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Evolugio Politica do Brasit Caio Pato fe, actos Politicos Do populism & rademocratieario Lz Breser Pereira Poder, Foltica ¢ Partido “Antonio Gramsci A Revolucio Faltou a0 Eacontra 0: comanistas no Brasit Daniel Aarto Rew Fe Colecio Primeiros Passos 0 que-¢ Comunismo ‘Arnaldo Spindel © que € Parlamentacismo Raben Kelnet © que € Reforma Ageécia Jos! Bi Veiga © que € Revotucio Floestan Fernances 0 que ¢ Sociatismo Acmaldo Spindel Colecdo Tadeo € Histévia A Burguesia Brasileira Jacob Gorenider Caltara e Participagio aos Aaps 60 Hobs B. de Hollanes Marcos 4” Goagaives 0 Golpe de 1954 aaldo Bolo © Governo Juscelino Kubitschek Rao Maraahio Militarismo ma Amériea latina Clérs Ross © Poputismo aa América atlas ant Ligia Prado O Trotskismo na ‘América Latina Osvaldo Coggiola Maria Victoria de Mesquita Benevides O GOVERNO JANIO QUADROS 6? edicao PECLITA _ Lei de Gri: : m4 He 30. 10, docreta bean hacktn loa Q9--O!.-9s- editora brasiliense sem autorizaio prévia do editor. ISBN: 85-11-02030-6 Primeira edieao, 1981 6 edigdo, 1993 Revisio: José E. Andrade Caricaturas: Emitio Damiani Foto de capa: Carlos Amaro Capa: 123 (antigo 27) Artistas Graficos FEOLITA BIBLIOTECA W de Re ‘An. Marguts de Sao Vicente. 1771 ‘1133-503 - Sto Paulo ~ SP. Fone (Mt) 861.3366 - Fax 861-3024 IMPRESSO NO BRASIL Copyright © by Maria Victoria de MA. Bevevides Nonkuma parte desie publicagao pode ser gravada, ‘armazenada em sistemas eletronicos, fotceopiada, "reproducita por meios mecfnicos ou ovtrs qualquer INDICE O falso carisma f iia 7 Quem foi Janio Quadros ? ee 1960: A vitéria de Jénio ea quebra do sistema PORUBED gees ieonns ite inaeam Acima dos partidos, o bonapartismo janisia ... 30 Do tostio @ vassoura, 0 moralismo autorisirio .. 38 Entre nacionalismo ¢ “enireguismo", as pazes como FMI ...... ‘ a «£m politica externa o Brasil ndo é mais satélite $0 Areniincia --... 26.14 a Indicagées para leitura & Pend. S3953 UNTVERSTDADE ESTADIIAL DE GOL TOMO, a5; CA Vall DE: TTAPURANGA Stoney = | O FALSO CARISMA Sete anos © um dia ap6s 0 suicidio de Getilio Vargas, outro presidente, igualmente eleite ae? Pratt Yotaedo popular, deixava o poder de forma raumitica. Mas, além de carecer do sentiment ae grandeza, inegayel no gesto de Getilio, a renineks Ge gitlo Quadros permanece até hoje emvolta iq , Por mais superficial, sera inevi. Thre, Em Sua carta-testamento, bandeira do tobe thismo e do nacionalismo, Getilio referia-se a “Ine, Fx orultas”, orém identificadas com 0 imperia, tsmo €,a dizeita interna, temerosa do “famous popular” e das reformas econdmicas © sor Maria Vietoria de Mesquita Benevidly Governo Jénio Quadros nincia Janio referia-se a “forgas terriveis” que, em- nagao”, jamais foram apontadas. Nao seriam, por certo, as mesmas do drama getuliano. Afinal, Qua- dros candidatara-se com apoio de podetosos grupos econémicos exatamente em oposi¢ao & alianga parti- duradoura do carisma. Janio, apesar de insistente- ‘bras »s"" do politico carismatico, teve apenas a titarismo. O carisma desprende-se muito mais da sera, sempre, um falso carisma. Janio foi, sem dii- social e politico e das reais aspiragdes de participagio pone oe ou i ainda carismatico como Tito, Nasser ou De Caio = ae Janio da Silva Quadros, sucessor de Juscelit em Brasilia, a 31 de janeiro de 1961. Sua reniincia, a 2S de agosto, foi considerada uma ““traigao” aos da vassoura (simbolo de sus campanha contra a cor: rupgio) € nas promessas de redengao nacional. A interpretagio deste breve governo de sete meses esbarra, de inicio, em dois tipos de dificuldades: « queda no maniqueismo, pela condenacdo implicite de qualquer politica populista; e a sedugao de uma andlise personalista. ‘Quanto & primeira armadiha, trate-se de afir mar, como ponto de partida, algumas diferencas. O populismo expresso nos governos de Vargas (1950. 1954) e de Goulart (1961-1964) estava efetivamente vinculado aos movimentos socisis € aos partidos po- Iiticos, numa inequivoca tentativa de politica de massas. © estilo autoritario, moralista ¢ extems: mente personificade de Janio Quadros evocavs ur “populismo de direita’’—militerista, antipariamen: tare associado ao grande capital —, 0 qual, dirigidc Sa todas as classes, a0 conjunto da nacio”, termi nava por diluir 0 proprio significado de povo € d massa. Como indica Francisco Weffort — que ana lisou, para 0 primeiro caso, 0 “Estado de Compro misso” — Jinio Quadros sigrificava nao apenas + faléncia do sistema partidario, como o populism: evado a sua contradigao mais extrema e que se volt: contra si proprio. ‘Asegunda armadilha é mais complicada, Com: evitar o enfogue pessoal na anilise de um curtissim: governo, mareado do comeco ao fim pela figura oni presente de um quase-confesse candidato a ditador Em que pese o exame das carateristicas estruturais conjunturais da redlidade brasileira no periodo, tor w ‘Maria Viewria de Mesquita Benesid) Governo Jinio Quadros narse impossivel separar o governo Quadres da “per. tor politico, o ator teatral. O leitor pereebect, 2 entanto, que insisténcia nos tracos pessoais do pre sidente serd diretamente associada ao processo fale teoe aos fats Esta € nica sida park eer ersonalista. Tal perspectiva informa, portama's breve apresentacao: “Quem foi Janio Quadros?™, & as tentativas de analise sobre o moralismo autorhdcic {do tostéo a vassoura) e sobre o bonapartisme jening (aerenga em um goverro acima dos partidos) Uma eétebre bourede, atribuida a Miliea Cam- Pos, dizia que’ “Janio se elege com seus delete governa com suas qualidades”. Os deteitos seve Para o liberal udenista, os recursos populistars ng ualidaces seriam a independéncia, a administragas ificiente, a honestidade, Mas a propria UDN conn lerar-se-ia traida por seu cleito. Como entender a ascensio janista a0 posto de “candidato Meat" de odes, ent 1960, € rena de utes Senna zandovse a vittia de Janio como cause e conseaten: cia da faléncia do sistema partigasie © governo Quadros transcorred’ aum perfodo mareado pelo prentincio de grave erise ecoroimnn Bela diversificas8o dos movimentos socials Lise: Camponesas, transigao ¢o sindivalismo populism bano, intensificacdo das greves, etc. alors dy Grescente intervengio, tanto de militares quanto Tereja, na cena politica. (No quadro lntenncon modificara-se o tradicional balango da “guerre fe entre outras coisas pelos novos rumos imereen n Revolugio Cubana.) Tais questdes pertencem, é cla- ro, a problematica mais ampla da chamada Repi- blica Populisia. Nao sdo caracteristicas apenas do governo em foco: foram herdadas dos anteriores ¢ continuaram, com intensidade redobrada, no gover- ‘no Goulart. Neste pequeno livro, dada sua intencdo primeira e as dbvias limitagdes de espago, pretende- se abordar 0 que foi especifico presidéneia Janio Quadros e, por extensdo obrigatéria, ao fenémeno do janismo. Além dos assuntos ja referidos, e da prépria evidéncia da reniincia, dois grandes temas singula- rizam 0 governo Quadros: a politica externa indepen- dente (que culminaria com a condecoragdo do mi- nistro cubano Ernesto “Ché" Guevara) ¢ a politica econdmica de estabilizagao ortodoxa, na qual se des- taca a ‘‘verdade cambial” (instrued0 204) ¢ 0 reata- mento com o Fundo Monetario Internacional. Em toda a discussdo transparece uma questo tipica do autoritarismo personalista do governo Qua dros: 0 desprezo do presidente pelas instituigdes, sobretudo pelo Congresso, em favor de um signifi- cativo respeito pelo papel dos militares. Estes se tor nariam “sacerdotes de uma santa inquisigao, cada vez mais convencidos de que uma corja de tréfegos assaltantes civis enlameava a puridade nacional” (Historia do Povo Brasileiro). Nao se encontrariam aj alguns aspectos importantes da crise que “se resol- veri" em 1964, com a ascensdo dos militares ¢ a instalago de um regime autoritario, repressive & “vingador’"? ‘0 Governo Janio Quadros QUEM FOI JANIO QUADROS? __Afinal, quem era Janio' Quadros? Sua carreira