prazo para o pagamento
voluntário. O artigo 526, §2º, portanto, faz uma disposição equivocada – apesar de existir tal disposição, se houve,
realmente, uma decisão sobre a improcedência do valor pago espontaneamente, é preciso que haja a intimação do
devedor para pagar o residual em quinze dias (aplicando-se, assim, analogicamente o caput do artigo 523, que diz: “no
caso de condenação em quantia certa, ou já fixada em liquidação, e no caso de decisão sobre parcela incontroversa, o
cumprimento definitivo da sentença far-se-á a requerimento do exequente, sendo o executado intimado para pagar o
débito, no prazo de 15 (quinze) dias, acrescido de custas, se houver”). Pensando corretamente, depois desses quinze
dias é que poderá ser aplicado o artigo 523, §1º do CPC.
A multa do artigo 523, §1º tem a mesma natureza da multa do artigo 526, §2º (é a mesma coisa), só que ela só
pode ser aplicada após o escoamento do prazo para pagamento voluntário. Nesse caso em questão, contudo, não teve
pagamento voluntário, mas sim pagamento espontâneo. O devedor espontâneo quer contribuir com o juízo, ao passo
que ele teve uma decisão contra ele e, por si só, se apresentou sem ser provocado – ele se apresentou, de boa
vontade para/com o juízo, para pagar – ele também gastou dinheiro na realização de uma memória de cálculo que
visaria a apresentação do valor devido, atualizado e, além disso, tal devedor pagou. Diante disso, não faz sentido a
aplicação de uma sanção mais grave (uma vez que não se espera o prazo de quinze dias para o pagamento voluntário)
para a pessoa que contribuiu com o juízo, do que para a pessoa que não contribuiu (não realizou o pagamento
voluntário). É ilógico como que o projeto do CPC poderia vir a pensar e propor uma coisa dessas – que o juiz poderia
aplicar a multa referida no artigo 526, §2º, antes de abrir prazo para o devedor pagar o valor residual. O pagamento do
valor residual merecia um prazo para pagamento voluntário. Considerando essa disposição em comento, o Código está
tratando mais rigidamente quem coopera com ele do que quem não coopera.

Observação: no ato do pagamento espontâneo, fato é que o cumprimento de sentença ainda não começou.
Assim, é como se o devedor tivesse aberto um incidente processual para pagamento em juízo. Então ele apresentou,
simplesmente, uma memória de cálculo em juízo (por meio do PJE ou no físico) e fez o depósito para encerrar. O juízo,
estando tudo certo, não precisaria fazer mais nada. Contudo, embora ainda não tenha começado o cumprimento de
sentença, deve-se abrir vista para a outra parte (credor) com o objetivo da quitação, já que isso não foi feito
extraprocessualmente. Se a outra parte der quitação está perfeito, significando que não teve nem cumprimento de
sentença – ou seja, a questão do pagamento foi resolvida dentro do juízo, mas sem necessidade de proferimento de
nenhuma decisão (o juízo se incumbe, nessa hipótese, de apenas abrir vista). Todavia, se a parte autora não der
quitação se tem um problema, pois evidencia que ela vai impugnar, isto é, vai apresentar uma simples petição
impugnando no sentido, por exemplo, de que o valor depositado é inferior ao devido. Caberá ao juiz, portanto, decidir
pela primeira vez, mas sem cumprimento.

Temos, então, que o artigo 526, §2º, estabelece a multa do artigo 523, §1º, sem a concessão do prazo para
pagamento voluntário (prazo esse que tem início com a intimação do executado). Ou seja, se não houve, ainda, a
intimação do executado para o pagamento voluntário, essa multa poderá ser aplicada somente com o escoamento dos
quinze dias úteis para que o executado pague o residual. O executado tem que ser intimado para pagar o residual, de
modo que apenas com a ausência de pagamento do residual é que a multa vai incidir, lembrando que ela vai incidir
sobre, apenas, o valor residual (no valor que já foi pago não tem qualquer incidência), até porque já vimos
jurisprudência no sentido de que a multa só incide sobre o valor não pago, no que diz respeito ao valor pago ela não
incide.

Resumo:

Art. 526, CPC: Execução Invertida: Anteriormente à intimação do art. 523, CPC/2015: comparecimento espontâneo e
realização do depósito do valor que entende correto. Intimação do credor para manifestação em cinco dias (se houver
aquiescência, a execução se extingue). Obs.: Entretanto, o credor pode discordar do valor, sem prejuízo do direito de
levantamento do valor já depositado. O Juízo, inclusive, pode designar perícia antes do proferimento de decisão. Caso
a decisão seja por insuficiência do valor depositado, a multa e os honorários incidirão apenas sobre a diferença.
Atenção: a literatura entende que se decidido pela insuficiência, deveria abrir-se prazo para pagamento voluntário
anteriormente à aplicação da multa.

4. Não pagamento no prazo de 15 dias


Caso o executado não satisfaça a obrigação no prazo de 15 dias (caso de inobservância do pagamento voluntário),
serão geradas algumas consequências desfavoráveis a ele, além de ser, automaticamente, sem necessidade de nova
intimação, iniciada a contagem do prazo de 15 dias para apresentar sua impugnação.

a) Multa de 10% sobre o valor da execução.

Art. 523, §1º Não ocorrendo pagamento voluntário no prazo do caput, o débito será acrescido de multa de dez
por cento e, também, de honorários de advogado de dez por cento.

Segundo previsão do presente dispositivo, apenas o pagamento da condenação evita a aplicação da multa, de
forma que o mero oferecimento de bens a penhora, ainda que seja em dinheiro, não evita o acréscimo de 10% no
valor da condenação.

 Não há como confundir o pagamento (satisfação) com a penhora (garantia do juízo). Ou seja, o depósito
que afasta a aplicação da multa é somente aquele para fins de quitação, e não para garantia do juízo
(REsp 1.834.337/2019).

IMPORTANTE: (REsp 1.205.228/2013): a multa incide mesmo se o pagamento, embora voluntário, for
intempestivo. Ou seja, não basta que o pagamento seja voluntário, porque o que interessa para o valor da multa
ser direito material do exequente é seu pagamento dentro do prazo legal. Sendo assim, mesmo que realize o
pagamento voluntariamente, se o fizer fora do prazo, incidirá a multa.
Além disso, aduz o art. 523, 2º que, sendo realizado o pagamento parcial, a multa incidirá sobre o restante do
valor, bem como a fixação de 10% de honorários advocatícios.

Art. 523, §2º Efetuado o pagamento parcial no prazo previsto no caput, a multa e os honorários previstos
no §1º incidirão sobre o restante.

b) Honorários de 10%

Art. 523, §1º Não ocorrendo pagamento voluntário no prazo do caput, o débito será acrescido de multa de dez
por cento e, também, de honorários de advogado de dez por cento.

O art. 523, §1º do NCPC consagra definitivamente o cabimento de fixação de honorários advocatícios (em 10% do
valor exequendo) em sede de cumprimento de sentença, apenas condicionando sua incidência ao não pagamento
do débito exequendo no prazo de 15 dias contado da intimação do executado.

 Ou seja, o pagamento voluntário compreende o ato de apagar após a intimação, no prazo de 15 dias, de
modo que são devidos os honorários advocatícios somente após esse momento.

OBS: sendo fixados tais honorários, o exequente não farpa jus a tal condenação na hipótese de sagrar-se
vitorioso na impugnação, em entendimento posteriormente consagrado na Súmula 519 do STJ. Uma vez
julgada procedente a impugnação, os honorários previamente fixados no cumprimento de sentença são
anulados e fixados novos honorários em favor do executado-impugnante.

OBS 2: para o STJ, a multa prevista no art. 523, §1º do CPC não deve integrar o cálculo dos honorários
advocatícios na fase executiva do cumprimento de sentença quando os critérios utilizados para a fixação
do valor dos honorários não tiverem como base o valor da condenação. Mesmo que haja tal vinculação, a
multa não deve ser considerada por parte da condenação que se executa em sede de cumprimento de
sentença.

Importante: possibilidade de cumular com a multa de atos atentatórios à dignidade da justiça.


Art. 77. Além de outros previstos neste Código, são deveres das partes, de seus procuradores e de todos aqueles
que de qualquer forma participem do processo:
IV - cumprir com exatidão as decisões jurisdicionais, de natureza provisória ou final, e não criar embaraços à sua
efetivação.
§1º Nas hipóteses dos incisos IV e VI, o juiz advertirá qualquer das pessoas mencionadas no caput de que sua
conduta poderá ser punida como ato atentatório à dignidade da justiça.

§2º A violação ao disposto nos incisos IV e VI constitui ato atentatório à dignidade da justiça, devendo o juiz,
sem prejuízo das sanções criminais, civis e processuais cabíveis, aplicar ao responsável multa de até vinte por cento
do valor da causa, de acordo com a gravidade da conduta.

→ Ou seja, além do acréscimo de 10% sobre o valor principal e sobre o honorário dos advogados, o juiz
ainda vai te imputar nisso.

5. Possibilidade do protesto da decisão judicial (cumprimento definitivo): art. 517, CPC/2015.

Nos termos do art. 517, caput, do Novo CPC, a decisão judicial transitada em julgado poderá ser levada a protesto, nos
termos da lei, depois de transcorrido o prazo para pagamento voluntário previsto no art. 523. Trata-se de medida
executiva indireta, ou seja, uma forma de pressionar psicologicamente o executado a cumprir a obrigação por meio da
ameaça de sua situação ser piorada caso não satisfaça a obrigação no prazo de 15 dias
Art. 517. A decisão judicial transitada em julgado poderá ser levada a protesto, nos termos da lei, depois de
transcorrido o prazo para pagamento voluntário previsto no art. 523.

OBS: Como nós já estamos no cumprimento definitivo e não mais no cumprimento provisório, obviamente que o
protesto também é outra medida típica e coercitiva, que pode ser aplicada a partir do descumprimento desse
pagamento.

Para efetivar o protesto, o § 1º prevê que incumbe ao exequente apresentar certidão de teor da decisão, que
segundo o § 2º deverá ser fornecida no prazo de três dias e indicará o nome e a qualificação do exequente e do
executado, o número do processo, o valor da dívida e a data de decurso do prazo para pagamento voluntário.

§ 1º Para efetivar o protesto, incumbe ao exequente apresentar certidão de teor da decisão.

§ 2º A certidão de teor da decisão deverá ser fornecida no prazo de 3 (três) dias e indicará o nome e a
qualificação do exequente e do executado, o número do processo, o valor da dívida e a data de decurso
do prazo para pagamento voluntário.

→ Portanto, a certidão de teor tem de ser fornecida pelo cartório em até três dias (traz o nome das
partes, o número do processo, o dia que expirou o prazo para pagamento) (art. 517, §2º, CPC/2015): é
uma medida coercitiva típica.

OBS: Atenção que é necessário o trânsito em julgado da decisão e o transcurso do prazo para
pagamento.

Segundo o § 3º do art. 517 do Novo CPC, o executado que tiver proposto ação rescisória para impugnar a
decisão exequenda pode requerer, às suas expensas e sob sua responsabilidade, a anotação da propositura da
ação à margem do título protestado.

§ 3º O executado que tiver proposto ação rescisória para impugnar a decisão exequenda
pode requerer, a suas expensas e sob sua responsabilidade, a anotação da propositura da
ação à margem do título protestado.

→ Portanto, se o devedor ajuizar ação rescisória, ele poderá requerer uma anotação da existência dessa
ação à margem do protesto. (decisão sub judice).

E o §4º do mesmo dispositivo indica que, a requerimento do executado, o protesto será cancelado por
determinação do juiz, mediante ofício a ser expedido ao cartório no prazo de três dias, contato da data de
protocolo do requerimento, desde que comprovada a satisfação integral da obrigação. Também deve ser cancelado
se o juiz entender ter havido alguma irregularidade em sua realização. Entendo tratar-se de burocracia dispensável,
porque o devedor consegue levantar protesto provando o pagamento de dívida não posta em juízo e assim
também deveria ser no caso ora analisado.

§ 4º A requerimento do executado, o protesto será cancelado por determinação do juiz,


mediante ofício a ser expedido ao cartório, no prazo de 3 (três) dias, contado da data de
protocolo do requerimento, desde que comprovada a satisfação integral da obrigação.

6. Inclusão do nome do executado em cadastros de inadimplentes


Nos termos do disposto no § 5º do art. 782 do Novo CPC, o disposto nos §§ 3º e 4º aplica-se à execução definitiva
de título judicial. Como se nota, a inclusão do nome do executado por cumprimento de sentença poderá, desde que
a execução seja definitiva, ser incluído em cadastro de inadimplentes.
Art. 782. §3º A requerimento da parte, o juiz pode determinar a inclusão do nome do executado em cadastros
de inadimplentes.
7. Expedição do mandado de penhora e avaliação
Outra consequência da falta de pagamento é a expedição, desde logo, de mandado de penhora e avaliação. (art.
523, §3º, CPC/ 2015). Nos termos do § 3° do art. 523 do Novo CPC, não sendo efetuado o pagamento prazo de 15 dias
da intimação do executado será expedido, desde logo, o mandado de penhora e avaliação, seguindo-se os atos de
expropriação.

§3º Não efetuado tempestivamente o pagamento voluntário, será expedido, desde logo, mandado de
penhora e avaliação, seguindo-se os atos de expropriação.

→ A norma se justifica porque antes de decorrido o prazo para pagamento voluntário não se justifica a
prática de atos executivos, mas é preciso registrar que nem sempre será necessária a expedição de
mandado de penhora e avaliação. É possível que o exequente requeira, por exemplo, a penhora de
dinheiro on-line (BacenJud), cabendo ao próprio juiz providenciar a constrição judicial. A expedição de
mandado de penhora e de avaliação, portanto, só se justifica quando houver a necessidade de atuação de
oficial de justiça no ato de constrição.

Portanto, a partir do momento em que não ocorre o pagamento voluntário, pelo art. 523, §3º será
aplicada medida sub-rogatória, expedindo, desde logo, mandado de penhora e avaliação.

Importante: O executado, ainda, está sujeito a outras medidas coercitivas atípicas, em acordo com o art. 139, IV,
CPC/2015: HC 597.069. (sopesar com o art. 8º do CPC/2015).
Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe: IV - determinar todas
as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento
de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária;

Art. 8º Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum,
resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade,
a legalidade, a publicidade e a eficiência.

→ Claro que em relação às medidas típicas e atípicas, especialmente as atípicas (pelo art. 139, IV), nós temos
inúmeras decisões depois de cinco anos e meio do CPC que, algumas vezes, vão contra o que está nos
manuais. Devido a isso, inclusive, que é importante que sigamos a jurisprudência do STJ.
Exemplo: existem decisões muito interessantes (no sentido de pensar e criticar o processo) de juízos que proíbem
que o devedor/executado faça concurso público, por medida atípica. Existem, também, decisões de juízos que
impedem o condômino de frequentar as áreas comuns do condomínio edilício ou de usar o elevador, também como
medida atípica. São questões que precisam ser discutidas e, assim, temos que procurar, no STJ, o que já chegou lá para
que a gente entenda um pouco do que está acontecendo com o CPC. O artigo 139 não é um cheque em branco.

HABEAS CORPUS. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL (ALUGUÉIS). MEDIDAS
EXECUTIVAS ATÍPICAS. ART. 139, IV, DO CPC/15. CABIMENTO. AUSÊNCIA DE PATRIMÔNIO PENHORÁVEL NAS
VÁRIAS DILIGÊNCIAS REALIZADAS. PRETENSÃO MANIFESTADA PELA DEVEDORA DE FIXAR RESIDÊNCIA FORA
DO PAÍS. RISCO DE TORNAR INALCANÇÁVEL O SEU PATRIMÔNIO. RAZOABILIDADE NO CASO CONCRETO DA
SUSPENSÃO DA CNH E DA APREENSÃO DO PASSAPORTE DA DEVEDORA. 1. Controvérsia em torno da
legalidade da decisão que determinou a suspensão da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e a apreensão do
passaporte da paciente no curso do processo de execução por título extrajudicial decorrente de contrato de
locação comercial celebrado entre pessoas físicas. 2. "A adoção de meios executivos atípicos é cabível desde
que, verificando-se a existência de indícios de que o devedor possua patrimônio expropriável, tais medidas
sejam adotadas de modo subsidiário, por meio de decisão que contenha fundamentação adequada às
especificidades da hipótese concreta, com observância do contraditório substancial e do postulado da
proporcionalidade." (REsp 1782418/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em
23/04/2019, DJe 26/04/2019) 3. Possível extrair da pretensão de residência fora do país uma forma de
blindagem do patrimônio do devedor, não deixando, pelo verificado no curso da execução, bens suficientes no
Brasil para saldar as obrigações contraídas, pretendendo-se incrementá-lo fora do país, o que dificultaria,
sobremaneira, o seu alcance pelo Estado-jurisdição brasileiro. 4. Razoabilidade das medidas coercitivas
adotadas, limitadas temporalmente pela Corte de origem até a indicação de bens à penhora ou a realização do
ato constritivo, não se configurando, pois, ilegalidade a ser reparada na via do habeas corpus. 5. HABEAS
CORPUS DENEGADO.

(STJ - HC: 597069 SC 2020/0172543-2, Relator: Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, Data de Julgamento:
22/09/2020, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 25/09/2020)

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. MEDIDAS COERCITIVAS


ATÍPICAS. CPC/2015. INTERPRETAÇÃO CONSENTÂNEA COM O ORDENAMENTO CONSTITUCIONAL. SUBSIDIARIEDADE,
NECESSIDADE, ADEQUAÇÃO E PROPORCIONALIDADE. RETENÇÃO DE PASSAPORTE. COAÇÃO ILEGAL. CONCESSÃO DA
ORDEM. SUSPENSÃO DA CNH. NÃO CONHECIMENTO.

1. O habeas corpus é instrumento de previsão constitucional vocacionado à tutela da liberdade de locomoção, de


utilização excepcional, orientado para o enfrentamento das hipóteses em que se vislumbra manifesta ilegalidade ou
abuso nas decisões judiciais.

2. Nos termos da jurisprudência do STJ, o acautelamento de passaporte é medida que limita a liberdade de
locomoção, que pode, no caso concreto, significar constrangimento ilegal e arbitrário, sendo o habeas corpus via
processual adequada para essa análise.
Nesse viés, cabe Habeas Corpus, obviamente, para você discutir a apreensão de passaporte, uma vez que você
está prendendo aquela pessoa, de uma certa forma, dentro daquele país.

3. O CPC de 2015, em homenagem ao princípio do resultado na execução, inovou o ordenamento jurídico com a
previsão, em seu art.139, IV, de medidas executivas atípicas, tendentes à satisfação da obrigação exequenda,
inclusive as de pagar quantia certa.
4. As modernas regras de processo, no entanto, ainda respaldadas pela busca da efetividade jurisdicional, em
nenhuma circunstância, poderão se distanciar dos ditames constitucionais, apenas sendo possível a implementação
de comandos não discricionários ou que restrinjam direitos individuais de forma razoável.
Você pode restringir direitos individuais, mas isso tem que ser feito de forma razoável – é esse o entendimento do
STJ em relação, por exemplo, à apreensão de passaporte.

5. Assim, no caso concreto, após esgotados todos os meios típicos de satisfação da dívida, para assegurar o
cumprimento de ordem judicial, deve o magistrado eleger medida que seja necessária, lógica e proporcional. Não
sendo adequada e necessária, ainda que sob o escudo da busca pela efetivação das decisões judiciais, será contrária à
ordem jurídica.

6. Nesse sentido, para que o julgador se utilize de meios executivos atípicos, a decisão deve ser fundamentada e
sujeita ao contraditório, demonstrando-se a excepcionalidade da medida adotada em razão da ineficácia dos meios
executivos típicos, sob pena de configurar-se como sanção processual.
7. A adoção de medidas de incursão na esfera de direitos do executado, notadamente direitos fundamentais,
carecerá de legitimidade e configurar-se-á coação reprovável, sempre que vazia de respaldo constitucional ou previsão
legal e à medida em que não se justificar em defesa de outro direito fundamental.

8. A liberdade de locomoção é a primeira de todas as liberdades, sendo condição de quase todas as demais.
Consiste em poder o indivíduo deslocar-se de um lugar para outro, ou permanecer cá ou lá, segundo lhe convenha ou
bem lhe pareça, compreendendo todas as possíveis manifestações da liberdade de ir e vir.

9. Revela-se ilegal e arbitrária a medida coercitiva de suspensão do passaporte proferida no bojo de execução por
título extrajudicial (duplicata de prestação de serviço), por restringir direito fundamental de ir e vir de forma
desproporcional e não razoável. Não tendo sido demonstrado o esgotamento dos meios tradicionais de satisfação, a
medida não se comprova necessária.
10. O reconhecimento da ilegalidade da medida consistente na apreensão do passaporte do paciente, na hipótese
em apreço, não tem qualquer pretensão em afirmar a impossibilidade dessa providência coercitiva em outros casos e
de maneira genérica. A medida poderá eventualmente ser utilizada, desde que obedecido o contraditório e
fundamentada e adequada a decisão, verificada também a proporcionalidade da providência.

11. A jurisprudência desta Corte Superior é no sentido de que a suspensão da Carteira Nacional de Habilitação
não configura ameaça ao direito de ir e vir do titular, sendo, assim, inadequada a utilização do habeas corpus,
impedindo seu conhecimento. É fato que a retenção desse documento tem potencial para causar embaraços
consideráveis a qualquer pessoa e, a alguns determinados grupos, ainda de forma mais drástica, caso de profissionais,
que tem na condução de veículos, a fonte de sustento. É fato também que, se detectada esta condição particular, no
entanto, a possibilidade de impugnação da decisão é certa, todavia por via diversa do habeas corpus, porque sua razão
não será a coação ilegal ou arbitrária ao direito de locomoção, mas inadequação de outra natureza.

12. Recurso ordinário parcialmente conhecido.

(RHC 97.876/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 05/06/2018, DJe 09/08/2018.
Grifo nosso)

AMBIENTAL. PROCESSO CIVIL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. INDENIZAÇÃO POR DANO AMBIENTAL. MEDIDA
COERCITIVA ATÍPICA EM EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA. RESTRIÇÃO AO USO DE PASSAPORTE. INJUSTA VIOLAÇÃO
DO DIREITO FUNDAMENTAL DE IR E VIR. NÃO OCORRÊNCIA. DECISÃO ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADA.
OBSERVÂNCIA DO CONTRADITÓRIO. PONDERAÇÃO DOS VALORES EM COLISÃO. PREPONDERÂNCIA, IN CONCRETO, DO
DIREITO FUNDAMENTAL À TUTELA DO MEIO AMBIENTE. DENEGAÇÃO DO HABEAS CORPUS.

I - Na origem, trata-se de cumprimento de sentença que persegue o pagamento de indenização por danos
ambientais fixada por sentença. Indeferida a medida coercitiva atípica de restrição ao passaporte em primeira
instância, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul deu provimento ao agravo interposto pelo Ministério Público,
determinando a apreensão do passaporte dos pacientes.

II - Cabível a impetração de habeas corpus tendo em vista a restrição ao direito fundamental de ir e vir causado
pela retenção do passaporte dos pacientes. Precedentes: RHC n. 97.876/SP, HC n. 443.348/SP e RHC n. 99.606/SP.

III - A despeito do cabimento do habeas corpus, é preciso aferir, in concreto, se a restrição ao uso do passaporte
pelos pacientes foi ilegal ou abusiva.

IV - Os elementos do caso descortinam que os pacientes, pessoas públicas, adotaram, ao longo da fase de
conhecimento do processo e também na fase executiva, comportamento desleal e evasivo, embaraçando a
tramitação processual e deixando de cumprir provimentos jurisdicionais, em conduta sintomática da ineficiência
dos meios ordinários de penhora e expropriação de bens.

V - A decisão que aplicou a restrição aos pacientes contou com fundamentação adequada e analítica. Ademais,
observou o contraditório. Ao final do processo ponderativo, demonstrou a necessidade de restrição ao direito de ir
e vir dos pacientes em favor da tutela do meio ambiente.

VI - Ordem de habeas corpus denegada.

(STJ; HC 478.963; Proc. 2018/0302499-2; RS; Segunda Turma; Rel. Min. Francisco Falcão; Julg. 14/05/2019; DJE
21/05/2019)

Essa decisão acima é relacionada ao caso do Ronaldinho Gaúcho. O mencionado jogador cometeu um crime
ambiental grave em relação a uma propriedade que ele tem no Sul. Se teve, nesse caso, a apreensão do passaporte
dele (do Ronaldinho Gaúcho) e do irmão dele que, inclusive, é empresário dele e que cometeu o ato juntamente com
o jogador. Diante do exposto, a decisão que aplicou a restrição aos pacientes contou com fundamentação adequada
e analítica. Vemos, nesse viés, que nesse caso do Ronaldinho Gaúcho e do irmão dele, a decisão de apreensão do
passaporte, em relação ao caso concreto, foi aceita pelo STJ como válida e ponderada, porque os pacientes
demonstraram, durante todo o curso procedimental, que eles estavam agindo de má-fé.
Ou seja, a medida atípica de apreensão do passaporte foi necessária nesse caso, restringindo o direito
fundamental de ir e vir – uma vez que o STJ já falou que o passaporte restringe o direito fundamental de ir e vir,
todavia o STJ também afirmou que, nesse caso concreto, a referida medida é legítima, porque durante a tramitação
processual, os pacientes demonstraram comportamento desleal (demonstraram deslealdade processual). Então,
pode-se dizer que, na verdade, as medidas típicas foram insuficientes, ao passo que tudo que o Ronaldinho tem (e
todo mundo sabe que ele tem muito dinheiro), não estava no nome dele e nem do irmão, mas sim no nome dos
“parças” – desse modo, não tem como o juiz conseguir a satisfação da execução por questões de direitos de terceira
dimensão (questões ambientais) se não tem nada no nome da pessoa e se sabe, sem sombra de dúvidas, que a pessoa
tem dinheiro. Então não restou ao juízo, nesse caso, outra alternativa a não ser aplicar medidas atípicas mais
gravosas, porque nesse caso os pacientes demonstraram deslealdade processual.

Esse caso é tão interessante e até chega a ser um pouco engraçado porque a gente sempre pensa que essas
pessoas (celebridades) tendem a ter uma boa assistência de advogados mas às vezes isso não é verdade, tanto que
eles tiveram os passaporte apreendidos (o Ronaldinho e o Assis, seu irmão) e, após isso, entraram no site da Receita
Federal e marcaram para fazerem um novo passaporte. Eles entenderam que eles poderiam fazer um novo. Isto é, não
contaram com assistência jurídica nenhuma de um advogado que chegasse e falasse “olha, o sistema da Receita é
ligado ao judiciário, de modo que quando o juízo faz essa apreensão a Receita é informada, bem como a Polícia
Federal, então não adianta você marcar para fazer um novo passaporte, sendo que o seu passaporte foi apreendido”.
A partir disso, vemos como as pessoas são má assessoradas, mesmo pessoas, nesse caso, que possuem poder
aquisitivo. No próprio processo, quando o juiz vai fazer um relatório do que os pacientes fizeram, diz que como o
jogador em questão tinha que viajar para fazer uma propaganda, ele e seu irmão (que também era seu empresário)
tentaram essa estratégia de emitir um novo passaporte.
Desse modo, portanto, de acordo com a própria posição do STJ, em alguns casos a apreensão do passaporte
significa, sim, restrição do direito de ir e vir, mas nesse caso aqui, quando há deslealdade processual tal medida
atípica foi tida como necessária. O próprio STJ decidiu sobre isso.
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. IMPROBIDADE. FASE DE CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. REQUERIMENTO
DE MEDIDAS COERCITIVAS. SUSPENSÃO DE CNH E APREENSÃO DE PASSAPORTE. POSSIBILIDADE. ART. 139, IV, DO
CPC/2015. MEDIDAS EXECUTIVAS ATÍPICAS. APLICAÇÃO EM PROCESSOS DE IMPROBIDADE. OBSERVÂNCIA DE
PARÂMETROS. ANÁLISE DOS FATOS DA CAUSA. HISTÓRICO DA DEMANDA

1. Trata-se, na origem, de cumprimento de sentença que condenou o recorrido por improbidade administrativa
consistente na contratação direta de serviços gráficos para a confecção de 60 mil cartilhas informativas do SUS, sem
prévio procedimento licitatório.
2. De acordo com o acórdão recorrido, tentou-se executar a multa imposta na sentença condenatória transitada
em julgado, mas, "após várias diligências ao longo de cinco anos, não foi possível recolher o montante referente a
sanção pecuniária, o que resultou no pedido manejado pelo Ministério Público de apreensão de carteira de
habilitação e passaporte, com o escopo de compelir o Agravado de arcar com o valor do débito." (fl. 80, e-STJ,
destaque acrescentado).
3. Entendeu o Tribunal de origem que a medida requerida "atenta contra os princípios da proporcionalidade e
razoabilidade [...] não encontra guarida no princípio da responsabilidade patrimonial, que tem por escopo garantir que
o cumprimento da obrigação não ultrapasse bens outros que não o patrimônio do devedor." (fl. 79, e-STJ ).

4. O Tribunal de origem adota o entendimento de que a apreensão do passaporte e a suspensão da CNH do


devedor são meios executivos que não encontram suporte no art. 139, IV, do CPC/2015. Esse preceito, segundo a
doutrina especializada, consagra as chamadas medidas executivas atípicas, ao estabelecer que o juiz pode "determinar
todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento
de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária."
5. No acórdão recorrido se afirma que o referido artigo 139, IV, do CPC/2015 contraria o princípio da menor
onerosidade e "não encontra guarida no princípio da responsabilidade patrimonial" (fl. 82, e-STJ). Também se afirma
que "não há demonstração efetiva nos autos de que a suspensão da CNH e retenção do passaporte do Agravado possa
viabilizar a efetiva satisfação do crédito." (fl. 82, e-STJ). Ocorre que esse não é um juízo fático, pois o Tribunal de
origem deixa claro que não adiantaria demonstrar que as medidas seriam eficazes, uma vez que, em sua ótica, "se
executadas, seriam aplicadas apenas com a função de punir o executado e não como meio de prover a tutela
jurisdicional" (fl. 82, e-STJ). Essa perspectiva fica ainda mais clara na conclusão do acórdão recorrido: "nesse contexto,
inexistindo previsão legal expressa para adoção das medidas requeridas, forçosa é a manutenção da decisão agravada,
que indeferiu o pedido de suspensão da CNH e bloqueio do passaporte do agravado." (fl. 83, e-STJ, destaque
acrescentado).

6. Trata-se, portanto, de saber se as instâncias ordinárias negaram ou não vigência ao artigo 139, IV, do
CPC/2015.
7. Também se aduz no aresto que a imposição das medidas atípicas "implicaria em violação de direitos
constitucionalmente garantidos, conforme preceitua o art. 5º, XV, CF, além de se afigurarem desarrazoados e
desproporcionais ao direito perseguido." (fl. 82, e-STJ).

8. O que há nesse raciocínio é, ainda, interpretação do artigo 139, IV. O que o Tribunal de origem proclama é a
compreensão de que o preceito não poderia ser entendido de determinada forma em decorrência da ordem
constitucional, ou seja, há a ideia de ofensa reflexa à Constituição.

10. Por isso, no STF, embora a matéria esteja sob apreciação na ADI 5.941 (ainda não decidida), não se está
conhecendo dos Recursos Extraordinários com o fundamento de que se trata de controvérsia infraconstitucional.
Nesse sentido, as seguintes decisões monocráticas: RE 1.221.543, Relator Min. Alexandre de Moraes, DJe 7.8.2019; RE
1.282.533/PR, Rel. Min. Roberto Barroso, DJe 25.8.2020; RE 1.287.895, Relator Min. Marco Aurélio, DJe 21.9.2020; RE
1.291.832, Relator Min. Ricardo Lewandowski, DJe 1.3.2021.

11. Há no Superior Tribunal de Justiça julgados favoráveis à possibilidade da adoção das chamadas medidas
atípicas no âmbito da execução, desde que preenchidos certos requisitos. Nesse sentido: "o propósito recursal é
definir se a suspensão da carteira nacional de habilitação e a retenção do passaporte do devedor de obrigação de
pagar quantia são medidas viáveis de serem adotadas pelo juiz condutor do processo executivo [...] O Código de
Processo Civil de 2015, a fim de garantir maior celeridade e efetividade ao processo, positivou regra segundo a qual
incumbe ao juiz determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias
para assegurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária
(art. 139, IV)." (REsp 1.788.950/MT, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, DJe 26.4.2019). Na mesma esteira:
AgInt no REsp 1.837.309/SP, Relator Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Terceira Turma, DJe 13.2.2020; REsp
1.894.170/RS, Relatora Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, DJe 12.11.2020.

12. Há, também, decisão da Primeira Turma que indefere as medidas atípicas, mas mediante expressa referência
aos fatos da causa. Afirmou-se no julgado: "O TJ/PR deu provimento a recurso de Agravo de Instrumento interposto
pelo Município de Foz do Iguaçu/PR contra a decisão de Primeiro Grau que indeferiu o pedido de medidas aflitivas de
inscrição do nome do executado em cadastro de inadimplentes, de suspensão do direito de dirigir e de apreensão do
passaporte. O acórdão do TJ/PR, ora apontado como ato coator, deferiu as indicadas medidas no curso da Execução
Fiscal. Ao que se dessume do enredo fático-processual, a medida é excessiva. Para além do contexto econômico de
que se lançou mão anteriormente, o que, por si só, já justificaria o afastamento das medidas adotadas pelo Tribunal
Araucariano, registre-se que o caderno processual aponta que há penhora de 30% dos vencimentos que o réu aufere
na Companhia de Saneamento do Paraná-SANEPAR. Além disso, rendimentos de sócio-majoritário que o executado
possui na Rádio Cultura de Foz do Iguaçu Ltda. - EPP também foram levados a bloqueio (fls. 163/164)." (HC
45.3870/PR, Relator Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma, DJe 15.8.2019).

13. Além de fazer referência aos fatos da causa – coisa que o Tribunal de origem não fez, pois considerou não
razoáveis e desproporcionais as medidas em abstrato –, essa última decisão, da Primeira Turma, foi proferida em
Execução Fiscal. Aqui, diversamente, trata-se de cumprimento de sentença proferida em Ação por Improbidade
Administrativa, demanda que busca reprimir o enriquecimento ilícito, as lesões ao erário e a ofensa aos princípios da
Administração Pública.

14. Inadmissíveis manobras para escapar da execução das sanções pecuniárias impostas pelo Estado, sob pena de
as condutas contrárias à moralidade administrativa ficarem sem resposta. Ora, se o entendimento desta Corte –
conforme a jurisprudência supradestacada – é o de que são cabíveis medidas executivas atípicas para a satisfação de
obrigações de cunho estritamente patrimonial, com muito mais razão elas devem ser admitidas em casos em que o
cumprimento da sentença se dá para tutelar a moralidade e o patrimônio público. Superada a questão da
impossibilidade de adoção de medidas executivas atípicas de cunho não patrimonial pela jurisprudência desta Corte
(premissa equivocada do acórdão recorrido), não há como não considerar o interesse público, na satisfação da
obrigação, importante componente para definir o cabimento (ou não) delas à luz do caso concreto.

15. Não ocorre, portanto – ao menos do modo abstrato como analisado o caso na origem –, ofensa à
proporcionalidade ou à razoabilidade pela adoção de medidas não patrimoniais para o cumprimento da sentença.
16. Os parâmetros construídos pela Terceira Turma para a aplicação das medidas executivas atípicas encontram
largo amparo na doutrina e se revelam adequados também ao cumprimento de sentença proferida em Ação por
Improbidade.

17. Conforme tem preconizado a Terceira Turma, "a adoção de meios executivos atípicos é cabível desde que,
verificando-se a existência de indícios de que o devedor possua patrimônio expropriável, tais medidas sejam adotadas
de modo subsidiário, por meio de decisão que contenha fundamentação adequada às especificidades da hipótese
concreta, com observância do contraditório substancial e do postulado da proporcionalidade." (REsp 1.788.950/MT,
Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, DJe 26.4.2019).

18. Consigne-se que a observância da proporcionalidade não deve ser feita em abstrato, a não ser que as
instâncias ordinárias expressamente declarem inconstitucional o artigo 139, IV, do CPC/2015. Não sendo o caso, as
balizas da proporcionalidade devem ser observadas com referência ao caso concreto, nas hipóteses em que as
medidas atípicas se revelem excessivamente gravosas e causem, por exemplo, prejuízo ao exercício da profissão.

19. Recurso Especial parcialmente provido para determinar a devolução dos autos à origem, a fim de que o
requerimento de adoção de medidas atípicas, feito com fundamento no artigo 139, IV, do CPC, seja analisado de
acordo com o caso concreto, mediante a observância dos parâmetros acima delineados.

De acordo com a jurisprudência do STJ, as modernas regras de processo, ainda as respaldadas pela busca da
efetividade jurisdicional, em nenhuma circunstância poderão se distanciar dos ditames jurisdicionais. A adoção de
medidas executivas atípicas é cabível desde que, verificando a existência de indícios de que o devedor possua
patrimônio expropriável, tais medidas sejam adotadas de modo subsidiário, por meio de decisão que contenha
fundamentação adequada às especificidades da hipótese concreta, com observância do contraditório substancial e do
postulado da proporcionalidade. Então aqui o STJ está confirmando os Enunciados que a gente já tinha visto e que
foram feitos no início do CPC ou até antes da entrada em vigor do CPC, falando sobre os requisitos para a aplicação de
medidas atípicas.

DEFESAS DO DEVEDOR NA FASE DE CUMPRIMENTO DE SENTENÇA


u Típica: Impugnação ao Cumprimento de Sentença: art. 525, CPC/2015.
u Atípica: Exceção de Pré-executividade: art. 518, CPC/2015.

➢ Impugnação ao Cumprimento de Sentença


A defesa típica do executado no cumprimento de sentença que condena o réu a pagar quantia é a impugnação,
prevista no art. 525.

→ É defesa propriamente dita, considerada um incidente processual no cumprimento de sentença.


Prazo para apresentação da impugnação: art. 525, caput (termo inicial: escoamento do prazo do pagamento
voluntário).

→ O art. 525, caput, do Novo CPC prevê que transcorrido o prazo para pagamento voluntário da
obrigação inicia-se o prazo de 15 dias para que o executado, independentemente de nova intimação,
apresente a impugnação nos próprios autos do cumprimento de sentença. Significa dizer que
decorrido o prazo de pagamento voluntário, independentemente de intimação, terá início a
contagem de prazo de 15 dias para a impugnação.
Art. 525. Transcorrido o prazo previsto no art. 523 sem o pagamento voluntário, inicia-se o prazo de 15
(quinze) dias para que o executado, independentemente de penhora ou nova intimação, apresente, nos
próprios autos, sua impugnação.

Ou seja, a intimação que é feita pelo juízo para o pagamento voluntário, é também momento em que o
executado é intimado para impugnar. Não é feita nova intimação para impugnar, tendo em vista que a primeira
intimação que se deu serve para as duas coisas: para pagar e para impugnar.

→ Há a intimação depois do requerimento e, assim, a pessoa tem quinze dias para pagamento voluntário.
Após o prazo para pagamento voluntário, abre-se um prazo de quinze dias para que o executado venha
a impugnar, mas isso é independentemente de nova intimação ou de penhora.

OBS: Assim, pode-se dizer até que a partir do momento que o advogado do executado é intimado, ele tem
trinta dias para oferecer a impugnação, porque em tese são quinze dias para que o pagamento seja efetuado
voluntariamente e mais quinze para que seja feita e apresentada a impugnação. Após a intimação, portanto,
o executado tem quinze dias para pagar e mais quinze para impugnar (prazos úteis).
OBS 2: tal prazo é contado em dias úteis.

