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Auto da Barca do Inferno Gil Vicente Portugués - 9° Ano GIL VICENTE - AUTO DA BARCA DO INFERNO Critica de costumes Alegoria Tipos de cémico A palavra auto vem do latim actu-, que significa acao, ato e corresponde a um tipo de compo- siggo teatral que teve a sua origem em Espanha, no século XII. Estes autos, tendo uma estrutura muito simples, tinham intencdes moralizadoras, fazendo uso de elementos cémicos. Adela de apresentar 0 juizo final num cals, onde se encontram duas barcas, uma conducente a0 Paraiso e outra ao Inferno, terd sido influenciada por tradigdes seculares, que concebem a morte como estando associada a passagem de um rio. Disso é exemplo o mito de Caronte, barqueiro que levava as almas pare o mundo dos mortos, guiando a sua barca pelos rios Estige e Aqueronte. Em muitas civilizagdes, a este conceito de passagem para o mundo dos mortos esta também associado © pagamento. Dai ter sido tradi¢ao, por exemplo, entre os egipcios, a colocacao de uma moeda na boca do defunto para pagamento da passagem. © teatro vicentino caracterizou personagens ngo como individuos, mas como tipos sociais, que funcionam como simbolo de uma classe ou de um grupo social ou profissional. Assim sendo, nna obra de Gil Vicente, desfila uma sugestiva galeria de tipos da época: elementos do clero, rel giosos, fidalgos, julzes, ciganos, feiticeiros, escudeiros, 2 mulher romantica e a alcovitelra. Tudo ao servico da sua sétira que, habilidosamente, nao atinge pessoas mas tipos, com o objetivo de moralizaco, segundo a maxima latina: Ridendo castigat mores (a rir castigam-se os costumes). ‘A alegoria define-se como uma sucesséo de metéforas e/ou comparacbes através das quais realidades abstratas so concretizadas. O recurso a uma realidade concreta permite melhor com- preensio da realidade abstrata. Por esta razdo, normalmente, a alegoria ¢ um recurso estilistico que tem uma extensdo textual prolongada, £0 que se verifica no Auto da Barca do inferno, de Gil Vicente. No auto vicentino, representa-se a passagem da vida para a morte por meio de uma alegoria que se associa & passagem de um rio, que seré feita por uma de duas barcas, a barca do paraiso €.a barca do inferno, que corresponde metaforicamente & salvac3o ou & condenagao eternas. AAs almas so metaforicamente representadas por passageiros e 0 interrogat6rio a que sao sub- ‘metidas representa o julgamento das almas. O seu comportamento em vida determinard 0 seu destino depois da morte. ‘As personagens sao de dois tipos: + Personagens-tipo (ver esquemas): representam uma classe social, profissional ou até um grupo religioso. + Personagens alegoricas: estas personagens representam valores, conceitos. No Auto da Barca do Inferno, 0 Anjo € 0 Diabo so personagens alegoricas que se associam, respetivamente, ao bem ou 20 mal. Elas desempenham, na peca, 0 papel de juizes que julgam as almas, tendo em conta a sua conduta em vida. ‘Ao longo do auto, identificamos o recurso a trés tipos de cémico: + COmico de linguagem: consiste em utilizar a linguagem para provocar o riso, através das repeti- bes, dos registos de lingua e de outros recursos expressivos. Um desses recursos €, por exemplo, a ironia, que esta presente nas falas das personagens, nomeadamente nas do Diabo. + Cémico de caréter: resulta quer da apresentacdo das personagens, quer das suas atitudes