Politica indica, inegavelmente, 0 que se convencio. ou chamer de ascenstio meteérica. A do modesto ad. vogadoe professor de ginasio, de familia simples, sem fortuna e tradigdo politica, que percorre os diverson escalles da vida pliblica ¢ chega a Presidéncia de Repablica aos 44 anos de idade. Sempre em sie Paulo, este “paulista de Mato Grossa” conquiste Tapidamenie boa parte de um espaco politico até en: tio partilhado por bacharéis, comerciantes e fazen deiros da UDN e do PSD (remanescentes dos antigos Partido Democratico e Partido Republicano) ¢ por Partidarios doex-interventor Ademar de Barros, Em 1947, suplente de vereador peli legenda do Partido Democrata Cristo, assume o mandato de. vido cassagio dos candidatos do Partido Comu nista, entdo colocado na ilegalidade, No ano seguints Clege-se deputado estadual também pelo PDC, Mas é nas eleigies municipais de marco de 1953 que Janio marea a forga de sua escalada populist. A cam- panha do ““tostéo contra o milhao" (“tem ou nto tem azo. 0 homem da rua quando diz que quem rouba um tostao € ladrdo, quem rouba um milhao € be. Ho?”, indagava nos comicios) explode dos limites acanhados do bairro popular de Vila Maria, prin- cipal reduto eleitoral janista. Contrariando todas as, expectativas, Janio Quadros chega a Prefeitura de ‘So Paulo com apoio de dois pequenos partidos — 0 PDC & 0 Partido Socialista Brasileiro — e derrota uma poderosa coligacao partidaria que incluia UDN. PSD, PTB, PR, ademarisias e comunistas. Um ano depois, a campanhe do tostio recebe 0 impulso da vassoura (supostamente para ‘‘varrer os rats, 08 rieos ¢ 05 reacionarios") e do slogan: “Nao desespere, Janio ver ai”. So as primeiras eleigdes apis 0 suieidio de Getilio, Eleito governador de S20, Paulo, Janie vence seu mais poderoso adversirio, Ademar de Barros. Nessa ocasiao Janio estava rom: pido com a edpula do PDC (iniciando uma suces de rupturas ¢ renincias que marcariam suas relagdes com 0s partidos politicos pela vida afora), cuio presi- dente, Antonio Queiroz Filho, pintava o retrato que ‘futuro confirmaria: “a fantasia delirante do candi- dato acaudilho, dominado pela magia dos extremos, com a falsa imagem de sua predestinagao". Mas Jinio contava com o entusiasmo dos socialistas, de uma ala dissidente do PTB € 0 apoio de outro pe- queno partido, o PTN (Partido Trabalhista Nacio- nal), liderado pelo deputado paulista Emilio Carlos, “4 Moria Vitoria de Mesquita Beneridlh Gaverno Sinio Quadros Ge ostudentes em Recife, por ocasito de conferaeens Ga mde do proprio “Che”. Empossado na Presion® inuinal 2 televisio ¢ reatitma sua firme deters da i iniciativa privada; no dia seguinte envin uc’ Projeto J, | Sobre os abusos do poder econdmice Nunca se definiu claramente averea de Getilio paps: Ora wetulsta, ora antigetulisia, pasa a> EXD Pars a UDN com a naturalidade que beta’? depots cog enei2 # eSduerda © 0s comunistas pare den agi ettarla minar exatamente as fontes de pee Mirsindical, através do controle “despoltinsde’ ny Ministério do Trabalho, nos institutos de pages © atacando a instituicao do “imposto sindieel = SS gampanhas de Tanio Quadros sto um capi . flo & parte na hist6ria eletoral brasieita Enea, ne tars, Feral, progressigme € reacts: aoe assumiu feigdes t80 “pessoais” — fea pete na campanha para o Governo do Estado FS de- vam-se em verdadeiros paleos de tra: ie ee © apoiado num visual que se tornaria pico: roupas surradas e em desalinho, ¢: Soo eee como plataforma Para a “'recuperacio moral e Maria Victoria de Mesquita Benevitd Governo Janio Quadros deveres dos cidadios e do Estado. E nesse sentido que se entende 0 apoio da esquerda ao movimento janista, naquela época com inegiveis raizes pops jares. A campanha contra a corrupeio contida na mensagem de Janio Quadros. segundo depoimento Ge um socialista, “atacava, por um lado, a base do poder das classes dominantes, através das denincias Be desigualdades e das injusticas da politica do Es- tado, e, por outro, acenava com a defesa dos inte: esses econdmicos das classes populares. A luta con tra a corrupgto, em certa medida, atingia o poder {que permitia o excesso de exploragao” (epoimento de Fulvio Abramo aJ. A. Moisés). Na sucesso presidencial de 1955 Janio apéia ostensivamente a campanha de Juarez Tavora (can- didato do PDC e da coligagéo UDN-PL) contra @ Slianga getulista PSD-PTB que elege Kubitschek © Goulart. Em 1958 consegue fazer seu sucessor a0 governo do Estado, Carvalho Pinto, na mesma ora- fio em que recebe grande votagio para deputedo federal pelo Parand, na legenda petebista jamais poris os pés no Congresso). Dois anos mais tarde € tleito presidente da Repiblica. Apos a remmincia ten- ta novamente o governo estadual de So Paulo, nas tleigdes de 1962 ("rendncia € denincia”), mas desta vez é derrotado por Ademar, que conseguia reunir até mesmo seus arquiinimigos da UDN. Embora notoriamente hostil ao governo Gou- lart, € simpatico a0 movimento militar de 64, Jénio terd seus direitos politicos suspensos, a exemple do que ccorreu: com outros nomes nacionais, como Jus~ 18 Maris Vi itoria de Mesquita Benevi celino, Lacerda 6 : © & préptio Ademar Cost Siva sera pumido cond maces no Sener rumba, Cor a anistia politica de 1979 1960: A VITORIA DE JANIO A QUEBRA DO SISTEMA PARTIDARIO rita. Esbogado es Jenicta, ae ae wate sobre © histérico Ge 1960 proura entender a eamagadore nase unado “candidato do inconforinismn" . Os janist It “sevolugdo pek to”, 5 janistas exaltavam a “revolugdo pelo voto Um socidiogo chegou a falar de “rebelita do eleito- rads". O que significava ta! fenémeno, justamente apés um governo marcado pelo desenvolvimento, pelo olimisme generalizado © pela tolerancia poli fea? Na realidade, a ascensdo de Janio Quadros, candidato ao mesmo tempo do poro ¢ das elites, videnciava tanto a faléncia do sistema partidério Guanto 0 “esgotamento das virtwalidades” do. bri thante governo Kubitschek O debate entre economistas sobre 0 colapso do: modelo de deyenvolvimento capitalsta via substitui- Gio de importacaes. entrada em massa de capital Cstrangeiro, recurso a inflagao e endividamento ex ternd, € bem conhecido, Trata-se, aqui, de situar Maria Vietoria de Mesquita Benevic @ marcaram o final do especialmente relevant poe peo antes para a compreensio da ex. ra a participac’o reivindicatori a iarients eles erie eer Een bet sunita sree eee inerartiiris, como coneatente proceso ce ed guais entre um Estado fee made aoe ea desenvolvimento dc 0 iento do periodo Kubitsel yertara acanenioan mae ee em obras piblicas ou empre se Sie on ene a pels caradas emerges medida em gue» go cee Quadros surge com forga total nesse ay oe sais Sua postura tradicionalm: te a artidaria sera. ao mesmo tempo, causa ore = 9 Governo Jnio Quadros a fas da famosa ‘crise do poder", como ide representatividade dos partidos senta.se ostensivamente como 0 “gcima dos partidos” Pr candiigo ure governo "sem donose sem influéncias Nese sentido a vitbria de Jinio em 1960 pode ser entendida como frato do desmoronament® 0 ser opSD-PTB, habilmente articulada por Gel alias gas desde os prendncios du "democratizash>” He Wgds. As eleigbes de 1958 J haviam mostrade & de Mao da alianga getulista nos estados ¢ munis: ip, em favor de acordos locals ~ mutes vers S00 Rios igo de vespera, ou o adversério do partido em ois nacionais. A coligagao com a UDN passe & terjeputada tanto pelo PSD quanto pelo PTB rp Gos fatores mais importantes para o Tedl, nhamento relee-se a0 crescimento do PTB (de © rhamados federais em 1945 2 116 em 1962), 0 ae de ratay aprosimag30 PSD /UDN, partidos com Sa- foreargiais e interesses econérmicos semelhantes, £°- se rceparados pelo corte profundo da herangs #1 Ten sie posto de vista do janismo 0 papel do PTP weuste € de maior Felevaneia, mas em sentido 7 paiN [se trata da fragilidade, ¢ no da force. Por vg PTB nao vinga em Sto Paulo, justamen'® © see Jo mais desenvolvido do pais? Ao. que parece. afer oda as dfeuldades que acompanharam g poi os ues, inguin a