 Enunciado 92, CJF: A intimação prevista no caput do art. 523 do CPC/2015 deve contemplar,
expressamente, o prazo sucessivo para impugnar o cumprimento de sentença.

u REsp 1708348/RJ: "Ademais, nos termos do art. 525 do CPC/2015, transcorrido o prazo previsto no art. 523
sem o pagamento voluntário, inicia-se o prazo de 15 dias para que o executado, independentemente de
penhora ou nova intimação, apresente, nos próprios autos, sua impugnação. Assim, não seria razoável fazer
a contagem dos primeiros 15 (quinze) dias para o pagamento voluntário do débito em dias corridos, se
considerar o prazo de natureza material, e, após o transcurso desse prazo, contar os 15 dias subsequentes,
para a apresentação da impugnação, em dias úteis, por se tratar de prazo processual.”

CJF: Enunciado 84: o comparecimento espontâneo da parte constitui termo inicial dos prazos para pagamento e,
sucessivamente, impugnação ao cumprimento de sentença.

Jurisprudência: STJ: AgInt no AREsp 743818/RO: “Na forma da jurisprudência, o comparecimento


espontâneo aos autos supre possíveis vícios de comunicação processual, contando-se o prazo
eventualmente cabível a partir da data do comparecimento, que coincide com a data da ciência inequívoca
da decisão a ser impugnada.”
Observação:

Art. 525, §3º: aplica-se à impugnação o disposto no art. 229.


Art. 229. Os litisconsortes que tiverem diferentes procuradores, de escritórios de advocacia distintos, terão prazos
contados em dobro para todas as suas manifestações, em qualquer juízo ou tribunal, independentemente de
requerimento.

§1º Cessa a contagem do prazo em dobro se, havendo apenas 2 (dois) réus, é oferecida defesa por apenas um
deles.

§2º Não se aplica o disposto no caput aos processos em autos eletrônicos.

Observação: não é apenas o artigo 229 que aplica-se à impugnação, uma vez que aplica-se, também, o prazo do
186 da defensoria pública, em relação ao prazo em dobro daquele que é beneficiário da justiça – art. 186: a Defensoria
Pública gozará de prazo em dobro para todas as suas manifestações processuais.

Enunciado 90, CJF: Conta-se em dobro o prazo do art. 525 do CPC/2015 nos casos em que o devedor é assistido pela
Defensoria Pública.

 u REsp 1261856/DF: “Conforme a jurisprudência do STJ, a prerrogativa da contagem em dobro dos


prazos visa a compensar as peculiares condições enfrentadas pelos profissionais que atuam nos
serviços de assistência judiciária do Estado, que ‘enfrentam deficiências de material, pessoal e
grande volume de processos’ (REsp 1.106.213/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi. Terceira Turma. julgado
em 25/10/2011). Em caso análogo, no qual se discutia o cumprimento, pela parte, de decisão judicial
sobre purgação da mora, esta Corte superior decidiu ser cabível a contagem em dobro dos prazos
para parte assistida pela Defensoria Pública. (REsp 249.788/RJ, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES,
SEXTA TURMA, julgado em 22/08/2000, DJ 11/09/2000). Na hipótese de parte beneficiária da
assistência judiciária integral e gratuita, a prerrogativa da contagem em dobro dos prazos, prevista
no artigo 5º, §5º, da Lei no 1.060/50, aplica-se também ao lapso temporal previsto no art. 475-J do
CPC/73, correspondente ao art. 523 caput e §1º do CPC/15, sendo, portanto, tempestivo o
cumprimento de sentença, ainda que parcial, quando realizado em menos de 30 (trinta) dias.”

Atenção! a impugnação independe de garantia do juízo e não tem efeito suspensivo, via de regra (para impugnar
não há necessidade de oferecer nada em penhora, nem de oferecer qualquer bem).

→ Quanto a isso, inclusive, o Código está claro ao dizer “transcorrido o prazo previsto no art. 523 sem o
pagamento voluntário, inicia-se o prazo de 15 (quinze) dias para que o executado, independentemente de
penhora ou nova intimação...” – resta evidente, portanto, que ele não precisa de pagar nada (apresentar
garantia ao juízo) para realizar a impugnação.

Ainda que o executado não tenha pagado voluntariamente, sofrido multa do art. 523, tenha tido o nome
inscrito no Cadastro de Inadimplentes, tenha seu ato considerado como atentatório à dignidade da justiça,
terá direito à presente impugnação independentemente do oferecimento de qualquer garantia (real ou
pessoal).
Importante! Considerando tudo que já foi dito, têm-se que o processo ocorre a partir do requerimento do
exequente. Após o requerimento, se tem a intimação do executado que, por sua vez, é para pagar (sob pena de
multa) + para impugnar. Se dentro de quinze dias úteis ele pagou, mas fez esse pagamento para não sofrer a
multa (ou não pagou), ele vai ter mais quinze dias, ainda assim, para impugnar e ele vai impugnar porque ele não
pagou porque ele não concorda, mas porque não quer sofrer a multa do art. 523, §1º.

Todavia, é necessário garantir o juízo para conseguir o efeito suspensivo da impugnação.


Art. 525, § 6º A apresentação de impugnação não impede a prática dos atos executivos, inclusive os de
expropriação, podendo o juiz, a requerimento do executado e desde que garantido o juízo com penhora,
caução ou depósito suficientes, atribuir-lhe efeito suspensivo, se seus fundamentos forem relevantes e se o
prosseguimento da execução for manifestamente suscetível de causar ao executado grave dano de difícil ou
incerta reparação.

→ Ou seja, o efeito suspensivo pode ser obtido por requerimento, desde que o impugnante prove o
cumprimento de três requisitos: art. 525, §6º, CPC/2015:

1) Requerimento expresso do impugnante


2) Garantia do juízo (não para impugnar, mas para o efeito suspensivo): estar garantido o juízo, com
penhora, caução ou depósito suficientes.
2) Relevância da fundamentação da impugnação

4) Risco de dano: ou seja, o prosseguimento da execução ser manifestamente suscetível de causar ao


executado grave dano de difícil ou incerta reparação.

Portanto, é muito interessante a impugnação, uma vez que ela tem características recursais, apesar de não ser (a
impugnação é uma defesa, ela não é um recurso). O fato de você apresentar uma impugnação não gera a
responsabilidade, para o juízo, de analisar a impugnação primeiro, antes de continuar os atos executório. Nesse
viés, o juiz vai continuar os atos executórios enquanto ele está analisando a impugnação (acontece
concomitantemente).

Inclusive é possível solicitar ao juízo, pela impugnação, a paralisação dos atos executivos. Então é possível que
você solicite ao juízo o efeito suspensivo da impugnação, mas ressalta-se que ela não é recurso. Solicita-se tal efeito
suspensivo, desde que haja o cumprimento dos três requisitos supramencionados.

OBSERVAÇÃO SOBRE OS REQUISITOS:

1) Garantia do juízo: Embora já tenha sido afirmado que não é preciso garantir o juízo para se defender
(ninguém precisa pagar para se defender), para conseguir o efeito suspensivo da impugnação, ao contrário,
é preciso garantir o juízo, sendo este o primeiro requisito. A garantia do juízo pode se dar com o depósito
judicial do valor; por meio da apresentação de um fiador (caução fidejussória que, por sua vez, também é
judicial e não extrajudicial) com os seus bens, restando provado para o juiz que esse fiador tem patrimônio
suficiente para cobrir a dívida; também pode ser apresentada através de uma caução real própria ou de
terceiro e; ainda, é possível que seja apresentado um bem para a penhora.

Esse valor de garantia é o valor que pode ser levantado, posteriormente, após acabada a suspensão do
feito. Então é um valor de responsabilidade pelos danos decorrentes da suspensão, mas sim um valor que
poderá ser levantado, sendo considerado um facilitador (uma vez que não vai precisar expropriação, leilão ou
venda). Obviamente, se ele suspendeu os atos naquele momento, quando esse período suspensivo se findar, a
dívida estará coberta pelo julgamento da impugnação. Nesse viés, se o julgamento for de improcedência (ou
seja, o executado perdeu – que é o impugnante), o juízo já tem ali nas suas mãos, a satisfação da obrigação. Isso
vai adiantar inúmeros atos que teria que ser praticados caso ele não garantisse o juízo.

Assim, se ele não garantisse o juízo, além de suspender a impugnação, depois que esta deixasse de estar
suspensa o juízo teria que fazer leilão; publicar editais; etc. Ou seja, você pode suspender a impugnação – o
juízo até deixa você suspender, não tem grandes problemas nisso – só que, pela suspensão, é apresentada a
garantia da dívida, de modo que se você tiver uma sucumbência na impugnação o juízo já tem, em suas mãos, o
valor para o pagamento da outra parte. Claro que esse valor vai ser atualizado, durante o processo, com as
correções monetárias e os juros, mas você já apresentou o bem, tirando do juízo a obrigação de fazer todos os
atos expropriatórios que viriam depois, porque você já deu, ali, a garantia para o pagamento da dívida, o que
justifica a possibilidade de suspensão do feito. Na realidade, por mais que o feito suspenda até que seja
analisada a impugnação, se não for dada procedência à impugnação no cumprimento de sentença o juízo já tem
nas suas mãos o valor para o adimplemento do credor (do exequente).

2) Além da garantia, o efeito suspensivo será atendido se cumulado com outros dois requisitos. As palavras do
CPC, no que diz respeito aos outros dois requisitos, estão diferentes, mas trata-se dos mesmos requisitos da
tutela provisória: fundamentos relevantes e a probabilidade do direito, além do risco de dano (causar ao
executado grave dano, de difícil ou incerta reparação).
 Então se tem os mesmos requisitos da tutela provisória (probabilidade do direito e risco de dano)
cumulados com a garantia do juízo, para se conseguir efeito suspensivo na impugnação. Assim em sede de
defesa, porque não é recurso, você tem a possibilidade de paralisar os atos executórios, desde que
cumpridos os três requisitos mencionados.

Tem, no CPC, uma disposição específica a respeito da carência de preclusão lógica em relação ao
recurso interposto pelo executado e o pagamento voluntário no prazo de quinze dias. Qual que é o
princípio basilar, de processo, que informa essa preclusão? Trata-se do princípio processual da
inevitabilidade da jurisdição, de acordo com o qual o pagamento voluntário não gera preclusão lógica
em relação a interposição recursal no cumprimento provisório. Nós sabemos, portanto, que no CPC
existe, claramente, uma disposição segundo a qual o pagamento voluntário, feito pelo executado, para
isentar-se da multa não gera perda do recurso interposto por ele contra o título judicial formado e o
princípio informa, dentro do direito processual, essa conclusão clara que está na lei. Esse princípio tem
relação com o pagamento e não tem relação com o recurso. É um princípio normativo.
Não é um princípio constitucional, mas sim processual e que tem, inclusive, relação com os fins da
jurisdição. Trata-se do princípio que vai informar o que está escrito no art. 520, §3º do CPC.
Art. 520, § 3º Se o executado comparecer tempestivamente e depositar o valor, com a finalidade
de isentar-se da multa, o ato não será havido como incompatível com o recurso por ele interposto.

➢ MATÉRIAS ARGUÍVEIS EM SEDE DE CUMPRIMENTO DE SENTENÇA (LIMITAÇÃO COGNITIVA):


Não podendo o executado voltar a discutir o direito exequendo fixado em sentença, haverá na impugnação limitação
cognitiva, restringindo-se as matérias passíveis de alegação nessa espécie de defesa.

→ O art. 525, § 1º, do Novo CPC prevê o rol das matérias que podem ser alegadas em sede de impugnação,
entendendo, corretamente, a doutrina majoritária que se trata de rol exaustivo, salvo matérias de ordem
pública, desde que não estejam já protegidas pela eficácia preclusiva da coisa julgada. Impugnação com
matéria alheia ao rol legal deve ser rejeitada liminarmente.

a) Falta ou nulidade de citação se o processo correu à revelia: vício transrescisório. Se a parte compareceu ao
processo, o vício é suprido.

Art. 525, §1º Na impugnação, o executado poderá alegar: I - falta ou nulidade da citação se, na fase de
conhecimento, o processo correu à revelia;
Aqui está sendo alegado um vício transrescisório. Ou seja, trata-se do vício mais grave do processo, até porque
enseja ação rescisória; enseja querela nullitatis insanabilis (que é, a grosso modo, uma ação declaratória de
inexistência da sentença).

→ A falta ou nulidade de citação gera um vício no plano da validade, tratando-se de uma espécie diferenciada de
nulidade absoluta, visto que não se convalida. Na realidade, é dispensável até mesmo a impugnação neste
caso, podendo a parte se valer da ação autônoma de querela nullitatis. Além desta ação e da impugnação,
também é cabível dentro do prazo de dois anos do trânsito em julgado a ação rescisória.

→ Sendo acolhida a alegação prevista no dispositivo legal ora comentado, o processo será anulado desde o
momento em que se configurou o vício, não sendo necessária, entretanto, a realização da citação do réu,
porque, ao apresentar a impugnação, já ingressou voluntariamente no processo, e nos termos do art. 239 §1º
do NCPC, deverá ser simplesmente intimado na pessoa de seu advogado para responder à pretensão do autor
na fase de conhecimento.

 Atenção! Obviamente a citação é na fase de conhecimento, aqui não se fala nada a respeito da
intimação, porque a intimação, aqui, já foi pessoal (chegou para ele e ele ficou sabendo) ou na pessoa
do advogado.
Pode ser alegada a falta ou a nulidade da citação a qualquer tempo, porque é um vício transrescisório – isto é, é
um vício que pode ser alegado além da ação rescisória, que é uma ação para desconstituir a coisa julgada. Então
obviamente que você pode invocar essa defesa a qualquer tempo, porque é um dos vícios mais graves, obviamente,
em relação ao processo: a pessoa não foi citada ou foi citada com erro, em desacordo com as disposições legais.
Observação: no cumprimento provisório você pode alegar essa mesma matéria, porque provavelmente você
recorreu a respeito dessa mesma matéria: da falta de citação ou do erro de citação. Situação hipotética: você tem uma
decisão e você fica sabendo, é intimado corretamente, depois de não ser citado corretamente dessa decisão, dessa
decisão dada em gabinete do juiz, que finalizou um procedimento (um processo) cognitivo. Obviamente que a partir
do momento que você fica ciente dessa intimação (e essa intimação foi feita de forma correta por alguma razão –
houve correção do seu endereço; correção das informações dadas pelo próprio credor autor da ação), se tem uma
intimação correta dessa decisão. Desse modo, dessa decisão, por exemplo, se ela é uma sentença você apela, pelo
artigo 1009 do CPC, alegando o vício citatório. A partir do momento que você alega esse vício citatório, embora
obviamente isso vá ser examinado pelo Tribunal, inicia-se contra você, por iniciativa do credor/exequente, um
cumprimento provisório de sentença e a partir do momento que inicia-se esse cumprimento de sentença, obviamente
que você tem direito, novamente, de arguir a mesma matéria da qual você já recorreu.

Nesse caso você foi intimado da decisão final do juízo, tendo em vista que essa intimação foi correta, você ficou
sabendo da existência do processo cognitivo e da decisão a partir de uma intimação correta, o que não supre o vício
da citação que te privou do direito de participar de todo o processo de conhecimento até a finalização da decisão.
Então a partir do momento que você fica sabendo da decisão por uma intimação correta (o juiz deu a sua decisão em
gabinete e, feito isso, a secretaria da vara faz a sua intimação corretamente, mas não foi feita a sua citação) você
constitui advogado e apela alegando um vício transrescisório da citação (falta ou nulidade, não interessa o vício em si).
Tendo em vista que a intimação foi feita corretamente, inicia-se o cumprimento provisório contra você, se a apelação
não foi recebida no seu duplo efeito, e você ainda tem direito de alegar esse vício ou nulidade em defesa típica. Então
você tem o direito de alegar a mesma defesa nos dois momentos: no momento em que você fica sabendo da
finalização da cognição e no momento em que você é acionado para impugnar.
Existia uma nulidade na citação ou uma falta de citação completa (nesse segundo caso você não foi citado) e, por
alguma razão, o credor, na fase de conhecimento, faz alguma correção a respeito do seu paradeiro (como por exemplo
do seu endereço ou de outros dados), porque ele é obrigado a fazer isso na petição inicial mas fez incorretamente, se
tem uma cooperação com o juízo, sendo atravessada uma simples petição de correção de tais dados, por exemplo, e
você fica sabendo da decisão de cognição quando ela já foi prolatada. Você não participou do processo cognitivo. No
exemplo acima, você fica sabendo da finalização do processo cognitivo no momento que ele já se findou, de modo que
você não pode mais contestar. Assim, a única coisa que você pode fazer é recorrer, porque o trânsito em julgado ainda
não ocorreu. A partir do momento que você recorre, você vai alegar vício transrecisório (isto é, você vai alegar falta ou
nulidade de citação no processo de conhecimento), e, também, insanável, a não ser que haja um comparecimento
espontâneo da parte, mesmo com a falta ou nulidade da citação, no início do procedimento.
Você apela dessa decisão, então, se for uma sentença e, obviamente, a outra parte já vai iniciar o cumprimento
provisório (é possível a ela iniciar, mas por iniciativa própria e por risco próprio). Então ela vai iniciar esse
cumprimento provisório e você vai ter direito, também, em 1ª instância, da impugnação e, em sede de impugnação,
pode ser alegada, novamente, a falta ou a nulidade de citação – o que já foi alegado no recurso. Não há, portanto,
nenhum impedimento de você fazer a defesa em ambos os graus (em 1º grau e em 2º grau), ainda que seja a mesma
defesa, porque você foi privado. A sua ciência a respeito do processo se deu a partir de uma intimação que foi feita de
maneira correta, sendo que anteriormente aquilo não foi feito, você estava totalmente à parte do processo cognitivo.

Importante: a nulidade ou falta de citação é vício transrecisório, a não ser que haja comparecimento espontâneo
da parte, mesmo com a falta ou nulidade da citação, no início do procedimento.

→ Ou seja, se há o comparecimento espontâneo você consegue sanar esse vício, mas se não há esse
comparecimento espontâneo para sanar o vício da citação, não é possível saná-lo quando você fica
sabendo da prolação de uma decisão no final do procedimento, visto que você não teve direito a defesa
(cerceamento completo de defesa).

→ Quando a gente fala que o comparecimento espontâneo da parte convalida ou sana esse vício da
citação, tal comparecimento tem que se dar no início do processo, na cognição. Se o comparecimento
ocorrer no final do processo, estando prolatada a decisão e, portanto, tendo o juiz te considerado revel, a
parte cometeu um erro grave e, a partir disso, não te citaram corretamente, sem que você seja revel. Ou
seja, te imputaram os efeitos da revelia durante o processo de conhecimento, desconsiderando,
obviamente, que te citaram errado ou não te citaram. Todavia, por alguma razão que ocorre no juízo, eles
te intimam corretamente do final do processo cognitivo – você fica sabendo apenas do desfecho, de
modo que não participou de nenhum ato. Obviamente que no momento que você constitui um advogado
porque fica sabendo que tem uma sentença contra você te condenando a uma obrigação, esse seu
comparecimento no processo, ainda que ocorra a apelação, não sana o vício citatório, porque ele foi no
final, quando você já foi desprovido de todo o contraditório do processo cognitivo.
 Então há a possibilidade de se sanar o vício citatório se o comparecimento é no início – você é
citado errado ou não é citado, mas fica sabendo que tem um processo contra você e aparece no
juízo e, assim, o vício da citação está sanado, uma vez que você não seja privado do devido
processo. Mas se o comparecimento ocorrer no final do processo, quando já há uma decisão, o vício
não vai ser sanado, uma vez que você não participou em relação à elaboração daquela decisão
contra você (você não teve direito à defesa).

b) Ilegitimidade da parte: não se está falando de pressupostos processuais (condições da ação) para a ação de
conhecimento. Atenção para os arts. 778 e 779 do CPC/2015.

Art. 525, §1º Na impugnação, o executado poderá alegar: II - ilegitimidade de parte;

A legitimidade aqui não é do processo de conhecimento. A legitimidade, aqui, é efetivamente do cumprimento. A


legitimidade ativa para o cumprimento de sentença está prevista no art. 778 do Novo CPC, enquanto a legitimidade
passiva vem prevista no art. 779 do CPC.

→ Sempre que qualquer dos dois dispositivos for desrespeitado caberá a alegação em sede de impugnação de
ilegitimidade de parte.
Atenção! A ilegitimidade de parte não é a ilegitimidade do processo cognitivo, ela é a ilegitimidade do processo
executivo e do cumprimento de sentença. Desse modo, estamos falando da fase sincrética. Ou seja, é a ilegitimidade
do artigo 778 ou do artigo 779.

Art. 778. Pode promover a execução forçada o credor a quem a lei confere título executivo.
§1º Podem promover a execução forçada ou nela prosseguir, em sucessão ao exequente originário:

I - o Ministério Público, nos casos previstos em lei;


II - o espólio, os herdeiros ou os sucessores do credor, sempre que, por morte deste, lhes for transmitido o direito
resultante do título executivo;

III - o cessionário, quando o direito resultante do título executivo lhe for transferido por ato entre vivos;
IV - o sub-rogado, nos casos de sub-rogação legal ou convencional.

§2º A sucessão prevista no § 1º independe de consentimento do executado.

Art. 779. A execução pode ser promovida contra:


I - o devedor, reconhecido como tal no título executivo;

II - o espólio, os herdeiros ou os sucessores do devedor;

III - o novo devedor que assumiu, com o consentimento do credor, a obrigação resultante do título executivo;
IV - o fiador do débito constante em título extrajudicial;

V - o responsável titular do bem vinculado por garantia real ao pagamento do débito;

VI - o responsável tributário, assim definido em lei.

→ Você pode alegar ilegitimidade passiva (ilegitimidade sua própria porque você, por exemplo, no processo
cognitivo foi excluído da demanda porque não era parte interessada, não era parte legítima e o exequente
inicia um cumprimento de sentença contra você, desconsiderando a sua exclusão da demanda no processo
cognitivo) ou ilegitimidade ativa, de acordo com o artigo 778 (ou seja, aquele que está te cobrando não é o
credor ou aquele que está te cobrando não tem a permissão correta, por negócio jurídico inter vivos, por
exemplo, com relação àquela cobrança). Então você também pode alegar a ilegitimidade ativa com relação ao
inciso II.
 essa ilegitimidade, portanto, é a dos artigos 778 e 779, porque a questão da ilegitimidade no
conhecimento já está preclusa, o que quer dizer que você já teria que ter alegado isso em
contestação.

Exemplo: o processo de cumprimento iniciou contra três réus. A sentença falou que, na realidade, um réu tem que
ser excluído, porque não é responsável e a dívida deve ser suportada, em coobrigação, pelos outros dois.
Inesperadamente, o terceiro réu, que foi excluído da demanda por ilegitimidade (porque não era responsável por
aquela dívida), é intimado para pagar em quinze dias. Esse terceiro que foi excluído no processo de conhecimento
vai alegar, então, ilegitimidade de parte – o terceiro é parte ilegítima, sendo óbvio que quem vai ter que pagar esse
título são os outros dois sujeitos que fizeram parte da demanda de conhecimento, cujo título certificou a obrigação
de pagamento. Nesse caso, portanto, você foi excluído do processo de conhecimento e, depois, recebe uma
intimação contra você, na fase sincrética de cumprimento do título. A partir disso, então, você alega ser parte
ilegítima.

c) Inexequibilidade do título: ex.: título não liquidado (advém de sentença ilíquida, necessitando passar antes do
cumprimento de sentença pela fase de liquidação de sentença) ou título desafiado por recurso com efeito
suspensivo.

Art. 525, §1º Na impugnação, o executado poderá alegar: III - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da
obrigação;
O título será inexigível quando não for liquidado ou quando for desafiado por recurso com efeito suspensivo.

→ Uma sentença ilíquida – se ela é ilíquida ela não tem liquidez, obviamente, e carece de uma das condições
para acesso ao cumprimento de sentença ou ao procedimento executivo autônomo; se a decisão
prolatada foi desafiada por um recurso com duplo efeito (onde se inclui o efeito suspensivo), já que a
partir desse momento a eficácia decisional não pode ser cumprida.

OBS: O recurso, por exemplo, em um primeiro momento não tem efeito suspensivo (como ocorre com o
agravo de instrumento), mas a partir do momento que você pode o efeito suspensivo ao relator, o próprio
relator te concede por decisão monocrática. partir dessa concessão, você vai alegar isso na impugnação ao
cumprimento de sentença – apesar de ter sido interposto o agravo, por exemplo, contra decisão
interlocutória, o relator acabou de prolatar uma decisão monocrática concedendo efeito suspensivo àquele
título formado em 1ª instância. Ou seja, a partir desse momento a decisão está suspensa e, assim, o título é
inexequível.

 Então claramente se tem, nesses casos, uma inexequibilidade do título, que pode ser alegada aqui
nesse inciso III em relação a essas situações que podem ocorrer.

d) Inexigibilidade da obrigação:

Art. 525, §1º Na impugnação, o executado poderá alegar: III - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da
obrigação;
A obrigação é inexigível quando ausente qualquer dos requisitos previstos no art. 783 do CPC. Ou seja, não estando
presente no caso concreto a certeza, liquidez ou exigibilidade da obrigação, ela será inexigível.
Art. 783. A execução para cobrança de crédito fundar-se-á sempre em título de obrigação certa, líquida e
exigível.

Nos termos do art. 525, §12, também se considera inexigível a obrigação reconhecida em título executivo judicial
fundado em lei ou ato normativo considerado inconstitucional pelo STF, ou fundado em aplicação ou interpretação
da lei ou do ato normativo tido pelo STF como incompatível com a CF (“coisa julgada inconstitucional”).

Art. 525, §12: para efeito do disposto no inciso III do §1º deste artigo, considera-se também inexigível a obrigação
reconhecida em título executivo judicial fundado em lei ou ato normativo considerado inconstitucional pelo Supremo
Tribunal Federal, ou fundado em aplicação ou interpretação da lei ou do ato normativo tido pelo Supremo Tribunal
Federal como incompatível com a Constituição Federal, em controle de constitucionalidade concentrado ou difuso.

→ Trata-se de declaração de constitucionalidade em âmbito do controle concentrado ou controle difuso.


Exequente, com base em título executivo transitado em julgado com base em lei declarada
inconstitucional, inicia o cumprimento de sentença. É uma hipótese na qual a impugnação ao
cumprimento de sentença tem eficácia rescisória (relativização da coisa julgada inconstitucional).

Assim, nesta hipótese, há uma ratio decidendi, formada na 1ª instância, que obriga alguém a pagar alguma coisa a
outrem em decorrência de uma lei ou de um ato normativo do executivo e esse ato normativo ou essa lei são
declarados inconstitucionais em controle concentrado ou em controle concreto. Ou seja, se você tem um título que
foi baseado em uma lei inconstitucional ou em um ato normativo inconstitucional, você tem uma impugnação com
efeitos rescisórios.

OBS: Não há necessidade, contudo, de se propor uma ação rescisória. Você quando alega a inexigibilidade
da obrigação, tendo como base a ratio decidendi que formou o título, você está, efetivamente, rescindindo à
decisão, mas não por ação rescisória, mas sim por impugnação ao cumprimento de sentença. Então a
impugnação ao cumprimento de sentença tem efeitos rescisórios – você pode rescindir uma decisão não
por ação, mas por defesa, a partir do art. 525, §1º, inciso III (2ª parte).

O executado possui, portanto, a possibilidade de arguir essa inconstitucionalidade em defesa, sem necessidade
de ação rescisória. E, no caso do §12, os efeitos da decisão do Supremo Tribunal Federal poderão ser moduladas no
tempo, em intenção à segurança jurídica – a modulação, hoje, se tornou uma regra (pelo lei nº9868 – antes não era uma
regra) e é aplicada de uma forma extensiva (ex nunc ou pro futuro).

 O executado não precisa, então, propor a provisória, bastando que ele, em cumprimento de
sentença, argua a inexigibilidade da obrigação.

Obs.: Quando ocorre essa ação rescisória da decisão, eu posso falar que tal ação vai ser nulificada? A gente fala,
tecnicamente, que ela seria rescindida, mas ao se pensar que ela se tornará unificada também está não correto, uma
vez que quando se dá a nulificação entende-se a existência de vícios gravíssimos, que não podem ser convalidados. Na
nulificação, obviamente, a decisão tem efeito ex tunc, como regra geral – portanto não estaria incorreto se falar em
nulificação, mas apalavra correta que a gente usa, até pelo nome da ação, diz respeito à rescisão da decisão.

Art. 525, §14: a decisão do Supremo Tribunal Federal referida no §12 deve ser anterior ao trânsito em julgado
da decisão exequenda.

Portanto, quando que poderá ser alegada a inexigibilidade da obrigação pelo art. 525, §1º, III, com efeitos
rescisórios? Quando a decisão do STF tiver sido prolatada anteriormente à decisão exequenda.

→ Isso se dá, pois, o juízo não pode deixar de cumprir as decisões vinculantes do Supremo Tribunal Federal,
em controle concentrado ou concreto. Assim, o requisito para que possam ser alegados os efeitos
rescisórios em defesa típica (em impugnação no cumprimento de sentença) é a sentença ser anterior ao
trânsito em julgado da decisão exequenda.

→ O efeito é rescisório porque a questão da inconstitucionalidade deveria ter sido arguida e suscitada no
conhecimento, mas alguma coisa aconteceu que ninguém arguiu e, além disso, o juízo não se tocou, o
que proporcionou a formação de um título inconstitucional. Então se tem, na abertura de uma nova fase
do processo sincrético, a possibilidade de rescindir o que já foi transitado em julgado (uma vez que aqui
estamos falando de cumprimento definitivo e não de cumprimento provisório) – assim, está sendo
relativizado o trânsito em julgado em defesa e, além disso, em uma nova fase do processo sincrético
(defesa essa que não foi considerada no processo de conhecimento para a formação do título).

Exemplo: se tem uma lei de 1998 que, por sua vez, é declarada inconstitucional, pelo STF, em 2018. Daí se tem,
no juízo de 1ª instância, um título formado cuja ratio decidendi é baseada nessa lei de 1998, que foi declarada
inconstitucional pelo STF. Essa questão da inconstitucionalidade deveria ter sido arguida no conhecimento, de forma
incidental, mas isso não aconteceu e, além de tal questão não ter sido arguida, o juízo também não cooperou e não
levantou essa questão, porque, obviamente, o juízo está vinculado às decisões do STF (artigo 927 do CPC).

Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão:


I - as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade.

Com base no exemplo que está sendo desenvolvido, acaba por ser formada uma decisão transitada em julgado.
Inicia-se, então, o cumprimento de sentença. A impugnação, pelo artigo 525, III, vai levantar a inexigibilidade da
obrigação (não é inexigibilidade do título em si, mas da obrigação), porque a obrigação certificada no título foi
baseada em uma lei que, em 2018, foi declarada inconstitucional. Então nesse caso, em que a decisão é anterior à
formação do título (que, suponhamos, se deu em 2021), se tem a impugnação ao cumprimento de sentença com
efeitos rescisórios, sem necessidade, inclusive, de se propor a rescisória. O executado não precisa, então, propor
a provisória, bastando que ele, em cumprimento de sentença, argua a inexigibilidade da obrigação.

Será que a impugnação com efeitos rescisórios seria constitucional? Será que o remédio não teria que ser,
obrigatoriamente, ação rescisória? Essa questão chegou no STF – ADI 2418 – e foi considerada constitucional:
CONSTITUCIONAL. LEGITIMIDADE DAS NORMAS ESTABELECENDO PRAZO DE TRINTA DIAS PARA EMBARGOS À
EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA (ART. 1º-B DA LEI 9.494/97) E PRAZO PRESCRICIONAL DE CINCO ANOS PARA
AÇÕES DE INDENIZAÇÃO CONTRA PESSOAS DE DIREITO PÚBLICO E PRESTADORAS DE SERVIÇOS PÚBLICOS (ART. 1º-C
DA LEI 9.494/97). LEGITIMIDADE DA NORMA PROCESSUAL QUE INSTITUI HIPÓTESE DE INEXIGIBILIDADE DE TÍTULO
EXECUTIVO JUDICIAL EIVADO DE INCONSTITUCIONALIDADE QUALIFICADA (ART. 741, PARÁGRAFO ÚNICO E ART. 475-L,
§1º DO CPC/73; ART. 525, § 1º, III E §§ 12 E 14 E ART. 535, III, § 5º DO CPC/15).
1. É constitucional a norma decorrente do art. 1º-B da Lei 9.494/97, que fixa em trinta dias o prazo para a
propositura de embargos à execução de título judicial contra a Fazenda Pública.
2. É constitucional a norma decorrente do art. 1º-C da Lei 9.494/97, que fixa em cinco anos o prazo prescricional
para as ações de indenização por danos causados por agentes de pessoas jurídicas de direito público e de pessoas
jurídicas de direito privado prestadoras de serviços públicos, reproduzindo a regra já estabelecida, para a União, os
Estados e os Municípios, no art. 1º do Decreto 20.910/32.
3. São constitucionais as disposições normativas do parágrafo único do art. 741 do CPC, do § 1º do art. 475-L,
ambos do CPC/73, bem como os correspondentes dispositivos do CPC/15, o art. 525, § 1º, III e §§ 12 e 14, o art. 535,
§5º. São dispositivos que, buscando harmonizar a garantia da coisa julgada com o primado da Constituição, vieram
agregar ao sistema processual brasileiro um mecanismo com eficácia rescisória de sentenças revestidas de vício de
inconstitucionalidade qualificado, assim caracterizado nas hipóteses em que (a) a sentença exequenda esteja
fundada em norma reconhecidamente inconstitucional – seja por aplicar norma inconstitucional, seja por aplicar
norma em situação ou com um sentido inconstitucionais; ou (b) a sentença exequenda tenha deixado de aplicar
norma reconhecidamente constitucional; e (c) desde que, em qualquer dos casos, o reconhecimento dessa
constitucionalidade ou a inconstitucionalidade tenha decorrido de julgamento do STF realizado em data anterior ao
trânsito em julgado da sentença exequenda.

4. Ação julgada improcedente.

Art. 525, §15: se a decisão a decisão referida no §12 for proferida após o trânsito em julgado da decisão
exequenda, caberá ação rescisória, cujo prazo será contado do trânsito em julgado da decisão proferida pelo
Supremo Tribunal Federal.

→ Ou seja, se a decisão do STF for posterior ao título, cabe à parte a propositura de ação rescisória no prazo
de dois anos a contar do trânsito em julgado da decisão do STF (que julga inconstitucional).

Existem pro executado, portanto, 2 possibilidades:


1. Se a decisão em controle concreto e incidental ou em controle abstrato e concentrado for anterior, ele
vai alegar a inexigibilidade do título pelo art. 525, §3º (impugnação ao cumprimento de sentença com
efeitos rescisórios).

2. Contudo, se a decisão do STF for posterior ao título resta, para o executado, a ação rescisória – Ex.: o
título foi formado, por exemplo, em 2019 e apenas em 2021 a lei que foi a ratio decidendi desse título foi
declarada inconstitucional – o título, em 2019, era constitucional e, portanto, o cumprimento de
sentença que se iniciou é perfeitamente constitucional, só que em 2021, passado o prazo de impugnação,
a lei que fundamentou tal título se tornou inconstitucional. Então nesse segundo caso, mesmo que o
executado já tenha pago, ele pode fazer uso do remédio da rescisória (art. 966 do CPC).

→ Espera-se que o STF, nesse caso, module os efeitos da declaração de inconstitucionalidade, com a finalidade
de proporcionar maior segurança jurídica.

Ex.: Suponhamos um título tenha sido formado em 1ª instância, no ano de 2021, sem nenhum vício. Contudo,
em 2053 o STF declara inconstitucional a lei que foi a ratio decidendi da certificação da obrigação em 2021. O
executado (ou seus sucessores) têm interesse de entrar com a ação rescisória? Sim, uma vez que ele terá até
2055 para entrar com a rescisória – segurança jurídica perigosa.

 Nos termos do artigo 975, em regra o direito à rescisão se extingue em 2 (dois) anos contados do trânsito
em julgado da última decisão proferida no processo. Há, portanto, uma diferença do §15 do art. 525 para
esse artigo aqui. Considerando o artigo 975 e que você tem um processo, cuja decisão se deu em 2021 (a
última decisão), o prazo da rescisória será findo em 2023 – é a decisão no processo (o prazo de dois anos
é contado da última decisão dentro do processo). Mas não é isso que acontece nos termos do art. 525,
§15, uma vez que nesse caso o prazo da rescisória não será contado da última decisão, mas sim a partir
da decisão do STF. Desse modo, se a decisão for em 2048 e a lei ainda existir, os seus sucessores podem
falar, se quiserem, “vovô pagou uma dívida baseada nessa lei e, por isso, vou entrar com a rescisória para
ganhar o dinheiro que ele pagou, com todos os lucros cessantes e atualização”.

 Qual que seria o instrumento que permitiria ao STF acabar com os problemas desse artigo?
MODULAÇÃO. Espera-se que o STF não deixe essas situações acontecerem, porque nesse caso
apresentado acima (que é muito factível) gera-se uma insegurança jurídica muito grande, até porque as
declarações de inconstitucionalidade possuem, como regra, efeito ex tunc. Ou seja, o STF tem que
quebrar isso e falar que, agora, o efeito se dará ex nunc ou pró futuro – se ele fizer isso, ele acaba com
esse problema que está sendo discutido, uma vez que tudo que aconteceu antes da declaração de
inconstitucionalidade estava válido (segurança jurídica). Espera-se do STF, assim, para que esse
problema não venha a acontecer, a modulação.

e) Penhora incorreta ou avaliação errônea: art. 833, CP ou subfaturamento do preço do bem penhorado.

Art. 525, IV - penhora incorreta ou avaliação errônea;

Atenção: há um problema temporal em relação a essa defesa, vide os prazos do art. 523 c/c art. 525, CPC/2015. Isso se
dá, pois, após os 15 dias para realização de voluntário (partindo-se para o uso das medidas sub-rogatórias – penhora e
avaliação), os próximos 15 dias que abrem-se para apresentação de impugnação não são suficientes para realização da
penhora/avaliação.
Aqui nós temos um problema cronológico. A questão é a seguinte: se tem o requerimento; a intimação; os quinze
dias para pagamento, sob pena de sanção; os quinze dias para impugnar. A parte não pagou e, devido a isso, incidiram
todas aquelas consequências anteriormente apresentadas, mas ela não precisa fazer qualquer pagamento para
impugnar. O pagamento deve ser feito apenas para se evitar a multa, mas aqui o executado optou por não fazer tal
pagamento, deixando correr as sanções. Ainda que não tenha feito tal pagamento, entretanto, é óbvio que ela vai
impugnar e ela não precisa pagar qualquer quantia para essa impugnação (até porque o art. 525, caput, diz
“independentemente de penhora ou nova intimação”).

A partir do momento que a pessoa não pagou, no prazo para pagamento voluntário, qual que é a próxima ação
do juízo? Medidas executivas sub-rogatórias: penhora e avaliação.

→ Expedido um mandado de penhora e avaliação assim que efetivado o não pagamento, vai dar tempo de, em
quinze dias, de penhorar alguma coisa e avaliar? Não vai dar. Assim, se o executado tem que alegar
incorreção de penhora na impugnação, há um problema cronológico no processo. Inclusive, até que seja
expedido o mandado de penhora e avaliação já se passou muito desse prazo de quinze dias.

