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Analise Desempenho
Analise Desempenho
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Effects of Plyometric Training on Physiologic, Mechanic and Neuromuscular Variables of Long Distance Runners View project
Effects of physical and sports training on motor performance, gene expression and physiological variables. View project
All content following this page was uploaded by Rodrigo Aquino on 10 December 2021.
Introdução
O futebol é compreendido como um sistema complexo e dinâmico. As equipes, por-
tanto, são entendidas como um microssistema social, de modo que as ações no jogo emergem
da sinergia entre diversas facetas do desempenho esportivo (Balague, Torrents, Hristovski,
Davids, & Araújo, 2013; J. Garganta, 1995). Essencialmente, essas facetas podem ser avali-
adas com o objetivo de fornecer feedbacks contínuos e precisos para os treinadores e joga-
dores 1 sobre o desenvolvimento dos componentes do jogo e da vida (Carling, Reilly, &
Williams, 2008). Pela natureza complexa e dinâmica do jogo, essas facetas sofrem influên-
cias mútuas umas sobre as outras, o que exige dos treinadores um entendimento sistêmico
deste processo (Balagué, Torrents, Hristovski, & Kelso, 2017). Finalmente, como o tempo é
precioso, é necessária uma integração ágil dos dados obtidos no dia-a-dia dos clubes. A ava-
liação deve, portanto, começar com objetivos específicos e propósitos precisos.
Os instrumentos de avaliação devem modelar-se ao contexto e as características dos
jogadores, com foco no desenvolvimento de ações no e para o jogo. Quando realizadas de
maneira sistemáticas, contribuirão para o acompanhamento da evolução dos jogadores e for-
necerão bases para ajustes e melhorias diretas nas intervenções a curto prazo. Os protocolos
de avaliação devem ser consistentes com a noção de aquisição e manutenção do desempenho
em um processo não linear. Nesse caso, a adaptabilidade as demandas do jogo são mais re-
levantes do que a simples aquisição ótima das facetas do desempenho, especialmente no caso
de jovens jogadores.
1
Este capítulo utilizou os termos treinador, jogador, entre outros, no gênero masculino. Contudo, tais atuações
podem e devem ser exercidas por mulheres. O trabalho desempenhado por elas contribui para o empoderamento
feminino em diversas áreas profissionais no futebol ocupadas majoritariamente por homens. No entanto, por
uma questão usual e de convenção gramatical, a opção foi por apresentar os termos no seu gênero masculino.
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Figura 1. Relações e sinergias entre as facetas que compõem o rendimento dos jogadores.
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Ações tático-técnicas
Pautado numa epistemologia interacionista, especificamente na dinâmica ecológica,
entendemos que a habilidade de coordenar as ações com os colegas e adversários são funda-
mentais para o sucesso no futebol (Silva, Garganta, Araújo, Davids, & Aguiar, 2013). Além
disso, as ações dos jogadores são fortemente influenciadas pela identificação e utilização das
informações do jogo. Desse modo, durante a dinâmica do jogo, há de aparecer constrangi-
mentos e possibilidades de ação. Esse processo envolvendo a percepção das possibilidades
de ação leva o jogador a gerir melhor o espaço e tempo, descobrindo e explorando o seu
próprio caminho durante a ação (Woods, Rudd, Robertson, & Davids, 2020). Portanto, po-
demos entender que a ação dos jogadores emerge de um conjunto de restrições do indivíduo
(por exemplo, níveis de força, desempenho tático, etc.), da tarefa (por exemplo, número de
jogadores envolvidos, adversários mais próximos, etc.) e do ambiente (por exemplo, tempe-
ratura/humidade, tipo do gramado, etc.) (Newell, 1986).