e comportamentos. + Cémico de situagéo: resulta das situacées criadas pelas personagens que, pela forma caricatu- rada como sao apresentadas, levam ao riso. Gil Vicente representa, na historia da lingua, 0 ponto de transigao da forma arcaica (anterior 20 século XV!) para a forma moderna, revelando ja a influéncia da renovacao da linguagem asso- ciada & época dos Descobrimentos. ESTUDO DAS CENAS/PERSONAGENS-TIPO Fidalgo D. Anrique (Cena tt) LASSE SOCIAL Nobreza ‘MOVIMENTAGAO Cais —> Barca do Diabo EM CENA EVOLUGAO PSICOLOGICA «Seguro, sereno, altivo, DA PERSONAGEM convicto de que iré para a Barca do Anjo simBoros SIGNIFICADO Pajem Manto Vaidade, presuncao Cadeira de espaldas ASPETOS CARACTERIZADORES + Nobre (fidalgo de solar) ‘DESENLACE Condenacio Barca do Paraiso —> Barca do Diabo (embarque) + Arrogante + Irritado porque o Anjo no Ihe responde + Arrependido e + Humilde (pede ao Diabo que o deixe regressar a terra para ir ter com a amante e, depois, com S a mulher) desanimado por ter i confiado no seu “estado” * Resignado A (@ceita a condenacio) Elemento do povo, principal vitima da opressao e da tirania da nobreza Vida de privilégios, associada a sua condic&o social + Apresenta-se como sendo detentor de um importante estatuto social + Vaidoso e presungoso +0 seu longo manto eo criado que carrega a cadeira evidenciam a sua vaidade e ostentacdo + A forma como reage perante o Diabo € 0 Anjo revela a sua arrogancia (de quem est habituado a mandare a conseguir tudo) + Despreza a barca do Diabo, chamando-Ihe “cortigo” da sua mulher, tinha uma amante, mas ambas enganavam: a mulher, quando ele morreu, chorava de idade e a amante tinha outro amante ainda em vida do Fidalgo ARGUMENTOS DE ACUSAGAO + Vida de prazeres [viveu a «seu prazer» (v. 48)] + Imoralidade [tivera duas mulheres, a esposa ¢ a amante (v.107)] + Privilégios [«fostes furoso» (v.107)] + Vaidade e presuncao [cPera vossa fantesia» (v. 88)] + Altiveze orgulho [«desprezastes os pequenos» (v. 106)] + Tirania para com 0 povo COMICO DE CARATER DEDEFESA + Aspeto da barca infernal [um «cortico» (v.32), isto desagradavel e reles para transportar um elemento da nobreza, pessoa importante e poderosa] + OracSes em sua intencdo [«leixo na outra vida/quem reze sempre por mim» (vv. 44°45)] + Estatuto social [«Sou fidalgo de solar» (v. 82)] + Importancia na sociedade [«Pera senhor de tal marca (.90)] Presungao do Fidalgo no inicio da cena, quando julga que manteré o tratamento diferente que teve em vida. INTENGAO CRITICA © Fidalgo é uma personagem-tipo que representa a nobreza, os seus vicios, tirania, vaidade, arrogancia e presungao, a vida de luxiria dos nobres, a sua imoralidade, a exploracao do povo e 0 seu conceito de que as oracdes ea ida 2 missa conduziam a salvacio. De uma forma geral, os elementos desta classe tém estes pecados (o que se comprova pela referéncia ao pai de D. Anrique, que também fora condenado). OOnzeneiro (Cena Ill) CLASSE PROFISSIONAL Onzeneiro, usurério que vive a custa de altos juros de dinheiro (11%), que empresta MOVIMENTACAO Cais + Barca do Diabo > EM CENA EVOLUGAO PSICOLOGICA « Inconformado com DA PERSONAGEM amorte e como facto de nao trazer dinheiro consigo. simBoLos SIGNIFICADO Bolsao ‘Apego da personagem ao di Portugués - 9° Ano Cela el Lee ee Le eM a © DESENLACE Condenacao Barca do Paraiso —> Barca do Diabo (embarque) + Preocupado com co dinheiro que deixou