 Solução: art. 525, §11: abertura de prazo de 15 dias contados da intimação ou ciência do fato.

Para resolver tal questão, então, existe o parágrafo 11 desse art. 525, que diz:
§11. As questões relativas a fato superveniente ao término do prazo para apresentação da impugnação, assim
como aquelas relativas à validade e à adequação da penhora, da avaliação e dos atos executivos subsequentes, podem
ser arguidas por simples petição, tendo o executado, em qualquer dos casos, o prazo de 15 (quinze) dias para formular
esta arguição, contado da comprovada ciência do fato ou da intimação do ato.

Sendo assim, ocorrendo a penhora e a avaliação no prazo da impugnação e a avaliação foi errônea, por exemplo,
ou o juiz penhorou um bem impenhorável (como por exemplo o salário do executado que, por sua vez, é
impenhorável, pelo art. 833 do CPC) isso poderá ser alegado na impugnação.

Agora, se a penhora e avaliação aconteceu muito depois, não preclui, para o executado, o direito de fazer tal
alegação – o próprio art. 525, §11 fala que se acontecer a penhora depois de escoado o prazo para impugnação, essa
defesa pode ser alegada a qualquer tempo. Contado da comprovada ciência do fato ou da intimação do ato, você
tem quinze dias para alegar isso por simples petição. Então tal direito não preclui, o que quer dizer que tal alegação
de penhora incorreta ou avaliação errônea pode se dar depois, ainda que não em sede de impugnação (porque essa já
passou), mas por simples petição.

Conclusão: portanto, no que concerne à incorreção da penhora e da avaliação, não suportará o executado
nenhuma espécie de preclusão, sendo legítima a alegação de tais matérias no momento em que materialmente passe
a ser possível tal alegação. Realizada a penhora e/ou a avaliação, o executado terá um prazo de 15 dias, contando a
partir da juntada aos autos do mandado de penhora e avaliação – se a avaliação for feita por avaliador, da data de
intimação das partes do laudo produzido – para alegar as matérias que não sejam de ordem púbica – estas podem ser
alegadas a qualquer momento.

→ Ou seja, a incorreção da penhora ou da avaliação será impugnada por simples petição, no prazo de 15 dias
da ciência do ato.

O procedimento acontece com o requerimento, quinze dias para pagar e mais quinze dias para
impugnar. A partir do escoamento desses quinze dias úteis para pagar, existe o comando do CPC, ao juízo,
que fala que ele deve, desde logo, espedir mandado de penhora e avaliação.

 Sendo assim, durante o prazo de pagamento voluntário o juiz nada faz, ele não vai imputar
medidas coercitivas típicas, típicas sub-rogatórias ou atípicas de qualquer modelo, porque ele
vai, simplesmente, aguardar o comparecimento voluntário da parte para esse pagamento. A
partir do momento que há o escoamento desse prazo de pagamento voluntário, contudo, ele
deve, desde logo, expedir mandado de penhora e avaliação.

Só que as coisas não acontecem com muita rapidez no processo e sabemos muito bem disso. Por isso,
não devemos achar que a partir do momento que a parte não compareceu no 15º dia para pagar que o juízo,
no 16º dia, já vai expedir mandado de penhora ou avaliação. Isso não vai acontecer – às vezes o juízo vai
demorar dois meses, três meses, seis meses, um ano para tomar essa decisão (seja processo físico ou digital)
– o que quer dizer que ele vai demorar a tomar essa decisão, até porque ele tem um congestionamento de
processo. Então isso não vai ocorrer no 16º dia.

Nesse viés, vimos que se você teria que alegar essa matéria em sede de impugnação ou cumprimento
de sentença, não daria tempo de você alegar isso se o juiz faria a expedição, por exemplo, de mandado de
penhora e avaliação no prazo de um ano. Como é que você vai alegar isso em até quinze dias depois do
escoamento do prazo de pagamento voluntário? Esse é um prazo preclusivo, o advogado tem que te
defender nesse prazo.
 O Código, então, corrige isso para nós no §11 que nós já vimos, de modo que as questões
relativas a fato a fato superveniente ao término do prazo para apresentação da impugnação,
assim como aquelas relativas à validade e à adequação da penhora, da avaliação e dos atos
executivos subsequentes, podem ser arguidas por simples petição, tendo o executado, em
qualquer dos casos, o prazo de quinze dias para formular esta arguição, contado da
comprovada ciência do fato ou da intimação do ato.

Então aqui se tem a expedição do mandado de penhora e avaliação, que vai ocorrer não se sabe quando
e, a partir do momento que se tem essa expedição, você tem, obviamente, ou o Oficial de Justiça fazendo
essa penhora (essa constrição) de forma presencial ou digitalmente. Nesse sentido, quando se dá a sua
intimação da constrição patrimonial que sofreu (da penhora) ou a respeito da avaliação do patrimônio que
lhe foi conscrito é que você tem os quinze dias para, por simples petição, alegar essa defesa.

 Então a matéria não se sujeita à preclusão na impugnação, a matéria pode ser alegada a
qualquer tempo, por simples petição, a partir do momento em que você é intimado ou fica
ciente do ato inequivocamente (essa ciência inequívoca do ato se dá, por exemplo, quando o
próprio Oficial de Justiça vai à sua casa e realiza atos de penhora na sua presença – ali dispensa
a intimação, porque aquilo foi realizado na sua presença e então, obviamente, você já está
ciente da constrição que foi feita aos seus bens). Nesse momento surge para você, obviamente,
o direito (o interesse) de você arguir essa matéria quinze dias depois da ciência ou intimação do
ato.

Importante: Lembrando que não é impugnação, porque o tempo da impugnação já teve seu prazo
findo. Essa defesa, portanto, é sempre alegável, passível de suscitação, a partir da intimação ou da
ciência inequívoca sobre esse ato.

Exemplo: se o juiz penhorou o seu salário, pelo SISBAJUD, obviamente isso é impenhorável como regra
geral (só não é impenhorável para dívidas alimentares, conforme iremos estudar) – o juízo não pode
penhorar seu salário por ser tido como verba alimentar. Do mesmo modo, se o juízo avaliou um bem seu –
consideremos, aqui, um carro – abaixo do valor de mercado, isto é, abaixo da tabela FIBE, então você pode
alegar, claramente, que houve uma subavaliação do seu bem. Até porque você não pode perder dinheiro,
tendo em vista que o fim é o pagamento e não que você perca dinheiro em relação ao valor de mercado de
um bem, dado por índices aceitos em relação aos bens que são postos para trânsito mercadológico. Essa
suscitação, portanto, é sempre temporal, é sempre tempestiva, desde que feita por simples petição no
prazo de quinze dias úteis a partir da inequívoca intimação ou inequívoca ciência.

f) Excesso de execução:

523, §1º V - excesso de execução ou cumulação indevida de execuções;


A principal hipótese de excesso à execução é aquela que diz respeito à cobrança de valor superior ao da dívida ou
bens em quantidade maior à efetivamente devida.
→ Quando há prolação de uma decisão líquida, essa decisão já tem todos os dados relacionados à sua liquidez,
ainda que esses dados não estejam somados. Então ela já tem o índice de correção de juros, o índice de
atualização monetária, ela já tem todos os dados. Todavia, quando você inicia o cumprimento de sentença,
esses cálculos devem ser refeitos, ou seja, atualizados (pois passa tempo da prolação da sentença até o
início do cumprimento da decisão).

Sendo assim, para iniciar a execução, deve ser apresentada uma planilha de cálculos (que em regra é feita
pelo exequente – seu advogado ou contador contratado pelo advogado), e o custo dessa planilha de
cálculos é do exequente.

Assim, o valor que é gasto para fazer uma atualização monetária e em relação a juros (bem como cláusulas
penais e outras coisas mais que incidem na obrigação) é um valor de obrigação do exequente e não pode ser
repassado ao executado no processo. Ou seja, o exequente que vai fazer a tabela com o seu advogado ou
com o seu contador.

Portanto, a planilha de cálculos feita pelo credor é elaborada de forma unilateral. Feita a planilha atualizada, é
possível que o executado discorde do valor (ex. a incidência dos juros foi colocada de forma errônea e/ou que o
método que foi utilizado para cálculo dos juros foi colocado de maneira errada).

→ Portanto, nesse caso, o executado não está arguindo, em sede de impugnação de cumprimento de sentença,
que ele não deve, mas sim que ele não deve x reais, uma vez que, na opinião dele, ele deve y. Isso significa
um excesso de execução.

Caso alegue essa matéria, é preciso que o executado indique o valor que considera correto. (art. 525, §§4º e 5º,
CPC/2015).

→ Ou seja, quando nós temos essa alegação (excesso de execução) da outra parte, isto é, do executado, é
preciso saber, claramente, que o executado tem suas obrigações ao fazer essa defesa, de modo que não
basta apenas alegar, nesse viés, que a planilha do exequente está errada ou excessiva. Então o CPC nos traz
as obrigações do executado no §4º do art. 525 (CPC/2015).

§4º Quando o executado alegar que o exequente, em excesso de execução, pleiteia quantia superior à resultante
da sentença, cumprir-lhe-á declarar de imediato o valor que entende correto, apresentando demonstrativo
discriminado e atualizado de seu cálculo.

→ Então há obrigação, por parte do executado, de apresentar a sua própria planilha. Ele não pode
simplesmente suscitar essa defesa sem apresentar o valor incontroverso (porque existe um valor
incontroverso). Ou seja, ele vai apresentar a sua planilha e vai afirmar que não deve X, mas sim Y e
demonstrará, assim, os seus cálculos para comprovar que deve o que está dizendo que deve (é essa a
obrigação do executado).

Ou seja, cabe ao embargante indicar o valor que entende correto, acompanhado de memorial de cálculos,
sob pena de extinção liminar da impugnação. Nesse caso, a execução seguirá somente em relação à parcela
incontroversa.

Nessa perspectiva, na falta de apresentação dessa planilha de dados (desse demonstrativo discriminado, como o
CPC coloca) se tem §5º do artigo 525 como consequência.
§5º Na hipótese do §4º, não apontado o valor correto ou não apresentado o demonstrativo, a impugnação será
liminarmente rejeitada, se o excesso de execução for o seu único fundamento, ou, se houver outro, a
impugnação será processada, mas o juiz não examinará a alegação de excesso de execução.

→ Assim, se o erro na atualização for a única defesa do executado, o CPC diz que a gente teria que rejeitar
liminarmente a impugnação. Entretanto, se houver duas ou mais defesas suscitadas pelo executado (vamos
supor que ele suscita excesso de execução e também suscita uma avaliação ou penhora incorreta feita em
relação a algum bem dele constrito e ele, além disso, suscita uma incompetência relativa em relação ao
processamento da execução) o CPC nos fala, no mencionado §5º, que você deveria desconsiderar o excesso
de execução por não apresentação da planilha de cálculos e, a partir disso, somente processar a impugnação
pelas defesas residuais (que seriam, no caso dado, a ilegitimidade de parte e a penhora incorreta).

 Deverá, assim, o executado que alegar que o exequente pleiteia quantia superior à do título (excesso
à execução), declarar de imediato o valor que entende correto, apresentando demonstrativo
discriminado e atualizado de cálculo. Caso não seja apontado o valor correto ou não apresentado o
demonstrativo, os embargos à execução serão liminarmente rejeitados, com extinção do processo
sem resolução de mérito, se o excesso de execução for o seu único fundamento; se houver outro
fundamento, os embargos à execução serão processados, mas o juiz não examinará a alegação de
excesso de execução.

u Jurisprudência: AgInt no AREsp 1561475 / MS/2020 ("[...] é indispensável, na impugnação ao cumprimento de


sentença fundado em excesso de execução, a indicação do valor que se entende como correto, além da
apresentação de memória de cálculo, sob pena de rejeição liminar da ação, esclarecendo ser vedada a emenda à
inicial”.)

u Obs.: Necessidade de Realização de Perícia para a apuração do valor:


AgInt no AREsp 1048407 / RJ: “4. A impugnação somente será rejeitada em virtude da falta de memória
de cálculo se o excesso de execução for seu único fundamento. A devedora impugnou o método e o critério
adotado na perícia, o que não implica a rejeição liminar da impugnação.

5. Hipótese em que a determinação do valor da condenação não depende apenas de cálculo aritmético,
exigindo a realização de perícia para apurar o montante devido.

6. O ônus imposto ao executado de indicar o valor que entende devido para impugnar o excesso de
execução não acarretará, por si só, o indeferimento liminar da impugnação nos casos em que se faz
necessária a realização de prova pericial (art. 475-L, § 2º, do CPC/73 / art. 525, § 4º, do NCPC)”.

No caso em questão, todavia, a devedora impugnou o método, ela não impugnou o valor. Ela
falou que se tratava de um excesso de execução não por causa do valor, mas sim por causa do
método. A devedora, portanto, impugnou o método e o critério adotado na perícia (isto é, o critério
adotado na planilha do exequente), o que não implica a rejeição liminar da impugnação. Então quando
ela fez a impugnação, ela alegou excesso de execução, mas tal excesso é oriundo da discussão do
método aplicado – a devedora, nesse caso, não está discutindo valor, ela está querendo saber se o
método aplicado na perícia é, realmente, o correto para se chegar no valor. Levanta-se a possibilidade
de excesso de execução se o método utilizado na perícia foi errado.

Se ela (a devedora) está impugnando isso e não sabe o método, não tem como a apresentação
da planilha. Então na realidade essa devedora não apresentou planilha por estar impugnando o
método, o que quer dizer que ela quer que o juízo dê uma resposta para ela em relação ao método
que, por sua vez, vai ser uma variante no resultado (obviamente). Ao impugnar o método, temos que
trata-se de uma hipótese em que a impugnação do valor da condenação não depende apenas de
cálculo aritmético, exigindo a realização de perícia para apurar o montante devido. Assim, o ônus
imposto ao executado de indicar o valor que entende devido para impugnar o excesso de execução
não acarretará, por si só, o indeferimento liminar da impugnação nos casos em que se faz necessária a
realização de prova pericial.
Mesmo você tendo uma decisão líquida que já está em fase de cumprimento de sentença, você
pode, quando ele for fazer a atualização e iniciar o cumprimento de sentença contra você, suscitar a
matéria de excesso de execução sem apresentar planilha, se a sua defesa se referir a um método
utilizado pelo contador para chegar ao resultado final. E esse método usado pelo contador para chegar
ao resultado final vai ter que ser avaliado, mas o juiz não vai saber analisar isso, assim como nós
também não vamos saber (visto que somos juristas) e, portanto, tal avaliação se dará por meio de
perícia. O perito, então, vai ter que apresentar quesitos com vistas a se saber qual que é o método
correto para se chegar à atualização daquele valor já liquidado.

Entretanto, por mais que o CPC nos fale isso claramente, temos que criticar algumas coisas do CPC, uma vez
que em alguns momentos ele favorece o executado.
Enunciado nº 95: o juiz, antes de rejeitar liminarmente a impugnação ao cumprimento de sentença (art. 525, §
5º, do CPC), deve intimar o impugnante (executado) para sanar eventual vício, em observância ao dever
processual de cooperação (art. 6º do CPC).

 Aquela matéria da impugnação em que você aponta excesso de execução requer a apresentação de
planilha. Se não for apresentada a planilha, o próprio CPC estabelece que teria que ser rejeitado
liminarmente o pedido. Existe, contudo, uma interpretação de que o juiz não deveria rejeitar
liminarmente o pedido, de modo que o juízo devia, pelo dever processual de cooperação, dar
oportunidade de o impugnante emendar a defesa.

Você não tem, no processo cognitivo, por exemplo, e no próprio processo executivo autônomo a possibilidade de
emenda da petição inicial? Quando você apresenta uma petição inicial muito malfeita, seu advogado faz um advogado
faz uma petição inicial muito malfeita, e a apresenta mesmo sendo inepta, o juízo não vai, de plano, extinguir o
processo sem resolução de mérito pelo art. 485. Então obviamente que o juízo vai dar uma oportunidade, à parte, de
emenda da inicial no prazo de quinze dias – a gente sabe disso e existe, no CPC, também, uma disposição específica
em que você dá à parte a possibilidade de emenda em cinco dias. Desse modo, se você á autor e apresenta uma
petição terrível e em desacordo com o artigo 319, apesar disso o juízo tem um dever de cooperação com as partes
(isso é um princípio) e, a partir disso, o juízo vai te dar uma chance de corrigir aquilo que está atécnico – ele vai te
intimar e vai te dar um prazo para que você emende a inicial.
Partindo desse pressuposto, seria muito radical se entender que se o executado (réu) não apresentou
demonstrativo na sua defesa (sendo essa uma peça de defesa que ele tem direito a fazer) e o juiz, então,
simplesmente rejeitar liminarmente. Se pensarmos assim no processo, estaremos dando uma chance para o autor
corrigir uma petição inicial, mas não é dada a chance, para o executado, de corrigir a sua defesa – com isso, se
entende, ainda que implicitamente, que quem é autor tem sempre razão (o que não é verdade).
Óbvio, a partir do exposto, que deve-se romper com essa concepção de que quem demanda tem sempre razão. O
processo tem que ser minimamente isonômico. Ou seja, apesar de o CPC nos falar isso expressamente, se você
cumular esse §5º com os princípios gerais do processo (artigos 1º a 12 do CPC/2015) vamos ver que o juízo tem um
dever de cooperação com ambas as partes. Nesse viés, quando um juiz recebe uma peça de defesa em sede de
cumprimento de sentença (uma impugnação), ele deve conceder a oportunidade, também, de a parte corrigir, até
porque esse erro foi do advogado e não da parte, então esse erro, provavelmente, é em virtude de má representação.
Quando o advogado faz uma impugnação, dentro de um processo de execução, e não apresenta planilha, esse
advogado precisa estudar direito de novo. Então esse erro não foi da parte, esse erro foi do advogado da parte e, por
causa disso e, também, em razão do direito de cooperação, o juízo teria que, antes de rejeitar liminarmente, dar prazo
para que se emende a defesa, de acordo, inclusive, com o Enunciado da I Jornada de Direito Processual Civil.

Então se um determinado juiz recebeu uma impugnação ao cumprimento de sentença em que se alega o excesso
de execução sem a planilha, ele não vai rejeitar liminarmente a impugnação. Ele fala ao advogado que ele deve
apresentar a planilha de cálculos em relação a tal defesa e, a partir disso, como o advogado não apresentou tal
planilha, o juiz vai arbitrar um prazo (uma vez que o CPC não determina) para que proceda tal correção. Minimamente
o juiz tem que fazer isso, uma vez que ele tem que considerar que se ele tem prazo para emendar a inicial, não há
sentido a não concessão de prazo para o advogado corrigir a sua defesa.
Importante: Sendo acolhida a alegação de que o credor pretende receber maior valor que o consignado no título,
os embargos serão julgados procedentes, adequando-se o valor da execução, que naturalmente seguirá seu trâmite
para que o exequente receba nos limites do título exequendo.
g) Cumulação indevida de execuções: art. 780, CPC/ 2015: ex.: há título executivo judicial contra o devedor, mas
o exequente, ainda, tem em seu poder um cheque sem provisão de fundos contra o mesmo devedor. Não é possível
cumular essas execuções, pois o procedimento para a execução de ambos é distinto.

523, §1º V - excesso de execução ou cumulação indevida de execuções;


O NCPC permite a cumulação de execuções, inclusive com mais de um título executivo, daí a preocupação do
legislador em apontar como matéria oponível nos embargos do devedor a cumulação indevida. Tal permissão
consta do art. 780 do CPC.

Ex.: Você entrou, por exemplo, com duas demandas contra o mesmo réu. São processos diferentes, mas
eles tiveram decisões mais ou menos na mesma época e, além disso, tratam-se de obrigações de fazer e as
decisões foram, ambas, a seu favor e os títulos são títulos executivos judiciais. Tendo isso em vista, você
poderia, no mesmo cumprimento de sentença (nos mesmos autos), cobrar as duas decisões
conjuntamente.

Ela sempre será indevida quando afrontar as disposições contidas no art. 780 do NCPC:

Art. 780. O exequente pode cumular várias execuções, ainda que fundadas em títulos diferentes, quando o
executado for o mesmo e desde que para todas elas seja competente o mesmo juízo e idêntico o
procedimento.

→ Ao mencionar "mesmo executado” o artigo legal quer dizer "polo passivo”, daí a inegável possibilidade de
cumulação de execuções no caso de litisconsórcio passivo.

→ Quanto à competência, as maiores dificuldades surgem na cumulação de execuções fundadas em títulos


executivos judiciais, que deverão ter sido formados perante o mesmo juízo. No caso de sentença penal e
arbitral cumulada com sentença condenatória, é possível que o mesmo Juízo seja competente, permitindo a
cumulação. No caso de diferentes títulos, sendo todos extrajudiciais, aumentam as chances de o mesmo Juízo
ser o competente para a execução de todos eles, o que permitiria a cumulação.

A competência do juízo que formou o título é absoluta, mas, como vimos, existem mitigações às
características da competência absoluta, pelo artigo 516. Ou seja, você pode escolher, mesmo sendo a
competência funcional absoluta, um outro juízo mais propício para a execução, em função do princípio da
máxima efetividade da execução.

Art. 516. O cumprimento da sentença efetuar-se-á perante:


I - os tribunais, nas causas de sua competência originária;

II - o juízo que decidiu a causa no primeiro grau de jurisdição;


III - o juízo cível competente, quando se tratar de sentença penal condenatória, de sentença arbitral, de
sentença estrangeira ou de acórdão proferido pelo Tribunal Marítimo.
Parágrafo único. Nas hipóteses dos incisos II e III, o exequente poderá optar pelo juízo do atual domicílio
do executado, pelo juízo do local onde se encontrem os bens sujeitos à execução ou pelo juízo do local onde
deva ser executada a obrigação de fazer ou de não fazer, casos em que a remessa dos autos do processo será
solicitada ao juízo de origem.

Como você poderia cumular as duas execuções, nesse caso, fato é que se você tem duas execuções que
se passam pelo mesmo procedimento que, nesse caso, é o cumprimento definitivo de decisão. O juízo
escolhido para tal procedimento tem que ser competente para as duas sentenças. Se o juízo é competente
para ambas e elas possuem o mesmo procedimento – são, por exemplo, obrigações de pagar atestadas em
título executivo judicial – as execuções podem ser cumuladas.
Eu ganhei em dois processos diferentes, mas agora eu vou solicitar ao juízo onde o meu executado tem
bens que execute esses dois processos, que são obrigações de pagar por título executivo judicial. O juízo vai
ser competente para as duas, tendo em vista que vai ser o juízo de onde tem bens do executado que, por sua
vez, é um só. Não tem problema nenhum cumular.
Obs.: Cumulação execução de sentença arbitral e sentença estatal:

Se tem, por exemplo, uma sentença arbitral contra um executado (contra um devedor) e, ao
mesmo tempo, também existe uma sentença do juízo estatal contra o mesmo devedor, mas são por
fatos diferentes. O executado devia o exequente em relação a um contrato no qual foi eleita a
arbitragem e, além disso, devia em relação a outro negócio jurídico que não possui contrato e nem
prova documental e que, portanto, gerou a necessidade de se buscar um pronunciamento da justiça e
uma demanda em juízo, surgindo o conhecimento. No final, contudo, se tem uma sentença arbitral
prolatada pelo árbitro (o árbitro não tem competência executiva, mas apenas cognitiva) e, ainda, uma
sentença prolatada pelo juízo em relação a uma outra dívida – as duas sentenças são relativas a uma
obrigação de pagar que, por sua vez, é plenamente cumulável, tendo em vista que o executado
(devedor) é o mesmo e, além disso, o juízo competente também é o mesmo (pelo artigo 516 do CPC eu
posso, por exemplo, iniciar o cumprimento de sentença decorrente de sentença arbitral no juízo que
melhor dará efetividade da execução – no juízo onde o executado tenha bens; no juízo onde o
executado reside no momento).

Então é cumulável a execução de uma sentença arbitral juntamente com a execução de uma
sentença prolatada pelo juízo estatal? Se elas forem de obrigação de pagar, se o mesmo juízo é
competente e se o procedimento for idêntico é claro que sim, até porque é cumprimento de sentença e,
inclusive, o artigo 515 do CPC estabelece que a sentença arbitral é um título executivo judicial. Agora, se
se tiver um cheque (título cambiariforme) contra esse mesmo devedor e uma sentença arbitral não é
possível tal cumulação, tendo em vista que em relação à sentença arbitral terá de ser iniciado um
cumprimento de sentença, uma vez que é título executivo judicial pelo art. 515, enquanto que o cheque,
pelo artigo 784 (também do CPC), é um título executivo extrajudicial que requer, logicamente, um
processo executivo autônomo. Então não dá para cumular, ou seja, não é possível colocar o cheque lá
no cumprimento de sentença junto com o cumprimento da sentença arbitral. Nesse caso do cheque e
da sentença arbitral, portanto, há um impedimento para a cumulação da execução, já que para cumular
a execução existem os requisitos do artigo 780 do CPC, sendo eles: mesmo procedimento; mesmo
executado e; mesmo juízo competente. Se tais requisitos não são cumpridos (não são observados),
surge o direito de, na impugnação ao cumprimento de sentença, o executado suscitar essa matéria:
cumulação indevida de execuções.

→ Além do mesmo executado e do juízo competente, é necessária a identidade quanto à forma do processo, ou
seja, é impossível cumular execuções de diferentes naturezas, com procedimentos diferentes. Se existem dois
títulos, um expressando obrigação de fazer e outro de pagar quantia certa, é impossível a cumulação. Tal
exigência decorre dos diferentes procedimentos para cada espécie de execução (tomando-se por base a natureza
da obrigação do executado).

Ademais, não é possível cumular a execução de um título judicial com um extrajudicial. O título executivo
extrajudicial requer um processo de execução autônomo (no qual a defesa é feita por meio de embargos) e,
portanto, não pode tal processo ser cumulado com o cumprimento de sentença (em que a pessoa vai se
defender por impugnação). Vai ser necessário nesse caso, então, entrar com um processo executivo
autônomo e com o cumprimento de decisão do outro título (o judicial). Pode ser que seja até no mesmo
juízo, mas o procedimento é incompatível, isto é, não dá para compatibilizar.

Vamos supor, então, que você participou de um processo de conhecimento e, por causa disso, tem contra
você um título judicial formado, mas aí chega um cumprimento de sentença, cuja petição inicial tem mais
um título executivo extrajudicial contra você. Nessa situação, então, você vai alegar cumulação indevida
de execuções, pois, como demonstrado, não se pode cumular título executivo judicial com título
executivo extrajudicial (para este terá que ser iniciado um processo executivo autônomo).
A doutrina majoritária entende que o acolhimento de tal defesa (cumulação de execuções indevidas) deve levar à
extinção integral do processo de execução, sendo possível ao exequente mover posteriormente processos de
execuções em separado.

→ Há, entretanto, doutrinadores que entendem que o acolhimento de tal defesa enseja ao exequente uma
escolha de qual execução pretende dar continuidade, prestigiando-se o princípio da economia processual.
Aponta a melhor doutrina que a cumulação indevida de execução é matéria de ordem pública, podendo ser
alegada fora dos embargos, e até mesmo reconhecida de ofício pelo juiz

h) Fatos modificativos ou extintivos supervenientes à sentença: aplica-se também o art. 525, §11, CPC/2015:
possibilidade de alegação por simples petição (compensação, pagamento parcial, transação).

Art. 525, § 11. As questões relativas a fato superveniente ao término do prazo para apresentação da impugnação,
assim como aquelas relativas à validade e à adequação da penhora, da avaliação e dos atos executivos
subsequentes, podem ser arguidas por simples petição, tendo o executado, em qualquer dos casos, o prazo de 15
(quinze) dias para formular esta arguição, contado da comprovada ciência do fato ou da intimação do ato.

I) Incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução

VI - incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução;


Essa incompetência aqui é a incompetência do artigo 516 do CPC (não é a incompetência do artigo 46, nem do artigo
47 ou do art. 48 e nem do art. 53 do CPC – essas incompetências serão alegadas quando o executado tiver a primeira
oportunidade de falar nos autos, que é em contestação):

Art. 516. O cumprimento da sentença efetuar-se-á perante:


I - os tribunais, nas causas de sua competência originária;

II - o juízo que decidiu a causa no primeiro grau de jurisdição;

III - o juízo cível competente, quando se tratar de sentença penal condenatória, de sentença arbitral, de sentença
estrangeira ou de acórdão proferido pelo Tribunal Marítimo.

Parágrafo único. Nas hipóteses dos incisos II e III, o exequente poderá optar pelo juízo do atual domicílio do
executado, pelo juízo do local onde se encontrem os bens sujeitos à execução ou pelo juízo do local onde deva ser
executada a obrigação de fazer ou de não fazer, casos em que a remessa dos autos do processo será solicitada ao juízo
de origem.

→ Sabemos que, em relação ao mencionado artigo 516, a competência do inciso I e do inciso II é funcional
absoluta (tanto a competência dos Tribunais originários quanto a competência do juízo que prolatou a
decisão), já no que diz respeito ao inciso III se tem uma competência relativa (que é em relação à sentença
penal, arbitral, estrangeira), havendo, portanto, uma possibilidade de se eleger a melhor sessão para fazer a
execução. Então obviamente que há uma competência relativa dentro do inciso III e duas competências
absolutas, nos demais incisos.

Todavia, apesar de a competência absoluta dos incisos I e II ser classificada como tal, existe uma mitigação dos
seus atributos pelo parágrafo único. Ou seja, mesmo que a competência continue sendo absoluta pelos incisos I e II
(ela não se modifica para relativa), é possível, pelo princípio da efetividade, que você mitigue a inderrogabilidade da
competência absoluta, solicitando ao juízo que, então, remesse os autos para aquele juízo mais efetivo em relação
ao cumprimento de sentença, mas desde que se comprove que aqueles requisitos estão cumpridos.

→ Desse modo, se você quer a remessa dos autos para um foro onde você alega que o devedor tenha bens,
você tem que comprovar ao juízo que ele tem bens naquele foro, uma vez que se você não comprovar
que ele tem bens naquele foro, obviamente que essa remessa não pode ser feita.
→ Você alega, também, por exemplo, que se você quer que os autos sejam remetidos para um outro foro
devido o devedor executado residir, agora, nesse novo foro – deve ser provada a nova residência do
devedor, uma vez que se não for provado esse novo foro do devedor essa remessa não será atendida, por
violação à competência absoluta.
→ Ou seja, o artigo 516, parágrafo único, só pode ser aplicado a partir do momento que você prova ao
juízo que houve uma modificação da residência durante o processo (exceção à perpetuatio
jurisdictionis) ou que há bens penhoráveis e desembaraçados em outro foro e que isso daria maior
efetividade à execução. Caso tais requisitos não sejam provados, não se justifica a mitigação dessa
inderrogabilidade da competência absoluta.

J) Causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigação, desde que superveniente à sentença

VII - qualquer causa modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento, novação, compensação, transação
ou prescrição, desde que supervenientes à sentença.

Tudo o que acontece supervenientemente à sentença (que são, geralmente, atos da parte contrária, da parte
sucumbente, que tenta transacionar; realizar uma dação em pagamento; novação; estipulação de uma outra
obrigação)¸configurando situações modificativas extintivas (como prescrição e pagamento) das obrigações
originárias, podem ser alegadas.

→ Constam expressamente do dispositivo legal como causas extintivas ou modificativas o pagamento,


novação, compensação, transação e prescrição. O rol é meramente exemplificativo , como se nota dos
termos "qualquer causa" e "como", ao identificar algumas espécies de causas alegáveis e sede de
impugnação. É admissível, portanto, a alegação de outras causas extintivas ou modificativas, tais como
a renúncia do crédito, remissão, compromisso, confusão etc.

O art. 525, §1º, VII do NCPC exige que as causas modificativas e extintivas da obrigação tenham ocorrido
depois da sentença, em respeito à eficácia preclusiva da coisa julgada. Nas hipóteses de essas causas já
existirem durante a fase de conhecimento, de 2 uma: ou foram alegadas em contestação e afastadas pelo juiz,
ou nem chegaram a ser alegadas. Seja como for, a eficácia preclusiva da coisa julgada atinge o deduzido e o
dedutível (art. 508 CPC), não sendo possível sua alegação em sede de impugnação.

Art. 508. Transitada em julgado a decisão de mérito, considerar-se-ão deduzidas e repelidas todas as
alegações e as defesas que a parte poderia opor tanto ao acolhimento quanto à rejeição do pedido.

Exemplo: A sentença é prolatada, portanto se finaliza o procedimento (se é sentença finalizou o procedimento,
obviamente, pelo artigo 203 do CPC) e aí o executado aceita, de modo que diz “eu devo, quero ficar livre desse
processo que já foi muito cansativo, demorou muitos anos, o que eu quero, agora, é pagar esse negócio, porque eu
não quero mais me sujeitar a cumprimento de sentença”. Assim, o executado pede para o seu advogado ligar para o
credor (tendo em vista que nem é exequente é ainda) e o falar que, embora esteja devendo, de acordo com a
sentença, 100 mil reais, não tem esse valor, mas se visa que o credor aceite, por exemplo, 70 mil reais ou o carro do
executado (que, suponhamos, vale 75 mil reais, segundo a tabela FIP) ou que, ainda, tal dívida possa vir a ser
parcelada. O advogado, então, antes de, obviamente, se iniciar o cumprimento de sentença, entra em contato com o
advogado da outra parte que, por sua vez, aceita – geralmente se forma por e-mail essa transação, essa dação em
pagamento ou condição especial de pagamento. Depois, contudo, o executado é surpreendido com o início de um
cumprimento de sentença – o executado não pode, logicamente, se sujeitar a essa sentença.

• Prescrição: é prescrição da pretensão executória


No que diz respeito à alegação de prescrição, se trata da prescrição da ação.

→ A pretensão executória não é a pretensão do conhecimento, então são duas prescrições independentes.
→ A pretensão do conhecimento já foi exercida, então obviamente que não vai haver prescrição da ação (você
já foi lá e demandou), mas a partir do momento que se tem um título há o surgimento de uma nova
pretensão que, por sua vez, é a pretensão executória (que, conforme dito, não é a mesma pretensão do
conhecimento). A pretensão executória também surge para você e, com isso, se você tem um título, você
tem que iniciar um cumprimento com o requerimento – o juízo não vai iniciar, para você, uma obrigação de
pagar, o que quer dizer que ele vai ficar esperando que você requeira o cumprimento de sentença, porque
juízo nenhum vai iniciar ex officio cumprimento de sentença.
Tendo um título, vamos imaginar que você iniciou o cumprimento de sentença, por desídia, quatro anos depois.
Isso não pode, uma vez que você perdeu o prazo (prescrição). Se o outro te pagar voluntariamente e fora do processo,
problema é dele, já que essa dívida é legítima, mas fato é que o seu prazo de pretensão executória é o mesmo prazo
da ação. Assim, se você tem um prazo de três anos para entrar com a ação, com a demanda (pelo surgimento da
pretensão), esse mesmo prazo será contado para a pretensão executória, a partir do momento que você tem a
finalização do conhecimento.

Quando que se dá a finalização do conhecimento e a contagem do termo inicial do prazo prescricional


executório? Quando há, obviamente, a prolação de uma sentença líquida e seu trânsito – então se conta o prazo do
trânsito em julgado da sentença líquida – ou quando há a fase liquidatória, situação em que há uma sentença ilíquida
e, portanto, é necessário liquidá-la – então do trânsito em julgado da decisão liquidatória, nessa segunda hipótese,
que você vai contar o início do prazo da prescrição executória e esse prazo é o mesmo prazo da pretensão do
conhecimento (se são três anos para o conhecimento, são três anos para a execução), de acordo com a súmula nº150
do STF.

De acordo com a Súmula 150 do Supremo Tribunal Federal, o prazo prescricional da execução é o mesmo da ação
originária. O prazo prescricional da execução de sentença começa a transcorrer a partir do trânsito em julgado da
ação conhecimento.
Súmula nº150: prescreve a execução no mesmo prazo de prescrição da ação.

São duas prescrições, não é uma só. Existem várias inconsistências no âmbito do CC, uma vez que eles não
resolvem o problema da prescrição endoprocessual. Ou seja, a prescrição tem que se basear (se fundamentar) na
pretensão. Nesse viés, assevera-se que a pretensão do conhecimento é completamente diferente da pretensão
executória.

→ Então, exercida a pretensão do conhecimento (que é aquela que está no artigo 206 do CC), obviamente
que essa acabou, já foi exercida – se ela foi exercida dentro do prazo, não há mais que se falar em
prescrição do conhecimento, isto é, essa matéria, se ela tiver que ser suscitada, vai ter que ser suscitada
na contestação e vai ser finalizada lá. Todavia, com o título executivo se tem uma nova pretensão que,
por sua vez, trata-se da pretensão de executar – essa nova pretensão, então, tem que ser contada de
novo, já que é uma nova pretensão (não é aquela antiga pretensão que está sendo recontada). Essa
pretensão executiva conta-se, inclusive, tendo-se como base o mesmo prazo da pretensão de
conhecimento.

• Impedimento ou suspeição: deve ser feita em peça própria, pois trata-se de defesa em relação ao juízo e
não ao exequente.

Art. 525, §2º: a alegação de impedimento ou suspeição observará o disposto nos arts. 146 e 148.

Suspensão ou impedimento são defesas (são arguições) em relação ao juízo. Então não é uma arguição, defesa
ou matéria que está sendo oposta à parte contrária (ao exequente), mas sim em relação àquele que tem a obrigação
de prolatar a decisão (aquele que presenta o judiciário) e, desse modo, obviamente que se trata de uma defesa que
não pode se encaixar na impugnação ao cumprimento de sentença, tendo em vista que essa impugnação é feita para a
parte contrária.

→ Claro que, então, temos que entender, pela lógica processual, que como é uma defesa em relação ao
juízo e não em relação à parte contrária, ela deve ser feita em peça própria – você não pode suscitar
suspeição ou impedimento na impugnação, porque a impugnação é feita para se defender do exequente
(que é o impugnado). A suspeição ou o impedimento se refere a uma matéria levantada em relação ao
juízo, então as mesmas disposições do conhecimento em relação à suspeição e ao impedimento terão
que ser cumpridas nessa fase se você, logicamente, se torna ciente de algum fato que faz do juiz
impedido ou suspeito de fazer aquele cumprimento.

Então essa suscitação terá que ser feita, como afirmado, por meio de uma peça própria e, ainda, de acordo com
as disposições do conhecimento. Não será feita impugnação, sendo importante lembrarmos da característica dessa
defesa. O impedimento ou suspeição não se trata de uma defesa contra o exequente, restando claro que é uma defesa
em relação ao juízo, porque juízo suspeito ou juízo impedido é juízo parcial e não juízo imparcial e por ser parcial,
obviamente que ele é incompetente e, assim, se fala de um pressuposto processual (vício gravíssimo). Devem,
portanto, ser obedecidos os requisitos dos artigos 146 e 148 e tal defesa ser feita em uma peça própria.
Com base no exposto, você vai impugnar contra o executado o que você tem de matérias e, além disso, você vai
fazer a suspeição ou o impedimento em uma peça própria e não na impugnação em si, até porque o juiz vai ter que
se defender e, assim, os autos serão mandados para o Tribunal (é o Tribunal que decide). Se o Tribunal decidir que ele
é suspeito, vai mandar os autos para outro juízo, ao passo que se o Tribunal decidir que ele não é suspeito, os autos
vão continuar com ele.