Por exemplo, um jogador toma a decisão de realizar um drible. Porém, no “caminho
da ação” um adversário se aproxima constrangendo o portador da bola a não driblar. Simul-
taneamente, seu companheiro avança no centro de jogo em posição clara de receber um passe
em profundidade que poderá gerar uma situação de finalização. Esse cenário possivelmente
influenciará na decisão do portador da bola, ao escolher se deve enfrentar o adversário no 1
vs. 1 ou passar a bola para o seu companheiro. Portanto, “quanto melhor o jogador conhece
os constrangimentos do jogo mais a organização desses constrangimentos lhe proporciona
soluções” (Julio & Araújo, 2005) (p. 166).
Especialmente a partir da década de 1990, tem crescido consideravelmente as pro-
postas de avaliação tática no futebol, dada sua importância no desempenho do jogo
(González-Víllora, Serra-Olivares, Pastor-Vicedo, & Da Costa, 2015). Contudo, destacamos
a necessidade de uma avaliação coerente com os objetivos propostos na condução do pro-
cesso de formação dos jogadores (Leonardi, Galatti, Scaglia, De Marco, & Paes, 2017). A
fim de ilustrar as diferentes possibilidades, dividiremos esta seção em duas principais abor-
dagens de análise: quantitativa e qualitativa.
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Para contemplar essa natureza sistêmica do jogo, o processo de análise deve ser pau-
tado, sobremaneira, pela faceta qualitativa do jogo. Estudos anteriores sugerem a construção
de sistemas de observação que atendam categorias e indicadores que permitam obter infor-
mações sobre (J. Garganta, 1997, 2000):
1) A organização do jogo a partir de características das sequências de ações da equipe.
2) As sequências que conduzem a determinados desfechos (por exemplo, finalização, gol).
3) As situações que provoquem ruptura ou perturbações nas fases ofensivas e defensivas.
4) As quantidades das qualidades manifestadas nas situações do jogo.
nas análises, como: local da partida, qualidade dos adversários, resultado momentâneo, entre ou-
tras. A partir disso, gera-se feedbacks individuais e coletivos.
Nota: alguns softwares podem ajudar na aquisição, análise e interpretação das ações por meio dos vídeos faci-
litando a identificação e visualização de algumas ações por parte dos jogadores e treinadores. Existem softwares
gratuitos (por exemplo, LongoMatch), com preços médios (por exemplo, Tactic Pro) e com altos custos (por
exemplo, AMISCO, PROZONE). * Princípios específicos são pautados nas características singulares de um
modelo de jogo e que determinam a forma de uma equipe jogar. Emerge a partir da interlocução entre os prin-
cípios gerais, operacionais, fundamentais e das ideias de jogo da equipe.
Além disso, “o jogo diz-nos tudo... o que lhe soubermos perguntar” – Júlio Garganta.
Pensando nisso, listamos no Quadro 3 uma série de questões passíveis de serem incluídas no
processo de análise qualitativa do jogo, podendo substanciar um roteiro para elaboração do
relatório de jogo.
A avaliação das ações tático-técnicas deve, portanto, ser usada como um meio de
progressão, adaptação ou preparação para o desempenho, principalmente por meio do desen-
volvimento de competências e habilidades. Os modelos de treinamento geralmente são con-
frontados com duas dinâmicas:
1) Os treinadores podem potencializar o desempenho “puxando” do jogo, ou seja, de-
senvolvendo aspectos que os jogadores devem implementar diretamente em seu jogo,
pois precisam deles para melhorar ações específicas (relação mútua do jogador e do
jogo).
2) Os treinadores também podem otimizar aspectos deliberadamente, “empurrando” a
maneira de jogar dos jogadores. Isso consistiria em melhorar aspectos independente-
mente de sua qualidade inicial (relação unidirecional do jogo ao jogador).
No entanto, as facetas de desempenho emergem da integração de características indi-
viduais e ambientais, em vez de serem otimizadas isoladamente. Por esse motivo, “empurrar”
a maneira de jogar pode resultar em perfis de desempenho rígidos e inflexíveis, o que pode
dificultar a formação de jogadores inteligentes e criativos.