em vida + Inconformado (diz 20 Diabo que quer voltar aterra para ir buscar dinheiro para entrar na barca do Anjo) + Resignado (aceita a condenacéo) heiro, Avareza, materialismo, ambicio, cobica ASPETOS CARACTERIZADORES + Sovina, avarento e ganancioso + Subornador + Presungoso e materialista + Resignado + Surpreendido ARGUMENTOS DE ACUSAGAO + «meu parenten (0 Diabo identifica-se com ele) + Ladrao, subornador [«mui muito m'espanto/ nom vos livrar o dinheiro» (wv. 190, 195)) + Cobigoso, interesseiro [«esse bolsdo/tomard todo 0 navio» (Ww. 219, 220)] + Ganancioso, materialista, avaro [«O onzena, como es fea/e filha de maldig&o!» (vv. 225, 226)] (© Onzeneiro é condenado pelo Anjo o Inferno porque: + leva 0 coragao cheio de pecados, cheio de amor pelo dinheiro (0 bolsao representa esse dinheiro) ‘COMICO DE SITUAGAO «Santa Joana de Valdés!/Cé é vossa senhoria?» (wv. 244, 245) DE DEFESA + Morreu sem esperar, pelo que nao péde ganhar mais dinheiro [«mais quisera eu la tardar../na cafra do apanhar» (vv. 187, 188)]} + Nao Ihe deram dinheiro para a viagem [«Solamente pera (0 barqueiro/nom me leixaram nem tanto» (w. 192, 193)] + Traz o bolsao vazio [«Juro a Deos que vai vazio!» (v.221)] + Deixou toda a sua fortuna em vida [«Lé me fica de rodao/minha fazenda e alhea.» (vv. 223, 224)] +0 Anjo nao 0 aceitou no seu batel por o Onzeneiro nao ter dinheiro [«Aqueloutro marinheiro,/por que me vé vir sem nada,/dé-me tanta borregada/como arraiz Id do Barreiro.> (w. 231, 234)] «Dar-vos-ei tanta pancada/com um remo, que renegueis» (wv. 250, 251) INTENGAo cRiTICA Nesta cena, Gil Vicente, por mei desta personagem-tipo, denuncia a exploracdo do povo por pessoas movidas pela ‘ambicao e ganancia, 0 que os levava a cobrar juros altissimos, enriquecendo as custas dos necessitados (usura). © dramaturgo também desvaloriza a importancia do dinheiro. 49 Joane, o Parvo ‘(Cena IV) © CLASSE DESENLACE parvo nao representa nenhuma classe Salvacao socioprofissional (pertence a galeria de parvos vicentinos que tem como funcao 0 cémico, provocado pelos disparates que dizem) ‘MOVIMENTAGAO Cais > Barca do Diabo > Barca do Parafso — (fica a aguardar) EM CENA EVOLUGAO PSICOLOGICA —« Agressivo e injurioso para como Diabo + Humilde e simples na forma como DA PERSONAGEM responde & questo do Anjo («Samica alguém») simBoLos SIGNIFICADO Nao trazaderecos Nao tem pecados que o possam condenar ASPETOS CARACTERIZADORES + Inocente e pobre de espirito (tolo) + Ingénuo [«De pulo ou de voo?» (v.260)] « Pobre de espirito (Insultos que dirige ao Diabo) + Simples [eSamica alguém> (v.312)) + Considera nao ter relevancia social + Agressivo e trocista (para com o Diabo e para com outras personagens que virdo): «£ esta naviarra nossa?» (v. 255); «Barca do cornudo/Pero Vinagre, beicudo» (vv. 282-283) ARGUMENTOS DE ACUSAGAO DE DEFESA + Nao existem. +0 Parvo nao usa qualquer argumento de defesa + 0 Anjo considera que, se o Parvo pecou, o fez sem intencao ou premeditacao [xem todos os teus fazeres/ per malicia nom erraste» (wv. 313-314)] + Segundo 0 Anjo, o Parvo é um simples pelo que no merece o castigo [«Tua simpreza t'abaste/pera gozar dos prazeres.» (w. 316-317)] COMICO DE LINGUAGEM Linguagem imprépria ¢ escatol6gica utilizada pelo Parvo. Pragas dirigidas ao Diabo. COMICO DE sITUAGAO Insultos dirigidos ao Diabo. COMIC DE CARATER Personalidade de Joane, que se revela um simples. Por exemplo, nao