remunta do ca Jini eontava com o deci tava com o devisivo apoio de Carlos SS Maria Victoria de Mesquita Benevide (9 Governo Janio Quadros Lacerda (“haveré algo mais udenista neste pals do que a obra de Janio Quadros em Sao Paulo?” inda- fava), dos udenistas histOricos que, viam com dess- grado a aproximacdo dos “realistas” como PSD (sie | Serdoavam 0 acordo no governo Dutra) e do grupe Bue compunba o “movimento renovador”, embride Ga futura ““Bossa-Nova”, O candidato natural da UDN, no entanto, ere Juraci Magalhaes, antigo te- nente, fundador do partido, e que formava, a0 mes- tho tempo, com 0 grupo da conciliagdo e da abertura popular. Contava, ademais, com o discreto apoic do presidente Kubitschek, que preferia a vitoria da ope: Gero para garantir, sem desgastes, a sua propria Ssita go governo em 1968. O baiano Aliomar Ba- Jeciro, um dos mais combativos membros da “Banda de Misica”, liderava a campanha pré-Juraci, com poio do grupo nordestino, para quem o paulista Jano Quadros, por no pertencer a nenhum partido, ‘ndo passava de uma bailarina politica a qual néo deveria ser entregue a cabeca de Joo Batista” (M V Benevides, A UDN ¢ 0 Udenismo). Assim. a Confusao partidaria parecia irremedidvel. Se os pr6 prios partidos apresentavam divisdes t8o intrigantes, b que dizer da disposicao do eleitorado para, even. Sollmente, dar provas de “maturidade politica’’ © Votar partidariamente, acima de nomes € persona lismnos? A campanha eleitoral foi, em boa medida, uma comédia de equivocos . Lott, apoiado pela esquerda, pautou seus promunciamenios por um anticomy: Pismo extremado, que Ihe alienava as simpatias das 26 a realidade Janio contou (Consetho Nacional das de grupos indu: los Lacerda. Assim é sim é que, et rebeldes de Aragarcas (os ‘0 Governo Jénio Quadros de Jacareacanga de 1956) apontam como um dos motivos de sua rebelido a rentincia de Janio Quadros Acandidatura para a Presidéncia (com esta rentincia | a UDN ficara em panico, e Janio reconsidera a deci- sso em menos de uma semana). Além do pequeno PTN, do PDC e da maioria da UDN, a candidatura janista contava com 0 apoio da Frente Democratica Gaticha (UDN-PSD-PL), de se- tores do Partido Socialista (interessados na proposta progressista ¢ modernizadora) e de alas dissidentes do PR, do PTB e de PSD. Na Conyengao Nacional da UDN, em novembro de 1959, a consagraco € apo- teOtica: Janio recebe 20S votos contra 83 dados a Juraci Magalhies. Este, apesar das vaias, faz um discurso premonitério da renincia, concluindo dra maticamente: “E agora, Iosé?”. Para a vice-presi- déncia a UDN recorre, mais uma vez, 20 “charme discreto” de um liberal consagrado como Milton Campos. depois do malogro do langamento da candi- datura do ex-governador de Sergipe, Leandro Ma- ciel. A “campanha das mios limpas” do candidato & Vice-Presidéncia Fernando Ferrari (do Movimento Trabalhista Renovador, dissidéncia do PTB gaticho) com apoio do PDC, complementava a campanha da vassoura e airaia votos udenistas. Os resulta- dos do pleito indicam ndo apenas a divisdo do elei torado aniijanguista (a unigo dos votos de Campos e Ferrari teria garantido, por ampla margem, a derrota de Goulart), como o sucesso dos comités Jan Jan © do Movimento Popular Janio Quadros. nos Bw Maria Victoria de Mesguita Benevic grandes centros trabalhistas e esquerdistas como S80 Paulo, Rio de Janeiro e Recife. Nas eleigdes de 3 de outubro Janio é eleito com 5636 623 votos, derrotando o General Lott (3846825 votos) e Ademar de Barros (2 195709 votos). Convém lembrar, para a correta avaliagdo dos dados ele torais, que em relagdo ao pleito presidencial anterior h um aumento significative no apenas do eleito- rado, em ntimeros absolutes, como da propor¢&o do comparecimento as urnas: de 60% em 195S passa a 80% em 1960. Do total de votos validos dados @ Janio, 78% foram obtidos nos estados-chave Guans- bara, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Sao Paulo. Em 1919 havia mais de cem brasileiros pera cada voto dado ao presidente eleito. Em 1960 havia menos de 13 brasileiros para cada voto dado a Jénio Qua- Gros. Jinio obteve substancial votagtio em todas as camadas sociais, mas uma_pesquisa pré-eleitoral feita por Glaucio Soares na Guanabara indicou pre- feréncia significativamente maior por Janio nos es- tratos sécio-econdmicos mais elevados, medidos por instragdo e ocupacdo. O perfil do eleitorado janista, em 1960, indicaria, assim, que “Janio ainda ¢ a grande esperanca dos deserdados, mas é sobretudo 0 instilador de um novo Animo defensivo a classe média ‘tradicional, atormentada pela inflagdo, temerosa das mudancas que se processavam no pais, ansiosa em busca de um messias-estadista para repor as:coisas nos seus lugares" (Souza e Lamounier, Isto E, n° 4, 1976) 9 Governo Jinio Quadros inio seria reforeada pelo sucesso ere aduais: Carlos Lacerda. da posit ne Raguthaes Pinto em Minas Gera sa Guanabare: Tego, Neves, Luiz Canalean, o 5 lagoas; Pedro Gondim, 1a Ee ees ite Alagoas; Paro OO te Careia da Cost, Mato Gee ‘¢ Ney Braga, no Parana, ees te Gre, eg abl os vtos{ 8.287) TAs cm Raat 50 e SS — manifestaram. in- rome amotio em onion jena istas. Uma era de confian a ne olpistas. vis im formar 05 mel ianto, ja mdicavam tempestades tants ators: ge Joo Goulart para a Vice Pst ane m visivel hostilidade das Forgas Al ay eee conservadoras) e 8S caracteristica a das clasts oe pewonalsta, aonitiio © PICS ie termente instével do novo presidente. en ACIMA DOS PARTIDOS, O BONAPARTISMO JANISTA “As proporetes da vitéria eleitoral de Janio Quadros — por generosa margem de quase dois mi Ihbes de votos sobre seu principal adversario— confe- riam-lhe consideravel quantum de poder especifico em relagdo as forgas que lancaram sua candidatura, Como nenhuma delas poderia reivindicar ‘dividendos Partidérios', Janio colocava-se acima da sociedade politica. verificando-se o quarto do bonapartismo. O bonapartismo suspende a forga politica das classes Sociais e as transforma, por assim dizer, em supli cantes diante do Estado, Entio 0 povo. partidaria mente desorganizado, passa a ser aparente sustenta- culo do poder. O chefe bonapartista, por cima das classes, por cima dos partidos, busca o apoio direto do povo” (Guerreiro Ramos, 4 Crise do Poder no BrasiD. Pairando acima dos partidos. fugindo ao esquema “esquerda e direita", Janio significava, pa- 0 Governo Janio Quadros 3 2 Maria Victoria de Mesguita Benevi (0 Governo Jinio Quadros ta seus defensores, o encontro da ordem com o pro- gresso, a revlucte potica sem volénes ot lega idade. Seria “um governo ao mesmo tempo progres, sri contador auseroe ucien, smedo pelo 0 € respeitado pelas elites” (A. Arinos : por pelas elites” (A. Arinos, A Esco AA realidade seria bem diversa. Através da poli tica dos “bilhetinhos" Janio converteria seus minis. tros em meros executores de determinaydes presi denciais; pela criagao das Segdes Especiais do Gabi nete Civile Militar, e do Servigo Nacional ée Munici- Pios, tentaria anular qualquer mediagio entre a Pre- Sidéneia e 0 poder regional e local; pelo tralamento dispensado aos parlamentares ¢ empresitios, reve. leria © desprezo implicit por tudo aquile que nao fosse emanagdo direta de sua propria autoridade supervalorizada por um voluntarismo quase mistico, na crenga absoluta no "“mandato independente’ Afinal, este seria 0 governo que prometera doros nem infivéncias : As forcas politicas que apoiaram sua candida- tura ndo apenas se revelaram impotentes para recla. marem "dividendes partidarios", como incapazes de defenderem um projeto comum, por serem., em cer. tos casos, frencamente antagénicas. O que explica, em parte, as profundas ambigdidades e contradigdes a9 relacionamento Executivo-Legislativo, No gover. no Kubitschek, a euforia desenvolvimentista ¢ 0 es tilo conciliatério do presidente, aliados a eficieate politica de “administraggo paraiela (que mantinha intacta a buroeracia tradicional, feudo dos interesses m cartoriais e clientelisticos), conseguiram, por