➢ Estudo de jurisprudências
PROCESSUAL CIVIL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. PAGAMENTO VOLUNTÁRIO MAS EXTEMPORÂNEO. 16º DIA A
CONTAR DA INTIMAÇÃO. INCIDÊNCIA DA MULTA PREVISTA NO CAPUT DO ART. 475-J DO CPC.

1. O esgotamento do prazo previsto no art. 475-J do CPC tem consequências essencialmente materiais, pois
atinge o próprio crédito cobrado. Com o escoamento do prazo para o pagamento, o valor do título se altera, não
podendo o juiz atingir o próprio direito material do credor, que foi acrescido com a multa, assim como o seria com a
incidência de juros, correção monetária ou outros encargos. A pura fluência do prazo desencadeia as consequências
legais.
2. A execução é, deveras, uma faculdade do credor, mas o cumprimento da condenação prevista no título é
uma obrigação do devedor. E, certamente, a incidência da multa do art. 475-J (que hoje está no art. 523, §1º) do
CPC não está vinculada ao efetivo exercício de um direito pelo credor, mas ao descumprimento de uma obrigação
imposta ao devedor (princípio da inevitabilidade da jurisdição). Assim, pouco importa se o credor deu início ou não
à execução, ou seja, se exerceu seu direito. O relevante é saber se o devedor cumpriu ou não sua obrigação, no
modo e tempo impostos pelo título e pela lei.

3. Portanto, o pagamento extemporâneo da condenação imposta em sentença transitada em julgado, muito


embora espontâneo e antes de o credor deflagrar a execução forçada, enseja a incidência da multa do art. 475-J,
caput, do CPC.
4. Recurso especial provido.

Eu tenho quinze dias para pagar. Eu chequei no 16º dia e paguei. O juiz não fez nada ainda, isto é, ele não expediu
mandado de penhora e avaliação, ainda que se tenha chegado no 16º dia com o valor inteiro. O STJ nos fala, então,
que nesse caso haverá aplicação de multa, por se tratar de pagamento extemporâneo e a multa, por sua vez, não pode
ser mitigada.

Então, se o executado tenha chegado no 16º dia, mesmo que tenha passado apenas um dia do prazo destinado a
tal pagamento voluntário, infelizmente se trata de pagamento extemporâneo. Assim, entende-se que se o pagamento
se der fora do prazo a multa incide, mesmo que seja um dia depois.

PROCESSO CIVIL. AGRAVO INTERNO. RAZÕES QUE NÃO ENFRENTAM O FUNDAMENTO DA DECISÃO AGRAVADA.
PREVIDÊNCIA PRIVADA. RESGATE DE CONTRIBUIÇÕES. OBRIGAÇÃO DE PAGAR QUANTIA CERTA. MULTA
COMINATÓRIA. FIXAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES.

1. As razões do agravo interno não enfrentam adequadamente o fundamento da decisão agravada.


2. "A jurisprudência desta Corte Superior dispõe que, nas obrigações de pagar quantia certa, é descabida a
fixação de multa diária como forma de compelir a parte devedora ao cumprimento da prestação que lhe foi
imposta. Precedentes." (AgInt no AREsp 1441336/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA,
julgado em 19/8/2019, DJe 22/8/2019).

3. Agravo interno a que se nega provimento.

Será, então, que você poderia aplicar as astreintes como medida típica coercitiva em obrigações de pagar? A
resposta do STJ é não. Os processualistas, contudo, até 2019, pensavam que sim – eles entendiam que em uma
obrigação na qual o executado devia pagar, por exemplo, 100 mil reais, a partir do momento que ele perdeu o
pagamento voluntário poderia ser aplicada uma multa de 500 reais por dia até o pagamento. A Corte, todavia, falou
que não cabe e Lorena concorda, visto que ela considera um absurdo isso acontecer visto que, no final, vai haver
enriquecimento ilícito. Antes o exequente teria tal direito tomando como base o artigo 500 do CPC, segundo o qual “a
indenização por perdas e danos dar-se-á sem prejuízo da multa fixada periodicamente para compelir o réu ao
cumprimento específico da obrigação”.

A medida coercitiva típica (astreintes) não é uma sanção, mas sim uma inibição para o adimplemento. A sanção é
a multa prevista no artigo 523, §1º. Então existe uma diferenciação de natureza entre sanção e medida coercitiva
típica – o protesto, por exemplo, é uma coerção do executado para pagar, do mesmo modo que o Cadastro de
Inadimplentes também é uma coerção do executado. Com base nisso, podemos dizer que as astreintes também
devem ser entendidas como uma medida coercitiva ao executado e não como uma sanção, só que no final do
processo, se tiverem sido aplicadas as astreintes, aquilo vai ser um crédito do credor e, desse modo, de medida típica
coercitiva, no final isso vai virar multa (mudando a natureza jurídica), gerando, assim, enriquecimento sem causa
(ilícito).
Ocorre, portanto, uma transmutação da natureza jurídica de algo que era para exercer uma coerção e passa a
gerar um crédito, sendo que o exequente já cobrou todas as suas perdas e danos. Assim, se ele já cobrou todas as
perdas e danos, aquilo que era para fazer a coerção virou multa, mas o executado já foi multado pelo art. 523, §1º (bis
in idem). O executado não pode ficar sendo multado, sempre, pela mesma coisa, assim como no direito penal o sujeito
não pode ficar cumprindo mais de uma pena sobre o mesmo crime.

O STJ passou a divergir, desse modo, com o artigo 500, que estabelece que tudo deve ser somado – danos morais;
danos emergentes; lucros cessantes; sanções processuais – e, estando tudo somado, ainda haverá a inserção do que
não é dano, mas sim medida coercitiva. A medida coercitiva, todavia, é para impelir o pagamento, ela não pode, no
final, virar crédito e, no caso de astreintes, ela vira crédito.
Numa obrigação de fazer (que ainda vamos estudar) poderão ser aplicadas astreintes, só que fato é que, no final,
ela vai virar crédito. Ou seja, se você conseguir que a pessoa faça o que você quer (como pintar um quadro), ainda vai
ser cobrado um valor desse executado. O executado passa a ter duas obrigações, sendo uma de fazer e a outra de
pagar, porque as astreintes viraram crédito. Isso já é questionável, uma vez que se você pode fazer uma liquidação
para as suas perdas e danos pelo não adimplemento da obrigação de fazer, não faz sentido as astreintes virarem um
crédito.

Podemos dizer, com base no exposto, que o artigo 500 perde a sua eficácia? Não, porque o artigo 500 pode ser
aplicado para as outras modalidades obrigacionais (obrigação de dar coisa certa, de fazer e não fazer). Agora, nas
obrigações de pagar não podem ser aplicadas astreintes – inclusive, se o juiz aplicar se pede que o artigo 500 seja
desconsiderado, visto que ele aplicou uma medida coercitiva típica que é descabida na obrigação de pagar.

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL EM FASE DE CUMPRIMENTO DEFINITIVO DE SENTENÇA


QUE RECONHECE A EXIGIBILIDADE DE OBRIGAÇÃO DE PAGAR QUANTIA CERTA. PAGAMENTO VOLUNTÁRIO.
INCIDÊNCIA DE MULTA. CRITÉRIOS. INTEMPESTIVIDADE. RESISTÊNCIA MEDIANTE IMPUGNAÇÃO. DEPÓSITO INTEGRAL
NO PRAZO DE 15 DIAS ÚTEIS SEM RESISTÊNCIA DA PARTE EXECUTADA. NÃO APLICAÇÃO DA MULTA.
1. Ação ajuizada em 2/5/17. Recurso especial interposto em 28/5/18. Autos conclusos ao gabinete em 28/6/19.
Julgamento: CPC/15.
2. O propósito recursal consiste em dizer da violação do art. 523, §1º, do CPC/15, acerca do critério de quando
deve incidir, ou não, a multa de dez por cento sobre o débito, além de dez por cento de honorários advocatícios.
3. São dois os critérios a dizer da incidência da multa prevista no art. 523, §1º, do CPC, a intempestividade do
pagamento ou a resistência manifestada na fase de cumprimento de sentença.

4. Considerando o caráter coercitivo da multa, a desestimular comportamentos exclusivamente baseados na


protelação da satisfação do débito perseguido, não há de se admitir sua aplicação para o devedor que efetivamente
faz o depósito integral da quantia dentro do prazo legal e não apresenta impugnação ao cumprimento de sentença.

5. Na hipótese dos autos, apesar de advertir sobre o pretendido efeito suspensivo e da garantia do juízo, é
incontroverso que a executada realizou tempestivamente o depósito integral da quantia perseguida e não apresentou
impugnação ao cumprimento de sentença, fato que revela, indene de dúvidas, que houve verdadeiro pagamento do
débito, inclusive com o respectivo levantamento pela exequente. Não incidência da multa prevista no art. 523, §1º, do
CPC e correta extinção do processo, na forma do art. 924, II, do CPC.

6. Recurso especial conhecido e não provido.

Ou seja, obviamente você pode depositar o dinheiro, como a gente viu, para conseguir a garantia do juízo, mas
você não está pagando naquele caso. Nesse caso aqui você tem o direito de impugnar independentemente de garantir
o juízo, não precisando, assim, pagar nada. Todavia, na situação apresentada a pessoa fez o depósito e não impugnou
(ela ofereceu desistência). Contudo, mesmo que ela tenha feito o depósito para garantir o juízo, sem apresentar,
posteriormente, impugnação, aquilo será considerado (se se deu dentro do prazo de quinze dias) pagamento. A
resistência legal, no cumprimento de sentença, é a impugnação, ao passo que a pessoa não apresentou
impugnação, a entrega daquele valor vai ser entendida como um pagamento. Há uma intenção, primeiro, de se
garantir o juízo, mas, depois, não é apresentada resistência e, portanto, considera-se um pagamento, de modo que
não haverá incidência da multa.

E se o pagamento desse depósito tiver sido feito após os quinze dias para o pagamento voluntário? Nesse caso
incide a multa do mesmo jeito. Se ela não apresentou a impugnação, aqui também é considerado pagamento, todavia
trata-se de um pagamento extemporâneo e, sendo pagamento extemporâneo, há a incidência da multa. Então a parte
poderá levantar o valor que já foi depositado, porque esse valor é controvertido e, além disso, continuar a execução
no tocante à multa.

➢ Processamento impugnação
O procedimento da impugnação não se encontra codificado, existindo Enunciados que dizem o que se aplica, por
analogia, para estabelecer o presente procedimento (enunciados 93 e 94 do CJF).

→ Enunciado 94: Aplica-se o procedimento do art. 920 do CPC/2015 à impugnação ao cumprimento


de sentença, com possibilidade de rejeição liminar nas hipóteses dos arts. 525, § 5º, e 918 do
CPC/2015.

OBS: Não sendo necessária a elaboração de petição inicial, entendo inaplicáveis, à impugnação,
algumas das hipóteses previstas no art. 918 do Novo CPC, que regulamenta a rejeição liminar dos
embargos à execução. É o caso de indeferimento da petição inicial em razão de sua inépcia. É claro
que, havendo vício sanável no requerimento inicial, será caso de intimar o impugnante para o
saneamento do vício. Também não parece aplicável o julgamento liminar de improcedência previsto
918, lI, do Novo CPC. As demais hipóteses, entretanto, são totalmente aplicáveis à impugnação, de
forma que o juiz poderá indeferi-la liminarmente quando intempestiva (inciso I), quando fundado em
causas de indeferimento da petição inicial, que não sua inépcia (inciso II) e quando for considerada
manifestamente protelatória (inciso Ill), inclusive com a aplicação da multa prevista no art. 918,
parágrafo único, do Novo CPC.

Portanto, o próprio CJF nos fala que temos que aplicar o procedimento do artigo 920 do CPC que, por sua vez, é o
procedimento dos embargos. Então como não há a forma de processamento da impugnação tipificada no Código,
usaremos o procedimento do artigo 920 do CPC.
Art. 920. Recebidos os embargos:
I - o exequente será ouvido no prazo de 15 (quinze) dias;

II - a seguir, o juiz julgará imediatamente o pedido ou designará audiência;

III - encerrada a instrução, o juiz proferirá sentença.

Portanto:

1. Apresentada a impugnação, ouve-se o impugnado (exequente), em 15 (quinze) dias. Deve abrir o


contraditório para a outra parte, e por isso, fala que ele será ouvido no prazo de quinze dias, uma vez
que o juiz vai ter que abrir vistas para o impugnado (exequente) que, então, vai poder se manifestar a
respeito dessa impugnação (dessa defesa).

2. Uma vez o impugnado tendo se manifestado, o juiz pode julgar liminarmente (julga imediatamente o
pedido - e as provas estiverem, todas, pré-constituídas) ou o juízo pode também, eventualmente,
designar uma audiência, mas isso se for necessária alguma produção de prova.
 Também por aplicação subsidiária do art. 920, II, do Novo CPC, todos os meios de prova serão
admitidos na impugnação, considerando-se que a limitação de cognição é horizontal (matérias
alegáveis) e não vertical (profundidade na análise dos fundamentos e alegações). Apesar disso,
tratando-se de impugnação a título judicial, a instrução probatória costuma ser sumária

3. Havendo prova pré-constituída, ou após a produção de prova em audiência designada pelo juiz, será
proferida decisão. Ou seja, após, haverá uma decisão, que será sentença, se por fim à execução
(apelação). Será interlocutória se não por fim à execução e, portanto, desafiará agravo de
instrumento.

 Essa decisão terá qual natureza jurídica?


Depende, uma vez que se a impugnação for improvida a decisão será interlocutória, ao passo que
se a impugnação for provida se terá, como decisão, uma sentença. Nesse sentido:

Enunciado 93: Da decisão que julga a impugnação ao cumprimento de sentença cabe


apelação, se extinguir o processo, ou agravo de instrumento, se não o fizer.

 Lá nos embargos, a decisão proferida é uma sentença, tendo em vista que os embargos são
uma ação. Aqui na impugnação, contudo, não se fala em ação, mas sim em defesa e,
portanto, a vai haver uma adaptação do artigo 920 – não é obrigatoriamente sentença
como está lá no artigo 920, III, porque aqui não é ação. Desse modo, tem possibilidade de
ser decisão interlocutória, mas isso se o cumprimento não for finalizado. Vamos supor que
a impugnação foi julgada improcedente e, então, obviamente que não finalizou o
cumprimento, de modo que a natureza jurídica dessa decisão vai ser decisão interlocutória
(a execução continua). Contudo, havendo, por exemplo, o acolhimento total da
impugnação, a natureza da decisão será sentença, tendo em vista o artigo 203 do CPC.

Portanto, na hipótese de a decisão não colocar fim ao cumprimento de sentença, ter-se- -á, nos termos do art. 203,
§ 2°, do Novo CPC, uma decisão interlocutória, sendo cabível o recurso de agravo de instrumento (art. 1.015,
parágrafo único, do Novo CPC). Caso a decisão coloque fim à fase de cumprimento de sentença, ter-se-á, nos
termos do art. 203, § 1°, do Novo CPC, uma sentença, recorrível pelo recurso de apelação (art. 1.009, caput, do
Novo CPC).

→ Note-se que o único critério válido para determinar o recurso cabível é o efeito da decisão impugnada em
termos de extinção ou prosseguimento do cumprimento de sentença. Na decisão que rejeita o pedido do
impugnante (improcedência da impugnação), o cumprimento de sentença sempre prossegue, parecendo
não haver dúvida de que nesse caso sempre será cabível o agravo de instrumento. O mesmo, entretanto,
não se pode dizer de uma decisão que acolhe o pedido do impugnante (procedência da impugnação), que
tanto pode colocar fim ao cumprimento de sentença - p. ex., no acolhimento da alegação de
inexigibilidade do título - como permitir seu prosseguimento - p. ex., no excesso de execução. Como se
nota, o importante é o efeito e não o conteúdo da decisão judicial.

Obs.: AgInt no AREsp 983766/RS: não se aplica a fungibilidade recursal, por constituir erro
grosseiro: "2. "Este Superior Tribunal de Justiça tem entendimento sedimentadode que da decisão
que julga impugnação ao cumprimento de sentença, sem extinção da fase executiva, é cabível o
agravo de instrumento, nos termos da segunda parte do § 3º do art. 475-M do CPC, não se aplicando
o princípio da fungibilidade para conhecimento de apelação, por constituir erro grosseiro. (AgRg no
AREsp 154.794/ SP, Rel. Ministra Maria Isabel Gallotti, Quarta Turma, julgado em 25.11.2014, DJe
11.12.2014). 3. Agravo interno não provido.”

Mas e se a impugnação for apenas parcialmente provida? A decisão será interlocutória. É lógico que,
nesse caso, continua a execução com relação à parte não provida. O cumprimento de sentença não é, então,
finalizado. Trata-se de uma decisão interlocutória justamente porque a execução continua em relação àquela
sucumbência parcial do impugnante, enquanto que com relação à parte em que o impugnante foi vencedor, acabou.
Isso é dado em decisão interlocutória, até porque o cumprimento é uno e não foi finalizado
RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. RECURSOS. CPC/2015. DECISÃO QUE ENCERRA FASE PROCESSUAL.
SENTENÇA, CONTESTADA POR APELAÇÃO. DECISÕES INTERLOCUTÓRIAS PROFERIDAS NA FASE EXECUTIVA,
SEM EXTINÇÃO DA EXECUÇÃO. AGRAVO DE INSTRUMENTO.
1. Dispõe o parágrafo único do art. 1015 do CPC/2015 que caberá agravo de instrumento contra decisões
interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no processo de
execução e no processo de inventário. Por sua vez, o art. 1.009, do mesmo diploma, informa que caberá
apelação em caso de "sentença".
2. Na sistemática processual atual, dois são os critérios para a definição de "sentença": (I) conteúdo
equivalente a uma das situações previstas nos arts. 487 ou 489 do CPC/2015; e (II) determinação do
encerramento de uma das fases do processo, conhecimento ou execução.

3. Acerca dos meios de satisfação do direito, sabe-se que o processo de execução será o adequado para as
situações em que houver título extrajudicial (art. 771, CPC/2015) e, nos demais casos, ocorrerá numa fase
posterior à sentença, denominada cumprimento de sentença (art. 513, CPC/2015), no bojo do qual será
processada a impugnação oferecida pelo executado.
4. A impugnação ao cumprimento de sentença se resolverá a partir de pronunciamento judicial, que pode
ser de sentença ou decisão interlocutória, a depender de seu conteúdo e efeito: se extinguir a execução,
será sentença, conforme o citado artigo 203, §1º, parte final; caso contrário, será decisão interlocutória,
conforme art. 203, §2º, CPC/2015.
5. A execução será extinta sempre que o executado obtiver, por qualquer meio, a supressão total da dívida
(art. 924, CPC/2015), que ocorrerá com o reconhecimento de que não há obrigação a ser exigida, seja porque
adimplido o débito, seja pelo reconhecimento de que ele não existe ou se extinguiu.

6. No sistema regido pelo NCPC, o recurso cabível da decisão que acolhe impugnação ao cumprimento de
sentença e extingue a execução é a apelação. As decisões que acolherem parcialmente a impugnação ou a ela
negarem provimento, por não acarretarem a extinção da fase executiva em andamento, tem natureza jurídica
de decisão interlocutória, sendo o agravo de instrumento o recurso adequado ao seu enfrentamento.
7. Não evidenciado o caráter protelatório dos embargos de declaração, impõe-se a inaplicabilidade da
multa prevista no §2º do art. 1.026 do CPC/2015. Incidência da Súmula n. 98/STJ.
8. Recurso especial provido.

Importante: art. 525, §10 ainda que atribuído efeito suspensivo à impugnação, é lícito ao exequente requerer o
prosseguimento
3. Acerca dos da execução,
meios oferecendo
de satisfação e prestando,
do direito, nos próprios
sabe-se que autos, caução suficiente e idônea a ser arbitrada
o processo
pelo juiz.
de execução será o adequado para as situações em que houver título

extrajudicial (art. 771, CPC/2015) e, nos demais casos, ocorrerá


§ 10. Ainda que atribuído efeito suspensivo à impugnação, é lícito ao exequente requerer o
prosseguimento da execução, oferecendo e prestando, nos próprios autos, caução suficiente e idônea
a ser arbitrada pelo juiz.

 Ou seja, você pede efeito suspensivo como impugnante executado e, para isso, garante o juízo, prova
fundamentação relevante e prova risco de dano grave ou de difícil reparação. O juízo, por sua vez, pode
conceder tal efeito por decisão interlocutória. Concedido esse efeito suspensivo por decisão
interlocutória, o exequente pode requerer – atravessando uma petição – ao juízo a dessuspensão da
execução (isto é, a retirada do efeito suspensivo), mas para isso deve, também, oferecer caução suficiente
e idônea (art. 520, IV). Portanto, cabe caução no cumprimento definitivo para que você consiga a retirada
do efeito suspensivo, o qual é conseguido na impugnação pelo executado.

 O impugnante conseguiu o efeito suspensivo provando fundamentos relevantes (que ele tem grandes
chances de ganhar) e que o risco de dano é incerto e é grave, então essa caução para a retirada do efeito
suspensivo é necessária para cobrir os danos que advirão de tal retirada (a mesma lógica do cumprimento
provisório).

OBS: 525, § 9º - A concessão de efeito suspensivo à impugnação deduzida por um dos executados não
suspenderá a execução contra os que não impugnaram, quando o respectivo fundamento disser respeito exclusivamente
ao impugnante.

Importante: Súmula 519 do STJ: cabem honorários, se a impugnação for acolhida:


Sendo rejeitada a impugnação, os honorários advocatícios fixados em favor do advogado do exequente no valor
de 10% sobre o valor da execução poderão ser majorados até 20% do valor exequendo, em aplicação analógica do art.
827, § 2o, do Novo CPC.
Súmula nº 519 do STJ: cabem honorários se a impugnação for acolhida. Nos termos do entendimento
sedimentado em sede de recurso repetitivo, a rejeição da impugnação ao cumprimento de sentença não enseja
a condenação em honorários advocatícios.

REsp 1859220 / MS: 1. Nos termos do entendimento sedimentado em sede de recurso repetitivo (REsp
1.134.186/RS, representativo de controvérsia na forma do art. 543-C, do CPC/1973 - tema 408) a rejeição da
impugnação ao cumprimento de sentença não enseja a condenação em honorários advocatícios (Súmula nº
519 do STJ).

Partindo desse pressuposto, temos que a súmula nº 519 nos diz que a rejeição da impugnação ao cumprimento
de sentença não enseja a condenação em honorários advocatícios. Essa súmula, todavia, não é muito correta com
relação ao trabalho do advogado, porque se o executado impugnou, vão ser abertas vistas à outra parte que, por sua
vez, vai ter que produzir uma peça impugnando o que está sendo impugnado. Vai-se abrir vista ao exequente porque o
próprio CJF fala que isso vai acontecer para que o exequente venha a se manifestar, só que, na realidade, quem vai se
manifestar vai ser o advogado através de seu trabalho e não necessariamente a parte. O advogado, então, trabalhou
do mesmo jeito, mas a súmula 519, como vimos, entende que rejeição à impugnação relativa ao cumprimento de
sentença não enseja a condenação em honorários advocatícios.

Os dois advogados vão trabalhar (isto é, tanto o advogado do exequente quanto o advogado do executado). Se o
advogado do executado não conseguiu sucesso na sua impugnação, contudo, não vai haver arbitramento de
honorários advocatícios a seu favor. Contudo, se a rejeição da impugnação não enseja a condenação em honorários
advocatícios, evidentemente que o provimento da impugnação enseja.

Por que o STJ determinou isso, sendo que o advogado trabalha do mesmo jeito? Porque existe uma concepção
(ou pelo menos existia) de que honorários advocatícios só podiam ser cobrados (arbitrados) em sentença. Honorários
advocatícios só eram cabíveis se a natureza jurídica da decisão fosse uma sentença, todavia essa concepção já caiu por
terra. Hoje, então, honorários advocatícios são arbitrados em decisões interlocutórias. Ou seja, não é mais só em
sentença que se arbitra honorários advocatícios, o que quer dizer que também se arbitra honorários advocatícios em
decisões interlocutórias, mas por causa dessa noção de que é em sentença que se arbitra honorários que foi feita a
súmula nº 519. Se a execução continua, há a prolação de uma decisão interlocutória que não arbitra honorários,
enquanto que se há uma sentença devido a extinção da execução, esses honorários serão arbitrados. Desse modo,
houve um prejuízo de quem estava trabalhando no processo por conta da natureza jurídica e da concepção de que
honorários advocatícios só podem ser arbitrados em sentença. Essa concepção, entretanto, já é ultrapassada e tanto é
assim que o STJ já falou, por suas decisões, que você pode arbitrar honorários por decisão interlocutória, mas apesar
disso não há o cancelamento da súmula (e se você não cumpre a súmula, está correndo o risco de sofrer os recursos
cabíveis, tendo em vista que você está sujeito, como juízo, a obedecer a súmula, nos termos do artigo 927 do CPC).
Então na realidade você tem que, infelizmente, observar algo que já está caído por terra no processo.
Súmula nº 517 do STJ: são cabíveis honorários advocatícios após o escoamento do prazo do artigo 523 do CPC.

Esses honorários são para quem? São cabíveis honorários advocatícios para o advogado do exequente por conta,
obviamente, do artigo 523, §1º. Enquanto isso, os honorários da súmula nº 519 são devidos para o advogado do
executado – assim, não cabe condenação em honorários se o advogado do executado tiver sua peça rejeitada,
enquanto que se ele tiver sua peça provida, cabe arbitramento de honorários para ele. Ou seja, a súmula nº 517 é para
um advogado, enquanto que a nº 519 é para o outro advogado.

Defesa Atípica: Exceção ou Objeção de Pré-Executividade ou Objeção de Executividade


➢ HISTÓRICO
Desde o CPC/1973, a exceção ou objeção de pré-executividade existe de forma jurisprudencial. Não existe, no
CPC/1973, nenhum dispositivo que explicita a existência dessa defesa e a mesma coisa se dá no CPC/2015. Ess exceção
ou objeção de pré-executoriedade é uma defesa, mas é uma defesa atípica, uma vez que ela não está tipificada no
Código.

→ Portanto, o NCPC não prevê expressamente a defesa executiva ora analisada, tratando-se de defesa
atípica.

Os processualistas, entretanto, acabam por utilizar um artigo como base para falar que essa defesa existe – artigo
518 do CPC:

Art. 518. Todas as questões relativas à validade do procedimento de cumprimento da sentença e dos atos
executivos subsequentes poderão ser arguidas pelo executado nos próprios autos e nestes serão decididas pelo
juiz.
Não há dúvidas que o procedimento executivo foi confeccionado para com o objetivo de promover a satisfação
do direito, mas também não há dúvidas que o executado tem o direito fundamental de defender-se não apenas contra
vícios ou defeitos dos atos da própria atividade executiva, como ainda trazer à discussão aspectos do direito
exequendo, obviamente, que, neste último caso, com as eventuais limitações dos efeitos preclusivos da coisa julgada
que acobertam o conteúdo do título executivo judicial.
Cingindo-nos à defesa do executado no cumprimento de sentença, de início saltam aos olhos, a cláusula geral de
onde brotam os diversos tipos de impugnação utilizáveis pelo executado. No art. 518 do CPC, não por acaso situado
nas “disposições gerais do cumprimento de sentença”, emerge o que poderíamos apelidar de cláusula geral da defesa
do executado no cumprimento de sentença, ao dizer que “todas as questões relativas à validade do procedimento de
cumprimento da sentença e dos atos executivos subsequentes poderão ser arguidas pelo executado nos próprios
autos e nestes serão decididas pelo juiz”.

Importante: É bem verdade que neste dispositivo o legislador refere-se, basicamente, à defesa de rito, que,
como veremos adiante, é aquela cujo objeto não recai sobre o direito representado no título executivo
judicial, mas sim sobre a validade do procedimento e dos atos executivos realizados no cumprimento de
sentença.
Neste diapasão vamos encontrar ao longo do procedimento executivo, seja qual for a modalidade de obrigação,
embora fique mais evidente no longo itinerário executivo para expropriação de quantia, as várias situações jurídicas
onde o legislador prevê a possibilidade de defesa do executado contra atos da execução e validade do
procedimento. Mas, ainda que não tivesse previsto a possibilidade de defesa, é claro que poderia exercer tal direito
como anuncia o art. 518 do CPC.

Vemos, portanto, que todas as questões relativas à validade do procedimento de cumprimento de sentença e
dos atos executivos subsequentes poderão ser arguidas pelo executado nos próprios autos e isso não é impugnação.

→ A impugnação já está no artigo 525, então obviamente que o artigo 518 trata de uma outra defesa, que a
gente chama de exceção ou objeção de pré-executividade. Se fala, portanto, que o artigo 518 dá alicerce
para essa defesa atípica, mas o nome (exceção ou objeção de pré-executividade) não está disposto, de
modo que se uma questão falar que o CPC tipificou essa defesa está errado, uma vez que continua sendo
uma defesa atípica, embora tenha como fundamento legal essa disposição do artigo 518 do CPC.

O que é objeção de pré-executividade? É o nome jurisprudencial construído para uma defesa atípica que ocorre
no cumprimento de sentença e no processo de execução autônomo. Está sendo feita, por meio dessa defesa atípica,
uma espécie de impugnação de pré-executividade (relativo a atos executivos, a cumprimento de sentença).

→ A primeira vez que se falou a respeito dessa exceção de pré-executividade foi por meio de uma súmula
(não tem nada em lei). Já vemos pela súmula, então, que existe um requisito importantíssimo: a exceção
de pré-executividade tem limitação cognitiva, sendo tal limitação as matérias que podem ser
conhecidas de ofício (isto é, matérias de ordem pública) ou matérias que não demandem dilação
probatória. Então a limitação cognitiva é em relação a matérias de ordem pública.

Súmula nº 393, STJ: a exceção de pré-executividade é admissível na execução fiscal relativamente às matérias
conhecíveis de ofício que não demandem dilação probatória.

AgInt no AREsp 1326352/SP: TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. EXECUÇÃO FISCAL. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE INDEFERIDA PELAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS
ANTE A NECESSIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE DE SE ANALISAR NESTA CORTE AS PROVAS
APRESENTADAS. A EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE SOMENTE É CABÍVEL QUANDO AS PROVAS PRÉ-
CONSTITUÍDAS FORAM DEMONSTRADAS À SACIEDADE. ENTENDIMENTO FIRMADO EM SEDE DE RECURSO
REPETITIVO: RESP 1.104.900/ES, REL. MIN. DENISE ARRUDA, DJE 1o.4.2009. SÚMULA 393/STJ. AGRAVO INTERNO
DO PARTICULAR A QUE SE NEGA PROVIMENTO.

1. A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, por ocasião do julgamento do REsp. 1.104.900/ES, Rel. Min.
DENISE ARRUDA (DJe 1º.4.2009), sob a sistemática do art. 543-C do CPC/1973, consagrou o entendimento de
que a Exceção de Pré-Executividade somente é cabível nas situações em que não se faz necessária dilação
probatória ou em que as questões possam ser conhecidas de ofício pelo Magistrado. Incidência da Súmula
393/STJ.

2. A reforma do entendimento exarado pelo Tribunal de origem, no tocante à necessidade de dilação probatória
para o conhecimento da Exceção de Pré-Executividade em que se pretende o reconhecimento da
impenhorabilidade de imóvel, por ser este bem de família, condição esta que não ficou, de plano, demonstrada, é
inviável em Recurso Especial, porquanto, tal como expressamente consignado no acórdão recorrido, o
acolhimento do pedido da recorrente somente seria viável mediante investigação probatória.

3. Agravo Interno do Particular a que se nega provimento


 Temos, desse modo, que tal defesa atípica começou nas execuções da Fazenda, pela mencionada
súmula nº 393.
➢ Limitação cognitiva

O STJ é pacífico na admissão da exceção de pré-executividade. Todavia, a matéria alegada deve ser conhecível de
ofício, e deve haver prova pré-constituída da alegação, sem necessidade de instrução probatória para o juiz decidir
sobre o pedido. Esses requisitos estão consagrados na Súmula 393/STJ, que, embora faça remição expressa à
execução fiscal, é plenamente aplicável também na execução comum.

→ A partir de tal súmula conseguimos entender duas coisas dessa defesa: nela só podem ser suscitadas
matérias de ordem pública e, além disso, não pode ter dilação probatória (ou seja, a prova tem que estar
pré-constituída).

Portanto, somente podem ser alegadas matérias conhecíveis de ofício: prescrição, decadência, falta de condições da
ação (art. 783, CPC), falta de pressupostos processuais, pagamento do título, excesso de execução, desde que se
dispense dilação probatória.
Precedentes: AgRg no REsp 1491088/SP: "1. A exceção de pré-executividade é cabível em qualquer tempo e
grau de jurisdição e constitui meio legítimo para discutir questões que possam ser conhecidas de ofício pelo
magistrado, como as condições da ação, os pressupostos processuais, a decadência, a prescrição, entre outras,
desde que desnecessária a dilação probatória.”

u AgRg no AREsp 573426/RS: 1. A exceção de pré-executividade não comporta alegação de excesso de


execução, salvo se esse for patente, não demandando, portanto, dilação probatória. 2. Na hipótese em exame,
embora cabível a impugnação dos cálculos apresentados pelos exequentes, por via de exceção de pré-
executividade, dada a desnecessidade de dilação probatória, não se constata o alegado excesso de execução.”

Importante: observação sobre o excesso de execução

O excesso de execução seria matéria de ordem privada, em primeiro momento, para o STJ. Todavia, se o
excesso de execução for patente, isto é, não demandar dilação probatória (for algo visível, claro e
evidente), o STJ já entende que é matéria de ordem pública.

 E o STJ está certo, porque excesso de execução é matéria de ordem pública sim, uma vez que tem
relação com a liquidez do título que, por sua vez, é requisito essencial para a exequibilidade. O STJ
diz “salvo se for patente”, porque além de ser matéria de ordem pública também precisa, devido a
limitação cognitiva, ser matérias que não precisam de dilação probatória – assim, o STJ disse que o
excesso de execução só poderia ser alegado caso não precisasse de dilação probatória (então
apesar de ser matéria de ordem pública, se tal alegação precisar de perícia, por exemplo, não
entra como exceção de pré-executividade, já que não entra na prova pré-constituída, que é
requisito da exceção).

O que significa a alegação de excesso de execução ser patente? A alegação em questão não deixa dúvida
(é clara, é evidente e não precisa de produção de prova). Exemplo: você tem uma sentença que condena em
100 mil reais. Um mês depois aparece o requerimento de cumprimento de sentença, suponhamos, e ele está
cobrando 210 mil reais. É impossível que, em um mês, alguém passe a dever mais que o dobro do que devia
no mês anterior e quanto a isso, então, não há necessidade de prova pericial para comprovação de que está
patente, tendo em vista que se refere a uma alegação evidente. Nesse exemplo há, obviamente, excesso de
execução evidente.

u REsp 1078399/MA: 1. A alegação de pagamento dos títulos levados à execução é tese, em princípio,
possível de ser arguida por exceção de pré-executividade – sempre que a comprovação se evidenciar
mediante prova pré-constituída –, porquanto se trata de causa que retira a exigibilidade do título e, por
consequência, impede o prosseguimento da execução (art. 618, inciso I, do CPC).”
 Portanto, a alegação de excesso de execução só é admitida quando o excesso é evidente, ou seja,
quando puder ser demonstrada sem a necessidade de dilação probatória.
Importante: a alegação de pagamento

→ O pagamento retira a exigibilidade do título e a exigibilidade do título é matéria de ordem pública. Então
indiretamente o pagamento, que é uma questão civilística, tem sua ingerência em uma matéria de ordem
pública no processo, que é a exigibilidade do título. O pagamento, contudo, não pode precisar de dilação
probatória.

→ Portanto, a exigibilidade da obrigação exequenda inexistirá se já tiver ocorrido o pagamento.


Naturalmente, o pagamento continua a ser matéria de interesse exclusivo do devedor, mas os requisitos
da obrigação exequenda são matérias de ordem pública e, por isso, podem ser reconhecidas de ofício
pelo juiz. Todavia, é exigido não haver necessidade de prova

➢ Características (além da limitação cognitiva):


1. É uma defesa que pode ser arguida a qualquer tempo e grau (ausência de preclusão).
2. Prescinde de garantia do juízo.

Portanto, na exceção de pré-executividade, vão ser aplicadas as características da impugnação, de acordo com a
construção jurisprudencial.

 Desse modo, se para impugnar não há necessidade de se garantir o juízo, fato é que para excepcionar
também não é preciso garantir o juízo.

 Além disso, para impugnar tem um prazo – 15 dias a partir do escoamento do prazo para o pagamento
voluntário – só que, também por construção jurisprudencial, para excepcionar não há um prazo. Assim,
se o advogado cometer um erro e perder o prazo para a impugnação, pode-se dizer que ele poderá fazer
isso dessa carta na manga da exceção, mas desde que se trate de uma matéria de ordem pública e a
prova esteja pré-constituída (não pode haver dilação probatória). Ou seja, pode ser arguida a qualquer
tempo e grau (ausência de preclusão).

3. A exceção não possui efeito suspensivo, mas pode-se consegui-lo sob os mesmos requisitos da impugnação
ao cumprimento de sentença.

 Portanto, a exceção, em princípio, possui as mesmas características da impugnação: não precisa de


garantia e nem possui efeito suspensivo, mas você pode conseguir o efeito suspensivo com a
obediência aos mesmos requisitos exigidos nos parágrafos do artigo 525 (assim, se você garantir o juízo;
apresentar fundamentos relevantes; apresentar incerta reparação –> você pode pedir, também, o efeito
suspensivo da exceção de pré-executividade).

4. Cabem honorários na execução de pré-executividade se acolhida.


 Ressalta-se, ainda, que cabem honorários na exceção de pré-executividade se ela foi acolhida. O mesmo
ocorre com a impugnação, uma vez que, conforme vimos, cabem honorários para a impugnação se ela foi
acolhida (interpretação contrária à súmula que diz que tais honorários não são cabíveis quando essa
impugnação é rejeitada).

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE PARCIALMENTE ACOLHIDA


PARA REDUZIR A DÍVIDA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. CABIMENTO RECONHECIDO NA DECISÃO AGRAVADA.
DISCUSSÃO QUANTO AO VALOR DOS HONORÁRIOS. AGRAVO A QUE SE NEGA PROVIMENTO.

1. Segundo a orientação jurisprudencial pacífica desta Corte Superior, são devidos honorários advocatícios
sucumbenciais pelo exequente quando acolhida exceção de pré-executividade, ainda que parcialmente.
2. No caso dos autos, o acolhimento da exceção de pré-executividade para reconhecer excesso de execução,
ainda que para reduzir consideravelmente o valor apresentado ao cumprimento de sentença, configurou questão
jurídica simples, de modo que se tem por adequada a fixação de verba honorária no importe de R$ 15.000,00 (quinze
mil reais), nos termos do art. 20, §4º, do CPC.

3. Agravo regimental a que se nega provimento.

Por meio dessa tal jurisprudência, há um paralelo com a súmula nº519 do STJ, relativa à impugnação. A referida
súmula é, portanto, trazida para dentro da exceção de pré-executividade. Assim, são devidos os honorários
advocatícios sucumbenciais pelo exequente quando acolhida tal exceção, enquanto que quando rejeitada essa
exceção, a incidência de tais honorários é incabível.

