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Nilo Batista INTRODUCAO Introdugiio Critica ao Direito Penal Brasileiro entrega a0 leitor as chaves necessirias para desarticular criticamente um direito penal com énfase no enfoque lesa-majestade, fomecendo a poss'bilidade de reconstrugio de um verdadeiro direito penal das garantias. Dos muitos méritos deste trabalho, clejo “arbitrariamente” um. O enfoque de Nilo Batista permite superar o debate estézil entre uma visto pan-penalista da vida social e um abolicismo total e imediato do sistema penal. O segredo da receita é simples: considerar seriamente os direitos e garantias, aprimorar as técnicas de defesa Juridica da sociedade civil e decifrar os enigmas da ica ju a torné-los acessiveis aos \entos socias. x Emilio Garcia Mendez PENAL BRASILEIRO cham. 941.6 89491 2007 Wham atddioassrlcn ao dreto penal tralia ‘Aulor: Batista, Nilo MOAT" x2 PUCPR.AC BN as. 7 (06 i Livre-docente (UERJ) e Mestre (UFRJ) em direito penal, professor da Faculdade de D-reito Candido Mendes e da PUC-RI. INTRODUCAO CRITICA AO DIREITO | PENAL | BRASILEIRO 18 edigao Editora Revan Copyright © 1990 by Nilo Betsta ‘Todos 0s direitos reservdos no Brasil pela 3 parte desta put eletrdnicos ow tora Revan Lida, Neriuma jeuglo poderd ser reproduzid, sefa por melas mezteicos, ia eGpia xerogrifiea, sem a autorizago prévia da Editora. CCoontenagaoediorat titan WG ‘Lopes Arte produgogrifcn weeds cs Revisto Miguel Ville Capa Danito Basto Silva Composigto Ws Fotceomporigio Ingress eacabarento (Em papel Ose 75s. ap poping o elena, en Upos Time Neve Rema 1/13) Divisio Grafica da Editora Revan CIP-Brasil. Catalopagdo-na-fonte Sindisato Nacional dos Editores de Livros, RJ 3371 Butist, Nilo Introdugiocritca ao dito peral brasileiro Nile Batista, Rio de Janeiro: Revan, II*edigéo, margo de 2007 136, ISBN 85-7106-023-1. 1 Direito penal -Flosofia2. Dirsito penal Brasil. Title. so-0484 epu-348201 343061) 2007 Eulitora Revan Lida. ‘Avenida Paulo de Frontin, 163, 20260-010 - Rio de Janeiro, RI “Tel: 21-2500-1495 - Fax: 21-2273-6873 Este trabatha foi escrito quando Carlos Bruce, Maria Clara e Joo Paulo estavem aprendendo a ler. A eles, con 0 carinho afeto de seu pai, é dedicado ¢ livro, Do autor: Teoria da lei penal, 8. Faulo, 1974, ed. RT(em colaboracdocom Anfbal Bruno). elemento subjerivo da crime de denunciaséo celuniasa, Rio, 1915, ed. Liber Juris. Decisées criminais comentadas, 1" edigio, Rio, “976, ed. Liber Juri, 22 edicdo, Rio, 1984, ed. Liter Juris. ‘Anibal Bruno, peralisia, Rio, 1978, ed, Liber Juris Advacacia criminal, Ro, 1978, ed. Liber Juris (em colaboragaa com Joi0 Mestiri). Concurso de agenses, Rio, 1979, ed. Liber Jurs. Casos de direito penal — parte especial, Rio, 1980, ed. Liber Turis (em calsboragio com Heitor Casta Jr). Temas de direito penal, Rio, 1984, d. Liber Jari. Punidos e mal pagos (violencia, justica, seguranca piblica ¢ diritos hemanos no Brasil de hoje), Rio, 1990, ed. Revan. Biblioteca Central Introdugdio eritica ao dircito penal brasileiro. ‘Ac, 224621 - R. 688084 Ex. 2 Compra - Cia dos Livros NE: 141985 RS 14,75 - 05/10/2007 ito (Diuno) - Reg. Sem. Ctba Sumério Nota Previa 9 Apresentagio. = 11 CAPITULO T Direito penal e sociedade. Sistema penal. Criminologia. Politica crimnal. § 1!—Direito penal e sociedade § 2:—Direito penal e sistema penal 24 § 3!—Criminologia 27 § 4:— Politica criminal 24 CAPITULO I ‘A designagio “direito penal” ¢ suas acepcées. Princ‘pios bbésicos do direito penal. Missio do direito penal. A ciéncia do direito penal. § 5:— Direito penal ou direita criminal? 43 § 6! — As trés acepgées da expressio “‘diceito penal” § 7!—0 direito penal como direito piblico 52 § 8° — Principios bésicos do direito penal 6 § 9°—O principio dalegalidade 65 § 10 —O principio da intervercao minima 84 § 11 —O principio da lesividade 91 § 12 —O principio da humanidade 98 § 13 —O principio da culpabilidade 102 § 14 — Um direito penal subjetivo? 106 § 15 —A missio (fins) do direito penal = 111 § 16 — A ciéncia do cireito penal = 117 Bibliografie 123 50 Nota Prévia Com intimeros acréscimos e alguma atualizagéo bibliogr4- fica, é este 0 trabalho que, em 1938, apresentei ao concurso para a livre-doc€ncia de Direito Penal da Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Sou muito grato aos professores Jair Leonardo Lopes, Joao Marcello Araiijo Jr., Luiz Luisi, René Ariel Dotti 2 Sérgio do Rego Macedo pelas observacées entio formuladas. Nossa literatura juridico-penal se ressente da inconstancia de contribuigdes propedéuticas, que permitam aos professores de direito penal revisitar 05 fundaraentos de seu magis:ério e facilitem a iniciagdo dos estudantes. O reflex dessa incons- tncia estd no tratamento repetitivoe linear que os sedimentos bisicos do estudo do direito penal merecem da maior parte de ‘nossos livros. Este trabalho se destina a ser a primeira leitura de estu- dante de dircito penal. Assumidamente simplificador, pro- ‘curou ndo s6 reorganizar a matéria iatrodutéria, como questio- nar-Ihe as respostas usuais. Um saber critico é fundamental- ‘mente um esforco para “fazer aparecer o invisivel"’ (Miaille) ou as “fungdes encobertas’” (Warat) do visivel. Nessa diregao, interessei-me particularmerte em registrar Condicionamentos histéricos ¢ objetivos ocultoi com os quais © sistema penal de uma sociedade dividida em classes nega cotidianamente os princfpios idealisticamente transcritos nos livros de direita penal. As perplexidades e contradigdes Fermi- tementender a teoria criticacomo poderoso instrumento meto- dolégico para o conhecimento do diteito penal e para a corre- sio de deformazes ideolégicas que a reflexdo juridico-penal comumente apresenta, Nilo Batista De como considerer seriamente os direitos e garantias do cidadao ireito penal, particularmente 1a América Latina, nfo consti- tui excegio er relago ao dominio de uma hepemonia do pensa- mento conservador no campo do dirvito em geral, Hegemania que pode ser enterdida como a auséncia de tradugio dos conflitos do plano politico paraa rea especifica do juridico. Em ovtras palavras, lum extmplo concreto desta hegemronia se manifesta na cultura jurfdica progressista do jurista, que desaparece quando se trata das “técnicas da Cogmética”? Nilo Batista representa uma clara ruptura com essa tradigio. Poucos sio os traballios que, no contexto do direito penal iati- no-americano, justificam seu Cardter explicitamente eritiec como 0 excelente trabalho que aqui se tem ergulho de apresentar. ‘Sempre achei que o direito penal tradicional tinha muito pouco de liberal na acepgao original do termo, isto €, vineulado produgio de garantias para 0 cidadao, Foi precisamente este direito penal liberal, em nossa recente histéria latino-americana, que ‘se adaptou as circunstancias"” dos diversos autoritarismos, oferecendo legiti- rmidade ao justificar o cardter excepeional das rupturas estru‘urais da ‘ordem juridica-democrética Oenfoque “critico do direito penal néo constitai um corpo homogéneo. Existe também, pacadoxalmente, um enfoque “‘eritiea"", que se movimenta dentre dos parimetros hege-ndnicos do pensaueute conservador ¢ que permite delinear o problema das garantias, em termos de modelo norrrativo nao realizado na pratica Isto possibilitau aos juristas desenvolver um direito das garantias que permanecia no plano do “‘espirito da lei’', sem se irteressar pelas técnicas garantidoras. O contririo teria exigido 0 questiona- mento da dogmatica penal Os mecanismos que asseguram a =fetivagio dos princip-os esta belecidos na irstituigéo do cheque como forma de pagamento ndo encontiam equ:valente no cempo das liberdades ublicas ou indivi- duais, para dar um exemple, © enfoque histériea, a0 qual Nilo Batisia recorre freqilente- mente, permite colocar em julgamento as hipéteses do modelo'nio realizado. » Em resumo, parece-me que a exprestio direito penal ‘‘conser- vador-liberal’” néo configura um caso de contradicio previsto pela, dcgmética. direito penal ilui:nista, resultado das Iutas da burguesia que culminaram na Revolugio Francesa, se legitima como instrumento de defesa da sociedade civil, frente a um estado (absolutista) que atuava factual e nommativamente com total arbitrariedade e diseri jonariedade. Em contrapartida, o direito peral deve constituir-se de um sistema de téenieas que assegure as liberdades individuais frente so poder politico. Os cédigos penais modernos deveriam, portanto, constituir a culminacdo técnico-poritica deste. processo. ‘Sem duivida um elemento chama a atengio des cédigos penais do ‘ecmego do século XIX (caracteristica que, por outro lado, perm: nece inalterada até hoje). O conjunto de garantias da sociedade civil frente ao estado nao esti registrado nos artigas dos cédigos. Pelo centrério, os delitos contra o estado (lesa-ma:estade) constituem a Prioridade politico-Igislativa. Metaforicamente, se poderia afirmar que 0s delitos contca o estado ocupam, na construgao da norma penal, o lugar dos mecanismos de acumulago origindria no proces- 5a de formagao do capital. ‘A