um pe- riodo determinado, responder as expectativas de di- ferentes grupos sociais, com excegiio dos margina- lizados da terra. (0 governo Quadros, ao contrario, acirrou con- tradigdes, jogando com forgas politicas que se repe- liam mutwamente. Todos ""pertenciam” ao governo, tum caleidoscépio que iluminava ora o moralismo bacharelesco da UDN, ora 0 conservadorismo buro- cratico ¢ o industrialismo do PSD. Ou 0 trabalhismo do PTB e a crescente participagiio dos sindicatos. Ora os interesses agririo-modernizantes sulistas, ora ‘05 dos coronéis do Nordeste. O impulso desenvolvi- mentista dos herdeiros de JK e a moderagio esta- bilizadora dos ortodoxos. Ou seja, uma amplissima “frente”, que tinha em comum os louros da vit6ria, eleitoral; nenhum programa coerente garantia a uni- dade. Em resumo, os que apoiavam 0 moralismo, condenavam o trabalhismo; os que defendiam a poli- tica econémica ortodoxa odiavam a politica externa jindependente, e vice-versa. E Janio teria que enfrentar n&o apenas os pro- blemas decorrentes da crise econdmica herdads, co- moos inerentes as promessas de “reformas de base’ Para tal proeza dificilmente 0 apoio co Congreso poderia ser menosprezado. Durante os sete meses de govern Janio conseguiu fazer chegar ao Congreso apenas um projeto importante, o da Lei de Remessas de Lucros, € neste caso com a divisao de seus pr6- prios ministros. ‘A composicio diversificada do Ministério € es: M Maria vria de Mesquita Benevi 0 Governo Linio Quadros elarecedora. Na Fazenda. o udenista baiano Clementi Mariani, industrial e banquoiro, ministro da Edu. ig80 No governo Dutra © presidente do Banco do Brasil no governo Café Filho, & época da famosa instrugdo 113, que fevorecia a entrada de capitais estrangeiros no pafs. Na Agricultura Romero Cabral da Costa, um desconhecida na cena partidaria na. cional. usineiro ligado aos setores mais arcaicos da agricultura nordestina, fora indicado pelo governa- dor de Pernambuco, 0 udenista Cid Sampaio. Na Viagto, outro politico sem expresséo. 0 pessedista Clovis Pestana; na Saide, Catete Pinheiro, um obs- curo paraense do PTN, Na pasta de Minas ¢ Energia, um nome forte: © do paraibano Joao Agripino, que, embora da UDN, defenderia o nacionalismo varguista na rea de mini rios ena Petrobras. Na Industria e Comércio, Artur Bernardes Filho, do Partido Republicano, empre- sdrio ligado aos interesses de multinacionais. A pasta do Trabalho seria “despolitizada” pela indicagao do Paulista Francisco de Castro Neves, apenas formal- mente filiado a0 PTB, e contrario & politica janguista ios sindicatos e institutos (0 simples fato de querer denominar 0 Ministério como “Secretaria da Mao- Obra Nala J4 indica as intengdes “despoli- izantes’ 0 Ministro da Educag20, Brigido Tinoco, era um politico do antigo Estado do Rio, sem nenhum convirio com os problemas da educag’o. Janio con- vocaria 0 Professor Anisio Teixeira que Ihe entregou, em poueo tempo, um plano de educagao; a inércia burocritica do Ministério, no entanto, no combi: nava com as idéias renovadoras e 0 projeto seria arquivado, Na Pasta da Justiga, Oscar Pedroso Horta representava, juntamente com o chefe da Casa Civil, Quintanilha Ribeiro, uma escolha baseada na leal- dade pessoal ao ex-governador paulista. E, final- mente, 0 novo Chanceler, Afonso Arinos de Melo Franco, seria o responsivel pela defesa da politica externa independente, enfrentando 0 reacionarismo de seu proprio partido, a UDN Nos ministérios militares, no entanto, a coerén- cia foi mantida. O General Odilo Denys permanece no Ministério da Guerra; apesar de comprometido com 0 grupo do 11 de novembro, que garantira a posse de Juscelino e Jango, Denys ja se afastara definitivamente da ala nacionalista representada pe- lo General Lott, cujo esquema de posicdes comegara ‘a desmanielar em todo 0 pais. Na Marinha, 0 Almi- ante Silvio Heck, vinculado aos lacerdistas ¢ coman- dante do Cruzador Tamandaré em 1955; na Aero- nautica, © Brigadeiro Gabriel Grum Moss, da ala mais “brigadeirista” da FAB, e na chefia do Estado- Maior das Forgas Armadas o General Oswaldo Cor- deiro de Farias. Janio contava com o apoio dos mili- tares da Escola Superior de Guerra, pars quem era “a megagao da demagogia’’ (1). No plano federal, 0 linico setor organizado e ativo era justamente a Casa Militar, sob a chefia do General Pedro Geraldo de Almeida, identificado com 0 grupo da ESG ligado ao entdo Coronel Golbery do Couto e Silva. Este era chefe de Gabinete da Secretaria Geral do Conselho Maria Vietoria de Mesquira Benest 9 Governo Jinio Quadros = Nacional, onde se encontravam, também, o¥ oficiais Joto Batista Figueiredo, Walter Pires, Heitor de Aguino Ferreira © Mario Andreazza, no Servigo Fe- al de Informacées (René Dreifuss. os guista do Estado). eee ‘Alids, um dos principais metivos para a hostili- AT ee edleg ser privilegiado concedido as Forgas Armadas. Como, Por exemplo, a eriagdo de subchefias militares do Gabinete presidencial em virias regides do pais e a Sistematica designacao de oficiais para presidirem as Comissdes de Inquéritos ¢ sindicancias da eruzada moralizadora. Esta ultima medida provocou violenta feagio na Camara dos Deputados, destscando-se a denincia de Almino Affonso, lider do PTB, que indagava por que os militares passeriam a ser fiscais di coisa piblica: “por acaso um militar, por defi nig, € honest, eh eS um el, por definigdo te venal?" (Mario Victor, Cinco sino: que Aba” a ra ee No plano civil, a pritica de organizar reunives ns pte i trator nando une nov instincia decisoria de mediacio, constituiu-se em rede de apoio regional também fora do Congresso, Note-se que pela primeira vez 0 governo nfo tinha maioria no Congresso. O Bloco Parlamentar de opo- Sido PSD-PTB-PSP (o Partido Social Progressista era 0 partido de Ademar de Barros) compunha a maioria na Camara dos Deputados. Mas era uma maioria fuida, extremamente heterogénea, que in Cluia desde socialistas até radicais de direita. E ndo ve poder dizer que 0s unia uma posigdo comet se Pete o governo, pois conservadores ¢ PTOBTesSSt Gridiamese, em eada partido, em relagao 2 quaSe todas as questoes. “a olitica progressista de Janio contava com © apoio dus alas Febeldes dos erandes partidos: * ala apate Go PSD, a Bossa-Nova da UDN € 0 Grupo Cekipacto do PTB. Mas, se os progressistas pniast, Compatifesa da politica externa independents ¢ 60 Se Tole sobre a remessa de lueras, dividiam se {quanto A politica sindicale a prética das sindicéncias ate visava diretamente membros da alianss PSD- ip A Bossa-Nova udenista (lose Aparecido, Tost Samney, Seixas Déria, Clévis Ferro Costa), adversiria sa verdistas ¢ da “Banda de Misiea’’, sureire os mente para. dar apoio 8s propostes reformistas do novo governo, Jamo, por sua vez, procurava apoio ma esdber da, anivel individual somente, cortejando lidersss 2 Mhimhadas”, como Miguel Arraes, Leonel Be wee e Francisco Julito. A tentativa de aproxiinach0 voit PSD, através de politicos paulistas, nko lozro™ comtntados — gragas & forte bancada mineira, coPe Trenetida com o governo anterior — © Pale Pi prero Chagas, lider pessedista ca maioria, chego & sacar uma comissl0 de deputados para estudar & proposia de impedimento do presidente Jo Gis nao Papas E quanto a UDN — considerads por T8n'> seer e bacharelesca"” — a frustracdo seria tor: cineterangas parlamentares nao eram consultadss Selo presidente e 0 partido nao dispunha d= Um? ————— —————— Maria Victoria de Mesquita Benevidey margem de manobras para distribuir cargos e van- tagens, tipica atribuiglo de qualquer esquema de poder. Aparentemente vencedora, a UDN no era governo nem era opesico; constrangida a “apolar rm governo que no era seu" (como se queixaria mais tarde o presidente do partido, Herbert Levy), pois niio poderia isolar-se na oposigao, muito menos renegar 6 fruto de sua sedugio populista, a UDN revelava o lado tragico de sua propria ambigtidade, mum processo autofagico de sua inica vitbria (M. V. Benevides, A