5. O recurso que desafia a decisão em exceção de pré-executividade dependerá da qualidade decisória: sentença
ou decisão interlocutória.
 E, por fim, o recurso que desafia a decisão em exceção de pré-executividade dependerá da qualidade
decisória, que pode ser tanto sentença como decisão interlocutória. Se a exceção de pré-executividade
for acolhida, a execução será encerrada (vai encerrar o cumprimento de sentença) e, assim, se tem uma
sentença, perante a qual cabe apelação. Todavia, se essa exceção for parcialmente acolhida, a decisão
terá natureza de decisão interlocutória, ao passo que cabe Agravo de Instrumento, já que não há o
encerramento do cumprimento.
Atenção! Fungibilidade recursal só existe em casos expressos na lei. A fungibilidade recursal se dá naquela
hipótese em que é possível a apresentação de um recurso no lugar de outro – isso só pode acontecer, no processo
civil, se existe permissão expressa no CPC ou se a jurisprudência entende que há uma dúvida objetiva de qual o
recurso cabível. Assim, se existe uma dúvida objetiva sobre qual o recurso que cabe e, com isso, for interposto um
recurso em lugar de outro, aquele que foi interposto poderá ser aceito tendo em vista tal dúvida objetiva.
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. SEGUROS. FASE DE CUMPRIMENTO DE SENTENÇA.
ART. 535 DO ANTIGO CPC. AUSÊNCIA DE OMISSÕES. DECISÃO QUE EXTINGUE PARCIALMENTE A FASE. NATUREZA
INTERLOCUTÓRIA. RECURSO CABÍVEL. AGRAVO. INAPLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE RECURSAL.
PRECEDENTES. AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO.
1. Não se viabiliza o recurso especial pela alegada violação ao art. 1.022, I e II, do Novo CPC (art. 535, I e II, do
CPC/73). Isso porque, embora rejeitados os embargos de declaração, a matéria em exame foi devidamente
enfrentada pelo Tribunal de origem, que emitiu pronunciamento de forma fundamentada, ainda que em sentido
contrário à pretensão da parte recorrente.

2. "Este Superior Tribunal de Justiça tem entendimento sedimentado de que da decisão que julga
impugnação ao cumprimento de sentença, sem extinção da fase executiva, é cabível o agravo de instrumento,
nos termos da segunda parte do §3º do art. 475-M do CPC, não se aplicando o princípio da fungibilidade para
conhecimento de apelação, por constituir erro grosseiro". (AgRg no AREsp 154.794/SP, Rel. Ministra Maria
Isabel Gallotti, Quarta Turma, julgado em 25.11.2014, DJe 11.12.2014).

3. Agravo interno não provido.

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. DIVERGÊNCIA ENTRE


AS TURMAS DA 2ª SEÇÃO EM CASOS IDÊNTICOS, INCLUSIVE ENVOLVENDO AS MESMAS PARTES E ÓRGÃOS
JUDICIAIS DE 1ª E 2ª INSTÂNCIAS. EXCEPCIONALIDADE DO CASO CONCRETO. EXECUÇÃO DE TÍTULO
EXTRAJUDICIAL. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. EXCLUSÃO DE EXECUTADO DO POLO PASSIVO. INTERPOSIÇÃO
DE APELAÇÃO AO INVÉS DE AGRAVO DE INSTRUMENTO. INEXISTÊNCIA DE MÁ-FÉ. INDUÇÃO A ERRO PELO JUÍZO.
RELATIVIZAÇÃO DA DÚVIDA OBJETIVA NA RESTRITA HIPÓTESE DOS AUTOS. PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE.
APLICABILIDADE. PRECEDENTES. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA A QUE SE DÁ PROVIMENTO.
O juiz, em um caso específico, prolatou uma sentença e deu o nome de decisão interlocutória. Ele, então,
como deu uma sentença, findou o procedimento, só que ele deu o nome de decisão interlocutória. Assim o
advogado, sendo intimado daquilo, vê o título, de todo tamanho, dizendo ser uma decisão interlocutória.
Embora o advogado reconheça se tratar de uma sentença, não resta dúvida de que o juiz deu o nome de decisão
interlocutória, o que o levou a interpor agravo de instrumento (e não apelação). O advogado sabia que estava
errado, que se tratava de uma sentença, mas ele interpôs agravo levando em conta que o próprio juiz o induziu
ao erro. O STJ, por meio desse caso, nos disse que quem induziu ao erro foi o juízo e, tendo em vista essa culpa
do juízo, há a relativização da dúvida objetiva, porque o próprio juízo que fez a parte errar. Apesar de,
analisando a decisão, não ter dúvida nenhuma (já que de sentença cabe apelação e de decisão interlocutória
cabe agravo) e não cabe fungibilidade, se o juiz nomeou a decisão dele de decisão interlocutória mesmo sendo
sentença, o advogado foi na onda do juiz.
“[...] a jurisprudência do STJ é no sentido de que a exceção de pré-executividade é cabível para discutir
questões de ordem pública, cognoscíveis de ofício, quais sejam, os pressupostos processuais, as condições da
ação, os vícios objetivos do título executivo atinentes à certeza, liquidez e exigibilidade, desde que não
demandem dilação probatória”.

CUMPRIMENTO DE SENTENÇA DAS OBRIGAÇÕES DE PAGAR ALIMENTOS


 ARTS. 528 A 533-CPC/2015

Esse cumprimento de sentença é chamado pela doutrina (pela literatura) como um cumprimento especial,
como uma execução especial. Ele é uma execução especial justamente porque existe peculiaridades em relação às
medidas típicas de coerção e de sub-rogação em relação a esse cumprimento.

→ Então as medidas típicas, tanto coercitivas quanto sub-rogatórias, são especiais em relação ao
procedimento de cumprimento de sentença das obrigações de pagar. Ou seja, a denominação de
execução especial para esse cumprimento de sentença se refere justamente à especialidade das
medidas típicas.
Importante: Nos termos do §8º do art. 528 do NCPC, a escolha entre os diferentes meios executivos
previstos em lei para a execução de alimentos é sempre livre, dependendo exclusivamente da vontade do
exequente, conforme entendimento do STJ.

De acordo com o que diz o caput do artigo 528 do CPC, têm-se que “o juiz, a requerimento do exequente,
mandará intimar o executado pessoalmente para, em 3 (três) dias, pagar o débito, provar que o fez ou justificar a
impossibilidade de efetuá-lo”. Quando formos advogados ou defensores públicos, a nós chegará muitos casos de
execução de alimentos lato sensu, devemos ter em mente que a modalidade especial da execução de pagar
alimentos é uma questão absolutamente do credor. O advogado, portanto, não vai dar palpites se o credor de
alimentos deve prender ou não o executado, por exemplo – o advogado não vai dar palpite nisso não, tendo em
vista ser uma questão familiar.

Ao chegar, para um técnico processualista, um caso de execução de alimentos, ele deve explicar que existem,
nesse caso, duas possibilidades: ou o cumprimento dessa sentença (essa decisão) por uma modalidade especial de
execução e essa modalidade especial inclui a prisão do executado ou, de outro modo, realizar a cobrança desses
alimentos da forma comum, como se faz a cobrança para outras dívidas. Não é, portanto, obrigatório que o filho
escolha a modalidade prevista do artigo 528 ao 533 do CPC só porque se trata da cobrança de alimentos. O filho
muitas vezes não tem, em si, o desejo de prender seu genitor, por exemplo, sendo o desejo apenas no sentido de
que os alimentos sejam pagos.

Assim, o processualista deve, apenas, oferecer as duas técnicas, o que quer dizer que quem vai escolher é o
filho junto com a mãe ou seu guardião. Isso é uma questão pessoal de família, então o advogado que é
verdadeiramente técnico não vai ficar se intrometendo em questões familiares, porque isso vai além de uma simples
cobrança, envolvendo sentimento, relação de pai e filho ou de mãe e filho. O advogado, então, vai apenas
demonstrar a existência de um procedimento violento (que é esse procedimento que está sendo estudado a partir
do artigo 528 do CPC), por meio do qual pode-se pedir até a prisão do executado, bem como a existência do
procedimento comum de expropriação (artigo 523 do CPC). A partir dessa demonstração, cabe ao filho escolher
como desejará cobrar do pai e, a partir disso, se aguarda a resposta do credor, o que mostra evidente que não é o
advogado que vai ter que ficar incitando o credor a solicitar a prisão do alimentante.
Qual o princípio que fundamenta a alegação de que o credor que escolhe qual procedimento seguir? Fica a
cargo do devedor, então, se ele vai querer levar o pai à prisão ou se ele prefere não levar e que, assim, sejam
providenciados outros meios para cobrar do pai. O advogado vai conferir essas informações ao cliente sem emitir
juízo de valor. O fundamento dessa escolha por parte do credor é o princípio da disponibilidade da execução (art.
775 do CPC).

Art. 775. O exequente tem o direito de desistir de toda a execução ou de apenas alguma medida executiva.
Com base nisso, resta evidente que o exequente tem o direito de desistir de toda a execução ou de apenas
algumas medidas e, nesse viés, se ele está desistindo do artigo 528, ele está desistindo de apenas algumas medidas
(que são as medidas especiais do artigo 528) e não de toda a execução.

Existem, portanto, algumas peculiaridades e a mais destacada delas é, justamente, a possibilidade de prisão
civil. A única possibilidade de prisão civil no sistema jurídico brasileiro é nesse tipo de cumprimento de sentença,
nesse tipo de execução em que se permite, então, o encarceramento do executado (alimentante) como medida
típica coercitiva.

Obviamente que a prisão, em si, não exime aquele devedor da dívida (isto é, ele não paga a dívida com a prisão
– não é a lógica do processo penal em que, com o encarceramento, o sujeito paga a dívida que tem com a sociedade,
por ter cometido ato típico, ilícito e culpável).

→ A prisão civil trata-se, portanto, um meio de coerção violentíssimo para que você provenha o mínimo
substancial relativo ao alimentando, ou seja, para que venha a pagar as parcelas devidas (inclusive as
que se vencerem enquanto ele estiver preso e ao longo do procedimento).
Obs.: Mas se o alimentante entra na prisão devendo dois meses de alimentos, saindo da prisão um mês
depois ele se encontra devendo três meses de pensão alimentícia. Obviamente, então, que não há o
adimplemento da dívida com a prisão, mas fato é que nós temos essa especialidade.

Quando ocorre essa prisão civil, o executado vai ser liberado apenas quando realizar o adimplemento da
prestação alimentícia? Não necessariamente, ele vai sair de lá no tempo determinado pelo juízo. O juízo, quando
emite o mandado de decreto prisional, ele já emite com o prazo final, então o alimentante sai da prisão com término
do referido prazo estabelecido no decreto prisional.

→ Esse prazo pode ser renovado desde que seja por um novo inadimplemento, sob pena de se cometer
um bis in idem, o que quer dizer que não se pode prender, de novo, uma mesma pessoa por um débito
pelo qual ela já foi encarcerada.

Obs.: Cabimento de prisões sucessivas em sede de cumprimento de prestar alimentos? Sim, mas nunca
pela mesma dívida que originou a prisão anterior.

u Jurisprudência: HC 447443/STJ: "A prisão civil do alimentante pode ser decretada por inadimplemento
da obrigação alimentar, à medida que representa relação de trato sucessivo, tantas vezes quantas sejam
necessárias para constrangê-lo ao pontual cumprimento de sua obrigação, desde que não envolva a
mesma prestação, pois, caso contrário, a pena se tornaria perpétua, o que contraria suas finalidades.”

→ Apesar de não ser um pagamento (não ser um adimplemento), você pode, novamente, encarcerar um
mesmo devedor desde que ele continue recalcitrante – se ele foi encarcerado por dever um mês de
dívida alimentar e o juízo determinou sua prisão por trinta dias, ao expirar esses trinta dias
obrigatoriamente ele tem que ser solto (tem que ser expedido alvará de soltura), todavia se ele
continua a não pagar, obviamente que o juízo pode renovar esse mandado prisional que, logicamente,
não vai ser baseado na dívida com base na qual ele já foi aprisionado, mas sim baseado em uma nova
dívida (que o alimentante ainda deve).

IMPORTANTE – cumulação de medidas típicas:


Não há, contudo, qualquer impedimento relativo à cumulação de medidas típicas (veremos, inclusive,
jurisprudência sobre isso adiante). Então não há nenhum problema de você, por exemplo, iniciar os atos
expropriatórios, isto é, as medidas típicas sub-rogatórias e, ao mesmo tempo, aplicar a medida típica
coercitiva da prisão. O problema está, então, em prender a pessoas duas vezes pela mesma dívida (isso
não pode ocorrer).

➢ CONSIDERAÇÕES GERAIS
Art. 528. No cumprimento de sentença que condene ao pagamento de prestação alimentícia ou de decisão
interlocutória que fixe alimentos, o juiz, a requerimento do exequente, mandará intimar o executado pessoalmente
para, em 3 (três) dias, pagar o débito, provar que o fez ou justificar a impossibilidade de efetuá-lo.

• Protesto da decisão judicial: art. 517 c/c art. 528, §1º, CPC/2015:
ART. 528, §1º Caso o executado, no prazo referido no caput (três dias), não efetue o pagamento, não prove que
o efetuou ou não apresente justificativa da impossibilidade de efetuá-lo, o juiz mandará protestar o pronunciamento
judicial, aplicando-se, no que couber, o disposto no art. 517.

→ Portanto, caso o executado não efetue o pagamento, não prove que o efetuou ou não apresente
justificativa da impossibilidade de efetuá-lo, o juiz mandará protestar o pronunciamento judicial.

O protesto tem como função pressionar psicologicamente o executado a cumprir a obrigação, se


prestando a exercer a mesma espécie de pressão por meio de ameaça de piora da situação do devedor
no cumprimento da sentença de alimentos.
u Jurisprudência: REsp 1469102/SP: “1. É possível, à luz do melhor interesse do alimentando, na
execução de alimentos de filho menor, o protesto e a inscrição do nome do devedor de alimentos nos
cadastros de proteção ao crédito.” 2) Não há impedimento legal para que se determine a negativação do
nome de contumaz devedor de alimentos no ordenamento pátrio.

É possível o protesto não só de sentença, mas também de decisão interlocutória. Independe do trânsito em
julgado. O protesto da decisão judicial que condena a pagar alimentos pode ser feito de ofício.

→ Portanto, ao prever que o protesto é cabível tanto de sentença como de decisão interlocutória, sem
qualquer previsão expressa no sentido de que tais decisões tenham transitado em julgado, o art.
528, §1º do NCPC permite que, em cumprimento de sentença de alimentos, mesmo provisória, se
admita o protesto do pronunciamento judicial que reconheceu, ainda que provisoriamente, o
direito a alimentos.

➔ Portanto, também não há necessidade de decisão transitada em julgado. Então aqui,


obviamente, nós estamos falando de qualquer decisão (decisão interlocutória, sentença,
decisão monocrática, acórdão), mas essas decisões, com quaisquer naturezas, não precisam
estar transitadas em julgado para serem levadas a protesto.

→ Ademais, caso o executado não efetue o pagamento, o juiz mandará protestar. Então aqui nós temos
a primeira especificidade, tendo em vista que o protesto não é considerado um ato sujeito a
requerimento da parte, sendo, portanto, um ato ex officio. O juiz já faz tal mandado, ainda que sem
provocação da parte.
 O protesto da sentença deve ser feito pelo próprio juízo (ou seja, não precisa de requerimento da
parte, como precisa no artigo 517 do CPC) e ele pode ser, ainda, de decisão não transitada em
julgado. Então resta evidente que existem especificidades.

Diferença em relação ao protesto da jurisdição voluntária:


O protesto, no artigo 517, pelo procedimento de expropriação (que é o procedimento de obrigações de pagar)
impõe alguns requisitos, os quais: que a decisão tenha transitado em julgado (você não pode fazer o protesto no
cumprimento provisório do artigo 520) e obviamente ele também impõe requerimento (é, portanto, um ato da
parte).

Art. 517. A decisão judicial transitada em julgado poderá ser levada a protesto, nos termos da lei, depois de
transcorrido o prazo para pagamento voluntário previsto no art. 523.

§1º Para efetivar o protesto, incumbe ao exequente apresentar certidão de teor da decisão.

O próprio exequente tem, então, que solicitar a decisão de teor da decisão na secretaria ou na vara e a partir
dessa solicitação, se a decisão for transitada em julgado, ele pode efetuar o protesto extrajudicial. Então nós temos
os requisitos previstos no artigo 517, o que o diferencia do protesto na execução de alimentos.
Observação: o protesto judicial, pela jurisdição voluntária, é para certificar direitos. É muito melhor o protesto
extrajudicial, porque o protesto extrajudicial vai expedir uma carta para você e vai te dar um prazo para
pagamento (dentro dessa carta). A partir desse prazo para pagamento, sendo descumprido, gera-se a
negativação. O protesto judicial (da jurisdição voluntária) é muito mais para certificação de direitos – ele é
muito mais, por exemplo, para a inocorrência do outro em mora. Aqui, contudo, já se tem essa incorrência em
mora, tanto é que já foi iniciada a execução, de modo que, então, o protesto extrajudicial se mostra muito
mais adequado do que o protesto judicial.

POSSIBILIDADE DE INSCREVER O NOME DO EXECUTADO NO CADASTRO DE INADIMPLENTES:

RECURSO ESPECIAL. DIREITO DE FAMÍLIA. PROCESSUAL CIVIL. ALIMENTOS. EXECUÇÃO. DEVEDOR. INSCRIÇÃO
EM CADASTROS DE RESTRIÇÃO AO CRÉDITO. INSCRIÇÃO. POSSIBILIDADE. DIREITO À VIDA DIGNA. AUSÊNCIA DE
IMPEDIMENTO LEGAL. COERÇÃO INDIRETA. MELHOR INTERESSE DO ALIMENTANDO. INOVAÇÃO LEGISLATIVA.
ARTIGOS 528 E 782 DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL.

1. É possível, à luz do melhor interesse do alimentando, na execução de alimentos de filho menor, o protesto
e a inscrição do nome do devedor de alimentos nos cadastros de proteção ao crédito.

2. Não há impedimento legal para que se determine a negativação do nome de contumaz devedor de alimentos
no ordenamento pátrio.
3. O mecanismo de proteção que visa salvaguardar interesses bancários e empresariais em geral (art. 43 da Lei
nº 8.078/90) pode garantir direito ainda mais essencial relacionado ao risco de vida, que violenta a própria dignidade
da pessoa humana e compromete valores superiores a mera higidez das atividades comerciais.

4. O legislador ordinário incluiu a previsão de tal mecanismo no Novo Código de Processo Civil, como se afere
da literalidade dos artigos 528 e 782.

5. Recurso especial provido.


Aqui nessa jurisprudência se fala que é possível não só o protesto que a gente já viu no artigo 517, mas também,
concomitantemente, a inscrição do nome do devedor nos Cadastros de Inadimplentes (já temos essa permissão pelo
artigo 782, §3º do CPC). Assim, por que se discute isso nessa jurisprudência? Porque processos de família são
sigilosos e aí começou-se a discutir se por uma questão que é sigilosa (que é segredo de justiça) você poderia
colocar o nome do devedor de alimentos em um cadastro que é público – do pai, da mãe ou do avô. Isso porque, se
o processo está correndo em sigilo e é colocado o nome do devedor no Cadastro público, abre-se uma discussão. A
resposta do STJ é que, à luz do melhor interesse do menor, é plenamente válido essa inscrição do nome do
devedor de alimentos em Cadastros públicos. Então tudo bem que o processo está correndo em segredo de justiça,
mas a inscrição do nome do devedor vai ser pública sim e ela pode ser feita.

Nessa decisão apresentada do STJ, então, nós temos a legalidade da negativação do nome do alimentante nos
Cadastros de Inadimplentes, como Serasa e SPC. Essa foi uma discussão do STJ em razão do fato de o processo de
família ser um processo sigiloso, isto é, ser um processo que corre em segredo de justiça (nem no PJe a Lorena, como
advogada, por exemplo, não tem acesso tendo em vista não ser a representante legal). Começou-se a ser discutido
se a colocação do nome desse pai ou dessa mãe, desse avô ou dessa avó em Cadastros de Inadimplentes não feriria o
segredo de justiça do próprio processo – o STJ, por sua vez, entendeu que não fere, uma vez que à luz do melhor
interesse do menor essa inscrição em Cadastros Públicos é sim uma medida válida e legal, mesmo que o processo
corra em segredo de justiça.
IMPORTANTE: possibilidade de alimentando, ao atingir a maioridade, cobrar alimentos gravídicos.

A ação de cobrar alimentos envolve a atualidade dos alimentos. Assim, a obrigação de pagar alimentos é uma
obrigação contraída no tempo, então o direito de cobrar alimentos sempre vai existir, o que quer dizer que você
nunca vai ter o esvaziamento da pretensão, porque não é em relação a uma parcela anterior que se extinguiu e você
tem um tempo a partir dela para pedir, visto que você sempre vai ter direito (pensando sob o ponto de vista de um
menor, por exemplo) a alimentos futuros. Para o menor, portanto, não corre prescrição, então obviamente que ele
sempre vai ter o direito a propor a ação, porque não corria a prescrição para ele.

Mas o alimentando teria a possibilidade de, por exemplo, ao atingir a maioridade cobrar alimentos
gravídicos? Ele poderia, com dezoito anos de idade, cobrar alimentos gravídicos? A opinião da Lorena, nesse caso, é
clara no sentido de que ele não poderia cobrar esses alimentos gravídicos já com dezoito anos. Assim, Lorena
entende que tal pedido já, nesse caso, prescreveu. Ou seja, Lorena entende que pela características dos alimentos o
menor que, agora, atingiu a maioridade não poderia cobrar os alimentos gravídicos, porque os alimentos têm suas
características e finalidades próprias e uma das finalidades dos alimentos é a assistência ambulatorial, ao passo que
se eles não são mais ambulatoriais, os alimentos já se desconstituem e tal desconstituição não se dá para uma dívida
comum (visto que os alimentos nunca passarão a ser uma dívida comum). Assim, a professora entende que se uma
pessoa precisa de alimentos, ela precisa deles agora, de modo que esses alimentos gravídicos que, no caso em
comento, estão sendo cobrados dezoito anos depois, não podem mais ser considerados alimentos pelas próprias
características dos alimentos.

Quem pede esses alimentos gravídicos, ao menos em regra, é a mãe, mas a mãe pede como representante (isto
é, pede em nome alheio direito alheio) e não como legitimada extraordinária (situação em que estaria pleiteando em
nome próprio direito alheio, o que não acontece). Desse modo, o direito é do nascituro. Se consultarmos a lei de
alimentos gravídicos de 2008, veremos, claramente, que o direito é do próprio nascituro e não da mãe.
A prescrição não corre contra menores e também não corre entre ascendentes e descendentes, mas a
prescrição da pretensão do conhecimento surge com a violação do direito. Então a pretensão é que é esvaziada com
a prescrição. Conforme dito, a pretensão surge com a violação do direito e, desse modo, se os alimentos gravídicos
não foram pedidos durante dezoito anos da vida do alimentando, não houve violação do direito. Assim, Lorena
entende que se não houve violação do direito esses alimentos não podem ser pedidos. Diferente é a situação se os
pais já estiverem em mora desde os alimentos gravídicos porque aí obviamente, então, o alimentando teria interesse
de agir. Contudo, se a pretensão não surgiu não é possível cobrar, com dezoito anos, alimentos de quando se deu o
nascimento, visto que não existem direitos violados sendo que o pai nunca foi demandado

Princípio da actio nata


Trata-se do princípio mais importante do processo civil. A actio nata nada mais é que o nascimento da ação –
quando que a ação nasce ou o direito público subjetivo à ação nasce. A ação nasce a partir da violação de um direito.
Então se há um direito violado, a partir desse momento surge a pretensão e, desse modo, a pretensão é que legitima
o direito público subjetivo à ação. Enquanto isso a prescrição, por sua vez, é o esvaziamento da pretensão.

 Ou seja, para que você tenha como cobrar alimentos de quando você tinha um ano estando com
dezoito anos, você já tem que ter exercido a pretensão pelo direito de ação, de modo que se você
nunca cobrou tais alimentos gravídicos o pai não é tido como devedor.
• Prisão civil – execução indireta

ABRANGÊNCIA
Em primeiro lugar, é importante se questionar se é possível aplicar essa medida coercitiva, independentemente da
natureza dos alimentos? STJ: “não cabe execução de alimentos pela aplicabilidade de medida coercitiva de
aprisionamento em virtude de alimentos que não sejam os legítimos.” (HC 224.769/ STJ, HC 182.228).

→ A primeira questão quando a gente trata de uma obrigação de pagar alimentos, tendo em vista essa
execução especial (e é uma execução especial porque tem medidas típicas especiais), é a abrangência.
Devemos nos perguntar, então, se essa obrigação abrange todos os alimentos, isto é, todas as
modalidades de alimentos. Nós temos, por exemplo, alimentos legítimos (que são aqueles
decorrentes do parentesco); alimentos indezatórios (decorrentes de atos ilícitos – responsabilidade
aquiliana, disposta nos artigos 186 e 187 do CC) e; alimentos decorrentes de inadimplemento
contratual (alimentos decorrentes de relações contratuais), como por exemplo os honorários
advocatícios, que são verbas alimentares travadas numa relação contratual entre cliente e advogado
e que não foram adimplidos a tempo.

Então, obviamente, temos que nos perguntar se será Os alimentos decorrentes do casamento ou
qualquer alimento. A resposta, por sua vez, é não. Para essa da união estável também se inserem aqui. Os
execução especial nós só estamos tratando dos alimentos cônjuges, tecnicamente, não são parentes,
legítimos, isto é, dos alimentos decorrentes do parentesco: mas obviamente que eles se incluem nas
descendente em relação a ascendente – Estatuto do Idoso; relações familiares.
ascendente em relação a descendente (obviamente as
obrigações dos pais e dos avós em relação aos filhos e netos) e;
alimentos decorrentes do casamento ou da união estável.

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. CUMPRIMENTO DE DECISÃO QUE
ESTABELECE PRESTAÇÃO DE ALIMENTOS EM AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. OBRIGAÇÃO DECORRENTE DE ATO ILÍCITO.
NATUREZA INDENIZATÓRIA. PISÃO CIVIL DE DEVEDOR (CPC/2015, ARTS. 528 E 533). IMPOSSIBILIDADE. GARANTIA
CONSTITUCIONAL (CF, ART. 5º, LXVII). RECURO PROVIDO. ORDEM CONCEDIDA.

1. Antes de se considerar qualquer disposição legal a respeito do sensível tema da prisão civil por dívida,
deve-se atentar para a sólida garantia constitucional inerente ao direito fundamental de liberdade do indivíduo,
identificado por Karel Vasak, em sua reconhecida classificação, como direitos humanos de primeira geração. Em
relação aos direitos de liberdade, ressai o dever estatal de respeitop, consistente em postura negativa, de abster-se
de violá-los. Descabem, assim, interpretações normativas que conduzam a ampliações da exceção constitucional à
ampla garantia de vedação à prisão civil por dívida.
2. Não há como se adotar, como meio de coerção do devedor de alimentos fixados em caráter indenizatório, a
prisão civil prevista exclusivamente para o devedor de alimentos decorrentes de vínculos familiares, no art. 528,
§§ 3º e 4º, do Código de Processo Civil/2015, em harmonia com o que excepcionalmente admitido pela Constituição
da República (art. 5º, LXVII). É que a natureza jurídica indenizatória daquela, fixada no caso de reparação por ato
ilícito, difere da estabelecida em razão de laços de parentesco, quando se leva em conta o binômio necessidade-
possibilidade. Para a obrigação alimentícia indenizatória, o rito previsto é o do art. 533 do CPC/2015, sem previsão
de prisão.

3. Recurso ordinário provido. Ordem de habeas corpus concedida.


Portanto, a modalidade de execução dos artigos 528 a 533 do CPC não é para alimentos indenizatórios. Se
alguém, por exemplo, atropelou o Joaquim na rua, que veio a falecer, deixando, em decorrência desse ato ilícito,
uma criança órfã, a caracterização dos alimentos devidos a essa criança são alimentos indenizatórios (visto que vão
ter que ser pagos por responsabilidade aquiliana). Esses alimentos, de acordo com a jurisprudência do STJ, não
justificam a prisão. A prisão, portanto, é só para os alimentos legítimos, o que quer dizer que para os alimentos
indenizatórios vamos ter outras medidas típicas que podem ser aplicadas, mas não a prisão. Esses alimentos
indenizatórios são decorrentes de atos ilícitos e não de relações familiares. Tendo em vista o exemplo acima, o
motorista cometeu um ato ilícito ao atropelar Joaquim. Contudo, o motorista não tem relação familiar com o pai
daquela criança que ficou órfã em virtude do atropelamento, de modo que, então, os alimentos devidos são, apenas,
de responsabilidade aquiliana.

IMPORTANTE: os alimentos da relação familiar são arbitrados em relação à capacidade contributiva de cada
ex-cônjuge ou de cada ex-companheiro. Então se o ex-companheiro ou ex-cônjuge não tinha nenhuma capacidade
laboral, obviamente que aqueles alimentos arbitrados pelo juiz vão considerar aquela capacidade nula, em relação à
economia familiar, da contribuição desse ex-cônjuge. Não se trata, contudo, de alimento indenizatório, ou seja, não
é uma indenização, tendo em vista que possui a natureza legítima, a natureza familiar. Quer dizer que você vai,
obviamente, pagar os alimentos para o ex-cônjuge ou ex-companheiro porque casamento é uma união que tem
como fim a felicidade. Nesse viés, a partir do momento que uma pessoa contribui com 100 reais e a outra não
contribui com nada, isso não interfere em nada na relação do casamento. Finalizou-se essa relação ou a união
estável, aquele que não tinha capacidade laborativa e que, por exemplo, demoraria muito tempo para retornar ao
mercado de trabalho ou for uma pessoa uma pessoa mais velha que não teria essa capacidade de retornar ao
mercado de trabalho, faz jus aos alimentos (não por compensação, mas faz jus a tais alimentos, obviamente, para a
sua própria sobrevivência).

IMPORTANTE 2: Não se pode incluir no valor para prender alguém, verbas que não são as destinadas à
subsistência do credor (do alimentando).

HABEAS CORPUS. PRISÃO CIVIL. PENSÃO ALIMENTÍCIA. EXECUÇÃO. INCLUSÃO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.
VALOR CONSTANTE NO MANDADO PRISIONAL A DESCONSIDERAR DECISÃO TRANSITADA EM JULGADO QUE REVISOU
O VALOR DA PRESTAÇÃO.
1. Não se presta o presente writ à análise de questões que dependam de dilação probatória, incluindo-se aí a
verificação da capacidade financeira do alimentante.

2. Inadmissível que se incluam, sob o procedimento pelo qual há a ameaça de constrição à liberdade do
devedor de alimentos, disciplinado no art. 733 do CPC/1973, verbas estranhas à pensão alimentícia objeto de
cobrança, como as custas processuais e os honorários de advogado, crédito para o qual o sistema legal prevê
instrumentos próprios de realização que não o violento expediente da prisão civil por dívida.
3. "O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende as três prestações
anteriores ao ajuizamento da execução e as que vencerem no curso do processo" - Enunciado nº 309/STJ.
4. ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA.

Portanto, não se pode incluir no valor para prender alguém, verbas que não são as destinadas à subsistência
do credor (do alimentando). Então não podem ser colocadas as verbas estranhas, as custas e os honorários como
verbas que autorizam o encarceramento do devedor.

→ As verbas que autorizam o encarceramento do devedor são, somente, as verbas alimentares, o que
quer dizer que não pode ter nenhuma verba estranha dentro desse valor. Não quer dizer que as
demais verbas, bem como as custas e honorários não podem ser cobradas, uma vez que podem sim
(perfeitamente), mas pelo procedimento do artigo 523 do CPC, de modo que o que o STJ deixa claro é
que esses valores não devem ser cobrados pelo artigo 528 do CPC.

Importante 3: decisão proferida no processo penal que fixa alimentos provisórios ou provisionais em favor da
companheira e sua filha em razão da prática de violência doméstica

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PRISÃO CIVIL DECORRENTE DE INADIMPLEMENTO DE ALIMENTOS


FIXADOS A TÍTULO DE MEDIDA PROTETIVA, NO ÂMBITO DE AÇÃO PENAL DESTINADA A APURAR CRIME DE
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER. 1. INOBSERVÂNCIA DOS REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE
RECURSAL. VERIFICAÇÃO. ANÁLISE, DE OFÍCIO, DA LICITUDE DO DECRETO PRISIONAL, EM RAZÃO DA MAGNITUDE
DO DIRETO CONSTITUCIONAL DO WRIT. NECESSIDADE. 2. HIGIDEZ DA DECISÃO PARA SUBSIDIAR A IMEDIATA
COBRANÇA JUDICIAL DA VERBA ALIMENTAR. RECONHECIMENTO. 3. NATUREZA SATISFATIVA DA MEDIDA (E
NÃO ASSECURATÓRIA). DESNECESSIDADEDE AJUIZAMENTO DE AÇÃO PRINCIPAL NO PRAZO DE 30 (TRINTA) DIAS.
RECONHECIMENTO. 4. SUBSISTÊNCIA DO DEVER DE PRESTAR ALIMENTOS ENQUANTO PERDURAR A SITUAÇÃO
DE HIPERVULNERABILIDADE, DESENCADEADA PELA PRÁTICA DE VIOLAÇÃO DOMÉSTICA E FAMILIAR.
RECONHECIMENTO. 5. OBRIGAÇÃO ALIMENTAR MANTIDA ATÉ A REVOGAÇÃO JUDICIAL DA DECISÃO QUE A FIXOU.
NECESSIDADE. 6. RECURSO ORDINÁRIO NÃO CONHECIDO.

1. Não obstante a existência de vícios formais que obstam o conhecimento do recurso, dada a magnitude da
garantia constitucional do habeas corpus, decorrente da proteção do direito à liberdade a que visa assegurar, impõe-
se o exame de suas razões para constatação de eventual flagrante de ilegalidade, apta a ensejar a concessão,
de ofício, da ordem de habeas corpus.
2. Controverte-se no presente recurso ordinário em habeas corpus, se a decisão proferida no processo penal
que fixa alimentos provisórios ou provisionais em favor da então companheira e de sua filha, em razão da prática
de violência doméstica, estribada no art. 22, V, da Lei n. 11.340/2006 e, no caso dos autos, ratificada em acordo
homologado judicialmente no bojo da correlata execução de alimentos? constitui título hábil para cobrança (e, em
caso de inadimplemento, passível de decretação de prisão civil) ou se, para tal propósito, seria necessário o
ajuizamento, no prazo de 30 (trinta) dias, de ação principal de alimentos (propriamente dita), sob pena de
decadência do direito.
3. A medida protetiva de alimentos, fixada por Juízo materialmente competente é, por si, válida e eficaz, não se
encontrando, para esses efeitos, condicionada à ratificação de qualquer outro Juízo, no bojo de outra ação, do que
decorre sua natureza satisfativa, e não cautelar. Tal decisão consubstancia, em si, título judicial idôneo a autorizar a
credora de alimentos a levar a efeito, imediatamente, as providências judiciais para a sua cobrança, com os
correspondentes meios coercitivos que a lei dispõe. Compreensão diversa tornaria inócuo o propósito de se conferir
efetiva proteção à mulher, em situação de hipervulnerabilidade, indiscutivelmente.
4. O inciso V do art. 22 da Lei n. 11.340/2006 faz menção a alimentos provisórios ou provisionais, termos que
são utilizados, no mais das vezes, como sinônimos. Embora não o sejam tecnicamente, a diferença é apenas
terminológica e procedimental, guardando entre si, na substância, inequívoca identidade, destinando-se a garantir à
alimentanda, temporariamente, os meios necessários à sua subsistência, do que ressai a sua natureza
eminentemente satisfativa, notadamente porque a correspondente verba alimentar não comporta repetição. Desse
modo, à medida protetiva de alimentos (provisórios ou provisionais) afigura-se absolutamente inaplicável o art. 806
do CPC/1973 (art. 308 do CPC/2015), que exige o ajuizamento de ação principal no prazo de 30 (trinta) dias, sob pena
de perda da eficácia da medida, já que não se cuida de medida assecuratória/instrumental.
5. O entendimento que melhor se coaduna com os propósitos protetivos da Lei n. 11.340/2006 é o que
considera subsistentes os alimentos provisórios e provisionais enquanto perdurar a situação de vulnerabilidade
desencadeada pela prática de violência doméstica e familiar e não, simplesmente, enquanto perdurar a situação
de violência.
5.1 O dever de prestar alimentos, seja em relação à mulher, como decorrência do dever de mútua assistência,
seja em relação aos filhos, como corolário do dever de sustento, afigura-se sensivelmente agravado nos casos de
violência doméstica e familiar contra a mulher. Nesse contexto de violência, a mulher encontra-se em situação de
hipervulnerabilidade, na medida em que, não raras as vezes, por manter dependência econômica com o seu
agressor? se não por si, mas, principalmente, pelos filhos em comum, a sua subsistência, assim como a de seus
filhos, apresenta-se gravemente comprometida e ameaçada.

5.2 A par da fixação de alimentos, destinados a garantir a subsistência da mulher em situação de


hipervulnerabilidade, o magistrado deve, impreterivelmente, determinar outras medidas protetivas destinadas
justamente a cessar, de modo eficaz, a situação de violência doméstica imposta à mulher. Compreender que a
interrupção das agressões, por intermédio da intervenção judicial, seria suficiente para findar o dever de prestação
de alimentos (a essa altura, se reconhecido, sem nenhum efeito prático) equivaleria a reconhecer a sua própria
dispensabilidade, ou mesmo inutilidade, o que, a toda evidência, não é o propósito da lei. A cessação da situação de
violência não importa, necessariamente, o fim da situação de hipervulnerabilidade em que a mulher se encontra
submetida, a qual os alimentos provisórios ou provisionais visam, efetivamente, contemporizar.
5.3 A revogação da decisão que fixa a medida protetiva de alimentos depende de decisão judicial que reconheça
a cessação de tal situação, cabendo, pois, ao devedor de alimentos promover as providências judiciais para tal
propósito, sem o que não há falar em exaurimento da obrigação alimentar.

6. Recurso ordinário não conhecido, inexistindo qualquer ilegalidade do decreto prisional impugnado que
autorize a concessão da ordem de habeas corpus, de ofício.

O inciso V do artigo 22 da lei nº11340/2006 faz menção a alimentos provisórios. Partindo disso, para o tipo de
situação discutida, em que se tem a violência doméstica da mulher, é permitido decretar a prisão. A gente costuma
falar da prisão civil só em relação àquelas dívidas alimentares civis, mas fato é que quando se tem a seara penal
envolvida, também é facultado ao juízo (desde que a requerimento da parte) prender.

→ Então, ao estudarmos o procedimento da lei nº11340 – que trata, obviamente, da Lei Maria da Penha –
vamos ver que uma das possibilidades é que aquela mulher a sua prole que foi sujeita à violência
doméstica (aqui se fala em processo penal) venham a ter o direito de receber alimentos
(estabelecimento de alimentos), que serão passíveis de prisão por descumprimento, além de todas as
demais medidas protetivas dispostas na própria lei.

São alimentos em relação ao caráter familiar (isto é, alimentos legítimos). A indenização decorrente do
crime vai vir depois da sentença (artigo 91 do Código Penal), já os alimentos provisórios possuem, obviamente,
natureza de relação familiar (das relações familiares entendidas em razão da Lei Maria da Penha). Então não
tem caráter indenizatório e, por isso, cabe a prisão.
Desse modo, quando há natureza penal, também, na questão, é cabível a prisão civil e não apenas a prisão
penal.