Aptidão Física
Este aspecto foi por muito tempo prioridade no desenvolvimento científico aplicado
ao futebol. Certamente, bons níveis de aptidão física são fundamentais para dar suporte e ter
um espectro mais amplo de possibilidades tático-técnicas em diferentes momentos do treina-
mento e competição (Gamble, 2013), além de reduzir o risco de lesões e promover um pro-
cesso de recuperação mais rápido (Dvorak et al., 2016).
A aptidão física no futebol tem sido avaliada por meio de diferentes testes laborato-
riais e de campo (Aquino et al., 2020; Paul & Nassis, 2015). Contudo, na busca por uma
maior validade ecológica, citaremos os principais testes de campo utilizados na literatura e
prática profissional:
1) Testes de corrida incrementais e intermitentes – 30-15 Intermittent Fitness Test (Martin
Buchheit, 2008) e Yo-Yo Intermittent Recovery Test (Bangsbo, Iaia, & Krustrup, 2008).
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2) Teste de habilidade de sprints repetidos – Running based anaerobic sprint test (RAST)
(Andrade et al., 2015).
3) Testes de mudança de direção – Illinois test (Cureton, 1970), T-test (Semenick, 1990) e
5-0-5 teste (Draper, 1985).
4) Testes de potência de membros inferiores – saltos verticais (por exemplo, countermove-
ment jump; squat jump; drop jump) e horizontais, ambos realizados de maneira unipodal
e bipodal (Bosco, Luhtanen, & Komi, 1983; Meylan et al., 2009).
5) Testes de velocidade linear – 0-5 metros, 0-10 metros, 0-15 metros, 0-20 metros, 0-30
metros e 0-40 metros (Paul & Nassis, 2015).
6) Teste de velocidade em “curva” – sprint realizado em curva n “arco” da grande área
(Fílter et al., 2020).
7) Mobilidade e estabilidade do aparelho locomotor – Functional Movement Screen (FMS)
(Cook, Burton, Hoogenboom, & Voight, 2014a, 2014b).
Porém, o acesso a essa diversidade de métricas gerou outra questão: Quais são as
variáveis mais úteis durante os treinamentos e jogos? Algumas pesquisas produzidas nos úl-
timos anos podem nos ajudar com essa resposta. Para causar um impacto substancial na prá-
tica, é aconselhável focar nas variáveis que são simples o suficiente para serem compreendi-
das pelos treinadores e jogadores e que são válidas e confiáveis o suficiente para auxiliarem
nas decisões diárias.
Em relação a carga externa, sugere-se 3 níveis de análise (Martin Buchheit &
Simpson, 2017):
1) Nível 1 – distâncias típicas percorridas em diferentes zonas de velocidade (fornecida por
todas as tecnologias). Exemplo: 300 metros percorridos acima de 19,8 km/h (distância
em alta-velocidade).
2) Nível 2 – todos os eventos relacionados a mudanças na velocidade - acelerações, desa-
celerações e mudanças de direção (fornecidos com mais ou menos sucesso por todas as
tecnologias). Exemplo: 30 acelerações acima de 3 m/s2, para uma distância total de 130
metros.
3) Nível 3 – todos os eventos derivados dos sensores/acelerômetros inerciais (apenas mi-
crotecnologia, portanto, indisponível nos sistemas derivados de câmeras). Exemplos: 9
impactos acima de 6 g e PlayerLoad2 de 150 unidades arbitrárias.
2
PlayerLoad é a soma das acelerações em todos os eixos (X, Y e Z) do acelerômetro triaxial durante o movi-
mento. Ele leva em consideração a taxa instantânea de mudança de aceleração e a divide por um fator de escala
(dividido por 100) (Boyd, Ball, & Aughey, 2011).