UDNe o Udenismo). E, finalmente, cabe assinalar que, ja nos priv meiros meses do governo Quadros, os debates no congresso sobre a adog’io do sistema parlamenta- rista reerutavam novos adeptos. Alias, a encarnagio viva do projeio, o presidente do Partido Liberdade, Raul Pilla, uma semana apenas antes da remincia, sugeriu a criaglo de uma Comissio de Politica Parla- mentar para a “defesa da integridade ¢ efetividade das fungdes parlamentares”, a fim de evitar que 0 ‘Congresso continuasse perdendo prestigio entre o po: vo, conseqiéncia da “invasto de sua propria esfera por autros érgios do poder" (Mario Vietor, op. cit.) Maso desprezo de Janio Quadros pelo Congresso — “um clube de oeiosos"” — era tio grande que che- gow a indagar a seu perplexo Chanceler:"*Ministro,V. Exa, pegaria em armas para defender este Congresso que af esta?” (Afonso Arinos, Planalto). E depois da rentincia, a0 contestar seus propésitos golpistas, rao hesitaria em vangloriar-se: "se quisesse teria fe- chado 0 Congresso com um cabo € dois soldados” po TOSTAO A VASSOURA, O MORALISMO ‘AUTORITARIO \ Entre as contradigdes do govern Janio Quadros | restacase a intrigante conjugagao entre a defesa se ama pal fe grandeza” € & | mo norma o controle ‘purocratico personificado, bai- area da administragao publica, mas também nos a a ™ ‘A “eterna vigilancia’’, referéncia emblematica Maria Victoria de Mesquita Benevide, J 0 Governo Janio Quadros ora ova "Vou do Bras, eamentecetaizda pert agent om yee ons pe ae reclamagdes ou simples avisos, carregados ce pudor, como o messias apés o caos.-E que ae com mestria, recursos publicita. fos rams poe rps ac fevers notre © ean Assim se explicam decisdes ‘ cisdes pessoais do presi- dente da Repibica pars questies disparatadas ¢ inslias,obvamente desoeadas da rita gover mental. Como, por exemplo, os decretos proibi fancionamnts dos Joquca Closes nos das tts a brigus de kalo em todo o teritirio nacional. Ou as proibigoes de desfiles de misses com maids cav. hos cour de eles ¢ cow tenes perme nos baile earnavalescos. O presidente interferiu d- reiamente para solo dosproblemas reltivs as atrasos dos trens urbanos ¢ as filas de abastecime! nas cidades. Passando por cima da ects do , ima da competéncia Ministéro da Justia ocupou-se com a insttuigho da censure maralzadora ~ em dele d familia « ds ons costumes — na televisao, nas diversdes pu das emists da Radio Jomal do Bras (baseando-se na eélebre portaria da Comissao Técnica do R utlizada no governo Kubitschek contra Carlos Le sda e que merecera de Janio e dos udenistas 0 mais vivo repddie). acusads de divuiger “noticia Na instincia das “amenidades”, Janio preocu pou-se em Langar a moda racional para os trépicos Enspirado em sua confessada admiragio pelos cos, umes briténices), inovando o protocolo presidencial fo adotar o terno “safari” — cuja uniformizagao Gesejou estender aos demais rgios do governo, aP2- Fentemente sem sucesso. A economia com 0s gastos piiblicos chegaria ds rains do ridiculo com a determi Pragdo de que os papéis velhos dos escritorios de toda 2 administragdo publica deveriam ser coletados para venda filantropica. ‘© suporte ideoldgico para esta politica autori- taria e personalista encontra-se explicitamente no Tmoralismo punitivo e redentor que, aos olhos de Janio e seguidores, garantiria a originalidade e @ Aulenticidade do que entendiam como “a revolugao pelo voto". Em termos concretos tratava-se de levar a fodo o pais a cruzada do saneamento moral, sob & bandeira da austeridade, honestidade ¢ trabalho: "Este sera um governo rude ¢ aspero", afirmou no dia da posse. E a0 longo do governo seus discursos fnsistiam na tonica do sacrificio: “que todos dete miham suas ambigdes, que todos sofreiem seu egots mo, que todos sofreiem sua cupidez. Quero ums Teforma de principios ¢ de fundamentos”. O sacri Hielo seria de toda a nacao — para Jinio povo, nag fe governo confundiam-se numa sé tarefa, mais ain Ge. eram uma s6 entidade. [dentificava, ademais sua propria autoridade com o ethos da nagio: “tode queles que se voltam contra mim estdo-se voltand contraa verdade ea nacio’ _ Maria Victoria de Mesquita Benevides : 0 Governa Janio Quadros a grande alquimia do simbolo janista: 0 éximo de personalidade jamais praticado em nossa histéria po- ao aderiu aojanismo" (op. cit.). mente sedutor pare a indigencta plies ds cases safle — mus unbémn pent o eutany tuligente hipGerita dos bacharis—" vaba de longe, & do sits 2 bases sociais do janismo em Sao Paulo é esclarece- exit orl ue xs em partir a uunratge ts Remon © hachitets see dade incondicional perante a lei. E evidente que politicas, e 0 lider moralista dos homens do ‘tos- {ao' nunca viu impedimentos maiores em se asso- clar aos representantes, também moralistas, dos homens do ‘milhao! " (O Populismo na Politica Bra: sileira. Esta andlise permite situar o moralismo janista em suas ambigiidades ¢ compreender por que & persegui¢ao administrativa surgia como uma “santa Pnquisigao”, pois se tratava de “limitar os privilé- tgios”, Daf o éxito da violéncia verbal de Quadros — ¢ eseus ares de ascetismo rigoroso, implacavel, auto fitirio, porém supostamente justo — junto & massa equivocada na caracterizagao dos verdadeiros danos do poder. Trata-se de um radicalismo de tipo pe- ‘queno-burgués que obscurece e mistifica um refor- Atismo de tipe operdrio, circunstancia que denota, ¢ ‘até certo ponto explica, a enorme ineficiéncia dos sgrupos de esquerda junto a classe operaria de S80 Paulo(Welfort. op. cit.) Ta nos primeiros dias de seu governo Janio Qua- fos inaugura um estilo inquisitorial na denéincia da ‘tise moral” identificada com a corrupgao € @ jrres- ponsabilidade do governo anterior. Seria uma nova eeaca aos escdndalos”, a moda da agressiva “Banda de Masica’” udenista que atormentara os lideres de Getiilio e Kubitschek no Congresso. Para Janio a corrupedo aparece como 0 filhotismo, 0 compadrio, o favoritism sugando a seiva da Nagao ¢ obstando o caminho dos mais capazes. Nao haveri ninguém, & comecar dos mais altos escalbes administratives, que possa situar-se fora das normas da exa¢do, compos- Haast Mariu Vietoria de Mesquita Benevides tura ¢ integridade que pubigs nese ahingtins esse sentido, a0 identifiear o emprey com 5 eecastcutvpcb, que nfo nsreve em 8 brograma de governs neressida de “despolitizar fb administracdo em geral'. Despolitizar significava acabar como sstema de nomeasesfetas por iu {es politicas, ov sea, extinguir a principal fonte do CHentelismo urbano. E a retGrica do sacrificio sera Sempre invocada, apoiada nos valores morais com os sraais 0 diseutso janista identifica o povo: “um pov gereroso, um pore bom, ut Powe excepeional, t balhador ¢ honesto". Dai, os reiterados apelos & ‘compreensio de todos” (“e no quero nada que eu mesmo nto faca!”) para a contencdo de consume, de revindeabes sara ee “ sim € que a varredura da corrupglo passa a sian nn Fa unde cecnas ce ngutes adi nistrativos (em grande maioria presidides por oficiais mnilitares) que tendiam a comprometer medidas, pes- seas ou grupo ineulados 28 gern Kubitschek, ‘sim ovorreu com as sindic@ncias da COFAP (Co- missdo Federal de Abastecimento¢ Precos), no Insti- rs rei ode Cafe, no IBGE, na SUMOC (Supe- Gntendincia da Moeda «do Creo. 20 Conselhio facional de Pesquisas, na SPVEA (Superintendé Naciona reathe da Amanbnia), Rede Ferrovidria Federal na Cis, Siderits Nasional, Cia, Vale do Rio Dog, no Departament Nacional de Obras conta as Seas ene oun, Os der Institutes fa Previdéncia Social foram os mais atingidos pela aracterizario os negdcios OGuverno Jani Quadros nsia das delagdes € devassas. Os relatérios finais. divuigados pela imprensa, chegaram ® envolver 0 sea vice-presidente (notoriamente COmPIOIT. nom na politica trabalhista e previdenciir dos. fovernos anteriores), © que Provocos Ute virtual geneura entre Goulart e o president. © gual Ihe Geyolveu uma carta por juleéla ” devolve dos casos as sérias deninclas 89s #0STr maior Par