Nesse caso, uma prisão é de natureza civil e a outra é de natureza penal. Diante disso, o executado cumprirá
as penas concomitantemente? Essa prisão concomitante não tem problema nenhum. Ele pode ser condenado a
cumprir trinta dias de prisão civil, por exemplo, pelo não pagamento de alimentos provisionais ou provisórios
estipulados como medidas protetivas dos artigos 22 e 23 da lei nº 11340 e, ao mesmo tempo, estar cumprindo pena,
por exemplo, pelo cometimento desses crimes. Assim, ele estará cumprindo a medida coercitiva de natureza civil e,
ainda, a punição de natureza penal. Existem, contudo, algumas características relativas à prisão civil, como o fato de
que ela tem que ser cumprida, pelo indivíduo, em separado dos demais condenados penais, mas se ele já é um
condenado penal, por exemplo, isto é, já estiver cumprindo, concomitantemente, ele não vai ficar separado dos
condenados penais, de modo que, assim, vai cumprir a prisão civil sem essa separação se já for um condenado penal.
Isso porque a prisão civil sozinha, isoladamente, tem seus requisitos, mas se a pessoa já é um condenado penal, os
requisitos da prisão civil não se aplicam àquele que já é um condenado penal. A segregação do devedor de alimentos
dos outros presos (dos outros encarcerados), por exemplo, não será feita, porque não é necessário que seja feita,
tendo em vista que ele já é um encarcerado penal. Ou seja, o que a lei civil estabelece no sentido de que
“preservaria” o devedor civil, não terá aplicabilidade nesse caso específico.

➢ OBSERVAÇÕES:
O caput do art. 528 dispõe:
Art. 528. No cumprimento de sentença que condene ao pagamento de prestação alimentícia ou de decisão
interlocutória que fixe alimentos, o juiz, a requerimento do exequente, mandará intimar o executado
pessoalmente para, em 3 (três) dias, pagar o débito, provar que o fez ou justificar a impossibilidade de efetuá-
lo.

Portanto, adotando o exequente pelo procedimento do art. 528, §3º, deverá ser apresentada simples
petição ao juízo competente. Assim, o executado será intimado para que no prazo de 3 dias adote uma das
3 possíveis providências: pagar, provar que já pagou ou justificar a impossibilidade de efetuar pagamento.

a) para pagar: trata-se de espécie de reconhecimento jurídico do pedido, o que acarreta ao executado também
o dever de pagar as custas processuais e os honorários advocatícios, sendo a execução extinta.
b) provar que já pagou: aqui, o executado alega e prova que já cumpriu a obrigação. Sendo acolhida essa
alegação, a execução será extinta.

c) justificar a impossibilidade do pagamento: portanto, poder-se-á ainda se justificar pelo não pagamento,
indicando com seriedade e de forma fundamentada as razões que efetivamente o impossibilitaram de
satisfazer o direito do exequente. A seriedade da alegação decorre geralmente de prova documental juntada
com a defesa, mas o executado tem direito a produzir provas em momento procedimental posterior, em
especial a testemunhal, que não pode ser produzida no momento da defesa. A justificativa impede a prisão,
porque, segundo o art. 5º, LXVII, da CF, somente o inadimplemento voluntário e inescusável da obrigação
alimentícia permite a prisão civil

OBS: O caput do artigo 528 diz “no cumprimento de sentença que condene ao pagamento de prestação
alimentícia ou de decisão interlocutória que fixe alimentos” e, assim, observamos que alimentos, obviamente,
podem ser fixados por decisão interlocutória em sede de tutela provisória, por exemplo, que é o que a gente
chama de alimentos provisórios.

A diferença entre alimentos provisionais e provisórios que podemos encontrar no Direito Civil, se deu como
acabada pelo próprio CPC. Apesar do fato de que alguns autores ainda mantenham essa diferença, ela se
acabou. Se entendia que os alimentos provisionais seriam aqueles alimentos que estão fora da lei de alimentos
de 1968, isto é, seriam outros tipos de alimentos. Desse modo, aqueles que não estão dentro da lei de 1968,
que trata dos alimentos legítimos, obviamente, seriam tratados como provisionais, enquanto que aqueles
encontrados dentro da lei de 1968 seriam alimentos provisórios que seriam estipulados de forma temporária,
até a sentença, por exemplo.
Hoje, com a tutela provisória, pelo artigo 294 e seguintes, essa diferença entre alimentos provisórios e
provisionais é basicamente terminológica e não há diferença técnica processual, porque ao CPC se aplica a lei
de alimentos (especial) subsidiariamente. Então obviamente que podem ser expedidos alimentos temporários
por tutela provisória, a partir de decisão interlocutória.
O CPC acabou, portanto, com essa diferenciação, embora existam alguns civilistas que ainda a colocam. O
STJ em algumas decisões, principalmente de 2015/2016 (quando o CPC ainda estava se consolidando), ainda
falava nessa diferença entre alimentos provisionais e provisórios. Mas hoje, com o instituto da tutela provisória,
não tem mais essa diferença, já que o CPC se aplica a qualquer procedimento, mesmo que de forma subsidiária.

IMPORTANTE: intimação do devedor deverá ser pessoal (exceção ao art. 513, CPC/2015)

O juiz, a requerimento do exequente (o exequente tem que querer a modalidade prisional) mandará intimar o
executado pessoalmente. A intimação pessoal é outra exceção dessa execução especial. Isso porque a intimação nas
obrigações de pagar (artigo 513 do CPC) é na pessoa do advogado, como regra geral, enquanto que aqui tal
intimação se dá pessoalmente.

Art. 513. O cumprimento da sentença será feito segundo as regras deste Título, observando-se, no que couber e
conforme a natureza da obrigação, o disposto no Livro II da Parte Especial deste Código.

§2º O devedor será intimado para cumprir a sentença:

I - pelo Diário da Justiça, na pessoa de seu advogado constituído nos autos.

→ A própria intimação é pessoal e isso porque o prazo para pagar é muito exíguo. Assim, sendo o prazo
para pagar muito exíguo, não vai ocorrer a intimação com o advogado. Isso porque, caso isso ocorra,
até o advogado entrar em contato com o seu cliente, já passou o tempo – então a intimação é
pessoal, o que quer dizer que o próprio executado será intimado pessoalmente para, em três dias
(apenas três dias, prazo muito inferior ao estabelecido no artigo 523 e que se refere a quinze dias)
pagar o débito, provar que o fez ou justificar a impossibilidade de efetuá-lo.
→ Todavia, a ausência de intimação pessoal do executado não será nula quando não tiver sido
demonstrado prejuízo.

u Jurisprudência: HC 606285/SP: “2. A jurisprudência desta eg Corte Superior já proclamou que, a


despeito da inocorrência de intimação pessoal do devedor de alimentos para pagar ou justificar a
impossibilidade de fazê-lo, não se decreta a nulidade se não ficar demonstrado o prejuízo, o que não
ocorreu. Precedentes. 2.1. Atingida a finalidade do ato, o juiz o considerará válido, mesmo que ele tenha
sido realizado de modo diverso do previsto em lei. Precedentes do STJ. Hipótese em que a intimação na
pessoa do advogado provocou o comparecimento espontâneo do devedor de alimentos, que apresentou
justificativa e pagou parte do débito, o que revela que ele tomou ciência inequívoca do ato processual.

IMPORTANTE: Contagem prazo caput art. 528 CPC


Enunciado nº 146 do CJF: o prazo de 3 (três) dias previstos pelo artigo 528 do CPC conta-se em três dias úteis e
na forma dos incisos do art. 231 do CPC, não se aplicando seu §3º.

Como é que esse prazo vai ser contado?

Art. 231. Salvo disposição em sentido diverso, considera-se dia do começo do prazo: I - a data de juntada
aos autos do aviso de recebimento, quando a citação ou a intimação for pelo correio. Assim, se a carta de
intimação chegou no seu prédio hoje (você recebeu tal intimação hoje e confirmou por assinatura), então o
prazo começará a ser contado, justamente, da data da juntada do Aviso de Recebimento no processo. Então
obviamente que o oficial de justiça vai ter que voltar no juízo e apenas quando ele fizer a juntada é que o
prazo será contado.

Art. 231, II - a data de juntada aos autos do mandado cumprido, quando a citação ou a intimação for por
oficial de justiça. Nesse segundo caso, feita a citação pelo oficial de justiça, por mandado, é a partir da data da
juntada que o prazo começará a ser contado e não do dia, obviamente, que você foi citado ou intimado.

Enquanto isso, no caso do inciso III do art. 231, a contagem do prazo se dará a partir da data de
ocorrência da citação ou da intimação, quando ela se der por ato do escrivão ou do chefe de secretaria. Isso
porque, no caso do inciso III você está lá na secretaria, lá na vara e, assim, se você está lá na audiência a data
da intimação e da publicação se confundem.
Então, como regra geral, o prazo se iniciará sempre da juntada. Mas se o executado vai ser intimado
pessoalmente e tendo em vista que essa prática para o ato de pagamento, não é um prazo para o advogado, mas um
prazo para a parte (o advogado não vai fazer peça não, esse é um prazo, realmente, para a parte), tal prazo contar-
se-ia a partir da intimação.

→ Isso porque, sendo um prazo para a parte pagar, provar que pagou ou que não pode pagar de
forma absoluta, teria de ser aplicado o §3º do artigo 231.

Art. 231, §3º: quando o ato tiver de ser praticado diretamente pela parte ou por quem, de qualquer forma,
participe do processo, sem a intermediação de representante judicial, o dia do começo do prazo para
cumprimento da determinação judicial corresponderá à data em que se der a comunicação

→ A partir disso, vemos que quando o ato tem que ser praticado pela própria parte sem a intervenção do
advogado, o §3º do artigo 231 nos fala que o prazo começa a contar da comunicação. Assim, se o sujeito
foi comunicado hoje (quarta-feira), ele terá quinta, sexta e segunda para agir. Só que o já mencionado
Enunciado nº146 acabou com esse raciocínio, embora Lorena considere que o correto seria isso que
acabou de ser dito, visto que a intimação se dá para que ocorra um ato a ser praticado pela parte (que
deve pagar, provar que pagou ou provar a impossibilidade absoluta). O Enunciado nº146 do CJF então,
falou exatamente o contrário, que o prazo de três dias previsto pelo artigo 528 conta-se em três dias
úteis e na forma dos incisos do artigo 231 não se aplicando o §3º.
O Enunciado resolveu dois problemas: o problema da contagem material ou processual dos dias e o
problema do termo inicial da contagem desses dias. Então o prazo vai começar a ser contado da juntada
mesmo, de modo que se a intimação se deu por Carta, o prazo começará a ser contado da juntada do Aviso
de Recebimento; se a intimação foi por mandado, o prazo começará da juntada do mandado.

IMPORTANTE: impossibilidade de pagamento

→ A partir do momento que o executado é intimado pessoalmente, como visto, surgem três (unicamente
três) possibilidades para o executado, de acordo com o caput do artigo 528. Assim, o executado pode:
pagar o débito; provar que pagou ou; justificar a impossibilidade de efetuar o pagamento.

No que se refere à impossibilidade da realização de tal pagamento, a referida impossibilidade tem que ser
absoluta, não podendo ser uma impossibilidade relativa.
528, § 2º Somente a comprovação de fato que gere a impossibilidade absoluta de pagar justificará o
inadimplemento.

A jurisprudência tem discutido quais seriam as justificativas razoáveis para tanto. daí nós vamos ver, no STJ, o que é
essa impossibilidade absoluta.

RHC 29.777: “A situação atual de desemprego não o isenta da obrigação alimentar perante seus filhos.
Sopesar com: RHC53.698/ STJ: alimentante desempregado recebendo auxílio-doença da Previdência
Social, circunstâncias capazes de afastar o inadimplemento voluntário e inescusável.

➔ O executado tem que provar impossibilidade absoluta de fazer o pagamento e desse modo,
portanto, juntamente com os dizeres da jurisprudência acima, fica muito claro que
desemprego não é impossibilidade absoluta de cumprir com obrigação alimentar. Em
resumo, fato é que o desemprego não é justificativa para se deixar de pagar pensão.

➔ Todavia, apesar de o mero desemprego não afasta a obrigação de prestar alimentos, mas o
desemprego cumulado com o recebimento de auxílio-doença afasta. Obviamente que se o
sujeito está sem emprego e ainda está recebendo auxílio-doença, deferido pela Previdência
Social, logicamente o alimentante está doente, o que quer dizer que ele não tem capacidade
laboral. Não tendo capacidade laboral em virtude de doença, requer uma proteção e tanto é
assim que o sistema jurídico tende a proteger os doentes. Se o devedor está doente
(recebendo auxílio-doença), obviamente que estaria incapacitado para prestar alimentos.

Contudo, se o devedor venha a readquirir a capacidade laboral, os valores dos alimentos


atrasados podem ser cobrados normalmente, sem problema nenhum. Mas, a princípio, é
justificada a incapacidade.
➔ Nesse caso em que há o desemprego cumulado com o recebimento de auxílio-doença, a
recusa no pagamento é aceita e o alimentante não será preso.

Importante! A prova da impossibilidade de fazer o pagamento não exime o alimentante da obrigação de


pagar alimentos, mas sim do decreto prisional. Assim, o alimentante continua devendo, mas a partir do
momento que prova que é absolutamente incapaz de fazer o pagamento, ele está se livrando do decreto
prisional e não da execução, por exemplo, do cumprimento de sentença de pagar quantia. Continua
devendo, de modo que acaba se livrando puramente do decreto prisional.

u Obs.: HC 511.426/STJ: “2. A Terceira Turma já decidiu a respeito da possibilidade de oitiva de testemunha em
execução de alimentos, tendo concluído que em tese seria possível, desde que ela fosse apresentada no prazo de
três dias previsto no art. 528, caput, do NCPC, haja vista que o tríduo é peremptório, porque o risco alimentar do
executado é premente, devendo a justificativa ser produzida neste intervalo e, nessa linha, o mero protesto pela
produção de prova testemunhal não pode ser aceito, porquanto fatalmente se estenderá além da janela
temporal de justificativa permitida na legislação (REsp nº 1.601.338/SP (Inf. 599/STJ), Rel. p. acórdão Ministra
NANCY ANDRIGHI, DJe de 24/2/2016)."
EXECUÇÃO DE ALIMENTOS. PRISÃO CIVIL. ESCUSA. PRODUÇÃO DE PROVA TESTEMUNHAL.
POSSIBILIDADE.

1. O exíguo prazo de três dias concedido ao alimentante para pagar ou justificar o não-pagamento de
pensões alimentícias em atraso, tem como objetivo primário garantir a sobrevida do alimentado, pois o
atraso nos alimentos pode leva-lo à carência crônica dos mais básicos meios de subsistência.

2. Nessa senda, não se verifica, a priori, nenhuma impossibilidade de a escusa ao pagamento ser
realizada por meio de oitiva de testemunhas, prova perfeitamente aceitável, mesmo na excepcional
execução do art. 733 do CPC/73.
3. No entanto, o tríduo é peremptório, porque o risco alimentar do executado é premente, devendo a
justificativa ser produzida neste intervalo e, nessa linha, o mero protesto pela produção de prova testemunhal
não pode ser aceito, porquanto fatalmente se estenderá além da janela temporal de justificativa permitida na
legislação.

4. Recurso não provido.


Em três dias o alimentante tem que provar que pagou, pagar ou provar a impossibilidade de pagar. Será que ele
poderia provar a impossibilidade de pagar por prova testemunhal? O STJ disse que sim, mas desde que seja em
três dias. Isso, contudo, é quase impossível no âmbito fático, mas se o advogado ou defensor chegar para o juiz e
implorar por uma audiência emergencial com vistas a produzir uma prova testemunhal e o juiz deferir, pode ser feita
prova testemunhal da impossibilidade absoluta de pagamento (essa prova não é vedada). Então a prova de que o
devedor não tem como fazer o pagamento, não precisa ser só uma prova documental, uma vez que o STJ está
falando que pode ser solicitada uma instrução probatória testemunhal, mas desde que seja no tríduo (isto é, desde
que seja dentro do prazo de três dias). Se não produzida a prova dessa impossibilidade em três dias, o juiz estará
autorizado a decretar a prisão civil daquele devedor.
Se o juiz indeferir essa audiência ou marcar ela em momento posterior aos três dias, não configuraria
cerceamento da defesa? Lorena não entende que se configure como cerceamento. Assim, o juiz pode marcar depois
dos três dias. Nesse viés, se o alimentante não conseguir a prova testemunhal dentro do prazo para a
impossibilidade de realização de tal pagamento, Lorena sugeriria que ele fizesse o pagamento em relação àquela
dívida devida e, depois, provasse a sua impossibilidade de fazer para as próximas parcelas e, assim, não ser sujeito à
prisão.
Assim, se o alimentante não consegue o atendimento de urgência, fato é que o juízo está autorizado a realizar a
prisão sim. Se isso, depois, for entendido como culpa do assoberbamento do juízo o alimentante pode – pela
responsabilidade objetiva do Estado (art. 37, §6º da CF/88) – solicitar alguma indenização em outra ação. Mas a real
é que as providências devem ser tomadas para a realização da prova em três dias, pois caso contrário o devedor de
alimentos poderá vir a ser preso sim.

IMPORTANTE: Adimplemento substancial

PROCESSUAL CIVIL. HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO DE ALIMENTOS. PRISÃO CIVIL. WRIT UTILIZADO COMO
SUCEDÂNEO DE RECURSO ORDINÁRIO. NÃO CABIMENTO. AFERIÇÃO DA POSSIBILIDADE DE CONCESSÃO DA ORDEM
DE OFÍCIO. COMPROVADA DEFICIÊNCIA NA INSTRUÇÃO DA AÇÃO CONSTITUCIONAL. IMPOSSIBILIDADE DE AFERIÇÃO
DE EVENTUAL CONSTRANGIMENTO SUPORTADO PELO PACIENTE. NA VIA ESTREITA DO HABEAS CORPUS, QUE NÃO
COMPORTA DILAÇÃO PROBATÓRIA, A PROVA DO CONSTRANGIMENTO ILEGAL SOFRIDO DEVE SER PRÉ-
CONSTITUÍDA. PRECEDENTES. ALEGADA AUSÊNCIA DE URGÊNCIA NO RECEBIMENTO DOS ALIMENTOS. TEMA NÃO
DEBATIDO NA ORIGEM. IMPOSSIBILIDADE DE SEU EXAME PELO STJ, SOB PENA DE INDEVIDA SUPRESSÃO DE
INSTÂNCIA. PRECEDENTES. PAGAMENTO SUBSTANCIAL DA DÉBITO ALIMENTAR QUE NÃO ELIDE O DECRETO DE
PRISÃO. TEORIA DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL QUE NÃO SE APLICA NA SEARA DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR.
PRECEDENTES. IMPOSSIBILIDADE DE AFERIÇÃO NA VIA ESTREITA DO WRIT SOBRE A CORREÇÃO OU NÃO DOS
CÁLCULOS DO CONTADOR. NECESSIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA. PAGAMENTO PARCIAL DA DÍVIDA QUE NÃO
AFASTA A REGULARIDADE DO DECRETO PRISIONAL. INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 309 DO STJ. INADIMPLEMENTO
PARCIAL DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR CONSTATADO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 309 DO STJ. HABEAS CORPUS
DENEGADO.
1. Não é admissível a utilização de habeas corpus como sucedâneo ou substitutivo de recurso ordinário cabível.
Precedentes.

2. A deficiência da instrução do writ impossibilita aferir eventual constrangimento ilegal suportado pelo
paciente, em especial no que se refere as alegações de que ele não é devedor contumaz de alimentos, de que
cumpre rigorosamente sua obrigação alimentar, de que o crédito executado é pretérito e não possui caráter
emergencial, de que o inadimplemento não é voluntário e, principalmente, de que o decreto de prisão é ilegal
porque a alimentada aufere outras rendas.

3. Na linha da jurisprudência desta eg. Corte Superior, na via estreita do habeas corpus, que não admite dilação
probatória, o constrangimento ilegal suportado deve ser comprovado de plano, devendo o interessado demonstrar,
de maneira inequívoca, por meio de documentos que evidenciem a sua existência, o que não ocorre no caso em
análise. Precedentes.

4. A ausência de debate pelo Tribunal de Justiça de São Paulo sobre a alegação de que os alimentos perderam
seu caráter de urgência impossibilita o exame da matéria pelo STJ, sob pena de indevida supressão de instância.
Precedentes.

5. A jurisprudência desta Corte já proclamou que não incide nas controvérsias relacionadas a obrigação
alimentar a Teoria do Adimplemento Substancial, de aplicação estrita no Direito das Obrigações e que o pagamento
parcial da verba alimentar também não afasta a possibilidade de prisão civil.

6. Na via estreita do habeas corpus, de conhecida cognição sumária, não é possível aferir se os cálculos
retificados apresentados pelo Contador Judicial estão corretos, pois demandaria dilação probatória. Não se verifica
flagrante ilegalidade ou teratologia no acórdão impugnado que entendeu que os valores estavam corretos.

7. O decreto de prisão proveniente da execução de alimentos na qual se visa o recebimento integral de até
três parcelas anteriores ao ajuizamento da ação e das que se vencerem no seu curso não é ilegal. Inteligência da
Súmula nº 309 do STJ e precedentes.
8. A inexistência de ilegalidade flagrante ou de coação no direito de locomoção do paciente impede a concessão
da ordem de ofício.

9. Habeas corpus denegado.


No Direito Civil há a aplicação da Teoria do Adimplemento Substancial para eximir o devedor do pagamento do
residual da dívida. Assim, se ele já pagou grande parte da dívida, ele pode, obviamente, ser eximido do pagamento
residual – é quando quase tudo é adimplido e aquele residual, pela teoria do adimplemento substancial, é
desprezado para os efeitos do inadimplemento.

Aqui, contudo, essa teoria do adimplemento substancial não se aplica, de modo que se você deve 3 mil reais e
paga R$2888, ainda que o residual seja muito pequeno, a teoria do adimplemento substancial não se aplica e tanto é
assim que o alimentante pode ir preso pelo residual. Obviamente que se foram arbitrados 3 mil reais, isso se trata do
mínimo existencial do alimentando e como se trata do mínimo existencial do alimentando, não há necessidade de
aplicar a teoria do adimplemento substancial do Código Civil. Quer dizer, então, que quando se trata de dívida
alimentar (do mínimo substancial) não pode ser aplicada a referida teoria (do adimplemento substancial).
O alimentante pode até não ter condição de pagar (lembrando tem que ser absoluta falta de condição, o que
deve ser provado), mas em regra geral a verba alimentar é calculada para que se provenha a subsistência daquela
pessoa (isto é, do alimentando, seja ele menor ou idoso). Assim, pagar R$2888 ao invés de 3 mil reais vai prejudicar o
alimentando, portanto, não pode ser aplicada, aqui, a mesma teoria aplicada a financiadoras, bancos. Não tem
aplicabilidade da teoria do adimplemento substancial porque aquele valor residual vai fazer falta e, portanto,
justifica sim a prisão.

Enunciado nº147 do CJF: basta o inadimplemento de uma parcela, no todo ou em parte, para decretação da
prisão civil prevista no art. 528, §7º, do CPC.

Conforme visto, no caso da pensão alimentícia não cabe a teoria do adimplemento substancial. Desse modo, se,
mesmo que seja só em um mês, o alimentante pagou 700 reais referente à parcela alimentícia de 1000 reais, ainda
que tenha pago mais da metade, cabe a incidência do artigo 528 do CPC.
RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS PREVENTIVO - EXECUÇÃO DE TÍTULO JUDICIAL PROMOVIDA POR EX-
ESPOSA - DECRETO PRISIONAL FULCRADO NO ART. 733 DO CPC - DESCUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÃO ALIMENTAR –
ACÓRDÃO DENEGATÓRIO DA ORDEM. INSURGÊNCIA DO DEVEDOR.

1. Tese de nulidade da execução ante a necessidade de formação de litisconsórcio ativo. Inocorrência. Hipótese
em que somente a genitora exige judicialmente o pagamento dos créditos alimentares. Possibilidade. Tratando-se de
prestação alimentar consubstanciada em título judicial único em favor de mãe e filha, cada qual pode promover a
cobrança da respectiva cota parte. Assim, não há que se falar em vício da execução pelo simples fato de somente a
ex-esposa promover a cobrança de sua parte no crédito alimentar.
2. Alegações de pagamento parcial e de propositura de ação de exoneração de alimentos. Inexistência de
óbice ao ajuizamento da execucional fundada no art. 733 do CPC. É sistemática a jurisprudência desta Corte
Superior no sentido de que o pagamento parcial e a propositura de ação de exoneração não obstam a decretação
da prisão do devedor contumaz de débito alimentar (STJ, HC 229.089/SP, desta relatoria, Quarta Turma, j. em
19/06/2012; e, HC 44270/SP, Rel. Ministro JORGE SCARTEZZINI, DJ de 03/10/2005), bem como que o argumento
relativo à impossibilidade econômica representa questão que demanda a análise de provas, insuscetíveis de
exame em sede de remédio heróico (RHC 30024/SP, Rel. Min. Raul Araújo, j. em 06.09.2011; HC 170.688/SP,
Relª.Ministra Maria Isabel Gallotti, DJe de 03/08/2011; e, HC 120.443/MG, Rel. Min. Massami Uyeda, 3ª Turma, DJe
29/04/2009).
3. Recurso ordinário em habeas corpus desprovido.

É sistemática a jurisprudência desta Corte Superior no sentido de que o pagamento parcial e a propositura
de ação de exoneração não obstam a decretação da prisão do devedor contumaz de débito alimentar (STJ,
HC 229.089/SP, desta relatoria, Quarta Turma, j. em 19/06/2012; e, HC 44270/SP, Rel. Ministro JORGE
SCARTEZZINI, DJe de 03/10/2005), bem como que o argumento relativo à impossibilidade econômica
representa questão que demanda a análise de provas, insuscetíveis de exame em sede de remédio heroico
(RHC 30024/SP, Rel. Min. Raul Araújo, j. em 06.09.2011; HC 170.688/SP, Relª. Ministra Maria Isabel
Gallotti, DJe de 03/08/2011; e, HC 120.443/MG, Rel. Min. Massami Uyeda, 3ª Turma, DJe 29/04/2009). 3.
Recurso ordinário em habeas corpus desprovido. Pagamento parcial não impede a prisão, nem mesmo a
propositura de ação de exoneração de alimentos não justificam a impossibilidade de pagamento.”

Obs.: REsp 1.050.994/STJ: “A execução de alimentos exige pronto adimplemento, por isso mesmo que
ofertado ao credor rito dotado de celeridade, disposto no art. 733 do CPC, com a possibilidade de
decretação de prisão civil, conferida pelo art. 5º, inc. LXVII, da CF, que, dessa forma, oferece meio
coercitivo para a imposição do cumprimento da obrigação. Permite-se tão somente o acolhimento da
justificativa, no sentido de livrar o devedor de alimentos da iminente prisão civil, quando demonstre que
houve o pagamento ou ainda a impossibilidade de efetuá-lo. Não se concebe, neste momento da
execução, ofertar ao devedor parcelamento do débito, tampouco a compensação de valores pagos a título
de mensalidades escolares, quando a tanto não anuiu o credor. A ausência de concordância do credor com
a proposta do devedor, formulada em sede de justificativa, obsta, portanto, a adoção, pelo julgador, de
qualquer ato tendente a criar embaraço ao pronto atendimento das necessidades do credor de alimentos,
sob pena de restrição ao caráter emergencial conferido à obrigação alimentícia. Recurso especial não
conhecido.

Obs: RHC 129408 “4. Esta Corte Superior possui entendimento segundo o qual o pagamento parcial do
débito alimentar não é apto a afastar a regularidade do decreto prisional.”
IMPORTANTE: COMPENSABILIDADE EXCEPCIONAL DOS ALIMENTOS

Atenção: REsp 1852460: “2. Em regra os valores pagos a título de alimentos não são suscetíveis de
compensação, salvo em casos excepcionais, quando configurado o enriquecimento sem causa do
alimentando, o que se verificou no presente feito. Precedentes. 3. Hipótese em que o devedor dos
alimentos pagou as cotas de condomínio e IPTU de imóvel de sua propriedade e no qual residem
gratuitamente os alimentandos, obrigação esta que, segundo a compreensão das instâncias do origem,
com base nas provas dos autos, deveria ter sido adimplida pelos ocupantes do bem.”

Obs.: AREsp 1698709: “Cinge a controvérsia à possibilidade de o alimentante, ora agravante, compensar o
crédito alimentar pelo pagamento de mensalidade escolar e plano de saúde dos filhos. Certo é que, no
nosso ordenamento jurídico, vigoram os princípios da irrepetibilidade e da incompensabilidade da verba
alimentar. Importa anotar que o STJ firmou jurisprudência no sentido de que a pensão alimentícia tem
caráter de irrepetibilidade e não pode ser objeto de compensação de dívidas, conforme dicção, inclusive, do
artigo 1.707 do Código Civil: “[...] Com efeito, para afastar esta natureza da prestação alimentícia, a
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça tem admitido a compensação ante a prova robusta da má-fé
do alimentando, ou, ainda, de constatação de enriquecimento ilícito do beneficiário. Trata-se de situação
excepcional, somente passível de ocorrer caso existam provas firmes acerca de uma das duas situações
supramencionadas.”

RECURSO ESPECIAL. CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. DIREITO DE FAMÍLIA. EXECUÇÃO DE ALIMENTOS. OBRIGAÇÃO
FIXADA EM PECÚNIA. ABATIMENTO DE PRESTAÇÃO "IN NATURA". POSSIBILIDADE. PAGAMENTO DE ALUGUEL, TAXA
DE CONDOMÍNIO E IPTU DO IMÓVEL ONDE RESIDIA O ALIMENTADO. DESPESAS ESSENCIAIS. ENRIQUECIMENTO
INDEVIDO.

1. Controvérsia em torno da possibilidade, em sede de execução de alimentos, de serem deduzidas da pensão


alimentícia fixada exclusivamente em pecúnia as despesas pagas "in natura" referentes a aluguel, condomínio e
IPTU do imóvel onde residia o exequente.

2. Esta Corte Superior de Justiça, sob o prisma da vedação ao enriquecimento sem causa, vem admitindo,
excepcionalmente, a mitigação do princípio da incompensabilidade dos alimentos. Precedentes.
3. Tratando-se de custeio direto de despesas de natureza alimentar, comprovadamente feitas em prol do
beneficiário, possível o seu abatimento no cálculo da dívida, sob pena de obrigar o executado ao duplo pagamento
da pensão, gerando enriquecimento indevido do credor.

4. No caso, o alimentante contribuiu por cerca de dois anos, de forma efetiva, para o atendimento de despesa
incluída na finalidade da pensão alimentícia, viabilizando a continuidade da moradia do alimentado.
5. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO.

Em regra, vamos aprender no Direito Civil, os alimentos são incompensáveis, o que quer dizer que não se pode
deduzir do valor principal outras parcelas. Então, em regra, a compensação não pode ser aplicada para esses
alimentos. Mas nessa jurisprudência, excepcionalmente, o STJ aceitou essa compensação e isso porque,
obviamente, os alimentos foram estipulados em pecúnia, mas o pai, por exemplo, estava pagando o condomínio,
o IPTU do local onde o alimentante estava residindo (estava morando), então é claro que isso faz parte da verba
alimentar (ou seja, é claro que as despesas decorrentes da
Atenção! Em relação aos alimentos
moradia do alimentando fazem parte da verba alimentar) e,
convencionais (que também entram nos
assim, se o pai estava pagando IPTU, condomínio, aluguel, o
alimentos legítimos) é importante dizer que se
STJ entendeu que isso poderia ser deduzido da verba que ele
eles foram convencionados de acordo com a
devia, em pecúnia, ao alimentando (uma vez que aquelas
renda e possibilidade do credor, se o
obrigações relacionadas à moradia ele – o pai – já tinha
alimentante não está pagando obviamente
adimplido).
que pode surgir uma questão de má-fé, a não
Na verba alimentar serão colocadas todas as necessidades ser que se comprove, por exemplo, a
do alimentando e uma dessas necessidades é o direito à ocorrência de uma depreciação patrimonial.
moradia. Dentro dessa necessidade referente à moradia, no
caso acima, o pai já estava cumprindo com sua obrigação, pagando, diretamente, as despesas referentes ao imóvel.
Então o STJ entendeu que se cobrasse um valor que tivesse a verba da moradia sem descontar o que o alimentante
já estava cumprindo, se teria enriquecimento sem causa do alimentando, uma vez que alimentante já estava
pagando tais despesas. Obviamente, portanto, essa decisão considerou que a incompensabilidade das verbas
alimentares sofre mitigação em caráter excepcional.

IMPORTANTE: possibilidade de renunciar o exercício do direito à alimentos + renúncia a alimentos


pretéritos
RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. FAMÍLIA. MENOR ABSOLUTAMENTE INCAPAZ. EXECUÇÃO. ALIMENTOS
PRETÉRITOS. ACORDO. EXONERAÇÃO DA DÍVIDA. POSSIBILIDADE. ART. 1.707 DO CÓDIGO CIVIL. CURADOR
ESPECIAL. ART. 9º DO CPC/1973. PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. SÚMULA Nº 211/STJ.

1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do Código de Processo Civil de 1973
(Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ).

2. Cinge-se a controvérsia a examinar se é possível a realização de acordo com a finalidade de exonerar o


devedor do pagamento de alimentos devidos e não pagos e se é necessária a nomeação de curador especial, tendo
em vista a alegação de existência de conflito de interesses entre a mãe e as menores.
3. É irrenunciável o direito aos alimentos presentes e futuros (art. 1.707 do Código Civil), mas pode o credor
renunciar aos alimentos pretéritos devidos e não prestados, isso porque a irrenunciabilidade atinge o direito, e
não o seu exercício.
4. Na hipótese, a extinção da execução em virtude da celebração de acordo em que o débito foi exonerado não
resultou em prejuízo, visto que não houve renúncia aos alimentos vincendos e que são indispensáveis ao sustento
das alimentandas. As partes transacionaram somente o crédito das parcelas específicas dos alimentos executados,
em relação aos quais inexiste óbice legal.
5. A ausência de prequestionamento da matéria relativa à nomeação de curador especial, suscitada no recurso
especial, a despeito da oposição de embargos declaratórios, impede o conhecimento do recurso especial (Súmula nº
211/STJ).

6. Recurso especial conhecido em parte e não provido.


A gente sempre pensa nos alimentos pelo CC, onde são irrenunciáveis. Só que o acordo, bem como a transação,
no processo civil, é sempre possível, mesmo depois da sentença (a desistência da ação tem o prazo de até a
sentença para ocorrer, mas transação pode ocorrer a qualquer momento).
Vamos supor que o pai chega para a mãe do menor e diga “eu estou ciente que devo 4 mil reais (quatro meses
de pensão), mas eu não tenho condição de pagar isso, só que eu prometo que a partir desse mês, já que melhorei
um pouco minha renda, vou começar a pagar. Podemos fazer um acordo aqui, em que você abre mão desses quatro
mil reais pretéritos?”. Se o guardião do menor aceitar, isso está valendo, mesmo que a execução já tenha se iniciado
e mesmo que o juízo já tenha se pronunciado sobre esses alimentos.

Em relação aos alimentos pretéritos, pode haver a renúncia sim. Isso porque os alimentos, logicamente, são
emergenciais, mas a criança já sobreviveu a esses quatro meses de alguma forma (mesmo que seja com a ajuda de
parentes, mas sobreviveu). Considerando o caso acima, a partir da conversa os alimentos serão pagos pelo
alimentante (alimentos presentes e futuros), só que quanto aos demais é feito um acordo no sentido de que o pai,
nesse caso, não deve mais e, portanto, tendo isso em vista, não pode ser levado à prisão. Aqui não é o caso de o
devedor ficar livre do decreto prisional, uma vez que agora o alimentante se vê livre da obrigação, ele está
exonerado dos alimentos pretéritos por acordo (não deve mais esses alimentos pretéritos em virtude do
mencionado acordo feito com a genitora ou com o próprio alimentando, se ele é maior).

Por que não se trata de renúncia de direito alheio, nesse caso? Geralmente quando já se iniciou o
procedimento de execução, você tem, especialmente envolvendo menor, pelo artigo 178 do CPC, a presença do
Ministério Público (que resguarda os direitos do menor – vai ter participação e vista nesse processo). Há a presença,
então, do fiscal da ordem jurídica. A Defensoria Pública também tem importante papel nesse processo. Existem,
portanto, órgãos que já estão ali presentes como fiscais da ordem jurídica (especialmente, conforme dito, o MP em
ações que envolvem menor) e, assim, se esse acordo é feito dentro da justiça ou dentro de um órgão como a
Defensoria Pública, dando vista ao MP, Lorena não entende que seria, obviamente, uma renúncia em nome de
terceiro, até porque, considerando o exemplo acima, ela estaria autorizada, como mãe, a representar e, além disso,
o menor já sobreviveu até aquele momento (seja pelo esforço da sua guardiã ou com a ajuda dos familiares) o que
afasta o caráter emergencial ou ambulatorial dos alimentos. Isso sem contar que seria, talvez, mais efetivo essa
renúncia do que já passou para que se comece a receber os valores presentes e futuros.

➢ Procedimento
Competência: art. 516, I c/c §único, e com o atual domicílio do exequente (alimentando)

Art. 516. O cumprimento da sentença efetuar-se-á perante:

I - os tribunais, nas causas de sua competência originária;

Parágrafo único. Nas hipóteses dos incisos II e III, o exequente poderá optar pelo juízo do atual domicílio
do executado, pelo juízo do local onde se encontrem os bens sujeitos à execução ou pelo juízo do local
onde deva ser executada a obrigação de fazer ou de não fazer, casos em que a remessa dos autos do
processo será solicitada ao juízo de origem.

§9º Além das opções previstas no art. 516, parágrafo único, o exequente pode promover o cumprimento da
sentença ou decisão que condena ao pagamento de prestação alimentícia no juízo de seu domicílio.
O §9º fala daquela outra possibilidade de modificação competencial do parágrafo único do art. 516, em
relação ao alimentando. Então não é só a mudança de residência do alimentante que pode legitimar a
remessa dos autos para outro juízo, mas a mudança do domicílio do alimentando também, obviamente,
legitima a remessa dos autos para outro juízo.

O caput do art. 528 dispõe:


Art. 528. No cumprimento de sentença que condene ao pagamento de prestação alimentícia ou de decisão
interlocutória que fixe alimentos, o juiz, a requerimento do exequente, mandará intimar o executado
pessoalmente para, em 3 (três) dias, pagar o débito, provar que o fez ou justificar a impossibilidade de efetuá-
lo.

Portanto, adotando o exequente pelo procedimento do art. 528, §3º, o procedimento se inicia por um
requerimento do credor (devendo escolher pelas técnicas do art. 523 ou do 528), que deverá ser
apresentado por simples petição ao juízo competente.
Assim, escolhida a técnica do art. 528, o executado será intimado para que no prazo de 3 dias adote uma
das 3 possíveis providências: pagar, provar que já pagou ou justificar a impossibilidade de efetuar
pagamento.

d) para pagar: trata-se de espécie de reconhecimento jurídico do pedido, o que acarreta ao executado também
o dever de pagar as custas processuais e os honorários advocatícios, sendo a execução extinta.

e) provar que já pagou: aqui, o executado alega e prova que já cumpriu a obrigação. Sendo acolhida essa
alegação, a execução será extinta.

f) justificar a impossibilidade do pagamento: portanto, poder-se-á ainda se justificar pelo não pagamento,
indicando com seriedade e de forma fundamentada as razões que efetivamente o impossibilitaram de
satisfazer o direito do exequente. A seriedade da alegação decorre geralmente de prova documental juntada
com a defesa, mas o executado tem direito a produzir provas em momento procedimental posterior, em
especial a testemunhal, que não pode ser produzida no momento da defesa. A justificativa impede a prisão,
porque, segundo o art. 5º, LXVII, da CF, somente o inadimplemento voluntário e inescusável da obrigação
alimentícia permite a prisão civil

Portanto:

- Se o alimentante devedor paga, resta finda a execução (se pagou acabou, não tem mais nada a se fazer).