sabe como entrar na barca, o que o leva ‘a perguntar se deveria ir de pulo ou voo. INTENGAO GRITICA Gil Vicente tem uma intencao liidica, ao apresentar esta personagem em palco. Em determinadas cenas, 0 Parvo tem a funcao critica, quando comenta, criticando e acusando, a personagem que chega ao cais. (CLASSE PROFISSIONAL Sapateiro (representante dos arteséos) MOVIMENTAGAO Cais + Barca do Diabo—> EM CENA EVOLUGAO PSICOLOGICA + Confiante (da sua DA PERSONAGEM salvagao, pois cumpriu 05 preceitos religiosos) + Agressivo (quando confrontado com os seus pecados) + Espantado com o facto de as préticas religiosas nao o salvarem simBoLos SIGNIFICADO Avental Formas Portugués - 9° Ano RTM ta bese enced 2 cer ere act) 8 DESENLACE ‘Condenagao Barca do Paraiso > Barca do Diabo (embarque) + Humilde perante 0 Anjo + Espantado por as formas serem um entrave 3 sua entrada na barca do Anjo + Resignado (pede ao Diabo ajudantes que o deixem entrar, aceltando 0 seu destino) ‘simbolizam os seus pecados associados & sua profissao de sapateiro, por meio da qual roubou © povo. Em particular, o avental pode ser interpretado como um simbolo da falsidade do Sapateiro, que aparentava ser um homem honesto, o que nao correspondia averdade. ASPETOS CARACTERIZADORES + Homem pouco honesto, que roubou e explorou os seus clientes ao longo de toda a vida + Indecoroso e grosseiro, devido a linguagem que utiliza + Pecador, que acabou excomungado + Hipécrita na forma como diz respeitar a religido, roubando, de seguida, 0 povo ARGUMENTOS DE ACUSAGAO + Falso e mentiroso [«Santo capatelro honrado!» (v. 324), recorda o Diabo com ironia] + Vem carregado de pecados [«Como vens to carregado?» {(v. 325); «A Gérrega tlembaracan (v. 362)] + Foi um pecador em vida [«tu morreste excomungado:/ nom o quiseste dizer» (vv. 37-338)] + Nunca confessou todos os pecados praticados [«calaste dous mil enganos» (v. 340)] + Nao era coerente com os principios do catolicismo [eOuvir missa, entao roubar» (v.349)] + Roubou e explorou 0 povo, aproveitando-se da sua profisséo [Tu roubaste bem trint’anos/o povo com teu mester> (ww. 341-342); «leva quem rouba na praca (v. 366)] COMICO DE LINGUAGEM DE DEFESA + Cumpriu todos os preceitos da religiao catélica: ~ afirma ter-se confessado e comungado antes de morrer feconfessado e comungado» (v. 34)] ~ ao longo da sua vida, fl frequentemente a missa [«Quantas missas eu ouvi» (v.347)] ~ fez intimeras ddivas aos santos em cumprimento de promessas [cofertas» (v. 351] ~ rezou pelos defuntos [«E as horas dos finados?» (v.352)) «Santo capateiro honrado!/Como vens tao carregado?» (wv. 324-325) (cémico associado a ironia); «quatro forminhas cagadas» (v. 370). INTENGAO cRITICA Nesta cena, Gil Vicente visa criticar a classe dos artesdos, em particular a dos sapateiros, que, por meio do exercicio da sua profissao, exploravam e roubavam 0 povo sob uma capa de honestidade, para enriquecer. Critica-se, ainda, os {que viviam uma vida contréria 20s princfpios da religido que diziam seguir, acreditando que o respeito pelos preceitos religiosos bastaria para que todos os pecados fossem perdoados. i) OFrade (Cena VI) = rire a Ge © CLASSE SOCIAL DESENLACE Clero Condenagio (do Frade e de Florenca) MOVIMENTAGAO_ Cais + Barca do Diabo + Barca do Paraiso —> Barca do Diabo (embarque) EM CENA EVOLUGAOPSICOLOGICA Alegre e bem-disposto, + Aceitaacondenacéo ——* Resignado, embarca com