yublicadas sem se assegurarem of die 08 tje um processo competent, ee nalismo pablico foi o alvo privilegizo da agdo moralizadora. Entre as principe’ medidas de wet ente inspiradas pelo presidente, desactt diretam nsior impacto causaramm 18 opin publica fintensos noticiarios na imprensa) ¢ nos ‘debates par anrarent « tautinicio, du horkrie Corre PUT sarc ndrio federal, o controle do “pont” ¢ © corte aco nas despesas com pessoal, Quiras medidas a oMente crticadas refererse & reduglo ¢¢ 150 attamemga de "mordomia” Para funcionsries £2 meg no exterior, 20 veto a0 projeto auc dave estar rristecde aos empregados da NOVACAP (o ver. Midencial fot derrubado na Camara dos Deputados), sideneffo de um Grupo de Trabalho para investgr ° i crecipando, ete. (Mario Victor, op. ei)- rae cedidas, a nivel da Presidencia, revelavarn a contimuidade do moralismo autoritrio do eer 2 contirmlista que marcara sua eficiente admire atigo pelo controle absurdamente minudens sobre tragbe Riidade publica”: visitas “incertas” # ‘rgaos Je atendimento publica, fiscalizagdo do uso de carros ‘Maria Vietoria de Mesquita Benevides 0 Govern Hani Quadros oficiais nos fins de semana, acompanhamento das provas dos concursos para simples escriturério, ete. Ainda na Prefeitura de Sao Paulo tomaria uma dris- tica medida para “servir de exemplo perante a na- Ho, do que se devia fazer, doesse a quem doesse, em Gefesa do patriménio publico”. Puiu o atleta Ade- mar Ferreira da Silva, campedo olimpico de salto triplo, por se ter afasiado do cargo para a pratica esportista, justificando-se: “infelizmente era um fun- cionsrio relapso ¢ a Prefeitura no € clube de at tismo” (Viriato de Castro, O Fenémeno Jénio Qua- ares). E evidente que a cruzada moralizadora servia aos interesses ideologicos da manipulaso janista, visando a reforgar seu prestigio popular ("o povo sera a um tempo minha bissola eo meu destino), mas também ao calculo politico que impunha a derrocada final da heranga getulista. Isso porque a devassa nos setores da administragio piblica minava direta mente 0 controle clientelistico dos representantes da alianga PSD-PTB. E bem verdade, também, que, apesar da derrota eleitoral em 1960, esta alianga continuava majoritéria nas duas casas do Congresso; pouco a pouco os excesses da “‘campanha sanza- dora” passaram a corroer as jé frdgeis possibilidades de didlogo do presidente com a oposigac, Nes pala. vras de Mario Victor, Jinio Quadros “prosseguia a sua ago contra as ratazanas do Tesouro, como as apelidava Rui Barbosa. “Eu eontinuarei, Custe 0 que eustar. Nada me deteré, Nao olharei nomes nem posigoes” (op. ct.,p. 162). E interessante considerar, no oan — ideclo 0 Governo Janio Quadros ENTRE NACIONALISMO E “ENTREGUISMO”, AS PAZES COM O FMI Um certo fascinio, alimentado por boa dose po ta ne denis Quad come © eficiente administrador das finangas publicas na Prefeitura e no Governo de Sio Paulo. Mas a politica ‘econdmica a ser posta em pritica na Presidéncia da Republica permanecia uma incognita. As propostas do candidato dissolviam-se no discurso geral de de {esa da iniciativa privada, prudéncia quanto a0 capi- tal estrangeiro e sobretudo — a grande atrasdo! — o combate & inflagao, o saneamento dos gastos publ Gos ¢ a defesa dos interesses das classes médias “em- pobrecidas”. Nenhum plano foi apresentado, A con fianca expressa na campanha “Janio vem ai’ parecia suficiente, Para o setor privado era, talvez, “sufi ciente” a lembranga do pronunciamento do gover- nador paulista, a respeito da polémica sobre a Petro tris, de que “'o Estado é mav patrao” (esta famose Trass de Janio seria seguida da no menos famoss trase de General Lott: “a Petrobras € intocdvel”) ‘A expectativa em torno do novo governo expres: sava, tambem, os interesses daqueles grupos eon sous que, beneficiados pela euforia desenvolvimen: Tata de Kubitschek, temiam, agora, a “*exploséo so Oo Defendiam uma ‘'modernizacto conseryado- ciet aravés do desenvolvimento com medidas defla- Monarias, Logo depois de empossado, Janio promt seni discurso demolidor sobre "as irresponsabil Gades” do governo precedente, prometendo 0 maigr igor para enfrentar a "terrivel situagte financeira ¢® Peedi com a herange de uma divida externa Ge Bras Je dois milhdes de délares. Sua politica econ6- cere gpresentava-se, portanto, como a retomada das tive de estabilizagdo, incluindocertas praticas preso- ‘estas pelo Fundo Monetario Internacional, O ae aera poderia ser feito sem muita polémica. E tember ae page ser entendido sem uma breve alusto d crise {que mareou o final do governo Kubitschek E em 1959 que Juscelino enirenta a fase mais dificil do “desenvolvimentismo” , pressionaco exter Gamente pelo FMI ¢ internamente pelas aposigaes, ae atacavam tanto a inflagdo quanto os remedios ata conié-la, Entre os fatores inflacionérios mais Paporiantes destacam-se os gastos com o ritme ack impey do Programa de Metas ¢ a consirugdo de SSrasilia, além dos aumentos salariais superiores 6° Bieta de vida, e a politica de empréstimos 80 setor privado, através do Banco do Brasil. Acrescente-s= 0 50 Maria Victoria de Mesguita Benevides declinio persistente dos pregos, em délares, dos pro- dutos de exportagao e a superprodugao do café. debate econdmico no governo JK polariza-se em torno do sistema de taxas de cAmbio miiltiplas, com a constante pressio dos exportadores. A polé- mica estabilizag8o-desenvolvimentismo pe em con- fronto a politica ortodoxa defendida por Eugénio Gudin, Ostavio Gouvés de Bulhdes ¢ Roberto Cam- pos (0. “Bob Fields”, cujo enterro simbélico seria comemorado pelos estudantes da UNE) e os interes- ses dos grupos que entendiam “o recurso a inflagdo como indispensavel para o desenvolvimento" ‘© rompimento de Juscelino com 0 FMI signifi cavaa remincia ao Plano de Estabilizagao Moneta: ria, proposto pelo Ministro Lucas Lopes, ¢ cujas medidas seriam praticamente as mesmas do governe Quadros: limitagao de créditos, controle operacional sobre bancos particulares, eliminagio dos subsidios cambiais, revisdo do salério minimo, etc. Além de esbarrar nos interesses do sustentaculo politico-par- tidario e social do governo, a estabilizagdo proposta significaria a negagio do Programa de Metas, © acima detudo, renunciar & construgdo de Brasilia no prazo previsto. poder do FMI nao deve ser subestimado. De seu aval dependia a concessio de empréstimos de capitais privados estrangeiros. Em resumo, a tese do FMI apoatava a necessidade de “se por a casa em ordem’” como pré-requisito para receber a ajuda fi naneeira. A “ordem” significava taxa de inflagio a menos de 10% a0 ano, cambio unificado, aboligao de 0 Governo Janio Quadros Gnceotivos a cafeicultores e esrigto salarial. ‘Sie mds apenas apés a posse, um grupo de empresarios da CONCLAP encaminha ao presidente cree ento inftulado “Sogestbes para uma Po- um fovutonal de Desenvolvimento”. Jénio reage likica Nesiong, como se enenesse sua abtoridade aareier presstes indevidas: “Tenho de aplicar solapad® Feisucase aspera, a fim de conduc este raed dude, Storm ndiferentes os aplaus0s € 0s ra rid flomens poderesos me proceraram pues (Shar sua insaisfagao com © med govern0 Expliquei-thes que sO ha dois meios de tolher os earn depor-me, ov asussinar-me, o gue RO mets ra fae” (ML. Victor, op. ct.). O impacto tae Pare oi grande para a comunidade empresaril eae ela em: ecitorias da. imprensa’ “Nic SSubina como cargo eo poder do Presidente da lca jogar com palavras ameagadoras Reni ot as eestove retin de ura astra indersteeia, masa simples escotha de seu Minis- ar re ecnda, Clemente Mariani — notorio defen tro Fazteneses do grande capital, nacional ¢ eS aoe cnetedicaria que cetas providéncias suge trangeir Jmorial da CONCLAP seriam adotadas Ties re cenor A. reafirmagio a empresa. privada Peo ere. do Estado) com franca entrade do (cont? cangeire incentivo &exportacio com “St Gera membros dos ministerios — preferia uth pilicar os bilhetinhos — endo conseguiy ‘eonsolidar Bauipes de assessoria