questio nao é de pouca importanciana determinagfo futura da 4iregdo concreta que assume a garantia das liberdades piblicas e de algumas liberdades individuais. Concebido para ser usado como material didético, a Iuroductio erttica ao direito penal brasileiro entrega ao leitor as chaves neces- séias para desarticular criticamente um cireito penal com primazia do enfoque “lesa-majestade”’, outorgando a possibilidade de re- ‘ecnstruir um verdaceirc direito penal das garantias. Dos muitos méritos deste trabalho, alguns jd postos em ove cia, elojo ““arbitrariamente’” um. O enfoque de Nilo Batista permite superar o debate esteril entre uma viséo pan-penalista da vida social © um abolicionismo total imediato do sistema penal. segredo da receita é simples: considerar seriamente os direitos ‘¢ garantias, aprimorar cs técnicas de defesa juridica da sociedade civil © decifrar os enigmas da dogmética jurfdica, para torni-los acessiveis aos movimentos sociais. Ennilio Garcia Mendez O homem néo existe para. lei, mas sima lei existe para 0 homem. Karl Marx Capitulo I DIREITO PENAL E SOCIEDADE. SISTEMA PENAL, CRIMINOLOGIA. POLITICA CRIMINAL. $i Direito penal e sociedade Ostrabathos brasileiros de iniciacdo ao diseito penal costu- mam ser abertos com observagGes sobre as relagdes entre sociedade ¢ direito. Tais observacées, quase sempre, se limi- tam a assinalar que a vida em sociedade nio presc.nde de normas-juridizas; assim, por exemplo, Mirabete', Damésio’, Mayrink da Costa’. Certamente nao ha incorregao em lembrar — valham-nos as palavras de Losano — que “‘das sociedades pré-letradas até as pés-industriais, os homens movem-se dentio de sistemas de regras'”*, Convém, entretanto, questionar imediatarente as formas de aparicao histérica do direito, para contornar riscos. idealistas aos quais podem expcr-se os iniciantes. O mais iscos é aquele que Miaille chama de ‘‘uaiversa- istérieo’"*; na medida em que as idéias constituissem 1 Manuel de direuo penal. P.G...8. Paulo, 1980; ed. Alls, p. 13: "a vida em sociedue exige um complexo de norma ciciplinadoras qv estabelega a regres indspensiveis ao canvivio erite os individus que a corapcem 2 Direlo penal, P.G., 12.5. Palo, 1985, ed, Sata necessdades Tuadainentals das sociedades wumanas : 3 Dire penal, P.G., Rio, 1982, ed. Fotenss, p. 4: a vidu 2m sociedad implica relagGessocieise todo grupamesto humanc abre expago para urn modus vivend través de um eanjunto de regs dizetivas™ 4 Os grandes sistemas juridicos, td, A.F. Eastos¢ L, Leitio, Lisboa, (979, ed. Preseag, p. 17 5 Umaivtreduedo:riieaao direte, tad. A. Proto, Braga, 199, ed. Moraes, 9.48. “a ircita surge des 7 a matriz da realidade, a historia do direito seria auténoma e destacada com respeito ao contexto hist6-ico em que tal direito fora prodluzido, passando a compor um conjunto de nogées universalmente vilidas. Sem pretender resgatar a surrada :magem da ‘base © superestrutura”, desacreditada pela voz autorizada de Poulantzas*, ¢ decisivo advertir-se para a ‘‘esséncia zconémica’’ que subjaz as definigdes juridicas abstratas’, sompreendendo 0 verdadeiro proceso social de criagéo do direito. Uma passagem de Tobias Barreto, escrita hé mais de um século, auxiliard nessa compreensdo: **ndo existe um direito natural, mas hd uma lei natural do direito'”*. Acrescentava Tobias Barreto que, Ja mesma forma, nao existem linguagem, indiistria ou arte naturais, embora exista aquilo que chama de tei natural da linguagem, da inddstria e da arte: © homem no fala “lingua alguma, ndo exerce indistria nem cultiva arte de ‘qualquer espécie que a natureza Ihe houvesse ensinado; tudo € produto dele mesmo, do seu trabalho, da sua atividade””. Ao zoneeber 0 diteito como algo nio revelado ao homem (a axemplo de uma nogio religiosa) nem descoberto por sua azo (a exemplo de uma regra de Iégica formal), mas sim produzido pelo grapamento humanoe pelas condigdes concre- as em que esse grupamento se estrutura € se reproduz; ao ridicularizar a concepgao do direito como “*uma lei suprema, preexistente & humanidade ¢ ao planeta que ela habita’’, To- 1 Poulantzas, Nicos, € esta10, opoder eo socialiomo, -a4.R. Lima, Ro, 1980, ed, Graal, p. 7 Losano, op. cit.,p.!7. As elugdes ccondmicas, po seu turmo, nfo se cstituern cestruuralmente apenas como relagdes socal, mas também como relages marea- {damentepoltiease juridias: ef, Boaventura de Souza Santos, Para uma sociole- ‘ada distingoestalorso:iedade civil, in Desordem e processo, P. Alegre, 1986, <7 4 Introdusio 20 estude do direto, in Esnaos de dreta, Rio, 1892, ed. Laemmer, p36, ier, ° 18 i i { | | bias Barreto se antecipava extraordinariamente as concepgées juridicas correntes no Brasil de sua época” direito penal vem ao munda (ou seja, € legislada) para ‘cumprir fung6es concretas dentro dee para uma sociedade que concretamente se organizou de determinada maneira. estudo aprofundado das fungdes que o direito cumpre dentro de uma sociedade pertence & sociologia juridica, mas 0 jurista iniciante deve ser advertido da importancia de Les- tudo para a campreensio do prdprio direito. ‘Quem quiser compreender, por exemplo, o direito zssfrio, 0 direito romano, ou 0 ditsito brasileiro do século XIX, pro- cure saber como assirios, romanos e brasileiros do século XIX viviam, como se dividiam e se organizavam para a procugio ¢ distribuicdo de bens ¢ mercadorias;, no marco da protegio e da continuidade dessa engrenagem econémica, dessa “Ordem Politicae Social’’ (nao poracaso, designagfo cos departamen- tos de policia politica entre nés — DOPS) estar a contrib ho do respectivo dircito. Mesmo os penalistas chamados de classicos’’, tio préximus de um processo histérico no qual foi opertuno extrair da razdo contetidos juridicos “‘natu- rais'"", percetiam as vezes esse caréter “‘pritico””. Carrara, desenvolvende os elementos de sua famosa definigao de cri- me, ao deter-se no ‘‘dano politico’’, assinalava que 0 direito penal (em sentido subjetivo) € atribufdo ao estado “‘com> meio de mera defesa da ordem externa, nao para o fim de azerfei- Cit. p. 39. Hermes Lima porcobeu que a posighe de Tobias Barreto iniicave repelir a crenga numa esstnc'a ideal de jusga, que movera os sintemes jurdieos, e subtitu-la pela concepsso de faloressciais ecuturis que, ividede,apareciam eve renovavam’* (Obras completas de Tobias Barreto, Insodugao Gert, S. Paul, 1963, ed. INL, v. 1, p. 150). 11 © josneturalisoa oj a tori jurciea da burguesia tevolucionéia, que procurava ‘destriros privlégios eaistingaes da unde (e, portant, do direto) redival, bem como inserio monarea dentro da esfera de nvas relagées jurdicas, através ‘os prisipios “*raturais" da jgualdace forme da universaidade do dist. CF Lekles, Lareifcazione nella sien giuridca, trad. R. Gustin, in Mavtisma e ‘teria del dri, Bolonne, 1940, ed. 1 Mulino, p. 90. Cf. também Pavlo Bomaviles, Do evada liberal ao estado social, Ri, 1980, ed. Forense, . 4. 19 soamento interno’. Ea esse viés que se reporta a observe 340, recorrente em trabalhos introdut6rios, da caracteristica finalistica do direito penal. O direito penal existe para cumprir finalidades, para que algo se realizey-ndo para a simples zelebragdo de valores eternos ou glorificagio de paradigmas morais Resulta claro que conhecer essas finalidades ¢ importante para conhecer o direito penal. Quaisquer que sejam tais finali- clades — inclusive a de evitar que “‘prorrompa a guerra de todos contra todos”’, como dizia von Liszt! —, constituern slas obviamente matéria que nao pode ser estranha as preocu- pagdes do jurista. Atribuindo-se a figura de von Liszt conots- 30es que certamente nao possufa, o jurista niio pode deixar de formular algumas indagagSes, a saber: existiré de fato uma guerra de todos con-ra todos, ou, pelo contrério, uma guerra de alguns contre outros? Que guer-a € essa? Por que alguns desejam guerrear ccntra outros? Se o direito nao cai do céu, mas € elaborado por homens, qual aposizao dos homens que 9 editam nessa guerra? S6 o direito penal evita que se prorompa tal guerra? Nao prorromperd ela apesar do direito penal? Evitada a guerra, quem ganha e quem perde com essa “paz” que o dircito penal assegurou? Essas ¢ outras perguntas pc- derao aproximar-nos, até sem que o percebamos, de certas chaves centrais no afazer juridico: jusnaturalismo © posit vismo juridico, interpretagio da lei, fins da pena, politica criminal, etc. ‘Afirmamos, por:anto, que o direito penal é disposto pelo estado para a concreta realizagao de fins; toca-lhe, portante, 12 Programma, § 13. 13 Tratadade direto penaselemao, radusio 1 Hygino, Rio, 1899, ed. Brguis, +. 