- Do mesmo modo, se o devedor conseguir provar que pagou e esse pagamento tiver sido efetivamente
realizado, a execução também é finda.

- Contudo, se ele justificar o motivo de tal inadimplemento, abrem-se duas oportunidades:

a) se essa justificativa for indeferida, o alimentante é condenado à prisão e demais atos expropriatórios;

b) mas se o devedor justificar essa impossibilidade absolutamente e essa justificativa for deferida, esse
procedimento do artigo 528 acabou (não é a execução que acabou, mas sim o procedimento do artigo 528,
uma vez que o procedimento de prisão não mais se aplica, o devedor se viu livre da prisão) e, assim, a
execução continua pelo artigo 523. Ao continuar pelo artigo 523, não há necessidade de um novo
requerimento ou novo prazo para pagamento voluntário (isso já se passou), o que significa que a execução
continua pelo artigo 523 a partir da execução, desde logo, de mandado de penhora e avaliação.

Esquema
Requerimento Credor escolhe entre:
Dado o requerimento dá-se a
intimação, com prazo de três dias
• Procedimento do art. 523; para que o devedor exerça três
• Procedimento do art. 528. condutas: pagar; provar que pagou
ou; justificar.

• Se ele pagar ou, efetivamente, provar que pagou, é finda a


execução.
• Mas se ele justificar há duas possibilidades:
a) Em caso de deferimento da justificação pelo juízo,
ocorre a finalização do procedimento do artigo 528 e
consequente continuação do procedimento pelo
artigo 523.
b) Contudo, se a justificação é indeferida, dar-se-á o
decreto prisional.

Importante:

RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO DE ALIMENTOS. PRISÃO CIVIL. JUSTIFICATIVA APRESENTADA PELO DEVEDOR.
COMPROVAÇÃO DA SITUAÇÃO DE PENÚRIA. FATO NOVO. IMPOSSIBILIDADE MOMENTÂNEA. AFASTAMENTO
TEMPORÁRIO DA PRISÃO.
1. O art. 733 do CPC/1973, buscando conferir efetividade à tutela jurisdicional constitucional (CF, art. 5°,
LXVII), previu meio executório com a possibilidade de restrição à liberdade individual do devedor de alimentos, de
caráter excepcional, estabelecendo que "na execução de sentença ou de decisão, que fixa os alimentos
provisionais, o juiz mandará citar o devedor para, em 3 (três) dias, efetuar o pagamento, provar que o fez ou
justificar a impossibilidade de efetuá-lo".
2. Valendo-se da justificativa, o devedor terá o direito de comprovar a sua situação de penúria, devendo o
magistrado conferir oportunidade para seu desiderato, sob pena de cerceamento de defesa. Precedentes.

3. A justificativa deverá ser baseada em fato novo, isto é, que não tenha sido levado em consideração pelo juízo
do processo de conhecimento no momento da definição do débito alimentar.
4. Outrossim, a impossibilidade do devedor deve ser apenas temporária; uma vez reconhecida, irá subtrair o
risco momentâneo da prisão civil, não havendo falar, contudo, em exoneração da obrigação alimentícia ou redução
do encargo, que só poderão ser analisados em ação própria.

5. Portanto, a justificativa afasta temporariamente a prisão, não impedindo, porém, que a execução prossiga
em sua forma tradicional (patrimonial), com penhora e expropriação de bens, ou ainda, que fique suspensa até
que o executado se restabeleça em situação condizente à viabilização do processo executivo, conciliando as
circunstâncias de imprescindibilidade de subsistência do alimentando com a escassez superveniente de seu
prestador, preservando a dignidade humana de ambos.

6. Na hipótese, de acordo com os fatos delineados nos autos, realmente não se pode ver decretada a prisão do
executado, ora recorrente, mas também não se pode simplesmente extinguir a execução ou ver retomado o
processo pelo rito do art. 733 do Código de Processo Civil, como entendeu o acórdão. Devem os autos retornar ao
Juízo de piso que, consultado o credor, mantidas as condições averiguadas, poderá suspender a execução ou
transmudá-la para outro meio (CPC, art. 732).

7. Recurso especial parcialmente provido.


Portanto, a prova da impossibilidade de fazer impede, temporariamente, a medida típica prisional. Mas ela,
obviamente, não impede o cumprimento de sentença pelo procedimento de expropriação (isso está claro nessa
decisão do STJ). Ao provar que não pode pagar, o devedor não se vê livre dos alimentos, mas apenas da cadeia.
u Obs.: a prisão é medida coercitiva típica: Inf. 573/2015: "Em execução de alimentos pelo rito do art. 733
do CPC, o acolhimento da justificativa da impossibilidade de efetuar o pagamento das prestações
alimentícias executadas desautoriza a decretação da prisão do devedor, mas não acarreta a extinção da
execução.”

§2º Somente a comprovação de fato que gere a impossibilidade absoluta de pagar justificará o inadimplemento.
§3º Se o executado não pagar ou se a justificativa apresentada não for aceita, o juiz, além de mandar
protestar o pronunciamento judicial na forma do §1º, decretar-lhe-á a prisão pelo prazo de 1 (um) a 3 (três) meses.

→ Vemos que existe, no próprio Código, a cumulação de medidas típicas. Então no decreto prisional, além do
decreto prisional, se tem a incidência do art. 517 c/c art. 528, §3º já de ofício (ou seja, para essa cumulação
não precisa de requerimento nem trânsito em julgado).

Portanto, não havendo pagamento, não se justificando o executado, ou, ainda, não convencendo o juiz de suas
justificativas, deverá ser determinada a sua prisão civil, como meio de pressão psicológica para que ele realize o
pagamento.

O prazo máximo da prisão é de 1 a 3 meses.

§4º A prisão será cumprida em regime fechado, devendo o preso ficar separado dos presos comuns.

O regime, portanto, é ex lege e não escolhido pelo juiz. Dentro desse assunto nós já sabemos, contudo, da
jurisprudência que veio com a Covid referente a esse regime.

RECURSO EM HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO DE ALIMENTOS. PRISÃO CIVIL. JUSTIFICATIVAS PARA O


INADIMPLEMENTO DA OBRIGAÇÃO NÃO ACOLHIDAS. TRANSTORNO PSIQUIÁTRICO. FATO SUPERVENIENTE AO
DECRETO DE PRISÃO. NÃO PODE SER CAUSA DO INADIMPLEMENTO DE OBRIGAÇÃO PRETÉRITA. REAL CAPACIDADE
FINANCEIRA DO DEVEDOR NÃO PODE SER AFERIDA EM HABEAS CORPUS. PRECEDENTES. DESEMPREGO E
NASCIMENTO DE OUTRO FILHO NÃO JUSTIFICAM O INADIMPLEMENTO DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR. PRECEDENTES.
EXECUÇÃO DE ALIMENTOS NÃO SERVE DE MEIO PARA EXONERAÇÃO OU REVISÃO DE ALIMENTOS. CONVERSÃO
DA PRISÃO CIVIL EM DOMICILIAR. IMPOSSIBILIDADE. RECURSO EM HABEAS CORPUS NÃO PROVIDO.

1. Os transtornos psiquiátricos sofridos pelo recorrente somente foram diagnosticados após o decreto de prisão
civil, de modo que ele não é a causa do inadimplemento da obrigação alimentar antes assumida.
2. A teor da jurisprudência desta eg. Corte Superior, a real capacidade financeira do paciente não pode ser
verificada em habeas corpus que, por possuir cognição sumária, não comporta dilação probatória e não admite a
análise aprofundada de provas e fatos controvertidos. Precedentes.

3. O STJ já consolidou o entendimento de que a ocorrência de desemprego do alimentante e o nascimento de


outro filho não são suficientes para justificar o inadimplemento da obrigação alimentar, devendo tais circunstâncias
ser examinadas em ação revisional ou exoneratória de alimentos, justamente em razão da estreita via do habeas
corpus.

4. Em execução de alimentos o devedor somente pode alegar em sua defesa o pagamento realizado ou a
impossibilidade de fazê-lo, não existindo campo para discussão de eventual causa exoneratória ou revisional da
obrigação que lhe foi imposta na via cognitiva ampla da ação da alimentos.

5. Inexiste prova pré-constituída ou segura no sentido de que o transtorno psiquiátrico tornou excessiva e ilegal
a prisão civil, bem como teria o potencial de agravar a enfermidade e lhe causar danos irreparáveis ao paciente.

6. A jurisprudência do STJ, em hipóteses excepcionais, admite o recolhimento domiciliar do preso portador de


doença grave quando demonstrada a necessidade de assistência médica contínua, impossível de ser prestada no
estabelecimento prisional comum, o que não ficou comprovado de plano. Precedentes.
7. A pretensão de cumprimento da prisão civil em regime domiciliar, em regra, não encontra abrigo na
jurisprudência desta egrégia Corte Superior, pois desvirtua a finalidade de compelir o devedor a adimplir com a
obrigação alimentar e viola direito fundamental que tem o alimentando a uma sobrevivência digna. Precedentes.

8. Recurso ordinário não provido.


Jurisprudência: Atenção: RHC 38.824/STJ: “2. Em hipótese absolutamente excepcional, tal como na espécie,
em que a paciente, avó dos alimentados, possui patologia grave e idade avançada, é possível o
cumprimento da prisão civil em regime domiciliar, em prestígio à dignidade da pessoa humana.
Precedentes. 3. Recurso provido.”
O STJ, antes da pandemia, não aceitava a substituição da prisão em regime fechado (porque o regime é
fechado para os devedores de alimentos) por prisão domiciliar – isso era pacificado, porque entendia-se que,
obviamente, o devedor de alimentos tinha que experimentar os malefícios do cárcere para que ele fosse compelido
ao pagamento. Essa era a posição pacífica do STJ até 2019, ano anterior à pandemia.
Com a chegada da pandemia, a Resolução nº62 do CNJ, em seu artigo 6º, vem recomendar aos magistrados
com competência cível, que considerem a colocação em prisão domiciliar as pessoas presas com dívidas
alimentícias. Isso com vistas à redução dos riscos epidemiológicos e em observância ao contexto local de
disseminação do vírus. Essa recomendação, até então, não era a jurisprudência pacífica da Corte do STJ.
HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO. FAMÍLIA. ALIMENTOS. FILHOS MENORES.
ADMISSIBILIDADE EM HIPÓTESES EXCEPCIONAIS. PRISÃO CIVIL NA EXECUÇÃO DE ALIMENTOS. INADIMPLEMENTO DE
OBRIGAÇÃO ALIMENTAR ATUAL (SÚMULA 309/STJ). PANDEMIA DE COVID-19. RISCO DE CONTÁGIO. PRISÃO
DOMICILIAR. ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA.
1. O presente habeas corpus foi impetrado como substitutivo do recurso ordinário cabível, o que somente é
admitido excepcionalmente pela jurisprudência desta Corte de Justiça e do egrégio Supremo Tribunal Federal
quando constatada a existência de flagrante ilegalidade no ato judicial impugnado, podendo-se, em tais hipóteses,
conceder-se a ordem de ofício.

2. O pagamento parcial do débito não afasta a regularidade da prisão civil, porquanto as quantias
inadimplidas caracterizam-se como débito atual, que compreende as três prestações anteriores à citação e as que
vencerem no curso do processo, nos termos da Súmula 309/STJ.
3. Diante do iminente risco de contágio pelo Covid-19, bem como em razão dos esforços expendidos pelas
autoridades públicas em reduzir o avanço da pandemia, é recomendável o cumprimento da prisão civil por dívida
alimentar em regime diverso do fechado.

4. Ordem de habeas corpus parcialmente concedida para que o paciente, devedor de alimentos, cumpra a
prisão civil em regime domiciliar.

Então depois da recomendação do CNJ, essa decisão de 2020 (da 4ª Turma) ocasiona uma cisão dentro do STJ. A
4ª Turma falou que é recomendável a substituição do regime fechado do devedor de alimentos por outra
modalidade de prisão. Contudo, vem a 3ª Turma e fala o seguinte:
HABEAS CORPUS. OBRIGAÇÃO ALIMENTÍCIA. INADIMPLEMENTO PRISÃO CIVIL. DECRETAÇÃO. PANDEMIA.
SÚMULA Nº 309/STJ. ART. 528, § 7º, DO CPC/2015. PRISÃO CIVIL. PANDEMIA (COVID-19). SUSPENSÃO TEMPORÁRIA.
POSSIBILIDADE. DIFERIMENTO. PROVISORIEDADE.

1. Em virtude da pandemia causada pelo coronavírus (Covid-19), admite-se, excepcionalmente, a suspensão


da prisão dos devedores por dívida alimentícia em regime fechado.
2. Hipótese emergencial de saúde pública que autoriza provisoriamente o diferimento da execução da obrigação
cível enquanto pendente a pandemia.
3. Ordem concedida.

A 3ª Turma, sob a perspectiva de que o CNJ não é um ente legislativo (não tem competência legislativa) e que,
portanto, apenas recomendou, sem caráter vinculante nenhum, a modificação do regime fechado e prisional para o
regime domiciliar. Apesar de a 4ª Turma ter seguido tal recomendação, a 3ª Turma não entende assim. Desse modo,
de acordo com a 3ª Turma do STJ a pandemia pode gerar a suspensão da prisão – ou seja, não vai ocorreria a prisão
naquele momento, mas passando a pandemia tal prisão se daria. Há a suspensão do decreto prisional, o que não dá
a possibilidade de o devedor de alimentos cumprir aquela prisão em sua casa, o que quer dizer que ele vai cumprir
no estabelecimento prisional, mas quando os índices melhorarem.
Há, portanto, dissidência dentro do próprio STJ. E, segundo Lorena, fazendo uma comparação entre as duas
Turmas em comento, a 3ª Turma é sempre mais rígida que a 4ª Turma. Há, portanto, essa dissidência em relação às
decorrências da pandemia.
Lei nº14010, art. 15: até 30 de outubro de 2020, a prisão civil por dívida alimentícia, prevista no art. 528, § 3º e
seguintes da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), deverá ser cumprida exclusivamente
sob a modalidade domiciliar, sem prejuízo da exigibilidade das respectivas obrigações.
A Recomendação do CNJ não era lei, mas depois vem a lei. Então, o que os juízes da 3ª Turma estavam falando,
quando disseram que iam suspender foi “vetado”. A lei veio e disse que não se trata de uma suspensão, sendo,
obviamente, cumprir tal prisão na modalidade domiciliar. De acordo com o mencionado dispositivo, essa lei teve
validade até 30 de outubro de 2020, entretanto depois se tem várias recomendações de prorrogação/postergação
do prazo da lei nº14010. Assim, por recomendação, inclusive, do próprio STJ, há a prorrogação das disposições do
mencionado artigo 15 pelas Turmas do STJ. Contudo, a partir do momento que se tem a expiração do prazo da lei
nº14010, como não teria condição mandar prender todo mundo (porque a pandemia ainda não acabou), defere-se
ao credor a possibilidade de suspender a prisão ou defere-se a ele a possibilidade de que o alimentante cumpra a
prisão em regime domiciliar. Defere-se ao alimentando, portanto, a possibilidade de escolher uma das duas
possibilidades já dadas pelas 3ª e 4ª Turmas – ou a suspensão ou o cumprimento em regime domiciliar.

Ademais, sendo o preso advogado, não terá direito a ser recolhido em sala de Estado Maior, ou, na sua
ausência, em prisão domiciliar, prerrogativa limitada à prisão penal, de índole punitiva.

O advogado, pelo Estatuto da OAB, tem algumas prerrogativas em relação à prisão. Então se a gente for lá no ar.
7º do referido Estatuto, veremos que:

Art. 7º São direitos do advogado:


V - não ser recolhido preso, antes de sentença transitada em julgado, senão em sala de Estado Maior, com
instalações e comodidades condignas, assim reconhecidas pela OAB, e, na sua falta, em prisão domiciliar.

A sala de Estado Maior não pode ser confundida com uma cela, visto que é uma sala. A primeira coisa, então, é
que o advogado não fica num local cercado por grades, mas sim em uma sala que é utilizada para procedimentos
administrativos e que, eventualmente, passa a ser utilizada como cárcere para advogados ou para pessoas com
algum foro privilegiado.
O ex-governador de Minas Gerais, por exemplo, o Azeredo, ficou preso numa sala de Estado Maior na instituição
do Corpo de Bombeiros localizada na Av. Afonso Pena.
A sala de Estado Maior é uma sala de natureza castrense em que não se tem, obviamente, cela.

Essa prerrogativa do advogado, contudo, vigora apenas antes do trânsito em julgado.


Assim, a sala de Estado Maior é uma garantia do advogado, mas essa é uma garantia que se estende à seara
civil ou é uma garantia só em relação à seara penal?

HABEAS CORPUS. PRISÃO CIVIL. OBRIGAÇÃO ALIMENTAR. DÉBITO OSTENTADO POR ADVOGADO. PEDIDO DE
SUBSTITUIÇÃO DA PRISÃO POR RECOLHIMENTO DOMICILIAR. INADMISSIBILIDADE. NECESSIDADE DO RESGUARDO
DA VIS COMPULSIVA PRÓPRIA DO MEIO EXECUTÓRIO. RELEVÂNCIA DOS DIREITOS CORRELATOS À OBRIGAÇÃO.

1. A norma do art. 7º da Lei 8906/94, relativa à prisão do advogado, antes de sua condenação definitiva, em
sala de Estado Maior, ou, na sua ausência, no seu domicílio, restringe-se à prisão penal, de índole punitiva.
2. Inaplicabilidade à prisão civil, pois, enquanto meio executivo por coerção pessoal, sua natureza já é de
prisão especial, pois o devedor de alimentos detido não será segregado com presos comuns.

3. O regime de cumprimento da prisão civil deve imprimir máxima coerção sobre o devedor para estimulá-lo ao
célere cumprimento da obrigação alimentar, diretamente ligada à subsistência do credor de alimentos.
4. Doutrina e jurisprudência desta Corte sobre a questão.

5. HABEAS CORPUS DENEGADO.

A 3ª Turma nos diz que é uma garantia só em relação à seara penal. Obviamente que, pela lógica do CPC de que
o advogado devedor de alimentos não seria misturado aos presos comuns (que são presos penais), o advogado não
necessitaria ser recolhido em uma sala de Estado Maior.
HABEAS CORPUS. PRISÃO CIVIL. ALIMENTOS. ADVOGADO ALIMENTANTE. RECOLHIMENTO EM CELA
SEPARADA DE DELEGACIA DE POLÍCIA. INEXISTÊNCIA DE SALA DE ESTADO MAIOR. PRISÃO DOMICILIAR.
CONCESSÃO DA ORDEM.
1. Se o ordenamento jurídico garante a advogado supostamente infrator da lei penal o recolhimento em sala
de Estado Maior, razão não há que justifique recolhimento em cela comum de delegacia de polícia de causídico
devedor de alimentos, porque um ilícito civil não pode justificar tratamento mais gravoso do que o previsto para
aquele que pretensamente viola a norma penal.

2. Aplica-se à prisão civil de advogado a regra contida no artigo 7º, V, da Lei 8.906/94 (EOAB), segundo a qual
constitui direito do advogado "não ser recolhido preso, antes de sentença transitada em julgado, senão em sala de
Estado Maior, com instalações e comodidades condignas e, na sua falta, em prisão domiciliar".
3. Ordem de habeas corpus concedida.

A 4ª Turma é mais flexível do que a 3ª Turma. Havendo essa dissidência, a jurisprudência será aplicada de
acordo com os interesses da advocacia ou da defensoria, visto que sobre esse assunto não há, ainda, uma definição
uniforme.
§5º O cumprimento da pena não exime o executado do pagamento das prestações vencidas e vincendas.

Já sabemos que o cumprimento da pena não é para fins de pagamento para/com a sociedade como é no
processo penal. O cumprimento da pena, portanto, é somente uma medida coercitiva, de modo que, inclusive, o
alimentante sai devendo mais do que devia se ainda não tiver pagado.

Obs.: o regime da prisão é fechado. A prisão deve ser separada dos presos comuns.
Obs.: sobre a prisão civil: 1) será de 1 a 3 meses; 2) só pode ser determinada com relação às três últimas
parcelas cumuladas com as que vencerem no curso da execução (Súmula 309, STJ).

§6º Paga a prestação alimentícia, o juiz suspenderá o cumprimento da ordem de prisão.

Paga a prestação alimentícia, o juiz expedirá um alvará de soltura imediato, sob pena de responsabilidade civil
e penal por não emitir tal alvará.

§7º O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende até as 3 (três) prestações
anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do processo.

→ Portanto, somente se admite a prisão do devedor de alimentos referente às 3 últimas parcelas não
quitadas anteriores ao ajuizamento da execução, por cumprimento de sentença ou processo autônomo,
mas, vencendo-se parcelas durante esse processo, a prisão só será elidida na hipótese de pagamento
integral da dívida: as três parcelas mais recentes anteriores ao ajuizamento, e todas as demais que se
vencerem durante a execução até o pagamento.

Atenção! Vamos supor que você, como advogado, é procurado em outubro pelo seu cliente, que vai te falar que
o pai dele não pagou a pensão. Há uma parcela em atraso de outubro (já venceu uma vez que, nesse caso hipotético,
a situação se deu no final do referido mês); uma outra parcela em atraso de setembro; a parcela em atraso de
agosto, julho e junho. A partir de qual momento o seu cliente pode optar pelo procedimento do artigo 528? O
débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende até as três primeiras prestações
anteriores, você não precisa formar três para ter direito à prisão (para o seu cliente ter direito a esse procedimento),
de modo que basta uma parcela vencida. Se o seu cliente chegar para você e dizer: “doutor, meu pai pagou a pensão
até setembro, outubro ele está atrasado, eu tenho direito ao procedimento do artigo 528?”, a resposta será que terá
esse direito sim.

A prisão, contudo, é até as três anteriores, de modo que em relação às que ultrapassam os três meses
anteriores o credor vai poder continuar a cobrar, todavia unicamente pela possibilidade do artigo 523 do CPC. A
parcela de junho no exemplo acima, então, não vai poder ser cobrada pelo procedimento do artigo 528. Então uma
pessoa só pode ser presa pelos três débitos anteriores ao ajuizamento da execução.
A ratio desse parágrafo caminha no sentido de que só se justifica a medida mais violenta do Processo Civil se for
prestação atual (ou seja, a medida mais violenta, que é a prisão, só se justifica pela atualidade) e até três meses
antes de tal ajuizamento a prestação está atual, depois de três meses não está atual mais. Isso se dá tendo em vista
que embora o credor continue devendo, não há mais aquela emergência porque o alimentando já viveu até lá (já
sobreviveu por todo esse tempo).
Ou seja, a prisão só pode ser legitimada para as prestações vencidas três meses antes do ajuizamento da
execução. Pode, contudo, ser decretada com apenas uma ou duas parcelas em atraso (e não necessariamente três),
mas deve ser respeitado o máximo de três.
Se existem, por exemplo, quatro parcelas alimentícias em atraso, vai ter que haver uma cisão do procedimento
(o que a gente chama de cisão procedimental). Se o credor chegar com essa demanda, fato é que ele tem duas
opções com relação às prestações atuais: a opção do procedimento do artigo 528 ou a opção do procedimento
previsto no art. 523 do CPC. Contudo, com relação às mensalidades vencidas há mais de três meses antes do
ajuizamento da execução, o credor só tem a opção do artigo 523. Se ele optar o procedimento do artigo 523,
também, para as prestações atuais, farar-se-á um único procedimento e, assim, o problema estará resolvido, mas se
o credor optar, para as parcelas atuais, o procedimento do artigo 528 que, logicamente, será cumulado com o
procedimento do artigo 523, se terá a cisão (serão feitas, nesse segundo caso, duas petições, sendo uma para cobrar
as mensalidades mais antigas e outra para cobrar as atuais, sendo uma pelo procedimento do artigo 528 e a outra
pelo procedimento do artigo 523).

Atenção! Se você for propor a execução pelo Importante! O advogado, quando fizer a petição
procedimento do artigo 528, você pode propor até o inicial, obviamente já vai deixar claro o procedimento
vencimento da quarta parcela. Ou seja, para se que escolheu, porque se é o do artigo 528 do CPC, já
conseguir englobar as três parcelas vencidas sem a vai solicitar a intimação para, em três dias, o devedor
realização da cisão do procedimento, é necessário pagar, provar que pagou ou, ainda, justificar a
iniciar a execução até um dia antes do vencimento da impossibilidade absoluta de realizar o pagamento. Se
quarta parcela, porque se for iniciado tal ajuizamento o advogado solicita essa intimação, o juiz já sabe que
no dia posterior ao vencimento da quarta parcela, se refere ao procedimento do artigo 528, sob pena de
como já vai ter ocorrido o vencimento da quarta decretação de prisão. Contudo, se é feito um
parcela, vai ter que ser feita a cisão, obrigatoriamente. requerimento falando em intimação para pagar e
Assim, se o credor quiser o procedimento do artigo impugnar, no prazo de quinze dias (sob pena,
528, para não ter cisão a execução tem que ser iniciada inclusive, da multa do artigo 523, §1º), fato é que já é
até o dia anterior ao vencimento da quarta o procedimento do artigo 523 (ou seja, já é o
mensalidade, porque caso contrário necessariamente procedimento de expropriação).
tal cisão ocorrerá.

Observação: a prisão só pode ser aplicada dentro de certos requisitos, visto que é a medida mais violenta, e um
desses requisitos é a atualidade dos alimentos. Desse modo, se os alimentos não são atuais mais acabou, não se
pode aplicar tal medida, sob pena de ir contra dispositivo expresso de lei (cabendo, portanto, punição). Ainda que o
credor queira muito a prisão, não sendo os alimentos atuais, o juiz não pode conceder – o juiz é impedido de aplicar
esse procedimento, o que quer dizer que ele pode aplicar apenas em relação às três últimas parcelas anteriores ao
ajuizamento da execução.

§8º O exequente pode optar por promover o cumprimento da sentença ou decisão desde logo, nos termos do
disposto neste Livro, Título II, Capítulo III, caso em que não será admissível a prisão do executado, e, recaindo a
penhora em dinheiro, a concessão de efeito suspensivo à impugnação não obsta a que o exequente levante
mensalmente a importância da prestação.

Isto é, o credor pode optar pelo procedimento comum de expropriação, e, recaindo a penhora em dinheiro, a
concessão de efeito suspensivo à impugnação não obsta a que o exequente levante mensalmente a importância
da prestação.
Quando é feito um Sisbajud em relação ao executado e se consegue, pelo próprio Sisbajud, fazer a constrição de
um valor em dinheiro, têm-se que pelo procedimento comum o executado vai ser intimado para, em quinze dias,
pagar e, em mais quinze dias, impugnar. Nesses quinze dias para impugnar, o executado vai poder pedir o efeito
suspensivo, mas, claro, desde que ele prove os dois requisitos da tutela provisória (fundamentação relevante e risco
de dano) e, além disso, garanta o juízo. Se o Sisbajud já foi feito e o executado já tenha um valor conscrito judicial (já
tem um valor bloqueado em conta que o executado não pode mexer), obviamente que o requisito da caução já foi
cumprido, isto é, o executado já garantiu o juízo. Mesmo que o juízo conceda o efeito suspensivo para a impugnação
desse pai, isso não impede (o efeito suspensivo) que o alimentante levante, mensalmente, o valor dos alimentos.

Quer dizer, então, que o efeito suspensivo não impede que o credor (alimentando) vá dando uma
“abocanhada” mensal no valor conscrito. Assim, mesmo que a execução pare, o que o alimentante garantiu de juízo
– através do Sisbajud – vai poder, de forma fragmentada e mensal, ser levantado pelo alimentando. Não está sendo
levantado em relação aos débitos passados, mas sim só em relação às parcelas atuais – ou seja, as parcelas que
venceram no curso do processo.
Vamos considerar que se entrou com a execução em outubro e em dezembro o processo ainda está correndo o
pai conseguiu o efeito suspensivo. Mas o juiz, quando fez o Sisbajud, conseguiu, suponhamos, 20 mil reais em conta
do pai. A parcela mensal era de dois mil e, diante do exposto, o alimentando vai poder levantar, dos mencionados 20
mil reais, 2 mil em dezembro; mais 2 mil em janeiro e assim por diante.
Há, portanto, uma peculiaridade do efeito suspensivo dessa execução de devedor alimentar: feito o Sisbajud,
o alimentando tem a possibilidade de levantar a parcela atual (aquela que venceu durante o processo).

Em resumo, se o exequente optar pelo procedimento de expropriação (que é o procedimento do artigo 523 do
CPC), obviamente que todos aqueles passos anteriormente estudados vão ocorrer e na impugnação, portanto, vai
poder ser requerido o efeito suspensivo pelo executado, desde que ele prove fundamentos relevantes, bem como
risco de dano e, ainda, garanta o juízo. A partir disso, se o executado já garantiu o juízo de forma sub-rogatória
porque o juízo já fez um Sisbajud em relação às contas bancárias, isto é, à liquidez que ele tem no sistema bancário
nacional (valor em dinheiro), pode ser que o juiz conceda efeito suspensivo. Concedendo efeito suspensivo à
impugnação, isso não vai impedir que o alimentando levante, mensalmente, o valor estipulado de seus alimentos.

Assim, se o alimentando, por exemplo, faz jus a mil reais por mês e o juiz apreendeu 10 mil reais, é possível que
durante dez meses (se o processo durar por esse tempo) o alimentante levante, a cada mês, mil reais e isso durante
o curso procedimental. Ou seja, o efeito suspensivo da impugnação não obsta que o alimentando levante as
parcelas necessárias aos seus alimentos no mês de vencimento.

Atenção! A investigação de paternidade é uma ação de conhecimento e, desse modo, se você já está em
cumprimento de sentença, tal investigação já passou a não ser que você tenha, na ação de investigação de
paternidade, uma decisão interlocutória sobre alimentos provisórios. Isso porque essa decisão interlocutória vai
poder ser cumprida perfeitamente enquanto a instrução é feita. Mas, se se trata de uma questão definitiva, a
investigação de paternidade já passou.

• Defesa do alimentante
No procedimento do artigo 518, como é que o alimentante vai se defender? Ele vai ter duas possibilidades de
se defender, sendo uma através de habeas corpus (que possui limitação cognitiva) e a outra por meio de agravo de
instrumento. A decisão do decreto prisional é interlocutória e perante todas as decisões interlocutórias cabe agravo
no cumprimento de sentença (artigo 1015). Ou seja, o alimentante vai poder se defender ou por agravo (que vai
para o Tribunal) ou por Habeas Corpus (na modalidade preventiva, não precisando ser apenas depois da prisão).

→ O Habeas Corpus tem que ser impetrado quando se tem prova pré-constituída e você quer, efetivamente,
prevenir uma prisão ou relaxar aquela prisão. A produção de prova, contudo, não é possível de ser feita em
sede de Habeas Corpus, de modo que a impossibilidade econômica, por exemplo, como representa
questão que demanda análise de provas, é insuscetível de exame em sede de remédio constitucional. Ou
seja, se se deseja análise de provas (isto é, instrução probatória), só há possibilidade pelo Agravo de
Instrumento de decisão interlocutória.

u Obs.: decretada a prisão, cabem tanto agravo de instrumento quanto HC.


u Jurisprudência: RHC 16.526/2015: "Pelo habeas corpus, a apreciação limita-se à legalidade da decretação
da prisão, não se mostrando via hábil para análise de questão fática, dependente de dilação probatória,
como a verificação sobre incapacidade financeira do alimentante e necessidade do exequente;”
u Conclusão: questões fáticas serão decididas em sede de agravo.

IMPORTANTE:
CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. HABEAS CORPUS. PRISÃO CIVIL POR ALIMENTOS. IMPOSIÇÃO ACIMA DO MÁXIMO
LEGAL. IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO DO DEVEDOR ACERCA DOS CÁLCULOS ATUALIZADOS
APRESENTADOS PELO CREDOR APÓS O PRIMEIRO PERÍODO PRISIONAL. NULIDADE. MAIORIDADE CIVIL, FORMAÇÃO
ACADÊMICA E REMUNERAÇÃO PRÓPRIA ATINGIDAS PELO CREDOR NO CURSO DA EXECUÇÃO DE ALIMENTOS.
RECALCITRÂNCIA DO GENITOR E AUMENTO SIGNIFICATIVO DA DÍVIDA. AUSÊNCIA DE ATUALIDADE DO DÉBITO E DE
URGÊNCIA NA PRESTAÇÃO DOS ALIMENTOS NA HIPÓTESE. INEFICÁCIA DA MEDIDA COATIVA NESSE CONTEXTO.
SUPOSTO EXCESSO DE EXECUÇÃO. QUESTÃO COMPLEXA E QUE DEVE SER DEBATIDA, EM CONTRADITÓRIO, NA
EXECUÇÃO.
I. O propósito do presente habeas corpus é definir se deve ser mantida a ordem de prisão civil do paciente em
razão das alegações de nulidade por ausência de intimação após o cumprimento do primeiro período prisional, de
que a nova prisão se referiria à mesma dívida em virtude da qual permaneceu inicialmente preso e de que a dívida
perdeu o caráter de atualidade e urgência em virtude de o credor, atualmente, ser maior, formado em curso
superior e com atividade profissional remunerada.

II. Mesmo na hipótese de decretos prisionais sucessivos, é inadmissível a fixação da prisão civil do devedor de
alimentos por período superior ao máximo legal de 90 (noventa) dias.

III. Apresentado novo valor da dívida atualizada pelo credor, é imprescindível que o devedor seja previamente
intimado, antes da decretação de nova prisão civil, a fim de que possa, por exemplo, pagar o débito, provar que
pagou, apresentar justificativa para não pagar ou impugnar o valor cobrado pelo credor.

IV. O fato de o credor, durante a execução, ter atingido a maioridade civil, cursado ensino superior e passado
a exercer atividade profissional remunerada, embora não desobrigue o devedor pela dívida pretérita contraída
exclusivamente em razão de sua renitência, torna desnecessária e ineficaz, na hipótese, a prisão civil como medida
coativa, seja em razão da ausência de atualidade e de urgência na prestação dos alimentos, seja porque essa
técnica será nitidamente insuficiente para compelir o devedor a satisfazer integralmente o vultoso débito.

V. É inviável examinar o suposto excesso de execução se a questão é complexa e exige discussão em


contraditório, que deverá ser realizado inicialmente perante o juízo da execução.

VI. Ordem concedida, confirmando-se a liminar anteriormente deferida.


A prisão civil tem uma teleologia. A teleologia é a urgência e a necessidade premente de recebimento dos
alimentos para a sua própria sobrevivência. Diante disso, se o filho é maior de idade, cursou o ensino superior e
está empregado, podem ser cobrados os alimentos, mas pelo rito (pelo procedimento) da expropriação –
procedimento do artigo 523 e seguintes. Não vai ser preso por alimentos um alimentante cujo alimentando já é
maior, já cursou o ensino superior e já tem trabalho, porque obviamente que, nesse caso, o trabalho dele já está o
fornecendo os alimentos. Isso não exime, contudo, o alimentante de prestar os alimentos pretérito, mas
claramente esta prestação dos alimentos pretéritos vai ser feita pelo procedimento da expropriação dos alimentos
do artigo 523 e seguintes e não pelo procedimento da prisão civil.

Nesse caso não pode haver prisão em relação aos alimentos que são devidos depois de o alimentante já estar
maior, com seu curso concluído e empregado. Mas em relação à parcela que já é devida pode haver a prisão?
Durante o curso processual, nessa decisão por último apresentada, o alimentante atingiu a maioridade, gradou-se e
conseguiu emprego. Sob essa perspectiva, têm-se que podem ser cobrados todos os alimentos pretéritos e, também,
os presentes, se não houve uma ação revisional dos alimentos a partir da capacidade laboral do próprio alimentando
(podem ser cobrados os alimentos presentes e pretéritos). Só que os alimentos presentes e pretéritos, nesse caso,
devem ser cobrados pelo procedimento de expropriação dos artigos 523 e seguintes e não pelo procedimento de
prisão – não faz sentido prender alguém em relação a um alimentando que já trabalha, uma vez que ele já tem
alimentos. Se o alimentando é maior, já cursou ensino superior e está trabalhando, não vai se aplicar a medida mais
violenta permitida pela Constituição para sanar os alimentos devidos.

➢ Execução por sub-rogação (expropriação)


A execução de alimentos pelo procedimento da expropriação também é possível (art. 528, §8º) e também
corresponde à cobrança das parcelas anteriores às três últimas.
Atenção: art. 3º, III, Lei no 8.009/90, excepciona a impenhorabilidade do bem de família para o devedor de
alimentos.

Jurisprudência: Resp 1.301.467/2016: "2. A Lei no 8.009/1990 prevê que a impenhorabilidade do


imóvel residencial próprio da entidade familiar compreende os móveis que guarnecem a casa, desde que
quitados, não valendo, entretanto, a proteção, quando se referir à execução movida por credor de pensão
alimentícia.”
u Obs.: a impugnação ao cumprimento de sentença, nessa modalidade executiva, mesmo com efeito suspensivo, não
impede o levantamento das quantias mensais devidas.

Optando o exequente pela execução por sub-rogação, o procedimento será de execução comum de pagar
quantia certa (seguindo pelo art. 523):

Art. 523. No caso de condenação em quantia certa, ou já fixada em liquidação, e no caso de


decisão sobre parcela incontroversa, o cumprimento definitivo da sentença far-se-á a requerimento do
exequente, sendo o executado intimado para pagar o débito, no prazo de 15 (quinze) dias, acrescido de
custas, se houver.

§ 1º Não ocorrendo pagamento voluntário no prazo do caput , o débito será acrescido de multa de
dez por cento e, também, de honorários de advogado de dez por cento.

§ 2º Efetuado o pagamento parcial no prazo previsto no caput , a multa e os honorários previstos


no § 1º incidirão sobre o restante.

§ 3º Não efetuado tempestivamente o pagamento voluntário, será expedido, desde logo, mandado
de penhora e avaliação, seguindo-se os atos de expropriação.

A especialidade fica por conta da possibilidade de desconto em folha de pagamento (arts. 529 NCPC) e na
possibilidade de levantamento mensal da importância da prestação, desde que tenha sido penhorado dinheiro, ainda
que pendentes de julgamento a impugnação.
528, § 8º O exequente pode optar por promover o cumprimento da sentença ou decisão desde logo, nos
termos do disposto neste Livro, Título II, Capítulo III, caso em que não será admissível a prisão do executado,
e, recaindo a penhora em dinheiro, a concessão de efeito suspensivo à impugnação não obsta a que o
exequente levante mensalmente a importância da prestação.

Segundo o art. 529, o desconto em folha de pagamento é possível quando o devedor for funcionário público,
militar, diretor, ou gerente de empresa, bem como empregado sujeito à legislação do trabalho, hipótese na qual o
exequente deverá requerer tal desconto da importância da prestação. Essa forma de expropriação, portanto,
depende do pedido do exequente, não podendo ser determinado de ofício pelo juiz.
Art. 529. Quando o executado for funcionário público, militar, diretor ou gerente de empresa ou empregado
sujeito à legislação do trabalho, o exequente poderá requerer o desconto em folha de pagamento da
importância da prestação alimentícia.