técnica, ou grupo Ge trabalho, cae antecessor. Em suas campanhas, desde & cameos Municipal paulista, 0 poder pablico, & 60°" Camara mperrada, sempre fora o alvo principal Gos Statues e denincias, Na Presidéncia, viavse despre Sarado para enfrentar a questao com eficécis © Conselho de Desenvolvimento, do gover JK, {o4 substituido por uma Comissio Naciona! de Pianejamente (COPLAN), que no chegou seavet eatudar of primeiros projetos de um novo plane St Gquenal, pois foi nomeada as vésperas do reniincia Gina Astessoria Técnica, solicitada a apresentar Ot programa preliminar de planejamento, seria intel Moria Victoria de Mesquita Benevides ramente esvaziada pela auséncia de qualquer diretriz, do Poder Exeeuivo. A linha administrative de oe verno nunca foi definida. Conta 0 Ministro Jono Asripino que Tanio the confessara que, “'se fosse esperar estudos para tomar decisdes, nada decidiria, a0 passo que, decidindo de qualquer forma, se a solugdo fosse ertada, dentro de pouco tempo seu Ministro teria estudos para convencé-lo do erro" Esta acdo empirica, isolada, assistemética, im Petuosa, sem uma visdo global das medidas, contri buiria nao apenas para uma paralisia administrativa (frente is crises ¢ ao acémulo de demandas) como também para agugar a instabilidade tet Presidente. ae EM POLITICA EXTERNA O BRASIL NAO E MAIS SATELITE “O Brasil esté fadado a ser, por tempo indefi nido, um satélite dos Estados Unidos.” Esta decia- ragio do jurista Raul Fernandes, entio Ministro das Relagdes Exteriores, da o tom da diplomacia brasi leira na década de cingUenta. E a recusa dessa estra- tha nogio de soberania explicaria 0 sucesso da poli- tica externa do governo Quadros junto aos setores nacionalistas e de esquerda. Assim como explicaria, no outro lado, a carga de pressdes dos grupos poli ticos e econdmicos mais eonservadores. Pois a mu: danca na tradicional “satelizag’o” significava nao apenas reformular o alinhamento incondicional com 8 Estados Unidos em questées internacionais, como também admitir que havia reas de atrito entre inte- resses brasileiros e norte-americanos. Significava, igualmente, a defesa de uma posigdo “independen- - Maria Vietoria de Mesquita Benevides O Governo Jani Quadrus te" entre as duas grandes poténcias mundiais, e uma tentativa de aproximacdo com o chamado Terceiro Mundo. Tudo isso nao poderia se dar impunemente, rum governo marcado por tantas cnntradicdes na fires econica¢ ‘apoiado por foreas politicas anta ‘0 ponto alto da plataforma janista na cam- panke ce ibso a a proposa de abertra na poltica fxterna, sobretudo em relacio aos pases solalistas no meu governo tudo se fard, abrindo as portas do ‘comércio para o mundo, sem distingdo de redo pol tico ou ideolbgico”. Era esta, sem divida, s fonte de perplexidades para os articuladores dus candidaturas Lotte ¥anio, obrigando-os @ um jogo ambiguo extre posigdes de “esquerda” e de ‘direita” (lembre-se | Que. ainda como candidato, Janio visitara Cuba @ Ronvite de Fidel Castro, convite recusado por Lott). Em linhas gerais, o programa da politica exter na independente incluia os seguintes pontos SB estabelecimento ou fortalecimento de vinewlos co- merciais e diplomaticus com os paises socialistas sobretudo a Unido Sovietica; estabelecimento de relagbes cordiais com Cuba, € fama posigio de apoio 4 autodeterminagtio do povo cubano; redefine do apo tradicional 8 politica salaza- rista quanto as “provincias ultramarina: dat got A asa har © Guine, At am arate ‘na Africa); Solidariedade aos movimenios de emancipagao seid ios inlindo 2 soberaia da ‘eomovimento de Patrice Lumumba. tae Saencias diretas dessas posktes resulte iam ae sbertura de novas emabaixadas (SeneBa, Gana, Nigeria, Etiépia, Congo Kinshasa) © ma Per fective de o Brasil apoiar a discusslo soore Peseso da China na ONU: Quanto & Américs LAE sree oe de _manter os principios da OPA (Cpe: pedo Pan- Americana, inaugurada no gverno Ik) € Tettalecer of lagos com 0s paises da ALALC (ASS vorngo Latino-Americana de Livre Comércic) Tra- ciagao Tam expecial, de firmar um acordo priv: sfado com @ Argentina para enfrentar a begemet is wlade ceyericana no continente (lembre-se que dat morte So do govemmo Quadros o lancamento dos pia Go Infe "Alianga para 0 Progresso” pelo presidente Kenneds?, Meee go das forcas progressistas da Hist6ria” no dizerdo chanceler Afonso Arinos.a politica inde Pendente do Brasil significava, ao invés da propalada eee jagd0", 0 respeito integral ans principios Go Dineito Internacional Americano: no intervenes Dirsie enminagdor solidariedade coletiva; antitorsl> a etee em geral e anticomunismo em particulay- ‘aegaae enfim, de manter o.equilorio entre ae pela auiodeterminagao dos powes ¢ 2 lute conte Pert cagdo do combnismo internacional na América (Planalto), "fais ressalvas do liberal udenista nfo seriam suficientes para enfrentar a oposigao reaciondris © prineipalmente, entrasar uma politica exer inde Pendente com um gorerno conservador, Assim éque are A Maria Vietoria de Mesquita Benevides | 0 Governo Janio Quadros 4 politica externa tornar-se-ia o alvo privilegiado dos ataques das setores mais reacionérios das Forcas Ar- madas, da Igreja, das Financas e dos partidos poli- ticos. Como depde Afonso Arinos, o irredutivel rea- cionarismo da UDN, com sua visdo belle époque da diplomacia, reivindicava a volta “is normas do Ita. marati", de sermos instrumentos de decisées alheias, A politica externa transforma-se, ainda, no principal elemento mobilizador do “novo golpismo", pelo qual Carlos Lacerda e seguidores (com amplo apoio em seu jornal Tribuna da Imprensa e em O Globo ¢ O Estado de S. Paulo) tentariam acirrar 0 anticormunismo visceral dos militares, as suspeitas dos catélicos e o temor das classes médias. Estavam em questo, evidentemente, os interesses econémicos do capital associado, da grande imprensa, da in. fluente comunidade de portugueses no Rio e em S30 Paulo. que nao poderiam aceitar, entre outras, a politica anticolonialista na Africa e a agressiva inde- pendéncia em relacao aos Estados Unidos ‘As medidas concretas para a "abertura” inicia- ram-se com as missdes especiais, incumbidas de am: Pliar ou planejar o interedmbio econdmico com os paises socialistas. A Missdo chefiada pelo jornalista Jodo Dantas (que acompanhara Janio em sua viagem & Unido Soviética em 1959) visitou, de abril a junho, os seguintes paises: Albania, Bulgaria, Roménia, Iw. goslivia ¢ Hungria, onde foram firmados acordos bilaterais de comércio e pagamento. A Missio Leao de Moura destinou-se & Unio Sovigtica e, final mente, a Missio chefiada pelo vice-presidente Joao ‘A politi externa independente: ambigua ¢ oportunist. Goulart, para a China, seria interrompida com a renineia de Janio. £ importante assinalar que desde 6 goterno Vargas vigoravam acordos comercais com paises do Leste europeu. reforeades ¢ ampliades no goterno Kubitschek. A inovagio dar-seia, com Ja hio. na énfase A ampliagdo do intercdmbio ¢ na pro- posta de reatamento de relagées diplométicas, assim como na inclusdo da China no roteiro, : Importa assinalar, também, que, a0 mesmo tempo que seguia para o Leste a Missao Dantas, 0 embaixador Roberto Campos percorria os pases do ‘Oeste Europeu (Clube de Haia) ¢ 0 embaixador Walter Moreira Salles os Estados Unidos, para nego- ciar as dividase evantar novos empréstimos, E, tam bém, € claro, tranquilizar os tradicionais lisdos quanto a permanéncia do Brasil no bloco ocidental capitalista cristio. A imprensa divulgaria com gran- Ge destaque os resultados dessas duas missoes, em termes dus "boas intengoes” dos americenos © dos europeus. Lembre-se que tais “bondades” foram fe tas justamente apés a fracassada tentativa de invasdo americana em Cuba ‘A maior dificuldade encontrada pela Miss4o Dantas se refere aos problemas siplomitets prove. cados pela aproximagio do Brasil com @ Replica Democratica Alem’. Para os alemaes ocidentais qualquer acordo, de govern a governo, representa ‘ham inadmissvel