1-95. A expressio “guera de todos contratodes"remoata a Hobbes; Montes. {lea falaria do estado de guerra", e Roussewu do ‘retodo maisferte". Como ‘epistrada por Mark, ao eéculo XVIII a fcgio sigundo 2 qual 0 “estado de fnatureza é'o verdndcire estado de natureza humana” sleangou © apoges dl ‘manifesto filesofice dell seuola storia del dito, ia MarwEngels, Opere, Rrra, 1980, ed. Rumi, v1, 9, 206) 20 uma missio politica, que 0s autores costumam identificar, de modo amplo, na garantia das ‘‘condigdes de vida da socjedade”*, como Mestier, ou na “finalidade de combater 9 crime’’, como Damasio", ou na “*preseryagao dos interesses do individuo ou do corpo social’, como Heleno Fragoso". Tais formulas no devem ser aceitas com resignacao pelo iniciante. direito pene! nazista garantia as “‘condigses de vida da sociedade”” alema subjugada pele estado nazista, ou era a peda de toque do terrorismo desse mesmo estado, garantindo ‘em verdade as condicdes de morte ca sociedade? Sem adentrar a fascinante questio de que o estado primeiro invents para depois combater o crime, esse combate néo seré algo misera- velmente reduzido a0 crime aconiecido e registrado?". Ou seja: 0 combate que o direito penal pode oferecer ao crime praticamente s2 reduz — desde que a pesquisa empirica de- monstrou 0 Frecério desempenho do chamado ‘‘efeito intimidador"’ ca pena, sob cuja égide sistemas inteiros foram construidos — ao crime acontecido (sendo m‘nima sua atua- go preventiva) e registrado (a chamada criminalidade aparente, que, como também a pesquisa emptrica revelou, é muito inferior — em alguns casos, escandaloscmente inferior: pense-se por exemplo no abortamento — 2 criminaliciade real, sendo a diferenga denominada cifra oculta). Por iltima, que significardo “‘interesses do corpo social’ numa soc-edade dividida em classes, na qual os interesses de uma classe si0 estrutural e logicamente antagonicos aos da cutra’? A fengio do dircito de estrutu-ar © garamiir determinada ordem econdmica e social, & quaf estamos nos referindo, é habitualmente chamada de fungio “‘conservadora’” ou de “controle social’. © controle sccial, como assinalz. Lola 14 Teoria dementr do dvetoerimisal, Rio, 1ST, p. 3. 15 Op. cit, p. 3 16 Ligdes de direto penal, P.G., Rio, 1985, el. Forense, . 17 Welzethavia preebido gue, quando odrcita penal ‘entre mente em ag 4&6, emer, mu to tarde” (Derecio penalalondn, tad. Busts Ranicece Perez, Santiago, 1970, p. 13. 21 Aniyar de Castro, “‘rio passa da predisposigio de titicas, esiratégias e forcas para a construcdo da hegemonia, ou seja, para a bus¢a da legitimagdo ou para assegurar o consenso; em sua falta, para a submisséo forgada daqueles que no se inte~ gram a ideologia dominante’*'", E fécil perceber o importante papel que o dircito penal desempenha no controle social. Sob certas condigSes, pode 0 direito desempenhar outras fungdes (como, por exemplo, a “‘educativa’® e mesmo a “‘transforma- dora’ — esta, oposta & “‘conservadora’") A preponderincia da fungo de controle social €, contudo, inquestionavel. Determinadas, assim, pela necessidade do poder que con- fere garantia e continuidade as relagdes materiais de produgao prevalecentes numa dada sociedade, estariam as normas juri- dico-penais alijadas d= qualquer influéncia ativa sobre essa mesma sociedade? A resposta de Anfbal Bruno merece transcrigdo: “‘sabemos como as sociedades humanas se encon- tram ligadas a0 Dircito, fazendo-o nascer de suas necessidades fundamentais e, em seguida, deixando-se disciplinar por ele, dele recebendo a estabilidade e a propria possibilidade de soorevivéncia’”””. Ou seja, embora o direito penal seja mo- delado pela sociedade — e, em siltima insiancia, hao de pre- valecer sempre as variiveis econémicas que determinam suas linhas fundamentais — ele também interage com essa mesma soziedade. Como ensina Miranda Rosa, *‘se o direito é condi- cionado pelas realidades do meio em que se manifesta, entre- tanto, age também como elemento condicionante”™™. Hé marcante congruéncia entre os fins do estado e os fins do direito penal, de ta’ sorte que o conhecimento dos primei- 18 Criminalogta de la Uberacién, Maracaibo, 1987, e€. Un. del Zulia, p. 119, Taformapio sobre o desenvolvimento da idéin de control socal em Zahicé Macha- ‘do Neto, Direito penale esrutura socal, 8. Paulo, 1977, ed. Saraiva, p. 4s. Para Suarez Tavares, fnaliéade normativo-material ds ciao jurdia de delitos ett na ~protego aot inereses daminantes na estrutura socilestratfieada” (Pearias do delto,§. Palo, 1980, ed. RT, p. 4). 19 Diteito penal, P.G.. Rio, 1988, e6. Forease, v1. 1%, pe Uh 20 Sociologia do direto, Rio. 1970, ed. Zabar, p. 57. 22 ros, no através de formulas vagas e ilusdrias, como s6i fi- gurar nos livros juridicos”, mas através do exame de suas reais e concretas funcées histéricas, econdmicas e scciais, é funda- mental para a compreensic dos tltimos. Conhecer as finalidades do direito penal, qu: € conhecer os objetivos da criminalizagao de determinadas condutas pratica- das por determinadas pessoas, ¢ 9s objetivos das penas ¢ outras medidas jurfdicas de reagdo ao crime, nio é tarefa que ultrapasse a area do jurista, como as vezes se insinua. Com toda razio, assinala Cirino dos Santos que “"s definigio dos objetivos do Direito Penal permite clarificar o seu significado politico, como técnica de controle social". Alids, a indaga- gio sobre fins, que comparece em varios momentos particula- res (na interpretagdo da lei, na teoria do bem juridico, no debate sobre a pena, etc), no poderia deixar de dirigir:se a0 direito penal como um todo. 21 “Los fines del Estado son dificles de determinar, de moto absolto y omni ccomprensivo™" — Sanguinet Cwso dederechopollico,.. Ares, 1986,p. 297. 22 Direto penal, Ro, 1985, p23. 23 § 22 Direito penal e sistema penal Devemos distinguir entre direito penal ¢ sistema penal Provisoriamente, diremes que 0 direito penal é 0 conjunto de normas juridicas que prevéem os crimes e Ihes cominam san- des, bem como diseiplinam a incidéncia e validade de tais norms, a estrutura gera: do crime, e a aplicagio e execucio des sangdes cominadas. Hé outros conjunios de normas que esta funcionalmente ligados ao direito penal: assim, o direito processual penal’, a organizagao judicidria, a lei de execugio penal, regulamentos penitencidrios, etc. Criadas por esses conjuntos, ou a eles subordinadas, existem instituigdes que desenvolvem suas ati- vidaces em torno da realizagio do dircito penal A policia judiciéria investiga um crime sujeitando-se (ou, pelo menos, devendo sujeitar-se!) as regras que o Codigo de Processo Penal (CPP) consagra ao inquérito policial e as pro- vas. O inguérito conclufde € encaminhado a uma “vara criminal”, ou que outra designagao Ihe tenha assinado a lei de ‘organizagao judiciéria local. Tratando-se de um crime perse- qlivel por agdo penal publica, o Promotor de Justiga ofereceré deniincia, ¢ um procedimento previsto no CPP se seguiré, 1 Froderio Marques asta o define: ""conjunto de prnsfpios e normas que regalan, ‘1aplicoptojursdicional de direto penal, bem como ss atvidedespersecutriasca polka judicira, ea estrcureso dos gis de fungo juradicional erespectivos sex ines" (Elementos de drcito processual penal, Rio, 1961, v. 1, p20). 24 Condenade o réu a pena privativa de E:berdade que deva cum- se sob regime fechado, seré ele recolhido a uma ‘spenitencidria’’, espécie do género ‘‘estatelecimento penal"’, submetido ao que dispde a Lei de Execueao Penal — LEP#, Vimos a sucessiva intervencdo, 2m tr8s nitidos estagios, de trés instituig6es: a instituicéo policial, a instituicao judici ria e a instituicio penitencidria. A esse grupo de instituicdes que, segundo regras juridicas pertinen:es, se incumbe de real zar 0 direito penal, chamamas sistema penal. Zaffaroni entende por sistema penal 0 “controle social punitivo institucionalizado””, atribuindo & vox ‘‘institucio- nalizado"” a acepzao de concernente a procedimentos esta- belecidos, ainda que nao legais. Issa the permite incluir no conceito de sistema penal casos de ilegalidades estabelecidas como praticas rotineiras, mais ou menos conhecidas ou tolera- das (“‘esquadrées da morte” — por ele referidos como “‘ejecuciores sin proceso’, tortura para obtencéo de confis- soes na policia, espancamentos “disciplinares"’ em estabele- cimentos penais, ou uso ilegal de celas “‘surdzs"', etc) O sistema penal a ser conhecido e estudado é uma realidade, € néo aquela abstragio dedutivel das normas juridicas qu o delineiam. Com propriedade, Cirino dos Santos observacue o sistema penal, segundo ele *‘constituido pelos aparelhos judicial, poli- cial e prisional, e operacionalizado nos limites das matrizes legais””, pretende afirmar-se como ‘‘sistema garantidor de uma ordem social justa’”, mas seu desempenho real contradiz essa aparéncia. ‘Assim, o sistema penal € apresentado como igualitdrio, atingindo igualmente as pessoas em Fungo de suas condu-as, quando na verdade seu funcionamento é seletivo, atingindo 2 CF. kein? 7.210, de 11 jul 84, ar #2 ss 3 Sistemas ponales y derechos humancs en América Letina, B. Aites, 1984, ». 7. 4 Manual de derecho penal, B. Aires. 