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Buchheit, Gray, & Morin, 2015). É importante notar que quando as variáveis de nível 3 não
estão disponíveis (usando câmeras semiautomáticas ou algumas marcas de GPS que não for-
necem tais variáveis), algumas informações relevantes ainda podem ser obtidas com as vari-
áveis de nível 1 e nível 2, mas apenas no contexto muito específico de exercícios altamente
padronizados (por exemplo, exercícios analíticos) (M Buchheit et al., 2013).
Em relação a carga interna, o cálculo do impulso de treinamento (TRIMP) diário e
semanal (intensidade x volume), assim como os índices de monotonia e tensão obtidos pelo
TRIMP, são ótimas opções para controlar a carga prescrita e realizada, assim como a varia-
bilidade e distribuição desta carga ao longo do tempo. Para isso, sugerimos a utilização do
método da PSE (CR-10 ou CR-100) (Fanchini et al., 2016; Foster et al., 2021; Foster et al.,
2001) e o método de Edwards (utilizando o tempo em cada zona da frequência cardíaca má-
xima) (Edwards, 1993). Especificamente no método da PSE, é importante que os jogadores
estejam familiarizados com as escalas e entendam a importância de uma resposta confiável
para que o processo de controle das cargas seja preciso e útil. Além disso, pode ser interes-
sante a utilização de ferramentais digitais para esse fim (por exemplo, a plataforma gratuita
G-Suite), evitando a influência dos colegas nas respostas e facilitando a dinâmica de coleta
diária, uma vez que no protocolo original recomenda-se a aplicação do método da PSE ~30
minutos após o treinamento ou competição.
Para além do controle diário das cargas de treinamento, é possível pensarmos na uti-
lização desses indicadores durante protocolos de avaliação em contexto de jogo, garantindo
em maior grau o princípio biológico da especificidade e o princípio pedagógico da represen-
tatividade. A partir dessa reflexão, um grupo de pesquisadores brasileiros propuseram a uti-
lização de um jogo reduzido no formato “Goleiro + 5 vs. 5 + Goleiro”(Gr+5vs.5+GR) para
jovens jogadores (sub-11 até sub-20) como indicador das demandas de corrida das partidas
oficiais (Aquino et al., 2019). Este jogo é realizado em contexto de treinamento e é composto
por 6 séries de 6 minutos com 90 segundos de recuperação ativa entre as séries (tempo total:
43 minutos e 30 segundos; tamanho do campo = 49 x 25 m). Durante o jogo todas a regras
oficiais são aplicadas, com exceção do impedimento e utilização de cartões.
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Recuperação
A tolerância do jogador a diferentes tipos de fadiga (periférica, central; muscular,
mental) e a capacidade de recuperar durante e após o exercício são as bases para a criação de
um perfil de recuperação (Kellmann et al., 2018). Cada jogador deve ter seu próprio perfil de
recuperação que serve de base para a criação de protocolos de recuperação personalizados
(Calleja-González et al., 2018). Por exemplo, há uma forte discussão na literatura sobre a real
eficácia de estratégias de recuperação usando a crioterapia (Hohenauer, Taeymans, Baeyens,
Clarys, & Clijsen, 2015) e a liberação miofascial (Wiewelhove et al., 2019). Especificamente
em relação a esta última, o conjunto de evidências até o momento mostra que este método
desempenha um papel importante na diminuição da percepção subjetiva da dor muscular. Ou
seja, está mais atrelado a um efeito psicológico do que fisiológico, uma vez que não foram
observadas grandes influências dessa estratégia nos indicadores físicos, como a velocidade,
força e flexibilidade.
Além disso, essas estratégias de recuperação podem ser mais responsivas para um
jogador e menos para outros. Isso reforça a necessidade do desenvolvimento de perfis de
recuperação e a implementação do processo de recuperação personalizados. Para isso, suge-
rimos considerar os seguintes itens:
1) Tolerância individual a diferentes tipos de fadiga (física e mental).
2) Dinâmica de recuperação durante o treinamento e competição.