Aduz o art. 529, § 1°, do Novo CPC que o juiz, ao proferir a decisão admitindo o desconto em folha de
pagamento, oficiará à autoridade, à empresa ou ao empregador, determinando, sob pena de crime de
desobediência, o desconto a partir da primeira remuneração posterior do executado, a contar do protocolo do ofício.

§ 1º Ao proferir a decisão, o juiz oficiará à autoridade, à empresa ou ao empregador, determinando,


sob pena de crime de desobediência, o desconto a
partir da primeira remuneração posterior do Observação: o artigo 523 autoriza a aplicação
executado, a contar do protocolo do ofício. do artigo 529 que passa a ser, então, uma
medida típica a mais. Conforme visto, não existe
§ 2º O ofício conterá o nome e o número de apenas o artigo 528, podendo o alimentando
inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas do iniciar o procedimento pelo art. 523 e, assim,
exequente e do executado, a importância a ser
solicitar a expedição de ofício para desconto em
descontada mensalmente, o tempo de sua duração
e a conta na qual deve ser feito o depósito. folha (e isso, lógico, pelo procedimento de
expropriação).
→ Portanto, juiz vai oficiar, nesse caso, ao órgão ou ao
O desconto em folha é uma medida típica a
empregador diretamente. Tendo carteira assinada
mais, de modo que, então, o alimentando está
ou sendo servidor público (isto é, tendo sido
pelo procedimento de expropriação, mas ele vai
aprovado em um concurso público), seja militar ou
informar ao juízo que o alimentante é, por
civil, o juiz vai oficiar a esse órgão o desconto em
exemplo, servidor público e, com isso, vai
solicitar, também, o desconto em folha pelo art.
529 do CPC.
folha de pagamento e tal órgão, a partir do ofício recebido, já vai proceder a esse desconto do valor
correspondente à pensão. É, portanto, uma exceção à impenhorabilidade do salário, que já foi falada
anteriormente (art. 833, IV).

Art. 833. São impenhoráveis:


IV - os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações, os proventos de aposentadoria, as
pensões, os pecúlios e os montepios, bem como as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao
sustento do devedor e de sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal,
ressalvado o §2º.
 Portanto, há exceção à impenhorabilidade do salário no que diz respeito à execução especial de pagar
alimentos, permitindo o desconto em folha de pagamento.

OBS: Além disso, na lei nº8009/90, que trata do bem de família legal, uma das exceções à
impenhorabilidade do bem de família é pelo credor de pensão alimentícia. Ou seja, há quebra da
impenhorabilidade do bem de família pelo credor de alimentos, então obviamente é uma execução especial
por suas medidas típicas (art. 3º, III, da lei nº8009/90).

Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal, previdenciária,


trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido:
III – pelo credor da pensão alimentícia, resguardados os direitos, sobre o bem, do seu coproprietário
que, com o devedor, integre união estável ou conjugal, observadas as hipóteses em que ambos responderão
pela dívida.

Então nós temos diversas medidas típicas especiais e é por isso que temos que tratá-la como uma
execução especial.

Atenção! Juiz civil não condena ninguém a crime de desobediência, não podemos cometer esse erro. O que se
diz nesse §1º do art. 529 é que se o empregador, depois do ofício do juízo civil, não cumprir o desconto em folha, o
juízo cível vai oficiar tal desobediência ao MP, visto que, como dito, não é de competência desse juízo a condenação
de algum empregador ao crime previsto no art. 330 do CP. Sendo o MP o titular da ação penal, é necessário que o
juízo cível apenas dê a ciência ao MP do descumprimento, por parte do empregador, do desconto em folha e, assim,
é o próprio Ministério Público que vai denunciar esse empregador, baseado no mencionado dispositivo normativo do
Código Penal.

Código Penal, art. 330: desobedecer a ordem legal de funcionário público:


Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa.

OBS: apesar da omissão legal, sempre que o profissional liberal for comprovadamente remunerado pelo seu trabalho
de forma estável e periódica, é admissível oficiar ao pagador para que ele realize o devido desconto em tais
pagamentos.

No § 3º do art. 529 do Novo CPC, em regra também aplicável ao processo de execução, consagra-se recente
entendimento jurisprudencial no sentido de que o desconto em folha de pagamento pode servir ao pagamento de
parcelas vencidas e vincendas (cumulação de prestações). O dispositivo prevê, nesse caso, a soma de desconto para
pagamento de parcelas vencidas e vincendas não pode superar 50% dos ganhos líquidos do devedor.
§ 3º Sem prejuízo do pagamento dos alimentos vincendos, o débito objeto de execução pode ser
descontado dos rendimentos ou rendas do executado, de forma parcelada, nos termos do caput deste
artigo, contanto que, somado à parcela devida, não ultrapasse cinquenta por cento de seus ganhos
líquidos.

→ Vamos supor que o alimentante ganha 10 mil reais e é servidor público. Está sendo cobrada, pelo art.
523 do CPC, uma dívida de 100 mil reais (são dívidas pretéritas e atuais e o próprio alimentando não
quis a aplicação do procedimento do art. 528 do CPC). O advogado do alimentando obviamente pediu o
ofício, ao juiz, ao órgão empregador desse servidor que, a partir de então, pode descontar. Considera-
se, para efeitos desse caso, que a parcela mensal devida pelo alimentante é de 2 mil reais. A partir disso,
pergunta-se: é possível descontar os 100 mil reais pretéritos em desconto em folha ou apenas as
parcelas futuras poderão ser descontadas (aquelas que ainda vão vencer)? Pode ser descontado o valor
de 100 mil reais, mas existe uma regra que consiste na impossibilidade de deixar o servidor desprovido
de mais de 50% do seu salário. Nesse caso, então, esse servidor público tem que receber, no mínimo, 5
mil reais. Dentro dessa possibilidade, então, o alimentando vai levantar 2 mil reais por meio do
desconto em folha, a cada mês, a título de parcela atual e, ainda, 3 mil reais que serão abatidos,
mensalmente, dos 100 mil devidos.
→ Então é necessário que seja deixado 50% do salário para a pessoa devedora. Dentro da outra metade
salarial, portanto, é possível levantar parcelas vincendas e vencidas sem problema nenhum.

OBSERVAÇÃO:
CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO DE ALIMENTOS. DESCONTO EM FOLHA DE PAGAMENTO APÓS PENHORA
DE BENS DO DEVEDOR. POSSIBILIDADE. OBRIGAÇÃO DE PAGAR QUANTIA CERTA. SUPERAÇÃO DO PRINCÍPIO DA
TIPICIDADE DOS MEIOS EXECUTIVOS EXISTENTE NO CPC/73. SATISFATIVIDADE DO DIREITO RECONHECIDO
JUDICIALMENTE. NORMA FUNDAMENTAL. CRIAÇÃO DE UM PODER GERAL DE EFETIVAÇÃO DA TUTELA EXECUTIVA
QUE ROMPE O DOGMA DA TIPICIDADE. CRIAÇÃO E ADOÇÃO DE MEDIDAS ATÍPICAS APENAS EXISTENTES EM
OUTRAS MODALIDADES EXECUTVAS E COMBINAÇÃO DE MEDIDAS EXECUTIVAS. POSSIBILIDADE. PONDERAÇÃO
ENTRE A MÁXIMA EFETIVIDADE DA EXECUÇÃO E MENOR ONEROSIDADE DO DEVEDOR. CRITÉRIOS. HIPÓTESE
CONCRETA. DÉBITO ALIMENTAR ANTIGO E DE GRANDE VALOR. DESCONTO EM FOLHA PARCELADO E EXPROPRIAÇÃO
DE BENS PENHORADOS. POSSIBILIDADE.
1- Ação proposta em 21/03/2005. Recurso especial interposto em 29/05/2017 e atribuído à Relatora em
14/03/2018.

2- O propósito recursal consiste em definir se é admissível o uso da técnica executiva de desconto em folha da
dívida de natureza alimentar quando há anterior penhora de bens do devedor.

3- Diferentemente do CPC/73, em que vigorava o princípio da tipicidade dos meios executivos para a satisfação
das obrigações de pagar quantia certa, o CPC/15, ao estabelecer que a satisfação do direito é uma norma
fundamental do processo civil e permitir que o juiz adote todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou
sub-rogatórias para assegurar o cumprimento da ordem judicial, conferiu ao magistrado um poder geral de
efetivação de amplo espectro e que rompe com o dogma da tipicidade.

4- Respeitada a necessidade fundamentação adequada e que justifique a técnica adotada a partir de critérios
objetivos de ponderação, razoabilidade e proporcionalidade, conformando os princípios da máxima efetividade da
execução e da menor onerosidade do devedor, permite-se, a partir do CPC/15, a adoção de técnicas de executivas
apenas existentes em outras modalidades de execução, a criação de técnicas executivas mais apropriadas para
cada situação concreta e a combinação de técnicas típicas e atípicas, sempre com o objetivo de conferir ao credor
o bem da vida que a decisão judicial lhe atribuiu.
5- Na hipótese, pretende-se o adimplemento de obrigação de natureza alimentar devida pelo genitor há mais
de 24 (vinte e quatro) anos, com valor nominal superior a um milhão e trezentos mil reais e que já foi objeto de
sucessivas impugnações do devedor, sendo admissível o deferimento do desconto em folha de pagamento do
débito, parceladamente e observado o limite de 10% sobre os subsídios líquidos do devedor, observando-se
que, se adotada apenas essa modalidade executiva, a dívida somente seria inteiramente quitada em 60
(sessenta) anos, motivo pelo qual se deve admitir a combinação da referida técnica sub-rogatória com a
possibilidade de expropriação dos bens penhorados.

→ Você pode, portanto, mesmo que você tenha sido bem-sucedido em uma técnica executiva, aplicar outra
técnica. No caso acima, já está sendo aplicado o desconto em folha (isto é, já está sendo descontado direto
desse pai, mas para ele pagar o valor total que deve, calcularam que com tal medida demorariam sessenta
anos. A partir disso, então, fica permitida a aplicação de outra técnica, como a penhora de um bem ou o
leilão de um carro. Fato é, portanto, que podem ser combinadas técnicas executivas, mesmo que uma
tenha sido bem-sucedida.

• Alimentos avoengos
Sabemos que, obviamente, os ascendentes de 2º grau em linha reta também possuem obrigação de pagar
alimentos para os descendentes de 2º - avô e avó são parentes de 2º grau em linha reta. Nesse viés, a súmula nº 596
do STJ fala o seguinte:

Súmula nº 596 do STJ: a obrigação alimentar dos avós tem natureza complementar e subsidiária, somente se
configurando no caso de impossibilidade total ou parcial de seu cumprimento pelos pais.

→ Então não se pode utilizar o mesmo rigor utilizado para cobrar de pai e mãe, para cobrar de um avô
ou avó. É preciso saber que avós só podem ser chamados na cadeia ou ordem genealógica para serem
responsabilizados por esses alimentos de forma subsidiária e complementar. Primeiro esses alimentos
são cobrados dos pais, obviamente, e apenas no caso de impossibilidade dos pais é que os avós serão
chamados para complementar ou se responsabilizar, no todo, por essa obrigação.

Juridicamente, nesse caso se estará tratando com dois hipossuficientes na relação (e isso é inquestionável). Ou
seja, no âmbito jurídico de um lado se tem um menor – hipossuficiente – e do outro lado se tem um idoso – que
também é hipossuficiente. Então por mais que a criança esteja precisando de alimentos (e obviamente ela está
precisando de alimentos), é preciso que do outro lado há a incidência do Estatuto do Idoso que, queiramos ou não,
que torna esses avós também hipossuficientes e, portanto, merecedores de tratamento especial. Desse modo,
quando você (atuando como juiz ou juíza) está lidando com idosos (que, em muitas das vezes, têm doenças,
comorbidades e problemas de saúde), mesmo que o credor queira a incidência do artigo 528, não vai colocar avô
prima facie na prisão, sob pena de se descumprir dispositivo expresso de lei, que é o Estatuto do Idoso. Devem ser
pensadas, portanto, medidas alternativas, uma vez que elas existem e podem ser exemplificadas com a tornozeleira
eletrônica, prisão domiciliar. Esse juiz, então, não encarcera pessoas que possui mais de setenta anos de idade. É
claro que, nesse caso, o menor precisa dos alimentos, mas o idoso também é protegido.

Atenção! Não quer dizer que os avós não podem sofrer prisão, isto é, eles podem sofrer a prisão sim, a questão
é que quem tem responsabilidade complementar e subsidiária não pode ser tratado da mesma forma que é tratado
quem tem responsabilidade direta. Se for dado esse tratamento igualitário, o juízo estará agindo de forma
tecnicamente equivocada. Aqui não se pode tratar, com o mesmo peso, duas medidas. É claro, portanto, que a
prisão se aplica, mas há a necessidade de análise do caso, de modo que se o idoso tiver comorbidade, por exemplo,
ele não será colocado na prisão.

Para Lorena, inclusive, o TJ mais desenvolvido do Brasil é o do Rio Grande do Sul e esse Tribunal de Justiça já
firmou jurisprudência pacífica de que, para alimentos avoengos, faz-se uso da tornozeleira eletrônica, não colocando
esses avós na prisão. Até porque, é uma medida coercitiva da mesma forma, visto que uma pessoa ficar com
tornozeleira eletrônica não é nada agradável.
CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. HABEAS CORPUS. PRISÃO CIVIL POR ALIMENTOS. OBRIGAÇÃO ALIMENTAR
AVOENGA. CARÁTER COMPLEMENTAR E SUBSIDIÁRIO DA PRESTAÇÃO. EXISTÊNCIA DE MEIOS EXECUTIVOS E
TÉCNICAS COERCITIVAS MAIS ADEQUADAS. INDICAÇÃO DE BEM IMÓVEL À PENHORA. OBSERVÂNCIA AOS
PRINCÍPIOS DA MENOR ONEROSIDADE E DA MÁXIMA UTILIDADE DA EXECUÇÃO. DESNECESSIDADE DA MEDIDA
COATIVA EXTREMA NA HIPÓTESE.
1- O propósito do habeas corpus é definir se deve ser mantida a ordem de prisão civil dos avós, em virtude de
dívida de natureza alimentar por eles contraída e que diz respeito às obrigações de custeio de mensalidades
escolares e cursos extracurriculares dos netos.

2- A prestação de alimentos pelos avós possui natureza complementar e subsidiária, devendo ser fixada, em
regra, apenas quando os genitores estiverem impossibilitados de prestá-los de forma suficiente. Precedentes.

3- O fato de os avós assumirem espontaneamente o custeio da educação dos menores não significa que a
execução na hipótese de inadimplemento deverá, obrigatoriamente, seguir o mesmo rito e as mesmas técnicas
coercitivas que seriam observadas para a cobrança de dívida alimentar devida pelos pais, que são os responsáveis
originários pelos alimentos necessários aos menores.

4- Havendo meios executivos mais adequados e igualmente eficazes para a satisfação da dívida alimentar dos
avós, é admissível a conversão da execução para o rito da penhora e da expropriação, que, a um só tempo, respeita
os princípios da menor onerosidade e da máxima utilidade da execução, sobretudo diante dos riscos causados pelo
encarceramento de pessoas idosas que, além disso, previamente indicaram bem imóvel à penhora para a satisfação
da dívida.

5- Ordem concedida, confirmando-se a liminar anteriormente deferida.


Para os alimentos avoengos, portanto, deve-se ter medidas mais adequadas. Assim, considerando a
jurisprudência acima, entre prender na cela e prender em casa, melhor a segunda opção, mas existem, para essa
situação, medidas ainda mais adequadas que essa prisão domiciliar (como o uso de tornozeleira eletrônica).

➢ Abandono material e práticas procrastinatórias alimentante


Qual a preocupação do CPC em relação à conduta procrastinatória do alimentante?

Art. 532. Verificada a conduta procrastinatória do executado, o juiz deverá, se for o caso, dar ciência ao
Ministério Público dos indícios da prática do crime de abandono material.
Ou seja, o juízo cível também vai cientificar o Ministério Público a respeito do crime de abandono material.
Assim o juízo cível vai notificar o Ministério Público não só a possibilidade de desobediência como no caso do
empregador, mas também na hipótese de abandono material do menor.

➢ Alimentos indenizatórios e constituição de capital


É uma medida sub-rogatória restrita aos alimentos indenizativos, ou alimentos impróprios (aqueles que
decorrem de responsabilidade aquiliana). É a imobilização de parcela do patrimônio do devedor e desse patrimônio
imobilizado os rendimentos serão utilizados para pagamento dos alimentos, (Súmula 313, STJ)

Jurisprudência: REsp 1.281.742/2014: "1. O termo inicial para o pensionamento vitalício, em caso de
responsabilidade civil decorrente de ato ilícito, é a data do fato ensejador da reparação, qual seja, o
evento danoso. 2. No cálculo da pensão vitalícia deve-se tomar por base os valores dos salários-
mínimos correspondentes a cada período transcorrido desde o acidente. 3. É cabível a cominação de
multa diária (astreintes) como meio coercitivo para o cumprimento de obrigação de fazer
consistente na constituição de capital garantidor ou caução fidejussória. 4. Embargos de declaração
acolhidos.”
u Obs.: art. 950 do CC: permissão que o credor requeira o recebimento dessa indenização em
parcela única (uma parte da juris entende que é direito potestativo, e outra que não é direito
absoluto).

Obs.: A parcela leva em conta a perspectiva de vida e os valores recebíveis mensalmente.

Art. 533. Quando a indenização por ato ilícito incluir prestação de alimentos, caberá ao executado, a
requerimento do exequente, constituir capital cuja renda assegure o pagamento do valor mensal da pensão.

§1º O capital a que se refere o caput, representado por imóveis ou por direitos reais sobre imóveis suscetíveis
de alienação, títulos da dívida pública ou aplicações financeiras em banco oficial, será inalienável e impenhorável
enquanto durar a obrigação do executado, além de constituir-se em patrimônio de afetação.

§2º O juiz poderá substituir a constituição do capital pela inclusão do exequente em folha de pagamento de
pessoa jurídica de notória capacidade econômica ou, a requerimento do executado, por fiança bancária ou garantia
real, em valor a ser arbitrado de imediato pelo juiz.
Obs.: o CPC per mite a substituição da constituição de capital pela inclusão do nome do devedor na folha de
pagamento da empresa. (Inf. 545/STJ): "Para garantir o pagamento de pensão mensal vitalícia decorrente de
acidente de trabalho, admite-se a inclusão do nome do trabalhador acidentado na folha de pagamento de devedora
idônea e detentora de considerável fortuna, dispensando-se a constituição de capital”. (art. 533, §2º, CPC/2015).

§3º Se sobrevier modificação nas condições econômicas, poderá a parte requerer, conforme as circunstâncias,
redução ou aumento da prestação.
§4º A prestação alimentícia poderá ser fixada tomando por base o salário-mínimo.

§5º Finda a obrigação de prestar alimentos, o juiz mandará liberar o capital, cessar o desconto em folha ou
cancelar as garantias prestadas.

Nesse art. 533 já se fala de outra qualidade de alimentos. Então somente até o artigo 532 faz-se referência aos
alimentos legítimos.

Devemos nos atentar, assim, ao que foi dito no sentido de que a prisão civil não é cabível para alimentos
indenizatórios e nem para alimentos contratuais, mas apenas para os alimentos legítimos. Só que no artigo 533
constam medidas típicas para alimentos indenizativos. O procedimento, em si, é o de expropriação, regulado pelo
artigo 523 do CPC, mas há possibilidade de solicitação de medida típica do artigo 533 quando se tem alimentos
indenizatórios ou indenizativos.

A nossa concessionária de energia é a CEMIG. Então vamos supor que a CEMIG vai fazer uma manutenção de
cabos elétricos em determinada rua e, durante a realização dessa manutenção, acontece um acidente com uma
pessoa que está passando por aquela rua e que é atingida por um cabo de alta tensão, o que ocasiona sua morte.
Acontece que essa pessoa é pai de uma criança de dois anos de idade que, então, vai ter direito a alimentos
indenizativos decorrentes de ato ilícito praticado pela concessionária.
Fato é que essa ação indenizatória deverá ser cumulada com alimentos em virtude da existência de um menor
que deve, obviamente, usufruir dos alimentos até a sua independência (e não até a sua maioridade, uma vez que nós
sabemos que os alimentos se prolongam). Mas como fazer para garantir os alimentos desse menor que, no exemplo
em questão, tinha apenas dois anos de idade quando o pai morreu? É possível que o advogado solicite o que os
processualistas chamam de constituição de capital. A constituição de capital ocorre justamente quando é feita a
constrição de algum bem da empresa (nesse caso trata-se de uma empresa, visto que quem deve os alimentos é a
CEMIG) que gera frutos e esses frutos serão destinados ao menor durante todo o período de prestação alimentar
estipulado em sentença.
A CEMIG tem um bem como por exemplo um imóvel no centro de Belo Horizonte e, então, o juiz constitui esse
bem imóvel como capital que vai responder pela pensão e os aluguéis desse bem imóvel não podem ir para a CEMIG,
já que vão ficar destinados para o pagamento da pensão do menor pelo tempo que estiver na sentença. O bem
imóvel constituído vai ficar impossibilitado de ser mexido pela CEMIG e, gerando renda, essa renda vai para o
pagamento da pensão estabelecida em sentença.
A jurisprudência entende, de forma pacífica, que quem tem o dever premente de pagar alimentos são os pais
aos seus filhos pelos vínculos de parentesco. Ou seja, os pais têm o dever de prover aos filhos a sua subsistência
(responsabilidade direta advinda do vínculo de parentesco). Como no caso dos alimentos indenizatórios não há
parentesco – a CEMIG não figura como o pai dessa criança – há a existência de outras medidas que garantem o
pagamento desses alimentos, que é o caso da constituição do capital.

§1º O capital a que se refere o caput, representado por imóveis ou por direitos reais sobre imóveis suscetíveis
de alienação, títulos da dívida pública ou aplicações financeiras em banco oficial, será inalienável e impenhorável
enquanto durar a obrigação do executado, além de constituir-se em patrimônio de afetação.

§2º O juiz poderá substituir a constituição do capital pela inclusão do exequente em folha de pagamento de
pessoa jurídica de notória capacidade econômica ou, a requerimento do executado, por fiança bancária ou garantia
real, em valor a ser arbitrado de imediato pelo juiz.
Outra medida que o executado pode solicitar (e, de novo, é a requerimento do executado que, nesse caso, é a
empresa) é, por exemplo, a substituição da constituição de capital por fiança bancária. O executado fala que não
quer que seja feita a constrição de nenhum bem dele e, em troca, vai ao banco e faz um contrato com o banco,
colocando a instituição bancária como fiador daquela empresa. A fiança bancária é um dos contratos mais seguros, é
quando o Banco fia uma empresa e ele faz isso para a CEMIG, por exemplo, por tem a consciência de que a referida
empresa tem capacidade econômica. Assim, no caso de a CEMIG Dúvidas
não cumprir com os três mil reais mensais, quem vai pagar é o
banco. Se houver uma decisão interlocutória em
curso, que estabeleça alimentos, quando
Então o executado pode solicitar sim a substituição da há investigação de paternidade e, ao final,
constituição de capital, pela própria disposição do §2º do art. 533, a ação de investigação de paternidade for
por outras medidas menos gravosas, como a inclusão na folha de indeferida, esses alimentos estipulados na
pagamento e fiança bancária. decisão interlocutória seriam irrepetíveis?
Atenção! É importante que, quando estivermos falando de Seriam sim irrepetíveis. Então mesmo que
constituição de capital, a gente lembre do que diz o artigo 950 do aquele não seja o pai, os alimentos já pagos
CC. durante o curso processual são irrepetíveis.

Art. 950. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido


não possa exercer o seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a indenização, além das
despesas do tratamento e lucros cessantes até ao fim da convalescença, incluirá pensão correspondente à
importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu.
Parágrafo único. O prejudicado, se preferir, poderá exigir que a indenização seja arbitrada e paga de uma só vez.

No próprio artigo 950 do CC temos que a indenização, que é necessário estipular uma indenização, incluirá
pensão correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu. Além
disso o CC também nos fala, no parágrafo único do mencionado artigo, que quando você é vítima de um ato ilícito
para aquele agente que perpetrou o ato ilícito, se houver o pagamento de pensão terá que pagar aquela pensão,
obviamente, mas essa pensão arbitrada poderá ser paga de uma só vez. O prejudicado, se preferir, poderá exigir que
a indenização seja arbitrada e paga de uma só vez – como por exemplo a criança e a mãe da criança (que, no caso,
seria a guardiã) poderiam dizer que não gostariam de constituição de capital e nem que a CEMIG coloque a criança
na folha de pagamento, mas sim desejam receber tudo de uma
só vez. Desse modo, se a pensão seria paga até a criança Importante: a partir do momento que se tem a
completar, suponhamos 25 anos, tendo ela dois anos, ao acatar certificação dos alimentos em decisão judicial,
a possibilidade do parágrafo único do artigo 950, a mãe opta obviamente que essa decisão é continuativa e,
por receber os dois mil reais relativos à pensão durante todo o em sentença, você vai ter a decisão dos
tempo dito de uma só vez. O CC diz que isso é um direito do alimentos que vão se protrair no tempo até
prejudicado. que a independência do alimentando seja
adquirida e aí, geralmente, o fim da
Súmula nº 313 do STJ: em ação de indenização, necessidade de pensão vai se dar por meio de
procedente o pedido, é necessária a constituição de capital ou uma ação de exoneração a ser proposta pelo
caução fidejussória para a garantia de pagamento da pensão, pai (enquanto ele não propõe tal ação, ele
independente da situação financeira do demandado. deve alimentos).
Apesar da súmula acima, não podemos esquecer que na lei
fala que o prejudicado pode receber toda a pensão indenizatória de uma só vez. Se o devedor não tiver solvência,
contudo, o juízo vai falar ao prejudicado que o alimentante não tem solvência para esse pagamento de uma só vez e,
assim, vai ter que ser constituído capital. Desse modo, deve haver a possibilidade, o que quer dizer que, tendo o
alimentante solvência é um direito do prejudicado receber de uma só vez.

Enunciado nº 48 CJF: o parágrafo único do art. 950 do novo Código Civil institui direito potestativo do lesado
para exigir pagamento da indenização de uma só vez, mediante arbitramento do valor pelo juiz, atendidos os arts.
944 e 945 e a possibilidade econômica do ofensor.

Ou seja, o Enunciado nº 48 fala, claramente, que se trata de um direito potestativo do prejudicado. A


jurisprudência, contudo, pode falar o contrário.
RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE DE TRÂNSITO. DANOS MATERIAIS, MORAIS E
ESTÉTICOS. PENSIONAMENTO MENSAL. INDENIZAÇÃO. MAJORAÇÃO. SÚMULA Nº 7/STJ. DISSÍDIO NÃO
CONFIGURADO. ARTIGO 950, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CÓDIGO CIVIL. PAGAMENTO EM ÚNICA PARCELA.
MANUTENÇÃO DO ACÓRDÃO. SÚMULA Nº 7/STJ.

1. Cuida-se, na origem, de ação indenizatória em virtude de acidente de trânsito causador de sequelas graves à
vítima que resultaram em perda da capacidade laboral (agente de segurança) e sensorial (visão e olfato).
2. Tendo em vista que, no caso específico, o valor da indenização fixada a título de danos morais e estéticos
não se apresenta flagrantemente irrisório (R$ 30.000,00 - trinta mil reais), não há como se afastar o óbice na Súmula
nº 7/STJ quanto à pretensão de majorá-lo. Precedentes do STJ.

3. A teor do artigo 950, parágrafo único, do Código Civil, nos casos de redução da capacidade laboral ou
incapacitação total da vítima, esta poderá optar pelo pagamento da indenização de uma só vez, no lugar do
pensionamento mensal.

4. O pagamento de indenização em parcela única não se configura em um direito absoluto da vítima, mas,
caso requerido, deve ser apreciado pelo julgador, que ponderará as circunstâncias do caso, em especial, a
capacidade econômica do ofensor.

5. Inviável modificar o acórdão que, à luz do acervo probatório, rejeitou o pleito de pagamento indenizatório
em parcela única, mantendo o pensionamento mensal. Incidência da Súmula nº 7/STJ.
6. Recurso especial não provido.
Então, apesar de o Código Civil falar que se a vítima quiser é um direito dela receber parcela única, o STJ
entendeu que esse direito não é absoluto. Em primeiro lugar, deve ser analisada a solvência do devedor e, em
segundo lugar, considerando a máxima de que “dinheiro na mão é vendaval”, o STJ vai dizer que acha ser muito
temerário uma pessoa receber, de uma só vez, a pensão relativa a vários anos da vida do menor. O juiz deve ficar de
olho, desse modo, se é viável deferir esse pedido de receber a pensão em parcela única, mesmo que tenha solvência
o devedor, de acordo com o STJ, talvez seja mais cauteloso que o juiz não defira esse direito do parágrafo único do
artigo 950. Negando esse pedido, o juiz vai estabelecer uma pensão mensal porque tratando-se de menor a questão
vai além do genitor e tanto é assim que conta com a intervenção do Ministério Público. Ou seja, o juiz tem que
realizar um trabalho mais sindicabilizado.

Atenção! A indenização em si não pode ser confundida com os alimentos indenizatórios. Os danos emergentes
vão ser pagos – o que se tem de danos em relação à morte da pessoa é uma outra indenização que vai ter que ser
paga também, mas dentro dessa ação também é requerido o pagamento de alimentos à criança. Esses alimentos se
incluem dentro dos lucros cessantes, mas os lucros cessantes, contudo, não se limitam aos alimentos, uma vez que
são maiores, em regra, que os alimentos (os alimentos apenas fazem parte do lucro cessante que vão além disso).
Portanto, a discussão da indenização é outra e envolve, no caso, danos materiais, danos morais. Dentro dos lucros
cessantes – que fazem parte da indenização por danos materiais – vai-se incluir a pensão e a constituição de capital
para ela, só que, geralmente, o que a pessoa deixou de ganhar é muito maior que apenas os alimentos. Não é apenas
a pensão, mas sim a pensão e todos os outros danos que foram causados.

Essa constituição de capital, no caso da CEMIG, por exemplo, não acarreta na inviabilidade da atividade
empresarial? A gente consegue ver que essa constituição de capital é uma medida violenta para a empresa, porque
ela vai imobilizar um valor ou um bem que a empresa não vai, a partir de então, poder mexer mais. Obviamente que,
então, é possível que o executado (deve-se ter o requerimento do executado, da empresa) solicite a substituição da
constituição de capital por outra medida, como por exemplo a inclusão em folha de pagamento do menor – é como
se o menor fosse funcionário da CEMIG e, assim, ele vai ser incluído na folha de pagamento da empresa para
receber, por exemplo, três mil reais. Então a empresa solicita a inclusão do menor na sua folha de pagamento, como
se seu funcionário fosse, em substituição à constituição de capital.
➢ Espólio e alimentos
Não cabe a prisão do inventariante do espólio: Inf. 531/STJ: “Não cabe prisão civil do inventariante em razão do
descumprimento do dever do espólio de prestar alimentos. Isso porque a restrição da liberdade constitui sanção de
natureza personalíssima que não pode recair sobre terceiro, estranho ao dever de alimentar. De fato, a prisão
administrativa atinge apenas o devedor de alimentos, segundo o art. 733, § 1°, do CPC/2015, e não terceiros. Dessa
forma, sendo o inventariante um terceiro na relação entre exequente e executado – ao espólio é que foi
transmitida a obrigação de prestar alimentos (haja vista o seu caráter personalíssimo) –, configura constrangimento
ilegal a coação, sob pena de prisão, a adimplir obrigação do referido espólio, quando este não dispõe de
rendimento suficiente para tal fim. Efetivamente, o inventariante nada mais é do que, substancialmente, auxiliar do
juízo (art. 139 do CC/2002), não podendo ser civilmente preso pelo descumprimento de seus deveres, mas sim
destituído por um dos motivos do art. 995 do CC/ 2002.”

Execução por título extrajudicial de pagar alimentos


 art. 911 a 913 do CPC/2015. (art. 13 do Estatuto do Idoso). u Especificidades: petição inicial – citação –
três dias para pagar, justificar, ou provar que pagou. u Obs.: a defesa são os embargos à execução.

Nós só temos três artigos na execução de alimentos e, como já dissemos anteriormente, as disposições são
intercambiáveis. A diferença substancial reside no fato de que a defesa, nessa execução autônoma de obrigações
alimentares, são os embargos.
Art. 911. Na execução fundada em título executivo extrajudicial que contenha obrigação alimentar, o juiz
mandará citar o executado para, em 3 (três) dias, efetuar o pagamento das parcelas anteriores ao início da execução
e das que se vencerem no seu curso, provar que o fez ou justificar a impossibilidade de fazê-lo.

Parágrafo único. Aplicam-se, no que couber, os §§2º a 7º do art. 528.

O que pode ser um título executivo extrajudicial que contenha obrigação de pagar alimentos? Acordo,
contrato pré-nupcial, etc.

Qual que é a diferença desse procedimento do artigo 911 do CPC para o procedimento do artigo 528 do
referido Código? No artigo 528 o juiz mandará intimar o executado, enquanto, por ser um processo autônomo, por
meio do procedimento do artigo 911 o juiz mandará citar o executado. O restante vai ser igual ao artigo 528 e tanto
é assim que todos os dispositivos do artigo 528 aqui se aplicam.

Art. 912. Quando o executado for funcionário público, militar, diretor ou gerente de empresa, bem como
empregado sujeito à legislação do trabalho, o exequente poderá requerer o desconto em folha de pagamento de
pessoal da importância da prestação alimentícia.
§1º Ao despachar a inicial, o juiz oficiará à autoridade, à empresa ou ao empregador, determinando, sob pena
de crime de desobediência, o desconto a partir da primeira remuneração posterior do executado, a contar do
protocolo do ofício.

§2º O ofício conterá os nomes e o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas do exequente e do
executado, a importância a ser descontada mensalmente, a conta na qual deve ser feito o depósito e, se for o caso, o
tempo de sua duração.

É a mesma coisa do artigo 529 do CPC!


Art. 913. Não requerida a execução nos termos deste Capítulo, observar-se-á o disposto no art. 824 e seguintes,
com a ressalva de que, recaindo a penhora em dinheiro, a concessão de efeito suspensivo aos embargos à execução
não obsta a que o exequente levante mensalmente a importância da prestação.

Ou seja, se você não requerer, no cumprimento de sentença, a execução pelo artigo 528 do CPC, você vai
requerer pelo artigo 523 (expropriação). Ao passo que, se você não requerer pelo procedimento do artigo 911, no
processo executivo autônomo, você vai requerer pela obrigação de pagar comum de título executivo extrajudicial
(sem prisão).

Desse modo, se nós temos o processo executivo autônomo, ao invés de requerimento se tem petição inicial (o
requerimento é referente ao artigo 528, enquanto a petição inicial é do artigo 911) e ao invés de intimação, no caso
da execução autônoma há a citação. O prazo para pagar, contudo, é idêntico, sendo de três dias, do mesmo modo
que as possibilidades de atuação nesses três dias, visto que, em ambos os procedimentos, dentro desse prazo o
executado terá que pagar, provar que pagou ou justificar a impossibilidade. Obviamente que se ocorrer o pagamento
ou o executado provar que pagou, é extinta a execução, enquanto que sendo justificada a impossibilidade, essa
justificação pode ser aceita (deferida) e, assim, não há a decretação da prisão, continuando a execução pela
obrigação de pagar, mas se há o indeferimento da justificativa, obviamente procederá a decretação da prisão.

Então não tem praticamente diferença nenhuma, uma vez que, conforme mencionado anteriormente, os
dispositivos são todos intercambiáveis, bastando trocar a o requerimento pela petição inicial e a intimação pela
citação. E a defesa, quando for para processo executivo autônomo de pagar, a defesa vai se dar por meio dos
embargos. No caso de a execução seguir o artigo 523, contudo, a defesa é a impugnação. Observa-se, nesse
contexto, que os embargos são uma ação e, assim, sendo os embargos uma ação, a defesa não tem limitação
cognitiva, é uma ação de conhecimento incidental.
PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO, CONTRADIÇÃO OU
OBSCURIDADE. NÃO OCORRÊNCIA. VIOLAÇÃO DE DISPOSITIVO CONSTITUCIONAL E DE SÚMULA. DESCABIMENTO.
PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. SÚMULA 211/STJ. REEXAME DE FATOS E PROVAS. INADMISSIBILIDADE. DANOS
MORAIS. JUROS DE MORA. PENSÃO MENSAL. TERMO INICIAL. CONSTITUIÇÃO DE CAPITAL. NECESSÁRIA.
POSSIBILIDADE DE INCLUSÃO EM FOLHA DE PAGAMENTO. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. COTEJO ANALÍTICO E
SIMILITUDE FÁTICA. AUSÊNCIA. ARTIGOS ANALISADOS: ARTS. 398 DO CÓDIGO CIVIL, ARTS. 20, §5º E 475-Q DO CPC.

1. Ação de reparação por danos materiais e compensação por danos morais, ajuizada em 13.07.2000. Recurso
especial concluso ao Gabinete em 10.11.2011.
2. Discussão relativa à constituição de capital para pagamento de pensão mensal vitalícia decorrente de
acidente de trabalho.

3. A interposição de recurso especial não é cabível quando ocorre violação de súmula, de dispositivo
constitucional ou de qualquer ato normativo que não se enquadre no conceito de lei federal, conforme disposto no
art. 105, III, "a" da CF/88.

4. A ausência de decisão sobre os dispositivos legais supostamente violados, não obstante a interposição de
embargos de declaração, impede o conhecimento do recurso especial. Incidência da Súmula 211/STJ.

5. Inexiste ofensa ao art. 535 do CPC, quando o tribunal de origem pronuncia-se de forma clara e precisa sobre a
questão posta nos autos.

6. O reexame de fatos e provas em recurso especial é inadmissível.


7. Nas hipóteses de indenização decorrente de acidente de trabalho, os juros de mora incidem a partir da data
do evento danoso.

8. A pensão mensal em decorrência de acidente de trabalho é devida a partir da data do evento danoso.
9. É necessária a constituição de capital ou caução fidejussória para a garantia de pagamento da pensão,
independentemente da situação financeira do demandado.

10. A inclusão do beneficiário na folha de pagamentos trata-se de uma alternativa de garantia viável à
constituição de capital, desde que, a critério do juiz, fique demonstrada a solvabilidade da empresa devedora.
11. Na hipótese, considerando que o Tribunal de origem deixou claro que a recorrida é empresa "idônea e
detentora de considerável fortuna", mostra-se razoável a substituição da constituição de capital pela inclusão do
recorrente na folha de pagamentos da recorrida. Aplicação do direito à espécie.

12. No que diz respeito às ações relativas a acidente do trabalho, os honorários de advogado, se procedente a
demanda, são calculados à base do montante das prestações vencidas, mais um ano das vincendas. Contudo, na
hipótese, a aplicação desse entendimento implicará reformatio in pejus, razão pela qual fica mantido o acórdão.
13. Recurso especial parcialmente provido.

Atenção! Quando você, como juiz, for deferir a inclusão de beneficiário em folha de pagamento, deve-se ter em
vista a empresa, porque isso não pode ser aceito para qualquer empresa não. Vamos supor uma empresa de TI – se
deferiria a inclusão dessa criança de dois anos, do exemplo anteriormente dado, na folha de pagamento? Lorena
disse que ela não deferiria de jeito nenhum, visto se tratar de uma atividade extremamente de risco, de modo que
um dia a empresa tá rica e no outro ela faliu. A empresa de TI é extremamente instável. Contudo, considerando, por
exemplo, uma empresa moveleira que existe há cem anos no mercado, Lorena já deferiria, visto que a chance de
falir, aqui, já é muito pouca.

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