1986, p. 32 5 Op. eit. p 26 apenas determinadas pessoas, integrantes de determinados gru- pos sociais, a pretexto de suas condutas*, (As excegées, além ce confirmarem a regra, so aparatosamente usadas para a reafirmagio do carter igualitério.) O sistema penal é também apresentado como justo, na medida em que buscaria prevenir 0 Celito, restringindo sua intervengao aos limites da necessidade — na expresso de von Liszt, "*s6 a pena necessaria é justa’” —, quando de fato seu desempenho € repzessivo, seja pela frustragao de suas linhas preventivas, seja pela incapacidade ce regular intensidade das respostas penais. legais ou ilegais. Por fim, o sistema penal se apresenta comprometido com a protecao da dignidatle humana — a pena deveria, disse certa ecasido Roxin, ser vista como o servico militar ou 0 pags mento de impostos*—, quando na verdade é estigmatizante, promovendo uma degradacao na figura social de sua clientela Instituto Interamericaxo de Direitos Humanos realizou uma pesquisa sobre sistemas penais e direitos humanos na América Latina, cujo informe final, redigido pelo diretor da pesquisa, Zaffaroni, constitui 9 mais atual e completo documento critico sob: a realidade dz nossos sistemas penais’, Scletividade, repressividade ¢ esligmatizagao sio algumas caracteristicas cenirais de sistemas penais como o brasileiro. Nao pode 0 jurista encerrar-se no es:udo— necessério, importante e espe- cffico, sem davida — ce um mundo normativo, ignorando a contradigao entre as linas programaticas legais e o real fun- cionamento das instituig6es que as executam. 6 “En a realidad, pee al diseurto jurdico, el sistema penal se dirige cas siempre contra eiertat personas més que contra cetas aeciones” — Zaffaroni, Marit, it, p32 7 La teoria dello scopo nel divto penale, tad. A. Calvi, Mitio, 1962, p. 46 8 Apud Orde, Tiene un future la dogmétieajuridice-penal? in Esudlos de derecho enol, Mads, 1978, 7.72 9 Sistemas penaler ¥ derecho: humunos en América Latha — informe final, 8 ‘ites. 1986 6 §3e Criminologia Criminologia, segundo Lola Aniyar de Castro, **€ a ati dade intelectual que estuda os processos de criagao das normas penais ¢ das normais sociais que estdo relacionadas com 0 comportamenta desviante; 0s processos de infragdo e de des- vio destas normas; € a reagéo social, formalizada ou nc, que aquelas infragdes ou desvios tenham provocado: 0 seu proces- so de criagdo, a sua forma e contetido e os seas efeitos’. Nossos textos de iniciagio ac direito penal oferzcem geralmente conceito bem diferente da criminologia, neles apresentada como um conjunto de conhecimentos, ao qual se atribui ou nao caréter cientifico*, cujo objetivo seria o exame causal-explicativo do crime ¢ dos criminosos', de utilidade questionadat. Anfbal Bruno menciona a “‘prevengdo de alguns 1 Criminslogia da reagéo social, usd. E. Kosowski, Rio, 1983, p. 82, 2 “Seu eater de verdadeita clénciné por muitescontesiad ,.)'"—— Mester op. 20. 3 “E ela (e criminstogia)cléncia eaust-explicativa. Esta as leis © fates da retribative” (op. cit 3%, p. 23). E importante ter presente que o ariterretributivo, embers ‘oferega um entériorelativamente seguro pars dstinguir» penn ds dermis sa ‘6es, em, por lado, esgota ou limite adiscused sobre obetives © fngbes do ‘Pena, nem, por outro, circunscreve-a com exclusvidade ao canpo a dizel © a3 Vemos, portanto, que 0 elemento que transforma o ilfcito em crime & a decisio politica — 0 ato legislative — que © vincula a uma pena. Esse € 0 substrato das definigdes formats de crime’, e ele nos revela que a pena nao, é simples “conseqiiéncia juridica’” do crime, mas sim, antes disso, sua propria condigdo de existéncia juridica‘, Se nos dermos conta de que, no momento da aplicagao da norma penal, através de ‘penal, Sangbesdenaturezaretibuivaexstem ne dirt privado, come aintigai- fave para a sucesso do ar. 1.595 CC ("a indigaidade consti pen civil? — Barros Moniciro, Curso ce dirito civil, S. Faulo, 1962, p. 63), no cicto [rovessual, come x muta pare quem indevidamente reeebe custas doa. 30CPC Chama de "peaaidado” por Pontes de Mirmda, Comendrias ao cio de process cv Rin, 1974, 1p. 434) ov alga das sunybes do sistema de TReponsabifidade das are: por duso processual (das guato espéces de senses "Sao dria ntuceza” spreandidas por Barbose Moreira, as tes primeirs tem canter retibutivo, sendo a terceira verddelra © propria pens — cf. Tens de “rete procesual, S. Paulo, 1977, p. 1e 19),¢ no dkeito administrative, come ‘sangSee diteiplinas que tinge Funciontiapatlio faloso, ou as coin oer do Cédigo Nacional de Tinsito contra 0 matr'st infator (hips gue flodem ser adequsdanente chamadas, espectivaments, de penasdisciplirares penas governativas). Faiese hoje num “irelto administrative pena {roxiaa do dit fetal sxausneste plo uso de saneSes ebbutves © > Gul, porisso mesmo, devem apicarst os pric ireit penal (ef, Reve Jnterntionate de Droit Pénal, Toulouse, 1988, v.§9, nts 1-2, p, $20). Comple- imentacse dstingloobservando que a pena alm do carter retributive, com fda pela ei como pena criminal, ov seja, dentro do quadro constituciona atlegal des penas admitida, subordinada sua aplicagio as eondigdes constitacionais © Tepais correrpondentes, 2 primeire das quais ¢ a jarisdigdo penal. Ao ‘procedimentejursdicicna!” como dstintv> complementar também reeorre Rosen (campentio d driue penate, P.Gx, Mio, 1080. p. 2). Vrinase (inte elemento de defingto de pena oferecide por Hart (op i. p. 5) Fragose Mhenciona a "conotagdo processual” que as expresses crimene delet tiveram ‘Osrune ete fase 9 direltoromano (Lipdes, cit. 29) + “Chine € todo aquele eomportamentohurano qv o ordenamento jurdicocastige comma pena’ {Josehec, op. itp. 7); "rime é we conduta que o legislador senviona com uma peta” (Musoz Conde, Inreduccicna! derecho penal, Barcs!o wo, 1975, p28), “xime ¢tada ago ou omissto pro bida pela ei, sob aeeaga de pene” (Fragoso, Lipdes,p. 147) ee ;ntuira Tobias Bare‘: “"0 coneeito de pena nic € um conceit juridieo, mas fim eonccito potico. © defeito dis teorias corentes em tal mafia consist [frtmente no ero de considerer a pena como ura conseqiéncis de Togieamentefardaca” (2p. cit. p. 177) 4 4 uma decisio judiciéria — que é também um ato politico —, 0 crime se poe como condigao de existércia juridica da pena’, compreenderemos a relacdo dialética que continuamente as- sociae distingue esses conceitos opostos, que se furdamentam se negam reciprocamente. ‘Assim vistas as coisas, o debate sobre a designaglio direito “penal”? oudireito “criminal” poderia sugerir o debate sobre o.ovo ou a galinha, nio fosse o concurso de trés varidveis, que examinaremos a seguir. ‘Acexpressio “‘direito criminal’” & mais antiga, 2 historica- mente se observa uma gradual prevaléncia da expressio “direito penal’’, que teria sido empregada pela prmeira vez, segundo Merger‘, por Regnerus Engelhard, em 1756, popula- tizando-se, segundo Bustos, apés a promulgacio do codigo penal francés de 1310" ‘A primeira varidvel que se deve considerar é < influéncia da opgao do legislador. Entre nés, no Inpério, a Constituicio recomendou que se claborasse um cédigo criminal", no que foi obedecida com 0 Cédigo Criminal de 1830. Ja 0 primeiro c6digo da repablica, de 1890, se chamou Cédigo Penal, ainda que a Constituicac republicana de 1891 viesse a referir-se a “‘direito criminal’, As demais consti:uigdes adotaram a de- signagio direito penal”, e o cédigo de 1940 se chamou Cédigo '5 Navarrete fala em “ecusa™: °O erime 6 @ causa Juridica da pens, e mais excia- mente o se fundamesto” (Derecho penal, P-G., Barcelona, 1888, p. 28. (6 Tratado de derecho prnal, trad. R. Maioz, Madi, v. 1, p. 2 1 Inaroducciér al derec'o penal. Bogats, 1986, p. 3. 4 Constituigée de 1824, ar 169, inc, XVID: “orpanizar-se-i quanto antes um ‘bdigo civil, crimina, fata mas Soka bases ea Jusigae Eade". 9 No inciso 23 do artigo 34, que previa x comperéacia do Congsesso Nation "Tegislr sobre o dite civil, comercial criminal da Repiblice co processual da stig federal. 10 1934 —ant. 5, inc. KIX, al. a; 1937 —art 16, ine. XVI;1946-—an. Stine. XV, Al, a; 1967 —ar. 8: ne. XVM al. b(atido na Emenda n | de 1969); 1988 — at. 22, ine. 1. Enize ns, foi Roberto Lyra qeem chamow a alengio part + Jmportiaciada texto constitucieal, mm livro q+, por influéncia do posiivismo ferriao, se shamavssntrodugda ao erndo do direito criminal, Rio, 1846, p. $7. 45 Penal. Taf influéncia & perceptivel em Damésio", Mayrink da Cesta", Basileu Garcia, Mirabete" e Magalhies Noronha'*. A segunda variivel diz respeito a paradigmas doutrinérios que impliquem nomear o direito penal dessa ou daquela ma- neira. No proceso histSrico de prevaléncia da expressio direi- to penal, Bustos vé certa intengdo ce “‘acentuar 0 caréter sancionador deste direito como seu trago mais distintivo © definitério’**. Partha dessa linha, entre nés, Brito Alves, qus privilegia a locugao direito penal por ver na punibilidade a “‘nota especifica do crime, a sua consequéncia juridica mais, natural ou légica, como a circunstincia predominante, como a cacacteristica maior", E sempre lembrada a designagao Cé- digo de Defesa Social, introduzida (1936) em Cuba". O uso da expressiio direito criminal, em 1946, por Roberto Lyra, expri- me a influéncia que sobre ele exercia o pensamento de Ferri". 