reconhecimento da Alemanhe da ‘cortina de ferro”. O acordo comercial sairia, por- tanto, ""sem nivel governamental”, resolvendo-se, no plano externo, o incidente diplomético. No plano Maria Victoria de Mesquita Benevides 0 Governo Janio (uaaros interno a crise culmina com a demissiio do secretiris geral do Ttamarati, Vasco Leitto da Cunha, que, gerfivado por informacées alarmantes de Roberto Campos, desautorizara a Missio Dantas junto 2° 0" vyerno de Pankov “Cinvasao de Cuba patrocinada Por gTUpOs 66), némicos € militares norte-americanos, ¢ Fo% ampla mevestura do presidente John Kennedy, agravars: © polémica sobre os umes. “eomunizantes” da politica potema. A posicdo brasileira contra a invasdo, © qrerrida autodeterminagio do poyo cuban, Sem vevvyatamente atacada por Carlos Lacerda © demais woes da direita organizada, Em entrevisia a tele- visto americana, Lacerda declarow-s¢ enfaticemente feordvel j intervencio militar em Cuba. Na televisio Lnssileira diria: No momento 0 Brasil apoia uma | arasiais sanguindrias, urna das mais torpes) UT | | | See Thais sujas ditaduras do mundo, pois, 9 220, Ses fo. € 2 nacio que fortifica a tirania de Fidel Care no continent”. O Embaixador america Seat ors Cabot acrescentaria que o Brasil ei8¥ ome prometido” com Cuba, o que desaponiay’ & \ Pounds Unidos. O jornal O Estado de S. Paula ste, feava a polémica: “O Sr. Janio Quadros decidiu wearfmir a rota de seu governo uma guinade Pars ® exquerda’” (Mario Vietor, op. cit). Sra medida entendida como essa “guinada para a esquerda” repercutia na imprenss none eS Pare eoara a qual “0 colosso do Norte” (expresso Teas ea) nao se conformaria com o desvio de or- Toca ets de seus mais fis e importantes satétes Marie Viste de Mesquita Benevides 0 Governo Jinio Quads Um exemplo é elucidativo. O Tamarati anuncia que votaria, na ONU, s favor da discuss8a da entrada da China; nto se tratava de apoiar a entrada, mas sim plesmente de admitir e di Assembléia, Jomalistas aiericanes considerara Posigfio brasileira ‘‘uma bofetada direta nos Estados Unidos” (A. Arinos. Planalzo} Outra medida de intensa repercusso nacional foi a divulgacdo das providéncias tomadas pala go- verno para o restabelecimento das relagdes diplomé: ticas com a Unido Soviética, A Cruzada Brasileira Anticomunista pichou muros, a grande imprensa acompanhou a virulgncia lacerdista © associagdes de classe, como a CONCLAP. vieram a publice mani- festar seu desacordo. Pelas paiavras do deputado pedecista, Monsenhor Arruda Camara, expressava- se a “‘maioria silenciosa” dos catéticos tradicionais, “apontando o inconveniente de se crier esta ca! de ponte, este ninho de serpentes dentro do Brasil A defesa de Afonso Arinos — além de invocar 0 exemplo de Roma, com sua embaixada soviétia — baseava-se nos critérios obrigatorivs do intercAmbi econdmico, pois tratava-se de “vencer a etapa dos mercados tradicionais, cuja saturaglo na absorglo dos nossos produtos evidente" (Mario Victor, op. cit.). As relagies diplométicas com « Unio Sovié- tica, no entanto, s6 seriam restabelecidas no governo Goulart, (Os interesses econdmicos que sustentavam a poll tica externa independente seriam sempre, alias, enfa- tizados pelo presidente Quadros. Se, per um lado, ele insiste no “dever de formar uma frente unida na batalha contra o subdesenvolvimento e todas as for- mas de opressao”, reafirma, por outro, que "a rej 80 do colonialismo nao implica numa solidariedade platénica, mas consoante os interesses nacionais(...) A exploragdo dos africanos pelo capital europeu é prejudicial & economia brasileira...) A idéia por trés da politica externa do Brasil torara-se agora o ins trumento para uma politica de desenvolvimento na- ional” Vornal do Brasil, 27/9/61). E, finalmente, concluia Janio que “os interesses materiais nao co: nhecem doutrina” Essas declaragdes sto significativas. Pois ja se tornou lugar comum apontar, como principal causa para 0 malogro do governo Quadras, 0 aetimulo de tensdes divergentes, provocadas pela defesa simulta nea de uma politica externa progressista e uma poli- tica interna conservadora. Se a alirmagio contém sua dose de verdade — alias confirmada pelos fatos ¢ pela confissdo de “esmagamento” do presidente re: nunciante —, € preciso adiantar a anilise levando em conta argumentos da “légica de interesses”, entre 0 progressismo para fora e 0 conservadorismo para dentro... Nao esto em causa, é claro, a sinceridade dos formuladores da nova diptomacia; nao importa, igualmente, o grau de lealdade com que Janio tratou 8 novos parceiros, © que deve ser questionado é, exatamente, o aparente paradoxo, Até que ponto nio haveria razdes objetivas para justificar uma agressi vidade diplomatica justamente em nome dos interes ses de uma politica econdmica conservadora? | Maria Vieroria de Mesquita Benevides 0 Governo Janio Quadros © sociétogo Octavio [anni entende a abertura para o Leste como uma politica de resultados poli- ticos ¢ econdmicos de amplo aleance. Politicamente 0 Brasil escapava & chantagem da “guerra fria’” a0 mesmo tempo em que reduzia sua dependéncia fren- te aos Estados Unidos, abandonando a “éiplomacia subsididria”, e se aproximando do Terceiro Mundo. No plano econfmico era uma saids satisfatéria para 0 tipo de industrializacao vigente, resultado do de- senvolvimento acelerado do quingiénio precedente, (que levara & alta taxa de capacidade ociose. Ja para Bris Aratjo, a politica externa indepen dente nao apenas expe, de maneira clara, as contra~ digdes do sistema politico marcado pelas regras do capitalismo dependente, como se insere numa logica propria. Ou seja, 2 exigéneia de novos mereados explica a ofensiva diplomatica assim como as “repre: sentagdes ideoldgicas” para justificar a conquista esses novos mercados. As necessidades objetivas do capitalismo brasileiro no dependeriam nem. da ‘yontade” de um Executivo forte, nem mesmo de um “bloco no poder”. A dependéncia do sistema, no en: tanto, provocaria a contra-ofensiva, também logica, do imperialismo americano e europeu (sobretudo ale- mio) e de seus aliados internos, tanto na burguesia industrial quanto na latifundiaria. Carlos Estevam Martins acrescenta um outro aspecto: © peculiar tipo de nacionalismo janista, como principal instrumento de redelinigao do. pro- ccesso de desenvolvimento brasileiro. A pressio livre: mente exercida pelos capitais e pelas autoridades brasileiras era considerada como principal abstaculo A expansio do capitalismo brasileiro; tratava-se, por- tanto, de recorrer & tética que consistia em explorar cos temores suscitados nos Estados Unidos quanto & “sovietizagaio” da América Latina. “Vendo-se for- cado a atender as exigencias do FMI e estando con- veneido, por causa da crise cubana, de que Wash- ington $6 se dispOe a atitudes benevolentes quando confrontado com um clima de urgéncia internacio: nal, Quadros passou a langar mao do que havia @ seu aleance para criar apreensao e alarme a respeilo dos rumos de seu governoe assim fortalecer seu poder de barganha nas mesas de negociagdo. Tratava-se de elevar o Brasil a0 status de aliado privilegiado, de garantir @ ajuda norte-americana em condigdes tais que 0 processo de acumulagdo pudesse prosseguit com o minimo de prejuizo para o capital nacional © 0 maximo de entusiasmo popular” (Cuadernos CE- BRAP. n° 9, 1972) E nesse sentido que nao se pode aceitar que a abertura para 0s paises socialistas e 0 apoio as lutas anticolonialistas conferia ao governo Quadros uma visdo de esquerda, A ambigiidade de Janio em re- lagdo as esquerdas sempre foi dosada pelo mais visi- vel oportunismo. Em momento algum demonstrou qualquer compreensio, por exemplo, pela legalize. ao do Partido Comunista; “os comunistas sao irre cuperdveis para a democracia”, dizia. Ao contrério, sué aproximagdo com as esquerdas era feita justa- mente através de contatos com liderangas marginais organizagao. Essa politica de aproximagao frag- EEE

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