DAPERSONAGEM surge cantando (depois de ouvir a Florenca (também ela Assume a moa como sua acusacao do Parvo, condenada) eae pois 0 Anjo nao Ihe + Obstinado,recusa entrarna _“ifige 2 palavea) barca do Diabo sIMBOLOS SIGNIFICADO ‘Moga Florenca ‘Simbolo dos pecados do Frade por ter um relacionamento com uma mulher, quando devia respeitar o voto de castidade (por esta razao, também a moca é condenada) Espada,escudoecapacete _Simbolizam a vida de cortesao (vida mundana) do Frade, que era contréria 2 vida religiosa que este deveria respeitar Habito Simboliza a classe social 2 que pertence a personagem, cujos principios nao respeitou em vide ASPETOS CARACTERIZADORES + 0 Frade autocaracteriza-se como «corteséo» (v. 387), Ou seja, alguém que se identifica com a forma de vida da corte, ‘o que fica claro também no facto de saber cantar, conhecer a esgrima e tocar viola + Assume-se como «enamorado» e reconhece viver uma vida dupla (tal como os outros frades, aligs): por um lado, nao respeita os principios da religido, uma vez que traz consigo Florenca e confessa ser seu «namorado», mas, por outro lado, afirma ser respeitador da religi3o, uma vez que tem «tanto salmo rezado». E, por esta raza0, devasso e depravado «+ Alegre, bem-disposto, despreocupado e confiante, o que se pode confirmar pelo facto de cantar frequentemente ARGUMENTOS DE ACUSAGAO DEDEFESA, += Desrespeitou os votos de castidade [«Essa dama, + O facto de ser membro do clero, de ter rezado e de ter € ela vossa?» (v. 78); «Devoto padre marido» (v. 430)] estado ao servico da fé é garantia de salvacao [«E este + Dedica-se as atividades mundanas, como a esgrima habito nao me val?» (v. 405); «tanto salmo rezado» ou ocanto e a danca (v.427)] + Osiléncio do Anjo pode ser interpretado como uma atitude de forte reprovagao das atitudes do Frade COMICO DE LINGUAGEM «Devoto padre marido» (v. 430). COMICO DE SITUAGAO Frade entra em cena com a Moca pela mao. Julgava que o facto de ser membro do clero bastaria para o salvar ndo sé a ele como também & moca. ‘COMICO DE CARATER © Frade danga, canta e dé uma aula de esgrima INTENGAO CRITICA © Frade é uma personagem-tipo que permite a Gil Vicente denunciar a devassidao do Clero da altura, que se ocupava mais das atividades da vida na corte do que das suas obrigacdes enquanto membros do Clero. Esta devassidao moral est também presente no facto de o Clero manter relacdes amorosas quando a sua funcao exigia o respeito pelo celibato. Portugués - 9° Ano RTM Delt Weer re re een a i Le x) AAlcoviteira (Brisida Vaz) (Cena Vil) CLASSE PROFISSIONAL DESENLACE Alcoviteiras (na época, eram mulheres que Condenagao arranjavam casamentos ou exploravam mocas, levando-as a prostituigao) ‘MOVIMENTAGAO Cais + Barca do Diabo —> Barca do Paralso—> Barca do Diabo (embarque) EM CENA EVOLUGAO PSICOLOGIGA + Decididaanaoentrarna + Procura seduziro Anjo _* Decide embarcar porque DA PERSONAGEM barca do Diabo parecer mal estar tanto ‘tempo no cais siMBOLOS SIGNIFICADO Seiscentos virgose outros Todos os elementos cénicos apontam para os pecados que a vo condenar: a pratica aderecos; mocas que e0 incitamento a prostituicao vendia ‘Apontam ainda para outros pecados da Alcoviteira, como 0 furto e a buria ou 0 logro ASPETOS CARAGTERIZADORES + Linguagem lisonjeira e repleta de termos carinhosos, usados de forma hipécrita + Personagem hipécrita e descarada, 0 que se comprova pelos