11 “°Nés possuimos um cédiga pena, razio pela qua preferimos a expresio Dirsito Penal, aceitand a preilegio do tegislador” (op. cit. p. 4) 12..." pais de 1890 nos legislaghpussou a denoninar-se Cig Penal. Sequins a tradigio" (op. ei. p. 5) 13 “"Possatmos um Cédigo Pexsl, nfo um Cédigo Criminal. Deve ser setito, pois, pra thu da maria 0 sugerido pela Iki posiiva™ (op. cit. p. 8) 14 "ems consonincia com a legislogio pita” (cp. eit p. 14), 15 “Opiamos,extctanto,peladsdieito penal, em consonincia com 0 Cédigo" (op. cit. p.3). 16 Introduccion, cit, p. 4. A mudansa importante, egstea Busto, etava 20 sbae- dono da idia de expiazio, substtuida pela de pena, astocida historicamente "8 ‘concepgie de ectado de dista © 20 principio rullum erimen malla pene sine lege” 17 Direto penal, P.G., Recife, 1977,p. 111. A afise na yena nd significa que este ‘autor atibua no dircts pera! fungées estitamentesurcionadors (cf. p. 113). 18 Fortemente infivenciato pelo postvismo e, "segundo os préprios autores, ins- piradona kein ferriant dedefesu social (Martinez Rincones, Sociedad yderecho penal en Cuba, Boge, 1986, p. 62), ta eddigo, a2 contririo do que possa pensur-se, nfo conferia vigencla aos postulados da primeira defesa socal disso se ‘queixava Gramatiea (rineiplas de defensa social, ta. Prado © Aparicio, Ma- ‘i, 1974, p. 209). 19 Irirodupdo a0 extudo do dreito criminal cit. E1953, Lyra publica sus Expres- so mais simples do sircite penal (Rio, ef. J. Ronfin2). Sua peculiar forma de ‘organizar a6 dscipliras eriminals cootemplara, dorvvaate, um dircto penal ‘normative e um dieite penal cientiico (ef. Novo dieirs penal, Rio, 1980, p. 1. 46 Outras designagées de regéncia doutrinéria costumam ser evocadas™, A varidvel mais importante, contudo, diz respeito ao al- ‘cance descritivo da designacao proposte, isto &, & sua capaci- dade de compreender determinados contetidos. Mestieri, por exemplo, opta por Direito Criminal porque deseja abranger também 0 direito processual penal e respectiva organizacao judiciria’. Aqui, a principal objegdo a designacao direito penal foi oposta pelo advento, no final do século XIX, des medidas de seguranga’?. Como diz Mir Puig, “0 diceito penal 20 Tals designagies nem sempre signiicam nomeor, sento erienar dirito, 10 ontririo do que pode supor o iniciants. Derecka protector de I eriminales, temprelembrado em tectos brasileiro de iniiapio, nfo € oname deum antepr>- jjto de digo elahoraca por Dorado Montero, € sino nome da sogunda edicdo revista eaumentada, er dois volumes (1915), de seus Estudios de derecho perma! preventive. Atrs desndesignasao estan a mais humanistieae geteresavertemte ‘qve 0 posiivismo conszntiu — por isso mesmo, rompida com ele aa vulgaidade deterministiea do homem delinguente —,capaz de pretender da administragao da justiga uma fonga0 de medicina soci, fraterca mente compronetida com & criminoso-paciene, com quem deve rear, exquanto agente soc, x responsa- biiidade — soldiria coleiva — peio crime-deenge (Bates pura um ane derecho penal, B.Aizes, 1973, pp. 65 2). Domnesmo modo, “dieko repress apenas tla de um livro pablicade, em 1883, em Turim, jlo posit ia (Prolegomeni allo studio del rio repressive. 21 Op. cit. p. 4. Frosali reunia numa sé obraoestudado drstowdo aozesso peral sein renunciar meta designagio, porém atribuia & obra o culo geal de Sistene penal italiano, © dozignou of irés primeitos volumes, de *direito penal eo dime de “dieto processual penal” (Frosali, @A., Sitter ‘penale italiano, Turi, 1958). 22 Da verifieagio do fraciso prico da pene (expresso na muti-reinciéacia ea asconsio da criminalidide) edo deternismo positvisn, que lhe questionava 05 fundamentos.surgiram as medides de seguranca como segunda ove de 0530 jurldica ao crime, aplicfveis no pressuposto da perigosidedse nS, como pers ds culpabilidde do incividuo, Ao lado das penas,autonomamente aplicdvels, as iedidas de seguranga eomporiam wm regime bindrio (pena e media). Recebidas no diretobrsileir pelo Codigo Peaal de 1940, por direia inftutacia do C6izo Rocco, com desempenio inteiamentelneticaz, foram crsideraveliente redui- ‘das em 1984, suprimlsdo-se seu aspecto mais pelémico (medide de segurangs ‘etentiva para imputdves). Hoje, subsktem someate 2 intereuyioem hospital dz costédia © trtamento psiquldiie ¢ 0 raumento embulatoral pam inimputiveis ‘x, sob regime vicoraste (pena ou meds), per semi-impativeis 47 | nfo € hoje apenas 9 direito da pena”; ciante das medidas de seguranga, ‘“direito penal parece expressio demasiado estreita para abranger tudo ¢ que pretende significar hoje". Essa a wo que levava Costa e Silvaa dizer que ‘‘a denominagao d= ‘26digo penal nfo se adapta com exatidao & matéria contida nesse diploma’”, ou Magalhaes Noronha a reconhecer que a -xpresstio c6digo criminal ‘*é mais compreensiva’™, ou Ba- leu Garcia a referis-se a0 ‘‘plausivel fundamento” da locu- fo “‘direito criminal’™*. Deve prevalecer a expressio direite penal. Em primeira lugar, porque, como vimos, a pena é condicao de existéncia juridica do crime — ainda que ao crime, posteriormente, 9 direito reaja também ou apenas com uma medida de se- guranga, Pode-s2, portanto, afirmar com Mir Puig que @ pena “‘ndo apenas € 9 conceito central de nossa disciplina, mas também que sua presenga é sempre o limite daquilo que a ela pertence’””, Em segundo lugar, forte as medidas de se- guranga constituem juridicamente sangdes com cardter retri- butivo, ¢ portanto com indiscutfvel matiz penal. Na Exposi¢&io de Motivos da lei que reformou a Parte Geral do Cédigo™, representando aopizido comum no Brasil, estd registrado que a medida detentiva para imputaveis € “*na pritica uma frago de pena eufemisticamente denominada medida de seguran- ga’". Afirma Zaffaroni que, “'salvo 0 caso dos inimputaveis, 23 Iniroduccion lar bases del derecho penal, Barcelona, 1976, p. 18. 24 Comentirios o eSdigo penal brasileiro, 8. Paulc, 1967, p. 16. 25 Op. cit, p. 4 Rebertc Lyra dizi que a denominsgéo dicit criminal & ‘mais sulbstancios, mal: compeeensiva, mais durloura, brangendo os iesponsivels ‘vendo so apenotos e as medidas de seguranga que nto sie penss" Unradusco, +P. AD). 126 Op. cit, p. 7. 27 Op. cit, p- 26. Mir Quig desenvolveu wm argumento de Rodriguez Devesa, verstndo ae medilas de seguranga prédelivals, ora conclir que mesmo ao Alireito penal atea a ssposigto de um fato apenado pet lei. 128 Lei nt 7-209, de 1 jul 84, CF. Exposigo de Movivos,n! 87, da Messagem nt 241783, do Poder Exezutivo. 48 sempre que se tira a liberdade do homem por um fato por ele praticado, o que existe é uma pena’ ‘Contudo, no hesitamos em afirmar que mesmo as meci- das concernentes a inimputdveis, aindz que se orientem para fins de protecdo e methoramento, operam pela via retributiva da perda ou restrig&o de bens juridicos ou direitos subjetivos. e ostentam igualmente matiz penal. Neste sentido, peremptoria mente, Fragoso: “‘Néo existe diferenca ontolégica entre pena medida de seguranza’™, Em todo caso, quem ndo quisesse ir tio Jonge poderia contentar-sc na verificagio de que mesmo a imposicao dessas medidas pressupde o cometimento de um crime — algo que 36 ‘se constitui juridicamente a partir da pena. Por tudo isso, € também porque, histérica e antropologicamente, sdo as penas, tais como efetivamente executadas, que definem abjetivos e perfil da categorizacao juridica de condutas humanas como crimes e de seu correspondente tratamento politico, o melhor nome para nossa disciplina é direito penal. 29 Da temativa, , Paulo, 1988, p. 27 30 Ligdes, et, p. 293. 49 §6 ‘As trés acepgdes da expressiio” direito penal” A-essa altura, j4 se percebeu que a expressiio “dircitn penal” é utilizada, “requentemente no mesmo contexto, om “rés acepgdes distin-as. Por direito pena. se designa, inicialmente, © conjunto das normas juridicasque, mediante a cominagdo de penas, estate oy crimes, bem como dispaem sobre seu prdprio ambito de Nalidade. sobre 1 estrutra e elementos dos crimes ¢ sobre a ‘aplicagdo e execucdo das penas ¢ outras medidas nelas previsics. Chama-se a esta acepcio direito penal em sentido objetive ow simplesmente diceito penal objetivo. ‘x seu lado, introduz-se uma acepgiio segundo a quai dircito penal exprime a facildade de que seria Ctular o estado part co~ ninar, aplicar € cxecutar as penas, ap-eendida como dircito Subjetivo (dat, dteito penal em sentida subjetivo ou simplesmente direito penal subjetivo). Se com respaito ao direito penal objetivo Uns poenale}, dentzo evidentcmente de quadrantes douirindr os tem distintos, prevalece certo consenso, 0 dircito penal subjetivo Tus puniendi) desperta acirrada controvérsia, havendo quem Negue sua existéncia enquanto direito subjetiva ou o valor teérico da classificagio. ‘Outras vezes, contudo, ao empregarmos a expressio dircito penal estamos nos referindo ao estudo do dieito penal, apro~ priagio intelectual de conhecimentos sobre aquele conjunto Ge normas juridicas ou aquela faculdade do estado; usi-se a ex- 50 pressio, af, rumaacepgio decciéncia dodireito penal, oudireito penal-ciencia. J4 fo: muito abservado que, especialmente para b iniciante, o fato de a