3) Dinâmica de recuperação após o treinamento e competição.
4) Os meios e métodos mais adequados de recuperação durante e após o treinamento e
competição.
5) Aplicação de doses ideais dos meios e métodos de recuperação selecionados para cada
jogador.
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motivação intrínseca (Côté, Erickson, & Abernethy, 2013; Machado et al., 2019; Scaglia,
Reverdito, Leonardo, & Lizana, 2013).
Contudo, com o avançar das categorias de formação, muito do que os jogadores fa-
zem não é, estritamente falando, intrinsicamente motivado. Portanto, a verdadeira questão
sobre as práticas motivadas não intrinsicamente é como os jogadores adquirem a motivação
para realizá-las e como essa motivação afeta a persistência, autonomia e bem-estar. Sempre
que uma pessoa (pai, treinador, amigo, fisioterapeuta, médico, etc.) tenta promover determi-
nadas ações com menor grau de autonomia por parte dos jogadores, essas ações podem variar
de uma “amotivação” (falta de percepção de competência, falta de valor, geralmente acom-
panhada de um baixo desempenho e bem-estar) para uma integração (congruência, síntese e
consistência das identificações, geralmente acompanhada por alto desempenho e bem-estar)
(Figura 2). Além disso, por meio do monitoramento diário utilizando o questionário exposto
na Figura 3, os treinadores poderão acompanhar os níveis de humor e estresse dos jogadores,
que podem estar estritamente relacionados com o estilo de vida, relações sociais, entre outros
fatores.
Em síntese, é necessário que os treinadores avaliem esse processo por meio de uma
reflexão crítica durante as sessões de treinamentos, e que contribuam para uma conscientiza-
ção dos familiares sobre a importância do contexto social que o jogador está inserido, flores-
cendo ambientes caracterizados por uma sensação de segurança e relacionamento saudável
(Ryan & Deci, 2000). Para isso, sugerimos:
1) Promover tarefas de treino representativas pautadas no jogo e ajustadas as características
individuais dos jogadores.
2) Criar ambientes que promovam uma motivação autônoma em detrimento de uma moti-
vação controlada.
3) Valorizar que os jogadores tenham uma vida, familiar, social, íntima e hobbies com di-
versão e entretenimento.
4) Promover constantemente a autoavaliação, incluindo aspectos inerentes à personalidade
(por exemplo, resiliência: veja o estudo de (Gonzalez, Moore, Newton, & Galli, 2016).
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O sono é outro componente relacionado ao estilo de vida que muitas vezes é negli-
genciado pelas comissões técnicas. Uma suficiente qualidade e quantidade de sono é consi-
derada vital para a recuperação, bem-estar e rendimento dos jogadores (Roberts, Teo, &
Warmington, 2019). Estudos mostram que um mínimo de 7-9 horas de sono por noite, com
ao menos 85% de eficiência (porcentagem do tempo total de sono), é recomendado para pro-
mover uma melhor saúde e função cognitiva (Ohayon et al., 2017; Panel et al., 2015). Além
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disso, atletas que dormem menos de 7 horas por noite podem ter uma maior probabilidade
em obter lesões (Milewski et al., 2014; Roberts et al., 2019).
Alguns fatores podem afetar o sono dos jogadores, tais como o cronótipo (ritmo cir-
cadiano de um indivíduo), a carga de treinamento/jogo, o horário da prática do exercício
físico, luminosidade, alimentação prévia a hora de dormir, entre outros fatores (J. A. Costa
et al., 2019; J. A. Vitale et al., 2017). Por exemplo, um estudo realizado com a Seleção Na-
cional Portuguesa feminina, durante nove dias de um torneio internacional (Algarve Cup
2018), verificou uma redução significativa do tempo total e da eficiência do sono após o jogo
realizado à noite (19h00) em comparação com os restantes jogos realizados durante o dia
(15h00) (J. Costa et al., 2019).