argumentos de defesa que apresenta (assumindo-se ‘como uma mértir e comparando-se aos apdstolos) + Manhosa e enganadora (o que é indiciado por alguns dos aderecos que traz consigo, como as arcas de feiticos ou os armdrios de mentir) + Assume furtos alheios + Sedutora, quando procura convencer o Anjoa deixé-la entrar, usando uma arte que conhecia bem [«Barqueiro mano, ‘meus olhos» (v. 533)] e hipécrita («fiz cousas mui divinas» (v.548)] ARGUMENTOS DEACUSAGAO DEDEFESA + Autoacusa-se ao enumerar os aderecos que traz consigo + Falsa e mentirosa [«Seiscentos virgos posticos», «trés arcas de feitigosn,«Trés almérios de mentir» (w. 506-509)] + Ladra [calguns furtos alheos» (v. 51)] + Habil na arte de seduzir os homens [«Cinco cofres de entheos», «joias de vestir», «Guarda-roupa dencobrir» (w..510, 512€ 513)] + Pretende continuar 0 seu negécio apés a morte, o que mostra que nao esté arrependida + Nao chega ser acusada pelo Diabo + O Anjo reage com indiferenga, ndo lhe dirigindo a palavra COMICO DE LINGUAGEM + Mértir, porque sofreu muito com os acoites levados por desempenhar a sua profisséo + Benfeitora, pois deu mocas aos conegos da Sé = Serviu a Igreja, logo merece ir para o Paraiso + Santificada, pelo softimento que padeceu em vida, comparando-se a anjos e apdstolos [«som apostolada/ angelada e martelada» (vv. 546-547)] + Caso fosse condenada, todo o mundo deveria sé-lo também [«Se fosse 0 fogo infernal/iéiria todo ‘© mundo» (wv. 529-530)] «Culdais que trago piolhos,/anjo de Deos, minha rosa?» (w. 36-537). (cOMICO DE SITUAGAO Entrada em cena da Alcoviteira com toda a carga que traz consigo. COMICO DE CARATER facto de Brisida Vaz considerar ter tido uma atividade sagrada [afiz couses mui divinas» (v.548)]. INTENGAO CRITICA Gil Vicente faz uma critica social e moral, denunciando a atividade das alcoviteiras, que, para além de desenvolverem uma prética ilegal, exploravam pobres mocas que eram conduzidas a prostituic3o. Por outro lado, crtica-se, de forma indireta, oClero, que mantinha com as akcovi servigos que estas ofereciam. 5 relagdes estreitas e pecaminosas, uma vez que aquele usufruia dos OJudeu (Cena VIII) Sar es a © CLASSE SOCIAL (RELIGIOSA) DESENLACE Judeus Condenacao ‘MOVIMENTAGAO Cais — Barca do Diabo (embarque ~ indo a reboque) EM CENA EVOLUGAO PSICOLOGICA —« Decidido a entrar na barca do Diabo acompanhado pelo bode DA PERSONAGEM siMBOLos SIGNIFICADO Bode Represents a religido judaica, O bode expiat6rio era imolado nos sacrficios rituais da religléo judaica ASPETOS CARACTERIZADORES + Fanatico, devido ao forte apego a religido judaica (que procura respeitar, ao levar consigo o bode), rejeitando até 20 fim o catolicismo (por essa razio nem se aproxima da barca da Gloria) + Determinado a entrar na barca do Diabo (recusando, deste modo, a religido representada pelo Anjo) + Amor ao dinheiro, expresso nas moedas com que procura subornar o Diabo (para conseguir os seus intentos) [eis aqui quatro testoes/e mais se vos pagard.» (vv. 583-584)] ARGUMENTOS DE ACUSAGAO DE DEFESA + Acusagao feita pelo Parvo: + Os argumentos de defesa apresentados pelo Judeu ~ ladrao [«Furtaste a chiba, cabrao?» (v. 605)] visama sua entrada na barca do Diabo: ~ desrespeitador do catolicismo e das suas tradigdes, ~ disposto a pager a viagem nomeadamente porque profanou as sepulturas cristas no é inferior a Brisida Vaz, a alcoviteira, que tivera [E ele mijou