ciéncia e de seu objeto terem o mesmo nome (“‘dircito penal é a ciéncia que es:uda o direito penal’’) pode gerar alguma perplexidade e confusio. Nos préximos parégrafos, procuraremos desenvolver al- guns aspects essenziais dessas réschaves de absbadaque, nos planos normativo, politico e cientifico, se relacionam e se dis- tinguem, embora usem o mesmo nome. 51 §7e O direito penal como direito pablico O posicionamento do direito penal objetivo dentro do dir. to paiblico interno costuma ser extrafdo, por uma perspectiva conteudistica, de supostos objetivos sociais gerais de suas 101- ‘mas, ou, por uma perspectiva formalista, da exclusividade imperatividade com as quais o estado as impée. A primeira perspectiva se integra MagalhdesNoronha: ‘“Pertence 0 dircito penal ao direito piblico. Violadaanorma penal, efetiva-se 0jus plniendi do Estado, pois este, responsével pela harmonia ¢es- tabilidade sociais, é 0 coordenador dos individuos que com- poem a sociedade"”; & segunda, Basileu Garcia; “Se s6 pode ser excrcido pelo estado, se a fungio de impor penas (...) € essencialmente publica, 0 direito penal constitui necessaria- mente um ramo do direito piblico interno’. Em seu texto de iniciagao, Miguel Reale, caracterizando uma relagiode dizeito piblico pelo “fato de atender, de maneira imediata e prevale- cente, a um interesse de carter geral”’, afirma que a criminal zac da apropriagao indébitando atende apenas ao interesse da vitima, e sim ao interesse social, e “‘por esse motivo, 0 direito penal é um direito piiblico, uma vez que visa a assegurar bens essenciais a sociedade toda’. Filiando-se a ambas as perspec- 2 Op. ci 5 Ligdes prelininares de direto, 8. Paulo, 1973, p. 388: “quan¢o uma norma [protte que alzuém se apropie de um bem alksia, nfo estécvidarda apenas do Fnterese da vitime, mas, imedita e prevaleceatemente, do interese socal” 52 : tivas, Fragoso fundamenta a inclusdo dodireito penal nodireito piiblico no s6 porque sua protege “‘refere-se semore a interes- ses da colerividade"’ como também parque *‘o estado detém 0 ‘monopéliodo magistério punitivo, mesmoquandoaacusagioé promovide pelo ofendido™. Uma revisdo dessas perspectivas fundamentacoras supde a intervencao de trés linhas criticas: 1' critica da distingao a- hist6rica entre direito piblico ¢ direito privado; 2: critica do estado como abstracao a-histérica; 3: critica do positiviemo juridico-penal. Em primeiro lugar, portanto, cumere verificarque a distin- 40 direito privaco—direito paiblico era comple:amente des- conhecida das priticas penais primitivas, nem ‘eria sentido perante elas*, aparecendo pela primeira vez no dirzito romano, na famosa passagem de Ulpiano*. Sabemos como se deu, em Roma, a superacdo do regime gentilico pelo incoercivel movi- mento da plebe afluente, que conduzie.& ‘*destruigéo da antiga ordem social funcamentada nos vinculos de sangue"”, substi- 4 Ligdes stp. 2. Sobre oaspecto, Abul Bruno “seemcertos casos atiagio do ‘iteito pai fica dependente de queixa do ofencd e sé este pode proveear 0 ‘mavimenta da justia, isso € mera condigao do processo, que no altera ocariter definighe e cominacio penal e da aplicagio e execusdo ds sangio Top. ets, ¥ Ls. 15,9. 23) ‘Max Weber, Econoria sociedad, td. J. Eciavaria eal, Bagot, 1977. ¥. 1, 1. 503; Mechado Neto, Compéndio de inroducdo d citacia dodireio, 8. Paulo, 1975, p. 41; Losaro, op. cit, p. M0. 6 Digestos tv. Util 1, $22 “Edita publice aquele que se efere ao esto da ‘colks Romana (ad sanun ret Komanae speci) privaco,aquel: (que se reste) 2 ilidade d cds incividuo (quod ad singulorur wllitare); po sumas cosas sto is pdblicwe outresprivadamene, O direitopblico consist nas coisnssaprt- 38 des sacerdotes as dos magistrados (Fv sacerdotbus, in magsiraibus consis), Odireita privada tripatéo, poisest composte dos preceitosnatiai, fou dos dis genter, ov dos civis (er notwralitut praeceptis, aut gentivm, cut ‘iilbus)", Coma observa Bonfante, aexpresilo res publica ronunacorresponde ‘bo temo “estada”, em zentie polfica, enquantosiatus corespande a0 resmo termo em entide ontolégico ou natural (nstine‘ones de derecho romano, td. L. Brocl ef al, Made, 1965, p. 13) 17 Engels, F.,A orgem da ania da prpriedade pivata edo esta, tad. L. Kent, in Obras excolhides Rio, 1963, v3, p. 104. 0 termo “estado” (dst) & também empregede ror Guarino (La rvahcione dllaplebe, Naples, 1975, p-258). 53 torial. A distingao direito privado—direito paiblico, no process hist6rico que estatui e conduz.a repiblica romana, nao conse- ‘gue disfargar que in:eresses privades do patriciado se conver terdo, pela mediacao do estado, em interesses piblicos:a adc- tar-se essa formula Ja wilidade (Ulpiano), nada foi mais stil para a sobrevivéncia do patriciado do que o surgimento hist6r:- codoestado, e, neste sentido, nada nasceu mais privadodo que © piblicot. De qualquer sorte, estabelece-se uma tendéncia a que o poder (imperium) sejaoeixo do direito pablico, enquanto apropriedade (domi nium) seja0 eixodo cireito privado, eefeti- vamente 0 estado tende a monopolizara titularidade co exerei- cio de dircitos piblicos, discernindo-se entre as atribuigdes politicas do monarca e seus direitos privados’. A Idade Média assistiria 4 superposigdo daqueles dois eixos — imperium e do- ‘miniua —na pessoa do senhor feudal, cujo poder politico deri- vava da propriedade da terra e da forma peculiar de sua exploragio". Com a dissolugao do mundo feudal, dando par- tida & ascensdo social da burguesia ¢ ao processo politico de formacdo dos estados nacionais, reanima-se a distingao. Rad- ' Obviamene muito cistane dessa in, Del Vecchioregistave que “ocr deist slidade€ assaz incerta. Néo podem separarse, dé um meio seguro cnitido, os intreses gers dos interesses particles” (igdes de lasofia do dive, td. A. Brando, Coimbri, 1970, 300). Pade demonstr-lo » longa convivéacn romana trite 0 direto penal privado e 0 direlio penal piblico, bem como « gredativa teansmigrazdo de rai criminal do priieko pare o segundo, desde que nko nos conformemes com 0 dingo process, ¢ tents eaptra sus logein subst ‘ila patr respaivamente da csciplina penal deméstcae do direito de guena. Vejase, amplamene informativo, Moms, Le droit pénal romein, tra, Du- uesne, Pais, 1907, ¢.1, p. 16.073. 9 Hermes Lim, Inrodgéo 8 cifncia do deta, Rio, 1985, p. 64 10 Sobre especto, Leo Haberman, Histriada iquza do home. ral. W. Duta 0, 1979, cop. Reps Pesukanis que "os ditospublicns do senhor feudal sobre os serves erum 30 mesmo tempo s2us direitos come proprietitio privad; de m>so eefproco, seb dreitos¢ ineressesprivados poder er interpreados, se se quer, ome dicites poco, isto 6, pablicos" (eorta general del derecho ymarzism, trad. V. Zapster, Barcelona, 1976, . 116 34 bruch dird que "a superagio do feudalismo coincidiu com 0 aparecimento da censciéncia dessa distingao entre direito pi- blico e privedo"™". A burguesia revolucionéria desiruiré 0 a>- solutismo, conferindo positividade juridica aos direitos de s=u imediato interesse econ6micoe politico. atéentiodeduzidos da ‘azo como “direitos naturais”, ¢ logo os instalari nos textos Constitucionais como direitos subjetivos pablicos". A distin 60 direito privado—dircito pablico novamente seri chamada @ proclamar como deutilidade geral aquil quem véspera da pro- lamagao legal era do interesse particular de uma classe social ‘Com 0 advento de revolugGes socialistas, e com alteragées operadas no capitelismo (do capitalismo competitivo, corres- pondente ao estado gendarme, a0 capitalismo monopolista, 40 Crescente intervencionismo, a0 Welfare State), surgememn2s- so século novas propostas paraequacionar a relagao direito pa- blico—direito privado. De qualquer modo, assistetoda razao a Machado Neto quando assinala ‘‘o cardter hist6rieo- condicionado dos dois conceitos ¢ da distingao'”"’. Em segundo lugar, e como entrevisto anteriormente, :m- porta questionar esse estado promotor da ‘‘harrronia ¢ esta- bilidade sociais, que visa a ‘“assegura: bens esserciais & cole- tividade toda", permanente defensor dos “‘interesses da coletividade"’; importa, em suma, ‘‘desmitificar o papel do estado’” Para isso, é preciso ter presente que o estado, ccmo historiograficamente demonstrou Engels, foi um produtc de sociedades que, em certo grau de desenvolvimento, se enre- ‘daram em contracig6es, advindas de antagenismes inconcilis- veis, e para que as classes com interesses econdmicos coliden- 11 Filosofia do direc, tad. L. Moneaia, Coimbrz, 1961, v. Il p13. 12 “Yitorose, a borpuesi eve necessidade polica de estabelecer que set ‘onlem socal, sev medo de vida eramtemos eimodiciveis que, 2omssmo tempo, Sempre exatiran"" — Paulo Bessa, Caner itrodugdo co dri, Rio, 1936, P 19. 