Deste modo, é de fundamental importância o monitoramento dos hábitos e percepções
sobre o sono dos jogadores, por meio de medidas subjetivas e/ou objetivas. Dentre as variadas
formas de monitorizar objetivamente o sono (por exemplo, polissonografia), destaca-se a ac-
tigrafia, que usa acelerômetros inseridos em dispositivos portáteis para registar movimentos
que estimam a qualidade e a quantidade do sono por meio de algoritmos (Ancoli-Israel et al.,
2003). Também se recomenda os “diários do sono” para registrar a data e hora de início e
término do sono nos períodos noturno e diurno (sestas diárias) (Halson, 2019). Além disso,
um destaque tem sido reportado acerca da utilidade de ferramentas subjetivas que quantifi-
cam o sono e outros indicadores importantes para classificar o bem-estar dos jogadores, con-
forme exposto anteriormente na Figura 3 (Aquino & Gonçalves, 2019; McLean, Coutts,
Kelly, McGuigan, & Cormack, 2010). Recomendamos a utilização de ferramentais digitais
para esse fim, como por exemplo o formulário da plataforma G-Suite que está disponível
gratuitamente. Isso permitirá que os jogadores respondam esse formulário pelo celular e tam-
bém evitará a influência dos colegas nas respostas.
Por fim, uma boa higiene do sono é essencial para assegurar a qualidade e quantidade
de sono necessária. Sugerimos atenção aos 10 itens expostos abaixo (Costa, 2020; Halson,
2014; Nédélec et al., 2015; Stepanski & Wyatt, 2003; K. C. Vitale, Owens, Hopkins, &
Malhotra, 2019):
1) O quarto deve estar escuro e silencioso, com uma temperatura adequada (geralmente
entre 18-20 ⸰C).
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2) Evitar ver televisão, utilizar tablets e celulares, pelo menos 1 hora antes de ir dormir.
3) Manter um horário regular para ir deitar e acordar, ou seja, criar uma rotina do sono.
4) Tirar “sestas” curtas (~30 min), evitando realizá-la ao final da tarde.
5) Realizar um lanche leve antes de dormir.
6) Evitar a ingestão de muitos líquidos antes de dormir, pois pode levar com que o sono
seja interrompido para idas ao banheiro.
7) Evitar a ingestão de café, álcool e nicotina.
8) Evitar exercícios físicos perto da hora de dormir.
9) Evitar tempos prolongados na cama.
10) Em vez de tentar cada vez mais adormecer durante uma noite ruim, ascender a luz e fazer
outra coisa pode ajudar a pessoa que se sente zangada, frustrada ou tensa por não conse-
guir dormir.
Figura 3. Questionário para medida subjetiva do estado de fadiga, recuperação, estresse, humor, dor muscular e sono
com escalas de 0 a 5 pontos (Aquino & Gonçalves, 2019; McLean et al., 2010).
5 4 3 2 1 Resultado
Totalmente re-
Recuperação Recuperado Normal Pouca recuperação Nenhuma recuperação
cuperado
Sentindo-me es-
Níveis de estresse Muito relaxado Relaxado Normal Altamente estressado
tressado
Me sentindo Me sentindo
Dor muscular Normal Aumento de dor Muito dolorido
ótimo bem
Saúde
O valor fundamental da vida humana é a saúde. No futebol, é comum os treinadores
e jogadores classificaram a saúde apenas como a ausência de doenças e lesões. Contudo, não
podemos desconsiderar as outras dimensões conceituais da saúde, como o aspecto psicosso-
cial e espiritual (Larson, 1996). Certamente, a ausência de jogadores devido a lesões e/ou
doenças afetam seriamente os resultados competitivos e bem estar dos jogadores (Hägglund
et al., 2013), sendo as lesões no aparelho locomotor as mais frequentes, como nos músculos,
ossos, tendões, fáscias e articulações (Ekstrand, Hägglund, & Waldén, 2011).