nos finados/n'ergueja de Sao Gio!» direito a ir na barca do Diabo (w.61-612]] e comeu came num dia de jejum [«é comia « procura levar o Fidalgo a interceder por si, uma vez que came da panela/no dia de Nosso Senhor!» (vv. 63-614] ” o considera uma pessoa influente = O Diabo no 0 acusa porque nao quer levé-lo na sua barca +0 Anjo nao Ihe dirige a palavra porque o judeu representa uma outra religiao, COMICO DE LINGUAGEM, Linguagem popular utilizada pelo Judeu, quando se apercebe que 0 Diabo nao o quer deixar embarcar [cAzaré, pedra midda,/lodo, chanto, fogo, lenha,/caganeira que te venhal» (wv. 597-599)] COMICO DE sITUAGAO Entrada em cena com um bode as costas. INTENGAO CRITICA (0 Judeu € uma personagem-tipo que representa todos aqueles que seguiam a religido judaica, desprezando e desrespeitando 2 religiao catdlica. Com esta cena, Gil Vicente pretende denunciar este fanatismo judaico e também ‘0 apego 20 dinheiro, que era tipico desta classe. O facto de o Diabo nao aceitar a entrada do Judeu na sua barca ¢ uma forma de marginalizar e inferiorizar esta classe ea sua reli (Cenas IX e X) CLASSE SOCIOPROFISSIONAL Representantes da justica humana ‘MOVIMENTAGAO Cais + Barca do Diabo EM CENA (Corregedor chega em primeiro lugar, seguido do Procurador) EVOLUGAO PSICOLOGICA — Corregedor: confiantee DA PERSONAGEM sem consciéncia dos seus pecados; preocupado com as palavras do Diabo, pergunta ao Procurador se se confessou siMBOLOs SIGNIFICADO Processos (Feitos) evara _Estatuto socioprofis (Corregedor) Simbolo do poder judicial Livros juridicos (Procurador) vir carregados» (wv. 742-743)] ASPETOS CARACTERIZADORES Portugués - 9° Ano Tot Sere cre ee Lalo} DESENLACE Condenacao Barca do Diabo (ambos embarcam) Barca do Paraiso— (2s personagens vao em ‘conjunto) + Corregedor: receoso, isiste no direito asalvaco + Corregedor e Procurador: humithados e resignados, entram na barca do Diabo nal das personagens Os simbolos apontam para a corrupeao na drea da Justica [eA justiga divinal/vos manda + Corregedor: presuncoso e confiante; parcial nas sentencas e suborndvel; mau praticante da religido, pois nao se confessou de forma honesta, omitindo o que nao Ih + Procurador: confiante e mentiroso iteressava + Corregedor e Procurador: utilizam o latim deturpado, como forma de se superiorizarem frente ao Diabo ARGUMENTOS DE ACUSAGAO + 0 Corregedor foi parcial nas sentencas, deixando-se subornar por prendas diversas (até de Judeus), sendo 2 perdiz uma prenda frequente [«O amador de perdiz» (v. 624)] + Nao confessou 0s roubos na confissae final + Vem carregado de pecados [«A justica divinal/vos manda vir carregados» (vv. 742-743)] +0 Procurador no se confessou + Assume os pecados do Corregedor, pois também esta personagem se associa & corrupcao da justica + Vern carregado de pecados [«A justica divinal/vos manda vir carregados» (vv. 742-743) COMICO DE LINGUAGEM Latim deturpado utilizado pelas personagens. Insultos dirigidos pelo Parvo a ambas as personagens. Latim utilizado pelo Diabo para ridicularizar a personagem. INTENGAO CRITICA Gil Vicente critica a justica dos homens, que é corrupta e tendenciosa, opondo-se DE DEFESA + 0 Corregedor atribui as culpas & mulher, que recebia as prendas, afirmando que nao é culpado dessa situacao + Nao confessou os roubos porque teria de restituir ‘5 bens para ser absolvido dos pecados [ase o nom tornais,/nao vos querem absolver,/e