19 Op. cit,» 283. CCapller, W., 0 discurso juriico € o Homem, in D. Araije ya, Desordem process ci, p. 172 55. tes nfo se entredevorassem, estabeleceu-se, dentro do espec- tro politico no qual concretamente podiam resolver-se tais contradig6es, um poder aparentemente acima da sociedade — mas dela originado —, que ¢ 0 estado”, o qual adquiriu logo ‘uma “*configuraclo cutOnoma de interesse geral’”, embora, na sociedade de classes. isso ndo passe de uma “‘iluséria comuni- dade de interesses’'". Por isso, através da deformagao ideol6- ica, como lembra Guastini, 0 estado pode aparecer “'como ‘encarnagio do interesse universal-abstrato, distinto e superior aos interesses particulares-concretos antagOnicos, que se agi- sam na sociedace civil’. O direito 0 estado — ensina Muitoz Conde — *‘ndo so expressies de um consenso geral de vontades, e sim reflexdes de um mode de produgao, formas de protego de interesses de classe, da classe dominante no grupo social ao qual esse direitoe esse es:ado pertencem". Ou, nas palavras de Lyra Filho, “na sociedad: de classes, 0 estado, como sistema de orgios que regem a sociedade politica- mente organizada, f:ca sob o controle daqueles que comandam ‘© processo econdmico, na qualidade de proprietirios des meios de producio"””. Em conseqiitncie, o poder politico do estado tem limites © orientago no poder da propriedade privada dos meios de produgdo; Leandro Konder transcreve um excerto de Ma-x, segundo o qual apenas sobra para 0 estado “a ilusio ce que determina, quando na verdade é determinado"™®. Diante disso, convém nao s6 reavaliar a fun- io ideol6gica muita vez desempenhads pela distingio direito privado—direite pillico, como também receber com reservas 15 Opec. p. 136. 16 Mare, pu Guastni, R., Marx-— della loro de dirinoatasciensadebasocerd, Botosha, 1974, p. 295, No meso sentido, Maniena Chaut:“o esudo € una ‘comunidads ila” (0 que @ ideologia, S. Paul 1984, p. 70). 17 Lee. cit 18 Derecho penal yconrol social, Jerez, 1985, p. 4 18 O que é odireino, 8, Faso, 1982, p. 8. 20 acrtca do joveri Mars concepeo hegelian does ado do dicito in Anjo Lyra, . (org), Dezordem e process, cit, 140 56 proposigdes que tenham como premissa um estaco abstrato, achist6rico, neutrc e igualitério guardido dos interesses de todos. Diante da colocacdo citada de Miguel Reale (a crimi nalizagdo da apropriagao indébita nac atende apenas ao in- teresse da vitima, ¢ sim ao interesse social), devemos pergun- far-nos — sem que isso implique incondicional oposigéc a alguma tutela penal da propriedade — se a criminalizagio da apropriagao indébita atende igualmente ao interesse de propric- térios e de ndo-proprietérios. Por iiltimo — e agora implicando também o direito pe- nal-ciéncia —, cabe a critica do positivismo juridico-penal, assim entendido como a postura que reduz o objeto de estudo do penalista exclusivamente 20 direito estatal, a partir da afirmacio de que “nao existe outro direito além do direito positivo', Partimos da premissa de que 0 trabalho do cien- tistae, em certa medida, a fronteira de seus resultados, princi- piam pela eleicdo e construgdo do objeto do afazer cientifico. Nao se pretende aqui aviventar a polaridade jusnaturalis- mo-positivismo juridico. Ha textos de iniciagiio que fazem profissdo de fé jus-.aturalista, como 0 de Baumann: “‘a cssén- cia do auiéntico direito penal concorda com os dez mandamentos’”™. A ferocidads iracional da legislagio penal nazista suscitou importante polémica sobre 0 tema”, que ora nao abordaremos. Como técnica juridica de garantia (a famosa 21 Emprego aqui a“ ditngo assimética" de Bobbio. que caracterizo usnaturaismo pelt distingéo entre dfeito natural © o posiivo, som supcemacis do primeira, e fnrcteriza apesivism por ndo admit aquela dsingbo(Giasnattralismo epasti- vismo giriico, Milt, 1977, p. 127). 22 Dench prt — cons dome y ata. B Abs, 17, P 23 Cf. Rudonuc, Leyes que no son derec y derecho por encima des eyes, tad. R. angus, no volume Derecho injusto yderecho mo, Mads, 197; Barta, Pasi amo glurdico e scimza del dirito penele, Milto, 1966; Nilo Batista, Justga ciminal juss cimizoea, i ROP 1232. De fone lapider, Radbrchassinalou que ‘0 postvismojoridico abslutorevelot-e “o instramencojriicoideal de todes os regimes que quiserar- dar expresso legal 2 injstia e (..)exiir acotamento & ‘sbirariedace natitucfonlizada (La naraleza dela cose camo forma Juric del ‘pensamien, Cétobo, 1963, p. 13). 37 “sparreira infranquedvel da politica criminal””), 0 direito penal tem que jungit-se & lei penal: nao se pode infligir pena sem cominagio legal anterior ao fato (prinefpic da reserva legal, ou da legalidade), A ““necessidade de limitar 0 risco da arbitrariedade"™™ deve manter distante do direito penal esse *-fantasma proteiforme"” que Fassd divise no direito natural’: isso nem deve significar que o oficio do penalista se converta num culto votive as normas estatais, nem exclui de —— interesse 0 que ba ce penal para além dessas normas. “A. percepgao da lei coma objeto vinico do fendmeno juridico nada mais € do que um reducionismo vinculado a uma tradigéic jeoldgica identificavel com a consolidagao do estado Tiberal’’, ensina José Eduardo Faria®. Como frisava, com seu peculiar vigor, Lyre Filho, ‘‘se 0 direizo é reduzido a pura egalidade, j4 representa a dominegao ilegitima, por forga desta mesma suposta identidade; ¢ este ‘direito’ passa, entao, das normas estatais, castrado, morto e embalsamado, para © necrotério de uma pseudociéncia, que os juristas conserva dores, nao 4 toa, chamam de dogmitica’’”. Sem divida, 9 ‘objeto privilegiado do direito penal so as normas jurfdicas estatais, tal como von Liszt apontou em: sua influente defini ‘so (staatlichen Rechisregein). Eniretaato, pode o cestudioso {bo direito penal brasileiro do século XIX ignorar o direito penal doméstico, o grande sécio oculto — ¢ majoritario — co ireito penal comurr no controle terrorifico da escravaria? Quais fas verdadeiras normas processuais da ditadura militar, duraa- te nossos **anos de chumbo": aquelss que constavam do Cédigo de Processo Penal Militar e de dispositivos da Lei de Se- guranga Nacional, ou outras, que nunc puderam ser lidas em nenhuma biblioteca, mas permitiam 2 tortura, a morte © @ Fh cnt Din, Dirt penal (ui ds Lifes), Coin, 197.3 Sted eae gine, 0, 174, p. 2 - Fae cao com: parce dogs ii, rao tym Bernd» proves, cl... 2 Ope ck PID 58 ocultagio do cadaver de indiciados? A face ilegal do sisterna penal’, com suas detengdes arbitrérias, espancamentos e exe- cug6es capitais, em nada nos interessa? Somente as formas penalmente tipicas (seqiiestro qualificado, custédia indevida, maus-tratos, violéncia arbitréria, por exemplo) do exercici abusivo dos contrales psiquiétricos ¢ disciplinares nos dizem respeito, e nao a urdidura normativa subterrénea que articula sua aplicagdo incensiva contra grupos minoritérios ou dissidentes? O estudo do direito penal que inclua este contr onto, através do qual as normas e préticas penais de determi- nada sociedade podem ser entrevistas em sua globalidade, sem circunscrever-se ao discurso legal do estado, nio deve sacrifi- car a qualidade técnica da reconstrugio do direito positive, perdendo-se no labirinto ilusdrio da polaridade jusnaturalis mo-positivismo. Com rara preciséo, sentenciou Marilena Chaui: “‘Abstragoes gémeas, o positivismo juriico tome 0 direito como um fato, enquanto o jusnaturalismo o apreende como idéia, Ancorado na positividade imediata da Ordem, 0 positivista dissimula a significagao social de seu cenceito-cha- ve, isto é, que em sociedades divididas em classesa ‘orden’ é apenas o que a classe dominante ordena. Apoiado na idecli- dade imediata da Justiga, o jusnaturalista mantéma génese do justo fora do movimento social que 0 constitui ou que 0 dissimula. A crenga na positividade do ‘dado’ e a confiangana imobilidade da ‘idéia’ fazem com que 0 positivista € o jusna- turalista percam 0 movimento hist6rico pelo qual os dados se cristalizam em conceitos € as idéias se petrificam em institui- des, perda que deixa a ambos na impossibilidade de compre- ‘ender como a ordem ‘dada’ se converte em ordem necesséria € como a justica ‘pensada’ se converte em legalidade institufda’'. Aquela “lei natural do direito”” a que se referia Tobias Barreto (cf. § 11) restaré melhor esclar ida se nos 28 CF, Zafarsi, Manu, ct, p. 32. 29 Marlena Cea, Roberto Lyra Filho 08 da digsidade potica do creo in Arajo Lyra (01g. Desordem e process, ct. p18. 