Além disso, é muito importante cuidar da imunidade dos jogadores e saúde respira-
tória/metabólica. Altos níveis de estresse competitivos, depressão, fadiga contínua dos trei-
nos, jogos e viagens comprometem o sistema imunológico dos jogadores, o que pode levar a
uma série de doenças (Keaney, Kilding, Merien, & Dulson, 2018). Portanto, a saúde mental
deve também ser considerada.
Devido a todo o exposto, é de fundamental importância criar um perfil de saúde de
cada jogador por meio do acompanhamento de uma equipe multidisciplinar (médicos, psicó-
logos, nutricionistas, fisioterapeutas, preparadores físicos, etc.). Esse perfil deve conter
(Jukic et al., 2021):
1) Histórico de lesões e doenças.
2) Déficits locomotores.
3) Déficits imunológicos e metabólicos.
4) Conhecimento sobre a frequência, riscos e mecanismos das lesões e doenças típicas e
mais comuns no futebol.
5) Protocolos e diretrizes personalizadas para prevenir e minimizar o risco de lesões, assim
como para tratá-las e possibilitar um retorno seguro para os treinamentos e jogos (“return
to play”).
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Idade e sexo
A idade e sexo são características imutáveis dos jogadores. Contudo, respeitar suas
especificidades pode, em grande medida, tornar o processo de avaliação e treinamento mais
seguro e eficaz (Balyi, Way, & Higgs, 2013; Lloyd & Oliver, 2012).
No Brasil, é evidente que as meninas e mulheres possuem menor oportunidades de
práticas do futebol em comparação aos meninos e homens. Em pleno século XXI, muitas
pessoas se surpreendem ao verem uma menina ou mulher jogando futebol. Embora seja uma
prática do cotidiano, são atos de resistência (Martins & Wenetz, 2020). A extensão do tema
sexo/gênero e esporte atinge esferas sociais, econômicas, políticas e biológicas (Gregg &
Gregg, 2017; Rubio & Simões, 1999) e torna essencial considerar isso no processo de avali-
ação e treinamento das jogadoras. Temos que entender as especificidades de cada sexo e
ajustar o processo de avaliação e treinamento as necessidades delas e deles. Também deve-
mos oportunizar para elas ambientes de prática, visibilidade e possibilidade de representação
social no esporte. Porém, com sentidos e significados que elas merecem, sem destacar aspec-
tos relacionados a sua aparência, mas sim, registrando seu protagonismo em forma de empo-
deramento por meio do esporte (Aquino & Vieira, 2021).
Em relação a idade, muito se discute sobre protocolos de avaliação e treinamento
mais adequados para cada faixa etária. Além disso, especialmente durante a adolescência, é
importante que os treinadores considerem dois aspectos: 1) a idade cronológica (data de nas-
cimento) e; 2) a idade biológica dos jogadores (por exemplo, estágio maturacional usando o
pico de velocidade de crescimento: Mirwald, Baxter-Jones, Bailey, and Beunen (2002); es-
tágios de Tanner: Tanner (1991).
O entendimento sobre o que é talento é outro aspecto importante que devemos consi-
derar quando tratamos do processo de avaliação e treinamento de jovens jogadores de dife-
rentes idades. Muitos treinadores pautados em uma visão de mundo inatista e mecanicista,
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percorrem diversos locais do Brasil em busca de jogadores tidos como talentos inatos (as
“pedras preciosas”), acreditando que a melhor maneira de viabilizar os altos desempenhos é
escolhendo os melhores e rejeitando os menos bons.
Este ponto de vista gera várias consequências negativas no processo de avaliação e
formação de jovens jogadores, como a tendência de classificar como talentosos os jogadores
com maior tempo de exposição à prática, também conhecido como efeito da idade relativa
(Israel Teoldo & Cardoso, 2020).