é muito mao de volver/depois que o apanhais» (vv. 718 2 721)] + O sevestatuto social d + 0 Procurador nao se apercebeu que a sua hora tinha chegado [«Nao culdel que era extremo,/nem de morte minha dor» (wv. 72-714)] ina, que € executada sem olhar a quem se julga. Critica-se, ainda, a pratica hipécrita da religiao. OEnforcado ne RL aes © (Cena x!) CLASSE SOCIAL DESENLACE Povo (criminoso condenado) Condenacao MOVIMENTAGAO, Cais — Barca do Diabo Barca do Diabo (embarque) EM CENA EVOLUGAO PSICOLOGICA + Convicto da sua salvacao + Desenganado pelo Diabo, DA PERSONAGEM aceitaa condenagao siMBoLos SIGNIFICADO Barago (corda em volta do baraco aponta para a forma como se processou a sua morte e os pecados que pescoro) cometeu (crimes) ASPETOS CARACTERIZADORES « Ingénuo, simples + Facilmente influenciavel ARGUMENTOS DEACUSAGAO DE DEFESA + Nac ha argumentos de acusacao (a condenacio assenta + Garcia Moniz tinha-lhe dito que se morresse enforcado no facto de ser um criminoso ~ acusado e condenado) _ ria para 0 paraiso + Tinha sido perdoado por Deus por morrer enforcado «J tinha sofrido o castigo na prisio COMICO DE CARATER Aingenuidade do enforcado funciona como uma forma de produzir 0 cémico. INTENGAO GRITICA Neste cena, algo enigmatica,critica-se o engano dos mais fracos por pessoas com responsabilidade (neste caso, Garcia ‘Moniz, que se supde ter sido Mestre da Balanca da Moeda de Lisboa. i) 4s Portugués - 9° Ano Cee eee ae oer LL ae Os Cavaleiros (Cena Xil) CLASSE SOCIOPROFISSIONAL DESENLACE Cruzados Salvago -MOVIMENTAGAO Cais Barca do Paraiso EM CENA EVOLUGAO PSICOLOGICA + Os cavaleiros vém convictos da sua salvacao DAS PERSONAGENS siMBOLOS SIGNIFICADO Cruzde Cristo, espada_—_Defesa da reconquista e expansto da fé crista como forma de salvagéo da alma eescudo ASPETOS CARACTERIZADORES + Chegam ao cais felizes, entoando uma cancao que lembra aos mortais que a vida € transitoria e que todos terao de ser julgados naquele cais, pelo que deverdo “vigiar” o que fazem em vida [«Vigiai-vos, pecadores,/que, despois da sepultura,/neste rio esta a ventura/de prazeres ou dolores!» (ww. 853-856)] + Mostram-se confiantes relativamente ao destino das suas almas [«Quem morre por Jesu Cristo/nao vai em tal barca como essal» (wv. 870-873)] + Revelam desprezo pelo Diabo [«Vés, Satanés, presumis?/Atentai com quem falais!» (w. 860-861)] ARGUMENTOS DE ACUSAGAO DEDEFESA + Nao existem, uma vez que eles so merecedores + Apresentados pelos Cavaleiros: da salvacao por terem morrido a lutar por Cristo, ~ morreram em nome da fé, lutando contra os Mouros ‘que os libertou de todos os pecados [eMorremos nas Partes d’Além» (v. 866)] = Apresentados pelo Anjo: ~ morreram lutando por Cristo, o que os salvou ~ desprendidos dos bens terrenos COMICO DE SITUAGAO ‘A reacio do Diabo, a0 ver que os Cavaleiros passam pela sua barca e nem sequer param, avancando diretamente para ‘a barca do Anjo. INTENGAO MORALIZADORA Com esta cena, que tem caracteristicas algo diferentes, das anteriores, Gil Vicente pretende nao criticar mas antes exaltar o espirito de cruzada, na defese da religiao crista contra 05 infigis, nomeadamente os Mouros. A cantiga entoada pelos Cavaleiros ‘encerraa intengo moralizadora da pega, na medida em que recorda que o destino das almas sera decidido em funcdo da forma como conduziram, a sua vida terrena. Era

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