59 dermos conta, como Fassd, de que ‘‘anatureza do homem 6 a histéria, que se realiza na multiplicidade do devir dos indivi- duos e dos povos”™; um direito antropomérfico nio procura radicar-se nem na coercitividade cega de sua prépria valicade, nem na miragem de uma justiga algébrica 2 intemporal, sendo no conereto processo hist6rico em que sc insere. Ressalvado, portanto, 0 cardter hist6rico-condicionado da distingdo entre diteite privado e direito piblico; empreendida acritica do estado como abstracao a-hist6rica; ¢ verificadas as Iimitagdes do positivismo jurfdico-penal, é correto afirmar-se que 0 direito penal pertence ao direito piblico interno, 30 Op. cit p. 29, $8 Principios bisicos do direito penal Como afirmou Kaufmann, ‘toda legislagio positiva pres- supde sempre certos princfpios gerais do direito™". A procura de prinefpios basicos do direito penal exprime o esforgo para, a.um s6 tempo, caracterizé-loe delimitd-lo. Existem efetiva- ‘mente alguns prine{pios basicos que, por sua amla recepoao na maioria dos ordenamentos juridico-penais zositivos da familia romano-germanica*, pela significagao politica de seu aparecimento histérico ou de sua fungo social, e pela reco- nhecida importincia de sua situago juridica — condiciona- dora de derivagozs e efeitos relevantes — constituem um patamar indeclindvel, com ilimitada valéncia na compreensio de todas as normas positivas. Tais princfpios bésicos, embora reconhecidos ou assimilados pelo direito penal, seja através de norma expressa (como, por exemplo, o principio ca legalidade — art, 12 CP), seja pelo contetido de muitas normas a eles adequadas (como, por exemplo, 2 inexisténcia de pena de morte ou mutilacdes— art. 32CP— en objetivo ce integragao social na execugao da pena — art. 1° LEP — com relagao a0 prinefpio da humenidade), néo deixam de ter um sentido pro- gramético, e aspiram ser a plataforma minima sobre a cual 1 Anatogia y nanrateze de la cosa, Sango, ITE, p. 8. 2 "As colénis espanholas, portaguesss, frncesas © holudesas da América (..) scsitaram de modo completamente natu as conce aes juridcas ropias familia somano-genninica”” — René David, Las grander sistemas juraicar cantenpard- ‘eos, tl. P. Gala, Pai, 1969, p. 37 61 i weal Ihe + i Ne Mie ee ie possa elaborar-se 0 direito penal de ur: estado de direito democritico. iz E comum que os autores procurem deduzir tais principios, seja de seus conceitos de direito penal, seja das conexées deste com outros ramos do direito, seja de ‘*saracterfsticas” do proprio direto peral, ov ainda situé-los como prinefpios inter- pretativos. Assim, para Navarrete o principio da intervenga0 minima seria umanova dimensio do fundamento da afirmagao do cardter fragmenté-io do direito penal’. Para Mir Puig, 0 principio da fegalidade configura um limite de intervencio Serivado do fundemento politico do direito penal subjetivo’; € também da perspectiva de limites a0 jus puniendi que Bustos extrai, entre outros, os principios da intervengdo minima ¢ da legalidade’. A subsidiariedade do dircito penal, caracteristica que sem divida se relaciona com o prineipio da intervengio ‘inima, é examinade, por Maurach a partir das conexoes entre a direito penal e os demais ramos do direito*. Para Zaffaroni, principio da humanidade integra um conjunto de cfnones @ Eerem observados ne interpretacdo da lei penal, ainda que © houvesse anteriormente deduzido, sob a expresso da propor- cionalidade da pena, de seu refinado corceito de “'seguranca ‘uridica’”. 7 (0 que, inicielmente, reuniu esses p-ineipios basicos, de corigem, estrutura e objeto tio diversificados, foi sua natureza axiomitica € a amplitude de sua expansio légica. Quanto a0 primeiro aspecta, € comum serem referides como *postulados"”* ou ‘dogmas fundamentais’”. Com efeito, 3 Op. cit. p. 100. 44 0p, eit, PIL 1962, v.1.pp 2023. 7 Manual, city p 7 B Moumachs op- cit, pi: "do ponto de vista de police juries, a s8eyio © Teumulugio dessus medidas «© enconitan sutmetidas ao posndado de que no © Jpatffonplier umrecuso mas grave quando écebiveesperar-seomesmeresliads fe um esis suave” 19 Everarda da Casha Lura, Capitulo de dlreto pene. 8. lo, 1985, p31 62 sio eles dedutiveis logicamente de quaisquer outrose tampou- co demonstriveis. Sua larga accitago, que a progressiva con- quista hist6rica sedimentou, e as negagées frontais episédicas (como no dirzito penal da seguranca nacional) ou dissimuladas permanentes (como no desempenho do sistema penal nas so- ciedades de classes) s6 fazem aviventar, confere-lhes, a de peito de seu cumho preseritivo, um cariz de opinides acredita- das e verossimeis (endoxa), no sentido aristotélice retomaco por Vichweg", que os habilita a funcionar como premissas arbitrariamente tomadas, a partir das quais, contudo, no escla- recimento e reconstrucao das normas jurfdicas, se podem esta- belecer articulagdes légicas. De fato, ‘‘nio ha crime sem lei anterior’’ € uma proposi¢ao cuja conveniéncia pol'tica e cuja densidade moral sio amplameate aceivas tanto pelo homem comum quanto pelo especialista, embcra seja possivel cons- truir um direito penal sobre um principio oposto —como fez 0 nazismo". Quanto 3 amplitude referida, os principios basicos ‘comprometem o legislador, transitando assim pela politica criminal, e os aplicadores da tei — do_uiz da Corte Suprema a0 mais humilde guarda de presidio —, devendo ser obriga- toriamente considerados| pelos que se propdem a estuda-ta. Mais tarde, alguns dos principios basicos lograram obter reconhecimento ert nivel internacional ‘interessam-nos, espe- cialmente, a Declaragio Universal dos Direitos do Homem, da ONU, ea Convengio Americana sobre Direitos Humanos) ou em nivel interno (vendo-se consagrados no texto de Constitui- 40, como, com respeito a alguns deles, ocorre entre nés} Como os principios basicos implicam também caracteri- zar 0 direite penal, devemos, ao procué-los, descartar dese 10 Topica ¢ juripradénca, ad. Técio Sampaio Ferma I, Bras, 1979, p. 25. 11 Let de 28 jn alterov § 2: do enti vigemte edigo penal semi, que profit snalogla,afimanda ser "puaido quem conte um ato que ke deeara pune] ou (que € mereclor de punigdo segundo o conccte que 3 fundament s una ei penal © Segundo 0 sta sentimeato do pov se a ato no se puderapicar enhums norma penal deteminads, deveré cle ser puri de scorlo com 8 norm eujo conccio fundamental melhor ne sejaaplicvel”, 63 Jogo duas linhas. A primeira esti nos atributos de todo 0 tdenamehto juridico, como, por exemplo, seu cardter -inalista’”®. Como diz Zaffaroni, ‘'o direito penal, por ser direito, participa ce todos os caracteres do diseito em geral: & cultural, é normativo, & valorativo, etc’”*; por isso mesmo, tais atributos ndo nos interessam aqui. A segunda linha a descartar-se & aquela que se detém iante da propria sangao com a qual opera o direito penal —a pena —, para tomé-la ‘como sua caracteristica essencial'*, néo porque nao 0 seja, mas porque ficaremos perigosamente imobilizados numa redun- dinci Em nossa opinido, sfo cinco os prineipios bésicos do dircito penal: 1. prine(pio da legalidade (ou da reserva legal, ‘ou da intervengao legalizada); 2. prinefpio da intervengio minima; 3. principio da lesividade; 4. principio da humanidade; 5. principio da culpabilidade. Nos préximos arigrafos, forneceremos algumas indicagdes sobre cada um celes, em nivel genérico que corresponde a seu tratamento ne Embito de uma introducHo ao direito penal. 1 Mirabote, op. ci, 9. 1% Magalhes Noronha, op. sit. p. 5; Asia, Trad de llerecho penal, B. Ares, 968, 1,7. 35, Advita-se que o teri “finalist” Sant ‘Gopgiio no sentido de gue 0 drei pean sri tleolgicamente — coma, Thue cutma, a teora dos bens juridicos demenstaria — e persegue, através dt SGrninasio, apliagio e execugio da pen, fins; von Lisa, que mais consequent ‘te euuxes inspizando-se em Ihering, Tia de fin para 0 dirito peel fal ‘urna “pena de fim’, em oposigo a uma penn ques eogotasse na cetribulvide. ‘Tabemprego do tern fnaista nada tem & er com <3 transformages na eon cy ‘Time, dboradas a mctede deste éulo, prncipakneats por Mans Wetzel, que ‘Recboram o nome d "tea da ag final" uteri nasa, ou ainda simples mente "falls 13 Manual, eit, p- $8. Também a “coativi (ovate, op. cit, ps 06). 14 Registra Zatfuroni que a caracterntca que distnge » dicta peal de outs rames fis std seato "ao meio mediante © qual rov® 2 segoranga joridia: a pena” (anual, ct, p. 5) ldo" & um atibuo geral 9 dreho 64 Biblioteca Central - PUCPR §9 O principio da legalidade principio da legalidade, também conhecido por “principio da reserva legal’ ¢ divulgado pela formula “‘nullum crimen nulla poena sine lege’”, surge historicamente com a revolugdo burguesa ¢ exprime, ean nosso campo, 0 mais importante estégio do movimento entdo-ocorrido na diregao da positividade juridiea e da publicizacdo da reagio penal. For um lado resposta pendular aos abusos do absolutismo e, For outro, afirmagéo da nova ordem, o princfpio da legalidade a um s6 tempo garaatia 0 individuo perante 0 poder estatal € demarcava este mesmo poder como 0 espago exclusive da coergio penal. Sua significacao ¢ alcance politicos transcen- dem 0 condicionamento hist6rico que o produziu, ¢ o principio da legalidade constitui a chave mestra de qualquer sistema penal que se pretenda racional ¢ justo. Devemos abandonar a tarefa, mais propria de antiquério que de historiador, como diria Mare Bloch’, de zespigar em textos romanos alguma afinidade — ainda que sonora — com © principio, ou de cismar sobre a passagem do artigo 39 da Magna Cherta — que continha, segundo opinido dominante, 1 Essa a prefetncia de Frngoso,Licdes, ct. p. 84. Muoz Conde oa a desigacio “principio do interven lealizada’,o que Ibe permite empaell 41020 principio a inttvengto minima num qutdro gerade Tinstagio do poder punitive eda rniroduccide, cit, p. 58). 2 Inurodugdo Hist, tad, M. Manuel R. Gieio of, Europa-Anérica, 48.36, p43. 65

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