Por exemplo, um jogador da categoria Sub-11 nascido em janeiro pertence a mesma
categoria de outro jogador nascido no mesmo ano, porém em dezembro. Ambos os jogadores
disputam as mesmas divisões, mas possuem ~11 meses de diferença de idade cronológica.
Isso pode impactar substancialmente na idade biológica dos jogadores e um possível favore-
cimento não só no aspecto físico, por parte do jogador nascido no início do ano, mas também
no acesso a oportunidades de formação e competição. Por fim, esta visão inatista gera uma
predisposição para não considerar o treino como processo principal de desenvolver e atuali-
zar o talento dos jogadores (Júlio Garganta, 2009).
Recomendamos uma reflexão crítica dos treinadores sobre o arcabouço teórico que
sustenta seu processo de organização, sistematização, aplicação e avaliação das atividades de
ensino e treinamento do futebol. Uma visão de mundo interacionista, considerando a natureza
complexa, dinâmica e sistêmica desse processo, favorecerá a formação global dos jogadores,
entendendo que as habilidades e competências requeridas para o futebol são, sobretudo,
aprendidas, e as condições ambientais e culturais favorecem ou inibem a desenvolvimento
de talentos.
História e Cultura
É no âmbito da cultura e da história que se definem as identidades sociais, as quais
constituem os sujeitos. Essas identidades têm o caráter fragmentado, instável, histórico e plu-
ral (Louro, 1999). No Brasil, destaca-se ainda a presença do futebol enquanto meio de trans-
missão ideológica e elemento cultural, tais como o carnaval, a arte, a religião, a música, entre
outros. Enquanto prática social, o futebol brasileiro se constitui num meio pelo qual os sujei-
tos expressam determinados sentimentos (Daolio, 1997).
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De acordo com Côté et al. (2013), podemos entender esses contextos de aprendizagem da seguinte forma:
racional, caracterizado por atividades estritamente estruturadas e organizadas pelos treinadores na tentativa de
potencializar os níveis de performance dos seus jogadores (prática deliberada); emocional, caracterizado por
uma prática pautada no jogo, organizadas por um treinador, procurando motivar seus jogadores por meio da
utilização de uma diversidade de jogos (prática do jogo); informal, caracterizado por atividades organizadas
pelo próprio sujeito na busca da melhora de um componente especifico de desempenho (prática espontânea);
criativa, caracterizado por uma diversidade de jogos organizados pelos próprios sujeitos com a finalidade de
satisfazer seus desejos em jogar futebol (jogo deliberado).
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Considerações Finais
Os caminhos que levam ao desempenho no futebol requerem organização, sistemati-
zação, aplicação, avaliação de um conjunto de ideias e conceitos. Além disso, a paixão, resi-
liência, saúde, bem-estar, motivação, recuperação, engajamento, e uma série de outros fatores
são bases para atingir um desempenho global. Sua natureza, portanto, é complexa, dinâmica
e requer uma visão interacionista da vida. As sinergias entre essas facetas devem se integrar
para constituir uma unidade única que é o desempenho.
As bases conceituais apresentadas ao longo deste capítulo fornecem os subsídios teó-
ricos e práticos necessários para os treinadores criarem seu próprio modelo de avaliação do
desempenho, com base nas suas experiências, nos seus jogadores, o contexto e cultura que
estão inseridos. Por isso, mais importante do que dominar as diversas metodologias sobre
“como” analisar, é o entendimento do “o que”, “por que”, “onde” e “quando” devemos ob-
servar, analisar e interpretar o desempenho dos jogadores. Este processo não é fácil e requer
não só conhecimentos profissionais, mas também intra e interpessoais.
Agradecimentos
As agências de fomento, Secretaria Nacional de Futebol e Defesa dos Direitos do
Torcedor (SNFDT), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP;
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Referências
Ancoli-Israel, S., Cole, R., Alessi, C., Chambers, M., Moorcroft, W., & Pollak, C. P. (2003).
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